PEQUENO RECEITUARIO DE FORMULAS POETICAS E PILULAS MISTICAS

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EDITOR Jorge Américo Silva Machado REVISÃO Juliana Thaís de Souza CAPA Edson Teracine EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Fabio Diego da Silva ILUSTRAÇÕES FLORAIS Carolina Teracine

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

EdiTau Pequeno receituário de fórmulas poéticas e pílulas místicas / EdiTau. - - Campinas, SP: 2a. edição, 2017. 1. Poesia brasileira I. Título. 07-2778

CDD - 869.91 Índice para catálogo sistemático: 1. Poesia: Literatura brasileira 869.91 ISBN 978-85-89867-25-2

Todos os direitos reservados ao autor Impresso no Brasil


Com profunda reverência...

Aos Mestres, portadores da Jóia, porta-vozes do Mistério que se alimentam na Paz Celestial (tão professada Paz, desconhecida dos homens) que se colocam, abaixo do mais baixo, submissos na inferioridade que há mais rasa, na bem-aventurança do mergulho no Altíssimo



Prefácio Uma das tarefas mais ingratas para mim esta que tenho, a de tentar apresentar o inapresentável, definir o indefinível. Não por deficiência ou carência de definições, senão, e neste caso, por se tratar aqui do que vai mais além das meras palavras e dos conceitos conhecidos. Falo do prefácio para uma obra que não pode ser explicada pela razão. A razão, que é tão útil para o mundo dos homens – o mundo prático –, é inútil para o mundo do Espírito. Seu autor é uma rara flor, de florescimento atípico para estes dias tão adeptos ao superficial, vulgar e imediato. Um homem de nosso tempo, incrustado em nosso mundo. E, no entanto, tão fora dele, tão pertencente a épocas remotas, já esquecidas, em que os homens olhavam para dentro de si e, no âmago do ser, descobriam o que estava para além e acima de tudo, e deles mesmos. Os poemas apresentados, a seguir, traduzem o esforço notável em desenhar em palavras o êxtase da alma, o encantamento do coração, o arrebatamento do espírito no Espírito. O clamor e a ansiedade do ser pelo Ser, do amante pelo (a) Amado (a). Tratamos, sim, de sair do mundo de pó para, com a alma nua, penetrar nos abismos inebriantes do Amor, D’Aquele que é tão falado quanto ausente. De, nas asas abrangentes do Divino, permitirmo-nos voar para longe, muito longe da densidade material. E, imersos em um vasto néctar, ficar feito pena sustentada apenas no Ser dos seres: a Origem e o Agente de todas e em todas as coisas. N’Aquele pelo qual e com o qual toda alma sedenta, no deserto deste mundo, anseia e sonha.


Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. E olhos para ler, leia! Para quem ainda possua a alma viva para sentir – o deleite e o encanto dessa jornada. Mas não se desesperem os que em uma primeira e rápida leitura forem tomados por certo estranhamento, pela sensação de pisar em solo desconhecido, jamais trilhado. Tenham paciência para com suas almas, talvez secas e esquecidas dos sabores que lhes são naturais, por direito de filiação. Paciência porque, com o tempo, elas irão reconhecendo a linguagem que lhes é própria. Entenderão, então, e surgirá um mesmo desejo, o ímpeto do retorno ao lar. Afinal, viemos do Amor e ao Amor retornaremos. Em sua obra poética, ímpar no Brasil dos dias de hoje, EdiTau encontrou o caminho para a profundidade de si mesmo. E, assim fazendo, traçou um mapa para que todo homem e toda mulher encontre o seu próprio, na direção do Cerne Misterioso, o Núcleo Único que pode dar sentido a nós e ao nosso mundo, tão carentes de luz. Faço aqui o meu convite aos caros leitores, para se deixarem penetrar pelo mistério presente nos versos. Para descobrirem a Deus, não no futuro, em um céu remoto. Não na salvação escatológica, porém no mais íntimo de si, onde o Grande Mistério Insondável habita. O mesmo Mistério que se revela a um místico de nossos dias como o Amor dos amores, o verdadeiro Bem-Amado. Eduardo P. Kutter


Nota do autor Ofereço este pequeno livro, uma coletânea de textos e poemas místicos, com o desejo forte, sincero e humilde de que ele possa servir de inspiração e estímulo para uma vida mais ligada a valores espirituais. A tantos quantos empreendam uma busca particular – mas não exclusiva – por valores cristãos. Em uma época na qual uma das mais belas tradições espirituais da humanidade, afetada por contingências do mundo, perdeu-se parcialmente em seu significado profundo, faz-se mister a renovação do seu mais essencial: a culminância da experiência do Cristo-Deus-Vivo, transcendente e imanente a todo ser, a toda a existência. Declaro também aqui, explicitamente, minha dedicatória aos santos padres da igreja oriental, místicos da tradição cristã ortodoxa. Uma coisa ainda nova para mim, mas que, vivamente, inspira-me naquilo que expresso. Sentimentos singelos, ditos em poucas palavras, de letras simples... em versos escritos.

EdiTau



Recomendações Pílulas e fragmentos místicos são remédio. Assim como os comprimidos, em sua maioria não devem ser mastigados como balas – o sabor é, às vezes, desagradável. Colocam-se sobre a língua e engolem-se. Recomenda-se a ingestão lenta e progressiva. E uma contínua avaliação do seu efeito ao longo do tempo. A duração do efeito, após a sua suspensão, é desconhecida. Como parte de uma medicina empírica – suas fórmulas inspiradas são naturais, heranças de outros tempos –, o início da sua ação não pode, de forma geral, ser previsto com exatidão. Para a potencialização da ação, recomenda-se o consumo de uma dose diária, ao anoitecer, quando a tranquilidade permita sua melhor assimilação. Ainda que os efeitos colaterais não sejam de todo conhecidos – de que forma podem manifestar-se nos pacientes –, de acordo com as propriedades terapêuticas de seus componentes, recomenda-se o seu uso pela automedicação.



Breviário Místico Seres humanos foram feitos para amar. Como entender isso? Deus, Criador, É a própria fonte amorosa da criação. Ele assumiu forma, fez-se homem, disse que o Reino dos céus está dentro de nós. E o horizonte de alcance, à espera de homens e mulheres, pautados pelas trilhas de corações quebrantados – por causa D’Ele –, estabeleceu-se como Amor verdadeiro. No dia do encontro amoroso entre alma, espírito e Ser Divino, estará o Amante, o “Amor em Si mesmo”. Saberemos, então, que Ele É a Razão de nosso existir, de nosso sentimento, teremos alcançado a plenitude do amar. E no ser pobre, humilde e enamorado ouvir-se-á o grito clamoroso e constante pela presença do Amado. Mas na chegada do caminho que leva a alma ao encontro do Eterno, o grande paradoxo: o Todo-Transcendente, fora dos limites de nossa compreensão, ultrapassando todo conceito e não se conformando a nada que conheçamos com nossas mentes, É tão próximo de nós... mais do que nossos próprios ossos! O Incriado – origem, destino, sustentação de toda existência – reflete-se na Sua criação e permanece oculto aos olhos. Mas para os simples, Ele será visão! os puros de coração verão. Quem perder a sua vida viverá no Senhor. Nos que se negam a si mesmos, humilham-se e diminuem ao ponto de esvaziamento do próprio ego, haverá o espaço necessário para que Ele revele-se, no eu, no outro, no mundo manifestado. A morte do que é finito em nós levar-nos-á ao Infinito em tudo. Ao Tudo informe, presente em todas as formas. Mulheres, homens, criaturas Suas, são templos. Aspirantes à Vida Eterna, ao céu, pela infusão do Espírito divino nos corações, serão também Seus altares. Mas ainda há perdição naquilo que é temporal. No apego ao que é efêmero e fugaz, e que se esvai. Alimentar apenas os sentidos não mais trará alento, haverá justificação apenas no que é perene. E viver na consciência de Deus será estado permanente de gozo. N’Ele está a nossa consolação, toda a felicidade humana!



Prólogo Quando a luz desta vida fez-se para mim neste mundo, hoje percebo, foi a Vossa Luz. Presente em consciência, recordo momentos de êxtase precoce, em que certamente Vossa Presença insinuava-se. O encantamento e a paixão incontida pelo outro eram o prenúncio do Grande Amor, ainda desconhecido em meus sentimentos préjuvenis. Nos momentos de sensibilidade extrema, descabida e imprópria, o jovem desconcertado – já um passageiro da nave – ignorava a identidade do Timoneiro de suas sensações. Então, Amado, eis que após longo tempo de anos, dessa vida de procuras por caminhos incertos – que também eram Vossos –, antevejo-Vos com a certeza! O que posso Vos oferecer agora, além desta súplica? Perdão! Pela falta do esquecimento, pela falta de lembrança. Por ignorância de Causa, perda da Razão, pelo lapso da Significação da vida e da existência, de Vós que Sois! Se hoje não mostrais a Vossa Face, não menos aterrado estou em minhas prostrações. Vossos são os poemas! Em Vós, quero ser este poeta-amante, sofredor do Amor que Sois, mais e mais em mim, por toda a Vossa criação.




Pequeno Receituário

A esposa Se me dissesses que amas ao meu Amado, qual amor não poderia sentir por ti? E se, em teus olhos, visse a busca em Cristo, que outros olhos poderia buscar, senão, os que refletem a imagem em si? Se te fazes amante do meu Amado, então, qual outra amante poderia amar, senão, a amada Nele? Quando és receptiva Nele, tornas-te a esposa. Então, adentro a câmara das núpcias, para consumar o amor por Ele, em ti! 18


Poesia Mística Cristã

Epopéia A grande epopéia do ser humano é a reconciliação da sua natureza humana com a sua natureza divina. O equacionamento do ser egóico-individual (personificado em corpo-mente) e espiritual-universal (que urge no inconsciente de homens e mulheres).

Um profundo chamamento impele-nos na busca do elo perdido, do preenchimento do vazio inato; traduz-se na necessidade da complementaridade, no amor dos esposos e amantes...

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Pequeno Receituário

Epopéia Onde estás, por quem clamo e anseio, do fundo do eu incompleto e frágil que sou? Tu, que trazes no olhar a promessa da redenção e do retorno a Deus, do regozijo da felicidade perdida. Aparece para minha alma, meu coração aberto, e plenifica-me no êxtase da união mística!

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Poesia Mística Cristã

Escondido Declaras o teu amor por quem viste... o meu Amor é escondido! Antes, Ao que busco em mim, peço-te amor, quando dizes que amas. Se for neste olhar que tanto buscas um amor que queres, antes, sonda o mais íntimo dele, em busca de Quem, por todo o Amor, eu quero. Se encontrares, vê! E dize-me, então, que não há mais um a quem amar, que não O que está além de mim e ti: Aquele que, em nós, vive... Escondido! 21


Pequeno Receituário

Procura bem sei, estás em cada parte (por toda parte) contudo, preciso achar-Te minha procura é necessidade de ter-Te qual é a pretensão de possuir-Te, o Possuidor de tudo! fizeste-Te presente ao homem, Homem presente da humanidade Oferta, retirada do mundo, nas almas, faz-Se procurada

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Pequeno Receituário

Todo-Misericordioso O leito de Vossa Misericórdia é como o de um rio largo. “Ampla, Ilimitada!” Corre lenta através dos seres, abarca a todos, sem que se apercebam. Conduz-lhes, em seu agir próprio, na corrente de direção última. Diz o viajante: “Quem poderá navegar, certo do seu movimento, levado na Grande brisa serena do Todo-Misericordioso?” 24


Poesia Mística Cristã

Mar da Vida as comportas do céu abrem-se em mim − vem inundação, que me enche e me toma do temor de afogar-me desejo e temor, de sentir-Te cada vez mais perto, cada vez mais presente, vindo através da torrente desejo do mergulho em Tua direção (em Ti); temor de Tua plenitude, sufocar-me, não Te suportar... Ó Água Viva, ó Cristo Senhor, Mar da Vida! 25


Pequeno Receituário

Mergulho ... é o Mar da Vida, de ondas que vêm e vão; e tocam, e, de novo, banham, e deitam-se por sobre as pedras e, de novo, vou, imerso, mais molhado; no batismo que vem, aos poucos e vem este Mar, o Amor que encharca, aos poucos, até o mergulho completo de mim 26


Poesia Mística Cristã

No templo O Senhor faz corpo em mim! Abre as portas de entrada – desde dentro, vem meu clamor Por entre colunas frágeis, a nave, adentra Sumo Sacerdote, de assalto, toma o templo! A Luz do alto, no altar, revela: meu Deus tem um Rosto – em meu rosto, o Seu Nome manifesta. 27


Pequeno Receituรกrio

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Pequeno Receituário

Contrito Meu coração encharcado destila lágrimas de arrependimento e sofrimento pelos meus atos. Ta m b é m c o m p a d e ç o a s f a l t a s d o m u n d o , n a s q u a i s s o u coparticipante. Arrependo-me pela ignorância das minhas falhas, dos meus pecados. Minha inconsciência me leva a atentar em desamor contra os meus próximos, o que é a negação da própria Essência de Amor, que nos permeia a todos. Se Deus, o Todo-Amor, compreende também os erros de seus filhos, suplico, em profundo pesar: ó Pai do céu, redime-me por ser eu o que sou! Neguei-Vos, pelo sofrimento causado a meus irmãos, que também a Vós carregam dentro de si. Que estas lágrimas – ao mesmo tempo, pedido – possam transformar-se em bálsamo, para o alívio dos que afligi. Que o sentimento do Cristo-presente em Sagrado Coração de Amor possa levar as bênçãos, através da Sua irradiação, a esses amados. Mestres da minha vida, que me ensinam a enxergar o quão falível sou. Eu, tão distante e, agora, tão desejoso do merecimento de Misericórdia.

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Poesia Mística Cristã

Coração Ofereço o cálice, receptáculo da minha alma, ao Vosso Espírito, que opera as maravilhas Seja eu enternecido em meu ânimo, amolecido em minhas durezas Transformado, neste pão embebido em sangue, em doçura e puro conteúdo, de amoroso sabor! Revisto-me de Vós, por Vosso Grande Amor Mas ainda choro, como um sinal de minha orfandade no mundo Ó Pai! A Vós, o meu coração 31


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Dor dor do corpo, dor que fere a alma, dor [afastada do peito] do humano ser dor que cinge e abre a via das lágrimas que purificam... da fonte pura do Coração ser

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Poesia Mística Cristã

Visão Tenho essa visão de um estranho e pequenino eu: tão digno é de compaixão! Vejo esse desamparo, como nas criaturas simples de Deus, pelos olhos de um coração que não é mais somente meu, com este sentido da perda de quem sou... por Graça de uma visão que a tudo justifica, que toca estes olhos, ora turvos de Presença... marejados de Piedade Divina. 33


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Flor Essência Eu sou produto da força [Divina] de vida Nascida da Mãe [Universal], divina e graciosamente manifesta pelo mesmo e único Princípio [Criador] Sou a delicada oferenda de beleza a meus amados irmãos Junto a eles, cumpro os desígnios que norteiam meu ser temporal, com o esforço da flor, ao existir para o mundo Chamo-me flor, surgindo em meu florescer essencial Meus atributos são a dádiva, que ficará para os seres como lembrança do que Sou: Corpo, texturas e formas Cores, sabor, aroma Alento e vida!

Flor Essência

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Poesia Mística Cristã

Mulher Cobriste a tua cabeça, ó mulher, e rendeste os homens em tua entrada no templo Em ti, eles viram: a pureza, a reverência e o temor santos ao mui Amado a beleza beatífica, na tua figura imaculada, das tuas faces emolduradas o ato de amor em teus cabelos escondidos – a relva, que se deixa deitar, sob a brisa suave do manto sagrado de Deus Bendita és tu, ó mulher, pela remissão do pecado, teu e dos homens

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O que é ? O que é a humildade, que é a simplicidade? Donde vêm, qual a sua origem? A pedra bruta? O lenho, pedaço esquecido? A fonte que brota no coração do santo? Vêm do passarinho, nascem na planta ou de Deus? O que é o amor?

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Poesia Mística Cristã

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Certeza não importa mais a certeza do que encontrar – guardo comigo a certeza de ter-Te encontrado!

a vida, para mim, é algo imprevisto: não lembro de, em certo momento, tê-la esperado

ou a certeza de mais sentimentos a viver, pois guardo comigo a certeza de ter-Te sentido!

só sei que não há certeza em meu destino – não sei se, de mim, far-se-á algo mais

de que importa a certeza de conhecer a outros tantos, e a alguns mais desejar, se já guardo comigo a certeza de desejar-Te?

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só espero, para mim, que me guardes na consciência da lembrança, da certeza de ter-Te conhecido como meu Criador Amado!


Poesia Mística Cristã

Graça A alma cristã recebe a Graça da contemplação de Deus, pela contemplação da Face do Deus-Filho –a Presença do Cristo Senhor. Em Sua Glória e Grandiosidade de Uno-Trino, o Filho coloca-se adiante, para dar o testemunho do Pai Insondável... Majestade e Perfeição. Lágrimas, inevitabilidade. Arrependimento. Súplica por piedade e pela redenção do pecado da ignorância e do afastamento da Verdade Última do homem: A Realidade de Amor Absoluta!

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Lembrança Quando ocorre a lembrança de Vós, meu ser tem o significado da prostração. Curvado às vossas criaturas, para merecer a proximidade de Vós, Ó Amado – O que se rebaixa em Amor e Graça, para dar a existência. Vós, O além da existência, Perfeição da Perfeição, pela vida dos que negam e blasfemam na ignorância... Vida preciosa que Sois, Ó Amado. Aterrado em insignificância, tomado e cativo de Vós – meu Anseio profundo, Amado, Perfeito, Amoroso. De cuja plenitude ressinto da falta, até que Vossa Presença faça-Se nova. Em cuja volta, ao solo, em êxtase, lanço-me. Adorado, Grande, Amantíssimo – Significado da minha vida.

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Poesia Mística Cristã

Oração As palavras que ofereço, dignifico-as, em oferenda ao Pai. Deposito em Seu altar, em que não sou digno de pisar. Imploro o perdão, pela pretensão de expressar o indizível, dar forma ao inconcebível. Façam-se elas a voz de minha oração, da minha ânsia pelo Amantíssimo... Impronunciável, Intocável, Impoluto,

Sacrossanto.

Amém!

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Alvorecer olho, em busca de ti, esperando-te em minha direção, no teu vôo da promessa do alvorecer de minha alma: meu anjo, que vem me redimir antes, devo redimir-me por mim mesmo, libertando a quem aprisionei, por afeição, nas gaiolas do meu querer grades arrebentadas, arremessá-las-ei ao fogo do perdão, querido e incondicional sobre as cinzas, as lágrimas do arrependimento, do que está consumido em mim ... 48


Poesia Mística Cristã

então, livre do engano da prisão, de tomar-te como outrora sem desejos, poderei receber-te, talvez. . . estaria eu pronto para voar contigo, gozar da liberdade, do vôo de novos alvoreceres?

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Natureza Quão grande é a beleza incontida, que vem do Incontido! Que o homem quer para si, de tantas maneiras, sem compreender: a beleza a ninguém pode pertencer. Sob o Grande, procede a natureza, que o pequeno não pode possuir; mas da beleza, pode depreender a incompreensibilidade do Intangível. Oh! Quão desconhecida é a beleza do Inapreensível Desconhecido!

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Poesia Mística Cristã

Olhar para o céu Mergulhado no céu de Deus, elevo os olhos, vejo o movimento das nuvens no céu – movimento em mim. Imerso no corpo de Deus, envolto estou, acalentado no calor em mim. O mar de Deus é grande, todos nele estão. As nuvens, o céu e o mar, todos os seres e eu... como compreender o movimento deste Todo-corpo-céu-mar?

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Poesia de onde nascem as palavras, o tudo-feito é a mãe [das palavras-por-fazer]; o poeta é o não-nascido o que não-é vem a ser; não sendo o poeta, a experiência da não-palavra é a revelação do meu porvir eis aqui um grande mistério: poeta e não poeta; não-ser e ser; eo Inominável 52



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Aflito Num instante, a razão, na resposta dos aflitos: não há prisão tamanha – desejo e benquerença – como a que aprisiona o coração daquele que ama! Aos círculos, vagueiam os pensamentos, cativos na tua lembrança; encontram, sempre e de novo, a tua imagem... minha alma serena. Desperta o amor, que eu amo amar. Em ti, o amar em meu peito procura: da chave, que guardas contigo, pode vir a minha soltura? 54


Poesia Mística Cristã

Corpo Meu corpo [vulnerável] de carne é revestido de pele... injuriada! Rompida, corrompida e frágil, a identidade... e a voz da morte faz perguntar: Sou eu essa consciência em corpo desfeito, aberto em ferimento? Onde há permanência em mim? 55


Pequeno Receituário

Insustentável passageiro insustentável passageiro dos ventos do mundo... o que fizeste do pó de ti?

elevaste-te, em rajadas, às mais altas copas, movediças e vistosas; mas um momento deteve-te, e tornaste ao chão, aterrado e difuso... o que fizeste de teu pó?

desfrutas da árvore sem vida, do fruto que já fez seu tempo – vai lançar semente...

vê a terra! 56

o que fizeste de ti, quando lançaste tua imagem no poço, entorpecida em lama?

o que fazes da pobreza de ti, quando te entregas todo a ares de vontades, ricos em liberdade, restando ao teu espírito somente a prisão sufocante?

louco de ti! no momento dessa brisa inquietante, de paz, que te humilha, pergunta-te, insustentável passageiro dos ventos do mundo...

em que tornaste o pó de ti?


Poesia Mística Cristã

Prisão Tu, que és prisioneiro voluntário, que te auto-impuseste teu cárcere, ouve-me! Escolheste tais paredes – da argamassa densa de teus desejos, que o pedreiro de teu ânimo erigiu – pela tua própria conveniência. Lembra-te! Através das grades da janela, tão sólidas quanto tuas preocupações, apenas vislumbras, com anseio, aquilo que consegues enxergar fora, por entre elas. Tuas algemas fortes, não podes percebê-las macias, como o tecido da roupa que vestes; ou tenras, como as iguarias que procuras para teu alimento. Essa corrente, que te tolhe o movimento dos membros, construíste com as matérias das tuas posses. Para cada canto da cela que olhares, identificarás cada elemento delas, implantado com perfeita e imperceptível perseverança, por ti mesmo. No chão da tua cela, fixaste-te! Não podes abdicar dele, pois pensas que é o teu lar. O próprio ar que, encarcerado contigo, respiras, também compõe os teus pertences. Ouve-me, ave enclausurada! Chegaste ao momento da tua liberdade voluntária. O céu claro e aberto foi o que trocaste pela paisagem indiferenciável e soturna de tuas paredes. Quando estiveres em pleno vôo, que a liberdade do pleno desapego permite-te alçar, poderás, então, desfrutar da presença de tuas águias irmãs, que não conhecem limites e alcançam as alturas celestiais.

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Pequeno Receituário

Onde Deus está Eis-me aqui, distante de casa... meu lar está, onde Deus está! Os homens criaram o mundo, com seu deus próprio (onde está o meu Senhor?) “Meu Reino não é deste mundo.” Buscar o Reino, sem colocar esperanças no que não seja do Alto, como diz o Senhor O mundo tratou de apropriar-se da Cruz. E Mammon fincou-a em cada canto de seu domínio... seja a Cruz estaca no coração do fiel, ruptura com o mundo! “Estar no mundo, mas não ser do mundo.” Vagar, como exilado, em terras estranhas: nada ver, que não seja de pó (onde está o meu Senhor?) Eis-me aqui, distante de casa... meu lar está, onde Deus está!

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Abba (Pai) Tomado [por adoção] em grandes braços – meu eu repousa em teu peito –, vêm-me essas dúvidas de amor, Abba! Por que me tomas por um filho, em que deitaste todas as tuas afeições? Ora junto aos homens, sei que anseias descansar Nele. Tens a visão do não-ser! E, ainda assim, guardas teus olhos para mim?! Talvez, porque tu saibas o real significado de amar... 60


Poesia Mística Cristã

Chama Chama acesa na alma, inflama! Com força, em êxtase e ímpeto de morte, queima! Invade, Paixão dos santos! Abre-te, peito, na comunhão do calor que devora! Consome-te, ego, desvendado no Amor Daquele que te ama!

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Pequeno Receituário

Mestre Homem [de raízes profundas], estás enraizado no céu? És árvore, fruto? Provo de ti. Ajoelho a teus pés, toco teus dedos como flores, prostro-me em teu campo. Tu, como as criaturas, certamente furtar-te-ás... rogo-te apenas pelo instante! Da tua rudez, nutro-me – a densidade, sorvo com cuidado, para não me engasgar. Temo a ti, tuas incoerências. Incongruente, a verdade deflagrada, destroças as vãs esperanças. Aroma emanado, confuso estou... evades-te, então, do mundo? Tem piedade, deixa, ao menos, a tua semente!

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Poesia Mística Cristã

Senhor chamo: à ausência de merecimento, Graça Àquele que vem e me torna digno, Majestoso Graça e Majestade, Grandes Peso, à Presença que apequena e faz dobrar corpo e joelhos face ao Grande Rosto [sem dimensão], amor; que concede em mostrar-Se, Mistério ...

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Pequeno Receituário

Em Vossa Majestade, dignifica-me! A Graça da Presença, de sentir-me pequeno em Vossa Grandeza (de dobrar-me a Vós), concede-me! A Vossa Face ausente, Mistério de Amor sem dimensão, mostra-me! A Vós – O sem rosto, nem nome –, sem adjetivo, chamo:

Senhor!

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Pequeno Receituário

Luto Toma teu eu e reconhece-te um ser falível, em tua própria natureza. Reconhece-te não merecedor de nada, nessa tua condição humana, a não ser da Misericórdia que Deus tem por ti, como por todo o gênero humano. Roga a Ele que te conceda um verdadeiro luto, a verdadeira compunção de coração, pelo teu afastamento da Única Realidade que É... desde o princípio, eternamente, agora e sempre, e pelos séculos dos séculos!

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Poesia Mística Cristã

Minha Fraqueza Hoje, encontrei-me um fraco. E relutei, outra vez, em sentir o fracasso no mundo dos fortes. A alegria deixou-me há muito – rara e custosa é a sua aparição. Onde estão os meus motivos?! Honestamente, esforço-me sempre em reafirmá-los, mas tenho-os escassos: “Vontade da montanha em mover-se”. Os prazeres, parcos e fugazes, como fogo em palha, sem força de abano, sequer, para alimentá-los. Por que tenho que ser forte, melhor não será admitir a própria fraqueza inata?! Qual é a razão para realizar tão mal compreendidas coisas da vida do mundo? O que estou fazendo, melhor não será morrer para ele, em estagnação?! Ouço sobre a força na fraqueza e vacilo na compensação da negação: “quero ser forte!” – ainda não cheguei ao ponto... Se há fraqueza, que seja fraca. E plena, e absoluta, e vivida em sua inteireza débil! ...

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Pequeno Receituário

Poderia surgir, então, do não-desejo verdadeiro, na não-resistência e não-negação, a compreensão e a visão real do oposto. O alto no baixo, o forte no fraco, o vice-versa... Compreenderia eu, assim, a força do alto que se fez baixo, a verdade do forte que se faz fraco? Despido de esforço, poderei eu alcançar a dualidade da intenção e a não-dualidade do desintencional? Terei eu o significado da Graça agente (pelos tempos dos tempos) pela existência? Do não-existente pela vida, do verme à vida do cosmos existente? Faz-me fraco na Vossa Fraqueza, Ó Senhor do Universo, para que, uma vez, eu possa ser algo mais do que a força!

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Poesia Mística Cristã

Mundo Deparo-me, hoje, com o mundo: dessacralizado mundo das corrupções do Reino. Reino que somos, nós mesmos, seres humanos, nossas próprias almas e nossos próprios corpos. Estamos vendidos, em troca do que chamamos moeda, símbolo dos valores predominantes que nos imobilizam. Forças nefastas, que colocam o homem no esquecimento, no desvio do caminho para a retomada da sua razão de existir – o despertar da sua consciência Divina. Reféns da ignorância de nossa natureza, haveremos, um dia, de ser redimidos do esquecimento pelo arrependimento profundo. Natureza que desperta no homem as faculdades integrais, que apontam para o Deus vivo e manifesto: o Filho do homem. Não temos a percepção de nossa origem. Estamos afundados no lodo. Como poderá a seiva ascender para dar nascimento à flor, oferta autêntica de reconhecimento, pela Criação que somos nós, a Deus? O mundo é, em verdade, resultado da Vontade, manifestação do Sagrado! Abençoados são os que, em busca da salvação, dão-lhe as costas, pela clara visão que dele têm.

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Pequeno Receituário

Votos para um domingo [de Natal] Que a Graça concedida nos alcance; lançados por terra, rostos ao chão, que as lágrimas da Presença lavem nossas almas para a visão, do passado errante, no arrependimento presente. Com o amor do coração, a Vós, irmãos, no dia [do Amor sem dia, nem hora,] do Senhor. Seu, em Cristo!

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Pequeno Receituário

Morrer O ego foi ferido! Depôs as armas, alcançado pela lança veloz do Amor. Padece das dores agudas do aço Divino.

Penetrado o escudo, transpassado o peito, de nada vale a dureza interior – um coração de carne sangra.

O soldado de Cristo não vacila: recebe, nas mãos, a adaga cultiva o ferimento, a golpes de humilhação e pesar as lágrimas, como emoliente, para a ferida aberta não cicatrizar

...

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Poesia Mística Cristã

Na batalha, não há maior temor que o da perda da Essência, maior desejo que o da perda da vida – ser abatido, ao vencer-se a si mesmo. A vitória do vencido é a reconquista da Graça. A Glória do vencedor é o doce sabor da morte, para a Vida!

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Pequeno Receituário

Fonte Vós, que Sois, Sois, sempre, para todo o sempre e longe, distante da apreensão. Sois arrebatamento, maravilhas... coração difuso, coração contrito, difuso... Maravilha! Expansão, ao infinito. Morte de gozo, Amor. Amor avassalador, irresistível Amado! Ó Amado, ó Amado, funde-me! Fundo-me em Ti, morro em Ti. Extinguo-me para a Vida Eterna, para Estar em Ti, Amado, Ser em Ti Amado, sempre, em Ti para sempre, para todo o sempre. 74


Poesia Mística Cristã

Nenhum Na ingênua compreensão que tenho da Presença que fizestes, vem uma insuficiência ao falar de Vós: O Amado!

Nenhum dizer, nem imagem que façam, podem significar a experiência do que fostes em mim...

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Pequeno Receituário

“... pelo (Espírito) Paráclito, descerrou-se a Face de Deus-Homem (Jesus Cristo); e, em todos os espaços – e não-espaços –, O (Pai) que não comporta valor algum...”

Trino-Santo, Rei dos mundos! A nenhum, senão Vós, tenho por Senhor.

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Poesia Mística Cristã

Silêncio É no silêncio da Tua Paz que Te encontro! Encontro-Te como uma gota de luz, que brota, evanescente, clareando na escuridão, no silêncio da Tua Paz. Tenho estado triste, tendo vagado por essa falta, procurando em sorrisos, chorando em lamentos por um êxtase evadido. Buscando em músicas, orações e pedidos, rogando a Ti que me concedas...

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Pequeno Receituário

Mas é na escuridão do luto de minh’alma que brota a pequena gota. Então, sei que cheguei ao silêncio da Tua Paz em que Te encontro!

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Pequeno Receituário

Desnudo no solo árido de espírito, jazem as cores das ‘sempre vivas’ flores do mundo – aroma flagrante, deleite dos homens morto estou! repleto de cores, perdido na abundância das múltiplas paisagens “nu diante do Cristo nu!” ceifa dos campos, terra exposta escassez do simples, carência do despojado aridez da alma “nu diante do Cristo nu!” chagas expostas rosto ao chão, lágrimas aos olhos desejo de humilhação, pobreza nudez da alma

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Poesia Mística Cristã

Sono dormiu novamente seu sono o pequenino, embalado no berço de aconchego, do mundo de coisas e sonhos todo pequeno tem seu tempo de crescer, vivendo em um mundo próprio, no preparo do instante próximo, para mais um despertar em ser maior; quando o momento de abrir os olhos é o mesmo do susto em ver-se só, de chorar e gritar, por sentir a falta de alguém ...

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Pequeno Receituário

estou novamente desperto – não quero mais dormir por isso, vejo por Ti, grito e choro!

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Poesia Mística Cristã

Vassalo Ó meu Amado Senhor, como posso não me submeter a Vós? Essa força irresistível e avassaladora faz de mim um vosso servo! Como não me entregar a Vós, conter este coração que se abre em flor, inteiramente voltado para esses Vossos Raios? Que pode este vosso vassalo fazer para Vos agradar? Como não querer seguir-Vos, cegamente, Ó Cativador de almas? ...

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Pequeno Receituário

A escravidão condenada é doce amarra para mim, quando me prende a Vós. Mil vezes, sujeitar-me-ei ao castigo do Vosso Puro Amor: este grilhão, que submete pelo coração, faz-me esta fraqueza de puro gozo, que me deixa sem escolha.

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Poesia Mística Cristã

Visita meu ego, no alimento incessante das expectativas minha alma, repleta dos anseios, agida da autossatisfação, pela realização de si afirmação própria, impulso inerente do meu ser nas intempéries da vida, vem-me, hóspede, indesejada visita, humilhação resignado... que conflito gera a vossa presença! ...

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Pequeno Receituário

acredito nos sábios: “não resistas! a rejeição será o teu remédio...” o desapreço, ai, a malquerença! como suportá-los, agonias de minh’alma? dor da dissecação, sofrimento, bem-vindos, benditos sejam!

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Pequeno Receituário

Aves do céu As aves do céu descem, para pousar na terra. Tocada, a terra toda preenchida está. Plena está, estremecida em ondas, como um mar a agitar. O mar transborda, flui em todas as direções; em movimento incessante, cobre todos os espaços. O centro imóvel acumula. Um ninho, as aves do céu nele encontram. Procriar, gerar e a terra habitar, para o trabalho das aves terminar e de volta ao céu tornar.

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Poesia Mística Cristã

Esperança Quando disseram os meios de reencontrar-Te, reconduzir-me à Tua chegada, para além das fronteiras de minha alma, quão grande foi minha esperança! Escondido [na espera do encontro possível,] em recônditos de meandros secretos e esquecidos, eis Tu, no coração do Ser, no centro de minha esperança!

Vivo – um portador de consolo perdido, da intimidade em que me tiveste – esperando, nestes sentidos vãos, pelo novo momento de Tua posse, na agonia de minha esperança!

E Tu, à minha espera... Espera e Promessa, presente e futura, minha Eterna Esperança!

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Pequeno Receituário

A Razão A Razão do belo, que motivou o feio — o Tudo, em todos —, é o Generoso do brilho nos olhos, em ti, querida!

Dele, (o encanto saído dos lábios) é o sorriso que emana — do Tudo, para todos — de ti.

Também por ti, houve, por bem, cativar-me... pelo espontâneo da juventude irradiante; do terno ser, impresso pela Graça — do Tudo, a todos. Quereria eu mais de ti, querida, que não por Deus? 90


Poesia Mística Cristã

Bendita Maldita a hora em que me fitaste: quando surgiu o desejo. Bendito seja Deus, pelo desvio do olhar: pressentiste que o sangue é pouco. Tuas demandas (se te alimentas de afeições) são do predador, em dia de caça: encontra o filhote da presa; lambe-o com carinho, até que a fome chega. Fazes menção a Deus: um joguete, nas mãos do inimigo, agindo no mundo... no simulacro, haja Misericórdia; também para o homem que atrais: ele não conhecerá o Amor verdadeiro.

...

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Pequeno Receituário

Os degredados de Eva, uns choram a ruína do Éden. Outros riem, pela salvação do homem: a nova Eva pisou a cabeça da serpente!

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Poesia Mística Cristã

Voz minha alma é opaca, falta-me voz em minha boca! outrora, refleti um pouco do Teu brilho mas agora, tão somente uma pobreza proclama a agonia deste momento sem palavras falar de Ti era meu consolo, mas tornou-se miséria – resido, agora, na ruína da minha mudez . . .

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Pequeno Receituário

sussurras o Teu Verbo, e abrem-se, em meu peito, espaços para ecos de muitas vozes, nos quais se ouve, palavra por palavra: “Eu Sou Senhor e diante de Mim toda palavra é muda, toda voz é pobre...” ... que toda boca se abra para louvores a Ti, Ó Senhor, pois és Tu Único e Digno de toda a glória, agora e sempre, e por todos os séculos!

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