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nem sempre clara
decisão de Mundial, o brasileiro entrou em campo decidido a sair dele com um mimo debaixo do braço. Lembrou da Copa anterior, a de 1978, na Argentina, quando foi o quarto árbitro – “aquela que segura a plaqueta de substituição” – no Monumental de Núñez no primeiro título dos hermanos. Na ocasião, após o triunfo da Albiceleste sobre a Holanda, Arnaldo burlou os delegados da Fifa, esvaziou a pelota que consagrou Mario Kempes e a colocou na mala do juiz italiano Sergio Gonella, eternamente grato ao amigo brasileiro pelo suvenir.
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“Fiquei com isso na cabeça. Aí, na minha vez, em 1982, o jogo foi chegando perto do fim, a Itália vencia por 3 a 1 e eu só pensava em como ficar com a bola. Sabia que não podia encerrar a partida na lateral porque corria o risco do zagueirão dar um bico pra arquibancada. Deixei o jogo correr para o meio, esperei mais uns 30 segundos e quando o alemão foi passar eu me meti na frente.” O resto é história. A foto de Arnaldo Cezar Coelho, de uniforme preto, clássico, erguendo a bola com as duas mãos e o apito na boca é a mais icônica de toda a sua carreira.
Ele se aposentou dos gramados em 1988. Meses depois estava na redação da TV Globo, a convite do saudoso Armando Nogueira, assinando contrato para ser consultor da emissora, posto que irá ocupar até 31 de dezembro e c’est fini. Sem comentários. Deixará de vez o apito, de forma infalível. Até porque erros, embora eles tenham existido, Arnaldo nega. “É como batom na cueca.” n
PODER INDICA
LIVRE, LEVE E SOLTO
Em tempos de redes sociais, com a possibilidade de estar conectado 24 horas por dia, sete dias da semana, uma das coisas mais difíceis é encontrar tempo para o que realmente importa: encontros com amigos, jantares em casa, momentos de descanso e de reconexão consigo mesmo. Com o intuito de desacelerar um pouco e refletir sobre o ritmo frenético das sociedades contemporâneas, a Trousseau lança, junto com a nova coleção 2018/2019, a tag #True_selfie, uma campanha para descobrir a verdade por trás dos vídeos e fotos postados nas redes. A ideia é dar visibilidade para aqueles momentos de aconchego, conforto e tranquilidades que são sinônimos dos produtos Trousseau – uma marca que há quase três décadas aperfeiçoa sua criação graças às apostas em uma mão de obra cuidadosa aliada à tecnologia de ponta e investimento em matéria-prima de qualidade.
Como referência no mercado premium, sobretudo no que tange à elegância e bem-estar, a nova linha surge nesse contexto justamente para ser uma quebra na rotina e o retrato de uma vida cotidiana repleta de amor, alegria, felicidade e leveza. Composta prioritariamente de tons pastel, a próxima coleção quer contrariar a cadência veloz, quer ter tempo e valorizar o que realmente importa, porque só é possível se reconectar ao desconectar-se. Fica então o convite da Trousseau para que as selfies encontrem a verdadeira essência humana, aquela que só acontece quando nos sentimos confortáveis e leves na alma, ou seja, quando essas características se transformam em um legítimo lifestyle.
QUEM QUER COMANDO? Silvio Santos contratou uma consultoria internacional para ajudá-lo a passar o controle do SBT e de suas outras empresas para as filhas, mas o plano, milionário, não saiu do papel. O que se sabe é que, pela cabeça do homem do Baú, sua sucessão será televisionada
POR CHICO FELITTI
Ocamarim de Silvio Santos nos estúdios do SBT, na rodovia Anhanguera, tem poucos itens. Uma grelha elétrica na qual ele frita pequenos pedaços de bife antes de gravar seu programa. Uma tábua de passar roupa, para a camareira desamarrotar seus ternos, cujas calças ele só veste segundos antes de entrar no ar. E uma matéria de jornal enquadrada e pendurada.
É uma capa da Ilustrada, o caderno de cultura da Folha de S.Paulo. O título da matéria é “O Canal das Sete Mulheres”. A reportgem, de 2015, conta que uma consultoria internacional havia sido contratada pelo Grupo Silvio Santos para preparar a passagem de poder no SBT e demais empresas da corporação. A ideia era que o comando, ao invés de ir para um executivo de mercado ou alguém independente, fosse de Silvio para as sete mulheres que o cercam (as seis filhas e Iris, sua esposa há 40 anos).
No esquema proposto pela McKinsey & Company, seria criado um conselho, formado por todas as irmãs e outros três integrantes independentes, e os acionistas se envolveriam em todos os processos decisórios.
Mas a reportagem enquadrada na parede do camarim já amarelou, e nada do plano ter saído do papel. O motivo? O conselho, na prática, nunca existiu, e o grupo Silvio Santos continua sendo gerido por… Silvio Santos, um empresário de 87 anos de opiniões impermeáveis a orientações de consultores profissionais.
Profissionais envolvidos no processo, que durou quase um ano e custou mais de R$ 1 milhão, afirmam que o relatório final sugeria o distanciamento da família da gestão do canal de TV e das demais empresas do grupo e uma profissionalização que permitisse ao SBT oferecer ao mercado publicitário sua programação com meses, quem sabe anos de antecedência. Mas as ideias não vingaram lá dentro.
TELEFONE FIXO
No organograma, o comando do Grupo Silvio Santos está na mão do presidente, Guilherme Stoliar, sobrinho de SS. A não ser que as mãos de Silvio peguem o telefone e liguem para a emissora. Nesse caso, tudo muda imediatamente.
PODER entrevistou dezenas de funcionários com relato idêntico: Silvio gerencia as empresas a partir de um telefone fixo. Pelo aparelho, o rei do auditório manda espichar ou comprimir matérias jornalísticas enquanto elas estão no ar, dá sua opinião sobre o figurino, a maquiagem e até a aparência da dentição de apresentadores e atores. E enfia episódios de “Chaves” onde bem der na telha, deixando pouco espaço para planejamento comercial.
Como as empresas do grupo SS têm capital fechado,
e muitos balanços não são publicados, é impossível afirmar exatamente o tamanho do império. A receita líquida do grupo é estimada em R$ 2,5 bilhões ao ano, com o SBT ainda respondendo por quase metade do valor. Mas a maior joia é a Jequiti, empresa de cosméticos do grupo que tem um plano de negócios traçado para atingir um faturamento bilionário até o ano de 2020. Completam a corporação a Liderança Capitalização, responsável pela venda da Tele Sena, o hotel Jequitimar, no Guarujá, e alguns outros negócios menores.
SUCESSÃO NA TV
O Grupo Silvio Santos declinou dos pedidos de entrevista à PODER. Mas, uma das táticas de Silvio para a sucessão permite ter uma ideia do que está acontecendo na empresa: nos últimos meses, ele colocou todas suas filhas (e a mulher) no palco do seu programa dominical. “Agora eu vou aproveitar vocês da família mesmo, já que vocês têm que vir aqui trabalhar”, disse Silvio, aos risos.
Cinco das seis filhas dele trabalham nas empresas do grupo. Daniela Beyruti, 39, é diretora artística e de programação do SBT. Patricia Abravanel, depois de ter passado pela maioria das empresas da família, é agora apresentadora de programas como “Máquina da Fama”. Rebeca Abravanel, 37, é uma das diretoras da Jequiti. Silvia Abravanel, 48, passou de diretora a apresentadora de um programa infantil nos últimos anos, por sugestão do pai. Cintia Abravanel, 55, a primeira filha, é a única que não está fixa na folha de pagamento do grupo SS, por mais que já toque os espetáculos dramatúrgicos do grupo, como a montagem teatral da novela “Carrossel”.
E ele não estava brincando quando disse que ia incorporar a família ao cast: do meio de 2017 para cá, todas as integrantes do clã Abravanel competiram no “Programa Silvio Santos”. Até as filhas que não têm vocação para o showbusiness entraram em cena. “Eu tô supernervosa”, disse Renata, 32, uma morena sorridente, assim que pisou no palco. Minutos depois, ela já estava desenvolta, fazendo piada e cobrando as ausências do pai no escritório da holding. “Você nunca vai lá nos visitar. É perto da sua sala”, cobrou a filha caçula, grávida do décimo segundo neto do homem do Baú.
Silvia, a “filha número 2”, que trabalha no império desde os 16 anos, brincou recentemente dizendo que seu salário não aumentava havia dez anos. Era verdade. Ela, que tem 46 anos de idade, apresenta o infan
Silvio Santos
til “Bom Dia & Cia” todas as manhãs, mas ainda não chegou ao nível salarial de uma estrela. “Todas [as apresentadoras] ganham mais do que eu. A Patricia, a Eliana, a que apresenta lá o programa de moda [alguém canta para ela], Isabella Fiorentino…”
Minutos depois, Silvia voltava a fazer graça com seu salário. Em um dado momento, Silvio perguntou se Tiago Abravanel (seu neto, filho de Cintia) ganhava na TV Globo como ator mais do que Silvia recebia no SBT. Foi a própria Silvia que respondeu: “Com certeza”.
Quando foi a vez de Cintia Abravanel, o programa começou sem a convidada. Silvio afirmou que a filha havia se atrasado, mas minutos depois ela chegava ao palco. “A produção mandou eu estar aqui às 13 horas. São 13 e dois”, disse a primogênita ao pai, que perguntou com quem ela havia falado. Cintia se acanhou de expor alguém na TV, e seguiu o jogo.
As gafes e lavação de pequenas peças de roupa suja em público são mais do que um bom programa, afirmam pessoas de confiança do empresário. Silvio quer acostumar o público às suas imagens, e fazer uma sucessão televisionada, em vez de realizar uma passagem de bastão nos bastidores, como planejado pela consultoria McKinsey.
Silvio, a mulher Íris e as seis filhas do casal, que devem assumir o comando dos negócios do grupo SS
DUAS HERDEIRAS
Mas algo novo veio à tona no último mês. Tam- bém em pleno ar, o jornalista Leo Dias, que apre- senta o “Fofocalizando”, do SBT, e a jornalista Fa- biola Reipert, que anda colocando a Record em primeiro lugar na audiência com o quadro “A Ho- ra da Venenosa”, conseguiram colocar Silvio con- tra a parede com perguntas engraçadas.
Ele não sabe, por exemplo, o que é Whatsapp. “É aquele negócio que coloca no celular e daí pode falar?”, ele perguntou para os entrevista- dos. Mas já sabe quem deve ficar no seu lugar quando chegar a hora de pendurar as chuteiras. Reipert perguntou quem deveria tocar as em- presas quando o apresentador não puder mais. “A Rebeca tem mais o meu jeito. As outras são mais iguais à mãe, são tudo bola murcha. A Re- beca é tão parecida comigo que nunca conse- guiu segurar um homem”, ele respondeu.
E o programa da tarde de domingo, que leva seu nome e fez suas fortuna de bilhões, para quem fi- ca? “Ah, a Patrícia. A Patrícia tem condições. Ela é a que mais tem condições de pegar o meu programa e tocar tranquilamente”, respondeu Silvio Santos.
Enquanto a hora não chega, os funcionários esperam o telefone tocar. Do outro lado da linha, eles já sabem que uma voz muito familiar terá uma ordem a dar. n