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O espelho mágico Juliana Franklin

o eSPelho mágiCo

Juliana Franklin

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Apresentação

A primeira vez que me encontrei com "O espelho mágico" foi em 2014, no livro Contos tradicionais do Brasil, de Câmara Cascudo. A versão compilada por ele foi narrada por Cícero Salvino de Oliveira, no Rio Grande do Norte. Logo me encantei pelo conto, por suas imagens e estrutura, pela escrita sintética e pela expressão "botar reparo", tão cara a essa história.

De lá pra cá, venho contando "O espelho mágico" em diferentes contextos, seguindo meu percurso de aprendizado com esse conto. Ocorre também que, de lá pra cá, o verbo reparar ganhou mais espaço na minha história como narradora. Em 2016, Ana Gibson e eu demos início ao projeto "A arte de reparar histórias". Juntas, fizemos uma imersão no conto "O espelho mágico", que nos rendeu muitos reparos sobre as histórias e a arte de narrar, sobre a alma humana, sobre o Brasil e sobre nós mesmas.

Nesse caminho, conheci a versão desse conto narrada por Ricardo Azevedo. E, há pouco tempo, a versão da Luzia Tereza, grande narradora paraibana. Na versão que apresento aqui, para essa nossa Chama das Histórias, me baseei naquela compilada por Câmara Cascudo, pois é a que tenho mais familiaridade e apreço. Quis também homenagear Luzia Tereza, incluindo uma de suas frases que me encheram os olhos: "Que tu serás valido".

Hoje, diante de todas as maravilhas desse conto de fadas brasileiro — os animais, os esconderijos, um espelho que tudo vê… — continua a me chamar a atenção a importância de nos fazermos valer do pequeno, do miúdo, da delicadeza,

daquilo que é quase imperceptível e que, no entanto, é extremamente poderoso.

Nos confins do mundo, pra lá de Caixa Prego, vivia um rapaz, pobre de marré de ci, órfão de pai e mãe, chamado João. Um dia, ele resolveu sair pelo mundo afora em busca de sua sorte.

Anda que anda e João topou com uma pedra em cima de um formigueiro. Formiga que estava fora não podia entrar, formiga que estava dentro não podia sair. Ai que dó que ele sentiu das formigas!

O moço tinha bom coração. Fez uma força danada e, com todo o cuidado, arredou a pedra. Quando acabou, uma formiga lhe falou: — Se um dia precisar de ajuda, é só dizer: “Valha-me o Rei das formigas!” Que tu serás valido.

João seguiu sem rumo certo. E toca a andar. Não demorou e deu com um carneiro com uma pata presa num arame. O coitado berrava que só. Ô dó que ele sentiu do carneiro!

João soltou o bichinho com todo o cuidado. O carneiro, agradecido, lhe falou: — Se um dia estiver em necessidade, é só dizer: “Valha-me o Rei dos carneiros!” Que tu serás valido.

No curso da caminhada, João viu um peixe numa poça d’água, estrebuchando. Sentiu muita dó do peixe! Devolveu o bicho para o mar ali perto. O peixe foi no fundo, fez borbulhas e voltou: — Se um dia carecer de ajuda, é só dizer: “Valha-me o Rei dos peixes!” Que tu serás valido.

Dá-lhe de andar quando João se deparou com um gavião largado no chão, todo sujo e pesado de lama, seco de sede. Mas que dó que ele sentiu do gavião! Com todo cuidado, deu-lhe um banho. Deixou o gavião limpinho e leve. Deu-lhe

água para beber e pronto: o gavião voou alto. Planou ao vento, desenhou círculos no ar. Lá de cima, disse: — Se um dia estiver em qualquer dificuldade, basta chamar: “Valha-me o Rei dos pássaros.” Que tu serás valido.

João andou mais um tanto de chão e chegou num reinado. Avistou um castelo majestoso e, numa janela, uma moça mais formosa que os amores. De uma só vez, João ficou de queixo caído, boca aberta e perna tremida. O coração batia mais rápido que asa de beija-flor.

O rapaz logo soube, pelo disse me disse do reino, que aquela moça era a princesa e que ela tinha um espelho mágico que encontrava tudo o que era escondido. Não escapava nada. Soube também que o tal do espelho só era mágico de meia-noite até o primeiro cantar do galo. E que aquele que se escondesse e a princesa não descobrisse, casava com ela. Mas, caso ela encontrasse, o pretendente perdia a cabeça. Cada um dispunha de três noites para lograr sucesso. João, que não tinha nada a perder e tinha tudo a ganhar, resolveu tentar a sorte.

Na primeira noite, saiu dos limites do reino e chamou com força: “Valha-me o Rei dos carneiros!”. Feito uma flecha, o carneiro apareceu. João lhe contou da sua necessidade. — Suba nas minhas costas! — Falou o bicho.

João montou e o rei dos carneiros disparou. Entrou numa floresta, depois numa gruta. No escuro da gruta, deitou o rapaz, cheio de carneiro por cima, de modo que, se fosse possível enxergar alguma coisa, não se veria outra coisa que não fosse carneiro.

Quando soaram as doze badaladas, a princesa pegou o espelho. Procurou. Procurou bem. Lá pela madrugada, encontrou. Tomou nota e foi dormir.

No outro dia, João se apresentou e perguntou se ela o tinha achado. Ela respondeu que sim: “dentro da gruta , deitado no chão, coberto de carneiros”. O moço suspirou.

Na segunda noite, João foi à beira-mar. Fincou os pés na areia fria, respirou a maresia e chamou alto: “Valha-me o Rei dos peixes!”. O peixe riscou na praia. Suas escamas douradas-prateadas cintilavam na água salgada. João lhe contou do que carecia. O Rei dos peixes mandou um tubarão engolir o rapaz e uma baleia engolir o tubarão. Depois mandou a baleia ir para o fundo mais fundo do mar e ficar lá, esquentando a areia com a barriga. E assim foi.

Na hora exata, a princesa puxou o espelho. Procurou. Procurou. Procurou muito bem. Até que descobriu.

O sol raiando, João se apresentou e perguntou à princesa se ela sabia onde ele tinha passado a noite. Ela respondeu que sim: “Dentro de um tubarão, dentro de uma baleia, no fundo mais fundo do mar”. O moço saiu cabisbaixo.

A essa altura a princesa estava pra lá de interessada nos esconderijos mirabolantes do rapaz. Pretendente algum tinha se escondido assim.

Era a terceira e última chance. João foi para fora do reino e chamou pelo Rei dos pássaros. Num instante o gavião riscou o céu. O rapaz lhe contou sua agonia. O gavião se abaixou e João subiu nas suas costas. Desse jeito, voaram. Atravessaram o escuro do firmamento. As estrelas piscavam. Subiram e subiram. Cada vez mais alto. Pararam dentro de uma nuvem azulada-quase-preta que se perdia de vista no manto da noite. Lá apareceu o maior pássaro dos céus que cobriu o rei dos pássaros com suas asas.

Meia-noite: a princesa caçou seu espelho e procurou. Pro-

curou nas águas e nada. Procurou na terra e nada. Procurou nos ares. Botou reparo e descobriu tudo.

Manhã cedinho, João foi ao palácio e perguntou à princesa se ela sabia onde ele tinha passado a noite. — Em cima de um gavião, coberto por outro pássaro gigante, dentro de uma nuvem azulada-quase-preta! — ela respondeu, com tiquinho de pesar.

João engoliu seco. Foi condenado à morte. Mas, como os seus esconderijos eram um tanto portentosos, a princesa concedeu ao moço uma derradeira chance.

À noite, João foi para perto do castelo. Fez valer-se do Rei das formigas, que ouviu todo o aperreio do rapaz. Depois, revelou: — O espelho pode ver tudo e todos. Só não vê a princesa. Vou virar você numa formiga. Você suba no vestido dela e trate de ficar lá bem escondido, quieto e parado, para não tomar tapa. Vindete in formigorum agorum!

O rapaz virou formiga. Andou um bocado. Entrou no palácio. Atravessou um corredor comprido. Chegou no quarto da moça. Subiu vestido acima. Era pano que não acabava mais. Foi devagar para ela não pressentir. Escondeu-se na bainha da camisa, bem nos ombros. Ficou ali só sentindo o perfume perfumoso do cabelo dela.

Na hora de sempre, a princesa pegou o seu espelho. Procurou com afinco, em toda parte. Pelejou. E nada. Até que: — Cocorocó… — o galo cantou e o encanto do espelho acabou.

João voltou a ser gente. Dessa vez, foi a princesa quem perguntou onde ele tinha passado a noite. — Só digo depois que você casar comigo!

A princesa, que já estava derretida de amores, apressou o casamento. Foram sete dias e sete noites de festa. Há quem diga que na noite do casório João contou do seu esconderijo para a moça. Outros dizem que João guardou seu segredo bem escondido, que era para o caso de precisar se valer de novo dele. Nunca se sabe.

o PríNCiPe lagartão

Julia Grillo

Apresentação

Ouvi pela primeira vez uma versão de “O Príncipe Lagartão” há muitos anos, no Encontro Internacional de Contadores de Histórias Boca do Céu, contada por Madalena Monteiro. A cena final, com as muitas peles e os muitos vestidos, me impactou fortemente e sempre me acompanhou. Só depois conheci a versão de Câmara Cascudo e, embora a história calasse fundo em mim, nunca me senti inclinada a contá-la na minha voz. Com o convite para escolher um conto popular brasileiro e recontá-lo em texto escrito neste livro, senti que havia chegado o momento de finalmente me aproximar deste conto e conhecê-lo a fundo.

Debrucei-me sobre duas versões contadas por narradores orais: a de Francisco Ildefonso, do Rio Grande do Norte, compilada por Luís da Câmara Cascudo em seus Contos tradicionais do Brasil, e a versão de Luzia Teresa, da Paraíba, compilada na antologia Estórias de Luzia Teresa, organizada pelo professor Altimar Pimentel. Tive ainda como referência a versão contada por Rosana Pamplona em seu Outras novas histórias antigas, em que o conto se intitula “O príncipe que ninguém queria”.

Valendo-me da experiência de estudar e contar histórias da tradição oral e dos recursos que me acompanham no ofício de narrar, pude mergulhar no processo de encontrar a minha forma de contar este clássico do repertório de contos populares brasileiros, seguindo o fio do que é essencial ao conto e encontrando as palavras que lhe dão corpo nesta versão.

Era uma vez um grande reino, onde tudo funcionava na mais perfeita paz e serenidade. Contudo, o rei e a rainha, que eram muito bons, ainda não tinham tido a alegria de ter filhos, e isso vinha lhes causando muita tristeza e preocupação. Todos os pais haviam tido alguma vez um bebezinho, só eles que não… E a rainha não se conformava com isso de jeito nenhum.

Um dia, ela ia caminhando pelos jardins do castelo, pensando, como sempre, por que será que ainda não tinha tido um bebezinho dentro da sua própria barriga, como tantas mulheres no reino, quando aconteceu de ver um enorme lagarto, imóvel, bem no meio do caminho. Era grande e verde, com olhar fixo. A rainha parou, ficou olhando… E disse baixinho:

“Senhor, meu Deus, faz crescer a minha barriga, nem que seja com um lagarto dentro.”

O lagarto esgueirou-se depressa, atravessando o caminho, e desapareceu no meio das folhas. O que ela não sabia era que aquele era um animal encantado por uma poderosa e secreta magia.

No mês seguinte, a rainha não sangrou. Logo, sua barriga começava a crescer. Ah, quanta alegria! Mas não tardou para que a gravidez se transformasse num suplício; a cada mexida daquele serzinho dentro dela, a rainha se retorcia de dor. Mais sofrido que tudo foi o momento do parto, por pouco ela não morreu ali mesmo. E quando finalmente veio à luz o seu filhinho, dito e feito: era um lagarto! Nasceu com um rabo comprido e um couro esverdeado, cheio de escamas, mas chorando feito um menino e com olhos de criança.

O desconcerto no castelo foi imenso. Ninguém nunca havia visto nada assim, mas ali estava, era o filho da rainha,

nascido de seu ventre. O desespero maior era que não havia jeito de fazê-lo parar de chorar. Mal a ama de leite pôs o bebê lagarto para mamar e ele arrancou o bico de seu seio. O rei mandou, então, um chamado por todo o reino, oferecendo uma recompensa a qualquer mulher que viesse amamentar o príncipe lagarto. Muitas vieram, mas todas saíram chorando de dor.

Não muito longe dali, numa casinha simples, vivia uma moça chamada Maria. Vivia com sua avó, era órfã de pai e mãe. Maria era linda, inteligente e prestimosa, adorada por todos que a conheciam. Em torno dela parecia haver sempre uma luz suave a brilhar. Pois Maria ouviu falar do chamado do rei, da aflição da rainha e da triste sina do príncipe que nasceu lagarto. Nesse mesmo dia, teve um sonho. No sonho, ela soube, com toda certeza, que precisava ir até lá.

No dia seguinte, arrumou um trouxa de roupa e algo para comer. Pediu a benção de sua avó e tão logo o dia raiou, pôs-se a caminho do castelo. Ao meio-dia, ia passando por uma grande árvore na beira do caminho e lá, sentada à sombra da árvore, estava uma velha que lhe estendeu a mão.

“Alguma comida para uma pobre senhora que tem fome, por misericórdia”.

Maria parou e buscou na sua trouxa um pedaço de pão. Entregou-o à velha, que levantou o olhar para ela e sorriu em agradecimento. A velha começou a comer e depois disse,

“E para onde vai a moça, tão determinada, com bagagem tão leve?”

Maria contou-lhe para onde ia, do sofrimento no castelo e do sonho que tivera.

“Pois escute bem o que vou lhe dizer…”

E contou-lhe uma forma de solucionar aquela grande dificuldade. Maria se despediu e seguiu seu caminho até o castelo. Lá de fora já se ouvia o choro forte e rouco do príncipe esfomeado. Maria pediu para ser apresentada à rainha e disse,

“Majestade, sei um jeito de alimentar o príncipe e acabar com esse sofrimento, se me permite”.

“E como é, minha filha? Conte-me logo pois já não aguento mais”.

“Mande fazer um seio de ferro que possa ser amarrado ao meu corpo. Nós o enchemos de leite e o príncipe vai poder mamar tudo o que quiser”.

Assim foi feito; o ferreiro da corte fabricou o artefato e encheram-no de leite. Maria amarrou-o ao busto, segurou o lagarto nos braços e finalmente ele mamou. Mamou, mamou e mamou. Ouviu-se um silêncio que preencheu todo o castelo, e o príncipe pôde dormir um sono profundo em seu berço macio. Durante um ano inteiro, Maria deu de mamar ao príncipe lagarto no seio de ferro e ele foi crescendo… Tudo nele era lagarto, exceto os olhos e a voz de menino, quando começou a balbuciar as primeiras palavras.

O tempo passou e ele foi ficando grande, tão grande, que as pessoas passaram a chamá-lo de Príncipe Lagartão. Quando completou dezoito anos, metia medo em qualquer um que o visse, com seu jeito de ficar completamente imóvel e, de repente, mover-se depressa… Sem falar do chicotear de seu imenso rabo. E como costuma acontecer, de tanto que as pessoas o olhavam com medo, o olhar do príncipe foi se tornando cada vez mais assustador, quase feroz.

Mas, ainda que tivesse corpo de lagarto, era um príncipe, filho do rei e da rainha, e chegou o momento em que quis

para si uma bela jovem com quem pudesse se casar. Os pais fizeram de tudo para tirar essa ideia de sua mente, mas não teve jeito, já tinha decidido. Queria se casar, e logo. Um chamado foi enviado a todas as jovens do reino, mas ninguém se apresentou. Nem uma única moça teve coragem de ser aquela que se casaria com o Príncipe Lagartão. Passado um tempo, quando o rei disse a seu filho que não havia nenhuma candidata, ele respondeu:

“Não seja por isso, meu pai. Eu já sei quem pode se casar comigo. Mande buscar Maria, aquela que me amamentou, e veja se ela aceita.”

E assim foi que enviaram um mensageiro até Maria com o pedido. Maria pediu três dias para considerar, e durante três dias se recolheu e rezou, pedindo a Deus que lhe mostrasse o caminho reto. Ao final do terceiro dia, estava pronta. Pediu a benção de sua avó, preparou uma trouxa de roupa e alguma comida e partiu, no primeiro raiar do dia.

Ao meio-dia, com o sol a pino, chegou àquela mesma árvore com a copa larga à beira do caminho. À sombra da árvore, a velha. Maria sentou-se ao seu lado, ofereceu-lhe pão e água. A velha olhou-a nos olhos e sorriu. Depois comeu e bebeu. Enfim, disse:

“Minha filha, a tarefa não é fácil. Preste bem atenção, siga à risca o que vou lhe dizer. Com seu coração sábio e sua vontade firme, tudo há de sair bem.”

Depois a abençoou e Maria seguiu seu caminho.

Chegando ao castelo, foi recebida pelo rei, a rainha e o príncipe, que aguardava ansiosamente. Maria saudou a todos com uma reverência. Depois, quando ficou a sós com a rainha, disse-lhe que estava ali para se casar com o príncipe,

mas que só se casava com as condições de que pudesse antes preparar o quarto de núpcias, que lhe fosse dado tudo o que ela pedisse nesse dia, e que ela mesma escolhesse a roupa de seu casamento. Assim foi feito.

Chegado o dia da cerimônia, Maria parecia uma fada, com um vestido branco todo bordado de pérolas. O Príncipe Lagartão também ia vestido com uma roupa elegante, um manto de seda, um cinto de pedras preciosas na cintura e sua coroa de príncipe. Ia rastejando ao lado dela em direção ao altar, impaciente por terminar de uma vez com aquilo.

Estavam presentes todos os membros da corte e pessoas que vieram ver com os próprios olhos o casamento. A reação era de espanto ao ver aquela moça tão bonita e delicada ao lado do monstruoso réptil que era um príncipe.

Tão logo terminou a cerimônia, foram os dois para o quarto de núpcias. Maria fez uma oração e sentou-se na beira da cama, como havia lhe orientado a velha senhora. O Príncipe Lagartão chicoteava com o rabo de um lado para o outro, olhando-a fixamente.

“Pode tirar sua roupa”, disse ele.

“Tiro sim, mas só depois que você tirar a sua”, respondeu Maria.

Ele se esgueirou para fora de seu manto e Maria tirou seu vestido bordado de pérolas. Por baixo dele, vestia outro vestido branco. Mais que depressa, agarrou o vestido e o manto e atirou-os na lareira acesa, repetindo sua oração. O fogo subiu, lambendo as roupas, e Maria voltou a sentar-se na beira da cama, com o príncipe lagarto olhando-a fixamente, seu rabo agora movendo-se devagar.

“Tire a roupa”, disse.

“Só depois que você tirar essa capa de couro”, disse ela.

O príncipe apertou os olhos. Depois, com um som sibilado, esgueirou-se para fora de sua pele rugosa, verde escura. Por baixo dessa pele havia outra, de um verde mais claro, ainda grossa e com escamas, mas um pouco mais suave do que a primeira.

Maria tirou seu segundo vestido. Por baixo dele, havia mais um. Atirou o vestido e a pele ao fogo, repetindo sua oração, e mais uma vez as labaredas subiram, queimando tudo. Voltou a sentar-se na beira da cama, e o príncipe:

“Tire a roupa”.

“Só depois que você tirar a sua”.

E assim foi. Por baixo de seu vestido de noiva, Maria vestia mais sete vestidos brancos. Por baixo de seu manto de seda, o Príncipe Lagartão tinha sete capas de couro, cada uma um pouco mais fina do que as outras. Uma a uma, Maria atirou-as ao fogo, sempre dizendo sua oração. Quando foram jogados ao fogo o último vestido e a última capa, fez-se um clarão em todo o quarto, como um relâmpago.

Diante de Maria estava agora um homem. Um jovem, todo humano, com a pele lisa, mãos e pés, ombros, pernas, tudo, e com o olhar mais doce que já se viu. Maria conduziu-o até uma banheira já preparada com água de flor de laranjeira e banhou seu corpo inteiro, com o maior carinho, entoando baixinho sua oração. Depois, ela mesma se banhou.

E foi assim que, no dia seguinte, diante do olhar de puro maravilhamento do rei e da rainha, o príncipe feito homem e Maria, feita princesa, saíram de seu quarto para o primeiro de muitos dias felizes que viveriam juntos. Até o fim de suas vidas.

aS trêS irmãS

Rita Gama

Apresentação

O conto “As três irmãs” me encontrou há alguns anos como conto colombiano. Contei uma vez e ficou guardado muito tempo, mas eu sempre voltava a ele… a intriga, a troca e abandono dos bebês me comoviam, e os cuidados e sortes nessa história, apesar dos desafios, iam me iluminando desde dentro nas minhas próprias travessias e processos de curas, descobertas e espantos.

De repente me chegaram muitas versões! Fiquei encantada quando descobri que no fio remoto do tempo esse conto estava na coletânea As mil e uma noites, que reúne desde o século IX histórias que circulavam oralmente. Na versão de Antoine Galland, esse teria sido o último conto ouvido por Chariar antes que ele perdoasse a todas as mulheres e se sentisse curado pelas palavras de Scheherazade.

Me espantei com as andanças desse conto de boca em boca, ouvido em ouvido, atravessando tempos e continentes. Sempre o mesmo e sempre diferente. Entre os títulos, aparecem “As três irmãs”, “A rainha e suas irmãs”, “A história das duas irmãs que invejavam a mais nova” e “Farisad do sorriso de rosa, a montanha mágica e as três maravilhas”.

Demorei a descobrir as versões brasileiras. Eu folheava Os contos tradicionais brasileiros, e quase caí pra trás quando o encontrei… Percebi que ele me acenava com desejo de participar desse livro. Câmara Cascudo o classifica como “Conto de Encantamento”, e levanta amplo histórico de versões, desde Portugal no século XVI, África Setentrional, Índia e Espanha.

Depois conheci versões recolhidas recentemente na Bahia por Rogério Soares (que a escutou de Dona Elita) e por Marco Haurélio, que o escutou de Jesuína Magalhães. Ele me apresentou à versão de Silvio Romero, a que mais serviu de inspiração a essa. Agradeço pela indicação e por ter me contado ser a sua preferida — tendo se tornado também a minha nesse momento. Silvio Romero a entitula “Os três coroados”, e apresenta elementos que se aproximam de outros contos que circulam no imaginário de nossa terra.

Essa história se desenrola como um longo fio que atravessou os continentes, sendo semeado nas terras brasileiras por uma cadeia de narradores e ouvintes, até chegar ao livro em suas mãos. Deixo aqui um último mistério: há alguns anos atrás, foi essa a história que Camila ouviu quando me chamou pra integrar a Chama das Histórias, que segue aqui aumentando mais um ponto enquanto conto o conto. Vamos à história!

Era uma vez três irmãs. Elas eram fiandeiras e toda noite, enquanto trabalhavam, conversavam muito. Eram amigas. Acontece que nesse tempo e nesse lugar havia um rei que nas noites saía vestido de gente simples escutando os assuntos atrás das portas e janelas de seu povo.

Nessa noite em que o ouvido do rei encostou na porta das três irmãs, elas conversavam sobre seus desejos… A mais velha disse que queria casar-se com o cozinheiro do rei, que ia comer assados, iguarias… slurp! As bocas enchiam de água e elas riam e riam. A irmã do meio disse que gostaria de casar-se com o confeiteiro real… hum!… imagina quantos doces, sorvetes, compotas e tortas comeria. A caçula demorou a manifestar o desejo de seu coração. Seus olhos faiscavam como os de quem fosse compartilhar um segredo profundo. As irmãs insistiam, ansiosas. E ela disse: eu desejo casar-me com o próprio rei, e dar a ele três filhos com uma estrela brilhante na testa. Elas riram e coroaram a mais nova com o cesto furado onde guardavam os novelos.

O rei tinha ouvido tudo atrás da porta, lembram? No dia seguinte ele pediu que as irmãs fossem levadas até o palácio. Elas ficaram abobalhadas com a sofisticação de tapetes, vitrais e pinturas. Na sala do trono, o rei apontou para a mais velha e afirmou: — Você deseja casar-se com meu cozinheiro! – Imagina, meu rei — disse a jovem — era brincadeira! — Se desejou, assim será!

Virou-se para a do meio e disse: — E a senhorita deseja casar-se com meu confeiteiro. — Não, majestade, era galhofa, aquilo — a moça tentou conversar, mas foi interrompida pelo rei:

— Se desejou, assim será — e ordenou o casório no mesmo dia.

Então o rei olhou fundo nos olhos da caçula e disse: — E você deseja casar-se comigo e se tornar rainha. Ela retribuiu a profundeza do olhar e afirmou que sim, era esse o seu desejo. E assim foi. A festança durou sete dias e sete noites, com muita comida, bebida, abraços e sorrisos, e a alegria contagiou todo o reino.

A rainha estava feliz de estar com as irmãs no castelo… Mas adivinhem o que aconteceu? As irmãs começaram a sentir uma inveja danada, que as fazia morrer de frio em pleno verão. Elas até disfarçavam, mas no invisível dos dias não paravam de tramar para destruir a caçula e tomar o seu lugar.

Foi então que a rainha engravidou! Ah! Ficou com uma barriga imensa, esparramando esperanças de um herdeiro justo e de prosperidade para todos. As irmãs viram ali uma oportunidade. A rainha confiava tanto nelas que no dia do parto dispensou médicos, curandeiros e parteiras pra ser acompanhada só por elas. E o dia em que ela acreditava ser o mais feliz da sua vida acabou sendo o mais triste.

Nasceram dois meninos rechonchudos e uma bebezinha bonita como os amores, cada um com uma estrela brilhante na testa. Mas as tias nem viram: enrolaram os três num pano e entregaram à criada, pra que ela os jogasse no rio e acabasse com aquilo. Os bebês foram trocados por um sapo, uma cobra e um gato, e a mãe tomada por um desespero, um vazio profundo. Passou a lidar com o luto dos seus três filhos tão esperados. O rei não perdoou à rainha. Há muitos anos atrás ele ouvira bem sobre os filhos estrelados, e resolveu castigá-la: mandou que fosse enterrada na porta do castelo até

o pescoço e qualquer um que ali passasse deveria xingar e cuspir na rainha. Assim foi feito, e a rainha ficou no duro seco do chão cuidando daquele abismo que ela tinha por dentro.

A criada jogara mesmo os três bebês no rio. O cesto desceu pela correnteza sendo avistado por um jardineiro que, intrigado, o pescou com sua ferramenta de trabalho. Ele correu pra desvendar com a companheira aquele mistério que ele achava ser um tesouro. Abriram o cesto e viram bebês tão pequenos, ainda com os cordões presos aos umbigos. Era um presente divino! Filhos para amar e cultivar, há tanto tempo desejados. E assim foi. Brincavam muito e, maiorezinhos, estudaram tudo o que há pra saber sobre a natureza, o céu, a terra, os grandes mistérios, a vida e a morte. Caçavam e bordavam. Usavam um gorrinho para proteger as estrelas em suas testas. Cresceram fortes e unidos. Um dia foram vistos pelas tias malvadas que estavam na janela do palácio. De algum modo elas sabiam.

Então os chamaram e deram a eles três frutas cheirosas, que eles morderam assim que entraram em casa… e adivinha? No tempo de uma piscadela, tornaram-se estátuas de pedra maciça. A mãe soltou um grito de aflição e espanto! Decidiu então iniciar uma viagem até a casa do Sol pra ver se ele conhecia um jeito de meninos virados em pedra virarem gente novamente. Ela botou o caminho no pé e andou, andou, e andou.

Encontrou um rio grande e o rio, sabendo da jornada da mulher, pediu se ela poderia perguntar ao Sol porque ele, sendo tão limpo, profundo e de águas cristalinas, não tinha um peixe sequer? A mulher se comprometeu. Mais adiante havia uma árvore frondosa cheia de passarinhos. Ela se sen-

tou pra comer e a árvore pediu que ela perguntasse ao Sol porque ela, tão majestosa, não dava frutos. Mais adiante três moças que moravam no caminho a chamaram para um café. As moças falaram que ninguém passava ali, que elas não tinham amigos e nem podiam sonhar em namorar… Será que aquela jovem mãe não poderia levar mais esse problema para o Sol resolver? E a mãe levou com ela mais esse pedido.

Quando chegou à Casa do Sol, ele ainda não havia chegado. Ela sentou-se com a mãe do Sol e tocaram a prosear naquelas perguntas e curas que a mulher vinha buscar. Dali a pouco o Sol chegou fazendo tanto barulho, esbravejando, e a mulher, assustada, se escondeu e ficou bem quietinha, piscando para a mãe do Sol. Ele vinha queimando tudo pelo caminho, e dizendo — Fi, Fo, fei, Fum, sinto cheiro de sangue de gente.

Mas a mãe dele desconversou, sorridente, dizendo que era uma caça que ela preparara para a refeição. Sentaram. A mãe do Sol perguntou por que um rio forte e caudaloso não dá peixe? — Ora — ele disse — é porque ninguém nunca morreu nesse rio.

Ah!, disse a mãe… e continuou: — E por que será que uma árvore imensa e forte não dá frutos? — É porque tem um tesouro nas raízes que precisa ser retirado pra árvore prosperar — disse ele, já impaciente com tanto assunto. Mas a mãe seguiu perguntando: — E por que três moças não encontram amigos nem namorados? — É porque de manhã elas fazem xixi pro lado que eu nasço. Elas têm que fazer pro outro lado, ué! — respondeu o Sol

com jeito de encerrar a conversa. Ele estava irritado, reclamando da mãe cheia de assuntos demais… Mas ela prosseguiu pra saber da cura dos meninos: — Só mais uma coisa: como será que três jovens virados em pedra podem tomar de novo forma de gente?

A mãe dos meninos abriu bem os ouvidos e ouviu que o jeito era pegar uns bocados de dentro da boca do Sol quando ele estivesse comendo… Aí pronto, dali a pouco a mãe do Sol pediu que ele deixasse ela tirar um cisquinho da boca dele, “dá licença, meu filho”, e depois um fio de cabelo na comida, e depois uma pedrinha… e foram três os bocadinhos mastigados que a mãe do Sol pegou e guardou no bolsinho. O Sol estava furioso, porque aquele comer naquele dia estava muito cheio de porcaria, e que desde o início do tempo ele não tinha descansado e agora ia dormir. Humpf!!

Então, a mãe agradecida, pegou os bocadinhos, abraçou a mãe do Sol e voltou o mais rápido que pôde… Encontrou as três moças e orientou que o xixizinho da manhã fosse feito do outro lado. Mais adiante passou pela árvore e contou sobre o tesouro na raiz… o desenterraram e a mãe levou o tesouro pra casa.

O rio perguntou a resposta a sua pergunta e ela gritou lá de longe depois de atravessar: “foi porque ninguém nunca morreu nas suas águas”… E o rio na mesma hora aprontou uma tromba d’água daquelas. Ela chegou em casa, pegou os bocadinhos de comida e abençoou com esperança no cucuruto de cada filho de pedra, e viu os três queridos voltando a ser quem eram. Ufa! E seguiram a vida.

Um dia, o rei viu os três irmãos e os chamou pra uma refeição no palácio. Era delicado recusar um convite real, então

eles foram. Mas antes, a mãe disse a eles que veriam uma mulher quase morta na porta do castelo, num canto sujo imundo, com a cabeça pra fora da terra. “Cumprimentem essa mulher, levem seus pratos de comida até ela e a alimentem. Ela é sua outra mãe” — ela orientou.

Era uma comida fresca, apetitosa, com uma fatia de melão bem doce em cima. Eles levaram pra compartilhar com a rainha a cada bocado que ela comia lhe voltava o viço e a vitalidade… e riam, se olhando com afeto.

As tias foram até lá xingar a rainha, dizendo que era muito gulosa pra comer três pratos de uma vez. Então os meninos tiraram seus gorrinhos deixando as estrelas iluminando tudo. O rei chegou bem a tempo de escutá-los dizer que a mãe não só comia três pratos como já tivera três bebês na barriga. E foi dada à luz a verdade dos três príncipes estrelados finalmente retornando para casa. A rainha foi cuidada e se regenerou. As tias saíram correndo dali e devem estar correndo até agora.

O reino prosperou, as curas chegaram para todos e foi possível novamente sonhar. E o que era de vidro, quebrou-se. O que era papel, molhou-se. Entrou por uma porta, saiu pela outra, e quem quiser que conte outra.

biografiaS

Anamô Soares

Professora, escritora e contadora de histórias. Idealizadora dos projetos Lê Comigo, selecionado para concorrer ao prêmio Nacional LED – Luz na Educação, e Mãos no Mundo. Especialista em Literatura Infantil e Juvenil, cursando Especialização em Literatura Brasileira de Autoria Feminina. Em seu trabalho como professora da rede pública de ensino, contadora de histórias, escritora e empreendedora literária busca construir espaços de valorização da cultura negra. É estudante da Escola Portátil de Música e Capoeirista no grupo Capoeira Rucungo.

Camila Costa

Contadora de histórias, professora de teatro e atriz. Especialista em Literatura Infantil e Juvenil e mestranda em Ensino de Artes Cênicas na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, com pesquisa em oralidade na sala de aula. Atua como professora no Colégio de Aplicação da UFRJ. É artista integrante do Teatro Caminho. Criou e coordena a Chama das Histórias, projeto por meio do qual tem materializado sonhos no campo das narrativas orais em muito boa companhia, como é o caso deste livro.

Emiliana Moraes

Paraense, nascida como cabocla ribeirinha no município de Bagre, na região do Marajó. Contadora de Histórias, Arte Educadora, Escritora. Formada em Direito e Artes Cênicas pela UFPA, Técnica Circense pela Escola Nacional de Circo do RJ e pesquisadora da ancestralidade ribeirinha e indígena amazônica. Brincante, leva para as infâncias afora sua infância marajoara.

Gizele Santos

Contadora de Histórias, especialista em Literatura Infantil e Juvenil, colaboradora da Associação Viva e Deixe Viver, e do Rio de Histórias; membro do coletivo Chama das Histórias. Participações individuais em Paixão de Ler (PMRJ); Bienal de Livros/RJ; Maratona Rio das Mil e Uma Histórias; Festival Carioca de Contação de Histórias e FIL — Festival Internacional Intercâmbio de Linguagens. Leitora profissional, em níveis domiciliar e corporativo; e coordenadora de edições de livros para autores independentes.

Julia Grillo

Contadora de histórias, poeta, tradutora e arte-educadora. Formada em Letras e em Dança, com mestrado em Artes, dedica-se a pesquisar o universo das histórias de tradição oral e o processo criativo na arte de contar histórias. Publicou com Nicia Grillo a compilação de contos O Guerreiro Invisível e outros contos do Tempo. É diretora da Oficina Escola de Arte Granada, em São Pedro da Serra, dedicada a difundir a educação pela arte e as histórias da tradição oral.

Juliana Franklin

Pesquisadora e narradora de histórias da tradição oral. É integrante do Grupo Palavra Chave de Contadoras de Histórias, junto com Julia Grillo e Marcela Carvalho. Com Ana Gibson, realiza o projeto “A arte de reparar histórias” e escreveu o livro Uma história e uma história e uma história: Contos dos contos da tradição oral, (Folio Digital).

Lucia Morais Tucuju

De origem indígena do povo Galibi Marworo, do Amapá, Especialista em Literatura Infantil e Juvenil, professora, escritora, narradora de histórias, membro da Academia Internacional de Letras do Brasil e do Mulherio das Letras Indígenas. Atriz do espetáculo teatral “Arandu Lendas Amazônicas”, em cartaz em todos os Centros Culturais Banco do Brasil, Palestrante de Literatura e Cultura indígena.

Marcela Carvalho

Nascida no Rio de Janeiro em 1984, com graduação em Artes e Design e com mestrado em Literatura na PUC-Rio. É bordadeira, narradora e pesquisadora de contos de tradição e da relação com as artes do fio. Integra o Grupo Palavra-Chave de contadoras de histórias. É autora e ilustradora. Seu livro, “Lampião e o vovô da vovó na cidade de Mossoró!” foi selecionado para o catálogo da ONU 2030. Entre outras publicações destaca a ilustração da canção “A linha e o linho”, do compositor Gilberto Gil.

Rita Gama

Contadora de histórias, brincante do grupo Céu na Terra e percussionista. É colaboradora do projeto Chama das Histórias e da Espiral da Palavra. É museóloga, mestre em Sociologia e atua na Fundação de Arte de Niterói. É autora e organizadora de livros ligados ao universo dos museus. Adora ouvir e contar histórias da tradição viva e acredita que os tesouros ficam melhores quando compartilhados.

Rosana Reategui

Atriz, narradora oral e gestora cultural peruana-brasileira, integrante fundadora do grupo “Os Tapetes Contadores de Histórias” e diretora do coletivo têxtil “Manos que Cuentan”. Formada em Licenciatura em Artes Cênicas pela Escola de Teatro da UniRio. As histórias a levam para estudos sobre as narrativas femininas e as manifestações das oralidades dos povos originários latino-americanos.

Bibliografia

AZEVEDO, Ricardo. Contos de adivinhação. São Paulo: Editora Ática, 2008.

BALDUS, Herbert. Revista do Museu Paulista. São Paulo:

Museu Paulista, n. IV, pp. 217-32, 1950.

BARCA, Leontina. Contos de aventuras e magia das mil e uma noites. São Paulo, Princípio, 2007.

BLAKE TYRELL, William. Las amazonas: Un estudio de los mitos atenienses. México: Fondo Cultura Economica

FCE, 1989.

BODENMÜLLER, Celina ; PRANDO, Fabiana. A Flor de Lirolay e outros contos da América Latina. São Paulo: Panda Books, 2015.

CASCUDO, Câmara. Contos tradicionais do Brasil. São Paulo: Global, 2004.

_________________. Geografia dos mitos brasileiros. São

Paulo: Global, 2001.

DIAS, Joseli. Mitos e lendas no Amapá. 4. ed. Brasília : Senado

Federal, Conselho Editorial, 2020. (Edições do Senado

Federal ; v. 281).

GALLAND, Antoine. As mil e uma noites. Trad. de Alberto Diniz. Apres. de Malba Tahan. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.

GIBSON, Ana ; FRANKLIN, Juliana. Uma história e uma história e uma história: Contos dos contos da Tradição Oral.

Rio de Janeiro: Folio Digital, 2019.

LISBOA, Henriqueta. Literatura oral para a infância e a juventude, Lendas, contos e fábulas populares do Brasil.

São Paulo: Peirópolis, 2002.

MUNDURUKU, Daniel. Contos indígenas brasileiros. Il. de

Rogério Borges. 2º ed. São Paulo: Global, 2005.

PHILIP, Neil. Volta ao mundo em 52 histórias. São Paulo:

Companhia das Letrinhas, 1998.

PAMPLONA, Rosane. (Org.). Outras novas histórias antigas.

São Paulo: Brinque-Book, 1999.

PETYNGUA – Símbolo da vida Guarani. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado em forma de vídeo à Licenciatura. Intercultural Indígena do Sul da Mata.

PIMENTEL, Altimar de Alencar. Estórias de Luzia Tereza

Vol. 1. Brasília: Thesaurus, 1995.

PIMENTEL, Altimar de Alencar. (Org.). Estórias de Luzia Tereza Vol. 2. Brasília: Thesaurus, 2001.

ROMERO, Silvio. O Sarjatário. Disponível em: <http://www. poeteiro.com/2017/12/o-sarjatario-conto-de-silvio-romero.html?m=1>. Acesso em 18 set. 2022.

Agradecimentos

Agradecemos a todas as vozes que ao longo dos tempos contribuíram para que as histórias permaneçam vivas, percorrendo os fios das memórias, até chegar a este livro.

Que elas sigam se perpetuando na tessitura da vida, no balbuciar dos lábios, no tamborilar dos corações e no trepidar do fogo!

Agradecemos às mestras e aos mestres da palavra que, através de suas vozes, ensinam e deixam sementes, germinando mundos.

Agradecemos a todas as pessoas que tornam esse sonho possível desde a nossa primeira fogueira.

Ana Cristina Santos, Ana Gibson, Anamô Soares, Anna Clara Carvalho, Alexandre Pimentel, Alexandre Rios, Assis de Oliveira, Auritha Tabajara, Barbara Pelacani, Cíntia Barreto, Claudio Barria, Daniela Nunes Araujo, Daniele Ramalho, Delmares Costa, Dora Gadelha, Eliza Morenno, Emiliana Moraes, Gisele Lopes, Gizele Santos, Gui Stutz, Gregorio Tavares, Heloísa Abrantes, Iara Souto, Julia Grillo, Juliana Franklin, Lena Martins Abayomi, Lina Hoeppner Pimentel, Lucia Morais Tucuju, Luiza Toschi, Maricléa Dias Soares, Marcela Carvalho, Marcela de Paula, Mariana Borgerth, Mariah Miguel, Marília Gorito, Padu, Raquel Mascarenhas, Ricardo Gadelha, Serena Costa Gadelha, Tatiana Henrique, Teatro Caminho, Violeta Araujo Barria e todas as pessoas que

já vieram nos ouvir.

Ficha técnica do projeto

Concepção e Curadoria:

Camila Costa

Direção Artística:

Camila Costa e Ricardo Gadelha

Narradoras-autoras:

Anamô Soares, Camila Costa, Emiliana Moraes, Gizele Santos, Juliana Franklin, Julia Grillo, Lucia Morais Tucuju, Marcela Carvalho, Rita Gama e Rosana Reátegui.

Ilustrações e arte gráfica:

Flávia Trizotto

Palestrantes:

Auritha Tabajara, Ana Gibson, Juliana Franklin e Julia Grillo.

Captação de imagens e edição de vídeo:

Carolina Calcavecchia

Direção de Produção:

Camila Costa

Produção Executiva e Prestação de contas:

Mariana Borgerth

Coordenação Administrativa:

Faz Fazendo Produções Artísticas – Gregório Tavares

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Instagram: @chama_das_historias YouTube: Chama das histórias E-mail: chamadashistorias@gmail.com

fale com a cândido

@edicoescandido www.edicoescandido.com livros@edicoescandido.com

Este livro foi composto na tipologia Adobe Devanagari 11, títulos em 14. Impresso em São Paulo em papel Polen Natural 80 pela Psi7, para Edições Cândido, em novembro de 2022.

Este é um livro-coro. Nossa escrita vem reverberar as vozes contidas nessa coleção de histórias. Este é um livro-pergunta. Que vozes contam o Brasil? Este é um livro-embate. Numa sociedade em que as narrativas estão em disputa, escolhemos estar nas trincheiras poéticas. Este é um livro-beleza. Ainda que o encontro entre culturas nessas terras seja sangrento e opressor, a força dos universos simbólicos de cada povo que por aqui permaneceu, resiste, existe, se encontra e recria novas — antigas simbologias. Este é um livro-festa. Para nos lembrar que luta e celebração podem caminhar de braços dados. Este é um livro-roda. Construído coletivamente, a muitas mãos, por mulheres artistas da palavra que reuniram aqui seus talentos para imaginar outras realidades possíveis. A sociedade que desejamos é um projeto em construção.

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