Um novo caminho. Uma nova especialidade.
Eli Luis Namba Clara Padilha
Um novo caminho. Uma nova especialidade.
1ª Edição - Florianópolis/SC 2016
Título
Odontologia do Esporte: Um novo caminho. Uma nova especialidade. 1ª edição, 2016 Editora Ponto Ltda. ISBN 978-85-60023-16-5
Organização Texto Apresentação Prefácio Design gráfico Revisão gramatical
Eli Luis Namba e Clara Padilha Vários autores Hilton José Gurgel Rodrigues Edvaldo Antônio Ribeiro Rosa Daiane Martins Machado Giovanni Secco e Silvana Pisani
N174o
Namba, Eli Luis Odontologia do esporte. Um novo caminho. Uma nova especialidade /
Eli Luis Namba; Clara Padilha. Florianópolis: Editora Ponto, 2016. 369p.; il. ISBN: 978-85-60023-16-5 1. Traumatismos em atletas. 2. Reabilitação bucal. 3. Odontologia. 4. Esportes. I. Padilha, Clara. II. Título. CDU 616.314:796 Catalogação na fonte por: Vera Ingrid Hobold Sovernigo CRB-14/009
Este livro é uma publicação da Editora Ponto Ltda., Rua Vila Kinczeski, 23, Centro, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, CEP 88020-450.
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AUTORES
Eli Luis Namba Coordenador do 1º Curso de Especialização em Odontologia do Esporte no Brasil – UP/PR Vice-Presidente e Membro fundador e da comissão científica da Academia Brasileira de Odontologia do Esporte – ABROE Presidente da Comissão de Odontologia do Esporte do CRO-PR Doutor em Odontologia – PUC-PR Mestre em Odontologia – PUC-PR Especialista em Medicina e Ciências do Esporte – UP/PR Especialista em Radiologia e Imaginologia Odontológica – ABO/PR Cirurgião-dentista pela PUC-PR
Clara Padilha Presidente da Comissão de Odontologia do Esporte do CRO-SC Membro fundador e da Comissão Científica da Academia Brasileira de Odontologia do Esporte Professora do Curso de Especialização em Odontologia do Esporte da Universidade Positivo Doutoranda de Odontologia em Saúde Coletiva – UFSC Mestre em Odontologia em Saúde Coletiva – UFSC Especialista em Odontologia do Esporte – UP/PR Especialista em Endodontia – Uningá/ PR Cirurgiã-dentista – UFSC
COLABORADORES
Alexandre Kowalczuck Professor do Curso de Especialização em Endodontia – UFPR Mestre em Endodontia – SLMandic Doutor em Endodontia – PUC-PR Ana Paula Gebert de Oliveira Franco Cirurgiã-dentista – Universidade Tuiuti do Paraná Mestre em Odontologia – UEPG Doutor em Odontologia – PUC-PR Anna Carolina Rangel de Carvalho Cirurgiã-dentista – Centro Universitário de Lavras Especialista em Ortodontia pela Univale Mestre em Ortodontia pela Universidade Cidade de São Paulo Antonio Batista Professor Adjunto das Disciplinas de Endodontia II e III – UFPR Mestre e Doutor em Endodontia – FOP – Unicamp Armando Iukio Saga Cirurgião-dentista – UFPR Especialista em Ortodontia – ABO-PG Mestre em Odontologia – PUC-PR Doutor em Odontologia – PUC-PR Bárbara Capitanio de Souza Cirurgiã-dentista Especializanda em Estomatologia – UFRGS Mestre em Patologia Bucal – UFRGS Bruno Costa Teixeira Educador físico Especialista em Fisiologia do Exercício – UFRGS Mestre em Ciências do Movimento Humano – UFRGS Doutorando em Ciências do Movimento Humano – UFRGS Carlos Werutski Médico Nutrólogo pela Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), filiada à Associação Médica Brasileira (AMB) Médico do Esporte pela Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), filiada à AMB Coordenador do Departamento de Atividade Física e Exercício – ABRAN Mestre em Ciências do Movimento Humano – UFRGS/RS Doutor em Clínica Médica – USP/SP
Carmen Lucia Mueller Storrer Cirurgiã-dentista – PUC-PR Especialista em Periodontia – UFPR Mestre em Periodontia – FOUSP Doutora em Odontologia – FOUSP Carolina Taguchi Cirurgiã-dentista – UFSC Especialista em Dentística – UFSC Mestre em Dentística – UFSC Cassio Preis Graduado em Fisioterapia – PUC-PR Mestre em Tecnologia em Saúde – PUC-PR Cornelis Springer Cirurgião-dentista – UFMG Especialista em Odontologia do Esporte – UP Cutman do UFC Presidente da Comissão de Odontologia do Esporte – CRO-MG Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Odontologia do Esporte – PUC-MG Professor no Curso de Especialização de Odontologia do Esporte – UP Daniel Bonotto Cirurgião-dentista – UFPR Especialista em DTM e Dor Orofacial – UFPR Mestre em Ciências da Saúde – PUC-PR Doutor em Odontologia – PUC-PR Professor do Curso de Odontologia – UFPR Professor no Curso de Especialização de Odontologia do Esporte – UP Danielle Medeiros Veiga Bonotto Técnica em Prótese Dentária – CEPR Cirurgiã-dentista – UFPR Especialista em Prótese Dentária – USP Bauru Especialista em DTM e Dor Orofacial – UFPR Mestre em Odontologia – UFPR Edmar Stieven Filho Médico – PUC-PR Especialista em Traumatologia Esportiva e Cirurgia Artroscópica Especialista em Ortopedia e Traumatologia Mestre em Princípios da Cirurgia – Faculdade Evangélica do Paraná Doutor em Clínica Cirúrgica – UFPR
Eduardo Christiano Caregnatto de Morais Cirurgião-dentista – UFPR Especialista em Prótese Dentária – UFPR Mestre em Clínica Odontológica – UP/PR Doutor em Odontologia – PUC-PR Gilson Blitzkow Sydney Professor Titular de Endodontia – UFPR Mestre e Doutor em Endodontia – FOUSP-SP Gislaine Bonete da Cruz Graduada em Fisioterapia – PUC-PR Especializanda em Fisioterapia em Saúde da Mulher pelo Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – HC-FMUSP Guilherme Falchetti Cirurgião-dentista – Universidade Tuiuti do Paraná Especialista em Odontologia do Esporte – UP Especialista em Ortodontia – Grupo Cabrera Curitiba Gustavo Ferreira Cirurgião-dentista – UVA/RJ Especialista em Endodontia – UGF/RJ Presidente da Academia Brasileira de Odontologia do Esporte – ABROE Diretor do Departamento de Odontologia do Esporte – ABO/RJ Membro da Comissão de Odontologia do Esporte – CRO/RJ Coordenador do Departamento Odontológico do Botafogo de Futebol e Regatas Mestrando em Odontologia UFF/RJ Henri Springer Cirurgião-dentista – UNINCOR-MG Especialista em Odontologia do Esporte – PUC/MG Cutman do UFC Coordenador do Departamento de Odontologia do Esporte do BH Rugby Clube Coordenador do Departamento de Odontologia do Esporte do Minas Locomotiva – Futebol Americano Membro da Nevada State Athletic Comission Membro do Departamento de Odontologia do Esporte Ivana Fontana Bazei Cirurgiã-dentista – PUC-PR Especialista em Odontologia do Esporte – UP/PR
Isabel Ziesemer Costa Educadora física – PUC-PR Jussara Bernardon Cirurgiã-dentista – UFSC Especialista em Dentística Mestre em Dentística – UFSC Doutora em Dentística – UFSC Leandro Zen Karam Fisioterapeuta pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC-PR Doutor em Engenharia Elétrica e Informática Industrial pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR Lirane Carneiro Suliano Cirurgiã-dentista – UFPR Mestre em Ortodontia e Neonatologia Doutoranda – UFPR Professora-Titular na Pós-Graduação de Acupuntura – IBRATE-PR Especialista em Acupuntura – IBRATE-PR Advanced Training Word Federation of Acupuncture and Moxibustion Societies – WFAS – Beijing/China Membro fundador da Sociedade Odontológica Brasileira de Acupuntura – SOBA Membro do Núcleo de Pesquisa em Acupuntura com apresentação de trabalhos em vários congressos nacionais e internacionais Lucas Werutski Cirurgião-dentista – PUC/RS Especialista em Ortodontia – SLMandic Especialista em Odontologia do Esporte – UP/PR Luciana Signorini Cirurgiã-dentista – UFPR Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial – ABO/PR Doutor em Ciências da Saúde – PUC-PR Pós-Doutor em Odontologia – PUC-PR e Universidade do Porto Lucy Giselle Faiçal Cirurgiã-dentista – UP/PR Especialista em Odontologia do Esporte – UP/PR
Marcelo Ekman Ribas Cirurgião-dentista Mestre em Clínica Odontológica – Periodontia – UFRGS Doutorando em Clínica Odontológica – Periodontia – UFRGS Marili Doro Andrade Deonízio Professora Adjunta das Disciplinas de Endodontia II e III – UFPR Mestre e Doutora em Endodontia – FOUSP Maria Augusta Nascimento Heim Fisioterapeuta – PUC-PR Pós-Graduanda em Fisioterapia em Saúde da Mulher – UNICAMP-CAISM Mario Massatomo Namba Médico pela Universidade Federal do Paraná Mestre em Medicina Clínica Cirúrgica – UFPR Professor do Curso de Medicina da UFPR na área de Traumatologia do Esporte e Cirurgia do Joelho Neide Pena Coto Cirurgiã-dentista Especialista em Prótese Bucomaxilofacial – ABENO Mestre em Prótese Bucomaxilofacial – FOUSP Doutora em Materiais Dentários – FOUSP Professora do Departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilofaciais, Disciplina de Prótese Bucomaxilofacial e Odontologia do Esporte – FOUSP Orlando Motohiro Tanaka Cirurgião-dentista – UFPR Mestre em Odontologia – UFRJ Doutor em Odontologia – UFRJ Pós-Doutor em Odontologia – Universidade Federal de Juiz de Fora Pós-Doutor em Odontologia – Center of Advanced Dental Education at Sant Louis University Paula Gracia Koppe Colleoni Nutricionista – PUC-PR Especialista em Fisiologia Humana e da Nutrição Mestre em Fisiologia da Performance Professora no Curso de Especialização de Odontologia do Esporte – UP
Reinaldo Brito e Dias Cirurgião-dentista Mestre em Clínicas Odontológicas – Prótese Bucomaxilofacial – FOUSP Doutor em Clínicas Odontológicas – Prótese Bucomaxilofacial – FOUSP Livre-docente do Departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilofaciais – FOUSP Professor Associado do Departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilofaciais – FOUSP Professor Titular do Departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilofaciais – FOUSP Responsável pelas Disciplinas de Prótese Bucomaxilofacial e Odontologia do Esporte – FOUSP Coordenador da área de concentração de Prótese Bucomaxilofacial do Programa de Pós-Graduação em Ciências Odontológicas – FOUSP Ricardo Corrêa da Cunha Graduado em Educação Física – PUC-PR Especialista em Fisiologia do Exercício pela Universidade Gama Filho – RJ Mestre em Fisiologia da Performance – UFPR Doutor em Biotecnologia na Saúde no Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe Professor da Universidade Positivo nos Cursos de Educação Física e Fisioterapia Professor no Curso de Especialização de Odontologia do Esporte – UP Colaborador no Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe em pesquisa com células-tronco e plasma rico em plaquetas Sandra Silvério-Lopes Graduada em Farmácia e Bioquímica – UEL Graduada em Fisioterapia – Universidade Tuiuti do Paraná Mestre em Tecnologia em Saúde – PUC-PR Doutoranda em Ciências dos Desportos – UTAD – Portugal Especialista em Acupuntura desde 1994 Coordenadora da Pós-Graduação em Acupuntura – Faculdade IBRATE Diretora do Núcleo de Pesquisas em Acupuntura (NUPEA) – Faculdade IBRATE Organizadora e autora do livro “Acupuntura em analgesia” Tertuliano Ricardo Lopes Cirurgião-dentista – UFPR Especialista em Periodontia – Associação Odontológica do Norte do Paraná Especialista em Didática do Ensino Superior – PUC-PR Mestre em Odontologia Clínica – UP
Ubiracy Gaião Cirurgião-dentista – PUC-PR Especialista em Dentística – Indiana University School of Dentistry Especialista em Endodontia – UFPR Especialista em Prótese Dentária – Associação Odontológica Norte do Paraná Mestre em Dentística Restauradora – Indiana University School of Dentistry Doutor em Dentística Restauradora – UNESP Yesudian Yamada da Gama Graduado em Educação Física – Faculdade Dom Bosco Especialista em Fisiologia do Exercício – PUC-PR Mestre em Biociências – PUC-PR Sócio-coordenador da Academia Curitiba FIT Atleta de Fisiculturismo clássico IFBB
DEDICATÓRIAS
Esta obra é dedicada a todos que de alguma maneira acreditaram na odontologia do esporte como área, ou por pesquisa, ou por curiosidade, ou até mesmo por acreditar que o tratamento odontológico poderia acrescentar e contribuir na melhora de saúde e na performance dos atletas. Um agradecimento especial a Camila Namba por acreditar e dividir um sonho pessoal. Aos meus familiares, por fortalecer a base da minha formação. Cito duas pessoas muito importantes na minha formação acadêmica: o Professor Tertuliano Ricardo Lopes, por acreditar e confiar na minha pessoa e me auxiliar no início da minha vida acadêmica, e a Professora Maria da Graça Kfouri Lopes, por acreditar na odontologia do esporte a ponto de abrir as portas de uma universidade para uma área que não era reconhecida e pouco acreditada no nosso meio. À Universidade Positivo, por aceitar o curso de especialização e reconhecê-lo inicialmente perante o Ministério da Educação. Ao Professor Doutor Edvaldo Antônio Ribeiro Rosa, o meu muito obrigado pela abertura do programa de doutorado e pelo crédito formado para dar início a esta obra. Ao amigo Daniel Bonotto, pela parceria e amizade construída em busca de uma odontologia do esporte séria e baseada em evidências. A todos os colaboradores, que aceitaram o desafio e engrandeceram nossa obra. E, é claro, à doutora Ana CLARA Loch PADILHA, coautora desta obra, pela paciência e disponibilidade de colaborar no crescimento e fortalecimento da nossa área. A DEUS, pelos desafios propostos e pela oportunidade de crescimento pessoal. Aos amantes da odontologia do esporte. Com muito carinho, Eli Luis Namba
Dedico esta obra a todos os alunos de graduação e pós-graduação de Odontologia e de outras áreas da saúde que se inserem no esporte. Que esta obra auxilie sua atuação profissional e guie seu caminho dentro do mundo esportivo. A excelência almejada por nossos atletas deve sempre servir de inspiração para a realização de nosso trabalho. Clara Padilha
PREFテ,IO
Ainda é vívida na memória aquela manhã na qual foi lançada a semente desta obra. Alguns dos meus alunos de mestrado e doutorado, no Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, discutiam acerca do tema para a redação de um texto para a disciplina de Literatura Aplicada. Lembro-me muito bem de que, em dado momento, um deles, pleiteante a doutor, sugeriu que se organizasse e que se redigisse um livro sobre a importância da odontologia no esporte. Assunto de importância, pois estávamos próximos de uma Copa do Mundo de Futebol, das Olimpíadas, de torneios de MMA, diante do crescimento do futebol americano no Paraná, do aumento no número de atletas não profissionais e de atletas pontuais (a.k.a. atletas de fim de semana). De pronto, quase “de voleio”, a ideia foi absorvida, e todos se debruçaram no tema. Obviamente a complexidade do assunto exigia o desmembramento do assunto em inúmeros capítulos. Eis que surge um problema: não teríamos colaboradores suficientes para a redação. Então, como um quarterback que acha o espaço para o lançamento preciso, o mesmo aluno (aquele que sugeriu o tema) aparece com a solução: e se convidássemos os alunos do recém-instituído Curso de Especialização em Odontologia do Esporte da Universidade Positivo? Por que não? E assim a história prosseguiu. Esse aluno terminou seu doutorado, a ideia de uma linha de pesquisa versada em esporte começou a germinar, e agora você, leitor, tem em mãos uma obra ímpar. O leitor pode estar seguro de que encontrará nesta obra diferentes facetas do tema. Os autores não se ativeram somente às técnicas odontológicas, mas também nos trazem tópicos que dificilmente são abordados em salas de aula. Para atiçar a curiosidade, pergunto a você: quanto um problema dentário “custa” para um atleta? O que é um cutman? “Barrinhas de cereal” afetam a saúde bucal? O atleta que você acompanha usa um protetor bucal adequado? Como realizar a reabilitação oral em atletas de alto rendimento? E em atletas de fim de semana? Se você não está seguro para responder a algumas dessas questões, não se sinta frustrado. Sinta-se, sim, motivado para a leitura deste compêndio. Sem falsa modéstia, é com uma pontinha de orgulho que prefacio esta obra, organizada pelo Prof. Eli Namba (aquele que sugeriu o tema) e pela Prof.ª Clara Padilha. Espero que o leitor possa se apropriar do conhecimento nele contido e utilizá-lo com sabedoria, pois é para isso que os livros são escritos. Tenha uma boa e agradável leitura. Edvaldo Antonio Ribeiro Rosa, BPharm, MSc, PhD Curitiba, verão de 2015
APRESENTAÇÃO
Ao receber o convite para apresentar este livro, fiquei muito feliz e honrado. Tanto pelo carinho e admiração que tenho pelos autores, quanto pelo fato de ter sido professor deles em cursos de pós-graduação em São Paulo/SP e em Curitiba/PR. Tal fato me fez lembrar a “parábola do semeador”: a semente que caiu em terra boa produziu frutos. Ao ler esta obra, constatei que ela é o resultado das duas grandes paixões dos autores: o esporte e a odontologia. Aqui estão contidos assuntos de grande relevância para quem atua e para quem quer atuar nesta “nova” área da odontologia em nosso país. Capítulos bem escolhidos para conhecer, aprender e poder praticar a odontologia junto aos atletas. Para os apaixonados pela odontologia do esporte, como eu e os autores de “ODONTOLOGIA DO ESPORTE: Um novo caminho, uma nova especialidade”, trata-se de um livro ideal para ser adquirido e lido. Resgata nomes importantes da odontologia do esporte brasileiro, menciona pessoas que doaram seu tempo para essa causa, atletas de alto nível que foram beneficiados pelas mãos de cirurgiões-dentistas, fatos marcantes da odontologia do esporte no Brasil. Enfim, essa especialidade é mostrada numa belíssima visão. É como sempre digo aos alunos: temos que ser dentistas de gente, e não apenas de dente. Devemos olhar para o atleta como um todo e valorizar o trabalho interdisciplinar em saúde. Para os outros profissionais da saúde, “ODONTOLOGIA DO ESPORTE: Um novo caminho, uma nova especialidade” é um livro indicado para pesquisa e ajuda no trabalho junto aos atletas, uma vez que apresenta a odontologia e o cirurgião-dentista como indispensáveis nos departamentos médicos dos clubes, para contribuir fortemente com um melhor desempenho de seus atletas. Não tenho dúvida de que este livro contribuirá muito, num futuro próximo, para a melhoria dos estudos e práticas profissionais da relação da saúde bucal com a saúde geral dos atletas brasileiros, além de vir a ser referência para futuras pesquisas. Hilton José Gurgel Rodrigues Cirurgião-dentista pela Universidade Potiguar Especialista em Saúde Coletiva pela APCD Mestre em Odontologia em Saúde Coletiva pela Faculdade de Odontologia de Bauru, da USP
PALAVRA DO AUTOR
Neste momento gostaria de contar um pouquinho da história desta obra. Tudo começou no ano de 2003, reta final de minha graduação, quando o tema do meu trabalho de conclusão do curso estava definido: “A importância do cirurgião-dentista em uma equipe desportiva”. Durante toda a minha vida o esporte esteve presente e se tornou uma grande paixão. A odontologia era a escolha certa, nunca foi a segunda opção, mas o fato de fazer parte de uma equipe de natação e competir até entrar na universidade me levou a pensar como integrar a odontologia ao esporte. As pesquisas em busca da literatura sobre o tema foram o primeiro desafio; poucas informações para compor o meu trabalho de conclusão. Enfim graduado, as perguntas sobre a área ainda permaneciam. Poucos cursos sobre o tema, e o primeiro foi uma atualização de odontologia desportiva coordenada pelo professor Alexandre Barberini, um curso que começou a introduzir o novo assunto. De volta a Curitiba a vontade de aprofundar ainda mais os conhecimentos sobre a área não havia cessado. Veio então o segundo desafio, cursar uma pós-graduação em medicina e ciências do esporte, curso interdisciplinar com todas as áreas da saúde relacionadas ao esporte, mas de que infelizmente a odontologia ainda não fazia parte. No meu entender só existia uma maneira de trabalhar com atletas: ter o conhecimento de como funciona o seu organismo e quais seriam as suas particularidades. A proposta da pós-graduação se cumpriu, e durante o curso entendi o que era um atleta e pude relacionar as particularidades de outras áreas com a odontologia. Comecei a enxergar que a odontologia poderia, sim, contribuir, e muito, com os atletas. Naquele momento trabalhava no laboratório de radiologia da Universidade Positivo e, em contato com a coordenadora da época, a Doutora Maria da Graça Kfouri Lopes, propus a primeira atualização na nossa universidade. Com muita ansiedade aguardei o dia do curso, que contou com a presença de um pequeno público, mas já era um começo. Por mais algumas vezes abri a atualização, mas não tive sucesso. Já no mestrado deslumbrava fazer uma pesquisa dentro da área, e assim o fiz. Motivado pelos resultados obtidos, passei a lutar ainda mais pela especialidade. Novamente sentado à frente da professora Maria da Graça, agora imaginava propor uma especialização, tendo em vista a abrangência do tema. Embora com medo da resposta, tive uma grata surpresa: além do apoio da coordenadora, ela abriu as portas da universidade para o primeiro curso de especialização do Brasil, desde o início reconhecido pelo Ministério da Educação. Ano de 2011. Devido aos fracassos das atualizações anteriores, a esperança para a primeira turma era grande, mas a apreensão tomava conta. A lista de interessados contava, para minha surpresa, com 15 inscritos, e a turma acabou fechando com 9 alunos. Foi uma enorme satisfação formar a nossa primeira turma. Todos os alunos apresentaram grande interesse e começavam a se destacar na área. Da primeira turma surgiram os primeiros cutmen dentistas do Brasil, inclusive um deles foi o responsável pelo capítulo desse assunto nesta obra. Naquele mesmo ano iniciava o meu doutorado e junto com a especialização sentia a necessidade de um livro-base que contemplasse os assuntos ministrados no curso. Já tinha o sumário da obra. Era, então, a hora de procurar dentro das expertises os colaboradores para cada capítulo. Estava, na época, realizando um dos créditos do doutorado com o Coordenador do Programa de Biociências da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Doutor Edvaldo Antônio Ribeiro Rosa, cujo objetivo da disciplina era a produção científica. Propus ao professor o livro, e sem pensar duas vezes ele acabou assumindo a produção com a participação dos alunos do doutorado. Alguns colaboradores, então, estavam escolhidos.
O projeto se iniciou naquele momento, mas, com uma extensa quantidade de colaboradores, os prazos acabaram não sendo cumpridos. Novos colaboradores foram convidados, e boa parte dos capítulos estava se desenhando. Com a primeira turma formada, abrimos as inscrições para a segunda turma por dois semestres, sem ter obtido êxito. Entra na história a nossa coautora, Doutora Ana Clara Loch Padilha, ou melhor, Clara Padilha, como ela prefere ser chamada. A Clara surgiu na minha vida a partir de um contato por e-mail. Antes mesmo da sua formatura na graduação, ela já deslumbrava a área e a contemplava da melhor maneira possível, com muitos estudos e pesquisas. Encaminhou-me uma das suas primeiras pesquisas, o seu trabalho de conclusão de curso. Admirei desde o início a capacidade dela de síntese e aprofundamento no assunto. A Clara, por duas vezes, se inscreveu no curso sem sucesso, porque este não teve quórum para iniciar. Quando a turma se concretizou, lá estava ela na nominata. O nosso primeiro módulo, e os alunos apresentaram as suas perspectivas sobre o curso. Na vez da Clara, a certeza sobre a área era nítida no seu discurso. No primeiro módulo apresentei o projeto do livro, e a proposta era que, em vez de trabalhos de conclusão de curso, cada um iria escrever um capítulo. Todos concordaram, e assim foi feito. O destaque da Ana, como gosto de chamá-la, começou a aparecer, ela assumiu o projeto como se fosse dela, e assim acabou se tornando. Abraçou a causa, reorganizou os capítulos, escreveu o dela e outros, levantou novos questionamentos e ampliou o projeto inicial. Nascia uma forte parceria científica e uma grande amizade. A sincronia era tanta que até os pensamentos eram compartilhados. Quando cruzávamos os textos, as ideias seguiam as mesmas direções. Nesse ínterim, outra obra foi produzida. A Ana propôs um livro sobre protetores bucais, do qual sou coautor, pois a revisão literária era muita extensa para fazer parte da presente obra apenas como um capítulo. Na verdade, os sonhos se juntaram e, como a Ana coloca, a minha esposa, Camila, é que teve de aguentar tamanha loucura, pois a cada dia surgiam novas ideias e contaminávamos todos à nossa volta, independentemente de religião, time ou partido político. Aliás, a minha esposa é fisioterapeuta e já se arrisca a comentar até sobre os protetores bucais. Nesta caminhada, o nosso amigo e colega Doutor Daniel Bonotto, convidado para dar aula na primeira turma, tornou-se também aluno na segunda turma. Outra grande parceria se iniciou, inclusive a ponto de, durante o doutorado, trocar o tema da sua pesquisa para se aprofundar no assunto. Atrás de muitas editoras corremos e muitas portas se fecharam, mas o sonho nunca foi deixado para trás. Às vezes só DEUS explica alguns porquês das nossas vidas, e este foi mais um. No dia 14 de outubro de 2014, na Assembleia de Especialidades Odontológicas em São Paulo, às 15 horas e 10 minutos, a Odontologia do Esporte foi reconhecida como especialidade pelo Conselho Federal de Odontologia, e justamente após a sua aprovação os últimos detalhes desta obra foram finalizados. Não por acaso desde 2011 a única coisa certa desta obra era o seu título, ODONTOLOGIA DO ESPORTE, UM NOVO CAMINHO, UMA NOVA ESPECIALIDADE. Obrigado, meu Deus. Eli Luis Namba Coordenador do 1º Curso de Especialização em Odontologia do Esporte no Brasil – UP/PR, Vice-Presidente e Membro fundador e da Comissão Científica da Academia Brasileira de Odontologia do Esporte – ABROE, Presidente da Comissão de Odontologia do Esporte do CRO-PR, Doutor em Odontologia – PUC-PR, Mestre em Odontologia – PUC-PR, Especialista em Medicina e Ciências do Esporte – UP/PR, Especialista em Radiologia e Imaginologia Odontológica – ABO/PR, Cirurgião-dentista pela PUC-PR
SUMÁRIO
Capítulo 1 – Introdução à odontologia do esporte............................................................ 32 Capítulo 2 – Fisiologia do exercício..................................................................................... 54 Capítulo 3 – Imunologia e exercício.................................................................................... 62 Capítulo 4 – Doenças infectoinflamatórias bucais e alterações no tecido muscular........ 70 Capítulo 5 – Traumatismo nos esportes.............................................................................. 84 Capítulo 6 – Traumatismo alveolodentários no esporte.................................................... 90 Capítulo 7 – Traumatismo orofacial no esporte ................................................................ 116 Capítulo 8 – Preparo e planejamento para o atendimento odontológico
emergencial e pós-traumatismo .................................................................. 126
Capítulo 9 – Protetores bucais esportivos ......................................................................... 136 Capítulo 10 – Protetores faciais para esporte ................................................................... 166 Capítulo 11 – A odontologia nas artes marciais - Cutman............................................... 180 Capítulo 12 – Etiologia da maloclusão .............................................................................. 196 Capítulo 13 – A ortodontia e o padrão respiratório......................................................... 208 Capítulo 14 – Ortodontia lingual como opção no esporte .............................................. 234 Capítulo 15 – Dor orofacial e DTM em atletas................................................................... 244 Capítulo 16 – Doença periodontal, manifestações sistêmicas e desempenho físico...... 254 Capítulo 17 – Doping e a odontologia do esporte ........................................................... 264 Capítulo 18 – Odontologia e nutrição esportiva............................................................... 274 Capítulo 19 – Fisiologia das glândulas salivares e variações
sialoquímicas durante a atividade física................................................... 288
Capítulo 20 – Fisioterapia e a odontologia do esporte..................................................... 296 Capítulo 21 – A acupuntura nos tratamentos da odontologia do esporte..................... 312 Capítulo 22 – Reabilitação oral em atletas - Prótese na odontologia do esporte.......... 326 Capítulo 23 – Reabilitação oral em atletas - Dentística na odontologia do esporte....... 334 Capítulo 24 – Prontuário modelo para o atendimento do atleta..................................... 346
Clara Padilha Eli Luis Namba
INTRODUÇÃO À ODONTOLOGIA DO ESPORTE
CapĂtulo 1
Se você está lendo este livro é porque provavelmente adora esporte, não é verdade? Você, sua família e amigos possuem times e atletas preferidos, torcem por eles há muito tempo, simpatizam com atletas internacionais, acompanham suas carreiras, assistem a campeonatos ao vivo ou pela TV, possuem memórias alegres e de sofrimento ligadas ao esporte, gostam de acompanhar os eventos esportivos mundiais ou mesmo de sua cidade... Ótimo! Hoje em dia não podemos mais ignorar a importância e a magnitude do esporte em nossa sociedade, muito menos o impacto das competições esportivas no cotidiano das pessoas. E todo o valor que é dado a essas competições nos leva a pensar sobre as variáveis que afetam os resultados, e sem dúvida alguma a saúde é uma dessas variáveis.1 Embora a situação específica dos atletas de alto rendimento (o esporte visto como potencializador das performances humanas) atraia muitas discussões sobre a relação entre esse tipo de atividade e a saúde propriamente dita,2,3 considera-se a manutenção da saúde pré-requisito ao atleta de alto nível para o desempenho de sua profissão. 4 A saúde bucal, parte importante do conjunto, não pode ser preterida nesse âmbito.5-8
E É AÍ QUE ENTRA A ODONTOLOGIA! Porém existia a necessidade de especializar a odontologia para o esporte, criando profissionais com pensamento esportivo, que, a fim de manter ou melhorar o rendimento físico de um atleta, buscassem a manutenção da saúde bucal, entendendo que entre os dois existe uma relação estreita. A história da odontologia do esporte, a importância dela e como se criou essa especialidade é o que vamos lhe contar neste capítulo. A odontologia aplicada ao esporte deve estudar, prevenir e tratar o traumatismo dentário, alveolar e facial, buscar a manutenção da boa saúde bucal do atleta e partilhar o conhecimento com outros profissionais da saúde inseridos no contexto esportivo;8 deve promover saúde sempre com a intenção de aprimorar o desempenho do atleta. A odontologia do esporte é entendida, inclusive, como uma das disciplinas mais importantes num grupo multidisciplinar de especialistas em saúde integrantes de um departamento de saúde em uma instituição esportiva.5
O QUE É SER ATLETA? Atleta é qualquer pessoa que pratique qualquer manifestação de desporto, seja educacional, de participação ou rendimento, podendo ser classificado, quanto à forma de sua prática, em amador, não profissional e profissional. Aquele que é atleta amador é o que pratica esporte ocasionalmente, que o faz por prazer, vaidade ou questões de saúde, mas não tem a intenção de lucrar com essas práticas. O não profissional é o que pratica algum desporto sem receber remuneração, podendo receber incentivos materiais ou patrocínios. Já o atleta profissional é o que tem no esporte seu meio de sustento, que gera lucro financeiro através de sua atividade. Embora exista muita discussão na literatura e fora dela sobre a natureza artística ou esportiva do ballet, para os cirurgiões-dentistas do esporte o que importa é que o bailarino passa por um treinamento rigoroso, com uma grande exigência física. No ballet, assim como no
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montanhismo, pode não haver competição, um perdedor e um vencedor, mas a preparação e a dedicação exigidas dos praticantes rivalizam com as de quaisquer atletas, o que faz com que essas atividades mereçam nossa atenção pelas mesmas razões que qualquer esporte. Análises sobre o grau de conhecimento por parte dos atletas quanto à relação existente entre saúde bucal e saúde geral são escassas. Contudo, existem alguns casos, como um estudo realizado em Bauru para verificar o conhecimento do atleta amador sobre os cuidados com saúde bucal. Constatou-se que, mesmo sem o conhecimento considerado ideal sobre higiene bucal e a correlação existente entre saúde geral e saúde bucal, os atletas são conscientes de que uma boca com doenças pode causar grandes problemas e comprometer seu desempenho, e julgam muito importante o acompanhamento feito por um cirurgião-dentista em treinos, jogos e competições. Contudo, 33% dos atletas pesquisados não frequentam consultório odontológico, sendo a maior motivação para a visita ao dentista a dor.9 Atletas possuem fatores de risco específicos para várias doenças e injúrias bucodentárias, como cárie dentária, erosão e traumatismo, e o diagnóstico precoce, o tratamento e a reabilitação dessas condições podem preservar a boa saúde bucal desses indivíduos, evitando maiores complicações futuras, principalmente em períodos de competição.10
QUANTO CUSTA? Lesões traumáticas, musculares ou outras apresentam consequências que vão além das físicas. Também devem ser consideradas como implicações decorrentes das lesões o comprometimento psicológico do atleta e de seus colegas, a interrupção dos jogos, a qual compromete muitas vezes o time inteiro e exige um tempo de recuperação, curto ou longo, que pode representar uma preocupação econômica para clubes esportivos e seus patrocinadores. Quer ver um exemplo? Quanto você acha que custou ao Real Madrid ter o jogador mais caro do futebol mundial em seu time? Pensou? Cristiano Ronaldo custava, em 2010, a “bagatela” de 1 milhão e 83 mil euros por mês, fora seus contratos publicitários. Na seleção de Portugal, ele representava sozinho 96 dos 400 milhões de euros que a seleção valia, segundo avaliação do Diário Económico (África do Sul), em 2010. Caso o jogador não jogasse uma das partidas da Copa de 2010, cada patrocinador deixaria de pagar 400 mil euros, valor que diminuiria para 150 mil euros caso o jogador ficasse apenas no banco. Então quais motivos levariam um jogador desse nível a ficar no banco ou a não jogar? Lesões, dores, traumatismos que prejudicassem seu desempenho... Sentiu a responsabilidade de cuidar da saúde de atletas de alto rendimento? E quanto custa para um atleta, de alto rendimento ou não, o tratamento odontológico pós-traumatismo quando comparado ao custo da confecção de um protetor bucal personalizado? Já parou para pensar nisso? O preço de um protetor bucal personalizado varia conforme o profissional, laboratório e país, porém existe um consenso de que, independentemente do preço do produto, ele continua sendo uma opção muito mais viável do que o valor e o incômodo de um tratamento odontológico pós-traumatismo, especialmente quando se trata de crianças, pois o tratamento pode ser desagradável para elas e o controle desse tipo de lesão costuma durar a vida toda. O custo do tratamento de traumatismos dentais em esportes ainda não possui estudos
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que não sejam superficiais, mas o custo da realização de um tratamento de emergência é alto. Os tratamentos endodôntico e protético, por vezes necessários, são geralmente responsáveis por essa onerosidade, e o acompanhamento desses pacientes aumenta ainda mais o custo.11 Portanto, o uso de protetores vai além da preocupação com a integridade física e a saúde dos atletas, uma vez que garante uma economia significativa em relação a tratamentos odontológicos para os clubes esportivos. A importância da prevenção no esporte ficou bastante evidenciada no relatório médico da Copa do Mundo de 2010 apresentado pela Fifa,12 o qual mostrou que todas as equipes realizaram exames preventivos nos jogadores seguindo o protocolo recomendado pela comissão médica da entidade (F-Marc), e durante os jogos foram registrados os menores índices de lesão por partida dentro de uma Copa do Mundo (média de 1,9 por jogo, contra 2,3 em 2006, 2,7 em 2002 e 2,4 em 1998 – primeiro ano em que esse tipo de análise foi realizado). Com relação à causa das lesões, foi reduzido o número das motivadas por jogo brusco em comparação com as últimas Copas do Mundo, mas em compensação aumentaram as lesões sem contato físico, o que nos leva a pensar novamente naquelas variáveis que afetam os resultados dos jogos, lembra?
QUALIDADE DE VIDA E O ESPORTE Nos últimos anos as condições de vida e de saúde no Brasil evoluíram favoravelmente não só em termos gerais para o país como também na direção da diminuição dos diferenciais inter-regionais,13 o que acaba por elevar a expectativa de vida da população. Existem vários estudos que relacionam o exercício físico com benefícios para a saúde,14-16 e com base nisso se entende que o ato de exercitar-se precisa estar incorporado não somente ao cotidiano das pessoas, mas também à cultura popular, bem como aos tratamentos médicos, ao planejamento da família e à educação infantil. Essa necessidade se dá por diferentes fatores: do fator social, quando se proporciona ao homem o direito de estar ativo fisicamente em grupo, promovendo inclusão social, ao fator econômico, quando se constata que os custos com saúde individual e coletiva caem em populações fisicamente ativas.17 Como o esporte e o lazer, assim como a saúde, constam na Constituição brasileira de 1988 como um dever do Estado, eles passam a fazer parte das agendas políticas municipais. Esporte e lazer, nas dimensões de experiência prática e contemplativa, geram ações do Estado, como as leis de incentivo ao esporte.18 É importante ressaltar que o trabalho do cirurgião-dentista do esporte não se restringe ao consultório e que ele deve estar presente durante as práticas desportivas.19 Hoje em dia eventos esportivos são acompanhados por equipes de saúde, mas como o cirurgião-dentista não está presente não se pode classificar tais equipes como de saúde efetivamente, pois no âmbito da saúde bucal os atletas continuam desprotegidos. Dessa forma, saúde e esporte caminham lado a lado na busca pela melhor qualidade de vida, e o cirurgião-dentista possui papel crucial nessa dinâmica. Quando extrapolamos esses conceitos para o esporte de alto rendimento, porém, temos um conflito quanto à real busca pela qualidade de vida através da atividade física. Como o esporte é também a profissão desses atletas, e não apenas uma atividade de lazer, eles precisam conviver com muitas limitações, restrições e, em muitos momentos, dores e incômodos.
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Do ponto de vista da odontologia do esporte, por mais que a qualidade de vida não seja o principal objetivo dos atletas de alto rendimento, é importante que o cirurgião-dentista participe da estrutura disponível ao atleta, criando um ambiente de segurança e proporcionando maior tranquilidade para o este, aspectos que participam da concepção da qualidade de vida que pode ser alcançada nessas situações. A abstração de saúde bucal e saúde geral, feita para facilitar o ensino das ciências, não pode encontrar na prática a mesma solução. A saúde bucal faz parte da saúde como um todo e já passou da hora de ser encarada como tal por todos os profissionais. Essa separação, quando se trata do acompanhamento de saúde em atletas, não beneficia ninguém.
HISTÓRIA DA ODONTOLOGIA DO ESPORTE NO BRASIL Alguns clubes esportivos utilizam a odontologia como recurso no país, com departamentos odontológicos ou cirurgiões-dentistas dentro de seus clubes ou centros de treinamento. Bons exemplos são os times Atlético Mineiro, Botafogo, Corinthians, Flamengo, São Paulo, Ceará e Coritiba. O atleta de alto rendimento possui uma rotina de treinamentos e competições pesada, na qual até sua própria família é preterida. Nos poucos momentos de folga, o atleta não vai procurar por atendimento odontológico. A presença do consultório dentro do clube é imprescindível para facilitar esse acesso. A presença do cirurgião-dentista dentro do clube, além da maior tranquilidade aos atletas e da possibilidade de pronto atendimento, facilita a execução de um exame admissional da saúde bucal do atleta, o qual tem por função detectar alguma doença ou problema de saúde que possa atrapalhar na realização das tarefas no futuro emprego, tais como problemas de coluna, problemas no coração, alergias ou problemas de respiração. MAS SERÁ QUE ESSA PREOCUPAÇÃO É TÃO RECENTE ASSIM? A história nos mostra que nem tanto. A odontologia do esporte no Brasil caminha com a história dos eventos desportivos e remonta à época da Copa do Mundo de Futebol de 1958, quando o Dr. Mário Trigo acompanhou a seleção durante a competição, repetindo esse trabalho nas copas de 1962, 1966 e 1970.20 Na Copa de 1958 o Brasil, demonstrando sua preocupação com a profissionalização do futebol e em proporcionar uma estrutura completa para seus atletas, foi o único país que levou um psicólogo (por causa das memórias de 1950, que ainda afetavam alguns jogadores) e um dentista (já que, por causa de suas origens humildes, muitos jogadores tinham problemas dentários, o que causava um impacto negativo nas performances), além de ter enviado um representante para a Europa para assistir às partidas eliminatórias um ano antes do começo do torneio. Mário Trigo foi convidado para participar do Departamento Médico do Fluminense pelo médico Hilton Gosling, que já era seu amigo desde a época da faculdade, e lá o cirurgião-dentista permaneceu até 1946. Foi conversando com Gosling sobre sua dificuldade com as recuperações demoradas de contusões dos atletas que Trigo começou a estudar a relação entre a existência de focos dentários infecciosos e a demora na recuperação de lesões, desenvolveu uma tese sobre esse tema e colocou-a em prática durante os atendimentos que realizou nos clu-
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bes e na seleção. Ele relata que esse trabalho, aliado ao trabalho da equipe de saúde, melhorou o desempenho dos jogadores em campo à medida que permitia uma recuperação mais rápida dos atletas e facilitava a escalação do time para os técnicos. Os clubes sagravam-se campeões quando se encontravam assistidos pelo departamento médico. Da época em que atuou no Fluminense, Trigo relata o bom relacionamento com o técnico Ondino Vieira, que “dava muita importância ao problema dentário dos jogadores”. Trigo já havia trabalhado com Ondino quando exerceu o cargo de Diretor de Futebol da Federação Atlética de Estudante (FAE) e Ondino era o técnico do time. De fato, sua relação com o técnico era tão boa que, ao ser contratado como técnico pelo Vasco da Gama, em 1943, e mais tarde pelo Bangu, em 1951, Ondino chamou Mário Trigo para fazer parte de seu departamento médico também. Foi enquanto trabalhava no Bangu que Hilton Gosling lhe informou que havia pedido ao Dr. João Havelange, na época presidente da CBD, a indicação de Trigo como cirurgião-dentista da Seleção Brasileira. O pedido baseava-se na experiência profissional de Hilton com a atenção em saúde bucal e sua relação com o rendimento físico de seus atletas. A CBD pediu então a Mário Trigo que ele apresentasse um plano odontológico para ser executado na seleção, que deveria ser referendado por Gosling e aprovado por João Havelange. Esse plano, completo, demandaria muito tempo de trabalho, além de ser oneroso; por isso Trigo articulou com o professor Chriso Fontes, Diretor da Faculdade Nacional de Odontologia da Universidade do Brasil (hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ), onde ele mesmo era Professor Assistente de Anatomia, o “empréstimo”, por um dia, da clínica da faculdade para o atendimento dos jogadores. A faculdade cedeu sua estrutura e 15 alunos da graduação para realizar os exames clínicos nos atletas da seleção.
Foto retirada do livro “O Eterno Futebol”. Início dos exames odontológicos na Faculdade Nacional de Odontologia da Universidade do Brasil, em 1958.
Mário Trigo realizou tratamentos de caráter emergencial nos 33 jogadores da seleção que foram avaliados na época, e 118 extrações foram realizadas. Contudo, ainda faltava às comissões técnicas da época maior preocupação com a prevenção e a promoção da saúde dos atletas, cenário que foi melhorando e continua a apresentar avanços. Por exemplo, Vanderlei Luxemburgo, quando foi técnico no Flamengo, pediu que fossem realizados exames radiográficos panorâmicos em todos os jogadores, já demonstrando uma preocupação mais preventiva do que curativa. Trigo relata em seu livro a história de um jogador que não queria passar pelos exames, justificando sua ausência pelo uso de duas próteses totais. Trigo então pediu que o jogador fosse examinado mesmo assim e, ao fazê-lo, descobriu quatorze raízes residuais sob as próteses,
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além de lesões de fibrose pelo traumatismo sofrido com a implantação, e no exame radiográfico constatou-se a presença de muitos focos infecciosos. A cirurgia teve de ser realizada rapidamente, além da confecção de novas próteses, pois, ao consultar o técnico Vicente Feola sobre uma possível dispensa do jogador, ouviu que ele era muito necessário, não podendo substituí-lo. Histórias como essa e outras são relatadas em seu livro “O Eterno Futebol”, que também conta com a transcrição de uma palestra por ele proferida na Academia de Bombeiros Militares de Brasília, em 30 de julho de 1999, sobre “Foco dentário com repercussão a distância”.
Cirurgião-dentista Mário Trigo e o Livro “O Eterno Futebol”, no qual são relatadas histórias de Mário Trigo acompanhando as Seleções Brasileiras de 1962 a 1970.
Depois do Dr. Trigo, foi o Dr. Carlos Sérgio Araújo (1992, 1994, 1998 e 2002) quem representou a odontologia na Seleção Brasileira de Futebol. Dr. Araújo elaborou um projeto que deu origem ao convênio entre a Associação Fluminense de Educação (Unigranrio-AFE), que mantinha a Faculdade de Odontologia de Caxias, e a CBF. Esse acordo previa a realização de diagnóstico das condições de saúde bucal dos atletas concentrados na granja Comary, atendimentos de emergência e ações preventivas. Desde 1991, com o apoio da Unigranrio, foi instalado um consultório odontológico no Centro de Treinamento Heleno Nunes, em Teresópolis, e lá atendidas as seleções masculina e feminina desde a base até a profissional. Outros três profissionais integravam essa equipe: o professor convidado da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Tauby Coutinho Filho prestava assessoria em casos de problemas endodônticos, o professor de cirurgia da AFE Mauro Tadeu Teixeira atuava na área de cirurgia bucomaxilofacial, e o professor de odontologia preventiva da AFE Elson Fontes Cormack.
Cirurgião-Dentista Carlos Sérgio Araújo atende o jogador Ronaldo Fenômeno. Ronaldo Luiz Nazário de Lima, Ronaldo Fenômeno, foi reserva da seleção brasileira na Copa de 1994, com apenas 17 anos. Foi examinado pelo Dr. Araújo pela primeira vez em outubro de 1992. Na época, era juvenil do São Cristóvão e preparava-se para o V Campeonato Sul-Americano de Futebol U-17. Porém, apresentava um abscesso fistulado e era respirador bucal. Duas situações graves em um atleta. Seu tratamento envolveria endodontia, além de cirurgias de remoção da amígdala e adenoide, e tratamento ortodôntico e fonoaudiológico para corrigir maloclusão e desenvolvimento de uma respiração nasal. Na época o jogador apresentava os piores resultados da equipe no exame de curva de lactato. Foi vendido para o Cruzeiro, onde iniciou tratamento odontológico e, inclusive, ortodôntico e foi convocado por Parreira, com um novo padrão pulmonar para o atleta, que contribuiu para o maravilhoso futebol que apresentou no decorrer de sua carreira profissional.
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FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Ricardo Cunha Eli Luis Namba
CapĂtulo 2
O conhecimento sobre a fisiologia do exercício é fundamental para o trabalho do cirurgião-dentista do esporte (CDE). O atleta de alto rendimento responde fisiologicamente de maneira desigual, e o CDE deve estar ciente de que o organismo do atleta passa por alterações ocasionadas pelos treinamentos que podem promover alterações até na produção da saliva. Por isso, o profissional que atua na área precisa conhecer os conceitos fisiológicos básicos para uma melhor interação interdisciplinar. O trabalho odontológico pode tanto contribuir como prejudicar o desenvolvimento físico durante os treinamentos e, inclusive, interferir na resposta tecidual a lesões musculares. Muitos medicamentos utilizados na odontologia também podem influenciar no rendimento dos atletas, portanto saber ministrar esses medicamentos também é responsabilidade do profissional. Acredita-se que a fisiologia do exercício é a ciência básica para todos os profissionais da saúde que trabalham no meio esportivo, pois conhecê-la reflete nas condutas clínicas. Assim, este capítulo visa apresentar as alterações fisiológicas promovidas pelos exercícios físicos e as consequências de um controle inadequado de treinamento. É extremamente importante adquirir conhecimento sobre alguns conceitos fisiológicos relacionados com a prática de exercícios físicos. Tais conceitos auxiliarão em uma melhor compreensão das alterações e adaptações fisiológicas quando o corpo humano é induzido propositalmente a um estresse físico, geralmente denominado de atividade física, exercício físico, treinamento físico, entre outros termos.1,2 De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a atividade física é definida como qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que requer gasto energético, quantificado por meio de “calorias”.3 “Atividade física” não deve ser confundida com “exercício físico”, que é uma categoria da atividade física que é planejada, estruturada, repetitiva e proposital, no sentido da melhoria ou manutenção de um ou mais componentes da aptidão física, entre eles o aumento da capacidade aeróbia, o aumento da massa magra e a redução dos percentuais de gordura (G%).4,5 A atividade física inclui o exercício e outras atividades que envolvem o movimento corporal, como jogos, trabalhos profissionais, transporte ativo, tarefas domésticas e atividades recreativas.3,5 Os principais objetivos dos programas de atividade física são: melhoria da aptidão cardíaca; melhoria da aptidão pulmonar; melhoria da força muscular; prevenção de doença coronariana; regressão da aterosclerose; tratamento das doenças cardíacas; prevenção de acidentes vasculares encefálicos (AVEs) e prevenção de vários tipos de câncer.6 Esses objetivos supracitados podem ser atingidos com programas de atividade física sistematizado e periodizado, denominados programas de exercícios físicos.7,8 Exercício físico é uma forma de atividade física realizada repetidamente, por um tempo determinado, visando atingir um objetivo específico. O programa de exercícios tem como principal objetivo o alto controle dos períodos e o volume e a intensidade dos estímulos físicos.9-11 Quando se pensa em programas de exercícios físicos, os mais difundidos e conhecidos são os exercícios com característica aeróbia, os quais têm por definição ser um modelo de exercício que se refere ao uso de oxigênio no processo de geração de energia dos músculos. Esse tipo de exercício trabalha uma grande quantidade de grupos musculares de forma rítmica.4 Andar, correr, nadar e pedalar são alguns dos principais exemplos de exercícios aeróbicos, os quais são de menos intensidade, porém de grande duração. Quando se praticam exercícios aeróbicos,
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as células musculares consomem mais oxigênio para produzir energia; o corpo irá exigir muito mais energia, porém terá mais tempo para produzi-la. Nesse caso a glicose se transforma em piruvato. Nessa estruturação bioquímica a molécula proveniente da degradação da glicose obtém “autorização” para entrar na mitocôndria, uma estrutura da célula, e produz a acetilcoenzima A (Acetil-CoA), que por fim reage com o oxigênio proveniente da respiração e produz em torno de 18 vezes mais ATP do que os exercícios anaeróbicos.12-15 Entretanto, como a glicose é uma substância vital para o funcionamento de células nervosas, especialmente o cérebro, o corpo evita utilizá-la em grande quantidade e então passa a utilizar as moléculas de gordura (triglicérides) no lugar da glicose para produzir energia.5,12
Figura 1: Divisão dos sistemas aeróbio e anaeróbio lático.
O exercício anaeróbio independe da utilização do oxigênio e é uma atividade física praticada por menos tempo, porém com maior intensidade. Tecnicamente se trata de intensidade alta e volume baixo. A intensidade pode ser representada pela velocidade de substrato energético utilizada, ou seja, quanto maior a velocidade exigida para a produção de energia originária do trifosfato de adenosina (ATP) clivado, menos eficiente se torna a via aeróbia.12,15-17 Portanto, o mecanismo energético irá buscar maior “agilidade” pela via anaeróbia, em que há reservas energéticas. Tais reservas podem ser acessadas muito rápido com a ressíntese do ATP pela creatina fosfato (CP) mais adenosina difosfato (ADP), chamada de sistema ATP-CP.18-20 São cientificamente conhecidos como exercícios anaeróbios aláticos, exercícios de altíssima intensidade e de tempo muito baixo. Nesse caso o tempo é volume do exercício, não há concentração de lactato devido ao fato de o tempo de contração muscular ser extremamente curto. Os exercícios anaeróbios aláticos são todos exercícios com alta liberação de energia e tempo muito curto; são exercícios de alta intensidade, conhecidos como “explosão muscular”.12,14 Exemplos de exercícios com predominância de exercícios anaeróbios aláticos • Saltos no atletismo • Arremessos e lançamentos no atletismo • Levantamento de peso olímpico • 100 metros rasos
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IMUNOLOGIA E EXERCÍCIO Yesudian Yamada da Gama
CapĂtulo 3
INTRODUÇÃO AO SISTEMA IMUNITÁRIO Para compreender a relação entre o sistema imunitário e o exercício, devemos primeiro resgatar o básico da imunologia. O sistema imunitário é composto de órgãos linfáticos (timo, baço e linfonodos) e células isoladas (leucócitos) espalhadas por diversos tecidos do corpo humano, que defendem o organismo contra agentes agressores, células estranhas e lesões. Esse sistema consegue distinguir células do corpo de células estranhas, inativando-as ou destruindo-as. Por exemplo, quando uma bactéria invade um tecido no qual não é bem-vinda, monócitos migram para o local e se diferenciam em macrófagos para fagocitar a bactéria, evitando que ela cause algum dano. Para que esse sistema funcione perfeitamente, é necessário que existam citocinas, que são moléculas proteicas que agem como mensageiros, fazendo a interação entre as células do sistema imunitário e outros sistemas do corpo. As células isoladas do sistema imunitário, os leucócitos, são divididas em mastócitos, neutrófilos, eosinófilos, monócitos e linfócitos, todos com a função de combater os micro-organismos causadores de doenças, mas cada um com uma função específica; por exemplo, os macrófagos fagocitam células estranhas nos tecidos, já os eosinófilos combatem parasitas e algumas infecções virais.¹
ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE Já é bem definido que a atividade física proporciona aumento da saúde e prevenção e controle de algumas doenças. No caso da hipertensão, durante o exercício ocorre aumento da frequência cardíaca e do volume de ejeção, aumentando consequentemente a pressão arterial, como forma de enviar mais sangue aos músculos ativos, e logo ao fim do exercício ocorre a hipotensão, como forma de regulação homeostática pelos barorreceptores, que trocam informações sobre a pressão arterial com o sistema nervoso central.² Trata-se de uma resposta muito importante do sistema, que evita que o corpo fique com a pressão alta após o exercício. Já as dislipidemias e ateroscleroses podem ser prevenidas e em alguns casos tratadas utilizando-se exercício e dieta concomitantemente, devido ao fato de o exercício, principalmente o aeróbio, reduzir o LDL e aumentar a produção de HDL pelo fígado.³ Para os diabéticos é muito interessante a realização de exercícios físicos de moderada intensidade, pois o exercício aumenta a sensibilidade à insulina.4 Isso ocorre porque os receptores GLUT4 do músculo esquelético são translocados para a membrana, aumentando a captação de glicose para o músculo esquelético e regulando a glicose sanguínea.5 O exercício físico é muito importante para quem possui osteopenia e osteoporose – patologias do sistema ósseo que reduzem sua densidade –, principalmente o exercício de força, que aumenta a compressão dos ossos e, dessa forma, a ação dos osteoblastos, o que proporciona, por sua vez, aumento da densidade óssea. Dados interessantes mostram que levantadores de peso olímpicos são as pessoas que possuem maior densidade óssea.6 Hoje a relação do câncer com o exercício também tem sido estudada. Pesquisas sugerem que pacientes com câncer que realizam maior quantidade de atividade física possuem sobrevida superior em comparação aos pacientes com câncer sedentários.7 Outras pesquisas relacionam o estilo de vida e a circunferência do abdômen com menor risco de desenvolver câncer: não fumar,
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ser fisicamente ativo e ter a circunferência do abdômen menor que 94 cm são condições que diminuem em 62% as chances de os homens desenvolverem câncer.8 Além disso, o exercício parece ter efeito na redução do tamanho do tumor. Pesquisas realizadas com ratos demonstraram que os que possuíam câncer e realizavam exercícios físicos tinham o tamanho do tumor reduzido e síndrome da caquexia menos acentuada comparados com ratos sedentários.9 Em relação à obesidade e à síndrome metabólica não é necessário comentar muito, pois, além de todos os benefícios vistos acima, o exercício aumenta o gasto energético tanto durante o exercício como em repouso, facilitando a queima de gordura subcutânea e intra-abdominal (visceral). Lembramos que a obesidade e o sedentarismo podem aumentar a probabilidade de o indivíduo desenvolver qualquer uma das doenças já comentadas, inclusive o câncer.7,10-12
ATIVIDADE FÍSICA E IMUNOLOGIA Em um contexto popular se diz que a prática de atividades físicas traz ao indivíduo uma vida mais saudável e que esse indivíduo teria maior dificuldade em adoecer. Mas, por outro lado, existe a questão da atividade física e da imunossupressão, ou seja, a atividade física, por alterar a fisiologia, estressar e “desgastar” o corpo, poderia suprimir o sistema imunitário e facilitar a entrada de agentes agressores. Devido a isso, muitas pesquisas foram e estão sendo realizadas na busca em compreender qual a influência da atividade física no sistema imunitário, verificando se há alterações no número de células imunocompetentes, na capacidade funcional ou em ambas. A curva em “J”, proposta por Nieman em 1994,13 afirmava que indivíduos treinados intensamente possuíam maior predisposição a infecções do que sedentários, e indivíduos treinados moderadamente tinham menor chance de contraí-las, ou seja, eram considerados mais saudáveis. Isso era avaliado através da verificação de infecções do trato respiratório superior, verificando-se que a maioria dos atletas se queixava de resfriado e possuía todos os sintomas. Nunes e colaboradores,14 em sua revisão bibliográfica, verificaram que muitas dessas pesquisas não avaliavam a etiologia da suposta infecção do trato respiratório superior, não verificando qual bactéria (ou vírus) estava alojada no atleta. Isso gerava grande discussão entre pesquisadores, e surgiam novas possibilidades de pesquisas com outras metodologias, possivelmente mais adequadas, buscando saber a etiologia das infecções. Trabalhos mais recentes realizados por Gleeson15 não foram capazes de associar diretamente a diminuição de algumas funções imunitárias pós-exercício com o aumento de infecções clinicamente confirmadas, não colaborando com a antiga teoria da curva em “J” de Nieman e propondo novas hipóteses. Outros autores14,16 também não encontraram relação entre o volume de treinamento durante 6 meses de preparação de atletas e a incidência de episódios de infecções do trato respiratório superior. A pesquisa de Gleeson15 revelou um dado muito interessante! Os atletas apresentavam somente sintomas de infecções do trato respiratório superior, que possivelmente eram desencadeados pela respiração excessiva de ar frio, seco ou com poluentes, aliada à desidratação faringeana, caracterizando uma inflamação não infecciosa. Dessa forma fica fácil compreender que os atletas possuem maior frequência respiratória durante o exercício e geralmente treinam em ambientes abertos, seja com frio, calor ou poluição, o que levaria a essa inflamação não infecciosa.
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tário, da mesma forma que ele é usado em diversas outras especialidades, na prevenção e cura de doenças. Porém, até este momento, podemos dizer que, quanto mais intenso e prolongado o exercício for, maior será a chance de ocorrer a imunossupressão temporária, e que o exercício mais curto parece aumentar a resposta imunitária, mas não sabemos até que ponto essas alterações auxiliariam ou não na prática clínica.20
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DOENÇAS INFECTOINFLAMATÓRIAS BUCAIS E ALTERAÇÕES NO TECIDO MUSCULAR Bárbara Capitanio de Souza Bruno Costa Teixeira Marcelo Ekman Ribas
CapĂtulo 4
INTRODUÇÃO A inflamação desempenha importante papel na patogênese de diversas doenças e suas complicações sistêmicas, além de funções específicas em certas condições fisiológicas. Nos últimos anos, uma ligação entre infecções crônicas orais (como a doença periodontal e patologias periapicais), inflamação e progressão de algumas doenças ou condições fisiológicas com perfil inflamatório ganhou espaço no meio científico. A maioria das evidências que relacionam doenças bucais ao aumento dos níveis séricos de marcadores inflamatórios é proveniente de estudos sobre a doença periodontal, uma doença infectoinflamatória que acomete os tecidos de suporte e sustentação dos dentes. Contudo, evidências recentes também apontam um papel significativo das periodontites apicais nas alterações séricas de mediadores inflamatórios. Periodontites apicais são doenças infecciosas prevalentes e de longo prazo que causam reações inflamatórias crônicas. As características microbiológicas da doença periodontal são parecidas às infecções de origem endodôntica. Essas infecções estão associadas com uma microflora complexa composta de bastonetes gram-negativos predominantemente anaeróbios. A plausibilidade biológica que relaciona a doença periodontal e as patologias periapicais crônicas com outras condições sistêmicas é semelhante. A disseminação sistêmica de produtos bacterianos pode ocorrer do mesmo modo como a de mediadores inflamatórios e componentes imunomoduladores, havendo a possibilidade de modulação de efeitos sistêmicos. A musculatura esquelética possui alta capacidade adaptativa ante estímulos fisiológicos e ambientais, sendo um tecido altamente responsivo às mudanças das demandas funcionais. O tecido muscular possui funções que são controladas por diferentes vias de sinalização. Distúrbios da inervação, diminuição da atividade física, redução de hormônios, aumento dos mediadores inflamatórios e alterações da ingesta proteico-calórica são os principais responsáveis por alterações no metabolismo muscular. Neste capítulo são apresentados os principais pontos de discussão referentes à plausibilidade da ação das doenças infectoinflamatórias bucais e alterações no tecido muscular.
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FORÇA MUSCULAR Historicamente, a fisiologia do exercício encontra suas raízes primárias ligadas à história da Grécia antiga e da Ásia Menor. Referências aos esportes, aos jogos e às práticas de saúde, como higiene pessoal, exercício e treinamento, já foram relatadas pelas civilizações mais antigas. As competições de força tornaram-se um esporte de destaque na América a partir do início do século XIX. Os “homens fortes”, como eram chamados os levantadores de peso, realizavam suas apresentações em festas ou espetáculos itinerantes (Figura 1). Os testes de força também eram realizados para avaliações de aptidão física. Universidades como Harvard, Columbia, Minnesota, Amherst e Dickinson participavam de competições para determinar quem era o “homem mais forte”. No início do século XX as competições de força ganharam outra proporção, dando início a um esporte oficial.
Figura 1: Eugene Sandow (Friederich Wilhelm Müller), considerado o pai da musculação e criador do fisiculturismo. Trabalhou para as forças armadas, onde elaborou um programa de treinamento para soldados. “The Great Competition” (Londres, 1901) foi a primeira competição oficial de fisiculturismo, organizada por Sandow. Adaptado de McArdle WD, Katch FI, Katch VL. Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho humano. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2013. p. 506-49.
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FORÇA E ÁREA TRANSVERSAL DO MÚSCULO O tecido muscular está organizado em agrupamentos de células cilíndricas denominadas fibras musculares (Figura 2). A força de contração é transmitida da fibra muscular para o arcabouço de tecido conjuntivo e para os tendões, que exercem tração sobre os ossos. A quantidade de força do músculo esquelético está diretamente relacionada com sua área de secção transversal. A musculatura humana á capaz de gerar de 16 a 30 newtons (N) de força por centímetro quadrado de corte transversal. Logo, um músculo com área transversal de 5,0 cm2 e com capacidade de força representativa de 30 N/cm2 pode gerar 150 N de força máxima.1 Assim, os indivíduos com a maior área total de secção transversal do músculo geram, consequentemente, a maior força absoluta. Os músculos tornam-se mais fortes quando recebem um treinamento próximo de sua capacidade máxima de gerar força. A expressão da força pode ser modificada basicamente por fatores neurais e musculares. Outros fatores como atividade física, estado nutricional, componentes genéticos, fatores ambientais, alterações endócrinas e ativação do sistema nervoso também contribuem para o desenvolvimento ou a manutenção do tecido muscular. A diminuição de alguns desses fatores pode ocasionar um processo de perda de massa muscular, conhecido como sarcopenia (Figura 3). Para que ocorra o processo de hipertrofia e, portanto, o aumento da capacidade de produção
Figura 2: Organização estrutural do músculo esquelético. A: O epimísio corresponde a uma fáscia de tecido conjuntivo fibroso, que circunda o músculo. Uma camada de tecido conjuntivo, o perimísio, circunda um conjunto de feixes de fibras musculares. O endomísio é uma fina camada de tecido conjuntivo que envolve e separa as fibras musculares (10 µm a 100 µm de diâmetro ou mais). As fibras musculares são formadas por miofibrilas (1 µm a 3 µm de diâmetro), onde estão organizados filamentos proteicos de actina e miosina. B: O sarcômero representa a unidade funcional de uma fibra muscular. A linha Z entra em contato com um sarcômero em ambas as extremidades e proporciona estabilidade à estrutura. A faixa M é composta de estruturas proteicas que apoiam o arranjo dos filamentos de miosina. Os filamentos de actina e miosina contribuem para a mecânica da contração muscular.
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de força, são necessárias duas adaptações fundamentais: maior síntese de proteína e proliferação de células-satélite. O crescimento muscular depende também da resposta adaptativa de estímulos que ativem vias de sinalização distintas, a transcrição de genes específicos e a síntese proteica. Em condições fisiológicas normais, o exercício físico imposto aos componentes do tecido muscular estimula algumas proteínas sinalizadoras a ativar genes que iniciam a translação do RNA mensageiro e induzem a síntese de proteína, que, quando associada aos efeitos de hormônios anabólicos e à disponibilidade de aminoácidos, provoca aumento do tamanho das fibras musculares, em um processo conhecido como hipertrofia muscular. A hipertrofia é uma adaptação fisiológica em resposta a estímulos de sobrecarga e depende de alguns fatores, como sexo e idade do indivíduo, volume e intensidade do treinamento.
HIPERTROFIA E MEDIADORES INFLAMATÓRIOS O músculo esquelético adulto é um tecido dinâmico que, além de ser capaz de responder aos estímulos do ambiente, também produz e secreta fatores tróficos (conhecidos como fatores de crescimento). Muitas citocinas e fatores de crescimento podem ser produzidos pelo próprio tecido muscular ou por células inflamatórias infiltradas nesse tecido durante o processo de reparo.
Figura 3: Diferentes mecanismos etiológicos estão relacionados com a patogênese da sarcopenia. Entre eles se destacam a diminuição de estímulos anabólicos, como fatores hormonais, nutricionais e fatores envolvendo o estímulo neuromotor, e o aumento dos estímulos catabólicos musculares, principalmente os relacionados com a elevação das citocinas pró-inflamatórias e com fatores comportamentais. Adaptado de Beas-Jiménez JD, López-Lluchb G, Sánchez-Martínez I, Muro-Jiménez A, Rodríguez-Bies E, Navas P. Sarcopenia: implications of physical exercise in its pathophysiology, prevention and treatment. Rev Andal Med Deporte. 2011;4(4):158-66.
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rio é um dos principais fatores que alteram a resposta de reparo tecidual; por isso, modificações nesse processo influenciam diretamente em sua efetividade. Em um estudo observou-se que a doença periodontal é capaz de induzir um aumento na resposta pró-inflamatória na área de lesão muscular, a qual foi relacionada com alterações no processo de reparo de músculos lesionados. O maior recrutamento de células inflamatórias e da produção de mediadores inflamatórios na área de lesão pode estar associado a um prolongamento do processo inflamatório, inviabilizando as fases finais da cicatrização e aumentando o risco de fibrose no local de dano.19 As doenças odontológicas com perfil infectoinflamatório, como as doenças periodontais e endodônticas, podem modificar diferentes parâmetros fisiológicos. As evidências disponíveis sugerem que essas doenças podem contribuir para uma resposta imunológica sistêmica, que não está limitada ao local de origem da doença, levando ao aumento global da inflamação. 28,29 Com relação à inflamação e à recuperação tecidual, podemos destacar que a inflamação é muito importante para a recuperação tecidual, tanto para microlesões, em que a regeneração provoca o aumento de massa muscular, quanto para recuperação de danos causados por lesões advindas de traumas e estiramentos, nos quais o tecido é regenerado. Entretanto, processos inflamatórios crônicos podem afetar tanto o sistema muscular esquelético, provocando processos de sarcopenia, quanto o sistema de recuperação tecidual, prejudicando o rendimento e colocando em risco a saúde do atleta.
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TRAUMATOLOGIA DO ESPORTE Edmar Stieven Filho Luis Antonio Ridder Bauer Ana Paula Gebert de Oliveira Franco Isabel Ziesemer Costa Mario Massatomo Namba
CapĂtulo 5
A medicina do esporte é importante não só para atletas profissionais como também para pessoas que querem seguir um estilo de vida mais saudável. O objetivo primordial da medicina esportiva é prevenir, tratar e reabilitar praticantes de atividades esportivas por meio de avaliação e acompanhamento clínicos periódicos. Este capítulo tem por objetivo mostrar o trabalho do traumatologista do esporte e os conceitos básicos das principais lesões traumáticas.
TRAUMATOLOGISTA E O MÉDICO DO ESPORTE As funções do traumatologista do esporte muitas vezes são confundidas com as do médico do esporte. O médico do esporte tem formação clínica, normalmente em cardiologia, nefrologia, fisiologia ou endocrinologia, e presta prova para obter título em Medicina do Esporte. Esse título é concedido pela Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. A residência médica em Medicina do Esporte foi criada em 2005, pela Portaria nº 145, de 14 de julho. O programa compreende três anos de treinamento para médicos nas áreas de clínica e traumatologia, direcionadas para o esporte e pacientes fisicamente ativos. O programa oficial não prevê atividades em centro cirúrgico. O médico do esporte é responsável pelas avaliações fisiológicas do atleta. O que mais chama a atenção na mídia em relação a esse trabalho são as mortes súbitas. Elas podem acontecer por malformações cardíacas, um dos pontos de investigação do check-up esportivo. Outro exemplo do trabalho desse profissional é a quantificação de enzimas que identificam a necrose muscular. Isso é importante para prevenir lesões. Quando esses marcadores atingem pontos críticos, o médico do esporte recomenda ao técnico a diminuição da carga do atleta, o que pode justificar, por exemplo, uma saída no segundo tempo de uma partida de futebol. O traumatologista do esporte é um médico ortopedista. Antes de iniciar seus trabalhos na área de trauma esportivo, ele precisa fazer os três anos de residência em Ortopedia e prestar uma prova de título. Depois disso, o ortopedista entra em uma das áreas relacionadas ao esporte, o que normalmente custa mais dois anos de formação, dependendo do programa. O traumatologista do esporte é médico, especialista em Ortopedia, com atuação no esporte. Ele é responsável pelas lesões musculoesqueléticas. As lesões são avaliadas a partir de experiência pessoal e perfil pessoal do atleta, somados ao conhecimento da literatura médica. Esses dados dão ao ortopedista os meios necessários para indicar o tratamento, que pode ser dividido em dois grandes grupos: • conservador – medicação, repouso, reabilitação...; e • cirúrgico. Apesar da divisão acima ser arbitrária, com o intuito de facilitar a compreensão do leitor, as atividades dos profissionais da saúde em equipes esportivas acabam se interpondo conforme a dinâmica do departamento médico (DM). O DM tem sempre uma equipe multidisciplinar. Ele compreende profissionais médicos, fisioterapeutas, odontólogos, profissionais da educação física e técnicos de diversas formações. O funcionamento do DM é ditado normalmente pelo profissional com mais experiência. Ao chefe do DM cabe determinar quais os protocolos de tratamento a ser usados e alinhar os interesses do atleta, do técnico e da direção do clube esportivo com a saúde do desportista.
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Não existe nenhum tipo de espaço para individualismo no trabalho com o esporte; todos os trabalhos são multidisciplinares. Um exemplo clássico são os exercícios preventivos. Já está comprovado que a execução de determinados exercícios pode diminuir entre 50% e 80% as chances de lesões ligamentares.1 Esse tipo de programa só será executado corretamente com a integração de médicos, fisioterapeutas, técnicos e preparadores físicos. Os exercícios físicos devem ser praticados dentro da capacidade individual e de forma regular, pois, muitas vezes, a ansiedade pela obtenção de resultados rápidos ou a prática profissional esportiva podem desenvolver quadros de lesões de origem muscular, óssea ou tendínea. O treinamento com a orientação do educador físico é um dos principais meios de prevenção. Uma vez instalada a lesão, deve ser avaliada por um médico para diagnóstico. A maior parte das lesões esportivas são musculoesqueléticas. Podemos dividir esquematicamente as lesões em três principais grupos: • lesões musculares; • entorses – lesões ligamentares; e • tendinopatias crônicas. LESÕES MUSCULARES O tecido esquelético é composto de fibras musculares e tecido conjuntivo. As fibras musculares são responsáveis pela função contrátil, e o tecido conjuntivo fornece a sustentação e a transmissão do movimento para a estrutura óssea. Essa junção miotendínea possui capacidade de suportar tensões de até 1.000 kg2. As lesões musculares são uma das causas mais comuns de afastamento do atleta. Elas podem acontecer por contusão, distensão ou laceração, sendo mais de 90% contusões ou distensões.2 A contusão muscular é uma lesão extrínseca que ocorre por uma força compressiva súbita, normalmente o trauma por contato direto. A agressão atinge tanto a pele quanto o tecido celular subcutâneo, sem solução de continuidade da pele. Os vasos, tecido conectivo e fibras musculares sofrem roturas em diferentes graus de intensidade.3 As distensões são lesões intrínsecas, causadas pela força tênsil excessiva aplicada no músculo, geralmente próximo à junção miotendínea. Essas lesões ocorrem comumente em esportes com corridas e saltos.2 Um indicativo é quando o jogador de futebol coloca a mão atrás da coxa durante um momento de arranque. As distensões podem ser divididas em: Grau I – lesões musculares leves, com pouca intensidade de dor, sem equimose ou hematoma. Também podem ser chamadas de estiramento; Grau II – lesões moderadas (parciais) das fibras musculares, que apresentam hematomas e equimose local. São acompanhadas de algum grau de incapacidade de realizar os gestos desportivos; e Grau III – lesões graves (totais) das fibras musculares, com grandes hematomas e equimose. Perda da função do grupo muscular acometido.3 O tratamento das lesões musculares é classicamente conservador, sendo os procedimentos cirúrgicos utilizados somente em casos muito específicos. As medidas iniciais são para diminuir a dor e evitar o aumento do dano causado pela lesão.
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Lesão de grau III de musculatura posterior da coxa em corredor. Fonte: http://running.competitor.com/2012.
O uso do frio local é uma das primeiras atitudes a ser tomadas. Ela já pode ser iniciada no local onde o paciente sofreu a lesão e tem poucos efeitos colaterais. Ao diminuir a temperatura para 3 a 7 ºC consegue-se reduzir em 50% o fluxo sanguíneo intramuscular, o que diminui o edema na lesão, além do poder analgésico que o frio proporciona.2 A analgesia pode ser complementada pelo uso de medicações anti-inflamatórias não hormonais. A elevação do membro afetado acima do nível do coração resulta em diminuição da pressão hidrostática e na consequente redução do acúmulo de fluidos intersticiais.2 Cerca de 3 a 5 dias após o trauma, se a fase aguda da lesão passou sem intercorrências, um tratamento mais ativo da musculatura lesionada deve ser iniciado gradualmente. Essa recuperação será acompanhada pelo DM, e o tempo para retorno depende principalmente da gravidade da lesão. Os exames de imagem de ressonância magnética e outros são adjuvantes na lesão muscular. Podem ser solicitados em casos de dúvida, porém o tratamento e o retorno esportivo são definidos pelas condições clínicas do atleta.4 ENTORSES As entorses são movimentos antifisiológicos sofridos pelas articulações, causados por mecanismos de rotação associados à alavanca dos membros (Figura 2). O tornozelo e o joelho são as articulações mais acometidas. A entorse de tornozelo é a lesão mais comum em muitos esportes, e a de joelho é a causa mais comum de cirurgia por lesão esportiva. Cerca de 90% das entorses de tornozelo ocorrem por supinação. A lesão ligamentar mais comum desse tipo de entorse é a do ligamento talofibular anterior. As lesões ligamentares isoladas do tornozelo cicatrizam com tratamento conservador. As lesões graves, que cursam com instabilidade ou fraturas, são preferencialmente de tratamento cirúrgico. O mecanismo mais comum de entorse de joelho é a flexão e rotação externa. Ele também pode ser descrito como rotação interna do fêmur sobre a tíbia. Normalmente acontece por mudança rápida de direção (side-cut) (Figura 3). Esse mecanismo produz principalmente lesões do ligamento colateral medial (LCM) e do ligamento cruzado anterior (LCA). O LCM é classicamente um tratamento conservador, e o LCA, cirúrgico.
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Figura 2: Supinação do tornozelo.
Figura 3: Entorse do joelho.
O tratamento inicial da entorse é semelhante ao das lesões musculares. Pode-se usar o protocolo PRICE (proteção, repouso, gelo, compressão e elevação do membro).4 Após o primeiro atendimento, a diferenciação entre tratamentos cirúrgicos e conservadores deve ser feita por profissional experiente e especializado.
REFERÊNCIAS 1. Sadoghi P, von Keudell A, Vavken P. Effectiveness of anterior cruciate ligament injury prevention training programs. J Bone Joint Surg Am. 2012;94(9):769-76. 2. Järvinen TA, Järvinen TL, Kääriäinen M, Kalimo H, Järvinen M. Muscle injuries: biology and treatment. Am J Sports Med. 2005;33(5):745-64. 3.
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TRAUMATISMOS ALVEOLODENTÁRIOS NO ESPORTE Alexandre Kowalczuck Antonio Batista Gilson Blitzkow Sydney Marili Doro Andrade Deonízio
CapĂtulo 6
LESÕES TRAUMÁTICAS ALVEOLODENTÁRIAS Traumatismo em dentes anteriores e nos tecidos de suporte é relativamente comum em crianças e adolescentes durante a prática esportiva. Apesar das tentativas de preveni-las, pacientes entre 7 e 15 anos de idade têm sido os mais acometidos.1-3 Nesse contexto, o profissional da área odontológica deve estar preparado para avaliar e tratar esses acidentes quando necessário. Mas o conhecimento geral aponta para que todos tenham noção dos tipos de ocorrência e o que fazer no atendimento imediato. A conduta correta por quem realiza esse primeiro atendimento pode ser fundamental para a permanência do dente na arcada, uma vez que são vários os fatores envolvidos e que dependem diretamente dessa conduta. Assim, o prognóstico pode apresentar diferenças no sucesso em função do primeiro atendimento, ficando na dependência dos seguintes fatores: 1. do tipo de traumatismo ocorrido; 2. do tempo decorrido entre o traumatismo e o atendimento emergencial; 3. da conduta utilizada no atendimento emergencial; e 4. do tempo entre o atendimento emergencial e a continuidade do tratamento. As lesões traumáticas alveolodentárias são classificadas em quatro tópicos, obedecendo à proposta de Andreasen,4 modificada em 2007.2 1. Lesões traumáticas dos tecidos duros do dente e polpa a. Fratura coronária envolvendo esmalte b. Fratura coronária envolvendo esmalte e dentina sem exposição pulpar c. Fratura coronária envolvendo esmalte e dentina com exposição pulpar d. Fratura coronária envolvendo esmalte, dentina e cemento sem exposição pulpar e. Fratura coronária envolvendo esmalte, dentina e cemento com exposição pulpar f. Fratura radicular envolvendo dentina, cemento e polpa (cemento, dentina e polpa – mesmo critério dos anteriores – do exterior para o interior) 2. Lesões traumáticas que envolvem o ligamento periodontal a. Concussão b. Subluxação c. Luxação extrusiva d. Luxação lateral e. Luxação intrusiva f. Avulsão 3. Lesões das estruturas ósseas de suporte a. Esmagamento e compressão alveolar da mandíbula b. Esmagamento e compressão alveolar da maxila c. Fratura da parede alveolar da mandíbula d. Fratura da parede alveolar da maxila e. Fratura do processo alveolar da mandíbula f. Fratura do processo alveolar da maxila
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g. Fratura de mandíbula h. Fratura de maxila 4. Lesões na gengiva ou na mucosa oral a. Laceração da gengiva ou mucosa oral b. Contusão da gengiva ou mucosa oral c. Abrasão da gengiva ou mucosa oral 1. Lesões traumáticas dos tecidos duros do dente e polpa a) Fratura coronária envolvendo esmalte É um tipo de traumatismo resultante de um impacto frontal e direto, das mais variadas origens, que resulta em fratura de pequenas porções de ângulos ou de toda a delgada parte incisal do esmalte, sem, contudo, atingir a dentina. Essa perda pode apresentar-se com bordos definidos ou irregulares, lisos ou pontiagudos.1-3 Aos testes clínicos de percussão não haverá resposta fora da normalidade, a não ser que a fratura de esmalte venha acompanhada de lesão nas estruturas de suporte. O mesmo acontece com a mobilidade. As fraturas de esmalte dificilmente causam algum dano pulpar, mas, mesmo assim, testes de vitalidade deverão ser realizados. A resposta da polpa provavelmente será positiva, dentro da normalidade. Em alguns casos poderá apresentar, inicialmente, resposta negativa, que pode sugerir um dano pulpar transitório. Deve-se realizar monitoramento com novos testes pulpares até um diagnóstico definitivo ser obtido. Radiograficamente será difícil observar alguma imagem de perda de esmalte, pois na maioria das vezes a perda é mínima. Se houver algum outro tipo de traumatismo associado, poderá estar presente alguma evidência de espessamento periapical ou ao longo da superfície radicular. Radiografias periapicais bem anguladas, com dissociação mesial e distal, e radiografias oclusais são indicadas para uma possível observação de uma lesão luxativa ou fratura radicular. Tratamento: a restauração em resina é a melhor recomendação. A colagem dos fragmentos poderia ser uma opção, porém como os fragmentos geralmente são muito pequenos, nem sempre localizáveis, ou a fratura originou múltiplos fragmentos, esta opção deve ser descartada. Caso o dente já apresente restauração, uma alternativa pode ser sua remoção para novo preparo cavitário e nova restauração que englobe a área da fratura. Emergencialmente poderá ser realizado um biselamento dos bordos, uma vez que se apresentam pontiagudos e ferem a língua. Muitas vezes, se a perda de esmalte foi mínima, somente o alisamento dos bordos pontiagudos é a conduta a ser instituída.1,10 Prognóstico: sequelas das fraturas limitadas ao esmalte não são comuns. Quando estiverem associadas a lesões dos tecidos de suporte do dente, indica-se controle clínico e radiográfico entre 4 e 6 semanas e em 1 ano após o traumatismo, para observar se não há evidência de dano pulpar. O prognóstico geralmente é favorável. b) Fratura coronária envolvendo esmalte e dentina sem exposição pulpar É um tipo de traumatismo de maior intensidade, no qual a força do impacto, geralmente
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Tempo extraoral inferior a 60 minutos mantidos em leite (até 3 horas), saliva ou soro fisiológico (até 2 horas) ou a seco (até 1 hora) Conduta Clínica Imediata Ápice fechado
Ápice aberto
Mediata (1-2 semanas)
• Manipular o dente exclusivamente pela coroa. • Limpeza delicada com soro fisiológico sem tocar a superfície da raiz com instrumento. • Manter o dente no soro fisiológico. • Remoção do coágulo do alvéolo. • Reposicionar a parede do alvéolo se houver fratura. • Reimplantar o dente lentamente até a posição original, conferindo com radiografia. • Fazer contenção semirrígida por 2 semanas. • Antibioticoterapia. • Se houve contato do dente com o solo, fazer imunização com vacina antitetânica.
• Iniciar o tratamento endodôntico entre 7-10 dias com a utilização de MIC de Ca(OH)2 por 6 meses com trocas a cada 30-60 dias. • Remover a contenção em 2 semanas.
• Não extrair o dente. • Higienizar o local com água, soro fisiológico ou solução de clorexidina a 0,1%. • Radiografar para conferir a posição do dente. • Fazer contenção semirrígida por 2 semanas. • Verificar oclusão. • Antibioticoterapia.
• Remoção da contenção em 2 semanas. • Avaliar com teste de vitalidade a condição pulpar. • RX para observar a presença de alteração apical. • Se constatar ao longo do tempo a presença de alteração de cor da coroa dental, edema apical, sensibilidade a percussão, fístula, alteração apical e teste de vitalidade negativo, instituir procedimento de apicificação.
• Remoção da contenção em 2 semanas. • Avaliar com teste de vitalidade a condição pulpar. • RX para observar a presença de alteração apical. • Se constatar ao longo do tempo a presença de alteração de cor da coroa dental, edema apical, sensibilidade a percussão, fístula, alteração apical e teste de vitalidade negativo, instituir procedimento de apicificação.
Contenção semirrígida: fio ortodôntico 0,5 mm, fio aciflex ou fio de nylon 0,8 ou 0,9 (linha de pesca). Antibioticoterapia: amoxicilina 500 mg 8/8 h por 7 dias. Se alérgico a penicilina, clindamicina 150 mg 6/6 h por 7 dias. Para crianças, 10 mg/kg 6/6 h por 7 dias. Verificar a validade da vacina antitetânica.
Quadro 3. Guia de consulta rápida para tratamento de dentes avulsionados.
Tempo extraoral superior a 60 minutos mantidos em leite (mais de 3 horas), saliva ou soro fisiológico (mais de 2 horas) ou a seco (mais de 1 hora) Formação radicular
Conduta Clínica Imediata
Ápice fechado ou aberto
• Manipular o dente exclusivamente pela coroa. • Limpeza delicada com soro fisiológico sem tocar a superfície da raiz com instrumento. • Manter o dente no soro fisiológico. • Remover o coágulo do alvéolo. • Reposicionar a parede do alvéolo se houver fratura. • Reimplantar o dente lentamente até a posição original conferindo com radiografia. • Fazer contenção semirrígida por 2 semanas. • Antibioticoterapia. • Se houve contato do dente com o solo, fazer imunização com vacina antitetânica.
Mediata (4 semanas) • Remoção da contenção. • Controle clínico e radiográfico para monitoramento. • Orientação aos responsáveis sobre o futuro do dente.
Contenção semirrígida: fio ortodôntico 0,5 mm, fio aciflex ou fio de nylon 0,8 ou 0,9 (linha de pesca). Antibioticoterapia: amoxicilina 500 mg 8/8 h por 7 dias. Se alérgico a penicilina, clindamicina 150 mg 6/6 h por 7 dias. Para crianças, 10 mg/kg 6/6 h por 7 dias. Verificar a validade da vacina antitetânica.
Quadro 4. Guia de consulta rápida para tratamento de dentes avulsionados.
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REFERÊNCIAS 1. Melo LL. Traumatismo alvéolo-dentário: etiologia, diagnóstico e tratamento. São Paulo: Artes Médicas; 1998, série EAP-APCD. 2. Andreasen JO, Andreasen FM, Anderson L. Textbook and color atlas of traumatic injuries to teeth. 4th ed. Oxford: Blackwell Munksgaard; 2007. 3. Diangelis AJ, Andreasen JO, Ebeleseder KA, Kenny DJ, Trope M, Sigurdsson A, et al. International Association of Dental Traumatology guidelines for the management of traumatic dental injuries: 1. Fractures and luxations of permanent teeth. Dental traumatology: official publication of International Association for Dental Traumatology [internet]. 2012 Feb [cited 2013 Aug 9];28(1):2-12. 4. Andreasen JO, Andreasen FM. Textbook and color atlas of traumatic injuries to the teeth. 3rd ed. Copenhagen and St. Louis: Munksgaard and Cv Mosby; 1994. 5. Andreasen FM, Norén JG, Andreasen JO, Engelhardtsen S, Lindh-Strömberg U. Long-term survival of crown fragment bonding in the treatment of crown fractures: a multicenter clinical study. Quintessence Int. 1995;26:669-81. 6. Andreasen JO, Andreasen FM, Bakland LK, Flores MT. Crown-root fracture. Traumatic dental injuries: a manual. Oxford: Blackwell-Munksgaard; 2003. 7. Fuks AB, Bielak S, Chosak A. Clinical and radiographic assessment of direct pulp capping and pulpotomy in young permanent teeth. Pediatr Dent. 1982;4:240-4. 8. Cvek M. A clinical report on partial pulpotomy and capping with calcium hydroxide in permanent incisors with complicated crown fracture. J Endod. 1978;4:232-7. 9. Robertson A. A restrospective evaluation of patients with uncomplicated crown fractures and luxation injuries. Endod Dent Traumatol. 1998;14:245-56. 10. Batista A, Sydney GB, Melo LL Traumatismo alveolodentário. In: Oliveira JABP. Traumatologia bucomaxilofacial e reabilitação morfofuncional. São Paulo: Santos; 2012. p. 137-55. 11. Flores MT. Guidelines for the management of traumatic dental injuries. I. Fractures and luxations of permanent teeth. Dent Traumatol. 2007;23:66-71. 12. Flores MT. Guidelines for the management of traumatic dental injuries. II. Fractures and luxations of permanent teeth. Dent Traumatol. 2007;23:130-6. 13. International Association of Dental Traumatology. Disponível em www.iadt-dentaltraumatismo.org. Acesso em 10 ago 2013. 14. Andreasen JO, Andreasen FM, Bakland LK, Flores MT. Crown-root fracture: traumatic dental injuries: a manual. Oxford: Blackwell-Munksgaard; 2003. 15. Lin S. New emphasis in the treatment of dental traumatismo: avulsion and luxation. Dent Traumatol. 2007;23:297-303. 16. Andersson l, Bodin I. Avulsed human teeth replanted withing 15 minutes a long-term clinical follow-up study. Endod Dent Traumatol. 1990;6:37-42. 17. Trope M, Friedman S. Periodontal healing of replanted dog teeth storagedin Viaspan, Milk and Hank’s balanced salt solution. Endod Dent Traumatol. 1992;8:183-8. 18. Trope M. Clinical management of the avulsed tooth: present strategies and future directions. Dent Traumatol. 2002;18:1-11. 19. Pierce A, Berg JO, Lindskog S. Calcitonin as an alternative therapy in the treatment of root resorption. J Endod. 1988;14:459-62. 20. Estrela C, Sydney GB, Bammann LL, Fellipe-Jr O. Mechanism of the action of calcium and hydroxyl ions of calcium hydroxide on tissue and bacteria. Braz Dent J. 1995;6:85-90. 21. Lindskog A. The role of necrotic membrane in cementum resorption and ankylosis. Endod Dent Traumatol. 1985;1:96-101. 22. Sperling I, Itzkowitz D, Kaufman A, Binderman I. A new treatment of heterotransplanted teeth to prevent pogression of root resortion. Endod Dent Traumatol. 1986;2:117-20. 23. Panzarini SR, Gulinelli JL, Poi WR. Treatment of root surface in delayed tooth replantation: a review of literature. Dent Traumatol. 2008;3:277-82.
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TRAUMATISMO OROFACIAL NO ESPORTE Clara Padilha Luciane Signorini Eli Luis Namba
CapĂtulo 7
O trauma é recorrente nas práticas desportivas, principalmente nos esportes de contato. A National Youth Sports Foundation (NYSSF), uma fundação sem fins lucrativos dos EUA que se dedica a reduzir o número e a gravidade das lesões de jovens em atividades desportivas, afirma que cerca de cinco milhões de dentes foram perdidos em 2006 durante práticas de esporte. Neste capítulo vamos estudar os traumas na gengiva e mucosa, do complexo dente-polpa, em tecidos periodontais, do osso de sustentação dos dentes e da face. Para o cirurgião-dentista do esporte é importante diagnosticar correta e rapidamente o trauma, pois este é sempre considerado uma urgência, que deve ser tratada logo para aliviar a dor e melhorar o prognóstico.1-3 Alguns traumas são mais complicados do que outros e podem impossibilitar a continuação do atleta no treino, partida ou competição. Traumatismo da gengiva e da mucosa oral: lesões traumáticas podem envolver pele, músculos, vasos, nervos e glândulas. Geralmente apresentam-se nas formas a seguir. • Laceração: solução de continuidade nos tecidos epitelial e subepitelial, rasa ou profunda, geralmente produzida por objetos pontudos e afiados.
Tratamento Limpeza e debridamento (remoção de todos os corpos estranhos e tecidos contundidos e lavagem com soro fisiológico) Raspagem com lâmina de bisturi para que o sangramento retorne Hemostasia Sutura
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REFERÊNCIAS 1. Miloro M. Peterson’s principles of oral and maxillofacial surgery. 2nd ed. Hamilton: Decker; 2004. 2. Levin L, Friedlander LD, Geiger SB. Dental and oral trauma and mouthguard use during sport activities in Israel. Dent Traumatol. 2003 Oct;19(5):237-42. 3. Andreasen JO, Andreasen FM. Classificação, etiologia e epidemiologia. In: Andreasen JO, Andreasen FM, editores. Texto e atlas colorido de traumatismo dental. 3a ed. Porto Alegre: ArtMed; 2001. p. 151-80. 4. Andreasen FM, Andreasen JO. Exame e diagnóstico dos traumatismos dentais. In: Andreasen JO, Andreasen FM, editores. Texto e atlas colorido de traumatismo dental. 3a ed. Porto Alegre: ArtMed; 2001. p. 195-217. 5. Gaspar VLV, Lamounier JA, Cunha FM. Fatores relacionados a hospitalizações por injúrias em crianças e adolescentes. J Pediatr. 2004;447-52. 6. Hill CM, Crosher RF, Mason DA. Dental and facial injuries following sports accidents: a study of 130 patients. Br J Oral Maxillofac Surg. 1985 Aug;23(4):268-74. 7. Stockwell AJ. Incidence of dental trauma in the Western Australian School Dental Service. Community Dent Oral Epidemiol. 1988 Oct;16(5):294-8. 8. Dingman RO, Natvig P. Cirurgia das fraturas faciais. São Paulo: Santos; 1995. 9. Andreasen JO. Traumatismos dos tecidos moles. In: Andreasen JO, Andreasen FM, editores. Texto e atlas colorido de traumatismo dental. 3a ed. Porto Alegre: ArtMed; 2001. p. 495-516.
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Clara Padilha Eli Luis Namba Ivana Fontana Bazei
PREPARO E PLANEJAMENTO PARA O ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO EMERGENCIAL E PÓS-TRAUMATISMO
CapĂtulo 8
O traumatismo bucomaxilofacial é considerado um problema de saúde bucal emergente no Brasil. Admite-se que um problema de saúde é um problema de saúde pública quando: a) constitui causa comum de morbidade ou mortalidade; b) existem métodos eficazes de prevenção e controle; e c) os métodos não estão sendo adequadamente utilizados. Porém, para fixar prioridades em saúde pública, os critérios avaliados são: a) número de pessoas atingidas ou extensão do agravo; b) gravidade ou severidade do dano causado; c) possibilidade de atuação eficiente ou efetividade da medida; d) custo per capita; e e) grau de interesse da comunidade ou valor atribuído pela comunidade ao problema de saúde. Por isso, nem sempre um problema de saúde pública se transforma em prioridade para intervenções de saúde, pois as eleições de prioridades envolvem disponibilidade de recursos, atribuições de valor, conflitos de interesse, circunstâncias históricas e disputas políticas.1 O objetivo deste capítulo é aprofundar nossos conhecimentos em eventos que na maioria das vezes não podem ser previstos, que são os traumatismos orofaciais. O traumatismo é recorrente nas práticas desportivas, principalmente nos esportes de contato, mas não exclusivamente. Conhecer a modalidade e as regras dos esportes é fundamental na atuação do profissional da odontologia do esporte. Os traumatismos orofaciais nos esportes fazem parte do dia a dia dos atletas, e a incidência dos traumatismos segue um padrão de acordo com a modalidade do atleta. Por exemplo, os esportes de contato direto como as lutas têm como objetivo acertar a face do oponente para levá-lo ao nocaute, e o traumatismo normalmente acomete a região de mento e tecidos adjacentes, para que as forças de impacto cheguem à base do crânio. Em esportes que apresentam contato indireto como o hockey, por exemplo, que conta com aparatos como o bastão, os patins e outros materiais de proteção, a atenção deve ser redobrada, pois qualquer área estará sujeita ao traumatismo. Todos os tipos de traumatismos decorrentes do esporte, além das lesões físicas, também apresentam outras consequências, como a interrupção repentina de um jogo, algumas vezes de um time inteiro. O tempo de recuperação de uma lesão pode representar uma preocupação econômica para os clubes e patrocinadores, além do comprometimento psicológico do atleta e de seus colegas.2-5 O aumento da competitividade e do número de participantes nas mais variadas modalidades esportivas sugere o aumento também do número de acidentes relacionados a essas práticas. As atividades esportivas estão associadas com riscos de lesões orofaciais devido a quedas, colisões e contato com superfícies duras. A maior incidência de traumatismo em indivíduos do sexo masculino situa-se entre 9 e 10 anos, por brincadeiras ou atividades esportivas. As lesões mais comuns na dentição surgem de quedas, seguidas por acidentes de trânsito, atos de violência e prática de esportes.6
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O tipo de lesão relacionada ao traumatismo depende de fatores como a energia, a direção e localização do impacto e a resiliência das estruturas periodontais, sendo esta última um fator determinante na extensão do traumatismo.7 A etiologia do traumatismo orofacial é heterogênea, e o predomínio maior ou menor de um fator etiológico se relaciona com algumas características da população estudada. Sem deixar de considerar o aspecto subjetivo das lesões traumáticas, algumas pessoas atribuem como razão do traumatismo o “destino”, o que pode dificultar atividades educativas em relação ao tema.8 Deve-se levar em conta o aspecto geográfico: em diferentes países e em diferentes regiões certos esportes são mais populares do que outros, além de a bicicleta como lazer, esporte ou meio de transporte ser mais difundida, o que aumenta a possibilidade de acidentes. Em crianças e idosos as fraturas faciais estão associadas a quedas de nível em jogos e brincadeiras infantis, e são mais frequentes as luxações dentárias. Em adolescentes e adultos jovens, até a quarta década de vida, as causas mais comuns dos traumatismos orofaciais, além dos acidentes automobilísticos, são as agressões e traumatismos decorrentes de práticas esportivas. As lesões mais comuns provocadas por esses acidentes são as fraturas coronárias sem envolvimento pulpar. Além dos traumatismos bucodentários, também são comuns as fraturas nasais e zigomáticas, sendo a maioria delas resultado de esportes coletivos.33,34 Em um estudo realizado no Brasil sobre esportes de contato, nos quais atletas de várias modalidades esportivas (boxe, handebol, basquete, kung fu, jiu-jitsu, kickboxing, karatê e futebol) foram entrevistados, concluiu-se que 73% sofreram lesões orofaciais, sendo 60% em tecidos moles, 16% correspondendo a traumatismos dentários, 9% a fraturas maxilares e mandibulares, e 15% a lesões combinadas.19 Ainda no contexto brasileiro, nos Jogos Pan-Americanos de 2007, realizados no Rio de Janeiro, a prevalência de traumatismo dentário entre 409 atletas de 42 países foi de 49,6%. Os principais esportes relacionados com as lesões foram luta (83,3%), boxe (73,7%), basquete (70,6%) e karatê (60%). A lesão mais comum foi a fratura de esmalte (39,8%), e a fratura de raiz foi a menos comum (0,4%). Os dentes mais afetados foram os incisivos centrais permanentes superiores (n=113), seguidos pelos incisivos centrais inferiores (n=19). Ao estudar situações de urgência e emergência, primeiramente alguns conceitos devem ser esclarecidos. É importante diferenciar esses conceitos para evitar confusões e facilitar os encaminhamentos, que são muito importantes para um cirurgião-dentista do esporte. Emergência: é todo o caso em que há ameaça iminente à vida, sofrimento intenso ou risco de lesão permanente, havendo necessidade de tratamento médico imediato. Exemplos: hemorragias, parada respiratória e parada cardíaca. Urgência: é uma situação que requer assistência rápida, no menor tempo possível, a fim de evitar complicações e sofrimento. Exemplos: luxações dentárias, luxações de ATM, torções e fraturas (dependendo da gravidade).
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2. Tratamento • Redução Deve-se avaliar em cada caso a relação custo-benefício da redução (proximidade com o dente permanente) e o tempo do traumatismo até a redução. Até aproximadamente 4 horas, o coágulo que vai se formando dentro do alvéolo ainda escoa, mas depois desse tempo ele já está mais endurecido e é necessário removê-lo com abundante irrigação. Para a redução acontecer corretamente, devem ser avaliados a oclusão e o alinhamento no arco, e deve-se realizar uma radiografia. • Estabilização É a biologia do tecido traumatizado que determina o tipo de estabilização que será realizada e o tempo que ela será utilizada; no osso geralmente de 1 a 2 meses, e no cemento e em dentina, 3 meses. Os tipos de estabilização são a semirrígida, quando o dano é no ligamento periodontal e existe aumento de mobilidade, feita com fio de nylon 0,9 mm, utilizada de 7 a 14 dias. Quando a lesão acontece em tecido mineralizado, a estabilização indicada é a rígida, feita com fio de aço 0,7 mm. 3. Orientações Os atletas podem e devem ser medicados se necessário com anti-inflamatórios, analgésicos, antibióticos, antitetânica e antisséptico, sempre levando em consideração as recomendações da Wada para uma prescrição segura ao atleta, sem riscos em relação ao doping. Em seguida, o atleta deve ser encaminhado para o atendimento secundário e com as especialidades necessárias, sempre com prontuários/fichas de urgência completos e bem detalhados, tanto em relação ao tratamento quanto às medicações utilizadas durante o tratamento (anestésicos, antissépticos, etc.) e medicações prescritas, e também uma descrição das condições iniciais do traumatismo e como ele ocorreu, quando e onde.
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Clara Padilha Eli Luis Namba
PROTETORES BUCAIS ESPORTIVOS
CapĂtulo 9
Em 1998, na Nova Zelândia, em todas as ligas locais de rugby, tornou-se obrigatório o uso de protetores bucais. Sabe quanto essa ação gerou como economia para as ligas? Em torno de 1,87 milhão de dólares neozelandeses, o que equivale aproximadamente a 2,68 milhões de reais. Tudo porque essa obrigatoriedade diminuiu a prevalência dos traumatismos durante as competições em 43%.1 Isso que os protetores nem sempre eram personalizados e não necessariamente protegiam de maneira efetiva. Essa pequena história serve apenas para ilustrar o fato de que, embora o objetivo primário dos protetores bucais seja a proteção de dentes e tecidos moles, sua utilização por atletas do mundo inteiro pode representar uma economia para clubes e patrocinadores, além de maior segurança e tranquilidade para os atletas e menor comprometimento estético e psicológico decorrente de traumatismo que possa acontecer durante uma competição.2 Como a participação em atividades esportivas de competição ou apenas de recreação vem aumentando gradativamente, por razões como manutenção da saúde, boa forma física ou interação social, cresce concomitantemente a prevalência de lesões e traumatismos bucodentários decorrentes dessas atividades. A odontologia do esporte é a área responsável pela correta indicação, orientação de uso e confecção dos protetores bucais para os atletas. O objetivo é promover uma prática desportiva segura, profissional ou recreativa, preservando a saúde e a integridade dos atletas. O risco de lesões deve ser limitado ou completamente diminuído sempre que possível. De fato, a maioria das lesões desportivas ocorre a partir de razões previsíveis, e, portanto, medidas preventivas devem ser implementadas. O uso de protetores bucais constitui-se uma medida preventiva primária eficaz.3 Inúmeros autores, ao longo dos anos, têm avaliado o número de lesões orofaciais ocorridas durante a prática de desportos, e somam-se a eles outros estudos que mostram que durante temporadas em que se usaram protetores bucais verificou-se diminuição de lesões dentárias, da cabeça (concussão) e do pescoço.1,4-6 O problema é que a maioria dos atletas, infelizmente, apenas utiliza protetores bucais após a ocorrência de uma lesão. Em jogo do Dallas Mavericks contra Houston Rockets (vermelho), o alemão Dirk Nowitzki atingiu a boca do adversário Carl Landry, colisão que resultou na perda de cinco dentes de Landry, tendo dois deles ficado presos no cotovelo do jogador do Dallas. Com esse importante papel preventivo da odontologia no traumatismo bucodentário, é imprescindível que cirurgiões-dentistas do esporte saibam o que são, como funcionam, as vantagens, desvantagens e características dos protetores bucais, visando diminuir as chances de os traumatismos ocorrerem e preservando a integridade do atleta e seu bem-estar e bom rendimento. Mas quando foi que o protetor bucal surgiu? Quem teve essa ideia pela primeira vez? É o que vamos ver em seguida.
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HISTÓRICO O primeiro relato do uso de protetores bucais na prática desportiva data de meados de 1890, quando o médico inglês Woolf Krause colocou tiras de borracha sob o maxilar superior de jogadores de boxe, mantidas no lugar pela pressão entre os maxilares, para proteger os lábios de lacerações. Em 1913 o lutador de boxe britânico Ted “Kid” Lewis ganhou o World Welterweight Championship, quando usou pela primeira vez na história um protetor bucal reutilizável, confeccionado de guta-percha pelo dentista Phillip Krause, filho de Woolf Krause. No entanto, a necessidade mandatória do uso desse tipo de proteção no desporto não foi facilmente reconhecida. Depois do boxe, o futebol americano foi o desporto subsequente a identificar a necessidade do uso de protetores bucais, pois muitos participantes reportavam lesões dentárias durante as épocas de competição. A adoção dos dispositivos ocorreu inicialmente em categorias de base, tendo os resultados sugerido que eles se mostravam eficazes na redução do número e gravidade das lesões orais.7 Tendo em vista tais resultados, o Comitê da Aliança Nacional de Regulamentos de Futebol Americano recomendou que todos os jogadores, dos vários níveis de competição, deveriam utilizar protetor bucal, o que se tornou obrigatório em 1959, pela Liga Nacional de Associações Desportivas.8 Mais tarde, foi estabelecido pela American Dental Association (ADA) que o protetor teria de ser construído a partir do modelo da boca do atleta.3 Essas determinações permitiram reduzir em cerca de 80% o risco de traumatismos dentários.9 A partir de 1963 a Federação Nacional da Associação de Desportos Americana exigiu o uso desse dispositivo durante as práticas desportivas de contato direto, como artes marciais e lutas. Na década de 70, após a disseminação do protetor bucal pelo futebol americano, alguns desportos de contato como hóquei no gelo, hóquei em campo e lacrosse seguiram o exemplo, inclusive espalhando a prática para outros países. A consciência sobre a utilização do protetor bucal durante a atividade física é crescente no Brasil e contou com a ajuda da popularização do MMA no país. Atualmente, contamos com empresas e laboratórios especializados apenas na confecção de protetores bucais em muitos estados, atendendo atletas em todo o território nacional. MATERIAIS MAIS UTILIZADOS NA CONFECÇÃO DE PROTETORES BUCAIS Os primeiros protetores foram desenvolvidos à base de borracha e desde então evoluíram bastante, acompanhando o surgimento de novos materiais, que, aplicados a essa função, revelaram-se eficientes. Hoje em dia diversos materiais são propostos para a confecção dos protetores, buscando sempre aliar uma boa proteção com um maior conforto.10 Para que um material possa ser utilizado na confecção de protetores há alguns requisitos, tais como ser de fácil manipulação, possuir capacidade compressiva e absorver energia, dissipar forças, ser atóxico e não irritável, ser inodoro e insípido, razoavelmente flexível e resistente para evitar perfurações provocadas pelas cúspides durante os golpes, e, ainda, ser passível de estabilização.
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PROTETORES FACIAIS PARA ESPORTE Neide Pena Coto Reinaldo Brito e Dias
CapĂtulo 10
Em uma disputa pela bola, ou até mesmo em manobras ingênuas realizadas por com-
panheiros de time, a face é sempre a região que recebe o maior número de traumatismos. Está sempre na altura de um cotovelo, joelho, cabeça ou mesmo do pé de outro atleta, e podem ocorrer ainda impactos contra o solo e contra algum equipamento da quadra ou campo.1,2 Infelizmente, por sua localização, é uma das regiões do corpo do atleta mais expostas a injúrias.3 A fratura nasal é a terceira em ocorrência nos traumatismos desportivos, precedida pela fratura da clavícula e do punho.4
Um retorno antecipado após uma fratura de ossos da face (nariz, zigomático em toda a
sua extensão, maxila e mandíbula) pode provocar uma refratura, o que acarreta um tempo mais longo de recuperação e maior complexidade cirúrgica para sua síntese.5 Para que isso não ocorra, logo após uma fratura na região da face o atleta é afastado de competições e até de treinos por um período que compromete seu treinamento e desempenho físico. No âmbito financeiro, o clube amarga o prejuízo e até mesmo coloca em risco títulos e premiações.6,7 O atleta, além de perder o condicionamento físico, pode, em muitos casos, apresentar quadro de depressão, o que prejudica sua recuperação física.5
Prevenir injúrias orofaciais é um grande investimento quando comparado ao descon-
forto e custo que uma fratura traz ao atleta e ao clube. Investir em protetores faciais e bucais reduz a frequência e a severidade das injúrias orofaciais nos esportes e o afastamento do atleta de treinos e competições. O protetor deve evitar que, durante um impacto, o osso, em processo de reparação, seja deslocado ou sofra refratura.2,8 Técnicos e treinadores devem ser conscientizados sobre as vantagens do uso de protetores faciais e bucais na prática esportiva.
FUNÇÃO DO PROTETOR FACIAL
Os protetores faciais devem distribuir e atenuar a energia do impacto que chega à face
por meio de golpe, queda, colisão ou choque.9 Protetores orofaciais reduzem em 50% o total de fraturas relatadas nos esportes, e o cirurgião-dentista é o profissional responsável por sua confecção.10
Segundo a Associação Americana de Basquete, os protetores devem seguir a geometria
de proteção da face, reforçando as zonas de resistência (ossos zigomáticos e frontais) e minimizando a quantidade de energia que chega aos ossos comprometidos.11
O mecanismo de dano do material utilizado e dos ossos da face pode auxiliar na melhoria
da proteção, considerando as condições adversas de uso e seus efeitos.
A efetividade da proteção é diretamente influenciada pelas propriedades mecânicas do
material utilizado, pelo formato do protetor e suas aplicações, isto é, para que um protetor, seja qual for, bucal ou facial, tenha sua função, que é evitar que o osso seja fraturado ou refraturado, devem ser observados os requisitos necessários.
O QUE É IMPACTO?
Também devemos conhecer o fenômeno de nome “impacto”!
Sua característica é ocorrer em um curto espaço de tempo, não permitindo, na maioria
das vezes, que os tecidos envolvidos reajam, deformando-se e absorvendo essa energia deformante.12-14
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Entre as formas mais comuns de energia encontradas na natureza, tem-se a energia ciné-
tica, característica dos corpos em movimento. A energia cinética recebida pelo corpo é transformada, em grande parte, em energia de deformação. A diferença entre essa energia de deformação e a capacidade de absorção do osso pode resultar em fratura.15
O estudo da biomecânica do impacto oferece a possibilidade de prevenção de injúrias
através da otimização e do aperfeiçoamento de mecanismos de proteção.12,16
Devemos saber que:
• normalmente o tempo de duração de uma força de impacto é de 15;17 e
• a energia capaz de fraturar um osso íntegro da face em um golpe frontal varia de 15 a
45 Joules (J), e se essa energia for dispendida na mandíbula em um impacto de baixo para cima ela será suficiente para causar uma concussão (Figura 1).18,19
“O meia Jonathan de Guzman, do Swansea, foi diagnosticado com concussão cerebral após se chocar com um companheiro em treino da Seleção Holandesa realizado na última terça-feira. O jogador de 25 anos bateu a cabeça em dividida com o atacante Dirkkuyt, caiu desacordado no gramado e foi imediatamente encaminhado ao hospital.” Figura 1: Caso de concussão no esporte. Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/esportes,meia-holandes-sofre-concussao-cerebral-em-treinoda-selecao,1063924,0.htm
A FACE
Ao dividir a face em terços, tem-se o terço superior (entre a sutura frontonasal e a região
mais superior do osso frontal), o médio (entre a sutura frontonasal e a maxila) e o inferior (entre a comissura labial e a parte mais anteroinferior da mandíbula). Apesar de o terço médio conter os ossos zigomáticos, que oferecem um arcabouço resistente, é o terço que apresenta a maior incidência de fraturas da face nos esportes. Essa maior incidência deve-se ao fato de o terço médio também conter a zona de fragilidade da face, composta da maxila e dos ossos nasais.20,21
Os ossos nasais, por exemplo, são finos e proeminentes em sua porção inferior e vêm
recebendo atenção especial pelo grande índice de fraturas em atividades desportivas, cerca de 56%,1,22 das quais 15% são recorrentes.5 As fraturas nasais durante a prática esportiva tiveram um importante acréscimo nesses últimos 15 anos, devido ao aumento em 40% de esportes em ambiente fechado.23
Dependendo da direção e da força do impacto, tem-se os tipos de fratura que podem
envolver os ossos próprios do nariz, as cartilagens laterossuperior e lateroinferior, assim como os ossos vizinhos (lacrimal, frontal, malar, etmoide e órbita), associadas ou não a lesões de tecido
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MÁSCARA DE PROTEÇÃO Ao lado da mãe, Verdini foi ao Stadium Rio nesta quarta e reencontrou os profissionais que o atenderam durante este período. Já com o rosto bem menos inchado, fez os moldes para máscara facial e protetor bucal. O zagueiro comemorou o retorno antes do previsto. “Inicialmente, a previsão era de um mês. Como completaram 20 dias quarta, ganhei 10 dias para treinar. Vou colocar a máscara e o protetor, me recondicionar e voltar mais forte do que antes”, garante. O protetor bucal, explica Gustavo Ferreira, foi um pedido do próprio atleta, ciente da importância. Já a máscara facial evitará o contato e proporcionará aumento na segurança e na confiança de Verdini, tendo previsão de ser utilizada durante um mês. Tomografia mostra área afetada (circulada em amarelo) e raios X evidenciam placa de contenção IDENTIFICAÇÃO
Hoje com 18 anos, Verdini está desde 2004 no Botafogo, onde passou por todas as categorias de base. Apesar de jovem, já coleciona títulos (como o Carioca Sub-15 em 2009, o Torneio Guilherme Embry como capitão em 2012 e a SpaxCup na Holanda em 2013), além de ter representado o clube cinco vezes nos Estados Unidos, no projeto “Botafogo Camp”. Por esta identificação, o zagueiro fez questão de agradecer o apoio recebido. “O Botafogo deu todo o suporte, bancou ambulância, cobriu despesas... Sou muito grato e ao presidente Mauricio Assumpção e a todos os médicos que me atenderam e me ajudaram, pois em momento algum pouparam nada para me ver melhor. Como estou desde pequenininho no Botafogo, já criei uma identidade e conheço todo mundo. Pude ver minha importância e me sentir valorizado”, destaca Verdini. Fonte:http://www.botafogo.com.br/oclube/noticias/verdini+supera+traumatismo+facial+passa+por+cirurgia+bucomaxilofacial+e+e+liberado+para+treinos+leves.asp
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Cornelis Springer Henri Springer
A ODONTOLOGIA NAS ARTES MARCIAIS – CUTMAN
CapĂtulo 11
Para tratarmos sobre o assunto, devemos primeiramente compreender o que é um cutman e qual é sua função e interação com a odontologia. O cutman é o profissional responsável por prevenir e tratar danos físicos de um lutador entre os rounds (intervalos) de esportes de artes marciais como boxe, kickboxing, muaythai e artes marciais mistas (MMA). A palavra “cutman” vem do inglês cut (corte) + man (homem), sendo assim designado homem do corte, mas esta não deveria ser a forma mais adequada de designar esse profissional tão valioso. O sucesso de um cutman está primeiramente em sua capacidade de preparar o atleta para o combate e de prevenir lesões. A integridade do atleta deve sempre ser tratada em primeira instância, e a indução dos mecanismos da hemostasia na cavidade nasal avariada e/ou nas lacerações dos tecidos da face são habilidades necessárias para confirmar a competência do profissional, não sendo mais importantes que a prevenção. Os cutmen (plural de cutman) são considerados verdadeiros “anjos da guarda” dos atletas. A profissão de cutman ainda não é reconhecida e regulamentada no Brasil. Os primeiros cutmen do mundo surgiram do tradicional boxe inglês, em que sua remuneração variava, geralmente, dentro de 1% a 3% do prêmio em dinheiro do lutador (a bolsa), ou seja, o cutman trabalhava de forma particular para um atleta específico.1 No caso dos lutadores amadores, cuja bolsa é baixa, as funções do cutman eram e são realizadas pelo seu córner (mestre/professor do atleta), o qual, na maioria das vezes, não tem nenhuma formação na área da saúde para exercer tal trabalho. Enquanto a maioria das comissões atléticas no mundo determina que o cutman deva ser licenciado, no Brasil geralmente não há treinamento formal, exigências ou certificação para isso. A maioria dos cutmen aprenderam seu ofício mediante a autoeducação e aprimoraram suas técnicas por meio da experiência. No Brasil não foi diferente, os primeiros cutmen não passaram por nenhum tipo de treinamento e educação. Somente em 2012 surgiram os primeiros “cursos de curta duração” na área, que foram realizados em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. Todos esses cursos apresentaram certificações de entidades educacionais ou esportivas, mas devemos nos mobilizar para uma urgente padronização e regulamentação da profissão, pois ainda é considerada uma “terra sem lei”.
POR QUE O CUTMAN É IMPORTANTE EM UM COMBATE As regras da maioria dos esportes de contato estipulam que as lesões com sangramento podem ser um motivo de paralisação prematura do combate por inúmeros fatores. O sangramento incontrolado conta como perda do combate para o lutador ferido. O cutman é, portanto, essencial para o lutador, porque pode “estancar” um sangramento severo e ser um personagem decisivo para o resultado do combate. Os cutmen da atualidade fazem um trabalho diferente de seus precursores do boxe, pois, após a chegada de novos materiais de trabalho e a concepção de novas regras para os esportes de contato, tiveram de se adaptar a uma nova era. Como exemplo podemos citar o MMA, em que os cutmen geralmente são contratados pela produção do evento e não fazem um trabalho particular para o atleta, como era feito no boxe. Isso foi pensado para evitar uma série de entraves e atitudes antiesportivas, como bandagens fora dos padrões exigidos pelas comissões atléticas e a “graxa”
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Os irmãos e cutmen do UFC Dr. Cornelis Springer (esq.) e Dr. Henri Springer (dir.) preparando-se para realizar a bandagem dos atletas. Fonte: arquivo próprio.
entre os rounds (aplicação de vaselina em locais proibidos, o que proporciona uma vantagem injusta para o atleta, que fica mais escorregadio e com menor atrito de impacto dos golpes). Quando um cutman é contratado por um evento, ele é responsável por “fazer a mão” dos atletas (bandagem feita com um emaranhado de gazes especiais e fitas adesivas que ficam sob as luvas), “fazer a entrada” (passar vaselina nas áreas mais suscetíveis a cortes e traumatismos antes do combate), diminuir edemas, prevenir e tratar os cortes entre os rounds, induzindo a vasoconstrição e a hemostasia das lacerações teciduais causadas por danos diretos na face. Tudo isso segue um padrão que é baseado nas regras de cada esporte e inspecionado pela comissão atlética de cada localidade. O resultado proporciona igualdade entre os atletas, maior tempo de combate e aumento da competitividade. Para aprofundarmos o assunto de forma mais didática, vamos dividir nosso tema em três grandes áreas: 1. Preparativos – checklist; 2. Bandagem – mãos que valem ouro; e 3. Combate – integridade dos atletas em primeiro lugar.
PREPARATIVOS – CHECKLIST Para se tornar um cutman é preciso ter muita dedicação e organização. Comprar, testar e organizar os materiais de trabalho são aspectos de extrema importância e não podem ser deixados de lado mesmo quando o cutman já adquiriu certa experiência. Nunca se deve confiar nos organizadores dos eventos, pois eles podem esquecer algum item importante ou comprar materiais de qualidade duvidosa para diminuir custos, e quem terá de trabalhar com limitações será o profissional. O checklist dos materiais para um evento de artes marciais é obrigatório, pois deixar algo para trás significa diminuir o poder de atuação e resolução dos problemas. Deve-se levar em consideração que os cutmen são responsáveis por um atendimento inicial e superficial; isso significa que não necessitam de instrumental cirúrgico ou de materiais de socorro avançados. Indicamos a seguir uma lista ideal de materiais que devem compor o checklist, lembrando que cada profissional seleciona o que mais se adapta a seu estilo e forma de trabalho.
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ETIOLOGIA DA MALOCLUSテグ Lucas Werutski Guilherme Falchetti
CapĂtulo 12
A IMPORTÂNCIA DO TRATAMENTO ORTODÔNTICO NA ODONTOLOGIA CONTEMPORÂNEA Em uma ortodontia contemporânea, com pacientes que procuram orientações cada vez mais cedo, alguns autores ressaltam que o nível socioeconômico e cultural da população tem feito com que a busca pela saúde positiva, ou a saúde vista como algo a mais que a ausência de doença, esteja cada vez mais frequente na prática clínica,1,2 e isso não é diferente em relação aos pacientes esportistas. O conhecimento para o correto diagnóstico, planejamento clínico e terapêutica deverá estar ao alcance da equipe de profissionais da odontologia do esporte, possibilitando individualizar o tratamento e tornando-o customizado.3
OCLUSÃO E EQUILÍBRIO DOS DENTES Para diagnosticarmos as maloclusões, antes de tudo precisamos ter uma visão, a mais
completa possível, da oclusão normal, tanto na dentição decídua quanto na permanente. Etimologicamente, o vocábulo “oclusão” significa fechar para cima (“oc” = para cima, “cludere” = fechar). O conceito original refere-se a uma ação executada, a uma aproximação anatômica, a uma descrição de como se encontram os dentes em contato.3 Modernamente, o conceito de oclusão dental evoluiu de uma concepção puramente estática de contato entre os dentes a uma conceituação dinâmica, incluindo dentes e estruturas vizinhas, com especial ênfase à dinâmica do aparelho mastigador.4 OCLUSÃO A oclusão propriamente dita se estabelece quando, a partir da inoclusão (posição de repouso mandibular), a mandíbula se move para colocar em contato os dentes de ambos os maxilares, havendo, pois, contração muscular. Assim, para que a oclusão se estabeleça é necessário haver contato dental em um ou vários pontos, com imobilidade mandibular. OCLUSÃO NORMAL É perfeitamente correto classificar como normal uma boca onde todos os dentes estejam presentes e ocluam de maneira saudável, estável e agradável, mas com variações na posição dentro dos limites normais mensuráveis. Também é perfeitamente correto e prático aceitar, no final do tratamento ortodôntico, uma disposição dos dentes nos maxilares em posições que não sejam ideais nem normais, mas que possam ser estáveis na face de determinada pessoa.3 Neste tipo de oclusão a gengiva deve apresentar-se sadia, ou seja, com coloração rosada, sem sangramento e boa aderência, o osso alveolar íntegro, sem reabsorções, e a ATM livre de dor, ruído ou outra disfunção.4
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AS DEZ CHAVES DE OCLUSÃO Tendo em vista o objetivo do planejamento e tratamento ortodôntico de estabelecer uma oclusão normal individualizada, é importantíssimo ter conhecimento das chaves de oclusão e características desejáveis: 1. Relação molar 2. Angulação mésio-distal dos dentes 3. Inclinação vestibulolingual dos dentes 4. Áreas de contato interproximais rígidas 5. Conformação dos arcos dentais 6. Ausência de rotações dentais 7. Curva de Spee 8. Guias de oclusão dinâmica 9. Equilíbrio dental 10. Harmonia facial Moyers publicou, com grande propriedade, que os objetivos clínicos não são necessariamente normais ou ideais.3 Afirmou ainda que, antes, são pragmáticos e determinados pelas condições do próprio paciente. Os fatores determinantes são os mecanismos de adaptação que o clínico pode ainda utilizar melhor. O objetivo do tratamento oclusal não é só a manutenção das estruturas, ele não é feito para encontrar algumas normas ou ideias hipotéticas. Antes, deve permitir que os eventos continuem. A melhor oclusão é a que proporciona mais facilmente a homeostase funcional contínua. INTRODUÇÃO À ETIOLOGIA DA MALOCLUSÃO Etiologia é o estudo, a investigação e o diagnóstico das causas de um fenômeno, e em ortodontia refere-se às causas das anomalias da oclusão dental. Algumas vezes se verifica que o agente causal das maloclusões não está isolado, e sim associado a outros fatores. O autor acrescenta que o profundo conhecimento da etiologia das maloclusões não deveria ser exclusivamente apanágio do ortodontista, porém muito mais do odontopediatra, do clínico-geral e até mesmo do médico pediatra, que têm a oportunidade de atuar na chamada idade pré-ortodôntica, quando muitos fatores etiológicos são mais atuantes e passíveis de controle. Inúmeros ortodontistas, ao longo do tempo, têm procurado interpretar e explicar as possíveis causas das maloclusões. O sistema de classificação de maior aceitação hoje em dia divide os fatores etiológicos em intrínsecos e extrínsecos. Parece ser o que apresenta maior facilidade de uso e o mais didático.
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os mais acometidos, seguidos dos segundos pré-molares inferiores, que ficam impactados ou erupcionam por lingual. I) ANQUILOSE: algum tipo de lesão provoca o rompimento da membrana periodontal, que favorece a formação de uma ponte óssea unindo o cemento à lâmina dura alveolar, retardando ou mesmo impedindo que o dente faça sua erupção. J) CÁRIE DENTAL: pode provocar a perda do dente decíduo ou a perda do ponto de contato, resultando em diminuição do perímetro do arco. A maior causa isolada de maloclusão localizada é indiscutivelmente a cárie dental. As cáries podem ser responsáveis pela perda precoce de dentes decíduos, inclinação de dentes permanentes ou erupção prematura de dentes permanentes. Qualquer diminuição no diâmetro mésio-distal do primeiro molar pode resultar em deslocamento para frente do primeiro molar permanente. K) RESTAURAÇÕES DENTAIS INADEQUADAS: ocasionam a diminuição ou o aumento do perímetro do arco. DIAGNOSTICANDO A MALOCLUSÃO Para o cirurgião-dentista que atua na odontologia do esporte, atendendo atletas/esportistas, é importante ter conhecimento de que alguns métodos de avaliação da maloclusão diferem não só de acordo com os vários fatores morfológicos14-20 ou funcionais existentes,18,21-23 mas também com a fase do desenvolvimento dentário. Ossos e dentes são afetados pelas muitas atividades funcionais da região orofacial. Essa região é uma fonte de enorme e variada absorção sensorial, tornando possível uma infinita variedade de atividades reflexas, as quais ajudam a determinar a forma esquelética e a estabilidade oclusal.
CONCLUSÃO Bem poucas maloclusões são resultantes de uma causa específica. Por exemplo, não existe um fator único e isolado que produza a maloclusão de Classe II, ou uma mordida cruzada posterior; a própria sucção de polegar nem sempre causa a mesma maloclusão. A variação clínica significativa do crescimento normal, resultante da interação de vários fatores durante o desenvolvimento, é capaz de definir uma maloclusão. Entretanto, há uma tendência para que algumas maloclusões se originem em um único sistema tissular e afetem outros sistemas secundários à medida que estes, por sua vez, se adaptem. A maioria dos tipos de maloclusões graves é de origem óssea, nas quais são sobrepostos os fatores dental e muscular.
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Armando Saga Orlando Tanaka
A ORTODONTIA E OS PADRÕES RESPIRATÓRIOS
CapĂtulo 13
INTRODUÇÃO Os estudos das relações entre as disfunções respiratórias e os problemas de desenvolvimento dentofacial não são recentes. Edward H. Angle declarou que, dentro das mais variadas etiologias da maloclusão, a respiração oral ou bucal é uma das mais expressivas e constantes, com a capacidade de produzir diversas alterações morfológicas. A teoria da matriz funcional proposta por Van der Klaauw e elaborada por Moss1 reforça a ideia de que o desenvolvimento dentocraniofacial sofre influência ambiental, ou seja, o tecido ósseo se remodela em resposta às funções dos músculos faciais e de outros tecidos moles, o que explicaria a atresia do palato e a face longa frequentemente relatada em respiradores bucais crônicos. Dentro dessa teoria, a respiração nasal, interagindo com outras funções, tais como a mastigação e a deglutição, permitiria o crescimento e o desenvolvimento apropriado do complexo dentocraniofacial. A relação entre a função nasorrespiratória e o crescimento craniofacial é de grande interesse não somente como um exemplo de relação biológica básica entre a forma e a função, mas também devido ao grande interesse prático para pediatras, otorrinolaringologistas, alergistas, fonoaudiólogos, ortodontistas e outros profissionais da área da saúde,2 como fisioterapeutas, fisiologistas e outros profissionais ligadas ao esporte.
PADRÕES RESPIRATÓRIOS E O CRESCIMENTO CRANIOFACIAL NASAL A respiração é uma ação involuntária que também pode ser realizada voluntariamente e que abrange três funções: ventilação, difusão e perfusão. A ventilação pulmonar permite a chegada do oxigênio ao alvéolo e a saída do dióxido de carbono. Por meio da difusão o oxigênio passa dos pulmões para a corrente sanguínea e, finalmente, por meio da perfusão o oxigênio é levado até os órgãos. A atividade de ventilação pode ocorrer de duas maneiras, dependendo das necessidades do organismo: através do nariz, que é a via natural de preferência e constante em repouso; e através da boca, que é uma fonte adaptativa ou um hábito adquirido após o nascimento. Obstruções na via aérea superior fazem com que haja a substituição do padrão de respiração nasal por um padrão de suplência bucal ou misto.2-6 Na respiração fisiológica em repouso, que ocorre pelo nariz, os lábios encontram-se selados passivamente (competência labial) ou permanecem com no máximo 2 a 3 milímetros de separação labial, a mandíbula em posição de repouso e a área frontal do dorso da língua posicionada contra o palato. Os músculos faciais não devem participar da função respiratória. A cavidade bucal, por sua vez, é designada para outras funções, tais como fonação, mastigação e deglutição. BUCAL A definição do modo respiratório não é tarefa fácil. As controvérsias ocorrem pela carência de estudos que apresentem forte evidência científica e pela falta de um protocolo para a definição precisa do modo respiratório. As conclusões acerca desse assunto frequentemente são suportadas apenas por evidências circunstanciais, e existe pouca adesão a um rigoroso método científico.7 Em seres humanos a respiração totalmente bucal é rara. Em vez disso, os indivíduos
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variam em proporção de modo respiratório predominantemente nasal ou bucal. Devido ao exposto, neste texto os termos “respirador bucal” e “respiração bucal” se referem respectivamente ao indivíduo e ao comportamento de respirar predominantemente pela via bucal. Os fatores etiológicos mais citados para a respiração bucal são hipertrofia das tonsilas faríngeas e palatinas, hipertrofia de cornetos, desvio de septo ou rinite alérgica.8-11 O padrão respiratório bucal implica necessidades posturais adaptativas para facilitar a passagem do fluxo aéreo pela cavidade bucal. Assim, o indivíduo anterioriza a cabeça e estende o pescoço. A posição da cabeça anteriorizada é uma combinação da flexão da coluna cervical baixa e extensão da coluna cervical alta, sendo esta a primeira compensação postural adotada pelo respirador bucal.12 Dessa forma, aumenta a passagem de ar pela faringe, reduzindo a resistência nas vias aéreas.13 Acredita-se que essa alteração, que tem início na cabeça, desencadeia um desequilíbrio de forças musculares que implica alteração de todo o eixo postural, com desorganização das cadeias musculares. Ocorre diminuição da atividade do diafragma e hipoatividade da musculatura abdominal, dificultando o sinergismo entre esses dois músculos, o que, por sua vez, resulta em menor expansibilidade torácica e consequente comprometimento da mecânica ventilatória.14-18 Essas adaptações provocam prejuízo na capacidade ao exercício e progressivo enfraquecimento muscular pelo menor esforço respiratório exigido pela respiração bucal.17,19-21 Contudo, deve-se diferenciar as adaptações posturais fisiológicas das patológicas. Uma análise
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da postura corporal de escolares saudáveis de 7 a 10 anos de idade encontrou alta
frequência de alterações posturais. Nessa fase, compensações posturais ocorrem, até que todo o desenvolvimento corporal esteja completo. A postura de crianças entre 7 e 12 anos de idade se modifica como uma adaptação às novas proporções do corpo.23 O padrão respiratório bucal também é responsável pela inibição dos nervos aferentes nasais (nervo autonômico e simpático trigeminal). Esses nervos atuam na regulação da profundidade da respiração e no calibre das vias aéreas. Na análise da mecânica respiratória, os respiradores bucais apresentam médias inferiores nas pressões respiratórias máximas em relação aos respiradores nasais.24 A respiração bucal induzida pode ter consequências também na função cardiorrespiratória. Observou-se que a obstrução das vias aéreas superiores durante o exercício diminui a ventilação/minuto e a eliminação de gás carbônico. Como resposta ocorre a hipoventilação, hipóxia e hipercapnia (aumento do gás carbônico no sangue arterial que pode ser provocado por uma hipoventilação alveolar).25 A respiração bucal ainda pode ocorrer durante os exercícios físicos que requerem maior aporte de oxigênio.3-5 As doenças crônicas de ordem respiratória são consideradas, em testes físicos em crianças, fatores que afetam negativamente desempenhos, como a quantidade de distância percorrida.26 Como a respiração bucal pode trazer consequências para a função pulmonar, é importante conhecer e identificar suas consequências em todos os sistemas, pois o diagnóstico precoce possibilita intervenções mais eficazes para evitar a extensão do comprometimento.19 Como descrito, há evidências de que a respiração bucal atinge de modo concomitante a postura e a força muscular respiratória, sendo o comprometimento postural e o do sistema respiratório proporcionais.
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A interação entre os fatores ambientais e genéticos produz variados resultados morfológicos nos indivíduos. Essa variabilidade, em conjunto com o reconhecimento de que a DROS pode persistir ou recidivar após a adenotonsilectomia em algumas crianças, ratifica a importância do acompanhamento sistemático e do tratamento ortodôntico quando as anomalias dentofaciais estão presentes. Estudos prospectivos em crianças têm demonstrado os efeitos positivos da ERM tanto na correção da anomalia dentofacial como na melhoria do quadro clínico dos DROS em curto prazo. Entretanto, estudos em longo prazo ainda não foram realizados para avaliar se o tratamento ortodôntico pode prevenir o reaparecimento das anomalias dentofaciais e os DROS na idade adulta.
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Anna Carolina Rangel
ORTODONTIA LINGUAL COMO OPÇÃO NO ESPORTE
CapĂtulo 14
INTRODUÇÃO Os primeiros aparelhos ortodônticos foram utilizados em 1726, no século XVIII. Eram rudimentares e muitas vezes fixados na face lingual dos dentes – o lado da língua. Eram removíveis e tinham como objetivo simplesmente expandir os arcos dentários.1 A técnica convencional, em que o aparelho fixo é colado na face vestibular (lado de fora dos dentes), tem adotado há muitos anos, algumas vezes, recursos das técnicas linguais para auxiliar num resultado melhor dos movimentos dentários. Alguns arcos e acessórios têm sido considerados bons recursos na técnica convencional, mas foi somente em meados da década de 70 que realmente surgiram os aparelhos linguais, o que revolucionou a ortodontia.2 Nos últimos 40 anos houve um avanço tecnológico nos aparelhos e técnicas ortodônticos. Com uma enorme e crescente procura do adulto pelo tratamento, os fabricantes de materiais ortodônticos viram um grande mercado para os aparelhos estéticos e introduziram os bráquetes plásticos, os quais, infelizmente, apresentaram muitas falhas, como quebras e manchas.3 A ortodontia lingual, como mencionado anteriormente, não foi desenvolvida nesses últimos anos. Seu advento data de 1979, quando uma onda de popularidade iniciou-se, com grande produção de bráquetes linguais lançados nos Estados Unidos. Naquele momento, a mídia e o público, de repente, estavam diante de uma nova técnica, que permitia uma correção das maloclusões, sem a exigência dos tradicionais bráquetes vestibulares.4 Não importava se os bráquetes eram de plástico, policarbonato, vinil ou cerâmico, se eram estéticos, mas não invisíveis; o certo era que os adultos não procuravam o tratamento ortodôntico por causa do embaraço dos bráquetes por vestibular.5 Datam da década de 1970 os primeiros trabalhos documentados em ortodontia lingual. Kurz, em 1975, desenvolveu na Califórnia (USA) bráquetes que foram colados por lingual atendendo à demanda que rejeitava aparelhos por vestibular, ou seja, visíveis, e assim nasceu o conceito da técnica lingual. Outro trabalho foi do Dr. Kinja Fujita, que, com o objetivo de proteger os lábios dos lutadores que usavam aparelhos vestibulares contra os traumatismos causados pelas lutas nas artes marciais, desenvolveu o aparelho lingual multibráquetes e o arco em forma de cogumelo,6 os quais foram projetados para compensar a anatomia lingual irregular.1 No Brasil, a técnica veio mais tarde, quando em um curso em Curitiba, PR, o Dr. Prof. James Hilgers abordou a ortodontia lingual para renomados ortodontistas, como o Dr. Marcos Gabriel Prieto e o Dr. Eros Petreli. Porém, se praticada no Brasil, a técnica ficou limitada entre alguns que não a divulgaram. Em 1997, o Professor Dr. Marcelo Marigo, com interesse em novidades na ortodontia moderna, foi buscar em Paris, com o Professor Dr. Didier Fillion, teorias e experiências para a prática clínica da técnica. Entusiasmado, volta ao Brasil e, juntamente com a Dra. Laura Buso, cria a Associação Brasileira de Ortodontia Lingual, estimulando diversos colegas à prática da técnica. Trata-se, portanto, da reintrodução da técnica lingual no Brasil. Atualmente a técnica vem evoluindo e sendo mais praticada pelos ortodontistas brasileiros. Livros da técnica foram editados, e diversos periódicos nacionais sempre trazem em seu conteúdo experiências e pesquisas sobre o assunto.
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Figura 1: Aparelho convencional de metal.
Figura 2: Aparelho estĂŠtico de porcelana.
Figura 3: Aparelho lingual para transferĂŞncia.
Figura 4: Aparelho lingual colado.
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O dispositivo protetor bucal para pacientes ortodônticos pode apresentar a combinação de uma, duas, três ou mais lâminas de etileno e copolímero de acetato do vinil (EVA), sendo que o número de camadas escolhidas dependerá do esporte praticado pelos atletas. Na mandíbula, a escolha de proteção também dependerá do esporte e da maloclusão existente. Em sua maioria, apenas uma proteção de até 2 mm de acetado é suficiente, já na arcada superior, como a região anterior necessita de maior proteção, deve ser mais espessa e obrigatoriamente de EVA. Assim sendo, objetivou-se, por meio de patente de modelo de utilidade inscrita no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), a apresentação desse dispositivo protetor bucal, de confecção simples e de custo reduzido, a ser utilizado por pacientes em tratamento. O protetor bucal ortodôntico tornou possível a proteção dos dentes sem interferir na movimentação ortodôntica, o que pode sugerir a não troca de protetor durante o tratamento ortodôntico ou, quando necessário, a troca programada.
Figuras 13 e 14: Depósito da patente e desenho específico para a patente.
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DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR EM ATLETAS Daniel Bonotto Danielle Medeiros Veiga Bonotto
CapĂtulo 15
Pode-se dizer que a dor afeta o ser humano mais do que qualquer outra experiência na vida. Em muitas doenças ou enfermidades a dor é considerada o principal sintoma. A dor orofacial refere-se à dor associada aos tecidos moles e mineralizados da cabeça, face e pescoço. Quando lesados, tecidos como pele, mucosa, vasos, dentes, glândulas, músculos ou ligamentos enviam impulsos através do nervo trigêmeo, que são interpretados como dor pelos circuitos cerebrais. Essa pluralidade de campos receptivos de inervação trigeminal explica a complexidade de avaliação, diagnóstico e tratamento das dores orofaciais. A dor é definida pela Associação Internacional para o Estudo da Dor (Iasp) como uma “experiência sensorial e emocional desagradável, associada a um dano tecidual real ou potencial ou descrita em termos deste dano”.1 Conceitualmente, portanto, observa-se que a dor apresenta uma dimensão sensorial discriminativa que permite ao indivíduo identificar o estímulo nocivo, mas também um eixo afetivo e emocional que relaciona a sensação dolorosa a experiências anteriores e ao estado psicoemocional e comportamental. O atleta convive frequentemente com a dor devido à própria natureza do esporte. A intensidade dos treinamentos e a maior exposição a eventos de trauma aumentam a frequência de experiências de dor. A dor musculoesquelética relacionada à prática esportiva pode ser considerada comum entre atletas, fazendo parte de seu dia a dia. Geralmente é bem tolerada e não traz impacto na qualidade de vida ou queda de performance. São as dores decorrentes de lesões, enfermidades ou doenças que de fato prejudicam a rotina e até mesmo a carreira dos atletas. Nesse contexto, as dores orofaciais e, em especial, as disfunções temporomandibulares devem ser consideradas importantes e fazer parte da rotina de avaliação da odontologia do esporte. O cirurgião-dentista tem a responsabilidade pelo diagnóstico e tratamento das dores da parte interna e ao redor da boca, face e pescoço. O exercício do diagnóstico diferencial das dores orofaciais é complexo e requer muito esforço, treinamento e conhecimento pelo profissional. Por esse motivo, em 2002, o Conselho Federal de Odontologia regulamentou a Especialidade de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial na Odontologia. O cirurgião-dentista envolvido na odontologia do esporte deve ser capaz de diagnosticar as diferentes dores orofaciais que podem acometer o atleta, estipular medidas de controle ou tratamento quando possível, ou ainda referir adequadamente para outros profissionais envolvidos com manejo das dores craniocefálicas quando necessário. Na sequência deste capítulo há uma descrição dos aspectos semiológicos das disfunções temporomandibulares, relacionando-as com a prática esportiva. O tipo de dor orofacial mais frequente é a dor odontogênica.2
DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES As disfunções temporomandibulares (DTM), por definição, abrangem um grande número de problemas clínicos que envolvem a musculatura mastigatória e as articulações temporomandibulares (ATM) de forma isolada ou conjuntamente.1 As DTM representam a maior causa das dores orofaciais de origem não dentária. Os sinais e sintomas mais frequentes são dor na face durante a função mandibular, ruídos articulares e limitação dos movimentos bucais1 (Figura 1).
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A primeira descrição do que hoje se entende por DTM é creditada ao otorrinolaringologista Costen, em 1934. Seu estudo envolveu 11 pacientes com queixas de dor na região auricular, zumbido, dores de cabeça, secura na boca e garganta e ruídos articulares. Defendeu a hipótese de que a perda dos dentes posteriores gerava uma sobremordida com consequente aumento da pressão da cabeça da mandíbula nos tecidos retrocondilares. A compressão dos vasos e nervo auriculotemporal desencadearia esse conjunto de sintomas, que ficou conhecido inicialmente como Síndrome de Costen.3
Figura 1: Locais de dor frequentemente relatados por pacientes com DTM.
O entendimento mais atual aponta que as DTM consistem em condições clínicas de etiologia multifatorial, pois um ou mais fatores podem contribuir para seu desencadeamento ou perpetuação. Entre esses fatores destacam-se as alterações anatômicas, o macrotrauma, o microtrauma, os desequilíbrios oclusais, os hábitos parafuncionais e as condições sistêmicas, como o estresse emocional.1 A forma como esses fatores interagem e atuam para causar uma DTM em cada indivíduo ainda não está definida.4 EPIDEMIOLOGIA DAS DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES Agerberg e Carlsson, em 1972, avaliaram a frequência das DTM por meio da aplicação de questionários a 1.106 indivíduos. Constataram que dores na face e de cabeça foram apontadas por 24% da amostra. Os ruídos articulares foram outro achado frequente, estando presentes em 39% dos indivíduos. Observaram ainda maior frequência no sexo feminino. Devido à alta prevalência, os autores ressaltaram a importância de a odontologia se dedicar ao diagnóstico e tratamento das DTM.5 Goss, em 1974, discutiu a etiologia e o diagnóstico da disfunção miofascial. Observou prevalência maior entre as mulheres, numa proporção de 4:1. Relacionou a etiologia a espasmos da musculatura mastigatória causados por tensão emocional e maloclusão. Concluiu que as manifestações clínicas são variadas, mas considerou como sinais cardinais as seguintes: dor, espasmo muscular, crepitação auricular e disfunção muscular.6
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Quanto aos exames complementares, em especial aos exames de imagem, vale enfatizar que são considerados ferramentas auxiliares no processo do diagnóstico. A anamnese e o exame clínico são soberanos no estabelecimento do diagnóstico. A radiografia panorâmica é indicada como exame de triagem, para avaliação geral do paciente. Na panorâmica, é possível avaliar a condição dentária e periodontal, as estruturas de suporte e as ATM. Entretanto, a imagem da articulação apresenta alto grau de sobreposição de estruturas anatômicas, permitindo apenas a identificação de alterações mais grosseiras. Exames de alta complexidade como tomografias computadorizadas ou ressonâncias magnéticas são indicados quando é necessário avaliar a extensão de lesões articulares ou quando a terapia proposta não apresenta os resultados esperados. Vale ainda lembrar que as DTM mais frequentes são as musculares e que estas não aparecem em exames de imagem.
TRATAMENTO DAS DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES Existe na literatura um grande número de modalidades terapêuticas para DTM. Essa pluralidade de tratamentos acaba muitas vezes trazendo confusão ao clínico sobre o que indicar a seu paciente. Prática da odontologia baseada em evidências procura nortear esta tomada de decisão. Se se opta por tratamentos testados por meio de pesquisas metodologicamente bem desenhadas, a previsibilidade de resultados é maior e os riscos para o paciente são melhores. Um exemplo clássico dessa situação é o ajuste oclusal por desgaste seletivo para tratamento de DTM. Historicamente, o ajuste oclusal foi indicado e realizado de forma indiscriminada. Entretanto, quando testado por métodos adequados, não se mostrou efetivo e está atualmente contraindicado como terapia para DTM.20 Tratamentos conservadores e reversíveis devem, portanto, ser priorizados na abordagem do paciente com DTM. Terapias como placas interoclusais de uso noturno, exercícios mandibulares, mudanças de hábitos e aconselhamento para medidas de autocuidados têm-se mostrado efetivas no controle e melhora desses pacientes.21,22 Nos atletas que fazem uso rotineiro de protetor bucal, o clínico deve estar atento à retenção e ao ajuste oclusal do aparelho. Protetores com pouca retenção exigem que o atleta mantenha apertamento dentário contínuo para deixá-lo em posição. Da mesma forma, aparelhos com desajuste oclusal podem ser um fator de sobrecarga e sustentação do quadro de DTM.
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DOENÇA PERIODONTAL, MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS E DESEMPENHO FÍSICO Marcelo Ekman Ribas Bárbara Capitanio de Souza Tatiana Miranda Deliberador Felipe Rychuv Clara Padilha Eli Luis Namba Carmen Mueller Storrer Tertuliano Ricardo Lopes
CapĂtulo 16
Em 1999, Mário Trigo, considerado o pai da Odontologia do esporte no Brasil, proferiu uma palestra na Academia de Bombeiros Militares de Brasília sobre a relação intitulada “Foco dentário com repercussão a distância”, que pode ser encontrada na íntegra em seu livro “O Eterno Futebol”.1 Na palestra, Trigo cita vários outros autores que dedicaram seu tempo ao estudo de manifestações sistêmicas como consequência de focos infecciosos de origem bucal. A relação entre a condição bucal e as condições sistêmicas é relatada na história há muito tempo. Fatos históricos mostram que até mesmo no ano de 2000 a.C. já havia a sugestão de que a saúde sistêmica poderia ser beneficiada com extrações de dentes. Em 1818 Benjamin Rush foi o primeiro a sugerir a teoria da infecção focal, através de observações clínicas após extrações de dentes cariados ou com outras doenças bucais.2 Nos últimos anos o enfoque sobre a inter-relação entre patologias infectoinflamatórias orais e efeitos adversos sistêmicos recebeu uma nova abordagem, na qual as doenças periodontais eram as doenças bucais mais relacionadas às inflamações em outros órgãos ou tecidos, desde que o trabalho de Mattila e colaboradores3 demonstrou uma relação entre piores condições de higiene oral e infarto agudo do miocárdio. Consequentemente, vários estudos observacionais começaram a relacionar as doenças periodontais com DCV e ganharam confiabilidade pelo avanço das técnicas moleculares e análises de caráter inflamatório.4-6 Em virtude desse novo cenário, o termo “odontologia sistêmica” foi introduzido na literatura. Essa linha de pesquisa fez com que a odontologia e a medicina se reaproximassem, possibilitando a realização de trabalhos em diferentes linhas de pesquisa observando a inter-relação com patologias como doenças pulmonares, parto prematuro e baixo peso neonatal, obesidade, osteoporose, diabetes, lesões musculares, Alzheimer e câncer.7-11 Logo, podemos perceber que o estudo dessa correlação não é tão recente; contudo, ainda há a necessidade de desenvolvimento de pesquisas e do advento de novas evidências científicas. No âmbito esportivo, em que a busca pelo máximo desempenho é um objetivo constante, torna-se importante o engajamento de todos os profissionais envolvidos, a fim de se obterem melhores evidências e resultados. É importante ressaltar que a odontologia do esporte tem um papel importante no desempenho não apenas dos atletas de alto rendimento, mas também de pessoas que buscam, através do exercício físico, amenizar complicações decorrentes de doenças, como, por exemplo, diabetes, doenças cardiovasculares e doenças respiratórias. Para acompanhar este capítulo você deve ter lido os conceitos sobre desempenho físico, no capítulo 2. A partir dos conceitos abordados você conseguirá entender a relação entre a doença periodontal e sua ação sobre o desempenho.
DOENÇA PERIODONTAL As doenças periodontais são caracterizadas por serem doenças infectoinflamatórias de origem bacteriana (presentes no biofilme dental) associadas a resposta inflamatória e imune do hospedeiro, podendo afetar o periodonto de proteção (tecido gengival, no caso de gengivite) e o periodonto de sustentação (osso alveolar, ligamento periodontal e cemento radicular, na periodontite). Nas patologias periodontais ocorre um desequilíbrio no processo entre saúde e doença, cuja resposta imunoinflamatória do hospedeiro é superposta.12
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Estima-se que exista uma prevalência de até 15% da população global portadora de doença periodontal avançada e que cerca de 90% pode estar afetada de alguma forma com doença periodontal leve, sendo uma das patologias infecciosas mais prevalentes do mundo.8,13 GENGIVITE A gengivite pode ser considerada uma forma inicial, uma forma não destrutiva da doença periodontal, e caracteriza-se clinicamente por gengiva avermelhada, edemaciada, com perda do contorno harmônico, com presença ou não de cálculo supragengival e sangramento, podendo ser espontâneo.
PERIODONTITE A periodontite é a forma destrutiva da doença periodontal, em que os tecidos que sustentam os dentes (osso, ligamento periodontal e cemento) já foram afetados, podendo levar à perda dentária ao longo do tempo. A doença periodontal pode não apresentar sintomas dolorosos, evoluindo tanto de forma lenta (periodontite crônica) quanto rapidamente (periodontite agressiva). A periodontite caracteriza-se por apresentar características clínicas semelhantes às da gengivite, além de poder ser observada a presença de cálculo supra e subgengival, recessão gengival, mudança na posição dos dentes e dentes com mobilidade leve ou avançada.
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DOPING E A ODONTOLOGIA DO ESPORTE Clara Padilha Cristina Rauen Ribas Eli Luis Namba
CapĂtulo 17
Nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, o mundo do atletismo pôde presenciar a consagração da jamaicana Shelly-Ann Fraser, que superou o favoritismo da campeã mundial, a americana Carmelita Jeter, e conquistou pela segunda vez a medalha de ouro na prova dos 100 metros, confirmando o domínio do país nas disputas de velocidade nas pistas. A conquista da atleta se tornou muito mais emocionante aos olhos do povo, pois ela retornava de dois anos complicados, iniciados após a conquista do ouro em Pequim, em 2008, e o Mundial de Berlim, em 2009. A Associação Internacional das Federações de Atletismo suspendeu a campeã por seis meses das competições, acusada em um exame antidoping realizado em maio de 2010, cuja substância encontrada foi a oxicodona. Oxicodona é um analgésico opioide normalmente prescrito para tratamentos de dores moderadas a intensas. Shelly-Ann defendeu-se afirmando que a substância havia sido utilizada para combater dores de dente que a incomodavam antes da competição na China. Como não conseguiu derrubar a acusação, a atleta teve de se afastar das pistas e só retornou em 2011, último ano do ciclo olímpico e do esperado Mundial de Daegu. Fraser recuperou sua reputação em Londres, mas a lição foi aprendida por cirurgiões-dentistas do esporte e atletas de todo o planeta. Eduardo De Rose, médico ligado ao Comitê Olímpico Brasileiro e à Agência Mundial Antidoping, estima que apenas 25% dos casos de doping sejam intencionais. Nas outras 75% das vezes o atleta ingere a substância sem ter consciência.
HISTÓRICO Na verdade, a história do uso de substâncias que melhoram o desempenho físico é mais antiga do que os jogos olímpicos. Existem relatos de chás da planta “machuang”, que os chineses utilizavam para aumentar a capacidade de trabalho por sua alta concentração de efedrina; outros sobre os jogos olímpicos da Antiguidade (800 a.C.), que descrevem que atletas bebiam chás de diversas ervas e usavam óleos e cogumelos para melhorar o desempenho; no século XIX, a bebida “Vin Mariani”, nomeada em homenagem ao alquimista que a produzia, à base de folhas de cocaína, era muito utilizada por atletas. Conta-se que nos primeiros Jogos da Era Moderna, organizados pelo barão de Coubertin (Atenas, 1896), já apareciam as “bolinhas”, esferas contendo diversas substâncias estimulantes como cocaína, efedrina e estriquinina. Surgia então a expressão “usar bola” como sinônimo de dopar-se. Mas, no geral, as Olimpíadas eram momentos de celebração do esporte. O espírito olímpico prevalecia, e o uso do doping era eventual, pois muitos dos atletas competiam pelo prazer da superação individual. Na Segunda Guerra Mundial muito cientistas se dedicaram a pesquisas de substâncias que mantinham soldados acordados por mais tempo e que aumentassem a resistência ao cansaço. Além disso, existia a necessidade de recuperação dos prisioneiros desnutridos dos campos de concentração, e assim aperfeiçoou-se o uso dos hormônios anabolizantes. Como o esporte adquiriu e adquire cada vez maior importância em nossa sociedade, seja por motivos políticos ou financeiros, o doping passou a ser utilizado de forma mais “científica”,
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sob a perspectiva de que “a vitória vale a qualquer preço”. O problema é justamente esse preço: nos jogos de 1960 e de 1964 dois atletas faleceram por uso excessivo de substâncias estimulantes e hormônios. Esses eventos estimularam o Comitê Olímpico Internacional a criar uma comissão médica, que passou a atuar nas Olimpíadas em 1968, no México.1
O QUE É DOPING? Vida de atleta de alto rendimento é difícil. São horas e horas de treino todos os dias, seguindo uma alimentação equilibrada, com horários e hábitos restritos, e uma convivência constante com a dor. Além disso, atletas de alto rendimento têm o objetivo de estar sempre superando seus adversários e, principalmente, superando a si próprios. Mas não é só no esporte de alto rendimento que o conceito de doping está presente. A chamada “vida moderna”, baseada na pressa, competitividade extrema, rapidez absurda na entrega de resultados, cobrança de excelência pela sociedade, provoca uma opressão também nos anônimos. Muitos recorrem ao uso e abuso de substâncias, nem sempre recomendadas, para alavancar suas chances de vencer, emagrecer, “ficar sarado” ou, enganosamente, mais saudável. Desde 2004 a Agência Mundial Antidoping (Wada – World Antidoping Agency) emite anualmente uma lista com as substâncias e métodos proibidos. Além da lista, foi implantado um sistema eletrônico que deve ser alimentado pelas confederações e comitês com a localização dos atletas durante o ano. Doping, ou dopagem, é a utilização de substâncias ou métodos potencialmente perigosos para a saúde do atleta ou de seus adversários, e/ou capazes de aumentar artificialmente o desempenho esportivo, além de ser contrário ao espírito da competição. A palavra “doping” é derivada de dialeto africano e significa bebida estimulante usada em cerimônias religiosas.2,3 Hoje é designada para toda e qualquer substância ou agentes farmacológicos, exógenos ou endógenos, utilizados abusivamente ou em vias anormais, com o objetivo de melhorar o desempenho de atletas ou capaz de alterar a função fisiológica normal, consideradas proibidas pela Declaração de Copenhague (políticas de controle antidoping de 2003), com suas determinações no Código Mundial Antidoping da Wada, que visa manter a ética, a honestidade e a saúde no esporte, ou seja, o espírito esportivo, e também pelo Comitê Olímpico Internacional.2,4-6 Conforme, a World Conference Against Doping, em Lausanne, em 1999, doping é proibido por ser uma atividade que contraria os princípios fundamentais do Olimpismo, da ética médica, da ética esportiva e da filosofia desportiva, como disciplina, dedicação, lealdade e competitividade.7,8 Logo, recomendar, propor, autorizar, tolerar, traficar ou facilitar o uso de substâncias ou métodos que se incluam no conceito de doping é proibido.7 Os atletas precisam tomar muito cuidado com todos os medicamentos a que têm acesso. Por exemplo, produtos de farmácias de manipulação não são recomendados pelos médicos, pois são feitos em recipientes que podem conter vestígios de substâncias proibidas. Existe um consenso de que se trata de uma responsabilidade que tem de vir do atleta, pois ele será o culpado. O COB oferece aos atletas uma cartilha com o nome comercial de me-
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Tanto os atletas quanto os profissionais de saúde devem ter conhecimento sobre a lista de substâncias proibidas pela Wada, verificando atentamente suas atualizações anuais.
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ODONTOLOGIA E NUTRIÇÃO DO ESPORTE Carlos Werutski Clara Padilha Eli Luis Namba Ivana Fontana Bazei Paula Gracia Koppe Colleoni
CapĂtulo 18
Neste capítulo você perceberá a importância do trabalho interdisciplinar entre a odontologia do esporte e a nutrição esportiva. Conhecer a dieta dos atletas e saber que são diferentes de acordo com a demanda energética que a atividade exige é fundamental para o diagnóstico de alterações que podem se manifestar na cavidade bucal deles. O importante papel de uma cavidade bucal livre de doenças para o pico do desempenho é muitas vezes esquecido ou negligenciado. Um estudo exploratório que teve como objetivo determinar fatores de risco para cárie e erosão em 31 triatletas de elite na Nova Zelândia identificou que bebidas esportivas foram consumidas por 83,9% dos triatletas durante o treinamento; que 48,4% dos atletas consumiam tanto bebidas esportivas quanto água; e que 93,5% dos participantes comiam durante os treinos, dos quais 62,1% apenas durante o treino de ciclismo. Apenas 3,2% compreendem o treino como de alto risco para a saúde bucal. Todos os casos de exames clínicos desse estudo foram avaliados como de alto risco para o desenvolvimento de cárie.1 Entre as alterações fisiológicas ocasionadas pelo exercício físico de alta intensidade está um estado de xerostomia transitória, que acontece pela liberação de neuro-hormônios, como, por exemplo, a adrenalina e a noradrenalina. Uma das funções da saliva é a proteção, e o fato de se apresentar em menor volume acrescido a uma dieta rica em carboidratos, normalmente pastosa e de grande retenção nos dentes, favorece a cárie dentária. Agregue-se aos fatores anteriores o consumo de bebidas que contribuem na desmineralização, o que é o caso dos repositores líquidos de sais minerais, e constitui-se uma situação crítica para a saúde bucal do atleta. Algumas pesquisas relatam ainda a presença de corpos cetônicos em maratonistas após as provas. O protocolo de higienização bucal desses atletas deve ser adaptado a sua realidade. No transcorrer deste capítulo poderemos avaliar melhor a conduta dos cirurgiões-dentistas do esporte perante as diferentes modalidades e a especificação de dietas e suplementações alimentares. Os principais objetivos da nutrição esportiva são semelhantes aos da odontologia do esporte: promoção de saúde, qualidade de vida, melhora no desempenho do atleta e otimização da recuperação pós-exercício. Para que o atleta consiga realizar as reações orgânicas necessárias, uma alimentação adequada que permita uma produção de energia estável é imprescindível. Essa alimentação pode estar vinculada a um programa de exercícios com finalidade específica, como a melhoria da saúde, o aumento de força ou a hipertrofia muscular. A relação interdisciplinar entre nutrição e odontologia é importante, pois a escolha de determinadas fonte de nutrientes combinada a uma higiene bucal deficiente pode trazer prejuízos à saúde bucal e, consequentemente, à saúde geral do atleta, no curto, médio e longo prazo. A ingestão de nutrientes durante as provas é importante, período no qual atletas não podem realizar a higiene bucal da maneira adequada. Essa situação mais o fato de que o exercício físico diminui a salivação favorecem ainda mais a sedimentação dos alimentos nos dentes, estabelecendo substrato para a cárie. Essas e outras situações serão abordadas neste capítulo, mas, primeiramente, vamos estudar quais as necessidades nutricionais de um atleta, para depois discutir as complicações odontológicas decorrentes delas.
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EQUILÍBRIO NUTRICIONAL Atletas apresentam, em geral, maior quantidade de massa muscular e, por isso, possuem um metabolismo basal maior que não atletas. Sua alimentação é composta de uma combinação de carboidratos, proteínas, lipídios, água, sais minerais e vitaminas. Carboidratos e vitaminas são os principais responsáveis pela produção imediata de energia e uma série de reações químicas. No esporte deve existir um balanceamento constante desses seis grupos alimentares para garantir um bom desempenho físico. Atletas apresentam maior necessidade calórica e, por essa razão, além do balanceamento alimentar, é importante a quantidade que o atleta ingere desses grupos. O ideal seriam refeições pequenas, pois as grandes impedem o treino por várias horas. O aumento na ingestão precisa ocorrer, mas deve ser bem distribuído e levar em conta que o gasto energético do atleta pode variar de acordo com a fase de treino em que ele se encontra.
Figura 1: O atleta deve procurar manter um equilíbrio em cinco áreas: balanço calórico, de nutrientes, hídrico, mineral e vitamínico.
O balanço calórico é importante porque envolve a produção de energia a partir de carboidratos, proteínas e lipídios, e os gastos basais e da atividade motora do atleta. A relação entre essas três principais classes de nutrientes chama-se balanço nutricional. Uma dieta normal deve ter por volta de 60% de carboidratos, 15% de proteínas e 25% de gorduras. A água (balanço hídrico) tem a função de ser solvente no corpo, atuando em reações enzimáticas e na termorregulação. A falta de água durante o exercício faz com que a frequência cardíaca e a temperatura corporal subam, que baixe o volume sistólico e que a pessoa entre num estado de cansaço progressivo, o que resultará na interrupção da atividade. A ingestão de água durante o exercício e a recuperação podem ser acompanhadas por minerais, uma vez que esses elementos ajudam o organismo a reter líquido. Os principais minerais perdidos durante o exercício são cloro, sódio, magnésio e potássio. O sódio e o cloro são perdidos através do suor e devem ser repostos por serem elementos participantes da contração muscular (balanço mineral).
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A nutrição, por outro lado, implica a ingestão e absorção dos nutrientes. Está relacionada ao equilíbrio entre o aporte e o consumo de nutrientes do organismo. Nutrição e dieta podem afetar a saúde bucal de três maneiras: através de sua influência na estrutura do dente, na erosão dentária e no processo carioso (doença cárie).
CONSIDERAÇÕES FINAIS Conhecer o trabalho realizado pelo nutrólogo ou nutricionista esportivo é fundamental para o profissional da odontologia do esporte, e em uma equipe interdisciplinar essa aproximação é essencial para que os resultados de ambas as áreas sejam mais resolutivos. Uma boa nutrição não pode ser realizada por um atleta que apresenta, por exemplo, ausências. Uma mastigação inadequada desfavorece a quebra adequada dos alimentos e sua transformação em energia é comprometida, resultando na queda de performance, de maneira direta ou indireta. Assim como os outros fatores mencionados, o protocolo de higienização deve ser adequado ao número de refeições realizadas pelo atleta, e os fatores associados à fisiologia do exercício também devem ser considerados, pois, como foi discutido anteriormente, o exercício pode ser considerado um fator de risco para o atleta de alta performance. Os profissionais responsáveis pela saúde do atleta devem estar atentos não só ao desempenho na prova, mas também à qualidade de vida dele. Suplementar o atleta e prepará-lo apenas para a prova, sem as devidas orientações e cuidados, pode comprometer sua saúde bucal, saúde geral e qualidade de vida no curto, médio e longo prazo.
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Eli Luis Namba Lucy Giselle Faiçal
FISIOLOGIA DAS GLÂNDULAS SALIVARES E VARIAÇÕES SIALOQUÍMICAS DURANTE A ATIVIDADE FÍSICA
CapĂtulo 19
PAPEL DA SALIVA NA MANUTENÇÃO DA SAÚDE ORAL A saliva é um fluido aquoso e transparente produzido nas glândulas salivares – glândula parótida, glândula submandibular, glândula sublingual e glândulas menores –, sendo lançada diretamente na cavidade oral. O volume de saliva secretada, em condições basais de repouso, está em torno de 1 ml/min, o que totaliza diariamente um volume de 1.000 a 1.500 ml/dia (em média 1.200 ml/dia).1 A glândula parótida é a maior de todas, produz 25% de toda a saliva, é puramente serosa e está localizada atrás do ramo da mandíbula. A glândula submandibular é a segunda em tamanho, caracteriza-se por conter células serosas e mucosas, e situa-se na porção posterior do assoalho da boca. A glândula sublingual possui a forma de uma pequena amêndoa. Situada entre o assoalho da boca e o músculo milo-hióideo, é uma glândula mista, com predominância das células mucosas sobre as serosas. As glândulas menores são nesse processo de produção de saliva as mais numerosas, situando-se entre 600 e 1.000. Estão em toda a cavidade oral, com exceção da gengiva aderida, face dorsal do terço anterior da língua e porção anterior do terço duro. Constituem-se em glândulas mucosas, exceto pelas glândulas serosas de von Ebner. A saliva tem como componentes água e glicoproteínas, e entre estas a mucina, que lhe dá viscosidade, deixando-a mais espessa, lubrificando os alimentos e a boca, mantendo assim sua umidade. Também encontramos na saliva a ptialina, uma enzima proteica que atua na digestão dos amidos. As variações de composição da saliva devem-se à ação de fatores controladores da secreção salivar, sendo os fundamentais o sistema nervoso autônomo e o sistema endócrino. Em se tratando do sistema nervoso autônomo e seu funcionamento, chegamos à ação do sistema nervoso simpático, que controla a composição da saliva, e à do sistema nervoso parassimpático, que controla seu volume, sendo este o mais importante para as funções digestivas em geral.1,2 Essas estruturas formam o mais importante reservatório das mais ricas fontes de imunoglobulina A salivar (IgA-s) para proteção do trato respiratório superior (TRS). Acredita-se que a redução do fluxo salivar pode também diminuir a quantidade de IgA, tornando o indivíduo exposto a infecções do TRS. Para o atleta isso poderia trazer consequências como inflamação de garganta, congestão, coriza, febre, entre outras, o que prejudica seu treinamento.2,3 Considerada um dos mais complexos, versáteis e importantes fluidos do corpo humano, a saliva provê um largo espectro de necessidades fisiológicas. Entre outras funções, é responsável pela preparação do bolo alimentar, umidificação da mucosa oral e faríngea, bem como das vias digestivas superiores em geral, dissolve os alimentos e realiza a limpeza dos dentes. Exerce também a função de tamponamento, que é a propriedade de manter o pH da cavidade oral entre 6,9 e 7,0, graças a seus tampões mucinato/mucina, que inibem o excesso de ácidos e bases.3 A saliva, por seu conteúdo mucoso e suas proteínas com propriedades antibacterianas, como a estatina, a lisosina e a lactoferrina, tem ação sobre os microrganismos que tentam colonizar os tecidos bucais. Também estão presentes na saliva os anticorpos, sendo o principal
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deles a imunoglobulina IGA secretora, que tem a capacidade de aglutinar microrganismos. Essa capacidade, juntamente com a ação de limpeza da saliva, serve para remover agregados de bactérias, promovendo, assim, a manutenção da integridade dos dentes. Outra importante função também atribuída à saliva é a reparação tecidual, pois clinicamente se observa que o tempo de sangramento dos tecidos bucais é inferior ao dos outros tecidos, justamente pela mistura da saliva com o sangue.3,4 VARIAÇÕES SALIVARES DURANTE A ATIVIDADE FÍSICA A saliva durante a atividade física sofre alterações em seus componentes, pois o exercício físico conduz os sistemas corporais a variações bioquímicas. Essas alterações causam mudanças nas concentrações de proteínas totais salivares (PTS), de óxido nítrico (NO), do potencial de hidrogênio iônico (pH), bem como da atividade da alfa-amilase salivar, e podem ser usadas como indicadores da resposta fisiológica dos vários sistemas ao exercício físico.5-8 A saliva é constituída predominantemente por água (97-99,5%), originada do plasma presente na célula acinar, além de conter constituintes orgânicos e inorgânicos. O controle da secreção salivar é mediado por uma ação combinada de estímulos simpáticos e parassimpáticos. A inervação parassimpática provoca vasodilatação, o que aumenta a quantidade e a fluidez da saliva com baixos níveis de compostos orgânicos e inorgânicos. A inervação simpática provoca vasoconstrição, o que confere baixo volume do fluxo salivar, porém contém elevados níveis de proteínas, especialmente α-amilase, e compostos inorgânicos.4,9 Quando acontece redução do fluxo salivar, também ocorre a deficiência seletiva de IgA-s, indicando, assim, uma relação estreita entre baixa concentração de IgA e alto risco de infecções.10 Observa-se também que, quanto maior a intensidade dos exercícios, maior a diminuição das concentrações de IgA-s.9,11-14 Estudos encontraram reduções na concentração de IgA-s tanto durante como após um período prolongado de treinamento intensivo no ciclismo, na corrida, na natação, no triatlo e em atletas de caiaque.15 É fundamental garantir um bom nível de secreção salivar durante o exercício, para impedir reduções acentuadas nos níveis de IgA. Uma forma de assegurar isso é manter-se hidratado. A ingestão de líquidos ao longo do exercício deixa a boca constantemente molhada, enviando sinais ao sistema nervoso para que a produção de saliva não pare, prevenindo a desidratação e preservando o fluxo salivar e consequentemente a concentração de IgA. Não há dúvidas de que o exercício físico exerce influência sobre o comportamento do sistema imunológico, especialmente sobre a IgA-s, e que o controle dessa variável em atletas se torna extremamente relevante e viável, principalmente por tratar-se de método prático e não invasivo. MEDICAMENTOS QUE INTERFEREM NA SALIVAÇÃO Como já foi mencionado, a saliva não apenas mantém a boca úmida como torna possíveis a mastigação e a deglutição dos alimentos, o que implica mais fácil digestão. Faz também a limpeza dos dentes, protegendo-os contra cáries, e atua na prevenção de infecções, controlando bactérias e fungos na boca. Existem alguns medicamentos que podem alterar a produção de saliva, causando aumento na incidência de cáries, boca seca, estomatite, paladar metálico e outros mais. Outros medicamentos, após sua ingesta, podem ser secretados na saliva, causando paladar amargo – é
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FISIOTERAPIA DO ESPORTE Leandro Zen Karam Cassio Preis Gislaine Bonete da Cruz Maria Augusta Nascimento Heim
CapĂtulo 20
INTRODUÇÃO Pela Resolução nº 337, de 8 de novembro de 2007, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional reconheceu a especialidade de Fisioterapia Esportiva. A atuação do fisioterapeuta no esporte é observada em todos os domínios de sua prática. Destaca-se, inclusive, a área de atendimento emergencial, em que culturalmente existe a figura do massagista no esporte brasileiro. Nessa área o fisioterapeuta atua tanto individualmente quanto em conjunto com o médico. Outra área importante de atuação do fisioterapeuta é a prevenção de lesões. O processo de prevenção requer o registro das lesões e a avaliação sistemática do efeito das medidas preventivas adotadas, e a participação da equipe interdisciplinar no processo. Além disso, atua na manutenção de performance de atletas lesados, participa na decisão do retorno do atleta às atividades após a reabilitação e tem autonomia, junto com todos os membros da equipe, de veto ou liberação do atleta ao treinamento esportivo. O processo de avaliação é também um grande definidor do papel do fisioterapeuta, podendo ser utilizado para a decisão de liberação ou não do atleta para a competição. A prescrição de equipamentos com o intuito de prevenir lesões tem sido citada na literatura como um procedimento muitas vezes necessário. O fisioterapeuta é indicado para realizar essa prescrição, sendo as mais comuns órteses e palmilhas. Portanto, este capítulo tem como objetivo dissertar sobre a atuação do fisioterapeuta na avaliação, prevenção e reabilitação de lesões no atleta, bem como citar algumas técnicas utilizadas nessa especialidade.
PRINCIPAIS LESÕES ESPORTIVAS A atividade física regular é essencial para a prevenção de várias doenças,1,2 porém a prática inadequada e a falta de assistência de um profissional qualificado são prejudiciais à saúde do atleta, podendo causar lesões graves e, consequentemente, o abandono precoce do esporte e da atividade física.3 A incidência de lesões em atletas pode estar relacionada a alguns fatores intrínsecos, como idade, lesões prévias, instabilidade articular, preparação física, habilidade, sexo, desenvolvimento motor, dieta e fatores psicológicos. Além disso, os fatores extrínsecos como os requisitos específicos de cada modalidade, o tipo de equipamento utilizado, a organização e carga de treino, condições meteorológicas,2,4,5 experiência na prática de esportes e número de horas por semana de treinamento influenciam nos acidentes sofridos pelos atletas.5 Uma vez que as lesões são classificadas em traumática e não traumática (uso exagerado), cada tipo de desporto pode induzir certos tipos de lesões.2,6,7 Por exemplo, os esportes que não exigem contato, como tênis, natação, tênis de mesa, atletismo e ginástica, estão associados a lesões não traumáticas, como a tendinite. Por outro lado, as lesões traumáticas são comuns em esportes de contato, como basquete, futebol, handebol e futsal.2,8 Nos Estados Unidos, o Sistema Nacional de Registro de Lesões Esportivas (Nairs) classifica as lesões esportivas, segundo o tempo de afastamento do atleta para recuperação, em três graus: lesões menores (de 1 a 7 dias de afastamento), lesões moderadamente sérias (de
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8 a 21 dias de afastamento) e lesões sérias (acima de 21 dias de afastamento ou lesões permanentes).6 As lesões osteotendomusculares são as mais frequentes na prática esportiva, sendo o membro inferior o local mais acometido,2,6 com cerca de 90% das lesões.6 Já em relação às modalidades esportivas, o futebol é um dos esportes que mais causam lesões em atletas no mundo, e essa modalidade é responsável por 50% a 60% de todas as lesões esportivas na Europa. Entre todos os traumas tratados em hospitais europeus, aproximadamente 3,5% são causados pelo futebol.9 A flexibilidade tem um importante papel na função neuromuscular, sendo responsável pela manutenção de uma amplitude de movimento adequada das articulações. Essa propriedade articular facilita o aprimoramento das técnicas desportivas, gerando maior capacidade mecânica dos músculos, o que permite menor gasto energético no aproveitamento e pode ser considerado um fator preventivo nos esportes.10-12 Além da flexibilidade, a força muscular também é um atributo físico essencial na execução de gestos desportivos, ambas sofrendo adaptações com a modalidade. Em particular, a flexibilidade é também influenciada pela faixa etária, reduzindo-se com a idade.13 Por sua vez, a instalação de retrações musculares tem apresentado relações com má postura, contribuindo para as lesões desportivas em jogadores tanto jovens7,14 quanto adultos.12,15,16 A lesão muscular é uma das mais vistas nas competições, com uma a frequência que varia entre 10% e 55% de todas as lesões. Normalmente envolve os seguintes grupos musculares: isquiotibiais, adutores, quadríceps e panturrilha.17 Na contração muscular, quando ocorre uma contusão induzida, o resultado é mais superficial do que o músculo relaxado, já que a contusão é geralmente adjacente ao osso, a pressão de impacto é transmitida através das camadas musculares.18 As luxações, em geral, são urgências ortopédicas que necessitam de diagnóstico preciso e precoce.19 A conduta tomada de maneira adequada diminui os efeitos deletérios causados pelo trauma e a consequente incongruência articular que se estabelece. Deve ocorrer em ambiente hospitalar, pelos recursos disponíveis para o bom diagnóstico e correto procedimento terapêutico, principalmente naquelas em que se exigem anestesia e recursos de centro cirúrgico.19-21 As luxações são encontradas principalmente em esportes que exigem contato direto ou exacerbação de impacto sobre a articulação. A luxação anterior traumática da articulação glenoumeral é muito comum em atletas, e a maior parte delas ocorre de forma aguda, principalmente em jovens com menos de 20 anos envolvidos em esportes competitivos de contato. Frequentemente esse quadro pode progredir para episódios de instabilidade.22 A posição que mais causa luxação de ombro é a de abdução e rotação interna, responsável por 75% das lesões. Estudo comparou os mecanismos de trauma e ocorrência de luxação da glenoumeral em jogadores de rugby, que é caracterizado por múltiplos contatos de alta energia durante o curso de uma partida.23 Os autores concordaram com tal informação e sugeriram que a hiperflexão com rotação interna também pode causar luxação de ombro. O tratamento mais tradicional para esse tipo de lesão é o conservador, entretanto esse método não tem demonstrado reduzir as recidivas em atletas jovens. A artroscopia tem sido amplamente sugerida como tratamento inicial para o primeiro episódio de luxação traumática anterior de ombro, a fim de prevenir instabilidades subsequentes. Entretanto, isso ainda não é consenso na literatura.
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Lirane Carneiro Suliano Sandra Silvério-Lopes
A ACUPUNTURA NOS TRATAMENTOS DA ODONTOLOGIA DO ESPORTE
CapĂtulo 21
A ACUPUNTURA E A ODONTOLOGIA INTRODUÇÃO A acupuntura clássica, principal pilar da medicina tradicional chinesa (MTC), é uma técnica milenar que consiste na inserção de agulhas em pontos previamente determinados visando à prevenção e/ou ao tratamento de inúmeras patologias nos sistemas musculoesquelético, respiratório, neurológico, digestório e estomatognático, promovendo a circulação energética para o bom funcionamento do organismo. Derivada do latim, acus (agulha) e pungere (punção), referindo-se à inserção de agulhas, o termo “acupuntura”, em tradução livre da expressão chinesa Zhen Jiu, significa agulha e cauterização. Documentada no livro Huang Di Nei Jing, escrito no ano 400 a.C., a ciência que utiliza agulhas, moxabustão, ventosa e sangrias,1 desde o século XIX, passou a ser praticada e estudada no ocidente e teve sua expansão acentuada em 1970, quando médicos e pesquisadores norte-americanos em visita à China relataram casos de analgesia cirúrgica com a utilização de agulhas. No Brasil a técnica é praticada desde a década de 1950 e vem paulatinamente despertando o interesse dos profissionais da área da saúde em razão do crescente número de pesquisas científicas e da comprovação clínica de seus benefícios. A técnica adquiriu caráter multidisciplinar e em 1979 foi reconhecida no âmbito da saúde pública pela Organização Mundial da Saúde (OMS).2 Em 2006 o acesso à acupuntura se ampliou no Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da Portaria nº 971/2006, e com a Resolução nº 82/2008 o Conselho Federal de Odontologia (CFO)3 reconheceu ao cirurgião-dentista o direito de aplicar a acupuntura no âmbito da saúde bucal, utilizando-a como terapêutica complementar ao tratamento odontológico convencional. BENEFÍCIOS DA ACUPUNTURA NA ODONTOLOGIA Recentemente o Conselho Federal de Odontologia reconheceu a acupuntura como especialidade odontológica. O reconhecimento pela OMS2 da eficácia da acupuntura em odontologia descortinou aos profissionais da área um novo campo de atuação, voltado à visão integral do paciente no processo saúde-doença. A técnica da acupuntura apresenta bases científicas que evidenciam sua eficácia terapêutica como método preventivo, curativo e paliativo de inúmeras patologias, especialmente as do sistema estomatognático.4 Segundo Gonçalo4 e Boleta-Ceranto e Miura,5 a comunidade científica divulga vários artigos publicados que fazem referência a temas como ansiedade pré-operatória;6,7 xerostomia;8,9 disfunção temporomandibular;10 “gagging reflex” – reflexo faríngeo;11,12 herpes simples;13 doença periodontal;14 neuralgia do trigêmeo;15 bruxismo;16 dor pós-operatória;7,17 analgesia dentária;18 paralisia facial;19 odontalgia; cefaleia; ansiedade; hábitos parafuncionais; cervicalgia; abscesso dentário; espasmo facial; tontura/náusea; zumbido; neurastenia; úlcera lingual; boca seca; halitose; irritabilidade; trismo; cefaleia; aftas; periodontite; sialorreia; parestesia facial e lingual; dificuldade para falar e deglutir; artrite temporomandibular; luxação da ATM;4 líquen plano; mucosite; osteorradionecrose; radiodermite; redução da necessidade de drogas anestésicas, analgésicas e
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anti-inflamatórias; reparação tecidual; síndrome da ardência bucal (SAB); síndrome de Sjögren; e ulceração aftosa recorrente.20 Bastante difundida como técnica de analgesia, a acupuntura também apresenta propriedades anti-inflamatórias, ansiolíticas,21 miorrelaxantes e no aumento da função imunológica, podendo ser indicada como ferramenta no atendimento em diversas especialidades odontológicas, entre elas a odontologia do esporte. A OMS2 respalda a ação da acupuntura em inúmeras patologias, tais como dor orofacial, enxaqueca, ansiedade, estresse, fobia, analgesia profunda em procedimentos, analgesia no pós-procedimento (extrações, implantes, endodontia, restaurações), distúrbios do sono, controle de náusea e vômito, excesso e falta de salivação, paralisia facial, neuralgia do trigêmeo e herpes. O cirurgião-dentista, após uma pós-graduação com perfil científico-clínico, estará apto a utilizar essa terapia complementar em sua área de atuação, oferecendo ao paciente tratamento com nova abordagem, que contempla o ser como um todo, proporcionando melhor qualidade de vida. O objetivo do presente capítulo é traçar algumas aplicabilidades e compreensões da acupuntura nas atividades esportivas. MECANISMO DE AÇÃO DA ACUPUNTURA A técnica da acupuntura consiste na colocação de agulhas em pontos previamente mapeados (acupontos) para estimular fibras sensitivas do sistema nervoso periférico (SNP), provocando a transmissão elétrica via neurônios com alterações no sistema nervoso central (SNC). A liberação de neuromoduladores, em especial associados ao processo de analgesia, se dá por meio do sistema de modulação ascendente e descendente da dor. O estímulo nos pontos de acupuntura (acupontos) é conduzido pelas fibras nervosas até a medula espinal até as células nervosas, que realizam sinapses e iniciam o processo de liberação de neurotransmissores (cortisol, endorfinas, dopamina, noradrenalina e serotonina) na membrana pré e pós-sináptica. Ao atingir o córtex, o sistema límbico libera opioides endógenos (B-endorfinas, encefalinas e dinorfinas), responsáveis pelos efeitos analgésicos, aliviam as tensões do estresse, promovem bem-estar e até mesmo sonolência, prevenindo e tratando doenças, sejam elas psicológicas, biológicas e/ou comportamentais.22 Na acupuntura a analgesia está diretamente relacionada com as formas pelas quais as vias da dor são bloqueadas e, por meio da transmissão da informação nocioceptiva, pode ser alterada em diferentes locais do sistema nervoso.23 Sabe-se que a via delta – δ (via da acupuntura) conduz estímulos mecânicos ao sistema nervoso periférico e central e apresenta certo nível de sedação como resultado.24 Com a eletroacupuntura (EA) estímulos elétricos foram associados ao uso de agulhas em acupontos, registrando-se o aumento da resposta analgésica, com a transmissão do impulso nervoso pela via A-beta (ß), através do receptor tátil que envia impulsos para a coluna dorsal, por meio de um interneurônio que inibe as células da substância gelatinosa (SG), estimulando uma resposta mais eficiente no SNP por meio do ácido y-aminobutírico (Gaba), com uma analgesia mais profunda.1,24,25 Inúmeras pesquisas comprovam a eficácia clínica da corrente elétrica da EA como recurso analgésico,18,23,26 assim como na imunomodulação.27 Um experimento laboratorial pesquisou a
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USO DA ACUPUNTURA PARA RECUPERAÇÃO DE ATLETA LESIONADO Quando se fala em recuperação de atletas vem logo à mente o indivíduo lesionado por traumas mecânicos ou sobrecarga, esforços repetitivos ou outros tipos de esgotamento. Treinos árduos e frequências muitas vezes acima do limite do corpo podem causar lesões, geralmente relacionadas com o sistema musculoesquelético, podendo ser ósseas, musculares, ligamentares ou articulares, que causam dor e desconforto. As lesões ocorrem, em regra, em razão de desequilíbrios fisiológicos ou mecânicos, por trauma direto ou indireto e por uso excessivo ou incorreto de gestos motores. Mas há uma boa notícia: de acordo com pesquisas recentes é crescente o número de atletas que buscam a diminuição da dor por meio dos efeitos analgésicos e anti-inflamatórios da acupuntura.23,60 Na prática, o uso da acupuntura como recurso na recuperação de atletas ainda é muito tímido e subutilizado, seja pelo desconhecimento daqueles que acompanham os processos de reabilitação do atleta lesionado, seja pelo preconceito e medo das agulhas, muito embora outros materiais possam ser empregados. Recente trabalho de Veiga e colaboradores, realizado com cadetes da Academia de Polícia Militar do Guatupê, em Curitiba, PR, concluiu que a acupuntura realizada com pastilhas de óxido de silício foi capaz de reduzir em 32% a incidência de lesões (canelites) por esforço repetitivo em função de desgastes nos treinos estafantes de marcha.61 Embora não sejam atletas profissionais, os ganhos obtidos nessa população são importantes e podem ser reproduzidos, de forma preventiva, como, por exemplo, em marchas atléticas e maratonas. Nas tendinopatias a acupuntura tem atuação por meio da facilitação do fluxo sanguíneo do tendão e atividade fibroblástica.62 Boa parte dos benefícios aqui compilados fundamenta-se no fato de haver alguns efeitos decorrentes dos mecanismos de ação da própria acupuntura, entre eles os analgésicos. A acupuntura tem efeitos superiores ao TENS63 para analgesia e evitaria os efeitos colaterais e de doping de alguns medicamentos clássicos.64 Em um estudo realizado por Tang e colaboradores foram analisados os efeitos da intervenção da acupuntura-moxabustão na propriocepção em atletas com lesão do ligamento colateral lateral de articulação do tornozelo.65 Foram divididos 30 pacientes lesionados aleatoriamente para tratamento, 15 no grupo da acupuntura e 15 no grupo da fisioterapia, e concluiu-se que os resultados da acupuntura e moxabustão tiveram efeito terapêutico superior à fisioterapia convencional. Conclui-se que a acupuntura promove benefícios nas dores e lesões, recuperações motoras, normalização das funções e ativação dos processos regenerativos. Como características altamente favoráveis, a acupuntura não apresenta efeitos colaterais e proporciona resultados satisfatórios na recuperação das lesões, além de possibilitar o rápido retorno do atleta aos treinamentos e competições, e também por esses motivos deveria estar entre as primeiras opções de tratamento nos casos de lesões do esporte.66
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CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo deste capítulo é chamar a atenção dos leitores para a utilização da acupuntura e sua atuação na prática desportiva. Pesquisas científicas revelam que os atletas de alta performance podem encontrar no uso dessa técnica milenar inúmeros benefícios para alcançar a potencialização da força muscular, o aumento do rendimento em treinos, o fortalecimento do sistema imunológico, o equilíbrio das funções fisiológicas, a diminuição da ansiedade e do estresse competitivo. Outro fator relevante pode ser verificado nos casos de lesão, muito comum no meio esportivo, uma vez que a acupuntura não gera efeitos colaterais e proporciona a aceleração da recuperação nos casos de lesões ósseas, musculares e articulares. Em que pese ao crescimento do número de publicações envolvendo acupuntura com enfoque no atleta, ainda é considerável a carência de artigos longitudinais e duplo-cegos abrangendo diversas áreas do esporte. Sugere-se intensificar essas linhas de pesquisa, em especial as que priorizem estudos comparativos, controlados e com grupo sham. Diante de todas essas constatações é importante que os atletas, e principalmente os profissionais de saúde que os acompanham, passem a incorporar o uso abrangente da acupuntura em seus treinamentos e tratamentos, considerando os resultados inquestionáveis, o baixo custo quando comparado com outras técnicas e a facilidade de conjugar com a rotina do profissional, proporcionando a melhora no desempenho e o equilíbrio entre o físico e o emocional.
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REABILITAÇÃO ORAL EM ATLETAS - PRÓTESE NA ODONTOLOGIA DO ESPORTE Eduardo Christiano Caregnatto de Morais Danielle Medeiros Veiga Bonotto Daniel Bonotto
CapĂtulo 22
A odontologia do esporte busca entender a fisiologia do atleta para relacionar como afecções dentárias podem interferir no rendimento esportivo e, na mão reversa, de que maneira o metabolismo condicionado por treinamentos reage e interfere diante de tratamentos dentários convencionais. Com essa percepção, a prótese dentária se mostra como uma área especialmente importante em modalidades que apresentam alto risco ao impacto, como artes marciais, futebol, basquete e outras. Para saber como a prótese se relaciona com os demais tecidos é preciso entender a mecânica de absorção de energia dos materiais dentários que compõem as diferentes próteses e de que maneira essa energia é dissipada para os tecidos de sustentação e periorais.
PRÓTESES FIXAS As próteses unitárias totais (coroas), unitárias parciais (onlays, inlays e facetas) e as parciais (pontes fixas) são comuns em reabilitações funcionais e estéticas. Apresentam-se como um desafio para o odontólogo do esporte, pois, em geral, já fazem parte da situação bucal do atleta, e os cuidados estão pautados em protegê-las de impactos, evitando sua fratura ou danos ao atleta. Quando há a possibilidade de indicação desse tratamento, isto é, o atleta necessita de reabilitação de um ou mais dentes com próteses fixas, os cuidados especiais com ele se referem aos materiais utilizados. RETENTORES INTRARRADICULARES A utilização de retentores intrarradiculares se refere a pouca ou nenhuma estrutura coronária viável para preparo dentário para instalação de peças protéticas. Núcleos metálicos fundidos foram, e ainda são, utilizados na grande maioria dos casos. Entretanto, na última década outros materiais se mostraram alternativos estéticos ao metal, como fibra de vidro, quartzo e cerâmica, além de apresentarem propriedades mecânicas mais próximas das do dente natural quando se trata de fibra de vidro, por exemplo.1-4 Assim, materiais com resiliência e resistência flexural mais próximas ao dente natural são alternativas interessantes para a reabilitação de atletas. A literatura aponta que, em caso de fraturas dos pinos devido ao excesso de carga (testes de fadiga e carga compressiva), quando a restauração se dá com fibras de vidro, o comportamento mecânico é diferente do metal.5 Isto é, em teste sobre a fibra há fratura da fibra (não catastrófica), e sobre o metal há fratura do dente (catastrófica).4 Existem critérios estabelecidos para indicação de pinos não metálicos: quantidade de remanescente coronário, dente envolvido na restauração, espessura das paredes radiculares e impacto com o antagonista.6 Como o atleta está mais exposto a eventos de traumatismos dentários, a utilização de pinos de fibra de vidro deve ser considerada. A resiliência desse material diminui o risco de fratura dentária em relação ao pino metálico.
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CASO CLÍNICO
Figura 1: Fratura da coroa cerâmica do dente 11, fratura do pino de fibra de vidro do 11 e mobilidade da coroa metalocerâmica sobre implante do 21 em atleta após trauma durante treinamento.
Figura 2: Aspecto da coroa e fragmento do pino de fibra de vidro do elemento 11.
Figura 3: Aspecto clínico após limpeza do remanescente dentário e remoção da coroa sobre implante.
Figura 4: Após cimentação de fino de fibra de vidro no elemento 11 e repreparo coronário.
Figura 5: Vista frontal e oclusal das próteses metalocerâmicas finalizadas. Observe a opção por prótese parafusada sobre o implante na região do 21.
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Carolina Taguchi Jussara Bernardon Ubiracy Gaião
REABILITAÇÃO ORAL EM ATLETAS - DENTÍSTICA NA ODONTOLOGIA DO ESPORTE
CapĂtulo 23
A evolução da odontologia adesiva tem proporcionado novas perspectivas no tratamento de dentes anteriores fraturados. No entanto, a preocupação em aperfeiçoar as técnicas restauradoras e utilizar materiais restauradores ainda se sobressai às medidas de prevenção. Entre as consequências mais comuns do traumatismo estão as fraturas coronárias, que acometem, na maioria das vezes, a dentição permanente. Cabe salientar que no Brasil, apesar da escassa literatura sobre a incidência de fraturas coronárias, as relacionadas ao esporte vêm aumentando consideravelmente, seja este profissional ou amador, e geralmente ocorrem na faixa etária entre 18 e 30 anos.1-4 As fraturas coronárias podem ser classificadas em simples quando envolvem apenas esmalte e dentina; e complexas quando há o comprometimento pulpar e/ou alveolar. As fraturas simples são as mais comuns, e quando envolvem apenas esmalte não necessitam de tratamento restaurador (Figura 1). Já quando envolvem dentina existe a necessidade de restabelecer saúde, função e estética, uma vez que a dentina exposta pode provocar sensibilidade (Figura 2). As fraturas complexas, do tipo dentoalveolares, representam apenas 0,3% a 5% de todas as fraturas dentais.5,6 Nesses casos mais complexos um tratamento multidisciplinar é necessário, dando prioridade para restabelecer as distâncias biológicas, seguido pelo tratamento endodôntico e, por último, a realização do procedimento restaurador (Figura 3).7,8
Figura 1: Fratura simples de esmalte ocasionada por jiu-jitsu.
Figura 2: Fratura simples envolvendo esmalte e dentina.
Figura 3: Fratura complexa com envolvimento pulpar e periodontal.
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A reabilitação de dentes anteriores se torna um desafio para a odontologia porque requer um atendimento de emergência envolvendo uma área de difícil reprodução estética. As opções de tratamento incluem colagem de fragmento, restaurações diretas de resina composta e restaurações cerâmicas. Sempre que possível deve-se priorizar a colagem de fragmento, pois o elemento fraturado será restaurado com a própria estrutura dental. No entanto, o tratamento de escolha deve, ainda, levar em consideração a idade do paciente, a extensão da fratura (periodontal e pulpar), a presença/ausência do fragmento dental, a oclusão e a estética, o tempo, recursos e a expectativa do paciente.9,10 O presente capítulo descreve as técnicas mais utilizadas na restauração de dentes anteriores fraturados, apresentando as principais vantagens e desvantagens de cada técnica restauradora.
COLAGEM DE FRAGMENTO Quando o fragmento dental está presente e em condições de uso, a melhor opção para o tratamento da fratura coronária é a colagem de fragmento, independentemente da idade. A técnica foi publicada pela primeira vez em 1964, por Chosak e Eidelman, que relataram um caso clínico de colagem de fragmento em dente natural. Descrita como uma técnica simples e conservadora, a colagem de fragmento é capaz de restaurar as características morfológicas dos dentes naturais, como forma, contorno, textura, cor e alinhamento. Além de apresentar baixo custo, a técnica promove excelente estética e reabilitação da função, criando uma resposta psicológica positiva e imediata no paciente (Figuras 4 e 5).9,11,12
Figura 4: Elemento dental em posição para colagem.
Figura 5: Elemento dental restaurado pela técnica de colagem de fragmento após fratura dentoalveolar.
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Apesar de investigações clínicas e laboratoriais não estarem disponíveis, algumas desvantagens devem ser consideradas, como a dificuldade em mascarar e polir a linha de união, aumentando a suscetibilidade de manchamento. Umas das principais preocupações quanto à utilização de facetas cerâmicas está na possibilidade de fraturas no longo prazo. A sobrevida das restaurações cerâmicas é alta, sendo a taxa de falha de aproximadamente 5,6% ao longo de 12 anos.43-46 Quando avaliadas a resistência à fratura e a sobrevida das facetas cerâmicas em relação às facetas de resina composta, estudos demonstram que não há diferença entre os materiais.47,48 No entanto, alterações na qualidade da superfície são frequentemente observadas nas facetas de resina composta. Outros fatores devem ser levados em consideração para a indicação de facetas cerâmicas para a reabilitação de dentes anteriores fraturados. As facetas cerâmicas têm a vantagem de apresentar alto polimento da superfície e estabilidade de cor em longo prazo. No entanto, possuem custo mais elevado e necessitam de maior número de consultas devido às fases laboratoriais. A indicação cabe ao paciente em conjunto com o cirurgião-dentista, que devem levar em consideração o tipo e a severidade da fratura, a idade do paciente, a demanda estética, a presença de hábitos parafuncionais, a higiene oral e o custo financeiro.49 Entre as principais vantagens e desvantagens da utilização de restaurações cerâmicas para a reabilitação de dentes anteriores fraturados, podemos citar as seguintes. Vantagens Desvantagens • Alta estética
• Custo elevado
• Estabilidade de cor
• Desgaste da estrutura dental sadia
CONSIDERAÇÕES FINAIS Reabilitar dentes anteriores fraturados é um desafio para os cirurgiões-dentistas, por se tratar de um atendimento de emergência e envolver uma área de alta exigência estética. Mimetizar as estruturas dentais, independentemente do material de escolha, não é o único problema. A complexidade do tratamento vai além da habilidade e conhecimento do dentista, uma vez que as fraturas coronárias podem ser extensas e envolver o atendimento multidisciplinar. Quando há uma fratura em dente anterior, a primeira opção de tratamento é sempre a colagem de fragmento, visto que é possível reabilitar função e estética com a própria estrutura dental. Por mais conservadora que seja a técnica restauradora de escolha (colagem de fragmento, resina composta ou faceta cerâmica), o paciente entrará em um ciclo reabilitador. Esse fato está ligado à vida útil das restaurações que devem ser substituídas no longo prazo. Toda a vez que uma restauração é substituída, estrutura dental sadia é desgastada e um tratamento mais invasivo é necessário. Dessa forma, cabe ao cirurgião-dentista alertar pacientes e atletas sobre a importância da proteção dos dentes hígidos e as consequências de um tratamento reabilitador. Nos casos em que o paciente já sofreu uma fratura e passou por um procedimento restaurador, torna-se ainda mais importante a proteção dos dentes, visto que estes são mais frágeis e suscetíveis à fratura. A conscientização quanto à utilização de protetores bucais durante as práticas esportivas de contato é a melhor forma de prevenir as fraturas coronárias e suas recorrências sobre os tratamentos restauradores. Assim, é possível diminuir a incidência de traumatismos dentários e, consequentemente, evitar o ciclo restaurador.
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PRONTUÁRIO MODELO PARA O ATENDIMENTO DO ATLETA Clara Padilha Eli Luis Namba Ivana Fontana Bazei Gustavo Ferreira
CapĂtulo 24
Segundo a Declaração de Consenso do Comitê Olímpico Internacional (COI) sobre avaliação de saúde periódica de atletas de elite, publicado em março de 2009, a avaliação da saúde bucal tem significativa relevância para o estabelecimento da melhoria na saúde. Uma boa saúde bucal irá proporcionar boa função e potencializar a capacidade do atleta para competir em um nível ideal, sem ser comprometida por doenças dentárias ou emergências. As estatísticas recolhidas pelo COI em jogos de verão têm destacado o nível de doenças dentárias em muitos participantes. A utilização de um índice de DMF (“decayed-missing-filled”, deteriorado, ausente e obturado, uma ferramenta de triagem odontológica que corresponde ao nosso CPO-D) e radiografias adequadas também identificaram o comportamento da saúde bucal e da extensão da má saúde bucal prevalente em atletas de elite. Durante esses exames a doença erosão foi identificada nos atletas com prevalência de 25,4% a 37,4%, levando os autores a sugerir que esses dados indicavam uso excessivo de bebidas desportivas, ácidas. Além disso, a erosão pode ser causada por refluxo ácido, o que pode ser indicativo de um distúrbio alimentar subjacente. O consenso do COI também enfatiza que a presença de dentes do siso e certas maloclusões são fatores de risco para lesões futuras. A presença ou ausência de dentes do siso pode afetar o perfil de risco de fratura mandibular em esportes combativos. Além disso, pericoronarite associada e infecção periodontal podem afetar o desempenho do atleta. O COI considerou em seu relatório que mais estudos são necessários para avaliar com precisão a saúde bucal da população atleta e que programas educacionais devem ser ampliados e direcionados a esses esportes, em que os riscos identificados influenciam a saúde do atleta. A maioria dos estudos publicados nesse sentido não se ocupa de investigar a saúde bucal de atletas olímpicos diretamente, mas, em vez disso, relatam cuidados dispensados durante os jogos como uma forma de estimar o estado da saúde bucal. Portanto, carece a literatura mundial de estudos que avaliem a saúde bucal dos atletas de elite e do impacto da saúde bucal no bem-estar, treinamento e desempenho. Um estudo mais recente com esse objetivo foi realizado com 278 atletas de 25 esportes que participaram nos Jogos de Londres, em 2012. A maioria dos atletas era da África, das Américas e da Europa. No geral, os resultados demonstraram altos níveis de má saúde bucal, incluindo lesão por cárie (55% de atletas), erosão dentária (45%) e doença periodontal (gengivite 76%, periodontite 15%). Mais de 40% dos atletas referiram estar “incomodados” por sua saúde bucal, com 28% relatando impacto na qualidade de vida, e 18% no treinamento e desempenho. Quase metade dos participantes não tinha sido submetida a um exame bucal ou a cuidados de higiene no ano anterior.
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Sendo a saúde bucal um elemento importante da saúde geral e bem-estar, os profissionais responsáveis pelos atendimentos odontológicos da Vila Olímpica dos Jogos de 2012, em Londres, consideram que as intervenções de prevenção de doenças e de promoção da saúde são urgentemente necessárias para otimizar o desempenho. Para o COI o exame físico deve incluir os elementos a seguir. CPO-D: uma sigla para dentes cariados, perdidos e obturados. Esses três elementos, em conjunto com o histórico dentário recente, podem ser usados como um indicador para a saúde bucal subjacente. Outros fatores de risco para lesão orofacial que podem ser direcionados para a prevenção são: • maloclusão onde a sobressaliência dos incisivos superiores em relação aos inferiores é maior do que 6 mm; e • presença de chaves ou aparelhos ortodônticos. Outras informações devem ser coletadas através de anamnese e exame clínico detalhados, a fim de realizar plano de tratamento adequado para o atleta que está sendo atendido, além de determinar a perspectiva do jogador dentro do clube em relação a sua possibilidade de rendimento. Para ilustrar esse aspecto, podemos relembrar a notícia veiculada pela Folha de S.Paulo de 29 de dezembro de 2003, no caderno Painel FC, sob o título Sorriso Amarelo: “Quatro jogadores da sub-23 foram ‘reprovados’ no exame odontológico realizado em Teresópolis. O lateral [...] tinha problemas no pré-molar, o goleiro [...] e o zagueiro [...], cáries, enquanto o santista [...] teve que passar por uma limpeza de tártaro”. As extrações dentárias, doença periodontal, lesões cariosas, entre outras enfermidades, produzem incapacidades importantes, que geralmente são negligenciadas em sua percepção como problemas funcionais relevantes e podem influenciar no trabalho e rendimento esportivo. Como já foi reiterado neste livro, o tempo extratreino ou competição de um atleta profissional é escasso e é dedicado à família, ao lazer e descanso, como deveria ser. Nesse período nenhum atleta dedica-se a consultas preventivas de odontologia, até porque a falta de informação pode levar o atleta a negligenciar a importância desse acompanhamento. Logo, defendemos a presença do profissional e de uma estrutura competente para atender atletas profissionais em todas as instâncias, das categorias de base de fundações municipais de esporte aos atletas profissionais de alto rendimento, para que o atleta possa fazer seus exames odontológicos no departamento médico, no conforto das instalações de sua equipe, sem precisar sair de concentrações, como muitas vezes vemos noticiado na mídia, o que é extremamente contraproducente.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando tratamos de atletas de alto rendimento, devemos levar em consideração que em muitos casos eles passam por um período de preparo de até 4 anos, como acontece com o ciclo olímpico. Portanto, os problemas relacionados à cavidade oral não podem ser um dos fatores limitantes e impeditivos para a participação do atleta nas competições. Em esportes coletivos, a ausência de um atleta pode ser suprimida pela presença de outro atleta do grupo, mas tal situação é impossível para os esportes individuais, cujo resultado só depende da capacidade do próprio atleta. Por todas as situações descritas, o cuidado da saúde oral do atleta é essencial para seu desempenho esportivo. Os princípios éticos que regem a prática da odontologia do esporte de maneira alguma fogem aos que se aplicam à pratica odontológica geral. O cirurgião-dentista do esporte (CDE) deve sempre zelar pela saúde bucal e geral do atleta, não causar prejuízos à saúde e não estabelecer sua autoridade a ponto de limitar o direito de escolha ou de tomada de decisão do próprio atleta. É importante que o cirurgião-dentista do esporte acompanhe e compreenda, ao atender atletas de todas as idades, as demandas (físicas, mentais e emocionais) que a atividade física e do treinamento de alto rendimento podem gerar. Lesões de saúde bucal que geram consequências sistêmicas podem levar a um impacto imediato no sentido de restringir a participação do atleta em atividades esportivas, podendo causar ainda implicações psicológicas e financeiras. Por outro lado, em relação à atividade profissional do cirurgião-dentista do esporte, a prioridade deve ser a saúde do atleta, e não as responsabilidades contratuais deste. Assim, as decisões do CDE devem ser tomadas com consciência diagnóstica, sempre respeitando a autonomia. É inconcebível que conceitos particulares sobre religião, nacionalidade, sexo, etnia, política ou questões sociais interfiram no cuidado sobre o atleta. A base da relação entre o CDE e o atleta deve ser a absoluta confiança e o respeito mútuo. O atleta tem o direito de esperar que os conselhos despendidos e as ações tomadas visem sempre a seu interesse. E seu direito à privacidade deve ser protegido. Levando-se em conta o grande interesse do público e da mídia sobre a saúde dos atletas, a decisão sobre quais informações podem ser liberadas para o público deve ser feita em conjunto, entre atletas e cirurgiões-dentistas. Jamais se devem realizar diagnósticos por telefone ou meio eletrônico, nem comentar sobre o tratamento realizado por atletas que não são de seu clube. Também não se deve fornecer hipóteses diagnósticas para a mídia no momento em que a lesão ocorreu, e sob nenhuma circunstância relatar dados sobre a saúde, resultados de exames, laudos ou tratamento em atletas sem que seja previamente autorizado pelo clube e pelo atleta. O atleta deve estar ciente de que é livre para consultar outro cirurgião-dentista. O CDE deve sempre se opor a treinos, práticas e regras que possam prejudicar a saúde do atleta, como, por exemplo, permitir a continuidade do jogo com atleta sangrando. Ao se atenderem atletas que ainda são crianças ou indivíduos em fase de crescimento, devem-se considerar os riscos especiais que o esporte pode representar para quem ainda não atingiu a completa maturidade física ou psicológica. Um aspecto que não pode ser negligenciado na área de odontologia do esporte é a
educação continuada em saúde, para aprimorar e manter o conhecimento e as habilidades que permitirão aos cirurgiões-dentistas do esporte proporcionar o melhor cuidado a seus pacientes atletas. O conhecimento deve ser sempre compartilhado com os colegas da área, da maneira que for mais aprazível aos profissionais. O CDE deve buscar o trabalho em colaboração com profissionais de outras áreas, a cooperação com médicos, fisioterapeutas, podólogos, nutricionistas, massagistas, psicólogos, cientistas do esporte, incluindo bioquímicos, biomecanicistas, fisiologistas e outros. A equipe multidisciplinar é essencial para a prática da odontologia do esporte, e o departamento médico de um clube precisa ser um departamento coeso. Se um atleta foi atendido pela manhã pelo cirurgião-dentista para um procedimento não urgente e está liberado para o treinamento da tarde, por exemplo, essa informação deve estar detalhada claramente no prontuário do atleta e informada aos médicos, fisioterapeutas e preparadores físicos, para evitar erros de comunicação por informações levadas pelo atleta aos outros profissionais de saúde do departamento. Se o problema de saúde do atleta está além do conhecimento técnico do profissional responsável, cabe a ele aconselhar o atleta acerca de outros profissionais com o conhecimento e experiência necessários para tratá-lo, encaminhá-lo a eles e acompanhar todo o processo de atendimento. A decisão sobre o retorno de um atleta a atividades competitivas pós-lesão traumática bucal deve ser feita interdisciplinarmente, e o profissional cirurgião-dentista do esporte não deve delegar essa decisão nem se deixar influenciar pelas datas das competições. Em todos os casos, a prioridade deve ser dada à saúde e à segurança do atleta. Para o Comitê Olímpico Internacional, as perspectivas da odontologia do esporte e a concentração dos esforços dos profissionais de saúde bucal devem ser convergentes para a educação de atletas e autoridades sobre os benefícios consideráveis na prevenção de lesões bucais. O grupo médico do COI incentiva os atletas a participar de avaliações odontológicas regulares. Existe uma obrigação entre cirurgiões-dentistas do esporte no sentido de educar os indivíduos de todas as idades sobre os benefícios de saúde proporcionados pela atividade física e a importância da saúde bucal para o bom desenvolvimento dessas atividades.
AGRADECIMENTOS
Foram muitos os que, direta ou indiretamente, nos ajudaram a transformar as ideias, pesquisas e informações espalhadas neste livro: professores e colegas, familiares e pessoas amadas, amigos e colaboradores. A todas as pessoas e empresas que acreditaram neste projeto, que levantaram questionamentos, que trocaram informações, que tornaram este projeto realidade, o nosso reconhecimento e o nosso muito-obrigado. Aos professores e colaboradores de diversas universidades e escolas que contribuíram com este livro mediante o compartilhamento de conhecimento e experiência com novos profissionais que buscam se aventurar na área esportiva e interdisciplinar. À Academia Brasileira de Odontologia do Esporte, pelo apoio constante e reconhecimento da importância deste projeto. À Universidade Positivo, por abrir as portas para um projeto e para mais um curso em uma nova área de especialização, a Odontologia do Esporte, e aos alunos desse curso, que engrandecem esta nova área com pesquisas e seriedade em desenvolver um trabalho de excelência. À Odontologia do Esporte, esta área apaixonante, que encontra nestes autores grande empatia, entusiasmo e profundo respeito, os quais entendem a necessidade de constante aprofundamento científico para guiar os praticantes de exercícios físicos e os atletas de alto rendimento. Um agradecimento especial a todos os atletas e alunos que participaram das pesquisas apresentadas neste livro. E aos primeiros leitores, que com seus retornos e críticas tornaram este livro ainda melhor.
Muito Obrigado! Eli Luis Namba e Clara Padilha
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