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CAPÍTULO XXVI - JOHN PENDLETON

CAPÍTULO XXVI

John Pendleton

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Uma semana antes do Natal, Poliana enviou sua história (agora bem datilografada) para o concurso. Os vencedores do prêmio não seriam anunciados até abril, disse a revista, então Poliana se acomodou para a longa espera com a paciência filosófica de sempre.

“Estou feliz que seja tão demorado”, ela disse a si mesma. “Assim, durante todo o inverno poderei me divertir pensando que posso ganhar o primeiro lugar em vez de um dos outros. Posso muito bem acreditar que vou conseguir, e, se eu conseguir, não terei ficado infeliz. Se não conseguir... não terei tido todas essas semanas de infelicidade. De qualquer maneira, poderei ficar feliz com um dos prêmios menores, então.”

Não estava nos planos de Poliana não ganhar nenhum prêmio. A história, tão belamente datilografada por Milly Snow, parecia quase tão boa quanto em sua versão impressa... para Poliana.

O Natal não foi um momento feliz na propriedade dos Harrington naquele ano, apesar dos esforços extenuantes de Poliana. Tia Poli recusou-se absolutamente a qualquer tipo de comemoração e foi tão clara nisso, que Poliana não pôde nem mesmo lhe dar o mais simples presente.

Na noite de Natal, John Pendleton apareceu. A Sra. Chilton se desculpou, mas Poliana, mesmo completamente esgotada por um longo dia, o recebeu com alegria. No entanto, sua alegria se dissipou.

John Pendleton tinha trazido consigo uma carta de Jimmy, em que ele contava dos planos dele e da Sra. Carew para uma maravilhosa celebração de Natal no lar de meninas. Poliana, envergonhada por assumir isso, não estava de bom humor para ouvir sobre as comemorações de Natal naquele momento... muito menos de Jimmy.

John Pendleton, no entanto, não estava pronto para encerrar o assunto, mesmo depois de ler a carta. – Uma grande comemoração! – exclamou, quando dobrou a carta. – Sim, ótima – murmurou Poliana, tentando falar com o devido entusiasmo. – E é hoje à noite também, não é? Eu gostaria de estar com eles agora. – Sim – murmurou Poliana novamente, com entusiasmo ainda mais cuidadoso. – A Sra. Carew sabia o que estava fazendo quando pediu para Jimmy ajudar, imagino – riu o homem. – Fico pensando se Jimmy vai gostar de ser o Papai Noel para meia centena de jovens mulheres de uma só vez! – Ele vai adorar, claro! – Poliana ergueu o queixo levemente. – Talvez. Ainda assim, é um pouco diferente de construir pontes, não? – Ah, sim. – Mas eu arrisco dizer que Jimmy, e aposto também que aquelas garotas, nunca se divertiu tanto quanto hoje à noite. – S-sim, é claro – gaguejou Poliana, tentando manter o tremor de frustração longe de sua voz, e tentando não comparar sua noite triste em Beldingsville com a de ninguém, apesar de John Pendleton estar fazendo isso.

Houve uma breve pausa, durante a qual John Pendleton olhou de forma sonhadora para o fogo tremulante na lareira. – Ela é uma mulher maravilhosa... a Sra. Carew – disse ele por fim. – Sem dúvida! – desta vez, o entusiasmo na voz de Poliana era sincero. – Jimmy me escreveu antes contando sobre algo que ela fez para aquelas garotas – continuou o homem, ainda olhando para o

fogo. – Ele escreveu muito sobre isso e sobre ela. Disse que sempre a admirou, mas não tanto quanto agora, quando ele pôde ver quem ela realmente é. – Ela é uma querida... é isso que a Sra. Carew é – declarou Poliana, calorosamente. – Ela é uma querida em todos os sentidos, e eu a amo.

John Pendleton se mexeu de repente. Ele se virou para Poliana com um olhar estranhamente caprichoso em seus olhos. – Eu sei que você ama, minha querida. Aliás, talvez outros também a amem.

O coração de Poliana descompassou. Um pensamento repentino veio a ela com força impressionante e ofuscante. Jimmy! Será que John Pendleton queria dizer que Jimmy se interessava dessa maneira pela Sra. Carew? – O senhor quer dizer...? – ela hesitou. Não conseguiu terminar.

Com uma contração nervosa peculiar a ele, John Pendleton ficou de pé. – Quero dizer... as meninas, é claro – ele respondeu levemente, ainda com aquele sorriso caprichoso. – Você não acha que aquelas cinquenta garotas... morrem de amor por ela?

Poliana disse “sim, é claro” e murmurou algo mais apropriado, em resposta à próxima observação de John Pendleton. Mas seus pensamentos estavam em tumulto, e ela deixou o homem falar durante o resto da noite.

John Pendleton não parecia contrário a isso. Inquieto, deu uma volta ou duas na sala, depois se sentou no lugar de sempre. Quando falou, tratou do seu antigo assunto, a Sra. Carew. – Estranho... aquele Jamie dela, não é? Será que é mesmo o sobrinho dela.

Como Poliana não respondeu, o homem continuou, depois de um momento de silêncio. – Ele é um bom sujeito, de qualquer maneira. Gosto dele. Há algo de bom e genuíno nele. Ela é muito ligada ao rapaz. É muito óbvio, seja realmente parente ou não.

Houve outra pausa, então, numa voz ligeiramente alterada, John Pendleton disse:

– Ainda é esquisito, quando se pensa nisso, que ela nunca se casou novamente. Ela certamente é uma mulher muito bonita. Você não acha? – Sim... ela é – precipitou-se Poliana. – Uma... uma mulher muito bonita.

Houve uma pequena pausa na última frase de Poliana. Naquele instante, ela avistou o próprio rosto no espelho do outro lado... ela nunca se reconhecera como “uma mulher muito bonita”.

John Pendleton continuou refletindo, feliz, com os olhos ardentes. Se ele recebia resposta ou não, isso não parecia incomodá-lo. Se foi ouvido ou não, era difícil saber. Aparentemente, ele queria apenas conversar. Por fim, ele se levantou, com relutância, e disse boa-noite.

Por uma exaustiva meia hora, Poliana desejou que ele fosse embora, para que pudesse ficar sozinha. Depois que ele se foi, ela quis que ele voltasse. Ela descobriu subitamente que não queria ficar sozinha com seus pensamentos.

Estava maravilhosamente claro para Poliana agora. Não havia dúvida. Jimmy estava interessado na Sra. Carew. Era por isso que estava tão mal-humorado e inquieto depois que ela tinha ido embora. Por isso veio tão poucas vezes visitar sua velha amiga. Foi por isso...

Pequenas e incontáveis situações do verão passado voltaram à memória de Poliana, testemunhas mudas que não seriam negadas.

E por que ele não deveria se interessar por ela? A Sra. Carew era certamente linda e encantadora. É verdade que ela era mais velha que Jimmy. Mas homens jovens já se casaram com mulheres muito mais velhas do que ela diversas vezes. E se eles se amavam...

Poliana chorou até dormir naquela noite.

De manhã, bravamente, ela tentou encarar toda a situação. Ela até tentou, com um sorriso choroso, colocá-la à prova do Jogo do Contente. Lembrou então de algo que Nancy havia dito anos antes: “Se há um grupo de pessoas no mundo para o qual aquele seu Jogo do Contente não funciona, seria para casais brigões!”.

“Não que estejamos brigando, ou que sejamos "um casal", pensou Poliana, enrubescida. “Mas, do mesmo jeito, fico feliz porque ele está feliz e porque ela também está, pois...”, Poliana não conseguiu terminar a frase nem para si mesma.

Com a certeza agora de que Jimmy e a Sra. Carew se interessavam um pelo outro, Poliana tornou-se peculiarmente sensível a tudo que fortalecesse essa crença. E atenta a isso, ela encontrou o que esperava. Primeiro as cartas da Sra. Carew:

Estou vendo muito seu amigo, o jovem Pendleton. E eu estou gostando dele cada vez mais. Gostaria, apenas por curiosidade, de descobrir a origem dessa sensação indescritível de que eu já o vi em algum lugar.

Muitas vezes, depois disso, ela o mencionou novamente. Para Poliana, a própria causalidade dessas menções lhe trazia dor. Para ela isso mostrava inequivocamente que Jimmy e a presença dele agora eram corriqueiros para a Sra. Carew. Poliana encontrou em outras fontes também combustível para as chamas de suas suspeitas. Cada vez mais frequentemente, John Pendleton “aparecia” com suas histórias sobre Jimmy e sobre o que Jimmy estava fazendo; e sempre mencionava a Sra. Carew. A pobre Poliana se perguntava se ele não tinha outra coisa sobre o que falar a não ser sobre a Sra. Carew e Jimmy, tamanha a frequência com que um ou outro desses nomes surgia em seus lábios.

Havia também as cartas de Sadie Dean, que contavam sobre Jimmy e sobre o que ele estava fazendo para ajudar a Sra. Carew. Até mesmo Jamie, que escrevia ocasionalmente, tinha a sua pequena contribuição, pois escreveu uma noite:

São dez horas. Estou sentado aqui sozinho esperando a Sra. Carew voltar para casa. Ela e Pendleton foram para um de seus eventos sociais habituais lá no lar.

Do próprio Jimmy, ouvia muito pouco. Por isso dizia a si mesma, embora tristemente, que poderia ficar feliz por isso.

“Bem, se ele não pode escrever sobre nada, a não ser a Sra. Carew e aquelas meninas, fico feliz que ele não escreva com muita frequência!”, suspirou.

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