URNA
À LUZ DA
RAZÃO
Diante da tentativa de retorno ao voto impresso no Brasil, uma das cruzadas em curso no Planalto, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral e ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, defende um “choque de iluminismo” contra o desconhecimento e o retrocesso
L
POR MARI TEGON
PODER: COMO PRESIDENTE DO TSE, A QUE O SENHOR ATRIBUI A DESCONFIANÇA, POR PARTE INCLUSIVE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, COM RELAÇÃO À URNA ELETRÔNICA? RECENTEMENTE O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA FOI HACKEADO. ISSO INDICARIA ALGUM TIPO DE FRAGILIDADE DE SISTEMAS ELETRÔNICOS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA? LUÍS ROBERTO BARROSO: Nos últimos anos, a urna eletrônica e o sistema eleitoral brasileiro, como
um todo, estão entre os principais alvos de campanhas de desinformação. Hoje, ninguém está imune a ataques de hackers. Por isso concebemos um sistema em que a urna jamais entra em rede. Logo, ela não é passível de ataques remotos. O máximo que conseguiram foi obter alguns dados de juízes e servidores. Não tem como chegar nas urnas. Ou seja, o resultado não pode ser fraudado. Sempre lembrando que há a impressão do boletim de urna ao fim da votação e que
20 PODER JOYCE PASCOWITCH
FOTO DIDA SAMPAIO/ARQUIVO PESSOAL/TSE
ançado há 25 anos, o sistema eletrônico de votação brasileiro, que tem como principal elemento a urna eletrônica, nunca registrou nenhum caso de fraude. Zero. À vista disso, a inserção do voto impresso no atual processo eleitoral seria um enorme retrocesso na visão do presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso. “Meu compromisso não é com um específico modelo de votação, mas com eleições livres e limpas. O discurso pela volta do voto impresso faz parte da retórica de certos segmentos políticos. É a lógica do ‘se eu perder houve fraude’”, diz o ministro nesta entrevista exclusiva a PODER, na qual ressalta a segurança, transparência e auditabilidade do processo eleitoral brasileiro, segundo ele “provavelmente o melhor sistema de apuração do mundo”, comenta as declarações e ataques do presidente Jair Bolsonaro, critica duramente a Lei de Segurança Nacional e clama por um choque de iluminismo frente ao avanço do obscurantismo.