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CAPÍTULO XXVIII - JIMMY E JAMIE

CAPÍTULO XXVIII

Jimmy e Jamie

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Poliana não era a única a achar aquele inverno rigoroso. Em Boston, Jimmy Pendleton, apesar de seus esforços árduos para ocupar seu tempo e seus pensamentos, estava descobrindo que nada apagava de sua visão certo par de olhos azuis risonhos e nada tirava de sua memória certa voz alegre e amada.

Jimmy disse a si mesmo que, se não fosse pela Sra. Carew e por poder ajudá-la, a vida não valeria a pena. Mesmo em sua casa, nem tudo era alegria, pois sempre havia Jamie, que o fazia pensar em Poliana... e a ter pensamentos infelizes.

Completamente convencido de que Jamie e Poliana se interessavam um pelo outro e de que ele deveria honrar sua atitude de dar chance ao rapaz e deixar seu caminho livre, nunca lhe ocorreu perguntar mais sobre o assunto. De Poliana, ele não gostava de falar nem ouvir. Ele sabia que Jamie e a Sra. Carew recebiam notícias dela, e quando falavam sobre a garota, Jimmy se forçava a escutar, apesar de sua mágoa. Mas ele sempre mudava de assunto o mais rápido possível, e suas cartas a ela se limitavam às mais breves e raras palavras. Para Jimmy, se Poliana não poderia ser dele, era somente uma fonte de dor e sofrimento. Ele ficou feliz quando chegou a hora de deixar Beldingsville e retomar seus estudos em Boston. Era uma tortura estar tão perto de Poliana mas ao mesmo tempo tão longe.

Em Boston, com a agitação de sua mente inquieta que busca distrair-se de si mesma, ele se dedicara à execução dos planos da

Sra. Carew para suas amadas meninas. Assim, o tempo que lhe sobrava de suas próprias tarefas ele dedicava a esse trabalho, para o deleite e gratidão da Sra. Carew.

E assim, para Jimmy, o inverno havia passado e a primavera chegara... uma primavera jovial e florescente, cheia de brisas suaves, chuvas tranquilas e botões verdes e tenros expandindo-se em flor e fragrância. Para Jimmy, no entanto, não passou de uma primavera, pois em seu coração ainda não havia nada além de um inverno sombrio de descontentamento.

“Se ao menos eles resolvessem as coisas e anunciassem o noivado, de uma vez por todas”, murmurou Jimmy para si mesmo, com cada vez mais frequência nos últimos dias. “Se ao menos eu tivesse certeza de algo, suportaria melhor!”

Então, um dia, no final de abril, conseguiu o que queria. Em parte: teve certeza de algo.

Eram dez horas da manhã de um sábado, e Mary, na casa da Sra. Carew, o levou para a sala de música com um bem ensaiado: – Eu direi a Sra. Carew que está aqui, senhor. Ela está esperando por você, eu acho.

Na sala de música, Jimmy paralisou ao ver Jamie ao piano, com os braços apoiados no suporte e a cabeça inclinada sobre eles. Pendleton virou-se para ir embora quando Jamie levantou a cabeça, trazendo à vista duas bochechas coradas e um par de olhos febris e brilhantes. – Carew – gaguejou Pendleton, horrorizado. – Aconteceu alguma coisa? – Se aconteceu? Aconteceu! – disparou o jovem, esticando ambas as mãos, com uma carta em cada uma delas. – Aconteceu tudo! Pense se tivesse passado toda sua vida em uma prisão, e de repente visse as grades escancaradas? Não imaginaria a mesma coisa se em apenas um minuto pudesse pedir a garota que você ama em casamento? Não pensaria se... ouça! Deve estar achando que sou louco, mas não sou. Bem, talvez esteja louco de alegria. Queria te contar. Posso? Preciso contar a alguém!

Pendleton levantou a cabeça. Era como se, inconscientemente, estivesse se preparando para um golpe. Ele ficou um pouco pálido, mas sua voz era bastante firme quando respondeu:

– Claro que pode, amigo. Ficaria... feliz em ouvir.

Carew, no entanto, mal esperou sua resposta. Ele estava com pressa, ainda um pouco incoerente. – Não é muita coisa para você, é claro. Você tem as duas pernas e sua liberdade. Você tem suas ambições e suas pontes. Mas eu... para mim é tudo. É uma chance de viver a vida de um homem e fazer o trabalho de um homem, talvez... mesmo que não sejam represas e pontes. É alguma coisa!... e é algo que provei agora que posso fazer! Ouça. Nessa carta, há o anúncio de que uma pequena história minha ganhou o primeiro prêmio... Três mil dólares, em um concurso. Naquela outra carta, uma grande editora aceitou com entusiasmo meu primeiro livro manuscrito para publicação. E as duas chegaram hoje de manhã. Consegue imaginar o quanto estou feliz? – Não! De fato, não! Parabéns, Carew, de todo o coração – disparou Jimmy, calorosamente. – Obrigado... é para comemorar. Pense no que isso significa para mim. Pense no que isso significa se, pouco a pouco, eu conseguir ser independente, como um homem. Pense no que isso significa se, algum dia, eu puder deixar a Sra. Carew orgulhosa e feliz por ter dado a um rapaz com restrições um lugar em sua casa e no seu coração. Pense no que isso significa para mim poder dizer à garota que eu amo que eu realmente a amo. – Sim... sim, sem dúvida! – Jimmy falou com firmeza, embora tivesse ficado muito pálido. – Claro, talvez eu não fale com ela, mesmo agora – resumiu Jamie, com uma sombra no brilho de seu semblante. – Eu ainda estou preso a... elas. – Ele bateu nas muletas ao seu lado. – Não posso esquecer, claro, aquele dia no bosque no verão passado, quando vi Poliana... acho que sempre vou correr o risco de ver a garota que eu amo em perigo e não conseguir salvá-la. – Ah, mas Carew... – começou o outro com a voz rouca.

Carew levantou uma mão decisiva. – Eu sei o que você quer dizer. Mas não diga. Você não entende. Você não está preso a um par de muletas. Você a resgatou, não eu. Eu me dei conta, então, de como seria sempre comigo e... Sadie. Eu teria que ficar de lado e ver os outros...

– Sadie? – cortou Jimmy, bruscamente. – Sim, Sadie Dean. Está surpreso. Não sabia? Você não suspeitava sobre... como eu me sentia em relação a Sadie? – disparou Jamie. – Quer dizer que escondi tão bem? Eu tentei, mas... – ele terminou com um sorriso fraco e um gesto meio desesperado. – Você escondeu tudo muito bem, velho amigo... de mim, de qualquer forma – exclamou Jimmy, em tom de brincadeira. A cor voltou para o rosto de Jimmy como uma inundação, e seus olhos de repente ficaram muito brilhantes. – Então é Sadie Dean. Que bom! Parabéns de novo e de novo e de novo, como Nancy diz. – Jimmy estava balbuciando de alegria e empolgação agora, tão ótima e maravilhosa fora a reação dentro dele ao descobrir que era Sadie, não Poliana, que Jamie amava. Jamie enrubesceu e balançou a cabeça um pouco tristemente. – Nada de parabéns... ainda. Ainda não falei com... ela. Mas acho que ela precisa saber. Achei que todo mundo soubesse. Diga, quem você achou que era, se não... Sadie? – Jimmy hesitou.

Então, um pouco precipitadamente, ele disse: – Pensei em... Poliana.

Jamie sorriu e franziu os lábios. – Poliana é uma garota encantadora, e eu a amo... mas não desse jeito, e mais do que ela me ama. Além disso, acho que tem outra pessoa interessado nela, hein?

Jimmy enrubesceu como um garoto feliz e consciente. – Tem? – ele desafiou, tentando tornar sua voz corretamente impessoal. – Claro! John Pendleton. – John Pendleton! – Jimmy girou bruscamente. – O que tem John Pendleton? – perguntou uma nova voz; e a Sra. Carew aproximou-se com um sorriso.

Jimmy, para quem o mundo se fragmentara em torno dos ouvidos, pela segunda vez em cinco minutos, mal se recompôs o suficiente para uma pequena palavra de saudação. Mas Jamie, desanimado, virou-se com um ar triunfante de segurança. – Nada, só acabei de dizer que eu acreditava que John Pendleton teria algo a dizer sobre o amor de Poliana por alguém... que não fosse ele.

– Poliana! John Pendleton! – A Sra. Carew sentou-se de repente na cadeira mais próxima a ela. Se os dois homens diante dela não estivessem tão absortos em seus próprios assuntos, teriam notado que o sorriso desaparecera dos lábios da Sra. Carew e que um olhar estranho, quase de medo, surgira em seus olhos. – Certamente – sustentou Jamie. – Vocês não viram nada no verão passado? Ele não passava muito tempo com ela? – Pensei que ele tivesse passado muito tempo com... todos nós – murmurou a Sra. Carew, um pouco fraca. – Não tanto quanto com Poliana – insistiu Jamie. – Além disso, a senhora se esqueceu daquele dia em que estávamos conversando sobre o casamento de John Pendleton, e Poliana enrubesceu e gaguejou e disse finalmente que ele havia pensado em se casar... uma vez. Bem, eu me perguntei se não havia algo entre eles. Não se lembra? – S-sim, acho que sim... agora que você está falando nisso – murmurou a Sra. Carew novamente. – Mas eu tinha... esquecido. – Mas posso explicar – cortou Jimmy, molhando os lábios secos. – John Pendleton teve um caso de amor uma vez, mas foi com a mãe de Poliana. – A mãe de Poliana! – exclamaram as duas vozes surpresas. – Sim. Ele a amou alguns anos atrás, mas ela não se interessava por ele. Gostava de outro... um pastor, e se casou com ele... o pai de Poliana. – Ah! – respirou a Sra. Carew, inclinando-se para a frente de repente em sua cadeira. – E é por isso que ele... nunca se casou? – Sim – afirmou Jimmy. – Então, não é que ele se interesse por Poliana. Na verdade, era a mãe dela. – Na verdade, acho que sim – declarou Jamie, abanando a cabeça sabiamente. – Acho que isso torna a minha hipótese ainda mais forte. Ouça. Ele já amou a mãe dela uma vez. Mas não pôde ficar com ela. O que seria mais natural do que amar a filha dela agora... e conquistá-la? – Ah, Jamie, você é um contador de histórias incorrigível! – repreendeu a Sra. Carew, com uma risada nervosa. – Não estamos falando de um romance barato. É a vida real. Ela é jovem demais para ele. Ele deveria se casar com uma mulher, não uma menina...

isto é, se um dia ele se casar com alguém, quero dizer – ela corrigiu gaguejando, com uma inundação repentina de rubor em seu rosto. – Talvez, mas e se o amor dele for uma menina? – argumentou Jamie, teimosamente. – Pare para pensar. Já recebemos alguma carta dela que não falasse da presença dele por lá? E a senhora sabe que ele sempre fala de Poliana em suas cartas.

A Sra. Carew levantou-se subitamente. – Sim, eu sei – ela murmurou, com um gesto meio estranho, como se jogando algo desagradável de lado. – Mas... – ela não terminou sua frase, e um momento depois saiu da sala.

Quando ela voltou cinco minutos depois, descobriu, para sua surpresa, que Jimmy tinha ido embora. – Pensei que ele iria com a gente no piquenique das meninas! – exclamou. – Eu também – disse Jamie. – Mas ele veio para dizer, ou se desculpar, sobre uma inesperada saída da cidade, e para lhe dizer que não poderia ir conosco. De qualquer forma, logo em seguida ele se foi. Olha... – os olhos de Jamie estavam brilhando de novo... – Não sei se entendi direito. Estava pensando em outra coisa. – E alegremente mostrou para ela as duas cartas que ainda mantinha nas mãos. – Ah, Jamie! – respirou a Sra. Carew, quando leu. – Estou muito orgulhosa de você! – De repente, seus olhos se encheram de lágrimas ao ver a inefável alegria que iluminava o rosto de Jamie.

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