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CAPÍTULO XXX - ESCLARECIMENTO DE JOHN PENDLETON

CAPÍTULO XXX

Esclarecimento de John Pendleton

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Jimmy voltou a Boston naquela noite em um estado que era uma mistura muito tentadora de felicidade, esperança, irritação e rebeldia. Para trás, deixou uma garota em um estado de espírito menos invejável. Poliana, tremulamente feliz com o maravilhoso pensamento de amor de Jimmy por ela, ainda estava tão aterrorizada com o possível amor de John Pendleton, que não havia uma emoção de alegria que não carregasse uma pontada de medo.

Felizmente para todos os interessados, no entanto, esse estado de coisas não durou muito. Por acaso, John Pendleton, em cujas mãos inconscientes estava a solução, menos de uma semana depois da visita apressada de Jimmy, esclareceu todo o mal-entendido.

Era final da tarde de quinta-feira quando John Pendleton foi visitar Poliana. Assim como Jimmy, encontrou Poliana no jardim e foi direto até ela.

Poliana, olhando em seu rosto, sentiu um súbito aperto no coração.

“Chegou... a hora chegou!”, estremeceu. Involuntariamente ela se virou como se fugisse. – Poliana, espere um minuto, por favor – chamou o homem, apressando os passos. – Vim aqui para te ver. Venha, não conversar no gazebo? – sugeriu ele, virando-se. – Quero falar com você.

– Ora, s-sim, claro – gaguejou Poliana, com alegria forçada. Poliana sabia que estava enrubescendo, mas preferia não ficar assim naquele momento. Também não ajudou em nada ele ter escolhido o gazebo para conversar. O gazebo era agora, para Poliana, sagrado por causa de certas lembranças queridas de Jimmy. Ela pensava: “Por que aqui?” e estremecia freneticamente. Mas em voz alta ela disse, ainda de forma alegre: – Está uma noite linda, não é?

Não houve resposta. John Pendleton entrou no gazebo e sentou-se em uma cadeira rústica, sem nem mesmo esperar por Poliana... o que era inusitado da parte dele. Poliana, lançando um olhar nervoso para seu rosto, achou aquela cena tão assombrosamente parecida com a velha e amarga lembrança que tinha dele da época de sua infância, que proferiu uma exclamação involuntária.

Ainda assim, John Pendleton não prestou atenção. Sério, ele se sentou envolto em pensamentos. Por fim, levantou a cabeça e olhou sombriamente para os olhos assustados de Poliana. – Poliana. – Sim, Sr. Pendleton. – Você se lembra do tipo de homem que eu era quando você me conheceu, anos atrás? – Ora, s-sim, acho que sim. – Um espécime deliciosamente agradável da humanidade, não era?

Apesar de sua perturbação, Poliana sorriu fracamente: – Eu... eu gostava do senhor. – Só quando as palavras foram pronunciadas, ela percebeu como soariam. Ela se esforçou então, freneticamente, para recuperá-las ou modificá-las e quase adicionou um “isto é, quero dizer, eu gostava do senhor, na época!”, quando parou a tempo: certamente não ajudaria em nada! Ela escutou então, com medo, as próximas palavras de John Pendleton. Elas vieram quase imediatamente. – Eu sei disso... abençoado seja seu pequeno coração! E foi minha salvação. Eu me pergunto, Poliana, se conseguiria mostrar a você o que sua confiança e simpatia infantil fizeram por mim.

Poliana gaguejou um protesto confuso, mas ele o afastou sorrindo de lado. – Ah, sim, fizeram! Foi você e ninguém mais. E me pergunto se você se lembra de outra coisa também – resumiu o homem, depois de um momento de silêncio, durante o qual Poliana olhou furtivamente, mas ansiosa, para a porta. – Você se lembra de quando eu disse que nada além da mão e do coração de uma mulher, ou a presença de uma criança, poderia construir um lar?

Poliana sentiu o sangue subir para seu rosto. – S-sim, n-não... quero dizer, sim, eu me lembro – gaguejou. – Mas eu... eu não acho que seja sempre assim. Quero dizer... tenho certeza de que sua casa agora é... é adorável como ela é, e... – É da minha casa mesmo que estou falando, criança – interrompeu o homem, impaciente. – Poliana, você sabe o tipo de lar que eu desejava, e como essas esperanças foram jogadas no chão. Não pense, querida, que estou culpando sua mãe. Não estou. Ela apenas seguiu o coração dela, e fez certo. Ela fez a escolha mais sábia, de qualquer maneira, como foi provado pelo meu triste desperdício de vida por causa dessa decepção. Afinal, Poliana, não é engraçado – acrescentou John Pendleton, com a voz cada vez mais macia – que tenha sido a mãozinha de sua própria filha que finalmente me levou ao caminho da felicidade?

Poliana umedeceu os lábios convulsivamente. – Ah, mas Sr. Pendleton, eu... eu...

Mais uma vez o homem afastou seus protestos com um gesto sorridente. – Sim, foi, Poliana, sua mãozinha há muito tempo... você e seu Jogo do Contente. – A-ah! – Poliana relaxou visivelmente em sua cadeira. O terror em seus olhos começou lentamente a retroceder. – E assim, todos estes anos, tenho, aos poucos, me tornado um homem diferente, Poliana. Mas tem uma coisa que não mudou, minha querida. – Ele fez uma pausa, desviou o olhar e voltou a olhar para o rosto dela. – Eu ainda acho que são necessários a mão e o coração de uma mulher ou a presença de uma criança para construir um lar.

– Sim; m-mas você t-tem a presença da criança – adiantou-se Poliana, com o terror voltando a seus olhos. – Tem o Jimmy.

O homem deu uma risada divertida. – Eu sei, mas... acho que nem você diria que Jimmy é... é exatamente a presença de uma criança agora – ele comentou. – N-não, claro que não. – Além disso... Poliana, eu já me decidi. Eu preciso ter a mão e o coração de uma mulher. – Sua voz diminuiu e tremeu um pouco. – Ah-h, precisa? – Os dedos de Poliana se encontraram e apertaram um ao outro em um abraço espasmódico. John Pendleton, no entanto, parecia não ouvir nem ver. Ele ficou de pé e andava nervosamente de um lado para o outro no pequeno gazebo. – Poliana – ele parou e olhou para ela –, se... se você fosse eu, e quisesse pedir a mulher que você ama para que viesse e transformasse sua antiga casa cinzenta de pedra em um lar, como faria?

Poliana quase levantou da cadeira. Seus olhos procuraram a porta, desta vez aberta e ansiosamente. – Ah, mas, Sr. Pendleton, eu não faria nada, nada – gaguejou, um pouco descontrolada. – Tenho certeza de que é... muito mais feliz... do jeito que está.

O homem olhou surpreso, depois riu severamente. – Minha nossa, Poliana, é tão ruim assim? – ele perguntou. – R-ruim? – Poliana parecia estar prestes a voar dali. – Sim. Esse é o seu jeito de tentar amenizar o golpe de me dizer que ela não me aceitaria, afinal? – Ah, n-não... claro que não. Ela diria sim... ela teria de dizer sim, sabe... – explicou Poliana, com uma seriedade aterrorizada. – Mas estava pensando... quero dizer, eu estava pensando que se... se a garota não te amasse, o senhor realmente seria mais feliz sem ela... e... – com o olhar que surgiu no rosto de John Pendleton, Poliana parou de repente. – Eu não deveria querer ficar com ela, se não me amasse, Poliana. – Não, também acho que não. – Poliana começou a parecer um pouco menos distraída.

– Além disso, ela não é uma menina – continuou John Pendleton. – Ela é uma mulher madura que, presumidamente, teria a própria opinião. – A voz do homem era grave e ligeiramente reprovadora. – Ah-h-h! Ah! – exclamou Poliana, com a felicidade surgindo em seus olhos, saltando em um lampejo de inefável alegria e alívio. – Então o senhor ama alguma... – com um esforço quase sobre-humano, Poliana sufocou o “outra” antes da palavra deixar seus lábios sorridentes. – Amar alguém! Eu não estava dizendo que amava? – riu John Pendleton, meio irritado. – O que quero saber é... ela poderia me amar também? Por isso estava contando com sua ajuda, Poliana. Veja, ela é uma querida amiga sua. – É? – Poliana gorgolejou. – Então, ela só poderia te amar. Vamos fazê-la amar! Talvez ela já o ame, de qualquer maneira. Quem é ela?

Houve uma longa pausa antes que a resposta chegasse. – Eu creio que, afinal, Poliana, eu não vou... sim, eu vou. Você não consegue adivinhar?... A Sra. Carew. – Ah! – respirou Poliana, com uma expressão de alegria desanuviada. – Que perfeitamente adorável! Estou tão feliz, feliz, feliz! Uma longa hora depois, Poliana mandou uma carta para Jimmy. Era confusa e incoerente... uma série de frases incompletas, ilógicas, mas timidamente alegres. Jimmy entendeu menos pelo que estava escrito na carta e mais pelo que não estava escrito. Afinal, ele não precisava saber de mais nada:

"Ah, Jimmy, ele não me ama nem um pouco. É outra pessoa. Eu não posso te dizer quem é... mas o nome dela não é Poliana."

Jimmy ainda tinha tempo de pegar o trem das sete para Beldingsville... e o pegou.

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