Revista Poder | 114

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Quanto melhor a pergunta, melhor a resposta. E melhor se torna o mundo de negócios.

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FOTOS MAURÍCIO NAHAS

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SUMÁRIO 8 10 16

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EDITORIAL COLUNA DA JOYCE O PALADINO DA JUSTIÇA O criminalista Kakay agora

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defende a presunção de inocência

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10 ANOS, 114 EDIÇÕES

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Retrospectiva de PODER e dos protagonistas da última década 34

ALMOÇO DE PODER

Juca Kfouri sem meias palavras 40

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SENHORA DOS PALCOS

Aos 88 anos, a energia da atriz Nathalia Timberg é de fazer inveja

MADE IN JAPÃO

Um país dividido entre o moderno e o arcaico 62 64

É DE PODER POR CIMA

Helicópteros confortáveis e luxuosos para viagens de negócio e de turismo

MEGAMENTE

Stephen Ross, o milionário norte-americano que rivaliza com Donald Trump em megalomania

MÉDICOS DE REPUTAÇÃO

Especialistas evitam vazamento de dados de saúde para salvar carreiras de políticos

EM ÓTIMAS MÃOS

Márcio Crisóstomo: referência em transplante capilar 26

O CARRO DO FUTURO

Novas perspectivas do mercado automobilístico, na opinião de Stefan Ketter, presidente da FCA

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COZINHA DE PODER HIGH-TECH CULTURA INC. UNIVERSO PARTICULAR CARTAS ÚLTIMA PÁGINA

KAKAY POR MAURÍCIO NAHAS

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PODER EDITORIAL

uem fica parado é poste, reza a sabedoria popular, e, apesar de tudo o que nos disseram, o Brasil não ficou parado nestes dez anos da PODER. Ou, vai ver, fomos nós que andamos rápido demais. Políticos, empresários, líderes, médicos, vanguardistas, herdeiros, jogadores, artistas, excêntricos, gente muito brilhante passou por aqui – e, claro, vai seguir passando pelos próximos dez – que dez, nada! – vinte anos, que somos loucos para dobrar a aposta. Antônio Carlos de Almeida Castro, ou Kakay, como é mais conhecido o criminalista mais célebre do Brasil, encarna esse espírito. Advoga para todos os poderosos da República e agora também, pode-se dizer, para o Direito, atacado pelos excessos dos mocinhos da Lava Jato. Tudo isso sem perder a brandura: canta horas seguidas, recita poesia, bebe muito vinho e cultiva amigos do peito. Kakay é 10! Só não joga futebol nem comenta partidas que não sejam do Cruzeiro (ou daquele outro time de sua Minas Gerais), que isso ele prefere deixar para quem sabe de verdade lidar com contenciosos. Como Juca Kfouri, que, ao sentar praça no jornalismo, liberou o coração vermelho para bater fora do horário de trabalho. Ideologia pode até parecer algo démodé na era Trump, mas se o dinheiro for mesmo a medida das coisas, o presidente norte-americano tem um rival à altura em seu próprio quintal, o incorporador Stephen Ross, chamado “The King” em Nova York, sujeito para quem a palavra “utopia” não existe. Enquanto isso, o repórter Chico Felitti mostra qual é o novo pesadelo dos políticos: seus prontuários médicos. Mas a hora é de comemorar. Então, vamos celebrar de verdade, com champanhe, que a gente mostra como consumir de diversas maneiras, até no prato, em uma receita divina de camarão com caviar. Falamos ainda de helicópteros e da beleza do Japão, maravilhosamente retratada por Maurício Nahas – que também fotografou Kakay. Uau! Que venham as próximas décadas.

G L A M URAM A . C O M



É em Londres que DANIEL DANTAS tem passado a maior parte de seu tempo. Transferiu para lá a administração de seus fundos, evitando, assim, uma exposição desnecessária e o clima reinante no país quando seu nome surge no noticiário. Vale lembrar que a filha dele, Cecília, considerada tão gênio quanto o pai, está morando lá, depois de ter estudado nos Estados Unidos.

CHÁ DE SUMIÇO

O presidente MICHEL TEMER não tem ido ao escritório do advogado e amigo de longa data José Yunes como costumava fazer. Da mesma maneira, o presidente também tem evitado pisar em seu próprio escritório, que fica em uma rua próxima no mesmo bairro: o Itaim, em São Paulo. Mas o entra e sai de advogados de um e de outro escritório levando documentos e se visitando mutuamente chama a atenção na região.

ESTACA ZERO

Quem não gostou de LUCIANO HUCK ter desistido de concorrer ao Planalto foi NIZAN GUANAES. Seria ele o publicitário da campanha. E a coisa estava tão animada que um funcionário de confiança de Luciano já havia sido transferido do Rio para São Paulo a fim de trabalhar com Nizan. Seis meses atrás.

FOTOS ISTOCKPHOTO.COM; GETTY IMAGES; VICTOR MORIYAMA/FOLHAPRESS; ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL; JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL; ALAN SANTOS/PR; PETRA WEZEL/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

TEA FOR TWO


TROPICANA

Casa ícone da região da baía de Camamu, o château que DUDA MENDONÇA tem em Taipu de Fora, Barra Grande, está à venda. O terreno de frente para o mar é enorme e a ideia é que sirva para uma pousada ou coisa do gênero, já que as instalações são cinematográficas. Aliás, foi lá que Neymar alugou para passar o Réveillon deste ano, convidou seus parças e deixou todos para retomar seu namoro com Bruna Marquezine, que estava em Fernando de Noronha. No mercado comenta-se que Duda está pedindo R$ 40 milhões – o que seria muito bem-vindo nesse momento delicado pelo qual o publicitário passa, depois de ter seu nome envolvido no mensalão.

NÃO É FORÇA, É JEITO

Não é só o Rio de Janeiro que exige que o governo federal assuma um papel no combate ao tráfico de drogas. CAMILO SANTANA, governador do Ceará, desde 2015 envia uma série de ofícios ao poder central exigindo que o papel de combate ao crime organizado e proteção das fronteiras seja exercido. Santana também promoveu encontros com outros governadores e chegou a se reunir no Acre com vários políticos de outros estados para debater o tema. O próprio presidente Michel Temer foi procurado sobre o assunto pelo governo do Ceará. Mas não estamos falando de intervenção federal com tropas militares: o que o Ceará, um dos estados que mais investe em segurança pública, defende com unhas e dentes é o apoio principalmente na área de inteligência – sem o qual combater o crime organizado se torna inviável.

LÍRIOS

Os 20 anos da morte de Luís Eduardo Magalhães não passarão em branco. Seus amigos e a família preparam uma série de homenagens que devem acontecer em abril em Salvador.

CAIXA REGISTRADORA

Maior feira de bens de consumo do mundo, a edição de 2018 da Messe Frankfurt Ambiente, que aconteceu mês passado, bateu recorde de visitantes internacionais: mais de 130 mil compradores de 168 países diferentes. Foram cinco dias de evento com cerca de 4 mil expositores, a grande maioria de fora da Alemanha.

PODER JOYCE PASCOWITCH 11


• programar-se para ir ver a Copa do Mundo ao vivo ou visitar a Rússia de outro jeito: lendo O Capote, de Nikolai Gogól

• aproveitar a primavera em Londres com direito a chá das 5 no hotel Dorchester e um passeio a cavalo no Hyde Park • dividir um misto quente e uma cerveja artesanal n’A Casa do Porco, uma das maiores delícias de São Paulo, comandada pelo chef Jefferson Rueda

• garantir ingressos para o Coachella, na Califórnia. Beyoncé, que cancelou seu show ano passado por causa da gravidez dos gêmeos, já garantiu presença no festival , que acontece em abril

• pesquisar roteiros de verão para as férias no Hemisfério Norte – que tal Stromboli, na Sicília? • passar a noite em claro se divertindo com as duas temporadas de Divorce, série da HBO com Sarah Jessica Parker e o ótimo Thomas Haden Church na pele do casal Frances e Robert • pular na frente da concorrência e intensificar os treinos de ginástica funcional ou Hiit – corpo são em mente sã • assistir ao filme francês Monsieur & Madame Adelman, uma pequena preciosidade que já saiu de cartaz mas está no NOW

NOVATO

CHARLES COSAC, fundador da lendária editora Cosac Naify, diretor da Biblioteca Mário de Andrade

desde que João Dória assumiu a prefeitura de São Paulo, já se tornou o queridinho do serviço público municipal. Além de se jogar de cabeça no trabalho, ele é extremamente afetuoso e chega a resolver os problemas de falta de recurso de forma, digamos, heterodoxa: tirando do próprio bolso. Desde complementos salariais para funcionários que ganham muito aquém de suas funções até a compra de mobiliários necessários para os trabalhos, tudo que está a seu alcance para garantir que a biblioteca tenha um belo padrão de serviço Cosac faz. Recentemente, aliás, ele divertiu a equipe com uma mensagem inusitada: satisfeito com a designação de uma procuradora que voltara de licença para ajudá-lo a tocar os diversos projetos que, ansioso, quer rapidamente pôr de pé, o editor agradeceu e prometeu até retirar as mandingas que havia mandado para o jurídico da Secretaria Municipal de Cultura, a quem ele atribuía a demora.

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FOTOS PAULO FREITAS; CORDEL IMAGENS/DIVULGAÇÃO; GETTY IMAGES; ISTOCKPHOTO.COM; DIVULGAÇÃO

EM MARÇO, A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO...


PODER INDICA

NADA MENOS QUE A PERFEIÇÃO Diversos conceitos destacam os carros da Lexus dos automóveis fabricados por outras marcas de luxo, mas dois deles são bastante emblemáticos, porque traduzem o espírito nipônico: hospitalidade e precisão. Quando se fala em omotenashi, por exemplo, estamos nos referindo ao acolhimento que um japonês é capaz de oferecer a seus hóspedes, à capacidade de prever as necessidades e os anseios daqueles que se recebe em casa. Em um Lexus isso se traduz com um design capaz de provocar uma experiência única, ininterrupta e intensa aos ocupantes. O omotenashi também se expressa no cuidado com que o consumidor é recebido nas concessionárias: da negociação em espaço reservado ao pós-venda, o objetivo é sempre se antecipar aos desejos dos clientes. Porque mais que um carro, um Lexus é uma experiência. Em 1983, Eiji Toyoda, presidente da Toyota Motor Corporation, desafiou seus engenheiros a desenvolver o melhor carro de luxo do mundo. O que Toyoda queria era veículos que unissem perfeição, tecnologia, segurança e sustentabilidade - pilares que norteiam a Lexus até hoje. Não por acaso os engenheiros da empresa são chamados takumis ou artesãos. Eles se dedicam a fazer carros cada vez melhores, cada vez mais perfeitos e têm a enorme responsabilidade de adicionar a beleza do artesanato tradicional ao universo altamente tecnológico da Lexus. Esse trabalho é tão preciso e requintado que há quem os considere verdadeiros artistas. LEXUS.COM.BR


REVOLUÇÃO À VISTA Henrique Luz, sócio e vice-presidente da PwC Brasil fala sobre seu plano B depois que deixar a consultoria

VOLTA ÀS AULAS “Eu escolhi dois cursos diferentes entre si, mas que têm a ver comigo”, conta. O primeiro foi o de mediação de conflitos na Universidade de Harvard [um dos mais renomados especialistas em negociação e mediação, o

NÚMEROS E ARTE Demonstrações financeiras, controles, avaliação de risco, compliance. Em suas quatro décadas de PwC, Henrique ficou envolvido com números, estatísticas e planilhas. Sem problema, já que é graduado em ciências contábeis e passou por vários programas executivos em escolas de negócios de universidades internacionais de renome. Mas se engana quem tem certeza que ele só pensa em números. O interesse por outras áreas sempre foi presente, não só na PwC, onde se envolveu em áreas como estratégia, inovação, expansão comercial, branding, mas também em sua vida pessoal. “Sempre gostei de arte contemporânea”, conta eke que há mais de vinte anos faz parte do conselho do Museu de Arte Moder-

na (MAM) do Rio de Janeiro e de São Paulo. Também é fã e estudioso da bossa nova. Henrique também atua como Conselheiro da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil há mais de 30 anos e, recentemente, incorporou-se à obra de Dorina Nowill, como conselheiro da prestigiada fundação. Essa diversidade de interesses sempre o ajudou a compensar o mundo das Exatas que enfrenta no trabalho. DIVERSÃO E NEGÓCIOS À PARTE “Muita gente pensa que o campo de golfe é um ótimo lugar para fazer negócios. Acontece que não se costuma falar sobre trabalho durante o jogo. Mas, no fim das contas, você acaba construindo uma rede de relações que pode ser útil em algum momento.” QUESTÃO DE GOVERNANÇA Henrique também faz parte do conselho do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e acredita que uma das saídas para o Brasil é abraçar os quatro pilares da governança: transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa. DAQUI PARA FRENTE Há pelo menos três décadas, participa de conselhos de entidades sem fins lucrativos. No período pós PwC pretende seguir esse caminho. “Tenho pelo menos mais 20 anos de vida ativa pela frente. Não tem sentido parar agora”.

Pode-se construir um trono com baionetas, mas não é possível sentar-se nele CHARLES MAURICE DE TALLEYRAND-PÉRIGORD com reportagem de fábio dutra 14 PODER JOYCE PASCOWITCH

FOTOS PAULO FREITAS; CORDEL IMAGENS/DIVULGAÇÃO; GETTY IMAGES; ISTOCKPHOTO.COM; DIVULGAÇÃO

C

om quatro décadas de PwC, Henrique Luz, sócio e vice-presidente da consultoria no Brasil, se prepara para uma nova etapa em sua carreira. O executivo carioca, que começou a trabalhar na consultoria aos 20 anos, e se tornou um nome reconhecido em sua profissão e na comunidade de negócios, sai da empresa em junho, mês em que completa 63 anos. Sócio há mais de três décadas e membro do comitê executivo da empresa há 24 anos, engana-se quem pensa que ele vai parar. Além de um programa de coaching com Vicky Bloch, uma das mais renomadas do país, Henrique fez dois cursos como parte de seus novos planos profissional e de vida. Animado, conta a PODER como está sendo esse, digamos, rito de passagem.

antropólogo norte-americano Wiliam Ury é co-fundador do Programa de Negociação de Harvard). “Não deixo de entrar em minhas próprias brigas, mas não gosto de ver pessoas em conflito. Então, se percebo que está faltando empatia, tento interferir. Escolher esse curso foi um jeito de conseguir respaldo técnico para algo que faço desde que me entendo por gente”. Henrique também passou pela Singularity University, no Vale do Silício, na Califórnia. “É diferente de Harvard, onde se estuda cases. Na Singularity, passa seis dias estudando 7h45 às 22h30. O programa é uma imersão nas disrupções tecnológicas, que são exponenciais”.


PODER INDICA

A PEDRA PRECIOSA DOS JARDINS

Considerada a pedra do amor, jade tem poder de acalmar tudo ao redor: apazigua a mente, eliminando pensamentos e energias negativas, e melhora a saúde física e espiritual. A pedra traz tantos benefícios que carregar uma funciona como amuleto. Tudo isso foi levado em consideração quando a Constrac Construtora decidiu chamar seu novo empreendimento imobiliário de Jade Jardim Paulista. Localizado no coração de um dos melhores bairros de São Paulo, trata-se de uma edificação superexclusiva: são apenas 13 apartamentos, um por andar, em um condomínio completo, com academia, piscina, terraço coberto e descoberto etc., tudo para quem adora ficar em casa. Por estar próximo à Avenida Paulista, do Parque Ibirapuera e de grandes avenidas e estabelecimentos comerciais, o Jade Jardim Paulista também facilita a vida de quem gosta de frequentar restaurantes, galerias e lojas sofisticadas. A versatilidade do empreendimento se encontra justamente na capacidade de reunir em um só projeto o ambiente ideal para pessoas com preferências distintas. Além disso, a construção está ao encargo de uma empresa idônea, que atua há mais de 35 anos no mercado imobiliário e sempre teve as necessidades dos clientes como foco. Sem falar da pontualidade, já que várias vezes a Constrac entrega as chaves antes do prazo. TEL.: 2158-1237, 97221-1696 +CONSTRAC.COM.BR/JADE


FARNEL

PALADINO DA JUSTIÇA Criminalista mais célebre de Brasil, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, pode se apresentar como advogado, consultor de reputação, palestrante, mestre de cerimônias, rapsodo, enólogo, cantor de karaokê. Mas é defendendo uma prerrogativa básica da democracia, a presunção de inocência, e atacando os excessos da Lava Jato que ele quer agora se notabilizar por fábio dutra e paulo vieira fotos maurício nahas

N

ão há monotonia no escritório do criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, na Asa Norte, em Brasília. Kakay, como é conhecido até por quem não o conhece (como ele mesmo diz), tem cerca de 200 clientes, dentre eles as figuras mais eminentes da política brasileira. É difícil saber qual é o caso mais notável da semana, quem sabe do dia, já que o plantel de medalhões do Executivo e do Legislativo encalacrados em processos diversos que se consultam com esse cruzeirense “azul” de Patos de Minas se renova como água da fonte. Assim como não há monotonia, não há ideologia quando o assunto é advocacia. Kakay representa membros de todo o arco político, com a possível exceção do cara do Aerotrem e dos deputados do Psol. E de Jair Bolsonaro, única figura que ele diz, por questão de princípios, jamais atender. “Já advoguei para três presidentes da República e uns 60 governadores: só do Amazonas foram quatro”, disse o advogado na redação de PODER, que ele visitou especialmente para esta reportagem. Nestes dias, tem se

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batido pela libertação de Paulo Maluf, 86 anos, cuja prisão por um delito de anteontem, segundo ele, não faz sentido. “Há 25 anos eu era antimalufista, mas qual a razão dessa pena agora?” Também tem se manifestado contra o “fascismo” dos mandados coletivos de busca e apreensão utilizados pelo Exército na intervenção no Rio, “um erro histórico”. É difícil acompanhá-lo no dia a dia. Kakay é “breaking news”, e uma reportagem que o tem como objeto (como esta, aliás) pode em semanas ou meses se tornar tão datada quanto o maiô da Magda Cotrofe. Kakay atende poderosos, não apenas políticos, como sabe qualquer pessoa que tenha assistido alguns minutos de TV ou navegado rapidamente em sites brasileiros nos últimos anos. Junto com outras bancas conseguiu em fevereiro a libertação do controlador do grupo JBS-Friboi, Wesley Batista – ainda falta o irmão – mas, para ficar em exemplos emblemáticos do passado, atuou por Carolina Dieckmann no processo do vazamento de fotos íntimas, por Roberto Carlos no caso das biografias, representou Duda Mendonça no mensalão e Daniel Dantas no caso Kroll. Agora transigiu um de seus próprios preceitos, o de jamais atuar fora da esfera criminal: decidiu entrar na briga de Eugênio Staub, da Gradiente, pelos direitos do nome iPhone, marca que o empresário brasileiro registrou antes dos caras de Cupertino. Kakay nega que esteja nessa pela celebridade do caso. Diz querer ajudar um amigo e contemplar sua própria história. “O primeiro presente bom que ganhei de um cliente foi um 3 em 1 da Gradiente, tinha de defendê-los”, diz. Muitas dessas facetas de sua atuação são sobejamente conhecidas, assim como o fato de não assessorar clientes que optam pela colaboração premiada, mesmo depois da avalanche delatória da Lava Jato. Delatores podem até ser atendidos em outras questões específicas – caso dos Batista, que só têm Kakay como advogado nos pedidos de liberdade –, mas se o representado optar pela colaboração, que ele acha aliás importante e válido instrumento no combate ao crime organizado, que procure outro advogado. Tudo no script. A grande novidade é que Kakay agora quer falar para as massas – massas de jovens advogados, estudantes de Direito, ouvintes de rádios e telespectadores de TV de emissoras do interior. Como se fosse um político em campanha, o mineiro viaja o Brasil a abrir e fechar cerimônias, dar a benção de paraninfo e a participar de palestras e debates. Na pauta, os excessos cometidos em nome da Lava Jato e a “afronta ao princípio

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“O único amador que deu certo foi o Aguiar. Se só pensar na opinião pública, perde’’ constitucional da presunção da inocência”, algo que ficou patente, na sua opinião, com o entendimento do Supremo Tribunal Federal de que não é preciso esperar mais o processo transitar em julgado para começar a punir – em português castiço: mandar para o xilindró. “Quando vi a gravidade das coisas que estavam acontecendo na Lava Jato fiz a opção de começar a aceitar os convites para falar em universidades, seções da OAB. Até em simpósio de psiquiatria estive. Outro dia no Mato Grosso me ouviram 4 mil pessoas. E em Curitiba, 2 mil.” Quando não pode viajar, Kakay grava um vídeo com sua exposição e o envia para os anfitriões. Este ano ele decidiu participar até no júri simulado no Salão Nobre da cheia de si Faculdade de Direito do Largo São Francisco, que marca o início do ano letivo e a recepção aos calouros – mais um dissabor para a conta dos advogados estrelados da pauliceia, sempre casmurros com a notoriedade de Kakay. Curioso é que do outro lado do ringue nessas horas estão os que empunham o material de higiene que serviu e serve para “passar o país a limpo”, na expressão famosa: promotores do Ministério Público, agentes da Polícia Federal, juízes de primeira instância que atuam em ca-


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‘‘Achava que velho defenderia o abolicionismo penal. Mas fico agora defendendo a presunção da inocência”


sos da Lava Jato e ministros do Supremo “ofuscados pelo excesso de mídia”. Seria mesmo surpreendente que um advogado garantista não fizesse a crítica das prisões provisórias pedidas a granel e atendidas a toque de caixa ou mesmo dos inúmeros vícios dos procedimentos investigatórios, mas Kakay não parece querer aliviar para os atores envolvidos. “O Ministério Público, que tem popularidade na mídia, consegue dividir o Brasil ao dizer que críticos dos excessos da Lava Jato são contra o combate à corrupção. É simplista demais, uma deslealdade intelectual.” Uma piada sua a respeito virou hino, ou quase isso, entre os criminalistas. Quando a Lava Jato estava no auge, alguns membros do Judiciário e do Ministério Público tentaram emplacar no Congresso um pacote chamado “dez medidas contra a corrupção”, que cerceava vários instrumentos de defesa e aumentava a força da acusação no processo penal, tendo a atriz Maria Fernanda Cândido como garota-propaganda nos pedidos de subscrição dos abaixo-assinados para pressionar o Legislativo. Faceiro e debochado, Kakay mandou: “Isso é desleal! O que a Maria Fernanda pedir eu assino”. São curiosas essas inversões e reversões de expectativas que a Lava Jato e a tal cruzada anticorrupção geraram no Brasil. Promotores salvacionistas e um juízo de primeira instância com alcance “universal”, na blague de Kakay, viram super-heróis perante a opinião pública por combater as grandes chagas nacionais – impunidade e corrupção –, mas para isso afrontam pilares do Direito

FÍGADO DE OURO

Saber como Kakay obteve tanto conhecimento dos regimentos das casas congressuais, uma de suas propaladas virtudes, ou quais artimanhas jurídicas ele mobiliza para defender clientes como Aécio Neves, Zezé Perrella, Romero Jucá, Roseana Sarney e tantos outros metidos nos escândalos do momento não eram, na verdade, as principais questões que moviam os repórteres de PODER. Um ponto fundamental do roteiro da entrevista era entender como o advogado curava a ressaca. Caso Kakay fosse uma pessoa normal, um pressuposto da reportagem, era de se esperar que ele tivesse – pelo menos – problemas de concentração no “day after”. Mas Kakay não é uma pessoa normal. “Nesse assunto a questão é puramente familiar, meu pai nunca teve ressaca. Minha mãe rezava para eu ter, assim talvez eu bebesse menos. Na juventude tomava aqueles porres até o amanhecer e, às 7h30, eu estava insuportavelmente de pé para fazer ginástica. É assim até hoje.” O mercado planetário do vinho agradece.

com suas prisões provisórias que se perpetuam sem mais aquela e hermenêuticas criativas. “As pessoas quando falam da operação italiana Mãos Limpas [que inspirou a Lava Jato], citam só até metade do livro, lá foram 30 e tantos suicídios, no fim comprovou-se que muita gente usou a delação premiada de forma falsa”, diz. Na mesma linha, vê com horror o crescimento do encarceramento em massa, especialmente as indiscriminadas prisões processuais, sucessos de audiência, mas que muitas vezes não resultam em condenação. “Já falei na tribuna que quando era estudante achava que quando velho defenderia o abolicionismo penal, ou seja, a prisão apenas como última opção. Mas fico agora defendendo a presunção de inocência e combatendo a prisão indiscriminada de pessoas que ou são inocentes ou poderiam ser punidas de outra forma”, indigna-se. Assim como na Itália, suicídios também começaram a surgir por aqui, como a do ex-reitor da UFSC Luiz Carlos Cancellier, em outubro passado. O caso não tem relação com a Lava Jato, mas o estardalhaço da ação policial que levou a tão dramático desfecho pode dizer algo sobre o novo modus operandi dos agentes da lei. Chamado a falar em Santa Catarina durante as homenagens fúnebres, Kakay imaginou que a morte de Cancellier pudesse representar um ponto de inflexão na cruzada salvacionista. Já não pensa assim.

O DÂNDI E O CARDEAL Envolvido até a medula com tão graves questões, é quase paradoxal constatar que Kakay segue a desfrutar como poucos da vida à larga. Viaja constantemente com os amigos – Paris, onde mantém imóvel, é default –, bebe vinhos como um existencialista (diz ser autodidata no tema), comprou um restaurante famoso, o Piantella, em Brasília, por frequentá-lo demais – “ficou mais barato”, sempre diz –, revela ser capaz de cantar por quatro horas seguidas, vive numa mansão em Brasília que é confundida com um clube, veste-se sem o decoro sensaborão de seus pares nas solenidades a que tem de comparecer. “As pessoas se levam muito a sério, você tem de ter humor. Uma vez a revista Carta Capital, em guerra com o Daniel Dantas, meu cliente à época, quis me complicar ao exibir a foto de umas anotações em que aparecia uma mensagem dizendo que era preciso reservar hotel standard para mim. Eu liguei lá e avisei que não fico em quarto standard”, ri. Mesmo que Kakay afirme que em essência seja essa pessoa que não se leva a sério – foi o que disse à reportagem PODER JOYCE PASCOWITCH 21


O LEGADO, OU QUASE ISSO

Kakay não é presunçoso a ponto de achar que deixa um “legado” para o Direito brasileiro, mas diz que a ADC 43, que impetrou em nome do pequeno Partido Ecológico Nacional, que confronta o entendimento do STF de que já é possível encarcerar antes de a ação transitar em julgado, é sua grande contribuição para o Brasil nos últimos anos. Essa ação, que propõe que os processos se esgotem numa instância intermediária, o STJ, foi imediatamente replicada em outra ADC, a 44, impetrada pelo Conselho Federal da OAB. Além da ameaça ao preceito da presunção da inocência que o novo entendimento impõe, Kakay chama atenção para as péssimas condições do superlotado sistema carcerário brasileiro, o que poderia transformar num inferno indizível a vida do punido em segunda instância. “Quando eu era estudante, eu achava que você ser garantista, você querer cumprir a Constituição era uma coisa reacionária, e hoje é revolucionário”, diz. “Já está bom demais a gente conseguir cumprir as regras mínimas.” A situação do ex-presidente Lula, condenado em segunda instância em janeiro, torna a questão ainda mais politizada e complicada, e pode levar a novas interpretações sobre o tema por parte dos ministros do Supremo. Sobre a Corte máxima, aliás, Kakay também tem uma boa frase:, que costuma usar em textos publicados nos jornalões: “O Supremo pode muito, mas não pode tudo”.

quando pedimos, à la Marília Gabriela, que se definisse -, há também a persona “cardeal” a aparecer aqui e acolá. Eis o homem chamado por poderosos a dar seu vaticínio nas horas incertas, como o que deu ao então presidente da Câmara Eduardo Cunha, que começava a ver a casa cair sob seus pés, numa cerimônia de casamento em que se encontraram por acaso em Brasília pouco antes da cassação do deputado em plenário. Disse a Cunha que sempre dizia a seus clientes para observar como o todo-poderoso do PMDB agia. Para fazer exatamente o contrário. Cunha riu e o chamou a um canto onde falaram por duas horas. Kakay não entrega o conteúdo da conversa, mas mantém o que disse: “É preciso deixar o confronto para o advogado e se preservar, o que ele não gosta”. Kakay também é um arguto conselheiro em assuntos de opinião pública. Sua capacidade de minorar danos de reputação de seus clientes, às vezes até de eliminá-los, faz de seu escritório um virtual concorrente de agências de comunicação especializadas nesse tipo de trabalho. Ele até as indica, mas só se forem capazes de “tirar o cliente da mídia”. Coleciona fontes nos mais diversos veículos e é capaz de esvaziar reportagens danosas a seus interesses ao entregar segredos para a concorrência. “Respeito os jornalistas pra caralho, mesmo quando me ligam com as perguntas mais desengonçadas. Vejo que estou ganhando quando um ‘foca’ [novato, no jargão jornalístico] me liga, ou seja, a redação perdeu interesse no assunto”, diz. Re-

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centemente, por perceber que ficava tempo demais com a imprensa ao telefone – e com isso se privava de ter uma “visão mais ampla” de seus casos –, decidiu tornar o escritório proativo, e passou a emitir notas e boletins para os repórteres de sua agenda. Por WhatsApp, bien sûr.

VOX POPULI Muito do sucesso da atividade dos criminalistas tem a ver com o uso de que fazem da “vox populi”, mas Kakay aponta que é fundamental ter uma base técnica por trás. “O único amador que deu certo é o Aguiar. Se só pensar na opinião pública, perde.” Quem só pensa nisso são os políticos, regra do jogo, mas isso atrapalha a defesa jurídica em um escândalo, ainda mais em estados onde há rixas demais e a dor de cabeça costuma vir da oposição. “Às vezes acham que tudo é político e que certas investigações são intrigas. Mesmo que seja assim, você precisa dizer para o cara que tem uma reportagem indo ao ar no Jornal Nacional e ele vai passar alguns dias só se defendendo”, explica. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Com tudo isso, surpreende mesmo constatar que Kakay, mesmo há tanto tempo na linha de tiro, jamais caiu. Já balançou, tem jornalistas desafetos (ainda que não admita), políticos que não o engolem (ainda que eles não admitam), mas segue ubíquo nos casos criminais de repercussão nacional. Mesmo sendo fotografado em cima do piano do Piantella com uma taça de vinho a cantar a plenos pulmões ou frequentando eventos chiquérrimos do poder de colarzinho de folha de coco e camiseta tie-dye. Ele reivindica sua amizade com José Dirceu, ainda que isso soe como música dodecafônica em ouvidos (moucos?) de muitos de seus clientes. Tem Duda Mendonça como irmão, doa a quem doer. É parça de João Carlos Di Genio, do grupo Objetivo/Unip, amado e odiado dono de um dos maiores conglomerados de educação do país, que ele chama de “rei da noite”. “Ele, como eu, adora música, e não deixa um músico na mão. Di Genio me ensinou a transitar na boemia”, conta. No dia desta entrevista elogiava Omar Catito Peres, seu sócio no mítico Piantella, pelo relançamento da versão impressa do Jornal do Brasil e contava do bloco de Carnaval em homenagem a Roberto Carlos, ainda seu cliente, que segue até a casa do rei na Urca, quando o cantor sai à varanda e distribui rosas aos foliões. Kakay por Kakay? Não exatamente um cara que não se leva a sério, mas que leva a sério não se levar a sério. n


Make: Jô Castro (Capa MGT) Assistentes de fotografia: Debora Freitas e Charles Willy

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INOVAÇÃO

EM ÓTIMAS MÃOS Quando o assunto é cirurgia plástica, o Brasil sempre foi referência no exterior. O mesmo acontece no caso do transplante capilar, em que cirurgiões brasileiros são reconhecidos pelo excelente trabalho, inclusive com alguns pioneiros. Um dos especialistas de maior destaque internacional nessa área é o médico MÁRCIO CRISÓSTOMO. Discípulo de Ivo Pitanguy e com título de especialista em transplante capilar nos Estados Unidos, é ainda mestre em cirurgia pela Universidade Federal do Ceará com pesquisa sobre alterações celulares durante o transplante capilar. Com um currículo desses fica fácil saber por que o cirurgião é tão requisitado. O grande diferencial na sua carreira ocorreu quando, insatisfeito com os resultados obtidos no tratamento de calvícies maiores, desenvolveu uma técnica que permitiu o transplante de um número muito maior de fios do que as técnicas existentes à época. Por conta disso, começou a se dedicar aos casos de calvície avançada e de correção, tornando-se referência no assunto e atraindo pacientes de vários países. Com a demanda crescente, além da clínica em Fortaleza, atende na capital federal, já há alguns anos - discreto, o médico não revela nomes de pacientes que já se submeteram às suas mãos precisas. Desde dezembro, passou a atender também em um elegante endereço nos Jardins, bairro nobre de São Paulo. Um detalhe: só viaja para a capital paulista a fim de solucionar os casos mais complexos, nos quais aplica a técnica que criou e que já foi publicada em dois livros norte-americanos, e um terceiro já está em produção.

por fábio dutra foto alex uchoa


ANIVERSÁRIO

O Brasil e seus protagonistas em uma década da revista PODER por paulo vieira

O

Hemisfério Norte era tragado por uma das mais severas crises da história do capitalismo, mas o Brasil não estava nem aí. Aqui fazia-se pouco caso da quebra do Lehman Brothers e dos calotes em cascata do mercado imobiliário americano, só para ficar em dois acontecimentos que mostravam que aquele ano iria ser loko. Num misto de autossuficiência, gabolice ou talvez numa resposta desafetada e muito própria da cultura brasileira, algo entre Macunaíma e o caipira picando fumo, o então presidente Lula disse que o tsunami americano, caso chegasse ao Brasil, seria uma “marolinha que não dá nem para esquiar”. Era esse o “mood” no fim de 2008, ano em que PODER chegou às bancas. O Brasil vinha de sua maior variação (positiva) anual do PIB em 21 anos, Eike Batista ainda começava sua escalada para o Top 10 da lista de bilionários da Forbes – ocupava a 142ª posição na ocasião –, e, numa das imagens do ano, Lula e José Sergio Gabrielli, então presi-

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FOTOS LULA MARQUES/PT; ROBERTO STUCKERT FILHO/PR; JOSÉ CRUZ/ABR; WILSON DIAS/ABR; MAURÍCIO NAHAS; ROBERTO SETTON; RUY TEIXEIRA; REPRODUÇÃO; DIVULGAÇÃO

10 ANOS 114 EDIÇÕES



dente da Petrobras, sujavam as mãos no óleo recém-retirado do primeiro campo de exploração do pré-sal, no Espírito Santo. Petróleo supostamente farto, dívida externa silenciada e até um fundo soberano estava por ser criado. Faltava pouco para reunir todas as alegorias de uma nação idealmente próspera, um país finalmente por cima da carne-seca, e a confirmação, um ano e meio depois, do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 era a figurinha carimbada que faltava. Mas a Lusitana rodou, a maionese (tecnicamente: instabilidades no presidencialismo de coalizão, Nova Matriz Econômica, debacle das aspirações justicialistas da Lava

Jato) desandou e o Brasil mergulhou numa depressão política-econômica da qual parece estar longe de sair. De volta a PODER, em março de 2008, na primeira capa da revista, Roberto Kalil falou como era ser o médico preferido do poder, presidente da República incluído: “Aqui no consultório não tem superpoderosos. A vestimenta de presidente da República, de senador, de deputado o que for, fica fora”. Na mesma edição, FHC escreveu sobre a rotina do que chamou de “poder depois do poder”. “No meu caso se transformou em uma influência exercida por alguém que, embora tenha tido poder formal no grau máximo da República, não exerce cargos. Isso não é fácil e, no Brasil, é raro. (...) Mesmo

2008

Dez anos que abalaram o poder e a PODER no Brasil e no mundo

Brasil recebe grau de investimento da agência de avaliação de risco Standard & Poor’s

Na Dinamarca ao lado de Eduardo Paes, Henrique Meirelles, Carlos Nuzman e Sérgio Cabral, presidente Lula chora ao saber que o Rio será a cidade-sede da Olimpíada de 2016

Presidente LULA diz que crise econômica mundial é “tsunami” nos Estados Unidos, mas, caso chegue ao Brasil, será uma “marolinha que não dá nem para esquiar” Barack Obama é eleito presidente dos Estados Unidos A edição número 1 de PODER traz uma entrevista com Roberto Kalil Filho, médico do então presidente Lula, e um perfil da “muito dura” Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil à época Faustão para a PODER número 3: “O Brasil é o país da hipocrisia, do quase. O país que caiu no real e não na real”, disse

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Em encontro do G-20 em Londres, Barack Obama chama Lula de “my man” (“meu “truta”, em tradução livre) e “mais popular político da Terra”

Capa da revista The Economist celebra o Brasil. Sob a manchete BRASIL DECOLA, um Cristo Redentor decola como um foguete Coronel Mário Sérgio de Brito Duarte, comandante da PM do Rio, é capa da PODER de novembro. “Não basta coibir, é preciso ocupar os morros até que não haja nenhum bandido”, disse. Pois é

RICARDO STUCKERT/DIVULGAÇÃO; REPRODUÇÃO

Linha do tempo

2009


sem poder formal, trato de exercer influência em questões de interesse público ou político, tanto no Brasil como em outras partes.” Em 2008, FHC talvez não imaginasse que em dez anos estaria a elogiar e insuflar um apresentador de TV cuja candidatura a presidente, hoje mais uma vez em stand by, mais do que significar a procura de uma nova liderança centrista, um Macron à brasileira, como se falou, denota certa ambição do ex-presidente em ainda participar ativamente do jogo político. Se o campo institucional tradicional, ou seja, seu partido, o PSDB, está interditado, que se busque “um bom cara”, como disse FHC, fora dele. Já o bom cara, Luciano Huck, que pelo

2010 Após campanha eleitoral notabilizada pela bolinha de papel que levou José Serra a nocaute, Dilma Rousseff, “poste” de Lula, é eleita com 56,05% dos votos. É a primeira mulher a se eleger presidente do país

menos um tucano de estirpe acha menos viável eleitoralmente do que sua própria mulher, Angélica, pode, se não negar sua terceira recusa a candidatar-se a presidente (todas as recusas publicadas na página 3 da Folha de S.Paulo), vir a assumir o lugar de Faustão na Globo, que está para fazer três décadas de seu Domingão. É pouco virar o novo Fausto Silva para quem acalentou (e teve acalentado) o sonho de ser presidente. Ainda mais alguém que supõe-se ter acreditado ser o líder de uma renovação por cima, ética, da política. O problema, como se verificou não só nos últimos dez anos, é que já houve quem se visse nesse papel – mas há sempre o Quadrilhão do PMDB ou seus êmulos ao longo da história

2011 Num movimento que talvez só tenha precedente nos tempos da contracultura e dos protestos contra a Guerra do Vietnã, os Estados Unidos veem pipocar manifestações populares de sabor esquerdista. Occupy Wall Street surge em Manhattan e se espalha por Boston, Chicago, Los Angeles e São Francisco Dez anos após a queda das Torres Gêmeas, Osama bin Laden é capturado no Paquistão e morto por forças norte-americanas

Cerca de 600 homens da Polícia Militar ocupam o COMPLEXO DO ALEMÃO, no Rio, e fuga de bandidos se plasma como imagem – que se mostraria efêmera – do sucesso da política de segurança pública baseada nas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) PODER decifra Lily Safra, que “seduziu quatro maridos, todos homens de negócios” e “sobreviveu aos desfechos trágicos de dois casamentos” – a morte de Alfredo Monteverde, de quem herdaria o controle acionário do Ponto Frio, e do banqueiro Edmond J. Safra

Toda-poderosa ministra de Fernando Collor e responsável pelo famoso confisco das contas correntes e da poupança da população brasileira, ZÉLIA CARDOSO de Mello levanta o silêncio de 20 anos e fala a PODER de março. Arrependimento do confisco? “Hoje, teria feito diferente, mas não vale. A história não tem rascunho”

2012 Brasil concede à iniciativa privada os aeroportos de Cumbica, Viracopos e Brasília, no que seriam as privatizações – ou concessões, como preferia a presidente Dilma –, mais bem-sucedidas do setor aéreo do país Facebook faz seu IPO na Nasdaq – mas a queda de US$ 10 no valor de cada ação logo no primeiro dia não é curtida na sede da empresa, em Menlo Park, Califórnia João Emanuel Carneiro leva o morro de novo ao horário nobre com a novela Avenida Brasil

OBAMA é reeleito presidente dos EUA, batendo o republicano Mitt Romney

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brasileira a indicar-lhes a direção. Se não der certo, pelo menos há os suspeitos usuais para culpar. A história da PODER coincide com um período em que o país saiu da euforia para a ressaca homérica na economia, mas também na autoestima, segundo alguns analistas ouvidos nesta reportagem. “Se existe uma alma nacional, ela foi muito açoitada nesse período. A marca desses anos é o desmoronamento da nossa autoestima, mas isso não significou uma paralisia, a diminuição da vontade das pessoas de irem a luta. Pode-se dizer que o Brasil perdeu a inocência”, diz o professor da USP e ex-presidente da empresa Radiobras no governo Lula, Eugênio Bucci. Essa ida à luta dos brasileiros de que fala Bucci está refletida

2013 Se Deus é brasileiro, o papa é argentino

EDWARD SNOWDEN revela os arquivos de espionagem da agência americana NSA, que incluíam também alvos estrangeiros, como a presidente brasileira Dilma Rousseff No feriado da proclamação da República, José Dirceu, José Genoino e outros condenados do Mensalão começam a cumprir suas penas Brasil assiste a uma espiral de manifestações de rua Anitta lança o single “Show das Poderosas”, primeiro sucesso de sua carreira Cristo Redentor da revista The Economist entra em voo de parafuso. AH, O BRASIL

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nas capas de PODER nesses dez anos, que passou a abrir cada vez mais espaço para empresários da nova economia como Paulo Veras (99Taxis), Fabricio Bloisi (Movile) e Philipp Povel (Dafiti), que levaram suas empresas a se tornarem players continentais.

2013, O ANO QUE VIVEMOS EM PERIGO Mas não tem sido fácil. Alguns brasileiros preferiram aquecer o mercado imobiliário de Miami e Lisboa, e o Cristo Redentor, que decolava como um foguete na alegoria da revista britânica The Economist em 2009, virou de ponta-cabeça e entrou em voo de parafuso na capa da mesma revista, numa edição de 2013.

2014

2015

Vladimir Putin mostra os bíceps e Rússia anexa a Crimeia

Livros de colorir são a nova onda do mercado editorial brasileiro

Estados Unidos anunciam retomada de relações com Cuba

Agência Standard & Poor’s rebaixa nota, e Brasil perde grau de investimento

Polícia Federal faz a primeira das muitas operações da Lava Jato

Lama do reservatório de dejetos da Samarco, em Mariana, soterra vilas, polui toda a extensão do rio Doce e chega ao Atlântico, na maior tragédia ambiental do Brasil, que causou a morte de 17 pessoas

Candidato à sucessão presidencial, Eduardo Campos morre em acidente aéreo. Marina Silva, sua vice, dispara nas pesquisas Dilma vence Aécio no segundo turno por pequena margem de votos “Não tenho dó de mim”, diz LUIZA TRAJANO em entrevista a PODER de abril. Ela transformou um pequeno negócio familiar do interior num player do varejo brasileiro

Deputado Eduardo Cunha, então presidente da Câmara, autoriza processo de impeachment de Dilma Rousseff Ensaio

O INDOMÁVEL José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, topa abandonar a nudez e se vestir elegantemente para falar de cultura, poder e caretice por fábio dutra fotos andré brandão stylist luna nigro

Costume e gravata Ralph Lauren, camisa VR, óculos acervo pessoal

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Diretor de teatro ZÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA resiste à pulsão de ficar nu e posa de costume Ralph Lauren e óculos Ray-Ban no Ensaio da edição de junho da PODER

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Para o cientista político e professor da FGV Fernando Abrucio, 2013 encerra um período luminoso da história brasileira que começa em 1994, o que ele chama de “20 anos dourados”. “Houve nessa época três coisas que nunca se viram juntas aqui: estabilidade do regime democrático, estabilidade econômico-financeira e inclusão social”, disse a PODER. Abrucio usa o adjetivo “impressionante” para definir os avanços dessas duas décadas em campos diversos como educação e infraestrutura. “São pontos de luz reais.” Mas o que se viu a partir daquele 2013 das manifestações de rua, da frustrada enésima tentativa de reforma política, do custo crescente da dívida pública, foi também um aumento

2016 Eduardo Cunha é cassado e preso STF proíbe que Lula se torne ministro de Dilma, mesmo com os esforços do courier Bessias. Sergio Moro dá uma forcinha à coisa toda ao divulgar áudio da conversa telefônica entre a presidente e Lula

do nível de exigência em relação ao governo dos que melhoraram de vida. “Países que dão certo são capazes de fazer mudanças periódicas para acompanhar as demandas de seus cidadãos e, nesses últimos cinco anos, o Brasil perdeu fôlego nisso.” O país vive um momento de “desânimo e tristeza”, para Bucci, e de “ceticismo”, segundo Abrucio. E é difícil encontrar alguém capaz de dizer o que haverá na estrada até as eleições de outubro. “Certos setores mais organizados da sociedade estão ainda à espera de um novo Macron, mas ninguém sabe o que virá, o Brasil hoje está mais dividido e ferido. Há mais neblina do que luz no fim do túnel”, diz Abrucio. n

2017 Ministro do STF Teori Zavascki, responsável pelos processos da Operação Lava Jato no Supremo, morre num acidente aéreo em Paraty Joesley Batista visita o Jaburu num domingo à noite

Dilma cai e Temer assume; com ele, o chamado “Quadrilhão do PMDB” ganha mais uma vez o Planalto. Moreira Franco, Eliseu Padilha, Geddel Vieira Lima e Romero Jucá, homens um dia de Dilma, tornam-se ministros de Temer

2018 TRF da 4a Região aumenta pena de Lula para 12 anos e um mês. Com a confirmação da condenação em segunda instância, ele fica (em tese) inelegível para a Presidência. Analistas veem coincidência entre valor somado da pena, 13, e número do PT na cédula eleitoral Prefeito do Rio, Marcelo Crivella faz seu segundo forfait consecutivo no Carnaval, mas aparece como destaque involuntário no desfile campeão da Beija-Flor

REPRODUÇÃO; ANDRÉ BRANDÃO

Ex-governador do Rio Sérgio Cabral é preso Referendo no Reino Unido decide pela saída do país da União Europeia, no chamado Brexit

Ex-deputado ROCHA LOURES é filmado saindo apressado de uma pizzaria de São Paulo carregando uma mala

Donald Trump é eleito presidente dos Estados Unidos

Sérgio Moro condena Lula a pena de nove anos e seis meses no caso do triplex do Guarujá

Na edição de aniversário de oito anos da PODER, Ronaldo alguns bons quilos acima do peso e então novo ás do pôquer, revela que “nada se compara a fazer gol”

Após dois anos e meio encarcerado, Marcelo Odebrecht deixa Curitiba para cumprir são domiciliar em São Paulo

Paraíso do Tuiuti apresenta ao mundo o VAMPIRO NEOLIBERAL brasileiro Intervenção na segurança pública do Rio de Janeiro começa com rebelião em complexo penal Luciano Huck nega pela terceira vez sua candidatura a presidente da República

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PODER INDICA

TRANSFORMAÇÃO DIGITAL 18 RESOLUÇÕES PARA 2018

A palavra “disrupção” ainda deixa muitos empresários e executivos de cabelo em pé – alguns em estado de negação. Acontece que as mudanças vão se acelerar. E, para tomar a dianteira das transformações que estão impactando todos os setores, os lí-

deres precisam se dar conta de que otimização e inovação devem coexistir. Para ser efetiva e levar a missão digital a termo, liderar inclui não só promover o desenvolvimento da empresa por meio do time, mas também estruturar a companhia para ter su-

cesso nesses novos tempos. Atitudes para abrir esse caminho mais rápido: TER SENSO DE URGÊNCIA Liderança e liderados precisam estar prontos para antever as mudanças e reagir a elas rapidamente.

FOTO ISTOCKPHOTO.COM

Para um ano que promete mais disrupção, a consultoria EY recomenda as medidas que vão fazer sua empresa sair na frente da concorrência


“cultura do sim” em que todos se disponham a sair da zona de conforto. AJUSTAR O MODELO DE NEGÓCIO No mundo atual, o que trouxe a empresa até aqui não é o que vai garantir seu sucesso ao longo do tempo. SER OBCECADO PELOS CLIENTES Os maiores disruptores da atualidade têm uma postura ativa em relação aos clientes. Em 2018, qualquer empresa que queira sobreviver precisa seguir esse caminho. PENSAR EM DIVERSIDADE COGNITIVA NA HORA DE MONTAR O TIME Diversidade de formação, de pensamento e de experiências – esse deve ser o foco ao contratar pessoas. Assim, evita-se o risco de ter uma equipe presa a ideias ultrapassadas.

LIDAR COM A DUALIDADE É preciso continuar operando com eficiência sem tirar o foco do futuro. Resumindo: otimização e transformação devem andar lado a lado. ACERTAR O RUMO O líder precisa alinhar sua visão de futuro com o time e os parceiros para atender e antecipar as necessidades dos clientes da empresa. OLHAR O TODO Para ser disruptiva, a inovação precisa ir além de melhorias pontuais e envolver todo o processo. DIZER “SIM” AO NOVO Inovar significa se abrir e explorar novas possibilidades criando uma

GARANTIR QUE O CEO CONDUZA A AGENDA DE DISRUPÇÃO O CEO é quem define os padrões de liderança e a visão que deve ser compartilhada pelo grupo. EMPODERAR O C-LEVEL Com o CEO na dianteira do processo, cabe aos diretores (C-level) marchar em sintonia para que o mundo digital faça realmente parte das atividades diárias da organização. ALIAR-SE AOS INVESTIDORES Pesquisa recente da EY mostrou que 67% dos investidores desejam empresas que apoiem projetos disruptivos. Ou seja, eles não são tão avessos a riscos como se pensa. INCENTIVAR OS MULTIPLICADORES DA MUDANÇA Mesmo que o CEO consiga definir metas, estratégias e propósitos de

longo prazo, deve permitir que os entusiastas das mudanças – não importa o cargo - propaguem essas ideias por toda a organização. ADOTAR MÉTRICAS DE INOVAÇÃO BASEADAS EM RESULTADOS É mais efetivo atrelar métricas aos resultados do que ao cronograma e ao orçamento anual. Isso vale para produtos, serviços ou modelos operacionais de negócios. PENSAR COMO UMA START-UP Para ficar no topo das tendências, faça como nas start-ups, que testam e aprendem com os erros. É melhor fracassar rápido e virar a página. EVITAR O TEATRO DA INOVAÇÃO Iniciativas de alta visibilidade que não fazem parte de uma estratégia abrangente sem envolver toda a empresa? Cuidado, porque é assim que se constroi o “teatro da inovação”. ELIMINAR O QUE JÁ ESTÁ MORTO Não é fácil para nenhuma empresa – principalmente as mais antigas – deixar os fracassos para trás. Mas seguir em frente é imprescindível para abrir caminho para a inovação. TRAZER A EQUIPE PARA O CORE É mandatório criar equipes para monitorar tendências externas disruptivas. Por outro lado, é preciso evitar que elas fiquem atuando na periferia do negócio principal. CRIAR PARCERIAS MULTISSETORIAIS Empresas que já se organizaram devem buscar parceiros em outros setores. Isso contribui para descobrir novos modelos de negócio e abordagens tecnológicas para atender melhor seus clientes. SAIBA MAIS EM EY.COM.BR/DIGITAL


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PRORROGAÇÃO

JUCA KFOURI

Combatente, abandonou a luta armada contra a ditadura para encabeçar uma cruzada contra os desmandos e a corrupção reinantes nos subterrâneos do futebol a partir das trincheiras das redações. Mas o esporte não melhorou como queria. Mesmo assim, o jornalista não demonstra estar disposto a se render – nem se vender POR FÁBIO DUTRA

FOTOS PAULO FREITAS

“H

oje eu não quero saber de furo, deixa que o Juca Kfouri!” A piadinha de redação, talvez ouvida pelo próprio Juca um milhão de vezes desde 1973, quando passou a dar expediente em uma, a da revista Placar, ajudava a descontrair mas escondia a tensão: PODER ia almoçar com um dos homens mais cultos da comunicação brasileira, capaz de falar de literatura e de política com a mesma naturalidade com que escala o Corinthians (seu time do coração) campeão paulista de 1977 – quando o Timão saiu de uma fila de 23 anos. E além disso conhecedor de todas as artimanhas do jornalismo e notório brigão, colecionador de inimigos do porte de Ricardo Teixeira e Vanderlei Luxemburgo, para ficar só no esporte. Mas bastou um aperto de mão para cair a pecha de encrenqueiro – culto e competente ele é mesmo. Que brigão que nada, Juca tem é princípios. É desses incompráveis que só se vê em filmes de mocinho ou naquele tio ou avô que perderam oportunidades na vida por não se corromperem. Mas Juca Kfouri logrou chegar lá sem abrir mão do que acredita, algo muito raro no Brasil. Chega até a elogiar adversários (Luxemburgo e Mário Lobo Zagallo, importante dar nome aos bois) que, apesar das diferenças com ele, aliviaram para seu filho, o também PODER JOYCE PASCOWITCH 35


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OMNICHANNEL Engraçado que o nome de Juca Kfouri raramente surge primeiro quando o assunto é estritamente o esporte. Lembra-se antes de Galvão Bueno, narrador onipresente nas transmissões da Rede Globo, que tem exclusividade de quase tudo que interessa do tema, mormente do futebol; pensam-se nos folclóricos Milton Neves e Jorge Kajuru; e também em rabugentos, como Mauro César Pereira e José Trajano. Mas todo mundo conhece o Juca. Que passa, entonces? Fizemos o teste e quando o assunto é cartolagem ou regulamento – “mata-mata ou pontos corridos?”, eis a pergunta clássica que ele sempre responde pontos corridos – seu nome é o primeiro do imaginário. Talvez porque desde a Máfia da Loteria Esportiva de 1982, matéria-denúncia histórica de sua autoria, ele nunca abandonou a perseguição aos malfeitos no futebol, a ponto de Ricardo Teixeira ter tenta-

do vetá-lo da cobertura da Copa do Mundo de 1998. Ou talvez porque Juca fale de tantas coisas que nem sempre o associam automaticamente às mesas-redondas esportivas. Ele explica: “Eu adoraria ficar só comentando o jogo, faria de graça se não fosse minha profissão. Mas com toda a sujeira que acontece atrás, sou obrigado a cobrir essas outras coisas. E quando eu fico sabendo, publico, o que acaba por incomodar muita gente”, reflete. Falando em incomodar muita gente e não se ater apenas ao campo do esporte de Charles Miller, Juca usou sua coluna na Folha para contar que Aécio Neves, então pré-candidato à Presidência da República em 2010 (José Serra acabou escolhido pelo PSDB) havia agredido a esposa em público. À época ele pegou fama de serrista e foi muito criticado, mas mantém: “Era algo muito grave que envolvia alguém que queria dirigir o Brasil, e eu tinha cinco relatos au-

ILUSTRAÇÕES ISTOCKPHOTO.COM

jornalista esportivo André Kfouri, da ESPN Brasil: “Esses são dois que disseram ao André que ele não tinha porque se preocupar, que os problemas, inclusive jurídicos, eram só comigo, o que é uma grandeza”, lembra. A sombra da carreira do pai, diretor de Placar por anos, comentarista da Rede Globo e depois da ESPN – para ficarmos, de novo, só no esporte, sem lembrar dos tempos à frente da revista Playboy (sim, daquela mesmo que marcou época), incomodaria o filho? “Acho que eu devo ter atrapalhado em algum momento pelas confusões que arrumei. Mas ficam falando de nepotismo na ESPN e isso é uma bobagem. Ele está lá desde o começo e sabe de todos os esportes muito melhor do que eu. Eu cheguei muitos anos depois. Só se ele fez nepotismo ao me indicar.” Juca gosta de contar duas boas histórias sobre a conviência com o próprio filho no dia a dia profissional: “Ele inaugurou um canal da TVA ao vivo, sem piloto, e eu fui assistir em casa, me remoendo de receio das besteiras que aquele moleque de 20 anos ia fazer, para então eu aconselhá-lo depois. Ele abriu com extrema destreza, avisou aos telespectadores que poderia haver problemas na transmissão pioneira e seguiu sem tropeços. Pensei: ‘De que planeta esse cara veio?’”, ri, coruja, e completa: “A outra foi na Copa de 2006, concorrentes, eu pela Folha de S.Paulo e ele pela ESPN. Eu estava na arquibancada com o Luís Fernando Veríssimo e ele no campo. Alguém avisou que eu chegara e ele subiu as escadas, me deu um beijo, combinou de jantarmos, e voltou ao trabalho. O Veríssimo virou pra mim no ato: ‘Ufa! Ainda se fazem filhos como antigamente!’”, derrete-se.


“O Aécio ter batido na mulher em público era muito grave e envolvia alguém que queria dirigir o Brasil: era meu dever publicar” tônomos! Aí falaram de tudo, assim como hoje me tacham de petista por ter sido contra a derrubada de Dilma Rousseff e denunciado o golpe que se desenhou”. Sobre política, aliás, não mede palavras. Egresso da ALN, organização da luta armada comandada por Carlos Marighella e Joaquim Câmara Ferreira, de quem foi motorista, decidiu sair do Partidão quando veio a anistia. Achava que jornalismo e filiação partidária em tempos democráticos não combinavam e também desconfiava que o comunismo em um país com o capitalismo tão arraigado não triunfaria. Entusiasmou-se com o PSDB – “fui o apresentador do evento que anunciou o partido!” –, mas se desiludiu quando o partido aceitou de bom grado cair no colo da direita liberal após o que ele chama de estelionato eleitoral de FHC, que

segurou a crise até as eleições de 1998, “exatamente como a Dilma fez”. Diz que “Mário Covas deve estar se revirando no túmulo porque ele sempre combateu essa guinada à direita” e foi tão contra o golpe a ponto de narrar um vídeo que comparava o impeachment a uma partida de futebol. Mas restringe seu ativismo a essas ações, diferentemente de colegas como José Trajano, recentemente demitido da ESPN Brasil depois de subir em alguns palanques. Trajano sempre disse que sua demissão foi por motivações políticas, no que Juca concorda: “O Zé tem aquele jeito ótimo dele e achou que depois de tanto tempo poderia subir em palanques, como o do Haddad, e houve quem não gostasse, e pedisse sua demissão”. Homem de princípios, a única coisa que o incomoda na posição política de pessoas PODER JOYCE PASCOWITCH 37


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pensar que não haverá eleições em 2018 e que poderia passar mais 20 anos de sua vida sem liberdade política. Espera que o Supremo Tribunal Federal cumpre seu papel, apesar de se dizer impressionado com a falta de unidade. “Cada ministro é uma ilha! Aquilo é um arquipélago!”, exclama. Por isso, prefere comentar sobre os candidatos. Como Luciano Huck, a quem viu crescer e acha bem-intencionado. “Mas não está preparado para ser presidente, acho a desistência positiva até para

ele, que só teria a se desgastar.” Também acha que a chance de Lula ser preso é, sim, grande, mas prefere listá-lo como candidato. Um otimista capaz de perguntar, meio brincalhão, meio misterioso: “Quem disse que a seleção de 1982 não ganhou? Estamos aqui falando dela mais de 30 anos depois e ninguém lembra o time da Itália!”. VOA, CANARINHO, VOA Tomando chope garotinho, camisa de linho branca impecável, picanha com batatas suflé pra

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próximas – retira-se, portanto, o fascismo da sala de antemão – é a hipocrisia. O cara pode ser de direita, liberal, acreditar no que quiser que não envolva violência ou ditadura. “Mas eu fico muito irritado de ver pessoas do grand monde paulistano, que eu conheço um pouco, arvorando-se em moralismos para defender suas posições publicamente. E elas enriqueceram passando ao largo da ética.” Nada de nomes, claro, mas concordamos em apelidá-los de “pré-Lava Jato”. Mesmo assim ele se recusa a


“A falta de unidade do STF chama a atenção, cada ministro é uma ilha: não é um tribunal, mas um arquipélago!” acompanhar, melancia para a sobremesa, pela primeira vez Juca Kfouri parece inquieto tal qual demonstra na televisão desde que chegou no Figueira Rubayat. Logo entendemos: uma de suas netas está para chegar à sua casa para passar o fim de semana. Começamos a despedida, mas ainda dá tempo de escutar sobre a tragédia do Sarriá, quando a seleção de 1982 saiu da Copa ao perder por 3 a 2 para a Itália de Dino Zoff e Paolo Rossi. Diretor de Placar em tempos em que repórteres tinham trânsito

na concentração, Juca é testemunha do crime. Para aquela edição, aliás, Falcão teria que se avaliar, Zico seria entrevistado e Sócrates era responsável por um diário. Nenhum conseguiu. Juca deu 10 a Falcão, abraçou o Galinho, que não tinha condições de falar à revista, e fechou o diário com a frase “Que pena, Brasil!”, dita pelo próprio Sócrates, puxada para a capa. Sócrates foi o único amigo que fez entre os jogadores, assim de se frequentarem mutuamente. Ele via o Doutor como um per-

sonagem do século 19, incapaz de viver se não apaixonadamente – e até com hábitos chatos como esconder a chave para impedir que os convidados fossem embora. Ainda deu tempo de reclamar da reverência dos jovens jornalistas a ele. “Queria ser sacaneado quando meu time perde, essas coisas, e não essa distância de ‘mestre’.”. Joaquim Câmara Ferreira, o Velho Toledo, líder comunista que o incentivou ir para as redações e largar a luta armada, estaria orgulhoso do íntegro pupilo. n PODER JOYCE PASCOWITCH 39


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IMPÉRIO

MEGAMENTE Uma cidade dentro de Nova York. É isso que Stephen Ross, empresário conhecido como “The King”’ no mercado imobiliário dos Estados Unidos, pretende erguer até 2024

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POR ANDERSON ANTUNES

tephen Ross aboliu a palavra “impossível” de seu dicionário. Maior empresário do mercado imobiliário de Nova York e chamado “The King” pela concorrência, aos 77 anos Ross assume um ar blasé diante de tudo aquilo que o resto da humanidade considera como utópico – mas esse desdém é só da boca para fora, porque o que ele quer mesmo é provar que, sim, é capaz de fazer o que muita gente acha inacreditável. Foi assim quando decidiu ficar com um apartamento e um escritório no 35º andar do Time Warner Center, o primeiro grande edifício erguido em Manhattan depois dos ataques de 11 de setembro. Como o projeto contou com a participação da empresa de Ross, a Related Companies, é natural deduzir que para ele não foi difícil arrematar uma das unidades residenciais no mais cobiçado endereço da cidade. Mas não foi bem assim. O empreendimento projetado pelos arquitetos David Childs e Mustafa Kemal Abadan sacudiu o mercado imobiliário nova-iorquino de alto luxo e os outros sócios do negócio, que exigiu investimentos de US$ 520 milhões, resistiram em lhe ceder um lugar na extensa fila de interessados. Na época – estamos falando do fim de 2003 – Ross ouviu que seria “impossível” se mudar para lá naquela

altura dos acontecimentos, quando uma das coberturas foi vendida pela soma recorde de US$ 54,7 milhões – mais do que já havia sido desembolsado até então por uma propriedade residencial na Big Apple em um quase leilão no qual o banqueiro mexicano David Martínez levou a melhor. Munido de um sentimento de revanche fora do comum, Ross partiu para cima e, em questão de dias, conseguiu o que queria. Detalhe: sem precisar colocar a mão no bolso. FOCO, FOCO, FOCO O fato é um marco na história de Ross, que começou a carreira como mensageiro do Fontainebleau de Miami, hotel para onde se mudou, ainda na adolescência, com a família de origem judia. O trabalho no cinco-estrelas o ajudou a bancar a graduação em contabilidade na escola de negócios da Universidade de Michigan, que passou a frequentar no começo dos anos 1960. Com a ajuda de Max Fisher, um tio empresário, fez várias especializações até se tornar expert em impostos, sem falar das habilidades que adquiriu no tempo em que trabalhou no extinto banco de investimentos Bear Stearns, de Nova York, no qual chegou a ganhar US$ 150 mil anuais. Visionário, usava parte do dinheiro para investir em imóveis na cidade e acabou tomando gosto pela coisa. Em 1972, fundou a Related, a tempo de surfar no boom de PODER JOYCE PASCOWITCH 41


Uma cidade dentro de NY. É assim que Ross define Hudson Yards VIZINHO DE TRUMP

habitação que tomava conta da cidade na época. Algumas décadas depois, tornou-se lenda no mercado imobiliário. Discreto no trato pessoal, porém extremamente agressivo nos negócios, Ross tem objetivos muito maiores hoje em dia: é ele o homem por trás do maior empreendimento imobiliário da história de Nova York, o megaprojeto Hudson Yards, que é descrito como “uma cidade dentro de outra cidade” e está emergindo em uma área industrial no lado oeste de Manhattan, território dominado por armazéns e estacionamentos até pouco tempo atrás. Localizado em um terreno com mais de 110 mil metros disputado desde os anos 1950 por outros reis do concreto, o Hudson Yards terá 16 arranha-céus quando ficar totalmente pronto (não antes de 2024), mais de 5 mil apartamentos, o equivalente a

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quase 1,2 milhão de metros quadrados construídos de área comercial, além de lojas, restaurantes, hotéis, teatros e até uma escola . O primeiro prédio foi inaugurado em maio de 2016, e o custo total para tirar tanta coisa do papel varia bastante. Os mais conservadores falam em US$ 20 bilhões, mas já houve gente apostando que foi o dobro desse valor. O próprio Ross estima que o Hudson Yards deverá exigir pelo menos US$ 25 bilhões de investimentos – a maior parte proveniente de empréstimos bancários e de aportes de sócios poderosos, como a canadense Oxford Properties, que administra mais de US$ 40 bilhões em ativos imobiliários ao redor do mundo. Do bolso do empresário, dono de uma fortuna estimada em US$ 7,6 bilhões que inclui, além da participação na Related, o time de futebol americano Miami Dolphins

e uma parcela da rede de academias de luxo Equinox Fitness, deverá sair a menor parte. Mas nem tudo são flores, a contar pela perda de inquilinos de peso logo depois do início das construções, em 2012. As mais sentidas foram a da News Corp, gigante de mídia fundada por Rupert Murdoch, e do banco Goldman Sachs. As duas empresas pretendiam transferir sua sede para o Hudson Yards, mas desistiram por conta do aperto de cinto generalizado que tomou conta do mundo corporativo norte-americano desde a crise financeira de 2008 que continua rendendo cortes. Com 285 apartamentos, a principal torre residencial do Hudson Yards teve apenas 35% das unidades vendidas até agora – uma longa distância das 125 mil pessoas que Ross espera atrair para viver, trabalhar ou simplesmente visitar o complexo. n

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Com o Hudson Yards, Ross deixou para trás um amigo de longa data com quem vive competindo: o presidente Donald Trump. Os dois trabalhavam e moravam na Trump Tower. A amizade vem desde os anos 1980 e, além da idade próxima (ambos na faixa dos 70 anos), a dupla não disfarça a obsessão por obras faraônicas. As semelhanças, no entanto, param por aí, já que, apesar da torcida de alguns, Ross não almeja a Casa Branca. Talvez porque a vitória de Trump na eleição presidencial de 2016 tenha servido para provar a velha máxima de que “qualquer um” pode se tornar presidente. E, em se tratando de Ross, se a meta não é impossível, não tem graça.


PODER INDICA

A PEDRA PRECIOSA DOS JARDINS

Considerada a pedra do amor, jade tem poder de acalmar tudo ao redor: apazigua a mente, eliminando pensamentos e energias negativas, e melhora a saúde física e espiritual. A pedra traz tantos benefícios que carregar uma funciona como amuleto. Tudo isso foi levado em consideração quando a Constrac Construtora decidiu chamar seu novo empreendimento imobiliário de Jade Jardim Paulista. Localizado no coração de um dos melhores bairros de São Paulo, trata-se de uma edificação superexclusiva: são apenas 13 apartamentos, um por andar, em um condomínio completo, com academia, piscina, terraço coberto e descoberto etc., tudo para quem adora ficar em casa. Por estar próximo à Avenida Paulista, do Parque Ibirapuera e de grandes avenidas e estabelecimentos comerciais, o Jade Jardim Paulista também facilita a vida de quem gosta de frequentar restaurantes, galerias e lojas sofisticadas. A versatilidade do empreendimento se encontra justamente na capacidade de reunir em um só projeto o ambiente ideal para pessoas com preferências distintas. Além disso, a construção está ao encargo de uma empresa idônea, que atua há mais de 35 anos no mercado imobiliário e sempre teve as necessidades dos clientes como foco. Sem falar da pontualidade, já que várias vezes a Constrac entrega as chaves antes do prazo. TEL.: 2158-1237, 97221-1696 +CONSTRAC.COM.BR/JADE


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ENSAIO

SENHORA DOS PALCOS

Aos 88 anos, Nathalia Timberg continua firme e forte. Acabou de sair em turnê com a peça Chopin ou o Tormento do Ideal e já tem vários projetos na manga por márcia rocha fotos andré giorgi



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or mais clichê que possa parecer, é difícil ver Nathalia Timberg sem ficar de queixo caído ao se dar conta que você está cara a cara com uma lenda viva da teledramaturgia brasileira – tal e qual seria com Fernanda Montenegro, Laura Cardoso, Beatriz Segall ou Eva Wilma, só para citar alguns nomes. Essa última, aliás, esteve no Teatro Porto Seguro, em São Paulo, para prestigiar a amiga no encerramento de Chopin ou o Tormento do Ideal. Dirigida por José Possi Neto, a peça, que foi sucesso de público e rodou algumas cidades brasileiras, tem apenas Nathalia e a pianista Clara Sverner no palco. Enquanto relembra os últimos 20 anos da vida de Frédéric Chopin – às vezes como o próprio e em outras como pessoas que conviveram com ele, caso de George Sand e de Franz Liszt, entre outros – Clara toca em um piano de cauda músicas criadas por Chopin na época em que os fatos relatados ocorreram. “As falas iniciais da peça são de Liszt, de quando ele ouviu o primeiro grande concerto de Chopin na França. Eles se tornaram grandes amigos”, conta Nathalia. E continua: “Sabe o que Schumann [Robert Schumann, renomando compositor e crítico de música alemão] disse quando Chopin morreu? ‘A alma da música andou pela terra’. Não é lindo?”, pergunta, com os olhos brilhando. E eles brilham ainda quando ela fala sobre a troca com o público durante as apresentações. “Fiquei encantada com a qualidade do silêncio. Não era um silêncio opaco, mas o de quem está extasiado, absorvendo tudo o está vendo e ouvindo”, comenta. Ao fim do espetáculo, o público, que, segundo ela, tem gente de todas as idades, começa a aplaudir timidamente e, depois, como se as pessoas estivessem saindo de um transe, as palmas explodem, todos se levantam e, não raro, vários “bravo” acompanham os aplausos.

“Fiquei encantada com a qualidade do silêncio do público. Não era um silêncio opaco, mas de êxtase, de quem está absorvendo tudo o que está vendo e ouvindo”


“Foi maravilhoso atuar com Wolf Maya em 33 Variações. Resgatamos para o teatro um ator que estava envolvido com a direção”

Aos 88 anos, Nathalia está mais entusiasmada do que nunca com seus projetos no teatro. Tem vários na manga. Deve repetir a parceria no palco com o ator e diretor Wolf Maya [o dois atuaram juntos em 33 Variações, música considerada uma obra-prima de Beethoven que compôs esse número de variações para uma valsa quando começou a ficar surdo]. “Foi maravilhoso porque resgatamos um ator que estava totalmente envolvido com a direção”, comenta Nathalia. Também está em seus planos ser dirigida por Maria Maya, sua afilhada e filha de Wolf. Mancando um pouco, comenta que quebrou o joelho na temporada carioca de O que Terá Acontecido a Baby Jane?. Nathalia substituiu Nicette Bruno e atuou ao lado de Eva Wilma, interpretando Blanche Hudson. Como sua personagem usava cadeira de rodas, não precisou parar de trabalhar. Ela diz ser “a pessoa mais acidentada que existe” e, sem adotar um tom queixoso, começa a discorrer sobre os problemas de saúde que enfrentou ao lon-

go da vida, citando com precisão profissional nomes de ossos, de órgãos e de outras partes do corpo. Nathalia conta que até gostaria de ter sido médica, mas acabou cursando a Faculdade de Belas Artes – e foi lá, durante as aulas de desenho, que aprendeu anatomia – enveredando pelo teatro. Estreou profissionalmente em 1954, com Senhora dos Afogados, de Nelson Rodrigues, e direção de Bibi Ferreira. Torcedora do Fluminense, com direito a fazer parte do quadro associativo ao lado da bailarina Ana Botafogo, conta que ela mesma gosta de se maquiar para entrar em cena. Para as fotos deste ensaio, no entanto, recorreu a Vavá Torres, que lhe colocou um belo par de cílios postiços. “Pode até ficar bonito, mas atrapalha. O olhar é uma ferramenta importantíssima de expressão”, finaliza. n



ESPELHO

Na opinião de um dos executivos mais importantes à frente da Fiat Chrysler Automobiles (FCA), STEFAN KETTER, o carro foi uma das máquinas que mais provocou mudanças no estilo de vida mundo afora ao longo do século 20. Sua invenção esteve – e continua – associada à liberdade de ir e vir. Ter um carro concedia a seu proprietário a ideia de que ele era livre. Isso mesmo, no passado, já que o mundo está mudando. “As novas gerações têm uma cultura que valoriza um conceito mais amplo de mobilidade e de expressão social, com o smartphone como peça principal. Isso não significa que o automóvel não tenha mais lugar no mundo”, conta Ketter, que é presidente da FCA para a América Latina e vice-presidente mundial de manufatura da empresa. Para ele, o automóvel continua a ser um ícone do deslocamento, mas os aplicativos de táxi democratizaram o acesso aos veículos. Ou seja, não existe mais a necessidade de ser dono de um. “Por isso, costumo dizer que o automóvel é um aplicativo do smartphone. Você planeja seu deslocamento e aciona o carro para fazê-lo”, continua. Ainda estamos longe das previsões futurísticas criadas pelo cinema. Nada de carros voadores no horizonte, mas Ketter afirma que a FCA está envolvida em “importantes pesquisas no mundo, com o Google e sua divisão Waymo, que vão operar taxis autônomos nos Estados Unidos. Também integramos a parceria estratégica formada pela FCA, BMW, Intel e Mobileye para o desenvolvimento de veículos autônomos. O que significa que o carro pode mudar, mas seu uso continua presente na vida das pessoas”, explica o executivo. Enquanto nos Estados Unidos contabiliza-se um carro para 1,2 habitante, na Europa o índice médio é de um carro para 1,7 habitante; no Brasil esse número é de um veículo para 4,5 habitantes. Mesmo ao considerar que esse índice é distribuído de forma bastante desigual do ponto de vista geográfico – e as metrópoles são mais motorizadas que o interior do país – trata-se de um mercado com enorme possibilidade de expansão. Soma-se a isso a produção e a distribuição de etanol por aqui, que resulta em uma redução de até 73% nas emissões de dióxido de carbono – quando comparado ao uso da gasolina –, de acordo com estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Ketter coordena os times ligados à linha de produção de todas as fábricas do grupo no mundo – ou seja, sua rotina é não ter rotina, já que ele praticamente não consegue acordar muitos dias seguidos no mesmo país. “Eu me defino como um globe-trotter. Meu escritório é minha mochila. Gosto de estar em campo e posso fazer isso com o apoio de uma equipe dedicada e com uma estrutura eficiente de telecomunicações”, finaliza.

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O CARRO DO FUTURO


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BLINDAGEM

MÉDICOS DE REPUTAÇÃO

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À

s oito da manhã do dia 4 de janeiro, o presidente Michel Temer colocou uma camiseta cinza-chumbo da Nike e foi caminhar pelos jardins do Palácio do Jaburu – antes, porém, tomou o cuidado de avisar a imprensa que estava saindo para uma sessão de exercícios aeróbicos com dois seguranças. Nos meses que antecederam a caminhada, ele havia passado por duas cirurgias – uma na próstata e uma angioplastia, procedimento para reverter o entupimento de artérias do coração. O exercício era uma tática para mostrar que estava “perfeito, recuperadíssimo, graças a Deus”, como fez questão de frisar aos jornalistas, que caíram da cama para documentar o cooper. “Essa caminhada dele não foi fruto do meu planejamento. Mas poderia ter sido”, diz um ex-chefe de segurança da informação de um órgão ministerial que, de um ano para cá, está fazendo um trabalho diferente. “Pode me chamar de ‘médico de reputações’”, explica, completando que sua função é manter longe dos olhos da população em geral a ficha médica de mulheres e de homens públicos. Por motivos óbvios, ele não revela seu nome nem o de seus clientes. Esse doutor de reputações não tem exatamente o charme de George Clooney em seus bons tempos de ER nem o de Patrick Dempsey, que interpreta o doutor Derek Shepherd em Grey’s Anatomy. No dia em que se encontrou com PODER em um McCafé para discutir seu ofício, nosso entrevistado vestia uma polo branca, jeans de lavagem clara e tênis de corrida. “Eu nunca sonhei fazer isso. Aconteceu”, conta ele, que está na casa dos 40 anos, é formado em matemática e era responsável por manter 20


Políticos contratam especialistas em segurança da informação para evitar que vazamentos de dados de suas fichas médicas coloquem a carreira em risco POR CHICO FELITTI

sites do governo à prova de hackers. Até que um dia um parlamentar de um estado do sul do país o convocou. “Ele disse que um ministro tinha me recomendado. Contou que estava se tratando de um câncer de próstata e que tinha aberto exames em computadores e celulares oficiais e agora estava preocupado com a segurança dessas informações.” A primeira providência do nosso homem de TI foi fazer uma varredura on-line para descobrir eventuais dados perdidos na rede. De cara, encontrou no Google resultados de exames de colesterol e de registros de um mapa de pressão arterial. Como não é possível retirar uma página da ferramenta de pesquisas sem ordem judicial, usou táticas de SEO (Search Engine Optimization, ou otimização de ferramentas de busca) para jogar essas menções para baixo de outras notícias. O político ficou satisfeito com o resultado. “Eu só não sabia quanto cobrar.” Acabou fechando o trabalho por R$ 15 mil, valor que mantém até hoje. ENTRE E FIQUE À VONTADE A clientela cresceu com o boca a boca. Meses depois, ele recomendou a dois parlamentares pedir na Justiça a retirada dos resultados de exames que ficam armazenados em sites de laboratórios que podem ser acessados por uma senha alfanumérica. “Isso funciona como PODER JOYCE PASCOWITCH 53


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Temer se digladia com problemas de próstata. Em 2014, Geraldo Alckmin levantou suspeitas ao se internar no Incor, em São Paulo, para tratar uma infecção bacteriana no intestino, ou seja, o episódio não teve nada a ver com o coração. Essas são as informações que vieram a público pela imprensa. “É a famosa ponta do iceberg. Mais de 90% das doenças não existem porque ninguém fica sabendo delas”, diz o ex-lobista. Até porque esse tipo de dado pode ter um uso político importante. “A campanha do Trump [para a Presidência dos Estados Unidos] lançou mão desse tipo de coisa”, explica Rafael Moreira, cientista político da Universidade de São Paulo (USP), dizendo que usar informações como essas para derrubar o adversário do palanque não é uma prática exatamente democrática. Moreira ilustra sua linha de raciocínio com o que aconteceu na última eleição presidencial norte-americana. Trump insinuou que Hillary Clinton era débil demais para assumir o governo, depois de ela ter tido um princípio de desmaio em uma tarde quente. Até o pigarro da ex-secretária de Estado era discutido em público pelo atual presidente dos EUA. Ao falar sobre o caso, o brasileiro especialista em sigilo médico apela para uma famosa frase do imperador Júlio César: “Não basta ser saudável. É preciso parecer saudável”. Hilton Cesario Fernandes, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), vê crescimento do uso eleitoral de dados de saúde dos políticos: “É uma invasão da privacidade, do direito do sigilo. Independentemente de estarmos falando de políticos, trata-se de invasão”, pontua. Nicole Hemmer, professora de ciência política em Columbia e na Universidade da Virginia, nos EUA, faz parte do time que defende a ideia de que doenças não devem ser usadas como termômetro para prever quanto tempo um político vai conseguir se manter no cargo. “Mesmo assim, hoje em dia, a saúde de um candidato está mais no foco do que nunca. Acontece que tratamentos de ponta podem curar ou, pelo menos, conter, praticamente todas as doenças durante um mandato”, afirma.

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uma porta aberta. É um convite para qualquer hacker de 18 anos entrar”, comenta, emendando que conhece mais dois experts em TI que fazem um trabalho parecido. No meio do ano passado, ouviu de um cliente que era paranoico. “Ele me disse que o Brasil não era House of Cards.” Não demorou nem seis meses para nosso entrevistado rir por último: em janeiro, o jornal Folha de S.Paulo noticiou que o aplicativo Mais Saúde, do Ministério da Saúde, revelava a qualquer pessoa munida do CPF de políticos (disponibilizado pelo Tribunal Superior Eleitoral e rastreável com uma simples busca no Google) o histórico dos remédios retirados na rede pública, as consultas marcadas em hospitais estaduais e uma versão eletrônica da carteirinha do SUS. A reportagem teve acesso aos dados de saúde do presidente Temer, dos presidentes do Senado e da Câmara e de ex-presidentes. Após a publicação do texto, apontando a brecha de segurança no aplicativo, o Ministério da Saúde mudou o sistema de cadastro para seu aplicativo. Agora, é necessário configurar uma senha num posto de saúde, munido de documento original. “Mas era tarde demais. Imagine se descobrem a lista de remédios que a Marina [Silva] toma?”, fala o profissional, que não tem a sonhática da Rede em sua lista de clientes. Para explicar a brincadeira: Marina Siva teve leishmaniose e sofreu envenenamento por metais pesados. Lula e Dilma já enfrentaram o câncer. Michel


MÉDICO DE FAMÍLIA E se engana quem pensas que os poderosas têm acesso à melhor medicina do planeta. O historiador americano Matthew Algeo passou em revista a relação entre o poder e o prontuário médico no livro The President Is a Sick Man (algo como O Presidente É um Homem Doente, em português), e afirma que há profissionais de saúde questionáveis cuidando de vários deles. “Tende-se a achar que políticos vão ter o melhor

Porque não é fácil remediar os danos quando o prontuário médico de alguma celebridade política – ou de alguém de sua família – vem a público. Em fevereiro de 2017, uma médica divulgou em seu grupo de WhatsApp informações sobre o estado de saúde da ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva, que acabaram viralizando. Na época, ela estava internada no Sírio-Libanês, em São Paulo, após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). O hospital demitiu a

“A saúde dos políticos está em foco. Mas tratamentos de ponta podem curar ou conter quase todas as doenças durante um mandato” (Nicole Hemmer, professora de ciência política)

tratamento médico. Mas não é assim. Porque muitas vezes esses políticos preferem se tratar com médicos de família”, diz. Para o historiador, a preferência se explica pela confiança do sigilo e ultrapassa a preocupação em se submeter a um tratamento de ponta. Algeo pinça o exemplo de John F. Kennedy, que presidiu o país mais potente do mundo entre 1961 e 1963, sem ser tão potente quanto parecia. O presidente precisava tomar esteroides e doses cavalares de testosterona para lidar com a doença de Addison [o mal causa deficiência na produção de adrenalina, entre outros hormônios, e os sintomas ainda incluem cansaço e perda da memória]. Kennedy, que desmaiou em público duas vezes por causa disso, era percebido como um dos presidentes mais saudáveis da história, como mostrou pesquisa feita em 2000 pelo Pew Research. “E ele lutava para que fosse desse jeito”’, conta o historiador.

médica e dona Marisa faleceu naquele mês. A profissional pode até ter perdido o contracheque, mas não foi punida. O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) abriu uma sindicância para apurar violação do Código de Ética – o que poderia culminar na cassação do registro. Um ano depois, porém, a investigação ainda está em andamento. “A sindicância leva, em média, de seis meses a dois anos para ser concluída e tramita em sigilo processual”, escreveu o Cremesp a PODER. “Vai ser mais fácil ver todos os faixas pretas de Brasília sendo presos na Lava Jato do que ver essa médica indo para a cadeia por causa disso”, afirma o homem responsável por evitar vazamentos de informações sobre a saúde de políticos, antes de desafiar a recomendação de seu cardiologista e comer seu segundo croissant em uma hora de entrevista. n PODER JOYCE PASCOWITCH 55


VIAGEM

Grupo de “otakus” – fãs de animes e mangás – assiste a show da banda Hatsune Miku exibido em telão gigante no bairro de Shinjuku, em Tóquio

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MADE IN

JAPÃO

Do outro lado do mundo, cada detalhe se transforma em curiosa imagem sobre o desconhecido. Se viajar é, como se diz, exercício de empatia, estamos falando de um país que abarca como poucos o incrivelmente moderno e o tremendamente arcaico texto e fotos

MAURÍCIO NAHAS

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Na cerimônia de casamento em Tóquio, o traje da noiva é um quimono chamado shiromuku. Abaixo, a aldeia japonesa Shirakawa-go é famosa pelas casas de estilo arquitetônico gasshoku. Os telhados suportam muito bem as nevascas do inverno.


Gueixa caminha em Kanazawa, cidade na costa do mar do JapĂŁo. Enquanto isso, em Osaka, homens se divertem com jogos de tabuleiro

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Abertura do campeonato nacional de sumô no estádio Kokugikan, em Tóquio

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É DE PODER POR ANA ELISA MEYER

SYLVIE VARTAN E JOHNNY HALLYDAY

Durante 15 anos, os cantores franceses Sylvie Vartan e Johnny Hallyday formaram um dos casais mais míticos da França. O relacionamento começou profissionalmente, em 1962, quando Hallyday, então com 18 anos e já famoso, convidou a jovem artista um ano mais nova para participar da turnê que estava fazendo. Foram quase duas décadas, entre idas e vindas, de amor, de admiração, de cumplicidade e, claro, de duetos musicais. Considerado o maior roqueiro da França, Hallyday morreu em dezembro passado aos 74 anos. Sylvie, hoje com 73 anos, canta em shows de jazz pelo país.

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AINDA MELHORES

A Bulgari inovou a linha Octo de relógios. Disponível em versões de três ponteiros ou cronógrafo, a série Octo L’Originale traz dois modelos que evocam as origens da coleção e trazem a leveza do titânio na caixa e no mostrador. Com design contemporâneo, os Octo Roma vêm em três versões: caixa de aço, mostrador preto com acabamento sunburst e pulseira de couro de jacaré; caixa de aço, mostrador azul luminoso e pulseira articulada com detalhes polidos e foscos; e caixa de aço com besel e coroa de corda de ouro rosa e pulseira de dois tons que combina ouro e aço. BULGARI.COM PODER JOYCE PASCOWITCH 63


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MOTOR

VOO ALTO

Sejam as viagens curtas ou longas, elas sempre serão seguras e confortáveis. Com tecnologia up to date, bom espaço interno, muito estilo e em alguns casos ótima visibilidade, estes helicópteros são para toda obra por aline vessoni

AIRBUS H130

O H130 é um dos helicópteros mais silenciosos e espaçosos que se pode encontrar sobrevoando o céu. Exatamente por essas razões, e pela privilegiada visão panorâmica, ele se torna referência para voos turísticos e, até mesmo, lazer ou negócios. A cabine ampla pode acomodar até oito pessoas, incluindo o piloto nessa conta. O display multifunção dos parâmetros da aeronave e do motor (VEMD) está completamente integrado ao painel, o que reduz o trabalho do piloto, aumentando dessa forma a segurança do voo. No Brasil, a aeronave é comercializada pela Helibras, subsidiária da Airbus. A partir de US$ 4,4 milhões (nacionalizado)

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AIRBUS H125

O H125 supera todos os outros helicópteros em desempenho, versatilidade e segurança, além de se sobressair em ambientes exigentes. Todos esses atributos fizeram dele o helicóptero mais vendido do mundo. O modelo tem ampla cabine, alta velocidade, alcance e capacidade de carga. O interior com acabamento de alto padrão Stylence® está disponível na Airbus Helicopters para clientes que buscam tanto funcionalidade quanto luxo no transporte de passageiros. A partir de US$ 3,5 milhões (já com impostos)

O ecletismo desta aeronave faz dela um alternativa excelente para quem precisa de um helicóptero rápido e confiável sem prescindir do conforto. Do transporte de funcionários para plataformas de petróleo à beira-mar a urgências médicas, o Relentless é pau para toda obra. A cabine ampla e confortável, que acomoda até 20 pessoas, também faz dele uma opção sem igual para o transporte vip. A tecnologia é outro ponto alto, o que torna o 525 um modelo com pouco ruído e vibrações. A partir de US$ 15 milhões

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BELL 525 RELENTLESS


MD 500E

Uma aeronave de porte leve, monoturbina, que voa rápido e oferece alta performance com baixo custo operacional. Com quase três horas de autonomia de voo e alcance de mais de 530 km, o 500E da McDonnell Douglas comporta até cinco pessoas. O rotor de cinco pás garante viagens com bastante estabilidade. Preço sob consulta

ROBINSON R66 TURBINE

Econômico e de fácil manutenção, o R66 Turbine se destaca pelo espaço, podendo levar confortavelmente até cinco pessoas. A aeronave suporta cerca de 430 quilos, excluindo o peso do combustível. Depois é só curtir o passeio, que pode ser feito em deslocamentos de autonomia bastante razoável, de até 650 km. O sempre confiável motor Rolls-Royce que equipa a nave permite que o R66 alcance a velocidade máxima de 204 km/h. A partir de US$ 892 mil

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COZINHA DE PODER POR FERNANDA GRILO

VOILÀ: O CHAMPANHE Nenhum brinde é completo sem uma boa taça de champanhe, bebida que surgiu na França no século 17 e era a favorita de Napoleão

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nome é o mesmo da região francesa onde esse vinho espumante nasceu no século 17, Champagne, que fica a 150 km de Paris. E também tem a ver com o processo de produção, chamado champenoise, que consiste em duas fermentações: a primeira é feita em uma espécie de tanque e, depois, a bebida passa por uma nova fermentação já dentro da garrafa para absorver o gás carbônico que garante suas características. “Se conservado da maneira correta, em adega climatizada com temperatura entre 12 e 16 graus e a garrafa deitada, o champanhe de boa qualidade pode durar até 50 anos”, afirma Manoel Beato, sommelier chef do Grupo Fasano. Na hora de servir, a temperatura deve estar entre 7 e 13 graus. “Nada de estupidamente gelada. Isso faz com que a bebida perca a sua complexidade”, afirma ele. Também não se deve tomar champanhe seco ou brut, os mais comuns, para acompanhar a sobremesa. “Isso deixa a bebida amarga. Trata-se de um erro histórico. Existem espumantes próprios para doces”, explica o sommelier. Se o objetivo é servir champanhe com pratos salgados, aposte nos frutos do mar e nas aves de carne mais suave. Amendoim e os mais diversos tipos de castanhas também fazem uma boa dupla com a bebida. No mais, é seguir à risca o que Napoleão Bonaparte costumava dizer: “Champanhe, merecido nas vitórias, necessário nas derrotas”. n


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CAMARÕES ROSA DE SANTA CATARINA AO MOLHO DE CHAMPANHE BRUT COM CAVIAR

• 15 g de cebola • 1 folha de louro • 150 ml de creme de leite

INGREDIENTES • 5 unidades de camarão rosa (11x5) • 100 g de molho champanhe • 40 g de espaguete • 20 g de caviar • 20 g de manteiga

MODO DE PREPARO Em uma frigideira previamente aquecida, coloque a manteiga, a cebola e o louro.Assim que a cebola murchar, adicione o champanhe e deixe evaporar. Depois, acrescente o camarão e, em seguida, o creme de leite, mantendo em fogo brando por três minutos. Em outra frigideira, coloque o espaguete já cozido e acrescente uma colher de molho e o caviar.

ANDERSON LARANJEIRA, CHEF DO LA TAMBOUILLE

TAÇAS DE CHAMPANHE DE CRISTAL MIKASA Divino Espaço R$ 330 divinoespaco.com.br

ADJUSTA GRILL Tramontina R$ 595 tramontina.com.br

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FRENCH 75

EGLA DE QUEIROZ, MIXOLOGISTADO G&T BAR MODO DE PREPARO Bater todos os ingredientes na coqueteleira, exceto o champanhe. Coar e, em seguida, acrescentar o champanhe. Sirva em taça previamente resfriada em gelo e decore com casca de limão-siciliano e cereja em calda.

* PREÇOS PESQUISADOS EM FEVEREIRO. SUJEITOS A ALTERAÇÕES.

FOTOS GIOVANNA BALZANO; DIVULGAÇÃO

INGREDIENTES • 50 ml de gim • 20 ml suco de limão-siciliano • 15 ml simple syrup (xarope de açúcar) • 100 ml de champanhe

CHALEIRA DE CERÂMICA BUBBLE Oxford Cookware R$ 228 oxfordporcelanas.com.br

CHAMPANHEIRA MOULIN ROUGE DOURADA Baccarat PREÇO SOB CONSULTA beganpresentes.com.br

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HIGH-TECH POR FERNANDA BOTTONI

Se esta casa fosse minha... Robô que cozinha, geladeira que reproduz vídeos, banheira que anula os efeitos da gravidade e outras maravilhas tecnológicas para brincar de home sweet home

SAMSUNG FAMILY HUB

Mais do que um refrigerador, a Family Hub, da Samsung, é uma espécie de central familiar – graças a um painel touchscreen de 21,5 polegadas conectado à internet. Com as três câmeras embutidas é possível fazer a lista de compras remotamente. Você também pode configurar notificações de validade dos produtos e uma gaveta com divisor inteligente garante que os alimentos sejam resfriados em temperaturas diferentes. Para completar, a família pode compartilhar calendários, fotos, notas e lembretes a partir do celular ou da própria Family Hub. E ela ainda se conecta com apps como Spotify e permite reprodução de vídeos no painel digital. Pena que ainda não tenha chegado ao Brasil. SAMSUNG.COM.BR R$ 12.600

NOKIA HOME

A solução de monitoramento da Nokia é para quem quer saber tudo o que se passa em casa. Com um dispositivo de visão noturna, a câmera smart HD grava e transmite vídeos em alta resolução para seu smartphone, tablet, relógio Apple e Apple TV. E mais: o kit permite conversas e interações ao vivo, detecta barulhos e movimentos incomuns, avalia a qualidade do ar e vem com “monitor de bebê” para ver e ouvir a criança, falar com ela e entretê-la com programas de luz LED e música. Compatível com iOS e Android. R$ 420 NOKIA.COM

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PODER INDICA

LOW-TECH

JOIAS PARA A CASA VORWERK THERMOMIX

É só escolher uma das receitas do chip, apertar alguns botões no display e pronto! O Thermomix deixa tudo pronto. A ideia é que o aparelho, criado na Alemanha, substitua nada menos do que 12 eletrodomésticos. Ele é capaz de pesar alimentos com precisão, funciona como timer, cozinha e aquece com controle rigoroso de temperatura, cozinha a vapor alimentos diferentes em diversos compartimentos, além de pulverizar, moer, ralar, bater, picar, triturar e sovar vários tipos de massa.

FOTOS DIVULGAÇÃO * PREÇOS PESQUISADOS EM FEVEREIRO. SUJEITOS A ALTERAÇÕES

BRASIL.THERMOMIX.COM/BR R$ 6.199

A arquiteta e professora de joalheria Nao Yuasa traz para a Dpot Objeto sua expertise em criação de joias para o corpo concebendo objetos para decorar a casa. Ao somar a lógica do projetar arquitetônico com uma incessante pesquisa de materiais, Nao chegou a combinações engenhosas de elementos como ouro, prata, cobre, titânio e seda, entre outros, o que possibilitou a criação de colares e de pedras que se encaixam bem tanto em móveis quanto nas paredes. INSTAGRAM @DPOTOBJETO

TOTO FLOTATION TUB

Quer coisa mais relaxante que ficar de molho na banheira? Esta promete deixar você com a mesma sensação de um astronauta tomando banho em um foguete: sem gravidade, o que, segundo o fabricante, alivia a tensão nas articulações. A postura chamada “zero dimension” reduz a atividade cerebral de linguagem, o que promove um relaxamento profundo, parecido com o que se consegue meditando. A função “hydrohands” executa massagem com jatos de água também para liberar a tensão – sem bolhas de ar e sem ruídos. Apresentada ano passado em uma feira em Frankfurt, na Alemanha, a Flotation Tub vai entrar no mercado dos Estados Unidos, Oriente Médio e China. Ou seja, por ora, só nos resta esperar PREÇO AINDA NÃO DIVULGADO TOTO.COM

LG SIGNATURE OLED TV W8

Anunciada durante a CES 2018, maior feira de tecnologia do mundo, a TV OLED W8 de 77 polegadas deve chegar ao Brasil este semestre. Com menos de 2 milímetros de espessura (parece um quadro) vem com função LG AI TV withThinQ, que conecta a TV a outros dispositivos. Também tem LG a9 Intelligent Processor, 4K Cinema HDR e Dolby Atmos, som de cinema que leva a assinatura Dolby. PREÇO AINDA NÃO DIVULGADO LG.COM/BR

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CULTURA INC.

ILUSTRAÇÃO ISTOCKPHOTO.COM

POR LUÍS COSTA

ESSE CARA SOU EU 74 PODER JOYCE PASCOWITCH


Breno Silveira diz que levar a vida de Roberto Carlos para a telona é o maior desafio de sua carreira

Era começo de 2017. O diretor Breno Silveira rodava Entre Irmãs, no sertão alagoano, quando recebeu um convite irrecusável: filmar a vida de Roberto Carlos. Foi o próprio cantor quem o escolheu para contar sua história no cinema. Silveira conhecia Roberto desde a produção de À Beira do Caminho, de 2012, filme baseado nas canções do Rei. Na verdade, Silveira conhece Roberto há muito mais tempo, só que de outro jeito. Aos 19 anos (hoje, tem 54), depois de uma decepção amorosa, recebeu do pai um disco de Roberto e um conselho: “Para você aprender que todo mundo sofre”. Começava ali a admiração que se mantém até hoje. Para conhecer em detalhes o biografado, foram longas horas de reuniões nos estúdios do cantor, na Urca, zona sul do Rio de Janeiro. O mais popular artista brasileiro contava sua vida a Nelson Motta e a Patrícia Andrade, que assinam o roteiro do filme. Segundo o diretor, Roberto foi sincero e aberto, sem fugir de temas delicados – o episódio do acidente na infância que o fez perder uma perna, por exemplo, vai ser contado por ele pela primeira vez. “O que eu sinto nele é uma vontade muito genuína de relatar o que aconteceu”, diz Silveira. E completa: “Não é uma biografia não autorizada ou uma pesquisa, mas Roberto contando o que viveu pelo próprio

olhar” [em 2006, o jornalista Paulo Cesar de Araújo lançou a biografia Roberto Carlos em Detalhes, impedida de circular por conta de uma ação civil movida pelo cantor. RECORDAÇÕES São as canções que guiam as memórias de Roberto. “Esse cara cantou o que viveu”, diz Silveira, que conta ter ouvido histórias de um homem que experimentou os amores e as angústias das letras que compôs. “Quando você descobre as fases e interliga as músicas, é muito emocionante. Eu chorei várias vezes porque, quando você vai à música e começa a entender o porquê daquela letra, entende também a vida do Roberto. Isso é lindo.” A primeira leitura do roteiro aconteceu em dezembro do ano passado. A expectativa é que a produção – que envolve um complexo trabalho de caracterização de diversa épocas – avance até 2019, quando se espera que o filme seja lançado. “É um dos maiores desafios da minha vida”, diz Silveira, que, em 2006, dirigiu 2 Filhos de Francisco, cinebiografia da dupla Zezé di Camargo e Luciano e nona maior bilheteria da história do cinema nacional. “Estou morrendo de medo e ao mesmo tempo de vontade. Quero que seja algoque transforme a visão que a gente tem do Roberto, alguma coisa que fique para sempre.” n PODER JOYCE PASCOWITCH 75


LIVRO

CRIADOR E CRIATURA Silviano Santiago, 81 anos, diz que Machado (Companhia das Letras) começou a ser escrito ainda na sua juventude, em Belo Horizonte, quando passou a ler o maior gênio literário brasileiro. Essa longa jornada de compreensão do mestre rendeu ao escritor mineiro o último Prêmio Jabuti de livro do ano de ficção, entregue em novembro do ano passado. Entre a pesquisa documental e o romance, o livro narra os últimos anos de vida de Machado de Assis (1839-1908), combalido pela viu-

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vez e pela epilepsia. Fato e imaginação se conjugam em uma narrativa histórica e literária. Doutor em letras pela Sorbonne e escritor com extensa obra ficcional, Santigo experimentou em Machado um exercício de hibridismo textual. “É a intercomunicação entre os vários usos e as várias formas da linguagem literária e artística que me ajudam a imaginar e a compor um texto”, diz o escritor, que refuta a ideia de uma segmentação restrita na literatura. “Sou um tanto avesso à ditadura das categorias tradicionais: romance, conto, ensaio, biografia. Acredito que a noção de ‘texto’ tirou do pedestal a noção canônica de gênero, assim como a revolução comportamental originada dos anos 1960 vem questionando a organização sexual da sociedade por duas identidades fixas”, compara. O pesquisador – e julgo que o seja – busca e, se tiver sorte, encontra o fato histórico que pode alimentar a imaginação vigorosa do romancista”, pontua. Com base em pesquisas, ele mostra, por exemplo, os primeiros passos do tratamento clínico da epilepsia no Brasil, com destaque para o Hospital dos Alienados, que reuniu grandes especialistas da época. “Tenho de acreditar que tanto Machado de Assis quanto o conhecimento histórico do período saem enriquecidos pelo híbrido”, afirma.

O que Machado ensinou a Silviano Santiago? “Tudo e nada”, ele responde. “Umas das belas coisas da literatura é que o artista pode trair o mestre, deve trair o mestre, para que melhor saliente tanto o aprendizado quanto a própria originalidade”, diz. “Faço coisas que Machado fez, e fez muito melhor do que eu, e outras que ele nunca teria tido coragem de fazer. Aquilo é dele; isto é meu, só meu.” Aos 81 anos, Santiago acredita que já é possível, para usar suas palavras, dar-se de presente a escrita das memórias. “Tive uma vida que se não foi interessante foi ao menos divertida, e acho que ela merece ser contada em suas andanças pelo mundo e aprendizados em variados países”, afirma. São os “exílios” de Silviano Santiago – não no sentido político, ele explica, mas no de aprendizado pela viagem. As memórias passeariam por cidades que estão no itinerário afetivo do escritor, a começar por Formiga, onde nasceu, na região oeste de Minas Gerais. Viriam ainda, entre outras, o Rio de Janeiro e a Paris dos anos 1960, em plena guerra da Argélia. “Poucas pessoas sabem que fui, em Paris, um anônimo locutor da Radiodiffusion-Télévision Française, tendo como companheiro, numa sala ao lado, o então jovem e desconhecido Mario Vargas Llosa”, lembra Santiago. n

FOTOS CLÁUDIO NADALIN/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

Vencedor do Jabuti, maior prêmio literário brasileiro, o escritor mineiro Silviano Santiago fala sobre Machado e revela que pretende escrever suas memórias


A METRÓPOLE EM PROSA Um painel de 20 narrativas guia a leitura de A Cidade Dorme (Companhia das Letras), novo livro do premiado escritor mineiro Luiz Ruffato. São textos escritos nos últimos 15 anos sobre o tempo, a memória, a família. A partir do ponto de vista do trabalhador urbano, Ruffato reflete sobre o Brasil dos grandes centros e das periferias. As narrativas passeiam da infância à idade adulta, da margem ao miolo das metrópoles, com histórias sobre futebol, ditadura, violência urbana, drogas, entre outros tópicos da vida na cidade.

PALCO NIKOLAI LUGANSKY NO RIO

Um dos mais consagrados pianistas da atualidade, o russo Nikolai Lugansky faz única apresentação no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, no dia 20 de março. Considerado pela revista especializada Gramophone como “o mais peculiar e mercurial de todos os intérpretes”, pela profundidade e versatilidade de suas interpretações, Lugansky, vencedor do tradicional Concurso Internacional de Piano Tchaikovsky, vai interpretar obras de Schumann, Chopin e Rachmaninoff.

Câmera nômade Uma exposição com cerca de 120 fotografias documenta o itinerário nômade de Pierre Verger, um dos mais importantes fotógrafos do século 20, na Galeria Marcelo Guarnieri, no Jardim Paulista. Entre os anos 1930 e 1960, Verger – francês que se naturalizaria brasileiro – fotografou a vida em países da África, da Ásia e das Américas. A mostra reúne trabalhos feitos para agências e revistas, estudos etnográficos na costa do Benin e na Bahia, além de fotos que retratam festas, rituais e cotidiano em países como Peru, Vietnã, Estados Unidos, Nigéria e Brasil. A visitação é gratuita e fica aberta até 4 de abril.

BALÉ PARA CAETANO

O Balé da Cidade de São Paulo – que completa 50 anos em 2018 - estreia a temporada com o lançamento mundial de Um Jeito de Corpo, espetáculo inspirado nas músicas e na literatura poética de Caetano Veloso. A criação é de Morena Nascimento, que foi integrante da renomada companhia Tanztheater Wuppertal, de Pina Bausch. As apresentações ocorrem de 15 a 25 de março, no Theatro Municipal.

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UNIVERSO PARTICUL AR POR ALINE VESSONI

À frente da USP, Vahan Agopyan está de olho nos números da maior universidade do país e também em pesquisas úteis fora da academia

EXERCÍCIO: gosto de fazer caminhadas na companhia da minha esposa HOBBIES: ler e ir a concertos de música clássica ONDE ESCUTAR MÚSICA CLÁSSICA: Sala São Paulo,

Theatro Municipal e Festival de Inverno de Campos do Jordão MELHOR DESTINO DE FÉRIAS: Portugal

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to, essa experiência por si só não garantiria uma gestão bem-sucedida quando chegou a sua vez. "É uma responsabilidade muito grande, mas, ao mesmo tempo, sinto-me tranquilo, pois fomos apoiados por um grupo grande de professores. Esse grupo cresceu ao longo da campanha. Então, tenho quase 200 pessoas que assumiram a responsabilidade de conduzir a universidade. Não somos apenas o vice-reitor [Antonio Carlos] Hernandes e eu: estamos representando colegas que têm os mesmos ideais ", conta. Segundo Agopyan, o foco da gestão anterior era evitar o risco de colapso financeiro. Paralelamente, entre outras medidas, foi criada uma área de controladoria para evitar futuros desmontes. Agora é pensar para frente ou, mais precisamente, em uma indissociabilidade entre comunidade e pesquisa. "Desde sua criação, em 1934, ou mesmo nas escolas profissionais pré-USP, sempre houve um intercâmbio muito grande com a sociedade. O que nós estamos querendo fazer é aumentar essa troca de maneira institucional, porque isso é bom para nós e é bom para que a sociedade possa entender melhor o papel da universidade", explica.

GÊNERO PREFERIDO DE LEITURA: literatura e História CIDADES: São Paulo e Londres MÚSICAS: as clássicas e as da minha juventude – de Chico Buarque,

Caetano, Gilberto Gil e Gal Costa aos internacionais Beatles e Pink Floyd OBRAS MARCANTES DA ENGENHARIA: novo trecho da rodovia Imigrantes, Masp LIVROS: Servidão Humana, de William Somerset Maugham; Istambul, de Orhan Pamuk; e Capitães da Areia, de Jorge Amado

FOTOS MARCOS SANTOS/USP IMAGENS; ISTOCKPHOTO.COM; DIVULGAÇÃO

A vida do reitor da maior universidade do país começa bem cedo. Às 8 da manhã, o engenheiro civil e atual reitor da Universidade de São Paulo (USP), Vahan Agopyan, já está a postos – o que significa que já chegou à Cidade Universitária, fez sua corrida matinal pelas largas avenidas internas, tomou banho e começou a despachar. Pelo número de alunos já se tem uma ideia do tamanho da incumbência: são quase 100 mil estudantes que se dividem em cursos de graduação e de pós-graduação. Mas Agopyan sabia o que vinha pela frente, já que, na última gestão, foi vice-reitor na chapa com Marco Antonio Zago. E, antes disso, assumira o cargo de pró-reitor. Para ele, no entan-


CARTAS cartas@glamurama.com

FARINHA DE OUTRO SACO

“Os destaques relacionados a minha pessoa, como cidadão e empresário, traduzem com seriedade e precisão episódios que sintetizam meus valores, crenças e propósitos (PODER 113). Minha admiração pela revista aumentou com o profissionalismo de Paulo Vieira, o jornalista que me entrevistou. Ele traduziu com clareza e simplicidade o que discorremos em nossa conversa.” Amarílio Macêdo, Grupo J. Macêdo, São Paulo (SP), via e-mail

FOTO ROBERTO SETTON

ESTADO MÍNIMO

Que incrível conhecer essa ideia de “essencialismo” (PODER 113). Eu não sou um Bill Gates da vida (risos), aliás, estou bem longe disso. Mas há alguns anos comecei a empreender e percebi como é difícil elencar tarefas e prioridades. Já até comprei o livro. José Fonseca, São Paulo (SP), via e-mail

SEXO FORTE

Não é fácil ser mulher e conciliar família e trabalho /poder.joycepascowitch

@revistapoder

(PODER 113). Muitas vezes dá vontade de desistir. Então, é sempre estimulante conhecer a história de mulheres fortes e decididas como Marly Parra. Parabéns, continuem contando histórias de coragem como a dela! Manoela Nogueira, Belo Horizonte (MG), via e-email

FOGO NO CIRCO

Eu não sou muito fã de Milton Neves (PODER 113), mas acredito que, com bastante irreverência, o texto conseguiu trazer à luz importantes qualidades do apresentador e comentarista esportivo. Sílvio Gomide, São Paulo (SP), via e-mail

FILÓSOFO PAZ & AMOR

A conversa com Renato Janine Ribeiro (PODER 113) pareceu bastante esclarecedora. Nunca entendi por que alguém tão inteligente, notável e com tanto potencial entra e sai de um ministério tão rápido – depois de tantas decisões contraditórias. Sabrina Azevedo Oliveira, Rio de Janeiro (RJ), via e-mail @revistapoder

O conteúdo da PODER na versão digital está disponível no SITE +joycepascowitch.com

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PODER 10 ANOS

“Parabéns a Joyce e à equipe da PODER por esses dez anos. Nesse período, a revista se consolidou por sua cobertura inovadora e seu comprometimento, trazendo histórias que nos inspiram para a construção de um mundo de negócios melhor. É um orgulho para a EY estar ao lado da PODER comemorando novas conquistas e contribuindo para um debate cada vez mais enriquecedor” Luiz Sérgio Vieira, CEO de Brasil da EY

“Fico feliz em acompanhar de perto a evolução da PODER, publicação relevante não só para quem acompanha tendências e novidades do mundo corporativo, mas também de política, cultura, lifestyle e lazer. Parabéns pelos dez anos!” Edgard Corona, fundador e presidente do Grupo Bio Ritmo

“Parabéns a Joyce e seu time pelos dez anos da PODER! A revista sempre traz assuntos de vanguarda e histórias inspiradoras! Adoro!!” Helena Ribeiro, CEO Grupo EmpZ

“Falar de economia, política e negócios com uma narrativa agradável e original, partindo de pontos de vista que fogem do comum, é a fórmula bem-sucedida com que a PODER chegou ao mercado editorial há uma década. Uma trajetória que a PwC Brasil acompanha, acredita e apoia desde o início” Henrique Luz, sócio vice-presidente da PwC Brasil

“É muito bom fazer parte da história da PODER. Nesses dez anos fiz alguns retratos de que tenho muito orgulho. PODER é uma revista que virou referência no mercado editorial brasileiro. Parabéns a Joyce Pascowitch e equipe!”

“Tive a honra de fazer parte desses primeiros dez anos da história da PODER e contar um pouco sobre a trajetória de empreendedorismo da Netshoes. A PODER é uma fonte valiosíssima de conhecimento, recheada de histórias e de curiosidades do mundo corporativo e da política. Parabéns e que venham outras décadas!” Marcio Kumruian, fundador e CEO da Netshoes

Maurício Nahas, fotógrafo

“Cada dia admiro mais o trabalho que vem sendo feito pela Joyce e pela equipe da PODER. Sempre atual, inovando, surpreendendo, trazendo pessoas incríveis em matérias exclusivas, com muita credibilidade e conteúdo nada óbvio. Sempre espero ansiosamente pela próxima edição. Parabéns pelos dez anos!” Gabriela Baumgart, coordenadora de estratégia e inovação Cidade CN



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O mundo pede novas leituras. As rápidas transformações do mundo geram novos e grandes desafios. É por isso que nós, da PwC, ajudamos nossos clientes a enfrentá-los para que permaneçam como líderes em seus setores, identificando as oportunidades no ambiente de negócios. Com uma visão integrada, compartilhamos tendências e traçamos caminhos em parceria. Assim, desenvolvemos e implementamos soluções mais criativas, eficientes e inovadoras, que vão da estratégia à execução. Acreditamos que a melhor forma para fazer com que nossos clientes sejam ainda mais bem-sucedidos é levar a eles novas leituras sobre os seus negócios.

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