Revista Poder | Edição 135

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ISSN 1982-9469 00135

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R$ 14,90

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FEVEREIRO 2020 N.135

CAPITAL INICIAL

O fórum alternativo a Davos criado pelo papa na Itália para discutir a economia que inclui – e não exclui

REFLEXÃO

Por que profissionais que cultivam o autoconhecimento se destacam no mercado

LOCOMOTIVA PATRICIA ELLEN, a

destemida secretária de Desenvolvimento Econômico de São Paulo

FOCO NO CLIENTE Responsável pela notável expansão da Óticas Carol, hoje com lojas em todos os estados do Brasil, RONALDO PEREIRA fez dos óculos objeto de desejo no país E MAIS

A resistência de SÉRGIO MAMBERTI; RUY CASTRO e o Rio de 1920; a Índia multicolorida, equipamentos para curtir desconectado e o que importa para o arquiteto MARCIO KOGAN


A P R E S E N TA :

CAFÉ HABITUAL BRUNCH É NA HORA QUE VOCÊ QUISER!

PISO TÉRREO


JKIGUATEMI.COM.BR




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SUMÁRIO EDITORIAL COLUNA DA JOYCE UM HOMEM DE VISÃO

Como Ronaldo Pereira revolucionou a Óticas Carol 20

O ACOLHIMENTO CURA

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ALMOÇO DE PODER

Patricia Ellen, a secretária destaque na gestão João Doria 34

POR UM CAPITALISMO CIVILIZADO

A convocação do papa Francisco por uma economia mais justa 38

RESPIRO

O neurologista Oliver Sacks

UMA ÍNDIA EM TECHNICOLOR

As paisagens fascinantes – e nada comerciais – do sul indiano 50 52

A luta da pesquisadora Nise Yamaguchi no combate ao câncer 26

ENSAIO

Sérgio Mamberti, militante da cultura brasileira e superativo aos 80 anos

CONHECE-TE A TI MESMO

O apreço do mercado pelo autoconhecimento 23

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PODER VIAJA SOB MEDIDA

As predileções do animado cenógrafo Gringo Cardia 54 56 58 60 61 62 63 64

CULTURA INC. COZINHA DE PODER HIGH TECH OBJETO PESSOAL ESTANTE POLE POSITION CARTAS ÚLTIMA PÁGINA

RONALDO PEREIRA POR PATRICIA CRUZ

NA REDE: /Poder.JoycePascowitch @revistapoder @revista_poder

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Renato Vaz

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PODER EDITORIAL

D

e tanto que se fala sobre isso, parece que o maior desafio do empreendedor hoje em dia é só esse: sonhar grande. Delírios de grandeza e ambição desmedida, contudo, ainda não são suficientes para “escalar” na carreira – é preciso também realizar grande. Mas e quando o próximo passo do líder é voltar a ser executivo? Ronaldo Pereira, o carioca boa-praça demais que deu protagonismo à Óticas Carol, viveu esse dilema – que para ele não foi exatamente dilema. Ao receber oferta do maior grupo ótico mundial, a Luxottica, Ronaldo cedeu sua participação com gosto. Hoje “apenas” CEO da Carol, ele se entusiasma com os encontros frequentes que tem em Milão com o fundador da Luxottica, o bilionário italiano Leonardo del Vecchio, para ele, um mestre. Para aprender é fundamental estar disposto a isso – e o autoconhecimento que permite o aprendizado é valor para os C-Level. Mas antes há que se jogar em alguns momentos de solidão, ou melhor, de solitude, como o repórter Victor Santos explica em reportagem especial. O Fórum Econômico de Davos viveu, em janeiro passado, um momento de ruptura. O protagonismo no stakeholder e as questões ambientais ocuparam os debates na Suíça, e vão também reaparecer em Assis, no encontro que o papa Francisco promove em março, uma espécie de Fórum Econômico Mundial Lado B. A onda é incluir, olhar para quem está fora do sistema, e a emergência de líderes que vieram dos baixios mais improváveis, como a secretária paulista de Desenvolvimento Econômico, Patricia Ellen, que cresceu em Campo Limpo, periferia de São Paulo, a convidada do Almoço de PODER, ajuda demais nesse trabalho. Nesta edição visitamos e vivenciamos lugares, aromas – por que não? – e sonhos muito diversos: o sul multicolorido da Índia, o grão-de-bico – ingrediente essencial na culinária árabe –, o refinado savoir-vivre do arquiteto Marcio Kogan, a arte que transforma e resiste do ator Sérgio Mamberti e muito mais. Viaje na PODER sem moderação.

GL A M U R A M A . C O M


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A aproximação entre o presidente JAIR BOLSONARO e o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), PAULO SKAF (MDB), ligou o sinal de alerta entre alguns empresários do setor. Se a ponte com o governo federal tem sido bastante elogiada, há a preocupação de que se faça uso político da federação no recolhimento de assinaturas para a aprovação do novo partido de Bolsonaro – Aliança pelo Brasil. Skaf, filiado ao MDB, é tido como potencial dirigente da nova sigla e ventila-se a possibilidade dele disputar o Palácio dos Bandeirantes em 2022 pelo APB. Bolsonaristas já abriram o caminho para que o número 1 da Fiesp assuma o comando da legenda no estado.

REUNIÃO DE CONDOMÍNIO

Parece que a família Odebrecht não é muito benquista entre os vizinhos em seu recanto de Busca Vida, na Bahia. Recentemente, durante discussões sobre questões ambientais e outros assuntos, moradores do luxuoso condomínio soltaram várias farpas direcionadas à família. Surgiram comentários desde bombeamento de água de uma lagoa em processo de extinção para regar jardins a críticas aludindo à Operação Lava Jato. Do tipo: “O condomínio está se transformando em ninho de milionários, ou melhor, ninho de ladrões”.

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NUVEM CINZA

D e p ois d o e s c â n d a l o e nvo l ve n d o u m d o s s ó ci o s d o r e s t a u r a n te F O U R S E A S O N S , o n d e a co n t e c i a m o s p o w e r l u n c h m a i s m í t i co s d e N ov a Yor k , outro es t ab elecimento a c a b a d e f e ch a r a s p o r t a s p e l o m e s m o m oti vo: a s s é d i o s e x u a l co m e t i d o p o r u m d o s s ó c i o s p r o p r i e t á r i o s . E n d e r e ço f a v o r i to d e a l to s e x e c u t i v o s d a i n d ú s t r i a d o e n t r e te n i m e n to , o T H E S P O T T E D P I G e r a m e n os f a m os o, p e qu e n o, m a s m u i to r e p r e s e n t a t i v o . Fe c h a d o e m j a n e i r o , e r a co m a n d a d o p e l a e s t r e l a d a c h e f A pr il B loomf ield e ser v ia de point d o s c h a r m o s o s e d e s co l a d o s n o Wes t V ill a ge. Em tempo: no loc a l d o r e cé m - f e c h a d o Fo u r S e a s o n s v a i f u n ci o n a r o r e s t a u r a n te Fa s ano de N ov a Yor k .


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ÁGUA SALGADA

16a

O Rio de Janeiro é a 16ª cidade mais cara do mundo para consumo de produtos de luxo, segundo o relatório Global Wealth and Lifestyle (Riqueza Global e Estilo de Vida) do banco suíço Julius Baer, que pesquisou 28 cidades no planeta. Na capital carioca o preço é salgado para o consumidor em busca de produtos de luxo como bolsas, relógios, joias, uísque, vinho e afins. Devido aos impostos incidentes, esses produtos podem ter seus preços aumentados em até 300%. A cidade mais cara no índice é Hong Kong.

ARCO-ÍRIS Na esteira da diversidade, um

FOTOS CAROLINA ANTUNES/PR; GETTY IMAGES; PAULO FREITAS; REPRODUÇÃO; DIVULGAÇÃO

banco digital focado no público LGBTI+ acaba de iniciar operações no Brasil. Um dos pontos de destaque do Pride Bank, que se diz inclusivo e não exclusivo, é que correntistas podem optar por colocar seus nomes sociais no cartão. Além disso, parte da receita bruta do banco é revertida para causas da comunidade – e os clientes são informados sobre a aplicação de cada centavo distribuído. A diversidade também está presente nos postos de liderança.

SUBINDO

O número de fusões e aquisições de empresas bateu recorde no Brasil em 2019. De acordo com levantamento da KPMG, foram 1.231 transações concretizadas, cerca de 27% mais do que em 2018. A avaliação dos analistas é que companhias nacionais e estrangeiras têm apresentado mais apetite para implementar seus planos de expansão no país, com investimentos de longo prazo por meio de fusões e aquisições.

CASA NOVA

Causou boa impressão a inauguração do novo Centro de Convenções de Salvador, em janeiro, pelo prefeito ACM NETO. Não apenas a obra em si, como toda a festa e a parceria com a empresa francesa GL events – responsável pela gestão do São Paulo Expo e do Riocentro –, que vai administrar a instalação. PODER esteve por lá e conferiu de perto a noite que teve show de Maria Bethânia e a presença de personalidades como o presidente do Senado Davi Alcolumbre. A expectativa é que o equipamento receba, em até três anos, cerca de 100 eventos por ano. PODER JOYCE PASCOWITCH 9


Um homem é um sucesso se pula da cama pela manhã, vai dormir à noite e, nesse meio tempo, faz o que gosta. BOB DYLAN

3 PERGUNTAS PARA...

RENATO MENDES, MENDES, cofundador da aceleradora Organica, mentor da Endeavor e professor universitário. Ex-head de marketing da Netshoes, é autor de Mude ou Morra, Morra, manual de sobrevivência para empresas da nova economia O QUE A NOVA ECONOMIA TEM DE NOVO?

Empresas da economia tradicional gastam muito tempo planejando, focam em produto e empurram goela abaixo esse produto. Na nova economia, as empresas vencedoras praticam escuta ativa, reconhecem uma necessidade não atendida do consumidor e desenvolvem o produto em cima disso. Só depois que vão pensar num modelo de negócio que faça a conta fechar. Há ainda o foco constante no aprendizado e também a velocidade de tomada de risco. A startup opera no limite, sabendo que a demora custa muito caro, por isso foca em corrigir os erros rapidamente. O executivo da economia tradicional é treinado para não errar, porque ele sabe que isso pode custar

seu emprego. Então, ele escolhe o que não o coloca em risco. QUAIS AS PRINCIPAIS DEMANDAS DAS STARTUPS E DAS EMPRESAS TRADICIONAIS QUE VOCÊ ATENDE?

As startups procuram crescer, acelerar. Nelas tenho normalmente carta branca. Ficamos cerca de 30 dias fazendo um diagnóstico das oportunidades relegadas e então mostramos quais alavancas de crescimento não estão sendo aproveitadas. Em geral, o grande erro das startups é querer fazer tudo, abrindo muitas frentes. Muitas vezes, nosso trabalho é arrumar a casa e preparar a empresa para o crescimento. Já na empresa tradicional, atacamos objetivos e áreas definidos como marketing e transformação digital. A dor da startup é que ela precisa crescer, a dor

do grande é que ele precisa se adaptar a esse novo mundo. QUE PERFIL EMPRESARIAL ESTÁ FADADO AO FRACASSO?

O principal equívoco que as empresas tradicionais podem cometer é achar que não precisam mudar. Nunca foi tão arriscado você se sentir seguro. Esse é o começo do fim. Há ainda a agravante de que hoje os ciclos de inovação estão cada vez mais curtos. Nos anos 1980 e 1990, um ciclo desse chegava a durar 20, 30 anos. Hoje, na competição de fintechs, a gente vê uma ideia copiada e melhorada em apenas seis meses. Todo mundo monitora todo mundo o tempo todo, o jogo está muito difícil.

Com população em queda e mais de 2,6 milhões de portugueses morando fora, Portugal começou no ano passado um programa para atrair emigrantes e seus descendentes. Oferecendo entre outras coisas apoio financeiro (até R$ 30 mil) e desconto de 50% no IR, o Regressar fechou seu primeiro balanço com 659 candidaturas em seis meses. Segundo o levantamento, a maioria dos candidatos tem menos de 40 anos e havia saído do país na crise econômica de 2011 a 2015. O Brasil foi um dos principais destinos dos lusos.

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FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO

NAU


EM FEVEREIRO, A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO... em 2020 homenageará os 250 anos do nascimento de Ludwig van Beethoven MONTAR uma playlist com os sons que embalaram as férias. Nada melhor do que música para guardar bons momentos na memória INVESTIR em ações alternativas e mais

arrojadas para aproveitar a retomada econômica prevista para o ano – sem, é claro, descuidar de uma reserva emergencial em renda fixa. Analistas indicam que a bolsa ainda tem bastante espaço para crescer TIRAR cinco minutos do dia para fazer o exercício de se desconectar do mundo para então conectar com si mesmo LER Carnaval, livro de poesias de

GARANTIR os ingressos para os Jogos Olímpicos de Tóquio que acontecem entre 24 de julho e 9 de agosto no Japão LEMBRAR de Nelson

VISITAR a exposição da fotógrafa

Claudia Andujar, defensora dos índios ianomâmis, na Fundação Cartier, em Paris. ASSISTIR a Alta Fidelidade, nova série baseada no livro de Nick Hornby, que virou filme cult estrelado por John Cusack. Nesta adaptação, uma protagonista mulher (interpretada por Zöe Kravitz) toca a loja de discos e revisita seu passado amoroso por meio de músicas. No Hulu

Mandela, símbolo da luta contra o racismo, no mês que marca o aniversário de 30 anos da sua libertação da prisão por engajamento contra o apartheid

Manuel Bandeira, de 1919 ESCOLHER uma atividade física

para praticar em grupo – é a tendência mundial levantada por especialistas do universo fitness. O benefício é duplo: acompanhamento profissional próximo e motivação extra de suar a camisa coletivamente CORTAR de vez o açúcar – ou

FOTOS GETTY IMAGES; FREEPIK; DIVULGAÇÃO

ACOMPANHAR o Rio Open, principal

torneio de tênis da América Latina. Presenças confirmadas do austríaco Dominic Thiem (atual número 4 do mundo) e do italiano Matteo Berrettini (número 8). No Jockey Club

LER Operação Condor,

romance-reportagem póstumo de Carlos Heitor Cony escrito em parceria com a jornalista Anna Lee, que tenta jogar luz sobre o mistério das mortes de Jango, JK e Lacerda

adoçante – do cafezinho. Uma boa dica é primeiro diminuir pela metade e, depois de um tempo, tirar completamente o item da bebida. É melhor e mais saudável REVIVER a toca do coelho

OUVIR o novo disco de Marcos Valle,

Cinzento RENOVAR a assinatura para a nova

temporada da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), que

para celebrar os 200 anos do nascimento do ilustrador inglês John Tenniel, responsável pelos desenhos originais de Alice no País das Maravilhas, clássico dos clássicos de Lewis Carroll

com reportagem de aline vessoni, dado abreu e fábio dutra PODER JOYCE PASCOWITCH 11


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PANORÂMICA

UM HOMEM DE

VISÃO

Há dez anos à frente da Óticas Carol, da qual já foi acionista e hoje é CEO, Ronaldo Pereira ajudou a transformar uma marca regional em líder nacional, levou o faturamento para a grandeza do bilhão e preparou a venda para a Luxottica, maior conglomerado ótico do mundo. Mas para isso ele precisou desrespeitar o conselho do avô por paulo vieira fotos patrícia cruz

O

escritor Italo Calvino revestiu de existencialismo o ato bastante banal de usar óculos no conto “A aventura de um míope”, que integra seu livro Os Amores Difíceis. Seu personagem atormenta-se por ser obrigado a levar lentes corretivas aos olhos, e, para explicitar seu desprezo por elas, tem reações contraditórias. Ora acha que deve optar por um modelo de óculos espalhafatoso, que deixe claro não ter relação nenhuma com aquilo, ora considera usar uma armação que se adapte perfeitamente ao rosto, quase desaparecendo por sobre o nariz. E é em meio a essa paleta variada de possibilidades, entre o pincenê machadiano e a coleção colorida do Elton John, que o executivo Ronaldo Pereira se move. Hoje CEO, Ronaldo é o nome por trás do crescimento acelerado da Óticas Carol, que de uma modesta rede de lojas de Sorocaba, no interior paulista, tornou-se em uma década

o grande player nacional, com mais de 1.400 unidades e faturamento de R$ 1,1 bilhão. Desde 2017, a Carol faz parte do portfólio do maior grupo ótico do mundo, a Luxottica, que detém as marcas Ray-Ban, Prada e Oakley e a varejista Sunglass Hut, entre outras. A Carol vem crescendo dois dígitos ao ano, e, em 2019, bateu seu recorde de abertura de lojas – 150 –, mas Ronaldo acredita que para dar conta da população carente de óculos teria de dobrar ou triplicar de tamanho. “Há 110 milhões de brasileiros que precisam de correção visual. É preciso ter pelo menos 3 mil lojas.” Números da consultoria Euromonitor International endossam a visão do CEO. O Brasil já é o quarto consumidor mundial de óculos, atrás de Estados Unidos China e Alemanha. Mas é o quinto país em população míope. No segmento de lentes de contato, em que a Carol atua discretamente, apenas comercializando a lente descartável Acuvue, o Brasil é o 15º do mundo em PODER JOYCE PASCOWITCH 13


volume de vendas. No consumo de lentes óticas per capita, o Brasil fica na 18ª posição. A Carol busca ser uma marca varejista com presença claramente nacional. Está agora em todos os estados, mas a expansão não se faz a qualquer custo. Um franqueado deve manter pelo menos três unidades e há um controle estrito de quem pode ou não entrar no clube – não basta o “demitido da crise aparecer com seu FGTS”, como disse o CEO em entrevista a PODER. Além disso, espera-se do vendedor uma postura ativa, incompatível com a do sujeito que compra uma franquia com o objetivo de preparar as iscas na quinta para ir pescar na sexta. “Hoje o ciclo de loja é mais curto, se a gente tiver as mesmas práticas de dois ou três anos atrás, não vai longe. As vitrines das nossas lojas chegam a mudar três vezes por semana para atrair públicos diferentes, e no gerenciamento há controle de zonas de aquecimento, muita inteligência envolvida.” O trabalho de um CEO é normalmente estafante, mas as reviravoltas pelas quais Ronaldo passou na Carol, em que está desde 2009, tornam as coisas ainda mais mirabolantes. Vindo da empresa GO General Optical (hoje GO Eyewear), no qual estabeleceu mercado para marcas como Atitude, Bulget, Speedo e Ana Hickmann, ele já foi acionista minoritário da Carol em composições diversas, ora tendo fundos de investimentos como parceiros, ora sócios como Marcos Amaro, filho de Rolim Amaro, fundador da TAM, que ficou na casa por cinco anos. Seu novo momento exige viagens constantes a Milão para prestar contas ao fundador da Luxottica, o bilionário italiano Leonardo del Vecchio, a quem chama de “gênio” (veja boxe “Novo patamar”). “Reportar para o dono da companhia e para o CEO global é muito prazeroso”, diz. Ronaldo enxerga sua vida atual, de CEO, e a antiga, de acionista da Carol, como “jogos diferentes”. “É como disputar a Libertadores e o Brasileiro, um campeonato é mata-mata, o outro, de pontos corridos. Precisei mudar o jeito de ser, hoje preciso trabalhar mais alçadas e convencimentos”, diz. “Mas a vontade de fazer mais é permanente, só que a companhia tem suas regras”, completa. Para registro anedótico, o time do coração de Ronaldo, o Flamengo, venceu os dois torneios citados por ele em 2019. O executivo, aliás, assistiu in loco, em Lima, no Peru, a vitória do Flamengo na finalíssima contra o River Plate, pela Libertadores, em novembro.

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‘‘O ciclo de loja é muito curto, se a gente tiver as mesmas práticas de anos atrás, não vai longe. Nossas vitrines chegam a mudar três vezes por semana” LÁGRIMAS É improvável que alguém use óculos escuros apenas para as lágrimas esconder, como canta Jorge Mautner em “Vampiro”, mas há muitos outros consumidores a impulsionar a venda desses modelos na Carol. Até 2010, óculos de sol mal significavam 10% do faturamento, e hoje respondem por 35%. Comercializá-los representou uma verdadeira quebra de paradigma, ou, mais ainda, a queda de um tabu. “Havia a ideia de que óculos de sol não deveriam ser vendidos em ótica”, diz Ronaldo. Além disso, ele conta, “dezembro era tido como um mês excelente para se dar folga para os funcionários”, já que, achava-se, “ninguém dava óculos de presente de Natal”. Mudar o mindset de seus colaboradores e franqueados, portanto, era, pode-se dizer, uma pequena revolução cultural. Na pré-história da Carol até mesmo datas críticas para o comércio, como o Dia dos Pais, passavam batido, sem campanhas especiais nem promoções. O CEO, que começou sua vida profissional fazendo bicos como vendedor em lojas de moda jovem nos tempos da universidade e, portanto, conheceu desde cedo a dinâmica do varejo, teve de suar bastante a gravata na Carol. “Há 15 anos, se alguém entrasse numa loja pedindo óculos do jacaré da Lacoste, o balconista dizia que só tinha os do cavalo da Ralph Lauren. Ele tinha orgulho de dizer ao consumidor o que este deveria comprar. E não dava desconto nem parcelava”, diz. Fazer o consumidor comer em suas mãos era uma


Detalhes tão pequenos da vida de um CEO: biografias, livros de gestão moderna, crachás e comendas ocupam as salas do QG da Carol em São Paulo, onde Ronaldo dá plantão

NOVO PATAMAR

Se com Paulo Ji, o antigo sócio na GO, Ronaldo aprendeu a empreender, com o italiano Leonardo del Vecchio, o fundador da Luxottica, que o CEO vê regularmente desde 2017, o aprendizado do executivo brasileiro parece ter entrado em novo patamar. “É o grande gênio do setor ótico, o sujeito que começou do nada e construiu um império”, diz. “Nos anos 1970, ele entendeu que existia espaço para transformar a armação, que até então só tinha a função de segurar as lentes, em algo que realmente marcasse a personalidade do usuário. Assim, ele trouxe o mundo da moda para as armações”, completa. “Foi um marco na indústria mundial.” Para Ronaldo, “Del Vecchio não descansa, é uma pessoa que vê oportunidades onde os mortais enxergam problemas”. Um ano após adquirir a Carol, Del Vecchio seguia bem desperto. Em 2018, a Luxottica fez um acordo de fusão com a fábrica de lentes francesa Essilor. A empresa resultante tornou-se o maior conglomerado do setor, com atuação em 150 países e 140 mil funcionários.

prerrogativa que os lojistas do segmento relutavam em abrir mão. “Como a lente tem componentes técnicos e é prescrita por médicos, o comprador poderia ao final sair da loja completamente perdido.” QUESTIONÁRIO As especificações técnicas dos óculos, além dos tantos formatos diferentes de rostos da população, dificultam que a Carol e toda a concorrência deem impulso ao e-commerce, uma estratégia de vendas que quase nenhum segmento do varejo hoje em dia se dá ao luxo de abdicar. Mas Ronaldo diz que mesmo em mercados maduros como os Estados Unidos as transações virtuais são “insignificantes”. Na Carol, geram o equivalente ao faturamento de apenas uma de suas 1.400 lojas. “Provar virtualmente óculos é diferente de provar virtualmente uma roupa. Para saber que lente usar o comprador tem de responder umas 20 perguntas. Uma coisa é o ‘one click’, outra é preencher um quesPODER JOYCE PASCOWITCH 15


tionário. A experiência física é muito importante.” O fato de projetar um faturamento desprezível no e-commerce, incompatível com o investimento “robusto” que teria de ser feito, não significa, contudo, que o executivo ignore a internet. A Óticas Carol tem 2,8 milhões de seguidores no Facebook, mídia importante para comunicar campanhas e promoções. Ali a empresa precisa ficar especialmente atenta para que o tráfego gerado não seja desviado para terceiros, como já aconteceu no passado. De qualquer forma, não é essa a principal dor de cabeça de Ronaldo e seus homólogos do segmento. Combater a pirataria e a informalidade é a mãe de todas as guerras. A concorrência desleal é pesada: o setor trabalha com dados que indicam que metade do faturamento de armações e óculos de sol esteja na mão do mercado não formalizado. Trata-se de um reflexo natural de um setor ainda bastante pulveriza-

CONTROLANDO MALUCOS

Se seguisse o conselho do avô em sua Barra Mansa natal, é provável que Ronaldo jamais trilhasse a carreira executiva. “Nunca bote a mão onde você não alcança”, dizia ele ao neto. À parte a redundância lógica do ditado, há aí um convite para se conformar com o que está posto, praticamente o polo contrário do “sonhe grande” disseminado – e banalizado – pela administração moderna. “Se fizesse o que ele dizia, estaria ferrado. Então eu respondia: ‘Eu nunca vou botar a mão onde eu ainda não alcanço’. Acho que começou aí uma história de buscar”, diz o CEO. Ronaldo se formou em engenharia na Universidade Federal Fluminense (UFF) e iniciou carreira no mercado financeiro, mas, mesmo avançando algumas casas nesse segmento, não eram coisas como hedge e derivativos que lhe faziam a cabeça. “Não queria chegar aos 30 anos nisso, o que me interessava era estar na ponta da execução.” E a execução veio com o convite para se juntar ao empresário Paulo Ji, na GO. Ronaldo tem no ex-sócio, hoje vivendo em Xangai, na China, seu grande instrutor. “Ele ficava repetindo que empreender é uma relação de fé, que as pessoas normais não acreditam no impossível.” Essas lições calaram fundo, e ajudaram-no a entender que é preciso tomar risco e deixar de ser a “galinha que só bota ovo” para virar o “porco que dá a pele”. Hoje o CEO diz a seus comandados que “não há sonho que não possa ser sonhado e realizado”. Entendida a mensagem, o trabalho torna-se mais suave: cabe a ele apenas conter os arroubos dos mais sonhadores. “Posso dizer que criei na Carol um bando de malucos. Mas é melhor controlar maluco do que empurrar cansado.”

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do. A Abióptica – Associação Brasileira das Indústrias Ópticas – acredita que as três líderes do setor, Carol, Chilli Beans e Óticas Diniz, respondam por apenas 12% dos pontos de venda de todas as óticas do Brasil. “Combater a ilegalidade é um dos grandes desafios do setor, mas outro grande é o baixo acesso da população aos profissionais de oftalmologia. Enquanto nos Estados Unidos essa relação é de um para 4 mil habitantes, no Brasil é de um para 12 mil”, explica Guilherme Machado, analista sênior da consultoria Euromonitor. “Nosso mercado tem grande potencial de crescimento”, afirma o analista, conclusão a que os executivos da Luxottica também não devem ter demorado a chegar quando se debruçaram sobre os números do setor no Brasil. A italiana arrematou a Carol por 110 milhões de euros em 2017. Ronaldo costuma dizer que a expansão da rede é útil para “conscientizar a população” e para difundir informações de saúde pública, como a de que “40 milhões de brasileiros jamais visitaram um oftalmologista”. Assim, espera ver mensagens como essa cada vez mais propagadas – o que, no fim das contas, pode significar mais clientes. A Carol também investe em projetos sociais: além de confeccionar e distribuir para a população uma cartilha da visão semelhante àquela usada no controle de vacinas, pôs na rua o Pequenos Olhares, em que vende a preços subsidiados (R$ 59 em até dez vezes) óculos de armações coloridas – antes chamados de “carolzitos” – para crianças de 4 a 11 anos com certo grau de astigmatismo. Elas precisam cursar regularmente a escola pública. Segundo outra estatística divulgada pela Carol, oito de cada dez crianças em idade escolar jamais foram a um oftalmologista, e, com isso, perdem a possibilidade de enxergar melhor. Deve ser essa a razão de Ronaldo falar com afeto de campanhas como a Pequenos Olhares. Para ele, esses projetos configuram certo dever cívico da empresa, já que, afirma o CEO, “a melhor maneira de crescer é desenvolvendo a sociedade”. O executivo diz que recebe constantes e emocionados relatos de crianças (e de seus pais) que, com os óculos subsidiados, passaram a ter, por exemplo, melhor desempenho escolar. A dúvida por qual modelo optar do personagem ficcional do começo desta reportagem não vale para esses meninos. Grandes, pequenos, chamativos ou discretos, o importante é usar óculos para ver o que tem de ser visto n


‘‘Reportar para o dono da Luxottica é muito prazeroso. Ele vê oportunidades onde os mortais enxergam problemas”

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HO RI ZON TES E

m 2020 a MChecon completa 15 anos de história com mais de 7.500 projetos, 800 mil m² construídos e a expectativa de crescer ainda mais o grupo que é referência em cenografia no Brasil. Já no primeiro mês do ano, mais uma vez, a empresa fincou o pé no pavilhão do São Paulo Expo, considerado o principal palco de eventos da América Latina. Simultaneamente, montou a convenção anual da gigante de cosméticos Mary Kay e o maior evento de marketing de diferenciação do mundo, a Fator X. Para os próximos meses estão programados o Camarote Salvador – pelo sétimo ano consecutivo –, o Nosso Camarote, no Rio de Janeiro, e o Lollapalooza. E os planos de expansão não param. Após uma análise do cenário econômico atual a MChecon decidiu aumentar

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FOTOS BRUNO VAN ENCK/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

NOVOS


25 mil pessoas

passaram pelo evento em três dias

ziam parte do nosso calendário”, explica Marcelo Checon, CEO e fundador que desde de julho tem apostado nessa nova unidade de negócios composta por uma equipe enxuta e que tem apresentado excelentes resultados, representando 7% do faturamento do Grupo MChecon. Desde então, em pouco mais de seis meses, a ReadyPro entregou 35 projetos que juntos totalizaram a construção de 75 mil m² em grandes eventos, como por exemplo a Comic Con, a Beauty Fair e o Salão Duas Rodas. Números que impressionam pelo pouco tempo do departamento e justificam o investimento em profissionais qualificados para conduzir a operação.

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os investimentos na unidade de negócios chamada ReadyPro, existente desde 2017 e que agora receberá um foco especial e diferenciado. “Temos uma ampla oportunidade com eventos que antes não fa-

“O departamento hoje é totalmente autossuficiente do ponto de vista de recursos humanos. Trouxemos criativos, arquitetos, produtores, orçamentistas e equipe comercial com bagagem e influência no mercado”, ressalta Marcelo Checon. Em suma, a unidade ReadyPro atua como viabilizadora de projetos que se somam aos que já faziam parte do portfólio do Grupo MChecon, dentro de uma composição de custos otimizada e diferenciada. Uma soma de fatores que torna toda operação possível e leva para a MChecon um resultado que anteriormente era distribuído entre outros players. “Hoje também somos competitivos no segmento cujas verbas disponíveis são menores”, finaliza o CEO. PODER JOYCE PASCOWITCH 19


ESFINGE

CONHECE-TE A TI MESMO Com o mundo hiperconectado, dedicar um tempo para avaliar as próprias atitudes é muito recomendável. E tem mais: o autoconhecimento é hoje uma das competências mais bem avaliadas do mercado

POR VICTOR SANTOS


ILUSTRAÇÃO GETTY IMAGES

E

m um dos tantos lamentos poéticos do mestre Cartola, o sambista clamava para que o deixassem só. Por um tempo. Escreveu em “Preciso Me Encontrar”: “Deixe-me ir / Preciso andar / Vou por aí a procurar / Rir pra não chorar”. E prosseguiu: “Quero assistir ao sol nascer / Ver as águas dos rios correr / Ouvir os pássaros cantar / Eu quero nascer / Quero viver”. Uma leitura superficial desses versos poderia passar a ideia de um sujeito fechado e antissocial, porém o compositor apenas reivindicava um tempo para reflexão, para se reinventar. Uma questão pessoal, como sugere o títul0 da canção. O que Cartola buscava, no entanto, não era solidão. E aí reside uma percepção distorcida, um dos grandes problemas enfrentados pelo homem moderno, já que a conjuntura social apresenta uma pressão pela convivência em grupo e impõe um estranhamento

àquele que está sem companhia – quando é exatamente isso muitas vezes o que se precisa. Estar sozinho nem sempre é bom, mas é a condição ideal para produzir autoconhecimento. Embora a literatura acadêmica use bastante a palavra “solitude” para se referir ao momento de conversa individual, o termo é pouco usual na língua portuguesa. O psicanalista Christian Dunker explica que “solitude” tem acepções mais frequentes em outros idiomas, como no caso do inglês, em que a palavra é essa mesma, ou o “einsamkeit” do alemão. “Aponta para a ideia de que você pode escolher estar com seus pensamentos, com seu vazio, sua afecção, ou com a autoafetação das relações que, por ventura, você já teve ou tem”, diz. “São os estados meditativos, estados de inspeção, exame, avaliação, comparação consigo mesmo e que são um critério psicanalítico de saúde mental”, completa. Tal inspeção permite uma vivência mais consciente com as emoções, os sentimentos e até pensamentos. Ainda de acordo com Dunker, o mergulho nesses momentos auxilia a produzir uma série de desligamentos, como é o caso dos afetos, da consciência e das memórias. Sem o cultivo de momentos de isolamento, alguns contratempos, como a insônia, são impulsionados. A ocupação é o estado que impede a “solitude” e uma vivência menos consciente. Além disso, esse diálogo com si mesmo traz dúvidas inerentes do

viver, como o sentido da vida, se o passado valeu a pena ou não e se há perspectiva de futuro — o que pode ser uma pensata penosa para o ser humano. “Quando você produz esse tipo de extensão do futuro e do passado, intensifica o presente, começa a experimentar um maior coeficiente de presença, de capacidade de estar consigo e com o outro”, explica. Transpondo o tema para o mercado, o executivo Sergio Chaia, mentor de empresários e ex-CEO da Nextel e da Sodexo, diz cultivar diversos momentos em que dialoga consigo mesmo, seja num almoço desacompanhado, seja em caminhadas, meditando ou lendo. Chaia vê esses hábitos como essenciais e sua falta pode explicar o surgimento de um sentimento próximo ao da repulsa, quando não somos uma boa companhia para nós mesmos. E isso é péssimo para quem está em posições de liderança. “Pode-se dizer que a competência mais apreciada hoje, quando se contrata executivos para cargos de CEOs, é o autoconhecimento. A ideia não é ser liderado pelo pensamento, principalmente pelos ruins, mas


“Pode-se dizer que a competência mais apreciada hoje, quando se contrata CEOs, é o autoconhecimento. A ideia não é ser liderado pelos pensamentos, mas ter consciência deles”

ter consciência deles. Deixar os pensamentos ruins passarem, apegar-se àqueles que geram sentimentos bons e, por consequência, boas ações”, diz. Engana-se quem interpreta a necessidade desse tempo a sós como algo próprio de pessoas introspectivas. Esse período ajuda em diversos campos psíquicos, melhora o lado profissional e até ajuda na vida social. Chaia é lapidar sobre os benefícios da prática: “Olhar nos faz naturalmente mais criativos, curiosos, generosos e compreensivos”. A “solitude” pode ser exercida de maneiras distintas. Alberto Ribeiro é engenheiro civil, tem dois filhos e trabalha no setor de incorporações. Diz cultivar há

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muitos anos a prática da atividade física. Maratonista, já realizou 11 provas da distância, dez delas em Nova York. É notório o benefício para a saúde, mas também é um espaço privilegiado para a reflexão. O engenheiro conta que treina sempre pela manhã, o que o ajuda a organizar as tarefas do dia. “Os momentos de autorreflexão são importantíssimos. Dá para pensar em você, no que faz e no que precisa fazer. Existem coisas que são suas e nem sempre dá para dividir com os outros.” E quais seriam as dicas para quem ainda não cultiva o seu eu interior? Ribeiro e Chaia comungam da ideia de que é necessário encontrar algo que faça sentido individual e também concordam que o prazer e a manutenção de uma rotina são de suma importância. Ou seja, aquele livro do Dostoiévski acumulando poeira há anos na prateleira, o desafio atlético dificílimo ou o método de meditação sofisticado podem não ser boas opções. Talvez seja melhor um livro mais acessível, um tipo cadenciado de exercício físico ou a vertente me-

ditativa de menor complexidade. Até mesmo a companhia pode ajudar a iniciar essa jornada, desde que sirva como instrumento para atingir o objetivo de acessar os próprios pensamentos. Outra dica é fazer como canta outro compositor popular, Tom Zé, que em Só define a solidão como uma poeira leve. “Hoje a casa é sua.” Pode entrar solidão. n

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SERGIO CHAIA, MENTOR, EX-CEO DA NEXTEL


ESPELHO

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O ACOLHIMENTO CURA

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), 600 mil novos casos de câncer são diagnosticados por ano no Brasil. Por trás de alguns deles está a imunologista, oncologista e pesquisadora NISE YAMAGUCHI. Há 40 anos pesquisando o assunto, ela é uma das pioneiras a estudar os benefícios da imunologia no combate da doença. Na década de 1980, Nise fundou e conduziu durante 15 anos o ambulatório de imunologia de tumores no Hospital das Clínicas, em São Paulo, para o

desenvolvimento de pesquisas de fatores de aumento do sistema imunológico e a educação continuada de residentes e estudantes de medicina. “Nessa época, a Aids era bastante prevalente e tínhamos muitos casos de linformas e câncer. Foi quando comecei a frequentar o Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova York, talvez ainda hoje o maior centro de pesquisa em câncer, e pude acompanhar tantos novos agentes quimioterápicos, como novas estratégias de tratamentos imunológicos”, conta ela. “Vi o início de uma área que veio se tornar agora, 40 anos depois, a mais promissora da oncologia.” Segundo a doutora Nise Yamaguchi, quando uma pessoa tem câncer, o tumor se confunde com uma célula normal e não é mais reconhecido pelo sistema imunológico. Mas, com a imunologia, é possível fazer com que essas células passem a ser reconhecidas como estranhas e maléficas. “Não é um tratamento totalmente sem efeitos colaterais, porém nós damos a chance do próprio organismo se defender contra as células tumorais”, explica. Pela longa trajetória, Nise atende pacientes com todo tipo de câncer e acabou se tornando especialista em tumores de difíceis tratamento. “Sou, digamos assim, estrategista no elenco de diagnóstico, organizando o melhor fluxo para o tratamento. No [hospital Albert] Einstein nós temos a preocupação de conduzir o paciente pelo sistema, pegar pela mão mesmo, e ir junto”, explica. Mas ela gosta de frisar que vai aonde o paciente está, por isso não tem hora para parar. “Muitas vezes tenho jornadas de 20 horas”, conta. Mesmo assim, encontra tempo para trabalhar como voluntária no Instituto da Criança do HC. Recentemente, ela esteve na Europa para dar aulas e atendeu aos pacientes no Brasil entre 1 e 3 da manhã horário local. “Por onde eu vou, tem alguém que teve ou está com câncer e quer me encontrar. Vou dar aula em Minas Gerais e já tenho pacientes à minha espera, o mesmo aconteceu na Bélgica”, ressalta, antes de finalizar. “Sinto que a vida de cada um é essencial e, independentemente do estadiamento [estágio do câncer], da esfera social em que ele está, se a pessoa chega até mim então eu luto por ela e nunca subestimo o poder de uma pessoa com câncer. Nunca.” n

por aline vessoni


Os anos 1960 marcaram a época de ouro na indústria automotiva. Pudera. Foi quando surgiu uma das máquinas mais icônicas das estradas, o Ford Mustang, que completou 55 anos em 2019. Para celebrar, a Ford anunciou a edição especial Black Shadow, equipada com motor V8 de 466 cv, transmissão automática de dez velocidades e a base mecânica do modelo GT Premium, além de itens de diferenciação exclusivos que prestam tributo à história do Mustang. O visual dessa edição especial é marcado pelo teto e aerofólio pretos, faixas exclusivas nas laterais e no capô, rodas aro 19” e seu emblemático cavalo em preto na grade dianteira. Na cabine, além do revestimento dos bancos e das portas em Alcantara®, com costuras especiais, traz acabamento de fibra de carbono no painel

central e na alavanca do câmbio. Para finalizar, o emblema comemorativo “55 Years” é exibido em destaque no painel. “O Black Shadow tem tudo o que os fãs do Mustang apreciam: alta potência, exclusividade e personalidade marcante, com a tecnologia mais avançada já oferecida no nosso pony car. É um carro digno de colecionador”, disse Lyle Watters, presidente da Ford América do Sul. Desde o lançamento da sexta geração do Mustang, em 2015, já foram vendidas mais de 500 mil unidades em todo o mundo. E no Brasil não foi diferente. O esportivo chegou ao país em 2018 e se tornou sucesso em vendas. Só em seu ano de estreia, foram comercializadas mais de 1.300 unidades do muscle car, que é o líder absoluto do segmento desde então.

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ESPÍRITO INDOMÁVEL


PODER INDICA

O esportivo também é uma estrela das telas do cinema e da TV, com atuação em mais de 3.800 produções, incluindo três filmes do James Bond: 007 Contra Goldfinger, 007 Contra a Chantagem Atômica e 007: Os Diamantes São Eternos. Foi ainda protagonista de duas das mais famosas perseguições do cinema, em Bullitt e 60 Segundos. Watters também revelou os novos passos da empresa para o mercado brasileiro. “Completamos 100 anos da Ford no Brasil e lançamos as bases para construir um negócio mais ágil, eficiente e centrado no consumidor, nos preparando para os próximos 100 anos. Para nós, é o começo de uma nova era.” A companhia vem se ajustando para as transformações mais importantes da tecnologia, do mercado e do perfil dos

consumidores na próxima década. “A tecnologia 5G vai mudar o modo como as pessoas se comunicam e pensam sobre mobilidade. Vai transformar a cultura e o comportamento numa velocidade nunca vista. E é para isso que estamos preparando os nossos negócios.” Sobre a retomada do setor automotivo, o presidente da Ford América do Sul está otimista para 2020. “As perspectivas do PIB são animadoras e esperamos que a indústria cresça entre 9% e 10%, com recuperação gradual das vendas no varejo e persistência da alta participação das vendas diretas. A disponibilidade de crédito deve contribuir para a criação de um ambiente melhor de negócios no Brasil”, finaliza o executivo.


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EMPATIA

PATRICIA ELLEN

Secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, Patricia Ellen da Silva se destaca no staff do governador João Doria e pinta como aposta de renovação política no ninho tucano. Nesta entrevista ela relembra a trajetória humilde na periferia, divide as impressões de sua passagem por Davos e fala sobre inovação, tecnologia e os desafios de tornar a gestão pública mais eficaz – e humana POR DADO ABREU E PAULO VIEIRA FOTOS JOÃO LEOCI

Q

uando Patricia Ellen da Silva, secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, recebeu o convite do governador João Doria para assumir a pasta, ela telefonou para a mãe a fim de dividir a boa-nova. Do outro lado, dona Valda, orgulhosa, parabenizou a filha, mas queria ter a certeza de que ela, se aceitasse a função, seria por um “chamado do coração” e pela vontade de ajudar as pessoas. Caso contrário, fosse por ego, melhor seria recusar. Hoje, depois de um ano no comando da pasta que já foi guarda-chuva de velhos caciques como Guilherme Afif Domingos, Alberto Goldman e Geraldo Alckmin, Patricia recorda do telefonema com emoção e se diz “muito realizada”. “O nível de integração do meu trabalho com meu propósito e senso de justiça social

nunca esteve tão alto”, conta a executiva de 41 anos e perfil técnico. “O gestor público que se guia pelo ego se perde no meio do caminho.” A afirmação carrega conhecimento de causa. Embora não seja – ainda – peça do xadrez político-partidário, ela é professora no mestrado em liderança e gestão do Centro de Liderança Pública e em pouco tempo tornou-se destaque do entourage de Doria – constantemente compartilha a agenda com o chefe. Semanas atrás, acompanhada pelo governador, ela foi a única mulher da área de gestão pública na América Latina a participar das rodadas do Fórum Econômico e Social de Davos, na Suíça, onde o Estado de São Paulo captou R$ 17 bilhões em investimentos graças, em boa parte, à interação da secretária. Pouco antes, Patricia já havia liderado reuniões da comitiva paulista em Pequim e Xangai, inter-

mediando o diálogo entre empresários brasileiros e potenciais investidores chineses. À vista disso, é natural que tenha se tornado a aposta número 1 de João Doria para sua sucessão. Nos corredores do Palácio dos Bandeirantes, Patricia é cotada para ser candidata a vice-governadora em 2022 e também pode ser um plano B para a prefeitura de São Paulo, ainda este ano, caso Bruno Covas não tenha condições de disputar o pleito por causa do câncer que o acomete. Ela desconversa, crava que não será candidata ao Executivo e que prefere colocar a mão na massa, mas fato é que seu estilo de liderança, aliado aos resultados obtidos no primeiro ano de suor na complicada cadeira 3 em 1 – por unir as pastas de Desenvolvimento Econômico, Trabalho, Ciência e Tecnologia – a transformaram em protagonista entre os 20 PODER JOYCE PASCOWITCH 27


nomes do secretariado Acelera SP. “Não inventamos nada, são políticas que foram aplicadas no mundo inteiro, mas que jamais tinham sido aplicadas no Brasil. O último plano de desenvolvimento econômico no Estado de São Paulo era da década de 1970”, explica. “O que tentamos fazer de diferente é a integração entre o técnico e o humano, porque não podemos falar de economia sem falar de gente, nem falar de gente sem falar de economia.” A justiça social vem de berço. Nascida no Campo Limpo, zona sul de São Paulo, região em que seus pais vivem até hoje – a mãe, motorista de Uber, e o pai, seu Messias, comerciante na entrada da favela do Real Parque –, Patricia ganhou preciosos 20 anos de expectativa de vida ao ascender na carreira. A explicação vem de forma didática: da sua antiga casa, na Vila das Belezas, para o atual endereço, no Alto de Pinheiros, são 20 quilômetros de distância. Um trajeto que seria comum para intervalos metropolitanos, mas que carrega a razão da preocupação humana – e da visão holística – em seu trabalho na secretaria. “São 20 quilômetros que representam 20 anos em expectativa de vida, de 60 para 80 anos, entre um bairro e outro. Um ano a cada quilômetro, é inad-

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missível”, conta, ressaltando o seu objetivo em “colaborar para que outros brasileiros possam ganhar anos de expectativa de vida sem precisar mudar de CEP”. Foi com esse propósito que, em 2016, ela fundou, com Ilona Szabó e Leandro Machado, o movimento de renovação política Agora!, do qual Luciano Huck faz parte, que reúne lideranças progressistas, de centro e liberais, engajadas na discussão, formulação e implantação de políticas públicas. O currículo de Patricia Ellen da Silva se completa com formação em administração de empresas na FEA-USP e mestrado em administração pública pela Harvard Kennedy School e MBA pelo Insead. Foi sócia da consultoria McKinsey e presidente da Optum no Brasil, empresa de tecnologia em saúde do grupo United Health. “Fiz meu pé de meia na carreira e hoje estou em busca do sonho de ajudar a melhorar a vida de outras pessoas, de construir uma sociedade menos segregada. Sou otimista, senão não teria ido parar no serviço público, mas tenho um sentido de urgência muito grande”, relata. Talvez pelo tão apurado imediatismo que ela tenha aderido ao 5 am Club, como Jack Dorsey, cofunda-

dor do Twitter, Jeff Bezos, da Amazon, e Tim Cook, da Apple, todos profissionais ultrabem-sucedidos que caem da cama antes das cinco da manhã para aumentar a produtividade, serem mais saudáveis e performarem em alto nível. O sucesso começa cedo e Patricia, aos 41 anos, é prova. Na rotina diária, ioga, reiki, meditação, corrida, academia, as pequenas gêmeas Ana Vitória e Maria Luiza, de 5 anos, e uma vida social condizente com a de uma jovem da sua idade. “Minha agenda pessoal preciso cumprir até as 6h30 porque depois disso eu sou atropelada pelas tarefas no governo.” É a deixa para encerrarmos o Almoço de PODER e liberarmos a agenda da secretária. Antes de sair da Vinheria Percussi, porém, uma breve pausa. Patricia é abordada no corredor do restaurante pelo CEO de uma grande companhia que quer parabenizá-la. O homem faz parte do Movimento Brasil Digital, que busca promover o diálogo entre os setores público e privado para a construção de propostas que coloquem tecnologia como prioridade


“Não podemos falar de economia sem falar de gente, nem de gente sem falar de economia” estratégica. Ela agradece, troca cartões, ideias e segue. Pela frente tem mais um longo dia de trabalho antes de concretizar o sonho da justiça social. A seguir, os principais trechos da entrevista:

ILUSTRAÇÕES GETTY IMAGES

DAVOS 2020

“Este ano o Fórum representou uma virada. Em 2019, passamos muito tempo apresentando São Paulo para os investidores, o estado com a maior economia do país, que representa um terço do PIB, a Califórnia brasileira e a porta de entrada para investidores na América Latina. Desta vez fomos direto para a discussão prática e anunciamos R$ 17 bilhões em investimentos, parte deles no centro para a quarta Revolução Industrial, que foi outro anúncio

que fizemos em Davos e vai ser inaugurado em maio durante o Fórum Econômico Mundial para a América Latina. Ele insere o Brasil na rede dedicada à governança global de tecnologia, junto com China, Japão, Índia, Colômbia, Israel e Emirados Árabes. Outro aspecto importante foi ter participado das agendas técnicas, para desenhar um novo modelo de capitalismo no combate à desigualdade.”

VALE DO SILÍCIO BRASILEIRO

“A primeira fase do Citi (Centro Internacional de Tecnologia e Inovação) começa a operar agora no primeiro semestre, onde hoje está o IPT [Instituto de Pesquisas Tecnológicas]. Será muito importante para dar o arcabouço legal para a governança digital e também para desenvolver novas políticas que ajudem empresas a acompanhar o ritmo das PODER JOYCE PASCOWITCH 29


mudanças tecnológicas no mundo. Hoje o Brasil perde empreendedores que trabalham com blockchain, por exemplo, porque não tem uma regulamentação para isso. Nossa meta é justamente reunir tudo o que há de melhor no país em ciência, tecnologia e inovação para criar o Vale do Silício brasileiro.”

ANO 1

“Registramos o segundo maior número de atração de investimentos dos últimos 20 anos, o número de abertura de empresas foi o maior nesse período, mais de 222 mil, e São Paulo teve o maior descolamento de crescimento econômico com relação ao resto do Brasil. Temos desafios de recursos, precisamos reduzir gastos, mas não dá para deixar de investir em ensino técnico, ciência e tecnologia. Acho que aprendemos o caminho das pedras, mas os percalços do setor público existem e às vezes te amarram. Do tipo: quando eu entrei na secretaria as canetas não funcionavam. Como é feita uma licitação para compra de canetas que não escrevem? Não entendo. Imagine, então, para contratar um serviço de uma consultoria para

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fazer um plano de desenvolvimento econômico? É complicado.”

JOÃO DORIA

“A objetividade dele é uma das razões que me levou a aceitar o cargo. Gosto muito do ritmo que ele coloca na gestão pública, é algo raro no Brasil, tem disciplina e um olhar empreendedor. O mundo inteiro fala em unidade de entrega, acompanhamento de projeto, e aqui é raro. Porque não dá para apenas ter ideias, é preciso implantar e fazer virar realidade. Além disso, o respeito e o espaço que o governador dá para as mulheres que trabalham com ele é um ponto importante [João Doria tem 20% do seu secretariado composto por mulheres, ainda pouco, porém índice recorde com relação a seus antecessores].”

MULHERES

“Em Davos me chamaram a atenção duas coisas: uma delas é que, nas mais de 30 reuniões que fizemos, só dois encontros tinham mulheres na sala, a outra aconteceu na reunião de mulheres líderes globais, em que me-

“Na secretaria somos 50% mulheres, 50% homens. Senão, como vamos entregar políticas públicas para a população como um todo?” tade da sala estava vazia. Onde estão as mulheres? Por isso que é tão importante quando você vê um David Solomon [CEO do Goldman Sachs, o maior banco de investimentos do mundo] dizendo que eles só farão IPO [oferta pública] de instituições que tiverem mulheres no conselho. E não é dá boca para fora, porque é uma iniciativa fundamentada em dados. Companhias com mulheres na diretoria tiveram um desempenho maior do que as que não têm nenhuma. Então eu acho que é preciso ter regras, sim. E levo isso para a secretaria, em que somos 50% mulheres, 50% homens. Senão, como a gente vai entre-


gar políticas públicas para a população como um todo?”

CONSUMO POR ANA ELISA MEYER

AGENDA AMBIENTAL

“São Paulo tem a maior faixa contínua de Mata Atlântica do Brasil e nosso desmatamento é negativo, apesar de termos questões importantes para se trabalhar. É nossa agenda também, queremos alavancar modelos de negócios mais sustentáveis e humanos. Por exemplo: o governo de São Paulo desenhou o maior leilão rodoviário da história do Brasil, com milhares de quilômetros, e pela primeira vez serão rodovias carbono zero, ou seja, toda a infraestrutura investida terá que ser neutra em emissões de gás carbônico. Em paralelo a isso, o maior investimento feito no ano passado, da Bracell, que está trazendo uma fábrica de celulose para Lençóis Paulista: R$ 1 bilhão destinado a novos processos produtivos focados em inovação e sustentabilidade. Será a maior planta de celulose solúvel do mundo.”

AUDREY HEPBURN E ALBERT FINNEY

Em 1967, quando contracenaram juntos em Um Caminho para Dois, Audrey Hepburn e Albert Finney estavam no auge do estrelato. Ela, com sua beleza única e então com 38 anos, ainda exibia a mesma graça suave que a fez se destacar no filme A Princesa e o Plebeu, de 1953. Já o ator inglês, com seus 31 anos, tinha sido aclamado e premiado pela atuação em As Aventuras de Tom Jones quatro anos antes. A química de ambos na telona deu certo e o longa do diretor Stanley Donen, que conta a história de um casal ao longo de 12 anos e que nos faz pensar na frase “no começo tudo são flores, mas depois tudo piora”, foi e é um sucesso até hoje.

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PARAISÓPOLIS

“Fiquei com muito medo depois do episódio de Paraisópolis [quando nove jovens foram mortos durante uma ação da polícia militar] de se levar o diálogo para o discurso do ódio. Tenho tios que são policiais, tenho primos e primas que frequentam bailes funk. Quando essas coisas acontecem, esquecemos que são pessoas envolvidas de todos os lados. Quem mais perde com esses episódios horríveis que não deveriam acontecer são os que vivem na comunidade. Fui quatro vezes para Paraisópolis desde então, fizemos mais de 20 reuniões, e minha maior preocupação foi ouvir as pessoas, suas demandas, suas necessidades. Não se pode desumanizar a política pública – e acho que o Brasil fez muito isso no passado. Política pública se faz com diálogo, baseado em entender as pessoas envolvidas no processo. Procuramos fazer isso na nossa gestão.” n

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MÃOS QUE TRANSFORMAM

Entenda como a esteticista e empresária Renata França transformou a profissão de massagista ao oferecer técnica e autoestima para milhares de suas alunas Quando RENATA FRANÇA, 38 anos, hoje uma das esteticistas mais celebradas do país, começou a dar seus primeiros passos na profissão de massoterapeuta, ela não poderia imaginar a revolução que faria na própria vida e, claro, na profissão que escolheu. Há exatos 20 anos, o cenário que a baiana de Ilhéus tinha no horizonte não parecia ser promissor. Ser massagista nesse passado nem tão distante era a certeza de um trabalho menor, tendo, muitas vezes, sua atuação atrelada ao sexual, pelo simples fato de essa profissional realizar seu atendimento em domicílio. Na melhor das hipóteses, massagistas com melhor remuneração se encontravam em spas de luxo – estes, normalmente, filiais de alguma marca estrangeira. “Eu tinha o sonho de ser jornalista e gostava de me comunicar. Acho que esse foi o meu maior trunfo: ao atender qualquer cliente eu criava uma relação que perdurava”, explica Renata, que aliou seu primeiro talento – o de tocar o coração de seu cliente para muito além de suas mãos – a muito estudo e vontade de inovar. Após a saída de Ilhéus e um início difícil em São Paulo, ela criou a Miracle Touch – técnica inovadora que une a massagem modeladora com a drenagem linfática – e conquistou clientes numa lista de nomes que abraça de Taís Araújo a Bruna Marquezine, para citar alguns. Hoje, ela tem seis protocolos de massagens, incluindo

a recente Babymoon – desenvolvida em parceria com o ginecologista José Bento para auxiliar mulheres a engravidar, ou seja, ela não para. “Hoje temos mais de 7 mil terapeutas habilitadas em meu método, e dou cursos por todo o Brasil ensinando não somente manobras eficazes, mas buscando especialmente valorizar a profissão, mostrando como ter postura e se vestir, por exemplo. Não é apenas um curso, é um modo de vida”, resume. Deu tão certo que as alunas – a quem ela carinhosamente chama de pupilas – já estão espalhadas por mais de 40 países, e ela segue viajando por todos os estados do país dando seus cursos, sempre com turmas lotadas. Para além disso, foi criada toda uma rede que inclui reciclagem gratuita e suporte a qualquer hora do dia – sem falar em uma linha de produtos de beleza e num requintado spa cravado nos Jardins, em São Paulo, e na R3P, que oferece cursos livres focados em atendimento para o mercado de luxo. O que acontece nesses cursos? Um misto de devoção por Renata França e uma realidade incontestável: ela muitas vezes faz triplicar os rendimentos de mulheres que antes não tinham grandes expectativas. E mais: se enche de orgulho por toda a energia que recebe. “Consegui ser uma empresária de sucesso ao entender que ele só chega quando você partilha seu conhecimento”, finaliza. É ou não um toque mágico?


FOTO JULIA RODRIGUES/DIVULGAÇÃO


FOTO GETTY IMAGES


DÍZIMO

POR UM CAPITALISMO CIVILIZADO Encontro convocado pelo papa Francisco busca soluções para uma economia global mais justa e menos predatória. Tudo o que o Fórum Econômico Mundial de Davos anda pensando – ou, ao menos, diz estar pensando – ultimamente POR PAULO VIEIRA

O

Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, um dos principais encontros do poder político-econômico do planeta, viveu, na celebração de seus 50 anos, mês passado, seu momento de inflexão. Ou assim o encontro quis se vender. Afinal, pela primeira vez desde 1973, o fundador e organizador, Klaus Schwab, atualizou o “manifesto” que norteia as práticas do capitalismo que Davos endossa, chancela e incita. No novo manifesto, quem passa a ter a precedência antes dada ao shareholder (o acionista) é o stakeholder. Definir stakeholder é espeto. Um jornal brasileiro adotou a curiosa expressão “partes interessadas”. São partes interessadas funcionários, clientes e a sociedade impactada pelos bens produzidos ou comercializados pelas empresas. Acionistas também estão no barco. Ter como conferencistas a ativista sueca Greta Thunberg e o ex-vice-presidente americano Al Gore, vozes estridentes da questão ambiental, marcou simbolica-

mente essa nova Davos – a mensagem é que o planeta, em iminência de um colapso por conta do aquecimento de sua temperatura média, é, no fim das contas, o maior de todos os stakeholders. Ironicamente, essa nova agenda aproximou o fórum de Davos do temário de um encontro de três dias que o papa Francisco convocou para março, em Assis, na Itália, chamado de Economia de Francisco. Trata-se de um Fórum Econômico Mundial do B, pode-se dizer, que tem como patrono não exatamente o papa, mas São Francisco, o santo mendicante de hábitos mais do que austeros, crítico de primeira hora da opulência eclesiástica e que nasceu, pregou e morreu em Assis. O encontro contará com economistas jovens de todo o mundo para discutir maneiras de, nas palavras de Vossa Reverendíssima, “aliviar o peso” que verga sobre os mais pobres. A ideia é buscar caminhos para o desenvolvimento de uma “economia circular” de benefício coletivo – planeta por óbvio incluído. A falar a essa grei, estrePODER JOYCE PASCOWITCH 35


“Apesar do discurso em favor do stakeholder, o shareholder, o acionista, sempre quer arrancar mais um pouquinho. É natural” Ladislau Dowbor, professor do departamento de pós-graduação da PUC-SP

las como os prêmios Nobel Amartya Sen, um dos idealizadores do conceito de IDH, o índice de desenvolvimento humano, e Muhammad Yunus, talvez o único banqueiro do mundo incapaz de aprender como espoliar os pobres, além do economista americano Jeffrey Sachs, conselheiro da ONU e especialista em temas como desigualdade e pobreza, entre outros. O Brasil levará uma das maiores delegações a Assis, junto com países como Itália e Estados Unidos. Professor do departamento de pós-graduação da PUC-SP, Ladislau Dowbor vai ao encontro munido de “otimismo prudente”, como disse a PODER. Ao mesmo tempo em que enxerga um consenso entre os atores econômicos de que “há uma

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necessidade de mudança” do sistema que “exclui milhões de pessoas, dilapida recursos naturais e protege boa parte do PIB mundial em paraísos fiscais”, ele tem bastante claro os limites entre teoria e prática. “Apesar do discurso em favor do stakeholder, o shareholder sempre quer arrancar mais um pouquinho, é natural”, diz. “A Samarco sabia que o dique de Brumadinho estava vazando, mas quem vai comunicar isso para o cara que compra os papéis do Bradesco, um dos controladores da Vale e, assim, da própria Samarco?” Dowbor vê um “sistema de desresponsabilização” das empresas, abertas ou não, que ainda obedece à lógica do melhor resultado financeiro a qualquer custo. É o caso, ele reforça, do “dieselga-

te”, o escândalo promovido pelos executivos alemães da Volkswagen que investiram, na década passada, no desenvolvimento de um software para modificar os resultados dos testes de controle de emissão de poluentes dos carros da marca. Nesse caso, jogar óxido de nitrogênio em índices superiores ao tolerável no ar pareceu menos lesivo do que deixar de entregar o resultado do ano. Outro brasileiro que vai a Assis é o economista paulistano Diego Wawrzeniak, que vive com outras 30 pessoas na comunidade Inkiri/ Piracanga na paradisíaca península de Maraú, na Bahia. A sociedade alternativa à beira-mar leva em conta valores como sustentabilidade ambiental, justiça, empode-


O papa Francisco, que lidera em março um Fórum Econômico do B em Assis, na Itália, e algumas das estrelas de Davos a ladeá-lo, o brasileiro Paulo Guedes e a sueca Greta Thunberg

FOTOS GETTY IMAGES; CIARAN MCCRICKARD/WORLD ECONOMIC FORUM

ramento humano e espiritualismo. Wawrzeniak ajudou a implantar ali soluções econômicas baseadas no microcrédito. Até uma moeda própria passou a circular por lá.

MENSAGEM

Artífice e protagonista em Assis, o papa também esteve em Davos, embora não de corpo presente. Francisco endereçou aos líderes mundiais que acorreram ao encontro suíço – como Donald Trump, João Doria e Paulo Guedes – uma carta em que alertou da “obrigação moral” de colocar “o ser humano, e não a mera procura de poder ou lucro, no centro das políticas públicas”. A frase é coerente com o que Francisco chamou de “ecologia inte-

gral” na encíclica Laudato si’, de 2015, o principal documento produzido até aqui pelo Vaticano sob sua chefia. “A proteção do meio ambiente deverá constituir parte integrante do processo de desenvolvimento”, diz a encíclica, aduzindo que “a análise dos problemas ambientais é hoje inseparável da análise dos contextos humanos, familiares, laborais, urbanos e da relação de cada pessoa consigo mesma”. É pertinente supor que ninguém vá a Assis só para marcar posição nas redes sociais e fazer greenwashing na própria imagem. A condução do papa e a simbologia da cidade levam a crer que a desigualdade e a sustentabilidade, temas de eleição da Economia de

Francisco, perturbam de fato os congressistas. Mas se até mesmo os barões do capital de Davos, que não fizeram nos últimos anos outra coisa senão esticar a corda de um modelo já muito tensionado, desenveram certa paúra do lucro pelo lucro, tudo é possível. Jamie Dimon, CEO do banco JP Morgan, disse recentemente que líderes políticos e empresariais “perderam a visão de como o capitalismo pode criar oportunidades para todos” e vê o sistema em seu “tipping point” – o ponto de mudança. Mas é ao mesmo Dimon que é creditada a seguinte frase: “Davos é o lugar onde bilionários dizem a milionários como a classe média deveria trabalhar mais para ajudar os pobres”. n PODER JOYCE PASCOWITCH 37


FOTO REPRODUÇÃO


RESPIRO

NA BATIDA O neurologista inglês Oliver Sacks (19332015) amou o movimento – não à toa, sua autobiografia se chama On the Move. Além de adorar motos, revelou que algumas das melhores conversas que teve com o ator Robin Williams, que o personifica no filme Tempo de Despertar, de 1990, foram no lago Tahoe – Williams num caiaque e o médico nadando de costas. Sacks, que frequentava a piscina da ACM do Greenwich Village, de Nova York, soube levar a medicina para a não ficção com elegância e sua prosa revelou figuras interessantíssimas, como o homem que, sofrendo de agnosia, confundia sua mulher com um cabide; e o sujeito que, acometido por uma síndrome de Tourette violenta, pilota o próprio avião. De família judia, gay e celibatário por muitos anos, era também colaborador assíduo de publicações como a New Yorker e a The New York Review of Books.



ENSAIO

A ARTE RESISTE

Aos 80 anos, Sérgio Mamberti diz sentir-se com 15. O ator está em cartaz em São Paulo com O Ovo de Ouro – espetáculo sobre o Holocausto – e planeja mais para os próximos meses, incluindo livro, exposição e filme contando sua trajetória de arte e resistência. “A energia que me move está presente e não veste pijama” por dado abreu fotos maurício nahas


S

érgio Mamberti é um sujeito em extinção. Cortês, elegante, empático, de prosa leve. Nasceu em 1939, meses antes da máquina de morte nazista atacar a Polônia e dar início à maior catástrofe provocada pelo homem ao longo da história. O octogenário ator era apenas um garotinho brincando pelas ruas de Santos, litoral paulista, mas ainda guarda reminiscências da Segunda Guerra e dos tempos sombrios que, imaginava-se, não voltariam nunca mais. “Estou certo de que retrocedemos. De uma hora para outra parece que voltamos no tempo. Sinto uma enorme tristeza com o que está acontecendo no Brasil e no mundo com tanto discurso de ódio, imposição de ideologias, censura”, lamenta Mamberti. “Trump, Bolsonaro, o florescimento de partidos extremistas de direita na Europa, os conflitos no Oriente Médio. Só me lembro de um período tão ameaçador na época da guerra.” Com as lembranças do passado, Sérgio Mamberti está em cartaz com o espetáculo O Ovo de Ouro, do ator e dramaturgo Luccas Papp, que narra o conflito dos sonderkommandos (ou comandos especiais), judeus que eram obrigados a auxiliar na aniquilação de seu próprio povo e, ao mesmo tempo, a ter que conviver com o medo da morte. Contada em diferentes episódios e tempos, a trama revela a vida de um desses sonderkommandos que sobreviveu ao campo de concentração. No tempo presente do espetáculo, ele é entrevistado por um jornalista rememorando os fatos aterrorizantes do passado. “Em períodos de extremismo é necessário recordar as atrocidades do Holocausto para que a história não se repita”, ressalta Mamberti, antes de citar o escritor colombiano Gabriel García Márquez: “É fácil esquecer para quem tem memória; difícil esquecer para quem tem coração”. Sentindo-se com 15 anos, como gosta de dizer, Mamberti está carregado de projetos para um ano de comemorações. Além de viajar o país com O Ovo de Ouro, planeja um monólogo baseado na obra de García Lorca, tem convite para outras peças, está publicando um livro em parceria com o jornalista Dirceu Alves Jr. e será tema de um documentário de Evaldo Mocarzel. “Também sigo na militância em defesa das liberdades e dos direitos adquiridos. Essa energia que me move com 80 anos está presente e não veste pijama”, diz ele, que trabalhou durante 12 anos no ministério da Cultura em diversos cargos, entre eles o de presidente da Funarte (Fundação Nacional de Artes). “A cultura é muitas vezes interpretada como algo supérfluo, como se fossem as belas artes cheias de capricho. Vejo o horizonte da cultura como civilizador e de transformação, porque não há transformação que não seja através da cultura.” E continua: “Estou triste com o momento, mas acredito no legado. Quando você vê um Paulo Freire sendo demonizado, um Milton Santos, a Fernanda Montenegro desrespeitada, Ariano Suassuna, Chico Buarque, Zé Celso Martinez Corrêa, Plínio Marcos e tantos outros... É preciso acreditar nesse legado, só posso pensar assim.” A humildade não lhe permitiria, mas acrescentemos ao nobre rol o nome de Sérgio Duarte Mamberti. n



“Vejo o horizonte da cultura como civilizador e de transformação. Estou triste com o momento, mas acredito no legado”


Beleza: Alê Fagundes (Capa MGT) Arte: David Nefussi Produção executiva: Ana Elisa Meyer Assistentes de fotografia: Daniel Omaki e Debora Freitas



VIAGEM

UMA ÍNDIA EM

TECHNICOLOR

Em sua porção sul, a Índia consegue ser ainda mais surpreendente do que aquele país normalmente conhecido e percorrido pelos turistas. Aqui não há fila para a selfie no Taj Mahal nem para o tuk-tuk de Délhi, mas as cores são muito saturadas e as paisagens ainda mais apaixonantes FOTOS PICO GARCEZ

indianas e m cotidiano e seu festival cromáti co as flores qu e esperam hóspedes d o Coconut os Lagoon


Passagem para (o sul da) Índia: o barquinho vai – ou tenta ir – em área sem corrente e terrivelmente cênica de um rio, o vendedor de panelas em sua improvável nstalação particular e a cúpula dourada de meditação da Auroville, de Pondicherry

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Humana, demasiadamente humana e coloridíssima é a Índia em Kerala , no sul do país; em Cochin, na beira do Índico, até os caranguejos vêm em versão technicolor

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PODER VIAJA POR ADRIANA NAZARIAN

LINHA FINA Fica no sul do deserto de Negev, mais precisamente na região de Israel conhecida como Arava Valley, a nova empreitada do grupo Six Senses. Batizado com o nome da comunidade local, Shaharut, o hotel impressiona. Entre dunas e montanhas arenosas a perder de vista, estão suas 60 suítes e vilas com piscina, todas debruçadas no pôr do sol, restaurante especializado com mix das cozinhas israelense e mediterrânea e spa que faz jus à vocação wellness da marca – o estúdio de ioga com vista para o deserto é imperdível. E a lista de atividades para aproveitar o visual é imensa: dá para acampar sob as estrelas depois de um passeio de camelo, embarcar em um safári de jipe, caminhar, praticar rapel, mountain bike e outros esportes de aventura. +SIXSENSES.COM

DE OLHO

São muitos os motivos que têm colocado o Líbano no topo da lista dos destinos que merecem uma visita em 2020. Quando o assunto é gastronomia, o Tawlet é parada obrigatória em Beirute. A cada dia, uma cozinheira de diferentes comunidades do país é convidada a comandar o bufê e mostrar as delícias servidas em sua vila. Com mesas comunitárias que reúnem viajantes do mundo todo, o restaurante fica em uma viela escondidinha no Mar Mikhael, um dos bairros mais legais da cidade. Em tempo: aos entusiastas do vinho, vale visitar vinícolas como a Chateau Musar, no Bekaa Valley.

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MONTAGEM

Boa notícia para os viajantes que já eram fascinados pelo cenário do Amangiri, hotel que o grupo Aman tem em Utah, nos Estados Unidos, entre cânions e formações rochosas. Em abril, a propriedade ganhará um acampamento deluxe em uma área de 600 hectares no deserto da região. Batizada de Camp Sarika by Amangiri, a novidade terá dez cabanas – cada uma com a sua própria piscina aquecida, terraço e fogueira –, restaurante, spa com tratamentos inspirados na cultura Navajo e jacuzzi. No mais, a ordem é aproveitar dias de imersão na natureza, seja em sessões de ioga ao ar livre, trilhas pelas montanhas, canoagem e passeios a cavalo. +AMAN.COM/CAMP-SARIKA

NOVA MAISON

FOTOS DIVULGAÇÃO

GPS

Depois de emocionar hóspedes no Camboja, na Itália e nos Lençóis Maranhenses, o mestre hoteleiro Thierry Teyssier já tem novos planos para seu hotel itinerante batizado de 700.000 Heures. O projeto fará um pouso rápido – entre 20 de dezembro e 31 de janeiro – em um cantinho escondido da Place Vendôme, em Paris, para depois seguir até o Japão. No país asiático, terá duas locações bastantes especiais entre abril e novembro do próximo ano: uma casinha de pescadores no vilarejo de Ine e o templo de Koyasan – a dica é combinar os dois destinos com uma passagem por Kyoto entre eles. E, como de costume, a ideia é oferecer experiências únicas e inesquecíveis que mergulham na cultura local. É a chance de descobrir bares escondidos, criar seu próprio jardim japonês, degustar chás e sakes raros, ter aulas de mangá e caligrafia com verdadeiros mestres, acompanhar cerimônias locais e uma série de outras aventuras comandadas por Thierry. Para reservar já.

Depois de St.-Tropez, Courchevel e St. Barth, chegou a vez de Paris ganhar um hotel Cheval Blanc. E a localização é especial: fica em um edifício histórico e símbolo da art déco, que no passado fez as vezes de loja da Samaritaine. Detalhe: às margens do Sena e pertinho do Louvre. A novidade, prevista para abrir as portas na próxima primavera, promete virar uma espécie de maison inclusive para os locais. Muito por conta de seu spa com piscina de 30 metros e academia equipada, mas também pelo restaurante sob comando do chef Arnaud Donckele, três estrelas Michelin. São 72 quartos com cara de casa e amenities como janelões de vidro com vista para a Torre Eiffel, jardim de inverno e banheiras dos sonhos. Para coroar, o Cheval Blanc deve oferecer experiências personalizadas para conhecer os segredos mais bem guardados da Cidade Luz. +CHEVALBLANC.COM

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SOB MEDIDA POR FERNANDA GRILO ESCRITOR(A):

Lilia Schwarcz e Heloisa Starling. FRASE PREFERIDA:

“A educação não transforma o mundo, a educação transforma as pessoas e as pessoas transformam o mundo”, Paulo Freire. Esse é o medo da política. COMO DEFINE O BRASIL ATUAL?

Uma grande tristeza, mas, ao mesmo tempo, um momento de pensar e trazer coisas novas e transformadoras, propositoras e positivas para o coração apagado das pessoas. SONHO DE INFÂNCIA:

Construir grandes coisas, cenários fantásticos de ficção científica e de terror. O QUE FALTA REALIZAR NA VIDA:

Uma grande viagem pela África. VÍCIO:

Estar ligado em tudo, ter de ver tudo, uma fome de olhar e de ver ao vivo. QUALIDADE E DEFEITO:

Gostar de ajudar os outros e não ser tolerante e perder logo a paciência com gente ruim e prepotente. SER BEM-SUCEDIDO É?

Não pensar no sucesso e trabalhar só no que gosta. Quando todo mundo está feliz, sou um ser coletivo. MEDO:

Da ignorância e da manipulação das verdades que ocorrem atualmente e da cegueira de pessoas deslumbradas com dinheiro e sucesso. PESSOA QUE TE INSPIRA:

Gringo Cardia

Mãe Stella de Oxóssi (Iyalorixá do Ilê Axé Opó Afonjá). LUGAR NO MUNDO?

Referência mundial em cenografia, está por trás dos maiores eventos do showbiz. Seus próximos trabalhos são o espetáculo Cura, de Deborah Colker, a Oca Red - Woke to Connect, na Bienal de Arquitetura de Veneza, e o Museu das Ialorixás, em Salvador

A floresta amazônica, mãe de todos nós, da nossa vida e dos nossos espíritos.

SEU MELHOR TRABALHO?

O MUNDO ESTÁ CHATO?

Fazer museus contar grandes histórias e valores para a nova geração e pesquisar linguagens visuais que falem com os jovens.

Sempre foi chato e maravilhoso. Hoje estão querendo que a gente só veja o dark side, mas temos que lutar pelo bem e para melhorar, pois ninguém veio nesta encarnação de férias para curtir.

TER UMA ONG COMO A SPECTACULU É:

Gostar dos outros, querer o bem das pessoas e atuar de maneira concreta para que isso seja possível e transformador. MOMENTO DE MAU HUMOR:

Encontrar pessoas desagregadoras e encrenqueiras.

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COM O QUE SE PREOCUPA?

Com os nossos jovens largados e com os nossos índios tratados como indigentes.

DESEJO PARA O FUTURO:

Paz, amor e tolerância. Amor ao próximo. Isso é o que vale na vida.

FOTOS MONICA IMBUZEIRO/DIVULGAÇÃO; GETTY IMAGES; REPRODUÇÃO; FREEPIK; DIVULGAÇÃO

ONDE E QUANDO É MAIS FELIZ:


UM LIVRO:

O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro. ARTISTA QUE TODOS DEVERIAM CONHECER:

MELHOR FILME:

Geleia da Rocinha [artista plástico].

O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman. Uma parábola da vida e da morte.

O QUE SEMPRE FALTA NA SUA CASA?

NÃO PODE FALTAR NO SEU CAFÉ DA MANHÃ:

Abacate, frutas e paisagem para ver.

QUEM GOSTARIA DE SER: Buda.

Doce de leite escuro argentino, meu pecado gastronômico.

CANTOR PREDILETO:

David Bowie é minha maior inspiração desde pequeno.

CENOGRAFIA QUE GOSTARIA DE TER FEITO?

Museu do Índio, no Rio de Janeiro.

MÚSICA QUE MARCOU SUA VIDA:

GADGET PREFERIDO?

ARTISTA PREFERIDO: Walter Van Beirendonck [designer e estilista].

Meu iPhone. Faço tudo nele, não uso mais laptop.

“Rocket Man”, do Elton John. Desde criança ouvindo a música me sentia um homem voando em direção às estrelas, meio superherói.

MANIA:

MELHOR HORA DO DIA: ÍDOLO:

Nelson Mandela.

O pôr do sol da minha casa, no Rio. Uma hora mágica em que se nota a entidade que nos protege e nos dá a beleza da vida.

Acumular livros, impressos e bonecos de todos os tipos.

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CULTURA INC. POR LUÍS COSTA

VALSA DE UMA

CIDADE Literário, mundano, boêmio e acima de tudo personalíssimo, o Rio de Janeiro dos anos 1920 vivia também verdadeira efervescência cultural, como mostra Ruy Castro em nova biografia

O

jornalista e escritor Ruy Castro achava que os anos 1920 haviam sido feitos para (e por) cidades como Nova York, Paris ou São Paulo. Quando decidiu pensar nos brasileiros notáveis da época – o pintor Di Cavalcanti, os poetas Gilka Machado e Manuel Bandeira, os músicos Bidu Sayão e Villa-Lobos, entre outros –, ele se deu conta de que todos estavam no Rio. A então capital da República, ficou claro, vivia na mais efervescente modernidade. “Daí surgiu a ideia para Metrópole à Beira-Mar (ed. Companhia das Letras), um livro para apresentar um lado da história que sempre foi escondido”, diz o escritor. No Rio de Janeiro de um século atrás, respirava-se modernidade. Era uma cidade da palavra: a vida literária se dividia entre a Academia e as muitas livrarias que se espalhavam pelo centro. Cidade da prosa cheia de pompa de um Coelho Neto e da crítica social ácida de um Lima Barreto. Cidade dos bondes e dos automóveis, da movimentada avenida Central (hoje Rio Branco), do lufa-lufa dos teatros e dos

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cafés, do Carnaval e do banho de mar, do samba e da ópera. Todos acorriam à então capital da República. Com uma vasta oferta de jornais e revistas, intelectuais chegavam ao Rio de todo o país, trazendo com eles um livro publicado ou uma carta de recomendação. Todos se tornariam cariocas. “Ser carioca nos anos 1920 era estar habituado a conviver com os estrangeiros, com os poderosos, e a não levá-los a sério nem ter muito respeito por eles. No Rio nunca

fora, grande consumo de drogas e a cidade estava começando a ocupar as praias”, diz. “Procurei mostrar uma realidade urbana, gigantesca, metropolitana, dinâmica e moderna que estava sendo ignorada.” Passados exatos 100 anos, o Rio que tinha gosto pela literatura desbotou, apesar de sua arquitetura conservar quase bairros inteiros daquela década. Mas

FOTOS GETTY IMAGES; REPRODUÇÃO; DIVULGAÇÃO

Palco principal de seus livros, o Rio agora é o centro de nova biografia de Ruy Castro

existiria um bairro italiano, um bairro japonês, um bairro lituano, um bairro nordestino. Todos os bairros do Rio sempre foram cariocas”, afirma Ruy. No Brasil, a ideia de modernidade nos anos 1920 sempre esteve historicamente ligada a São Paulo, palco da Semana de Arte Moderna e então candidata ao posto de “locomotiva do país”. Como contraponto, Ruy mostra um Rio de Janeiro já pujante com seu 1,2 milhão de habitantes, prédios de dez andares com elevador, mais de 30 representações diplomáticas, telefone e luz elétrica para muitos, 15 jornais diários e um grande mercado para livros, teatro e artes plásticas. “Tinha também moças de perna de

o carioquismo, esse ainda resiste. “O carioca continua crítico, irônico e perspicaz. A cidade é que, como muitas outras, sofre há décadas com crises, corrupção, péssimas administrações e uma sistemática rixa com o governo federal, rixa esta que já valeu grandes prejuízos ao Rio, como a fusão promovida maldosamente por Ernesto Geisel [em 1975], para esvaziar a Guanabara política e economicamente, e sem consultar a população”, afirma Ruy. “Mas um lugar que teve a desgraça de ser governado por Brizola (duas vezes), Moreira Franco, os Garotinhos, Benedita da Silva, Sérgio Cabral e Pezão, e continua de pé, nunca será vencido.”

PODER É

RETRATO DE MULHER Premiada fotógrafa russa radicada nos EUA, Gulnara Samoilova tem se dedicado a divulgar o trabalho de mulheres fotógrafas. Em um mercado editorial e artístico ainda dominado por homens, ela é fundadora do projeto Women Street Photographers, voltado à projeção de fotografia de rua feita por mulheres em todo o mundo. O projeto já rendeu exposições e pode ser visto no Instagram na conta @womenstreetphotographers BEETHOVEN, 250 Nos 250 anos do nascimento de Ludwig van Beethoven, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) preparou uma programação com 132 apresentações com repertório de um dos maiores gênios da história da música ocidental. São obras para coro e orquestra, sinfonias e aberturas, concertos, além da integral das 32 sonatas para piano. A programação se estenderá por todo o ano e pode ser consultada em osesp.art.br. PODER JOYCE PASCOWITCH 55


COZINHA DE PODER POR FERNANDA GRILO

O FEIJÃO QUE SE CUIDE

Cada vez mais comum no prato do brasileiro, o grão-de-bico é uma ótima alternativa ao feijão de todo dia, agrada pelo paladar, a versatilidade e traz uma dezena de benefícios para a saúde. Se não está no seu cardápio, é hora de mudar isso Da Síria até o Brasil, dos gulosos aos fitness, dos chefs aos adeptos do delivery, o grãode-bico agrada qualquer paladar. O sabor inconfundível dessa leguminosa, a rainha do homus, está na mesa há milhares de anos, vinda de países como Turquia, Síria, Líbano, Israel e Índia até chegar à Europa e, só depois, nos conquistar nas Américas. Além do gosto, o ingrediente se destaca pelas propriedades. Com quase 20% de proteína, os grãos também fornecem fibras, ácido fólico, fósforo, ferro, zinco, magnésio, potássio e cálcio e boas quantidades de vitaminas K, E, C e do complexo B. Na cozinha, tem feito as vezes do feijão de todo dia e aumentado consideravelmente seu consumo – é a quinta leguminosa mais cultivada no mundo segundo dados da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Com tudo isso, o grãode-bico já deixou de ser alimento restrito aos descendentes de árabes e espanhóis e PODER comprova isso com receitas das boas. n

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SALADE D’HIVER

FOTOS GETTY IMAGES; BRUNO GERALDI/DIVULGAÇÃO; HENRIQUE PERON/DIVULGAÇÃO

BENNY NOVAK, CHEF DO ICI BISTRÔ INGREDIENTES BERINJELA: • 2 berinjelas grandes • 1 punhado de grão-de-bico pré-cozido e frito • 4 picles de pepino pequeno • 1 pimenta-dedo-de-moça picada, sem sementes • croutons • hortelã picada brotos • alface lisa ou a folha de sua preferência MODO DE PREPARO: Asse as berinjelas diretamente na chama do fogão até que fiquem cozidas, girando para que toda a pele queime e o interior fique macio. Corte-as ao meio, no sentido do comprimento. Raspe a ‘carne’ cozida, deixando em pedaços longos e inteiros. Tempere com sal e azeite. INGREDIENTES VINAGRETE: • 50 g de tahine • 25 g de missô em pasta • 135 ml de azeite • 80 ml de suco de limão • 15 ml de vinagre balsâmico • 1 dente de alho cru triturado • 1 colher de chá de mel flor de sal • pimenta-do-reino a gosto MODO DE PREPARO: Misture todos os ingredientes em um bowl e reserve.

INGREDIENTES CROUTON: • pão couvert • manteiga • óleo vegetal • sal • tomilho MODO DE PREPARO: Na frigideira quente derreta a manteiga. Adicione o pão e frite levemente. Coloque o tomilho e tempere com sal e pimenta. FINALIZAÇÃO: Sirva meia berinjela de comprido por prato e tempere com o vinagrete de tahine. Acrescente alface ou outra folha de sua preferência, grão-de-bico e pepino. Adicione os croutons e a pimentadedo-de-moça. Finalize com brotos e mais vinagrete. • 2 colheres (sopa) de salsinha picada grosseiramente • 1/4 xícara de arroz selvagem cozido • 1/4 xícara arroz branco cozido • 1 fio de água • 1/4 xícara cheia de cebola frita • 2 colheres (sopa) de amêndoas • 1 punhadinho de folha de limão cortada finamente MODO DE PREPARO GRÃO-DE-BICO: Na véspera do preparo, deixe o grão-de-bico de molho na água (cinco dedos acima dos grãos), fora da geladeira. No dia seguinte, escorra a água e coloque o grão-de-bico para cozinhar em outra água com um pouco de sal por 1h15 até ficar no ponto. Escorra, regue com azeite, deixe esfriar e reserve na geladeira. MODO DE PREPARO ARROZ SELVAGEM: Para uma xícara de arroz selvagem lavado, utilize três xícaras de água e 1 colher de sal para o cozimento.

ARROZ SELVAGEM COM GRÃO-DE-BICO

MARIA HELENA GUIMARÃES, LYGIA LOPES E MAÍRA CESAR, CHEFS DO SPOT INGREDIENTES: • 22 colheres (chá) de azeite • 1/4 xícara de aspargos cortados em moedinhas • 1/4 xícara de grão-de-bico cozido

FINALIZAÇÃO: Em uma frigideira antiaderente, coloque o azeite e deixe esquentar. Adicione os aspargos, o grão-de-bico, um pouco de sal e doure. Coloque o arroz selvagem, a salsinha e misture bem. Junte o arroz branco e coloque um pouco de água para não ressecar. Retire a frigideira do fogo e adicione mais salsinha, folha de limão, amêndoas e cebola frita. Misture tudo e sirva. PODER JOYCE PASCOWITCH 57


HIGH-TECH POR FERNANDA BOTTONI

AQUI E AGORA Selecionamos os melhores gadgets com a cara do verão – e das férias – para você aproveitar o momento e se desligar de (quase) tudo

MODOBAG

Na hora de viajar, por que carregar a mala se ela pode carregar você? É isso o que a Modobag faz. A mala funciona basicamente como uma scooter, com assento e apoio para os pés. Ela atinge velocidade máxima de 13 km/h, pode percorrer cerca de 10 km com uma única carga e suporta até 118 quilos. Tem ainda duas portas USB para manter os dispositivos carregados e um sistema GPS opcional. Suas baterias removíveis são construídas em uma plataforma de titânio carbon free, o que elimina os problemas térmicos associados às baterias de íon de lítio. MODOBAG.COM PREÇO: R$ 6.271

BANG & OLUFSEN BEOPLAY H9I

A Bang & Olufsen e a Rimowa trabalharam em conjunto para criar esta edição especial do fone Beoplay H9i. O aparelho tem a acústica habilmente ajustada por seus engenheiros de som para oferecer experiências auditivas ricas e poderosas. Além disso, suas almofadas revestidas por uma macia pele de cordeiro têm espuma de memória adaptável para um ajuste ultraconfortável, mesmo com uso prolongado. Alumínio polido e couro genuíno completam o design cheio de luxo. O fone tem autonomia para até 18 horas de reprodução sem fio com ANC ou até 23 horas com bluetooth. BANG-OLUFSEN.COM PREÇO: R$ 3.786

MUTRICS SMART AUDIO SUNGLASSES

Foi-se o tempo em que os óculos de sol eram apenas... óculos de sol. Moderninho e estiloso, este gadget tem mini speakers e microfone embutidos com conexão bluetooth 5.0, controle de voz Google & Siri e som 5.1 surround virtual. Como se não bastasse, ele é à prova d’água, bloqueia 99% dos raios UVA/UVB e tem duração de bateria para até 8 horas de música. Os controles principais para aceitar ou rejeitar chamadas, tocar e pausar músicas, alternar volume e ativar comandos de voz são feitos por três botões. A armação pode ser encontrada em preto, branco e laranja e as lentes estão disponíveis em dourado, azul e dark grey. MUTRICS.COM PREÇO: R$ 550

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* PREÇOS PESQUISADOS EM JANEIRO. SUJEITOS A ALTERAÇÕES

FOTOS PAULO FREITAS; DIVULGAÇÃO

PATRICIA BELLA COSTA

Professional Oral Care Director | Colgate-Palmolive Brazil & Southern Cone “Entre os apps, acho o Shazam uma mega invenção! Adoro conhecer as músicas que ouço por aí. Também tenho apps das câmeras da minha casa e do bairro onde moro porque temos um grupo de vigilância solidária. Compras faço pelo Westwing e Privalia. Para corrida, Garmin Connect, e, para ler, apesar do Kindle, gosto de livros impressos. Quem sabe me renda no futuro...”

BLU3 NEMO

Mergulhar com snorkel é legal, mas exige pulmão – a menos que você fique na superfície. Para quem espera mais que aventura, passar mais tempo de baixo d’água e desconectar realmente do mundo, o Nemo é uma opção fantástica. Tem design compacto e leve e um sistema de mergulho que oferece suporte a 3 metros de profundidade. O Smart Reg monitora os padrões respiratórios do mergulhador e permite que o compressor saiba exatamente quando enviar ar, auxiliando o aparelho a respirar com o usuário. Para águas abertas, uma bandeira de mergulho garante a segurança. O melhor: o Nemo cabe em qualquer mala de viagem. KICKSTARTER.COM PREÇO: R$ 880

BASALL IPALM

Concordamos: depois de tanto trabalho, suas mãos merecem um descanso. E que tal este aparelho portátil que alivia a tensão e recupera as energias fazendo uma massagem por pressão de ar (bolsas pneumáticas) e compressa quente? Sim, ele existe e permite que você programe o tempo de massageamento, ajuste os níveis de compressão e a temperatura. Pesa pouco mais de 1 quilo e pode ser levado para qualquer lugar. BASALL.COM.BR PREÇO: R$ 350

SUNNYLIFE UNDERWATER CAMERA

Nascida e criada nas praias da Austrália, esta simpática câmera subaquática tem a cara de verões passados. Retrô, ela utiliza filme de 35 mm. Tem lentes com comprimento focal de 28 mm e abertura de f/90. E é levinha – pesa apenas 200 gramas com a embalagem.

SUNNYLIFE.COM.AU PREÇO: R$ 120

POWERVISION POWERDOLPHIN

O PowerDolphin é o máximo para quem gosta de relaxar pescando. Ele é basicamente um barco de arremessar iscas equipado com um poderoso sonar de pesca e uma câmera 4K UHD para filmar tudo o que acontece – tanto na superfície quanto debaixo d’água. A bateria tem autonomia de duas horas e um wi-fi potente conecta o equipamento ao seu smartphone mesmo nos locais mais remotos. Além disso, com a função “return home”, você consegue trazer o PowerDolphin de volta pressionando apenas um botão, o que é especialmente útil em caso de perda de conexão ou nível de bateria muito baixo. POWERVISIONEU.MYSHOPIFY.COM PREÇO: R$ 3.360

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OBJETO PESSOAL POR ALINE VESSONI

Para contrapor um guarda-roupa básico, quase em sua totalidade na cor preta, um refinado savoirvivre do arquiteto MARCIO KOGAN

no subsolo do shopping Ginza Six, até a loja do Issey Miyake [designer de moda], de quem eu sou muito fã. Consumismo na veia! UM ARTISTA QUE COLECIONARIA SE PUDESSE SERIA...

O roteiro original de E la Nave Va [1983], filme do diretor italiano Federico Fellini. Foi na Wannenes, casa de leilão em Milão, na Itália. UMA DESCOBERTA RECENTE

A obra do cineasta palestino Elia Suleiman. Amei seu último filme, O Paraíso Deve Ser Aqui. E A PRÓXIMA QUE JÁ ESTOU DE OLHO PARA COMPRAR...

Uma carta escrita pelo [arquiteto e urbanista] Lúcio Costa para Le Corbusier [arquiteto, urbanista, escultor e pintor] discutindo a polêmica autoria do projeto do Ministério da Educação e Saúde [atual Palácio Gustavo Capanema, no Rio]. SE EU TIVESSE QUE LIMITAR MINHAS COMPRAS A UM BAIRRO EM UMA CIDADE SERIA...

Ginza, em Tóquio. Que tem absolutamente de tudo, desde um chocolate com laranja seca imperdível

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Fico na dúvida entre as Nymphéas, de Claude Monet, tipo as que estão no museu L’Orangerie, em Paris, ou uma coleção de polaroides do Andy Warhol. Humilde, não? O MELHOR SOUVENIR DE VIAGEM QUE TENHO EM CASA:

Um minion que eu peguei com uma única moeda numa dessas máquinas-grua durante um intervalo de uma aula em Los Angeles. Fato este que nunca aconteceu em toda a história. ÚLTIMA MÚSICA QUE BAIXEI:

Foram duas: “Je Te Veux”, de Erik Satie, interpretada por Juliette; “Lakmé, Act 2: Où Va la Jeune Indoue”, de Léo Delibes, interpretada por Maria Callas. Não sei qual delas baixei antes. LUGAR INESQUECÍVEL PARA ONDE VIAJEI NOS ÚLTIMOS ANOS, E O PRÓXIMO QUE QUERO IR

Um lugar inesquecível? Tóquio. O próximo que eu gostaria de ir? Tóquio. TENHO COLEÇÃO DE...

Desenhos de Federico Fellini.

FOTOS BETO RIGINIK/ARQUIVO PESSOAL; GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO

UMA ESCAPADA ATÉ A ÚLTIMA COISA QUE EU COMPREI E AMEI FOI...


CABECEIRA

INFÂNCIA – GRACILIANO RAMOS

O mais emocionante e central livro do escritor – não para os críticos. Mas como entender Graciliano sem passar por Infância? Obra de enorme delicadeza, que me ajudou e continua a ajudar a compreender o Nordeste por meio de uma emoção profundamente brasileira e universal.

FOTOS LEO AVERSA/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

ESTANTE

Basta uma rápida olhada no portfólio do cineasta LUIZ FERNANDO CARVALHO para perceber seu fascínio pela literatura. Carvalho levou para as telas obras de Ariano Suassuna e Clarice Lispector. Sua transposição para o cinema de Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, é impactante. A relação com as letras começou na infância, incentivado por seu pai, um engenheiro ferroviário que tinha uma estante repleta de romances. “Ele era um humanista com grande apreço pela literatura”, disse a PODER. Pais e filhos não apenas se serviam dos livros da estante, como costumavam comentar entre si suas leituras. Mas havia regras. Os filhos só podiam ler os livros que alcançassem com sua altura. Nas prateleiras inferiores estavam as obras infantis e, à medida que se afastavam do chão, os romances iam ganhando reflexão, subjetividade e questionamento. Carvalho diz que tentou burlar a norma algumas vezes, mas foi descoberto. “Essa forma de ir galgando a estante fazia com que eu ficasse imaginando o que encontraria lá em cima. Isso aguçou meus sentidos e formou minha leitura.” POR ALINE VESSONI

O SOM E A FÚRIA – WILLIAM FAULKNER

LAVOURA ARCAICA – RADUAN NASSAR

Lavoura é o livro da minha vida, sem exagero. Alguma coisa mudou aqui depois e até mesmo durante a leitura. Alguma coisa que não sei dizer o que é. E como não sou mais nenhum rapazote é bem provável que a obra não perca esse posto.

Lendo você entende por que tantos escritores dizem-se influenciados por Faulkner. Ele quebra as noções de tempo, espaço, casualidade, alterando sintaxe, pontuação, tudo. Citando Shakespeare: “A vida é uma história cheia de som e fúria, contada por um idiota e que não significa nada”.

A DIVINA COMÉDIA – DANTE ALIGHIERI

Impossível parar de ler e reler. Abro em qualquer parte e sigo até o final. A mais extraordinária obra daquele que foi um dos maiores poetas. Emocionante aventura, em que se misturam os caracteres ardentes e reflexivos, narrada com infinita imaginação visionária. DOM QUIXOTE – MIGUEL DE CERVANTES

Obra precursora do romance moderno. Nada menos do que isso. Dom Quixote narra as andanças de um visionário, capaz de enxergar a decadência dos valores de uma sociedade que escolheu rir dos outros e não olhar para si própria.

O IDIOTA – FIÓDOR DOSTOIÉVSKI

Falando em idiota, aqui vai uma obra máxima, que traz a definição do comportamento humano. É a bíblia da moral do autor, que diz algo assim: “O Bem, quando inserido em um contexto corrupto e precário, é logo visto como um bobo, um idiota!”. Em Dostoiévski não há crônica, coloquialidade, tudo o que existe é concentração, crise, preparação para a epifania.

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POLE POSITION por josé rubens d’elia

A

cada quatro anos o esporte atua como âncora inspiradora para todos, mostrando por diversos ângulos a capacidade do ser humano de superar limites, bater recordes e conquistar novos patamares. São os Jogos Olímpicos, que neste ano acontecem entre julho e agosto, em Tóquio, no Japão. O impacto motivacional de uma Olimpíada é tamanho que o mundo se apropria de seus símbolos e se mobiliza para criar experiências, produtos e serviços que tenham analogia com o potencial evolutivo existente no evento e nos seus inúmeros desafios. Acima de tudo, o mundo se apropria da ambição ilimitada levada pelos esportistas às pistas, piscinas, quadras, ginásios e estádios. Tive a felicidade de viver muitos ciclos olímpicos e preparar atletas para esses momentos. Foi um dos grandes conhecimentos

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que adquiri na vida. Foi também a oportunidade singular de deixar meu legado, contribuindo para as participações vitoriosas de atletas como Robert Scheidt (bicampeão olímpico e maior medalhista do Brasil) e Lars Grael (bronze em Seul-1988 e Atlanta-96), e do time de ciclismo, entre outros. A importância e os reflexos de uma Olimpíada não se restringem ao período dos Jogos. Para os atletas é um investimento de quatro anos, com planejamento, preparação técnica, física e emocional, dedicação total, foco e a incrível exigência de renúncia a tudo o que não se vincular ao objetivo maior. Absolutamente tudo. Gradativamente, o DNA olímpico formou a espinha dorsal do meu trabalho, seja com atletas profissionais, seja com executivos, a quem costumo chamar de profissionais-atletas. A vivência

mostrou que no universo corporativo há uma olimpíada diária, e os profissionais que descobrem essa conexão tornam-se protagonistas de suas vidas; para se preparar, emulam os atletas ao otimizar o entusiasmo, aumentar o foco e aperfeiçoar a performance. A consciência de que existem montanhas constantes para escalar e dificuldades diárias a vencer conduz esses profissionais. Mas o grande adversário é interno, e deve ser superado pelo autoconhecimento e pela escolha do mindset do crescimento, que se apoia no aprendizado para desafiar as limitações e enfrentar os problemas. Características de um modo de pensar que reflete o perfil de atletas olímpicos, mas não só: de todo aquele que almeja vitórias e resultados. Estamos no início do ano, momento oportuno de pegar carona nessa energia e definir o seu projeto para 2020. A pluralidade motivacional de uma Olimpíada oferece rica gama de escolhas, mesmo que a sua decisão seja o primeiro passo de um novo objetivo. Qual é mesmo a sua olímpiada? n José Rubens D’Elia é fisiologista e treinador de pilotos, atletas, empresários e executivos. É diretor da Pilotech – Clínica de Performance de Pilotos, em São Paulo

FOTOS GETTY IMAGES; ARQUIVO PESSOAL

QUAL É SUA OLIMPÍADA?


CARTAS cartas@glamurama.com

SOB CONTROLE

A produção arrasou nas escolhas dos looks, os cliques estão perfeitos e o Lucas Lucco deu um show, incorporou o personagem (PODER 134). @regiane_nei

DEFESA COM GRIFE

Ao falarem um pouco da nossa trajetória, Paulo Vieira e Dado Abreu mostraram os desafios de todos os advogados criminalistas. Defender o acusado, principalmente em casos midiáticos, é tão árduo quanto gratificante. A reportagem bem retratou a nossa apaixonante profissão, obrigado. José Luis Oliveira Lima e Rodrigo Dall’Acqua

DE OLHO NO LEGADO DELAS

Muito boa a reflexão dessa matéria (PODER 134) sobre a preocupação social das empresas. Não vejo a hora dessa moda do “politicamente correto” pegar de vez nas companhias brasileiras. @pi.pietro

ALMOÇO DE PODER

Com números alarmantes de casos de transtornos mentais, vem em bom momento o bate-papo com o psiquiatra Valentim Gentil Filho (PODER 134). É preciso se informar, acabar com os mitos e tabus relacionados a essas doenças. Boa! @thati.xis

DOUTOR, NÃO FOTO PEDRO DIMITROW

O mercado muda, mudam também as escolhas profissionais. Podiam ter explorado (PODER 134) outras áreas, com foco em beleza, tais como esteticista, manicure, cabeleireiro, barbeiro, porque é um setor que não para de crescer. @alexcoelho

/poder.joycepascowitch

@revistapoder

@revistapoder

O conteúdo da PODER na versão digital está disponível no SITE +joycepascowitch.com

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As homenagens foram muitas. Antes da final do Super Bowl, os jogadores de Chiefs e 49ers se posicionaram na linha das 24 jardas para tributar o número que ele eternizou no Los Angeles Lakers; Neymar, no aquecimento para um jogo do PSG, em Paris, pelo campeonato francês, também envergou o 24. O genial Kobe Bryant, que morreu junto com sua filha de 13 anos e outras sete pessoas num acidente de helicóptero, no fim de janeiro, na Califórnia, teve sua grandeza reificada no luto e nos tributos que recebeu nos Estados Unidos e em todo o mundo. Ala que foi recrutado direto do ensino médio para a estrelar NBA, Kobe forjou com Shaquille os tempos dourados do Lakers no começo deste século. Ter feito 81 pontos em 2006 contra o Toronto Raptors, segunda pontuação de todos os tempos, pareceu, nos panegíricos, algo tão crível quanto os 60 pontos de sua última partida pela NBA, dez anos depois, quando então se aposentou. The Black Mamba transcendeu o basquete, e ainda manteve a performance no cinema, ao levar, em 2018, o Oscar de curta de animação por Dear Basketball, escrito e narrado por ele.

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FOTO GETTYIMAGES

PERFORMANCE


É com muito orgulho que o Grupo Glamurama apresenta seu caçulinha, o berinjela.com, onde selecionamos produtos de várias marcas pra lá de especiais – e, viva!, para comprar na hora. Com esmero, tentamos separar o joio do trigo, e elegemos o que cremos ser a cara de nossas leitoras. E vamos além do estilo: aqui só entra o que é feito de forma ética e sustentável. Clique e fique à vontade!


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