Revista J.P | Edição 154

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POR AÍ POR KIKI GARAVAGLIA

MINHA INFÂNCIA NO INTERIOR

FOTO ARQUIVO PESSOAL

O destino de férias de nossa colunista e sua família era o mesmo dos imperadores brasileiros: a pequena Corrêas, em Petrópolis Quando eu era pequena, passávamos as férias sempre com muitos primos na casa de meu avô Francisco em Corrêas, distrito de Petrópolis. Eram dois meses praticamente sem sair do sítio, nos esbaldando numa típica infância saudável, com piqueniques nos morros e brincadeiras nas cabanas feitas de barro – quando chovia, as cabanas se desmanchavam –, ou rolando dentro de um barril nas ladeiras da casa, cuidando de pintinhos e patinhos, e vendo a boiada passar na maior alegria – com muitas brigas também, claro. Os anos se passaram, os primos casaram, a casa do vovô ficou lotada e compramos outro imóvel em Corrêas. Amávamos aquele lugar. Nós e os imperadores brasileiros: aquele lindo recanto era o destino deles na serra do Rio de Janeiro. No século 18, muitos viajantes iam e vinham de Minas Gerais, pernoitando no vale do Piabanha, rio que margeava o caminho novo da rota, mais especificamente na casa de Antônio Tomás de Aquino Correia, conhecido como Padre Correia e

herdeiro daquelas terras, dadas ao pai dele pelo rei de Portugal. Ele foi construindo uma linda sede em sua fazenda e acabou dando o nome à região, Corrêas. Depois de sua morte, um desses viajantes foi dom Pedro 1º. Ele se hospedou, se encantou e passou a frequentar a casa, muitas vezes junto com a família. Dom Pedro amava a sede, um majestoso casarão. Na parte de trás da fazenda, ele construiu uma igrejinha, a única na serra de prática religiosa, para Nossa Senhora do Amor Divino, que continua lá com o altar e paredes de madeiras nobres, porém, agora cercada de comércio, ruas e casas. Com as visitas frequentes, a irmã de Padre Correia, dona Arcângela, continuou recebendo o imperador, a imperatriz e suas filhas para passarem os verões na fazenda dela. Adoravam a região de temperatura amena e dom Pedro gostava de se banhar no rio que atravessa aquelas terras, com pequenas cachoeiras e poços. Inclusive, o preferido dele ganhou o nome de Poço do Imperador.

Foi então que ele resolveu comprar a fazenda de dona Arcângela, mas ela não quis vender e o apresentou ao seu vizinho, o dono da fazenda Córrego Seco. Dom Pedro 1º conseguiu comprar uma propriedade naquele lugar e anos depois essa região tornou-se a grande cidade chamada Petrópolis. Aliás, Cidade Imperial de Petrópolis. Dom Pedro 1º começou a construir seu palácio, mas foi seu filho, que também amava ali, que a terminou em 1862. Era enorme e o destino preferido da família para passar os verões e fugir do calor do Rio de Janeiro. Continuou assim até 1889, quando foram banidos do Brasil. Em 1943, Getúlio Vargas transformou o palácio no Museu Imperial, local onde está toda a memorabilia da nossa monarquia, de ambos os imperadores, incluindo a pena com que a princesa Isabel assinou a Lei Áurea para libertar todos os escravos em 13 de maio de 1888. Corrêas é pura história. n

viajante insaciável, KIKI GARAVAGLIA já correu o mundo e, no momento, pode estar em londres ou marrakesh. só tem medo de morrer sem antes conhecer dubai

JULHO 2019 J.P 43


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