Revista Poder | 145

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INVESTIMENTO VERDE

ESG À BRASILEIRA

Para Fabio Alperowitch, sócio-fundador da Fama Investimentos, gestora pioneira no Brasil em investimentos sustentáveis, as novas gerações irão atropelar as empresas sem responsabilidade social. Referência no mercado financeiro e conselheiro de diversas entidades do terceiro setor, ele defende a importância do tema ESG, mas ressalta que o combate à desigualdade e ao racismo deve ganhar maior protagonismo na agenda do país

I

POR POR SERGIO LEO

nteressado por finanças desde adolescente, estudante de administração da FGV e estagiário em uma multinacional, Fabio Alperowitch tinha 20 anos quando, em 1993, sem capital próprio, uniu-se a um colega de escola e trabalho, Mauricio Levi, coletou US$ 10 mil com outros funcionários da firma e fundou a Fama Investimentos. Gestora hoje responsável por ativos de R$ 2,6 bilhões, 80% dos quais de investidores internacionais, a Fama só apoia empresas com valores ambientais, de sustentabilidade e de governança, o tal ESG, desde os tempos em que os dois sócios tinham de buscar informações em bibliotecas e arquivos de jornais. “Como poderia colocar meu dinheiro e o de meus clientes em empresas sem ética, que tratam mal outras pessoas, com produtos nocivos aos seres humanos, que sonegam imposto? ”, argumenta Alperowitch. Há quase três décadas, ao anunciar seus planos à família, teve de ouvir uma palestra “de três horas” do pai, advertindo contra os perigos do mercado financeiro. Hoje, ele é referência no mercado, convidado frequente para falar sobre investimentos responsáveis. Nesta entrevista, Alperowitch ressalta a importância das questões ambientais e de igualdade de gênero para os projetos de desenvolvimento de um país, ou das empresas, mas, sem temer a polêmica, argumenta que a ênfase nessas questões é “importada”, e defende que, em um país como o Brasil, o combate à desigualdade social e ao racismo deve ganhar maior protagonismo.

26 PODER JOYCE PASCOWITCH

PODER: AINDA HÁ MUITA GENTE QUERENDO APENAS DAR UM “VERNIZ” AMBIENTAL A SEUS NEGÓCIOS, O CHAMADO GREENWASHING, COM MAIS PROPAGANDA DO QUE COMPROMISSO REAL? FABIO ALPEROWITCH: Ainda que as pessoas errem, achem

que empresas estão fazendo greenwashing quando há um compromisso genuíno, o simples fato de pararem para pensar e refletir se as companhias estão ou não comprometidas com o social e o planeta já é um ponto muito favorável. Mas nem chegamos a esse ponto ainda: as pessoas nem percebem que existe greenwashing. A capacidade de crítica, até de profissionais do mercado, não evita que aceitem qualquer coisa como verdade. E há uma sutileza, o greenwashing nunca é mentira, sempre tem verdade, é uma distorção de fatos, uma verdade parcial às vezes omitindo fatos. PODER: PODE DAR UM EXEMPLO? FA: Uma marca de roupa lança dois produtos: uma

camiseta feita com algodão sustentável e um tênis de plástico recolhido dos oceanos. É superbacana, um produto legal. Mas quanto por cento da receita da empresa esses produtos representam? Ela, de fato, está comprometida com sustentabilidade? Outras questões são relevantes ou o fato de ela ter lançado esses produtos é insignificante perto de tudo que faz? Outro exemplo: um banco anuncia que será “carbono neutro” (não colaborará


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