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frutificar a rede Madero
Com muitas pequenas unidades em shoppings, que pedem ambientes simplificados e poucos atendentes, ele passou a multiplicar suas marcas. A Vó Maria Durski, já inaugurada num shopping de Curitiba, serve parmeggiana de frango, estrogonofe e massas; A Sanduícheria do Junior Durski, no mesmo mall, tem choripán, falafel e também estrogonofe, tudo no pão; há ainda a Jeronimo, sem garçons, com hambúrgueres com carne prensada e fritas frisadas, como as da famosa rede nova-iorquina Shake Shack; por fim, há as Madero propriamente ditas, uma com serviço expresso, sem garçons, e o “casual dinner”, classudo, em que eles proliferam. Além disso, vem aí a Peixaria do Junior Durski, com pescados e camarão e outra casa rápida de hambúrguer, a Dundee Burger.
O empresário compara a estratégia de diversificação com o manejo da madeira, atividade que exerceu por década e meia na Amazônia, tempo que revive com saudade, apesar das três malárias. Num bom plano de manejo e conservação, ele explica, cortam-se as árvores mais altas para que a luz incida também sobre as baixas, que assim podem medrar. Ele é adepto de primeira hora da chamada “floresta em pé”, a exploração de madeira que não depreda a mata, e diz ter ido a Brasília conversar com o Ministério do Meio Ambiente para defender o expediente. “A salvação da Amazônia
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RISCO IMINENTE Quando diz que gosta de correr riscos, Junior Durski não está a se apoiar numa frase de efeito – frase cara, aliás, ao pessoal da nova economia. Em seus tempos de garimpeiro em Rondônia, um curto interregno das décadas como madeireiro, ele precisava andar com dois seguranças armados para fazer negócios. Durski comprava ali cassiterita – minério de onde se retira o estanho – e a revendia em São Paulo e outros mercados consumidores. O negócio tinha de ser feito em cash, e o dinheiro ia acondicionado num saco volumoso, facilmente percebido pelos ladrões. Como as estradas no fim do século passado em Rondônia eram mais ou menos como são hoje, ele precisava caminhar uns 10 quilômetros até a mina. Não fossem os jagunços, estaria exposto ao deus-dará. Ele lembra de um colega que fazia promoção de sua virilidade, ao dizer seguidamente que dispensava os seguranças. Um dia deu ruim: o trader tomou um tiro, caiu e morreu na hora. O ladrão pegou o saco de dinheiro e mal se preocupou com os seguranças de Durski, logo ao lado. “Aquilo não era assunto nosso”, diz Durski. passa pelo extrativismo. Ao madeireiro só interessa a floresta em pé. Se ela acabar, game over.”
LOUCURA, LOUCURA
Durski tem cerca de 91% de participação na Madero, cabendo 5% para o apresentador Luciano Huck, que fez um aporte por meio de seu fundo Joá e estrela alguns filmes publicitários da rede, desses com cara de institucional e que exibem uma “narrativa”. No caso, a própria história da Madero, da família Durski, e as ações de benemerência da rede. “Logo na primeira conversa, a sinergia ficou clara”, disse Huck a PODER, por e-mail. “Tenho muito orgulho de dizer que sou sócio, entusiasta e cliente. Estamos construindo a maior e melhor cadeia de restaurantes do Brasil”, completou. Huck associou-se à Madero no começo das especulações de sua candidatura a presidente, e Durski acredita que o sonho do global não morreu, apenas foi adiado. “Acho que em oito anos ele se candidata, e vira presidente”. Completa o quadro acionário o CFO da empresa, que controla com austeridade o fluxo de caixa e tem a missão de refrear os arroubos de Durski, que, como disse à reportagem, “gosta de correr riscos”.
Não deixa de ser uma ironia que Durski, avesso à política, tenha encontrado um sócio que por pouco não se tornou um postulante ao palácio do Planalto. Para o cargo não demonstra qualquer simpatia pelo candidato de seu estado – “Alvaro Dias é velho, sem energia, está mais preocupado com sua próxima plástica” – e, na verdade, por qualquer outro, embora cite en passant João Amôedo, do Novo, alguém que “talvez pudesse fazer sentido”. Encampa com fervor, contudo, algumas ideias e posições professadas por Jair Bolsonaro, como o direito de a população se armar e o desdém pelo “pessoal dos direitos humanos”. Para ele, com efeito, “a pior profissão do Brasil é policial, que pode tomar tiro, mas não atirar”. Na mesma toada, lastima a existência do Bolsa Família, programa que tende a anular o “empreendedorismo nato do brasileiro”. Para terminar atirando, registre-se que Durski adora caçar esportivamente, atividade ilegal no Brasil, mais uma razão para chamar o país de “idiota”. Três dias depois da entrevista com a PODER ele estava no Uruguai atirando em patos, mas, com a chuva que caía no paisito, o balaio voltou vazio. “Matamos meia dúzia, e o normal é matarmos uns 70, 80. Mas valeu pelo churrasco.”
ARNALDO CEZAR COELHO O mais famoso comentarista de arbitragem de futebol do Brasil, autor do bordão “a regra é clara” – tudo que a regra não é, na verdade –, fala de seu começo de carreira como juiz de futebol de areia, dos tempos de natação que o livrou de apanhar, dos seus negócios financeiros e anuncia – segura que lá vem spoiler – sua aposentadoria para viver al mare
POR DADO ABREU FOTOS PAULO FREITAS
Não há tira-teima, VAR, súplica do papa ou qualquer outro recurso que faça Arnaldo Cezar Coelho reconsiderar sua decisão. O principal comentarista de arbitragem da televisão brasileira apontou estoicamente para a marca da cal e, aos 75 anos, irá se aposentar. Até dezembro segue como ‘segunda voz’ e fiel escudeiro do narrador Galvão Bueno nas transmissões futebolísticas da TV Globo. Depois, bon-vivant que é, pretende aproveitar a vida al mare em cruzeiros sem destino e, nas horas livres, administrar os muitos negócios que amealhou ao longo da carreira – entre eles a TV Rio Sul, afiliada da Globo em Resende que Arnaldo gere com enorme prazer e com o know-how de quem também fez fama no mercado financeiro. “Quero sair por aí com a barba por fazer. Não é uma sensação maravilhosa?”, diz o juizão mais querido da torcida brasileira – ou seria o único bem estimado, Arnaldo?
Carioca da gema e de Copacabana, Arnaldo David Cezar Coelho foge à regra clara de que todo perna de pau vira goleiro ou juiz de futebol. “Era esforçado, mediano”, defende-se. Pinta de atleta o jovem Coelho tinha. Poderia ter, inclusive, virado nadador olímpico no início de car
reira, nos anos 1960, época de ouro do futebol de areia, quando conhecer as rotas de fuga era mais importante do que dominar as regras do apito. “Cansei de escapar pelo mar. Costumava encerrar as partidas na beira d’água porque assim a torcida, que ficava lá no paredão [antigo calçadão], não tinha tempo de descer e conseguir me alcançar”, diverte-se. “E havia outra vantagem. Além de eu ser um bom nadador, por volta das seis da tarde começava a escurecer e lá fora, no fundo, ninguém me enxergava no lusco-fusco. Tive um relógio que virou à prova d’água de tanto cair no mar depois das peladas.” A destreza aquática ele havia desenvolvido ainda garoto, como auxiliar de salva-vidas em frente ao Hotel Lancaster, na altura da Praça do Lido. Os gringos que se afinavam na folia e sobreviviam à correnteza com a ajuda da molecada costumavam dar gorjetas generosas aos pequenos salvadores.
Arnaldo relembra os tempos de praia e os clássicos envolvendo Radar, Copaleme, Dínamo, Maravilha, Juventus e Lá Vai Bola, muito mais pegados do que qualquer Fla-Flu, para explicar as mudanças dos tempos atuais. Na semana em que almoça light com PODER no Bio – sugestão do próprio entrevistado, no melhor estilo menu do chef consagrado por ele no programa Bem, Amigos! – a Uefa anunciara que não haverá árbitro de vídeo na próxima edição da Liga dos Campeões. O motivo? A necessidade de aperfeiçoar a polêmica ferramenta. “Está certo! Inventaram um brinquedinho novo e estão se divertindo com isso. E por que eu chamo de brinquedo? Porque estão mexendo com coisa séria, estão mudando a regra do fu
tebol”, critica o criador do bordão- -meme “a regra é clara” antes de refutar quem cita as injustiça do erro humano para defender o recurso de vídeo. “Injustiça é um atacante puxar um contra-ataque sozinho e chutar pra fora estando cara a cara com o goleiro.”
Se não anda nada satisfeito com o pomposo “video assistant referee”, o comentarista também faz troça – sempre com o respeito corporativo – dos auxiliares adicionais, aqueles árbitros que ficam ao lado da trave tão somente no Brasil e pouco, ou nada, têm ajudado para evitar a tragé
dia dos nossos times. É por isso que passou a chamá-los de “vigias”, uma homenagem ao seu Manoel, flamenguista doente e porteiro dos tempos em que Arnaldo morava na Lagoa.
“Um dia ele me interfonou no meio da madrugada. ‘Seu Arnaldo, roubaram o seu Fusca’. ‘Como assim, seu Manoel?!’, respondi doido, atordoado. Vou na janela e vejo o espaço da vaga do meu Fusquinha azul, aquela sensação horrorosa que todo mundo já viveu. ‘Pô, seu Manoel! E você não fez nada?’ ‘Mas, seu Arnaldo, eu só vigio...” E assim nasceu o apelido espirituoso.
A coleção enciclopédica de causos de Coelho – assim era chamado nos gramados pelo mundo – vem da tarimba de quem apitou profissionalmente por mais de 20 anos e esteve em 11 edições de Copa do Mundo – oito comentando pela Rede Globo (entre 1990 e 2018), duas apitando e bandeirando (1978 e 1982) e outra (1974) carregando as malas de Carlinhos Niemeyer, criador do cinejornal Canal 100.
“Foi meu primeiro mundial, assisti in loco o Armando Marques apitando. Eu já era árbitro Fifa, mas meu objetivo mesmo era aparecer na televisão para os meus clientes me verem”, lembra o corretor autônomo de investimentos e ex-dono da Liquidez, companhia vendida para o grupo britânico BGC em 2009. “É que a visibilidade que o futebol me dava ajudava nos negócios. Eu tinha 30 caras no pregão, fazia 13% do mercado da BM&F e era a segunda maior corretora do país.”
Garoto esperto, 75 anos de praia, Arnaldo usa o surfe como metáfora para resumir tantas funções que exerceu ao longo das suas muitas carreiras. Costuma dizer que é um surfista atento na arrebentação. “Se eu ficar segurando a prancha na areia não vou pegar a melhor onda, se eu ficar lá fora, no alto-mar, também não. É preciso estar na hora certa e no lugar certo.”
E, de fato, ele sempre esteve no lugar certo. A começar pela carteira escolar em que se sentou, estrategicamente posicionado, para fazer, em 1964, a prova teórica do curso de arbitragem da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj). “Colei as respostas todas de um cara, bombeiro, porque eu não sabia nada de regra, nunca tinha lido um livro. Só que o filho da mãe do bombeiro, em vez de colocar uma resposta embaixo da outra, escreveu uma do lado da outra, com letras bem miudinhas”, brinca.
Quem dera este fosse o maior problema do aspirante a juiz de futebol. O pior estava por vir. Quando Arnaldo, já estudado e chancelado pela Ferj, decidiu aplicar a regra nas areias de Copacabana, foi que o bicho pegou. O nome da fera: Piroteu. “Dei tiro indireto, em dois toques, e por pouco não levei uma surra do Piroteu. Rapaz, a coxa dele era desse tamanho”, conta Arnaldo, separando os braços exageradamen-
te por toda a mesa do restaurante. “’O que você marcou’, ele me perguntou. Tiro indireto! Você bateu a falta e depois tocou de novo na bola, não pode. ‘Tu tá maluco?! A bola parou no buraco’. Não interessa, não pode.” Oras, a regra é clara, Piroteu. Lugar ainda mais adequado Arnaldo Cezar Coelho encontrou no gramado do Santiago Bernabéu, em Madri, no dia 11 de julho de 1982. Final da Copa do Mundo entre Itália e Alemanha. Como primeiro árbitro não europeu a apitar uma