CAPÍTULO
5
POVOAMENTO E CONQUISTA DO SUL
Veja o Manual, item 21.
Desde a chegada dos primeiros europeus, as terras do atual Paraná passaram a ser percorridas por aventureiros e por estrangeiros, que, em busca de riquezas, abriam caminhos e picadas pelas matas e estabeleciam contato com os indígenas. Em meados do século XVII, chegaram ao estado exploradores procedentes das capitanias de São Vicente e Cananeia, interessados nas jazidas de ouro que acreditavam existir nas proximidades da atual cidade de Paranaguá. Eles mantiveram contato com os indígenas, que nem sempre eram amigáveis, porque, além da busca pelo ouro, os portugueses invadiam as aldeias, aprisionavam os indígenas e os obrigavam a seguir em direção à região que hoje é conhecida como São Paulo. Nas terras paulistas, os indígenas eram forçados a trabalhar nas plantações de trigo e nos engenhos de açúcar. Alguns deles eram vendidos como escravos para outros proprietários de terras, o que dava muito lucro aos portugueses.
Picada: atalho estreito aberto na mata com o auxílio de facão.
No mapa do Brasil, mostre aos alunos onde se instalaram os portugueses no Sul, na busca pelo ouro. Mostre, com setas, a saída dos paulistas de São Vicente em direção ao litoral do atual Paraná. Apresente também imagens das cidades litorâneas, onde começou a marcha da ocupação portuguesa nesse território. Comente que alguns indígenas se aliaram aos portugueses e atuavam afastando os outros indígenas das regiões próximas das terras de cultivo e exploração. Geralmente, matavam os homens que não se deixavam escravizar e aprisionavam as mulheres e as crianças, como mostra esta pintura de Debret. Litografia aquarelada, color, 21 cm x 32,5 cm. Coleção Newton Carneiro.
Reúna-se com seus colegas e troquem ideias sobre o que vocês conseguem observar na pintura de Debret. Apresentem oralmente suas ideias à classe.
Muitos indígenas foram aprisionados para serem vendidos e empregados na condição de escravos pelos colonizadores. Família Guarani aprisionada por escravistas, de Jean-Baptiste Debret, 1830.
Jean-Baptiste Debret: pintor francês, chegou ao Brasil no início do século XIX e retratou várias cenas do cotidiano da sociedade da época. Muitas dessas cenas já aconteciam havia muitos anos, como a apreensão de indígenas. 56
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Paranaguá, de Jean-Baptiste Debret, 1827.
Aquarela, 10 cm x 36 cm. Fundação Castro Maya, Rio de Janeiro/ Acervo Bibioteca Nacional, Rio de Janeiro.
Ainda no século XVII, os portugueses encontraram ouro na região do litoral paranaense e ali se fixaram para explorá-lo, dando origem aos primeiros povoados. Entre eles, estava Paranaguá, que passou a ocupar um lugar de destaque porque atraiu muitas pessoas em busca de ouro. Esse crescimento levou à criação da Vila de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá, em 29 de julho de 1648.
Pelo Porto de Paranaguá, chegavam ao território paranaense mercadorias que atendiam às necessidades dos moradores e que não eram produzidas no local.
Nesse mesmo ano, realizou-se a eleição dos vereadores entre os “homens bons” para a formação da futura Câmara Municipal. Isso significava que as autoridades deveriam seguir as ordens do rei: explorar as riquezas, criar cidades, controlar a população indígena, ou seja, cumprir o acordo de colonizar as novas terras, entre outras. Com a descoberta do ouro em Paranaguá, o rei mandou instalar uma casa de fundição para criar barras desse metal. Além disso, ordenou que houvesse um serviço para controlar a exploração do ouro e evitar que estrangeiros invadissem a região e roubassem as riquezas. Assim, foi criada a chamada Provedoria dos Impostos Procedentes das Minas, que era uma casa onde os funcionários trabalhavam na arrecadação da exploração do minério. Casa de fundição: oficina onde se derEntre as pessoas de confiança do rei, en- retia o ouro e se formavam as barras. contravam-se também os povoadores mais antigos da região, com destaque para Gabriel de Lara, Eleodoro Ébano Pereira, Mateus Leme e Baltazar Carrasco dos Reis. Eles também deram início ao povoamento do planalto, fundando outras vilas.
Fundação de Curitiba Do litoral, o povoamento foi se estendendo para a Serra do Mar, atingindo os campos da região onde, mais tarde, seria fundada a cidade de Curitiba. Também havia exploradores que chegaram ao litoral em embarcações marítimas e subiram a Serra do Mar em direção aos povoamentos que se estabeleciam. Naquela época, demorava-se muito tempo para completar o trajeto entre o litoral e o planalto, pois não havia estradas pavimentadas como hoje. Se você quiser conhecer um antigo caminho utilizado por esses exploradores, poderá seguir pela Estrada da Graciosa, que ainda conserva os contornos dos primeiros tempos. 57
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No ano de 1668, os exploradores tomaram posse da região onde hoje se localiza a cidade de Curitiba e mandaram erguer o Pelourinho, como símbolo da justiça. Esse núcleo inicial de povoamento contava com algumas famílias proprietárias de terras nas regiões banhadas pelos rios Atuba e Barigui.
Pelourinho: coluna de pedra que simbolizava a justiça. Era colocada no meio de uma praça, aonde eram levadas as pessoas que cometiam crimes e desordens, para serem julgadas.
Em 29 de março de 1693, 25 anos mais tarde, a pedido dos moradores, que desejavam maior fiscalização da justiça e da segurança, Curitiba foi elevada à categoria de vila, com o nome de Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Nessa ocasião, foi instalada a Câmara Municipal para cuidar das leis e manter a ordem. Gabriel de Lara, um dos descobridores das minas de ouro da região, recebeu a função de capitão-mor (encarregado da defesa da terra) e de ouvidor-mor (encarregado da justiça). Com esses poderes, ele podia distribuir terras às pessoas que desejassem trabalhar a serviço do rei de Portugal e autorizar a construção de casas e igrejas, a abertura de ruas e o funcionamento do comércio. Incentive os alunos a fazer a leitura da imagem.
Encontro entre indígenas e portugueses nas terras da atual cidade de Curitiba.
Fundação de Curitiba, de Theodoro de Bona, 1948. Óleo sobre tela, 260 cm x 500 cm. Colégio Estadual do Paraná, Curitiba.
Observe atentamente a obra do pintor Theodoro de Bona.
Leve-os a perceber as ideias que os autores desejaram que se tornassem conhecidas, por exemplo, o mito da fundação de Curitiba e a docilidade dos indígenas. Problematize as relações que se estabeleceram entre portugueses e indígenas.
Theodoro de Bona: nasceu em Morretes, em 1904, estudou em Curitiba e frequentou o ateliê de Alfredo Andersen. Participou de cursos de pintura no exterior e de várias exposições. Dedicou-se a retratar as diversas paisagens do Paraná. Morreu em 1990. É considerado um dos grandes representantes da pintura paisagística paranaense.
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O que mais chama sua atenção nessa tela?
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Como o artista caracterizou a região e as pessoas que nela residiam? A região era formada por campos onde viviam povos indígenas.
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Como você representaria o encontro entre os indígenas e os portugueses que vieram em busca de riquezas nas terras do atual estado do Paraná?
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Faça um desenho e mostre-o a seus colegas, explicando o que ele representa.
Pesquise, na biblioteca da sua escola ou na internet, lendas sobre a história da fundação de Curitiba. Leve sua pesquisa para a sala de aula e, com seus colegas, compare os conhecimentos obtidos com a cena retratada pelo pintor Theodoro de Bona. Registre no caderno a conclusão a que vocês chegarem.
Eleodoro Ébano Pereira foi indicado para ser o administrador das minas de ouro de Paranaguá pelas autoridades portuguesas. Por isso, continuou a busca das minas e acabou encontrando também algumas amostras de ouro nos arredores de Curitiba. Esse fato atraiu pessoas para o povoamento da região. No entanto, os mineradores não ficaram satisfeitos, pois encontraram pouca quantidade de ouro em Paranaguá e nas imediações de Curitiba. Por esse motivo, muitos deles seguiram para outras terras, atraídos pelas notícias de que, na região central do Brasil – hoje Minas Gerais e Goiás –, havia ouro em abundância. Em Curitiba e Paranaguá, permaneceram somente os proprietários de pequenos sítios, roças e chácaras. Eles criavam gado e plantavam alimentos necessários ao seu dia a dia. No litoral, cultivavam, principalmente, arroz e mandioca e, em Curitiba, plantavam milho, feijão, mandioca e trigo. Outros produtos eram comprados no porto que havia em Paranaguá.
Acervo Casa da Memória, Curitiba
Até 1853, a região que hoje constitui o estado do Paraná era administrada por São Paulo, o que não agradava os moradores. Até 1870, Curitiba era uma cidade modesta, com poucas construções e um pequeno número de habitantes.
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CAPÍTULO
6
CRIAÇÃO DE GADO: UM BOM COMEÇO
Veja o Manual, itens 22 a 24.
Viajando pelo Paraná, as pessoas podem apreciar os campos e também as matas onde se destacam as araucárias como espécies nativas da região. Você já conhece essas paisagens? E no lugar onde você vive, como é a paisagem? O que mais chama atenção nos arredores de sua casa?
Represente com desenho uma paisagem do lugar onde você mora. Mostre-o a seus colegas e explique o seu significado.
A natureza paranaense foi retratada por vários pintores nacionais e estrangeiros. Amplo horizonte (Campos - Palmeira), de Theodoro de Bona, 1969. Óleo sobre tela, 130 cm x 170 cm. Coleção Vilson Deconto.
Observe, por exemplo, como Theodoro de Bona representou os campos do Paraná.
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A araucária é uma árvore nativa encontrada no Sul do Brasil, principalmente no Paraná. Os antigos povos indígenas já apreciavam o pinhão, produzido por essa árvore.
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Os campos paranaenses, com boas pastagens, contribuíram para o crescimento da criação de gado, trazido ao Brasil pelos portugueses ainda no século XVI. Além de auxiliar nos trabalhos do engenho, era usado como meio de transporte e fornecia carne, couro e leite às pessoas.
Criando gado
Apresente informações que levem os alunos a refletir e compreender os conceitos referentes ao assunto: campos gerais, tropeiros, invernada, vilas e arraiais.
Assim como em outros lugares do Brasil, nas atuais terras paranaenses, o gado também teve um papel muito importante para o desenvolvimento da região. Iniciada a partir do século XVII nos campos de Curitiba, a criação de gado se expandiu para outros lugares e ocupou, principalmente, a região chamada de Campos Gerais, destacando-se nas cidades de Ponta Grossa, Castro e, depois, Guarapuava.
Campos Gerais: estreita faixa de terras, no segundo planalto paranaense, formada de campos e de pequenos bosques de mata, que se estende de Jaguariaíva até a margem direita do Rio Negro, passando pela Lapa.
Com o passar do tempo, a criação de gado foi se firmando como uma atividade lucrativa para os proprietários das fazendas. Seu desenvolvimento ocorreu, principalmente, a partir de 1693, quando os criadores de gado passaram a abastecer os mineradores que encontraram ouro no lugar onde hoje se localiza o estado de Minas Gerais.
Nesta imagem, Rugendas mostra como era o trabalho na mineração naquela época.
O trabalho nas minas de ouro era perigoso por causa da umidade, dos insetos e do deslocamento de terras e rochas; às vezes, ocorriam desabamentos que soterravam trabalhadores.
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Lavagem do ouro (Itacolomi), de Johann Moritz Rugendas, 1835. Litografia.
À medida que novas jazidas eram descobertas naquela região mineradora, um número cada vez maior de exploradores se instalava por lá em busca de ouro. Como se dedicavam completamente ao trabalho nas minas, os mineradores não tinham tempo para outra atividade: não criavam animais nem plantavam; só procuravam ouro.
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Na imagem, quem são as pessoas que estão trabalhando?
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Produza, em seu caderno, um comentário sobre o trabalho realizado pelas pesas difíceis condições de trabalho a que eram submetidos soas que se ocupavam da mineração. Destaque os escravos na região mineira.
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Em seguida, leia o seu texto para a turma.
Os escravos.
Essa concentração de pessoas ocupadas apenas com a busca de ouro provocou a falta de alimentos. Para sobreviver e evitar a fome, elas passaram a consumir alimentos (carne-seca, farinha e milho) que chegavam de outros locais, no lombo de mulas conduzidas por tropeiros. Os criadores de gado das terras do atual estado do Paraná passaram, então, também a fornecer carne e outros alimentos aos moradores das minas. Eles reuniam os animais em boiadas, que se dirigiam para a região mineira. Com isso, tinham boas vendas e podiam investir os lucros na compra e na criação de muitos animais.
O tropeirismo cresceu nas terras do atual Paraná Tropeiro: condutor de tropa de animais, que geralmente anda montado em um cavalo. Invernada: pastagens cercadas e reservadas para o descanso do gado. No Rio Grande do Sul, é o nome também da época do ano reservada para a engorda de novilhos.
Dessa maneira, além de aumentar a criação de animais para vender nas feiras, os proprietários de gado passaram a alugar seus campos, currais e fazendas para os tropeiros que vinham do Sul. Esse sistema ficou conhecido como invernada e consistia em aliviar o cansaço dos animais, deixando-os engordar e se recuperar do desgaste das viagens. O deslocamento dos animais a longas distâncias provocava a perda do peso e até a morte de parte do rebanho pelo caminho. Do Rio Grande do Sul a São Paulo, os tropeiros conduziam mulas com mercadorias para serem vendidas nas feiras. Os caminhos eram difíceis e perigosos.
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Litografia. Coleção Marqueses de Bonneval.
Os tropeiros saíam do Sul do Brasil em direção à zona da mineração. Eles faziam uma longa viagem, passando por terras do atual estado do Paraná, e, depois, seguiam para as feiras de Sorocaba, em São Paulo. De lá, o gado era revendido para a região mineira.
Limite da Província de São Paulo e Curitiba, de Jean-Baptiste Debret, 1827.
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Outra prática dos condutores de gado para vencer o cansaço era parar para dormir a cada dia de viagem, dando origem a lugares semelhantes a acampamentos, que ficaram conhecidos como arraiais. Esses arraiais foram crescendo com o movimento de tropeiros com suas boiadas. Assim surgiram as vilas, com um pequeno comércio para atender às necessidades dos viajantes. Com o passar do tempo, essas vilas foram se desenvolvendo e se tornaram cidades.
Arraial: povoação, por vezes temporária, erguida para atender principalmente às necessidades de exploração do ouro.
Vila: núcleo urbano formado por habitantes que se reuniam para realizar algumas atividades, por exemplo, agricultura, comércio e prestação de serviços. A fundação das vilas ajudava no controle da população, e o crescimento delas exigia a instalação da Câmara Municipal, formada pelos homens bons. A primeira vila criada no Brasil foi São Vicente, em São Paulo, em 1532.
Observe o roteiro do gado, acompanhando com o dedo o caminho que os animais percorriam desde a saída da cidade de Viamão, no Rio Grande do Sul, passando por Santa Catarina e também pelas terras do atual Paraná, até as feiras de Sorocaba, em São Paulo.
Luciano Daniel Tulio/Arquivo da editora
Caminho de Viamão a Sorocaba
Fonte: BAPTISTA, Vera Maria Bicaia Viana. Curitibanos dos Campos Gerais. Curitiba: Fundação Cultural, 2002. Adaptação.
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Consulte o mapa e escreva no caderno os nomes das cidades que surgiram na região do roteiro do gado, no caminho que ficou conhecido como Caminho do Viamão. Viamão, Vacaria, Lages, Curitibanos, Rio Negro, Lapa, Palmeira, Ponta Grossa, Castro, Jaguariaíva.
Cortando as terras do atual estado do Paraná, além do Caminho do Viamão, havia outros caminhos muito mais antigos, como o Caminho do Peabiru, que ligava o leste com o oeste das atuais terras paranaenses; o Caminho da Graciosa, possivelmente aberto pelos indígenas, que ligava Curitiba a Antonina; o Caminho do Itupava, que também seguia em direção ao litoral; e o Caminho do Arraial, que surgiu quando os garimpeiros buscavam ouro na região do atual município de São José dos Pinhais.
Sociedade do gado O movimento das tropas e o crescimento das fazendas criaram uma paisagem com atividades voltadas para a vida no campo. Nos primeiros tempos, esses criadores levavam uma vida muito simples. Suas casas não tinham luxo: nas salas, havia apenas alguns bancos e mesas de madeira; nos quartos, camas simples, protegidas com cortinados contra os mosquitos.
Local de custódia não identificado
Nas refeições, eles consumiam alimentos preparados com produtos da região: milho, trigo, arroz, feijão. Também compravam alguns produtos que chegavam da Europa pelo Porto de Paranaguá.
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Viajantes que passavam pelos Campos Gerais, como Saint-Hilaire, que permaneceu na região entre 1816 e 1822, descreviam os costumes dos moradores e elogiavam a hospitalidade das famílias. Saint-Hilaire escreveu em seu diário que os homens criavam bois, cavalos e ovelhas e que passavam o dia galopando cavalos. Em suas observações, escreveu também que, ao conseguir animais, os tropeiros viajavam logo para o Sul a fim de comprar gado e vendê-lo nas feiras de Sorocaba. Convivendo com o gado desde cedo, os meninos aprendiam a cavalgar, atirar o laço, formar rodeios e correr atrás dos bois e cavaPassagem através da montanha, Paraná, de William Lloyd. los.
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Leia, a seguir, o que Saint-Hilaire registrou sobre as mulheres.
Minhas canastras foram descarregadas no corredor e, imaginando que apenas iriam servir-me uma refeição, [...] para grande surpresa minha apareceram duas moças bem-vestidas que me conduziram a uma grande sala. Uma era a mulher do fazendeiro, e a outra a mulher do que tinha me dado a carta de recomendação. Todas as duas eram muito bonitas, tinham muito boas maneiras e uma conversa muito agradável. [...] Essas senhoras me serviram chá e eu voltei ao meu trabalho. [...] Logo depois fui chamado para jantar, mas comi sozinho [...]; as mulheres só voltaram a aparecer Canastra: cesta larga, com ou sem depois de terminada a refeição. tampa, feita com tiras de madeira flexível, usada para guardar ou transportar roupas e objetos em viagens.
SAINT-HILAIRE, August de. Viagem a Curitiba e Santa Catarina. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia. 1978. p. 18-19.
Responda às questões no caderno. • Como os registros dos viajantes podem nos ajudar a conhecer a sociedade que se como documentos, pois descrevem o dia a dia das pessoas que viveram em nosso estado formou no Paraná? Servem em determinados períodos. • No texto acima, como Saint-Hilaire descreveu as mulheres que encontrou na casa registrou que encontrou duas mulheres muito educadas, que tinham boas maneiras em que ficou hospedado? Ele e conversa agradável. • Como ele descreveu a participação dos meninos na sociedade paranaense dos tempos em que visitou nosso estado, por volta de 1820?
Condutores de tropas, de Jean-Baptiste Debret.
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Aquarela sobre papel, 15,3 cm x 22,1 cm. Reprodução.
Desde cedo, os meninos aprendiam a cavalgar, atirar o laço, formar rodeios e correr atrás dos bois e cavalos.
A sociedade foi adquirindo hábitos que caracterizavam a vida dos criadores de gado, tanto nas refeições quanto no vestuário e na realização das festas. Nesse jeito de viver, também estavam presentes os costumes dos tropeiros. E como era esse modo de viver?
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Túnica de couro, longas botas, calças largas, chapéu de abas grandes para se proteger do vento e do sol... Era assim que o tropeiro se vestia. Nas costas, carregava instrumentos e armas. Em cangas e bolsas, transportadas no lombo dos animais, levava alimentos, utensílios e ferramentas.
Canga: peça de madeira colocada sobre o pescoço de dois bois, à qual se prende o timão de uma carroça ou arado.
O tropeiro também fazia o trabalho do correio, levando e trazendo notícias, bilhetes e recados, pois naquele tempo não havia serviços especializados nisso. Sua alimentação era à base de carne-seca ou charque (carne salgada que resiste ao tempo fora da geladeira), além de arroz, feijão e café. No acampamento, esses alimentos eram cozidos por longas horas no fogo, feito com lenha e carvão embaixo de um tripé em que se pendurava a panela, geralmente de ferro.
Deyvid Setti/Wikimedia Commons.
Esses hábitos alimentares até hoje fazem parte do modo de viver dos habitantes da região paranaense. E não somente na zona rural, mas também nas cidades, os moradores apreciam o arroz, o feijão e o café feitos à maneira dos tropeiros. Por esse motivo, podemos dizer que, no atual Paraná, se formou uma sociedade que surgiu da criação de gado e do movimento dos tropeiros.
Monumento aos tropeiros. Painel em azulejos, de Poty Lazzarotto, 2010. Lapa, Paraná.
Quem visita Castro, Tibagi, Lapa, Piraí do Sul e Guarapuava, entre outras cidades dessa região, percebe um pouco do modo de viver dos tropeiros.
Veja o Manual, item 23.
1
Você conhece algum alimento típico do tempo do tropeirismo? Faça uma pesquisa para saber como era a alimentação dos tropeiros e, em seu caderno, anote uma receita.
2
Depois, converse com seus colegas sobre esses alimentos. Algum deles está incorporado à nossa alimentação? Qual?
O folclore paranaense se formou graças à contribuição de diferentes grupos culturais que estiveram presentes na formação da nossa sociedade. As tradições do nosso folclore são revividas nas festas em honra aos santos padroeiros, no carnaval, no aniversário da cidade e nas festas juninas. Nessas ocasiões, em algumas cidades, grupos folclóricos apresentam danças, jogos, musicais e adivinhações. 66
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O boi de mamão, por exemplo, faz parte das festividades nos dias de carnaval nas cidades de Antonina e Paranaguá. A congada é uma festa tradicional que acontece principalmente na Lapa, no dia 26 de dezembro, em honra a São Benedito. Essa tradição celebra o encontro dos portugueses com os soberanos africanos. As cavalhadas acontecem nas cidades de Palmas e Guarapuava e mostram como ocorreu a expulsão dos árabes das terras portuguesas e espanholas há muitos anos. O fandango é uma dança, acompanhada de instrumentos musicais (violas, pandeiros, rebecas), muito apreciada pelos moradores de várias cidades. Para saber mais sobre o fandango, leia o texto que trata especificamente sobre ele no capítulo 4 da parte de Geografia.
O trabalho nas fazendas de gado Os proprietários das fazendas necessitavam de trabalhadores que soubessem lidar com o gado para levá-lo ao pasto e evitar que fugisse ou fosse roubado. Além disso, precisavam de pessoas que conduzissem as boiadas para a venda nas feiras. Para essas tarefas, os donos das fazendas contratavam trabalhadores livres, que recebiam pagamento em troca do seu trabalho. Como os fazendeiros precisavam de muitas pessoas para fazer os serviços da lavoura e as tarefas domésticas, eles contavam com o trabalho dos indígenas, mas estes nada recebiam pelas atividades que realizavam. Alguns indígenas eram capturados em suas aldeias e vendidos a fazendeiros para esse tipo de trabalho. A escravidão dos indígenas em nossa terra teve início com a chegada dos portugueses, que os forçavam a trabalhar. Depois, africanos escravizados foram trazidos pelos portugueses para o trabalho na lavoura e na criação de gado. A vida deles era difícil e de muito sofrimento. Eram maltratados e castigados caso não seguissem as ordens dos seus donos. Muitos não suportavam esse jeito de viver e morriam; outros fugiam para o meio do mato e lá se organizavam em quilombos, procurando levar uma vida semelhante à que tinham na África. Nas fazendas de gado, para tratar de um rebanho de mais ou menos 500 animais, bastavam seis escravos. Porém, para os demais serviços, como cuidar das lavouras, tirar o leite das vacas e fabricar farinha e açúcar, e também para os trabalhos domésticos, era necessário mais um bom número de escravos. As mulheres escravizadas realizavam diversas atividades. Nas lavouras, desde pequenas aprendiam a cuidar do roçado, semear e proceder à colheita. Na casa dos patrões, atendiam as crianças, carregavam água e ocupavam-se da cozinha e da lavagem da roupa, além de serem responsáBenzedeira: mulher que benveis pela limpeza, de maneira geral. Algumas eram ze, que acredita ter poderes benzedeiras ou parteiras. especiais para curar doenças, afastar desgraças, etc.
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Assim, é possível afirmar que, no Paraná, embora o número tenha sido bem menor que em outros estados do Brasil, também houve a presença de africanos realizando trabalho escravo.
Acervo Museu do Tropeiro
A presença de escravos na Fazenda Capão Alto Na cidade de Castro, no Paraná, existiu uma importante fazenda conhecida pelo nome de Capão Alto. No século XVIII, ela fez parte das terras doadas a um fazendeiro que se instalou na região e mandou construir uma capela, nas proximidades do Rio Iapó. Ao redor da fazenda, foi crescendo uma pequena povoação, por causa da criação de gado que se transportava, pelo caminho dos tropeiros, aos mineradores, que se dirigiam para a exploração mineral na região central do Brasil. Mais tarde, a fazenda foi vendida aos religiosos carmelitas, que se dedicaram à construção de outra capela e mantiveram a criação de gado. Após a retirada dos carmelitas, a propriedade ficou aos cuidados de um administrador, que comandava o trabalho escravo na agricultura e na criação de gado. Durante muitos anos, os escravos permaneceram no local, produzindo alimentos e vendendo à cidade de Castro parte do que produziam, o que lhes garantiu certa autonomia. Assim, foram se tornando um grupo muito forte e afirmavam que só deviam obediência à Nossa Senhora do Carmo, não tendo, portanto, nenhum senhor como proprietário. Essa situação mudou em 1864, quando uma firma de São Paulo se tornou proprietária de 300 escravos da região, provocando a reação de vários deles, que se organizaram para lutar contra essa negociação. Mas, mesmo assim, foram vencidos e levados pelos paulistas. Em 27 de junho de 1870, a fazenda foi comprada por um rico fazendeiro que se estabeleceu na região. Você já visitou a cidade de Castro? Nela, está localizado o Museu do Tropeiro. É muito interessante conhecê-lo, pois ele conserva muitos objetos e documentos daquele tempo. Que tal organizar um passeio até lá? Museu do Tropeiro, em Castro, 2007.
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