BLINDAGEM
MÉDICOS DE REPUTAÇÃO
52 PODER JOYCE PASCOWITCH
FOTOS ISTOCKPHOTO.COM
À
s oito da manhã do dia 4 de janeiro, o presidente Michel Temer colocou uma camiseta cinza-chumbo da Nike e foi caminhar pelos jardins do Palácio do Jaburu – antes, porém, tomou o cuidado de avisar a imprensa que estava saindo para uma sessão de exercícios aeróbicos com dois seguranças. Nos meses que antecederam a caminhada, ele havia passado por duas cirurgias – uma na próstata e uma angioplastia, procedimento para reverter o entupimento de artérias do coração. O exercício era uma tática para mostrar que estava “perfeito, recuperadíssimo, graças a Deus”, como fez questão de frisar aos jornalistas, que caíram da cama para documentar o cooper. “Essa caminhada dele não foi fruto do meu planejamento. Mas poderia ter sido”, diz um ex-chefe de segurança da informação de um órgão ministerial que, de um ano para cá, está fazendo um trabalho diferente. “Pode me chamar de ‘médico de reputações’”, explica, completando que sua função é manter longe dos olhos da população em geral a ficha médica de mulheres e de homens públicos. Por motivos óbvios, ele não revela seu nome nem o de seus clientes. Esse doutor de reputações não tem exatamente o charme de George Clooney em seus bons tempos de ER nem o de Patrick Dempsey, que interpreta o doutor Derek Shepherd em Grey’s Anatomy. No dia em que se encontrou com PODER em um McCafé para discutir seu ofício, nosso entrevistado vestia uma polo branca, jeans de lavagem clara e tênis de corrida. “Eu nunca sonhei fazer isso. Aconteceu”, conta ele, que está na casa dos 40 anos, é formado em matemática e era responsável por manter 20