946006 9
771982
ISSN 1982-9469
00123
R$ 14,90
DEZEMBRO 2018 / JANEIRO 2019 N.123
SATISFAÇÃO GARANTIDA
Nem física, nem on-line: nas novas lojas a onda é experimentar e, quem sabe, comprar depois
LÍNGUA PRESA
Como se dar bem e passar uma boa imagem no trabalho sem tropeçar no inglês corporativo
TUDO PELO SOCIAL
Filósofo do mundo tecnológico, JARON LANIER alerta: delete agora suas redes sociais
LÁ EM CASA O crescimento da Rappi vai além do delivery: com valor bilionário de mercado, o super app colombiano, dirigido no Brasil por RICARDO BECHARA, quer resolver qualquer problema – as entregas são só o começo MAIOR AÇÃO DO MUNDO
O advogado ANDRÉ DE ALMEIDA revela os bastidores do acordo que fez a Petrobras indenizar seus investidores em US$ 3 bi
E MAIS
Brinquedos aquáticos; dicas culturais para o verão; o azul índico de Moçambique; a elegância de HENRY MILLER; e gadgets que valem o que não pesam
poder
ĂŠ
44 SUMÁRIO EDITORIAL COLUNA DA JOYCE TUDO DOMINADO
A expansão astronômica da Rappi no Brasil 28
54
56
ALMOÇO DE PODER
60
O advogado André de Almeida revela os bastidores de A Maior Ação do Mundo 40
44
PESCADOR DE ILUSÕES
Antonio Calloni posa e brinca: “Sou ator nas horas vagas” 50
CORPORATIVÊS
Saiba como se dar bem no mercado sem usar jargões do inglês corporativo
IMERSÃO PROFUNDA
O deslumbre dos diversos tons entre azul e verde do mar de Moçambique
UM NOVO JEITO DE COMPRAR
Aumento nas vendas on-line pode ser, talvez, prenúncio do fim das lojas físicas
NO LIMITE
Uma seleção de pranchas e outras máquinas futuristas para curtir o verão
TERAPIA DO OFF
Pioneiro do Vale do Silício propõe excluir as redes sociais para recuperar a felicidade 32
RESPIRO
O libertino da literatura americana, Henry Miller
64 66 68 70 72 76 77 78 79 80
PODER VIAJA É DE PODER COZINHA DE PODER HIGH-TECH CULTURA INC. ESTANTE UNIVERSO POLE POSITION CARTAS ÚLTIMA PÁGINA
RICARDO BECHARA POR ROBERTO SETTON
NA REDE: /Poder.JoycePascowitch @revistapoder @revista_poder
FOTO MAURÍCIO NAHAS
10 12 18
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PODER EDITORIAL
É
bem arriscado dizer que a era do CEO celebridade está com os dias contados. Pois basta aumentar os rendimentos dos stakeholders e todos os vícios e maus hábitos são ignorados. Mas há uma onda menos personalista que surge aqui e ali. Ricardo Bechara, o jovem diretor de expansão da Rappi, principal figura da operação brasileira da plataforma digital colombiana, é 0% exagerado – ou, vá lá, 2%, se a gente considerar o sotaque caipira vitaminado na hora de dar entrevista. A Rappi quer ser um app indispensável, com soluções de mobilidade e pagamento, bem mais atrativas do que já entrega seu delivery superdiferenciado. Mas mesmo com o crescimento acelerado de 30% ao mês e o valor de mercado que ultrapassou o mítico US$ 1 bilhão, Bechara e seus liderados trabalham num clima informal, bem de coworking. Ver as mudanças do mundo é fascinante, e o varejo é uma das áreas muito impactadas. Em Palo Alto, no Vale do Silício, uma loja de brinquedos não quer saber de vendas – ali as crianças experimentam os produtos, e os pais podem fazer compras on-line depois, como mostra a correspondente Carolina Mendes. Mas que ninguém decrete o fim da loja física, pois (ainda) não é disso que se trata. Do Vale do Silício também vêm as ideias autofágicas de Jaron Lanier, um pioneiro da indústria digital que sugere agora que todos deletem imediatamente suas redes sociais. Da Califórnia para Nova York, onde Chico Felitti assistiu a uma aula de inglês corporativo – e entendeu que o “corporativês” falado no Brasil precisa melhorar bastante. Aqui nos trópicos, nossos convidados são o advogado mineiro André de Almeida, um dos responsáveis pela “class action”, o acordo que fez a Petrobras indenizar em US$ 3 bilhões investidores americanos por conta da perda de valor da estatal pós-Lava Jato; e Antonio Calloni, estrela do Ensaio, que falou de pescaria a vinho, de realismo fantástico a novelas globais. Mas ainda não acabou: para quem vai entrar na água neste verão, trazemos uma seleção de pranchas divertidas movidas a eletricidade para furar as ondas – e até um pequeno submarino para mergulhar um pouco mais fundo. Fomos também a Moçambique. E mais: descobrimos os gadgets que valem o que não pesam – quanto mais leves, melhor para levar na mala. E boa viagem! Voltamos em 2019, ainda mais energizados. Juntos!
G L A M U RA M A . C O M
Superpoderoso ministro do governo de Jair Bolsonaro, PAULO GUEDES terminou a disputa presidencial com fama de vira-casaca. Durante um encontro do alto empresariado em São Paulo, no escritório de Carlos Eduardo Sobral, no fim do ano, ele foi convidado a palestrar para um grupo de executivos e banqueiros. Terminou o discurso com ares de Pitonisa, dizendo: “Querem saber quem será o próximo presidente da República”. Fez suspense e só depois de muita insistência, declarou: “Luciano Huck”. Jair Bolsonaro? Nem passou pela cabeça dele…
PLANO B
A sugestão do nome de LUCIANO HUCK como candidato ao Planalto veio de outro integrante da família Guedes: sua filha, Paula Drumond Guedes. Fundadora da Jobzi, site para busca de emprego, ela e sua equipe descobriram meses antes, por meio de pesquisas de tendência, que Huck teria grande chance de vencer por ser jovem, bom comunicador, conhecido do público e com perfil empresarial. A ponte entre Paulo Guedes e Huck foi então feita pelo investidor Gilberto Sayão, um amigo comum dos dois. O affair político se desenrolou por um bom tempo. E nem imaginava Paulo Guedes que, de fato, ele estaria por trás do próximo presidente. Outro, aliás...
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TROCA DE PLANTÃO
O hospital Albert Einstein, em São Paulo, já está se preparando para os novos tempos. Com o governo JAIR BOLSONARO, tudo indica que a procura por tratamentos do alto escalão político deve desembocar lá – onde o presidente eleito passou por cirurgia e se tratou com o doutor Antonio Luiz Macedo, após o atentado sofrido durante sua campanha. Nos tempos do PT, o Sírio-Libanês era o hospital dos poderosos – e de Lula.
FOTOS FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL; JOÃO MIGUEL JR/TV GLOBO; FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL/ REPRODUÇÃO INSTAGRAM; ISTOCKPHOTO.COM; PAULO FREITAS; DIVULGAÇÃO
UM OU OUTRO
ONDAS MÉDIAS
Médico dos presidentes, saxofonista amador, homenageado por Gilberto Gil e... youtuber. ROBERTO KALIL FILHO está em todas as ondas e agora nas cibernéticas. Ele acaba de lançar um canal no YouTube para conscientizar o público sobre cuidados com a saúde cardiovascular e bem-estar geral. “Vou conversar com a população sobre o que é importante para se ter uma boa saúde, esclarecendo também dúvidas enviadas pelo público”, contou. O Canal do Dr. Kalil aborda desde cuidados básicos com a alimentação e atividade física até assuntos mais complexos, como infarto, arritmias, AVC (acidente vascular cerebral) e outros. Tudo de uma maneira simples, didática e com informações seguras, que já são as marcas do especialista.
HOTSPOT
Uma pequena sala que no passado ficou famosa no mercado financeiro tem dado o que falar nos últimos tempos. Dela já saíram dois nomes da equipe econômica de Jair Bolsonaro. A história remete aos anos 1990, quando o banqueiro Luiz César Fernandes (perfilado na PODER #19, em setembro de 2009), um dos fundadores do BTG Pactual ao lado de Paulo Guedes, convidou alguns nomes seniores do mercado que estavam autônomos na praça para gerar bons negócios para o banco. O problema é que não havia uma sala disponível no escritório do Pactual para acomodá-los e foi preciso reformar o hall de espera para o time de peso. Assim nasceu a “sala 4”. De lá saíram Rubem Novaes, indicado pelo superministro Paulo Guedes para a presidência do Banco do Brasil, e Pedro Guimarães, que vai para a Caixa Econômica Federal. Há quem diga que outros habitantes da antiga sala de espera do Pactual também estão se preparando para desembarcar no governo. Em tempo: nos anos 1990, Novaes foi indiciado e absolvido no caso Marka-FonteCidam, que levou o banqueiro Salvatore Cacciola à prisão.
EDUCAÇÃO DE PONTA
DENISE AGUIAR e a Fundação Bradesco têm mais um bom motivo para se orgulhar. O edifício de moradia estudantil construído para a escola da fundação no Tocantins venceu o prêmio internacional do Instituto Real de Arquitetos Britânicos (Riba, na sigla em inglês). O projeto, chamado de “aldeia das crianças”, foi desenvolvido por Gustavo Utrabo e Pedro Duschenes, do escritório Aleph Zero, em conjunto com o estúdio do designer Marcelo Rosenbaum. “Foi nossa terceira escola, toda pensada e desenvolvida pelo meu avô [Amador Aguiar]. Ele adorava, tinha um carinho especial pelo lugar”, contou Denise Aguiar, presidente da Fundação Bradesco. O edifício atende alunos dos 13 aos 18 anos, da escola Canuanã, mantida pela fundação na cidade de Formoso do Araguaia.
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3 PERGUNTAS PARA... TAL BEN-SHAHAR, especialista em psicologia positiva, é professor do curso mais popular e concorrido da história de Harvard e autor de best-sellers como Seja Mais Feliz, obra traduzida para 25 idiomas
O que faz de alguma coisa ciência é pesquisa, evidência empírica. É possível ter hipóteses, mas, a menos que sejam rigorosamente testadas, elas não podem ser consideradas científicas. Todos podemos encontrar mais felicidade em nossa vidas se nos basearmos na ciência da felicidade. E a grande chave não é encontrar a felicidade, mas aumentar os níveis dela. Não é um ponto final que alcançamos, mas um caminho que percorremos. Esse é o objetivo final da ciência da felicidade. Inicialmente, o que me interessou em estudar o tema foi minha própria infelicidade. Eu estava indo bem como estudante de graduação em Harvard, era um atleta de ponta [venceu o campeonato de squash nacional e universitário, respectivamente em Israel e nos EUA], tinha vida social, mas estava infeliz. Foi então que percebi que o interno importa mais para os níveis de bem-estar do que o externo e decidi entrar na psicologia.
Depois de estudar psicologia positiva e me beneficiar disso, quis compartilhar o que aprendi com os outros. TRABALHO, TEMPO E FELICIDADE. COMO EQUILIBRÁ-LOS?
Uma das coisas mais importantes a fazer no trabalho é guardar um tempo suficiente para a recuperação. Estar ligado o tempo todo não é útil para o funcionário, tampouco para a organização. Precisamos recarregar nossas baterias psicológicas. Criatividade e produtividade, na verdade, diminuem quando não há tempo para recuperação ao longo do dia (pelo menos 15 minutos de inatividade a cada uma ou duas horas), semana (ao menos um dia de folga) e ano (férias reais uma vez a cada alguns meses).
-las leva à frustração e infelicidade; lição 2: felicidade está na intersecção entre prazer e significado. Seja no trabalho ou em casa, o objetivo é se envolver em atividades que sejam pessoalmente agradáveis; lição 3: tenha em mente que a felicidade depende de nosso estado de espírito, não de status ou da conta bancária; lição 4: lembre-se da conexão mente-corpo. O que fazemos – ou não fazemos – com nosso corpo PODE NOS DAR ALGUMAS DICAS SIM- influencia nossa mente. O exercício regular, o sono adequado e hábitos PLES PARA COMEÇAR A ABORDAR alimentares saudáveis levam à saúESSA FELICIDADE? de física e mental; lição 5: expresLição 1: dê a si mesmo permissão para ser humano. Quando aceitamos se gratidão, sempre que possível; lição 6: priorize relacionamentos. A emoções – como medo, tristeza ou ansiedade – como naturais, estamos maior fonte de felicidade pode ser a mais propensos a superá-las. Rejeitá- pessoa sentada ao seu lado.
ANTENADOS
A engenhoca mais procurada pelos brasileiros endinheirados que têm apartamento em Miami é uma pequena caixa capaz de transmitir a programação completa de todos os canais de televisão brasileiros, em tempo real. O motivo de tamanho sucesso? Os envolvidos na Lava Jato com imóvel na cidade não querem receber as más notícias com delay. Querem, sim, é ficar bem espertos e receber as novidades a tempo de poderem se preparar para fugir. Ou de poderem negociar a prisão.
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FOTOS GETTY IMAGES; ISTOCKPHOTO.COM; DIVULGAÇÃO
FELICIDADE É UMA CIÊNCIA?
ÁRVORE DA VIDA
Mesmo com a saída da cadeia – agora vive em prisão domiciliar –, as coisas não melhoraram nada entre MARCELO ODEBRECHT e seu pai, Emílio Odebrecht. Quem circula em torno da família percebe que o clima entre os dois continua tão tenso quanto antes.
EM DEZEMBRO E JANEIRO, A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO... SENTAR no novo balcão do
COMPRAR uma boa máscara e um snorkel para
restaurante Jun Sakamoto, que comemora 18 anos, e provar alguns dos sushis mais incríveis do planeta
mergulhos descompromissados nos mares por aí
SURPREENDER alguém com
um presente que faça realmente a diferença: um livro raro, uma fotografia, uma árvore já crescidinha… LER as memórias da ex-primeira-dama
Michelle Obama. Em menos de um mês, Becoming – A Minha História, vendeu mais de 2 milhões de cópias e se tornou o best-seller do ano
SONHAR com o Cullinan, o primeiro SUV da
Rolls-Royce – o modelo high-end é tido como o mais luxuoso e caro da categoria, com preço acima dos R$ 3 milhões
CRIAR uma trilha sonora para acompanhar o clima do verão VER o mural que a artista plástica Nina Pandolfo acaba de pintar na badalada Lincoln Road, em Miami – um dos destaques da Art Basel, a obra ficará exposta lá por um mês
VISITAR virtualmente a histórica Biblioteca de Alexandria e outras tantas na exposição imersiva A Biblioteca à Noite, concebida pelo diretor canadense Robert Lepage e a Companhia Ex Machina. No Sesc Paulista CONSULTAR um(a) astrólogo(a) e descobrir o que os astros reservam para 2019 ACOMPANHAR os passos de Morena Nascimento,
bailarina e coreógrafa, no espetáculo Um Jeito de Corpo – Balé da Cidade Dança Caetano, no Theatro Municipal, em São Paulo
PRESENTEAR um amigo com um bom livro de
poesias nos 100 anos da morte de Olavo Bilac
APROVEITAR o verão nas sunset
parties da Casa Glamurama, em Trancoso, Bahia
ASSISTIR ao seriado A Amiga
Genial, baseado no livro de Elena Ferrante, na HBO. A crítica tem sido generosa
“O amor não tem cura, mas é o único remédio para todas as doenças” LEONARD COHEN com reportagem de dado abreu PODER JOYCE PASCOWITCH 15
Ricardo Bechara, o jovem diretor de expansão que toca a operação brasileira da Rappi
18 PODER JOYCE PASCOWITCH
DOIS PALITOS
TUDO DOMINADO
Rappi cresce aceleradamente no Brasil e já tem valor de mercado de US$ 1 bilhão. Plataforma digital criada na Colômbia se espelha nas chinesas para tentar resolver várias demandas do usuário, desde fazer as compras do mês no supermercado a desbloquear um patinete. O famoso delivery que vai muito além do cheesebúrguer e do yakisoba é, pelo jeito, só o começo por paulo vieira fotos roberto setton
E
la está só há um ano e meio no Brasil, mas parece muito mais. Alguns minutos, talvez segundos, numa rua ou numa avenida das 11 capitais e outras quatro cidades do interior paulista onde atua já são suficientes para ver passar um punhado de ciclistas e motociclistas com a inconfundível “bag” laranja com aquele estranho bigode branco estilizado no verso. Plataforma digital de delivery fundada na Colômbia, em 2015, a Rappi, ao entrar no Brasil, teve de enfrentar uma concorrência já bem estabelecida. Mas mesmo com iFood (do grupo brasileiro Movile), Uber Eats (do Uber) e Loggi por aqui, a Rappi vem fazendo a rapa. Contou muito no sucesso da empresa no Brasil, que cresce à razão de 30% ao mês segundo Ricardo Bechara, diretor de expansão e hoje principal figura da operação tapuia, os diferentes “verticais” com que a Rappi atua. Pois não haveria novidade nenhuma em entregar ao PODER JOYCE PASCOWITCH 19
FOTOS DIVULGAÇÃO
consumidor – “usuário”, como Bechara prefere – cheesebúrguer ou sushi. Com seus “shoppers”, que fazem ponto nos supermercados, a Rappi faz compras para o usuário, com graus variados de complexidade, no Pão de Açúcar, Extra, Mambo, nas refinadas Casa Santa Luzia e Quitanda e no centro gastronômico Eataly; vai de madrugada às farmácias das redes RaiaDrogasil e outras; pega na última hora em lojas de conveniência as bebidas que faltaram para a festa. Mais ainda, entrega “qualquer coisa” – nome, aliás, de uma das categorias do app. De cigarro a presentes, passando por dinheiro, documentos ou a chave de casa esquecida na mesa do escritório, a Rappi quer fazer esse “corre” pra você. Não só esse corre, aliás. Ou, melhor dizendo, a Rappi não quer fazer só corres. Seguindo a trilha já aberta na Colômbia, soluções de pagamento e mobilidade já podem ser encontradas no app brasileiro. Se não dá para cravar que o delivery era apenas uma cabeça de ponte para a conquista de outros territórios, é de se esperar que esses novos “modais” tragam parte significativa da receita da operação brasileira da empresa. Embora tenha sido marombada no Vale do Silício, num desejado programa da aceleradora Y Combinator, em 2016, é nos apps das empresas chinesas, que tentam reunir num só ambiente todas as soluções para as demandas do usuário, que a Rappi se inspira. É um modelo apropriado para locais em que ter um único aplicativo com múltiplas funções é melhor que contar com uma dezena deles. Esse “superapp” faz sentido em países e continentes mais pobres, como a América Latina, onde grande parte da população opta por smartphones mais baratos, com capacidade reduzida de armazenamento – a cada app baixado, um monte de fotos tem de ser limado. Assim, além do delivery, o app da Rappi já permite executar o RappiPay, que, à maneira dos “pays” da Apple e da Samsung, faz pagamentos pelo celular por meio da leitura de um QR code, além de transferências a partir de um cartão de crédito pré-cadastrado para que amigos possam “meiar” uma conta; e, da mesma maneira como faz a empresa Yellow, o app da Rappi desbloqueia patinetes elétricos – neste caso os da mexicana Grin, que acaba de entrar no Brasil numa associação com a local Ride. “O objetivo da Rappi é resolver num único app os problemas de mobilidade e de tempo das pessoas, como um assistente pessoal. Acho que isso dá certo em cidades de trânsito caótico e onde PODER JOYCE PASCOWITCH 21
seus moradores valorizam a hiperconveniência”, disse Bechara a PODER na sede brasileira da Rappi, em São Paulo. A ideia é que as pessoas “salvem tempo”, como diz o executivo, ao terceirizar a ida ao supermercado, por exemplo. Para resolver esses problemas da população é preciso, contudo, de muito metal sonante, e a forma tradicional de financiamento dessas plataformas, à parte as diversas rodadas de investimentos estrangeiros, é jogada nas costas dos “parceiros”, os estabelecimentos visitados pelos entregadores da Rappi. E aqui a lei da selva, melhor dizendo, a lei do mercado, impera. Para ter seus shoppers no Pão de Açúcar, eles têm de ficar de fora do Carrefour (o Mambo, tudo bem – por enquanto). Como disse Bechara, “a Rappi quer os melhores, não todos”; por outro lado, a plataforma chega a oferecer uma espécie de consultoria técnica aos estabelecimentos parceiros, visando um aumento de receita geral do cliente – o que acabaria, claro, por beneficiar também os negócios do delivery. O interesse em crescer e fidelizar os usuários nesse “modal” fez com que o app criasse um serviço de assinatura, outra exclusividade da Rappi: por R$ 19,90 ao mês, o Rappi Prime oferece fretes gratuitos ilimitados para compras acima de R$ 20. Há algumas restrições: as entregas têm de ser feitas num raio de até 4 quilômetros e, caso elas se enquadrem na categoria “qualquer coisa”, há valores a ser acrescidos. PRECARIZAÇÃO Como o Uber, Airbnb ou outras empresas símbolo do mundo digital e da nova sociedade compartilhada, a Rappi não põe a mão na massa – nenhum de seus entregadores é seu funcionário. O custo de manutenção de motos, bikes e outros veículos utilizados nas entregas também não diz respeito à companhia. Para prestar serviço para a Rappi, os entregadores precisam ser microempreendedores individuais (MEI). Assim, a companhia se livra de custos trabalhistas e previdenciários e da responsabilidade em caso de acidentes de seus condutores. Pela “bag” que levam às costas os “boys” pagam R$ 60, mas não precisam fazer o desembolso no ato de retirá-la. A propósito, em novembro, um grupo de motoboys paulistanos chegou a ensaiar uma paralisação em protesto contra a redução do valor do frete da Rappi (box acima).
22 PODER JOYCE PASCOWITCH
VIDA LOKA MAIS LOKA
Ser um “vida loka” (“vida louca”), como se autodefinem dez entre dez motoboys do Brasil em alusão aos perigos da profissão, está um pouco mais desafiador no século 21. Com o advento da economia compartilhada, direitos trabalhistas e indenizações decorrentes de acidentes viraram coisa do passado. Um quadro preocupante quando se sabe que um terço das mortes em acidentes de trânsito do país é de motociclistas – motoristas representam 24% e pedestres, 21%. Como esses dados são de 2016, ainda não contemplam a entrada dos cerca de 16 mil motoboys e bikers da Rappi nesse “ecossistema”. Um número de profissionais ainda tímido, é verdade, se comparado ao da iFood, maior plataforma digital de delivery do Brasil, que tem 120 mil entregadores. Mas foram os motoboys da Rappi que fizeram uma manifestação em novembro, na avenida Paulista, contra os novos valores do frete. Que ficaram mais baixos, segundo o porta-voz dos motoqueiros, em entrevista ao portal G1. Na área de comentários do portal, demonstrando solidariedade com a categoria, o internauta Clodoaldo Neto escreveu: “Manda nois abri Emei (sic) pra não te vínculo trabalhista – é Brazil”.
Novos tempos esses do chamado trabalho “precarizado”, em que pagamentos de férias e 13º salário e de outros direitos adquiridos no século 20 viraram pó. Caso precisassem assumir esses custos, Uber, Rappi, iFood et caterva certamente não virariam os potentados que hoje são. A Rappi, com efeito, é o mais novo “unicórnio”, como são chamadas as companhias que alcançam valor de mercado de US$ 1 bilhão sem precisar lançar mão de IPO, a atuar no Brasil. Aqui ela segue os passos do Nubank (cofundada, por coincidência, por um colombiano, o atual CEO David Vélez) e à 99Taxis, vendida ao conglomerado chinês Didi Chuxing. Para ganhar seu desejado chifre, a Rappi contou com investidores de peso, como o fundo americano Sequoia e a alemã Delivery Hero, curiosamente uma concorrente da Rappi na Colômbia. CENTRO ACADÊMICO O status de unicórnio não teve o condão de tirar a sede da Rappi de seu QG histórico, que ocupa três andares de um prédio entrado em anos no Itaim Bibi, em São Paulo. Seus mesões coletivos e as folhas sulfite com mensagens motivacionais presas à parede exalam um ascetismo comovente, que até poderia evocar as primeiras entrevistas coletivas do presidente elei-
to em sua casa caso não houvesse tanta gente jovem trabalhando – a idade média dos funcionários é de 26 anos. O escritório da Rappi está mais para sede de centro acadêmico do que de empresa pujante da nova economia. Se há pufes e mesas de sinuca por lá, elas estavam bem longe do campo de visão da reportagem. Deu, contudo, para ver afixada na parede a seguinte frase, traduzida aqui do inglês: “Faça acontecer. Choque todo mundo”. Essa falta de afetação – a crer que não seja afetação a falta dela – pode estar ligada à curtíssima história da empresa no Brasil. Mesmo a frase citada, muito pare-
cida com um mantra que o Facebook renegou em 2014 – “seja rápido e quebre as coisas” –, trai a juventude dos executivos no Brasil, que, contudo, têm rodagem razoável no empreendedorismo digital. O paulistano crescido em Ribeirão Preto Ricardo Bechara, 30 anos, e Bruno Nardon, ex-country manager e agora “advisor” da Rappi, trabalharam juntos na Rocket Internet, fundo de investimentos e incubadora de startups. Pela Rocket o duo criou e consolidou no Brasil os varejos de roupa Kanui e Tricae, que ficaram sob os cuidados de Nardon, e o e-commerce pioneiro de móveis Mobly, tocado por Bechara. Na Rappi brasileira ainda figura PODER JOYCE PASCOWITCH 23
“O objetivo da Rappi é resolver num único app os problemas de mobilidade e de tempo das pessoas, como um assistente pessoal. Acho que isso dá certo em cidades de trânsito caótico, onde seus moradores valorizam a hiperconveniência” em posição de comando o colombiano Juan Zarruk, que, no ano passado, ainda na matriz, liderou a implantação do RappiPay e do serviço Rappi Prime. Bechara, que se formou em administração na Universidade Federal de Viçosa (UFV/MG) e fez pós-graduação em varejo na FIA de São Paulo, leva uma vantagem competitiva em seu negócio: entende de programação. Também domina o léxico básico do neoempreendedorismo. Para ele, por exemplo, liderança é “estabelecer de forma clara onde se quer chegar e distribuir responsabilidade e sentimento de pertencimento ao time”. Como é comum no seu metiê, não revela com precisão nenhum dado relevante, notadamente aqueles que lhe dizem respeito, os do mercado brasileiro. Sintomaticamente, durante a entrevista consultou a assessora de imprensa sobre o que deveria ou não falar. Eis uma seleta do que a Rappi brasileira lhe permite veicular – advertência: não é preciso tirar as crianças da sala: a) depois da Cidade do México e Bogotá, São Paulo é a terceira cidade mais relevante entre os sete países da
24 PODER JOYCE PASCOWITCH
operação mundial da Rappi – além do Brasil e da Colômbia, México, Argentina, Peru, Chile e Uruguai. Mas a capital paulista é onde o negócio cresce mais rápido; b) pouco menos de um quarto dos 3,6 milhões de usuários no mundo, cerca de 800 mil pessoas, estão no Brasil, onde atuam 16 mil entregadores ativos; c) estabelecimentos parceiros são “milhares”, ainda que possam também ser “dezenas de milhares”. Outro número desembargado é o do “pace” de pedi-
dos da operação global, 11 mil por hora ao fim de 2018. O Brasil é mercado mais do que crítico, por ter a maior população entre os sete países em que a Rappi opera e ostentar uma utilização massiva de smartphones. Além disso, só o negócio de delivery dos restaurantes mensurados pela Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) movimentou R$ 10 bilhões em 2017. Está no escopo da Rappi abocanhar parte dessa receita, claro, mas os vetores de crescimento estão em mui-
tas outras frentes. E eles nem sempre passam pelos estabelecimentos parceiros, que hoje sustentam o negócio. As transações do RappyPay via QR code, por exemplo, podem – devem – vir a ser feitas até nos pontos que hoje não integram o serviço de delivery da Rappi. A ambição da Rappi não é pequena. De certa forma, ela quer se tornar aquela bolacha famosa do pacote, ou, em termos menos metafóricos, o aplicativo indispensável do seu smartphone. n PODER JOYCE PASCOWITCH 25
Com o conceito Make History, a especialidade da Jeep é possibilitar experiências aos clientes que acabam culminando em novas histórias de vida. É uma marca que faz parte da trajetória de seus donos. Foi assim na 30ª edição do Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, no estande em que o público pôde se aventurar em uma parede de escalada de 5 metros de altura, ou aproveitar para fazer uma tatuagem no estúdio instalado no local. Até o Jeep Compass ganhou uma tattoo. Aliás, o upgrade que o Compass ganhou com a série S, traz ao SUV mais querido do país um pacote de direção semiautomática de fábrica. E, claro, continua pronto para encarar qualquer terreno! Com a ideia de olhar para o futuro, sem se esquecer
das conquistas do passado, a Jeep levou para o evento 23 modelos nacionais e importados, com destaque para a edição numerada do Renegade Willys, que vem acompanhada de um kit com jaqueta – também numerada – e um cantil térmico. Os itens exclusivos vêm dentro de uma maleta em formato de galão de gasolina. A marca aparece com outra novidade, o Jeep Nation, um clube de relacionamento e vantagens com o intuito de fidelizar ainda mais os clientes. “Há quatro anos a Jeep apresentava no Salão do Au-
FOTO BRUNA GUERRA
MAIS DO QUE CARROS
PODER INDICA
tomóvel o Jeep Renegade, que reinventou o segmento de SUVs compactos. Em 2016, apresentamos o Jeep Compass, modelo que solidificou a marca na liderança do mercado de SUVs e há mais de um ano é o utilitário esportivo mais vendido do país. Agora, mais uma vez, trouxemos novidades como o Renegade Willys e o Compass S, além de oferecer experiências para os visitantes e convidados que passarem pelo evento para criarem suas próprias histórias”, diz João Ciaco, head of brand marketing communication FCA Latam.
DETOX DIGITAL
TERAPIA DO OFF
Em livro, cientista da computação e pioneiro do Vale do Silício Jaron Lanier propõe que as pessoas abandonem as redes sociais para se tornar menos infelizes, conseguir recuperar o livre-arbítrio e, quem sabe, manter a dignidade econômica POR PAULO VIEIRA
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Q
ue as mídias sociais viciam, dispersam, enfurecem – às vezes enternecem – e mobilizam, não é novidade. É possível até que um ou outro amigo virtual seu tenha reportado uma vida mais tranquila após se exilar voluntariamente do Facebook ou do WhatsApp. É improvável, contudo, que você tenha sido confrontado com uma crítica tão ácida às mídias sociais como a desferida pelo americano Jaron Lanier, um pioneiro do Vale do Silício dos anos 1980, quando certo espírito hippie ainda embalava as garagens e as companhias nascentes de tecnologia que viriam a dominar o mundo. Cientista da computação e músico, em seu quinto e mais recente livro, Dez Argumentos para Você Deletar Agora Suas Redes Sociais (Ed. Intrínseca), esse sujeito que ajudou a desenvolver a realidade virtual e dá plantão na Microsoft com seus enormes dreadlocks vai muito além da constatação de que seus – digo, nossos – dados pessoais estão bastante vulneráveis nas redes, motivo suficiente, aliás, para ficar com as barbas de molho. Para ser breve, Lanier diz que as mídias sociais acabam com seu livrearbítrio, não querem que você tenha “dignidade econômica”, “odeiam sua alma”, espalham infelicidade. Mesmo assim, ele propõe que o rompimento com Google, Facebook, Twitter, Instagram e WhatsApp não seja definitivo: um tempo de “seis meses” já é adequado para refletir se a vida fica melhor ou não. Um efeito benéfico disso para todo o ecossistema é que, se muitos fizerem essa parada, a indústria que “retira mais informação do usuário do que dá” talvez possa ser compelida a fazer um “reset”. O autor vê uma saída honrosa para ela, a indústria, em modelos como o da Netflix, que de alguma forma quebra o paradigma de que a tigrada só se interessa por conteúdo grátis na internet.
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DOPAMINA
As redes sociais viciam e, fisiologicamente, fazem o cérebro trabalhar da mesma maneira que cocaína, jogo ou açúcar para quem é dependente disso. A base do negócio é a dopamina, o neurotransmissor ativado pelos likes que sua postagem recebe. E a dopamina, como disse, em 2017, Sean Parker, ex-presidente do Facebook, num depoimento recolhido por Lanier no livro, é o que deve ser oferecido em “pequenas doses
“Precisamos lhe dar uma pequena dose de dopamina, porque alguém deu like ou comentou (...) Só Deus sabe o que [o Facebook] está fazendo com o cérebro de nossos filhos” SEAN PARKER, EX-PRESIDENTE DO FACEBOOK
de vez em quando”. “Isso é um circuito de feedback de validação social (...) exatamente o tipo de coisa que um hacker como eu inventaria, porque explora uma vulnerabilidade na psicologia humana.” O depoimento de Parker, que ganhou certa notoriedade especialmente pela passagem “Só Deus sabe o que [o Facebook] está fazendo com o cérebro de nossos filhos”, se junta a de outros críticos da indústria, como o de Tristan Harris, ex-Google, para quem “nossas escolhas não são tão livres como pensávamos que eram”. Pelo sim, pelo sim, como observa Lanier, muitas crianças do Vale do Silício vão a escolas Waldorf que “em geral proíbem aparelhos eletrônicos”. O autor faz analogias entre as experiências behavioristas – como a famosa estratégia pavloviana de despertar a salivação em cães a partir de um estímulo condicionado, anterior à comida – com o trabalho dos algoritmos que prescrutam e modulam nossas movimentações nas redes sociais. “O algoritmo tenta capturar os parâmetros perfeitos para manipular um cérebro.” Não por acaso, Lanier contextualiza, os precursores da “exploração entre matemática e cérebro humano” foram os criadores das máquinas de jogos de azar digitais. Que de vez em quando “reclamam de como as redes sociais roubaram suas ideias e ganharam mais dinheiro”. O problema, ou melhor, um dos problemas, é que “emoções negativas, como medo e raiva, vêm à tona PODER JOYCE PASCOWITCH 29
O QUE AS REDES SOCIAIS TIRAM DE VOCÊ (OU DO MUNDO), SEGUNDO JARON LANIER
1. Livre-arbítrio 2. Sanidade 3. Decência 4. Verdade, objetividade, realidade – ou algo em que um dia foi possível confiar 5. Inteligibilidade 6. Empatia 7. Felicidade 8. Emprego 9. A possibilidade de uma política institucional que não seja terrivelmente suja 10. A posteridade 30 PODER JOYCE PASCOWITCH
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O autor Jaron Lanier, as sedes do Google e do Facebook, “monopólios globais” que “retiram mais do que dão”, e Trump, beneficiário da “irritação” que alimenta as redes
mais facilmente e permanecem em nós por mais tempo do que as emoções positivas”. E se isso “já é verdade no mundo real, ainda mais à luz dos algoritmos”. É fácil chegar à conclusão que todo o conforto para a autoestima que uma consagração no Facebook ou no Instagram pode trazer não vale o risco de um linchamento virtual – com suas consequências funestas –, e esse mesmo princípio vale para os mundos corporativo e institucional (o da política): destruir reputações é bem mais fácil que construí-las. Tudo isso, alguém pode contraargumentar, já existia antes da internet, mas o modelo de financiamento por publicidade da rede modificou radicalmente a experiência, já que os “monopólios globais” passaram a oferecer a seus financiadores dados dos consumidores (nós!) para que assim possam cada vez mais otimizar essa publicidade. Numa entrevista à Folha de S.Paulo, Lanier foi lapidar. “Toda informação tirada de você é usada para mudar sua experiência on-line e criar uma sistemática que te prenda. Isso é chamado de engajamento. Chamo de vício. É quase como vício em jogo, há busca por satisfação, e a punição é severa.” Apesar de afirmar no livro a ideia de que ainda é possível mudar o atual estado das coisas, o autor encerra seus argumentos com o mais metafísico e sinistro deles. Ao colher uma dessas declarações de missão do Facebook, em que a empresa obriga-se a garantir que “cada pessoa tenha um senso de propósito e comunidade”, Lanier comenta: “Uma única empresa vai assegurar que cada pessoa tenha um propósito, porque presume que antes não tinha. Se isso não é nova religião, não sei o que é”. n
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CURADORIA DE DESEJOS O verão está chegando e com ele os dias ensolarados e quentes. E para curtir tranquilamente a estação mais amada do ano, a Sunglass Hut criou a House of Sun, uma curadoria de óculos de sol antenada nas melhores fashion trends das últimas décadas. Afinal, não existe modelo certo ou errado. Se um dia existiu uma regra afirmando que tal formato de rosto exigia tal modelo de armação, ela se extinguiu, perdeu a validade. O que a House of Sun faz é auxiliar o cliente a entender o próprio estilo e quais são seus desejos de consumo; a partir daí existe uma extensa gama do acessório, dividida por décadas. E, sim, é permitido viajar no tempo, sem medo!
LINHA DO TEMPO Nos anos 1970, os modelos ovais e redondos foram eternizados por ícones do rock, vide Janis Joplin e John Lennon. A década seguinte ficou marcada pelas lentes amplas dos máxi por ícones de estilo como Jackie Onassis e Audrey Hepburn. Depois eles encolheram, ficaram fininhos como o modelo utilizado por Keanu Reeves em Matrix. Os anos 2000 foram marcados pelo estilo clubber com suas lentes coloridas e transparentes. E agora a tendência é o metal mania. A Sunglass Hut está presente nas principais capitais do país com formatos mil, das marcas desejo que fazem sonhar, tais como Prada, Dolce & Gabbana, Emporio Armani, Versace e Ray-Ban. + @SUNGLASSHUT | SUNGLASSHUT.COM/BR/
FORO
ANDRÉ DE ALMEIDA As pedaladas do ex-ciclista profissional que impetrou a “maior ação do mundo” contra a Petrobras, na Justiça de Nova York, conseguiu fechar o “quinto maior acordo da história” – US$ 3 bi (!) – , ajudou a derrubar o governo de Dilma Rousseff e quer ser lembrado como o homem que salvou a companhia POR FÁBIO DUTRA FOTOS PAULO FREITAS
“N
ão podemos confirmar nem negar que este seja nosso primeiro tuíte.” Assim a CIA, a agência de inteligência do governo dos Estados Unidos, inaugurou a conta institucional que mantém até hoje no Twitter, numa brincadeira com a frase clássica usada sempre que há indagações sobre sua misteriosa atuação mundo afora. O advogado André de Almeida nega que tenha qualquer ligação com a entidade, como já foi diversas vezes acusado pela esquerda brasileira, mormente aquela organizada no Partido dos Trabalhadores (PT). “CIA pra mim é coisa de filme”, garante, com uma veemência que destoa da comunicação oficial dos espiões. Mas ter tomado a iniciativa de impetrar uma class action contra a Petrobras em Nova York para ressarcir as perdas dos investidores gringos que detinham ações da estatal petrolífera negociadas na bolsa de valores de lá, combinado com o fato de ter morado e trabalhado nos Estados Unidos, tendo sido funcionário da Organização dos Estados Americanos, a OEA, e presidente da FIA, a Federação Interamericana de Advogados, formou o caldo que os petistas queriam para tachá-lo de agente do imperialismo. Ele dá de ombros: “Tenho uma ação para que a Petrobras pague
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o mesmo aos acionistas brasileiros por uma questão de equidade, já que voluntariamente entrou num acordo na Justiça de Nova York e não seria razoável os nacionais não serem devidamente indenizados aqui também”, defende-se. Foi acertado o pagamento de US$ 3 bi em três anos – a primeira parcela já foi quitada. Os advogados costumam ficar com 20% desses valores nesse tipo de ação. Apesar de ter sido o provocador da demanda, a praxe é o juiz escolher o escritório a ser o titular da ação conforme o tamanho das perdas do cliente que representa, e Almeida acabou preterido. Entretanto, por ser brasileiro e por conhecer o assunto numa profundidade incomum, conseguiu fazer um acordo para entrar na espécie de consórcio de causídicos que lograram convencer a empresa a assinar um acordo. Ele faz mistério quanto à parte que lhe coube nesse latifúndio, mas admite que recebeu um bom
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quinhão. “Trabalhar de graça nem relógio...”, ri. A trajetória desse belo-horizontino, nascido por acidente em Salvador, onde viveu apenas seus primeiros quatro dias na Terra, é bastante incomum. Sua vida profissional começa no esporte, mais precisamente no ciclismo de estrada. Apesar de ser torcedor fanático do Atlético Mineiro, nas disputas individuais era extremamente bem-sucedido, tendo vencido praticamente tudo que disputou, no Brasil e lá fora. Tudo começou como uma brincadeira pedalando com os amigos na avenida Bandeirantes, famosa em Belo Horizonte pela pista de cooper que reúne os atletas locais, até que foi recrutado para a equipe de ciclismo montada por um professor polonês da faculdade de educação física da UFMG. Leszek Szmuchrowski logo viu talento no garoto e o recomendou a uma equipe de Varsóvia, para onde ele se mudou aos 17 anos. Ficou lá
até os 19 – “fui adolescente e voltei homem” – e após breve período em casa se mudou para Atenas e depois para a Bélgica. Um trauma acabou com o sonho ciclístico: no campeonato mundial disputado em Atenas, em 1992. houve um tombo no pelotão e ele foi engolido pelo boliche humano quando acreditava que reunia todas as condições de sair vitorioso. Resultado: nunca mais quis subir numa bicicleta e voltou à terrinha para estudar Direito na PUC Minas. De lá, pós-graduação nos EUA, quatro anos trabalhando por lá e a volta, dessa vez para São Paulo e para abrir seu próprio escritório. “Hoje eu não sou mais mineiro, sou do mundo...”, conclui. Mesmo assim, achou tempo na concorrida agenda (depois da Petrobras o telefone do seu escritório, que já era bem requi-
nem a confederação se deram ao trabalho de responder, e a final foi transferida para o estádio Santiago Bernabéu, em Madri – o que rendeu o apelido, dado pela imprensa argentina, de Copa Colonizadores da América à edição 2018 do torneio continental. Aos 44 anos, André de Almeida nitidamente ainda é muito ligado ao esporte. Ele chega para almoçar conosco n’A Figueira Rubaiyat da rua Haddock Lobo, nos Jardins, em São Paulo, e essa é a primeira impressão que surge ao ver a figura alta e magra, aquele perfil de maratonista e atleta de alta performance que é moda entre os grandes executivos por aqui desde os anos 1990 pela influência do então onipresente na imprensa Abilio Diniz, e que hoje é quase um dever-ser entre os yuppies mundo afora. Ele confirma, conta que já correu várias maratonas, malha forte todo dia, entre corrida e natação – preferida atualmente por não ter impacto e ser mais difícil se lesionar –, e toma dois cafés da manhã por dia – às 6h, com as filhas, e às 8h e pouco depois da maromba e antes de seguir ao escritório, onde chega às 9h e sai sabe-se lá deus que horas. Também já jogou muito futebol e ainda hoje faz parte de uma equipe que disputa o campeonato interno do Clube Pinheiros, mas não entra em campo, fica ali na torcida e está sempre presente nos churrascos pós-jogo. Pelo regulamento, esses
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“Eu não quero ser lembrado como quem destruiu, mas como o homem que salvou a Petrobras” sitado para grandes contenciosos societários, é bom que se diga, não para de tocar) para escrever à Conmebol, com cópia para a diretoria do Atlético Mineiro, sugerindo que seja cancelada a final da Copa Libertadores da América deste ano, entre os argentinos Boca Juniors e River Plate, por conta dos episódios de violência que pipocaram no noticiário, e em seu lugar seja organizado um rápido torneio quadrangular – pentagonal, se optarmos pelo preciosismo – entre os cinco últimos campeões, qual sejam, Corinthians, Atlético Mineiro, Grêmio, Atlético Nacional e o próprio River. Nem o clube,
esquadrões devem levar o nome dos times profissionais que disputam o Brasileirão e ele, talvez por ser advogado e apaixonado pela profissão, escolheu fazer parte do Fluminense. Cioso da saúde, ele diz que “vai mais leve” ao escutar, cardápio em mãos, a picanha escolhida por um dos comensais presentes e pede um peixe do dia com salada. Desiste ao descobrir que naquele dia era salmão e muda prum bife de chorizo. E com arroz biro-biro. Nada xiita, característica que também demonstrou ao comentar política e processos ao longo da conversa. Em meio ao comando de um escritório com filiais em cinco cidades e quase 200 advogados, peladas no clube, rotinas de pai coruja, dois cafés da manhã por dia, entrevistas e cartas jocosas a confederações de futebol, Almeida ainda arrumou tempo para escrever um livro. Ele acaba de lançar A Maior Ação do Mundo, em que narra de um ponto de vista pessoal e acessível aos não iniciados na novilíngua jurídica o passo a passo da class action contra a Petrobras desde a ideia inicial até a briga pela liderança da ação e o convencimento do juiz a aceitá-la, entremeando narrativas sobre sua trajetória numa espécie de autobiografia. Agradável e elucidativo, é leitura fundamental para quem se interessa pela questão da estatal que protagonizou a vida política nacional nos últimos quatro ou cinco anos. É possível notar ali a razão principal de os escritórios terem aceitado que ele continuasse a fazer parte do processo mesmo o juiz não tendo escolhido seu escritório para liderar: ele conhecia o Brasil e sabia como emocionar o julgador com a contextualização do noticiário PODER JOYCE PASCOWITCH 35
absurdo de ruas tomadas que o titular da corte distrital do sul de Nova York, Jed S. Rakoff, assistia incrédulo. Além disso, foi dele a ideia de arredondar a hiperbólica alcunha de “maior ação do mundo” para que o juiz sentisse que estava fazendo história e, portanto, não rejeitasse de forma alguma o seguimento da ação. O arremate foi a demonstração de que não era um caso como o dos fundos abutres contra a Argentina, quando uma decisão da Justiça americana vinculou o próprio
cional. Almeida foi procurado pela turma do impeachment, capitaneada pela histriônica Janaína Paschoal, professora afastada da Faculdade de Direito do Largo São Francisco – de onde também vieram Michel Miguel Temer, Alexandre de Moraes, Modesto Carvalhosa, Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e tantos outros atores importantes no processo de derrubada do governo Dilma Rousseff em parceria com Eduardo Cunha, Moreira Franco, Romero Jucá e outros caciques do
iniciativa própria, aliás. Flertou com uma candidatura a senador oferecida a ele pelo commander-in-chief do grupo ultraliberal João Amoedo, mas desistiu na cara do gol. Da esquerda e de outros diversos interessados no arquivamento da ação, diz que sofreu todo tipo de pressão. “Parecia novela: ligações anônimas, ocupação do meu escritório carioca pelos funcionários da Petrobras que protestavam contra, corte da internet e do telefone da sede paulista por 14 dias, uma loucura”,
Estado argentino e sua situação fiscal e econômica, mas tratava-se de uma empresa privada que tinha o controle do governo e o Brasil como maior acionista, mais simbólica para nós do que a General Motors ou a Coca-Cola para eles, que havia sido saqueada e o ressarcimento serviria inclusive para salvar sua credibilidade e garantir sua sobrevivência pós-crise. “Eu não quero ser lembrado como quem destruiu, mas como o homem que salvou a Petrobras”, repete, tal qual um mantra, a todo momento. Colou. Pelo menos por lá. Em terra brasilis a “maior ação do mundo” foi gasolina no incêndio na-
poderoso PMDB – por ter sido eleita deputada estadual por São Paulo. Mas preferiu não se manifestar para não politizar e prejudicar o andamento da ação nos Estados Unidos. Tampouco teve qualquer contato com o pessoal da Lava Jato, de quem ele diz não ser fã: “Foram muitas arbitrariedades e ilegalidades para perseguir um ‘fim’ maior, mas essa é a porta de entrada da barbárie, não podemos apoiar esse tipo de condução”, diz, para estupefação geral. O advogado também admite que foi procurado por praticamente todos os políticos de direita antes das eleições deste ano, mas só se aproximou do Partido Novo – por
lembra. André de Almeida admite que teve alguma influência no desenlace do processo de impeachment e no desenlace do sufrágio, mas c’est la vie. Para surpresa geral, ressalvou Fernando Haddad ao relatar detalhadamente toda essa onda contra si: “Acho ele fantástico, ponderado, quase mineiro na maneira de enfrentar as coisas, muito civilizado; não concordo com a ideologia dele, mas ele tem postura e tem lado, o que é bom, ainda mais nesse ambiente fisiológico”. Frederico, filho do presidenciável, aliás, fez uma entrevista de emprego em seu escritório no passado – antes da ação movida em Nova
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Trabalhar de graça nem relógio...”
“Foram arbitrariedades e ilegalidades para perseguir um ‘fim’ maior, mas essa é a porta de entrada da barbárie, não podemos apoiar” York. Ele lembra que entrevistou pessoalmente o rebento de Haddad, teve boa impressão do garoto, mas após algumas perguntas mais delicadas decidiu por não contratá-lo: “Ele não estava preparado para defender o capitalismo”, brinca, sobre o fato de o rapaz ser politizado e firme em suas posições ideológicas. Também é só elogios para Nelson Tanure, a quem chama de “maior gênio do capitalismo brasileiro” (Almeida representa o polêmico investidor que fechou o Jornal do Brasil na briga societária da Oi, empresa de telefonia em recuperação judicial), e vê com bons olhos Paulo Guedes, virtual
ministro todo-poderoso do governo Bolsonaro e famoso por sua visão econômica ortodoxa radical. “Mas esse pessoal do mercado fala muito, agora eles vão ter que entregar...”, reflete. O Congresso é conservador e deve dificultar, mas ele segue vislumbrando bom ambiente para os adeptos do Estado mínimo: “Se ele fizer um décimo do que diz que vai fazer, já tá ótimo”. Pensando bem, está melhor que ótimo. Com a carteira de clientes que tem e o volume de dinheiro prometido por Guedes em suas privatizações, a conta é fácil: negociar a Petrobras é melhor negócio do que processá-la. n PODER JOYCE PASCOWITCH 37
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SUPERCONSUMIDOR Graças às novas tecnologias disruptivas, a relação entre consumidores e marcas tem evoluído de forma espantosa. Possivelmente você não se lembra da última vez em que estendeu o braço para chamar um táxi na rua, por exemplo. Ou ligou para pedir uma pizza. O mesmo é válido para outros tantos setores de consumo e serviços. Essa nova conexão, somada à evolução do mundo
digital por meio da interação da inteligência artificial, sensores onipresentes, dispositivos inteligentes e novas interfaces de computação, está levando o empoderamento e a autonomia do consumidor a um novo patamar, dando origem ao superconsumidor do amanhã. “O aumento de informação disponível faz com que as pessoas se tornem mais exigentes a respeito do que
COMO SERÁ O SUPERCONSUMIDOR DO FUTURO?
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• Irá valorizar mais o tempo do que o dinheiro, utilizando, assim, os meios digitais para satisfazer suas necessidades e consumir as marcas que reflitam seus valores e propósitos. Será cada vez maior o volume de consumidores que vão delegar suas pesquisas e compras para robôs e dispositivos de inteligência artificial.
compram e de como compram, gerando mudanças de comportamento”, diz João Pissutto, sócio-líder da EY na área de Digital Customer. Capacitados, os clientes agora buscam ter contato direto com as marcas, querem ser reconhecidos como indivíduos, terem suas preferências compreendidas, receber conselhos devidamente alinhados aos seus interesses e produtos e
serviços altamente personalizados. “Em resumo, uma nova experiência do consumidor com as marcas e produtos está na linha de frente das agendas dos líderes das organizações”, afirma Pissutto. “A grande tendência”, aponta ele, “é que esse superconsumidor seja, em breve, um fenômeno mundial. Mas ele pode – e deve – se desenvolver em diferentes níveis ao redor do planeta.” Na Ásia, por exemplo, o investimento e a utilização de inteligência artificial aumentaram drasticamente em países como China e Índia – dois dos maiores mercados consumidores do mundo. Nos Estados Unidos e na Europa, a privacidade e a propriedade dos dados pessoais são uma preocupação e consumidores do amanhã poderão optar por gerar receita com suas informações em vez de trocá-las por serviços gratuitos. Contudo, o ritmo acelerado de mudança cria um desafio imediato para as marcas, que devem inovar agora com o superconsumidor do amanhã em mente. A entrega perfeita de experiências agradáveis em campos físicos e digitais, assim como canais e dispositivos diferentes, é o objetivo. E, nesse sentido, o preço de um erro será alto.
• Conscientemente vai limitar o que possui e, em vez de comprar mais e mais produtos, tenderá a assinar serviços que lhe tornem a vida melhor e de acordo com seu estilo de vida. • Negociará o acesso aos seus dados pessoais para conseguir produtos e serviços que lhe sejam convenientes. • Sustentável, balanceará consumo e necessidade. • Considerará aspectos como reputação ética da empresa e rastreabilidade da origem do que consome como critérios para compra. • Levará em conta, cada vez mais, produtos com presença local versus produtos e marcas globais.
“Uma grande transformação está ocorrendo no comportamento e modelos de compra de produtos e serviços e só estamos no início dela”, diz Pissutto. “Muito vai ser exigido das empresas e marcas para enfrentar essa revolução digital e obter o desejado sucesso nesse novo contexto de negócios.” +EY.COM.BR
SECOS & MOLHADOS
UM NOVO JEITO DE COMPRAR Com aumento de mais de 23% nas vendas online mundo afora em 2018, os apocalípticos já declaram o fim da loja física. Mas talvez seja só o caso de se integrar POR CAROLINE MENDES
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N
o Vale do Silício – sempre ele, né? – existe uma loja de brinquedos, a Habbi Habbi, em que nada pode ser comprado e levado para casa. Lá, em vez de ouvirem a cruel frase “não põe a mão!”, as crianças são livres para brincar, testar os produtos, encorajadas pelos pais e pelo estafe a fuçar em tudo. Experimentar. “Tem gente que fica horas aqui e vai embora sem comprar nada, mas isso não é um problema para nós”, afirmam as sócias-fundadoras da loja, Hanna Chiou e Anne-Louise Nieto. Com background de business consultant e, hoje, de mães, elas se inspiraram nos próprios filhos para criar a empresa, que tem um modelo de negócio disruptivo, sustentado por uma estratégia de collective marketing (quando duas ou mais marcas se juntam para se promoverem individual e coletivamente) e um branding para pai millennial nenhum botar defeito. Trocando em miúdos, em vez de comprar brinquedos por um preço xis, mantê-los em estoque e colocá-los à venda por dois xis, Hanna e Anne-Louise fecham contratos com as marcas que interessam a elas – quase todas tecnológicas, cool, educativas, com sedes na Dinamarca, França, Espanha, Hong Kong –, espalham os produtos em um espaço que mais parece uma sala de brinquedos abastada e convidam todos para a brincadeira, literalmente. Convidam também para workshops, palestras, aulas e eventos de todo tipo ligados ao mundo infantil. Se o cliente quiser de fato levar alguma coisa, Habbi Habbi ajuda com a compra do produto diretamente no site da marca em questão. “Nós oferecemos o que sentimos falta no varejo hoje em dia: excelente experiência e descoberta de novas marcas, novos produtos. Tendo isso como prioridade, a conversão da venda vem em segundo lugar – quem disse, aliás, que ela
precisa acontecer na loja? Pode ser mais tarde no celular, no tablet, no desktop, em qualquer lugar. Mesmo se a compra não se realizar, já que confiamos muito na experiência que oferecemos, o cliente vai voltar e aí talvez compre”, acreditam as donas da Habbi Habbi.
FECHADO PARA BALANÇO
De acordo com dados do portal
Statista, 2018 deve fechar com um crescimento de 23,3% nas vendas on-line em todo o mundo; já para a consultoria PwC, que empreendeu pesquisas sobre o tema em quase 30 países em 2017, 59% dos entrevistados afirmaram fazer compras na Amazon e seus primos chineses. Mais relevante, talvez, 14% afirmaram só fazer compras na Amazon. Não é à toa que se fala tanto em Era
Amazon... Se pegarmos os Estados Unidos, aliás, como exemplo, o país que inventou o shopping center viu a Toys “R” Us, maior rede de lojas de brinquedos da história, declarar falência no ano passado e a veneranda Macy’s virar algo próximo de uma atração turística após fechar 100 unidades nos últimos meses. O cenário parece preocupante? Depende do ponto de vista.
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A Habbi Habbi, onde experimentar é o que importa, o modelo “Amazon” e a velha magazine norteamericana Nordstrom
“Dos brasileiros, 89% consideram a experiência na loja um fator muito importante na decisão de compra”
Para Gabriela Neves, sócia e presidente da agência de publicidade Factory 360, sediada em Nova York e focada em marketing experimental, as lojas físicas têm um trunfo que a online nunca – bem, talvez seja melhor nessa seara nunca dizer nunca – terá: gente, olho no olho, oportunidade de conectar o consumidor com o produto para fazê-lo se apaixonar e, ao fim do processo, abrir a carteira ali mesmo. “No fim das contas, somos todos humanos e gostamos do contato direto, de ver, pegar, sentir. A necessidade de uma interação maior ou menor com um produto no momento da compra varia de acordo com a categoria à qual ele pertence, mas, no geral, a experiência sempre foi e sempre será essencial”, afirma, sem deixar de ressaltar que “ir às compras” é uma expressão caduca. Consumir, para ela, vem se tornando
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um processo não linear: “Eu vejo um tênis no pé de um influencer no Instagram, jogo o nome do modelo no Google, vejo em que loja ele está disponível perto de mim, vou até a loja, experimento, gosto, pago com Apple Pay. É uma experiência multidimensional e em plena mudança”, diz.
GERAÇÃO DE VALOR
Sócio da PwC Brasil, Ricardo Neves concorda com Gabriela. Trazendo a discussão para o país, onde um quarto dos consumidores já compra produtos pela internet pelo menos uma vez por semana, Neves vê o varejo off-line tendo de representar um novo papel dentro da chamada “jornada de compra”. “As lojas deixam de ser simples expositoras de produtos e passam a ser um espaço de geração de experiências de marca e também de agregação de valores para os produtos que
vende”, conta. O que está morrendo não são as lojas físicas, ele afirma, mas as “lojas físicas que não estão se mexendo para inovar e atender ao consumidor de uma forma mais personalizada, mais focada em serviço”. No Brasil, segmentos distintos como farmácias, atacarejos e pequenas e médias lojas de departamentos estão crescendo, revela Neves. Isso porque elas vêm investindo em vendas on-line e serviços personalizados, como entrega de produtos em poucas horas e programas de fidelidade, tudo para agradar o cliente – e, dessa forma, manter as vendas em época de crise econômica. “Constatamos que 89% dos brasileiros consideram a experiência na loja um fator muito importante na decisão de compra, e esse é um número muito maior do que a média mundial. Experiência é, sim, tudo”, crava. n
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RICARDO NEVES, PWC BRASIL
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Novo horizonte Em um ano prejudicado pela greve dos caminhoneiros e as eleições mais imprevisíveis dos últimos seis pleitos, o futuro próximo ainda pode ser positivo. Essa é a visão do CEO da BGC Liquidez, Ermínio Lucci, que, em entrevista exclusiva, falou sobre as expectativas do mercado com o novo governo, sua relação com o poder e o Charity Day (CD) – ação criada pela corretora para auxiliar as famílias das vítimas que trabalhavam no escritório do grupo no WTC no trágico 11 de setembro.
FOTO BRUNA GUERRA
QUAL É O SEGREDO DA CREDIBILIDADE DA BGC LIQUIDEZ?
Temos um relacionamento de longa data com nossos clientes. A BGC faz, em 2019, dez anos no mercado brasileiro. Além do profissionalismo da operação local, a BGC globalmente é uma das maiores corretoras de valores do mundo e que inspira confiança. Credibilidade é a base de qualquer instituição financeira. Então, confiança e reputação são ativos que nós prezamos
e viemos construindo no mundo ao longo da nossa trajetória de sucesso. COMO É LIDAR COM O PODER?
O poder não é um fim em si, mas um meio para alcançar objetivos que impactem positivamente, direta e indiretamente, a sociedade e as instituições das quais fazemos parte. E, da porta para dentro, algo que se usa para competir honesta e eticamente e, ao mesmo tempo, um instrumento importante para promover o desenvolvimento pessoal e profissional dos colaboradores e times que fazem parte de uma instituição, seja ela privada ou não. Algo que eu prezo muito, e não é retórica, é que todos são igualmente importantes dentro da empresa, desde a pessoa que serve o café até a mim. DEPOIS DE UM ANO ELEITORAL CONTURBADO, O QUE ESPERAR DO NOVO GOVERNO?
Há um consenso, uma esperança de que o novo governo enfrente os pro-
blemas econômicos financeiros que o país vive há alguns anos e encare a questão fiscal. Pelas nomeações que têm sido feitas no campo econômico, percebe-se que o caminho a ser seguido é um caminho neoliberal, que preza pelo mercado livre e que se preocupa com o equilíbrio fiscal do país. Os ativos hoje no mercado financeiro – juros, câmbio e bolsa – precificam um ano positivo e de crescimento do país em 2019 e tendem a continuar desempenhando positivamente (principalmente a bolsa) durante o próximo ano à medida que o novo governo consiga, efetivamente, implementar a agenda econômica e de reformas proposta durante o período de transição. A BGC TAMBÉM É SOCIAL. PODE NOS CONTAR UM POUCO SOBRE O CHARITY DAY?
O CD teve origem no 11 de setembro, quando a BGC perdeu 658 funcionários e 61 da empresa filiada, a Eurobrokers, na ocasião do atentado das Torres Gêmeas. Isso acabou virando um tema ainda maior de filantropia ao longo do tempo e se estendeu para boa parte dos escritórios da BGC no mundo, que são 27 atualmente. O que fazemos é reverter toda a receita que a empresa arrecada no 11 de setembro, metade vai para as famílias das vítimas e a outra é destinada para instituições de caridades locais. A ação do CD já arrecadou US$ 147 milhões e em 2018 foi um sucesso. +BGCLIQUIDEZ.COM
Malha Versace, colares acervo pessoal
ENSAIO
PESCADOR DE ILUSÕES Ator apenas “nas horas vagas”, Antonio Calloni se diz especialista mesmo em anzóis e nos bons vinhos. E quem sabe no realismo mágico dos escritores latino-americanos, como Gabriel García Márquez, que adora. Ainda bem que ele tem muitas horas vagas, e segue estrelando novela, minissérie, teatro, cinema... por dado abreu fotos maurício nahas styling fernando batista
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ntonio Calloni carrega a experiência de mais de 40 anos de carreira, dezenas de novelas, personagens marcantes, filmes, séries e outras tantas peças de teatro. No entanto, sua ocupação não é dramaturgia. Nunca foi. “Sou ator apenas nas horas vagas. Na verdade me considero pescador e enófilo. São as duas coisas que eu conheço de verdade, o resto eu chuto”, brinca. Dias após filmar a morte de seu personagem em O Sétimo Guardião, novela das 9 da TV Globo, Calloni esteve em São Paulo posando para as lentes de PODER. De sobretudo Burberry, guardava consigo o segredo de Egídio, papel vivido na trama de Aguinaldo Silva que carrega pitadas de realismo fantástico – um dos trunfos para pescar o ator na hora do convite para o papel. “Eu adoro essa coisa fantasiosa. Cem Anos de Solidão [de Gabriel García Márquez] me deixou arrepiado quando eu terminei de ler. Foi um dos únicos livros que me causou essa sensação física”, conta, indicando que a predileção quimérica também vale para as novelas. “Saramandaia [de Dias Gomes] é uma das minhas preferidas, é a síntese do realismo fantástico, brilhante. Mexe com a nossa fantasia,
Camisa Polo Ralph Lauren, relรณgio Vacheron Constantin para Frattina, colar, pulseiras e anel acervo pessoal
Trench coat Burberry, relรณgio Rolex para Frattina, anel Versace
“Sou pescador e enófilo. São as duas coisas que eu conheço de verdade, o resto eu chuto” estimula. É uma delícia você sair um pouco da realidade. Eu mesmo não aguento ser Antonio Calloni 24 horas por dia.” Descendente de italianos, Calloni guarda com carinho outro folhetim: Terra Nostra, que retratou a imigração italiana no Brasil no fim do século 19. Por uma questão pessoal, a trama de Benedito Ruy Barbosa tornou-se extremamente marcante para o ator. “Aconteceu uma coisa maluca”, lembra. “Estávamos gravando no Memorial do Imigrante, em Santos, onde milhares de italianos desembarcaram no passado, e durante uma pausa eu resolvi fuçar os arquivos digitais.” Na ocasião, Calloni, que interpretou Bartolo na novela, encontrou registros oficiais da chegada de seu bisavô paterno, Attilio Calloni, em 1885, vindo de Gênova. “Fiquei muito emocionado. Eu estava caracterizado, de figurino, provavelmente vestido de uma forma muito semelhante ao modo como ele chegou naquele lugar.” A cena visceral gravada minutos depois da descoberta tornou-se inesquecível em sua carreira. E certamente o ano de 2018 também será inesquecível. Além de viver o guardião-mor da fictícia Serro Azul em O Sétimo Guardião, Antonio Calloni voltou à maquina para escrever mais um romance – que possivelmente será editado em 2019, com orelha de Geraldo Carneiro e nome provisório de Filho da Noite – e interpretou na série Assédio o ex-médico Roger Abdelmassih – condenado em 2010 a 278 anos de prisão por estupro contra 39 mulheres. Questionado sobre o processo de imersão para viver um personagem tão complexo, contou a PODER ser movido sempre pelos mesmos sentimentos, seja mocinho ou bandido. “Tenho que sentir prazer e alegria no que faço, esse é o meu ideal”, conta. “No caso do Roger, costumo dizer: nada que é humano me causa estranheza. Por isso eu fui abrindo as minhas gavetas como a pintura do Salvador Dalí [Girafa em Chamas, de 1937]. Tirei um pouquinho de perversão, que está dentro de mim, mexi em outra gaveta e tirei maldade. E outras emoções inerentes a qualquer ser humano. Temos todas as possibilidades dentro de nós, mas escolhi ser um cara legal”, explicou, antes de finalizar a pensata com um sorrisão e um conselho. “Ser bom é mais fácil e prazeroso. Seja bom, nem que seja por preguiça. É mais fácil.” n
Trench coat e camisa Burberry, gravata Hugo Boss, anel Versace Beleza: Charles Almeida (Capa MGT) Arte: David Nefussi Produção executiva: Ana Elisa Meyer Assistente de styling: Diego Tofolo Assistentes de fotografia: Bruno Guimarães e Debora Freitas
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Como se dar bem e passar uma boa imagem no mercado abrindo mão do inglês coorporativo e dos excessivos jargões do mundo dos negócios POR CHICO FELITTI
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eacher”, diz o aluno com a mão levantada numa sala com 12 carteiras ocupadas. “How do I say...”, ele continua, com um inglês falado lentamente e com sotaque: “Brief?”. O analista de RH brasileiro João Mariano, 29 anos, está no meio de uma aula de inglês corporativo em Nova York, perguntando como um americano chamaria a reunião para passar dados e informações de uma tarefa corporativa. “Briefy?”, questiona o professor, colocando um som de ‘i’ no fim da palavra, como fez o aluno. Até que então ele entende o que o pupilo brasileiro queria dizer: “Oh, briefing!”. Aquela é a primeira desilusão de Mariano com o inglês que usa desde que passou por duas multinacionais e uma startup. PODER JOYCE PASCOWITCH 51
“O engraçado é que, pelo que vi até agora, os termos em inglês usados por brasileiros não são os mesmos daqui”, comenta o professor, Joseph Runtal, depois da aula. Um exemplo que ele dá é “call”. A palavra, que ganhou o significado de ligação telefônica, não é uma flexão usada nos Estados Unidos. “A gente fala ‘phone call’, ninguém entenderia call como um telefonema aqui nos Estados Unidos.” A aula descrita acima aconteceu numa noite de sexta-feira de novembro no coração da besta do sistema capitalista: uma escola de línguas que ocupa dois andares de um prédio na famosa Wall Street. Das 12 pessoas da turma, três são brasileiros – outros dois não quiseram se identificar à reportagem. Os cursos de “corporativês” para
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estrangeiros estão com uma taxa de crescimento chinesa: 16% ao ano nos últimos cinco anos, segundo o grupo Kaplan, um dos maiores do segmento nos Estados Unidos. Há escola de “corporativês” em todo canto. A Cactus atende em Londres e em Paris há a Business Language. São cursos de uma semana até três meses, e seus valores ficam entre US$ 400 e US$ 2 mil. A procura também é grande no Brasil. A PUC de São Paulo oferece uma pós-graduação na área. Já a Universidade Corporativa Sincor ministra um curso de comunicação corporativa escrita. Um dos módulos oferecidos é: “Gerundismo: como evitar esse erro que se tornou comum nos dias atuais”, com direito a redundância no uso de “dias atuais”.
MOTIVO DE PIADA O “corporativês” se disseminou com tamanha força que já virou motivo de piada entre os estudantes da língua inglesa. O site Plain English Campaign, uma ONG que luta pela “clareza” do idioma, tem uma ferramenta que cria automaticamente frases pomposas com palavras que os executivos amam. Mas que no fim não querem dizer patavinas. Um exemplo é “The consultants recommend four-dimensional modular options”. Em português, a groselha viraria algo assim: “Os consultores recomendaram opções quadridimensionais e modulares”. Será que você já ouviu isso num call ou numa reunião de briefing? Entre os linguistas, há hoje grupos que idealizam a montagem de salas de aula dentro das companhias. A
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VELHILÍNGUA missão parece um tanto utópica. Ali, os funcionários aprenderiam a falar inglês claro, ficariam livres dos jargões e se expressariam sem afetação dentro das empresas. Mas há resistência aos puristas. Tony Thorne, que estudou no King’s College de Londres antes de virar consultor de linguagem corporativa, pondera que o “corporativês” mistura necessidade com futilidade. “Há termos que precisam ser criados com o advento das novas tecnologias.” Ele dá como exemplo a palavra “offshoring”, a prática de levar os negócios para outro país, em que o custo da atividade será menor. “Offshoring” tem uma versão em português, algo como “deslocalização industrial”, que provavelmente esteja ainda por ser usada em salas de reunião brasileiras. “As pessoas no mundo inteiro adotaram o offshoring porque funciona. É um termo exato, preciso.” Não é o caso da maioria do palavrório usado na firma. “O jargão não existe só para batizar novidades. Tem muita palavra que poderia ser substituída por outras, que já existem e são mais populares, mas o jargão corporativo serve como um código de exclusão. Mostra quem faz parte desse universo e quem não faz.” Craig Snow, que estuda comunicação corporativa na Universidade Cornell, em Ithaca, no Estado de Nova York, descreveu em suas pesquisas duas vantagens que levam empresários a adotar a língua própria. Uma delas é a eficiência. O segundo fator, ele explica, é credibilidade: “Pessoas que usam esses termos com desenvoltura podem parecer mais competentes.
Cinco jargões do “corporativês” que poderiam tranquilamente ser substituídos por palavras em português
E assim ganhar mais dinheiro”. 1. Em vez de “job”, use “ trabalho” “Olha, eu admito 2. No lugar de “call”, diga ligação que sou um pouco 3. “Deadline” é uma palavra que existe viciada em falar em em português há bastante tempo. inglês”, diz Mariana Taka, que foi trainee Significa “prazo”. de uma multinacio4. Experimente usar “crítica” ou nal 15 anos atrás e “avaliação” no lugar de “ feedback” desde então trabalha 5. Para“bugdet”, há a bastante conhecida em empresas que “orçamento” têm braços por todo o mundo. Ela fez um curso de inglês corporativo e percebeu que poderia reduzir o uso de termos que atrapalhavam na sua comunicação com colegas, chefes e subalternos. “Mas não dá pra eliminar tudo. Ou vou ficar parecendo professora de gramática de cursinho, tentando pescar umas palavras do português antigo que ninguém usa mais”, ela ri. “Tem uma coisa de parecer chic, sim”, admite. “Mas também trabalhamos com gente do mundo todo, o mercado hoje se globalizou.” Ela admite, entretanto, que às vezes se sente um pouco como a apresentadora Luciana Gimenez que, por ter morado muito tempo no exterior, às vezes solta uma palavra em inglês quando está no ar. João Mariano, o aluno que levantou a mão para perguntar como dizer “briefing”, come um cachorro-quente numa calçada de Wall Street após a aula. Está contente com o que aprendeu. “Quem sabe não volto para o Brasil e consigo um emprego melhor? Falar de uma maneira certa dentro da empresa é uma skill.” Ele encerra usando uma palavra que MARIANA TAKA, FUNCIONÁRIA DE havia sido ensinada em classe. MULTINACIONAL E ESTUDANTE DE E que quer dizer habilidade. n INGLÊS CORPORATIVO EM NOVA YORK
“Não dá pra eliminar tudo. Ou fica parecendo professor de cursinho, tentando pescar palavras do português antigo”
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RESPIRO
Bad boy da literatura americana, Henry Miller (1891-1980) exilouse em Paris nos anos 1930, onde publicou seus famosos romances autobiográficos Trópico de Câncer e Trópico de Capricórnio, obras cheias de lascívia e decadência que foram proibidas no Reino Unido e nos Estados Unidos por três décadas. “Hoje tenho orgulho de dizer que sou inumano”, escreve em Trópico de Câncer. Em sua volta ao país natal, nos anos 1940, tornou-se ídolo da geração beat, reciclou suas memórias libertinas com mais três petardos, Sexus, Nexus e Plexus, e enfrentou processo por obscenidade. Dez anos após sua morte, o suposto triângulo amoroso que viveu com June, a dançarina que foi sua segunda mulher, e a escritora Anaïs Nin, ganhou as telas numa cinebiografia edulcorada demais para o dândi que lhe serviu de inspiração.
FOTO LARRY COLWELL /ANTHONY BARBOZA/GETTY IMAGES
OBSCENO E GENIAL
MOTOR
NO LIMITE A estação mais quente do ano, que vem acompanhada das férias, pede ação e aventura. Por isso, montamos uma seleção de máquinas futuristas para ter diversão sem fim na água, na terra e no ar por aline vessoni
Com 180 cm de comprimento por 60 cm de largura, essa prancha elétrica tem uma enorme facilidade para se adaptar em qualquer condição de água: desde uma simples brincadeira em um lago pequeno a aventuras em ondas gigantes – o surfista havaiano Kai Lenny inclusive já a testou nas temidas águas de Teahupoo, na Polinésia Francesa, e em Jaws, no Havaí. O motor não recarrega a bateria, mas o acumulador dá direito a cerca de 150 arranques ou quatro horas de passeio contínuo sem recarga. Movida a gasolina, o tanque tem capacidade para 2,8 litros. A partir de US$ 17 mil JETSURFFORFUN.COM
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JETSURF – FACTORY GP 100
ZAPATA – FLYBOARD
A atividade – voar sobre as águas – parece um pouco improvável para pobres mortais, mas é exatamente isso que a Zapata oferece com o Flyboard. E melhor: garante que é fácil de aprender. O Pro Series é a preferência dos atletas por conta das performances mais elaboradas que ele pode proporcionar. Com sua base giratória plana, o Flyboard gira em seu próprio eixo em até 20 graus. A partir de US$ 2.099 ZAPATA.COM
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ZAPATA – FLYRIDE
Com a mesma tecnologia utilizada no Flyboard, o Flyride foi desenhado para tornar mais fácil a vida dos iniciantes nos esportes radicais, mas também para oferecer novas aventuras aos praticantes. Com os comandos similares a de um jet ski – associado às mais avançadas tecnologias de controle de voo assistido –, quem já está acostumado com máquina e velocidade na água vai se familiarizar rapidamente com esta aqui.
A partir de US$ 6 mil ZAPATA.COM
MARTIN AIRCRAFT – JETPACK
Desde que os jetpacks foram apresentados ao mundo pelo cinema (assista The Rocketeer, de 1991), quem não sonhou em ter sua própria máquina voadora? Pensando em realizar esse sonho – de futuristas e aventureiros – a Martin Aircraft desenvolveu o Personal Jetpack para garantir a liberdade de explorar qualquer lugar. Por suas dimensões compactas, possibilita voos em lugares abertos e fechados com um alcance de até 20 km. É movido a gasolina. Quer pular o trânsito e literalmente voar para casa? Esse dia chegou. Preço sob consulta. MARTINJETPACK.COM
U-BOAT WORX – C-EXPLORER 3
Quando a série C-Explorer foi desenhada, a U-Boat Worx tinha em mente um submarino que garantisse segurança, manobrabilidade, conforto e visibilidade. O resultado materializou-se em uma máquina capaz de explorar o oceano com vista panorâmica de 360 graus, profissionalmente ou apenas por diversão. O C-Explorer 3 tem capacidade para mergulhar durante 16 horas e também pode fazer diversas incursões submarinas no mesmo dia. A partir de US$ 2,8 milhões UBOATWORX.COM
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ONEAN – MANTA
Por conta da base longa, a Manta foi pensada para todos os níveis de praticantes, por isso é uma prancha muito fácil de conduzir. Ela não é para aqueles que gostam de se aventurar, mas sim para quem procura tranquilidade e deseja encontrar espaços mais isolados. Ideal para quem carrega material de pescaria, de mergulho ou uma cesta de piquenique para o outro lado da ilha. A velocidade chega a 10 km/h e a bateria pode durar até seis horas. A partir de US$ 5.260 ONEAN.COM
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VIAGEM
IMERSÃO PROFUNDA Na costa de Moçambique, a ilha Benguerra, estrela do arquipélago de Bazaruto, é o melhor local em todo o Índico – ok, podemos estar a exagerar um pouquinho – para esquecer da vida texto e fotos corinna sagesser
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África que fala português, alardeariam os velhos folhetos de turismo sobre Moçambique, o lindo país ao sul do continente banhado pelo Índico. Pois é imerso nesse oceano que fica o arquipélago de Bazaruto e, nele, a ilha Benguerra avulta. Difícil cravar se os muitos tons do mar ali são verdes ou azuis, mas o efeito relaxante é poderoso de qualquer forma. A pesca da sardinha, a par com as tradições coloniais, movimenta a pequenina economia local, além do turismo, que aqui é de
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nível internacional. A base no Azura Lodge é muito recomendável para a exploração das demais ilhas do arquipélago e para a contemplação da vida marinha local. Parte da região é preservada como parque marinho desde o começo dos anos 1970, o que muito ajuda na avistagem de flamingos, nas dezenas de espécies diferentes de aves e até de crocodilos-do-nilo. Entre setembro e outubro a região também é visitada pelas baleias jubarte, que se mostram, exuberantes, a poucos metros da praia.
SUSTENTO
Uma das principais atividades da ilha Benguerra é a pesca de sardinha. Não só os homens, como os demais membros da família, participam da atividade, feita à maneira old school. O arquipélago de Bazaruto fica a uma curta viagem de barco de Vilankulo, no continente
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EXCLUSIVIDADE
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Uma excelente ideia para otimizar os passeios de barco oferecidos pelo lodge é solicitar um almoço privativo. A experiência gastronômica ganha muitos pontos quando os fresquíssimos frutos do mar são servidos à beira-mar. No retorno, o bangalô com piscina é só uma das doces possibilidades
HARMONIA
Um povo sorridente, alegre, espirituoso, mostra a cultura local para os hóspedes, que também podem contemplar a fulgurante vida marinha do arquipélago de Bazaruto. Parte desse território é preservado como parque marinho desde os anos 1970
ESPELHO
AMPLIFIQUE-SE Pode-se se dizer que PEDRO CABRAL é um engenheiro que surfa nas ondas da internet. Em 1990, quando ainda não havia a rede, durante uma feira de tecnologia em Las Vegas, Cabral acompanhou o lançamento de um sistema operacional da Microsoft que apresentava o conceito de “multimídia” – termo ignorado até por nerds. Na tela do anfiteatro, a projeção em vídeo de um surfista encarando uma big wave no Havaí em cores cintilantes. “Aquilo me chamou a atenção. Não porque eu também pegasse onda, mas porque era a primeira vez em que um filme era reproduzido na tela de um computador”, lembra. “Tive um estalo, pensei: ‘É isso que eu quero fazer, produzir conteúdos bacanas para as pessoas receberem nos seus computadores’.’’ O estalo a que Cabral se refere virou clique. A Agência Click, fundada por ele e consolidada como uma das principais referências em marketing digital no Brasil, foi a primeira do país a ganhar um Grand Prix na categoria Cyber Lions no Festival Internacional de Publicidade de Cannes. Em 2007, a Click foi vendida para a Isobar, parte do conglomerado de comunicação Aegis Group, por mais de US$ 30 milhões. “Foi um negócio que me permitiu fazer coisas novas.” Entre essas coi-
sas, passar um temporada nos Estados Unidos, onde também se aventurou pela publicidade. Atualmente ele comanda a Ampfy, considerada uma agência de terceira geração. Nativa digital, surgiu no contexto da utilização intensa da internet, em que os meios digitais transformaram a interação com consumidores – agora conectados o tempo todo, chamados no jargão publicitário de “always-on”. “Três fatores revolucionaram a internet e a propaganda nas últimas décadas: mobile, search [buscadores] e redes sociais. As pessoas estão em network, a tecnologia ficou transparente e os hábitos são outros. É preciso enxergar todas essas tendências, e esse é o nosso papel na Ampfy, uma agência que nasceu nessa lógica.” Com clientes graúdos como Mitsubishi, Sky, Nike, Iguatemi, Gol e a recém-conquistada conta da Perdigão, a Ampfy espera fechar 2018 com um crescimento de 35%. “Foi um ano excelente. Para cada pessoa que trabalha aqui dentro [são cerca de 150 funcionários], talvez sejam outras 15 pessoas ativadas no nosso ecossistema.” Para Pedro Cabral e a Ampfy, as boas ondas parecem estar sempre entrando. As marolas ficam para a concorrência. n
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PODER VIAJA POR ADRIANA NAZARIAN
ENTRE AMIGOS Uma casa de campo no “countryside”, o interior do Reino Unido, para chamar de sua – nem que seja por alguns dias –, e com serviço de luxo. Essa é a nova proposta do grupo hoteleiro Oetker Collection. Para começar, residências históricas foram escolhidas em cenários estratégicos, todas com anfitriões responsáveis por organizar cada detalhe da estadia. A Glen Affric Estate, por exemplo, é um cottage nas margens do lago Affric, no norte da Escócia, que inclui programas como mountain bike, passeios de caiaque e, claro, degustação de uísque. Já a Farleigh Wallop House é uma residência do século 15 a cerca de uma hora de Londres com sala de cinema, quadra de tênis e campo de críquete. +OETKERCOLLECTION.COM
COM EMOÇÃO
O The Little Nell, hotel dos mais bacanas de Aspen, anunciou a nova edição de seu programa de aventuras, batizado de Nell Escapades. Depois de fazer sucesso com experiências como esqui powder na encosta de Aspen Mountain e passeios sob estrelas, a ideia agora é uma viagem de heli-ski pelas montanhas do Canadá. Detalhe: o roteiro, que acontece entre 19 e 26 de janeiro, será acompanhado do diretor executivo do grupo, um sommelier e um chef. Os aventureiros precisam correr: o grupo terá apenas oito quartos no Valemount Lodge, um dos mais disputados pelos entusiastas do assunto. +THELITTLENELL.COM
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MARÉ ALTA
O lançamento é só em 2020, mas aos poucos são reveladas as estratégias da nova empreitada de Richard Branson, desta vez na área de cruzeiros. Sete empresas de design, incluindo a responsável por hotéis como o Standard High Line, foram contratadas pelo bilionário para criar os ambientes de suas três embarcações. A Scarlet Lady, a primeira a ganhar o mar, terá tatuador a bordo, spa com sala salgada e um clube de atletismo. A gastronomia é um capítulo à parte: são 20 restaurantes, todos sem afetação nem restrição de horário. +VIRGINVOYAGES.COM
casa na neve MICKEY TUDO DE BOM A temporada de esqui chegou, e o L´Apogée segue como um dos cinco estrelas a
Piscina de borda infinita e campo de golfe para adultos, complexo aquático para ficar em Courchevel. Nele,exclusivos. a penthouse e osdetalhe chalés L´Amarante L´Alpensia têm as crianças, restaurantes e cafés E um que faz todose felizes: privacidade total. Com quatro quartos, a penthouse possui salas de e de máquina de vinho na suíte. Isso é o Four Seasons Orlando, hotel à parte dajantar cidade. filme, saunas seca e a vapor e jacuzzi. Já os chalés, de cinco quartos e elevador, têm Marque um jantar no Capa Bar, que fica no rooftop, de cozinha espanhola e com acesso direto às pistas de esqui e chef particular. +oetkercollection.com decoração inspirada nas dançarinas de flamenco. +FOURSEASONS.COM/BR/ORLANDO
CASA NA NEVE
A temporada de esqui no hemisfério norte chegou, e o L’Apogée segue como um dos cinco-estrelas preferidos de quem não dispensa o luxo e a sofisticação de uma estada na estação francesa de Courchevel. Nele, a penthouse e os chalés L’Amarante e L’Alpensia têm privacidade total e serviços de hotel. Com quatro quartos, a penthouse possui salas de jantar e de filme, saunas seca e a vapor, jacuzzi e varanda. Já os chalés, de cinco quartos e elevador, têm acesso direto às pistas de esqui, serviços de spa e também dispõem de chef particular. +OETKERCOLLECTION.COM
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ANNA CHAIA, diretora-presidente da Samsonite Mercosul ”Adoro Londres, especialmente o bairro de Islington, onde morei. Costumava ir à livraria Waterstones, em frente a uma praça charmosa, a Islington Green. Caminhava no Highbury Fields, um parque pequeno rodeado de casas vitorianas e muito verde, e fazia uma parada na sorveteria Udderlicious, com sabores como morango com manjericão – meu preferido. Para almoçar, o Ottolenghi tem comida fresca e inovativa. Para completar, gosto muito das roupas da Hobbs, contemporâneas e atemporais.”
DE OLHO
Dois bons motivos para manter Istambul no radar. O primeiro é o The Stay Late Antiquity, hotel recém inaugurado em um casarão do século 19. O projeto, que inclui 18 quartos espaçosos e um bar com vista para a cidade velha e a Torre de Gálata, é assinado por um dos escritórios de design mais cools da cidade, o Autoban. E a localização é especial: fica no coração de Beyoglu, bairro com clima boêmio e artístico a poucos passos do Bósforo. Na mesma região, também em uma propriedade histórica, fica a sede temporária do Istambul Modern. Em três anos, a nova galeria da instituição, projetada por ninguém menos que Renzo Piano, ficará pronta no distrito de Karaköy. +THESTAY.COM.TR, ISTAMBULMODERN.ORG
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É DE PODER POR ANA ELISA MEYER
BRIGITTE BARDOT E GUNTER SACHS
Ícone de toda uma geração, a atriz francesa Brigitte Bardot, hoje com 84 anos, teve muitos amantes ao longo da sua vida, pode-se dizer, cinematográfica. Um deles foi o bilionário alemão Gunter Sachs, que, logo depois de conhecer aquela que era considerada a estrela mais sensual de todos os tempos, enviou um helicóptero para despejar centenas de rosas vermelhas sobre sua piscina em Saint-Tropez. Casaram-se algumas semanas depois em Las Vegas, em 1966, e ficaram juntos por três anos.
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TOQUE DE MARCA
As lojas da Salvatore Ferragamo nos shoppings Cidade Jardim e Iguatemi, em São Paulo, recebem este mês dois dos calçados masculinos que são o must have da temporada da maison. Ambos em preto, o sapato e a bota de designs clássicos trazem um toque especial com o famoso logo Maxi Gancini dourado no calcanhar. Os dois são produzidos na Itália a partir da técnica de construção denominada “originali”, em que a sola é aplicada em etapas numa operação quase inteiramente executada à mão. A bota sai por R$ 5.990 e o sapato R$ 4.650. +FERRAGAMO.COM
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* PREÇOS PESQUISADOS EM NOVEMBRO. SUJEITOS A ALTERAÇÕES FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO
CATWALK
Celine e Givenchy prometem agitar a Semana de Moda Masculina de Paris, que rola entre os dias 15 e 20 de janeiro. Para a Celine, a novidade é dupla: é a primeira vez que produz uma coleção masculina; e ela é assinada por HEDI SLIMANE, que fez seu debute à frente da label em setembro passado. Já a Givenchy apresenta a coleção de CLARE WAIGHT KELLER, que tem o desafio de superar o sucesso de Riccardo Tisci, que deixou a direção criativa da marca no início de 2017.
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COZINHA DE PODER POR FERNANDA GRILO
F O T O S G I O VA N N A B A L Z A N O
AME-A OU DEIXE-A
A uva-passa causa amor e ódio na mesma intensidade, tanto que é protagonista quando se fala nas ceias de fim de ano. Seja você quem condena ou quem acha que ela não pode faltar, aqui duas receitas de dar água na boca Ela tomou o lugar do panetone, peru, rabanada e outras delícias típicas das festas de fim de ano por causa do tabu criado em torno de seu sabor e textura que não agradam a todos e geram até memes na internet. Mesmo diante da polêmica, PODER é da turma que adora uva-passa. “Elas possuem vitaminas do complexo B que ajudam no fortalecimento imunológico, vitamina A, cálcio, cobre, ferro, zinco e o famoso Resveratrol, importante polifenol com ação anti-inflamatória. Quando desidratadas são ricas em antioxidantes que retardam o envelhecimento”, explica Gardênia Pinheiro Gomes, nutricionista clínica e professora do curso de nutrição da FMU, que ressalta também o auxílio do alimento na regulação do trânsito intestinal por ser rico em fibras. Calorias também são outra vantagem: 78. Pequenas, docinhas, poderosas e com todos esses benefícios... Então, quem aí está pronto para se jogar nos bolos, tortas doces, arroz à grega, pernil, farofa, salpicão... tudo com bastante uva-passa?
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COMPOTA DE UVA-PASSA E CEBOLINHAS
CHARLÔ WHATELY, CHEF DO BISTRÔ CHARLÔ INGREDIENTES: • 500 g de cebolinhas para picles • 300 ml de água • 4 colheres (sopa) de vinagre • 3 colheres (sopa) de azeite • 50 g de açúcar • 3 colheres (sopa) de purê de tomate • 80 g de uva-passas brancas • 1 maço de cheiro-verde • Sal e pimenta-do-reino a gosto MODO DE PREPARO: Junte todos os ingredientes, com exceção do sal e da pimenta-do-reino, e leve ao fogo. Quando ferver, abaixe a temperatura e deixe cozinhar até as cebolinhas ficarem macias. Retire o maço de cheiro-verde e tempere com sal e pimenta-do-reino.
SALPICÃO DE FRANGO
ANA LUIZA TRAJANO, CHEF DO INSTITUTO BRASIL A GOSTO
FOTO ALEXANDRE SCHNEIDER/DIVULGAÇÃO
INGREDIENTES: • 1 peito de frango com cerca de 500 g • 1 cenoura grande ralada • 1 xícara (chá) de ervilha fresca cozida • 2 maçãs verdes em cubinhos (coloque em água com limão para não escurecer) • 2 talos de salsão em cubinhos • 3/4 de xícara (chá) de uva-passa • 1 gema • 1 colher (sopa) de mostarda amarela • 1/2garrafa de óleo de milho • Suco de 1/2 limão • Salsinha picada a gosto • Sal e pimenta-do-reino a gosto MODO DE PREPARO: Tempere o peito de frango com sal e pimenta-do-reino; cozinhe até ficar macio, desfie e deixe esfriar. Misture o frango com a cenoura, ervilha, maçã, salsão e a uvapassa. Prepare a maionese: misture a gema e a mostarda; acrescente o óleo em um fio constante enquanto bate sem parar com um batedor de arame. Quando o óleo terminar, a maionese deve estar sólida. Tempere com suco de limão, sal e pimenta-do-reino. Misture ao frango, junte a salsinha e sirva. PODER JOYCE PASCOWITCH 69
HIGH-TECH POR FERNANDA BOTTONI
VALE
QUANTO PESA
Produtos compactos e poderosos deixam você mais leve aonde quer que vá. Se busca praticidade na sua próxima viagem, confira esta seleção
SONY CYBER-SHOT RX100 VI
Compacta e poderosa, a câmera de 300 gramas promete autofoco com ajuste em 0,03 segundos. No modo disparo contínuo, faz 24 quadros por segundo. A lente Zeiss VarioSonnar T 24-200 mm garante zoom óptico de 8,3x e produz imagens de até 20,1 megapixels. Também faz vídeos 4K HDR. A transferência das imagens para PC ou celular é simples e pode ser feita via wi-fi, NFC ou QR-Code. +SONY.COM PREÇO: R$ 5.200
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Basta apertar um botão e estes óculos de sol podem fotografar ou filmar a sua viagem exatamente do seu ponto de vista, sem que você precise parar o que estiver fazendo para pegar a câmera ou posicionar o smartphone. Ele é resistente à água e a bateria suporta mais de 70 capturas e sincronizações de vídeos. E, desde que seu celular esteja por perto, os vídeos podem ir diretamente para a rede social. +SPECTACLES.COM PREÇO: R$ 782
WACACO NANOPRESSO
Para quem precisa de um café a qualquer hora, esta é a solução. A Nanopresso é uma cafeteira compacta e portátil. Pesa 340 gramas. Para preparar a bebida, você precisa adicionar café moído e água quente e bombear com as mãos. Dessa forma, a maquininha consegue alcançar até 18 bars (261 PSI) de pressão. O reservatório de água suporta até 80 ml. A Wacaco também oferece opções com cápsulas no lugar do café moído. +WACACO.COM PREÇO: R$ 460
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OCANOVA CHIPOLO
Se você é do tipo que perde tudo em viagens pode dispor desta “moedinha”. O Chipolo é um rastreador bluetooth que ajuda a encontrar objetos em segundos. O dispositivo pode ser colocado na carteira ou mochila, por exemplo. É preciso baixar o aplicativo na App Store ou no Google Play, cadastrar a conta e conectar o smartphone com o rastreador. Para encontrar o objeto perdido basta “bipar” o Chipolo no botão do aplicativo no celular. Também vale para encontrar o celular. Ao pressionar duas vezes a moedinha você pode fazer com que o smartphone toque, mesmo que esteja no modo silencioso. O alcance do bluetooth é de 60 metros e o app lembra quando e onde você esteve com o objeto pela última vez.Ufa, hein? +OCANOVA.COM.BR PREÇO: R$ 189
SAMSUNG GALAXY WATCH
FREDERIC DROUIN,
diretor-presidente da Jaguar Land Rover América Latina “A tecnologia é minha aliada hoje não só para as questões profissionais, mas também para entretenimento e para estar sempre conectado com a minha família. Os aplicativos que fazem parte do meu dia a dia, seja no smartphone, tablet ou notebook, são Spotify, Snapchat, WhatsApp e os apps da Bloomberg e de companhias aéreas.”
Poderoso, este relógio possui conectividade bluetooth e recursos de monitoramento de estresse e sono que podem evitar contratempos durante a viagem. Quer mais? Se o tempo estiver ruim, você ainda pode se exercitar usando um dos 21 treinos para ambientes internos que o aparelhinho de 63 gramas oferece. É resistente a água com classificação de 5 ATM. A versão de 42 mm está disponível em preto e dourado.
+SAMSUNG.COM.BR PREÇO: R$ 2.199
VAGO TRAVEL COMPRESSOR
Se o problema for espaço, eis a solução! Este compressor de 77 gramas é ideal para quem vai comprar roupas ou está viajando para encarar um frio congelante, com muitos casacos e roupas pesadas de inverno. Ele é basicamente uma bomba de vácuo automática com detector de pressão que pode remover todo o ar das roupas, reduzindo seu tamanho pela metade. Vem com cabo micro-USB, adaptador e um Vago Bag tamanho médio.
* PREÇOS PESQUISADOS EM NOVEMBRO. SUJEITOS A ALTERAÇÕES FOTOS DIVULGAÇÃO
+VAGO.COM.SG PREÇO: R$ 309
LOW-TECH
MOTO POWER PACK & TV DIGITAL
LUMINÁRIA GAWA
+MOTOROLA.COM.BR PREÇO: R$ 2.599 (SMARTPHONE + SNAP)
INSTAGRAM - @DPTOOBJETO
Quer assistir à TV aberta em alta resolução em qualquer lugar? Este snap de 150 gramas acoplado ao Moto Z3 Play resolve seu problema. O smartphone é feito inteiramente com Corning Gorilla Glass e alumínio aeronáutico, por isso é leve, confortável e fino. Tem sensor de impressão digital na lateral e tela infinita full-HD Super Amoled de 6 polegadas com proporção de 18:9. Para completar, câmera dupla de 12 MP e 5 MP.
Criada pela designer, arquiteta e artista plástica Adriana Yazbek, a Gawa é, ao mesmo tempo, uma luminária de mesa e uma escultura de madeira e papel que produz uma iluminação extremamente confortável. “O projeto nasceu do desejo de desenvolver uma luminária escultórica a partir de materiais sustentáveis e que produzisse uma iluminação difusa aconchegante, sem ofuscamento”, conta Adriana. Detalhe: o papel de fibra de kozo utilizado na peça é um dos mais antigos do mundo, componente fundamental na arquitetura japonesa.
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CULTURA INC. POR LUÍS COSTA
NO CORAÇÃO DA TREVA
Lançando mão de recursos do teatro físico e do cinema, Zé Henrique de Paula encena primeira montagem brasileira de Dogville, um dos clássicos distópicos do cineasta dinamarquês Lars von Trier
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FOTOS ALE CATAN/DIVULGAÇÃO; JONATAS MARQUES/DIVULGAÇÃO
oi numa sala de cinema que o diretor de teatro Zé Henrique de Paula se encantou por Dogville, do dinamarquês Lars von Trier, de 2003. Nada mais natural. Apesar de ir fundo na linguagem teatral, trata-se, afinal, de um filme. Tempos depois, o diretor, vencedor dos prêmios Shell e APCA, receberia o convite para dirigir a primeira montagem da peça no Brasil. “A primeira coisa que eu pensei foi: ‘Como é que ninguém teve essa ideia antes?’”, conta. Montagem recorrente nos palcos europeus, Dogville, a peça, esteve no Rio em novembro e chega ao Teatro Porto Seguro, em São Paulo, no dia 25 de janeiro, aniversário da cidade. Dogville, o filme, é verdadeiro teatro
filmado. São célebres as casas desenhadas no chão, recurso próprio dos palcos, como representação do pacato vilarejo que vai ser transformado com a chegada de uma forasteira. Zé Henrique conta que, sempre que revelava o projeto da peça, perguntavam-lhe se reproduziria o famoso mise-en-scène de Von Trier. “Começou a ficar claro que o filme tinha um recall considerável na cabeça das pessoas, e um dos esforços que tínhamos de realizar era de, nas duas horas e pouco da peça, tentar fazer com que os espectadores esquecessem o filme”, diz. A saída foi inverter o jogo estético: se o filme tinha muito de teatro, a peça iria beber do cinema. “Fomos amadurecendo a concepção e chegando a essa outra ponta, na qual a gente tem uma peça de teatro que flerta com a linguagem cinematográfica”, diz o diretor, que usa no espetáculo videomapping e projeções, inclusive de cenas filmadas ao vivo. “Para ser fiel à ideia do filme, precisávamos nos afastar dele, por mais paradoxal que isso possa parecer.”
Ao mesmo tempo, a peça usa muito do teatro físico, que põe a gestualidade dos atores em patamar de igualdade com o texto. “É como se você, assistindo à peça, tivesse uma surdez repentina e conseguisse, sem ouvir os atores, embarcar numa pista de compreensão do enredo”, explica o diretor. Na trama de Lars von Trier, uma bondosa forasteira, Grace (vivida na peça por Mel Lisboa), chega a Dogville, cidade em que seus moradores têm convicções morais muito arraigadas. “Pense numa cidade que vive um eterno clima nublado, com muitas tonalidades de cinza, e Grace, com sua luz muito intensa, faz aparecer a sombra que não estava visível”, descreve Zé Henrique. “O interessante da peça é ver como essa coletividade vai reagir ao enfrentar suas próprias sombras, que não viam, preferiam não ver, não sabiam que existiam. É uma espécie de tratado, na forma de uma fábula, meio brechtiano, sobre como o ser humano pode (ou não) lidar com as próprias imperfeições.” Na leitura de Zé Henrique de Paula, as certezas das personagens de Dogville as tornam incapazes de perceber o que lhes é diferente. A alteridade as agride. Contudo, o diretor considera que a subjetividade do público permite interpretações diversas. “É tão interessante ver o público converZé Henrique de Paula e sar depois do fim da peseu grande elenco ça. São leituras muito pessoais, e isso é uma das coisas mágicas que o teatro tem”, diz. “Se você tem 500 pessoas sentadas na plateia, você tem 500 peças diferentes acontecendo. Isso é maravilhoso de ver.” n
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LITERATURA
O SANGUE COMO OFÍCIO Os personagens de Ana Paula Maia confundem-se com seu traço de estilo: são brutos, cruéis, secos. Homens talhados pelos trabalhos áridos, entre a ferocidade e a luta por sobrevivência, eles transitam por seus livros, reaparecendo em diferentes tramas. Vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura de 2018, um dos mais importantes do país, a escritora e roteirista de 40 anos criou ambiência própria de uma literatura feroz. “Aos poucos, percebi que estava criando um universo ficcional bastante particular e que esses personagens se movem nele”, afirma a autora de Assim na Terra como Embaixo da Terra (Ed. Record, R$ 34,90). Bronco Gil, protagonista do romance que rendeu o prêmio a Ana Paula, apareceu pela primeira vez em De Gados e Homens, de 2013, como um capataz de um matadouro. Em Enterre Seus Mortos, deste ano, ele é apenas mencionado num breve diálogo. “Nos meus livros, os bons personagens sempre voltam”, diz. Assim na Terra como Embaixo da Terra se passa em um ambiente de confinamento e terror. É uma colônia penal isolada que, às vésperas de ser desativada, torna-se
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cenário de uma luta insana por sobrevivência que opõe caçador e caça: Melquíades, o diretor do presídio, entretém-se ao perseguir os presos que restam no local num jogo de caça, como se eles fossem javalis. A relação entre homem e animal marca não só o livro, mas toda a teia ficcional de Ana Paula Maia, autora de outros seis títulos. Nesse universo, os homens são moldados por seus ofícios. “Esse é o alicerce da minha literatura: a investigação do outro a partir das suas relações de trabalho”, afirma. São bombeiros, cremadores de corpos, lixeiros, abatedores de gado, agentes da lei, removedores de animais em estradas. “A brutalidade vem das relações de trabalho. Seja do sujeito que abate uma vaca, do que recolhe o lixo, seja do que lida com apenados por crimes hediondos”, diz. “Todos esses são o que chamo de ‘o trabalho sujo dos outros’, que, aliás, é o título de uma de minhas histórias.” Na entrega do prêmio, o júri considerou a força metafórica do enredo para tratar temas atuais, como a questão carcerária, ao mesmo tempo em que destacou como a história provoca o leitor a encarar um passado enterrado – a colônia penal do enredo erguia-se sobre uma antiga fazenda que utilizava mão de obra escrava. “Temos no Brasil uma realidade histórica de brutalidade.”
FOTOS RAFAEL DABUL/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO
Vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura, Ana Paula Maia explora relação entre homens e animais em universo ficcional marcado pela brutalidade
PODER É PARA VER
Um Corpo que Cai (Alfred Hitchcock, 1958). No YouTube Filmes.
Clássico máximo do suspense, completou 60 anos de seu lançamento em 2018. Com o ator prefencial de Hitch, James Stewart, e Kim Novak. O Outro Lado do Vento (Orson Welles, 2018). Na Netflix. Último
filme do gênio Orson Welles (1915-1985), começou a ser rodado nos 1970 e só foi concluído este ano, com ajuda da Netflix.
Eu Sou o Carnaval (Márcio Cavalcante, 2018). Nos cinemas.
Previsto para estrear no fim de janeiro, o documentário mostra o carnaval de rua popular de Salvador, não exatamente aquele que se passa dentro das cordas dos trios e nos camarotes badalados.
PARA OUVIR
Bandeira da Fé (2018) - Martinho da Vila (Disponível
em plataformas digitais). O sambista carioca celebra 80 anos de vida e 60 de carreira. Glória Maria faz um “cameo” declamando o poema “Ser Mulher”.
Álbum Branco (1968) - The Beatles. O nono disco da banda inglesa
volta em reedição de luxo com nova mixagem e dezenas de demos. Há CDs, vinis e um livro de 164 páginas sobre o processo de criação.
Grande Liquidação (1968) - Tom Zé (Disponível em plataformas digitais). Primeiro álbum do compositor baiano, que abria com a famosa música “São São Paulo” e tinha em seu lado B o hino tropicalista “Parque Industrial”.
PARA LER
Assombrações (Todavia, R$ 49,90) - Domenico Starnone. Depois
do sucesso de Laços (2017), o escritor italiano lança seu segundo título no Brasil. A curiosidade por Starnone cresceu depois de uma hipótese ganhar força: aponta-se que ele – ou sua mulher, a tradutora Anita Raja – seja o verdadeiro autor do fenômeno literário Elena Ferrante.
À Cidade (edição independente, R$ 19,90, e-book na Amazon) Mailson Furtado. O livro de poesia, editado pelo próprio escritor, cearense de Varjota, venceu o Prêmio Jabuti de Livro do Ano em 2018. Beatriz Milhazes: Colagens (Cobogó, R$ 125). É o primeiro livro
de colagens da artista plástica. A publicação é organizada por Frédéric Paul, curador do Centro Georges Pompidou, de Paris.
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CABECEIRA
ODISSÉIA – HOMERO
“Um dos livros mais antigos da civilização ocidental e base de tudo que veio depois. Estou escrevendo um livro sobre a Odisséia e a considero um marco; na obra, tento identificar o que é próprio do humano. Estamos tão mecanizados, tão desumanizados, que se torna urgente encontrar o que é próprio do humano.”
ESTANTE
POR ALINE VESSONI
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A DIVINA COMÉDIA – DANTE ALIGHIERI
“Apesar de ser uma leitura difícil, trata-se de uma viagem ao interior da alma humana.”
DOM QUIXOTE DE LA MANCHA – MIGUEL DE CERVANTES
“Uma das melhores expressões do que é o real. Ao mesmo tempo, um exemplo de como a literatura pode ajudar a fazer do leitor uma pessoa melhor.”
HAMLET – WILLIAM SHAKESPEARE
“A melhor definição do que é ser. Ou a melhor definição do que é não ser.”
OS IRMÃOS KARAMÁZOV - FIÓDOR DOSTOIÉVSKI
“É a obra definitiva dentro da literatura contemporânea. Eu a considero quase mais do que um livro – e não me pergunte o que quero dizer com isso (risos). Fascinante.”
GRANDE SERTÃO: VEREDAS – GUIMARÃES ROSA
“É a épica brasileira, a saga da cultura do país , mostra quanto o Brasil é profundo, rico e viável, ao contrário do que parece.”
FOTOS DIVULGAÇÃO
Foi com o avô materno que o historiador e professor Dante Gallian tomou gosto pela leitura. Depois de ter lutado na Guerra Civil Espanhola, seu Manolo desembarcou no Brasil com os muitos relatos que encantariam o neto.“Ele era um exímio contador de histórias. Foi me despertando amor pela história e pela narrativa”, diz. Muitos anos depois, Gallian se tornou professor na Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e ali ajudou a estabelecer um centro de ensino, pesquisa e extensão focado na humanização da saúde. “Era muito difícil sensibilizar os alunos para os conteúdos humanísticos, e, para isso, acabei chegando à literatura.” A leitura da peça Antígona, de Sófocles, despertou emoções de uma estudante de enfermagem. “Percebi ali como a literatura podia ser eficaz para discutir a vida das pessoas. Ela é desestressante e tem um potencial humanizador inigualável.” Gallian desenvolveu uma metodologia para ler e aprender com os clássicos da literatura tão efetiva que extrapolou as fronteiras da universidade. Ela virou livro (A Literatura Como Remédio – os Clássicos e a Saúde da Alma; Ed. Martin Claret), foi levada às empresas e possibilitou ao autor que abrisse a Casa Arca, centro de cultura que tem um animado laboratório de leitura. “Leio e releio muito, às vezes trabalho com até oito livros ao mesmo tempo. Aproveito todos os momentos para ler. Leio no transporte público, no táxi, leio andando. Da Casa Arca à Unifesp são 35 minutos a pé. Sempre vou lendo e não tropeço.”
UNIVERSO PARTICULAR POR ALINE VESSONI
FOTOS ISTOCKPHOTO.COM; GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO
A cineasta Eliane Caffé leva seus filmes a localidades problemáticas do Brasil e envolve seus moradores em atividades no set e muitas vezes também fora dele
Eliane Caffé estava no fim da faculdade de psicologia quando começou a trabalhar com cinema. Então, resolveu fazer um curso de roteiro na Escola Internacional de Cinema e Televisão de Cuba (EICTV).“Eu sou da primeira geração da escola. Fui para fazer o curso de roteiro e acabei ficando um ano. Depois retornei algumas vezes. Tenho ligação forte com Cuba” , conta. A experiência na ilha socialista acabou criando o background para o cinema engajado que Eliane viria a exercer mais tarde. Por um período, ela resolveu explorar os rincões escondidos do país, a exemplo do que faria nos filmes Kenoma (1998), Narradores de Javé (2003) e O Sol do Meio-Dia (2008), que dirigiu respectivamente no sertão de Minas Gerais, na Bahia, e na Amazônia. “Era a necessidade de descobrir o que era esse Brasil sem ser
mediado pelo que chegava pelos livros, pela mídia. Os filmes foram uma maneira de poder conhecer de corpo presente os lugares aos quais eu não tinha acesso. E fazer isso por meio de um projeto de criação é sempre muito mais profundo” , explica. Depois Eliane se voltou para os centros urbanos, como em Era o Hotel Cambridge (2016), que mistura ficção e realidade para narrar a história dessa ocupação. “A demanda hoje das questões sociais se concentra nos centros urbanos, e esse deslocamento aconteceu de uma forma tão rápida, veloz, a ponto de eu nem ter percebido como fui transitando do interior para as grandes cidades.” Eliane considera a parceria estabelecida com sua irmã, a arquiteta e diretora de arte Carla Caffé, o ponto CINEMA: vida FILMES PREFERIDOS:
A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de Roberto Santos; Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha; Andrei Rublev, de Andrei Tarkovsky UM CLÁSSICO: Limite, de Mário Peixoto INSPIRAÇÃO: o espanto de pensar o que é a nossa
decisivo para transformar “o ato de fazer cinema em um processo pedagógico”. Como exemplo, cita Gameleira da Lapa, cidade baiana em que as irmãs realizaram Narradores de Javé, que tinha sérios problemas de coleta de lixo. Elas, contudo, não queriam simplesmente limpar a cidade, filmar e ir embora. Então, Carla ficou à frente de um projeto que explicava a importância da coleta para os moradores. É um trabalho que ela chama de “contrapartidas”. “Por trabalharmos em zona de conflito, e essas zonas terem muitas carências, não apenas financeiras, a gente chega com financiamento e capacidade de investimento. O resultado é que você acaba criando uma grande família, e isso aparece na intensidade da entrega das pessoas que fazem o filme”, finaliza. n
presença física. Tenho lido muito sobre neurociência, a formação do universo, física quântica...
MANIA NO SET
DIVERSÃO:
MELHOR
a humanidade, a mesma que também me deprime
a gente mesmo
DE FILMAGEM:
mascar chiclete HOBBY: Ler COMPANHIA:
MÚSICA NO TRABALHO
UMA FRASE:
nenhuma, fico muito focada, submersa, quando trabalho UMA VIAGEM: Cuba
"Viver é muito perigoso" (Guimarães Rosa)
O QUE NÃO FALTA NO SET:
quatro: Suzana Amaral, Lars von Trier, John Cassavetes, Andrei Tarkovsky
humor
UM(A) DIRETOR(A): Cito
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POLE POSITION por josé rubens d’elia
REJUVENESÇA SEU CÉREBRO 2. Quando estiver vestindo a roupa, aproveite para recuperar o aprendizado do ensino fundamental com as operações matemáticas – adição, subtração, multiplicação e divisão. Você poderá relembrá-las, de forma lúdica, misturando-as aleatoriamente. Brinque com os números por um ou dois minutos, afinando essa habilidade. Seu cérebro terá ganhos em cascata ao se divertir e rejuvenescer.
D
iz-se que a partir dos 20 anos o cérebro humano começa a envelhecer. Felizmente, agora se sabe que é possível driblar essa constatação, tornando-o mais jovem, ágil e produtivo. Bastam alguns minutos diários de dedicação. Assim como acontece com os grupos musculares e outras áreas do corpo humano, o cérebro também precisa de treinamento para se desenvolver e atuar em alto nível. Mas ele é menos exigente, e não necessita de academia, corrida no parque ou de 40 a 60 minutos por dia de malhação. É possível encaixar o treinamento na sua rotina matinal com apenas cinco a dez minutos de “fitness” cerebral. Segundo o neurocientista Ryuta Kawashima, as três atividades que
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mais impulsionam o cérebro são: solução de cálculos simples, leitura em voz alta e escrita. Então, que tal organizar um pequeno ritual de treinamento diário contemplando essas três atividades logo pela manhã, quando as funções cerebrais são mais eficientes? Com certeza seu dia será mais produtivo, pois terá como aliado um cérebro otimizado e em melhor funcionamento. Estimule a prática organizando os exercícios da seguinte maneira: 1. Deixe em lugar visível no banheiro – no espelho, preferencialmente – uma mensagem motivacional. Faça a leitura dela em voz alta. Ler um capítulo do livro de cabeceira também funciona.
Pronto. Sem ter que alterar o percurso doméstico, você realizou o treinamento do cérebro que, mesmo sendo relativamente simples, envolve também um grande desafio: desapegar e dar uma pequena folga ao smartphone e o computador. Experimente e persista. Um cérebro jovem, saudável e funcionando em alta performance compensa essa inversão de prioridades. E aí, estamos juntos nessa? n José Rubens D’Elia é fisiologista e treinador de pilotos, atletas, empresários e executivos. É diretor da Pilotech – Clínica de Performance de Pilotos, em São Paulo
ILUSTRAÇÃO ISTOCKPHOTO.COM; FOTO ARQUIVO PESSOAL
3. Na mesa do café da manhã, aproveite para escrever as prioridades do dia. Enumere-as e monte uma lista.
CARTAS cartas@glamurama.com
ENSAIO
O olhar fotográfico no ensaio do Gabriel Leone (PODER 122) é muito bom. Parabéns! @douglas_dbraga via Instagram Esse efeito de luz ficou muito bacana. @Sergiomorisson, via instagram
ALMOÇO DE PODER
Eu achei o subtítulo um pouco polêmico (PODER 122). Comecei a ler morrendo do coração (risos), mas o texto estava bem bacana e bem escrito. José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni), Rio de Janeiro (RJ), via WhatsApp Nota da redação: O que será que Boni achou polêmico: ser a personificação do bon-vivant ou gostar de curtir a vida à larga? Mistério...
CULTURA INC.
Difícil imaginar como é ter de montar um filme para reconstruir uma parte – diga-se, bastante dolorosa – importante de sua vida, de sua memória. O texto sobre o filme Deslembro, de Flavia Castro, me marcou (PODER 122). Fiquei morrendo de vontade de assisti-lo. Ana Maria Duarte, São Paulo, via e-mail
FOTO PPEDRO DIMITROW
ESTANTE
Gostei bastante do texto da seção Estante (PODER 122), a repórter conseguiu sintetizar bem o que conversamos, ficou bacana. Valeu mesmo! Santiago Nazarian, São Paulo (SP), via e-mail
/poder.joycepascowitch
AGENDA PODER
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MEMÓRIA
FOTOS REPRODUÇÃO
O Oscar não serve como medida para o talento de muitos cineastas, europeus sobretudo, que têm na literatura e na palavra companheiras fiéis. Caso do italiano Bernardo Bertolucci (19412018), morto em novembro. Mas não se pode dizer que ele tenha ficado incomodado com a aclamação de O Último Imperador (1987), que levou nove prêmios da Academia – entre eles os de melhor filme, direção e roteiro – escrito, aliás, por ele. Mas não são as cenas grandiosas na Cidade Proibida que ficam na memória dos que conhecem bem sua filmografia. As do apartamento vazio em que Marlon Brando e Maria Schneider levam sozinhos O Último Tango em Paris (foto) despontam, claro, mas há também as cenas na banheira do belo e refrescante Os Sonhadores, seu filme temporão dos anos 2000, e os espaços infindos de O Céu que Nos Protege, de 1990, baseado no livro de Paul Bowles. Mas antes desses filmes existem os da época de formação, que exploraram temas tão caros aos italianos, como o fascismo – aqui numa escala humana, interiorizada, jamais panfletária. “Eu não filmo mensagens”, dizia.
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