Psico anormal

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Alexandre Donizete Penha

psicoANORMAL

1ª edição Editora WI 2017


Copyright 2017 – by Alexandre Donizete Penha Grafia segundo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada ou transmitida total ou parcialmente, por nenhuma forma e nenhum meio, seja mecânico, ou qualquer outro, sem autorização prévia escrita da Editora WI. Título PsicoAnormal Capa Irland Araujo Revisão Regina Cardoso Projeto Gráfico Equipe Editora WI

2017 Editora WI Rua Faustolo, 1861 cj 84 – Lapa CEP 05041-001 – São Paulo – SP Telefone: (11) 2158-0120


Alexandre Donizete Penha

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Dedicatória “Mesmo que as pessoas mudem e suas vidas se reorganizem, os amigos devem ser amigos para sempre, mesmo que não tenham nada em comum, somente compartilhar as mesmas recordações. Pois boas lembranças são marcantes, e o que é marcante nunca se esquece! Uma grande amizade mesmo com o passar do tempo é cultivada assim!”


Sumário Introdução.............................................................................06 Capítulo 1 – Padre ...............................................................07 Capítulo 2 – Programa de Televisão ...................................19 Capítulo 3 – Assassino e Estuprador ...............................27 Capítulo 4 – Caiu na Internet ............................................35 Capítulo 5– Entidade/CorpoAberto...................................52 Capítulo 6–Transformações...................................................66 Capítulo 7 – Escravas do Sexo...........................................85 Capítulo 8 – AdoçãodeCriançaEspecial............................108 Capítulo 9 – Soro Positivo...............................................125 Capítulo 10 – Malefícios da Fama...................................154 Capítulo 11 – O que é Loucura? ......................................162 Capítulo 12 – Autoanálise............................................... 177


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Introdução Os personagens e incidentes descritos neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com indivíduos e acontecimentos específicos não foi pretendida pelo autor. O mesmo acontece com os lugares.

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Capítulo 1 Padre *Essa história aconteceu no ano de 2013.* A sala de espera do doutor Augusto sempre tinha pouca gente, ele era muito pontual em suas consultas. Na porta de sua sala havia uma placa com os dizeres: “Não acredite em tudo que os psiquiatras dizem, nem eles conseguem se entender”. Quase todos os pacientes perguntavam para Rosa, secretária do doutor, sobre aquela frase. Ela sempre dizia para que perguntassem diretamente ao doutor. Aquela manhã de terça feira foi tranquila. Vários pacientes desmarcaram. Exatamente às doze horas e cinco minutos, Augusto saiu para almoçar. Voltando do almoço, sua secretária informou que mais dois pacientes tinham desmarcado as consultas. Entrou em sua sala exatamente às treze horas e cinco minutos. Agora, ele tinha cinquenta minutos de folga. – Já que estou com o horário vago, vou conversar sozinho para ver se consigo entender os psiquiatras. Por que temos tantas manias? Eu mesmo tenho algumas e não consigo deixá-las de lado. Tenho que almoçar sempre às doze horas e cinco minutos. Não consigo usar relógio ou qualquer objeto em um braço, tem que ser nos dois. Não saio de quarta feira à noite, para tudo que me falam exijo uma prova, senão eu não acredito. Acho que acabou. Pelo menos essas manias não atrapalham minha vida, senão teria que procurar um psicólogo. Riu. Nessa hora, Dona Rosa entrou em sua sala. – Doutor, seus pacientes da tarde desmarcaram as consultas. – Hoje não vou atender mais ninguém? Dona Rosa – Nunca aconteceu de sete pacientes desmarcarem no mesmo dia.

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– Sabe o que isso significa? Dona Rosa – Não tenho ideia. – Não terei dinheiro para jantar hoje. Riu. Dona Rosa – O doutor pode ficar sem atender durante meses que não lhe faltará dinheiro. – Você tem razão, meus pais me deixaram bem de vida, não posso reclamar. Vou ficar mais um pouco por aqui, depois vou para o Centro (Centro Espírita ou Kardecista). Augusto deitou-se em seu enorme sofá e tirou um bom cochilo. Depois de uma hora foi acordado pelo barulho do telefone. Dona Rosa – Doutor chegou um paciente que não marcou hora, disse que precisa muito de sua ajuda. – Já estou de saída, preciso ir ao Centro. Dona Rosa – Ele disse que é padre, pode ser uma consulta rápida. – Padre? Gostei desse paciente, pode pedir para entrar. Dona Rosa fez a ficha do padre e pediu-lhe para entrar. – Boa tarde, sou o doutor Augusto. Em que posso ajudar? Padre Anselmo – Doutor estou com um grande problema e não sei por onde começar. – Fale seu problema em algumas palavras, depois começaremos a expandi-lo. Padre – Não estou feliz nessa minha missão de padre. Sinto que falta algo para minha felicidade. – O senhor quer largar a batina e construir uma família? Padre – Quero trabalhar, casar, ter filhos. Mas tenho medo de tomar essa decisão tão complicada. – Quais são seus medos? Padre – Tenho medo de magoar meus pais, que são muito religiosos, meus superiores, meus fiéis e toda a sociedade que não aceitará minha escolha. – O senhor já está colocando obstáculo antes mesmo de começar. Quantos anos o senhor tem? Padre – Tenho quarenta e dois. – Sou mais velho três anos, então posso dar um conselho. Riu. 8


psicoAnormal Desculpe-me o jeito de falar, dane-se o mundo. Pelo menos uma vez na vida temos que pensar em nossa felicidade, a vida é muito curta. Por isso temos que vivê-la intensamente. Padre – É uma decisão muito difícil de tomar. Não é só chegar e falar que estou largando minha missão. – Entendo, mas com essa decisão você não irá agradar muita gente. O importante é a sua felicidade. Uma das coisas que eu questiono Deus é o tempo de vida que temos. Deveríamos viver em média quinhentos anos, a vida passa muito depressa. Vivendo em média setenta e cinco anos, deixamos de realizar tantos sonhos. Contei isso para você poder refletir sobre seus medos. Nós já gastamos metade da vida. Padre – Analisando por esse lado você tem razão, a vida é muito curta. Mas terei consequências sérias pela frente. – Você saberá enfrentá-las, comece tendo uma conversa bem sincera com seus pais, eles entenderão sua escolha, porque querem a sua felicidade. Padre – Eles ficarão decepcionados comigo. – Pelo contrário, ficarão felizes por saberem que você está buscando sua felicidade. Estariam decepcionados se você fosse um drogado ou bandido, mesmo assim eles sempre estariam ao seu lado lhe ajudando. Acho que o mais difícil para você é o próprio medo. Padre – Como assim? Não entendi! – Você tem medo de você. Tem medo de renunciar e depois arrepender-se, tem medo de sair da sua área de conforto, de achar essa nova vida muito mais difícil. Padre – Você esta colocando-me no fundo do poço! – Estou tentando tirar esse grande medo que está dentro de você. Quando conseguir vencer a si mesmo, metade do desafio já foi concluída. Padre – Devo contas a meu grande superior, Deus. Fiz uma promessa e agora estou querendo descumprir. Não sei se serei perdoado. – Vamos entrar em um assunto que adoro: religião. Deus quer a felicidade de todos, inclusive a sua. Chega de sacrifício. Jesus 9


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sacrificou-se por todos nós, mesmo assim não conseguiu deixar o mundo perfeito. Deus não quer vê-lo trabalhando infeliz ou obrigado. Padre – Alguém precisa sacrificar-se pelo outros, como Cristo fez. – O senhor quer ser Cristo ou um pai de família? Os dois não dá para ser. Padre – Quero estar feliz e com minha consciência tranquila. – A felicidade depende apenas de você, Deus entenderá sua escolha. Seus fiéis e a sociedade irão falar, porque parte dessas pessoas são seres podres, cuidam da vida dos outros, esquecendo as suas. Padre – Você é bem radical, seus clientes não reclamam dessa postura? – Eles devem gostar. Eu falo a verdade, falo de seus medos, isso geralmente dá certo. Padre, nosso tempo esgotou-se, quero muito continuar atendendo você. Padre – Gostei da consulta, sairei melhor dessa sala. – Posso passar em sua paróquia para me confessar? Padre – Você está falando sério? – Tenho muitos pecados, padre. Risos. Depois daquela consulta, Augusto saiu do consultório e foi direto para o Centro Kardecista. Chegando lá, encontrou seu grande amigo Otávio, médium e diretor do Centro. – Boa tarde meu amigo, estou atrasado? Otávio – Você nunca se atrasa. Hoje teremos uma palestra de um médium médico. – Só quero ver, todo médico de louco tem um pouco. Risos. A palestra durou quarenta minutos. Depois que todos foram embora Otávio apresenta Augusto para o doutor Renato. – Bela palestra doutor. Renato - Pode me chamar de Renato, não estamos em consulta. Risos. Otávio – Bela profissão a de vocês. Quase a mesma especialidade, um neurologista e um psiquiatra. Renato – Você é espírita? 10


psicoAnormal – Digamos que sou cinquenta por cento espírita. A outra metade está nas minhas contestações. Renato – O que você contesta, por exemplo? – O fato de uma pessoa suicidar-se, o espiritismo diz que é um dos piores pecados. Eu acho que cada um tem o livre árbitro, se ela não quer mais viver, é um direito dela, não está fazendo mal a ninguém. Outra questão, você tem que perdoar sempre. Uma pessoa faz uma miséria na sua família, mata seu filho, ou sua mãe, e você tem que perdoar essa criatura para ir ao céu. Desculpe-me, mas eu irei para o inferno, com todo respeito, senhores. Renato – Podemos marcar um encontro, gostaria de poder aprofundar esse assunto. – Podemos sair. Menos de quarta feira à noite. Os demônios estão nas ruas. Risos. Otávio - Não liga, é mania de psiquiatra. A conversa entre os amigos durou mais quarenta minutos. Augusto chegou ao seu apartamento e decidiu fazer apenas um lanche. Como sempre, saiu na sacada do prédio, sentou em sua cadeira com as três almofadas e ficou observando a cidade do décimo quarto andar. No dia seguinte Augusto atendeu seus pacientes, menos o último, que novamente cancelou. O doutor resolveu sair mais cedo, foi até a paróquia do padre Anselmo. A igreja estava vazia. Augusto adorava lugares assim, foi até a sacristia e encontrou o padre. – Prometi que viria me confessar, aqui estou. Padre – Estou surpreso com sua presença. Seja bem vindo. – Quero me confessar, acho que será a última vez com o senhor. Riu. Padre – Você deve ter muitos pecados. Riu. Vamos ao confessionário. – Padre, acho que sou muito duro com alguns pacientes, penso que falando claramente a realidade eu consigo ajudá-los. Mas muitas vezes complico ainda mais a situação. Padre – Faz isso com a melhor das intenções? – Sim, sempre querendo o melhor para eles. Padre – Melhor rever um pouco seus métodos, mas não vejo 11


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como pecado. Para Augusto estava sendo um desabafo, uma conversa informal, mas não uma confissão. No final, padre Anselmo pediu para Augusto rezar dez Pai Nossos e dez Ave Marias. – Preciso de mais uma confissão. Padre – Sim, pode dizer. – Vou pecar novamente e não rezarei um Pai Nosso. Prefiro ter uma conversa franca e amigável com Deus. Acho que o resultado será melhor. Padre – Você decide a melhor forma de se perdoar. Riu. – Obrigado por me entender. Na semana seguinte o Padre retorna ao consultório para sua segunda sessão. Padre – Pensei que nunca mais voltaria aqui. – Fui muito duro com você, padre? Padre – Você disse uma coisa, agora estou concordando. Disse que fala a verdade e não o que o paciente quer ouvir. – Já perdi muitos pacientes com esse meu método, Mas consegui ajudar muita gente. E você? Está conseguindo se ajudar? Padre – Está muito difícil tomar uma decisão. Quando penso em contar para meus pais começo a sentir um arrependimento, deixando-me fraco. – Arrependimento de algo que você ainda não fez? Por que o senhor não faz primeiro e depois se arrepende? Padre – Estou muito indeciso, inseguro e com medo. Com todo o meu conhecimento e minha postura diante dos fiéis, quando penso em minha renúncia, fico extremamente frágil. – Essa decisão precisa ser tomada aos poucos, por fases. A primeira fase você está concluindo, procurou ajuda comigo. A segunda fase, é pedir ajuda aos seus pais, explique sua vontade e seu desejo. Padre – Essa fase está difícil, vejo uma barreira enorme pela frente. – Essa barreira pode ser um grande alicerce para você nas outras 12


psicoAnormal fases. Se seus pais entenderem e apoiarem, você ficará muito mais forte para seguir em frente. Padre – Vou seguir seu conselho, falarei com meus pais. – Torço muito pela sua felicidade. Agora nosso tempo acabou. Espero vê-lo na próxima semana. Uma semana depois, o padre comparece para mais um atendimento. Padre – Consegui passar por um grande desafio. – Isso o deixou mais forte? Padre – Sim. Forte, confiante e seguro. Meus pais aceitaram minha decisão, estarão ao meu lado para tudo. – O seu medo que era grande, está ficando menor? Padre – Sim. Estou conseguindo passar essa barreira, sem tantos sustos. – Está pronto para a outra fase? Padre – Para qual fase você acha que devo ir? – Você deve pedir ajuda para seus grandes amigos. Essa é a hora de você ver quem são seus amigos de verdade. Amigos não julgam, ajudam. Padre – Estou pronto para esse novo desafio, acho que conseguirei o apoio deles. – Você está certo de sua decisão? Ou ainda resta alguma dúvida? Padre – Hoje estou mais seguro de minha escolha. – Você sabe quando estará pronto para sua última fase? Padre – Tenho pressa para começar uma nova vida, mas tenho medo de acelerar essa decisão. – A partir do momento que você tomou uma decisão, siga em frente, o mais difícil será o outro desafio. Padre – Terei quantas fases pela frente? – Depois que você largar a batina, terá um desafio por dia, assim é para todos nós. Mas nunca desista ou coloque a culpa dessas dificuldades em sua decisão. Padre – Estou ciente das dificuldades, escuto todos os dias confissões dos fiéis, muitos pecados confessados ali, considero como dificuldades que eles passam na vida. 13


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– Exato padre. Você viu como tenho pecados, a vida é muito difícil, uma luta diária para conseguirmos um pouco de tranquilidade. Semana que vem continuamos. Augusto tentou encorajar ao máximo o padre, sabia que a conversa com seus superiores seria difícil. Até o médico está tenso e ansioso para saber o resultado daquela conversa. Na semana seguinte Augusto atendeu mais um paciente, olhou em sua agenda e viu que o próximo paciente era o padre Anselmo. Dona Rosa – Seu próximo paciente não veio e nem ligou para desmarcar. Augusto não gostou da notícia, queria saber o que tinha acontecido com o padre. Resolveu controlar sua ansiedade, foi para seu bar favorito. Como sempre sentou à mesa número dez. Mesa que ficava em um ponto de boa visualização, ali ele conseguia ver quase todas as pessoas. O dono do bar foi até lá cumprimentar o médico. Felipe – Boa noite Augusto, está sendo bem atendido? – Acabei de chegar meu amigo, mas você pode pedir para trazerem uma taça de vinho? Felipe – É para já. Vai querer a porção de sempre? – Sim, mas deixe para depois. Augusto ficava sempre três horas naquele bar, tomava seu vinho, comia a mesma porção, filé aperitivo ao molho de mostarda, e observava o comportamento das pessoas. Quase sempre sozinho. Aquela noite foi diferente, o dono do bar foi até a mesa e pediu para sentar. Felipe – Posso acompanhá-lo nesse vinho? – Sim, fique a vontade, faz de conta que o bar é seu. Risos. Felipe – Boa, gostei da recepção. Garçom, pega minha garrafa de vinho. – Você está de parabéns, o bar é muito bom. Felipe – Obrigado, esse bar é minha vida. Você vem toda quinta-feira aqui. Nunca tivemos a oportunidade de conversarmos. – Eu venho muito aqui para relaxar e descansar a cabeça. Felipe - Desculpe-me a curiosidade, o que você faz? – Sou médico, psiquiatra. 14


psicoAnormal Felipe – Você acha que meu bar tem muitos loucos? – Acho que só eu. Felipe – Mais uma vez, mandou bem. Suas consultas devem ser muito boas e divertidas. – Pelo contrário, lá eu falo a verdade e com muita seriedade. Aqui estou totalmente relaxado. Felipe – Foi você que participou daquele programa de televisão, Entrevistas e Opiniões? – Sim, faz um mês que participei. Felipe – Então é isso, minha filha adorou suas colocações, ficou falando a semana inteira desse programa. Agora fiquei curioso, vou pedir para ela mostrar suas declarações. – Por incrível que pareça, depois desse programa, meu consultório está lotado. Felipe – Se eu falar para ela que conversei com você, ficará louca de curiosidade. – Gostaria de conhecer sua filha. No dia seguinte em seu escritório, Dona Rosa avisa Augusto sobre sua agenda. Dona Rosa – O senhor está com a agenda lotada, o padre Anselmo ligou perguntando se pode ser atendido ainda hoje. O que faço? – Peça para ele comparecer no final da tarde, será meu ultimo paciente. Depois de atender oito pacientes Augusto estava esgotado. Dona Rosa – Posso pedir para seu último paciente entrar? – Esqueci do padre, pode pedir para entrar. Padre – Desculpe-me doutor, faltei na última sessão, mas precisava ficar sozinho. – Em certos momentos, a melhor terapia é uma praça, um bar, um quarto escuro ou até um ônibus lotado. Padre – Conversei com meus superiores, foi muito difícil para mim, parece que tiraram algo do meu corpo. – Pense que você doou um rim, ajudou uma pessoa, e que sua vida vai continuar seguindo em frente. 15


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