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Tu aprendeste que as paisagens contêm elementos naturais e elementos humanos (ou culturais), todos se relacionando entre si. Viste também que as paisagens são construídas pelos grupos humanos, agindo em conjunto, em sociedade. Nesta unidade vamos descobrir como se processa a construção do espaço e estudar como isso aconteceu no Rio Grande do Sul. Para começar, observa as imagens com atenção. Ver o Manual do Professor.
1920. década de a n ), S (R rt o Alegre iros, em Po e d e M e d orges Avenida B
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• Conheces o lugar mostrado nas fotos? O que tu sabes sobre ele? • Compara as fotos. O que mudou na paisagem? • Como tu achas que essas mudanças aconteceram?
Pulsar Im
agens/Ric ardo
Teles
Estúdio Giz de Cera/Arquivo da editora
• Na tua opinião, quais elementos dessa paisagem são recentes? Quais são antigos? Por quê?
Avenida B orges de M edeiro
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2.
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AS PAISAGENS MUDAM Como tu já observaste, as paisagens criadas pelos grupos humanos se modificam com o passar do tempo. Os seres humanos estão sempre construindo e reconstruindo as paisagens. Por que isso acontece? Os interesses e as atividades das pessoas, os recursos de que dispõem, os novos conhecimentos e técnicas são alguns dos fatores que determinam novas formas de produzir e de viver em sociedade. Com tudo isso, as paisagens se modificam ao longo do tempo, embora conservem vestígios do passado. E essas lembranças do passado, visíveis nas paisagens, nos ajudam a entender o presente.
Ver o Manual do Professor.
1
Como é a rua onde tu moras? Em uma folha avulsa, faz um mapa dela. a) Desenha a tua moradia, a casa dos vizinhos e tudo o mais que tu vês nas proximidades (armazém, padaria, locadora de vídeo, praça, etc.).
2
Feito o mapa, entrevista alguém que há pelo menos dez anos conheça a rua onde tu moras: pode ser um adulto que more contigo, um vizinho ou conhecido. a) Pergunta como era a rua antes, como eram os locais ou elementos que existem hoje. b) Com base nas informações que tu obtiveste, faz um mapa que represente a rua como ela era no passado, usando a mesma escala do mapa atual. Não te esqueças de registrar a data a que esse mapa se refere.
Alberto de Stefano/Arquivo da editora
b) Ao fazer o mapa, não te esqueças de colocar o título, a legenda, a orientação e a escala (por exemplo: 1:500, ou seja, um centímetro vale 5 metros ou 500 centímetros), que pode ser aproximada. Ajuda os alunos a operar com a escala.
c) Na data marcada pelo professor, apresenta os dois mapas que tu fizeste e conta aos colegas as mudanças que observaste.
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3
Numa roda de conversa, troca ideias com os colegas sobre a seguinte questão: Por que as paisagens se transformam ao longo do tempo?
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Registra tuas conclusões no caderno e confere com o professor.
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A FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO O atual território do Rio Grande do Sul levou alguns séculos para ser definido, e sua formação resultou de muitas disputas. No final do século XV (de 1401 a 1500), Portugal e Espanha eram países poderosos. Empenhados em descobrir novas terras, realizaram grandes navegações. Prevendo descobrimentos e conquistas, em 1494 firmaram um acordo que dividia o mundo ao meio. O acordo ficou conhecido como Tratado de Tordesilhas, nome da cidade espanhola onde o pacto foi celebrado. As terras descobertas a leste da linha divisória, que foi chamada de meridiano de Tordesilhas, pertenceriam a Portugal; e as terras a oeste, à Espanha. Assim, as terras que mais tarde deram origem ao Brasil foram divididas entre espanhóis e portugueses.
Talita Kathy Bora/Arquivo da editora
O Tratado de Tordesilhas (1494)
Adaptado de: Grand atlas historique. Paris: Larousse, 2006.
Observa o mapa acima. Depois, responde no caderno:
a) Pará, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Caso os alunos tenham dificuldades, orienta-os a consultar o mapa político do Brasil na página 49.
a) Por quais estados do Brasil de hoje passaria o meridiano de Tordesilhas?
b) Em 1494, a quem deveria pertencer o território que hoje faz parte do Rio Grande do Sul? Espanha.
c) Considerando as respostas dadas às questões a e b, na tua opinião, por que o território rio-grandense foi cenário de muitas lutas no passado? Resposta pessoal.
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TRATADOS E LIMITES De acordo com o Tratado de Tordesilhas, o território que atualmente faz parte do Rio Grande do Sul deveria pertencer à Espanha, mas acabou ficando para Portugal. Como isso aconteceu? Durante o século XVI (de 1501 a 1600), a parte meridional da América do Sul permaneceu relativamente isolada da Europa, embora os espanhóis tenham fundado Buenos Aires, capital da Argentina, em 1580, junto à margem direita do rio da Prata. Nessa época os europeus ainda não tinham encontrado no sul do novo continente riquezas que lhes interessassem. Cone Sul: expressão que designa a porção sul da América do Sul, por ter a forma de um cone. Engloba a Argentina, o Uruguai, o Chile, o Paraguai e parte do Brasil.
LatinStock/Album Art/Oronoz
A presença europeia no chamado Cone Sul da América aumentou no século XVII (de 1601 a 1700), especialmente de espanhóis, em razão da exploração da prata das minas de Potosí, na atual Bolívia, cuja produção era escoada pelo rio da Prata.
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Detalhe da mina de Potosí, no Mapa da América do Sul, de Herman Moll, feito por volta de 1710. A exploração da prata atraiu muitas pessoas para a região, localizada na atual Bolívia, e deu origem aos primeiros núcleos de povoamento, que posteriormente se tornaram cidades.
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Edson Grandisoli
Nessa época, a região despertou o interesse de alguns portugueses, que, desrespeitando o limite de Tordesilhas, adentraram as terras que supostamente pertenciam à Espanha. Em 1680, na margem esquerda do rio da Prata, os portugueses fundaram a Colônia do Sacramento (atual cidade de Colônia, no Uruguai) e com isso consolidaram sua presença na região. Assim, os interesses colonialistas de Portugal e Espanha chocaram-se no Cone Sul. Tais disputas se acentuaram no século XVIII (de 1701 a 1800), marcando a formação do território Vista da cidade de Colônia, no Uruguai, com o rio da Prata rio-grandense – cenário de mui- ao fundo. Foto de 2010. tas lutas. Com o propósito de conciliar interesses e pacificar a região onde as disputas eram travadas, Portugal e Espanha celebraram diversos acordos ou tratados. Observa o mapa abaixo e vê as transformações por que passou o território do Rio Grande do Sul.
Talita Kathy Bora/Arquivo da editora
Tratados de Madri (1750) e de Santo Ildefonso (1777)
Adaptado de: Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: MEC, 1996.
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PANORAMA Na construção do território brasileiro, os limites do país foram estabelecidos pacificamente, por via diplomática, embora no século XX conflitos armados entre brasileiros e bolivianos tenham precedido a aquisição do Acre. No Rio Grande do Sul, contudo, a fronteira foi definida por meio de luta armada. Até o final do século XVII (1601 a 1700), as terras do Rio Grande do Sul não estavam claramente sob o domínio português, tampouco sob o domínio espanhol, pois localizavam-se entre possessões das duas metrópoles. Tanto Portugal como Espanha tinham interesse em ocupar essas terras. Na Colônia do Sacramento, por exemplo, foi construído um forte militar para marcar a ocupação portuguesa na região. Em razão disso, diversos conflitos aconteceram, sendo que muitos deles resultaram em acordos ou tratados com a Espanha.
As disputas que ocorreram ao longo da história nas terras que hoje formam o nosso estado marcaram a formação cultural do povo rio-grandense, que possui alguns traços de comportamento que o singularizam no conjunto do país. Observa com atenção a imagem ao lado. Depois, com um colega, discute as questões a seguir e anota as respostas no caderno.
Folhapress/Ag. RBS/Lauros Alves
A ocupação do Rio Grande do Sul foi marEstancieiro: nome dado ao propriecada por frequentes conflitos. Muitos dos tário de fazendas ou estâncias. primeiros estancieiros que viviam nas terras rio-grandenses eram militares e se envolveram em combates para defender suas terras. Além disso, o Rio Grande do Sul também foi palco de outros momentos marcantes da história, como a guerra contra o Uruguai, a Revolução Farroupilha e a Revolução Federalista.
a) Parece que eles estão lutando entre si, pois estão segurando facões como se estivessem atacando uns aos outros.
a) O que parece que os dançarinos estão fazendo? Por quê?
b) Que relação pode ser estabelecida entre a foto ao lado e os conflitos vistos anteriormente? 66
Dançarinos apresentam a Dança dos Facões, em Santa Maria. Esta é uma manifestação cultural típica do Rio Grande do Sul. Foto de 2008.
b) A foto retrata a Dança dos Facões, a qual simula uma luta, evidenciando assim a relação entre a cultura do Rio Grande do Sul e os diversos conflitos armados que ocorreram no estado.
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Em 1500, quando os portugueses chegaram às terras que hoje formam o Brasil, encontraram um território já ocupado. Aproximadamente 5 milhões de indígenas viviam aqui. Só no Rio Grande do Rio Grande do Sul: povos indígenas (século XVI) Sul eram cerca de 300 mil. Em 2010, segundo dados do IBGE, existiam cerca de 800 mil indígenas no país, dos quais aproximadamente 32 mil encontram-se no nosso estado. Vê no mapa os principais grupos indígenas que, por volta de 1500, habitavam o território que hoje corresponde ao Rio Grande do Sul: os Tapuia ou Jê, os Guarani e os Pampiano.
Talita Kathy Bora/Arquivo da editora
OS PRIMEIROS HABITANTES
Adaptado de: Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: MEC, 1996.
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Com um colega, observa o mapa e faz no caderno um quadro com: a) o nome de cada povo indígena do Rio Grande do Sul; b) as áreas que eles habitavam; c) os principais grupos de cada povo.
2
Povo
Área
Tapuia ou Jê
Norte-nordeste do estado
Grupos Guaianá, Coroado, Ibiraiara
Guarani
Noroeste, centro, leste e nordeste
Tape, Carijó
Pampiano
Oeste, sudoeste e sul do estado
Charrua, Minuano, Guenoa
Identifica o povo indígena descrito em cada parágrafo a seguir. Confere a resposta com o professor. a) Formavam a população indígena mais numerosa do estado. Eram hábeis canoeiros e confeccionavam objetos de Canoeiro: pessoa que faz cerâmica. Praticavam a agricultura, a caça, a canoa ou que conduz canoa. pesca, a coleta de frutos silvestres e a extração da erva-mate. Deles herdamos o hábito do chimarrão. Guarani b) Viviam da caça, da coleta do pinhão e da agricultura. Tal qual os Guarani, os homens preparavam o terreno para o plantio e as mulheres semeavam e colhiam milho, feijão, mandioca, batata-doce e abóbora. Deles herdamos a antiga prática da queimada para o preparo da lavoura. Tapuia c) Eram nômades, isto é, não se fixavam durante muito tempo no mesmo lugar, deslocando-se constantemente à procura de alimentos e pastagens. Eram hábeis cavaleiros e notáveis guerreiros. Viviam da coleta de frutos e raízes, e principalmente da caça. Assavam a carne na brasa, o que deu origem ao nosso churrasco. Muitos deles, em destaque os Charrua, tornaram-se peões das estâncias de gado do sul e sudoeste do estado. Pampiano
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3
Ver o Manual do Professor.
Forma um grupo com quatro ou cinco colegas para fazer uma pesquisa sobre os primeiros habitantes do território brasileiro. Consultem livros, revistas, sites e façam entrevistas. Sigam o roteiro abaixo para facilitar a pesquisa. • Principais nações indígenas e as áreas que habitavam. • Modo de vida dos grupos indígenas: o que, como e para que produziam, tipo de habitação, alimentação, vestuário, hábitos e costumes, lendas e tradições. • Principais fatores que provocaram a grande redução do número de habitantes indígenas. • Contribuição indígena na formação do Brasil (composição da população, culinária, vocabulário, nome de localidades, etc.). • Regiões brasileiras onde mais se percebe a influência indígena. • Dados gerais sobre a situação atual dos povos indígenas no Brasil (luta pela terra, organizações, reivindicações, etc.). • Imagens dos povos indígenas pesquisados.
4
Organizem os dados pesquisados e elaborem um cartaz, com imagens, legendas e textos explicativos sobre a população indígena. No dia marcado pelo professor, realizem uma exposição dos cartazes e cada grupo explica seu trabalho.
5
Numa roda de conversa, comparem o modo de vida das comunidades indígenas com o da comunidade em que vocês vivem, discutindo os seguintes aspectos: a) As necessidades das pessoas e a maneira de satisfazê-las. b) A relação das pessoas com o meio ambiente e a utilização dos recursos naturais.
Fernando Gomes/Agência RBS/FolhaPress
Com base no mapa da página anterior e na pesquisa feita em grupo, discute com teus colegas as seguintes questões: a) Tu conheces alguma terra indígena? Já visitaste alguma comunidade indígena? Conta aos colegas o que tu sabes ou viste.
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b) Observa a foto ao lado. Na tua opinião, a demarcação de terras indígenas no Rio Grande do Sul é importante? Por quê?
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Protesto indígena em Porto Alegre (RS) para reivindicar a demarcação de terras no estado. Foto de 2013.
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PANORAMA Ao longo da história, a população indígena que vive no Rio Grande do Sul enfrentou muitos desafios. No início da colonização do Brasil, os indígenas foram perseguidos pelos colonizadores portugueses, que ocuparam suas terras. Diversas lutas foram travadas, e muitos indígenas morreram. Com isso, a população indígena foi bastante reduzida. Estima-se que no início do século XVI existiam 300 mil habitantes indígenas nas terras que hoje formam o Rio Grande do Sul. No início do século XXI esse número foi de aproximadamente 32 mil, o que representa uma redução de quase 90% da população original. Atualmente, a maior parte dos indígenas existentes no Rio Grande do Sul pertence ao povo Kaingang, mas também existem representantes do povo Guarani. Ambos vivem em áreas especiais, denominadas terras indígenas. No Rio Grande do Sul há cerca de 50 terras indígenas, mas muitas delas não estão devidamente demarcadas. A maior é a da Guarita, que fica entre os municípios de Tenente Portela, Redentora e Erval Seco. Uma das mais conhecidas é a de Nonoai, também no norte do estado.
Talita Kathy Bora/Arquivo da editora
Rio Grande do Sul: terras indígenas (2014)
Funai. Terras Indígenas. Disponível em: <http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/ terras-indigenas>. Acesso em: 28 abr. 2014.
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AS MISSÕES DOS JESUÍTAS A ocupação do Rio Grande do Sul por europeus começou com padres jesuítas espanhóis vindos do Paraguai. Eles se estabeleceram na margem leste do rio Uruguai com a finalidade principal de catequizar os indígenas. Os jesuítas fundaram várias aldeias ou povoados, chamados de missões ou reduções. O conjunto de povoados mais importante ficou conheCatequizar: ensinar uma religião. cido como Sete Povos das Missões e Jesuíta: membro da Sociedade de Jesus ou localizava-se no noroeste do estado, Companhia de Jesus, ordem religiosa fundada em em uma área ainda hoje denominada 1540 pelo padre Inácio de Loyola (1491-1556). região das missões. Rio Grande do Sul: localização das missões (século XVIII) Talita Kathy Bora/Arquivo da editora
Sob a direção dos padres jesuítas, as missões reuniam milhares de indígenas em uma vida comunitária, na qual todos trabalhavam tendo em vista o bem comum. A produção agrícola abastecia as aldeias, e o excedente era vendido em São Paulo, Rio de Janeiro e Buenos Aires, capital da Argentina.
Adaptado de: Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: MEC, 1996.
Ver o Manual do Professor.
Vê no mapa acima a localização das missões e registra no caderno o nome dos Sete Povos.
As guerras guaraníticas Ver o Manual do Professor.
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Ainda no século XVII, as missões começaram a ser invadidas por bandeirantes – homens vindos de São Paulo, que atacavam as aldeias com a finalidade de aprisionar indígenas para vendê-los como escravos. Com os sucessivos ataques dos bandeirantes, as missões entraram em decadência. Em 1750, portugueses e espanhóis assinaram um acordo – o Tratado de Madri – pelo qual a região das missões passaria ao domínio de Portugal. Com isso, a população dos Sete Povos deveria deixar a área e transferir-se para o outro lado do rio Uruguai, que pertencia à Espanha.
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Pulsar Imagens/Gerson Gerloff
No entanto, os indígenas missioneiros recusaram-se a abandonar suas aldeias e a perder suas terras. Seguiu-se, então, uma longa resistência armada, durante a qual os indígenas, liderados por Sepé Tiaraju, lutaram contra tropas portuguesas e espanholas. Mas os indígenas foram vencidos, e restaram apenas as ruínas das construções erguidas por eles sob a direção dos jesuítas nas missões. Ruínas de construções no Sítio Arqueológico de São As guerras guaraníticas provo- Miguel Arcanjo, em São Miguel das Missões (RS). As caram a destruição dos Sete Po- ruínas das missões são testemunhos históricos da dos jesuítas no território rio-grandense. Foto vos. Com a anulação do Tratado de atuação de 2012. Madri, os indígenas missioneiros obtiveram o direito de permanecer na região. Apesar disso, os nativos fugiram para outras áreas ou foram escravizados por bandeirantes. Um grande número de indígenas migrou para a Aldeia de Nossa Senhora dos Anjos, fundada em 1769, justamente para abrigar nativos das missões. Essa aldeia deu origem à atual cidade de Gravataí, perto de Porto Alegre.
A arte missioneira Pulsar Imagens/Gerson Gerloff
Quem visita as ruínas de São Miguel fica impressionado com o nível de desenvolvimento da arquitetura missioneira. Mas também merecem atenção outras manifestações artísticas praticadas nas missões, como a música e a escultura. A música era ensinada aos meninos no colégio, e os instrumentos musicais eram fabricados nas oficinas de algumas missões. Na escultura, predominavam as estátuas de anjos e santos, da Virgem Maria e do Menino Jesus. Houve obras de beleza comparável à da arte dos grandes escultores europeus da época. Arquitetura missioneira: arte de construir edificações, praticada pelos habitantes das missões jesuíticas.
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Esculturas sacras missioneiras em exposição no Museu das Missões, que abriga arte sacra dos séculos XVII e XVIII. São Miguel das Missões (RS). Foto de 2012.
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PANORAMA Os Kaingang Ver o Manual do Professor. A história do contato entre os Kaingang e os colonizadores europeus teve início ainda no século XVI, quando alguns grupos que viviam mais próximos ao litoral atlântico tiveram contatos com os primeiros portugueses. [...] No século XVII foram registradas suas presenças no curso superior do rio Uruguai e no século XVIII ocupavam as extensas florestas do alto Uruguai, numa área que vai do rio Piratini (extremo oeste) até a bacia do rio Caí, a leste. Constituíam territórios Kaingang o oeste de São Paulo, terras do segundo e terceiro planaltos do Paraná e Santa Catarina e toda a faixa acima das bacias dos rios Piratini, Jacuí e Caí, no Rio Grande do Sul. As primeiras tentativas de conquista e ocupação efetiva dos campos e florestas pertencentes aos Kaingang se iniciam na província do Paraná (que incluía a maior parte do estado de Santa Catarina), na segunda metade do século XVIII, com a organização de expedições de conquista. Foram onze expedições organizadas entre 1768 e 1774 [...].
Pulsar Imagens/Ale Ruaro
Instituto Socioambiental. Povos Indígenas no Brasil. Kaingang. Disponível em: <http://pib. socioambiental.org/pt/povo/kaingang/287>. Acesso em: 20 jul. 2014.
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Moradia de indígenas Kaingang no município de Planalto (RS). Foto de 2014.
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Um mito Kaingang A tradição dos Kaingang afirma que os primeiros da sua nação saíram do solo; por isso têm cor de terra. Numa serra, não se sabe bem onde, no sudeste do estado do Paraná, dizem eles que ainda hoje podem ser vistos os buracos pelos quais subiram. Uma parte deles permaneceu subterrânea; essa parte se conserva até hoje lá e a ela se vão reunir as almas dos que morrem aqui em cima. Eles saíram em dois grupos chefiados por dois irmãos, Kayrú e Kamé [...]. Cada um já trouxe consigo um grupo de gente. Dizem que Kayrú e toda a sua gente eram de corpo delgado, pés pequenos, ligeiros, tanto nos seus movimentos como nas suas resoluções, cheios de iniciativa, mas de pouca persistência. Kamé e seus companheiros, pelo contrário, eram de corpo grosso, pés grandes e vagarosos nos seus movimentos e resoluções. Conselho de Missão Entre Indígenas (Comin). Mitos Kaingang. Disponível em: <http://comin.org.br/ static/arquivos-publicacao/MITOS%20KAINGANG.pdf >. Acesso em: 28 abr. 2014.
Os Kaingang hoje Povos que tradicionalmente viviam da caça, coleta e agricultura, os Kaingang de hoje sobrevivem das roças administradas pela Funai, das roças familiares, da venda de artesanato e da prestação de serviços para produtores rurais. Tendo perdido a maior parte de seus antigos territórios, os Kaingang ainda viram suas florestas serem devastadas pelas serrarias implantadas nas terras Kaingang e as melhores terras serem arrendadas para fazendeiros brancos pelos próprios órgãos indigenistas. Mais recentemente, várias comunidades Kaingang e de outras etnias foram atingidas direta ou indiretamente por barragens que afetaram ainda mais as suas condições de vida.
Pulsar Imagens/Delfim Martins
Instituto Socioambiental. Povos Indígenas no Brasil. Kaingang. Disponível em: <http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kaingang/293>. Acesso em: 30 abr. 2014.
Família indígena Kaingang vendendo artesanato em Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul. Foto de 2011.
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Em 1768 os jesuítas abandonaram as terras rio-grandenses. Mas deixaram marcas de sua presença: além de desenvolver a agricultura e a extração da erva-mate, os jesuítas introduziram a criação de animais no Rio Grande do Sul: ovinos (ovelhas), muares (mulas), equinos (cavalos) e principalmente bovinos (bois). Com a destruição dos Sete Povos, os rebanhos criados nas missões se espalharam pelos campos. Encontrando ambiente favorável, principalmente a vegetação campestre, o gado missioneiro reproduziu-se livremente e tornou-se bravio. No século XVIII, numerosos rebanhos de gado sem dono vagavam pelos campos do estado. A existência de gado chimarrão ou alçado pelos campos rio-grandenses atraiu o interesse de muita gente. Os rebanhos eram encontrados nos campos do planalto (ao norte), chamados Vacaria dos Pinhais, e sobretudo nas pradarias (campos limpos, ao sul), chamadas Vacaria do Mar. No início, pessoas vindas principalmente de São Paulo caçavam o gado, que era abatido em pleno campo. Dele se aproveitavam apenas o couro e o sebo. Com o tempo, os animais começaram a ser reunidos em locais específicos – as estâncias ou fazendas –, e, assim, desenvolveu-se a criação de gado, com a qual teve início a efetiva formação do nosso estado. Ver o Manual do Professor.
Fabio Colombini
A ORIGEM DAS ESTÂNCIAS
Apesar de a criação de ovelhas ter decaído bastante com o advento das fibras sintéticas, ainda é uma atividade importante na campanha gaúcha. Santana do Livramento (RS), foto de 2011.
Ver o Manual do Professor.
1
Na opinião da turma, qual foi a principal contribuição dos jesuítas e das missões na formação do Rio Grande do Sul?
2
Tu conheces alguma estância ou fazenda onde se pratica a pecuária? Conta o que tu sabes aos colegas.
O gaúcho entra em cena
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A figura do gaúcho, descendente de indígenas e portugueses ou espanhóis, geralmente montado num cavalo, teve origem com a atividade pastoril, especialmente nas áreas campestres. No início, a palavra gaúcho designava o homem sem emprego fixo, que percorria os campos e trabalhava por tarefa nas fazendas. Ao tornar-se trabalhador fixo, a palavra passou a indicar todo homem de estância que lida com o gado. Posteriormente, todos os nascidos no Rio Grande do Sul passaram a ser chamados gaúchos. Muitas pessoas fazem uma ideia fantasiada do gaúcho.
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Forma um grupo com quatro ou cinco colegas. Façam um cartaz com imagens e textos sobre o gaúcho tradicional. Para tanto, pesquisem seu modo de vida, seus hábitos, seus costumes (músicas, danças, pratos tradicionais, vestimentas, lendas, etc.).
2
No dia marcado, apresentem o que vocês fizeram e conversem sobre os cartazes.
Os tropeiros A criação de gado começou a ser praticada no Rio Grande do Sul no século XVIII. Com o passar do tempo, essa atividade se desenvolveu bastante, e atualmente a pecuária é uma das principais atividades econômicas do estado. Para entender melhor como isso aconteceu, vamos fazer uma viagem no tempo e voltar ao Brasil do século XVIII. No século XVIII, a descoberta de ouro em Minas Gerais atraiu milhares de pessoas para o sudeste brasileiro. Toda essa gente necessitava de alimentos e de outros produtos. Essa concentração humana representava um grande número de consumidores de produtos como carne, leite, couro. Além disso, essas pessoas também necessitavam de animais para transporte. As necessidades da população que habitava o sudeste do Brasil naquela época estimulou o crescimento das estâncias do Rio Grande do Sul, que passaram a produzir para abastecer o sudeste.
Geralmente o gado era vendido na feira da cidade de Sorocaba, no estado de São Paulo, perto da capital. Dali era levado para as áreas de consumo, principalmente em Minas Gerais. Havia um caminho de gado pelo litoral e dois outros pelo planalto. Em alguns pontos desses caminhos formaram-se povoados que cresceram e se tor- Vista de Vila Rica, de Johann Moritz Rugendas, gravura de cerca de naram cidades. 1820-1825.
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RUGENDAS. Viagem pitoresca através do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1998/Reprodução
O gado dos campos rio-grandenses era levado até o sudeste do Brasil pelos tropeiros, vindos de São Paulo e principalmente de Laguna, no litoral de Santa Catarina. As tropas de gado eram conduzidas a pé e levavam meses para chegar a seu destino.
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1
Por que os condutores de gado eram chamados tropeiros?
2
O que tu observas na imagem da página anterior? Quem são as pessoas? O que tu imaginas que estão fazendo? Pessoas trabalhando na mineração do ouro.
3
A aquarela retrata uma cena de qual época? De que lugar?
Porque conduziam “tropas” de gado.
Século XVIII (1701 a 1800), em Minas Gerais.
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Tu achas que a cena da gravura tem alguma relação com o desenvolvimento da Para enriquecer a atividade, faz para os alunos perguntas como: criação de gado no sul do Brasil? Qual? De onde vinham os animais de carga? Como era o transporte? Tu
podes elaborar outras questões, se achar necessário. Questionamentos como esses podem ajudar os alunos a formular hipóteses.
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Lê um trecho da letra da canção abaixo e conversa com os colegas e o professor sobre as questões propostas.
Alberto de Stefano/Arquivo da editora
Vida de tropeiro Se fez tropeiro Tocando os bois pela estrada, Transporta agora a boiada Num caminhão boiadeiro. Mesmo campeiro Deixou o tempo pra trás. Se um dia foi capataz, hoje é um caminhoneiro. [...]
José Estivalet e Joca Martins. Álbum Vida de tropeiro. Caxias do Sul: Acit, 2013.
a) Segundo a canção, qual é o trabalho do tropeiro? 76
Transportar o gado.
b) De acordo com a canção, o que mudou no trabalho do tropeiro? O tropeiro deixou de tocar os bois pela estrada e passou a transportar o gado em um caminhão.
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Examina o mapa e responde as questões no caderno. Talita Kathy Bora/Arquivo da editora
Rio Grande do Sul: os caminhos do gado (século XVIII)
Adaptado de Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: MEC, 1996.
a) De quais áreas do Rio Grande do Sul saía o gado que era levado para o Sudeste do país?Do sul e do norte do estado. b) Qual o caminho do gado da Vacaria do Mar em direção ao sudeste do Brasil? Pelo litoral, passando por Pelotas e Rio Grande. c) Que cidades rio-grandenses se formaram no caminho do litoral, ao norte de Rio Grande? São José do Norte, Palmares do Sul, Viamão, Santo Antônio da Patrulha. d) Que cidades rio-grandenses nasceram na área da Vacaria dos Pinhais? São Borja, Cruz Alta, Vacaria.
e) Fora do Rio Grande do Sul, que cidades se originaram de pontos de encontro e de parada dos tropeiros? Em que estados elas se localizam? Laguna, Lages e Curitibanos, em Santa Catarina; Curitiba e Ponta Grossa, no Paraná.
f) Na tua opinião, os tropeiros contribuíram para que o Rio Grande do Sul se Resposta pessoal. Espera-se que o aluno perceba que os tropeiros integrasse ao Brasil? Justifica tua resposta. foram os primeiros agentes no processo de integração do Rio
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Grande do Sul ao restante do país, bem como a importância das relações inter-regionais na construção do espaço. Valoriza as argumentações dos alunos e explica para eles a importância do papel do comprador (mercado de consumo) no desenvolvimento de qualquer atividade econômica.
Tu já pensaste na importância dos transportes? Eles são fundamentais para a construção dos espaços de vida humana. É por meio deles que as pessoas se deslocam e transportam produtos de um lugar para outro. No século XVIII, há mais de duzentos anos, como tu achas que os produtos pastoris do Rio Grande do Sul chegavam até a zona de consumo em Minas Gerais? Transporte terrestre sobre lombo de mula.
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O povoamento português A primeira cidade fundada no Brasil pelos colonizadores portugueses foi Salvador, capital do estado da Bahia, em 1549. No Rio Grande do Sul, a iniciativa oficial portuguesa só ocorreu muito mais tarde, no século XVIII. Para marcar presença e garantir os interesses dos portugueses estabelecidos na região, foi construído o forte Jesus-Maria-José, junto ao canal que liga a laguna dos Patos ao oceano Atlântico. Sua fundação ocorreu no dia 19 de fevereiro de 1737. Ao lado do forte formou-se um povoado que deu origem à atual cidade de Rio Grande. Pulsar Imagens/Rogério Reis
Ver o Manual do Professor.
Cais antigo de Rio Grande (RS), com cidade ao fundo. Foto de 2012.
O estado onde vivemos era, àquela época, um território sob crescente domínio português que, a partir do forte onde ficava um governador, era chamado Continente do Rio Grande de São Pedro. Por que o nome Rio Grande? Os portugueses acharam inicialmente que a laguna dos Patos fosse um grande rio, que desembocava no oceano Atlântico.
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As charqueadas Tu aprendeste que, com a mineração, a população de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo aumentou bastante. À medida que a população crescia ampliava-se o mercado de consumo para os produtos da pecuária gaúcha — o couro e principalmente a carne. Aos poucos o transporte do gado para o Sudeste passou a ser feito também por barcos e navios, através do rio Jacuí, da laguna dos Patos e do oceano Atlântico, até o Rio de Janeiro. Mesmo após o desenvolvimento da navegação, o Rio Grande do Sul continuou vendendo animais vivos, pois naquela época não havia maneira de conservar a carne fresca por muito tempo.
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Pulsar Imagens/Ale Ruaro Acervo Museus Castro Maya, RJ
Para baratear o transporte e assim aumentar seus ganhos, os fazendeiros do Sul resolveram enviar, em vez de bois vivos, a carne já seca e salgada, ou seja, o charque, que mantém a carne conservada por mais tempo. Foi assim que nasceram as charqueadas, estabelecimentos onde se fabricava o charque, que teve papel importante no processo de construção do território rio-grandense. A primeira charqueada foi fundada em 1780, junto ao arroio Pelotas, próximo a Rio Grande. Muitas outras foram criadas na mesma região. O Rio Grande do Sul tornou-se grande vendedor de charque, cujo comércio e produção atraíram diversas pessoas ao estado. Próximo Ruínas de charqueada em Quaraí (RS). Foto de 2014. a muitas charqueadas se formaram povoações, algumas das quais se tornaram cidades mais tarde.
Engenho de carne-seca brasileiro, aquarela de Jean-Baptiste Debret, 1829.
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Tu conheces alguma cidade do Rio Grande do Sul cujo desenvolvimento inicial esteve ligado às charqueadas? Qual? Exemplos: Pelotas, São José do Norte, Jaguarão, Rio Pardo.
2
O que achas da afirmação a seguir? Com teu colega, escreve um comentário sobre ela no caderno. “O Rio Grande do Sul nasceu com as estâncias e cresceu com as charqueadas.” Espera-se que o aluno perceba que a construção do espaço rio-grandense começou efetivamente com a criação de gado, que tem a estância ou fazenda como o seu núcleo dirigente, e que a primeira fase de desenvolvimento ocorreu com a indústria do charque. Deve-se valorizar a competência do aluno de organizar e expressar o seu pensamento.
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A contribuição africana Tu já sabes que os portugueses foram aos poucos se apropriando de um território que pertencia aos indígenas. Dos portugueses herdamos a língua, a tradição católica, os aspectos fisionômicos de grande parte dos rio-grandenses, como pele clara e cabelo escuro. A influência indígena também está presente na população gaúcha, principalmente nas áreas de origem pastoril. E os africanos, qual foi seu papel na construção do Rio Grande do Sul? Eles começaram a chegar ao Brasil ainda no século XVI. Eram escravizados e trazidos da África para a América para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar dos portugueses. Em trezentos anos, milhões de africanos ingressaram no Brasil. Eles têm uma participação decisiva na formação do país em que vivemos. Inicialmente os africanos vieram para o Rio Grande do Sul como carregadores nas caravanas dos tropeiros. Logo passaram a trabalhar como criados, realizando serviços domésticos nas fazendas de criação de gado. Mas foi com o desenvolvimento das charqueadas que se deu o ingresso mais expressivo de africanos no estado. Eles formavam a maior parte da mão de obra empregada na fabricação do charque.
A influência africana está presente em muitos aspectos da sociedade rio-grandense. Há no estado, por exemplo, um elevado número de casas de umbanda, que são centros religiosos de matriz africana. Em Osório, no litoral norte, ocorre anualmente o Maçambique, que é uma cerimônia festiva, encenada por descendentes de escravos, em homenagem a antigos reis africanos.
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Em diversos gêneros musicais existentes no estado, como o chamamé, destaca-se o uso de instrumentos de percussão de origem africana. Ultimamente a capoeira, desenvolvida há séculos na Bahia e no Rio de Janeiro, tem se expandido no Rio Grande Maçambique, também conhecido como Festa de Nossa Senhora do Rosário, em Osório (RS). Foto de 2011. do Sul.
Pulsar Imagens/Marco Antônio Sá
Os afrodescendentes, ou afro-brasileiros, constituem mais da metade da população brasileira. No Rio Grande do Sul, a contribuição africana na formação da população foi menor em comparação a outros estados do Brasil, principalmente das regiões Sudeste e Nordeste. Mesmo assim, ela foi muito importante.
Ver o Manual do Professor.
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Forma um grupo com quatro ou cinco colegas. Escolham um dos temas abaixo para pesquisar. Consultem livros, revistas e sites para encontrar as informações. Tema 1: A influência do africano na construção do Rio Grande do Sul. Procurem informações sobre a presença africana na composição da população, na música, na dança, na religião, na culinária, no esporte. Tema 2: Os quilombos. Procurem saber quem foi Zumbi dos Palmares e busquem informações sobre comunidades quilombolas no Rio Grande do Sul. Tema 3: Os afrodescendentes que atualmente se destacam na sociedade rio-grandense. Pesquisem informações sobre afrodescentes do Rio Grande do Sul que trabalhem com música, dança, literatura, artes plásticas, política, culinária, educação, etc. Procurem saber o que essas pessoas fazem, onde elas nasceram e se tiveram alguma dificuldade para exercer a profissão. • No decorrer da pesquisa, selecionem também imagens que tenham relação com o tema escolhido. Vocês podem pesquisar fotos, reproduções de obra de arte, desenhos e ilustrações variadas. • Após a realização da pesquisa, reúnam os materiais selecionados e conversem sobre os dados levantados. • Em seguida, escrevam um texto sobre o tema pesquisado. • Montem um cartaz com o texto escrito pelo grupo e colem nele algumas imagens pesquisadas. • Com a ajuda do professor, organizem uma exposição dos trabalhos da classe.
Os açorianos
Ver o Manual do Professor.
Por volta de 1750, o território rio-grandense encontrava-se em processo de povoamento, com a instalação de fazendas em grandes extensões de terra concedidas pelo governo português. Mas para intensificar o povoamento era preciso desenvolver a agricultura. Decidido a garantir seu domínio no sul do Brasil, Portugal resolveu promover a vinda de pessoas com tradição agrícola. Desde 1751, centenas de casais açorianos foram encaminhados para o sul do Brasil. Cada um recebeu um lote de terra para cultivar. A partir de Rio Grande, o povoamento expandiu-se pelo litoral e pela região central do estado. Povoados e vilas cresceram com a chegada dos açorianos.
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Os Açores constituem um arquipélago que ainda hoje pertence a Portugal. São pequenas ilhas afastadas da costa europeia, descobertas em 1477 e que, no século XVIII, apresentavam o problema de superpovoamento: havia muitas pessoas em relação ao território disponível.
Pulsar Imagens/Gerson Gerloff
Em algumas localidades do Rio Grande do Sul, a influência dos açorianos está presente na paisagem, principalmente no estilo das casas.
Certos costumes e tradições perduram até hoje em diversas comunidades, como a chimarrita, dança típica do folclore gaúcho que foi trazida para o estado pelos açorianos. A influência açoriana também está presente na culinária rio-grandense. Doces como arroz de leite ou papo de anjo, de origem açoriana, ainda são muito apreciados em nosso estado.
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Opção Brasil Imagens/Renato Grimm
Casa construída por imigrantes açorianos em 1763, no atual município de General Câmara (RS). Foto de 2010.
A chimarrita é uma dança de origem açoriana que faz parte do folclore do Rio Grande do Sul. Na foto, de 2008, dançarinos de chimarrita em apresentação em Vacaria (RS).
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Observa no mapa abaixo os principais núcleos de colonização açoriana no Rio Grande do Sul. Depois, com base no mapa e no texto da página anterior, responde às questões no caderno.
Marilu de Souza/Arquivo da editora
Rio Grande do Sul: núcleos de colonização açoriana (século XVIII)
Elaborado com base em: Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro: IBGE, 2000. a) Os açorianos eram habitantes do arquipélago dos Açores, ainda hoje pertencente a Portugal. Eles possuíam tradição agrícola e por isso foram escolhidos para ocupar o Rio Grande do Sul.
a) Quem eram os açorianos que vieram para o Rio Grande do Sul?
b) Quais são as atuais cidades rio-grandenses que tiveram a contribuição de açorianos no seu desenvolvimento inicial?
São José do Norte, Tavares, Mostardas, Osório, Porto Alegre, Gravataí, Triunfo, Taquari, General Câmara, Rio Pardo, Cachoeira do Sul.
c) Que aspectos revelam a influência dos açorianos na formação do Rio Grande do Sul? Arquitetura e sotaque (fala cantada). d) Tu conheces algum elemento da paisagem rio-grandense cuja origem seja açoriana? Qual? Onde? Resposta pessoal.
e) Tu conheces algum costume ou tradição de origem açoriana? Qual? A tradição mais impactante é a controvertida farra do boi.
A FUNDAÇÃO DE PORTO ALEGRE Tu estudaste alguns aspectos do povoamento do nosso estado e viste de que modo as atividades humanas influíram na ocupação do território. Agora, com teus colegas, tu vais ver como os açorianos contribuíram para a construção de um espaço que tem uma importância especial: o local onde se desenvolveu a cidade que viria a se tornar a capital do Rio Grande do Sul.
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Em meados do século XVIII, a área onde hoje se localiza a cidade de Porto Alegre pertencia a Viamão, que era um dos quatro municípios da Capitania do Rio Grande de São Pedro (os outros eram Rio Grande, Rio Pardo e Santo Antônio da Patrulha). Para atender ao comércio de Viamão, foi construído, por volta de 1730, um pequeno porto sobre o lago Guaíba – o porto de Viamão. Comerciantes, marinheiros e outras pessoas fixaram-se junto ao porto, que, em 1740, começou a ser chamado de porto do Dorneles, em referência a Jerônimo de Ornelas, o maior fazendeiro da região. Em 1752, dezenas de casais açorianos desembarcaram no porto do Dorneles, junto ao qual formaram um povoado, onde hoje fica o bairro Gasômetro. Os açorianos construíram uma capela em homenagem a São Francisco e receberam lotes de terra, onde começaram a plantar trigo e outros produtos. Desde então, a localidade passou a ser chamada de Estâncias que deram origem a Porto dos Casais. Porto Alegre (1732)
Mariane Félix da Rocha/Arquivo da editora
Em razão de sua localização favorável tanto para o comércio quanto para a defesa do território, o povoado cresceu. Passou a ter armazéns, estaleiros, quartel e dezenas de casas. No dia 26 de março de 1772, com cerca de 1 500 habitantes, o povoado tornou-se independente e passou a se chamar São Francisco do Porto dos Casais. Esse é o dia da fundação oficial de Porto Alegre. Estaleiro: estabelecimento à beira-mar ou à beira-rio, onde embarcações são construídas e consertadas.
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Desde 1763, Viamão se tornara a capital provisória da Capitania do Rio Grande de São Pedro, quando o governador sediado em Rio Grande teve de fugir diante de uma poderosa invasão de tropas espanholas vindas de Buenos Aires. Em 1773 a capital foi transferida para Porto Alegre, que recebeu o nome de Freguesia de Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre. Em 1810 foi elevada à categoria de vila e, em 1822, recebeu o título de cidade, com o nome de Porto Alegre.
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Clóvis S. de Oliveira. Porto Alegre: a cidade e sua formação. Porto Alegre: Gráfica Metrópole, 1985.
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Com base no texto que tu leste, responde às questões no caderno. a) Qual é a data oficial da fundação de Porto Alegre? 26 de março de 1772. b) Desde quando ela é a capital do Rio Grande do Sul? Desde 1773. c) Quais foram os três primeiros nomes de Porto Alegre? Porto do Dorneles, Porto dos Casais, São Francisco do Porto dos Casais.
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Forma um grupo com quatro ou cinco colegas. Observem as linhas do tempo a seguir e depois respondam à questão no caderno. • Quais são as três categorias políticas que o Rio Grande do Sul teve em sua história e a que período da História do Brasil cada uma delas corresponde? Capitania, na Colônia; província, no Império; estado, na República.
ESTADO
ÃO RAÇ IMIG IVRE DA L
Elaborado pelo autor para fins didáticos
– FIM
1950
1920
ÍCIO DA IM IGRA ÇÃO – PR ITAL OCL IANA AMA ÇÃO DA R EPÚ BLIC A 1889
1860 1875 – IN
PROVÍNCIA
1890
1710
1680
1650
1740
1737
– FU ND (INÍC AÇÃO D IO D E 1751 A CO RIO G – IN RA NQU ÍCIO ISTA NDE D 1768 O PO POR – JE VOA TUG S M UÍTA 1770 UES ENT A) S AB O AÇ A ORIA NDO 1772 NO NAM – FU A PR NDA OVÍN ÇÃO CIA DE P ORT 1800 O AL EGR E 1822 – IN DEP 1824 END – IN ÊNC ÍCIO 1830 DA IM IA DO B RAS IGRA IL ÇÃO ALE MÃ
– FU ND (INÍC AÇÃO D IO D A A CO PRIME IR LON IZAÇ A MISS ÃO J ÃO E E SPA NHO SUÍTICA LA) 1626 1620
1950
1920
REPÚBLICA
Rio Grande do Sul: categorias políticas
CAPITANIA
1934
– AB OLIÇ ÃO D 1889 A ES – CRA 1890 PROCL VIDÃ AMA O ÇÃO DA R EPÚ BLIC A
1860
1888
1819 – IN ÍCIO 1822 DA IM – IN IGRA DEP ÇÃO END EUR ÊNC 1830 OPE IA D IA O BR ASIL
IMPÉRIO
1800
1770
1740
COLÔNIA
1710
1620
1590
1560
1680
1650
– IN ÍCIO DO P – CR OVO IAÇÃ AME O DA NTO S CA POR PITA TUG NIAS UÊS HER EDIT ÁR 1534
1532 1530
1500
– DE
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Brasil: períodos da História
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Tomando como modelo as linhas do tempo da página anterior, o grupo vai construir uma linha do tempo da história de Porto Alegre. Sigam as orientações: a) Façam a linha do tempo em uma folha de cartolina, ilustrando as datas com desenhos ou colagens. Ver o Manual do Professor. b) A representação gráfica do tempo precisa obedecer a uma escala, que deve ser indicada. c) No dia marcado pelo professor, apresentem aos colegas o trabalho do grupo.
Observa a linha de tempo da História do BraMonarquia: sistema político no sil. No período que vai de 1822, quando ocorre a qual o governo é exercido por um Independência, até 1889, com a Proclamação da rei ou imperador. República, o Brasil era uma monarquia. Nosso primeiro monarca foi D. Pedro I, que governou o país até 1831, quando renunciou ao trono e foi para Portugal. Em seu lugar, deveria assumir seu filho, D. Pedro de Alcântara, que ainda era uma criança e, portanto, o trono foi entregue a outras pessoas que exerceram o governo em seu lugar. Eram os regentes. Os regentes governaram o Brasil até 1840, quando D. Pedro foi declarado maior de idade. Esse período da História do Brasil é conhecido por Regência.
Acervo do Museu de Júlio Castilhos, Porto Alegre, RS.
No período da Regência houve várias revoltas no Brasil. No Rio Grande do Sul ocorreu a maior e mais longa delas. Foi a Guerra dos Farrapos, também conhecida por Revolução Farroupilha, uma guerra civil que opôs alguns estancieiros ao governo imperial. A Guerra dos Farrapos, que chegou até Santa Catarina, teve início em 1835 e só terminou dez anos depois, quando a Regência já havia acabado.
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Carga de cavalaria farroupilha, de Guilherme Litran, óleo sobre tela de 1893. A obra retrata o conflito que ocorreu no Rio Grande do Sul entre os anos de 1835 a 1845.
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Vários fatores explicam esse conflito. Entre eles podemos citar o descontentamento dos pecuaristas gaúchos com o governo central, o qual era acusado de favorecer os fazendeiros de outras regiões do país, principalmente os produtores de café. Outro fator relevante era o preço do charque. O charque era utilizado na alimentação dos escravos e vendido para outras regiões do Brasil, como Minas Gerais e São Paulo. Os fazendeiros de café compravam o charque que era produzido no Uruguai, pois este era mais barato do que o produzido no Rio Grande do Sul. Para manter o preço do produto uruguaio baixo, as autoridades cobravam um imposto barato, o que incomodava os produtores gaúchos. Em 20 de setembro de 1835, pecuaristas ocuparam Porto Alegre e depuseram o governo da província. Era o início da Guerra dos Farrapos. Nos primeiros tempos da guerra, os farrapos, como eram chamados os integrantes das tropas rio-grandenses, proclamaram a República Rio-Grandense, cujo governo ficou a cargo de Bento Gonçalves. Os ricos pecuaristas que conduziram a guerra nem sempre tiveram apoio das demais cidades. Porto Alegre e Rio Grande, por exemplo, não aderiram à causa. Depois de quase dez anos o conflito terminou, com os farrapos já bastante desgastados. Foi assinada então a Paz de Ponche Verde. Por esse acordo os revoltosos foram anistiados e os oficiais farroupilhas foram incorporados ao exército brasileiro.
Pecuarista: criador de gado. Anistia: perdão que é dado pelo poder público.
OS IMIGRANTES Nesta unidade tu estudaste alguns aspectos da ocupação do território rio-grandense desde o século XVI, quando apenas diferentes grupos indígenas habitavam estas terras. Trezentos anos depois, no início do século XIX, os campos do nosso estado já estavam ocupados, mas as áreas de mata do planalto e da encosta permaneciam despovoadas. Agora tu vais ver como alguns acontecimentos ocorridos na Europa, do outro lado do Atlântico, provocaram grandes mudanças no povoamento do Rio Grande do Sul.
Ver o Manual do Professor.
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Lê o texto da próxima página e observa a foto com o professor e os colegas.
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No início do século XIX (de 1801 a Arado: instrumento agrícola usado para 1900), a Europa passava por grandes translavrar, arar, revolver a terra. Na zona rural, formações. A indústria tornou-se a princié comum o uso do arado para fazer sulcos pal atividade econômica. Na cidade, o uso na terra, onde serão lançadas sementes de plantas. O arado mecânico, puxado por de máquinas e as inovações técnicas detrator, substituiu, em muitos lugares, o senvolvidas pela indústria proporcionaram arado puxado por mula, cavalo ou boi. um considerável aumento da produção com menos mão de obra. Na zona rural, novos implementos agrícolas, como o arado mecânico, substituíram braços humanos. Com isso, o desemprego cresceu e milhões de pessoas ficaram numa situação difícil.
Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami
Ao mesmo tempo, no Brasil havia muita terra disponível. Para ocupar essas terras e desenvolver a agricultura, o governo brasileiro promoveu a imigração. Ofereceu muitos atrativos a quem viesse para cá: um lote de terra para cada família, animais, ferramentas agrícolas, sementes e isenção de impostos durante dez anos.
Imigrantes italianos, na antiga colônia Dona Isabel, no atual município de Bento Gonçalves (RS), por volta de 1920.
Em cem anos, vieram para o Brasil mais de 5 milhões de imigrantes: alemães, italianos, poloneses e outros em menor número. E grande parte deles veio para o Rio Grande do Sul. Dados divulgados em 2014 pelo Ministério das Relações Exteriores.
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Com base no texto acima, debate com os colegas da classe as questões a seguir. a) Que motivos levaram os europeus a abandonar a terra natal para vir morar spera-se que o aluno reconheça que as pessoas dificilmente se conformam com a piora de suas no sul do Brasil? Econdições de existência. Ao contrário, de um modo geral, elas sempre ambicionam melhorar de vida, o que pode motivar as migrações, as quais têm, portanto, fatores de expulsão e fatores de atração.
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b) Atualmente, há cerca de 2,5 milhões de brasileiros emigrados, vivendo em outros países, principalmente nos Estados Unidos. Na opinião de vocês, por que essas pessoas deixaram o Brasil e foram para outras terras?
Cabe destacar que, nas últimas décadas, o desenvolvimento e as facilidades das comunicações e dos transportes facilitaram as migrações, que tendem a se intensificar, tanto em escala internacional quanto entre os estados e os municípios brasileiros.
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Migração é o movimento ou deslocamento de uma população de um local para outro. As pessoas que realizam esses movimentos são chamadas migrantes. Emigrar é sair de um local para viver em outro. Imigrar é entrar em um local, geralmente um país, para nele viver. No Brasil, são consideradas imigrantes as pessoas que vieram para cá depois da instalação da família real no país, em 1808. 3
Discute com os colegas e o professor: a) Há semelhanças entre as causas da recente emigração de brasileiros e as antigas motivações que trouxeram os imigrantes para o Brasil? Quais? b) Tu achas que há outras causas que motivam as migrações? Quais?
Da Europa para o sul do Brasil
Os italianos começaram a chegar em 1875, estabelecendo-se no nordeste do estado, sobre o planalto. Depois se expandiram para o norte e o noroeste, onde, com alemães e poloneses, foram os responsáveis pelo povoamento da região. Muitos núcleos fundados por alemães e italianos deram origem a cidades.
Imigrantes italianos em Caxias do Sul, RS, fim do século XIX.
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Vale: terreno mais ou menos plano e baixo, localizado nas margens de um rio ou ribeirão. Pode estar localizado também no começo de um monte ou entre colinas e montanhas. O cânion do Itaimbezinho é um tipo de vale com paredões de 720 m de altura e 7 km de extensão.
Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami
Os primeiros imigrantes a chegar nas terras rio-grandenses foram os alemães, em 1824. Eles ocuparam as partes baixas da encosta do planalto Norte-Rio-Grandense, sobretudo os vales dos rios Caí, Pardo, dos Sinos, Paranhana e Taquari. Posteriormente, ajudaram a colonizar o norte e o noroeste do estado.
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Instituto Cultural Judaico Marc Chagall
Em menor número, vieram poloneses e judeus. Os primeiros poloneses chegaram em 1886, e seus descendentes mantêm núcleos agrícolas até hoje. Por não terem tradição agrícola, os judeus abandonaram a terra e foram para as cidades.
Imigrantes judeus nas proximidades de Santa Maria (RS), por volta de 1904.
Ver o Manual do Professor.
Observa o mapa abaixo e escreve no caderno o nome de: a) cidades originadas com a colonização alemã; Novo Hamburgo, São Leopoldo, Lajeado, Santa Cruz do Sul.
b) cidades que se formaram a partir de núcleos de colonização italiana; Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Farroupilha, Garibaldi, Nova Bassano.
c) cidades que se formaram em zona de colonização mista (alemã, italiana e polonesa). Santa Rosa, Santo Ângelo, Ijuí, Erechim.
Marilu de Souza/Arquivo da editora
Rio Grande do Sul: áreas de colonização (2000)
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Adaptado de: Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.
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Enxaimel: cada uma das estacas usadas na construção de uma taipa.
Pulsar Imagens/Gerson Gerloff
Tyba/Fernando Bueno
Os imigrantes, sobretudo alemães e italianos, imprimiram sua marca nas áreas em que se estabeleceram, antigamente chamadas de zonas coloniais. Tanto a zona de colonização alemã quanto a zona de colonização italiana têm paisagens próprias, que revelam a origem de quem as construiu. Vê, por exemplo, a paisagem das fotos.
Casa em estilo colonial italiano em Bento Gonçal- Casa em estilo enxaimel em Nova Petrópolis ves (RS). Foto de 2013. (RS). Foto de 2010.
A influência dos antigos colonos europeus não se restringe à arquitetura das construções. Ela está presente na fisionomia das pessoas e em seus hábitos, costumes e tradições, enfim, no que chamamos de cultura de um povo. Por exemplo, embora falando o mesmo idioma – o português –, rio-grandenses de origem alemã e italiana têm cada qual seu sotaque característico, assim como o gaúcho da fronteira tem seu modo de falar próprio. A herança ou o legado dos imigrantes, notadamente de italianos e alemães, é muito forte no Rio Grande do Sul. Opção Brasil Imagens/Marcos André
A cada dois anos, por exemplo, é realizada, em Caxias do Sul, a Festa da Uva. Ela lembra um dos principais cultivos introduzidos na região pelos imigrantes italianos. Hoje, a festa também dá destaque ao desenvolvimento da indústria local, incluindo exposições relacionadas principalmente aos ramos metalúrgico, mecânico e de material de transporte. Festa da Uva, em Caxias do Sul (RS). Foto de 2012.
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a) • Contribuição alemã: Schimier, cuca, torta doce, Kerbe, jogo de bolão, chucrute, cerveja, salsicha. • Contribuição italiana: cultivo de uva, fabrico do vinho, salame, macarrão, polenta, galeto, jogo de bocha, religiosidade católica, tarantela.
No quadro abaixo, estão algumas palavras ou expressões cujo significado se refere à contribuição de alemães e italianos na formação do nosso estado. Com um colega, conversa sobre cada elemento que elas representam. cultivo de uva Schimier fabrico do vinho cuca salame
torta doce macarrão Kerbe jogo de bolão
a) Façam no caderno duas listas com os elementos do quadro: uma para a contribuição alemã e outra para a contribuição italiana. b) Conversem com os colegas de outras duplas para ampliar as listas de vocês com outros aspectos e elementos herdados dos imigrantes europeus. c) Confiram tudo com o professor.
polenta chucrute cerveja galeto
salsicha jogo de bocha religiosidade católica tarantela
Schimier: espécie de geleia de frutas. Kerbe: festividade que dura vários dias, animada por muita música, danças e comes e bebes. Tarantela: dança popular e composição musical, geralmente acompanhada por castanholas e tamborim. A tarantela é apresentada em pares e é marcada por andamentos rápidos e exuberantes. Servil: condição em que o trabalhador exerce atividades forçadas, sem direito de escolha, seja por ter dívidas impagáveis junto ao patrão, seja pela falta de alternativas de ação.
Italianos, alemães, poloneses e outros imigrantes, europeus e também asiáticos, como os japoneses, construíram no sul do Brasil espaços e paisagens diferentes em relação às regiões mais antigas do país, como é o caso do Nordeste. Aqui os imigrantes desenvolveram a agricultura associada à criação de animais (vacas leiteiras, aves, porcos, etc.), enquanto nas outras partes do Brasil, em geral, lavoura e pecuária eram atividades dissociadas, ou seja, praticava-se uma ou outra isoladamente. Vê no quadro abaixo outras diferenças fundamentais entre a colonização no sul do país e a ocupação do Nordeste brasileiro, por exemplo. Regiões
Tamanho das propriedades rurais
Coloniais do sul do Brasil
Pequena
Nordeste brasileiro
Grande
Tipo de cultivo
Força de trabalho
Policultura (cultivo Mão de obra de vários produtos) familiar (livre) Monocultura (cultivo de um só produto)
Escrava ou servil
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O objetivo é destacar a importância das fases iniciais do processo histórico, particularizando, no caso, alguns fatores capazes de favorecer ou dificultar o desenvolvimento econômico e social do país.
Discute com os colegas sobre as vantagens e desvantagens dos itens abaixo. Dea) É importante destacar que a pequena propriedade estimula pois, registra as conclusões no caderno. o uso intensivo da terra, bem como a melhoria das técnicas, o
que enseja o aumento da produtividade; por outro lado, quase por definição, o latifúndio comporta terra ociosa.
a) Pequena ou grande propriedade rural (latifúndio). b) Policultura ou monocultura. c) Mão de obra livre ou servil.
DESAFIO
b) Explica aos alunos que a policultura enseja uma certa estabilidade ao produtor, por ter diversos produtos a oferecer à venda (ao mercado); de outra parte, a monocultura, mesmo que rentável, está sob o permanente risco de um desastre, desde que não haja, por qualquer razão, comprador para o único produto oferecido ao mercado.
c) É importante destacar que o trabalho livre é quase necessariamente mais produtivo que qualquer atividade forçada, sob qualquer condição.
As zonas coloniais do Rio Grande do Sul foram as que mais se desenvolveram no estado: a população aumentou, as cidades cresceram e se multiplicaram, as possibilidades de trabalho se ampliaram e a renda das pessoas tornou-se maior que a dos rio-grandenses de outras áreas. Pesquisa, conversa com os colegas e responde às questões a seguir. Registra as respostas no caderno e confere com o professor. a) Quais os motivos desse desenvolvimento?
Os motivos assentam-se nas conclusões da atividade anterior, sobre as vantagens do trabalho livre, da policultura e da pequena e média propriedade.
b) Quais são as semelhanças entre a construção do espaço nas áreas pastoris do estado e nas regiões de monocultura do Nordeste? Monoatividade, latifúndio, mão de obra dependente do senhor de terras, escrava ou servil.
Entre os imigrantes que chegaram no Rio Grande do Sul vieram muitos artesãos, pessoas que exerciam ofícios manuais com madeira, metal e outros tipos de material. Com o desenvolvimento das colônias, muitas oficinas artesanais se transformaram em indústrias. Essa é a origem, por exemplo, da indústria moveleira de Bento Gonçalves e Farroupilha; da indústria metalúrgica de Caxias do Sul; da indústria coureiro-calçadista do vale do Rio dos Sinos. Indústria de ferramentas em São Leopoldo (RS). Foto de 2013.
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Palácio Piratini/Pedro Revillion
O desenvolvimento da indústria
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BAGAGEM Um pouco de literatura Cíntia Moscovich, Erico Verissimo, Mario Quintana, Letícia Wierzchowski, Luis Fernando Verissimo, Lya Luft, Paula Taitelbaum. Você já ouviu algum desses nomes? Conhecidos no Brasil inteiro, esses são alguns escritores nascidos em nosso estado. São homens e mulheres que por meio de contos, crônicas, narrativas e poemas falam um pouco sobre o Rio Grande do Sul em suas obras. Vamos ler agora um trecho de uma crônica escrita por Luis Fernando Verissimo. Nascido em Porto Alegre, em 1936, Luis Fernando é filho de Erico Verissimo, e tem diversos livros publicados. Na crônica, Luis Fernando descreve alguns mal-entendidos que ocorrem na cidade de Porto Alegre, capital do nosso estado.
A mal entendida
Pulsar Imagens/Fernando Bueno
Porto Alegre vive à beira de alguns mal-entendidos. [...] A rua principal da cidade não existe. Você rodará toda a cidade à procura da Rua da Praia e não a encontrará. Usando a lógica – o que é sempre arriscado, em Porto Alegre – procurará uma rua que margeia o rio (que não é rio), ou que comece ou termine numa praia. Se dará mal. Não há praias no centro da cidade, e nenhuma rua ao longo do falso rio se chama “da praia”. Finalmente, desconfiado de que a rua principal só pode ser aquela que concentra a maior parte do tráfego de pedestres no centro, você consultará a placa e lerá “Rua dos Andradas”. Mas ninguém a chama de Rua dos Andradas, chamam pelo nome antigo, Rua da Praia. [...]
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Rua dos Andradas, em Porto Alegre (RS). Foto de 2011.
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Confuso, você talvez entre no prédio da prefeitura para pedir satisfações, só para descobrir que entrou no prédio errado. Existe outra prefeitura, a nova, atrás da velha, que por sua vez tem na frente uma praça chamada não Porto Alegre, mas Montevidéu. [...] A única vantagem de toda esta confusão é que você precisará de muito tempo para ir decifrando Porto Alegre, ao contrário do que acontece em cidades previsíveis e sem graça como Paris, Roma, etc., onde tudo tem o mesmo nome há séculos – e ir degustando-a aos poucos. Acho que não se decepcionará. Vencidos os primeiros mal-entendidos e localizada, por exemplo, a “Praça da Matriz”, você pode fazer uma visita ao Teatro São Pedro, um dos orgulhos da cidade com seu prédio em estilo barroco português e sua pequena plateia em forma de ferradura. Há quem diga que é o teatro mais bonito do Brasil. [...]. Inaugurado em 1858, esteve fechado por uns tempos e foi magnificamente restaurado para sua reinauguração há poucos anos. Da sacada do seu primeiro andar [...], você pode olhar a praça de cima. Se tiver sorte, os jacarandás estarão florindo. Do outro lado da praça estão a Catedral e o palácio do governo estadual, ou Palácio Piratini, esse no estilo neoclássico francês. [...]
Pulsar Imagens/Gerson Gerloff
Luis Fernando Verissimo. A mal entendida. Portal Literal. Disponível em: <http://www.literal.com.br/luis-fernando-verissimo/ nas-cidades/tracando-o-mundo/a-mal-entendida/>. Acesso em: 12 mai. 2014.
Teatro São Pedro em Porto Alegre (RS). Foto de 2012.
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Na tua opinião, por que “Porto Alegre vive à beira de alguns mal-entendidos”?
Resposta pessoal. Explique aos alunos que os “mal-entendidos” ocorrem porque os nomes dos lugares em Porto Alegre mudaram com o passar do tempo. Resposta pessoal.
Tu conheces os lugares mencionados na crônicas? Quais?
Em grupo, escolhe um dos locais citados na crônica e faz uma pesquisa sobre ele. Procura em jornais, revistas e sites informações e imagens sobre esse local. Depois, na data combinada com o professor, monta com os colegas um cartaz e organiza uma exposição dos trabalhos da turma.
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