Revista Poder | Edição 122

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ISSN 1982-9469

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NOVEMBRO 2018 N.122

TENDÊNCIA

Por que poderosos do mundo digital estão de olho na mídia tradicional

HORÁRIO NOBRE

BONI, um dos maiores

experts em TV do Brasil, diz que é hora de o telejornalismo se reinventar

NAMORO CORPORATIVO

Até no momento de contratar os aplicativos agora dão match. Pode isso?

CAUDA DE COMETA A ambição sem limites do excêntrico bilionário YUSAKU MAEZAWA, CEO da Zozotown, a Alibaba japonesa

SPRINT Como o ex-piloto PEDRO BARTELLE fez da Vulcabras Azaleia e sua marca Olympikus campeãs de vendas

E MAIS

CÂMERA E AÇÃO

O estilo muso do ator GABRIEL LEONE, protagonista da nova geração

GILDO ZEGNA não abandona o DNA para inovar sua grife; a sofisticação de Courchevel; e motos para delirar



SHOWROOM RUA CHABAD, 86 - JARDINS 11 3 0 6 4 -7 3 5 3 AL AMEDAJARDINS.COM.BR


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SUMÁRIO EDITORIAL COLUNA DA JOYCE CORRIDA DE OBSTÁCULOS

O CEO da Vulcabras Azaleia, Pedro Bartelle, e os desafios para recolocar a empresa na pista 26

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CURTIU MEU CV?

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O excêntrico Yusaku Maezawa ditando o futuro da moda

PICO DA COROA

Courchevel: a estação de esqui preferida da realeza britânica PODER VIAJA É DE PODER SOB MEDIDA

O sucesso da Ermenegildo Zegna, empresa familiar centenária

SOB NOVA EDIÇÃO

A MODA ENTROU EM ÓRBITA

DIÁRIOS DE MOTOCICLETA

As motos que vão te fazer esquecer dos automóveis

Entre vinhos da melhor safra e uma conversa sagaz, Boni diz que é hora de o telejornalismo se reinventar

As companhias tradicionais do jornalismo mudaram de dono nos EUA. Qual a perspectiva para o Brasil? CANTO, DANÇO E REPRESENTO Gabriel Leone no auge

RESPIRO

A inesquecível música erudita de George Gershwin

ALMOÇO DE PODER

Os apps que servem só para fazer negócio criados pelas gigantes das redes sociais como Tinder 36

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COZINHA DE PODER HIGH-TECH CULTURA INC. ESTANTE UNIVERSO TREINAMENTO CORPORATIVO CARTAS ÚLTIMA PÁGINA

PEDRO BARTELLE POR ROBERTO SETTON

NA REDE: /Poder.JoycePascowitch @revistapoder @revista_poder

FOTO PEDRO DIMITROW

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PODER JOYCE PASCOWITCH

DIRETORA-GERAL JOYCE PASCOWITCH

PUBLICIDADE MULTIPLATAFORMA Rafaela F. Pascowitch (gestora)

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EDITOR Dado Abreu

Kelly Staszewski

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REPORTAGEM Fábio Dutra

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DIRETORA DE ARTE Emanuela Giobbi

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EDITOR DE ARTE David Nefussi

MARKETING

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FOTOGRAFIA Carla Uchôa Bernal

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Hércules Gomes

Inácio Silva (revisão) Luciana Maria Sanches (checagem)

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COLABORADORES Adriana Nazarian, Aline Vessoni, Anderson Antunes, Anderson Ayres, Bruna Guerra, Carla Julien Stagni, Chico Felitti, Cuca Ellias, Fernanda Bottoni, Fernanda Grilo, Giovanna Balzano, Juliana Rezende, Luís Costa, Marcelo Saraiva, Paulo Freitas, Paulo Vieira, Pedro Dimitrow, Roberto Setton, Sergio Chaia

Renato Vaz

Núbia Dias

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DISTRIBUIÇÃO EM BANCAS: Distribuída pela Dinap Ltda. Distribuidora Nacional de Publicações, Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, 1.678, CEP 06045-390 – Osasco – SP CTP, IMPRESSÃO E ACABAMENTO: Stilgraf Artes Gráficas e Editora Ltda. REPRESENTANTES DE PUBLICIDADE Belo Horizonte: Norma Catão - tel. (31) 99604-2940 Brasília: Front Comunicação - tel. (61) 3321-9100 Fortaleza: Aurileide Veras - tel. (85) 99981-4764 GLAMURAMA EDITORA LTDA. DIRETORES: Joyce Pascowitch e Ezequiel Dutra CONSELHO CONSULTIVO: Silvio Genesini, Moshe Sendacz e Fábio Dutra Rua Cônego Eugênio Leite, 282, Jardim América, São Paulo, SP - CEP 05414-000. Tel. (11) 3087-0200



PODER EDITORIAL

N

inguém sabe em que porto o Brasil vai atracar com a navegação tumultuada que vem pela frente, essa que tem por bússola o liberalismo econômico e o conservadorismo nos costumes. O que se sabe é que a história é sempre boa conselheira, e é nela que se deve mergulhar para aí recolher as melhores práticas. Na área empresarial, por exemplo, às vezes é preciso dar muitos passos atrás para dar um único à frente. Foi o que fez a decana Vulcabras Azaleia, que passou por violenta reestruturação para seguir relevante no Brasil. Seu CEO, o ex-piloto de corrida Pedro Bartelle, hoje se orgulha de ter uma marca líder, a Olympikus, e acaba de anunciar a incorporação dos negócios brasileiros da americana Under Armour, uma das grifes esportivas mais importantes do mundo. Passamos por graves transformações, e nessa hora é preciso ter cuidado redobrado com o que se está a derrubar. Na mídia, são os próprios agentes da mudança, os empresários do mundo digital, que reconhecem a importância das velhas instituições – revistas e jornais como Time e The Washington Post – e agora se esforçam por preservá-las. E por falar no tema, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, centro de nosso Almoço de PODER, pede que o jornalismo, que ele só acompanha pela TV, “seja revisto”. Foi o que disse ao editor Dado Abreu em meio a goles de tintos raros das melhores safras que trouxe de sua própria adega. Entre o sim e o não existe um vão, diz o poeta, e entre o que foi e o que será, uma junção. Na moda, Gildo Zegna, da centenária Ermenegildo Zegna, e Yusaku Maezawa, da futurista Zozotown, podem parecer estar em pontos distantes – ou muito ao contrário, confira você. No mais, passam por aqui o belo e musical Gabriel Leone, aplicativos para dar match no trabalho, motos para estar on the road, as maravilhas de Courchevel, uma das estações de esqui mais sofisticadas do mundo, aparelhos para ter imagens de cinema em casa... E ainda tem mais, muito mais. Pode virar a página. E boa leitura.

G L A M U RA M A . C O M



PASSA ANEL

Ainda no período eleitoral, logo que terminou o primeiro turno, uma turma de alta plumagem começou a passar o chapéu em favor de GERALDO ALCKMIN. A ideia do grupo era convocar o empresariado parceiro para estimular o ex-governador e candidato derrotado à Presidência da República a dar palestras. O motivo alegado é que Alckmin, enfraquecido dentro do PSDB, estaria sem fundos.

LIQUIDIFICADOR

A equipe do presidente eleito JAIR BOLSONARO tem mostrado preocu-

pação com a influência de Paulo Marinho, suplente na chapa do senador eleito pelo Rio de Janeiro FLÁVIO BOLSONARO, no próximo governo. Foi na mansão do empresário, no Jardim Botânico, que o ainda candidato do PSL gravou seus programas eleitorais, e tem sido ali, desde então, o QG do núcleo duro bolsonarista. O sinal de alerta foi ligado.

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Não foi apenas o receio de uma eventual – e nova – derrota para Dilma Rousseff que fez AÉCIO NEVES abrir mão da eleição ao Senado e se contentar em disputar uma cadeira por Minas na Câmara Federal. É que os Neves não gozam mais do prestígio de outrora. No condomínio em Belo Horizonte onde mora a irmã de Aécio, Andrea, a família está em baixa. Tome-se o dia em que ela saiu da cadeia e voltou para casa. Sem saber como proceder com a ex-detenta, os seguranças barraram a irmã do deputado eleito na portaria até que um juiz, também morador do local, avaliasse a entrada da condômina. Não havia, claro, cabimento jurídico para tal impedimento, e Andrea pôde voltar sem sobressaltos para casa. Não dá para dizer, contudo, que ela é hoje benquista pela vizinhança.

Sentinela

Uma série de assaltos está tirando o sono de alguns moradores do Jardim Europa, bairro com um dos valores de metro quadrado mais altos de São Paulo. No mês passado, vários poderosos tiveram suas casas invadidas em roubos vultosos. A onda de medo está instaurada e virou assunto urgente em grupos de WhatsApp.

FOTOS ROBERTO SETTON; REPRODUÇÃO INSTAGRAM; WILSON DIAS/AGÊNCIA BRASIL; ISTOCKPHOTO.COM

ÀS CLARAS



STAR

A mobilização é grande no meio de um grupo de banqueiros e empresários. Eles buscam arranjar uma namorada para um dos novos solteiros mais cobiçados deste país, um megainvestidor. Os amigos estão fazendo uma lista de pretendentes, e é ocioso dizer que a oferta está em alta. O que não quer dizer que a tarefa seja fácil.

NO AR Além da , que terá LATAM

ainda este ano um voo direto para Israel (saindo de Santiago, com escala em São Paulo e destino Tel-Aviv), a EL AL estuda retomar também a rota que manteve entre abril de 2009 e novembro de 2011, encerrada em razão dos altos custos da operação. Pela Latam serão três saídas semanais no aeroporto de Guarulhos, às segundas, quartas e sextas-feiras.

EDUQUE-SE

RODRIGO GALINDO, presidente da Kroton Educacional, foi eleito Empreendedor do Ano pela EY e representará o

Brasil no World Entrepreneur of the Year, que ocorrerá em junho de 2019. “Fico muito orgulhoso em ver a educação celebrada por esse prêmio. Empreender no Brasil não é fácil. Nós seguimos em frente porque conhecemos o potencial transformador do nosso trabalho e acreditamos nele”, comemorou o executivo, que recebeu o troféu das mãos de Rubens Menin, fundador da construtora MRV Engenharia e primeiro brasileiro reconhecido como World Entrepreneur of the Year, comenda concedida este ano, na etapa mundial do programa, em Mônaco.

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FOTOS BRUNA GUERRA; DIVULGAÇÃO; ISTOCKPHOTO.COM

ALTA-COSTURA

A vela brasileira está no topo. GUILHERME DE ALMEIDA e JORGE ZARIF conquistaram em Oxford, nos Estados Unidos, o Campeonato Mundial da Classe Star, uma das mais importantes do iatismo. O título aumentou a tradição do Brasil na categoria, a mesma em que Torben Grael e Marcelo Ferreira, Robert Scheidt e Bruno Prada, entre outros, faturaram o ouro. Agora campeão, o médico dermatologista Guilherme de Almeida poderá focar no seu casamento com a amazona Thalita Gorri. A festa, em dezembro, promete ser das mais badaladas do ano.



Sempre perdoe seus inimigos. Nada pode os enfurecer mais. OSCAR WILDE

3 PERGUNTAS PARA... MICHAEL SCHMID, gerente-geral do recém-inaugurado Four Seasons São Paulo

O cliente brasileiro está entre os top 10 que mais visitam os hotéis da rede ao redor do mundo. Ter operação no Brasil era importante para reafirmar nossa presença nesse mercado tão relevante. O Four Seasons tinha interesse em abrir uma unidade no país havia pelo menos 15 anos. Foi um longo processo em busca de um investidor que tivesse os mesmos valores, aceitasse o modelo de negócio e respeitasse as regras alinhadas com nosso padrão de qualidade. O Four Seasons é uma management company, o que significa que não somos proprietários do imobilizado, apenas da operação, então, precisamos encontrar o parceiro certo para esse casamento. Nós abrimos o hotel em outubro e o que mais me trouxe satisfação foi a evolução das instalações, assim como [a evolução] de cada um em seu ambiente de trabalho. Sabemos que somente quando estamos confiantes, dominando nossa arte, que duas coisas incríveis acontecem: temos capacidade de fugir do script e assim entregar um

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serviço memorável; e que as verdadeiras conexões nascem desses momentos espontâneos, então temos mais satisfação em realizar nossa missão e nos divertirmos mais. No Four Seasons acreditamos que a experiência do hóspede está intimamente conectada à experiência dos funcionários. O HOTEL TEM TAMBÉM UNIDADES RESIDENCIAIS. O QUE MUDA NO SERVIÇO PRESTADO PARA ESSES CLIENTES E POR QUE APOSTAR NO MIX?

Esta é uma tendência de mercado e já temos 39 unidades com esse modelo ao redor do mundo. Chamamos esses clientes de moradores, e os moradores têm algumas exclusividades. Em São Paulo eles têm elevador com acesso exclusivo aos seus andares e entrada com recepção separada. As residências são maiores: têm de 95 m² a 213 m². E o projeto é do Arthur Casas, diferentemente dos quartos que são assinados pelo escritório californiano Bamo. Decidimos apostar nessa operação mista porque hoje as pessoas querem aproveitar seu tempo livre com menos preocupação. Isso é o luxo moderno. Ter tempo disponível para fazer o que quiser sem ter de se preocupar com as demandas do cotidiano. Nós cuidamos

de tudo tanto para os hóspedes como para os moradores. Os serviços são os mesmos: concierge, room service 24/7, serviços de governança, restaurante, valet, bar e academia... QUAIS SÃO OS DESAFIOS DE UM HOTEL DE LUXO NO CAOS DE UMA METRÓPOLE COMO SÃO PAULO?

Cada lugar traz as suas vantagens e desafios. Aprendi que é a forma com que você abraça as circunstâncias locais e a cultura que faz uma abertura bem-sucedida. Uma cidade como São Paulo tem muitos benefícios, como o acesso aos produtos, fornecedores e trabalhadores. Mas a logística pode ser mais complexa, portanto planejar com antecedência torna-se mais importante. Como hoteleiro, gosto de me mover pelos países não como turista, mas como alguém capaz de aprender a cultura, a língua e os costumes locais. Isso abre a mente e me faz entender melhor pontos de vistas diferentes. A habilidade de se colocar no lugar do outro é pré-requisito nessa indústria de serviços.

FOTOS PAULO FREITAS; GETTY IMAGES

QUAL A IMPORTÂNCIA DA OPERAÇÃO BRASILEIRA PARA A REDE E POR QUE A DEMORA PARA CHEGAR AO PAÍS?



EM NOVEMBRO, A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO...

de olho na possível recuperação da economia no ano que vem CORRER a meia maratona de Fernando de Noronha (21k Noronha), a corrida mais bonita do mundo EXPLORAR o Artepensamento, uma plataforma gratuita que lembra a Netflix, porém com textos e entrevistas – são 315 ensaios de 124 autores diferentes, entre eles Paulo Leminski, Maria Rita Kehl, Marilena Chauí e Francis Wolff COMEMORAR

os 90 anos de Mickey Mouse em Nova York na mostra Mickey: The True Original Exhibition

ASSISTIR ao

documentário Filme Paisagem: Um Olhar Sobre Roberto Burle Marx, aclamado na 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo ABANDONAR as redes sociais por um fim de semana e aproveitar a vida real SELECIONAR os vinhos para brindar as festas de Natal e Ano-Novo SENTAR numa poltrona de Zanine Caldas ou Rino Levi e pedir um café no Perseu, no hall de entrada do novo edifício Santos Augusta

PODER INDICA

NOVO MORAR

Casas de altíssimo padrão, com segurança e praticidade próprias de condomínio, são tendência no mercado de luxo. Um empreendimento poderoso desse tipo é o ONEHAUS, que a G.D8 está construindo no Alto de Pinheiros. Inspirado na escola de Bauhaus, o projeto sofisticado é do escritório Jacobsen Arquitetura e traz um olhar sobre o futuro, apostando em residências multigeração, que acomodam as diferentes fases de uma família. São cinco casas de três pisos com 1.200 m² de área privativa, elevador, quatro ou cinco suítes, sendo uma máster, sala de estar, home theater, sala de jantar integrada à cozinha e piscina natural. Com tudo isso, difícil escolher um único highlight, mas o solarium com summer kitchen e vista do bairro sai na frente. Um porém: antes mesmo do lançamento, só uma das casas segue à venda, por R$ 22 milhões.

com reportagem de dado abreu 14 PODER JOYCE PASCOWITCH

FOTOS REPRODUÇÃO INSTAGRAM; TUCA REINÉS; ORGANIZAÇÃO CORINNA SAGESSER; DIVULGAÇÃO

REVER seus planos de investimento

APRENDER a jogar um novo jogo de tabuleiro do tipo xadrez ou gamão VISITAR a exposição Mulheres do Quênia, com fotos de Tuca Reinés e idealização de Corinna Sagesser, na Galeria Estação, em São Paulo, com vendas revertidas para a construção de uma creche no país africano. De 26 de novembro a 1º de dezembro DESBRAVAR os pampas uruguaios pelas vinícolas das regiões de Canelones, Colônia e Maldonado ESCOLHER um dia da semana para desligar e renovar pessoalmente a decoração de sua sala de trabalho, no melhor estilo “mudar para mudar”


PODER INDICA

ASSUMINDO DESAFIOS PARA REALIZAR SONHOS

Talvez você não saiba, mas a AGC faz parte da sua vida. Senão no espelho do banheiro – o que parece improvável –, a tecnologia de ponta da Asahi Glass Company se abre na janela de sua casa. Ou está no vidro do carro. Ou na tela da sua televisão. Ou no smartphone, no móvel da cozinha, no box do chuveiro, na fachada do prédio... Baseado em mais de um século de inovação técnica, o Grupo AGC é líder mundial na produção de vidros planos para aplicação em todos os segmentos da construção civil e do setor automobilístico. São soluções inspiradoras e diferenciadas para projetos de arquitetura, design de interiores e movelaria, tudo isso com a qualidade de produtos únicos, que tornam possíveis grandes realizações e trazem ideias mais ousadas à vida. “A missão da AGC, desde a sua fundação, é enriquecer a vida de seus consumidores e contribuir para o desenvolvimento da sociedade entregando soluções inovadoras para projetos singulares. Seja com o melhor espelho do mundo aplicado em uma parede da casa ou proporcionando conforto térmico e economia no consumo de energia com o inovador Sunlux Shadow”, comenta Franco Faldini, diretor de vendas e marketing. Para firmar essa mensagem, a marca apresenta sua nova assinatura “Your Dreams, Our Challenge” (“Seus Sonhos, Nosso Desafio”, em tradução livre), que expressa o conceito básico da atitude corporativa da AGC em sempre assumir desafios para tornar melhor, e mais interessante, a vida das pessoas. Para além do que se vê.

VIDROSDECORATIVOS.COM / @BRASILAGC (FACEBOOK) @AGCVIDROSBRASIL (INSTAGRAM)


U M A N O VA F I L O S O F I A D E L U X O.

Incorporadora responsável: CBR051 Empreendimentos Imobiliários Ltda. Empreendimento registrado em 26/09/2018, sob o nº 4 na matrícula nº 227.524 do 14º Cartório de Registro de Imóveis de São Paulo/SP. Terreno em processo de reabilitação para fins residenciais, com plano de intervenção aprovado, conforme o processo na CETESB nº 020988/2017-34. Manejo arbóreo e plantio compensatório autorizados, conforme o Processo Administrativo SVMA nº 2018-0.039.774-3. Projeto arquitetônico: LE Arquitetos. Projeto de decoração das áreas comuns: YOO STUDIO. Projeto paisagístico: Benedito Abbud. Perspectiva ilustrada do lobby. O acabamento, a quantidade de mobiliário e os equipamentos serão entregues conforme o Memorial Descritivo do empreendimento. As perspectivas ilustram a vegetação com porte adulto, que será atingido após a entrega do empreendimento e de acordo com o projeto de paisagismo. O empreendimento está localizado na Av. Professor Ascendino Reis, 1145. Cyrela: Rua do Rócio, 109 – 3° andar – sala 01 – Vila Olímpia – CEP 04552-000 – São Paulo/SP. Comercialização: Cyrela (Creci J-17.592). Intermediação: LPS São Paulo – Consultoria de Imóveis Ltda. – Rua Estados Unidos, 1971 – Jardim América – São Paulo/SP – CEP 01427-002 – tel. (11) 3067-0000 – www.lopes.com.br – CNPJ 15.673.605/0001-10 – CRECI/SP 24.073-J.


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T H E RE S IDE NC E S I 1 6 1 E 2 4 4 M 2

VISITE O DECORADO | (11) 4118-3565 AV. P R O F. A S C E N D I N O R E I S , 1 1 4 5

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REALIZAÇÃO E CONSTRUÇÃO:


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RAIA

CORRIDA DE OBSTÁCULOS Os desafios que Pedro Bartelle, CEO da Vulcabras Azaleia, vem superando para recolocar a empresa na pista e fazer de seu principal produto, o tênis Olympikus, vencedor numa luta contra gigantes POR PAULO VIEIRA

FOTOS ROBERTO SETTON

PODER JOYCE PASCOWITCH 19


A

imagem da luta bíblica de Davi contra Golias voltou com tudo nestas eleições. Muitos políticos conhecidos, de siglas com direito a bons nacos de fundo partidário e tempo de propaganda eleitoral, foram derrotados pelos azarões, qual Golias por Davi no livro de Samuel. Um fenômeno que não se restringiu às campanhas majoritárias: para ficar num exemplo emblemático, o sempre governista Romero Jucá, do MDB, perdeu sua vaga cativa de senador por Roraima para o deputado estadual Mecias de Jesus, do PRB, por 426 votos. Em outro plano, o empresário gaúcho Pedro Bartelle, de 42 anos, CEO e sócio da Vulcabras Azaleia, encarna um Davi à brasileira a enfrentar os filisteus globais. Sua Olympikus, a marca esportiva que responde por 80% do faturamento da Vulcabras, disputa mercado com Nike, Adidas, Mizuno, Asics, Fila e Puma, que, com suas estruturas mundiais e escalas planetárias de produção, marketing e vendas, tem as tais condições objetivas para asfixiar a concorrência local onde bem entenderem. Mas no Brasil as coisas ao menos aí andaram contrariando a estatística, e a Olympikus tornou-se protagonista no segmento de calçados esportivos: é a que mais vende pares de tênis no Brasil, segundo estudo da consultoria Kantar Worldpanel. “As concorrentes mundiais são muito maiores, sem dúvida, e a gente tem bastante orgulho de poder dizer que só há três marcas nacionais líderes em seus países. A Nike, nos Estados Unidos, a Adidas, na Alemanha, e a Olympikus, no Brasil. Isso é tema de nossas reuniões motivacionais”, disse Bartelle a PODER no

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31º andar de um prédio contíguo ao Shopping Eldorado, uma das bases da Vulcabras em São Paulo. No automobilismo, que Bartelle conhece tão bem, costuma-se dizer que o pior lugar para estar é justamente a primeira posição, pois todos passam a persegui-lo. Liderar, assim, não é uma tarefa simples, e não dá para fazê-lo por inércia. Se o postulado vale para o mundo empresarial, a Vulcabras vem sendo pilotada com a destreza de vencedores. Seu último grande movimento foi fazer uma aquisição de peso, numa estratégia clara de reforçar sua posição perante os adversários. Por R$ 97,5 milhões, a empresa assumiu pelos próximos dez anos a operação brasileira da americana Under Armour, que já esteve entre as três maiores marcas esportivas do mundo e que chegou ao Brasil em 2014. No pacote veio toda a estrutura física, os 120 funcionários e os contratos adrede celebrados pelos gringos, como os patrocínios dos times de futebol Fluminense e Sport Recife. Um garoto-propaganda involuntário da marca é Jair Bolsonaro, que fez seu famoso “live” da avenida Paulista no domingo anterior àquele que se consagrou presidente eleito usando uma camiseta verde Under Armour. “Chegamos à conclusão de que as empresas se complementam, são marcas inovadoras que se apoiam na tecnologia. A Under Armour precisava de um parceiro que entendesse o mercado brasileiro.” Antes mesmo de anexar a Under Armour, a Olympikus já empunhava três ou quatro armas que a ajudavam a ter vantagens competitivas no Brasil. Preço é a principal delas. Seus tênis são o que Bartelle chama de “smart choice” (escolha inteligente), pois entregam “conforto, performance e resistência” por R$ 250 a

R$ 300. Nike, Adidas, Mizuno e Asics cobram até R$ 800, em média, por um lançamento, valor bastante impactado pelo câmbio. A outra arma é a rapidez na reposição de estoques, que pode vir a ser mensal, o que permite à marca aumentar rapidamente a disponibilidade de um produto caso ele “bombe”. Também por essa razão a companhia não inunda seus pontos de venda com o mesmo modelo, evitando lançar mão de liquidações para seduzir o comprador em fuga, expediente comum no setor. Conhecer bem as preferências


TALENTO NAS PISTAS

do brasileiro é um terceiro trunfo, um dos motivos, na opinião do CEO, de ter fechado o acordo com a Under Armour, cujos executivos talvez não dominassem bem o wishful thinking nacional. “O brasileiro gosta de cor e de ter a tecnologia visível no tênis, já que o considera um produto de inclusão social”, informa Bartelle. Por fim, a Vulcabras acumulou experiência em gestão de marcas esportivas estrangeiras no Brasil, pois produziu e comercializou aqui Adidas e Reebok. Mais um fator de atração para os americanos.

Quem vê a Vulcabras indo às compras talvez não imagine o brutal movimento de contração iniciado em 2011 e que ceifou 30 mil dos 45 mil empregos que havia na companhia. No processo, 29 das 32 fábricas – ainda que “satélites”, como diz o CEO – fecharam as portas. Bartelle ainda não era o principal executivo da empresa, e foi preciso chamar gente da pesada, a consultoria Galeazzi, de Claudio Galeazzi, famoso por suas reestruturações x-rated (Grupo Pão de Açúcar, Estadão), para assumir o processo. O cavalo de

Um piloto talentoso, melhor que o pai na pista e que seria campeão da Fórmula 3 Sul-americana caso ficasse mais um ano na categoria. É assim que Augusto Cesário, da Cesário Fórmula, define o pupilo Pedro Bartelle. O atual CEO da Vulcabras correu por sua equipe em 1996, sagrando-se vice-campeão naquele ano. “Perdeu por detalhes”, lembra. Para Cesário, o piloto era dotado de técnica, disciplina, determinação e muita “força física e psicológica”. “Lamento que tenha decidido parar.” Vitorioso em três das 11 provas daquela temporada, Bartelle tentaria fazer a passagem para a F3 britânica logo em seguida, mas encontrou a escuderia Stewart, pela qual pretendia correr, com as duas vagas ocupadas. Cesário, que segue com sua escuderia na F3, fórmula agora exclusivamente brasileira por conta da crise argentina, diz que o custo de se manter um carro na categoria hoje é de US$ 250 mil. Segundo ele, nos anos 1990 era mais caro. A Grendene, por meio de um de seus mais famosos produtos, a sandália Rider, apoiava o jovem piloto. PODER JOYCE PASCOWITCH 21


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‘‘Só há três marcas nacionais líderes em seus países, a Nike, a Adidas e a Olympikus. Isso é tema de nossas reuniões motivacionais” pau foi precipitado, segundo Bartelle, pela crise mundial da década passada e pelo “excedente de produção” que as Grandes Irmãs do material esportivo destinaram aos países emergentes com preços “agressivos ao extremo”. Ele ainda acha que as marcas “reforçaram posição no Brasil no momento em que se aproximavam os grandes eventos, a Copa e a Olimpíada”, quando então “colocaram grande força na publicidade”. A reestruturação foi violenta, sangrenta, mas trouxe de volta a Vulcabras ao jogo. Para o CEO, naquele momento a empresa abandonou seu forte “viés industrial” para abraçar a cultura de uma “gestora de marcas”, mesmo que tenha de fabricá-las. Depois de cinco anos amargando prejuízos, em 2016 a Vulcabras reencontrou o azul. Em 2017, mais boas notícias: um IPO feito no segmento Novo Mercado da BM&FBovespa – foi a segunda vez que a empresa fez sua abertura de capital – captou cerca de R$ 747 milhões. No primeiro semestre de 2018, impactado pela paralisação dos caminhoneiros, o lucro bruto da empresa ficou em R$ 197 milhões, 13,2% abaixo do mesmo período do ano anterior.

COCKPIT

A cadeira de CEO de uma empresa que passa por um downsizing dessa magnitude não deve ser o lugar mais agradável para sentar, mas Bartelle foi forjado em espaços que não se caracterizam, digamos, pela ergonomia. Antes de chegar à Vulcabras o executivo precisou aprender a domar o caos dentro de um trepidante

cockpit. Sua principal escola de negócios foram as pistas, onde ele fez carreira dos 8 aos 22 anos, sucedendo o pai, também Pedro, que fundou a Grendene e adquiriu a Vulcabras nos anos 1970, como o piloto da família. O júnior começou no kart, passou pelas fórmulas Ford e Chevrolet e pendurou a balaclava na F3 Sul-americana. Ele chegou a iniciar conversas para correr na Europa, na escuderia de Paul Stewart, filho da lenda da Fórmula 1 Jackie Stewart, mas os negócios da família acabaram falando mais alto. “O automobilismo é uma escola fantástica, o piloto tem de cuidar de patrocínio, imagem, logística da equipe. Ainda aprende muito de estatística, métricas, interpreta gráficos”, diz. “É um esporte de risco, por isso é preciso desenvolver disciplina e concentração. Quando as pessoas me convidam para correr [recreativamente], digo que não é bem assim, é preciso muito preparo”. Para coach de sua carreira no automobilismo, Bartelle seguiu o exemplo de Ayrton Senna, contratando a “chez” Nuno Cobra. “Ele era um aluno determinado e atencioso, que aprendia rápido as coisas”, disse a PODER Nuno Cobra Jr., que segue o método do pai. A entrée no mundo corporativo do CEO se deu por uma empresa de varejo e, mais tarde, em 2003, no comando dos negócios da filial argentina da Vulcabras, que havia sido montada com a aquisição do cliente argentino para quem ela exportava seus calçados. Bartelle mudou-se para o país vizinho no momento em que a Argentina se afundava numa

de suas enésimas crises e assistia à chegada ao poder de um desconhecido político do interior, Nestor Kirchner. País notório por suas idiossincrasias, Bartelle não considera a experiência particularmente “tricky”. Lá liderou 80 pessoas e chegou a montar uma fábrica. Da mesma maneira como faria no Brasil, também tentou levar a marca Olympikus às massas hermanas, tornando-se fornecedor oficial de material esportivo para times de futebol, casos do Racing, Lanús e Argentinos Juniors, este famoso por revelar para o mundo Diego Maradona.

LUSCO-FUSCO

Quem observou a enorme exposição da Olympikus em tantos esportes nos anos 2000 e hoje não consegue ver o logotipo dos anéis olímpicos nas roupas dos jogadores de tantos campos e quadras deve desconfiar que a época de ouro da marca passou. A Olympikus já patrocinou delegações brasileiras inteiras e atletas vencedores como Guga Kuerten, Maurren Maggi e Gustavo Borges, sem falar de alguns dos times de futebol mais populares do Brasil como Flamengo, Cruzeiro e Internacional, este o clube do coração de Bartelle. Hoje, a marca apenas se destaca pelo patrocínio à Maratona do Rio, principal evento de corrida amadora do Brasil, com perto de 9 mil “finishers” (os corredores que concluem os 42 quilômetros da prova), número crescente, mas ainda muito modesto diante das maratonas de Nova York ou de Londres, que chePODER JOYCE PASCOWITCH 23


ENTRANDO DE SOLA

gam a reunir 50 mil participantes. Mas é bom reafirmar que as cicatrizes da terapia de choque que tirou a marca dos campos e da mídia pouco a pouco estão a se dissipar. Em 2018, antes mesmo de anunciar o acordo com a Under Armour, a Vulcabras divulgou a contratação do estilista Alexandre Herchcovitch, que já havia colaborado com a Olympikus em 2004, ajudando a desenhar os uniformes dos atletas brasileiros convocados para a Olimpíada de Atenas, quando a marca era patrocinadora oficial do COB (Comitê Olímpico do Brasil). Com o novo “head de estilo”, a ideia é aumentar a presença da Olympikus em vestuário e acessórios, segmento conhecido por

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A linha de produção da Olympikus, que agora também vai fabricar os produtos da americana Under Armour

“athleisure”. “Esse é o negócio que mais tem crescido no setor. Como o esporte influencia muito o comportamento e o lifestyle e a Olympikus é a maior marca esportiva brasileira, tem ainda mais autoridade para participar desse movimento”, diz Bartelle. A primeira coleção com o dedo do estilista chega ao mercado em 2019, mesmo ano em que começa a produção dos tênis da Under Armour na fábrica de Parobé, no Rio Grande do Sul. Os tênis Olympikus vêm gerando parte esmagadora da receita da Vulcabras, o que fez com que as duas marcas femininas famosas do portfólio da empresa, a Azaleia e a Dijean, ficassem bastante

à sombra no período pós-reestruturação, momento em que se pedia ainda mais foco na atividade principal. Bartelle admite que “calçado feminino não é sua especialidade”, mas acha que agora as duas linhas, que são geridas em unidade própria, “vêm sendo bem cuidadas”. “Espero que elas nos deem alegrias rapidamente”, diz. Considerando que seu pai, Pedro Grendene Bartelle, e seu tio, Alexandre, entraram para o panteão da indústria nacional com uma marca feminina de fama mundial, a sandália Melissa, da Grendene, é de se esperar que o sucessor na linhagem logo encontre um bom caminho. n

FOTOS BLOCO FILMES/ DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

O que Paulo Maluf, Leonel Brizola e Vicente Matheus têm em comum? Além do inegável carisma, o trio foi protagonista, no começo dos anos 1990, de campanhas publicitárias do mais famoso produto da história da Vulcabras, o 752, sapato conhecido pela sola de borracha vulcanizada e pela durabilidade. A empresa foi fundada em julho de 1952 – daí o nome de seu sapato –, e teve na figura do suíço Josef Pfulg seu “pai”. Numa entrevista a O Estado de S. Paulo ele conta com enorme pesar como passou a empresa para os irmãos Pedro e Alexandre Grendene em 1988, que a compraram depois de movimentos agressivos na bolsa – a Vulcabras abriu o capital em 1977. “Eu estava vendo meu filho morrer e caí em desespero. Ou praticava a eutanásia, entregando minha própria cria à falência, ou a passava para alguém que tivesse dinheiro.” A Vulcabras havia desenvolvido clara vocação esportiva, pois, desde 1973, era licenciada da Adidas, Puma e Reebok para produzir e comercializar seus tênis aqui. Em 2007, com a fusão com a Azaleia, detentora da marca Olympikus, o negócio foi reformatado. A Vulcabras voltaria à bolsa, já como Vulcabras Azaleia S.A. em outubro do ano passado, para um novo IPO. Pedro Grendene Bartelle, seus filhos e a ex-mulher Maria Cristina Nunes de Camargo detêm hoje cerca de 49% dos papéis da empresa.


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XAMÃ

BONI

Principal executivo da Rede Globo por três décadas, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho é a personificação do bon-vivant. Aproveita hoje os dias pacatos no comando da TV Vanguarda para curtir a boa mesa e a vida à larga. Nesta entrevista, convidou PODER a adentrar seu “clube”, num restaurante do Leblon, serviu vinhos de sua própria adega e falou sobre televisão, gastronomia, jornalismo, eleições e La Casa de Papel POR DADO ABREU

N

FOTOS JULIANA REZENDE

ão faz muito tempo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, caminhava sozinho pela rua Rainha Guilhermina, no Leblon, quando foi abordado por uma senhora furiosa. “Canalha! Você me colocou ontem no Jornal Nacional dizendo que sou fraudadora do INSS”, gritava a mulher com uma revista enrolada, que usava para atacar o incrédulo sujeito de cabelos brancos. “Mas, minha senhora, eu estou há 20 anos fora da TV Globo, não sei do que você está falando”, tentou argumentar Boni, sem antes levar mais alguns golpes e ser chamado de mentiroso. “Canalha! Mentiroso! Foi você sim.” O relato que hoje arranca gargalhadas do velho Boni mostra o quanto sua imagem ainda está ligada à TV Globo. Por 30 anos, ele ocupou cargos de chefia na emissora carioca e foi responsável pela maior revolução de mídia no Brasil. Suas inovações passam pela grade de programação do jeito que nos acostumamos a conhecer, pela criação do Projac e da Central Globo de Produção e por seu maior legado, o “padrão Globo de qualidade”, que Boni insiste ser um “rótulo criado

pela imprensa”. “Sempre fui intolerante e nunca aceitei nada menos do que o máximo. Daí veio essa expressão, que não nasceu lá dentro, como muitos pensam.” Prestes a completar 83 anos, há três assuntos que ele versa com maestria: mídia, gastronomia e... medicina (?!). “Sou do tipo que prescreve remédio pra doutor”, brinca, ao receber PODER no Nido Ristorante, um italiano charmoso do Leblon chamado por Boni de “clube”, em referência a uma característica perdida pela boemia carioca. “No passado os bares e restaurantes tinham a capacidade de unir as pessoas. O primeiro foi o Antonio’s, aqui no Leblon, frequentado pelo pessoal da bossa nova, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Chico Buarque e outros menos votados como eu. Com o tempo isso foi se perdendo, mas alguns poucos lugares ainda carregam esse perfil.” No Nido, Boni é uma espécie de sócio informal. Dá palpite sobre a decoração e a cor das paredes, sugere troca no cardápio, tem mesa cativa e também o privilégio de trazer quando bem quiser de sua casa os vinhos de sua melhor safra – para PODER serviu um Château Pape Clément Blanc e um Gevrey-Chambertin 1er Cru Lavaux St-Jacques. O maître Ary, amigo dos tempos do


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“As entrevistas do JN pareciam um tribunal da inquisição em que os candidatos se apresentavam diante de um fórum sem juiz e sem defesa”

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lendário Monte Carlo nos anos 1970, é outra indicação do cliente famoso aos proprietários do estabelecimento. “É tudo em meu benefício”, diverte-se Boni. PLIM-PLIM POR PLIM-PLIM José Bonifácio de Oliveira Sobrinho tem todo jeitão, mas não é carioca. Nasceu em Osasco, na Grande São Paulo, em 1935, filho do dentista Orlando de Oliveira e da jornalista, psicóloga e escritora Kina de Oliveira. Ainda criança se apaixonou pelas notícias ouvindo as informações da Segunda Guerra num possante rádio de ondas médias e curtas no qual vivia grudado. “Na sala de casa tinha um quadro com o mapa-múndi onde meu tio Reynaldo tomava as lições. Ele me dava uma caixa de alfinetes de bolinhas e pedia para eu atualizar o status dos Aliados baseado no que eu tinha lido e ouvido. Era o jeito deles saberem se eu estava aprendendo”, lembra, advertindo que a fama de briguento que o acompanhou pela carreira deve-se a essa infância vivida em tempos bélicos. A ligação com a Rede Globo começou em 1967, a convite do falecido Walter Clark. A dupla foi responsável por criar, dois anos depois, uma rede nacional, tendo


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o Jornal Nacional como âncora da empreitada. A ideia não entusiasmava os dirigentes da época, que preconizavam um cardápio com atrações locais. A grade atual de programação, com três novelas além do telejornal noturno, também foi elaborada após madrugadas de bebedeira entre os amigos. “A gente costumava chamar a televisão de ‘nossa namorada’. Era assim que nos referíamos quando chegávamos em casa pela manhã e nossas mulheres nos colocavam na parede querendo saber com quem estávamos. Dizíamos que era com ela, a nossa namorada.” Anos depois, a amizade em cores foi abalada quando Clark, após um desentendimento com Roberto Marinho, todo-poderoso da TV Globo, acabou demitido. “O Walter queria que eu tivesse saído com ele, mas aquela era nossa última chance de fazer uma rede nacional como havíamos planejado. Tínhamos esse combinado”, conta, lembrando as passagens insatisfatórias de ambos por quase todas as emissoras concorrentes. Boni entrou na Globo aos 32 anos, como diretor de programação e produção, passou depois à superintendência da área, respondendo também por engenharia e comunicação, até ser nomeado vice-presidente de toda

parte operacional da empresa. É dele a famosa vinheta do plim-plim, a música de abertura do futebol, o modelo “tipo exportação” das telenovelas e outras dezenas de criações bem-sucedidas como os programas Globo Repórter, Fantástico e a melhor fase do humor televisivo brasileiro com Viva o Gordo e TV Pirata. Em 1997, deixou a emissora, mas não a desligou de vez de sua programação porque, desde 2003, é sócio e presidente da TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo com 46 canais no Vale do Paraíba, no Estado de São Paulo, onde o empresário octogenário bate o cartão toda quarta-feira e atua como “palpiteiro-mor com direito à palavra final”. “Jornalismo é o que me encanta. Não tenho mais paciência para o conteúdo enlatado de entretenimento, que caiu na mesmice, do mesmo jeito que eu o deixei, e não tem mais espaço na grade de uma televisão moderna”, opina, sem antes tecer duras críticas também ao conteúdo noticioso apresentado por boa parte das emissoras. “O jornalismo precisa ser revisto, não na sua qualidade, mas na sua estratégia. É muita embromação. Quando cai uma garoa em São Paulo eles resolvem entrevistar São Pedro. Não dá.” Com o jornalismo em pauta, a cobertura das últimas eleições presidenciais é colocada à mesa. Qual a avaliação de um dos notáveis da comunicação brasileira sobre a corrida com obstáculos de fake news que terminou com a vitória de Jair Bolsonaro? Pausa no papo. “Vamos pedir uma entradinha?”, propõe Boni, emendando num encorpado gole de vinho. Simpático, é nessa hora que o entrevistado brilha. Diverte-se como um cozinheiro criando pratos, aponta o cardápio em fatias e sugere “mudar um pouquinho” o menu – as vantagens de um clube – ao garçom. “Aqui não é como nos Estados Unidos onde tem aquela coisa chata de ‘no substitute’ (‘sem substituição’)”, brinca. A escolha fica para o trio de pastas que Boni altera e mexe como massa que não pode empelotar. “Tira o cacio e pepe e coloca o à matriciana. Pode ser? Não, espera. Faz o seguinte, traz um ravióli di zucca, aquele outro de funghi e tartufo com mascarpone e, se o dono concordar, um espaguete al pomodoro.” Do outro lado do salão, Nardino, o proprietário, consente e sorri. O chef veneziano Rudy Bovo, na cozinha, também há de concordar. “Onde estávamos?”, pergunta. Eleições. Para Boni, de forma geral as emissoras de TV se comportaram imparcialmente em suas coberturas, como prevê a cartilha. Ressalva feita para explicar a aversão por grande parte do público, seja de direita, centro ou esquerda, à PODER JOYCE PASCOWITCH 29


Globo, numa pecha que acompanha a emissora carioca desde os tempos da ditadura. “Vi uma preocupação importante de neutralidade por parte da Globo. Apenas não gostei das entrevistas do Jornal Nacional”, assume. “Pareciam um tribunal de inquisição em que os candidatos se apresentavam diante de um fórum sem juiz e sem defesa. E nós sabemos que quem julga está sujeito ao julgamento”, recorda o homem que há quase 50 anos, com Armando Nogueira, outro célebre da imprensa nacional, desenhou o JN. Embora seja assumidamente adicto em conteúdo jornalístico, o olhar atemporal do executivo de televisão mais famoso do Brasil contraria aqueles que preveem o fim da TV aberta em tempo de popularização dos serviços de streaming como Netflix e Amazon Prime. “Os grandes produtores de conteúdo e notícia sobreviverão a qualquer meio de comunicação que possa aparecer. Os exibidores, sim, terão de mudar e já estão mudando”, comenta Boni, apontando as novelas da Globo como uma vantagem competitiva. “É um produto único no mundo, que vai seguir como a espinha dorsal da televisão por um bom tempo.” O vaticínio tem embasamento. Uma história que Boni gosta de lembrar ocorreu na época de Mulheres de Areia, de Ivani Ribeiro, produzida pela Globo em 1993. Na Rússia, a novela foi tão popular que o presidente Boris Yeltsin programou o último capítulo para o dia das eleições, a fim de desestimular que os eleitores viajassem, forçando-os a ficar em Moscou para votar. Boni ainda lembra com carinho esse e outros causos novelísticos. Tamanho apreço pelas tramas o impede, inclusive, de apontar as novelas de que mais gosta. “Com muito sacrifício, acabei selecionando 25 para o meu livro (O Livro do Boni, Ed. Casa da Palavra)”. Ainda assim, ele tem deixado aos poucos os folhetins de lado. Zapeou. Prefere se debruçar em maratonas de séries deitado no sofá de seu apartamento em São Conrado, no Rio, como qualquer mundano telespectador. “Adorei Mad Men, House e essa outra que fez enorme sucesso”, revela enquanto faz força para lembrar de La Casa de Papel. “A última que eu vi e gostei foi Billions. Você viu? Muito boa.” Fica a dica. Enquanto degusta o prato principal, paleta de cordeiro – “três para cada um, por favor” – com batatas coradas, Boni revela quem são os profissionais da TV aberta que têm chamado a sua atenção. “Fizemos recentemente o filme do Chacrinha (a cinebiografia Chacrinha: o Velho Guerreiro) e eu fiquei muito impressionado com o

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“O jornalismo precisa ser revisto, não na sua qualidade, mas na sua estratégia. É muita embromação”


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PITADA DE BONI Com a mesma paixão com que conversa sobre televisão, Boni fala sobre gastronomia. De restaurantes renomados a botecos bacanas, sabe de tudo. Dá água na boca. Autor de dois guias gastronômicos em parceria com o amigo Ricardo Amaral (Guia dos Guias e O Rio É uma Festa!), o gourmet prepara agora uma terceira publicação, esta com 100 das suas receitas simplificadas, a ser lançado no ano que vem. Inclui aí sua concorrida paella. “O melhor lugar para se comer é na Espanha. Em Madri tem o DiverXO, do chef David Muñoz, que eu considero o melhor restaurante do mundo”, conta. “Tóquio também é especial porque tem uma infinidade de lugares sensacionais, inclusive ótimos restaurantes franceses.”

Eduardo Sterblitch, achei ele fora de série. Também gosto muito do Marcelo Adnet, embora falte para ele texto e direção.” Para além do humor, seu escolhido é Tiago Leifert, cria da sua TV Vanguarda, “que não é exagerado e tem humildade fundamental para um apresentador”. “Eu ainda assisto bastante televisão. As pessoas acham que eu deixei a Globo porque estava cansado desse mundo. Não é verdade. Foi a Globo que cansou de mim. En-

tendo, normal. Hoje me sinto mais feliz sem ter que discutir com ninguém o que quero fazer. E sem contar que sobrou mais tempo para poder viajar, comer, beber bons vinhos, fazer amigos e colecionar essas histórias”, celebra, antes de fechar o papo com um provérbio espanhol. “Más sabe el diablo por viejo que por diablo.” Preciso. Ary, a sobremesa, por favor. Peça ao chef para tirar a canela do strudel de maça. n PODER JOYCE PASCOWITCH 31


MATCH NA FIRMA

CURTIU MEU CV? De olho na geração que usa aplicativos para tudo, Tinder, Bumble e outros gigantes das redes sociais investem em apps que parecem de namoro, mas servem para dar up na carreira e fechar negócios

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POR CHICO FELITTI

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“S

ó um minuto, deixa eu ver se ela curtiu meu perfil”, diz o estudante de direito Joseph Lee assim que sai para um intervalo de suas aulas na Universidade Columbia, em Nova York. “Ah, droga, ela ainda não curtiu!”, e mostra a foto na tela do seu iPhone X de uma mulher sorridente, vestindo tailleur preto, cabelos ondulados e com idade para ser sua mãe. Joseph não quer um encontro, ele quer um emprego, e a mulher da foto é uma advogada faixa preta, que ele encontrou num aplicativo com lógica semelhante à do Tinder. Depois de criar um mercado que movimenta US$ 2 bilhões por ano, os aplicativos de encontro querem entrar no mundo corporativo. Só no último ano, foram lançados nos Estados Unidos três ferramentas que parecem feitas para encontrar o amor, mas na verdade servem para fechar negócios. Todas funcionam de maneira parecida: o chefe que tem uma vaga aberta vê a foto e um currículo resumido das pessoas na sua área de atuação. Se achar que a relação profissional pode ter futuro, desliza o dedo para a direita para curtir o minicurrículo que vem acompanhado de um punhado de fotos; ou, se não der match, desliza para a esquerda, ignorando o pretendente. É nesse momento que se encontra Joseph. Faz uma semana que ele criou seu perfil na rede social Ripple, que nasceu dentro do grupo Match Group, criador do Tinder. As fotos e dados profissionais para criar seu perfil profissional foram importadas de suas outras redes sociais, como Twitter, LinkedIn e Google, e, em seguida, saiu curtindo o perfil de advogados com quem queria fazer um estágio. Mas Joseph ainda não foi curtido por nenhum candidato a chefe, e ele só pode enviar mensagens caso haja algum interesse profissional do outro lado. “Eu te mando uma mensagem assim que alguém me curtir”, promete Joseph, antes de voltar para a segunda aula do dia. Se o mercado de trabalho anda parado para o estudante de direito, não se pode dizer o mesmo dos aplicativos.

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Maior app do tipo, o Bumble Bizz nasceu em 2018 e já concretizou 17 milhões de encontros por semana. São 64 mil novos usuários por dia, segundo a empresa. Joseph não baixou esse aplicativo, disponível nos EUA, Reino Unido, Alemanha, França e Canadá. “Tem uma dificuldade a mais”, ele diz, e explica: assim como na versão para paquera, só mulheres têm direito de dar o primeiro like, e uma conversa profissional só vai se concretizar se elas tomarem a iniciativa. Eles podem parecer fruto de uma aposta revolucionária, mas os aplicativos profissionais nascem para suprir uma demanda que já existe. Uma pesquisa de 2018, do instituto de tendências Statista, mostra que 77% das pessoas no LinkedIn têm mais de 30 anos e a maior parte desses perfis quer um emprego em uma empresa de grande porte. “A gente notou que os usuários estavam hackeando o aplicativo para tentar criar conexões de negócios”, diz Louise Troen, vice-presidente de marketing do Bumble ao site Business Insider. “Eles escreviam suas qualificações profissionais no campo que era feito para as características pessoais, como altura, peso e hobbies.” A nova geração estava até então em outros aplicativos, o que não quer dizer que seja preguiçosa. A fundação Resolution entrevistou mil millennials e descobriu que eles estão dispostos a trabalhar mais por menos dinheiro. Ou seja, a nova onda de profissionais que está entrando no mercado já estava usando os aplicativos de encontros para tentar conseguir uma vaga. “Os apps de encontros viraram um jeito de conhecer profissionais”, admite Alex Williamson, líder de marca do Bumble.

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Anúncios do Bumble Bizz, um dos apps de match corporativo hoje em voga nos Estados Unidos

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SUPRINDO A DEMANDA


Alguns aplicativos menores haviam detectado esse nicho. Em um mundo de terceirização existe o Mixer, que conecta freelancers a empresas que necessitam de trabalhos picados. Mas, ao contrário dos apps de empresas gigantes, o Mixer serve mais para trabalhos artísticos.

QUESTÃO DE ÉTICA

Ainda há ajustes a serem feitos, inclusive éticos. O Ripple tem uma ferramenta que escaneia o rosto de alguém na sala e mostra quem é essa pessoa, se ela estiver registrada no banco de dados do aplicativo. A empresa afirma que essa opção deve ser usada com a autorização de ambas as partes. Nem sempre é o que acontece. “Você está numa festa, chega alguém muito importante, um grande produtor. É claro que dá pra apontar o celular pra ele e tentar visualizar o perfil da pessoa, para curtir e depois pedir um emprego”, diz a estudante de cinema Joanna McCorney, da Universidade de Nova York. “É só não dar muito na cara”, diz ela, que conta já ter usado a tática duas vezes. A estratégia ainda não deu certo. Por enquanto, esse novo mercado vive de promessas e factoides. O maior deles envolveu Kris Jenner, a matriarca do clã Kardashian, que usou o aplicativo Bumble Bizz para encontrar uma assistente pessoal. A descrição das qualificações desejadas era: “Saiba preparar um martíni, encontrar um emprego para Kourtney [a filha com fama de preguiçosa] e coordenar as datas das audiências de Rob [o filho homem, que vive às voltas com processos]”. Era uma ação publicitária na casa do milhão de dólares. Até Kim Kardashian se candidatou à vaga, de brincadeirinha: publicou um emoji de uma mulher levantando a mão, como se demonstrasse interesse. É impossível dizer se a contratação deu certo: Kris nunca mais tocou no assunto. n

AZARAÇÃO JURÍDICA

As redes sociais e os principais apps do mundo corporativo LinkedIn O mais conhecido deles. Funciona como um Facebook das firmas: o profissional faz um perfil e “cria conexões” em vez de fazer amigos, com pessoas do seu metiê. Existe desde 2002 e é o preferido por profissionais acima dos 35 anos. Foi adquirido pela Microsoft há dois anos. Bumble Bizz Com um ano, tem funcionalidade parecida com os aplicativos de relacionamento, mas uma pegada feminista: só mulheres podem começar uma conversa, por mais que o intuito ali seja de business. Ripple Dos mesmos criadores do Tinder, lembra a rede social de encontros amorosos: cada profissional tem uma série de fotos e um mini-CV. Se o consultor ou empregador se interessar por contratá-lo (ou ajudá-lo), dá um like na foto para iniciar o networking. Criado em 2018. CityHour Para os doidos por reunião. Esse app indica alguém que esteja a até 70 quilômetros de distância que tope tomar um café de negócios nas próximas duas horas. Os filtros para achar o parceiro de meeting podem ser o objetivo profissional, o campo de atuação ou apenas a localização. Shapr A partir de dados do seu perfil no LinkedIn, indica dez pessoas por dia que podem incrementar sua carreira. Também funciona no esquema clássico de curtir ou descurtir os perfis.

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MÍDIA

SOB NOVA EDIÇÃO

Diversas marcas tradicionais do jornalismo americano passaram a ser controladas por barões da nova economia. E no Brasil, qual é o futuro de nossos jornais e revistas? por paulo vieira

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ssim como aconteceu com a história, o fim do jornalismo foi decretado algumas vezes. Crises econômicas, ameaças de natureza política e a perda de anunciantes principalmente para Google e Facebook, empresas que reconfiguraram completamente o setor, colocaram a indústria sob enorme pressão. Enorme pressão é eufemismo: nos Estados Unidos, o número de jornalistas diminuiu de 456 mil para 183 mil em 16 anos. Como é de se supor, nem todos os veículos em que trabalhavam essas centenas de milhares de pessoas fechou. Diversas publicações ganharam sobrevida com novos controladores – vários deles do setor de tecnologia. O caso mais emblemático envolve duas marcas pesadas, o centenário The Washington Post e a empresa de maior valor de mercado do mundo, a Amazon. Seu fundador, Jeff Bezos, é, desde 2013, proprietário do Post. Por US$ 190 milhões, a igualmente célebre revista Time foi arrematada em setembro por Marc Benioff, da gigante Salesforce; e coube a Laurene Powell Jobs, viúva de Steve Jobs e fundadora da instituição filantrópica Emerson Collective, assumir o controle da The Atlantic, da revista The Atlantic Monthly, fundada em 1857. A onda teve início há seis anos, quando o cofundador do Facebook Chris Hughes, então com 28 anos, arrematou o hebdomadário político The New Republic. Na época ele justificou a aquisição dizendo ter interesse no “futuro do jornalismo de alta qualidade”. Por fim, vale ainda registrar que o bilionário mexicano Carlos Slim, da América Móvil (da Claro, no Brasil), tem substancial participação acionária no The New York Times. Diante dos principais negócios desses “tycoons”, a geração de receita de seus novos brinquedos tende a

Maria Cristina Frias, da Folha, e os novos barões da imprensa Jeff Bezos, da Amazon, e Marc Benioff, da Salesforce

zero. Assim, comprar órgãos de imprensa parece mera ação de filantropia, mas não é disso que se trata na opinião do consultor de comunicação Eduardo Tessler. “Apesar [de os empresários] se dizerem incentivadores do jornalismo, ninguém rasga dinheiro”, diz. “No The Washington Post já há um desenvolvedor para cada cinco repórteres e também engenheiros de computação dentro da redação. A ideia por trás da aquisição de um título como esse é a criação de conteúdo para clientes – e conhecer o cliente é o grande negócio da Amazon.” A imprensa brasileira também não vive seu momento mais esplendoroso. Em agosto, a Abril, maior editora de revistas do país, entrou em recuperação judicial por conta de um passivo de R$ 1,6 bilhão. Ficaram a PODER JOYCE PASCOWITCH 37


Eugênio Bucci

ver navios fornecedores e cerca de 1.500 funcionários, que tiveram suas verbas rescisórias congeladas. “É um ótimo momento para alguém levar a Abril, bem como o Estadão”, diz Tessler. Seja como for, os movimentos de compra de títulos relevantes no Brasil não têm como protagonistas os tycoons de tecnologia, mas gente mais interessada em adicionar decibéis à potência da própria voz – poder, numa palavra. Há também o genuíno interesse em ganhar alguns caraminguás em operações de compra e venda. Foi o que aparentemente aconteceu com o decano Jornal do Brasil, o JB, do Rio, arrematado pelo armador Nelson Tanure – que depois

Viúva de Steve Jobs, Laurene Jobs, da Emerson Collective, arrematou a The Atlantic, da centenária revista Atlantic Monthly

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faria o mesmo com a finada Gazeta Mercantil. O JB voltou a circular em sua tradicional edição impressa agora que foi licenciado por Omar Peres, também dono de restaurantes no Rio e em Brasília – ele se define como um amante dos “símbolos da cultura carioca”. Segundo Tessler, no JB Peres abdica de qualquer estratégia digital para investir unicamente no “modelo de negócio mais antigo possível”, a venda de anúncios. Outro a entrar recentemente no mundo da comunicação é o empresário Carlos Sanchez, do laboratório EMS, líder no setor de medicamentos genéricos, que comprou o braço catarinense do Grupo RBS, da família gaúcha Sirotsky. A justificativa oficial é “diversificação de investimentos”. De fato, além de tomar posse de quatro jornais de Santa Catarina e de uma afiliada da TV Globo, o grupo empresarial de Sanchez arrematou das mãos da Odebrecht uma empresa de energia eólica no Rio Grande do Sul. Tanto aqui como nos Estados Unidos, um ingrediente a se somar às dificuldades estruturais dos órgãos de imprensa são os ataques à credibilidade deles. Agressões reiteradas especialmente ao The New York Times, por Donald Trump, e à Folha de S.Paulo, por Jair Bolsonaro, revelam a vontade dos novos mandatários de abafar o contraditório e as forças de oposição – ou, ainda mais grave, a própria verdade. O cenário pode se tornar mais grave por aqui. “Falta à nossa burguesia uma ‘clareza iluminista’ para fazer movimentos em favor da imprensa”, diz Eugênio Bucci, jornalista e professor da Escola de Comunicações e Artes da USP. Ele faz questão de destacar a redundância da frase para marcar a diferença do que julga ocorrer nos Estados Unidos. “Lá o capitalismo é mais arejado e antenado com o futuro e vê importância na imprensa. Os empresários não estão entrando por dinheiro, ainda que seja claro que queiram ganhá-lo. Eles veem a imprensa como essencial para a democracia – e para o capitalismo.” Talvez seja ainda prematuro cravar que a democracia brasileira está por um fio, mas registre-se que é pelo Twitter e pelo WhatsApp que se expressam os novos mandatários, em detrimento dos órgãos convencionais de imprensa. É por meio das redes sociais que eles veiculam suas verdades, ainda que essas verdades possam mudar dramaticamente do dia para a noite. Voluntária ou involuntariamente, foram os pioneiros do mundo digital que decretaram o enfraquecimento – quem sabe o fim – do jornalismo como um dia o conhecemos. Que sejam eles mesmos os seus salvadores é uma espantosa ironia. n

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“Falta à nossa burguesia ‘clareza iluminista’ para fazer movimentos em favor da imprensa”


ESPELHO

DADOS SÃO O NOVO BACON Recentemente, um ganhador do Big Brother Brasil ao sair do confinamento foi entrevistado pelo apresentador Pedro Bial, como de costume, e, no momento da explosão, suas primeiras palavras foram: “Amo muito tudo isso”. Pode ter passado batido para milhões de telespectadores, não para o McDonald’s, que teve seu slogan gratuitamente veiculado em horário nobre graças a uma estratégia eficiente de comunicação. Por que isso aconteceu? “O segredo é não ser invasivo e conduzir uma conversa com o consumidor de forma que ele sinta-se parte da marca”, explica EDUARDO SIMON, CEO da DPZ&T, uma das mais prestigiadas e modernas agências de propaganda do país e, no caso, responsável pela conta da rede de fast-food. “As pessoas estão o tempo todo on-line, mesmo quando não imaginam. Pelo uso do celular a tecnologia diz por onde você andou, o que consumiu, quanto gastou. Ela entrega uma série de dados que estão transformando a relação entre marcas e consumido-

res. E isso é bom e positivo”, diz Simon. “Brincamos dizendo que os dados são o novo bacon, porque usamos eles em tudo.” De fato os dados estão revolucionando quase todos os segmentos de negócio do planeta. Entretanto, o posicionamento das marcas diante de questões sociais relevantes é outra chave para entender a propaganda atual. De acordo com o CEO da DPZ&T, o momento de mudança de pêndulo pelo qual passa o Brasil é uma excelente oportunidade para as marcas se colocarem e serem mais ousadas. “Elas podem assumir uma posição importante de levar adiante pautas progressistas, como discutir o papel das mulheres na sociedade, os direitos das minorias. É o que a gente chama de ‘espírito do momento’, sabendo usar a tecnologia e os dados para entender o que as pessoas estão pensando”, revela Eduardo Simon. “As marcas que não fizerem isso ficarão para trás.” Se você acha que a sua forma de se relacionar com o consumo era bastante moderna, prepare-se para uma transformação ainda mais profunda.

por dado abreu foto bruna guerra PODER JOYCE PASCOWITCH 39


ENSAIO

CANTO, DANÇO E REPRESENTO Em ascensão no casting da Globo, Gabriel Leone faz de tudo um muito. Já interpretou Roberto Carlos, foi o Eduardo da música da Legião, leva um musical baseado em Tolstói – e isso é só o começo por aline vessoni fotos pedro dimitrow styling cuca ellias (odmgt)

A

relação do ator Gabriel Leone com a música antecede seu próprio nascimento. Seus pais, fãs de rock e MPB, tinham uma queda pela composição Gabriel, do mineiro Beto Guedes, escrita pelo músico para homenagear o filho. “Estrela da manhã / Meu pequeno grande amor / Que é você, Gabriel.” Gabriel, o Leone, que mais tarde seria ator global, cresceu nesse mesmo embalo musical, o que acabou se tornando determinante na sua profissão. “Com 15 anos, em paralelo às aulas de teatro, peguei um violão velho em casa, aprendi a tocar sozinho e formei uma banda com amigos da escola. Chegamos a gravar um disco independente e tocamos em várias casas noturnas do Rio”, conta o ator-cantor e o que mais vier a PODER. Nessa época, como passou a realizar diversos testes para musicais, a banda acabou ficando um tanto de lado, mas a música não. “Comecei a estudar e a trabalhar muito com musicais. O canto então deixou o lugar de hobby e passou a ser ferramenta de trabalho. É engraçado, porque grande parte da minha carreira flerta com a música”, afirma.


Look Hugo Boss, tĂŞnis Christian Louboutin



Look Hugo Boss, tênis Christian Louboutin. Na pág. anterior, camisa e calça Prada, relógio IWC


“O canto deixou o lugar de hobby e passou a ser ferramenta de trabalho. Grande parte da minha carreira flerta com a música”

Mais conhecido pelos personagens que interpretou na televisão, como Hermano, da série Onde Nascem os Fortes, ou Miguel, da novela Velho Chico, Leone contabiliza inúmeros papéis em que canta, dança e representa. Ele interpretou o rei Roberto Carlos no musical Chacrinha: O Velho Guerreiro e também na cinebiografia sobre Erasmo Carlos, Minha Fama de Mau, que deve chegar aos cinemas no próximo ano. Foi o Eduardo no filme Eduardo e Mônica, cujo roteiro foi inspirado no clássico da Legião Urbana – Alice Braga incorporou a Mônica –, e está em cartaz com o musical Natasha, Pierre e o Grande Cometa de 1812, baseado em Guerra e Paz de Leon Tolstói. Atualmente está em São Paulo rodando Meu Álbum de Amores, comédia romântica com trilha sonora original de Arnaldo Antunes e Odair José. Tantas oportunidades que fazem Gabriel Leone comemorar. “Só tenho a agradecer pela chance de participar de projetos tão interessantes e com gente tão talentosa.” Entre elas, a atriz Carla Salle, sua namorada, com quem contracenou pela primeira vez na série Os Dias Eram Assim. “A gente tem uma troca, uma parceria artística muito grande. Tiramos a sorte grande. Como temos uma admiração mútua, a gente se escuta, e um contribui com o trabalho do outro”, derrete-se. n


Look Emporio Armani, relógio IWC, tênis Fendi Beleza: Anderson Ayres (Capa MGT) Arte: David Nefussi Produção executiva: Ana Elisa Meyer Produção de moda: Jaqueline Cimadon Assistentes de fotografia: Adrian Ikematsu e Thaísa Nogueira


O macacรฃo Zozosuit, que ajuda o usuรกrio a ver o caimento de uma roupa que compra pela internet, e seu inventor, Yusaku Maezawa

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FETICHE

A MODA ENTROU EM ÓRBITA Como o excêntrico bilionário japonês Yusaku Maezawa, que vai à Lua em 2023, está usando a tecnologia para ditar o futuro da moda por anderson antunes

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U

ma das coisas que Yusaku Maezawa mais ouviu na vida foi de “viver no mundo da Lua”. Não sem razão. O bilionário japonês de 42 anos rendeu notícias no mundo todo ao ser anunciado pela empresa de aviação espacial SpaceX, do sul-africano Elon Musk, como seu primeiro cliente a orbitar o satélite natural da Terra. A viagem, com duração mínima de seis dias, está marcada para 2023, e Maezawa pretende levar consigo de seis a oito artistas das mais variadas áreas. O grupo deverá desenvolver a bordo do foguete Big Falcon Rocket, um projeto artsy do qual ainda pouco se sabe. A empreitada, batizada #dearMoon, vai ter de alguma forma o dedo de Musk, outro membro do clube dos bilionários dado a excentricidades.

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À parte a história do tipo “as voltas que o mundo dá”, para não perder o trocadilho, Maezawa sempre mostrou que nasceu para se dar bem com aquilo que os americanos chamam de “pensar fora da caixa”. Na adolescência, ele passou seus últimos anos do ensino médio focado na banda de rock Switch Style, que formou com amigos de colégio. Contrariando a estatística japonesa, o jovem roqueiro abriu mão de cursar a faculdade para se dedicar exclusivamente à música. A Switch Style lançou seu primeiro LP em 1993 e foi um sucesso. Mas, cansado da fama repentina que conquistou, Maezawa mudou-se para os Estados Unidos com uma namorada e por lá ficou durante dois anos. Nesse período, Maezawa dedicou-se a colecionar discos antigos, sem saber que esse hobby seria a semente do império que viria a criar. De volta ao Japão, em 1995, usou as relíquias para lançar seu primeiro negócio: uma empresa de venda de memorabilia pelo correio. Daí nasceu, em 1998, a Start Today, e-commerce batizado com o mesmo nome de um álbum da banda punk americana Gorilla Biscuits. Dois anos depois a filial da gravadora BMG no Japão voltou a procurá-lo para ressuscitar sua carreira musical, mas o revival durou pouco, e, em 2001, Maezawa anunciou que daria um tempo dos palcos, justificando que pretendia apostar todas as suas fichas no empreendedorismo. O pulo do gato foi em 2004, com o lançamento do Zozotown, site de venda de roupas e acessórios que virou mania entre os japoneses e que funciona nos mesmos moldes do britânico Asos e do chinês AliExpress. Ano passado, o Zozotown faturou uma bolada de quase US$ 900 milhões. A vantagem do e-commerce japonês em relação à concorrência mundial é que apenas ele tem um CEO estrelado como Maezawa, que usa e abusa de seu status como celebridade entre os conterrâneos para promover a companhia. Às vezes ele copia a maneira estrepitosa como a Apple anuncia seus novos produtos para promover os seus. Também garante manchetes para sua vida pessoal, como quando desembolsou US$ 57,3 milhões por um quadro de Jean-Michel Basquiat, em maio de 2016. Um não foi suficiente, e cerca de um ano depois adquiriu outra obra do famoso artista apadrinhado por Andy Warhol, que lhe custou mais US$ 110,5 milhões. As aquisições o transformaram num “bilionário celebridade” de fama mundial.

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É com a Zozotown que Maezawa promete revolucionar o mundo da moda, graças a uma novidade que lançou há alguns meses e chamou de Zozosuit. Trata-se de um macacão coberto por sensores eletrônicos que permite às pessoas provar as roupas que visualizam no site sem sair de casa. Disponível em 72 países, o Zozosuit já recebeu mais de 1 milhão de encomendas e foi descrito pelo jornal Financial Times como a prova de que

Yusaku Maezawa, que chancelou seu nome no rol dos bilionários celebridade ao se tornar colecionador de arte


AVENUE MONTAIGNE PRA QUÊ?

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“Já passei da fase de sonhar com loja na Avenue Montaigne”, disse a PODER o catarinense de 24 anos João Zunino, que segue de alguma forma a escola de Yusaku Maezawa. “O endereço hypado do futuro é a rede, onde é possível vender mais por um custo bem menor.” A frase é muito coerente com alguém que define seu trabalho (algumas peças, acima) como “futurista e extravagante”. Futurista seguramente é, pois a marca que leva seu nome não vende nada do que cria em lojas físicas e está lançando um aplicativo pelo qual será possível fazer encomendas diretamente junto ao fabricante. “Quero vender para o mundo inteiro e isso não é exagero no espaço virtual”, diz ele. O app indica o tamanho de roupa apropriado para o cliente de acordo com as medidas informadas. As medidas depois serão usadas para formar um banco de dados “que vai do skinny ao normal e chega ao oversized”, como diz Zunino. Extravagante também, sem dúvida. Muitas peças do estilista têm acabamentos internos em vermelho, “cor que chama a atenção”. “Detesto minimalismo. Gosto de pessoas que veem que penso na beleza tanto no exterior quanto no interior”, diz. Filho de uma blumenauense que construiu a marca de lifestyle Of-Ficium, Zunino chegou a cogitar estudar medicina antes de se aventurar pelo design de vestuário. Em 2016, lançou sua marca voltada para o público LGBTQI. Hoje são suas fãs gente como Gretchen, Jojo Todynho e Pabllo Vittar. Vittar, aliás, veste o jovem couturier (é assim que Zunino se apresenta no Instagram) no videoclipe de “Energia”.

o futuro da moda está na internet. De qualquer forma, não é preciso grande exercício de imaginação para notar que o avanço de gigantes como a Amazon e o fechamento de magazines que um dia foram colossais como a Sears colocam o comércio virtual de moda num patamar privilegiado.

A forte ligação entre a moda e a tecnologia se deve basicamente ao fato de que a primeira depende cada vez mais dos millennials para sobreviver. Um estudo encomendado pelo banco suíço UBS, divulgado no começo de outubro, apontou que a parcela da população formada por pessoas nascidas a partir do começo dos anos 1980 respondeu por 85% do crescimento do mercado de produtos de luxo em 2017; o mesmo estudo mostra que, em 2025, representarão 45% das receitas totais dessa indústria. Para colocar em perspectiva, o segmento global de luxo movimentou estimados US$ 290 bilhões no ano passado, e a maior parte dessa cifra veio dos bolsos de consumidores fashionistas com idade entre 18 e 35 anos. Cada vez mais conectada, seja no computador ou em um smartphone, essa turma não quer mais saber de pisar em shoppings ou coisas do tipo para renovar o guarda-roupa quando se pode fazer isso no conforto de um sofá – e o Zozosuit está sendo visto como o elo que faltava para convencer os menos conectados a seguir essa nova tendência. Gigantes como os conglomerados franceses LVMH e Kering – respectivamente os donos de marcas que dispensam apresentações como Dior e Yves Saint Laurent – já dispõem de divisões específicas cheias de profissionais para monitorar a escalada tecnológica e, a partir daí, apresentar soluções. Mas até agora quem está surfando melhor essa onda é Maezawa, e muitos bambambãs por trás das grandes grifes acompanham cada passo do japonês com lupa. Maezawa, um outsider, promete ditar os próximos passos da moda e, ao que tudo indica, divertir-se muito realizando a tarefa. Com direito a passeio ao redor da Lua. n PODER JOYCE PASCOWITCH 49


RESPIRO

O INVENTOR DO WIT George Gershwin (1898-1937) talvez seja o mais prolífico dos compositores eruditos a deixar sua marca na canção americana – e, por extensão, mundial – do século 20. Com seu irmão Ira, escreveu hits para a Broadway como “Lady, Be Good”, de 1924, mesmo ano da famosíssima “Rhapsody in Blue”. Os anos da Grande Depressão revelaram sua faceta satírica, mas não só. Gershwin era puro wit, tinha essa rara aptidão de juntar ideias, charme, espírito, pungência e humor numa mesma composição. Provam-no as inúmeras versões feitas por tantos intérpretes para “'S Wonderful”, “Summertime”, “Someone to Watch Over Me”, “I´ve Got a Crush on You”, “The Man I Love” – e esta é uma lista sumária.


FOTO EDWARD STEICHEN/GETTY IMAGES


MOTOR

DIÁRIOS DE MOTOCICLETA

Potentes, estilosas e perfeitas para encarar a estrada, essas máquinas também se adaptam bem ao trânsito pesado e à correria das grandes cidades. Carro? Esse vai ficar na poeira

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por aline vessoni

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HONDA GOLD WING TOUR

Com novo design e performance, a “asa de ouro” da Honda busca reinventar o conceito de touring. O câmbio DCT com sete velocidades proporciona trocas de marcha mais rápidas, menos abruptas, item fundamental para longas viagens. Mais leve e com maior dirigibilidade, a nova versão ainda traz um tanque de combustível menor, com a mesma entrega de autonomia. Quando necessárias, as frenagens bruscas não causam a sensação de “mergulho” – a motocicleta ganha maior estabilidade com a suspensão dianteira double wishbone. A partir de R$ 136.550

HARLEY-DAVIDSON ULTRA LIMITED Esta Ultra Limited tem motor Milwaukee-Eight 114, o de maior cilindrada na categoria touring da marca, podendo alcançar 1.868 cm3 de força. Já o novo sistema de infoentretenimento BOOM! Box GTS foi otimizado para facilitar a interação do piloto com a máquina e, pode-se dizer, com o mundo. A Ultra Limited ainda tem o sistema Cruise Drive, que oferece uma troca de marcha suave e silenciosa, além de controle de velocidade. Por se tratar de uma moto altamente customizável, ela é do tipo que se adequa perfeitamente ao piloto . A partir de R$ 102.900

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DUCATI MULTISTRADA 1200 ENDURO

Quer conhecer o mundo sozinho ou com um parceiro? Talvez essa seja a melhor opção para desbravar novas fronteiras. O motor Ducati Testastretta DVT de 162 cv com seis marchas e tanque de combustível de 30 litros permite alto desempenho para longa distância e desenvoltura para off-road, num novo patamar para quem pensa o motociclismo como eterna aventura. No motor, o sistema de válvulas exige menos força nas rotações baixas, vantagem relevante em estradas de terra e nos adoráveis obstáculos naturais do off-road. A partir de R$ 97.900

O motor da Star Venture entrega um torque elevado. Graças à modernização de seus sistemas mecânicos, o modelo tem ótima dirigibilidade, o que permite que o piloto caia na estrada por horas sem cansaço. Com câmbio de seis velocidades, a Star Venture foi desenvolvida especificamente para atender necessidades em longos deslocamentos. Tem um sistema avançado de assistência ao piloto, o que inclui o Yamaha D-Mode, que permite a escolha entre dois tipos diferentes de respostas de acelerador: o modo supersuave ou o esportivo – com feedback mais ágil. A partir de R$ 95 mil

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YAMAHA STAR VENTURE


TRIUMPH - SPEED TRIPLE

Lançada em 1994, a Speed Triple definiu uma nova categoria automobilística urbana: a streetfighter. Mesmo com todas as atualizações tecnológicas, ela ainda se mantém fiel ao design original minimalista e continua com uma motorização emocionante (Triumph Triplo), que garante o equilíbrio entre potência, precisão e desempenho. Mas como sempre é possível um upgrade, a nova versão aparece com suspensão Öhlins e frenagem otimizada. O motor triplo 1.050 cc conta com novos desenvolvimentos que se traduzem em mais potência, mais torque e mais capacidade de resposta. A partir de R$ 60.990

BMW K 1600 GTL

Este novo modelo da BMW trouxe para a linha de turismo de luxo ainda mais qualidade e conforto. Além de continuar ostentando o já lendário motor seis cilindros, esta moto agora vem equipada de série com a última geração do ajuste de suspensão dinâmico (ESA). A motorização potente, com poucos concorrentes à altura na categoria, garante direção suave e excelente desempenho de pilotagem, podendo ultrapassar os 200 km/h. Soluções inovadoras de espaço tornam viagens longas a dois muito mais confortáveis. A partir de R$ 136 mil

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ESPELHO

NOVOS VOOS A Trousseau se prepara para abrir uma loja em Miami em paralelo a um e-commerce nos Estados Unidos. Há 27 anos no mercado, a marca de luxo ganhou vida quando ADRIANA E ROMEU ainda eram recém-casados e tinham um sonho de abrir um negócio. Eles partiram da ideia de que precisavam criar um conceito diferente do que já existia no mercado. O resultado dessas quase três décadas de trabalho é expressivo: 20 lojas próprias e outros 40 pontos de venda parceiros espalhados pelo Brasil; as vendas também se consumam pelo e-commerce, que já comemora dez anos. “Construímos o nosso trabalho explorando diferenciais, pois acreditamos que é isso que faz a diferença para esse tipo de cliente exigente que está acostumado a consumir em várias partes do mundo e entende que a Trousseau visa entregar serviços e produtos com grande qualidade e custo-benefício”, comemora Romeu. Com quase 300 funcionários, operações acontecendo no Peru e Uruguai (por intermédio de parceiros), a Trousseau não para de se reinventar. Adriana, responsável pelo relacionamento com os clientes, sempre esteve atenta às suas necessidades, buscando soluções que se transformavam em novos produtos. Dessa forma, a marca passou de uma linha de luxo de cama, mesa e banho para “uma marca de lifestyle voltada para um produto de encantamento, conforto e com estilo sóbrio”, esclarece. E uma das demandas dos consumidores era uma loja em Miami. Assim, quando receberam o convite do shopping deluxe Brickell City Center, eles viram na abertura de um ponto no exterior mais uma oportunidade de crescer. “A expectativa é boa, até porque temos muitos clientes que foram morar em Miami e levam produtos daqui. Estamos cientes de que entraremos em um mercado supercompetitivo, que tem todas as marcas do mundo oferecendo produtos e fomos escolhidos para estar lá, nesse empreendimento superluxuoso e sofisticado”, conta Romeu. Paralelamente, o e-commerce entregará em todo o território americano. No início, para “sentir o mercado”, eles devem comercializar – tanto off quanto on-line – apenas algumas linhas mais básicas e clássicas, do branco ao listrado. Outro viés de negócios da Trousseau é a venda de produtos para hotéis de luxo, desde lençóis, toalhas, cobertores e amenities. A marca atende cerca de 200 estabelecimentos. “São hotéis diferenciados que entendem que os nossos produtos vão agregar valor e, até mesmo, identidade àquela hospedagem. Muitos hóspedes têm a experiência de usar nossa marca em casa e procuram um serviço hoteleiro que ofereça produtos de qualidade”, finaliza Romeu.

por aline vessoni foto marcelo saraiva 56 PODER JOYCE PASCOWITCH


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VIAGEM

PICO DA COROA

Estação de esqui exclusivíssima, a francesa Courchevel dá start para nova temporada com suas pistas exigentes, hotéis de charme e restaurantes premiados. Como bem aprecia o casal real William e Kate Middleton, sempre esperado por lá texto carla julien stagni*

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Q

uando o assunto é esqui e sofisticação, Courchevel sai com algumas cabeças de vantagem. Dividida em cinco vilas – Saint-Bon-Tarentaise, Le Praz (ou Courchevel 1300), Courchevel Village, Courchevel Moriond e Courchevel 1850 –, essa estação dos Alpes franceses é a maior área do mundo inteiramente dedicada ao esqui, com 600 quilômetros de pistas. Courchevel faz parte da chamada região dos Três Vales, com Méribel, Val Thorens, Les Menuires e La Tania. Seu status AAA, com hotéis de distinção, restaurantes com profusões de estrelas e grifes internacionais de luxo, é notado sem esforço num passeio despretensioso pela rue du Rocher, em Courchevel 1850. São esperadas cerca de 6 mil pessoas para esta temporada de inverno, que começa em dezembro e vai até abril. Entre elas o príncipe William e Kate Middleton, figurinhas fáceis na neve de lá.


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Criada para ser um resort de esqui, Courchevel ganhou seu primeiro lift em 1946, cresceu nas décadas seguintes, sediou a competição de saltos da Olimpíada de Albertville, em 1992, e se tornou a maior área esquiável do mundo

São 318 pistas integradas por 170 lifts no complexo 3 Valleys. O passe de seis dias custa cerca de 240 euros para Courchevel e 283 euros para o 3 Valleys

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Mais importante escola de esqui da França, Courchevel emprega cerca de 800 instrutores que falam dezena e meia de idiomas. Os preços das aulas variam de 356 euros (por seis dias, em sessões coletivas para até oito pessoas) a 410 euros (por dia, aula individual)


PODER se hospedou no La Sivolière, no coração de Courchevel 1850, a vila mais sofisticada da estação. Construído segundo a ortodoxia savoyarde, o chalé de madeira e pedra é um dos mais concorridos do pedaço e tem toda a estrutura necessária para os esquiadores

Filiado de primeira hora à filosofia cozy, o hotel é 100% pet friendly. Oferece serviço de “dog sitting” para os hóspedes de quatro patas, com regime de meia pensão. Parte da equipe é treinada para cuidar dos pets

Atração dentro da atração, o restaurante Le 1850, sob comando do chef francês Bilal Amrani, serve refinamento e comida 100% orgânica e sazonal

Na hora de dar um tempo do “outside”, o La Sivolière abriga o Nuriss Spa, com inúmeros tratamentos da clínica britânica, além de uma área para relax, com piscina aquecida e outros mimos *A repórter viajou a convite do LatsClub e do hotel La Sivolière PODER

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PODER VIAJA POR ADRIANA NAZARIAN

NOVOS TEMPOS Apesar de ter inspirado pintores como Van Gogh e Picasso, a cidade de Arles, na Provence, não era das mais conhecidas entre a turma artsy. Graças à colecionadora suíça Maja Hoffmann, herdeira da farmacêutica Roche, o cenário vem mudando. Sua mais recente empreitada no local, a fundação cultural Luma Arles, chama a atenção mesmo sem estar finalizada. Instalado em uma antiga ferrovia, o projeto suntuoso tem uma torre principal que é obra de ninguém menos do que Frank Gehry, além de diversos estúdios e espaços de exposição assinados por Annabelle Selldorf. É no campus do Luma também que a companhia de dança de Benjamin Millepied faz uma residência anual e onde o acervo fotográfico de Annie Leibovitz está exposto. Para complementar a proposta, Maja Hoffmann inaugurou o L’Arlatan, hotel e residência artística localizado em uma casa do século 15 que foi restaurada pelo artista cubano Jorge Pardo. +LUMA-ARLES.ORG

TEMPERO

Responsáveis pelo Locavore, restaurante que colocou a Indonésia na lista das melhores mesas do mundo, os chefs Eelke Plasmeijer e Ray Adriansyah seguem dando motivos para viajar a Bali. No ano passado, foi a vez do Nusantara, focado em comida regional feita com ingredientes da estação, e do bar Night Rooster, que incorpora frutas, ervas e temperos locais a cocktails (um dia) clássicos. Recentemente, a dupla aproveitou sua expertise em trabalhar com carnes cruelty free para inaugurar um açougue que segue a mesma filosofia. Com pouco tempo de vida, o Local Parts já virou referência graças a carnes como o cordeiro de Java, outras variações curadas, além dos picles, conservas e geleias feitos in loco. +LOCAVORE.CO.ID

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MEZZES

Dois bons motivos para manter Istambul no radar. O primeiro é The Stay Late Antiquity, hotel recém-inaugurado em um casarão do século 19. O projeto, que inclui 18 quartos espaçosos e um bar com vista para a cidade velha e a Torre de Gálata, é assinado por um dos escritórios de design mais legais da cidade, o Autoban. E a localização é especial: fica no coração de Beyoglu, bairro com clima boêmio e artístico que reúne antiquários, galerias e restaurantes, a poucos passos do Bósforo. É na mesma região, igualmente em propriedade histórica, que fica a sede temporária do Istanbul Modern, um dos museus mais legais da Turquia, epítome da cara mais contemporânea do país. Em três anos, a nova galeria da instituição, projetada pelo italiano Renzo Piano (que desenhou o Centre Pompidou e o The Shard), ficará pronta no distrito de Karaköy. +THESTAY.COM.TR, ISTANBULMODERN.ORG

CABE

FOTOS REPRODUÇÃO INSTAGRAM; REPRODUÇÃO FACEBOOK; DIVULGAÇÃO

ADRENALINA NA MALA Para os mais aventureiros, boas-novas vindas da Namíbia. O Wilderness Safaris, um Já é possível levar para casa um

dos grupos de turismo mais respeitados e conscientes do país, lançou recentemente o Hoanib Valley Camp e o Shipwreck Lodge. O primeiro oferece seis cabanas em pleno deserto na região de Kaokoland, uma das mais remotas do destino. Construído em parceria com uma fundação que preserva as girafas, o projeto tem instalações camufladas na paisagem no melhor esquema eco-friendly: a energia é solar e os deques são de madeira, bambu e compostos recicláveis. Aqui, é possível estar perto de elefantes e leões. Já o Shipwreck Lodge fica na paisagem surreal do parque nacional da Costa dos Esqueletos, entre dois rios e com vista para o Atlântico. O local teve sua arquitetura inspirada nos inúmeros barcos que já se perderam naquelas águas e serve de base para passeios em que o turista transpõe dunas, avista ossos de baleias e colônias de focas. +NATURALSELECTION.TRAVEL

MIKE KAPLAN

CEO E PRESIDENTE DA ASPEN SKIING COMPANY

“Em Aspen [Colorado, Estados Unidos], para quem gosta de caminhadas elas são inúmeras, mas indico a Rio Grande Trail no inverno e a Ute Trail no verão. E as aulas de ioga com Aaron King, da escola King Yoga, são imperdíveis. Para comprar um pão incrível, vá à Meat & Cheese, e para doces minha dica é o Jour de Fête. Já o Ajax Tavern é o meu lugar preferido para comer. Adoro a couve-flor com manteiga de entrada e o cheeseburger com fritas ou a salada Tavern com salmão de prato principal.”

pouquinho da experiência do que é se hospedar em um hotel da rede Aman. Para comemorar seus 30 anos, o grupo acaba de lançar uma linha de skincare customizada. São 30 produtos, entre máscaras faciais, óleos corporais, séruns e hidratantes; todos feitos com ingredientes naturais raros, muitos deles encontrados em propriedades Aman. Muito usado na medicina ayurvédica, o óleo de sândalo é a base das criações, que ainda podem conter itens como pérolas, metais homeopáticos, jade, palo santo e mudas de florestas tropicais. Detalhe: as embalagens foram desenhadas pelo arquiteto Kengo Kuma. Para coroar, os spas de todas as propriedades criaram novos tratamentos. +AMAN.COM

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É DE PODER POR ANA ELISA MEYER

BRITT EKLAND E PETER SELLERS

Diretor, ator, roteirista e um dos grandes comediantes do cinema, intérprete de personagens marcantes como o inspetor Clouseau de A Pantera Cor-de-Rosa e o Doutor Fantástico do filme homônimo de Stanley Kubrick, o inglês Peter Sellers (1925-1980) foi, pode-se dizer, um semideus do panteão cinematográfico. Como convinha a alguém de sua envergadura, era difícil no trato e dado a alterações constantes de humor. Foi casado quatro vezes, sendo uma de suas mulheres a sueca Britt Ekland, símbolo sexual nos anos 1960 e bond girl na década seguinte, quando estrelou 007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro, de 1974. Hoje com 76 anos, a atriz iniciou sua carreira no cinema sueco, mudou-se jovem para a Inglaterra e logo conheceu Sellers. O relacionamento durou pouco. Tiveram uma filha e fizeram dois filmes juntos.

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PULSO RARO

A ideia é que sejam apenas 50 peças à venda, o que torna o Pilot’s Watch Double Chronograph – versão América Latina, o novo relógio da IWC Schaffhausen, um item raro. Com mostrador verde e pulseira Santoni feita de couro marrom, evoca a “terra fértil” e a cobertura vegetal do território. O relógio resiste a até 60 metros de profundidade, tem 44 mm de diâmetro e chega às lojas ainda neste mês por R$ 60 mil. IWC.COM

COLAR Vivara R$ 1.590 vivara.com.br

GRAVATA Ricardo Almeida R$ 289 ricardoalmeida. com.br

* PREÇOS PESQUISADOS EM OUTUBRO. SUJEITOS A ALTERAÇÕES FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO

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ÓCULOS Giorgio Armani para Óticas Carol R$ 820 oticascarol.com.br

VESTIDO Coven R$ 1.995 coven.com.br

TRÈS CHIC!

Tangerina, pimenta de sichuan e vetiver (capim-de-cheiro). Essa é a receita para a primavera da Hermès, que acaba de apresentar Terre d’Hermès Eau Intense Vétiver, sua mais nova fragrância, releitura do Terre d’Hermès criado em 2006 por Jean-Claude Ellena e assinada por Christine Nagel, perfumista exclusiva da maison francesa. A essência é potencializada pela luz solar, o que dá aquele boost na pele bronzeada. Já à venda nas lojas da marca no Brasil por R$ 520 (50 ml) e R$ 720 (100 ml). HERMES.COM PODER JOYCE PASCOWITCH 65


MODA

SOB MEDIDA

Manter uma empresa familiar por mais de um século pressupõe capacidade de reinvenção, não importa o ramo de atividade. Caso da Ermenegildo Zegna, que abriu as portas em 1910, em Trivero, no norte da Itália, e que hoje tem a quarta geração à frente dos negócios da grife por aline vessoni

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ão é difícil perceber o espírito de renovação nas criações da centenária grife italiana Ermenegildo Zegna. Para isso, basta dar uma espiada nas coleções lançadas pela casa ao longo dos anos. Mas parece haver mais, algo um tanto mais difuso, que embala o ofício de estilistas e demais criadores da empresa. Para o CEO da marca, Gildo Zegna, que integra a quarta geração do clã à frente dos negócios, parte desse je ne sais quoi se resume a olhar para o futuro com otimismo – e, como se fosse fácil, antecipar os movimentos do mercado. “Acredito que é essencial entender o mundo digital para atingir um número maior de clientes, mas sem jamais ignorar o passado. Não se pode esquecer do próprio DNA, e o nosso foi cunhado na inova-

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ção e na qualidade”, diz Gildo Zegna, que esteve no Brasil no mês passado como palestrante do Iguatemi Talks, evento que aconteceu em São Paulo com a proposta de difundir conteúdos de moda, sustentabilidade e inovação. Uma das características da marca, que, segundo o executivo é essencial para garantir a excelência dos produtos, é o controle quase total da cadeia de produção – da produção do tecido à venda da peça. “Controlamos todo o material, da confecção até sua chegada às mãos do cliente. É isso que mantém o alto padrão e a qualidade Zegna. Cerca de 70% do que vendemos é produzido em nossas próprias fábricas”, diz. Como parte de sua estratégia de verticalização, o grupo adquiriu, em 2014, uma fazenda australiana de criação de ovinos. Dessa forma, a casa pas-


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sou a produzir uma de suas principais matérias-primas e, com isso, estabeleceu controle maior sobre uma importante variável do processo fabril. A estrutura familiar não implica privilégios familiares. Gildo exige que as novas gerações encarem cinco anos de trabalho em outras empresas, ou, alternativamente, de estudos, antes de se virem incorporadas aos negócios familiares. Ele fala com a propriedade de quem está há 35 anos no grupo, mas também de quem começou a carreira alhures. Foi ele, aliás, que incrementou a regra, aumentando de três para cinco anos a exigência da experiência fora. “Como o mercado está mais complexo e competitivo, é melhor que eles venham mais preparados, e, se eles têm mestrado, especialização, quatro línguas e experiência de trabalho, vão se sair muito bem”, explica. “Muitas vezes você precisa colocar o negócio à frente da família.” Outro responsável pelo sucesso da Ermenegilzo Zegna é o diretor artístico Alessandro Sartori, capital no processo de reposicionamento da grife italiana. Sartori precisou dar conta de um paradoxo, ou quase isso: saciar o desejo dos Zegna de retornar ao básico sem deixar de lado a vontade de se manterem contemporâneos, modernos e relevantes. Uma vez que o faturamento alcançou a cifra de 1,2 bilhão de euros, restam poucas dúvidas de que a família está entendendo cada vez mais o seu mercado.

O italiano Gildo Zegna, CEO da Ermenegildo Zegna, grife que se renova sem perder os velhos costumes

FORMALISMO Ao tentar o equilíbrio entre o tradicional e o contemporâneo, a empresa caminha rumo à compreensão do espírito dos millennials e à consolidação de um negócio multicanal. “Ainda não estamos lá, mas caminhamos para estratégias totalmente engajadas, em que você poderá ver um filme de campanha, por exemplo, e logo se conectar em nossa plataforma para agendar uma hora na loja para experimentar o look.” Ao mesmo tempo que a Zegna jamais descura de seus clássicos e impecáveis ternos, mantém agora em linha jaquetas mais largas e até mesmo tênis para quebrar a formalidade do vestuário. “Antigamente você tinha um dress code fechado: a roupa de trabalho, o casual, o esportivo. Hoje há mais opções. Veja o exemplo dos sneakers: a Zegna hoje vende bem tênis. Na época do meu pai, os homens só usavam sapatos ou botas.” n PODER JOYCE PASCOWITCH 67


COZINHA DE PODER POR FERNANDA GRILO

F O T O S G I O VA N N A B A L Z A N O

MANÁ TROPICAL

Da família das bromélias, o abacaxi é um alimento total. A polpa vai bem na sobremesa e antes dela, atuando como anteparo ou elemento de contraste da entrada ou do main course. Até a casca pode ser aproveitada, para saborizar a água. Para saber como aproveitar cada pedacinho dele, PODER ouviu a chef Morena Leite, do Capim Santo e do Santinho, de São Paulo, que cresceu justamente numa fazendo de abacaxi, em Trancoso, na Bahia. “O Arte, que é pai da minha afilhada, tem há mais de 40 anos uma linda plantação e sempre estou por lá.” “Por ser saboroso e aromático, ele traz um bom equilíbrio entre acidez e açúcar”, diz. A chef ainda destaca a versatilidade do abacaxi na culinária e entrega que, junto com o limão e a salsinha, é um dos ingredientes mais utilizados nos seus pratos. Vai comprar na feira? Fique atento para a cor levemente dourada, a firmeza e o cheiro bem doce, como a vida deve – ou deveria – ser.

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FOTO ISTOCKPHOTO.COM

Saboroso, suculento, refrescante, cheio de vitaminas e ótimo para a digestão. O abacaxi reúne todos esses benefícios – e faz bonito à mesa nos vários momentos da refeição


ANANÁS

EGLA DE QUEIROZ, BARTENDER DO G&T GIN BAR INGREDIENTES: • 50 ml de gim Silver Seagers • 150 ml de água tônica • Pedaços de abacaxi desidratado • Pimenta-rosa • Folhas de menta MODO DE PREPARO: Aromatize uma taça para gim-tônica previamente gelada com as folhas de menta. Em seguida, adicione os pedaços de abacaxi desidratado e pitadas de pimenta-rosa. Depois coloque o gim Silver Seagers. Cubra com gelo, complete com água tônica e finalize com um ramo de menta em cima para decorar.

CARPACCIO DE ABACAXI

ADNILTON SOUZA, CHEF DO RESTAURANTE PISELLI INGREDIENTES: PARA O ABACAXI • 120 g de abacaxi • Uma pitada de flor de sal • 1 g de grãos de pimenta-rosa macerados PARA O GEL DE HORTELÃ • 100 g de hortelã • 100 g de açúcar • 250 ml de água • 15 g de ágar-ágar MODO DE PREPARO: Lamine o abacaxi bem fino, de preferência com uma fatiadora elétrica e reserve. Para o gel, branqueie as folhas de hortelã (mergulheas em água fervente por no máximo dois minutos, esfrie, seque e depois deixe congelar). Leve ao fogo o açúcar, a água e o ágar-ágar até atingir cerca de 90 graus (pouco antes de ferver). Bata tudo no liquidificador, passe no chinoise (peneira) e esfrie. Depois bata novamente e repita o processo da peneira. Antes de servir, coloque os abacaxis em uma bandeja e adicione algumas gotas do gel de hortelã, uma pitada de flor de sal e os grãos de pimenta-rosa macerados.

PODER JOYCE PASCOWITCH 69


HIGH-TECH POR FERNANDA BOTTONI

AVANT-PREMIÈRE Imagens de definição impressionante, som de concerto e poltronas mais do que confortáveis para uma experiência de cinema – sem sair de casa

SAMSUNG QLED Q9FN

Com 75 polegadas e borda infinita em todos os ângulos, esta TV parece realmente uma tela de cinema. A grande novidade que ela traz é a capacidade de “desaparecer” quando está desligada. Em vez de exibir a tradicional tela preta, ela pode se adaptar ao ambiente. Basta que você selecione uma das texturas predefinidas ou uma foto para se adequar à decoração. Outra novidade é a conexão feita por um cabo fino e transparente que conecta o aparelho a uma central externa ligando-o simultaneamente à energia e aos demais equipamentos, sem fios aparentes espalhados pelo caminho. Obedece comandos de voz. SAMSUNG.COM/BR PREÇO: R$ 41.499

MOTO INSTA-SHARE PROJECTOR

Este módulo é capaz de transformar qualquer superfície plana da casa ou escritório em sala de cinema. O Moto Insta-Share Projector possui um design ultrafino e pode ser acoplado a toda família de smartphones Moto Z. Ele vem com ajuste de foco, suporte embutido para projetar em qualquer lugar e bateria extra para uma hora adicional de diversão. MOTOROLA.COM.BR PREÇO: R$ 1.299 (APENAS O MÓDULO) E R$ 2.999,15 (PACOTE COM O MOTO Z3 PLAY)

NESPRESSO EXPERT

Não interrompa mais a sessão de cinema para fazer seu café. Com esta máquina, equipada com tecnologia Bluetooth Smart, dá para controlar as principais funções diretamente do smartphone (Android e iOS). Esta Nespresso vem com novidades. Há a opção de preparar café no estilo americano (25 ml de café e 125 ml de água quente) e o ajuste de temperatura, que são três: morna, quente e extraquente. Ainda avisa quando o compartimento de cápsulas está lotado. NESPRESSO.COM PREÇO: R$ 999

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CUISINART PIPOQUEIRA ELÉTRICA

AMANDA DIAS CAPUCHO,

CEO da Orfeu Cafés Especiais “Não desgrudo dos meus apps preferidos. O Headspace, de mindfulness, é maravilhoso para quem precisa desconectar ou se concentrar. O Oktoplus é perfeito para quem usa milhagem. Já o LoungeKey mapeia salas VIPs e lounges em aeroportos, inclusive para quem não tem passagem business class, mas possui alguma parceria com bancos ou pode pagar uma pequena tarifa. Por fim, adoro o Rick Steves Audio Europe, que apresenta pontos turísticos e fala de obras de arte de museus.”

Como cinema sem pipoca não tem graça, esta máquina cheia de charme prepara até 16 xícaras de pipoca de uma só vez, em 5 minutos, com a mínima utilização de óleo. Tem base de inox escovado com placa antiaderente, tigela de Lexan (material resistente a temperaturas quentes e frias), alças que não aquecem e placa removível para facilitar a higienização. Ainda dispõe de aberturas especiais na tigela que deixam a umidade escapar para a pipoca ficar bem crocante. CUISINARTBRASIL.COM.BR PREÇO: R$ 699

EPSON POWERLITE W42

Quer ver seus filmes preferidos em uma tela de até 300 polegadas com imagem de alta definição? Este “é” o projetor. Com resolução nativa no formato widescreen, ele tem 3.600 lúmens em cor e em branco e resolução WXGA (1.280 x 800). Possui entrada HDMI e wireless. EPSON.COM.BR PREÇO: R$ 3.500

LG SIGNATURE OLED TV W

A OLED TV ultrafina de 65 polegadas tem fixação bastante rente à parede. Ela proporciona verdadeiras experiências cinematográficas graças à gama de cores intensas e vibrantes, de tons perfeitos. Tem sistema de som Dolby Atmos, que reproduz realisticamente o movimento de qualquer objeto em uma ambientação 360 graus. Para completar, o processador é responsável pela riqueza de detalhes, cores vibrantes e profundidade infinita da imagem. Tem controle por voz.

* PREÇOS PESQUISADOS EM OUTUBRO. SUJEITOS A ALTERAÇÕES FOTOS DIVULGAÇÃO

LG.COM/BR PREÇO: R$ 39.999

EURO GLIDER

Uma poltrona para quem faz questão de ter mais conforto em casa do que teria no cinema. Ela pode ser usada em diversas posições e tem um suporte para reclinação máxima. Quer mais? Ela tem uma boa rotação, para você pegar a pipoca ou o café, e até balança – para dar uma relaxada entre um filme e outro. EUROCOLCHOES.COM PREÇO: R$ 2.907

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CULTURA INC. POR LUÍS COSTA

UM RESISTENTE DO PALCO O ator Otávio Augusto chega aos 50 anos de carreira fazendo do teatro cada vez mais sua profissão de fé. Ano que vem ele volta ao cartaz com um texto do britânico Harold Pinter

“O

meu exercício é o teatro”, diz Otávio Augusto, 73 anos, 50 deles no palco, na tela e na telinha. A celebração das “bodas de ouro” entre o ator e seu ofício se deu no Rio, com a peça A Tropa, que ficou dois anos em cartaz. Mal saiu dela, já ensaia leituras de uma possível montagem de Volta ao Lar, clássico do britânico Harold Pinter (19302008), vencedor do Nobel de Literatura em 2005. Inspirado na história bíblica de Abel e Caim e na tragédia clássica Édipo Rei, de Sófocles, o texto conta a história de Teddy, um professor de filosofia que retorna à casa

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FOTOS ELISA MENDES/DIVULGAÇÃO

Otávio Augusto em dois momentos da peça A Tropa: com Daniel Marano e no leito cenográfio de um hospital

para apresentar a mulher à família. A peça, que o ator espera montar no começo de 2019, terá direção de Jorge Farjalla. “Ele tem montado grandes textos, um cara muito curioso e criativo”, diz. Foi mesmo no teatro que o paulista de São Manuel começou a carreira de ator, nos agitados anos 1960. Era o tempo do lendário Teatro Oficina, marco da arte engajada no Brasil. “Tive sorte de ter iniciado minha carreira com Zé Celso, Renato Borghi, depois com Ademar Guerra. Não era simples você participar de um grupo como esse”, diz ele, que interpretou Perdigoto na histórica montagem de O Rei da Vela, de 1967, ícone do movimento tropicalista. Conhecido pelo veia cômica, Otávio começou a inscrever seu nome na dramaturgia com perso-

nagens de humor popular. “É um pouco determinante do grupo com o qual você trabalha, do espetáculo que você está ensaiando”, explica o ator. “Sempre trabalhei muito para levar a coisa para o lado do humor. Eu acho que o público brasileiro deixa se encaminhar criticamente muito mais pelo humor do que pelo drama”, completa. Em 2018, teve alguns sustos. Sofreu uma hidrocefalia e meses depois foi internado com arritmia, em meio à montagem carioca de A Tropa. Curiosamente, a peça se passa num leito de hospital. Otávio interpreta um coronel reformado do Exército que recebe a visita de quatro filhos, ensejo para rememorar passagens crucias da história brasileira, dos tempos da ditadura militar a estes anos da Operação Lava Jato.

Recuperado, preferiu não parar. “Nós, atores, não temos no nosso currículo o descanso. A gente vai fazendo, montando, exibindo, criando condições de fazer”, afirma ele, para quem fazer teatro no Brasil ainda é um desafio. “Não há disponibilidade econômica. No início da minha carreira, os produtores pegavam empréstimo no banco e você conseguia montar e pagar mensalmente tirando da bilheteria. Era uma coisa normal.” “Hoje em dia, a pessoa que tem a sala de espetáculo não é obrigada a produzir. E às vezes o aluguel é um absurdo, a gente paga por dia”, observa. Para piorar, há, claro, os custos de montagem da peça. “Todo mundo quer que você faça um espetáculo e cobre R$ 5, R$ 10 pelo ingresso. Assim não dá para produzir muito.” n PODER JOYCE PASCOWITCH 73


CINEMA

IMAGINAR A MEMÓRIA

Com Deslembro, Flavia Castro estreia no longa de ficção com trama que revisita, entre memória e imaginação, exílio e perseguição política

E

ra uma reunião política em plena ditadura militar. Todos na sala, por segurança, se referiam apenas por codinomes. Até que, em alto e bom som, uma menina chamou o pai pelo verdadeiro nome. “Eu sabia que não podia dizer o nome dele, mas me escapou”, lembra a hoje cineasta Flavia Castro. “Durante parte da minha infância, eu imaginava o que poderia ter acontecido a partir dali. ‘E se meu pai tivesse sido preso por causa disso?’ Imaginar também é uma forma de elaborar as experiências, de transformá-las.” O episódio que viveu aos 8 anos é recuperado pela diretora para explicar o argumento de Deslembro, sua estreia no longa-metragem de ficção. Foi a única película brasileira exibida no Festival de Veneza, em setembro, No auditório, todas as mais de 1.400 pessoas da lotação da sala.

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O filme, previsto para entrar em circuito no ano que vem, narra a história de Joana, uma adolescente que volta de Paris para o Brasil com a família após a Lei de Anistia, em 1979. No Rio de Janeiro, cidade onde nasceu e na qual seu pai desapareceu nos porões do Dops, seu passado ressurge, entre o real e a imaginação. “O filme tem muito da minha experiência, das minhas sensações daquela época, mas não é minha história”, conta Flavia, que viveu no exílio com a família até a anistia. “No filme, a memória e a imaginação da personagem às vezes se fundem. Porque me interessa mais pensar no que construímos a partir das nossas lembranças, do efeito delas sobre nós”, explica a cineasta, premiada nos festivais do Rio e de Biarritz pelo documentário Diário de uma Busca, de 2010, que evoca seu pai, o militante político Celso Castro,

encontrado morto em 1984. Deslembro começou a ser escrito em 2009, mas só foi filmado ano passado. Sua première nacional foi na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro, às vésperas do segundo turno das eleições. A projeção foi dedicada à memória das vítimas do coronel Brilhante Ustra, que torturou presos políticos durante a ditadura. “As sessões todas foram muito fortes, emocionadas”, conta Flavia. “Nestes dias em que tentam negar fatos históricos como a ditadura e a tortura, um filme que fala de uma família que viveu as consequências diretas da perseguição política no Brasil perturba. As pessoas projetam o presente, quiçá o futuro próximo. Deslembro é um filme que nos lembra disso, e lembrar é importante para resistir à barbárie”.


PODER É 1

FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO

2

1 - HQS NO MUSEU A chamada “nona arte” é tema de exposição no Museu da Imagem e do Som (MIS) em novembro. Fãs de quadrinhos encontrarão revistas, artes originais e exemplares raros de HQs, em ambientes temáticos e imersivos. A mostra tem programação paralela com cursos, oficinas e bate-papos com artistas do gênero. Até março de 2019. 2 - ÁFRICA-BRASIL A carreira do construtivista baiano Rubem Valentim (1922-1991) é destaque de

3

4

duas mostras paulistanas. Até dezembro, na Caixa Cultural, pinturas, gravuras, serigrafias, totens e esculturas mostram de formas diferentes seu tema de eleição: o candomblé e seus signos. Já no Masp, 92 de suas criações ficam em exibição até março de 2019. A mostra integra uma série de exposições relacionadas à escravidão.

Graciliano Ramos, que narra desventuras de uma família de sertanejos em meio à seca e ao abandono no nordeste brasileiro, ganha ilustrações de Renan Araújo e a reprodução do manuscrito do conto Baleia, que deu origem ao livro. Baleia, como se sabe, é o nome do cachorro da família de retirantes

3 - CLÁSSICO REVISITADO Aos 80 anos, Vidas Secas, clássico do modernismo brasileiro, ganha nova edição pela editora Record. O livro de

4 - UM VITRAL PARA A RAINHA A famosíssima Abadia de Westminster, em Londres, ostenta, desde o fim de setembro, a mais recente criação do artista

inglês David Hockney: um vitral multicolorido, de 8,5 por 3,5 metros, feito em homenagem ao 65º aniversário do reinado de Elizabeth 2ª. Hockney, que é um dos artistas vivos com as obras mais bem cotadas (em preço)do mundo, desenhou o esboço do vitral em um iPad. Aos 81 anos, o artista segue a manter o hábito de servir-se de inovações tecnológicas. Ao longo de sua longeva carreira usou também Polaroid e iPhone como pontos de partida para alguns de seu quadros.

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CABECEIRA

A METAMORFOSE – FRANZ KAFKA

“Um clássico do surrealismo – um homem que acorda no quarto transformado num inseto. O que me seduz particularmente é o minimalismo do texto, como ele constrói uma história com tão poucos elementos , basicamente um personagem num quarto.”

ESTANTE

POR ALINE VESSONI

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FRANKENSTEIN MARY SHELLEY

“Drácula e Frankenstein foram os livros de terror que me abriram para a literatura do século 19 na adolescência. A edição recente de Frankenstein, pela Editora Zahar, tem tradução, apresentação e notas minhas.”

A VIDA DE PI – YANN MARTEL

“Sobrevivendo a um naufrágio, um garoto fica num bote à deriva com um tigre. Romance alegórico baseado em novela do Moacyr Scliar, que também me inspirou muito e gerou belo filme.”

O FILHO ETERNO – CRISTOVÃO TEZZA

“Romance com viés autobiográfico muito sincero, masculino e por vezes perverso. Ele trata do nascimento e dificuldade de aceitação do seu filho com síndrome de Down, com lirismo e sem pieguice. Essa visão da paternidade inspirou muito meu romance mais recente, Neve Negra.”

RASTROS DO VERÃO – JOÃO GILBERTO NOLL

“Novela com o andarilho típico do autor; um homem com uma sexualidade ambígua, que chega a Porto Alegre e vaga sem rumo entre cenários e personagens. Li exatamente quando eu me mudava para a capital gaúcha, começando minha vida adulta, e refiz muito do percurso descrito no livro.”

O RETRATO DE DORIAN GRAY – OSCAR WILDE

“A escrita dândi e sarcástica de Wilde foi o que me inspirou a ser escritor, na adolescência. O romance recria o mito de Narciso, retratando um jovem que se apaixona por sua própria imagem e vende a alma para não envelhecer.”

FOTOS DIVULGAÇÃO

Como era de se esperar, o que não faltou na infância do escritor SANTIAGO NAZARIAN foram livros. Filho da também escritora Elisa Nazarian e do artista plástico Guilherme de Faria, Nazarian lê desde a infância. As referências literárias daquele tempo viraram, com efeito, títulos noir de alguns de seus livros: A Morte Sem Nome, Feriado de Mim Mesmo e Mastigando Humanos. “Eu não sei exatamente de onde vem essa raiz gótica, lembro apenas que gostava de me fantasiar de vampiro na infância”, brinca. A adolescência um tanto trivial permeada por videogame, caratê e filmes de terror trash também serviram para dar substrato ao futuro escritor. Some-se a isso o consumo excessivo de clássicos de matriz byroniana. “Quando li Oscar Wilde, com aquela escrita dândi e sarcástica, ironia deliciosa, eu sabia que era assim que queria escrever. Ao mesmo tempo, estava lendo Machado de Assis na escola e não me identificava”, conta Nazarian, que só chegou efetivamente ao terror em seu último livro, Neve Negra. Antes disso, seus escritos estavam estabelecidos na fronteira do suspense, dando vazão a questões existenciais, um estilo que ele mesmo definiu como “existencialismo bizarro”. Para inocular tensão nas suas tramas, Nazarian prefere escrever ao acordar, “quando os sonhos ainda estão frescos”. “Dá um tom bastante onírico, meio de pesadelo.” O único problema é ter de parar quando o romance pega no breu, já que nem só de escrever vive o autor. Ele ainda precisa se dedicar a traduções, colaborações com jornais e revistas e participações em eventos literários para manter as contas em dia.


UNIVERSO PARTICULAR POR ALINE VESSONI

FOTOS GILBERTO TADDAY/ARQUIVO PESSOAL; ISTOCKPHOTO.COM; GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO

Cássio Vasconcellos começou a clicar aos 7 anos e não parou. Do jornalismo e da publicidade chegou à diluição de fronteiras entre a fotografia e outras artes visuais

O paulistano Cássio Vasconcellos começou a fotografar cedo, ainda com 7 anos, numa viagem com a família. Não foi um início casual, já que pai e mãe foram fundamentais para que a brincadeira do filho virasse hobby – e mais tarde ofício. Paulo Vasconcellos, a figura paterna, merece menção especial. “Meu pai me deu muita força. Como ele exercia a profissão de antiquário e galerista, o mundo da arte sempre esteve muito presente em casa”, disse o fotógrafo a PODER. Não demorou muito e, aos 15 anos, já fazia testes com luz e sombra, experimentos que lhe seriam muito úteis mais tarde em seu trabalho autoral. “Ia para escola de manhã e no contraturno fazia aula de fotografia. Nas horas vagas, gostava de ir para o centro fotografar pessoas, arquitetura, a vida urbana.” O estilo e o olhar Cássio Vasconcellos hoje estão impressos

em assuntos que podem ser abarcados numa palavra: selva. Das selvas não metafóricas, como as que ainda restam no Brasil, às selvas de pedras das megalópoles. A série Coletivos, por exemplo, que teve início em 2008, faz uma reflexão sobre a sociedade contemporânea e seus excessos. Já na série Viagem Pitoresca pelo Brasil, a natureza é protagonista e os registros do fotógrafo tentam se aproximar da paisagem retratada pelas missões artísticas que vieram ao Brasil no tempo de Pedro 2º e que incluíam pintores como Jean-Baptiste Debret e Johann Rugendas. “A ideia é fazer com que a fotografia feita hoje e os retratos feitos naquele tempo tragam a mesma emoção.” Vasconcellos também dedicou anos ao fotojornalismo e à foto publicitária, mas dá para dizer que foram os cliques artsy que ditaram os rumos de sua carreira: aos 19 anos já tinha exposto em espaços conceitua-

dos da capital paulista, como o MAM, o Masp e o Centro Cultural São Paulo, e também do Rio, no MAM. Sua primeira série, a de chaminés de Nova York, já tem mais de 30 anos. Como a pós-produção é bem marcante em suas fotografias, parte decisiva do trabalho de Vasconcellos é feito no computador. Uma edição pode durar horas ou dias. Então, entre um tratamento e outro, ele gosta de fazer pausas para caminhar pela cidade, o que eventualmente gera insights para novas criações. A rotina do fotógrafo autônomo é justamente não segui-la, por isso jamais há dia certo para o trabalho. Ele acontece em viagens, durante as férias ou num domingo corriqueiro. Por isso Vasconcellos tem malas de equipamento sempre a tiracolo. “Não tem jeito, esse é o fardo da vida de todo fotógrafo.” n

SEU MELHOR CLIQUE:

MOMENTO DECISIVO:

do alto

um sorriso UM LIVRO: Amazônia, de Claudia Andujar e George Love

A FOTO QUE GOSTARIA DE TER FEITO: Satiric Dancer,

de André Kertész A MELHOR MÚSICA PARA TRABALHAR: bossa nova,

eletrônica, blues, pop, rock, jazz

UMA BEBIDA: vinho,

sempre! CAMINHAR: muito SÃO PAULO: redescobrindo

sempre BRASIL: preocupação POLÍTICA: precisamos FOTÓGRAFO: Man Ray

CIDADE: Paris

melhorar muito

INSPIRAÇÃO: o mundo

PAÍS: Brasil

VIAJAR: o tempo inteiro

PODER JOYCE PASCOWITCH 77


TREINAMENTO CORPORATIVO

CONFLITO SEM CONFRONTO “S

ou vítima do meu próprio sucesso.” Foi com essa frase e em tom de desabafo que o CEO de uma grande multinacional me confidenciou o que gostaria de “trabalhar” em si. Ele vocalizava sua grande perícia em harmonizar interesses por uma agenda comum. Mas o que um dia foi remédio virou veneno. A habilidade foi sendo exigida ao extremo, o que o obrigou a quase silenciar sobre temas que precisava costurar – e opinar. E então, ao perceber esse movimento, um sentimento de frustração apareceu, acompanhado de uma baixa autoestima que influenciava sua performance. Para piorar, ele levava essa característica também para a vida pessoal. Se queria ir a um restaurante italiano, mas a esposa preferia um japonês, eles iam ao japonês. Se um filme de ação chamava sua atenção, mas a

78 PODER JOYCE PASCOWITCH

mulher escolhia um de arte, lá ia ele para o cinema indicado pela mulher. O leitor pode achar o sujeito perdido, sem expressão ou voz, mas não era o caso. Ao contrário. Era bem-sucedido na empresa e no casamento. Acontece que, além da frustração por não impor suas ideias, percebeu que precisava partir para o conflito. Não só pelo seu bem-estar, mas também para obter resultados. Situações inusitadas, concorrentes novos, pressão por metas em situação adversa exigem as melhores ideias. Muitas delas aparecem justamente na diversidade de opiniões. Pode-se chegar ao conflito sem a necessidade do confronto. Não é pelo confronto que surgem alternativas e opiniões distintas. Devemos nos armar de perguntas, não do embate direto, o famoso fogo contra fogo. Interrogar é convidar à reflexão, ainda que momentânea. Indagar tem ainda

mais eficácia se às pergunas forem acopladas alternativas, ideias novas que devem ser apresentadas de forma sutil e engajadora. No caso do CEO em questão, a saída foi praticar a nova competência em ambientes de menor risco: na vida pessoal. Fizemos o seguinte experimento: toda vez que a esposa optava por um restaurante diferente do seu, em vez de apenas concordar ou negar, ele apresentava outra alternativa em forma de pergunta. Assim, diante da escolha pela culinária japonesa da companheira, propunha: “Abriu um italiano ótimo de um chef renomado aqui perto, o que você acha?”. Perceba que ele não discordou ou bateu de frente, apenas propôs uma alternativa. Resultado: de cada dez eventos, convenceu a esposa em seis. Uma evolução para quem não dizia o que pensava. Depois ele levou a prática para o ambiente corporativo, em assuntos mais complexos, e os resultados foram parecidos. O que mudou para o CEO ao fim do processo foi um incremento da autoestima, performance e capacidade de gerar melhores ideias. Ativos importantes no trabalho e na vida. Conflitar é uma arte e adotar a prática de maneira sutil e mobilizadora, uma jornada quase eterna. Se abraçarmos a causa, os frutos aparecerão mais cedo do que pensamos. n Sergio Chaia é coach de CEOs e atletas de alto rendimento e faz mentoria na Endeavor. Ex-CEO da Nextel e da Sodexo, é autor do livro Será que É Possível? (ed. Integrare)

ILUSTRAÇÃO ISTOCKPHOTO.COM; FOTO ARQUIVO PESSOAL

por sergio chaia


CARTAS cartas@glamurama.com

DOUTORA DE HOSPITAL

Escrevemos para parabenizá-los pela reportagem com Denise Santos, CEO da Beneficência Portuguesa (PODER 121). Salientamos que o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da empresa foi de aproximadamente R$ 103 milhões em 2017. Assessoria de imprensa BP

ALMOÇO DE PODER

Corajoso entrevistar alguém que foi considerado um criminoso e condenado pela Justiça (PODER 121). Hosmany Ramos é o exemplo literal de quem caiu e deu a volta por cima. Se ele resolvesse falar mais, ia entregar muita gente do alto escalão. Roberto Cruz, Santos (SP), via e-mail

POLE POSITION

Achei superpertinente a coluna do José Rubens D’Elia (PODER 121), em que ele fala sobre a reeducação não só alimentar, mas sobretudo, se entendi bem, da própria consciência, para perder quilinhos extras. Fiquei empolgada para ler o livro que ele cita na seção, Código Secreto do Emagrecimento. Aline Pires, Rio de Janeiro (RJ), via e-mail

FOTO PAULO FREITAS

CASA DE AREIA

Tem como não amar o Brasil? Apesar da profunda tristeza que a política nos causa, o nosso território e a nossa gente fazem do Brasil um lugar feliz para se viver. Os Lençóis Maranhenses (PODER 121) é um desses lugares que vale a pena conhecer. Rosa Silva, Joinville (SC), via e-mail

/poder.joycepascowitch

AGENDA PODER CHRISTIAN LOUBOUTIN

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@revistapoder

@revistapoder

O conteúdo da PODER na versão digital está disponível no SITE +joycepascowitch.com

PODER JOYCE PASCOWITCH 79


A uma semana da definição do pleito mais polarizado dos últimos tempos, em que a difamação foi regra de conduta, o domingo, 21 de outubro, foi um dia extremo. Naquela tarde, Jair Bolsonaro subiu pesadamente o tom contra os “vermelhos” num “live” de muita repercussão. Com isso, passou um tanto batida nos jornais a morte de Jacó Guinsburg, aos 97 anos, no mesmo dia. Guinsburg chegou ao Brasil criança, fugindo com a família do crescente antissemitismo que assolava sua Bessarábia (atual Moldávia) natal. Em São Paulo, viveu no Bom Retiro, bairro de imigrantes judeus, e exerceu profissões diversas como jornaleiro e operário têxtil até encontrar a atividade que o consagraria, a de editor. Sua primeira editora, a Rampa, dedicavase a traduzir obras escritas em iídiche, mas foi depois, com a Perspectiva, que ele firmou seu nome no Brasil. A companhia, bastião dos estudos das humanidades no país, publicou mais de mil títulos, alguns notáveis, como Obra Aberta, de Umberto Eco, autor que Guinsburg apresentou aos brasileiros. Depois de escrever dois livros, desdobramentos naturais de sua carreira acadêmica, em 2000 o editor exibiu uma nova faceta, a de autor temporão, ao lançar a compilação de contos O que Aconteceu, Aconteceu (Ateliê Editorial). Em 2018, pela mesma editora, ainda se arriscaria na poesia com Jogo de Palavras.

80 PODER JOYCE PASCOWITCH

FOTO LUIZ CARLOS MURAUSKAS/FOLHAPRESS

MEMÓRIA



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TREINAMENTO CORPORATIVO

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CARTAS

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UNIVERSO

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ESTANTE

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centenária

2min
pages 70-71

HIGH-TECH

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pages 72-73

SOB MEDIDA

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música erudita de George Gershwin

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esquecer dos automóveis

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PODER VIAJA

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RESPIRO

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das redes sociais como Tinder

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para o Brasil? CANTO, DANÇO E REPRESENTO

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reinventar

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CORRIDA DE OBSTÁCULOS

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EDITORIAL

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