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CAPÍTULO XXI - DIAS DE VERÃO

CAPÍTULO XXI

Dias de verão

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Antes de os Carew aparecerem, Poliana disse a Jimmy que dependia dele para ajudá-la a entretê-los. Jimmy não se mostrou muito disposto a isso na época, mas, antes que os Carew chegassem, mostrou não apenas disposto, mas também ansioso... a julgar pela frequência e duração de suas visitas e pelo número de vezes que ofereceu seus cavalos e carro.

Logo surgiu uma bela amizade entre ele e a Sra. Carew como se existisse uma forte atração entre os dois. Eles andaram juntos e conversaram muito, e até fizeram diversos planos para o lar de meninas da Sra. Carew, que implementariam no inverno seguinte, quando Jimmy estivesse em Boston. Jamie também recebia atenção, e Sadie Dean não foi esquecida. Sadie, como a Sra. Carew claramente mostrava, devia ser considerada um membro da família. A Sra. Carew teve, inclusive, o cuidado de observar se ela estava participando plenamente de quaisquer planos de entretenimento.

Não era só Jimmy que aparecia para entreter as visitas. John Pendleton vinha cada vez com mais frequência também. Eles planejaram cavalgadas, passeios e piqueniques, e passaram longas tardes agradáveis lendo livros e realizando trabalhos artísticos na varanda dos Harrington.

Poliana ficou encantada. Não só seus hóspedes pagantes estavam livres de qualquer possibilidade de tédio e saudade de casa, como também seus bons amigos, os Carew, estavam se familiarizando muito bem com seus outros bons amigos, os Pendleton. Como

uma mãezona, Poliana perambulava pelas reuniões da varanda e fazia de tudo para manter o grupo unido e feliz.

Mas tanto os Carew, quanto os Pendleton não queriam que Poliana atuasse meramente como espectadora de seus passatempos, e insistiram tenazmente para que se juntasse a eles. Eles não aceitariam um não como resposta, e Poliana frequentemente encontrava o caminho aberto para ela. – Até parece que vamos permitir que você fique lidando com cobertura de bolo nesta cozinha quente! – Jamie repreendeu um dia, depois de adentrar as fortalezas de seu domínio. – Está uma manhã maravilhosa e vamos ao cânion e depois almoçar. E você virá conosco. – Mas, Jamie, não posso... de verdade, não posso – recusou Poliana. – Por que não? Você não precisa preparar o jantar, pois não vamos comer aqui. – Mas tem o... o almoço. – Errada de novo. Você vai almoçar conosco, então não precisa ficar em casa para isso. O que está impedindo você de vir, hein? – Ora, Jamie, eu... eu não posso. Preciso terminar a cobertura do bolo... – Não quero cobertura. – E tirar o pó da casa... – A casa está limpa. – E arrumar as coisas para amanhã. – Podemos comer bolachas com leite. Preferimos que venha conosco e bolachas com leite a um jantar de peru sem você. – Mas nem consigo contar tudo o que tenho para fazer hoje. – Nem quero que comece – retrucou Jamie, alegremente. – Quero que pare de contar. Venha, coloque seu chapéu. Eu vi a Betty na sala de jantar, e ela disse que vai preparar nosso almoço. Agora se apresse. – Ora, Jamie, seu bobo, não posso ir – riu Poliana, afastando-se debilmente, enquanto ele puxava sua manga. – Não posso sair agora!

Mas ela foi. E não só dessa vez, mas de novo e de novo. Ela não conseguia negar, na verdade, pois achava que não apenas Jamie, mas

Jimmy e o Sr. Pendleton, para não falar da Sra. Carew e Sadie Dean, e até a própria tia Poli, armaram para que ela fosse. – É claro que estou feliz em ir – ela suspirou, quando algum trabalho triste era tirado de suas mãos, apesar dos protestos. – Mas certamente não existem hóspedes como os meus... pedindo bolachas e leite e nunca houve uma anfitriã como eu... passeando por aí desta maneira!

O clímax aconteceu quando, certo dia, John Pendleton (e tia Poli nunca deixava de exclamar que tinha sido John Pendleton) sugeriu que todos fossem acampar por duas semanas em um pequeno lago entre as montanhas, a mais de sessenta quilômetros de Beldingsville.

Todos ficaram entusiasmados com a ideia, exceto tia Poli. Ela disse à sobrinha, em particular, que era muito bom e aconselhável que John Pendleton saísse daquela vida desinteressada e amarga que teve por tantos anos, mas não que tentasse se transformar em um garoto de vinte anos de novo, o que, na opinião dela, parecia que estava fazendo! Para os outros, ela se limitou a dizer friamente que sem dúvida não faria uma viagem insana para dormir no chão úmido e comer insetos e aranhas, sob o disfarce de “diversão”. Ela nem mesmo achava sensato que qualquer pessoa com mais de quarenta anos fizesse isso.

Se John Pendleton se sentiu ofendido com o comentário, não demonstrou. Na verdade, nem mesmo diminuiu seu visível interesse e entusiasmo. E logo vieram os planos para essa aventura. Afinal, todos decidiram que, mesmo que tia Poli não fosse, a viagem aconteceria. – A Sra. Carew será a companhia de que precisamos – declarou Jimmy, alegremente.

Durante uma semana, só se falou em barracas, suprimentos de comida, câmeras e equipamentos de pesca. Pouco foi feito que não envolvesse a viagem. – E vamos fazer tudo direito – propôs Jimmy, ansioso. – Inclusive com os insetos e aranhas da Sra. Chilton – acrescentou, com um sorriso alegre olhando nos olhos severamente desaprovadores da senhora. – Nada de chalé de madeira com sala de jantar! Queremos fogueiras de verdade com batatas assadas na brasa, todos sentados para contarmos histórias e assar milho no espeto.

– Queremos nadar, remar e pescar – concordou Poliana. – E... – ela parou de repente, olhando para o rosto de Jamie. – Mas, claro – corrigiu rapidamente –, não faremos isso o tempo todo. Teremos atividades mais tranquilas, como ler e conversar.

Os olhos de Jamie escureceram. Seu rosto ficou um pouco pálido. Seus lábios se separaram, mas, antes que qualquer palavra viesse, Sadie Dean começou a falar. – Mas em acampamentos e piqueniques, temos de fazer acrobacias ao ar livre – ela interpôs febrilmente. – E faremos. No verão passado fomos ao Maine. Você precisava ter visto o peixe que o Sr. Carew pescou. Conte você – ela implorou, virando-se para Jamie.

Jamie riu e sacudiu a cabeça. – Eles nunca acreditariam – objetou ele. – Uma história de pescador dessas! – Conte! – desafiou Poliana.

Jamie balançou a cabeça novamente – a cor voltou ao seu rosto e seus olhos já não estavam mais sombrios como se estivessem tristes. Olhando para Sadie Dean, Poliana imaginou vagamente por que havia se recostado em seu assento com um ar tão evidente de alívio.

Chegou o dia da viagem, e todos foram no carro novo de John Pendleton com Jimmy ao volante. Um zumbido, um estrondo pulsante, um coro de despedidas, e eles foram embora, com um longo soar da buzina sob os dedos travessos de Jimmy.

Mais tarde, Poliana sempre voltaria a pensar naquela primeira noite no acampamento. A experiência tinha sido muito nova e maravilhosa para ela.

Eram quatro horas quando a viagem de mais de sessenta quilômetros chegou ao fim. Desde as três e meia, o carro vinha percorrendo uma velha estrada que não era projetada para automóveis de seis cilindros. Para o carro e para quem estava dirigindo, era cansativo. Mas para os felizes passageiros, que não se preocupavam com buracos ocultos e curvas enlameadas, não passava de um prazer cada vez mais maior. A todo momento era uma nova vista através dos arcos verdes e uma risada ecoante ao desviar dos galhos baixos.

John Pendleton já conhecia o lugar onde acampariam, e ele o saudou agora com um prazer satisfeito que se misturava com alívio.

– Ah, que maravilha – entoaram os demais. – Estou feliz por terem gostado! – Achei que seria uma boa opção – John Pendleton assentiu com a cabeça. – Ainda assim, estava um pouco receoso, afinal, esses lugares mudam, às vezes de forma notável. Os arbustos cresceram um pouco... mas nem tanto, podemos limpar facilmente.

Todos começaram a trabalhar, limpando o chão, erguendo as duas pequenas barracas, descarregando o carro, montando a fogueira e arrumando a “cozinha e a despensa”.

Foi então que Poliana começou a notar Jamie e a temer por ele. Percebeu, de repente, que os montes, os buracos e as colinas cheias de pinheiros não eram como um chão acarpetado para um par de muletas. Jamie também havia notado isso. Apesar de sua condição, ele estava tentando fazer sua parte no trabalho, mas isso a incomodou. Duas vezes ela se adiantou e foi ajudá-lo, tirando de seus braços a caixa que estava tentando carregar. – Deixa que eu carrego – pediu. – Você já fez o bastante. – E na segunda vez acrescentou: – Sente um pouco para descansar, Jamie. Você parece muito cansado!

Se pudesse se ver, teria notado um rápido rubor invadir sua testa. Mas não viu. No entanto, para sua grande surpresa, viu Sadie Dean um momento depois, com os braços cheios de caixas, pedir: – Sr. Carew, por favor, poderia me dar uma ajuda com estas....

Mais tarde, Jamie, mais uma vez lutando para gerenciar um monte de caixas e duas muletas, aproximou-se das barracas.

Com uma palavra rápida de protesto entre os lábios, Poliana se virou para Sadie Dean. Mas não disse nada, pois Sadie, com o dedo nos lábios, correu até ela. – Sei no que estava pensando – ela gaguejou em voz baixa, quando chegou perto de Poliana. – Você não vê?... isso machuca ele... achar que ele não pode fazer as coisas como as outras pessoas. Olhe para ele! Veja como está feliz agora.

Poliana olhou e percebeu. Ela viu Jamie, todo alerta, equilibrar habilmente seu peso em uma muleta e abaixando para colocar a caixa no chão. Ela viu a felicidade em seu rosto e o ouviu dizer com indiferença:

– Eis outra contribuição da senhorita Dean. Ela me pediu para trazer isso. – Sim, percebi – respirou Poliana, voltando-se para Sadie Dean. Mas Sadie Dean tinha ido embora.

Depois disso, Poliana começou a observar mais Jamie, embora tivesse o cuidado para que nem ele nem qualquer outra pessoa a visse. Enquanto observava, seu coração sofria. Duas vezes ela o viu ensaiar uma tarefa e fracassar: uma vez com uma caixa pesada demais; outra, com uma mesa dobrável, também muito pesada para carregar usando as muletas. E percebeu também seu rápido olhar ao redor para ver se os outros tinham notado algo. Ele estava ficando muito cansado e seu rosto, apesar do sorriso alegre, parecia pálido e exausto, como se estivesse com dor.

“Devíamos ter pensado melhor nisso”, atacou a si mesma, com os olhos cegos de lágrimas. “Deveríamos ter pensado mais antes de trazê-lo a um lugar como este. Um acampamento! E com um par de muletas! Por que não pensamos nisso antes?”.

Uma hora depois, em volta da fogueira depois do jantar, Poliana teve a resposta. Com o fogo crepitando diante de si e a suave e perfumada escuridão à sua volta, ela mais uma vez caiu perante a magia da feitiçaria que saía dos lábios de Jamie. E mais uma vez esqueceu das muletas dele.

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