R$ R$19,50 19,50 9 9
J.P
771980 771980
MMAAIO IO 22002211 N.1 N.17700
ISSN 1980-3206 ISSN 1980-3206
320006 320006 00170 00170
CHARME CHARMEEEPROPÓSITO PROPÓSITO
PODE PODEENTRAR ENTRAR
CAIO BLAT & LUISA ARRAES SOBRE SOBREAMOR AMOREEARTE ARTE
LIÇÃO LIÇÃODE DECASA CASA
AOS AOS81, 81,AAESCRITORA ESCRITORAHELOISA HELOISA BUARQUE BUARQUEDE DEHOLLANDA HOLLANDA INSPIRA INSPIRATODA TODAUMA UMANOVA NOVA GERAÇÃO GERAÇÃODE DEMULHERES MULHERES
RESILIÊNCIA RESILIÊNCIAÉÉAAPALAVRA PALAVRA NEUROCIENTISTAS NEUROCIENTISTAS EE PSIQUIATRAS PSIQUIATRASEXPLICAM EXPLICAM COMO COMONOSSA NOSSAMENTE MENTE RESISTE RESISTEAOS AOSDIAS DIASSOMBRIOS SOMBRIOS
TEMPO TEMPOINTERIOR INTERIOR
UM UMCADERNO CADERNOESPECIAL ESPECIAL SOBRE SOBREOS OSPEQUENOS PEQUENOS GRANDES GRANDESPRAZERES PRAZERESDE DE UMA UMAVIDA VIDAMAIS MAISSIMPLES SIMPLES
EEMAIS: MAIS:AS ASOUSADIAS OUSADIASEEOBSESSÕES OBSESSÕESDA DA STYLIST STYLISTLULU LULUNOVIS, NOVIS,O OQUE QUEFAZER FAZERPARA PARA SE SESENTIR SENTIRVIVO VIVOHOJE HOJEEEAAPOTÊNCIA POTÊNCIADE DE DJAMILA DJAMILARIBEIRO, RIBEIRO,QUE QUEBUSCA BUSCAEQUILÍBRIO EQUILÍBRIO NO NOKUNG KUNGFU FUEENO NOCANDOMBLÉ CANDOMBLÉ
Mãe, a primeira palavra que a gente entende. Amor de mãe, o primeiro sentimento que a gente sente.
57
10 28 Gil se juntam na música 42
Contardo Calligaris e sua vida fértil
CHARME E PROPÓSITO
NESTE NÚMERO 3 EDITORIAL 6 J.P ENTREGA 8 MÊS BOM PARA 10 J.P ADORA 12 RADIOGRAFIA 14 CAMA E MESA
A parceria no amor e na arte de Luisa Arraes e Caio Blat 24
28
CORPO SEM JUÍZO
Jup do Bairro prepara novo disco sobre renascer 38
40
50
FERNANDO TORQUATTO
Por Roberta Sendacz O equilíbrio de Djamila Ribeiro 52
56
POR AÍ
57
VIDA INTERIOR
Por Kiki Garavaglia Caderno especial sobre pequenos prazeres de uma vida mais simples 68
70 72 76 78
J.P DE OLHO J.P VIAJA HORÓSCOPO CABALA
Por Shmuel Lemle 79
Renata Prado quer levar o gênero para as escolas
80
Filho e netos de Gilberto
O ORIXÁ DA CURA
É Omulu quem os devotos do candomblé evocam
ACADEMIA DO FUNK
A JOVEM GUARDA
A MENTE RESISTE
Ao contrário do que se imagina, não há aumento de transtornos psíquicos
COMO SE SENTIR VIVO?
Um time de peso conta como enfrenta o atual momento 37
CORPO E ALMA ENTRE LENÇÓIS
ENTREVISTA
Heloisa Buarque de Hollanda se orgulha da nova geração de mulheres 32
44 48
POESIA VISUAL
Ousadias e inspirações de Lulu Novis
AS LIÇÕES DE CONTARDO
CORREIOS/ AGRADECIMENTOS ÚLTIMA PÁGINA
Aos 66 anos, Rita Cadillac apimenta a internet
CAIO BLAT E LUISA ARRAES Foto Jorge Bispo, styling Juliano Pessoa e Zuel Ferreira, beleza Vini Kilesse. Jaqueta Nounion, calça Adidas e vestido Isabela Capeto
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FOTOS CHICO CERCHIARO/DIVULGAÇÃO COMPANHIA DAS LETRAS; PAULO FREITAS; DIVULGAÇÃO CAIXA CULTURAL DE SÃO PAULO; DIVULGAÇÃO
J.P
68
A
J.P EDITORIAL
h, o amor… Quer coisa mais relevante nestes tempos que estamos passando do que o amor, em toda e qualquer forma? Por essas e por outras escolhemos para nossa capa, este mês, essa dupla que representa tanta coisa com as quais a gente se conecta. Luisa Arraes e Caio Blat têm bastante a dizer e muito a mostrar. O fotógrafo Jorge Bispo captou a vibe e nossa editora Luciana Franca traduziu em texto: que coisa mais linda tudo isso, ficamos encantados e temos certeza que você também ficará. Vale dizer a importância de outros participantes deste ensaio: a edição de moda é de Juliano Pessoa e Zuel Ferreira e a beleza, de Vini Kilesse. Time dos melhores. De amor para encanto, a distância é curta: a stylist carioca Lulu Novis surge também nas nossas páginas com muito amor, pitadas de ousadia, claro – amamos! –, uma coisa moda, uma coisa família, uma coisa sexo. Mistura perfeita, com elegância e sofisticação. Já a editora e escritora Heloisa Buarque de Hollanda, aos 81 anos e com cabeça em sua melhor forma, nos ensina a sua lição de casa: disse que trata a pandemia com histeria, trabalhando muito, mais do que sempre trabalhou, e ainda mantém lá em cima seu orgulho da nova geração de mulheres que bota a boca no trombone (da internet). Enquanto isso, Djamila Ribeiro, uma de nossas musas destes tempos, surge aqui como parte do projeto fotográfico de Fernando Torquatto, que busca valorizar a potência negra, e numa conversa conosco conta como se cuida para não adoecer mentalmente: medita sempre que pode, pratica kung fu, faz banho de ervas e é adepta do candomblé desde criança, o que a ensinou que “todo mundo tem algo bonito para trocar”. Lindo. E de carona ainda no assunto candomblé e pandemia, fomos atrás do orixá da cura, Omulu, sempre evocado em tempos difíceis como este que estamos passando. Ciência, medicina e fé para aliviar a dor. Aliás, nunca foi tão necessário descobrir outras formas de alegria, já que o momento é tão sombrio. O que nos faz sentirmos inteiros e, por que não, mais realizados apesar dos pesares? Artistas, cantores e empreendedores contam que leitura, doação e dançar podem ajudar. E a mente resiste. Contrariando as previsões de que veríamos uma onda de casos de transtornos psíquicos, estudos indicam que não houve aumento por conta do confinamento. Mas, claro, que as consequências diretas e indiretas da pandemia causam sofrimento mental, como explicam especialistas. E para amenizar essa onda, um caderno especial: Tempo Interior, mostrando quem se mudou para o campo, como os atores Helena Cerello e Raul Barretto, que foram viver em uma fazenda centenária no interior de São Paulo. Já a artista plástica Jeanete Musatti e seu marido, o colecionador Bruno Musatti, trocaram a vida no Jardim Europa, em São Paulo, por prazeres simples no sítio em Porto Feliz (SP). Encerrando a edição, Rita Cadillac está na área. Aos 66 anos, a bailarina, musa dos presidiários, atriz, cantora e agora influenciadora digital acaba de entrar para o OnlyFans, aplicativo de conteúdo adulto, no qual ela promete apimentar a internet. Chacrinha, seu chefe nos tempos de TV, amaria. É isso e um pouco mais o que temos para oferecer. Com certeza você vai gostar. Seguimos juntos.
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J.P CHARME E PROPÓSITO
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J.P ENTR EG A JOYCE PASCOWITCH
Pequena livraria só de autoras femininas, novo casal na praça, viagens em busca de vacina e mais lei a outr a s descoberta s em gl a mur a m a .com/nota s
SOSSEGO
MARESIA
O estilista FRANCISCO COSTA, que foi o número 1 da Calvin Klein por 14 anos, fechou tudo que tinha em Nova York, onde morava há décadas, e se mudou para Miami. Primeiro por causa dos impostos, muito mais baratos na Flórida. Segundo porque o prédio onde ele morava em Nova York foi inteiro vendido para uma nova construção. Francisco também vendeu a casa que tinha nos Hamptons, onde ele era vizinho de ANNA WINTOUR. E como agora todo mundo trabalha remoto, ele vai cuidar de lá de sua marca de beleza, a Costa Brazil.
GRUDE O mais novo casal da praça
reúne ANDERSON BIRMAN, fundador do grupo Arezzo, e ANA VOLPE, farmacêutica industrial e psicóloga. Ele era casado com MAYTHE BIRMAN, de quem se separou no ano passado, e ela, com LEIVI ABULEAC. A revista J.P deseja boa sorte à dupla. 6 J.P MAIO 2021
Alguns escritórios de arquitetura europeus estão faturando alto com a necessidade das pessoas de home office. Edículas pré-fabricadas, cheias de charme e com design apurado são um sucesso para quem quer trabalhar em seu próprio jardim. Com janelas amplas, esses espaços abrigam um escritório confortável e têm isolamento acústico. O investimento pode chegar a R$ 200 mil.
RECOMEÇO
Uma das astrólogas mais famosas do circuito RioSão Paulo, CLAUDIA LISBOA trocou a vista do Pão de Açúcar, no alto de Laranjeiras, onde vivia, pelos ares paulistanos de Higienópolis. Morar num dos bairros mais charmosos de São Paulo era um sonho antigo dela e uma oportunidade de ficar mais perto de uma das filhas, a atriz MEL LISBOA . Claudia conta que decidiu se mudar após encerrar seu ciclo no Rio. Em 2019, ela perdeu o marido, o psicanalista EDUARDO ROZENTHAL .
PRIMEIRO ATO
FOTOS GETTY IMAGES; REPRODUÇÃO INSTAGRAM PESSOAL; LUCIANA PREZIA/DIVULGAÇÃO; GUGA MILLET/ARQUIVO PESSOAL; CHRISTIAN GAUL/CORTESIA BEATRIZ MILHAZES; MATHEUS JOSÉ MARIA/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO
A artista plástica BEATRIZ MILHAZES, uma das brasileiras
QUESTÃO DE GÊNERO
Enquanto grandes livrarias fecham suas portas, as pequenas, com curadoria esperta, são inauguradas. Um dos exemplos é a GATO SEM RABO, na rua Amaral Gurgel, em São Paulo. A iniciativa é de JOHANNA STEIN e só traz autoras em suas prateleiras. “A proposta é incentivar a produção literária escrita por mulheres. Nosso acervo enfatiza a amplitude dessa produção e quer promover descobertas nos gêneros da ficção, áreas da não ficção e na literatura infantil e juvenil”, conta. O nome da livraria foi tirado do ensaio Um Teto Todo Seu, de VIRGINIA WOOLF.
TRÊS,2,1!
Muitos brasileiros já começam a reservar hotéis e vilas em MYKONOS para o próximo verão no Hemisfério Norte. Facilitador da entrada na Grécia, é fato que, a partir de maio, turistas são bemvindos desde que tenham comprovação de vacina e teste PCR negativo. Duas das casas mais baladas de Ibiza, a Lío e a Pacha, serão inauguradas por lá.
mais bem cotadas do mundo, terá uma obra sua na tradicional Ópera de Viena. Ela foi convidada para o projeto em que artistas contemporâneos criam desenhos que estampam por um ano as cortinas corta fogo de um dos mais deslumbrantes edifícios da Áustria.
ESPELHO
Depois de quase três anos da primeira conversa cheia de emoção, com muitas risadas e algumas lágrimas, no sofá de sua sala com o jornalista DIRCEU ALVES JR., SÉRGIO MAMBERTI agora tem sua história documentada. A recém-lançada biografia Sérgio Mamberti, Senhor do Meu Tempo (Edições Sesc), escrita em primeira pessoa, traz a assinatura de GILBERTO GIL na orelha e as palavras de FERNANDA MONTENEGRO no prólogo.
AH, O JET SET
Mania dos abastados de querer se vacinar fora, principalmente nos Estados Unidos, para não esperar sua vez no Brasil, colocou o México e suas praias entre os maiores desejos de consumo. PUNTA MITA e TULUM são os paraísos preferidos para a quarentena obrigatória antes de entrar em território americano. A procura está salvando a vida de pequenas agências de turismo de luxo, já que grande parte dos clientes aluga casas caras, onde se instala durante 15 dias, e alguns deles ainda fretam jatinhos.
PUNTA MITA TULUM
+twitter.com/joycepascowitch | @joycepascowitch com luciana franca MAIO 2021 J.P 7
MAIO
é mês bom para...
Ouvir a versão de Stay Stay,, de Rihanna, na voz de Cat Power – a canção cai feito mel na trilha sonora do filme austríaco Quando a Vida Acontece,, Acontece da Netflix.
Tentar entender o universo com o Tarot Traço, híbrido de obra de arte e oráculo, com ilustrações de Priscilla Menezes e direção visual de Luiz Wachelke. À venda no Instagram da @gralhaedicoes.
Conhecer o lado infantil de Itamar Assumpção, que morreu em 2003, no livro Homem-Bicho, Bicho-Homem (editora Caixote), com texto inédito do cantor e compositor e ilustrações de Dalton Paula. Mais do que nunca, se empenhar, pesquisar bem e continuar ajudando quem tem fome e está sem poder trabalhar com doações para ONGs sérias. Entre nossas sugestões está o G10 Favelas. +g10favelas.com.br
Depois da maculata, pesquisar os novos modelos de begônias que vêm fazendo Mergulhar nas a alegria dos jardins internos nesta manias e anseios da pandemia – a escargot também é linda. família formada por duas adolescentes e Se render às confortáveis calças de um pai acumulador tricô, que estão cada vez retratada no livro mais estilosas. Os Tais Caquinhos (Companhia das Se inspirar nos vídeos do YouTube Letras), da cearense da chef Paola Carosella e do marido, Natércia Pontes, autora Jason Lowe, para cozinhar com mais também do elogiado leveza e humor. Copacabana Dreams. Se livrar daquela horta caseira que a gente tentou fazer desde o início da pandemia e nunca rolou.
Maratonar a série romântica espanhola Foodie Love, Love, da HBO – não tem melhor combinação do que comida e sexo.
Experimentar as comidinhas do novo restaurante da Bela Gil, Camélia Òdòdó, onde ela tem ajuda do marido e da filha, Flor.
Dar mais vida à decoração de casa com os pratos dourados assinados por Patricia Magano. Reler A Boneca no Bolso: Vasalisa, a Sabida, um dos contos do clássico Mulheres que Correm com os Lobos, de Clarissa Pinkola Estés (Rocco), para ajudar a aguçar a intuição e fazer melhores escolhas. Luiza Helena Trajano sempre celebra a intuição como uma de suas mais importantes características.
Eliminar a celulite, esculpir o contorno corporal e fazer tratamentos faciais com um único equipamento, o novíssimo Power 2, trazido ao Brasil pela LBT Lasers e à disposição na Clínica Dome em São Paulo.
FOTOS ARTHUR NOBRE/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO; REPRODUÇÃO INSTAGRAM PESSOAL
Testar a vaporização do útero, técnica milenar com água quente e ervas para benefícios físicos e emocionais. A Maria Nuvem tem um kit, com banquinho e tudo mais.
Fugir para o meio do mato para praticar o que os japoneses chamam de shinrin-yoku, que pode ser traduzido como “banho na floresta”. É quando você se conecta plenamente com a natureza e consegue absorver suas imagens, sons e cheiros. Mais terapêutico, impossível.
J.P INDICA
SINTA-SE EM CASA
Ficar tanto tempo dentro de casa por conta da pandemia ressignificou o modo como as pessoas enxergam o próprio lar. Nossa casa também virou o local de lazer e de trabalho, o que motivou as reformas de todos os tipos. Daniella Chaves, diretora regional da ORNARE, excelência em soluções nos móveis de alto padrão, confirma este crescimento também no setor de móveis sob medida e diz que o distanciamento social teve impacto significativo. “Com o isolamento, as pessoas deixaram de viajar e de ter outros tipos de lazer. Passando mais tempo em casa, elas acabam prestando mais atenção ao ambiente e buscando tornar suas residências mais prazerosas. Portanto, é natural que elas invistam mais em reformas e em móveis novos”, aponta. Pensando neste movimento, em março, a marca investiu em seu novo showroom em Belo Horizonte, instalado no edifício Domani Business Center. Seguindo as normas de segurança e distanciamento, parceiros e amigos puderam visitar a casa nova com horário marcado e tiveram a oportunidade de conhecer as coleções Wire, Move e Stow. A grande novidade por lá foi o Ornare Virtual Lab: por meio de óculos de realidade virtual, é possível visualizar projetos de um jeito inovador. “O Virtual Lab mistura elementos reais com o mundo digital. Passamos três anos desenvolvendo essa tecnologia e o showroom de Belo Horizonte foi o terceiro a ter essa experiência. Todos os endereços da marca também já estão adequados. É o futuro do encontro com o mundo do décor.
FOTOS DIVULGAÇÃO
WWW.ORNARE.COM @ORNARE_OFFICIAL
CONSUMO POR ANA ELISA MEYER
LUMINÁRIA
Sierra Móveis R$ 4.284
EM MAIO
J.P ADORA
IN NATURA COLAR YSL
preço sob consulta
Já que estamos mais dentro de casa neste momento, fizemos uma seleção de produtos inspirados na natureza para trazer um pouco do clima “ar livre” para os ambientes e para nós
ALMOFADA
Elisa Lobo para Dpot Objeto preço sob consulta
PIJAMA
ANEL
Silene Iole R$ 540
BOLSA Dior preço sob consulta
MESA Jorge Zalszupin na Etel preço sob consulta
10 J.P MAIO 2021
FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO
PatBO R$ 420
PRATO
BRINCO
Tok&Stok no D&D R$ 60
Bautti R$ 660
MINI COCOTTE
Le Creuset R$ 169
ÓCULOS
Zerezes R$ 469
TAPETE
Tapetah preço sob consulta
RELÓGIO
Rolex preço sob consulta
CABIDEIRO
Estúdio Mula Preta R$ 5.889
LEITEIRA E XÍCARA DE CHÁ
Ichendorf Milano na by Kamy preço sob consulta
PUFE
POLTRONA Amoreira R$ 3.200
(conj. com duas)
Baleri para Firma Casa preço sob consulta
RADIOGRAFIA
Toda vez que Maxwell Alexandre ouve alguém dizer que ele retrata o cotidiano da Rocinha, favela da zona sul do Rio de Janeiro onde nasceu e vive atualmente, já sente “um bode”. A definição, “apesar de ótimo headline”, segundo ele, é uma grande redução do seu trabalho. “Quando você nomeia algo, já limita”, acredita. O artista, que desenha desde criança e se viu fisgado pela pintura nas aulas de Eduardo Berliner, quando cursava design na PUC-Rio, lembra que passou muito tempo desenvolvendo pinturas abstratas, como o trabalho Wallride Painting, no qual pigmentos de tinta registram o percurso dos patins em cima de uma tela. Sua série Pardo É Papel, que dá nome à exposição que passou pelo Museu de Arte do Rio e segue para o Instituto Tomie Ohtake em maio, no entanto, continua sendo a mais difundida. Neste tra-
balho, que começou em 2017, Maxwell pintou autorretratos em folhas de papel pardo e percebeu ali, para além da potência estética, o ato político de representar corpos negros sobre o pardo, já que essa cor também tem sido usada para velar a negritude. Mas a escolha dos materiais que utiliza, entre tijolos e graxa, por exemplo, não está sempre embasada em questões semânticas. “Quando falo do meu lugar, é um lugar de escassez e é a partir dessa escassez que escolho os materiais que são acessíveis”, diz. “Também hoje, como já tenho um pouco de chão, é quase como se eu não precisasse pesquisar o meu assunto.” Antes de decidir se dedicar à arte contemporânea, sua paixão era o patins street e a opção em cursar faculdade de design, a princípio, foi uma forma de buscar ferramentas para promover o esporte. Naquele momento, Maxwell tinha dois medos: o de acabar em um emprego formal, o que representava, para ele, “quase uma prisão”, e o de ter uma “vida comum”, aquela de quem completa a escola, começa a trabalhar e constitui família. “Sempre pensava na minha vida como uma aventura, um anime, e isso fazia com que eu alimentasse meu imaginário”, conta. Durante o período de estudante, o único trabalho que aceitou foi um que lhe rendia R$ 300 por mês e exigia menos de meia hora por dia – consistia em atualizar uma tabela com preços de pneus –, o que lhe dava tempo para se dedicar à pesquisa. “Minha mãe ficava me cobrando e eu dava uma de cínico. Fui estudante muito tempo”, lembra o artista, que hoje vive não só para a sua arte, mas também dela. (por Nina Rahe)
12 J.P MAIO 2021
FOTOS VITÓRIA PROENÇA/DIVULGAÇÃO; BLAISE ODILON/DIVULGAÇÃO; CORTESIA GALERIA DAVID ZWIRNER
MAXWELL ALEXANDRE
Em sentido horário, a partir da esq., detalhe das obras Novo Poder ( 2019 ), Pisando no Céu ( 2020 ) e Close a Door to Open a Window ( 2020 ), da série Pardo É Papel
MAIO 2021 J.P 13
C A PA
CAMA E MESA Parceiros em cena e na vida, os atores Luisa Arraes e Caio Blat agora são vizinhos. Ele alugou um apartamento no mesmo andar da namorada para criarem, cozinharem e amarem. E, quando necessário for, se isolarem em seus respectivos cantos por luci a na fr a nca fotos jorge bispo edição de moda juli a no pessoa e zuel fer r eir a belez a v ini kilesse
CapaOptaturit et optaspisi suntis dit eria asit re num lab ipiet voluptur? Ovit, sinctem faccull uptatiunt quiae
Vestido Carol Bassi para Ka Store, brinco, pulseiras e anel Joias Rafael Moraes
É
C A PA
quase possível sentir o cheiro do bolo quente pela tela da videochamada. Bolo de milho, uma das especialidades de Caio Blat, que se descobriu um ótimo confeiteiro na pandemia e manda bem também no cheesecake. Adoçado com açúcar mascavo porque Luisa Arraes é “natureba”, o bolo celebrava o primeiro dia de uma nova fase do casal. Caio alugou o apartamento em frente ao dela no charmoso predinho do Jardim Botânico, no Rio, onde foi realizado este ensaio. “Além de tudo, a gente é vizinho. É uma coisa muito erótica. Acabei de ir lá pegar uma xícara de açúcar para o bolo”, ri Caio. “Meus amigos dizem que é um sonho de casamento porque se brigarmos, fechamos as duas portas”, completa a atriz. As portas, separadas apenas por um corredor, vão ficar sempre abertas, com certeza. Os dois estão juntos há quase quatro anos e a sintonia só cresce desde o primeiro encontro, quando encenavam o vigoroso espetáculo Grande Sertão: Veredas, dirigido por Bia Lessa – com quase três horas de duração e cena de sexo entre seus personagens. Sucesso de público e com planos para ser encenada em Inhotim, ao ar livre, a peça foi interrompida pela pandemia e não tem data para voltar. Caio conta que o teatro é o chão deles de cada dia, “a cozinha”. Ele e Luisa aguardam a volta aos palcos e o início de mais um projeto juntos, o filme também inspirado no romance de Guimarães Rosa, dirigido por Guel Arraes, pai de Luisa. Será a primeira vez que a atriz trabalhará com o pai, sem contar as pequenas participações que fez na infância, por brincadeira, quando acompanhava as gravações de Guel e da mãe, a atriz Virginia Cavendish. Neste quesito, Caio é mais íntimo da família. “Já fiz papel de namorado, irmão de Virginia... Fizemos peça, filme e novela juntos. E fiz filme do Guel, O Bem-Amado”, enumera ele.
Apesar do compasso de espera, a dupla não para de criar. O apartamento de Luisa serviu de cenário para um episódio da série Amor e Sorte, do Globoplay, em que o casal atuou junto, e para monólogo autoral dela, Nunca Estive Aqui Antes, exibido on-line. Formada em letras, Luisa tem passado a maior parte do dia na frente do computador. “A vida de atriz é muito difícil. Eu não aguento esperar alguém chamar para um personagem incrível, então, preciso sempre produzir, fazer projeto no teatro. Se você não produz, não trabalha”, diz. “Nunca tive esse sonho de ser uma celebridade, ser estrela. Quero ser artista, contar uma história, escrever, dirigir, produzir. Sempre vi meus pais trabalhando muito duro, minha mãe produzindo tudo dela.” O ator segue o ritmo da companheira. Recentemente, eles passaram um fim de semana editando uma peça do autor modernista português Mário de Sá-Carneiro, do começo do século passado, que fala sobre desejo e ciúme, dois temas que gostam de conversar, e já mandaram para uma produtora. O casal também conseguiu manter o projeto de aulas de teatro do grupo Nós do Morro, no Vidigal. Agora, Caio debruça-se sobre a série inspirada no livro A Droga da Obediência, de Pedro Bandeira, para a Globo, em que vai escrever e dirigir e terá supervisão do autor. A ideia veio do filho Bento, de 11 anos, de seu casamento com a atriz Maria Ribeiro. “Estávamos lendo os livros do Pedro Bandeira, que eu lia exatamente com a idade dele, quando Bento virou para mim e falou: ‘Pai, como é que não fizeram uma série dos caras?’. Liguei para o Pedro na hora, tivemos uma conversa maravilhosa, ele acreditou muito na minha ideia, na minha vontade, e topou.” Além do caçula, Caio fala sobre o filho Antonio, de 18 anos, que adotou com sua primeira mulher, a cantora Ana Ariel, e com quem retomou contato em 2018. “Fiquei muitos anos fora da vida dele. Depois que ele voltou para a minha vida, criamos uma
“Nunca tive esse sonho de ser celebridade. Quero ser artista, contar uma história, escrever, dirigir, produzir. Sempre vi meus pais trabalhando duro”, Luisa, filha de Guel Arraes e Virginia Cavendish
Luisa usa vestido Isabela Capeto
C A PA
Caio veste jaqueta Nounion e calça Adidas. Luisa usa vestido Isabela Capeto. Na pág. ao lado, ela veste suéter Stella McCartney na NK Store, saia e brinco Dior. Ele usa vestido Isabela Capeto
“Vi muitos casais sofrendo com o excesso de convivência e a gente não mora junto, então, estar uma hora sozinho salvou. E tem amor, tem troca... É um privilégio a gente ter se conhecido antes da pandemia”, Luisa
C A PA Caio usa blusa Richards. Na pág. ao lado, Luisa veste macacão Dior e colar de acervo pessoal
C A PA Luisa veste macacão Dior e Caio usa conjunto Egrey. Na pág. ao lado, o casal veste quimono Dior e colar de acervo pessoal
relação muito especial, de amizade, de uma troca muito forte, embora a gente se veja pouco porque ele mora em Campinas (SP)”, conta o ator de 40 anos. “Antonio é o ídolo do Bento porque é gamer, conhece todos os jogos, eles jogam juntos on-line.” Pelo rumo da conversa, inevitável não perguntar a Luisa, de 27 anos, se ela deseja ser mãe. “No Brasil de agora, eu não tenho vontade. Tem que esperar um pouco, ter algum horizonte”, diz ela. No momento, a atriz se ocupa com outro tipo de maternidade. Em janeiro, levou para casa a gatinha Buriti, batizada em homenagem à obra de Guimarães Rosa – a palmeira buriti é citada inúmeras vezes em Grande Sertão: Veredas. “Depois de um mês choran-
do todo dia, com pânico de ter essa responsabilidade, hoje acho que é a melhor coisa que fiz na minha vida”, reconhece. “Coisas que a pandemia e o Brasil me obrigaram a fazer.” Outra boia de salvação para Luisa nestes tempos difíceis foi voltar a tocar piano, instrumento que aprendeu quando criança. Caio conta que já está preparando um setlist para um futuro show da companheira, com repertório que vai de Nina Simone a Arnaldo Baptista. Mais um projeto a quatro mãos na lista do casal. E o ator, quem diria, achava que seus afazeres na pandemia seriam preparar bolo, cuidar do jardim da casa que mantém no bairro do Itanhangá, onde passa os fins de semana, e assistir à série Cobra Kai com o filho Bento. n
“Nossa relação amadureceu, nossa parceria se fortaleceu muito, porque é um elo inesquecível passar mais de um ano com uma pessoa, dividindo, comendo, sem viajar, sem sair para trabalhar, sem ver os amigos”, Caio
Direção criativa e produção executiva: Ana Elisa Meyer Arte: Jeff Leal Assistente de styling: Bruna Dal Sasso Produção de moda: Letícia Amorim e Pedro Arthur Lopes Assistente de fotografia: Nathalia Atayde
POESIA VISUAL
A carioca Lulu Novis, ícone de estilo, é apaixonada por ciência e, quem diria, já foi estudante de medicina. Ela compartilha seu jeito de viver, sempre com muitas estampas, e conta como começou as inusitadas coleções de falos e lagostas por luciana franca
24 J.P MAIO 2021
FOTOS ARQUIVO PESSOAL; REPRODUÇÃO INSTAGRAM PESSOAL
D
ifícil traduzir quem é Lulu Novis, dona de uma mente criativa e borbulhante. Luciana é muito mais do que stylist: ela imprime seu estilo e muita ousadia por onde passa e em parcerias que assina com algumas marcas. Quem diria, sua curiosidade a fez cursar quase quatro anos de faculdade de medicina, mas trocou o curso por jornalismo e logo começou a cobrir semanas de moda e fazer figurino. “Sempre fui criativa, ligada à moda e também à escrita e à leitura. Sou extrovertida e sensitiva, gosto de gente, de interagir, de cuidar das pessoas. E sempre amei a ciência e tudo o que se relaciona com o corpo humano”, explica ela, que tem uma coleção de objetos fálicos – e de lagosta. Lulu construiu um universo estético/afetivo em sua casa, no Rio, que é uma extensão de sua essência, para criar as duas filhas, Antonia e Felipa, e receber os amigos.
O que faz da sua casa um lar? A Casa da Boemia, como chamo minha casa, tem poesia, tem gente de verdade, criança correndo e uma mãe criativa num desafiador expediente de home office. É uma casa vívida, com energia expandida. Fui construindo um universo estético/
INSPIR AÇÃO
Lulu usa vestidos de sua collab com a Farm. Nesta foto, óculos de edição limitada Yayoi Kusama para Louis Vuitton
afetivo que se reflete em cada detalhe: tenho menus dos meus restaurantes e botecos favoritos enquadrados nas paredes da cozinha, convivendo com minhas obras de arte e meus livros. Algumas das estampas que criei estão entre os muitos papéis de parede da casa, junto com um monte de objetos que contam minha história. O que te salvou na quarentena? Um conjunto de coisas: terapia, meditação, FaceWine semanal com amigos (nossa versão alcoólica do FaceTi-
Peças garimpa
das para suas coleções de falos e lagos tas
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INSPIR AÇÃO me), fazer exercício (mesmo que não tão frequente quanto habitualmente), ter a oportunidade de ajudar pessoas que estavam em situação difícil e o lançamento da minha collab com a Farm, um desses projetos-filho. Fruto de muito amor, nascido no meio do caos.
Na minha geladeira sempre tem: Tudo que é comidinha saudável: iogurte de coco caseiro, frutas vermelhas, salada orgânica (de preferência da minha horta), kombucha… E, claro, cerveja de garrafa gelada. Para dar uma equilibrada e satisfazer minha alma boêmia.
Há um ano eu... Não podia imaginar que ainda estaríamos vivendo dias tão sombrios.
Minha coleção de lagosta começou… Desde adolescente coleciono brinquedos, mania que herdei da minha mãe. Num desses garimpos que faço em viagens, encontrei uma lagosta que foi amor à primeira vista: fiquei hipnotizada pela elegância do seu shape e cores misturada com uma coisa surrealista e divertida. Esse foi o começo. As lagostas precisam quebrar a casca para crescer, e quando quebram, a parte de dentro fica exposta e elas ficam vulneráveis. Até que se expandem e
Daqui um ano eu… Espero estar vivendo num mundo menos desigual, com mais empatia, compaixão e união. “Tudo o que nós tem é nós”, como bem definiu o Emicida.
Lulu e Antonia vestem Prada. A tiracolo, bolsa garimpada em uma feira de rua para a filha e da Marni para a mãe
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Estampa coordena manhã temático
da e café da
uma nova casca se forma. Levo essa metáfora para a vida: precisamos sair da zona de conforto para evoluir, mesmo sabendo que o processo nos fragiliza e dói. E tem um outro lado delas que diz muito sobre mim: as lagostas são amigas e companheiras leais, encontram um parceiro e vão juntos até o fim. Minha coleção de falos começou porque… Faz parte do meu fascínio pelo corpo humano. Uma vez, numa viagem com meus pais, com uns 12 anos, gostei de um brinquedo fálico ainda sem saber o que era. Insisti muito e minha mãe me deu. O falo para mim – mulher e ciente das nossas questões e desigualdades – não tem caráter pornográfico e muito menos de poderio do masculino. Pelo contrário: como símbolo, na antiguidade clássica, representava felicidade e sorte. Imagens fálicas eram usadas para pro-
Acima, o santuário criativo da stylist: canto preferido para a leitura e sonhos
teção, para espantar energia ruim e trazer prosperidade nos negócios. Fora isso, um falo só é funcional se existe o órgão feminino para que haja a cópula, ou seja, ele reafirma a potência de ambos os sexos igualitariamente. No meu estilo não pode faltar… Listras, xadrezes, bolas, flores, cores, formas – tudo com muita elegância e diversão.
AmarElo, do Emicida. Sempre mexe comigo observar como as pessoas sentem, pensam e lidam com a vida.
Lulu veste camisa e calça Stella McCartney e a caçula Felipa usa vestido feito pela mãe
Não perco um episódio de: Nunca fui muito de televisão ou Netflix, sou mais dos livros. Estou sempre interessada em filosofia, psicanálise, espiritualidade e artigos científicos. Música que ouço em repeat: Tenho fases. A música que mais escutei em 2020 foi Partilhar, do Rubel.
FOTOS ARQUIVO PESSOAL; REPRODUÇÃO INSTAGRAM PESSOAL
Detalhe de um a das paredes da Casa da Boemia, co mo Lulu cham a seu lar
Não uso de jeito nenhum: “De jeito nenhum” é uma ideia radical. Mas não me identifico com botas, sobretudo as de cano longo. Também não sou de couros, brilhos e paetês. Filme da minha vida: Ultimamente tenho mergulhado na vida dos meus ídolos: amei os documentários sobre Yayoi Kusama, Iris Apfel, Diana Vreeland, Saint Laurent... E fiquei encantada pelo documentário
Gostaria de ter uma obra de... muita gente! Mas sou especialmente fascinada pela instalação de falos do Antonio Dias e amo também os artistas da nova cena, como Rafael Baron e Julia Debasse. Minha rotina de beleza inclui... Cuidar muito da alma: durmo com celular em modo avião, acordo, medito, tomo café calmamente (uma conquista de vida) e só depois ligo o celular. Em seguida, faço exercício físico. Procuro ter uma alimentação saudável, faço análise e terapia espiritual. Quando está tudo bem por dentro, fica tudo melhor do lado de fora. Para animar eu... Pratico a medicina da arte: sou sagitariana, então se o assunto me
interessa, caio de cabeça. Mergulho nos meus estudos, pesquisas, vasculho meu acervo de peças vintage, observo cada detalhe e neste processo sempre sai alguma ideia boa (ou, no mínimo, prazerosa). A arte salva, mesmo! Para desacelerar eu... Sou fiel aos ensinamentos da minha mentora, a médica Carol Presotto, que me ajuda a organizar ideias, equilibrar chakras e me botar no eixo. Mas como sei que meu jeito de equilibrar e me encontrar é mesmo no caos e na diversidade, prezo aquela desaceleração que só as brechas na rotina proporcionam: cerveja gelada, música na varanda, garimpo nas feiras de rua, picadinho com farofa, jujuba fora de hora – tudo isso alimenta meus olhos, corpo e espírito. Sou essa mistura. n MAIO 2021 J.P 27
VAMOS JUNTAS
A escritora e professora Heloisa Buarque de Hollanda se orgulha da nova geração de mulheres – entre negras, lésbicas, trans e indígenas – que bota a boca no trombone (da internet), relembra os insultos que aguentava nos anos 1980 e conta como está atravessando a pandemia e o luto POR DENISE MEIR A DO A M A R A L
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ENTREVISTA
L
embra daquele dia / que você passou a mão no meu peito / sem meu consentimento? / eu não reclamei / não foi porque eu gostei / mas porque mais uma vez / o medo paralisou minha espinha / o corpo inerte só chorou no outro dia / quando eu descia a ladeira sozinha.” O poema da jovem Luz Ribeiro, parte do livro As 29 Poetas Hoje (Companhia das Letras), com organização de Heloisa Buarque de Hollanda, é um grito pulsante e combativo da nova geração de feministas. Para a escritora, doutora, professora de teoria crítica da cultura na UFRJ e coordenadora do projeto Universidade das Quebradas – que propõe troca de saberes com a periferia –, o feminismo foi disseminado aos quatro cantos com as redes sociais e hoje as mulheres já não precisam aguardar pela chancela da lei. Aos 81 anos, mãe de Lula, André e Pedro Buarque, e avó de sete, a paulista de Ribeirão Preto se mudou para o Rio aos 4 anos, após seu pai, médico cardiologista, ter sido transferido para a cidade. Foi casada com o cineasta Luiz Buarque de Hollanda, morto em 1999, e com o diretor de fotografia e cineasta João Carlos Horta, que morreu em dezembro. Ela ainda teve uma editora por 15 anos, a Aeroplano, foi jornalista, já fez cinema, rádio e TV e foi diretora do Museu da Imagem e do Som do Rio.
FOTO CHICO CERCHIARO/DIVULGAÇÃO COMPANHIA DAS LETRAS
J.P: Como o feminismo entrou na sua vida? HELOISA BUARQUE DE HOLLANDA: Me formei
em grego pela PUC-Rio e em seguida fui para Harvard acompanhar meu primeiro marido [Luiz Buarque de Hollanda], que faria um mestrado lá. Era anos 1960 e estava tendo a Guerra do Vietnã, Janis Joplin... Descobri a política e a América Latina e larguei o grego porque percebi que o mundo era maior. Mas só me toquei do feminismo ao fazer uma pós na Universidade Columbia, em Nova York, nos anos 1980, e começava a se falar sobre teorias feministas e os núcleos de estudos de gêneros foram criados. O feminismo virou então um campo teórico. Fiquei totalmente fascinada. Larguei o curso de sociologia da cultura e corri para os braços do feminismo. É uma nova forma de pensar. Você começa a ler tudo com outro olho, que é seu, mas que até então nunca tinha usado.
J.P: Era difícil ser feminista nos anos 1980? HBH: Muito. A gente era acusada de não ligar pa-
ra os filhos, que eles se tornariam delinquentes, que a gente não ia arranjar namorado, que era feia, mal-amada ou sapatão – naquela época se xingava sapatão. Os homens falavam: “Deixa só eu te pegar para ver se não acabo com isso de feminismo”. Uma vez o [antropólogo] Darcy Ri-
“A gente era acusada de não ligar para os filhos, que eles se tornariam delinquentes, que a gente não ia arranjar namorado, que era feia, malamada”, sobre ser feminista nos
anos 1980
beiro pediu para eu fazer uma revista do Museu da Imagem e do Som. Ficou linda, levei para a faculdade em que trabalhava e os professores falaram na minha cara: “Aposto que você deu para o Darcy”. Eu não tinha instrumentos para revidar. Hoje se faria um escândalo e esses professores seriam punidos. Mas era 1980 e nada aconteceu. Quando prestei um concurso para ser professora titular em 1993 na UFRJ e ganhei, fui agredida de todos os modos. Ligavam para o escritório da universidade e perguntavam se era do bordel da dona Helô. J.P: Qual a diferença entre o feminismo dessa
época e o de hoje?
HBH: No meu tempo, a gente tinha um projeto
político de transformação social a longo prazo de MAIO 2021 J.P 29
uma grande mudança para o futuro. As meninas hoje acham que isso já mudou e querem que essas leis agora passem a valer. Elas vão para os jornais, redes sociais e denunciam o assédio. Na minha época, a gente não entendia assédio. Esses telefonemas pro “meu bordel” eram assédio, mas só pensava: “Lá vêm eles de novo” e não dava nome ao crime. Hoje temos muito mais ações previstas, além de mais consciência da violência dos homens. Na época, isso tudo não era considerado violência. O que é uma loucura porque é violência psicológica e é crime. – Sexualidades no Sul Global, você diz que estamos na quarta onda feminista. O que ela representa? HBH: A primeira onda foi das sufragistas que pediam direito ao voto. A segunda foi a revolução dos anos 1960, a liberação do corpo, discussão sobre o aborto, liberdade sexual e dos desejos. A terceira, que vivi nos anos 1980, foi o direito de reinterpretar com nossos olhos a história universal, o marxismo, a filosofia, a teologia, as teorias vigentes – que até então eram todas masculinas. É o primeiro momento em que a mulher se propõe a uma epistemologia. A quarta onda é a que surge com a internet, a partir de 2013. As demandas das meninas são parecidas: aborto, violência doméstica, ampliadas para assédio e estupro, mercado de trabalho, meu corpo, minhas regras, mas a linguagem é outra. Elas sabem que isso tudo já é um direito e só querem botar em prática. Não é não, e pronto. Elas escrevem no corpo e exigem que isso seja cumprido, não tem mais intermediários. Na minha época, você precisava que uma lei passasse no Congresso. Agora não, é só tocar o terror na internet. Já vi vários homens perderem o emprego após posts de redes sociais com denúncias de assédio. Claro que isso também tem um problema, a internet é ágil, mas, às vezes, pode ser cega. Até provar o contrário, o estrago já está feito. Outra diferença é que no meu tempo só tinha mulher branca no feminismo. A quarta onda feminista apareceu 30 J.P MAIO 2021
com milhares de demandas diferentes, tem o feminismo negro, indígena, asiático, evangélico, de prostituição, de trans, o feminismo lésbico. Percebemos que cada segmento de mulheres tem uma demanda específica. Além de mulher, ser uma mulher negra no Brasil é uma sobrecarga gigantesca. J.P: Isso faz parte do feminismo decolonial? HBH: A gente se guiava por países ditos cen-
trais, como os Estados Unidos, França e Alemanha. De repente, cai a ficha de que não somos europeias, mas colonizadas. Os povos que estavam aqui foram sistematicamente silenciados, as culturas indígena e africana foram sufocadas. É hora de abrir essa panela e deixar que as culturas que existiam antes aflorem. J.P: O corpo agora virou plataforma de luta? HBH: No meu tempo, o corpo era um problema.
FOTO CHICO CERCHIARO/DIVULGAÇÃO COMPANHIA DAS LETRAS
J.P: No livro Pensamento Feminista Hoje
ENTREVISTA Tudo o que acontece com a mulher é no corpo, o assédio, a maternidade compulsória, o aborto. Esta geração de agora pegou o corpo e disse: “Ele é meu e ninguém tasca”. Escrevem no corpo para mandar recado e são lidas, são respeitadas. E ai de quem mexer. Pela primeira vez, o feminismo foi ouvido por muita gente porque é a primeira onda que dispõe de internet. É uma alegria ter essas “netas” mandando ver (risos). J.P: Quais lutas feministas ficaram ainda mais
evidentes na pandemia? HBH: Fiz uma série de 34 episódios pandêmicos em que entrevisto mulheres rappers, mães, enfermeiras, grafiteiras, sambistas. Elas contaram, por exemplo, que recebiam uns kits com sabão, mas não tinham água em casa. Apesar do feminicídio ter aumentado na pandemia, esse assunto nem chegou a ser pauta para elas porque estavam preocupadas com a polícia que poderia matar seus filhos na volta da escola. A pandemia escancarou também que pobre e preto não ganham vacina. A política de matar os pobres sempre existiu, mas nunca ficou tão evidente. J.P: Você lançou o livro As 29 Poetas Hoje 45 anos depois de 26 Poetas Hoje. Qual é o grande mérito da escrita feita por mulheres? HBH: A mulher bota a primeira pessoa no texto, sua biografia, coisa que o homem não faz. É uma visão do texto completamente diferente. A mulher registra sua experiência e diz de onde está falando. Homem não diz de onde está falando, porque homem é “universal”, é “a verdade”. J.P: Qual o poder da poesia? HBH: Sou doida por poesia. Hoje, a poesia es-
tá até vendendo mais, mas nunca vendeu e nunca teve público. Por isso é muito mais livre que a prosa. Sempre penso na poesia como um farol que ilumina o que vem por aí. Invariavelmente ela acerta. Você vê essas meninas, como estão à frente do tempo? O tempo ainda não é assim, mas já está tudo lá na poesia. A poesia é prima-irmã da filosofia e tem a potência da palavra condensada.
“Tudo o que acontece com a mulher é no corpo, o assédio, a maternidade compulsória, o aborto. Esta geração de agora pegou o corpo e disse: ‘Ele é meu e ninguém tasca’” J.P: Como está enfrentando a quarentena e o
processo do passar do tempo?
HBH: Lido de uma forma histérica, trabalhan-
do três vezes mais. Gosto de piscina, mas como não está podendo, tenho feito ginástica em casa, três vezes por semana. Quando você envelhece, não pode parar de jeito algum. Na pandemia, tenho tido mais vontade de comer doces e chocolate e fico calculando se é melhor comer ou ficar deprimida (risos). Se você tem um projeto na cabeça, segura muito mais uma velhice e uma não-dependência porque o pavor do passar da idade é a dependência. Ser levada de cá para lá por alguém é um fantasma. Estou também escrevendo um livro chamado Feminista, Eu?, pela Bazar do Tempo. Mesmo tendo escrito vários livros, tenho a síndrome da impostora. Toda mulher tem. A gente é contaminada por esse vírus desde que nascemos. Você pode até vencer na vida, mas vence como impostora. J.P: Você perdeu seu marido, João Carlos Horta, no fim do ano. Como está lidando com o luto? HBH: Eu era muito apaixonada, ele morreu de enfarte. Sabe o que eu fiz? Comprei uma golden [retriever] e botei o nome de Joana. Fico agarrada com ela o dia inteiro, ela me ajuda muito. Meu marido foi enterrado, velado, pude elaborar isso tudo de alguma forma. Mas com a pandemia, caixão fechado, a pessoa não se despede. O luto agora é uma coisa anormal porque não está permitido para quem morre de Covid. Pulam essa etapa, que é muito importante para suportar. Depois do luto você costumava passar um tempo com a família, amigos, e nada disso é permitido agora. É um terror. A gente nunca conheceu a morte assim, seca. n
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ENQUETE
ERIKA JANUZA, ATRIZ
“Nestes tempos tão difíceis, trabalhar é o que ajuda a me sentir viva. Tenho conseguido fazer minhas atividades de casa, remotamente. Estamos diante de um cenário muito duro, há pessoas que não podem ficar em casa e outras que tiveram muitas perdas. Eu sei o quanto é difícil ficar sem trabalhar. Estar ativa é me sentir viva.”
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POR C A ROL SG A NZ ER L A E LUCI A NA FR A NC A
FOTOS GETTY IMAGES; ESTEVAM AVELLAR/TV GLOBO; ARQUIVO PESSOAL; NICOLE GOMES/DIVULGAÇÃO; ENIO CESAR/DIVULGAÇÃO
COMO SE SENTIR VIVO?
Nunca foi tão necessário descobrir outras formas de alegria, já que o momento é tão sombrio. Nestes dias de pandemia, o que nos faz sentirmos inteiros e, por que não, felizes?
MARINA FRANCO,
FIGURINISTA E STYLIST
“Estou muito destruída emocionalmente com a atual situação do Brasil, muito triste com tantas mortes, com o negacionismo assassino do governo federal. Mas ainda me sinto viva quando escuto música e me emociono e danço, quando como, quando tomo banho, quando falo com alguns amigos.”
MARIA LUIZA JOBIM, CANTORA “Certamente a vida interior é o maior recurso nestes tempos. A literatura, a espiritualidade, o trabalho e uma boa cachoeira me deixam prontinha.”
EVANDRO FIÓTI, MÚSICO E EMPRESÁRIO
“Trabalhar com uma das tecnologias ancestrais mais transformadoras, que é a música, me faz sentir vivo. Em um cenário de muita descrença, ver que o nosso propósito, dos nossos artistas e do nosso time, está conectado diretamente com a necessidade e a urgência do que o mundo mais precisa neste momento, que é senso de coletividade, afeto e humanidade. Temos conseguido levar isso com nossos produtos e serviços, impactando não só a vida dos fãs, mas criando soluções inovadoras, disruptivas e transformadoras para todo o ecossistema do qual fazemos parte, radicalizando o senso de comunidade dentro do nosso segmento. No fundo, sinto que o nosso coletivo tem muito dos valores que precisam nortear não só o nosso mercado, mas que serão vitais na construção de um novo amanhã – quando a gente conseguir se compreender como parte da natureza e não como dono dela. Estar trabalhando com pessoas motivadas por essa transformação e ver elas mudarem suas realidades através do nosso trabalho é o que tem me motivado a acreditar que é possível.” MAIO 2021 J.P 33
TAMARA KLINK, NAVEGADORA
“Andar, andar, andar. Caminhando, eu converso com esse corpo que tem aguentado valente os dias em que chove dentro, que tem me levado a conhecer novos lugares na superfície da minha pele,
MARJORIE ESTIANO, ATRIZ
“Busco manifestações de superação e solidariedade. Mesmo quando não se pode ajudar muito, só o gesto na direção do outro nos move em um lugar íntimo e muito sensível e nos relembra a emoção de ser humano, de agir com humanidade. Ouço histórias de superação, acompanho e tento cooperar com ações solidárias. Isso me recupera, me resgata.”
que tem segurado a onda e o sorriso e a coluna quase reta
Escrever, escrever, escrever. Manchando as folhas de palavras eu converso com os pensamentos, eu tomo distância, eu mapeio de onde vim, onde estou e para onde vou, apesar de tudo. Tenho feito diários por fazer, quando me lembro. E os monstros sombrios assustam menos quando viram personagens da travessia pelas páginas do caderno.” 34 J.P MAIO 2021
FELIPE MOROZINI, ARTISTA E ATIVISTA
“O que me traz conforto é saber que não estamos sozinhos. O que me faz sentir inteiro e vivo: ficar sentado ao sol lendo bons livros. Recentemente, li O Orangotango Marxista, de Marcelo Rubens Paiva, Meu Quintal É Maior do Que O Mundo, de Manoel de Barros (imperdível para tempos de pandemia e distanciamento social), Torto Arado, de Itamar Vieira Junior. Profundo e atual. Viajar para dentro, já que não podemos viajar para fora.”
FOTOS GETTY IMAGES; ARQUIVO PESSOAL; JOÃO COTTA/TV GLOBO; ANDRÉ SCHILIRÓ/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO
durante horas de zoom, meets, teams, e outros mais.
ENQUETE
FAFÁ DE BELÉM, CANTORA
“Esta segunda onda me pegou meio no contrapé. Eu vinha bem ano passado, superei bem, trabalhando muito, me reencontrando, descobrindo coisas novas e conversando comigo. Mas esta segunda onda eu comparo como uma aula de pilates, quando você distende um músculo que nem sabia que existia. É como se a gente tivesse cagado todo o fundo do poço e não brotasse mais nada. Aí, voltei para a terapia. Ela tem me dado suporte para atravessar este momento, me resgatado e me colocado no prumo. As pessoas sempre esperam de mim uma atitude positiva, então descobri também que é muito bom as pessoas me buscarem porque dou uma gargalhada. Cada vez mais, percebo que estamos desmontando todos os nossos arquétipos e estamos ficando mais humanos. Essa é a grande onda, o que tem me feito sentir viva, bem e inteira.”
CRISTIANA ARCANGELI, EMPREENDEDORA
“A pandemia, no primeiro momento, foi a experiência de maior antifragilidade que já vivi, porque foi a hora de parar, assustada, olhando uma crise política/econômica/financeira (tudo ao mesmo tempo, nunca tinha vivido) e decidir o que eu faria com essa situação nova. O que me motivou é que criamos vários projetos até chegar no mais bonito de todos, o Empreender Liberta, que é mais que um programa, é um movimento em que uma das plataformas promove educação empreendedora, visibilidade de qualidade, aceleração e investimento para empresas de mulheres nas comunidades. Começamos por Paraisópolis, em São Paulo, onde gravamos a primeira temporada do Programa Comunidades a Mil, que estreia no YouTube, contando a história de mulheres maravilhosas. Quando você empreende, você tem a liberdade de tomar suas próprias decisões e, principalmente, não fica refém de nenhuma situação de dependência financeira. Com isso, resolvemos não apenas um problema da base, da educação nas favelas, como também libertamos mulheres de situações em que elas poderiam estar ainda mais vulneráveis. Tudo foi muito orgânico e tenho certeza de que essa é uma boa história que eu tenho para contar da pandemia. Todo mundo tem uma boa história desse momento. Paramos para pensar, revimos nossos valores, nossa forma de se comportar em relação ao mundo e a nós mesmos, à sustentabilidade, todas as relações, aprendemos demais com todo esse desafio que estamos passando.” MAIO 2021 J.P 35
ENQUETE
JOANA JABACE, DIRETORA DE TV
LUA NITSCHE, ARQUITETA
“Passei o último ano quase 100% isolada em uma casa em uma praia desconhecida e deserta. Dividi a casa com meus irmãos, sobrinhas e filhas – formamos uma comunidade com muitos conflitos, mas também muito aprendizado. O isolamento trouxe dificuldades e uma tranquilidade inédita. Sim, estamos vivendo um momento delicado, mas também não consigo afirmar que vivia uma vida menos caótica an-
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tes. Estava sempre estressada e com a sensação de nunca ter tempo para fazer de forma completa meus projetos. Neste último ano, encontrei paz e alegria voltando a desenhar à mão e podendo refletir mais sobre os espaços e projetos de arquitetura que desejo desenvolver. No ano passado li, na Folha de S.Paulo, um texto da escritora polonesa Olga Tokarczuk que traduzia um pouco da minha sensação da vivência na quarentena. Em um trecho ela diz: “Para mim, já havia um bom tempo, o mundo estava em demasia. Rápido demais, barulhento demais”. O triste é constatar não apenas as mortes, mas todas as dificuldades advindas da desigualdade extrema no Brasil. Sem dúvida, teremos que construir novas cidades, mais inclusivas, talvez menores, mas mais plurais.”
FOTOS NANA MORAES/DIVULGAÇÃO; ARQUIVO PESSOAL; gettyimages
“Em meio ao terror que estamos vivendo, estar com meus filhos (3 anos e meio) é o que me mantém inteira. Apesar de exaustivo, ter duas crianças em casa no momento em que estamos é bilhete premiado, é a possibilidade de relativizar um pouco a tristeza do entorno. Durante esse último ano, pude acompanhar eles crescendo e se desenvolvendo todos os dias, por todos os minutos, o que pra mim, que sempre trabalhei muito fora de casa, foi, num certo sentido, um presente.”
PERFIL
CORPO SEM JUÍZO Após o sucesso do primeiro EP lançado no isolamento, no qual reafirma a sexualidade e o gênero como campos abertos, Jup do Bairro prepara o segundo álbum e espera o momento em que poderá, enfim, se apresentar no palco POR NINA RAHE
foto isac oliveira/divulgação
“É
o momento do ‘chorindo’, no qual percebemos que estar saudável é um grande trunfo e os pensamentos têm oscilações constantes, já que somos bombardeados por essa catástrofe que o presente nos reservou”, diz Jup do Bairro no início da conversa. Após o sucesso de Corpo Sem Juízo, seu primeiro EP – que lhe rendeu prêmios e no qual reafirma a sexualidade e o gênero como campos abertos –, Jup conta estar aprendendo a lidar com os sentimentos de sucesso e fracasso, que estão caminhando lado a lado. “Dois mil e vinte foi um ano profissional incrível, mas não consegui fazer nenhum show e nem sei como será minha performance no palco”, pondera. “O que vejo são números e tudo ficou atrelado ao algoritmo, mas não faço minha música para algoritmos.” No primeiro trabalho, a paulistana reúne canções que falam de amor, esperança e luta, e comemora os pequenos avanços na causa LGBTQIA+. “Muita coisa tem se perdido, mas muita tem avançado e ficou insustentável não falar do nosso corpo”, diz. Quando pequena, ela se lembra de dificilmente se
sentir contemplada com os modelos que via na televisão e do fato de que a aparição de corpos como os da funkeira Lacraia e de Vera Verão, personagem de Jorge Lafond, eram sempre motivo de chacota. “Eram usados como exemplos para não seguir”, analisa ela, que hoje apresenta, ao lado de Linn da Quebrada, o programa TransMissão no Canal Brasil. “É um lugar importante de ocupar, mas ainda há muito que correr.” Antes da estreia solo, Jup chegou a ouvir de diversas pessoas que seria perigoso lançar algo em meio à pandemia, mas não conseguia imaginar Corpo Sem Juízo guardado por mais tempo. “Sou uma artista do presente e achava que aquilo deveria ser dito naquele momento. Em 2021, tenho outras falas, outras ideias.” E essas ideias não devem demorar a entrar em circulação. Nem um ano após o primeiro EP, ela já prepara o que seria seu desdobramento. “Agora quero fazer uma ponte para pensar o que vem além da morte, desse renascer. Quero entender o que fica para além do corpo, que são memórias e o que a gente constrói enquanto coletivo.” n
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ALÉM DO BAILE
ACADEMIA DO FUNK Para mostrar a importância do gênero em meio à história e cultura afro-brasileira, a dançarina Renata Prado ensina não só a quem quer aprender o rebolado, mas quer levar o funk para dentro da escola de forma pedagógica POR NINA RAHE
uando o funk virou sensação na periferia de São Paulo, nos anos 2000, a dançarina Renata Prado, na época adolescente, lembra que frequentava bailes de segunda a segunda. “Peguei esse momento do boom do funk na capital”, diz. Moradora do Itaim Paulista, na zona leste de São Paulo, foi nas festas de rua que ela aprendeu a dançar. “Na periferia não tem muita opção de lazer e, quando tem, a gente se diverte. Foi muito orgânico”, conta. Mas antes de se tornar dançarina profissional, ela alimentou o sonho de cursar economia até perceber que sua vocação estava na área de pedagogia, na qual tem tido a oportunidade de pensar o 38 J.P MAIO 2021
FOTO DIVULGAÇÃO; ILUSTRAÇÕES FREEPIK; GETTY IMAGES
funk dentro das escolas. “Na Unifesp, conheci um mundo totalmente diferente e comecei a perceber que o capital cultural periférico tem grande valor nesses espaços”, conta Renata, que foi a primeira de sua família a cursar uma universidade pública – o pai é motorista e a mãe, operadora de telemarketing. Na faculdade foi bolsista de um projeto de iniciação científica no qual, considerando a Lei 10.639/10, que estabelece as diretrizes para inclusão da temática História e Cultura Afro-Brasileira no currículo oficial da rede de ensino, ela e outros pesquisadores desenvolviam projetos pedagógicos em parceria com escolas públicas. Agora, como trabalho de conclusão de curso, que deve entregar até o fim deste ano, Renata pretende ajudar no reconhecimento do funk em meio à história e cultura afro-brasileira, mostrando que é possível levar o gênero para a sala de aula de forma pedagógica. “Se o funk é cultura negra e a cultura negra tem que ser estudada, por que não estudar o funk?”, questiona. Nessa luta, Renata também percebeu a necessidade de discutir o papel das funkeiras dentro do movimento e criou, em 2017, a Frente Nacional de Mulheres do Funk, que há quatro anos reúne depoimentos de mulheres MCs para um documentário com a ideia de que contem sua história no campo profissional. “Quando se trata de mulheres, as perguntas são sempre sobre a vida pessoal e a nossa proposta é contar a trajetória artística”, diz. A previsão de conclusão do documentário é para o fim de 2022. Seu interesse em dançar profissionalmente não deixa de ser uma atitude engajada. “Quando comecei a entender que é possível trazer uma narrativa positiva para o funk, percebi que se faz necessário ter artistas profissionais e foi quando decidi apostar nisso”, explica. Paralelamente a seus projetos de dança, dentro dos quais se destaca o espetáculo Dos Tambores ao Tamborzão, no qual propõe uma linha do tempo das danças afro (passando por ragga, dancehall e funk), Renata também dá prosseguimento à Academia do Funk, onde ministra aulas teóricas e práticas sobre o gênero, com ensinamentos sobre a história do movimento e técnicas de rebolado. A iniciativa, que migrou para o virtual com a chegada da pandemia, agora deve passar por uma reformulação pensando no on-line, com lançamento para o segundo semestre. “Ainda há muita coisa para ser feita. Ninguém cria algo do dia para a noite, não é sobre pressa, mas sobre construir um legado”, resume Renata. n MAIO 2021 J.P 39
MÚSICA
A JOVEM GUARDA Hesitantes em seguir o caminho de Gilberto Gil, filho e netos se dedicaram a outras áreas profissionais, como administração de empresa e cinema, antes de lançarem o trio Gilsons POR PEDRO ALEXANDRE SANCHES
Soou familiar quando uma voz masculina contida começou a se espalhar por aí cantando os versos cândidos de fossa “várias queixas/ várias queixas de você/ por que fez isso comigo?/ estamos junto e misturado/ meu bem, quero ser seu namorado”. Era familiar mesmo, em primeiro lugar porque trata-se de uma versão introspectiva de um samba-reggae lançado pelo Olodum em 2012. Mas um motivo a mais para a familiaridade é que o trio carioca Gilsons, que regravou “Várias Queixas”, carrega no DNA a hereditariedade musical brasileira: todos são descendentes do tropicalista baiano Gilberto Gil. Com 30 anos, João, o mais velho dos três, é filho da pri40 J.P MAIO 2021
mogênita de Gil, Nara, que tem atuado historicamente como backing vocal do pai. José, de 29 anos, é filho de Gil e Flora. Francisco, de 26 anos, é outro neto de Gil, filho da também cantora Preta Gil, que foi quem sugeriu aos Gilsons o nome que faz trocadilho com “filhos de Gil” em inglês. O videoclipe de “Várias Queixas”, lançado no fim de 2019, tem mais de 7 milhões de visualizações no YouTube. Outra música,
a autoral “Love Love”, nitidamente aparentada do “Samurai” (1982) de Djavan, bateu mais de 5 milhões de acessos no canal. A chegada do trio formado em 2018 a um sucesso relativamente rápido oculta que os três hesitaram antes de se entregar à música. José Gil, a exemplo do pai nos anos 1960, foi primeiro administrador de empresas. João Gil chegou a estudar design.
Francisco trabalhou no cinema antes de se assumir como cantor, simultaneamente em versões solo, em duo com Chico Chico (fi-
FOTO JESSICA LEAL/DIVULGAÇÃO; ILUSTRAÇÃO FREEPIK
lho de Cássia Eller) e em trio. “A gente tem um contato que vem de casa, de família, mas tivemos vivências bem distintas para chegar a um ponto de imersão na música”, explica Francisco. “É bonito ver que, na verdade, a gente se conectou [com a música] junto. A gente tinha uma banda e se fortaleceu muito nessa caminhada”, completa, referindo-se à banda Sinara, que os três integraram em meados da década passada. No Gil-
sermos filhos e netos de músicos, a gente sempre teve instrumento disponível em casa, bateria, guitarra, violão. E a gente, criança, olhava aquilo como uma forma de estar fazendo zoeira como é jogar bola, andar de skate. Cresci ouvindo meus tios Bem e Bela fazendo aula de violão”. Bem Gil, ex-geógrafo, toca com o pai, e Bela Gil fugiu à regra optando pela área gastronômica. Diferentemente dos outros dois, José diz não ter
rica é inescapável, embora os três gostem de chamar o som que fazem de “ijexá-balada”. Uma história de João, colecionador de vinis herdados dos avós, ilustra o vínculo não apenas no DNA: “Tenho o primeiro disco do Caetano com a Gal com uma superdedicatória do Caetano para minha avó [Belina, primeira mulher de Gil], tipo ‘você sabe que eu sempre fui tímido para mostrar minhas músicas, mas espero que vo-
ainda completa certeza de que seu destino seja a música. Mas foi o êxito de “Várias Queixas” que alavancou a consolidação do trio, que agora começa a pensar em um primeiro álbum cheio. A ligação com a MPB histó-
cê goste. Imagina Caetano Veloso escrevendo isso’”. José acaba de se tornar pai de gêmeas bivitelinas, o que amplia mais um pouco a linhagem iniciada em Ituaçu, na Bahia, onde cresceu Gilberto Gil. n
José, Francisco e João Gil
sons, todos se alternam como compositores. “A gente ficava muito junto nas férias na Bahia. Eram carnavais e férias de verão muito frutíferas”, detalha José Gil. João relembra esse tempo: “Por termos o privilégio de
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MEMÓRI A
AS LIÇÕES DE CONTARDO Para Contardo Calligaris, a felicidade, “esse ideal dominante”, não era uma aspiração. O que ele queria era uma vida sem covardias, na qual pudesse aproveitar, da forma mais plena possível, o que “desse e viesse”. Nascido em Milão, o psicanalista, escritor e dramaturgo, morto em março deste ano em decorrência de um câncer, em 72 anos, escreveu 13 livros, atendeu centenas de pacientes, assinou uma das colunas semanais mais lidas do país e contabilizou oito casamentos. A ele, não faltou coragem. Desfrutou de uma vida fértil e soube como ninguém desvendar o comportamento humano. Selecionamos alguns de seus pensamentos em artigos, palestras, livros e entrevistas. POR NINA RAHE
“Cheguei à conclusão de que, ao longo da vida, nossa ideia da felicidade muda: 1) quando a gente é criança ou adolescente, a felicidade é algo que será possível no futuro, na idade adulta; 2) quando a gente é adulto, a felicidade é algo que já se foi: a lembrança idealizada (e falsa) da infância e da adolescência como épocas felizes. Em suma, a felicidade é uma quimera que seria sempre própria de uma outra época da vida - que ainda não chegou ou que já passou.”, 2010
“[...] quem estigmatiza categorias universais, como ‘os homossexuais’, ‘os sadomasoquistas’, ‘os exibicionistas’ etc., é um atacadista, enquanto a psicanálise trabalha no varejo: a fantasia e o desejo só encontram seu sentido nas vidas singulares.” , 2021
“Ter uma vida interessante significa viver plenamente. Isso pressupõe poder se desesperar quando se fica sem alguma coisa que é muito importante para você. É preciso sentir plenamente as dores: das perdas, do luto, do fracasso. Eu acho um tremendo desastre esse ideal de felicidade que tenta nos poupar de tudo o que é ruim.”, 2019
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“Eu casei várias vezes. Acho a monogamia mais interessante do que ter muitas aventuras amorosas. Uma relação é uma coisa tão delicada que é mais interessante se dedicar a ela enquanto dure do que ter um monte de aventuras que, no geral, são bastante chatas e rasas. O problema é colocar no casamento todas as nossas expectativas. E forçar o outro a ser aquela coisa que você sempre quis, mesmo que isso não tenha nada a ver com ele. Deveríamos baixar nossas expectativas.” , 2015
FOTOSMAX CALLIGARIS/ARQUIVO PESSOAL; GETTYIMAGES
“Meu ideal de vida é a variedade e a intensidade das experiências, sejam elas alegres ou penosas. Há indivíduos que pedem para ser medicados preventivamente, de maneira a evitar a dor de um luto iminente. É o contrário do que eu valorizo [...]”, 2011
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DR. DANIEL MANOR
DRA. DÉBORA MANOR
FOTOS FERNANDO TORRES; DIVULGAÇÃO; FREPIK
ALTA TECNOLOGIA A SERVIÇO DA BELEZA
O mercado de beleza está cada vez mais aquecido e o Brasil aparece na quarta posição da lista de países que mais valorizam os cuidados pessoais, atrás apenas dos Estados Unidos, China e Japão. E novas tecnologias não param de surgir para quem prioriza tratamentos menos invasivos e com resultados eficazes. Para encontrar essas novas tecnologias somadas à excelência de tratamento, o lugar certo é a CLÍNICA DOME, centro de referência baseado na badalada clínica AlmaCare Milão, onde celebridades e modelos cuidam da beleza. À frente do time estão os médicos Daniel Manor, especialista em tecnologias avançadas para tratamentos faciais e corporais, diretor clínico da Dome, e Débora Manor, ginecologista e obstetra, responsável pelo Núcleo de Ginecologia e Obstetrícia e pelo Espaço Myself, um centro exclusivo para a área de revitalização íntima feminina a laser. Segundo a dupla, a grande novidade no mundo da estética é o Power 2, da LBT Lasers, equipamento inédito que combina quatro tecnologias para o combate da celulite, além de ser muito eficaz na remo-
delação corporal e em tratamentos faciais. O aparelho une sinergicamente endermologia, vácuo, radiofrequência (RF) multipolar e LED (luz de 658nm) para tratar de forma avançada a celulite, reduzir a gordura localizada e atenuar a flacidez, esculpir contornos e ainda promover rejuvenescimento facial. A Clínica Dome ainda oferece tratamentos completos para a região da face – rugas, olheiras, linhas de expressão, melasmas, acne e cicatrizes –, gordura localizada, depilação a laser, drenagem linfática, estrias, varizes e vasinhos, e um dos mais procurados que é o rejuvenescimento íntimo a laser. Os agendamentos podem ser feitos via WhatsApp (11) 94547-1428. @ESPACODOME | ESPACODOME.COM.BR/
COR PO E A LM A Psicólogo define a emoção da pandemia, autocuidado íntimo, xampu que limpa profundamente e outras belezinhas P O R LU CI A N A F R A N C A
QUE MAL-ESTAR É ESSE?
“Seja gentil com as pessoas, quase ninguém está bem.” A frase que apareceu nas redes sociais diz muito sobre todos nós. Mas, afinal, o que estamos sentindo? O psicólogo Adam Grant resumiu bem em um artigo do The New York Times o sentimento produzido pelo longo período de distanciamento: LANGUISHING , que em português pode ser traduzido como definhamento. “Não era esgotamento – nós ainda tínhamos energia. Não era depressão – não nos sentíamos impotentes. Apenas nos sentíamos um pouco sem alegria e sem objetivo”, escreveu Grant. “É um sentimento de estagnação e vazio. Parece que você está se arrastando pelos dias, vendo sua vida através de uma janela embaçada”, continuou. Segundo o psicólogo, a ausência de bem-estar será a emoção predominante ao longo de 2021. Mas podemos encontrar alívio em experiências que captam a nossa atenção e trazem a alegria de que estamos fazendo algum progresso, mesmo que pequeno, como em um projeto interessante, um passo a mais na direção de seu objetivo e até mesmo ter uma conversa significativa com alguém.
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FRESCOR
Finalmente um alívio para quem tem cabelo oleoso e fino. O BOTICÁRIO promete fios soltos e couro cabeludo profundamente limpo por 48 horas com a família MATCH AGENTE ANTIOLEOSIDADE . Com zinco PCA e extrato de pepino, a linha traz seis produtos, entre eles tônico antiefeito rebote (R$ 69,90), xampu a seco (R$ 39,90) e xampu antirresíduo
MASSAGEM E MEDICINA POR RENATA FRANÇA
Em entrevista a Renata França, criadora da massagem mais desejada pelos famosos, médicos falam de suas especialidades e dos benefícios da massagem para a saúde DR. PEDRO VITAL NETTO
RENATA FRANÇA
Médico formado pela Unifesp - Escola Paulista de Medicina, especialista em cirurgia plástica e membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein CRM: 13099
RENATA FRANÇA: A cirurgia
plástica sempre foi sua escolha dentro da medicina? PEDRO VITAL NETTO: Ela surgiu quando, ao auxiliar cirurgia geral, eu era elogiado pela qualidade da cicatriz. Então, comecei a me informar sobre a cirurgia plástica, que era vista por vários colegas como “cirurgia de superfície”. Nessa busca, fui apresentado ao doutor Paulo de Castro Correia, fundador do Hospital dos Defeitos da Face e quem, mais tarde, recomendou que eu fizesse parte do corpo clínico. Comecei como supervisor da residência médica.
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RF: Segundo dados da Sociedade
Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps) divulgados em 2019, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos em número de cirurgias plásticas realizadas. Podemos dizer que elas se popularizaram? PVN: Eu não diria que se popularizou, mas dois motivos principais trouxeram notoriedade à cirurgia plástica. A pílula anticoncepcional, que veio a público no fim dos anos 1960, foi importante no comportamento e na vida da mulher, que nos últimos
25 anos passou a competir no mercado de trabalho. Daí nasceu a busca pela eliminação das consequências da gravidez, bem como a obesidade adquirida a partir dos 40 anos. RF: Quais são os principais procedimentos realizados pelo senhor em sua clínica atualmente? PVN: São as cirurgias faciais. No Brasil, fui um dos primeiros cirurgiões a realizar lifting de músculos, que eram eficazes em eliminar o famoso plastic look das cirurgias anteriores. Depois, acompanhei o nascimento dos primeiros implantes de silicone. Rinoplastias e cirurgia do contorno corporal, bem como mamoplastia e lipoaspiração, também são parte da minha prática. RF: A maior procura ainda é reali-
zada pelas mulheres? Se sim, qual seria a porcentagem? PVN: Sem dúvida, as mulheres são a maioria. Os homens, numa proporção de 20%, estão criando coragem para resolver problemas. Rinoplastia, lipoaspiração, lifting facial são as mais solicitadas.
RF: Qual é a sua opinião sobre realização da drenagem linfática no contexto do pós-operatório de uma cirurgia plástica? PVN: Eu indico sempre a drenagem linfática para as cirurgias da face e para a lipoaspiração corporal. RF: Há algum caso específico em
que a drenagem deve entrar no pós-operatório imediato? PVN: A cirurgia da face é minha indicação precoce, com início no sexto dia de pós-operatório. Cirurgia de contorno corporal, como a plástica de abdome, deve ser iniciada a partir da segunda ou terceira semana de cirurgia. RF: Quando ela é contraindicada? PVN: Nas cirurgias de mamo-
plastia redutora e na inclusão de prótese mamária.
RF: O senhor costuma recomendar a drenagem para seus pacientes? PVN: Sim, sempre. É uma alçada importante.
Para a entrevista completa, acesse sparenatafranca.com/ massagem-e-medicina/
CORPO E ALMA
CLÁSSICO RENOVADO
Uma surpreendente versão do perfume feminino da CHLOÉ acaba de chegar. A nota de rosa, que é assinatura da marca, ganhou companhia da essência ensolarada da tangerina. Uma combinação perfeita. A eau de toilette CHLOÉ ROSE TANGERINE é vendida com exclusividade na Sephora (R$ 599/ 75 ML). +SEPHORA.COM.BR
ZONA DE CONFORTO
BAIXA TEMPERATURA Dias frios são sinônimo de pele mais ressecada e
preguiça de passar hidratante. Mas alguns produtos ajudam a manter o corpo sedoso. Há novidades como a MOIST CANDLE (R$ 152), vela hidratante da CARE NATURAL BEAUTY, com manteiga de karité, murumuru e óleo de moringa na composição. Além de proporcionar bem-estar ao acendê-la durante o banho, o óleo que se forma após 15 minutos pode ser aplicado, quando morno, na pele. Outro lançamento é a ESPUMA DE BANHO KARITÉ BERGAMOTA , da L’OCCITANE EN PROVENCE (R$ 130/200 ML). Com textura de chantilly e o poder umectante da manteiga de karité, a espuma hidrata debaixo do chuveiro. Já a SKIN FOOD MANTEIGA CORPORAL da WELEDA (R$ 165,90) proporciona nutrição intensa e sua textura possibilita vestir a roupa em seguida, sem melecar. @CARENATURALBEAUTY | @LOCCITANE_BR | @WELEDABRASIL
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No embalo do mercado de autocuidado íntimo que não para de crescer no mundo todo surgem novas marcas nacionais para o bem-estar sexual. Mas as novidades nada têm a ver com aqueles produtos do passado, que proporcionam maior prazer ao parceiro ou camuflam o cheiro natural da vagina. Marcas como a NUAÁ, que tem uma ginecologista entre as sócias, mira no cuidado da higiene e hidratação da pele da vulva com ingredientes naturais. O best-seller é a espuma de limpeza BE.TODO DIA , à base de tangerina, copaíba e quinoa + prebióticos (R$ 59/150 ML) . A Nuaá também desenvolveu uma espuma especial para o período menstrual e outra para a menopausa. @SOUNUAA
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O SUCESSO ESTÁ NOS DETALHES Aos 28 anos, separada, com uma filha de 2 anos e R$ 90 mil em dívidas, NATALIA MARTINS tinha apenas uma carta na manga: a micropigmentação, técnica que aprendeu apenas para complementar o currículo. O que ela não esperava era que o faturamento anual do negócio, que teve início em uma casinha alugada de 30 m², chegaria ao patamar dos milhões. “Nunca imaginei, nos meus melhores sonhos, que teria filiais em Dubai, Estados Unidos, Chile, Suíça, Itália e Portugal, e que um dia eu e minha equipe trabalharíamos de pijama”, conta a empresária sobre o uniforme que virou marca registrada. De lá para cá, da casinha alugada até as filiais pelo mundo, foram dias e noites trabalhando sem parar com uma técnica de nanopigmentação para sobrancelhas com efeito mais natural que ela mesma desenvolveu, a NANOBLADING, e nasceu ali o foguete Natalia que, como ela mesma diz: “Foguete não dá ré”. E decolou alto. Hoje, a NATALIA BEAUTY tem uma matriz em São Paulo, na avenida Rebouças, em uma casa de mil m², e mais de 70 filiadas espalhadas pelo mundo. Seus serviços vão muito além da nanoblading, ela também ministra cursos da técnica, tem loja dos produtos de marca própria, entre eles uma linha de pijamas, claro, e encerrou o ano de 2020 faturando alto. “Já formamos mais de 15 mil especialistas em nanopigmentação labial, paramédica e fio a fio, e acredito que é uma ótima oportunidade para homens e mulheres que precisam recomeçar e não sabem como”, conta ela. Mas o megafaturamento e técnica de sucesso não são suas únicas conquistas: entre suas principais metas está devolver a autoestima não só das alunas com a capacitação, mas também de clientes que tiveram câncer de mama ou pessoas que nasceram com lábio leporino. O Grupo Natalia Beauty também iniciou a produção de
próteses de aréola para doação em hospitais, clínicas, ONGs e pessoas físicas. A prótese areolar é feita com pele sintética e é aplicada no seio com uma cola especial. Fica fixa na pele durante 40 dias e oferece a liberdade para a mulher ir à praia, à piscina, tomar banho, molhar e ter uma vida normal. Após esse período é só reaplicar a cola e usar a mesma prótese. “Quero poder ser um agente transformador na vida dessas mulheres, elevando a autoestima de todas elas. Por isso, além das próteses, ofereço gratuitamente tanto a reconstrução da aréola quanto dos lábios, porque é minha forma de retribuir tudo que recebi até hoje”, acrescenta. Sucesso que se espalha! @NATALIABEAUTY
ENTRE LENÇÓIS POR ROBERTA SENDACZ
Às vezes tendemos a achar o mundo dividido entre Oriente e Ocidente. Isso é bom: um diferencial, e vale a diferença sempre circunscrita no geral, no entorno, atuando com ou contra ele. Essa moldura do entorno se chama transgressão. Ou se transgride ou não. Assim, qualifica-se um perto ou um longe do outro. Porém, existe aquilo que chamamos de universalidade, o que aproxima os dois mundos, diminuindo suas diferenças ou não. Vamos acioná-la por ora. O universal, a exemplo do tema deste mês, trata de um casal heterossexual praticando sexo masoquista como se vê em vários filmes: Romance, Lies, Baise-moi. Talvez alguma cena de Império dos Sentidos, de acordo com Tanya Krzywinska em Sex and the Cinema, e de Os Idiotas, de Lars Von Trier. Este último mostra pessoas desajeitadas na sociedade vivendo papéis de outsiders. Já o filme sul-coreano Lies (1999/2000) começa com a aproximação de um casal que se conhece pelo telefone. A partir daí, são 90 minutos de sexo sadomasoquista: abrem uma maleta cheia de chicotes e se divertem no que, para nós, parece ser loucura. Acham-se malucos, pois não conseguem cessar a atividade. E mais: quando decidem se separar por exaustão, e não há sentimento entre eles, a personagem feminina conta que irá para o Brasil. Que loucura! Como poderíamos afirmar, há a “comunhão dos corpos”, de acordo com o filósofo francês Georges Bataille. Estão envolvidos na rela-
ção material dos corpos. Não existe o amor e a cabeça, portanto. O corpo é estéril. Em volta deles, o universal talvez: muitos vivem o sadomasoquismo. E aí aparece Marquês de Sade como referência dos mundos. No Oriente e no Ocidente surge esse casal estilo sadeano. Existem vários filmes que se remetem a Sade. O próprio Salò, ou 120 dias de Sodoma, de Pier Paolo Pasolini. Como em Lies, trata-se de um longa de arte e da estetização do sexo. É um filme, e não uma peça teatral filmada, mas crua. Por um momento, assistimos também a Filme de Amor (colorido), de Júlio Bressane. Nele, não há os chicotes, porém, estão interiorizados na cabeça dos personagens. Amigos fechados num apartamento discutindo e praticando “exercícios” isolados da sociedade. Em Lies são também personagens comuns, como uma estudante de 18 anos e um escultor de 38 anos, que não se desgrudam. No filme de Bressane existe a manicure, a ascensorista, tudo para trivializar o tema. Lies, do diretor Jang Sun-woo, foi para o Festival de Toronto, porém pouco se vê dele na internet. Se você me perguntar o porquê do título, direi que é a correlação entre os pensamentos deles. A mentira é aquilo que vivem num antiamor. A realidade é o que chove nos desencontros do sexo. Vai entender.. . Vi esse filme em Paris. Entrei no cinema sozinha. Fiquei com medo de apanhar (risos). n
ROBERTA SENDACZ É JORNALISTA, MAS SE ENCONTROU NA FILOSOFIA. GOSTA DE EXPERIMENTAR TUDO O QUE FICA VELADO
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FOTO FERNANDO TORRES; ARTE ISABELLE TUCHBAND
Sadomasoquismo sul-coreano
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FOTOS DIVULGAÇÃO
FIRMES E FORTES
Ela aparece aos poucos, muitas vezes sem desconforto, mas com o tempo pode se tornar mais aparente e aí acaba batendo aquele incômodo. Afinal, existe uma maneira de acabar com a celulite? A área dermatológica vem se aperfeiçoando cada vez mais para reduzi-la. A última novidade a desembarcar no Brasil é o EMtone, aparelho revolucionário da BTL que já é sucesso nos Estados Unidos e Europa e que trata de forma eficaz e comprovada a celulite. “Estudos clínicos e científicos mostram que a novidade é 64% mais eficaz no estímulo da produção da elastina do que nos tratamentos autônomos e 59% mais eficaz para a produção do colágeno”, explica Ana Rosa Marques, diretora técnica da BTL Brasil. Ela conta que este é o primeiro tratamento no mercado que utiliza radiofrequência monopolar e energia de pressão direcionada, simultaneamente, criando um efeito profundo nos tecidos conjuntivos envolvidos no quadro de celulite. Dessa forma, promove o aumento da produção de colágeno e elastina, e estimula a microcirculação sanguínea e a circulação linfática, diminuindo o tamanho dos lóbulos de gordura do tecido subcutâneo, removendo os metabólitos e melhorando a elasticidade da pele. Ou seja, a aparência da celulite e as ondulações da pele são suavizadas. Mas a novidade não para por aí. O EMtone e seu irmão mais velho, o EMsculpt, o mais eficaz no fortalecimento muscular e diástase abdominal, juntos resultaram no protocolo corporal batizado EMUp. “É a primeira vez que duas
tecnologias comprovadamente eficientes são usadas simultaneamente para combater a flacidez e a celulite. O resultado é surpreendente, além de ser rápido e indolor”, aponta Ana Rosa Marques. A emissão simultânea (e não consecutiva) das tecnologias potencializa em até 60% o resultado anticelulite, aumenta em 59% a produção de colágeno, 64% a de elastina e 44% a espessura da derme. O protocolo recomendado é de quatro sessões, uma por semana. BTLAESTHETICS.COM/PT
fernando torquatto BEAUTY ARTIST
DJAMILA RIBEIRO
“Oi, tudo bem?” “Apesar do Brasil, está tudo bem”, responde Djamila Ribeiro ao atender a ligação – ressalva essa que já virou padrão no início de qualquer conversa da filósofa e escritora em referência à pandemia. Nascida em Santos, litoral paulista, e mestre em filosofia política pela Universidade Federal de São Paulo, Djamila é uma de nossas grandes pensadoras da atualidade. Com sua voz e sua escrita – o livro Pequeno Manual Antirracista (Companhia das Letras) foi o mais vendido em 2020 pela Amazon no Brasil –, ela é responsável por popularizar o ativismo e feminismo negro nos últimos anos e por isso ganha lugar de destaque no novo projeto do beauty artist e fotógrafo Fernando Torquatto, que busca valorizar a potência e a beleza negra. Na conversa, Djamila relembra que a violência e o racismo são sistemáticos por aqui. “O Brasil é um país fundado pelo ódio, pela escravidão e pela morte de milhares de indígenas e negros. Não à toa somos um dos países que mais mata mulheres. Até tivemos algumas marolas progressistas nos últimos anos, mas, estruturalmente, sempre fomos um país violento”, conclui. Para ela, o discurso de ódio sempre existiu, só ganhou amplitude com a internet. Um exercício para se
colocar no lugar do outro é praticar a empatia, palavra-chave em uma sociedade fragmentada como a nossa. “Claro que nunca vou saber como é a vida de uma travesti ou de uma lésbica, sendo uma mulher hétero, mas, a partir do meu lugar, posso estudar e tentar entender aquela realidade.” Estudar, aliás, é o que Djamila recomenda quando recebe comentários equivocados pelas redes sociais. “Não nasci sabendo. Tive que estudar muito. Às vezes, essas pessoas só não tiveram acesso à informação. É preciso estudar, ler autores negros e indígenas progressistas”, recomenda. Apesar da preocupação inerente com a maior crise sanitária já enfrentada, a filósofa lembra que não podemos esquecer do autocuidado: “Não somos salvadores da pátria. Precisamos nos cuidar, senão adoecemos mentalmente”, diz ela, que medita sempre que pode, pratica kung fu, faz banho de ervas especiais e é adepta do candomblé desde criança, o que lhe ensinou que “todo mundo tem algo bonito para trocar”. Moradora de São Paulo, Djamila morre de saudades de poder ter mais contato com a natureza. Sua próxima meta é morar em um sítio. (POR DENISE MEIRA DO AMARAL)
FERNANDO TORQUATTO já transformou todo mundo que importa – aqui e lá fora. só vai
sossegar depois de clicar madonna
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COMPORTA MENTO
A MENTE RESISTE
Contrariando as previsões de que veríamos uma onda de casos de transtornos psíquicos, estudos indicam que não houve aumento por causa do confinamento. Mas claro que as consequências diretas e indiretas da pandemia causam sofrimento mental, como explicam os especialistas. É preciso estar atento e forte POR AL ANA DELL A NINA ILUSTRAÇÃO NANDO SANTOS
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FOTO GETTY IMAGES
A
mente humana é um elástico. É resiliente, suporta mais tensão do que imaginamos”, compara José Gallucci-Neto, psiquiatra da Universidade de São Paulo. A ponderação do especialista é feita à luz de pesquisas recentes sobre a saúde mental durante a pandemia. Contrariando as previsões de que veríamos uma onda de casos de transtornos psíquicos, os estudos revelaram que não houve um aumento significativo de ocorrências – o levantamento publicado no periódico Psychological Medicine, da Universidade de Cambridge, por exemplo, analisou 25 estudos, considerando o estado de saúde de mais de 70 mil pessoas antes e depois dos períodos de lockdown. Conclui-se que apesar do aumento na intensidade de sentimentos depressivos e ansiosos, não houve crescimento de diagnósticos de transtornos psiquiátricos e nem no risco de suicídio. Essa discussão torna-se ainda mais importante no momento que estamos vivendo, com o severo avanço da pandemia de Covid-19 no Brasil, e após as críticas do presidente Jair Bolsonaro às medidas restritivas de isolamento social impostas por governos estaduais. Em uma live em março, Bolsonaro leu uma suposta carta de um suicida, atribuindo o ocorrido ao lockdown e afirmando que, por causa do confinamento, estamos testemunhando diversos casos de suicídio. Apesar das mais de três mil mortes diárias no país, o presidente mantém seu discurso de que os efeitos colaterais da quarentena são mais prejudiciais do que o próprio vírus – dados que, vale repetir, já foram refutados por pesquisas robustas. Para Rodrigo Bressan, psiquiatra e professor livre-docente da Unifesp e do King’s College London, a associação direta entre confinamento e suicídio pode ser rasa e perigosa. “Atribuir problemas de saúde mental ou suicídio ao lockdown é uma inverdade. Os dados atuais não estão conectados ao confinamento, esses números não se alteraram significativamente em comparação ao período anterior à pandemia. Temos que levar em conta que, especialmente
no Brasil, não houve ainda um longo período de quarentena radical. Então, associar as duas coisas é uma apropriação de uma informação de uma forma superficial, grave e errada. Nosso problema nesta crise não é o lockdown, é a falta de controle sobre a pandemia.” Se 2020 não viu um aumento de casos de transtornos mentais, Gallucci ressalta que essa história pode ser diferente em 2021, já que estamos enfrentando uma segunda onda da pandemia ainda mais agressiva do que a primeira e uma falta de perspectivas positivas para o futuro. “Acho que em 2021 pode ser que surja aquilo que a gente esperava em 2020 e não viu. Não sei até onde essa nossa resiliência pode aguentar sem nenhuma perspectiva”, diz. Para Bressan, o estresse, que, de certa forma, estimulava nossa resistência emocional, agora pode nos sobrecarregar. “Quando aumenta
“A mente humana é um elástico. É resiliente, suporta mais tensão do que imaginamos”, José Gallucci-Neto, psiquiatra MAIO 2021 J.P 53
COMPORTA MENTO o estresse, aumenta também a performance, nossa capacidade de superação, de enfrentamento. Mas o estresse vai se prolongando, se nivela com a performance, que, então, começa a cair. O estresse torna-se crônico e muito alto. Naturalmente, vai criando esses sintomas.” Em outro aspecto da discussão, vale diferenciar sintoma mental e emocional de transtorno psiquiátrico. Afinal, há uma linha tênue que divide as duas coisas e a primeira, se não cuidada, pode evoluir para a segunda. “A gente apresenta sintomas ao longo da vida, como tristeza, ansiedade, medo, insegurança – eles são próprios da natureza humana e regulam nossas reações frente aos eventos da vida. Esses sentimentos são normais quando acontecem num
sofrimento mental; mas todas as consequências diretas e indiretas da pandemia. A neurocientista e psiquiatra Natália Mota endossa essa opinião. Segundo ela, os principais elementos causadores do sofrimento mental são justamente os reflexos da falta de adoção de medidas eficazes para conter o vírus, como o aumento de casos e de mortes, lutos sem direito a despedida, a falta de amparo social e de uma consciência coletiva – vemos uma boa parte da população que não segue as orientações de isolamento e de prevenção –, e a expansão desenfreada da pandemia no nosso país e uma gestão ineficiente da vacinação. “Essas são questões que também afetam a saúde mental das pessoas, são fatores ansiogênicos que
“Atribuir problemas de saúde mental ou suicídio ao lockdown é uma inverdade. Temos que levar em conta que, especialmente no Brasil, não houve ainda um longo período de quarentena radical. Nosso problema não é o lockdown, é a falta de controle sobre a pandemia”, Rodrigo Bressan, psiquiatra
contexto apropriado, numa intensidade apropriada e de forma transitória. Ninguém fica o tempo todo triste ou melancólico, nem alegre ou eufórico”, explica Gallucci. “Portanto, para essa diferenciação, há critérios quantitativos e qualitativos. Para eu chamar de transtorno, preciso ter determinados sintomas em determinadas intensidades e por determinados períodos de tempo. Já no aspecto qualitativo, preciso entender o impacto que esses sintomas têm na vida da pessoa, o quanto ela perde a funcionalidade por conta deles.” Dentro da equação da resiliência, vale dizer que, além da questão particular – ou seja, algumas pessoas têm naturalmente mais resistência emocional que outras –, a pandemia tem muitos e longos tentáculos, atingindo a todos nós de diferentes formas e intensidades. Por isso, como ressalta Gallucci, não é uma questão monocausal – não é o confinamento, por si só, que causa 54 J.P MAIO 2021
causam muito sofrimento. O isolamento social poderia ser vivenciado de uma maneira muito mais segura”, diz Natália. Para dimensionar o impacto que essa crise tem na saúde mental é importante organizá-la em macro e microcenários. Todos nós somos afetados em algum nível pelos saldos da pandemia, como o medo de contrair a doença ou de precisar de atendimento hospitalar em um sistema à beira do colapso. Mas profissionais de saúde que atuam diretamente no enfrentamento da Covid-19 são certamente mais afetados do que as pessoas que podem trabalhar de suas casas em áreas não relacionadas, por exemplo. Assim como quem perdeu entes queridos para a doença, seus empregos ou que adoeceu gravemente. E, ainda, as mulheres, um dos grupos mais impactados: são as mais sobrecarregadas, as que mais sofrem violência doméstica e as que mais lutam e morrem na linha de frente con-
“Cada pessoa precisa ter consciência do seu limite, saber seu ponto de resiliência, e não deixar chegar nele, procurar ajuda”, Natália Mota,
foto getty images
neurocientista e psiquiatra
tra a Covid-19 – só no Brasil, 3 mil enfermeiras morreram em decorrência da doença. “Quando pensamos no macro, é relativamente mais fácil de lidar porque estamos todos passando por ele, é uma tensão coletiva. Precisamos olhar com cuidado para esses microcenários, porque não existem prevenções específicas e só veremos o impacto disso lá na frente”, afirma Gallucci. O confinamento restringe nosso espaço fí-
sico, mas ele não precisa ser emocional nem intelectual, muito menos relacional. Tentar manter a rotina, respeitando os horários para dormir e trabalhar, além de comer bem, descansar e se exercitar, não são recomendações inéditas, mas seguem sendo vitais. Manter uma rede de afetos ativa e viva, mesmo que de forma remota, também é uma ação de enorme importância. “Muitas vezes, quando ficamos isolados, não compartilhamos nossos sofrimentos, não temos a oportunidade de relativizar esses pensamentos, nossa leitura da realidade e nos tranquilizar com outras opiniões. Quando estamos em contato com pessoas em quem confiamos, isso pode criar uma sensação de segurança”, diz Natália. Ficar de olho na saúde mental também parece óbvio, mas tendemos a naturalizar certos sintomas, como insônia ou ansiedade, principalmente diante de notícias catastróficas. Regular o acesso às informações é um passo importante na manutenção da nossa saúde psíquica. “Esse excesso de conteúdo negativo pode causar uma sobrecarga mental. Se a gente começa a consumir muitas informações de conteúdo emocional intenso, é como se estivéssemos comendo uma grande porção de feijoada: fica difícil de metabolizar, não digerimos”, completa a especialista. “Cada pessoa precisa ter consciência do seu limite, saber seu ponto de resiliência, e não deixar chegar nele, procurar ajuda.” n MAIO 2021 J.P 55
POR AÍ POR KIKI GARAVAGLIA
MIANMAR, PARA NUNCA DEIXAR DE SONHAR Socorro... Se não viajar, enlouqueço e perco meu emprego! Meus sonhos de viagens são tão completos, estudo tudo o que posso dos lugares para contar a vocês. Por exemplo, Mianmar, antiga Birmânia, que passa por um triste momento – em fevereiro, o país sofreu um golpe de Estado e milhares de pessoas foram às ruas em manifestos a favor da democracia –, mas me marcou para sempre com sua beleza e história. Assistir a um deslumbrante amanhecer ou ao mágico pôr do sol com as douradas cúpulas dos templos, as estátuas dos budas douradas, as flores também douradas dos campos e da cidade e os sorrisos iluminados das pessoas já valem a longa viagem. A Birmânia ficou fechada ao turismo durante séculos se mantendo medieval com seus hábitos do passado, como pastores atravessando as ruas com suas cabras, bois e vacas perambulando pela antiga cidade real de Bagan, onde o povo ainda pega água nos poços e carrega com varas de bambu nos ombros... Mas, infelizmente, como aconteceu na vizinha Bangcoc, enormes hotéis começam a surgir ao redor das famosas pagodas [templos] de Yangon, ruas sendo pavimentadas dividindo as partes sagradas de Bagan... Triste, pois era o país que se mantinha intacto desde as eras dos mongóis. Ao chegar em Mandalay, surpreende a cidade ainda com pequenas casas de madeira envoltas de flores coloridas das árvores de buganvilias e frangipanis, tendo como fundo as cúpulas brancas e douradas de centenas de pagodas. As ruas são cheias de monges budistas com cabeças raspadas e túnicas de cor vinho, pessoas em bici-
cletas, antigas carroças de madeira, alguns caminhões da época da guerra misturados a várias estátuas de budas e aquelas esculturas de leões místicos como guardiões da cidade, esculpidos em alabastro e mármore centenários. Encantadoras são as crianças acenando com alegres sorrisos querendo mostrar sua cidade aos turistas. Imperdível: conhecer a antiga capital do reinado de Shan do século 14, Sagaing, ver a pagoda Soon U Ponya Shin, em cor pistache e rosa, e o enorme buda branco e dourado ao lado de um gigantesco coelho (símbolo de paz) e uns sapos de bronze. Incríveis! Também ver a cúpula do templo Kaunghmudaw, no formato do formoso peito de uma antiga rainha... Estas são apenas duas das 600 edificações religiosas do que eles consideram o maior centro do budismo do mundo! Pegar um barco e ir até Mingun, observando nas margens as lindas mulheres se banhando no rio com flores nos cabelos e vestidas, é encantador, e se chega na pagoda do rei Bodawpaya, que começou a ser erguida em 1790 para guardar uma relíquia de buda, mas seu construtor morreu no meio do processo. Mesmo inacabada, continua sendo grande centro de devoção, onde sapatos e meias devem ser removidos, como em todos os locais sagrados. Não deixem de subir os 162 degraus para ver a vista dessa impressionante ruína que tem o maior sino, intacto, do mundo! Único problema de se chegar até lá é o calor infernal que faz em Mianmar... Único defeito. n
VIAJANTE INSACIÁVEL, KIKI GARAVAGLIA JÁ CORREU O MUNDO, MAS AINDA TEM MUITO LUGAR PARA CONHECER. SÓ TEM MEDO DE MORRER SEM ANTES IR A DUBAI
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FOTO ARQUIVO PESSOAL
Apesar do tenso momento político que o país tem atravessado, sua beleza e história permanecem quase intocadas
J.P
MODO DE VIDA
FOTO FREEPIK
TEMPO INTERIOR MARÇO 2021 J.P 57
REFÚGIO
OUTROS ARES
A pandemia e os novos tempos fizeram muita gente se mudar para o campo e experimentar uma rotina sem pressa, em meio ao verde. Há um ano longe de casa e dos palcos, os atores Helena Cerello e Raul Barretto foram viver em uma fazenda centenária no interior de São Paulo. Aqui, falam sobre a rotina dos filhos, os vínculos e a importância de projetar outros mundos por meio da arte ia 12 de março de 2020. Estava no carro, levando as crianças na escola, quando soube pelo rádio dos primeiros casos de coronavírus em São Paulo. No mesmo minuto, fiz o retorno de volta para casa. Naquele dia, a nossa vida – como a de todos – fez uma curva inimaginável. Desde então, estamos em uma fazenda em Itirapina, no interior de São Paulo, perto de Brotas. Viemos com as crianças, Aurora, 10 58 J.P MAIO 2021
anos, e Theo, 6, e uma mala para 40 dias. Hoje é 5 de abril de 2021 quando escrevo este texto. E ainda estamos aqui. Tem sido uma experiência forte passar a pandemia em uma fazenda, pois não podemos reclamar do privilégio que é poder andar sob o sol, sem sentir medo. Como dar a consciência para as crianças da dimensão do que estamos vivendo e ao mesmo tempo protegê-las? É uma pergunta que faço o tempo todo. O Raul [Barretto], meu
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POR HELENA CERELLO
À esq., quarteto reunido na quarentena. Acima, entrada da fazenda Paraizo. Abaixo, Raul com o filho Theo em fim de tarde. Na pág. anterior, “presépio de Natal” da família
companheiro, é naturalmente ligado à natureza. Desde o início da pandemia plantou mais de 2 mil mudas de árvores – ipê, moringa, jequitibá rosa, mogno, entre outras espécies. Raul e Theo têm uma rotina diária de regar as mudas, roçar a terra, colocar adubo, calcário. Nosso caçula sabe agora o nome específico de alguns matos e de várias ervas daninhas e se gaba de ser o protetor das árvores. Isso nos dá a sensação de que essa experiência tem um lado positivo, que é desenvolver nas crianças essa responsabilidade sobre a terra. Gostamos de passar para eles a ideia de que a Terra não nos pertence, e sim nós é que pertencemos a ela. Tentamos traduzir as falas de pensadores indígenas, como [Ailton] Krenak e [Davi] Kopenawa, que dizem que a floresta não é um almoxarifado onde você vai e tira as coisas, tira as coisas, tira as coisas. E, sim, um lugar onde você tem que pisar suavemente, andar com cuidado, porque é cheio de outras presenças.
Família
Uma parte da família está vivendo aqui também. Tem sido uma experiência rica, pois sempre alguém está ajudando a cuidar das crianças. O tio, arquiteto, ensina a construir traquitanas; a avó, a cozinhar; a tia, a jogar xadrez. Todos trazem histórias de suas infâncias e do lugar, que é uma fazenda de café e tem memórias que datam de 1889. Nessa troca familiar, estou literalmente morando na casa da sogra. Ela costuma dizer que “como dona de casa, sou uma ótima atriz”. Damos risada e vamos estabelecendo vínculos profundos e MAIO 2021 J.P 59
REFÚGIO
Pássaro
A resistência das pessoas no início da pandemia na Europa foi uma inspiração. Lembro de ver, na Itália, as pessoas nas janelas cantando umas para as outras e aquilo me emocionou. Como atriz, criei uma peça, uma adaptação do livro O Peso do Pássaro Morto, de Aline Bei. Desde 2020, fazemos sessões on-line. Com direção de Nelson Baskerville e música original de Daniel Maia, a peça virtual tem cenas pré-filmadas e ao vivo, que faço em um dos quartos da casa, transformado em estúdio de cinema. 60 J.P MAIO 2021
Cenas do isolamento: à dir., pai e filho pela mata, e Theo no monte de café. Abaixo, Helena. Na pág. ao lado, Aurora na estrada
A história leva o leitor a acompanhar como a criança lida com a morte, uma adolescente com a violência sexual e a maternidade solo, e como uma adulta encara as perdas e a solidão. Me filmo pelo celular e faço a função de cinegrafista e iluminadora. Não há público presencial para dar sentido à experiência, mas mesmo assim, a troca virtual tem valido a pena. Recebo cartas de mulheres contando suas histórias e relatos de homens que se sentiram tocados com a peça.
Trabalho
Junto com Raul, que é palhaço do grupo Parlapatões, tenho uma companhia de teatro, a Vadabordo. Há o projeto de criar uma nova peça, com a participação das crianças, inspirada nos
textos de Shakespeare. Nosso dilema tem sido “como ser uma família de artistas de circo-teatro em um mundo onde não há mais palco, nem teatro, nem circo” e trazer essa questão não apenas como nosso dilema, mas como uma metáfora da frágil condição humana no mundo de hoje. Aurora diz que quer ser atriz como a mãe e palhaça como o pai. O Theo diz que quer fazer o Hamster, ele ouviu falarmos sobre o Hamlet e agora pôs na cabeça que o papel do “Hamster” é dele. Aurora é quem o
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nos salvando da tristeza que esse momento nos traz. Como diz Krenak, são essas referências de quem vem antes e depois de nós que dão sustentação às nossas identidades. Se ficarmos sem essas pequenas alegrias, essas pequenas liberdades da intimidade, esses respiros da convivência com a “tribo”, vamos ficando loucos neste mundo maluco que compartilhamos. Quando as crianças me chamam para brincar, tento não dizer não. Mãe, vamos brincar no monte de café? Mãe, vamos mergulhar de cabeça no café e cavar até o fundo? Nada no café, mãe. De barriga, assim. Agora deita no quentinho e olha para o céu. Mãe, fecha o olho. Agora abre (risos). Escondi seu celular dentro do café. Onde? Não lembro. Mãe, brinca comigo pra sempre?
ajuda a memorizar suas falas e nessa brincadeira vai alfabetizando o irmão. Gosto daquela frase que diz: “Na dúvida do que fazer, olha para onde as crianças estão olhando e vai”. Conscientes de que estamos em uma tempestade, porém, em um transatlântico, enquanto muitos se apoiam em um pedaço de madeira, tentamos passar, com nosso trabalho, um sentimento de empatia ao criar narrativas que nos façam enxergar além dessa bolha que vivemos e do furacão lá fora. A utopia de contar histórias como quem procura projetar outros mundos neste mundo. “Filho, ‘silêncio’. A Terra está falando isso para a humanidade. E ela é tão maravilhosa que não dá uma ordem. Ela simplesmente está pedindo: ‘Silêncio’. Esse é também o significado do recolhimento”, Krenak n
CASA NA ÁRVORE POR RAUL BARRET TO
Se pudesse resumir esses 400 dias em quarentena, diria: que privilégio! Minha amada, meus filhos, meus pais saudáveis e aquele campo aberto com pomares e terreirões. Claro que vem uma certa culpa por perceber que tão poucos tiveram a mesma oportunidade. Estou na fazenda da minha infância, que pertenceu a meu bisavô e meus filhos puderam acompanhar o ciclo das frutíferas do pomar: jabuticaba, manga, abacate, goiaba, pitanga, cada uma a seu tempo. Puderam colher na horta a comida das refeições. Puderam, enfim, aprender a andar de bicicleta. Que conquista! Meu teatro estava fechado em Sampa, meu grupo com pouquíssimas atividades. Mas a SP Escola de Teatro, da qual sou um dos fundadores e coordenador do curso de humor, se manteve ativa on-line e isso dava muito trabalho diário. Nas horas vagas, dei asas a um antigo sonho de construir uma casa na árvore. Meu irmão arquiteto escolheu um local e fez uma maquete junto com meu filho. Dia após dia, fui inventando escadas, janelas, redes, mesas. Foi um árduo trabalho onde carreguei no lombo mais de 600 bambus cortados no facão. Ela ficou na beira do antigo riacho escondido pelo mato. Para embelezar o quintal, fui arrancando o mato, alterei o curso do riacho, o que me permitiu localizar uma formação rochosa. Nova saga: fui tirando na marreta e na pá toneladas de areia e pedra até descobrir uma antiga piscininha de pedra que, ao transbordar, formava uma cachoeira de 10 metros. Tudo parece um sonho, mas o fantasma da Covid-19 nos encobre a cada instante, pois o interior foi acometido com a mesma violência viral e até Itirapina se tornou um território de risco. As saudades de nossa casa em São Paulo, dos amigos, dos restaurantes, dos teatros e cinemas. Muitas vezes, o tédio ganha terreno. Mas sempre tivemos um pôr do sol, um abraço coletivo de nós quatro nos dando força e a esperança de que isso tudo será transitório. n MAIO 2021 J.P 61
LUZ NATURAL
A artista plástica Jeanete Musatti e o colecionador de arte Bruno Musatti trocaram a vida no Jardim Europa, em São Paulo, pelo sítio no interior. É lá que o casal cultiva prazeres simples, como plantar e cozinhar, e onde ela busca inspiração para suas obras
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POR LUCIANA FRANCA FOTOS PAULO FREITA S
orto Feliz. O nome da cidade paulista onde fica o sítio do casal Bruno e Jeanete Musatti não poderia ser mais cheio de significado neste momento em que o mundo vive. Quando a pandemia chegou, há mais de um ano, o colecionador de arte contemporânea e a artista plástica decidiram que a casa de campo seria a residência fixa deles. Isolados, cercados pela natureza, e a apenas 1h30 de São 62 J.P MAIO 2021
ILUSTRAÇÕES FREEPIK
MODO DE V IDA Paulo eram duas grandes vantagens. Foi como voltar no tempo. Há mais de quatro décadas o sítio também foi lar permanente da família por alguns anos. “Na época em que viemos morar aqui, teve uma pandemia de meningite. Ficamos assustados e por isso nos mudamos. Criei minhas três filhas pequenas, elas estudaram em uma escola rural”, lembra Jeanete. Depois a família seguiu rumo à Inglaterra para que as meninas estudassem na Michael Hall School, de pedagogia Waldorf, em East Sussex. “Fomos com 18 malas e uma governanta”, conta a filha Andrea, mais
conhecida como Deca. Produtora de cinema e com possibilidade de trabalhar remotamente, ela também está morando no sítio, mas em sua própria casa. Além da sede, o terreno de 25 alqueires abriga duas residências menores, de Deca e de Paola, que é atriz, dá vida à palhaça Manela e integra o projeto Doutores da Alegria, e outras duas para funcionários. Já a irmã, Bettina, é fotógrafa e mora na Itália. Jeanete diz que nos primeiros seis meses em que estava na nova morada, no começo da pandemia, não fez nada, não leu e não produziu, esta-
Na pág, ao lado, a ampla sala de visita e a mesa do ateliê de Jeanete Musatti, com sua nova série que reúnem objetos sentimentais em pequenas caixas/vitrines. Nesta página detalhes da casa principal
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MODO DE V IDA
va em estado de pânico. Mas logo se reconectou e voltou a criar: ela fez uma nova série de obras que reúnem objetos sentimentais em pequenas caixas/ vitrines, sua marca registrada, e que estarão à venda no site da Galeria Bolsa de Arte. “A vida inteira eu produzi aqui, é um lugar que me inspira enormemente”, afirma a artista, que tem um ateliê por lá. O bonito piano de meia cauda Rönisch que chama a atenção
ILUSTRAÇÕES FREEPIK
A artista plástica Jeanete Musatti, à esq. Acima, detalhes do ateliê e das salas da casa principal
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À dir., o piano de meia cauda Rönisch, presente de Bruno para Jeanete. Abaixo, o casal no gramado do sítio
na sala é outro instrumento de expressão de Jeanete. Ele foi presente do marido nos anos 1980, comprado em um leilão do espólio de um conhecido apreciador de ópera. Cultivar na horta os alimentos que usa para cozinhar, como abóbora, mandioca e milho, cuidar dos animais, entre eles três gatos, dois cachorros e dois cavalos, e tirar água cristalina do poço são outros prazeres simples da família que sempre teve a arte e a natureza a seu dispor. n
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MODO DE V IDA
MISTURA FINA Altar para Iemanjá, jardim para receber clientes e muitos charmes a mais. Assim é a casa-ateliê da designer de joias Julia Gastin, no Rio, que usa ícones brasileiros em suas criações POR LUCIANA FRANCA
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sto aqui é um pouquinho de Brasil, iá iá… A casa-ateliê da designer de joias carioca Julia Gastin não poderia ser diferente. Palha, madeira, barro e muita arte garimpada pelo país estão por todos os lados de seu novo espaço no alto do Horto, no Jardim Botânico, no Rio. “Queria que essa casa-ateliê traduzisse minha experiência e o olhar que tenho, desde o meu trabalho, meu lifestyle até o tipo de viagem que gosto de fazer. Enfim, o que realmente faz sentido para mim”, conta. Na reforma, ela teve a ajuda do diretor de arte Raphael Tepedino e da arquiteta Alice Tepedino (Aia Estúdio), que são primos e agora formam uma dupla. Quem dá as boas-vindas às visitas é a rainha do mar. Um lindo altar todo dedicado a Iemanjá logo na entrada da casa mostra a devoção da moradora. “Tenho uma super-relação com Ieman-
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FOTOS MARCUS SABAH/ARQUIVO PESSOAL
Acima, o jardim que conecta a casa com o ateliê, onde tem mesa com os famosos azulejos da artista Adriana Varejão. Na pág. ao lado, na parede da sala de visitas, tapeçaria de Genaro de Carvalho e quadro de Rafael Baron. Abaixo, altar para Iemanjá
já, sou devota do candomblé e Iemanjá é meu orixá de cabeça. A cada ano, compro mais coisas para ela. Todo 2 de fevereiro [dia da divindade], vou à Bahia e trago uma imagem nova ou alguma coisa relacionada com o mar”, diz Julia. Os amigos também ajudam a aumentar a coleção com presentes. “Ali está virando meu espaço de troca, de lembrança, é um organismo vivo que vai aumentando e toda semana compro flores.” É um lar cheio de história, significado e identidade – brasileira, é claro. Tapeçaria de Genaro de Carvalho na parede da sala de estar; móveis assinados por artistas modernistas, como as cadeiras Lucio, de Sergio Rodrigues; esteiras de palha e muita arte popular trazida de viagens pelo país, principalmente pelo Nordeste, dão o tom e se misturam com peças pontuais compradas em destinos mais longínquos, como África e Ásia. O canto preferido da moradora é a área externa, um charmoso jardim que conecta a casa principal com o ateliê. Quando o momento permitir, o jardim assumirá sua verdadeira função de ser um espaço para compatilhar, onde Julia receberá os clientes com mais tempo, mais proximidade e menos protocolos. A vontade, desde o início da reforma, era de que o comprador tivesse essa experiência ao adquirir suas peças e entendesse o DNA da designer, que ganhou fama com suas criações-desejo de búzios e figa. n MAIO 2021 J.P 67
O ORIXÁ DA CURA Recorremos à ciência, à medicina e à fé para aliviar a dor de mais de um ano de pandemia, de muitas mortes e muita doença. É Omulu quem os devotos do candomblé evocam em tempos difíceis
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POR LUCIANA FRANCA
ivindade coberta de palha da cabeça aos pés, munida com seu xarará, que é seu cetro, seu instrumento de cura, Omulu, também grafado como Omolu, tem o poder de levar para longe qualquer enfermidade. Ele já foi representado de diversas formas por Carybé, o artista plástico argentino mais baiano de todos, entre elas em madeira talhada na obra Mural dos Orixás (1967/68), em xilografia no livro feito a quatro mãos com o escritor Jorge Amado, Das Visitações na Bahia (1974), desenhado na grande obra Iconografia dos Deuses Africanos no Candomblé da Bahia, que traz textos de Jorge Amado, Waldeloir Rego e Pierre Verger, e em aquarela na exposição As Cores do Sagrado, que reuniu os registros de 30 anos de vivências do artista nos terreiros. Fotógrafo, etnólogo, antropólogo e pesquisador francês, Pierre Verger era outro admirador da Bahia, da África, do candomblé e de suas divindades e traz imagens de Omulu nas páginas de Orixás, Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo (1981). Já a história do orixá da cura é contada no livro Mitologia dos Orixás (2000), do sociólogo Reginaldo Prandi (Companhia das Letras), que reproduzimos a seguir: 68 J.P MAIO 2021
S A R AVÁ
fotos divulgação caixa cultural de são paulo
Omulu cura todos da peste e é chamado Obaluaê Quando Omulu era um menino de uns 12 anos saiu de casa e foi para o mundo fazer a vida. De cidade em cidade, de vila em vila, ele ia oferecendo seus serviços, procurando emprego. Mas Omulu não conseguia nada. Ninguém lhe dava o que fazer, ninguém o empregava. E ele teve que pedir esmola, mas ao menino ninguém dava nada, nem do que comer, nem do que beber. Tinha um cachorro que o acompanhava e só. Omulu e seu cachorro retiraram-se no mato e foram viver com as cobras. Omulu comia o que a mata dava: frutas, folhas, raízes. Mas os espinhos da floresta feriam o menino. As picadas de mosquito cobriam-lhe o corpo. Omulu ficou coberto de chagas. Só o cachorro confortava Omulu, lambendo-lhe as feridas. Um dia, quando dormia, Omulu escutou uma voz: “Estás pronto. Levanta e vai cuidar do povo”. Omulu viu que todas as feridas estavam cicatrizadas. Não tinha dores nem febre. Obaluaê juntou as cabacinhas, os atós, onde guardava água e remédios que aprendera a usar com a floresta, agradeceu Olorum e partiu.
Omulu aparece nos registros em aquarela feitos por Carybé, que são parte da exposição As Cores do Sagrado
Naquele tempo uma peste infestava a Terra. Por todo lado estava morrendo gente. Todas as aldeias enterravam os seus mortos. Os pais de Omulu foram ao babalaô e ele disse que Omulu estava vivo e que ele traria a cura para a peste. Todo lugar aonde chegava, a fama precedia Omulu. Todos esperavam-no com festa, pois ele curava. Os que antes lhe negaram até mesmo água de beber agora imploravam por sua cura. Ele curava todos, afastava a peste. Então dizia que se protegessem, levando na mão uma folha de dracena, o peregum, e pintando a cabeça com efum, ossum e uági, os pós branco, vermelho e azul usados nos rituais e encantamentos. Curava os doentes e com o xarará varria a peste para fora da casa, para que a praga não pegasse outras pessoas da família. Limpava casas e aldeias com a mágica vassoura de fibras de coqueiro, seu instrumento de cura, seu símbolo, seu cetro, o xarará. Quando chegou em casa, Omulu curou os pais e todos estavam felizes. Todos cantavam e louvavam o curandeiro e todos o chamaram de Obaluaê, todos davam viva ao Senhor da Terra, Obaluaê. MAIO 2021 J.P 69
J.P DE OLHO Uma seleção de marcas e designers independentes, e seus produtos cheios de charme e afeto P O R A N A EL I S A M E Y ER
HISTÓRIAS APLICADAS
Nascida em Brumado, sertão da Bahia, a estilista Adriana Meira, 39 anos, cria verdadeiras obras de arte. Residente em São Paulo há uma década, ela está desde o começo da pandemia na Fazenda Mandacaru, em sua cidade natal. Adriana se inspira em sua ancestralidade, no sertão, na música, nos orixás, nos santos e guias para desenvolver peças artesanais que contam a história de suas clientes por meio da técnica de aplicação e bordado. “São peças atemporais e sustentáveis. É amor próprio se vestir de sua própria história, honrar o que você tem de mais bonito”, diz. Atualmente, está desenvolvendo telas com mulheres imaginárias que vivem no universo da caatinga, para uma futura exposição. @ADRIANAMEIRAATELIER
CONEXÃO
Lançada no fim do ano passado pela mãe e empreendedora mineira Nathália Lessa, 35 anos, a Maria Nuvem veio com o intuito de resgatar e potencializar o ato de criar com as mãos e proporcionar momentos de bem-estar e autocuidado com seus objetos e os quatro elementos da natureza. As velas esculturais e ecológicas traduzem força e conexão por meio do fogo, das cores e de seus vários formatos; o uso do barro e o toque das mãos estabelecem a relação das cerâmicas com a terra, e o banquinho para vaporização do útero representa a relação da água e do ar no cuidado íntimo feminino. E ainda tem vasos, luminárias e o que mais a criatividade permitir feitos com madeira de descarte. “Somos uma marca de objetos emocionais que tem como objetivo atuar de forma mais consciente possível, gerando, assim, baixo impacto ao meio ambiente.” Veja mais na seção Mês Bom Para. @ MARIANUVEM_
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DA ROÇA
Dois anos depois de se mudarem para uma fazenda em Catuçaba, no topo da Serra do Mar (SP), a curiosidade e a vontade de compartilhar sobre a origem dos alimentos e os processos tradicionais com mais pessoas fizeram os ex-publicitários e atuais produtores rurais Yentl Delanhesi, 33 anos, e Peèle Lemos, 38, criarem a fazenda experimental Lano-Alto, em 2016. Com a ajuda de uma pequena equipe, o casal desenvolve produtos artesanais, como queijo, mel, doce de leite, fermentados, entre outros, respeitando o tempo e a consciência do consumo. Seus ingredientes e alimentos de origem são canais de diálogo entre o rural e o urbano. @LANO_ALTO
TECENDO O LAR
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PURIFIQUE-SE
Aromas que ajudam as pessoas a se transportarem para um momento de pausa, reflexão e contemplação em meio à rotina. Foi com esse mote que o casal Carolina e Daniel Oliveira, 35 e 38 anos respectivamente, resolveu criar a Santo, em 2017, depois de uma temporada na Austrália e em Nova York, onde trabalhou na Incausa, empresa americana com foco no segmento de incensos. Tendo como base o Palo Santo Peruano e o Makko Japonês – tipo de cedro endêmico da Ásia –, todos os incensos são fabricados pela dupla em Ubatuba (SP), assim como os incensários de cerâmica e os óleos essenciais. Seguindo receitas milenares, sem carvão ou aditivo químico colante e nem vareta, os incensos são maciços e feitos de madeiras aromáticas.
Após uma temporada em Estocolmo, na Suécia, onde aprofundou seus estudos em tecelagem, a carioca Valentina Stefani Saldanha, 28 anos, não se via mais trabalhando com moda, sua formação, e enxergou a oportunidade de desenvolver suas tapeçarias, já que não havia muitas marcas no mercado com esse apelo. Foi assim que criou, em 2016, a Voador Tecelagem, que hoje tem o designer e diretor de arte Patrick Gondim, 30 anos, como sócio. No ateliê, eles criam e desenvolvem produtos que remetem a colagens, feitos nas técnicas de kilim, tufting, pinturas em lona de algodão e jacquard digital, que levam cor, alegria, aconchego e humor para os lares. @VOADORTECELAGEM
@SANTO.INCENSO
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Esqueça o abre-fecha de fronteiras. Escolhemos destinos que são eterna inspiração na nossa wishlist, independentemente da época. Afinal, sonhar é preciso, sempre! POR ADRIANA NAZARIAN
MAROLA
O SWEET BOCAS é a melhor prova de que os surfistas sempre descobrem os cantos mais intocados e especiais do planeta. Trata-se de uma vila de sete quartos, que flutua, literalmente, sobre o mar cristalino do Panamá. Além do cenário paradisíaco para quem busca uma temporada de sombra e água fresca, o refúgio oferece uma fazenda orgânica, iate e um espaço cercado pela mata para experiências únicas como meditação e jantares sob o céu estrelado. +SWEETBOCASPANAMA.COM
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DIAMOND CIRCLE
DETTIFOSS HÚSAVÍK
TELA CHEIA
A paisagem surreal da ISLÂNDIA segue no imaginário dos viajantes, ainda mais quando o desejo é por destinos em que se aproveita ao máximo os programas ao ar livre, na natureza. E a boa notícia é que o país tem cada vez mais iniciativas para que os turistas não se restrinjam às atrações mais óbvias – e concorridas. A nova rota DIAMOND CIRCLE , por exemplo, conecta pontos como a DETTIFOSS, cachoeira mais poderosa da Europa, cânions e HÚSAVÍK , capital das baleias. O mesmo vale para a recém-inaugurada RING ROAD 2 , estrada que liga os impressionantes fiordes ocidentais. Para os aventureiros, a GLACIER HORSES é especialista em roteiros a cavalo em ÖRÆFASVEIT, com paisagens que passam por campos, lagos e glaciares cênicos. RING ROAD 2
ÖRÆFASVEIT
fotos divulgação
NO TOPO DO MUNDO Como não sonhar com uma temporada absoluta-
mente isolada do mundo pelas montanhas dos Himalaias? Por aqui, a vontade é mergulhar em uma caminhada ao lado de especialistas na região de UTTARAKHAND, que passa por vilarejos remotos com vista para os picos de PANCHCHULI. Como recompensa, a viagem termina no SHAKTI 360° LETI: são apenas quatro casinhas cercadas por janelões de vidro, comida inesquecível e experiências únicas como aulas de ioga em um cenário dos sonhos. +SHAKTIHIMALAYA.COM
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J.P V I A JA
ESTOU A DOIS PASSOS…
P é s d e s c a l ço s e c a b e ç a l i v r e d e q u a l q u e r p r e o c u p a ç ã o e m u m a i l h a par adisíaca . Todo mundo sonha com essa fórmula e poucos lug a res são tão propícios quanto HOLBOX . Per tinho de CANCÚN – ma s a b s o l u t a m e n t e a v e s s o à s a g l o m e r a çõ e s – , o d e s t i n o t e m u m c l i m a d e l i c i o s a m e n te d e s p r e te n s i o s o q u e é p e r f e i to p a r a a d e r i r a o s l o w t r a v e l . C a r r o s n ã o tê m v e z – n o l u g a r d o s t á x i s co n v e n c i o n a i s , c a r rinhos de golfe –, e o tr aje ofi ficcial é o biquíni. Par a pa ssar dia s entre m e r g u l h o s e m u m m a r i m p r e s s i o n a n te – co m d i r e i t o a t u b a r ã o - b a l e i a e m a l g u m a s é p o c a s – , p e d a l a d a s p o r r u a s ch e i a s d e ch a r m e e dr in que s e mb a l a do s p e l a b r i s a .
Nada como a imensidão da natureza para nos transportar para outro planeta. Então, que tal passar dias observando toda sua potência na Tanzânia? O LAKE NATRON CAMP é um glamping com apenas dez cabanas no meio do Rift Valley, que também organiza hikings para lugares cênicos da região, como a impressionante cratera de Ngorongoro. Outra opção é se hospedar no NGORONGORO CRATER LODGE , onde você já acorda praticamente dentro da antiga montanha vulcânica que se transformou em uma caldeira repleta de animais selvagens. @LAKE_NATRON_CAMP, +ANDBEYOND.COM
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fotos getty images; divulgação
VIDA SELVAGEM
RING ROAD 2
PER GALERIE LA KASBAH E COO DE ARTESANATO
KITESURF ESSAOUIRA
MEDINA
ATIVA
LADO B
Alguns dizem que é o clima despretensioso, meio artsy, total boho; outros se apaixonam por suas ruelas escondidas, repletas de construções históricas. Tem ainda aquele je ne sais quoi típico dos destinos adorados pelos kitesurfistas. Seja qual for o motivo, ESSAOUIRA , na rota menos óbvia do MARROCOS, é daquelas cidades que fazem a gente querer voltar mil vezes. Entre os motivos para visitá-la estão achados como a COOPÉRATIVE ARTISANALE DES MARQUETEURS, ateliê dos artistas locais, a GALERIE LA KASBAH e a MEDINA – muito menos turística que a de Marrakesh – com vista para o Atlântico. Nossa lista também inclui restaurantes escondidos como o ADWAK , a happy hour do TAROS CAFÉ , o beach club OCEAN VAGABOND e a piscina no rooftop do HEURE BLEUE PALAIS, riad transformado em um hotel memorável.
TAROS CAFÉ
HEURE BLEUE PALAIS
MAIO 2021 J.P 75
HORÓSCOPO POR GIOVANNA LOSS ILUSTRAÇÕES PAULO VON POSER
Energia do mês
Em maio, as energias gerais nos farão ref letir sobre traumas passados que se apresentam como medos e paranoias no presente. Diversas provações que temos durante a vida nos ensinam e nos ajudam a crescer, mas, como não somos de ferro, elas se mantêm no inconsciente e se transformam em traumas que podem interferir em novas situações apenas por receio de nos machucarmos novamente. Este mês, o tarô nos convida a ref letir sobre nossas feridas internas que não foram tratadas. Precisamos analisar cada escolha, sempre lembrando que o passado é importante para levarmos em conta o que já aprendemos, mas não nos deixando de se abrir para o novo – ou viveremos nos mesmos ciclos constantemente.
ÁRIES (21/3 a 20/4) Você busca mudar o cenário de sua vida para algo com maior tranquilidade e se aproximará dos amigos para isso. O problema é que suas expectativas sobre alguém estão altas e pode se decepcionar por não ter a troca que espera – e isso tende a gerar discussões com você apontando o que sente falta nessa relação. É preciso, porém, entender que paranoias podem nos fazer enxergar de forma diferente da realidade. As pessoas com quem se relaciona nem sempre estão no mesmo nível de maturidade que você. Tenha calma para impor suas necessidades. TOURO (21/4 a 20/5) O começo de maio será animado, taurino. Há certa energia de comemoração, pois você se sentirá forte e com ânimo para conquistar o que quiser – por conta disso, várias portas se abrirão e oportunidades aparecerão. Por outro lado, com sua animação, é possível que você se jogue sem pensar em uma dessas novidades e depois se arrependa porque ela pode te aprisionar de alguma forma. O tarô pede cuidado para analisar as opções antes de fazer escolhas. Ouça o coração e a intuição para assumir qualquer compromisso.
76 J.P MAIO 2021
apresenta neste momento é algo muito intenso. A confusão, por outro lado, estará apenas em sua cabeça por medo de se machucar e cometer os mesmos erros do passado.
GÊMEOS (21/5 a 20/6) Maio será um mês importante e de finalizações para você, geminiano. Há situações em sua vida que têm usado muito de sua energia e que você vem colocando como prioridade sem considerar suas próprias preferências por simples apego. Este tema estará presente para você neste período em que irá refletir se é melhor seguir em frente ou se manterá isso em sua vida. De uma forma ou outra, você está se desvencilhando aos poucos e a vontade de buscar algo novo virá forte para que possa trazer as mudanças necessárias. CÂNCER (21/6 a 22/7) Por mais que este mês seja tranquilo, há certo medo que o barra na hora de tomar decisões, canceriano. Você sentirá necessidade de trazer maior estabilidade para sua vida, seja na carreira ou em relações sérias. O interesse em buscar apenas o que parece seguro o fará questionar se aquilo que se
LEÃO (23/7 a 22/8) Será um mês de transformação pessoal, leonino. Você analisará o que precisa ser mudado em sua vida e refletirá se está no caminho certo. Há certa ansiedade que o fará questionar se as situações em que se encontra são justas de acordo com seus objetivos. As injustiças que pode sofrer este mês devem criar discussões com outros e você decidirá recomeçar em busca de algo novo. VIRGEM (23/8 a 22/9) Maio exigirá calma e paciência. Você irá ponderar sobre as escolhas que fez no passado para chegar aonde está agora. Como as energias não são as melhores, sua autoconfiança e autoestima podem ser prejudicadas, então respire fundo. Há também a sensação de ter perdido oportunidades no passado que o levaram aos problemas que aparecem hoje. Lembre-se que as dificuldades vêm e vão para nos ensinar, mas períodos positivos também sempre aparecem.
LIBRA (23/9 a 21/10) O mês tende a ser tranquilo e sem muitas novidades para o libriano. Este é o período de transição entre ciclos e isso pode fazer com que você sinta que a vida pareça ter entrado num limbo. Por esta razão, novas ideias podem surgir e você terá vontade de iniciar diversos projetos em diferentes áreas. Tome cuidado apenas para não se sobrecarregar. ESCORPIÃO (22/10 a 21/11) Período positivo para o escorpiano! Você chegou a um novo ciclo de vida e por isso sua vida estará mais ativa. É possível que você faça novas amizades e um novo plano ou emprego podem surgir daí. Com essas novidades, projetos aparecendo, você pode se sentir um pouco sobrecarregado, mas suas expectativas serão alcançadas com calma e tranquilidade. Por outro lado, na área sentimental, você pode sentir falta de alguém do passado. SAGITÁRIO (22/11 a 21/12) Momento decisivo nas relações do sagitariano. É provável que apareça alguém em sua vida e tende a ser uma conexão forte que trará aquele encantamento de lua de mel. Por outro lado, você se perguntará se essa relação é certa a qualquer sinal de afastamento por não corresponder à intensidade sagitariana. Tome cuidado para não deixar que seus traumas virem paranoias fazendo com que sabote algo que poderia ser positivo. CAPRICÓRNIO (22/12 a 20/1) Dificuldades ao iniciar ou dar andamento em projetos se apresentam este mês para o nativo de capricórnio. Você estará com visão objetiva sobre
como se posicionar e buscar oportunidades de crescimento, mas sua objetividade pode ser controladora. A forma com que você se comunica pode ser cortante, o que causará desavenças com um de seus parceiros sobre o que não está dando certo. É preciso que modere sua energia e trabalhe sua inteligência emocional.
AQUÁRIO (21/1 a 19/2) Maio deve ser um período confuso para o aquariano. Você pode se sentir um pouco perdido e desconectado de sua força interior. Por esse motivo, poderá agir de diversas formas em cada tipo de situação – em alguns momentos, se mostrará agitado e impulsivo e em outras horas, fechado e racional. Isso na verdade é porque está tentando se reencontrar. Se aproxime dos amigos e da família para que ajudem com seu empoderamento pessoal.
PEIXES (20/2 a 20/3) Este mês pede paciência. É possível que em alguma área da vida você queira mudança e por isso a vontade de deixar para trás alguma situação. Por se sentir preso, seja no trabalho ou em relacionamento, a ansiedade fará pensar em outras opções. Mesmo que esse desejo se apresente, pode ser que você ainda não esteja pronto para seguir em frente. Amadureça suas intenções antes de agir e ouça sua intuição que falará alto, guiando-o para um melhor resultado.
LEIA AS PREVISÕES SEMANAIS EM GL AMURAMA.COM
MAIO 2021 J.P 77
CABALA POR SHMUEL LEMLE shmuel@casadakabbalah.com.br
DESEJE MAIS Dois homens estavam pescando juntos num barquinho. Um dos dois carregava uma régua. Todo peixe que pescava ele media com o instrumento. Se o peixe fosse maior que a régua, ele jogava de volta na água. Se fosse menor que a régua, ele mantinha. Seu companheiro ficou intrigado e perguntou: “Por que você joga fora os peixes grandes?”. “Na minha casa só tem uma panela, e ela é do tamanho da régua, por isso os maiores jogo fora.” Assim como esse homem, muitas vezes pensamos pequeno. Ficamos contentes com nossa “panela pequena” e nem almejamos querer mais. Essa acomodação causa estagnação e escuridão. Não importa onde você já tenha chegado, expanda seu receptor. Deseje mais: fazer mais, realizar mais, receber mais para compartilhar mais. Mude a ordem de grandeza do seu desejo. O lado negativo nos impõe limitações e quer nos diminuir. Lembre-se que sua alma tem um potencial infinito de iluminar e brilhar.
BUSCAR A VERDADEIRA FELICIDADE
Iud
Nun
Dalet
visualizar da direita para a esquerda
78 J.P MAIO 2021
AGRADECIMENTOS
ISABELLE TUCHBAND É da artista a ilustração que colore todo mês a coluna Entre Lençóis
JULIANO PESSOA E ZUEL FERREIRA Os stylists vestiram a dupla da capa de um jeito cool, sem grandes montações
JORGE BISPO Amigo e vizinho do casal, o fotógrafo retratou Luisa e Caio em clima de intimidade
VINI KILESSE Para ressaltar a beleza dos atores, o hairstylist buscou o máximo de naturalidade
PAULO FREITAS O fotógrafo retratou o refúgio de Jeanete e Bruno Musatti em Porto Feliz (SP)
J.P NAS REDES P
MARCAS DO MÊS
CARTAS@GLAMURAMA.COM
FOTOS JOÃO PEDRO JANUÁRIO; ARQUIVO PESSOAL; ALEX ANDRE VIRGILIO/ARQUIVO PESSOAL; DIVULGAÇÃO
@valter__ventura Capa maravilhosa!!!! Parabéns @crisdiasdesouza Fui entrevistada por ela no Muvuca em pleno pregão da bolsa. Eu tive um ataque de riso. Ela é show! Amo! @magnapereiramaria Uma mulher, uma atriz maravilhosa. @negrali Maravilhosa @anasampaioneto Eu amo todas as personagens da Regina @mobelleza Não tem melhor! Adoro
Adidas + ADIDAS.COM.BR Amoreira + AMOREIRA.COM.BR Bautti + BAUTTI.COM By Kamy + BY KAMY.COM.BR D&D + DED.COM.BR Dior + DIOR.COM Dpot Objeto + DPOTOBJETO.COM.BR Egrey + EGREY.COM.BR Estúdio Mula Preta + MULAPRETA.COM Etel + ETEL.DESIGN Firma Casa + FIRMACASA.COM.BR Isabela Capeto + ISABELACAPETO.COM.BR Le Creuset + LECREUSET.COM.BR NK Store + NKSTORE.COM.BR Nounion + NOUNIONASSEMBLY.COM PatBo + PATBO.COM.BR Richards + RICHARDS.COM.BR Rolex + ROLEX.COM Sierra Móveis + SIERRA.COM.BR Silene Iole + SILENEIOLE.COM Tapetah + TAPETAH.COM.BR YSL + YSL.COM Zerezes + ZEREZES.COM.BR
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MAIO 2021 J.P 79
Ú LT I M A PÁ G I N A
RITA CADILLAC Roda, roda, roda e avisa que Rita Cadillac está na área. Aos 66 anos, e sem poder fazer seus shows por conta da pandemia, a bailarina, musa dos presidiários, atriz, cantora e agora influenciadora digital acaba de entrar para o OnlyFans, aplicativo de conteúdo adulto, no qual ela promete apimentar a internet colocando seu derrière para jogo – e ainda ganhar uma grana. Ela conta segredos de Chacrinha, que o técnico Tite é seu eleito para um show particular e que já levou todos os tipos de cantadas. Rita “é bom para o moral”. Espia! por fernanda grilo
moça ou qualquer coisa, menos a Rita Cadillac bailarina. J.P: COMO CONHECEU O ONLYFANS? RC: Já tinha visto o app e falava
“muita coragem”, mas cada um faz o que bem quiser e sabe onde aperta o seu calinho. Até que a Aritana Maroni [participante de quatro reality shows] me disse: “Somos maduras e não tem trabalho, por que não entrar?” Aí eu vi um pôster da Anitta e [pensei]: “Oi? Se ela está lá, como não vou tentar?” . J.P: E COMO TEM SIDO SUA PRESENÇA NO APLICATIVO? RC: Só não faria o que fosse me ma-
chucar, fetiches loucos, pornografia. Vou focar mais no lado sensual e picante... Não tem como não mostrar meu bumbum, mostrei minha vida inteira. J.P: JÁ GANHOU DINHEIRO COM O ONLYFANS? RC: Calma, entrei faz pouco tem-
po. Tem que produzir conteúdo, estar lá é pior que Instagram, é um trabalho mais elaborado. J.P: COMO TEM SIDO A REPERCUSSÃO? RC: Muito boa. Desde a época da di-
tadura, mostrei os seios, todo mundo já viu meu bumbum, fiz todas as revistas que já existiram. Se soubesse, teria entrado no ano passado. J.P: QUAL A CANTADA QUE MAIS RECEBE? RC: Já levei todas as do mundo,
sempre dou uma esperança (risos). J.P: COMO LIDA COM OS HATERS DA INTERNET?
80 J.P MAIO 2021
RC: Já tiveram mais, eles foram
sumindo quando comecei a postar fotos sensuais para mulherada ver que uma pessoa de 66 anos pode fazer as mesmas coisas que uma de 20, uma gordinha, uma magrinha, desde que se sinta bem. J.P: JÁ SE APAIXONOU POR UM PRESIDIÁRIO? RC: Não, porque não apareceu a pes-
soa, mas não teria problema nenhum, até fui madrinha de alguns internos. Quantas vezes saí da minha casa para almoçar na cadeia, sou da época que eles faziam a própria comida. J.P: PARA QUEM FARIA UM SHOW PARTICULAR? RC: Tite, técnico da seleção brasilei-
ra. Eu o respeito, acho lindo o relacionamento com a esposa, mas ele é muito atraente. Se fosse solteiro... J.P: O QUE NINGUÉM SABE SOBRE O CHACRINHA? RC: Ele tinha medo de avião e
sempre que precisava voar levava junto um monte de santinhos no bolso. Também era sério e fazia os programas de samba-canção. J.P: UMA EXTRAVAGÂNCIA? RC: Viajar, mas agora está impos-
sível: não podemos e estou sem grana. Vou ter que ralar muito para fazer extravagância de novo, ir para Nova York, Itália... J.P: REMÉDIO PARA DOR DE COTOVELO? RC: Me olhar no espelho, meu
amor, e perguntar: “Você merece chorar por causa de um homem?”. J.P: MAIOR LOUCURA QUE FEZ POR AMOR? RC: Anos atrás, saí de um show em
Belém, no Pará, e fui para o Rio de
Janeiro encontrar o amor da vida, dar uns beijos e voltar para fazer os outros shows na cidade. Se encontrar outro amor, faço de novo. J.P: O QUE É FEMINISMO PARA VOCÊ? RC: Lutar contra as opressões,
diferença salarial e por direitos iguais. Parece que estamos no século da minha bisavó. Homem não levanta a mão para mim! J.P: O QUE MUDARIA EM VOCÊ? RC: Nada. J.P: COMO É ENVELHECER? RC: Tão normal que, para mim, o
que envelhece mesmo a pessoa é a cabeça. Se você for aberto, sem preconceitos, o corpo envelhece, mas a alma permanece jovem. J.P: QUAL É O SEU SENTIMENTO MAIS PRESENTE NA QUARENTENA? RC: A falta do público. Não é soli-
dão, mas estou sentindo falta do trabalho, de poder abraçar. J.P: QUAL COMIDA TE FAZ QUEBRAR A DIETA? RC: Não vivo de dieta, amo uma
bela feijoada. J.P: O QUE NUNCA DIZER PARA OUTRA PESSOA? RC: Uma fofoca que possa estragar
a vida dela. J.P: DO QUE SE ARREPENDE? RC: Nada de nada. J.P: QUANDO VOCÊ MENTE? RC: A Rita não mente, omite. J.P: COMO GOSTARIA DE MORRER? RC: Dormindo, meu amor, ou
no palco.
FOTO DIVULGAÇÃO
J.P: RITA CADILLAC SEM SEU BUMBUM SERIA... RITA CADILLAC: Ih, acho que aero-
Mãe, a primeira palavra Política, economia e que a gente entende. negócios. A principal fonte de informação de mãe, de grandesAmor líderes e o primeiro sentimento que a gente sente. formadores de opinião em um novo site
revistapoder.uol.com.br /revista-poder-joyce-pascowitch
@revistapoder
@revista_poder
/Poder.JoycePascowitch