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A LÍDER DE AUDIÊNCIA

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ENSAIO

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Carla Furtado e Claudia Cavallini, especialistas em felicidade nas organizações: bloquear emoções negativas pode gerar problemas de saúde fica Journal of Personality and Social Psychology mostra que pessoas que evitam entrar em contato com sentimentos negativos têm mais problemas de saúde mental do que as que costumam aceitar todas as suas emoções. Isso porque, tudo levado ao extremo é prejudicial. Algumas análises científicas apontam que a maioria das pessoas perde muito

tempo insistindo em objetivos irreais. Mesmo quando comportamentos passados sugerem que é improvável que as metas sejam atingidas, o excesso de confiança e um grau acima da média de otimismo fazem com que as pessoas desperdicem energia em tarefas inúteis.

“Há narrativas exaustivas de vidas incríveis. E isso acontece também no trabalho. Nas mídias sociais vemos tudo fantástico, com pessoas satisfeitas e orgulhosas e práticas incríveis de gestão, mas quando realizamos a escuta de sofrimento do trabalho, uma prática clínica, ouvimos muita dor”, afirma a psicóloga Carla Furtado, fundadora do Instituto Feliciência e autora do livro Feliciência: Felicidade e Trabalho na Era da Complexidade (Ed. Actual). Os números mostram isso. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com maior incidência de ansiedade e o quinto com mais pessoas sofrendo de depressão. Já a síndrome de burnout, de esgotamento no ambiente de trabalho, nos coloca em segundo lugar, de acordo com a International Stress Management Association (Isma-BR).

Um levantamento feito pelo especialista Rob Kaiser, presidente da Kaiser Leadership Solutions, que atua na avaliação e desenvolvimento de líderes, mostra que mesmo as competências adaptativas se tornam inadequadas quando levadas ao extremo. Isso quer dizer que forças excessivas podem se tornar fraquezas. E calar as críticas e bloquear emoções negativas pode ter um preço caro para a sua saúde. Um estudo publicado na revista cientí-

CARREIRA PREJUDICADA

Além dos problemas de saúde mental, Maria Candida Baumer de Azevedo, sócia da People & Results, especializada em carreira e cultura empresarial, explica que a positividade tóxica faz com que as pessoas percam a oportunidade de usar as dores e dificuldades para evoluir profissionalmente. “Se sempre penso que tudo vai dar certo, não aprendo e paro no tempo”, diz. Segundo ela, ao olhar as duas metades do copo – cheia e vazia – é possível exercitar o senso crítico, tão importante para conseguir tomar boas decisões e evitar ciladas. Além disso, ajuda na inovação, na criatividade e na solução de problemas. Outro perigo da positividade tóxica é fechar os olhos para os problemas

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“Se sempre penso que tudo vai dar certo, não aprendo e paro no tempo. Ao olhar as duas metades do copo – cheia e vazia – é possível exercitar o senso crítico, tão importante para tomar boas decisões”

Maria Candida Baumer de Azevedo, consultora de carreira

FUJA DO OTIMISMO DESENFREADO

Veja como não ser tomado pela positividade tóxica

e Se permita ficar triste. É essencial aceitar que nem sempre as coisas são como gostaríamos;

e Nunca leve uma opinião isolada à risca. Sempre busque saber se mais pessoas acreditam no mesmo que você. Só depois disso encare como real o que está pensando;

e Desconfie de pessoas que nunca enxergam o lado ruim das coisas;

e Tenha ao seu lado colegas críticos e exigentes para contrapor a visão positiva demais;

e Entenda que problemas e pontos negativos sempre vão existir. Se você não os enxerga de primeira, deve buscá-los para ter uma visão real da situação;

e Nunca se deixe levar pelas aparências. Nenhuma vida é perfeita, nem do seu chefe, nem do CEO da empresa e de famosos.

Fonte: Maria Candida Baumer de Azevedo, sócia da People & Results que podem prejudicar a carreira. Ela dá dois exemplos. “Quando você vê tudo com olhos de Poliana pode insistir em projetos que não têm futuro, prejudicando os resultados e sua imagem profissional, ou cometer um erro e não se dar conta, o que pode gerar até uma demissão”, diz.

O que acontece é que esse discurso de “precisamos ser positivos” vem, muitas vezes, da liderança. “Apesar desse modelo estar ultrapassado, ainda vemos uma geração de gestores com esse pensamento, no qual nem ele mesmo pode desacreditar da meta que estipulou, por exemplo. Trata-se de uma liderança tóxica e que não ajuda nos resultados”, conta Claudia. Segundo ela, os novos líderes admitem a vulnerabilidade, olham o lado humano entendendo que o outro sofre em alguns momentos. “Sai de cena o super-herói e entra o gestor colaborativo e empático”, revela.

Na visão de Carla, com essa busca desenfreada pela positividade em tudo, estamos impingindo um sofrimento desnecessário às pessoas. “Quando exigimos que os profissionais não sejam humanos, ou seja, não tenham medo ou angústia, isso gera dor”, afirma. E todos perdem: o profissional, que fica doente; a família, que se preocupa; e a empresa, pois o funcionário vai se afastar, o clima fica pesado e os resultados são prejudicados. “Quanto custa para as empresas não cuidar das pessoas?” Essa é a pergunta que deve ser respondida. n

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ANTENA

Quem é Shari Redstone, a mulher mais poderosa da indústria de entretenimento, que comanda a Paramount Global, um império de mídia avaliado em US$ 22 bilhões e presente em mais de 180 países

POR ANDERSON ANTUNES

Em meados de fevereiro deste ano, diante de um grupo de investidores formado majoritariamente por homens, Shari Redstone afirmou com uma certeza contagiante o quão animada estava com o futuro da empresa sob sua gestão indireta há anos, a então gigante de mídia americana conhecida como ViacomCBS, e rebatizada dias depois daquele discurso como Paramount Global. O momento marcou uma vitória pessoal da executiva de 68 anos, que apenas dois anos antes lutava para manter o controle da companhia em suas mãos, uma batalha à la Succession que a colocou em alguns momentos contra seu próprio pai, o lendário magnata do entretenimento Sumner Redstone, e a obrigou a enfrentar o ex-todo-poderoso de Hollywood Les Moonves, que durante mais de duas décadas foi o chefão da rede de televisão CBS, a maior dos Estados Unidos, e parte do conglomerado que agora ostenta o nome de um dos estúdios de cinema mais famosos do país. Mais do que vitoriosa, Shari não somente venceu a disputa corporativa sem precedentes contra todos que passaram por seu caminho como, de quebra, também acabou se tornando a mulher mais poderosa da indústria de entretenimento global.

Não por acaso, a guerra na qual ela levou a melhor serviu de inspiração para a premiada série Succession, sucesso da HBO, que trata de uma guerra familiar recheada de personagens ricos, herdeiros, esnobes e pouco confiáveis, pelo comando de um império de comunicação bastante parecido com a Paramount Global – suas subsidiárias mais famosas, além da CBS, incluem canais como MTV e Nickelodeon, a editora Simon & Schuster, o estúdio Paramount Pictures e a plataforma de streaming Paramount+, recém-chegada ao Brasil que conta atualmente com mais de 62 milhões de usuários pagantes e compete de igual para igual com Netflix e Disney+.

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Shari Redstone começou a sua luta que culminou com a criação da Paramount Global em 2018, quando iniciou as tratativas para fundir a Viacom com a CBS, ambas pertencentes ao pai, Sumner, que morreu em 2020 aos 97 anos. A ideia da executiva era reunir as duas companhias para criar sinergia, e, consequentemente, diminuir o poder de Les Moonves, uma espécie de “Boni” (ex-diretor da Rede Globo) da TV americana, no que diz respeito à sua relevância no meio, que fez de tudo para impedir o negócio. É ou não uma trama e tanto? Para o azar dele, e sorte de Shari, Moonves se tornou alvo de várias acusações de assédio sexual no auge do #MeToo, e se viu forçado a renunciar ao cargo de CEO da CBS que ocupava desde 2003.

O executivo de mídia, no entanto, continuou sendo um dos maiores conselheiros de Sumner, que a essa altura já não mandava mais em suas empresas e havia passado o bastão para a filha, embora mantivesse o cargo de presidente do conselho da ViacomCBS e, vez por outra, desse mais valor às observações de seu subordinado famoso do que as de Shari. Ela, porém, não desanimou, e no fim conseguiu tirar a fusão do papel criando uma nova corporação de US$ 30 bilhões de um jeito que surpreendeu até mesmo os mais experientes players do showbiz americano, que a partir daí deixaram de vê-la apenas como uma herdeira nascida em berço de ouro.

A Viacom surgiu no início dos anos 1950, a partir de uma rede de cinemas comprada por Sumner, a National Amusements, que hoje funciona como o veículo de investimentos que controla os interesses dos Redstone. Considerado um dos últimos barões da mídia tradicional dos Estados Unidos, o magnata foi adquirindo outras empresas por anos até formar o que acabou se tornando, conforme orquestrado por Shari, a gigante ViacomCBS.

Na Succession da vida real, Shari não teve vida fácil ao chegar no topo. Isso porque os investidores, os mesmos que a encontraram no começo de 2022, passaram a cobrá-la cada vez mais por resultados e, principalmente, pela elaboração de um plano de negócios capaz de preparar a ViacomCBS para o futuro, que neste caso significava o avanço das plataformas de streaming. O resultado disso foi a criação da Paramount Global, que nasceu com o objetivo de preparar a empresa antecessora, com seus mais de 170 canais e 700 milhões de telespectadores em 180 países, para o amanhã da grande mídia, uma das indústrias em maior transformação atualmente no mundo.

SOBRENOME EXPERIÊNCIA

Nas mãos, Shari tem um grupo de marcas famosas, todas pertencentes ao catálogo da Paramount Global, com valor de mercado de apro-

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Acima, com o rapper Snoop Dogg na festa de inauguração da sede da Viacom, em 2017, em Hollywood, casa dos canais Comedy Central, MTV e VH1. Ao lado, algumas das marcas de sucesso do conglomerado de mídia

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ximadamente US$ 22 bilhões. Por números, é possível dizer que ela está dando conta do recado, afinal, a Paramount Global terminou 2021 com receitas de US$ 28,6 bilhões e um lucro líquido de US$ 4,5 bilhões, além de um caixa forte com US$ 5,3 bilhões disponíveis. Tais cifras foram notadas até mesmo por Warren Buffett, o maior investidor das bolsas mundiais, que em março comprou US$ 2,6 bilhões em ações da mega-holding.

Formada em Direito pela Boston University School of Law, Shari se especializou em arbitragem corporativa, o que veio a calhar em sua cruzada que resultou na criação da Paramount Global. Descrita por quem a conhece bem como “extremamente competente” e “destemida”, ela já deu provas suficientes de que sua experiência vale muito mais do que seu sobrenome, e também que desafios a atraem mais do que lhe dão medo. Sua nova guerra agora é outra, basicamente a mesma pela qual passam todas as grandes empresas de mídia no planeta.

Nesse caso, o que está em jogo é o reposicionamento da Paramount Global diante de um novo mercado consumidor de entretenimento dominado pela Netflix e afins, que para a sorte de Shari já despontou em larga vantagem, graças ao acervo de títulos do conglomerado e de seu poderio financeiro. O plano da executiva é conquistar 100 milhões de assinantes do Paramount+ ainda no primeiro semestre de 2023, um objetivo ousado, mas que ela garante ser possível de alcançar. Antes dela, apenas Mary Pickford, cofundadora da United Artists, e Lucille Ball, fundadora do estúdio Desilu, tiveram tanta influência nos bastidores de Hollywood.

Shari Redstone entende muito bem a complexidade de seu cargo e a importância das decisões que tomará daqui para frente, mas também garante que é capaz de atingir todos os resultados necessários para manter a Paramount Global bem posicionada entre seus pares. “Nós temos a capacidade de chegar lá e focamos nisso. Com certeza vamos conseguir entregar a vocês exatamente aquilo que merecem”, disse, na apresentação em fevereiro, para os executivos investidores que a ouviram em silêncio e ao fim do discurso a aplaudiram. Outra vez a dona do controle remoto provou ter razão. n

Na imagem acima, na companhia do filho, Brandon Korff, uma foto de fã com o ator, diretor e produtor de televisão Jon Hamm, o Don Draper de Mad Men. Abaixo, Shari e diretores da Paramount com Tom Cruise, o astro de Top Gun: Maverick

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