ESPELHO
FOTO DIVULGAÇÃO
O ACOLHIMENTO CURA
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), 600 mil novos casos de câncer são diagnosticados por ano no Brasil. Por trás de alguns deles está a imunologista, oncologista e pesquisadora NISE YAMAGUCHI. Há 40 anos pesquisando o assunto, ela é uma das pioneiras a estudar os benefícios da imunologia no combate da doença. Na década de 1980, Nise fundou e conduziu durante 15 anos o ambulatório de imunologia de tumores no Hospital das Clínicas, em São Paulo, para o
desenvolvimento de pesquisas de fatores de aumento do sistema imunológico e a educação continuada de residentes e estudantes de medicina. “Nessa época, a Aids era bastante prevalente e tínhamos muitos casos de linformas e câncer. Foi quando comecei a frequentar o Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova York, talvez ainda hoje o maior centro de pesquisa em câncer, e pude acompanhar tantos novos agentes quimioterápicos, como novas estratégias de tratamentos imunológicos”, conta ela. “Vi o início de uma área que veio se tornar agora, 40 anos depois, a mais promissora da oncologia.” Segundo a doutora Nise Yamaguchi, quando uma pessoa tem câncer, o tumor se confunde com uma célula normal e não é mais reconhecido pelo sistema imunológico. Mas, com a imunologia, é possível fazer com que essas células passem a ser reconhecidas como estranhas e maléficas. “Não é um tratamento totalmente sem efeitos colaterais, porém nós damos a chance do próprio organismo se defender contra as células tumorais”, explica. Pela longa trajetória, Nise atende pacientes com todo tipo de câncer e acabou se tornando especialista em tumores de difíceis tratamento. “Sou, digamos assim, estrategista no elenco de diagnóstico, organizando o melhor fluxo para o tratamento. No [hospital Albert] Einstein nós temos a preocupação de conduzir o paciente pelo sistema, pegar pela mão mesmo, e ir junto”, explica. Mas ela gosta de frisar que vai aonde o paciente está, por isso não tem hora para parar. “Muitas vezes tenho jornadas de 20 horas”, conta. Mesmo assim, encontra tempo para trabalhar como voluntária no Instituto da Criança do HC. Recentemente, ela esteve na Europa para dar aulas e atendeu aos pacientes no Brasil entre 1 e 3 da manhã horário local. “Por onde eu vou, tem alguém que teve ou está com câncer e quer me encontrar. Vou dar aula em Minas Gerais e já tenho pacientes à minha espera, o mesmo aconteceu na Bélgica”, ressalta, antes de finalizar. “Sinto que a vida de cada um é essencial e, independentemente do estadiamento [estágio do câncer], da esfera social em que ele está, se a pessoa chega até mim então eu luto por ela e nunca subestimo o poder de uma pessoa com câncer. Nunca.” n
por aline vessoni