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CAPÍTULO XXXII - UM NOVO ALADIM

CAPÍTULO XXXII

Um novo Aladim

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Quaisquer que fossem os preparativos de John Pendleton para a partida – e ele tinha outros dois –, foram feitos abertamente, com duas exceções. As exceções eram duas cartas, uma endereçada a Poliana e uma à senhora Poli Chilton. Essas cartas, junto com instruções cuidadosas e minuciosas, foram entregues nas mãos de Susan, sua governanta, para que as levasse depois que partissem. Mas Jimmy não sabia disso. Os viajantes estavam se aproximando de Boston quando John Pendleton disse a Jimmy: – Meu filho, preciso te pedir um favor... ou melhor, dois. Primeiro, melhor não dizermos nada à Sra. Carew até amanhã à tarde. Segundo, deixe-me ir primeiro e ser seu... em... embaixador. Assim, você só deve aparecer pessoalmente depois, digamos... das quatro horas. Pode ser? – Sim, claro – respondeu Jimmy, prontamente. – Não só faço, mas com prazer. Estava me perguntando como quebraria o gelo, e estou feliz por ter você para me ajudar. – Ótimo! Tentarei falar com... a sua tia ao telefone amanhã de manhã e marcar um encontro.

Fiel à sua promessa, Jimmy não apareceu na mansão dos Carew até as quatro horas da tarde seguinte. Mesmo depois sentiu-se tão envergonhado, que passou duas vezes pela casa antes de ganhar coragem suficiente para subir os degraus e tocar a campainha. Na presença da Sra. Carew, no entanto, logo ele se comportou natural-

mente, tal foi a rapidez com que ela o deixou à vontade e a habilidade com que lidou com a situação. Na verdade, logo no início, houve algumas lágrimas e algumas exclamações incoerentes. Até John Pendleton teve que procurar apressadamente o seu lenço. Mas, em pouco tempo, restabeleceu-se a tranquilidade, e apenas o brilho terno nos olhos da Sra. Carew e a felicidade em êxtase de Jimmy e John Pendleton foram mantidos para marcar a ocasião como algo fora do comum. – Você está sendo muito gentil... sobre o Jamie! – exclamou a Sra. Carew, depois de um momento. – Jimmy... (continuarei a chamá-lo de Jimmy, por razões óbvias, além disso, prefiro assim, por você), na verdade, você está certo, se estiver disposto a fazê-lo. Eu também estou fazendo alguns sacrifícios – continuou ela, chorosa. – Porque eu teria muito orgulho em apresentar você ao mundo como meu sobrinho. – Verdade, tia Ruth, eu... – com uma exclamação meio sufocada de John Pendleton, Jimmy parou. Ele viu que Jamie e Sadie Dean haviam entrado na sala. O rosto de Jamie estava muito pálido. – Tia Ruth! – ele exclamou, olhando para um e para o outro com olhos assustados. – Tia Ruth! Quer dizer...

Todo o sangue se esvaiu do rosto da Sra. Carew e do de Jimmy também. John Pendleton, no entanto, avançou alegremente. – Sim, Jamie, por que não? Eu ia te contar logo, de qualquer maneira, então vou contar agora. – (Jimmy engasgou e deu um passo à frente, mas John Pendleton o silenciou com um olhar.) – Um momento atrás a Sra. Carew me fez o homem mais feliz do mundo dizendo sim a uma pergunta que fiz. Agora, como Jimmy me chama de “tio John”, por que ele não poderia começar imediatamente a chamar a Sra. Carew de “tia Ruth”? – Ah! Ah-h! – exclamou Jamie, em claro deleite, enquanto Jimmy, sob o olhar firme de John Pendleton, conseguiu se controlar sem deixar escapar sua surpresa e felicidade. Naturalmente, também, naquele momento, a Sra. Carew tornou-se o centro do interesse de todos, e o perigo foi superado. Apenas Jimmy ouviu John Pendleton falar baixo em seu ouvido, um pouco depois:

– Então, veja você, seu jovem malandro, eu não vou te perder, afinal. Somos nós três agora.

Todos ainda felicitavam o novo casal, quando Jamie, com uma nova luz nos olhos, virou-se sem aviso para Sadie Dean. – Sadie, vou contar a eles agora – declarou triunfante. Com o rosto brilhante de Sadie contando a história afetuosa mesmo antes que os lábios ansiosos de Jamie pudessem formar as palavras, houve mais felicitações, e todos estavam sorrindo e cumprimentando uns os outros.

Jimmy, no entanto, logo começou a olhá-los com aflição, com saudade. – Tudo isso é muito bom para vocês – reclamou ele. – Cada um de vocês tem um ao outro. Mas e eu? Só posso dizer que se certa jovem que eu conheço estivesse aqui, talvez pudesse dizer algo também. – Só um minuto, Jimmy – interpôs John Pendleton. – Vamos imaginar que eu sou Aladim, então deixe-me esfregar minha lâmpada. Sra. Carew, tenho sua permissão para chamar a Mary? – Ora, s-sim, certamente – murmurou a senhora, numa surpresa intrigada que encontrou resposta no rosto dos demais.

Um momento depois, Mary estava na porta. – Parece que ouvi a senhorita Poliana chegar momentos atrás – disse John Pendleton. – Sim, o senhor está certo. Ela está aqui. – Poderia pedir para ela vir até aqui, por favor? – Poliana aqui? – exclamou um coro espantado, enquanto Mary desaparecia. Jimmy ficou muito branco, depois muito vermelho. – Sim. Mandei um bilhete para ela ontem através de minha governanta. Tomei a liberdade de pedir a ela que viesse alguns dias para ver você, Sra. Carew. Achei que a menina precisava de um descanso. Minha governanta tem instruções para ficar e cuidar da Sra. Chilton. Também escrevi um bilhete para a própria senhora Chilton – acrescentou ele, virando-se de repente para Jimmy, com um significado inconfundível nos olhos. – Achei que, depois de ler o que escrevi, ela deixaria Poliana vir. Parece que ela deixou, porque... aqui está ela.

E lá estava ela na porta, enrubescida, com os olhos arregalados, mas ainda um pouco tímida e confusa. – Poliana, querida! – Foi Jimmy que se adiantou para encontrá-la, e que, sem hesitar, tomou-a pelos braços e a beijou. – Ah, Jimmy, diante de todas essas pessoas! – respirou Poliana em protesto envergonhado. – Ahhh! Eu a teria beijado mesmo se estivesse no meio da... da rua Washington – prometeu Jimmy. – Aliás, olhe para... “todas essas pessoas” e veja se precisa se preocupar com elas.

E Poliana olhou; e viu:

Em uma janela, de costas, estavam Jamie e Sadie Dean; em outra janela, também de costas, estavam a Sra. Carew e John Pendleton.

Poliana sorriu... tão adoravelmente que Jimmy a beijou mais uma vez. – Ah, Jimmy, não é tudo lindo e maravilhoso? – murmurou de forma suave. – E tia Poli... ela sabe de tudo agora e está tudo bem. Acho que teria ficado tudo bem, de qualquer forma. Ela estava começando a se sentir tão mal... por mim. Agora ela está tão feliz. E eu também estou. Jimmy, estou feliz, feliz, feliz por tudo agora!

Jimmy recuperou o fôlego com uma alegria contundente. – Deus permita, garota, que seja sempre assim... com você – engasgou, instável, abraçando-a firmemente. – Tenho certeza de que será – suspirou Poliana, com olhos brilhantes de confiança.

Caros leitor e leitora

Preparem-se para conhecer a história de Poliana, a menina que certamente levará você a refletir acerca das possibilidades que a vida nos oferece todos os dias para sermos felizes, ainda que não percebamos por estarmos ocupados demais com nossas tarefas e angústias diárias. Por meio de seu otimismo contagiante, a menina falante e alegre acabará por transformar a vida de todos ao seu redor, fazendo com que uma cidade inteira passe a ser mais feliz jogando seu “jogo do contente”, que consiste no simples exercício de buscar o lado bom de todas as coisas que possam acontecer. E acredite, ele existe.

Publicada pela primeira vez no Estados Unidos em formato de livro em 1913, a história escrita por Eleanor H. Porter com o título Poliana (Pollyanna, no original) acabou por influenciar gerações, levando-as a acreditar na beleza das coisas, por mais que em alguns momentos elas não pareçam belas. Tanto foi o sucesso da primeira edição da obra que dois anos depois, em 1915, a autora publicava uma espécie de continuação da história da personagem, que

agora crescia e passava a ver seu otimismo sendo colocado em xeque diante dos medos, perdas e tristezas próprias do mundo adulto, em especial o despertar da vida amorosa.

Em Poliana cresceu, o leitor viverá a transição de vida da personagem, que agora vai deixando a adolescência e passando a conviver com as circunstâncias da vida adulta, entre eles as perdas, os conflitos familiares, as amizades e a descoberta amorosa. Enquanto a obra de estreia em 1913 trazia a infância sofrida vivida da personagem, desde a morte do pai às difíceis experiências vividas morando com sua tia rica e hostil, a continuação de 1915 marca a maturação da personagem, que agora se percebe responsável por retribuir a todos o bem que lhe parecem despertar.

Assim, a personagem criada pela escritora estadunidense Eleanor H. Porter há mais de um século vem conquistando mais e mais leitores pelo mundo através de gerações. Por meio de inúmeras adaptações que passam pelo universo do cinema e da TV, as aventuras da menina encantadora e alto astral vão ensinar ao leitor uma aula de empatia e capacidade de compreender que a vida é cheia de altos e baixos e

que não há mal que possa ameaçar a beleza da vida. E é essa capacidade de despertar em todos que a cercam a capacidade de enxergar o lado bom de todas as coisas, até mesmo nas horas ruins, que vai encantar e nos fazer acreditar que o mundo poderia ser bem melhor, se houvesse mais Polianas.

Eleanor Hodgman Porter, autora da obra, nasceu em Littleton, cidade estadunidense de Nova Hampshire, em 1868. Ainda menina, mostrou grande talento para a música, chegando a estudar no New England Conservatory of Music, renomada escola que frequentou durante anos, chegando a construir fama como cantora na localidade em que morava. Aos 24 anos casou-se com John Lyman Porter, importante homem de negócios com o qual acabou se mudando para o Estado vizinho de Massachusetts.

No início do século XX, deixando para trás suas possibilidades no universo do canto, surgiu para a literatura com a publicação de alguns de seus contos em revistas e jornais, até que em 1907 acaba por publicar sua primeira obra, Correntes cruzadas. Durante os anos seguintes manteve intensa produção literária, publicando ao menos mais quatro

obras, até que em 1913 publicou pela primeira vez Poliana, popularizando-se e tornando-se sucesso de vendas nos anos que se seguiram. A obra chegou a vender cerca de 1 milhão de exemplares no ano em que foi publicada e figurou na lista de títulos mais vendidos nos Estados Unidos durante vários anos seguidos.

Poliana Whittier logo seduziu os leitores com seu jeito meigo e dócil de amar as pessoas e o mundo, mostrando assim uma contagiante alegria de vida. Tanto foi o sucesso que dois anos depois a autora dava continuidade à história da personagem, obtendo o mesmo êxito e consolidando-se como ícone da literatura infantojuvenil nos Estados Unidos e no mundo, sendo traduzida para diversos países, além de adaptada para expressões como o cinema, o teatro e a música.

A autora não deixou mais de ser lida e ainda manteve intensa produção, publicando ao todo mais de trinta livros infantojuvenis e figurando como escritora em um contexto em que predominavam os autores homens. Eleanor Porter morreu em 1920 no estado de Massachusetts, em

Cambridge, famosa por sua renomada universidade. O nome da autora acabou figurando entre os maiores fenômenos literários infantojuvenis do século XX e ainda hoje acaba por influenciar produções mundo afora.

Publicadas na primeira metade da segunda década do século XX, o sucesso quase que imediato das histórias de Poliana por certo se deve em muito à sua temática repleta de esperança e inocência em meio a um contexto histórico marcado por conflitos em nível mundial. Na Europa, a Primeira Guerra Mundial entrava em seu momento decisivo, os Estados Unidos, país da autora, lucrava e se desenvolvia, fornecendo armas e alimentos aos países envolvidos no conflito Europeu e o Brasil vivia seus anos pré-modernistas, politicamente representados pelo domínio de Minas e São Paulo no cenário político e artisticamente na figura de escritores como Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Lobato, este último o responsável pela tradução das histórias de Poliana no Brasil.

Com isso a indústria estadunidense contribuía para fomentar a economia e o desenvolvimento social e militar do

país, o que acabou por torná-lo uma das principais potências mundiais. No entanto, esse clima de prosperidade acabou envolvendo cada vez o mais país no conflito, fazendo com que em 6 de abril de 1917 fosse declarada guerra contra a Alemanha.

Nesse contexto, a história inicial de Poliana logo se tornou um sucesso ao apresentar ao leitor a história da menina falante e alegre que contagiava a todos com seu “jogo do contente”, por meio do qual procurava ensinar a todos ao seu redor o exercício constante da esperança e da felicidade quase imperceptível das coisas simples. Em sua continuação, Poliana cresceu, os leitores passaram a acompanhar o amadurecimento da personagem, que agora tomava forma de mulher e passava a conviver com as angústias próprias da transição para a vida adulta, entre eles o amor, a amizade, as perdas e os conflitos familiares. Portanto, o fato de Eleanor Porter não haver optado por refletir criticamente acerca das questões políticas e sociais da época pode justamente ter sido a chave do sucesso da obra, já que sua linguagem fácil e a leveza do olhar da menina para as preocupa-

ções e frustações humanas diárias acabaram por servir aos leitores como fuga da realidade dura e cruel da guerra e dos conflitos da época.

No Brasil, as histórias de Poliana foram publicadas pela primeira vez em meados da década de 1930 e traduzidas pelo renomado escritor e pensador brasileiro Monteiro Lobato como Poliana (Pollyanna) e Poliana moça (Pollyanna grows up). A contribuição do autor para a literatura infantojuvenil brasileira é conhecida, devido a seus personagens do Sítio do Picapau Amarelo, Reinações de Narizinho, entre outras histórias. Além de sua produção literária como autor, Monteiro Lobato acabou contribuindo com a produção literária nacional ao fundar, ainda no início do século XX, sua própria editora: a Companhia Gráfico-Editora Monteiro Lobato, que apesar do pouco tempo de vida, acabaria por se tornar fundamental na história do mercado editorial brasileiro, dando origem mais tarde à Companhia Editora Nacional.

Fundador da literatura infantil no Brasil, o autor acabou por imprimir à tradução da obra da autora estadunidense a beleza própria do texto original, ainda que na tradução de

Lobato às falas de Poliana são atribuídos termos diminutivos como “contenteza”, “assinzinha”, além de regionalismo como “vexada” e oralidades como “ora bolas”, além de várias outras já próprias e características do autor. Apesar do uso desses recursos, ler a obra traduzida por Lobato causaria no leitor a sensação de estar lendo a obra original da autora, tamanha a qualidade linguística do trabalho do autor. Essas traduções, que acabaram por se tornar sucesso de público, fizeram com que muitos críticos acabassem por associar o estilo de Poliana ao de uma das principais personagens do autor, a boneca de pano Emília. Muitas outras foram as traduções posteriores da história de Poliana nas edições brasileiras, sendo a mais recente e presente na obra analisada a tradução da Entrelinhas editorial.

A obra classifica-se como romance infantojuvenil, em especial devido a sua estrutura narrativa, temática e público-alvo. Quanto ao público, a identificação adolescente com as experiências vividas pela agora também adolescente Poliana acaba por injetar uma “dose de Poliana” (termo utilizado pela autora na obra a fim de se referir ao otimismo

despertado pela menina em todos que a cercam) em um público geralmente angustiado devido à transição de responsabilidades próprias da infância para as da vida adulta, como a escolha de uma profissão, a entrada no mercado de trabalho, além das relações familiares e amorosas.

Quanto à temática e o estilo, a autora aproxima-se do romantismo literário predominante na arte da primeira metade do século XIX. Esse estilo se caracteriza pela predominância de personagens idealizados e heroicos que em grande parte das vezes acabam por ser classificados como heróis românticos, em detrimento das reflexões sociais próprias do estilo realista do final do século XIX. No livro, Poliana representa a idealização do pensamento positivo como meio de encontro com a felicidade, acabando assim por caracterizar o estereótipo da heroína romântica em uma mescla de inocência e otimismo exagerados.

A classificação como romance deve-se à construção de narrativa estruturada em torno de uma gama de personagens que acabam por manter relação no desenvolvimento das ações durante a história. Ações essas que se passam em

determinado tempo e espaço e nos são apresentadas por meio de um narrador onisciente capaz de nos revelar as sensações e reflexões dos personagens durante os acontecimentos narrados.

Segue uma breve descrição dos principais elementos narrativos da obra:

Personagens: A narrativa gira em torno das ações da protagonista, Poliana Wittier; no entanto, sua tia Poli e seu tio Chilton, a Senhora Carew, Jimmy Pendleton e seu pai, John, o menino Jamie, entre outros, acabam por construir a rede de personagens que atribuem dinamicidade às ações.

Tempo: As ações se passam no início do século XX, momento de prosperidade norte-americana e entrada na guerra, ambiente retratado no poder aquisitivo da Sr. Carew e depois no empobrecimento da família Chilton.

Espaço: Os espaços na obra dividem-se entre as cidades de Boston e a pequena cidade de Beldingsville no interior dos Estados Unidos.

Narrador: A narração da história deve-se a um narrador observador onisciente, ou seja, a voz que nos apresenta todos os outros elementos não participa dos acontecimentos e parece perceber as sensações e sentimentos dos personagens.

Síntese do enredo: A obra conta a história de Poliana, a menina alegre e otimista que encanta a todos com seu jeito positivo de pensar a vida e seus percalços. Devido a sua positividade, ela é destinada a deixar a pequena cidade de Beldingsville e passar alguns dias em Boston na casa de Sra. Carew, uma mulher deprimida e amargurada pelo sumiço de seu sobrinho Jamie. Alguns meses são o bastante para que a menina consiga colorir novamente o olhar e a casa da senhora amargurada, renovando sua visão sobre a vida e os que a cercam através de seu “jogo do contente”. Ao retornar a Beldingsville, Poliana vai matar a saudade dos amigos, em especial Jimmy Pendleton e de sua cidade ao mesmo tempo em que vai deixando de ser menina e a viver os problemas da vida adulta, como as dificuldades financeiras, os relacionamentos familiares e amorosos. Ao final, a vida parece retribuir o otimismo encantador da menina que acaba por unir as pessoas que mais ama em laços familiares.

A popularidade e o sucesso alcançado pelas histórias de Poliana, desde sua publicação no início do século XX até os dias de hoje, cem anos depois, naturalmente acabaram por resultar em uma geração de leitores que em algum momento da vida foram influenciados pelo olhar otimista da personagem. Muitas foram as releituras e narrativas inspiradas nas aventuras de Poliana e seus amigos nas mais diversas linguagens artísticas. Tanto a história de Poliana, quanto sua continuação em Poliana cresceu foram adaptadas a linguagens como o cinema, a novela, teatro, entre outras.

A primeira aparição de Poliana fora das páginas dos livros e levada à tela do cinema data de 1920 e acabou por tornar-se reconhecidamente um clássico do cinema mudo dirigido pelo também estadunidense Paul Powell. Nessa época, as produções cinematográficas ainda não eram acompanhadas de trilha sonora que remetesse às cenas reproduzidas, havendo vez ou outra a participação de músicos e orquestras que acabavam por ilustrar sonoramente as apresentações com uma trilha tocada ao vivo.

No dia 18 de setembro de 1950, era inaugurada no Brasil a TV Tupi, primeira emissora de TV da América Latina e

quarta no mundo, atrás somente de França, Estados Unidos e Inglaterra. E apenas seis anos depois, em outubro de 1956, a emissora pertencente ao empresário e jornalista Assis Chateaubriand levava ao ar a primeira adaptação brasileira das aventuras da garota Poliana dividindo-a em trinta capítulos que foram transmitidos até janeiro de 1957. Interessante pensar que nessa época ainda não havia os recursos de gravação, o que fazia com que as cenas e consequentemente os capítulos fossem transmitidos ao vivo, o que levava a TV a transmiti-los uma ou duas vezes por semana. Essa adaptação pode ser considerada a primeira novela brasileira destinada ao público infantojuvenil no país, o que popularizou ainda mais a personagem.

Recentemente, em 2018, a emissora brasileira de televisão SBT levou ao ar uma nova versão da obra em formato de telenovela sob o título As aventuras de Poliana. Adaptada por Íris Abravanel, a novela entrava na grade de uma programação já destinada ao público infantojuvenil com obras como Chiquititas e Carinha de anjo. Interpretada pela atriz mirim Sophia Valverde, a personagem Poliana na versão brasileira vive boa parte de suas aventuras em espaços como

a cidade de São Paulo. A segunda temporada de As aventuras de Poliana tem estreia prevista para julho de 2021 pela emissora, trazendo agora as histórias da personagem na segunda parte da obra, Poliana cresceu.

Enfim, o sucesso da obra de Eleanor Porter acabou por fazer com que outras áreas conhecimento além da Literatura se debruçassem sobre a análise das características otimistas da protagonista. Foi a partir disso que passou a existir na psicologia os estudos do comportamento que acabaria por denominar-se “síndrome de Poliana”. Segundo esses estudos, a maior parte das pessoas tem uma tendência a trazer à tona experiências que tenham sido positivas, ao invés daquelas que possam ter ferido ou aborrecido. Sendo assim, é natural que nos seja mais prazeroso conversarmos sobre momentos do passado que nos tenham causado alegria ou prazer e evitarmos o tocante a situações que nos causaram demérito ou tristeza.

Pronto para jogar o jogo do contente?

Poliana, a garota que consegue encontrar um lado bom em tudo, surgiu em capítulos publicados por um jornal de Boston em 1912. Um ano depois, virou livro e até hoje emociona gerações de leitores com histórias que mostram nosso poder de superação. Seu grande sucesso levou a autora a escrever a continuação, Poliana Cresceu, ainda mais envolvente e com a protagonista diante das questões do início da vida adulta. Esta é uma história que sobrevive ao passar do tempo e nos ensina a viver de forma mais leve.

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