Manacá - História 2, Unidade 3

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UNIDADE

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Cada família é de um jeito

Ao longo da história as famílias não são as mesmas. Tem família com pai e filhos, mãe e filhos, avós e netos. Tem criança que precisa de família, e criança que tem por família toda a aldeia. Tem família bem grande e outras pequenininhas. Mas o que importa é que toda criança tenha uma família para chamar de sua!

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O que você vai estudar

Diferentes tipos de família no presente e no passado. A Declaração dos Direitos da Criança. O trabalho infantil no Brasil. A árvore genealógica da família.

FABIANA SALOMÃO/ARQUIVO DA EDITORA

Os direitos dos povos indígenas.

Vamos conversar

Professor(a): Promova, se possível, uma conversa na sala de aula. Peça aos(às) alunos(as) que observem a ilustração destas páginas de abertura de unidade, que mostra um grupo familiar formado pela filha, pelo pai e pela avó. Comente que um dos objetivos da unidade é valorizar e respeitar as diferentes formas de organização familiar.

Você sabia que cada família pode ser de um jeito? E a sua, como é? cinquenta e nove

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CAPÍTULO

Professor(a): Um dos temas centrais da crônica é a relação de duas crianças, de realidades distintas, com a morte de suas mães. Para todo ser humano essa é uma grande perda. Bianca, uma das protagonistas, conta com o carinho e afeto de seu pai, da avó, dos amigos e da professora. Tico, ao contrário, é uma criança que vive na rua e não conta com a proteção nem de familiares nem do Estado. Ao trabalhar a temática da morte, fique atento(a) às reações de seu grupo, pois podem existir alunos que estejam vivendo situação semelhante. Consulte o item 5 do CAP para mais sugestões sobre o trabalho com esse delicado tema. Veja as orientações complementares deste capítulo.

Famílias!

LEIO, OUÇO E APRENDO

Professor(a): Consulte no CAP o quadro de sugestões de trabalho com transversalidade e interdisciplinaridade deste capítulo, na seção Orientações específicas para este volume.

*Professor(a): Explique às crianças o significado de à beira-mar: ‘junto ao mar’, ‘na praia’.

ALBERTO DE STEFANO/ARQUIVO DA EDITORA

Família, pra que te quero!

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Maria Eduarda se interessa por todas as coisas da cidade onde vive, Recife. Ela adora o bairro onde mora, Boa Viagem, localizado à beira-mar*e rodeado de prédios bonitos, alguns até decorados com as cerâmicas e esculturas de Francisco Brennand. Os pais de Duda são professores. Quando ela precisa de alguma informação, eles indicam livros ou ajudam a menina a fazer pesquisas na internet. Foi em um dos livros indicados pelos pais que ela encontrou a informação de que o nome da sua cidade veio da palavra “arrecifes”. Hoje, Duda está ansiosa com o Dia das Mães que se aproxima. Chegou à escola e foi logo perguntando para a professora Teresa: — Teresa, o que faremos aqui na escola para comemorar o Dia das Mães? Estou pensando em dar uma peça de artesanato para a minha. Enquanto Duda falava, as outras crianças se animaram e começaram a pensar no presente do Dia das Mães. Só Bianca estava triste, amuada,* quietinha no seu canto. A professora Teresa estranhou e perguntou: — Por que você está tão triste, Bianca? — Nada não, Teresa. A professora não se sessenta *Professor(a): Explique às crianças o significado de amuada: chateada, aborrecida.

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*Professor(a): Explique às crianças que estar sempre alerta é o mesmo que ‘estar sempre atento(a)’.

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sessenta e um

ALBERTO DE STEFANO/ARQUIVO DA EDITORA

convenceu, mas, antes que falasse alguma coisa, Duda disse: — Fala, Bianca. Conte a ela por que você está triste. Bianca e Duda se tornaram amigas desde o primeiro dia de aula. Duda gostava de Bianca e não queria vê-la triste. Bianca falou: — Sabe o que é, Teresa? É que eu não tenho pra quem dar presente no Dia das Mães. Eu não conheci a minha mãe. Moro com o meu pai e a minha avó... De repente, Bianca parou de falar e começou a chorar. Todas as crianças se calaram. Em outro lugar do Brasil, em Porto Alegre, uma criança também está triste. É Tico, que acordou com muita saudade do irmão. Tico raramente chora, pois foi obrigado a tornar-se forte para sobreviver nas ruas. Fica acordado nas madrugadas porque precisa estar sempre alerta.* Ele não vai à escola, não sabe ler nem escrever. Come quando consegue arranjar algum trocado com os motoristas dos carros que guarda ou engraxando sapatos nas ruas de Porto Alegre. O menino de apenas 11 anos vive há três anos nas ruas. Tico não sabe quem é seu pai e perdeu a mãe quando era bem pequeno. O Dia das Mães para ele não significa muita coisa, assim como o Dia das Crianças, o Natal e o seu aniversário... Em Recife, a professora Teresa percebeu o silêncio da sala e viu que Bianca chorava. Aproximou-se da menina, abaixou-se e abraçou-a. Em Porto Alegre, as lágrimas de Tico lavavam seu rosto e sua dor. A saudade que sentia de seu único irmão, Joaquim, era do tamanho da fome que roía seu estômago. Mas não havia ninguém para abraçá-lo.

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PULSAR IMAGENS/DELFIM MARTINS

OBSERV O O MUNDO

A cidade de Recife no Brasil TALITA KATHY BORA/ARQUIVO DA EDITORA

Recife, capital do estado de Pernambuco, foi fundada pelos portugueses em 1537. Os rochedos formam uma muralha natural, de pedras de coral e arenito, que protege as praias da cidade das fortes ondas do mar. Praia de Boa Viagem, Recife (PE), 2006.

Organizado com base em: Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p. 90.

1 Você conhece Recife? Sua cidade é parecida com esta foto? Resposta aberta. Professor(a): Consulte no item 5 do CAP as orientações complementares deste capítulo.

2 Você sabe como são chamados os rochedos que aparecem na foto? Dica: a capital do estado de Pernambuco tem o mesmo nome. 62

Professor(a): Arrecifes ou recifes é como são chamados esses rochedos. Eles formam um porto natural, que já era utilizado desde a época em que os portugueses fundaram a cidade de Recife, no século XVI.

sessenta e dois

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PULSAR IMAGENS/RUBENS CHAVES

Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand nasceu em Recife, em 1927. Ele é um artista muito premiado. Além de escultor, Francisco Brennand, como é mais conhecido, é pintor e ceramista. Suas obras são muito admiradas no Brasil e em outros países. Na foto, parte da oficina de Brennand, em Recife (PE), 2013.

3 Você já conhecia as obras desse artista? Você gostou dessas esculturas? Resposta aberta. PULSAR IMAGENS/FERNANDO BUENO

Professor(a): O estilo das esculturas e das cerâmicas de Brennand é muito marcante. Após a atividade 3, informe às crianças que o lugar retratado fica em Recife e era uma antiga fábrica de tijolos e telhas, fundada pelo pai de Brennand em 1917. Em 1971, Brennand transformou esse espaço num local de trabalho e exposição de suas obras.

TALITA KATHY BORA/ ARQUIVO DA EDITORA

A cidade de Porto Alegre no Brasil

Porto Alegre é a capital do estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre (RS), 2013.

4 Você conhece Porto Alegre? Sua cidade é parecida com essa capital?

Organizado com base em: Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p. 90.

Resposta aberta. Professor(a): Consulte no item 5 do CAP as orientações complementares deste capítulo.

sessenta e três

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ORGANIZO AS INFORMAÇÕES E APRENDO MAIS Todos nós vivemos momentos de tristeza e de alegria. Isso acontece porque somos capazes de sentir dor, raiva, afeto, carinho, saudade, prazer. Mas o mais importante é poder dividir nossos sentimentos com as pessoas que amamos e nas quais confiamos. Em grupo 1 A tristeza e a alegria acompanham o ser humano durante toda a vida. Bianca tem motivos para estar triste. Se vocês fossem amigos(as) dela, o que fariam para ajudá-la? Resposta aberta.

Professor(a): Permita que as crianças se expressem livremente e estimule as ações solidárias entre as pessoas.

Só você 2 Você se lembra de algum momento em que se sentiu tão triste quanto Bianca? Se quiser, fale por que se sentiu assim. Resposta aberta.

3 E quanto a um momento de grande alegria, você se lembra de algum? Relate o que provocou esse sentimento. Resposta aberta. 2. Professor(a): É preciso sensibilidade para lidar com as emoções das crianças. É fundamental que você esteja atento(a) às reações de cada uma nesse momento. Se algum(a) aluno(a) ficar introspectivo(a), respeite-o(a).

Direitos da criança e da família

FOLHAPRESS/IMAGE SOURCE

OLHAR IMAGEM/LUCIANA WHITAKER

As fotos destas páginas representam algumas formas de agrupamentos familiares. Observe-as.

Berçário em abrigo infantil na cidade do Rio de Janeiro (RJ), 2007. Mãe, pai e filhos. Foto de 2013. 64

sessenta e quatro

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Quando os pais são separados, os filhos podem morar ou com a mãe ou com o pai. Algumas crianças moram com os avós, outras com os tios. Há ainda crianças que vivem em orfanatos, sob os cuidados de pessoas que trabalham nesses lugares. Há também crianças e adolescentes completamente abandonados que vivem nas ruas. Seja qual for a forma como se constituem as famílias, todas são fundamentais para garantir o carinho, a proteção e a segurança de que as crianças necessitam para se desenvolver.Professor(a): Estimule as crianças a observar as fotos

FUTURA PRESS/LUCIANA AMORIM

OPÇÃO BRASIL IMAGENS/SILVESTRE MACHADO

destas páginas, conversando com elas sobre o respeito à diversidade sexual e permitindo que elas se expressem. Peça a elas que deem exemplos de outros tipos de agrupamentos familiares. Também é importante realizar uma discussão sobre o respeito à homoafetividade, sobre a diversidade sexual e as relações de gênero, ressaltando

Avó, avô e neto. Foto de 2009. a importância do combate à homofobia. Para contribuir com sua formação, indicamos a leitura do seguinte artigo: Cláudia Vianna e Lula Ramires. A eloquência do silêncio: gênero e diversidade sexual nos conceitos de família veiculados por livros didáticos. Em: Tatiana Lionço e Debora Diniz. Homofobia & educação: um desafio ao silêncio. Brasília: Letras Livres/Editora UnB, 2009.

Theodora e seus pais, Vasco e Dourival — o primeiro casal de união homoafetiva a adotar uma criança no Brasil, em 2006.

Só você

4 Você acha que seria difícil viver sem os cuidados dos adultos que moram com você? Por quê? Resposta aberta. 5 Anote no caderno alguns dos cuidados que os adultos têm com você e que você considera importantes para o seu Professor(a): Estimule as crianças a pensar nos cuidados que os pais crescimento e desenvolvimento. ou responsáveis dispensam a elas, tanto em relação às condições

materiais quanto às emocionais (garantir uma boa alimentação, moradia, cuidados médicos quando estão doentes, etc.). Discuta isso da forma mais próxima possível do cotidiano familiar desuas crianças, propondo questões como: “Quem lava a sua roupa?”; “Quem faz a sua comida?”; “Quem ajuda você nas tarefas escolares?”, etc. Além de ser uma boa oportunidade para que as crianças valorizem suas relações familiares, essa atividade possibilita que você conheça um pouco mais sobre o universo familiar de seus alunos.

Em grupo

6 Há crianças, especialmente nos grandes centros urbanos, que não contam com nenhuma proteção ou ajuda de adultos. São crianças que, como Tico, vivem nas ruas. Por que será que elas vivem nessa situação? Quem vocês acham que deveria se responsabilizar por essas crianças? Resposta aberta.

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sessenta e cinco

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Professor(a): Nesta página os alunos podem conhecer e discutir alguns dos principais direitos das crianças, estabelecidos na Declaração dos Direitos da Criança. Faça uma leitura e uma discussão desses direitos, e depois retome essa questão para que eles reflitam que toda criança tem direitos básicos: mesmo as que não contam com a proteção da família têm o direito de serem protegidas pela sociedade e pelas autoridades públicas.

Declaração dos Direitos da Criança

Em nosso país existem leis para garantir proteção às crianças que não têm parentes ou outros adultos responsáveis por elas.

Professor(a): Sugestões de novas questões a serem discutidas em sala, a partir do texto da Declaração: “Você acha que conta com todos os direitos mencionados nesse documento?”; “Acha que algum não está sendo cumprido?”; “Pense nas crianças que vivem nas ruas. Você acha que esses direitos estão sendo respeitados no caso delas? Por quê?”.

Em dupla

1. Toda criança tem direito à igualdade, sem distinção de raça, religião ou nacionalidade. 2. Toda criança tem direito a especial proteção para o seu desenvolvimento físico, mental e social. 3. Toda criança tem direito a um nome e a uma nacionalidade. 4. Toda criança tem direito a alimentação, moradia e assistência médica adequadas para a criança e a mãe. 5. Toda criança tem direito à educação e a cuidados especiais para a criança física ou mentalmente deficiente. 6. Toda criança tem direito ao amor e à compreensão por parte dos pais e da sociedade. 7. Toda criança tem direito à educação gratuita e ao lazer infantil. 8. Toda criança tem direito a ser socorrida em primeiro lugar, em caso de catástrofes. 9. Toda criança tem direito a ser protegida contra o abandono e a exploração no trabalho. 10. Toda criança tem direito a crescer dentro de um espírito de solidariedade, compreensão, amizade e justiça entre os povos.

ILUSTRAÇÕES: ANDRÉ CEOLIN/ ARQUIVO DA EDITORA

7 Acompanhem atentamente seu(sua) professor(a) na leitura dos itens da Declaração dos Direitos da Criança.

Declaração dos Direitos da Criança, 20 de novembro de 1959. Assembleia Geral das Nações Unidas. Disponível em: <http://www.smartkids.com.br/especiais/dia-das-criancas-direitos.html>. Acesso em: 13 set. 2013. Professor(a): A resposta é aberta. Permita que as crianças se expressem. Refletir sobre os direitos que elas têm garantidos em leis/declarações/estatutos é um modo de exercitar a cidadania.

8 Vocês acham que nesse documento estão escritos todos os direitos que uma criança necessita? Falta algum? Qual? 66

Professor(a): Consulte o item 5 do CAP para desenvolver atividades com este documento. Veja o

sessenta e seis item “Direitos da criança e da família”, nas orientações complementares deste capítulo.

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Lugar de criança?

Professor(a): A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad 2012), divulgada em setembro de 2013, mostrou que o número de jovens entre 5 e 17 anos trabalhando sofreu redução: ao todo, no Brasil, contou-se 3 milhões e 518 mil trabalhadores, 156 mil a menos comparado à pesquisa do ano anterior.

*Professor(a): Esclareça às crianças que não ter recursos significa ‘não ter condições’, ‘não ter dinheiro’. Consulte no item 5 do CAP o item “Lugar de criança?”, nas orientações complementares deste capítulo.

Em grupo

PULSAR IMAGENS/GERSON GERLOFF

Há famílias, no Brasil e no mundo, que não têm recursos*para cuidar de seus filhos. Apesar de as leis do nosso país proibirem o trabalho infantil, em algumas regiões do Brasil existem crianças que precisam trabalhar para ajudar seus pais. Muitas vezes elas não conseguem estudar. Trabalho infantil em plantação de milho. Restinga Seca (RS), 2013.

9 Vocês conhecem a canção abaixo? Acompanhem a leitura do(a) Professor(a): Se possível, providencie a audição da canção e cante-a com as crianças. Acesse o site professor(a). <http://www.palavracantada.com.br>. (acesso em: 13 set. 2013). ILUSTRAÇÕES: ANDRÉ CEOLIN/ ARQUIVO DA EDITORA

Criança não trabalha Lápis, caderno, chiclete, pião Sol, bicicleta, skate, calção Esconderijo, avião, correria, tambor, gritaria, jardim, confusão Bola, pelúcia, merenda, crayon Banho de rio, banho de mar, pula-sela, bombom Tanque de areia, gnomo, sereia, pirata, baleia, manteiga no pão [...] Criança não trabalha Criança dá trabalho Criança não trabalha Paulo Tatit e Arnaldo Antunes. Criança não trabalha. Canções curiosas. São Paulo: Palavra Cantada/Eldorado, 1998. Professor(a): Retome a discussão sobre os cuidados que devem ser dispensados à criança pelos adultos para chegar à ideia de que criança dá trabalho, ou seja, deve receber cuidados e atenção, e não deve trabalhar. Arnaldo Antunes e Paulo Tatit fazem dessa canção uma declaração contra o trabalho infantil.

10 Expliquem o que vocês entendem dos versos “Criança não versos da letra da canção, as atividades trabalha / Criança dá trabalho”. Nos adequadas para a criança são brincar, se divertir e estudar.

11 E vocês, acham que criança deve trabalhar ou brincar? Resposta aberta. sessenta e sete

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CAPÍTULO

Famílias ao longo do tempo Professor(a): Você pode ordenar em uma linha do tempo os diferentes tipos de organização familiar descritos na crônica. Professor(a): Consulte no CAP o quadro de sugestões de trabalho com transversalidade e interdisciplinaridade deste capítulo, na seção Orientações específicas para este volume.

LEIO, OUÇO E APRENDO

Um Dia das Mães diferente

alBerto de SteFano/arquivo da editora

No dia seguinte, a professora Teresa entrou na classe, cumprimentou seus alunos e informou que o tema de sua aula seria a história das famílias. As crianças se lembraram da tristeza de Bianca e mostraram muito interesse pelo assunto. Mas Eduarda, muito surpresa, perguntou: — Ué, Teresa, as famílias têm história? Não foi sempre pai, mãe e filhos? — Não, Duda, nem sempre. E mesmo hoje em dia existem diferentes tipos de família. A da Bianca, por exemplo, é composta por ela, o pai e a avó. E, voltando-se para a classe, Teresa perguntou: — Turminha, vocês sabiam que entre os povos romanos, no tempo em que Jesus nasceu, há mais de dois mil anos, a criança só era reconhecida como filho se, ao nascer, o chefe da família a erguesse nos braços? E continuou falando: — Por outro lado, a adoção de crianças era uma coisa muito comum entre os romanos. Mais tarde, em alguns reinos do continente europeu, no tempo dos cavaleiros medievais,* era comum que os < PNLD-SP-HIS-EF2-U3-I102: Entra ilustração: ilustrar um homem do meninos que se tornariam cavaleiros quase tempo de Roma Antiga erguendo um bebê em seus braços.> sempre fossem educados longe de seus pais. — Nossa, Teresa, por que separar os filhos dos pais? — interrompeu Duda. 68

sessenta e oito *Professor(a): Apenas para viabilizar a representação dos dados sequencialmente, você pode datar esse “tempo

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dos cavaleiros medievais” por volta do ano 1000.

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— Pois é, Duda, os pais dos aprendizes de cavaleiros acreditavam que assim eles seriam mais fortes e mais corajosos. A valentia* dos guerreiros era muito valorizada. E a professora Teresa continuou: — Entre os nossos inúmeros povos indígenas, a organização da família também era e ainda é bastante diferente. Para alguns, por exemplo, os tios são considerados como pais. Mas uma coisa que os povos indígenas têm em comum é que nessas sociedades todo adulto é responsável pelas crianças que vivem na aldeia, mesmo que não sejam parentes de sangue. Nesse momento, Bianca levantou a mão e disse: — Então as crianças indígenas são muito amadas por eles, né, Teresa? — São sim, Bianca. Temos muito a aprender com os povos indígenas. O respeito às crianças entre esses povos é muito grande, o que é importante para que elas cresçam fortes e aprendam a ser solidárias também. Bom, gente, agora queria fazer uma proposta. — Que proposta, Teresa? — perguntou Duda. — É a seguinte: que tal se nós transformássemos o Dia das Mães no Dia da Família e fizéssemos um lanche coletivo para comemorar? Cada um pode trazer qualquer pessoa da família para a festa. E vamos preparar um lindo porta-retratos para dar de presente às pessoas que amamos, para que elas possam colocar a melhor foto que a família tem! Todos adoraram a ideia. Bianca abriu um lindo sorriso e disse: — Vou fazer um porta-retratos muito especial! Tão especial quanto o amor que tenho por minha avó e meu pai, e que recebo deles todos os dias. sessenta e nove

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alBerto de SteFano/arquivo da editora

*Professor(a): Explique às crianças o significado de valentia: ‘coragem’, ‘bravura’.

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Recife e Veneza no mundo talita KatHY Bora/arquivo da editora

Recife (PE), 2013. Há mais de 450 anos, Recife foi erguida na foz dos rios Capibaribe e Beberibe. A capital do estado de Pernambuco tem um carinhoso apelido. Você sabe que apelido é esse?

PulSar iMaGenS/ruBenS cHaveS

OBSERV O O MUNDO

Recife é conhecida como a Veneza americana ou a Veneza brasileira.

© WiKiMedia coMMonS/didier deScouenS

Organizado com base em: Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p. 34.

Veneza, Itália, 2013. Veneza é uma cidade italiana muito antiga, recortada por canais e pontes.

compare as fotos de recife e veneza e responda: você acha que as duas cidades são parecidas? que semelhanças e Recife é semelhante a Veneza diferenças você consegue notar entre elas? Professor(a): porque também é recortada por inúmeros

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canais e pontes, motivo pelo qual é chamada de Veneza brasileira. As diferenças mais visíveis são arquitetônicas. Veneza é mais antiga e preservou seus casarios; em Recife podemos observar a presença de edifícios modernos, mas a cidade setenta também possui construções antigas, que não aparecem na foto.

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ORGANIZO AS INFORMAÇÕES E APRENDO MAIS A história que você ouviu relata um pouco sobre famílias de antigamente e de hoje. Tanto no passado como atualmente há diferenças na forma de organização das famílias. E, possivelmente, no futuro, as famílias terão outros arranjos.

iluStraÇÕeS: alBerto de SteFano/arquivo da editora

Nos dias de hoje, no Brasil, as famílias podem ser formadas por um casal sem filhos ou por um casal e seus filhos. Podem ser formadas por mãe e filhos, por pai e filhos ou, ainda, por essas combinações mais parentes ou agregados.* A família de Duda, por exemplo, é formada por ela, pelo pai e pela mãe. Já a família de Bianca é formada por ela, pelo pai e pela avó.

*Professor(a): Explique às crianças o significado de agregados: ‘pessoas que vivem em

uma casa como se fossem da família, mesmo sem ter laços de sangue ou de parentesco’.

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setenta e um

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Diferentes famílias

iluStraÇÕeS: alBerto de SteFano/arquivo da editora

Você se lembra das personagens Marina e Bete, que apresentamos no início do livro? Observe como são formadas as famílias delas: Na casa de Marina moram ela e a mãe. Como os pais dela não se casaram, Marina vive com a mãe desde que nasceu; seu pai se casou com outra pessoa e eles tiveram duas filhas. Marina gosta muito de seu pai, da esposa dele e de suas irmãs. Seu pai a visita toda semana. Bete vive com o avô. A avó dela morreu antes do seu nascimento e a mãe de Bete foi morar no exterior há cinco anos. Bete sempre conversa com a mãe por telefone e pela internet. A pequena Bete adora o avô. É ele que a leva para a escola e a ajuda nas tarefas escolares. Quando Bete tem um problema, a primeira pessoa a quem procura e pede ajuda é o seu avô. *Professor(a): Esclareça às crianças que grau de parentesco é a relação que estabelecemos com outras pessoas

Só você

por vínculo de sangue, casamento ou adoção. Por exemplo: quando se casam, os noivos se tornam esposo e esposa, isto é, tornam-se parentes por afinidade, pelo casamento. Os filhos nascidos desse casal serão parentes de seus pais pelo vínculo de sangue, ou seja, serão filhos biológicos do casal.

1 e sua família, como é? desenhe no caderno todas as pessoas da sua família. depois, escreva ao lado delas o grau de parentesco*de cada uma em relação a você.

Professor(a): As respostas das atividades desta página são abertas. Aprecie os desenhos das crianças e ouça seus relatos. Este é mais um bom momento para conhecer seus alunos e compreender o contexto familiar e a realidade de cada um. Aborde com cuidado e

2 todas as pessoas que você desenhou moram com você, na mesma casa?

sensibilidade as diferenças entre as famílias em relação ao trabalho que seus membros desenvolvem, ao fato de uma ou mais pessoas da família estarem desempregadas, entre outras especificidades.

3 agora, reúna-se com alguns colegas e mostre a eles o seu desenho. Fale um pouco sobre cada pessoa da sua família. informe quais trabalham e o que fazem. diga também de que maneira elas se divertem, como são e como vivem. 72

setenta e dois

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m e

Famílias na História A professora Teresa explicou para a classe de Duda e Bianca que a maneira de as famílias se organizarem não foi sempre a mesma na História. Que o número de pessoas que viviam em uma mesma casa, o modo de educar os filhos, o relacionamento entre pais e filhos, etc. também variavam, ainda variam e possivelmente vão se transformar no futuro. Ela até trouxe algumas imagens para seus alunos observarem diferentes tipos de família do Brasil de antigamente. Vamos conhecer algumas delas? Em dupla

deBret, Jean-BaPtiSte. ca. 1820-1825. aquarela SoBre PaPel; 19,2 cM ✗ 24,5 cM. MuSeu caStro MaYa, rio de Janeiro.

4 observem a imagem abaixo. Um funcionário a passeio com sua família, obra do artista francês Jean-Baptiste Debret, que esteve no Brasil entre 1816 e 1831. Segundo Debret, essa imagem representa uma família rica, residente na cidade do Rio de Janeiro daquela época.

5 vocês repararam que todas as pessoas representadas nessa imagem estão andando em fila? Por que será que fazem isso?

Professor(a): Esclareça que, segundo testemunho de Debret, andar em fila era um costume das famílias da época quando saíam para passear.

6 quem vocês acham que é a primeira pessoa da fila? e as pessoas que Professor(a): O chefe da família abre passagem, seguido pela filha mais nova, depois a mais seguem atrás? velha, depois a esposa (que está grávida) e os empregados da casa: a criada do quarto da senhora, a ama de leite carregando o bebê da família, uma menina cativa, o criado do senhor e dois meninos escravizados. Os cativos que vêm na frente têm mais direitos do que os que seguem atrás.

7 como se vestem as pessoas retratadas na imagem? Há semelhanças e Professor(a): Estimule os alunos a observar as diferenças no vestuário: diferenças entre elas? quais? o senhor, sua esposa e filhas e a criada do quarto da senhora estão calçados; os demais cativos, não. Comente que usar calçados naquela época era privilégio de pessoas livres, libertos e apenas de cativos domésticos de famílias ricas.

8 Será que todas as pessoas da fila fazem parte da mesma família?

Professor(a): Da mesma família consanguínea, não. É preciso lembrar que, na família patriarcal, os cativos, que são ao mesmo tempo trabalhadores e bens pertencentes ao senhor de escravos, estão sob o domínio setenta e três e controle senhorial. Consulte no item 5 do CAP as orientações complementares deste capítulo.

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Só você

12. Professor(a): Estudos recentes na historiografia brasileira mostram que os africanos e seus descendentes lutaram muito para manter suas famílias unidas. Neste momento, ajude as crianças a perceber que os interesses conflitantes dessa relação entre senhores e cativos não impediram a constituição de famílias entre os cativos. Não era incomum, por exemplo, os escravizados dificultarem a venda de pessoas de uma mesma família, a fim de não desfazer laços familiares e afetivos, aumentando sensivelmente a indisciplina quando os senhores ignoravam esse fato.

ruGendaS, JoHann MoritZ. VIAGEM PITORESCA ATRAVÉS DO BRASIL. 1835. litoGraFia; 17,4 cM ✗ 27 cM. GravadoreS: l. deroY. caSa litoGrÁFica enGelMann, PariS.

9 agora, observe atentamente a imagem a seguir.

9. Professor(a): Estimule as crianças a observarem e descreverem a imagem. Veja orientações e comentários referentes a esta atividade no item 5 do CAP, nas orientações complementares deste capítulo.

Habitação de negros, do artista Johann Moritz Rugendas, nascido na Baviera, atual Alemanha, e que esteve no Brasil entre 1822 e 1825.

a) além da casa, que outros elementos foram representados? b) em sua opinião, quem são as pessoas que estão na frente da casa? o que elas estão fazendo?

Muitos povos foram trazidos forçadamente de vários lugares da África para diversas regiões da América. No nosso continente, os escravizados eram submetidos às ordens de seus donos, que podiam emprestá-los, alugá-los, vendê-los, doá-los, passá-los por herança. Nem sempre os senhores de escravos se preocupavam em manter as famílias de seus cativos unidas quando os vendiam. Esses momentos eram muito dolorosos para os escravizados, pois eles se viam ameaçados de serem separados de seus familiares e pessoas queridas. 10 Se você vivesse no Brasil no tempo em que rugendas fez essa imagem, e fosse dono de escravos, o que faria para não separar os membros de uma mesma família?

11. Professor(a): Esta atividade tem a mesma intenção da anterior: estabelecer uma empatia entre as crianças e os sujeitos históricos; no caso, com um cativo. Comente que a dor de um cativo africano, ao ser separado de seus familiares

11 e se você fosse um cativo ou uma cativa, como se sentiria ao ser entes queridos, nesse contexto, era separado ou separada de seus familiares? esemelhante à dor de ser capturado em seu lugar de origem e trazido para a América.

12 você acha que os cativos podiam fazer alguma coisa para evitar que fossem separados de seus familiares? de que maneira?

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10. Professor(a): A intenção da atividade é que as crianças estabeleçam uma empatia com os sujeitos históricos. Comente que muitos setenta e quatro senhores, preocupados em defender seus interesses, facilitavam o casamento entre negros e a manutenção de famílias cativas como estratégia para fixar os escravizados na fazenda e diminuir o risco de fugas e situações de conflito.

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Retratos das famílias no Brasil

Professor(a): Ao final deste capítulo, sugerimos que você e sua turma montem uma exposição com as fotografias, objetos e documentos escritos.

Agora você vai ser um(a) pesquisador(a)-mirim e vai contar parte da história da sua família. Reflita: Como você acha que podemos saber mais sobre a história de nossa família? Se conversarmos com nossos avós, pais e tios, poderemos recolher alguns depoimentos. Poderemos, ainda, examinar fotos, objetos antigos, cartas trocadas entre parentes e entre amigos e também certidões de nascimento, de batismo, de casamento, etc. Ao examinar esses documentos, fazendo boas perguntas a eles, estaremos reconstruindo uma parte da história das famílias no Brasil. Vamos experimentar? Só você edde WaGner/arquivo da editora

13 traga para a sala de aula fotografias de sua família, objetos antigos ou cópias de documentos. Se você trouxer fotografias, identifique-as escrevendo no caderno: Respostas abertas.

a) quem são as pessoas das fotos; b) quando essas fotos foram tiradas; c) que momento elas retratam.

Professor(a): Para estas atividades, veja orientações no item 5 do CAP.

14 Se você trouxer algum objeto, identifique-o, escrevendo no caderno: andre ceolin/arquivo da editora

Respostas abertas.

a) nome do objeto; b) para que serve; c) a quem pertenceu; d) data em que ele passou a pertencer à família.

15 Se você trouxer a cópia de algum documento escrito, identifique-o, escrevendo no caderno: Respostas abertas.

a) tipo de documento (carta, certidão de casamento, de batismo ou de nascimento); b) a quem pertenceu; c) data em que o documento foi emitido.

Agora, conte para todos o que você conseguiu descobrir sobre a história da sua família com base nesses documentos. setenta e cinco

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Professor(a): Os registros dos diagramas de genealogia que representam a linha de filiação dos indivíduos podem variar. A linha de filiação pode ser traçada em um diagrama simples, em que a ascendência é registrada à esquerda e os descendentes se ramificam à direita; pode-se representar a ascendência no topo do diagrama e os descendentes ramificados abaixo, etc. Optou-se, aqui, por traçar a ascendência nas raízes da árvore e os descendentes nos galhos, tornando, assim, o modelo de árvore genealógica de fácil entendimento para o aluno dessa faixa etária. Vale lembrar que árvores genealógicas são diferentes dos diagramas utilizados em estudos genéticos (heredogramas), nos quais se descreve a história familiar em termos de ascendência, descendência e incidência de determinada característica.

Bons frutos Só você

Renato e André

Marina

Júlia e Márcia

irmãos

irmãs

Marcos pai

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alBerto de SteFano/arquivo da editora

16 observe este modelo de árvore. copie-o em seu caderno sem preencher os nomes, e, com a ajuda de seus familiares ou responsáveis, escreva o nome das pessoas da sua família.

Cláudia mãe

Rubens

Irene

Antônio

Maria

avô paterno

avó paterna

avô materno

avó materna

José

Marta

Jorge

Manuela

Joaquim

Rose

Marcelo

Marcelina

bisavô paterno

bisavó paterna

bisavô paterno

bisavó paterna

bisavô materno

bisavó materna

bisavô materno

bisavó materna

setenta e seis

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Professor(a): Como já foi ressaltado neste volume, algumas crianças podem não conhecer a ascendência paterna ou a materna. Esteja atento(a) para tratar as singularidades entre os arranjos familiares sem juízo de valor. Se as crianças não tiverem todos os dados para fazer a árvore genealógica, valorize as informações que conseguirem.

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andre ceolin/arquivo da editora

A árvore da sua família, que você montou no caderno, é chamada de árvore genealógica.* Ela permite conhecer os antepassados de uma pessoa. Na árvore que você fez, estão os seus antepassados. Você construiu uma árvore que mostra as suas origens. Agora, que tal montar, com a ajuda de seu(sua) professor(a), uma exposição com as fotos, as cópias dos documentos e os objetos das famílias da sua classe? Se você quiser, poderá passar a limpo a árvore da sua família em uma folha de cartolina e colocá-la na exposição também. Escolha com seus amigos e amigas um título para essa exposição.

Ah! E não se esqueça de fazer alguns convites e distribuí-los a seus familiares para que eles visitem a exposição. Além disso, tome muito cuidado para não danificar nem perder as fotos e os objetos que você trouxer para essa exposição. Eles são registros de sua história e devem ser manuseados e guardados com muito cuidado.

*Professor(a): Explique às crianças que árvore genealógica é um diagrama que representa a origem de um indivíduo ou de uma família, mostrando as ramificações entre os ancestrais e os descendentes como se fosse setenta e sete uma árvore: na “raiz”, indicam-se as origens, os ancestrais; nos “galhos”, os descendentes.

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CAPÍTULO

8

Registro, logo existo! Professor(a): Consulte no CAP o quadro de sugestões de trabalho com transversalidade e interdisciplinaridade do Capítulo 8, nas Orientações específicas para este volume.

*Professor(a): Esclareça às crianças que idioma é a língua

falada, é o conjunto de palavras e expressões usadas por um povo, por uma nação, e que a tradição de um povo são os conhecimentos, costumes, hábitos, etc. desse povo, passados de pais para filhos.

LEIO, OUÇO E APRENDO

Sou um Guarani-Mbya. Guarani significa ‘guerreiro, lutador’, e Mbya quer dizer ‘gente’. Quando, em 1500, os portugueses chegaram às terras que hoje formam o Brasil, passaram a chamar o meu povo, os Guarani, e todos os povos que moravam aqui de “índios”. Mas nós não nos chamamos assim. No idioma* do meu povo nos chamamos de nhande va’e, que em português significa ‘ser humano’. Na minha língua, o nome de todas as coisas e pessoas tem significado. Por exemplo: meu pai quer que eu seja veloz, enxergue e ouça bem, que eu conheça a direção dos ventos e reconheça os cheiros da terra. Meu pai deseja que eu seja um bom caçador e pescador, que eu mantenha a tradição* do meu povo. Então, me deu o nome de Taguató-Mirim, que significa ‘gavião pequeno’. Esse pássaro é veloz, enxerga longe e é certeiro em seus movimentos. Quem não é indígena traz, além do próprio nome, o sobrenome da família do pai e, às vezes, o da família da mãe. Mas nós carregamos o nome do nosso povo junto ao nosso nome. O povo Tembé, por exemplo, que vive no Pará, usa o nome Tembé como sobrenome: Muruiru Tembé é o chefe da aldeia, e seus filhos se chamam Sérgio Tembé, Cíntia Tembé e Celina Tembé. Na escola da aldeia dos Tembé, as crianças aprendem a língua portuguesa e a língua tembé. Na minha aldeia, aqui em Tekoa Sapukai, também é assim. 78

setenta e oito

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ALBERTO DE STEFANO/ARQUIVO DA EDITORA

A história do meu povo também é a sua história

Professor(a): Explique que dar nomes cheios de significado às crianças é um costume bem antigo, que os inúmeros povos indígenas já tinham antes de os portugueses chegarem às terras da América. Hoje, muitos deles têm nomes cristãos e também conservam os nomes indígenas.

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ILUSTRAÇÕES: ALBERTO DE STEFANO/ARQUIVO DA EDITORA

Eu me esforço para aprender todas as técnicas e me tornar um bom caçador. Mas também estudo muito para aprender tudo o que posso sobre o meu povo e ouço as histórias das pessoas mais velhas. Além disso, vou à escola da minha aldeia, onde aprendo a escrever na minha língua e em português. Antes de existirem as escolas nas aldeias, eram os velhos que guardavam todo o mistério da vida, ensinando a plantar, curar as doenças, fazer chuva, proteger-se do inimigo, pescar, caçar, cantar nossos cânticos sagrados. Mas, principalmente, eles sabiam a história dos deuses e dos nossos antepassados. Na minha aldeia, as crianças são bastante respeitadas, pois nós é que continuaremos os costumes do nosso povo, evitando o esquecimento e a morte de nossas tradições. Nossas mães, nossos pais, tios e avós cuidam de nós desde quando nascemos. Nós, crianças, costumamos fazer as coisas sempre juntas: brincar, comer, aprender e ajudar os adultos. As crianças mais velhas nos ensinam e também cuidam de nós. E, quando a gente crescer, nós é que cuidaremos das mais novas.

setenta e nove

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OBSERV O O MUNDO *Professor(a): Auxilie as crianças na leitura do texto desta seção, para que compreendam o conceito de tronco linguístico. Explique-lhes que é a principal língua, uma língua que estrutura outras línguas criadas com base nesse tronco. Por exemplo: o tronco Tupi deu origem a uma série de idiomas indígenas, como as línguas faladas pelos povos Araweté (PA), Guarani (SP), Assurini (PA), Avá-Canoeiro (TO/GO), etc.

1 Você sabia que os povos europeus utilizaram caravelas para chegar até o nosso continente, a América? Resposta aberta.

2. Professor(a): Taguató se refere aos portugueses. Mas esse “apelido” foi dado por Cristóvão Colombo quando, em 1492, ele e outros navegadores, ao aportarem em nosso continente, acreditaram ter desembarcado em Catai

Caravelas. Imagem feita em 1923.

FABIO COLOMBINI/ACERVO DO FOTÓGRAFO

GAMEIRO, ROQUE. REPRESENTAÇÃO DE CARAVELAS. 1923. ILUSTRAÇÃO. LITOGRAFIA. BIBLIOTECA DA CASA DE PORTUGAL, LISBOA.

2 Segundo Taguató-Mirim, quem começou a chamar de “índios” os habitantes das terras que hoje formam o Brasil?

Crianças do povo Guarani-Mbya, pertencentes ao tronco linguístico* Tupi. São Paulo (SP), 2011.

Tupi e Macro-Jê são troncos linguísticos atualmente conhecidos pelos especialistas que estudam as línguas indígenas. Esses troncos são como os troncos de árvores cheias de galhos. Só que os “galhos” de troncos linguísticos deram origem a muitas famílias de línguas indígenas. No ano de 1500, quando os portugueses chegaram às terras que hoje correspondem ao Brasil, havia cerca de 900 povos indígenas, diferentes entre si, que falavam cerca de 1 300 línguas. Não se sabe ao certo o total da população indígena que vivia próxima ao mar e no interior desse território em 1500. Os estudiosos da história indígena calculam entre 3 milhões e 10 milhões de pessoas. (Japão), ou seja, no continente asiático, que naquela época era genericamente designado por “Índias”. Por isso, chamaram os habitantes que encontraram de “índios”, e até hoje os povos nativos do continente americano são conhecidos assim.

3 Você sabe qual é o total da população indígena que vive hoje no Brasil? 80

oitenta

No Brasil de hoje existem cerca de 817 mil indígenas. Professor(a): Você pode encontrar essa informação no site <http://www.funai.gov.br> (acesso em: 17 set. 2013). Se possível, faça a pesquisa com os alunos.

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5. Professor(a): A resposta é aberta. A atividade pretende estimular a empatia, no caso, propondo às crianças que se coloquem no lugar dos habitantes que viviam na região quando os portugueses aí chegaram. Segundo algumas fontes, quando os portugueses chegaram à região que hoje corresponde a Angra dos Reis, em 1502, ela já era habitada pelo povo Goianase. Veja orientações no item 5 do CAP. OPÇÃO BRASIL IMAGENS/ROBERTO AGÁPIO

Angra dos Reis é uma belíssima cidade do litoral do estado do Rio de Janeiro. Lá há 365 ilhas, uma para cada dia do ano! A maior delas é a Ilha Grande. A palavra angra significa ‘enseada’, ‘porto pequeno’. Angra dos Reis (RJ), 2009.

Região onde fica a aldeia Tekoa Sapukai CARTOGRAFIA: TALITA KATHY BORA/ARQUIVO DA EDITORA

A cidade de Angra dos Reis no Brasil

Organizado com base em: Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p. 173. Organizado com base em: Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p. 90.

Os portugueses chegaram à região que hoje corresponde à cidade de Angra dos Reis no ano de 1502. Hoje, aí, há uma aldeia Guarani chamada Tekoa Sapukai. 4 Você sabe por que Angra dos Reis tem esse nome? 5 Se você fosse morador(a) desse lugar em 1502, como se sentiria se estranhos chegassem e dessem outro nome a ele? Explique. 4. Professor(a): A cidade foi batizada pelos portugueses com o nome de Angra dos Reis porque, segundo algumas fontes, eles chegaram à região em 6 de janeiro, data em que os católicos comemoram o dia dos Reis Magos. Consulte o quadro de interdisciplinaridade deste capítulo no item 5 do CAP.

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oitenta e um

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5. Professor(a): Porque para os povos indígenas, em geral, os idosos têm sabedoria e guardam a memória do grupo. Auxilie as crianças a recuperarem na crônica o trecho “antes de existirem as escolas nas aldeias, eram os velhos que [...] sabiam a história dos deuses e dos nossos antepassados.”. Leve-as a perceber que nas culturas tradicionais as pessoas idosas são valorizadas, atitude nem sempre presente na cultura ocidental, que valoriza o mercado, a produtividade, a beleza física, a juventude, etc., e não raro encara o idoso como “fardo” para a população economicamente ativa.

ORGANIZO AS INFORMAÇÕES E APRENDO MAIS

Taguató-Mirim tem orgulho do nome que lhe foi dado. Ele sabe por que recebeu esse nome e o que ele significa. Todos juntos

Professor(a): Simplificamos os nomes dos animais a fim de viabilizar a atividade. Se você achar conveniente, identifique-os corretamente para os alunos: arara-vermelha-grande; gavião-pombo-grande; papagaio-moleiro.

Arara. Foto de 2008.

Gavião. Foto de 2013.

FABIO COLOMBINI/ACERVO DO FOTÓGRAFO

© CREATIVE COMMONS/FLICKR/MIRIAM CARDOSO DE SOUZA

© CREATIVE COMMONS/FLICKR/MARCOS BARCIA

1 Escolham, entre as fotos abaixo, o animal no qual o pai de Taguató-Mirim se inspirou para escolher o nome do filho.

Papagaio. Foto de 2012.

2 Por que Taguató-Mirim recebeu esse nome? Professor(a): Auxilie as crianças a encontrarem o trecho da crônica em que Taguató explica porque recebeu esse nome e o significado dele. O nome foi dado pelo pai, que desejava que o menino tivesse as características da ave (gavião).

Só você 3 E quanto ao seu nome, você sabe o significado dele? Se souber, Resposta aberta. Professor(a): Na atividade 3, é esperado que as crianças anote-o aqui. saibam um pouco da história do próprio nome com base nas pesquisas realizadas na Unidade 1, página 29.

4 Por que Taguató-Mirim acha importante ouvir as histórias das pessoas mais velhas da aldeia? 5 E quanto a você, também acha importante ouvir as histórias das pessoas mais velhas? Por quê? Professor(a): Para esta atividade, veja orientações no item 5 do CAP.

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oitenta e dois

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Fontes do tempo Os povos indígenas, primeiros habitantes do território que hoje é o Brasil, não conheciam a escrita e não deixaram nenhum documento escrito contando a história deles e dos lugares em que viviam. Para que hoje possamos conhecer parte dessa história, temos de recorrer a diversos tipos de registro ou fonte. Em grupo 6 Leiam o poema abaixo e descubram que tipos de fonte podemos pesquisar para conhecer parte da história desses povos. ANDRÉ CEOLIN/ARQUIVO DA EDITORA

Fontes da História Fonte de água mata a sede de plantas, das pessoas, dos andarilhos* no deserto. Mas a fonte do historiador é outra: serve para matar a sede de saber sobre uma época em que não viveu, para compreender o tempo em que vive. O historiador é feito um detetive. Investiga tudo o que a humanidade fez: vaso, lenda, vestimenta, família, casa, prisão, escola, igreja, um cocar, uma pintura, tristezas e alegrias escritas num poema de amor. O historiador quer reconstruir uma determinada época, recuperando testemunhos, memórias, para entender o seu próprio tempo, a sua própria história.

*Professor(a): Explique às crianças o significado de

andarilhos (no contexto, pessoas que andam muito, percorrem muitas terras, sem destino certo).

Poema escrito pela autora. Professor(a): Para esta atividade, veja orientações no item 5 do CAP.

7 Segundo o poema, de que maneira o historiador age para investigar e descobrir a história dos povos que não deixaram documentos escritos?

Professor(a): Discuta com as crianças a possibilidade de investigar o passado dessas sociedades utilizando as pistas fornecidas pela sua cultura material: artefatos de uso cotidiano ou sagrado produzidos por essas sociedades, como cerâmicas, cestos, oitenta e três instrumentos musicais, vestimentas, etc. Conte alguma lenda indígena e aprecie, se possível, músicas indígenas com as crianças.

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Minha língua é minha pátria

Professor(a): O título é alusivo a um verso da canção “Língua”, de Caetano veloso.

GUARANI-MBYA.

ALBERTO DE STEFANO/ARQUIVO DA EDITORA

A aldeia Tekoa Sapukai fica distante do centro da cidade de Angra dos Reis. O povo de Taguató-Mirim lutou muito para conseguir a criação de uma escola na aldeia e para que suas crianças aprendessem a ler e a escrever tanto em guarani-mbya, a língua do seu povo, quanto na língua portuguesa.

Em dupla 8 Por que é importante para Taguató-Mirim aprender a ler e a escrever em sua língua? Professor(a): Para preservar sua cultura e manter suas tradições. 9 Na opinião de vocês, ao aprender a língua portuguesa, Taguató-Mirim deixará de ser uma criança guarani? Para estas atividades, veja orientações no item 5 do CAP. 10 Vocês lembram o que significa a palavra Mbya? Procurem na história contada por Taguató-Mirim o significado dessa palavra e anotem-no aqui. Professor(a): A palavra mbya significa ‘gente’.

11 Vocês conhecem outras palavras de origem indígena? Sabem o significado delas?

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11. Professor(a): Se achar conveniente, você pode selecionar palavras da língua portuguesa com origem indígena, como jacaré, tatu, pipoca, oitenta e quatro etc., para a confecção de um pequeno glossário. Veja mais sugestões para desenvolver esta atividade no item 5 do CAP, associadas ao trabalho com a letra da canção “Tu Tu Tu Tupi”, de Hélio Ziskind, nas orientações complementares deste capítulo.

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12. Professor(a): A resposta é aberta. O importante nesta atividade é que as crianças reflitam sobre o conteúdo do testemunho. Fique atento(a) às justificativas dadas pelos alunos, pois elas servem de diagnóstico para você avaliar quanto as crianças se aproximam da principal discussão tratada no capítulo: identidade, ideia de pertencimento a determinado grupo étnico-cultural.

Em grupo

12 Leiam um trecho do depoimento de Karai-Mirim, indígena da nação Guarani, que lecionou até 1997 na aldeia Morro da Saudade, em Parelheiros, na cidade de São Paulo. O índio que fala bem o português sempre encontra aquele crítico que fala: “ah, é mais branco do que eu” [...] Não é pelo fato de alguém aprender uma cultura oposta que ele vai deixar de ser índio, se não o italiano deixaria de ser italiano por aprender a língua francesa. Depoimento de Karai-Mirim. Em: Julio Assis Simões e Laura Antunes Maciel (Coord.). Pátria amada esquartejada. São Paulo: Departamento do Patrimônio Histórico, 1992. p. 134-135.

O que vocês acharam do depoimento de Karai-Mirim? Vocês concordam com ele? Expliquem.

GUILHERME RANGEL/ADIRP. REPRODUÇÃO DO LIVRO: ÍNDIOS NO BRASIL. LUÍS DONISETE BENZI GRUPIONI (ORG.). SÃO PAULO: GLOBAL, 1998. P. 161.

Os atuais povos indígenas têm o direito de aprender a ler e a escrever na língua de seu povo e na língua portuguesa. Professor(a): Informe às crianças que em nosso país há um documento chamado Constituição, com os direitos e deveres de todos os cidadãos brasileiros, e que a foto foi tirada na época em que esse documento estava sendo escrito, discutido e votado.

Na foto você pode ver três Kayapó. Um deles está lendo um dos projetos de Constituição do Brasil. Brasília (DF), 1988.

13 Vocês já ouviram falar em Constituição? O que ela representa? 14 Por que vocês acham que um dos Kayapó está examinando o Para saber o que estava sendo discutido projeto de Constituição? Professor(a): a respeito dos direitos dos indígenas, pois eram projetos que,

Para os povos indígenas no Brasil, ler e escrever em língua portuguesa é a garantia que eles têm de defender seus direitos. Para esses povos, aprender a ler e a escrever na língua de seu povo é uma questão de respeito à memória de seus antepassados.

depois de discutidos e aprovados, se transformariam na Lei maior do nosso país, e também para poder se informar e lutar pelos oitenta e cinco direitos de seu povo na época em que esse documento estava sendo escrito.

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