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CULTURA INC

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EXPOSIÇÃO NA BOCA

DO POVO

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Em fotografias, esculturas e vídeo, Jonathas de Andrade leva 250 expressões populares do Brasil para a 59ª Bienal de Veneza

Nó na garganta. Cara de pau. Olho do furacão. Expressões populares no Brasil, ditas e ouvidas pelos quatro cantos do país, e que se utilizam de partes do corpo humano, estão representadas no Pavilhão do Brasil na 59ª Bienal de Veneza – a mais antiga e uma das mais influentes mostras de artes visuais do mundo, que segue até 27 de novembro.

A instalação Com o Coração Saindo pela Boca reúne 250 obras confeccionadas pelo alagoano Jonathas de Andrade. “Entendi que a partir de exemplos de expressões de usos corrente temos acesso aos sentimentos e situações vividos no Brasil de hoje”, diz o artista. “O mesmo corpo que está angustiado e acuado pelo presente é também o corpo que ama, que se apaixona, e que tem a potência para se reinventar coletivamente.”

O projeto foi concebido a partir do convite de Jacopo Crivelli Visconti, também curador da 34ª Bienal de São Paulo, ano passado. A exposição é composta por impressões fotográficas, esculturas e um vídeo.

“Decidimos manter uma tradução literal das expressões para o inglês e italiano em vez de buscar maneiras similares em outras línguas”, explica Jonathas. “A ideia é conservar

O artista e sua obra

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FOTOS DIVULGAÇÃO; LEVI FANAN/ DIVULGAÇÃO; INSTITUTO MOREIRA SALLES tudo que é potente no absurdo e nonsense que elas carregam. Esse jogo de impossibilidade de tradução é arrefecido e complexificado com os exemplos que contam tantas histórias polifônicas de amor e de dor deste Brasil atual, que ecoa com tantas instâncias históricas, sociais, raciais.”

O tema da bienal deste ano, O Leite dos Sonhos, baseado na artista surrealista inglesa Leonora Carrington, dialoga com o trabalho de Jonathas. “O sonho e a fantasia são uma dessas estratégias, mas sem perder lastro com o delírio amargo que estamos passando no momento”, informa o artista.

“Acho que busco apresentar alegorias do corpo que são também alegorias de Brasil, possivelmente inspirado também pelo nosso Carnaval”, revela. A festa, segundo ele, “historicamente lança mão de alegorias para absorver engasgos e alegrias que há que se assimilar e superar”. Tudo isso para, como diz, “seguir desenhando e reinventando um futuro como coletividade”.

PODER É

PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA

Um livro sobre família, amor, memória e ausência. Juliana Leite, vencedora do Prêmio Sesc de Literatura de 2018, lança em julho Humanos Exemplares (Companhia das Letras, R$ 69,90). O romance segue Natália, uma mulher já idosa que passa horas e horas sempre solitária, movendo-se entre a janela da sala e a mesa da cozinha, em meio às memórias ainda cultivadas.

HISTÓRIA NA OBJETIVA

O Instituto Moreira Salles lançou o site Testemunha Ocular, que reúne parte do vasto material fotojornalístico sob guarda da instituição. Apenas dos Diários Associados, o IMS adquiriu, em 2016, cerca de 900 mil imagens. O trabalho de outros seis fotojornalistas – entre eles Evandro Teixeira e Walter Firmo – contribuiu para a criação do site. A página está no endereço testemunhaocular.ims.com.br.

BIENAL TALKS

A programação da Bienal de São Paulo não para com o fim da mostra, que ocorreu no fim do ano passado. O programa Pavilhão Aberto convida especialistas para debates sobre arte, cidade e cultura. O programa também dá aos visitantes acesso ao prédio vazio e, ali, no pavilhão desenhado por Oscar Niemeyer, tentar descobrir aspectos históricos, urbanísticos e curiosidades da bienal. No sábado, 16 de julho, ocorre uma conversa entre o padre Júlio Lancellotti e a artista multimeios Carmela Gross. A entrada é gratuita.

REVELAÇÕES

Uma seleção de cartas escritas por Burle Marx para seus familiares e amigos como o arquiteto alemão Walter Gropius é o mote do livro Folhas em Movimento (ed. Luste), uma organização de Guilherme Mazza Dourado. As correspondências mostram um novo olhar sobre a trajetória do paisagista e revelam informações pouco conhecidas. Entre elas, o forte engajamento na defesa ambiental e as suas excursões botânicas.

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DESPEDIDA

Mais que especialista em gestão de patrimônio, especialista em você.

Conteúdos pra você:

Aos 79 anos, MILTON NASCIMENTO não parece mais com vontade de, como Gilberto Gil, seguir compondo e levando ao público suas novas canções; pelo contrário, ele empreende neste 2022 a turnê final de sua vida. Deu a ela o nome de “A Última Sessão de Música”, o mesmo da faixa instrumental do icônico álbum Clube da Esquina. Não parece, tampouco, que Milton esteja apenas a iniciar sua retirada da vida artística, num processo interminável de despedidas e reencontros caça-níqueis, à maneira de um Sílvio Caldas. Tudo com Milton ganha mais densidade, gravidade, solenidade, como se suas palavras viessem acompanhadas da serração que nubla as paisagens que lhe são tão íntimas, as de Minas – tais como num retrato do mineiro Guignard. Assim, no vídeo que anuncia a turnê derradeira, trajado com uma bata cheia de sugestões a Bispo do Rosário, Milton pode estar mesmo a falar a verdade. Quem viveu, viu, ou melhor, ouviu. Se Sinatra era a voz, Bituca talvez seja... o som.

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FOTO GETTY IMAGES

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