Conexão 2.0 - PAIXÃO EM JOGO

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EXPRESSÃO: Brasileiros contam como é estudar numa universidade adventista americana a revista do jovem que pensa

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CIDADANIA

A esperança futura não é desculpa para negligência no presente

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julho-setembro 2010

ÁREA CINZENTA

Você deve rejeitar ou apreciar a cultura secular?

CONHEÇA A HISTÓRIA DOS QUE DEIXARAM OS ESTÁDIOS POR CAUSA DA FÉ E SAIBA QUAIS SÃO OS RISCOS DE FAZER DO FUTEBOL UMA RELIGIÃO

PAIXÃO EM JOGO jul-set 2010

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Marcos ________ Designer ________ Editor ________ C.Qualidade ________ Depto. Arte


Os deuses não moram com os homens Ano 4, no 15 • jul-set/2010 ISSN 1981-1470 www.conexaoja.com.br www.twitter.com/conexaoja

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Ilustração da capa: Thiago Lobo Foto: Shutterstock

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ibro com a história de Daniel e seus amigos na coorte babilônica, porque a experiência deles apresenta muitos paralelos e princípios de vida para nossa geração. Uma das lições é: não se iluda com os deuses. Está para existir cidade mais idólatra do que Babilônia. Especialistas dizem que ali havia 53 templos, 955 pequenos santuários e 384 altares. Porém, toda essa religiosidade pagã de nada serviu quando os magos estavam com a corda no pescoço. Ao declararem para Nabucodonosor que só os deuses poderiam revelar o sonho do rei, frustrados, eles completaram: “e estes não moram com os homens” (Dn 2:11). Pergunto: para que serve um deus que não pode socorrê-lo quando você mais precisa? Ao contrário dos deuses de Babilônia que, apesar de palpáveis e concretos, “abandonaram” seus seguidores, o Deus invisível de Israel esteve com os jovens hebreus na fornalha ardente (Dn 3:25). Em nossa sociedade, a Babilônia moderna, a idolatria não acabou, só mudaram os deuses. Hoje, as divindades têm roupagem secular, mas ins-

piram a mesma religiosidade nos homens. Entre os esportes, o futebol é o mais popular e o que inspira maior “religiosidade”. No Brasil, esse sincretismo se mostra ainda mais forte. Aqui, jogador é ídolo; camisa é manto sagrado; estádio é templo e torcedor é fiel. Mas, calma! Não vou propor alienação do mundo, mas prudência. Falo isso, porque na adolescência já deixei de ir à igreja para ver jogo e já até orei (um absurdo, eu sei) para que meu time ganhasse. Por isso, a matéria de capa dicute as implicações espirituais da paixão por um dos principais elementos da nossa cultura. E por falar em diálogo com a cultura, vale a pena você conferir dois artigos nessa linha: “Entre o bem e o mal” e “O reino de Deus e a cidade dos homens”. Espero que esse número ajude você a ter o mesmo equilíbrio daqueles jovens hebreus, que se desenvolveram com o que havia de melhor em Babilônia, sem se iludir com o brilho dos deuses. Boa leitura! Wendel Lima Editor

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Nota do editor: Cabe aqui a menção mais que honrosa ao jornalista e amigo Michelson Borges que está deixando a equipe da Conexão JA. Editor da revista desde seu início, em 2006, Michelson sempre trabalhou para que a Conexão tivesse uma pauta diversificada, atual e coerente com os princípios do adventismo, além de acreditar e trabalhar para a expansão do número de assinantes da revista. Agora, ele se dedicará exclusivamente à editoração de livros, especialmente os voltados para jovens. Porém, nada impede que ele faça uma “pontinha” numa edição ou outra. Obrigado Michelson!

Um prêmio para todos

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peonato de futeocê deve estar acompanhando o cam 32 equipes conbol disputado na África do Sul em que ímetros de altura e de correm a um troféu de ouro de 36 cent como você, milhões aproximadamente cinco quilos. E assim o torcendo pela seleção de pessoas ao redor do mundo estã a, apesar de todos os tide seu país. Todavia, no fim da Cop , apenas uma seleção mes terem investido tempo e dinheiro . levará para casa a tão concorrida taça ao contrário do munque é nto, A melhor notícia, no enta io celestial é garantido do desportivo, na corrida cristã o prêm 9:24). Por isso, ainda para todos que não desistirem (1Co ativos de dura prorroque você enfrente alguns minutos cans

s tem uma “taça” para gação, persevere até o fim, pois Jesu o pela Fifa, a coroa da você. E, diferente do troféu oferecid vida eterna é incorruptível. er, tomando diaMas para conquistá-la é preciso corr foco; (2) ajustar riamente três atitudes: (1) definir seu disso, é imporseu foco; e (3) acertar o passo. Além que tenha para , tante não chegar ao topo sozinho o prêmio de com quem comemorar. E lembre-se: atma Gandhi, Jesus é para todos; mas como disse Mah eiro passo para “nas grandes batalhas da vida, o prim a vitória é o desejo de ganhar.” Um abraço de um premiado, Otimar Gonçalves ericanos

Líder dos jovens adventistas sul-am

Rod Cai Fon Site

SER Lig

Seg Sext


8 Paixão em jogo

5 Pode crer

Saiba como apreciar, de maneira equilibrada, o esporte mais popular do mundo

A igreja tem o desafio de preservar sua unidade sem desrespeitar a diversidade

6 Expressão 13 Link

Brasileiros e a vida acadêmica no Exterior Efeito colateral: o fenômeno dos blogs trouxe liberdade e dependência

17 Mercado de Trabalho Você merece um aumento de salário? Então, saiba como pedir

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20 Na Cabeceira

14 Entre o bem e o mal

21 Bem Contado

22 O reino de Deus e a

25 Aconteceu Comigo 26 Raio X 27 Saúde e Beleza

O torcedor que, durante um jogo de futebol, descobriu quem eram seus ídolos

Na vida cristã nem tudo é preto ou branco. Por isso, nas questões com matizes de cinza, é preciso discernimento

Adrenalina

Experimente voar de balão e pousar onde “SDS” Foto: Diogo Cavalcanti

Shutterstock

Conheça o livro sobre o herói que só enxergou depois de perder a visão e o filme que pode salvar casamentos

O jovem curioso por ETs que encontrou na Bíblia sentido para a vida

cidade dos homens

No inverno, para combater as gripes e resfriados conte com os anticorpos

28 Dúvida Cruel 30 Conexão Direta

Imagem: Marcos Santos

Os riscos espirituais da série Crepúsculo e da nova onda de vampirismo

CASA PUBLICADORA BRASILEIRA Editora dos Adventistas do Sétimo Dia Rodovia Estadual SP 127 – km 106 Caixa Postal 34 – 18270-970 – Tatuí, SP Fone (15) 3205-8800 – Fax (15) 3205-8900 Site: www.cpb.com.br / E-mail: sac@cpb.com.br SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CLIENTE Ligue Grátis: 0800-9790606 Segunda a quinta, das 8h às 20h30 Sexta, das 7h30 às 15h45 / Domingo, das 8h30 às 14h

A realização espiritual é possível e depende de você

Editor: Wendel Lima Editor Associado: Diogo Cavalcanti Designer Gráfico: Marcos S. Santos Diretor-Geral: José Carlos de Lima Diretor Financeiro: Edson Erthal de Medeiros Redator-Chefe: Rubens S. Lessa Gerente de Produção: Reisner Martins Gerente de Vendas: João Vicente Pereyra Chefe de Arte: Marcelo de Souza Chefe de Expedição: Eduardo G. da Luz

Colaboradores: Otimar Gonçalves, Aquino Bastos, Areli Barbosa, Elmar Borges, Nelson Milanelli, Ivay Araújo, Ronaldo Arco e Donato Azevedo Filho Assinatura: R$ 18,20 Avulso: R$ 5,70 Tiragem: 10.000

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Sem uma régua padrão, a imoralidade fica sem medida

Como esperar o mundo vindouro sem negligenciar a responsabilidade civil do presente?

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Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita do autor e da Editora.

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Envie um e-mail pra gente: conexaoja@cpb.com.br – As mensagens publicadas não representam necessariamente o pensamento da revista.

INTERNET Olá! Sou adventista há algum tempo, mas nunca tinha lido essa revista maravilhosa! Gente, ela tem que ser mensal. É preciso divulgar mais essa revista que tem um conteúdo maravilhoso! Ah! E tinha que ter algumas dicas também para líderes de jovens. Fizemos assinatura este ano e estou amando! A deste trimestre, falando sobre o Facebook e Orkut, está demais também. Meu vizinho até já pediu pra dar uma lida. Existem muitos jovens adventistas que realmente dão valor a materiais seculares como Harry Potter, Crepúsculo, Lua Nova e por ai vai... Jesus está voltando... e ainda bem que existe a Conexão JA. Abraços e parabéns a todos! Shirléia Gonçalves, 31 anos shirleiac@hotmail.com São Gonçalo, RJ

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Olá pessoal, a revista está cada vez melhor! A edição sobre as redes sociais, então, nem se fala! Vamos usar todos os meios possíveis para proclamar a breve volta do nosso Senhor Jesus. Aquele antigo ditado poderia ser revisto, né?: “Diga-me de quais comunidades você participa, que direi quem tu és.” Josué Frias Rodrigues, 26 anos jjpicolino@hotmail.com Ivaiporã, PR Olá, família Conexão. Parabéns pela última edição, “O mundo do outro lado da tela”. Tenho Orkut para interagir com meus familiares e amigos e MSN para o trabalho. Muitas vezes já tive vontade de excluir meu perfil. Porém, na convenção de jovens desse ano abordamos o mesmo assunto e aprendi a seguinte versão moderna do texto: “Portanto, quer ON LINE, quer OFF LINE, fazei tudo para a glória de Deus” (1Co 10:31) Edivaldo Pereira Silva, 31 anos biguasilva@hotmail.com Itanhém, BA UNIVERSITÁRIOS Marcos ________ Designer ________ Editor ________ C.Qualidade ________ Depto. Arte

Não poderia depois de ler a belíssima entrevista “Público emergente” deixar de tecer alguns elogios. Realmente a revista Conexão JA tem sido uma bênção pra mim. Olha, esse material me esclareceu muitas dúvidas... muito bom, muito bom mesmo! Tem sido uma preocupação nossa dar suporte aos pré-universitários aqui no Maranhão, por isso, organizamos um cursinho para os jovens da igreja. 4

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Em nossa Associação de universitários temos o diretor da escola adventista de nossa cidade como conselheiro, o que tornou mais fácil arrumar um local para ministrar as aulas. Os professores adventistas também se prontificaram em ajudar. Veio gente até de outras denominações participar e com certeza podemos testemunhar para eles, pois temos o costume de cantar, orar e ler a Bíblia antes das aulas... os jovens estão muito animados e esperamos com isso que a turma tenha um alto índice de aprovação no vestibular deste ano. Parabéns e felicidades! Tharcísio Pimentel Lima, 20 anos tharcisioqmc@gmail.com Diretor da Associação Adventista Maranhense Universitária (AMU) Bacabal, MA Essa foi uma das melhores edições que eu já li. Gostei muito da matéria “Público emergente”. Estudo numa universidade secular no Espírito Santo e sinto falta de uma agremiação adventista por aqui. Já tentamos organizar algo uma vez, mas acabamos deixando para depois. Por causa da matéria, pretendo resgatar os antigos planos. Gostaria de destacar também o artigo “Fidelidade mútua”. Já passei por situações parecidas às da Larissa, mas Deus também se mostrou de maneira poderosa na minha vida. Enfim, a revista falou diretamente comigo o tempo todo! Deus tem usado esse meio de forma poderosa! Três meses é muito para esperar pela revista, por isso, QUEREMOS CONEXÃO MENSAL JÁ! Francielle Rosa da Costa, 21 anos francielleindia@hotmail.com Cariacica, ES TESTEMUNHO Olá amigos da Conexão, amo as reportagens sobre namoro, mercado de trabalho, e testemunhos. Mas, na última edição, o que me impressionou muito foi o testemunho da Larissa, estudante de Medicina. Sou estudante de Nutrição em Ipatinga, MG, e passo por situações semelhantes. Deus tem cuidado de mim, em relação às minhas notas e às faltas nas sextas-feiras à noite. Tenho testemunhado com minhas atitudes, palavras e até mesmo com publicações, DVDs e CDs (costumo emprestar a Conexão para minhas amigas). Ao terminar este ano, quero pegar meu diploma e deixar uma sementinha da Palavra de Deus plantada no coração dos meus colegas e professores. Acho que a revista deve continuar publicando testemunhos, para encorajar outros. Que Deus continue iluminando e abençoando ricamente os editores. Joice Silva Vieira, 20 anos joicinhasvieira@hotmail.com Ipatinga, MG NOTA DO EDITOR: Por e-mail, a Larissa nos contou que recebeu o contato de três garotas querendo saber mais sobre sua história. Elas

decidiram cursar Medicina por causa do testemunho da última edição. SUGESTÃO DE PAUTA Gostaria que na próxima edição vocês colocassem um artigo falando sobre ecumenismo moderno e a união das igrejas, pois tenho muitas dúvidas sobre o assunto. Douglas Ramos ramos.douglas65@gmail.com Marabá, PA NOTA DO EDITOR: Douglas, obrigado pela sugestão. Estamos trabalhando para fazer algumas mudanças editorias na revista para 2011, uma delas, é dar mais atenção aos temas doutrinários. Aguarde, porque vem muita coisa boa por aí! PELO PERFIL CONEXAOJA @paulinha777: O q falta para a revista se tornar mensal? @vivianearosa: A nova edição já chegou aki em casa e está maravilhosa. Parabéns a todos q trabalham para a realização dessa revista fantástica! @noreleifranzin: Adorei a matéria sobre redes sociais. Até resolvi dar uma olhada nas minhas comunidades e vi que muitas haviam alterado os títulos. Parabéns, a revista está cada vez melhor, abraço! @francielleindia: ouvir dizer que existe uma possibilidade da revista ser mensal? Será que meus pedidos foram atendidos? Espero q sim! A CONEXÃO JA EM 140 CARACTERES @PlanetaJA: Conexão JA, a revista do jovem adventista que deveria ser mensal pela qualidade do conteúdo apresentado. @richardvalenca: Opinião diferenciada num mundo que está cheio de mesmices. @quelgt: Ela faz uma conexão direta entre os jovens e Seu Criador. PEDIDO VIA MSN Davison Silveira, um dos entrevistados da matéria sobre redes sociais do último número, se casou recentemente graças a um contato via internet. Ele conta sua história: “Eu comecei meu namoro via MSN. Convivemos por cinco meses, um gostando do outro, sem que ambos soubessem. E foi no MSN que tomei coragem e a pedi em namoro e ela aceitou.” O relacionamento virtual virou, há poucos meses, casamento na vida real. Parabéns ao casal!

Ilustração: Shutterstock

Oi amigos da Conexão! É com muita satisfação, que por mais de um ano sou assinante dessa maravilhosa revista dos jovens da igreja de Deus. A cada trimestre fico na expectativa de receber o novo número da revista. Oro para que o Senhor continue abençoando vocês para que esse trabalho nunca cesse. Rodrigo Nogueira, 26 anos rnarodrigo@hotmail.com Xapuri, AC


Todos por Um

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Ilustração: Shutterstock

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m minha casa tenho três filhos: o Felipe, a Mariana e o Leonardo, sendo que os dois últimos são gêmeos. Eles são irmãos, mas diferem na personalidade e nas preferências. Essa diversidade da minha família é apenas uma amostra do que acontece na família de Deus: a igreja. Formada por milhões de indivíduos de origens, culturas, idiomas e pontos de vista diferentes, os conflitos são inevitáveis. Por isso, questões como a música adequada para o culto, os métodos de se pregar o evangelho e que tipo de comida se deve servir nos almoços organizados na igreja, são frequentes. Entretanto, Jesus nos diz que devemos ser um povo unido. União inspirada no modelo de intimidade entre Cristo e o Pai (Jo 17:11) e na experiência comum e transformadora do novo nascimento (2Co 5:17). Todos somos diferentes, desde nosso histórico familiar até a preferência por um sabor de sorvete, mas os fatores que nos identificam são muito mais fortes. Fomos feitos à imagem de Deus e nosso coração foi renovado pelo Espírito Santo. Todos descendemos de Adão e Eva e todos fomos redimidos por Jesus. Portanto, mais poderosas do que nossas diferenças, são nossas semelhanças. Quando os primeiros cristãos entenderam que era preciso preservar a unidade sem desrespeitar a diversidade, transformaram o mundo. Mas essa compreensão foi difícil e gradativa para eles. Os discípulos chegaram a discutir, por exemplo, sobre quem era o mais importante entre os seguidores de Cristo. Entre eles, havia gente bondosa, pregadores ardentes, pecadores e homens de negócios. Havia até um coletor de impostos e um fanático religioso. Uni-los, como disse alguém, era como tentar colocar no mesmo time George Bush e Saddam Hussein. E mesmo que tenham experimentado algumas vitórias, até chegarem à maturidade como grupo, lidaram com maus entendidos e amargaram miseráveis fracassos. Antes de Jesus ascender ao Céu, Ele pediu que os apóstolos se reunissem para esperar a descida do Espírito Santo. Nessa época, os cristãos eram uma minoria impopular e era perigoso seguir a Cristo. E foi exatamente para esse grupo que Deus

confiou uma missão gigantesca. Porém, para que eles a cumprissem era preciso que um espírito de unanimidade reinasse entre o grupo. E o que significa “unanimidade” nesse contexto? Mais do que estarem próximos geograficamente, a palavra grega originalmente utilizada significa “ter a mesma mentalidade”. Como isso aconteceu? Quando deixaram as diferenças e abraçaram a missão. Hoje, o segredo do nosso sucesso não é outro. Opiniões divergentes, mas um objetivo comum; preferências diferentes, mas o mesmo propósito; idiomas distintos, mas serviço ao mesmo Senhor. E o que fazer então com nossas diferenças? Sufocá-las ou fingir que não existem? Nada disso. Devemos identificar e celebrar essas peculiaridades, colocando-as à disposição de Deus. Negar as diferenças seria negar a natureza da igreja, comparada por Paulo ao funcionamento do corpo humano. Nossa diversidade se origina no próprio Deus que, para beneficiar o desenvolvimento do corpo de Cristo, a igreja, distribui características, habilidades e dons como lhe apraz (1Co 12:20-26). Por isso, espero que, à medida que você identificar melhor sua missão, permita que o Espírito Santo use seus dons para promover a unidade e o propósito de sua igreja. Não caia na tentação de dar cabeçadas nos seus irmãos em Cristo, porque ninguém ganha com isso. Pelo contrário, promova a unidade e respeite a diversidade. Ronaldo Böll Arco

Líder dos jovens adventistas do Estado de São Paulo ronaldo.arco@adventistas.org.br

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O plano de Deus para Sua igreja é a preservação da unidade e o respeito pela diversidade

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DIOGO CAVALCANTI

Do Brasil para o mundo Tiago Arrais

/ Ph.D 25 anos / Engenheiro Coelho, SPa Cristã em Antigo Testamento e Filosofi

Por que você decidiu estudar no exterior? Tiago: Acreditei e acredito que foi um chamado de Deus para minha esposa e eu. Depois de três anos aqui, tenho certeza de que não seria o mesmo pastor sem o preparo recebido na Andrews.

Prestes Carina Pereira de Oliveirarado em

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28 anos / Curitiba, PR / Mest Arqueologia

Hanny Brcic Guzman

24 anos / São Paulo, SP / Mestrado Missiologia

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Rodrigo de Galiza Barbosarado em 23 anos / São Luís, MA / Mest Divindade

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Como você conseguiu ingressar na Andrews? Rodrigo: Comecei a me informar um ano e meio antes de ser aprovado. Os e-mails e telefonemas eram raramente respondidos. Tive momentos de muita frustração. Quase desisti. Mas, confiante em Deus, continuei, insisti, e Deus abriu as portas. No processo final, amigos brasileiros do Unasp me ajudaram com informações importantes e intercederam por mim na secretaria da Andrews. Hanny: Antes de vir para a Andrews, meu marido e eu economizamos dinheiro por dois anos, através da colportagem (venda de livros religiosos). Começamos esse projeto quando ainda éramos namorados. Existem expectativas antes de estudar no exterior, mas, quando se chega lá, muita coisa pode ser diferente. Você passou por isso? Tiago: Com certeza! Por mais que já houvesse morado com meus pais anos atrás nesta instituição e no mesmo complexo de apartamentos (ou como chamamos aqui “apertamentos”), muita coisa mudou. Quando chega-

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Estudantes adventistas da Andrews University contam como é estudar fora do País mos à Andrews, nos sentíamos sozinhos, pois não havia muitos brasileiros de nossa idade. Mas, com o tempo, chegou uma juventude com muita vontade de estudar e com amor pela Palavra, e agora temos um grande grupo jovem aqui. Carina: Quanto ao estudo, minhas expectativas foram superadas. A Andrews é um lugar realmente abençoado, tem excelentes professores e, como se trata de um ambiente cristão, as pessoas de forma geral estão dispostas a ajudar e interessadas no seu aprendizado. Fiquei impressionada! Hanny: Talvez a maior expectativa seja a curiosidade sobre a cultura do país estrangeiro. Mas, com o tempo, as coisas que eram diferentes se tornam corriqueiras e normais. Acredito que é preciso ter atenção para preservar a identidade, a língua portuguesa e os bons costumes. Um fenômeno comum ocorre quando o brasileiro se torna “americanizado”. Quando ele retorna para o Brasil, já não é brasileiro nem americano. Como foi a adaptação à língua? Carina: Cheguei aqui pensando que seria relativamente fácil; afinal, tinha a nota necessária no TOEFL. Quando precisei do inglês só para conversar socialmente, até que foi tranquilo, mas, quando comecei a estudar e tive que escrever alguns trabalhos acadêmicos, me vi diante de um novo desafio. Isso também acon-

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Fotos: Michelson Borges

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studar no exterior é um ótimo caminho não apenas para aprender uma língua, mas para crescer acadêmica e culturalmente. Essas e outras motivações levam mais de 140 mil brasileiros a buscar conhecimento em terras estrangeiras a cada ano. Foi o que Rodrigo, Carina, Tiago e Hanny fizeram. Eles decidiram estudar na Andrews University, a mais famosa universidade adventista do mundo, não somente para alcançar uma sólida formação, mas também para dedicar esse conhecimento no serviço a Deus e ao próximo. Com seus mais de 70 programas de graduação e outros 130 cursos, a Andrews recebe cerca de 3,4 mil alunos de cem países, o que a situa como a sétima universidade culturalmente mais diversa dos Estados Unidos.


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Alguém disse que o brasileiro tem tudo para se dar bem fora do Brasil, a única ◆ O TOEFL (Test of English as a Foreign Language) é coisa que falta a nós é o um teste constantemente atualizado pela ETS, entiidioma. Que características dade norte-americana especializada em avaliações. É o teste mais exigido mundialmente como prova de de nossa cultura nos conhecimento da língua inglesa e pré-requisito para beneficiam ou atrapalham a admissão em universidades internacionais. Assim no intercâmbio? como o TOEFL, existem outros testes: TOEIC, IELTS, Rodrigo: Várias coisas atrapaCPE, GER, etc. Para saber mais informações sobre o TOEFL e onde prestá-lo acesse a página oficial da ETS: lham: a língua e alguns maus (http://www.ets.org/bin/getprogram.cgi?test=toefl). costumes como jogar lixo na rua, furar fila, desrespeito à autoridade, não levar a sério leis em relaE a comida? Carina: Foram necessárias apenas algu- ção a fotocópias, trânsito, etc. Por outro mas mudanças nas receitas brasileiras, lado, ajuda muito o espírito alegre, de pois os ingredientes aqui são diferentes. desafio e de topar tudo. Também destaO sal não é tão forte. Já o açúcar é bem co a facilidade de conquistar a amizade, mais doce do que no Brasil. a ausência de preconceitos culturais e a falta de inimizade com outras nações. Como geralmente os alunos estrangeiros pagam os estudos? Que trabalhos realizam? Hanny: O primeiro passo é caprichar nas notas e solicitar o maior número de bolsas. O segundo passo é trabalhar para pagar as despesas. O governo permite Que diferenças você vê entre ao estudante internacional trabalhar 20 o adventismo brasileiro e o horas por semana. Os tipos de serviço americano? variam de pessoa para pessoa. Geral- Tiago: Os Estados Unidos, por terem sido mente, o pessoal começa trabalhando o berço do adventismo, experimentaem lugares que não exigem o inglês, e ram mudanças e traumas que o Brasil depois começam a migrar para trabalhos ainda não viveu. Já a veia evangelística do Brasil é algo que nos difere de todo mais interessantes. o mundo. É um privilégio ser adventista No campus vocês têm cultos no Brasil. Aqui, tudo é mais impessoal em diversos estilos, desde o devido à cultura americana, e, por mais

que isso seja normal aqui, sempre sentiremos falta do calor e do amor dos irmãos brasileiros. Carina: A maior diferença que eu vejo é o espírito missionário. Desde pequenos, os americanos já são envolvidos em missão. A maior parte dos missionários aqui não são pastores, mas leigos. Outra diferença é a faixa etária dos membros. Aqui os jovens são a minoria. Rodrigo: As expressões culturais são um pouco diferentes, porém, creio que os brasileiros estão cada vez mais sejam cada vez mais parecidos com os norteamericanos, por causa da televisão e da internet. Hanny: Gostaria de ver o adventismo do Brasil menos centrado em si mesmo e mais consciente em relação aos desafios dos outros continentes. O Brasil pode oferecer muito para o mundo. Em contrapartida, gostaria de ver o adventismo norte-americano se tornando forte novamente. O espírito de nossos pioneiros deveria ser retomado. Qual é seu plano pós-Andrews? Carina: Voltar para o Brasil e servir onde Deus me chamar. Rodrigo: Estou todos os dias orando sobre isso. Queremos servir a Igreja e ver Jesus voltar. Só Deus sabe o que vai acontecer.

Gostaria de ver o adventismo do Brasil menos centrado em si mesmo e mais consciente em relação aos desafios dos outros continentes. O Brasil pode oferecer muito para o mundo

Fotos: Michelson Borges

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mais tradicional até o mais contemporâneo. Como fica a espiritualidade nesse “caldeirão” de culturas? Rodrigo: A comunhão individual é importantíssima tanto aqui como no Brasil ou em qualquer lugar do planeta. No meu caso, faço parte de um pequeno grupo formado por brasileiros em que toda quarta à noite oramos e estudamos o livro Atos dos Apóstolos. Isso nos ajuda muito. A amizade conta muito, talvez mais que o estilo de culto.

Tiago: Estamos preparados para enfrentar qualquer desafio na confiança de que o Deus que nos guiou até aqui continuará nos guiando. Portanto, se for Brasil, África ou Ásia, estaremos atentos e prontos para aceitar a vontade de Deus para nossa vida. Hanny: Quero voltar para o Brasil, mas isso não depende de mim; portanto, prefiro me dedicar aos estudos agora e não pensar muito na vida pós-Andrews ainda. Estamos nas mãos de Deus. jul-set 2010

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teceu quando comecei a trabalhar na universidade, tendo que falar inglês com americanos. Eu não sabia o nome de coisas simples como “grampeador”. Então, eu apontava para as coisas. Hanny: Estudei inglês um ano antes de começar o mestrado. Isso me deu segurança para interagir com os colegas de classe. O importante é não ter vergonha. Caso alguém esteja interessado em estudar fora, eu aconselharia a “ralar” na gramática ainda no Brasil e a fazer os exames necessários no Brasil, como o TOEFL e o GRE. Assim, se economiza tempo, que significa dinheiro na América.

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Filho de mãe adventista e pai católico não praticante, a paixão de Roberto por um dos times mais populares do Brasil foi uma herança paterna. Criado conforme os princípios adventistas e batizado aos 12 anos, foi a insatisfação com a igreja na adolescência que o fez renunciar sua fé. Afastado, provou álcool e outras drogas mais pesadas, virando escravo daquilo que tanto desejava experimentar. Entrou de cabeça na vida noturna e, sobretudo, no fanatismo pelo futebol.

Filiou-se a maior torcida organizada do clube e fundou outras duas. Sua vida passou a ser pautada pelo calendário esportivo e todo tempo e dinheiro excedentes foram investidos no esporte. A paixão era tanta que, para provocar os vizinhos que torciam para o time rival, aos domingos ele escutava por horas a fio, como um “mantra”, o hino do clube do coração. Sob o pretexto de defender as cores do seu time, o grupo de amigos virou

Fotos: Lisandro Staut (Motta) e Wendel lima (Dirceu)

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ão Paulo e Curitiba. Roberto e Dirceu. Pessoas que não se conhecem, mas que estão unidas pelo passado e pelo presente. Ontem, acompanhavam religiosamente seus clubes. Hoje, professam a mesma fé. A biografia deles ilustra, ainda que de modo extremado, que o futebol no Brasil assume contornos de religião. Por isso, na época em que todos os olhos estão voltados para os gramados da África do Sul, vale refletir sobre como o cristão deve se relacionar com o esporte mais praticado no mundo.

Arte sobre fotos de Shutterstock

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Num país em que o amor pelo futebol parece religião, ex-jogadores e ex-torcedores contam por que deixaram os estádios em nome da fé


vinculado a uma torcida organizada; afetou também seu relacionamento familiar: contrariando a esposa Cláudia, Dirceu chegou a levar o filho Guilherme ao estádio com mamadeira e fraldas, na época um bebê. Ele não perdia nenhum jogo. Nessa época, Cláudia começou a frequentar igrejas evangélicas, até que, por influência de uma amiga, passou a estudar a Bíblia com adventistas e levar os filhos à igreja. Se em casa a paz reinava, nos estádios a violência imperava. Dirceu passou a refletir sobre esse contraste. Por causa de um jogo, realizado em Ponta Grossa, PR, que ele acompanhou, duas pessoas morreram. Em outra oportunidade, Dirceu chegou machucado em casa por causa de uma briga. Aos poucos, percebia o rumo que sua vida estava tomando. Foi então que Dirceu resolveu se apaixonar por outra causa. Na época em que conhecia a mensagem bíblica, seu time inaugurava o estádio mais moderno do Brasil, sonho de consumo de qualquer torcedor. Porém, Dirceu já havia decidido frequentar o verdadeiro templo. Na igreja, ele descobriu que seu espírito

de liderança sobre os jovens poderia ser exercido para a salvação dos adolescentes. Há quase dez anos é professor da Escola Sabatina para essa faixa etária e também atua como ancião e líder do ministério da família. Hoje, com 42 anos ele trabalha com licitações. Para Dirceu, desde seu batismo em 2000, estádio é coisa do passado. Se a paixão pelo futebol na arquibancada se mostra alienadora e espiritualmente destrutiva, levar o esporte a sério dentro das quatro linhas, como profissão, para um adventista parece inviável. Pelo menos é o que dizem os 11 “exboleiros” e o técnico que escalamos nas próximas duas páginas. Eles deixaram os gramados quando perceberam que o gosto pela bola se tornou incompatível com a fé, especialmente em relação à guarda do sábado. Eles optaram por algo maior do que a carreira, fama, dinheiro ou uma taça. Confira!

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Fotos: Lisandro Staut (Motta) e Wendel lima (Dirceu)

Arte sobre fotos de Shutterstock

gangue. No uso de drogas, Roberto descobriu a melhor maneira de tentar silenciar a voz do Espírito Santo, que não dava paz à sua mente. “Em sã consciência, eu não faria aquelas loucuras”, confessa. Hoje, ele não consegue enumerar quantos ex-colegas foram mortos pela polícia ou sucumbiram por overdose. E foi numa crise que Roberto se reencontrou com Deus. Numa tarde, depois de misturar álcool com outras drogas, ao chegar ao apartamento de sua família, caiu no chão em convulsão. Roberto não sabe quanto tempo se passou, só lembra que, ainda entorpecido, percebeu que estava machucado, sua roupa fora rasgada e que estivera deitado sobre seu vômito. Caindo em si, viu quão longe andara de Deus. A culpa o esmagava. Pensou em se jogar da janela, mas não tinha força nem para levantar. Ele acredita que naquele momento ouviu a voz do próprio Jesus. O filho pródigo que pediu perdão naquela tarde, se levantou decidido a mudar de vida e servir ao Senhor. Hoje, assistir um jogo de futebol é só pela TV e quando sobra tempo. Sua missão, há mais de 20 anos, é ajudar outros a escutar as palavras transformadoras que um dia ouviu. O pastor Roberto Mota, 48 anos, é o evangelista da Igreja Adventista para o oeste paulista. Trajetória parecida teve Dirceu Pires, ex-filiado à maior torcida de um dos principais clubes paranaenses. Sua paixão pelo futebol nasceu aos dez anos, quando seu pai o levou para assistir uma final de campeonato estadual, entre os maiores rivais paranaenses. Encantado com a vibração dos torcedores no estádio, frequentou a agremiação até os 19 anos, quando decidiu fundar uma nova torcida. As brigas com os torcedores de outros times e com a polícia eram comuns. Dirceu chegou a viajar 12 horas sem comer, só para assistir a um jogo. Passado um tempo, o “amor” pelo time, como todo vício, começou a lhe prejudicar. O futebol afetou seu trabalho: ele deixou de ser promovido por estar

Para Dirceu, desde seu batismo em 2000, estádio é coisa do passado. A paixão pelo esporte chegou a atrapalhar sua carreira e vida familiar

Na adolescência, o fanatismo pelo futebol e o uso de drogas o levaram ao fundo do poço. Transformado, o pastor e evangelista Roberto Motta convida, há mais de 20 anos, milhares de pessoas a vibrar por outra causa

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Eles trocaram de time

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Escalamos uma seleção de ex-jogadores (até com técnico) que trocaram a bola pela Bíblia. Apesar de protagonizarem histórias diferentes, algumas marcadas por emocionantes conversões, o que os une é uma convicção: foi impossível conciliar a carreira com a fé, especialmente com a guarda do sábado. Desses doze homens, seis são pastores adventistas hoje. Eles Nome: Messias J. Silva, 39 anos. contam em que times jogaram e como conheceram a mensagem bíblica. Times: Grêmio Sorocabano e São Bento (Sorocaba), Ituano e Estrela de Itu (Itu); Capivariano (Capivari) e Derac (ItapetiNome: Helbert Roger Almeida, 37 anos. ninga) – todos os clubes são do interior paulista. Times: Categoria infantil do Cruzeiro (MG) e Seleção Brasileira Sub-17 (1988).

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Nome: Igor Bolichoski, 27 anos. Times: Paraná Clube e Corinthians Paranaense (antigo J. Malucelli) Decisão: Nascido em lar adventista, jogou até o momento em que foi possível conciliar o esporte com a guarda do sábado. Hoje, é pastor distrital na Região Metropolitana de São Paulo.

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Nome: Dirceu Zanella, 44 anos. Times: Criciúma – SC (1983-1984), onde foi campeão catarinense em 1984; Nacional – SP (1985); Ferroviária – Araraquara, SP (1986); e Seleção Paulista de Profissionais da Segunda Divisão (1986). Decisão: Decidiu-se pelo batismo em duas semanas. Na primeira, leu o livro Caminho a Cristo, e na segunda, completou uma série de estudos bíblicos ministrada por um tio. Foi expulso de sua casa, apanhou de um irmão e foi ameaçado de morte por outro. É pastor da Igreja Adventista de Moema, em São Paulo.

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Decisão: Conheceu a mensagem adventista por meio de um amigo e então jogador de futebol, Cirilo Gonçalves da Silva. Ao estudar a Bíblia com o colega, tinha o objetivo de fazê-lo desistir de deixar o futebol. No fim, ambos deixaram os gramados. É pastor distrital em Tijucas do Sul, SC. Nome: Elissandro Rodrigues dos Santos, 28 anos.

Nome: Hugo Leonardo de Souza Rodrigues, 26 anos.

Times: Seleção Sub-21 do Rio Grande do Sul e Grêmio (RS).

Times: Gama – DF (2000), São Paulo (2002) e Sobradinho – DF (2003).

Decisão: Conheceu a mensagem adventista por meio de um amigo do seu irmão. Relutou em deixar o futebol. Finalmente, desistiu da profissão e foi batizado em 2001. Hoje, é assistente de colportagem na sede da Igreja Adventista para a região central do Paraná, em Curitiba.

Decisão: Sempre esteve na igreja e antes de assinar qualquer contrato deixava claro sua posição quanto à guarda do sábado, mas não foi possível conciliar a carreira com a fé. Formado em Administração de Empresas, trabalha como analista de crédito em uma construtora, em Brasília, DF.

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Ilustração: Thiago Lobo / Fotos: Cortesia dos entrevistados

Decisão: Nascido em um lar católico praticante, aos 15 anos, descobriu a verdade sobre o sábado e deixou os gramados. Hoje, é pastor e líder dos jovens adventistas da região sul do Estado de São Paulo.

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Times: São Bento (Sorocaba); Guaçuano (Mogi-Guaçu); Guarani Saltense (Salto), equipes do interior paulista e Rio Branco (Andradas-MG).

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Nome: Carlos Augusto de Souza Rodrigues (Gustinho), 21 anos.

Ilustração: Thiago Lobo / Fotos: Cortesia dos entrevistados

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Times: Gama – DF (2005/2006); Cruzeiro (2007); Sobradinho – DF (2008/2009); e Zaragoza, Espanha (2009). Decisão: Apesar de liderar um pequeno grupo, levava uma vida dividida, chegando a treinar no sábado. Quando jogava na Europa, simulou uma contusão no joelho para deixar a carreira. Hoje, ele estuda Administração de Empresas e trabalha em Brasília, DF.

Nome: Vanderlei Moraes Lima, 35 anos. Times: Novo Horizontino e Bragantino, no interior paulista, e Goiás. Decisão: Conheceu a Igreja Adventista na adolescência, por meio dos desbravadores e acabou se afastando por causa dos compromissos aos sábados. Encerrou a carreira esportiva por ter machucado o joelho esquerdo. Trabalhou como piloto de táxi aéreo, até que neste ano decidiu voltar para a igreja. É vendedor de carros em Goiânia, GO.

Decisão: Ao responder um curso bíblico, nos intervalos dos treinos, se deparou com as profecias bíblicas. Hoje, é o pastor evangelista da Igreja Adventista para a Região Centro-Oeste. Na década de 1990, junto com seu irmão, pastor Luís Gonçalves, ajudou a evangelizar a cidade de Aparecida do Norte, SP, reduto do catolicismo no Brasil. Nome: Carlos Alberto Batista, 35 anos. Times: São Paulo (1992-1993), onde foi campeão mundial interclubes; Fluminense (1993-1994); Santos (1996); Paraná Clube (1997), e Bragantino – SP (2000). Decisão: Conheceu a fé evangélica enquanto jogava no São Paulo. Sua nova fé levou o amigo Gleidson, então ateu, a se tornar adventista. Posteriormente, seria o próprio Gleidson que levaria Carlos Alberto para a Igreja Adventista. É pastor do distrito de Ponte Rasa, na Zona Leste de São Paulo.

Nome: Nilton Braga de Melo (técnico), 56 anos. Times: Seleção Paulista e Brasileira de Juniores (1974); Corinthians (1974-1975); Palmeiras de Blumenau – SC (1976); Paissandu de Brusque – SC (1977); Figueirense – SC (1978) e Santo André – SP (1979). Na década de 1990, se tornou técnico, sendo campeão sulamericano de juniores pelo Blumenau Esporte Clube. Decisão: Em Florianópolis, ele e a esposa se tornaram evangélicos. No entanto, sentiam-se incomodados pelo fato de que sua denominação não ensinava sobre a guarda do sábado. Morando em Blumenau, conheceram a mensagem adventista. Nilton deixou a carreira de técnico por causa dos jogos aos sábados. Hoje, ele é corretor de imóveis em Blumenau, SC.

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Nome: Cirilo Gonçalves da Silva, 40 anos.

Times: Real Bissau, Benfica e Seleção Sub-16 de GuinéBissau, todos do país africano. Decisão: Nascido num lar de religião não-cristã, Ricardo chegou a ser selecionado para jogar no Benfica de Portugal e ganhar 40 mil reais mensais. Recém-converso ao adventismo, rejeitou a proposta por causa da guarda do sábado. Como consequência, foi expulso de casa, decidindo ser missionário voluntário. Levou cem pessoas ao batismo em seu país. Por intermédio de um pastor brasileiro conseguiu atravessar o Atlântico para estudar no Unasp, campus Engenheiro Coelho. Cursa o último ano de Administração de Empresas.

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Nome: Ricardo Afonso Lopes Vieira (Mabola), 23 anos.

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AS REGRAS DO JOGO

nações que consolidaram um personagem histórico como o “salvador da pátria”, no Brasil, esse papel é desempenhado pelos jogadores. Se a popularidade do futebol e sua relação com a religiosidade é tema para muitos debates, o posicionamento do cristão diante desse elemento cultural é bem claro: equilíbrio. Os que colocam o esporte no seu devido lugar, aproveitam de seus benefícios para o desenvolvimento físico e a sociabilidade, e chegam a utilizá-lo até mesmo com um fim evangelístico. Foi o que fizeram os editores da revista Signs of the Times (Sinais dos Tempos) da África do Sul. Aproveitando o clima do evento esportivo, os editores produziram uma edição especial, com 280 mil exemplares, falando sobre 17 estrelas do campeonato, tabelas, curiosidades culturais e com artigos evangelísticos que traçam um paralelo entre a competição e a fé (www. impact2010.co.za). Como se pode ver, o relacionamento do cristão com a cultura exige sabedoria e o mesmo bom senso deve ser utilizado em relação a um fenômeno tão popular como o futebol. Porém, essa postura equilibrada tem como referência alguns princípios (ver box “As regras do jogo”), fundamentais para que você desfrute desse esporte de modo espiritualmente saudável. Por isso, use-os e bom jogo!

(1) Alívio ou fuga? – O futebol pode ser a oportunidade de unir exercício físico e prazer ou se tornar mera fuga dos problemas ou compromissos. No caso dos que acompanham “religiosamente” os jogos e informações sobre seu time, o risco de alienação é maior. (2) Brincar ou competir? – No Brasil, jogar bola faz parte da sociabilidade, é o encontro semanal dos amigos. No entanto, quando a competitividade é levada à sério, o clima amistoso pode dar lugar às agressões verbais e físicas. Se você é “esquentadinho” e não consegue se controlar, é melhor ficar longe dos gramados. (3) Virtude ou vício? – O esporte não é mero exercício, sua prática transmite valores morais. Portanto, se praticado de maneira saudável, pode ensinar lições de liderança, espírito de equipe e respeito. Do contrário, também pode incitar as piores tendências humanas, como orgulho, egoísmo, vingança e violência. Cuidado especial se deve ter com a admiração para com os ídolos do futebol, que geralmente apresentam uma conduta moral duvidosa: somos transformados pela contemplação. (4) Apostasia ou evangelização? – Os textos de Ellen G. White que não recomendam o futebol se referem à modalidade americana, caracterizada por contatos físicos mais bruscos do que o soccer. O futebol não é condenável em si, mas pode não ser recomendável pelo modo como é praticado. Porém, convidar amigos secularizados para jogar bola ou assistir a uma partida, pode ser o ponto de partida para um contato missionário mais profundo com quem não tem interesse por religião.

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Wendel Lima

Editor Notas 1 Moisés de Aguiar Júnior, Fut-Baal: A Relação entre Futebol e Religião, revista Correlatio (www.metodista. br/ppc/correlatio), nº 12, dez. 2007. 2 Leonardo Affonso de Miranda Pereira, Footballmania: Uma história social do futebol no Rio de Janeiro (1902-1938), Nova Fronteira: 2000. 3 Entrevista de Clodoaldo Leme à jornalista Cristiane Lüscher, revista Canal da Imprensa (www.canaldaimprensa.com.br) de 29.05.2008.

Para saber + www.universidadedofutebol.com.br

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A mera afirmação de que o futebol é uma paixão nacional não deve acrescentar muito para você. Afinal, todos sabemos e, provavelmente, até experimentamos esse sentimento. O que talvez muitos não sabem é por que o futebol no Brasil assume feições religiosas. A relação entre os dois, segundo alguns, vem do fim do século 19, quando padres jesuítas trouxeram o esporte da Europa para os colégios católicos. Um dos exalunos, Charles Miller, ajudou a levar o futebol para os clubes. Já nas décadas de 1920 e 1930 o futebol começou a ser visto como uma carreira pelos atletas e fonte de lucro para os clubes.1 Em 1934, com a participação de Leônidas Silva, o primeiro negro a defender o Brasil num campeonato mundial, o sentimento de que o esporte era para todos se tornou mais forte. Aliás, segundo o historiador Leonardo Affonso de Miranda Pereira, o futebol ultrapassou os limites da aristocracia para ganhar também as massas. Ao contrário do remo e da corrida de cavalos, praticados no início do século 20, que exigiam uma custosa infraestrutura e que apelavam mais para o desenvolvimento da cultura física, o futebol podia ser praticado até com bola de meia e esteve associado, desde cedo, à diversão, como o Carnaval.2

Com o advento da mídia de massa, especialmente da TV, a paixão pelo esporte foi reforçada e potencializada. Os que passaram a acompanhar os jogos no estádio ou pela “telinha” tinham a expectativa de assistir a um grande espetáculo. Por causa desse show, os esportistas viraram artistas. Com isso, muitos meninos de baixa renda passaram a ver no futebol o caminho para dignidade e estabilidade financeira. Mas como você sabe, o sucesso nesse esporte é para poucos. É uma profissão instável, de risco. Por isso, segundo o professor Clodoaldo Leme, autor de um estudo sobre a religiosidade dos jogadores dos cinco maiores clubes paulistas, os esportistas buscam segurança na fé e no misticismo para enfrentar as incertezas sobre o futuro profissional.3 De acordo com ele, não é fácil para um jogador construir uma carreira de sucesso e mantê-la. Eles precisam driblar sua origem humilde, os adversários, a pressão da torcida e da diretoria do clube, as críticas da imprensa e “rezar” para não se machucar. Numa profissão tão instável, crenças e superstições se mostram um porto seguro. Quanto à paixão que o futebol desperta na torcida, Clodoaldo acredita que essa está relacionada à ausência de heróis na cultura brasileira. Ao contrário de outras

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A razão da paixão


Liberdade limitada

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uando escrevi esse texto, o número de blogs no mundo chegava a quase 200 milhões, com a criação, em média, de 150 mil páginas pessoais por dia. O crescimento salta aos olhos: há dez anos, o número de diários eletrônicos não passava de uma centena. Mas, apesar de as estatísticas mostrarem o quão fácil é criar um blog, os números não explicam sua popularidade e as implicações desse fenômeno. O blog surgiu como uma espécie de diário eletrônico, mas ganhou notoriedade como um espaço individual para divulgar notícias, informações e pontos de vista de relevância social. Essa ferramenta de comunicação foi a primeira a entregar nas mãos dos usuários da internet uma plataforma simples, ágil, de divulgação pública e livre dos códigos terríveis de HTML. A possibilidade de se individualizar a produção do conhecimento deu independência aos internautas, como os vários jornalistas que mantêm seus blogs, livres da censura dos patrões. Até mesmo entre os adventistas, pastores e membros se sentiram inclinados a escrever sobre religião e outros temas de uma perspectiva mais pessoal, embora, defendam o mesmo propósito: a pregação do evangelho. No fundo, o fenômeno dos blogs é mais um indicativo de que as instituições tradicionais – escola, imprensa, igreja, corporações e o Estado – estão perdendo a hegemonia do conhecimento. Tendência apreciada por uma sociedade que não acredita mais em grandes projetos, que não tem esperança nas mudanças estruturais prometidas pela política, educação e até mesmo pela religião. Daí a crescente individualização da relação do homem com o mundo e, por consequência, com a informação. É claro que essa autonomia ao acesso e produção do conhecimento tem efeitos colaterais. O blog ajudou a proliferar

os erros gramaticais na web, por aceitar e estimular uma linguagem menos formal. A inverdade foi elevada à enésima potência, porque qualquer um pode publicar informações duvidosas, não filtradas por uma instituição. Mesmo assim, parece que o mundo virtual tem lidado bem com isso. Pesquisas mostram que os usuários experientes conseguem identificar rapidamente uma informação suspeita. No entanto, é interessante pensar sobre essa condicional: a do “bom usuário”. Para realmente aproveitar o máximo da liberdade da internet, é preciso acessar vários blogs, compará-los e interagir, o que não se faz sem passar mais tempo conectado à mídia. Assim, curiosamente, à medida que ficamos mais livres do engano nos tornamos mais dependentes da tecnologia. A vida passa a ser consumida e moldada pela tecnologia, que, não tenhamos ilusões, continua sendo um produto de corporações. Além disso, o contato com fontes de informação tão fragmentadas exige do usuário um conhecimento mais sólido, menos volátil, para lidar com tudo o que se lê, ouve e vê. Isso significa demonizar os blogs? Não, não há como fugir da rede. Ela é irreversível. A questão não é tanto deixar de publicar ou acompanhar blogs, mas adquirir uma compreensão mais realista do que eles são. Conseguimos a implosão da rigidez, do tradicional, da autoridade, da instituição, mas talvez o resultado não tenha sido tão promissor quanto pensávamos. Na verdade, substituímos várias autoridades por uma só e, por isso, mais poderosa: a tecnologia. Tales Tomaz

É professor de Comunicação Social do Unasp e mestrando em Comunicação e Semiótica na PUC-SP

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Junto com a democratização da opinião, os blogs trouxeram a dependência da tecnologia

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osso ler romances?”; “O hábito de assistir filmes ou seriados pode prejudicar minha vida espiritual?”; “É verdade que um cristão sincero só escuta música da igreja?”; “Apreciar a arte e a cultura é um sinal de secularização?”. Esse artigo foi feito para ajudar quem, como eu, já se “engasgou” na hora de responder a uma ou mais perguntas desse tipo. O desconforto diante dessa polêmica se dá pela

Ilustração: Rogério Chimello

Na cultura, o certo e o errado coexistem. Cabe a você discernir quando deve apreciar um e rejeitar o outro

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Ilustração sobre foto de Shutterstock: Rogério Chimello

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Entre o bem e o mal


Na postura de rejeição, o cristão se afasta de qualquer manifestação cultural, literária ou artística como sendo pecaminosa. A

perda de tempo com “as coisas do mundo” e a corrupção moral de tudo o que é secular são as principais justificativas para se evitar a cultura. Os que adotam essa postura tendem a se isolar da vida urbana e promover uma “cruzada” contra a arte, a literatura, a música e os meios de comunicação. Na Bíblia, temos vários exemplos de rejeição à cultura. Moisés lutou intensamente contra a influência corruptora da religião e dos costumes cananitas sobre o povo de Israel (Patriarcas e Profetas, p. 453-461). E Paulo se indignou com o estilo de vida idólatra e pervertido de muitos atenienses e efésios (At 17-19). Por isso, rejeitar e separar-se da cultura é algo que, de certa forma, espera-se do cristão sincero (1Jo 2:15). No entanto, existem circunstâncias em que comportamentos como esses podem se revelar um extremismo e separatismo não bíblicos e antievangelísticos (Jo 17:15, 19). A atitude de rejeição é apenas a ponta do iceberg. Debaixo da superfície existe a crença de que na cultura secular não há nada espiritualmente edificante, em razão da natureza pecaminosa do “mundo” (Cristo e a cultura, p. 75). Além disso, acredita-se que a conversão envolve renúncia e ruptura com o “velho homem”, enquanto a associação com a cultura pode levar ao esfriamento ou até à apostasia da fé. Tudo isso pode ser verdade, mas não é verdade sempre. Precisamos entender que é possível apreciar as artes e a cultura sem se contaminar, porque foi Deus quem deu ao homem o poder criativo e despertou nele a necessidade de apreciar o belo e o harmonioso.1 Ademais, não podemos nos esquecer de que Cristo condenou o exclusivismo dos fariseus (Lucas 14, João 4 e 8). E judeus de origem helenista como Paulo, por serem mais tolerantes com a cultura não judaica, foram injustamente rotulados de liberais ou mesmo apóstatas (Atos dos Apóstolos, p. 188-200). O próprio Pedro teve sua fidelidade questionada, em Atos

11:1-18, por entrar nas casas de incircuncisos. Logo, é possível também se envolver com a cultura sem esfriar na fé. E não se assuste com o que você vai ler agora, mas, a meu ver, alguns cristãos defendem com unhas e dentes uma postura separatista em relação ao “mundo” para justificar sua falta de cultura geral e desinteresse pelas artes, literatura e erudição e/ou para reforçar sua visão perfeccionista e extremista da vida cristã. O resultado disso não poderia ser outro: cristãos cada vez mais exclusivistas, alheios às tendências, ideologias e necessidades dos não convertidos e, na maioria das vezes, despreparados em conteúdo e linguagem para apresentar Jesus a uma geração cada vez mais “culturalizada”.

Errado? Apesar de a apreciação da cultura ser uma postura geralmente confundida com liberalidade e apostasia, temos exemplos bíblicos que evidenciam, de modo positivo, o contato do povo de Deus com as manifestações literárias, musicais e artísticas de seu tempo. Paulo, por exemplo, cita poetas e filósofos gregos em suas epístolas.2 Os livros de Provérbios e Eclesiastes são reconhecidamente obras pertencentes ao gênero de sabedoria do Antigo Oriente e para que sejam devidamente compreendidos precisam ser apreciados como poesia e prosa de qualidade. A pergunta que fica, portanto, é: Por que o cristão deveria aprender a admirar as produções culturais? Primeiramente, porque nem toda cultura secular e popular é necessariamente má. Deus nos deu autonomia para usufruir dos benefícios do mundo da arte, da música e das letras. Em segundo lugar, o envolvimento com

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Certo?

Ilustração: Rogério Chimello

Ilustração sobre foto de Shutterstock: Rogério Chimello

franca e simples constatação: não se sabe com precisão como o cristão deve se relacionar com a cultura de seu tempo. Em outras palavras, os princípios bíblicos para o relacionamento do cristão com a cultura nem sempre estão na superfície. Para descobrí-los, é preciso estudo e bom senso. Um dos primeiros estudos que tentaram sistematizar essa relação é o clássico Cristo e a cultura, de H. Richard Niebuhr, publicado nos Estados Unidos em 1951. Considerado um dos livros cristãos de maior influência do século passado, a obra descreveu os diferentes tipos de atitudes ou posturas que a Igreja Cristã tem adotado em relação à cultura. Depois de Niebuhr, vários autores fizeram releituras da obra e sugeriram mudanças nas categorias que ele havia estabelecido. Em geral, as contribuições giraram apenas em torno da escolha de uma postura ou outra como sendo a ideal. Cada uma dessas vertentes tem seus pressupostos, buscam legitimidade em textos e exemplos bíblicos e apresentam implicações diretas para o cotidiano. No entanto, nenhuma delas oferece respostas adequadas para todas as circunstâncias com as quais nos deparamos. Logo, na minha perspectiva, todos os tipos básicos de posturas em relação à cultura são válidos quando considerados o contexto histórico em que se vive e a maturidade espiritual de cada cristão. Neste artigo, longe de defender o relativismo moral, quero apresentar a você as duas visões com que, historicamente, temos olhado a questão (rejeição e apreciação), a fim de ajudá-lo a assumir uma postura coerente em relação ao mundo que o cerca.

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Rejeição Como é: o cristão evita e por vezes rejeita as manifestações literárias, artísticas e musicais que não sejam sacras. O que está por trás: a ideia de que, neste mundo de pecado, não existe nada na cultura que seja edificante e que mereça ser apreciado. Implicações: o cristão está menos suscetível às más influências morais. Por outro lado, ele pode se afastar da sociedade a ponto de se tornar alienado e/ou exclusivista, falhando em sua missão como “sal da terra”. Apreciação Como é: o cristão aprecia o que é proveitoso nas manifestações literárias, artísticas e musicais seculares. O que está por trás: a ideia de que fomos criados por Deus com a necessidade de admirar a beleza e a harmonia – e que não há pecado nisso. Implicações: pode-se apreciar sem culpa o que há de bom na cultura e ter mais condições de falar a mesma “língua” da geração atual. Por outro lado, sem filtros, esse “consumo cultural” compromete a espiritualidade.

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Depende Creio que a postura coerente é resultado da união das duas vertentes. É preciso admitir que na cultura não existem tantos lampejos de verdade, beleza e edificação quanto gostaríamos. No entanto, não é tão fácil, honesto e nem sábio rotular como pecado tudo o que não é essencialmente religioso – se não a consequência seria viver num casulo cristão. Por ser tão complexa, nem sempre será prudente simplesmente rejeitar ou aceitar, combater ou apreciar a cultura. O caminho é a tolerância. Um exemplo clássico disso é a recomendação que se faz para não ir a cinemas, teatros e estádios de futebol. Veja que os filmes, as dramatizações e o futebol não são produtos ou práticas culturais condenadas (essencialmente maus), mas também não possuem “carta branca” (essencialmente bons). Nossa relação com esses produtos culturais é de resistência moderada ou de aceitação parcial, como preferir. Na cultura, há espaço para o bem e para o mal e cabe ao cristão ter discernimento de quando deve apreciar um e rejeitar outro. Na Bíblia, Paulo é o maior exemplo de equilíbrio no relacionamento com a cultura de seu tempo. De família israelita, porém nascido em Tarso. Judeu, mas cidadão romano. Hebreu para hebreus e grego para os gregos. É desse cristão erudito o sábio conselho: “Mas ponham à prova todas as coisas e fiquem com que é bom. Afastemse de toda forma de mal” (1Ts 5:21, 22).

Enfim, chegamos ao fim do texto e a pergunta que ficou é: qual deve ser mesmo a postura do cristão em relação à cultura? A resposta é que não há apenas uma atitude correta. É a soma do momento histórico e das circunstâncias com a fidelidade aos princípios bíblicos que define a postura mais adequada. Para mim, Deus pode ser visto atuando na história, ora por meio de uma postura, ora por meio de outras, de acordo com as necessidades de cada tempo e povo. Vejo os profetas Jonas e Elias rejeitando enfaticamente as manifestações culturais e idólatras da época, mas entendo que José e Daniel se envolveram com a cultura de seu tempo sem comprometer princípios. E como saber de que modo agir? Quando devo ser como Elias, Daniel ou Paulo? Se você espera respostas definitivas e absolutas, não me leve a mal, mas sua expectativa deve ser outra. Se o texto gerou mais perguntas do que respostas, não se frustre. Isso é um bom sinal: é sua oportunidade de amadurecer e encontrar respostas na comunhão com Deus e no estudo de Sua Palavra. Lembre-se de que na vida cristã nem tudo é preto ou branco, por isso, nas questões com matizes de cinza, para as quais não se encontram respostas prontas, a saída não é o relativismo, mas o discernimento. Allan Novaes

Pastor, mestre em Comunicação Social e professor do Unasp, campus Engenheiro Coelho, SP.

Notas Mais detalhes no artigo “Adventistas e ficção: outras considerações”, de Scott Moncrieff, na revista Diálogo Universitário. Disponível em: http://dialogue.adventist.org. 2 Paulo cita poetas e escritores gregos em suas epístolas e Lucas menciona em Atos algumas dessas citações. Em Atos 17:28, o poeta grego Arato é citado: “Pois nele vivemos, nos movemos e existimos’, como disseram alguns dos poetas de vocês. ‘Também somos descendência dele.’” Em 1 Coríntios 15:33 ele faz referência ao filósofo Menandro: “Não se deixem enganar: as más companhias corrompem os bons costumes”. 1

Foto: David Playford / SXC

ENTRE O SANTO E O PROFANO As duas principais posturas dos cristãos em relação à cultura:

de apreciação. Por isso, talvez a solução esteja no equilíbrio das tensões.

Ilustração: Rogério Chimello

a cultura também é permitido para nossa recreação, fruição e prazer e, por isso, não deveríamos nos sentir culpados por apreciar aquilo que é de “boa fama” (Fp 4:8). Contudo, não estamos desculpados para assimilar sem nenhum filtro a cultura contemporânea. Deve-se celebrar o belo sem deixar de servir a Deus, mantendo nosso compromisso com os princípios bíblicos. Afinal de contas, como você sabe, a cultura nos oferece produtos e valores mais passíveis de rejeição do que


Quer ganhar mais? Por quê? Pedir aumento é fácil, mas para conseguir é preciso merecer

Ilustração: Rogério Chimello

Foto: David Playford / SXC

Antes de pedir, avalie: (1) Você é um profissional produtivo? Tem superado suas metas? Pode provar, por meio de dados estatísticos, que seu trabalho ajudou o negócio a dar mais lucros? (2) A empresa está em um bom momento financeiro? Está crescendo?

(3) Você conhece a política de remuneração da empresa? Sabe como funciona o plano de cargos e salários? E o sistema de promoção? Você se encaixa em algum deles? (4) Coloque-se no papel do gestor. Você se daria um aumento? Por quê? (5) Os benefícios que recebe são bons? Se fosse “traduzilos” em dinheiro, quanto daria? (6) Você ganharia mais se estivesse em outra empresa?

Na hora de pedir, considere: (1) Planeje-se para isso. Escolha o dia e a hora certos. Agende uma conversa com o chefe, mas certifique-se de que ele está de bom humor. (2) Leve tudo o que puder para provar que merece o aumento, como portfólio dos seus trabalhos e resultados de sua produtividade. (3) Jamais tente apelar para o lado emocional, do tipo “preciso sustentar meus filhos” ou “falta dinheiro para pagar minhas contas”. Aumento só se ganha por promoção ou mérito. (4) Nunca compare seu salário com o de outro colega de trabalho. (5) Nem pense em blefar dizendo que recebeu uma proposta para ganhar mais em outro lugar. Só diga se for realmente verdade. Além disso, não tente “leiloar” seu salário para ver quem dá mais. É antiético. (6) Seja coerente ao pedir o aumento e baseie os valores na realidade do mercado e da empresa em que atua. (7) Esse é um processo sigiloso. Evite comentar com os outros que irá pedir ou que conseguiu um aumento. (8) Caso seu pedido seja negado, não reclame, nem desista. Cristiano Stefenoni

Jornalista, consultor de carreiras e autor do livro Profissional de Sucesso (Casa)

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maioria dos profissionais não recebe aumento de salário por um motivo simples: não pedem e, quando o fazem, é da maneira errada. Uma renda maior se conquista por promoção ou mérito. E em ambos os casos isso dependerá mais da pessoa do que da empresa. Dados recentes da Hewitt Associates do Brasil mostram que 61% das organizações do País aumentaram a remuneração do funcionário tomando como base seu desempenho. Em outras palavras, se você quer ganhar mais terá que provar, por meio de sua produtividade, que merece esse aumento. E ser produtivo não quer dizer, necessariamente, trabalhar muito, mas sim gerar resultados positivos dentro de sua carga horária. Mesmo porque, quem fica muitas horas dentro da empresa apenas para cumprir uma rotina, na verdade, está dando prejuízo. De acordo com o consultor do Instituto de Organização Racional do Trabalho (Idort), Luiz David Carlessi, a primeira coisa que o profissional deve fazer antes de pedir um aumento é avaliar as condições financeiras da organização. “Como estão os resultados da empresa? Se ela não estiver num bom momento, talvez seja um indicativo para reavaliar com cuidado se é hora de pedir o acréscimo”, afirma. Depois, segundo ele, é necessária uma auto-avaliação. “Por que você não tem aumento há muito tempo? Analise com cuidado e conclua se é merecedor disso”, ressalta. Abaixo, algumas dicas que irão ajudá-lo a pedir um aumento. Confira:

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Fotos: Diogo Cavalcanti

Fotos: Diogo Cavalcanti

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de voar n a um nic ú ia c n ê i er p ex 18

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“S D S ”

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Voar num balão é subir acima da vida normal para perceber que a correria humana fica muito pequena lá de cima. É sentir a brisa, abraçar o Sol e guardar o horizonte no coração. Faz lembrar que existe um Deus acima de tudo. | Para quem nunca voou de balão, as primeiras cenas marcam. Logo ao chegar ao Campo de Paraquedismo de Boituva (município a 110 km de São Paulo), vi um “pião” colorido de 35 metros deitado no chão. A caminhonete à qual estava preso parecia brinquedo perto dele. Outros balões completavam a cena. Fui levado ao meu, que tinha um ventilador soprando ar em direção à sua “boca”. Quando o balão estava quase cheio, um maçarico especial foi acionado para aquecer o ar, e o gigante quis subir. | Renato Gonçalves (“Alemão”) e Ronaldo Morales, nossos pilotos. Em seguida, os 12 passageiros ocuparam seus lugares nos quatro espaços reservados, com três pessoas em cada. Logo começamos a flutuar. Aqui e ali, alguns perguntavam: “Onde vamos pousar?”. Os pilotos respondiam com uma sigla conhecida entre os baloeiros: “SDS: só Deus sabe”. “Usando o maçarico, o piloto controla a altitude do balão, que é dirigido de acordo com a direção na ‘camada de vento’ em que ele está”, explicou Ronaldo.

de po u sa r on d e

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moção a eUma e sensação ão de leveza indescritível. Em poucas l ba palavras, foi isso o que senti naquele dia.


de ar que s e nte õ l Fabricação: a B brasileira, com alguns itens Subimos alguns quilômetros e, atrás de nós, outros cinco balões. Isso foi proposital: “Com os balões indo juntos, fica um ‘balé’ mais bonito” – afirmou o Alemão. Minutos depois, emoção. Alguém no cesto disse: “Vai bater, vai bater!” O envelope (parte de tecido que contém o ar quente) de um balão bem maior, com 18 passageiros, chegou a tocar no do nosso, mas não sentimos nada. Nos dois cestos, as pessoas acenavam, sorriam e fotografavam. O silêncio prevalecia, enquanto o Sol subia pouco a pouco naquela manhã. A névoa refletia a luz e imitava uma paisagem gelada. Vez ou outra, o Ronaldo acionava o maçarico, que soprava um fogo intenso e nos fazia sentir estar perto de um forno de pizzaria.

importados, como o combustível do maçarico (propano).

Quando o balão Tecido dos balões: nylon rip stop, poliéster ou outros começou a voar materiais. mais próximo do Clima: “Respeito à natureza é fundamental. Se houver um por chão, durante uns cento de chance de termos mau tempo ou ventos fortes, o voo é 25 minutos, vicancelado”, afirma o piloto Ronaldo Morales. mos casas, carros o N de pilotos: aproximadamente 80 no Brasil, 2,2 mil na Alemanha e pessoas bem e 5 mil nos EUA. mais de perto. Hora de passear: entre 6 e 8 da manhã ou a partir das quatro da tarde, horários em que os ventos são mais fracos. Quase dava para tocar a copa de Custo: 280 reais por pessoa. grandes árvores e puSegurança: devido à evolução tecnológica e aos demos registrar belas pilotos serem brevetados (brevê é a autorização especial para voar após certo treinamento), o imagens de outros balões. passeio de balão e o balonismo (esporte) são Pessoas acenavam para nós. extremamente seguros. Sessenta minutos “voaFontes: pilotos Renato Gonçalves, ram”. Infelizmente precisávaRonaldo Morales e Fábio Salvador Pereira; www.torres.rs.gov.br. mos descer. Começamos a pousar a 10 quilômetros de distância de onde saímos. Graças ao contato que os pilotos fizeram ao longo do voo, vimos a caminhonete se aproximando de onde iríamos pousar. A equipe passou pelas cercas e agarrou o balão, que desceu tranquilamente. Depois disso, houve uma comemoração e fomos levados numa van ao restaurante do Campo de Paraquedismo, onde tivemos um café da manhã caprichado. Quero ir de novo.

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Diogo Cavalcanti

Editor Associado

A “batida” O “cobaia” da vez

Fotos: Diogo Cavalcanti

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Fim de festa O maçarico aquece o ar do balão

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Momento Wally: onde está a caminhonete? jul-set 2010

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Enfraquecido pela visão

Arco-íris sobre o inferno Tsuneyuki Mohri (Casa) “Gosto muito de ler relatos sobre guerras. A dor que os envolvidos carregam e a forma como lidam com isso é algo incrível. O livro Arco-íris Sobre o Inferno conta a história de Saburo, que durante a Segunda Guerra Mundial havia se tornado um assassino, sendo preso e condenado à morte. Uma história real que nos faz refletir sobre o amor e a misericórdia de Deus, que alcançou o coração de Saburo fazendo com que ele olhasse para trás, perdoasse aos outros e a si mesmo. Revivendo o passado de dor e prisão, Saburo encontrou perdão e liberdade em Deus.” Thiago Falcão da Silva 23 anos Nova Friburgo, RJ

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O Grande Conflito Ellen G. White (Casa)

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“O Grande Conflito é uma leitura gostosa e esclarecedora. Aborda tanto assuntos da história quanto da escatologia e nos prende a atenção conforme vai chegando ao seu desfecho, ao comentar o ápice do plano da redenção: a volta de Cristo e a inauguração da Nova Terra.” Angela Oliveira 31 anos Curitiba, PR Convite para mudar Alejandro Búllon (Casa) “Gostei desse livro porque me identifiquei com algumas histórias e também porque, sutilmente, o autor explora as doutrinas bíblicas nas experiências contadas, tornando a questão bem prática. É aquele tipo de livro que você quer ler inteiro e se lamenta quando acaba. São testemunhos que colocam Deus como maior do que qualquer problema.”

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Como salvar seu casamento Quando um casamento vai mal, não faltam sugestões para salvá-lo: melhorar a comunicação; caprichar no romantismo; fazer um cruzeiro; dar pequenos presentes e demonstrações de afeto; etc. Tudo isso tem seu lugar, mas a proposta do filme A Janela talvez seja a última em que alguém pensaria: testemunhar. Isso mesmo. O filme, roteirizado pelo pastor e evangelista Alejandro Bullón, foi produzido nos Estados Unidos, dublado em português e tem duração de 28 minutos. Apesar de curta e singela, a produção traz uma mensagem poderosa e necessária. Roberto e Júlia são recém-convertidos ao adventismo e resolvem orar pelos vizinhos Francisco e Rosa, sem saber que o casal enfrenta o drama da perda do filho, morto por afogamento. Com o tempo, uma amizade genuína se forma

entre eles e, consequentemente, Deus é apresentado como a solução para os problemas. Para o pastor e conselheiro familiar Marcos Bomfim, quando um casal forma uma dupla missionária, os cônjuges têm a chance de tirar o foco das dificuldades da sua relação e passam a descobrir, em contraste com a realidade de quem auxiliam, o quanto são abençoados. O filme é uma boa dica para quem passa por algo semelhante ou atua em algum ministério afim. A produção pode ser adquirida no departamento de Ministério Pessoal da Associação ou Missão da Igreja Adventista mais próxima de você. – Michelson Borges.

Foto: Shutterstock

Vanessa Raquel Meira 31 anos Indaial, SC

as implicações da cosmovisão pessoal para as decisões diárias. Chamado por Deus, desde o ventre materno, para uma nobre missão, ele é um símbolo dos cristãos que brincam com o pecado a ponto de minimizar sua utilidade para o mundo e perder seu propósito de vida. Dotado de força sobrenatural para combater os filisteus, decidiu, ironicamente, ser amigo dos inimigos e amante das inimigas. Sua biografia só não foi mais trágica porque recuperou sua visão espiritual depois de ficar fisicamente cego. Enfim, uma leitura que pode fazer diferença para quem precisa abrir os olhos e para quem já perdeu ou nunca teve a visão espiritual. – Wendel Lima

Imagens: Divulgação

O que estou lendo

O livro Paixão Cega, a primeira produção do jovem pastor Douglas Reis, vem preencher uma lacuna editorial: a de produções sobre espiritualidade para jovens adultos. Frases curtas, palavras bem pensadas, ilustrações oportunas e insights interessantes (ora ou outra temperados com humor) fazem desse livro uma leitura relevante para a geração de adventistas que adentra o século 21 com sua identidade e missão ameaçadas. A obra reconta a história de Sansão, mostrando como o jovem juiz dos israelitas, que tinha tudo para ser um herói da fé, se deixou vencer pelos sentidos e quebrou a aliança firmada com Deus e seu povo. Sem dúvida, o autor foi feliz na escolha do personagem. A vida do vacilante Sansão é um dos melhores panos de fundo para a discussão sobre


Foto: Shutterstock

Imagens: Divulgação

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s deuses do esporte devem vibrar com este espetáculo!” – Foi nesse momento que despertei de meu transe e me dei conta de tudo o que estava ocorrendo ao meu redor. Na sala do apartamento da Rose, onze amigos pulavam e gritavam. Era gol. E do Brasil! No tumulto dos pulos, abraços e gritarias, alguém bateu com o cotovelo no meu braço. O choque incomodou um pouco, mas não foi por causa disso que voltei a sentar enquanto todos festejavam. Na tela da televisão passava a reprise de um golaço feito pelo artilheiro do Brasil. O locutor repetia seus jargões populares, mas a frase “deuses do esporte” não me saía da cabeça. Olhei para a bagunça na sala. Tudo e todos ao redor do grande centro das atenções: a televisão, que eu poderia, naquele momento, chamar de altar dos “deuses do esporte”. De repente, me senti um peixe fora d’água. Ali não era lugar para mim. Eu amava o futebol. Jogava em todos os momentos vagos, assistia a todas as partidas do meu time preferido (e de outros também), ia a estádios quando era possível, e perder um jogo da seleção era inconcebível, nem se tal jogo fosse aos sábados – aquela era exatamente uma tarde de sábado. Para onde mais eu iria, se todos os meus amigos da igreja estavam no culto JA naquele momento? Nenhum deles assistiria ao jogo comigo e alguns até me julgariam pela minha decisão de ver o Brasil em campo, pois era Copa do Mundo.

Olhei para meu altar. O jogo continuava, com os times se digladiando “na arena”, como diria um outro narrador. – Ei, Júlio! Não está gostando do jogo? – perguntou-me Geraldo. – Com essa cara, parece que está torcendo para o outro time – Rose emendou com uma gargalhada. Sorri meio desconcertado, pois naquele momento parecia que estar ali já não fazia muito sentido. A conclusão a que cheguei durante aquela breve reflexão me deixou abatido. O futebol era meu deus. Eu era um idólatra, colocando aquele esporte acima da minha fé, acima da minha crença e do meu Deus verdadeiro. Levantei-me discretamente e fui em direção à porta. Ali não era lugar para mim. Precisava me reconciliar com meu Deus e colocá-Lo como prioridade, colocá-Lo no altar da minha vida e adorá-Lo com a mesma intensidade que adorava o futebol. – Aonde você vai, Júlio? – gritou Beto do meio da sala. – O jogo ainda não acabou. Com um sorriso e então aliviado pela minha nova decisão, respondi: – Vou pra casa trocar de camiseta e depois vou voltar para o meu verdadeiro time. Denis Cruz

Escritor e autor do livro Além da Magia (CPB) deniscruz@deniscruz.com.br

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Ídolos

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A relação entre política e fé desafia os jovens cristãos a exercer sua dupla cidadania

o dia 3 de outubro, cerca de 127 milhões de brasileiros a partir dos 16 anos vão apertar os botões da urna eletrônica para escolher seus governantes. Será eleito o presidente da República juntamente com governadores, senadores, deputados federais e estaduais. Mas, sejamos honestos, você acha mesmo que isso trará alguma mudança? Uma pesquisa realizada pelo Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) e Pólis (Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais) revela um sentimento de descrença. Reunidos em grupos de diálogo, 913 jovens de 15 a 24 anos foram ouvidos de março a maio de 2005. A pesquisa indica que 64% deles não creem que os políticos representam o interesse da população. Além disso, os eleitores com 16 e 17 anos, para quem o voto não é obrigatório, vêm diminuindo a cada eleição.

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Arte sobre fotos de Shutterstock e Jupiterimages

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Visão bíblica A busca por uma resposta bíblica pode começar pelo profeta Jeremias. Ele apresentou uma mensagem divina aos hebreus que se tornaram cativos do Império Babilônico: “Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz” (Jr 29:7). O plano divino não era que os hebreus permanecessem indefinidamente cativos, conforme Sua Palavra: “Logo que se cumprirem para a Babilônia se-

tenta anos, atentarei para vós outros e cumprirei para convosco a Minha boa palavra, tornando a trazer-vos para este lugar” (Jr 29:10). A queda de Babilônia já estava profetizada no início do cativeiro. Mas, enquanto o povo de Deus estivesse sob o domínio da nação pagã, deveria trabalhar e orar em favor da paz e do bem comum. Os cristãos da atualidade se consideram igualmente peregrinos e forasteiros neste mundo que se coloca em oposição a Deus (1Pe 2:11). Os poderes terrenos que se unem contra os mandamentos divinos são identificados na Bíblia como a moderna Babilônia, cuja queda também foi profetizada (Ap 14:8). O conselho de Deus é que Seus filhos se afastem da corrupção moral e espiritual (Ap 18:4) desse moderno império pagão. Ao mesmo tempo, devem ser o sal da Terra (Mt 5:13) e anunciar o evangelho da paz (Ef 6:15). Por isso, a mesma atitude esperada dos hebreus cativos é necessária aos cristãos da atualidade. Buscar a paz perfeita que virá com a vinda de Cristo não é se fechar para o mundo e se proteger da maldade alheia. Ao contrário, é se envolver com as pessoas e seus problemas concretos, buscando soluções para conflitos humanos e propondo um evangelho cuja suprema esperança não esqueça a fome do estômago nem a dor física de pessoas reais. O duplo desafio de se afastar da corrupção mundana e se aproximar das pes-

soas do mundo é colocado pelo apóstolo Tiago (1:27): “A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo”. A atuação cristã, seja ela evangelística, assistencial ou educacional, não é pacificar o mundo fazendo de conta que os conflitos não existem ou remetendo todas as soluções exclusivamente para o futuro. O agir cristão acontece, no presente, neste mundo dividido em muitas causas e os mais variados interesses. Portanto, a política, o campo de batalha entre os diversos grupos de interesses de uma sociedade, é um terreno que a igreja necessariamente tem que atravessar. E a forma de os cristãos se relacionarem com a política ampliará ou limitará o potencial de seu testemunho.

Ellen White e a política Ellen White, profetisa integrante do núcleo fundador do movimento adventista do sétimo dia, deixou registrada em seus escritos a orientação de que a igreja jamais deveria se envolver em assuntos políticos. “Não devemos, como um povo, envolver-nos em questões políticas” (Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 336). Ela afirma que a neutralidade política deve ser mantida por todos os que são assalariados pela igreja: “O dízimo não deve ser empregado para pagar ninguém para discursar sobre questões políticas” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 477).

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Diante desse cenário, surge a pergunta: o jovem cristão tem alguma contribuição a oferecer no cenário político? Para o jovem adventista, que aguarda a breve vinda de Cristo, a política merece ser alvo de suas preocupações? O teólogo George Knight, no livro A visão apocalíptica e a neutralização do adventismo, afirma: “A única resposta suficiente e permanente para as dificuldades que envolvem um mundo perdido, conforme Cristo ensinou [...] seria o Seu retorno nas nuvens do céu. Na Sua vinda há verdadeira esperança. O resto não passa de simples curativo” (p. 105). Seria, então, a esperança inigualável da volta de Cristo razão para os adventistas deixarem de lado a “cidade dos homens” e seus problemas, crendo que assim poderiam cuidar apenas do reino de Deus? Num mundo ferido, deveríamos jogar fora a caixa de Band-Aid?

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Responsabilidade cristã Embora a igreja não possa confundir sua missão com disputas partidárias, os cristãos devem contribuir com a criação de leis justas e fortalecer a liberdade de crença. Então, a pergunta que resta é: seria possível ao crente manter sua fé e ao mesmo tempo travar os embates políticos? No livro Ciência e política: duas vocações, na página 121, o pensador alemão Max Weber responde de forma negativa. Para ele, a política é regida por uma ética de resultados, enquanto a religião é regida pela ética da convicção embasada na Bíblia. “Aquele que deseja a salvação da própria alma ou de almas alheias deve, portanto, evitar os caminhos da política”, sentencia. O sociólogo Paul Freston, por outro lado, acredita que “o envolvimento político sadio é imprescindível para a saúde da própria igreja, assim como para o bem da sociedade”. Sua opinião sobre o que é sadio ou doentio ele apresenta no livro Religião e política, sim; Igreja e Estado, não, na página 7. Para Freston, “a Igreja, como instituição, não deve se envolver na política [...] quando o faz, ela e os seus líderes se tornam vulneráveis a todas as contingências do mundo político” (p. 11). Também alerta quanto aos perigos de dar corda aos crentes que se julgam salvadores da pátria: “Em torno dos candidatos e políticos evangélicos há líderes e membros de igrejas com uma expectativa ‘messiânica’ que aquele candidato evangélico canalizará automaticamente as bênçãos de Deus sobre o Brasil, resolvendo todos os problemas que nos afligem. Esse mes-

sianismo é muito perigoso, para o país e para a Igreja. [...] A última parte do homem a se converter [...] é o fascínio pelo poder” (p. 11). O sociólogo também comenta a presença de muitos candidatos que se dizem fiéis a alguma religião durante a campanha e depois de eleitos jamais voltam para dar satisfação de seus atos como homens públicos. Nesse contexto, a religião é apenas uma isca. Freston acredita que a ponte entre os cristãos e a política pode ser feita por meio de uma atuação que siga um modelo comunitário. Nesse modelo, os evangélicos não representariam igrejas nem instituições, mas grupos de crentes que compartilham ideais políticos semelhantes. “Assim, os que exercem mandatos políticos não ficam soltos, mas interagem e respondem a outras pessoas que podem, se necessário, até mesmo repreendê-los e aconselhar sua saída da política.” O modelo comunitário pode parecer utopia, mas toda utopia tem o desejo de realizar-se. Segundo Freston, “a solução para os problemas políticos é sempre política. A solução para a má política é a boa política”. Isso não significa a negação da fé no mundo vindouro, mas responsabilidade cristã com o mundo que Deus nos permite viver no presente. A esperança na volta de Cristo deve moldar nossas ações em todas as esferas da vida. Inclusive na política. Guilherme Silva

Pastor, jornalista e editor associado na Casa Publicadora Brasileira. guilherme.silva@cpb.com.br

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Diversas citações como essas são encontradas nas obras da escritora adventista. Por outro lado, Ellen G. White valoriza o testemunho cristão em meio aos espaços do poder. “Muitos jovens de hoje, que crescem como Daniel no seu lar judaico, estudando a Palavra e as obras de Deus, e aprendendo as lições do serviço fiel, ainda se levantarão nas assembleias legislativas, nas cortes de justiça, ou nos palácios reais, como testemunhas do Rei dos reis” (Educação, 262). A ação de característica política também foi incentivada no fim do século 19, nos Estados Unidos, quando adventistas foram presos por trabalhar no domingo e movimentos religiosos lutavam pelo estabelecimento de uma lei dominical nacional. Ellen White incentivou a igreja a se manifestar pacificamente em várias frentes, inclusive junto aos legisladores, para deter a ameaça à liberdade religiosa. No contexto dessa crise, ela escreveu: “Não estamos cumprindo a vontade de Deus se nos deixarmos ficar em quietude, nada fazendo para preservar a liberdade de consciência. [...] Haja as mais fervorosas orações, e então trabalhemos em harmonia com as nossas orações” (Testemunhos Seletos, v. 2, p. 320 e 321). É possível perceber que, para Ellen White, a igreja não deve se envolver em disputas partidárias e polêmicas que venham a prejudicar sua missão evangelizadora. Por outro lado, há necessidade de que pessoas fiéis estejam presentes nos espaços do poder para contribuir com a perspectiva cristã nos debates públicos e sustentar a liberdade religiosa.

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De outro planeta

Foto cedida pelo autor / Jupiterimages (fundo)

asci em Palmeirópolis, TO, há 32 anos, num lar católico não praticante. Aos 17 anos, comecei a me interessar por Ufologia. Sempre havia me questionado sobre o real sentido da vida e não aceitava a ideia da morte e nem da vida no além. Eu dava um pouco de crédito para as teorias evolucionistas, porém, só questionava o fato de essas explicações terem sido formuladas por pessoas tão limitadas como eu, que não conseguiam nem resolver os problemas do dia a dia. Por isso, sinceramente busquei respostas na ufologia. Acreditava que algum dia seria abduzido por um disco voador. Estudei alguns relatos de aparições de objetos voadores não identificados (Óvnis) e de seres extraterrestres. Consultei livros e comprei coleções da revista UFO. Fiquei sabendo que na Universidade Mahatma Ghandi, na Índia, havia um curso superior de Ufologia. Decidi cursar Turismo a fim de chegar à Índia, faculdade que conclui na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). Eu tinha aversão ao cristianismo, mas fui obrigado a cursar uma matéria de religião na Ulbra. Na primeira aula dessa matéria, fui sorteado para fazer um trabalho sobre o livro de Êxodo. Aos 29 anos, eu teria que ler a Bíblia pela primeira vez. Na leitura, a história de Moisés me chamou a atenção por parecer absurda, principalmente porque ele demorou 40 anos para conduzir o povo até o Egito. Para mim, aquele relato soava como uma grande “viagem”. Pouco tempo depois, outro trabalho foi dado. Dessa vez, fui sorteado para falar sobre a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Acessei o site oficial da Igreja e pesquisei sobre os ministérios, organograma e doutrinas dos adventistas. Na minha cabeça, essa igreja era tão louca quanto o povo guiado por Moisés, por obedecer aos Dez Mandamentos, inclusive o sábado. Depois de apresentar o seminário, uma colega de sala me deu um folheto da Igreja Adventista, que coloquei no meio da Bíblia e levei para casa. Nessa época, de acordo com meus valores, tudo ia bem. Na empresa em que trabalhava, fora promovido pela quarta vez. Apesar de já morar com minha namorada Ana Carolina, planejava me

casar. Havia decidido ler a Bíblia toda e o que aprendia compartilhava com ela. Ao chegar em casa naquela noite, minha namorada disse que sua colega de trabalho, a Eliete, que era adventista, havia dito que estava orando por nós. Impressionado, procurando uma relação entre tudo o que estava acontecendo, peguei o folheto e descobri pelo carimbo que tinha uma Igreja Adventista na rua da minha casa. Era a igreja que Eliete frequentava. Agora, tudo parecia fazer sentido. Naquela mesma noite fomos à igreja e começamos a participar de um pequeno grupo e a estudar a Bíblia. Ganhei o livro O Grande Conflito e o DVD do pastor Luís Gonçalves, com o mesmo nome. “Devorei”os materiais. Os 18 programas do DVD eu assisti em uma noite. Convicto da verdade, pedi o batismo. Deixei os vícios, as festas e de morar com a Ana Carolina, que foi para a casa de uma prima. Em outubro de 2007 fui batizado. Por causa da guarda do sábado, pedi demissão. Rejeitei também três propostas de emprego que folgavam aos sábados, porque queria servir a Deus em tempo integral. Assisti a um treinamento para colportores e decidi seguir esse ministério. A Ana Carolina não havia sido batizada e nosso namoro não ia bem, até que terminamos o relacionamento. Fui participar da colportagem naquelas férias de verão e na volta decidi visitar meus pais numa outra cidade. No caminho para lá, recebi uma mensagem no celular. Era a Ana me dizendo que havia decidido participar da colportagem em Umuarama, PR, cidade em que ela foi batizada em abril de 2008. Era a resposta que eu precisava quanto ao futuro do nosso namoro. Eu a pedi em casamento pela webcam, sonho que realizamos em novembro do mesmo ano. Há um ano sou assistente de colportagem, minha esposa trabalha na loja de literatura denominacional na sede da Igreja Adventista em Palmas, TO. Quero ser um pastor e vou prestar o vestibular este ano. Hoje, sei qual é o real sentido da minha existência nesse planeta. Wilson Aleixo dos Santos

Assistente de colportagem da sede da Igreja Adventista em Palmas, TO wilsonaleixo_colportor@yahoo.com.br

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A história do jovem que procurava respostas na Ufologia, mas que só encontrou sentido no Criador do Universo

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iodor Dostoievski, em seu clássico Irmãos Karamazov, escreveu que “é permitido a todo indivíduo que tenha consciência da verdade regularizar sua vida como bem entender, de acordo com os novos princípios. Neste sentido, tudo é permitido. [...] Como Deus e a imortalidade não existem, é permitido ao homem novo tornar-se um homemdeus, seja ele o único no mundo a viver assim”. Estava lançada sua ideia de que, se Deus não existe, tudo é permitido. De fato, quando se perde o referencial, como saber o que é certo ou errado? Réguas, trenas e paquímetros são instrumentos usados para medir. Seria praticamente impossível construir peças mecânicas e construções simétricas sem a ajuda desses instrumentos. De modo semelhante, fica difícil julgar certas situações sem que se recorra a um referencial. Exemplo 1: quando se menciona o ensino do criacionismo em escolas públicas, muita gente se levanta contra, alegando que isso não deve ser permitido porque o Estado é laico e o criacionismo é religião (mas se esquecem de que o darwinismo também é filosofia...). Então, como explicar o fato de que alguns governos estaduais e prefeituras estão firmando parcerias com organizações que lidam com “espíritos”, com o objetivo de “prevenir e evitar tragédias climáticas de 26

grandes proporções que assolam pequenas e grandes cidades”? Está tudo lá, no site da fundação dirigida pela médium Adelaide Scritori, inclusive cópias escaneadas dos contratos e diários oficiais. E o Estado laico, onde fica? É bom lembrar que, sempre que o povo de Israel deu as costas para Deus e se voltou para os deuses pagãos, que na verdade eram espíritos maus (At 19:1213; 1Co 10:19, 20), as tragédias foram a consequência certa. Será que esta nação do Carnaval, da idolatria e do paganismo ainda continuará tendo a pretensão de dizer que Deus é brasileiro? Exemplo 2: no mês de março, duas notícias chamaram a atenção da imprensa: a primeira igreja gay de Belo Horizonte e o ensaio fotográfico protagonizado pela modelo Cristina Mortágua e seu filho de 15 anos. Com relação à igreja gay, quase não houve reações – talvez pelo fato de que, atualmente, quem discorda do homossexualismo (o que não significa discordar do direito que cada um tem de escolher sua preferência sexual) está cada vez mais acuado, sem direito de se expressar sobre o assunto. Para muitos, aquela é uma igreja legítima, que aceita as pessoas como elas são, desde que haja amor entre elas. O próprio pastor da igreja é homossexual e apareceu concedendo entrevista de mão dada com seu

parceiro, a quem beijou na boca com toda a naturalidade, diante da câmera. O ensaio sensual de Cristina com o filho foi diferente. Houve algum protesto (tanto que a Vara da Infância e da Juventude pediu a retirada da imagem de circulação) e alguns sites até usaram a palavra “incesto”. Mas que mal há em a mãe posar seminua, em posições provocantes, com o filho de 15 anos? O que tem demais ela o beijar na boca? Quem disse que isso é pecado? Por que alguns consideram incesto errado ao passo que aprovam as manifestações de carinho entre homossexuais na TV? É esse o tipo de confusão que surge quando se abandona o referencial, a régua: a Bíblia Sagrada. A Palavra de Deus, embora garanta que o Senhor ama os pecadores, é clara também em afirmar que o único relacionamento marital aprovado pelo Criador é o de um homem com uma mulher (por mais que alguns tentem “torcer” as Escrituras para provar algo diferente), e que o amor verdadeiro se expressa na obediência ao plano de Deus (cf. 1Jo 2:3-6; 5:1-3). Devemos viver à luz da revelação divina e não tentar acomodá-la à nossa visão de mundo. Caso contrário, tudo será permitido e nada mais causará escândalo. Michelson Borges

Jornalista e editor de livros na Casa Publicadora Brasileira

jul-set 2010 michelson.borges@cpb.com.br

Fotos: Photoxpress e Shutterstock

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Foto: William de Moraes / Ilustrações: Thiago Lobo e Shutterstock

Quando o mundo Sem os padrões perde a régua morais absolutos, tudo é permitido


Exército invisível na, de 19 anos, uma operadora de telemarketing. Como muitos, tentava conciliar o trabalho com os estudos. Dormia tarde, alimentava-se mal, não praticava exercícios físicos e estava sempre estressada e insatisfeita. Apesar da idade, sua energia e vigor estavam acabando. Toda semana ela procurava o posto de saúde se queixando de gripes, resfriados, amigdalites e infecções no ouvido. Sem saber, seu estilo de vida estava enfraquecendo seu sistema de defesa e o corpo não tinha mais forças para combater as doenças. Projetado por Deus para nossa proteção, o sistema imunológico é formado por um grande exército de células que “marcham” alertas pela corrente sanguínea, a fim de prevenir e combater infecções. E, assim que um germe causador de doenças (vírus e bactérias, por exemplo) é identificado, os glóbulos brancos entram em ação para neutralizá-lo. Por isso, é sempre válido lembrar que a eficiência desses soldados microbiológicos está condicionada ao estilo de vida. Portanto, para você não baixar a guarda e se tornar vítima da gripe e dos resfriados, coloque em prática as dicas a seguir: (1) Evite o consumo de gorduras e do açúcar refinado. Uma lata de refrigerante a base de cola, que contém de 10 a 12 colheres de chá de açúcar, é suficiente para diminuir em 60% a eficiência dos glóbulos brancos no combate às bac-

térias durante cinco horas. Por outro lado, uma dieta rica em frutas e verduras frescas, fontes de antioxidantes e vitaminas C e E, aumenta a resistência contra doenças respiratórias. (2) Durma bem. A falta de sono pode reduzir a atividade das células de defesa em 30%. Por isso, procure dormir de 7 a 8 horas por noite e vá deitar antes das 22 horas. (3) Faça exercícios físicos. Atividades moderadas e regulares, como caminhada diária de 30 minutos ao ar livre ou a prática de musculação, natação e ciclismo, são um “santo remédio”. (4) Tome banhos de sol. Ficar exposto a luz solar por pelo menos 20 minutos diários ajuda na produção de vitamina D, outra inimiga das doenças respiratórias. (5) Evite o estresse. Mágoa, ansiedade, descontentamento, remorso, culpa e desconfiança de Deus e das pessoas tendem a diminuir as forças vitais. (6) Use alho. O alho tem propriedades antibacterianas e antivirais. Você pode incluí-lo na dieta, como tempero ou tomá-lo em cápsulas. Finalmente, Ana resolveu mudar seus hábitos. Mudou sua dieta. Conversou com seu chefe para trocar de setor na empresa, assumindo um cargo menos estressante. E sua vida se tornou mais feliz e saudável, ao evitar as visitas ao médico e o uso de remédios. Faça como Ana. Neste inverno, feche as portas para a gripe e os resfriados. Uma vida saudável está ao seu alcance. Basta querer! Luiz Fernando Sella

Médico da Clínica Adventista Vida Natural, em São Roque, SP luizfernandosella@gmail.com

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Para não ficar de cama nesse inverno, faça da prevenção seu melhor remédio e conte com a ajuda dos anticorpos

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“Pastor, a nova ‘onda’ mundial agora entre os jovens é a série Crepúsculo, sobre vampirismo. Eu tenho minhas preocupações. Todavia, quero saber o ponto de vista da nossa igreja e quais são as implicações do vampirismo para a juventude?” T.P.

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(1) É pecado ajudar a financiar as produções que promovem o erro – Assistir no cinema ou em casa a qualquer filme ou ler qualquer livro que tenha a mesma proposta da série Crepúsculo é pecado, por ser um desperdício de tempo e dinheiro. É um equívoco ajudar a manter com nossos recursos materiais limitados a milionária indústria de entretenimento que, por meio de suas produções, faz promoção das mais variadas formas de erro. Séries como Crepúsculo e Harry Potter popularizam as práticas espiritualistas e místicas que Deus condenara Israel de participar: adivinhação, feitiçaria, consulta aos mortos e prática da magia. Hoje, aquilo que foi condenado pelo Senhor continua abominável para Ele, mas tem sido “vendido” como algo inocente e romântico. (2) O vampirismo prega a imortalidade da alma – A Bíblia diz claramente que só Deus é imortal (1Tm 6:14-16). Portanto, não se engane, pois as mentiras de Satanás são cíclicas, e ele é o “pai da mentira” (Jo 8:44). Apesar de o espiritualismo estar na moda, na qualidade de filhos e filhas de Deus, somos chamados a pregar a verdade de Jesus. 28

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(3) A “nova onda” populariza a reencarnação – Todos que conhecem um pouco as Escrituras sabem que a reencarnação não passa de uma teoria antibíblica. A infalível Palavra de Deus afirma: “E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, depois disto, o juízo” (Hb 9:27). Ao contrário de se “pagar” em outra vida pelo que se fez na anterior, depois do estado de inconsciência na morte, cabe ao homem apenas o tribunal de Deus. (4) A literatura vampiresca é macabra – Os roteiros dos filmes e dos livros sobre o tema são quase sempre sombrios quanto à descrição das cenas, ritos e símbolos. Os personagens são pálidos e o contexto é de escuridão, gritos e cenas de horror. Tudo muito peculiar ao “príncipe das trevas”. Além disso, os vampiros se alimentam de sangue, outra prática que, ainda que ligada ao mito do vampirismo, entra em confronto com a Bíblia. Se Deus proibiu o consumo de sangue animal, muito mais o de humanos (Lv 17:11-14). Portanto, depois dessa reflexão, fica difícil não pensar que é travada uma luta entre o bem e o mal nos bastidores dessas produções: “Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef 6:12). Diante de tudo isso, pergunto: o que nós, jovens adventistas do sétimo dia, temos a ver com o vampirismo? Absolutamente nada! Ao contrário, somos a geração esperança, portadores das boas novas de vida eterna a todo o planeta. Por isso, leia e promova a mensagem do Príncipe da Vida. Otimar Gonçalves

Líder dos jovens adventistas sul-americanos otimar.goncalves@adventistas.org.br

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ua pergunta é oportuna, pois o vampirismo realmente tem chamado a atenção dos jovens em todo mundo. A saga, formada pelos romances Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e Amanhecer; foi escrita pela norteamericana Stephenie Meyer, de 37 anos, que curiosamente é mórmon. Segundo a autora dos best-sellers, cujo um dos volumes já ganhou versão cinematográfica, a motivação para escrever os romances nasceu de um sonho. Creio que Satanás sempre tem uma estratégia destrutiva para alcançar os jovens menos avisados. É a conhecida, mas ainda eficaz artimanha de usar uma roupagem nova para o velho engano. E, ultimamente, ele tem chamado a atenção para a crença na imortalidade da alma, bruxaria e feitiçaria. Mas vamos às implicações desse tipo de entretenimento:


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Checkup A resposta para uma geração espiritualmente insatisfeita

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as perguntas que recebo de jovens realmente interessados em viver de modo relevante buscando crescimento espiritual, uma se destaca pela frequência com que é repetida: “Por que sempre tenho a sensação de que falta algo em minha vida espiritual?” A insatisfação contínua vivenciada pelo mundo invadiu o campo da espiritualidade. O programa semanal da igreja parece não responder as indagações mais simples de nossa jornada e nos colocar na zona de conforto do não questionamento e da inatividade. O que fazer de maneira prática para transformar essa situação? Certa vez ouvi que nossa intimidade com Deus, relevância no mundo e saúde espiritual podem ser medidas por meio de três indicadores: devoção, integridade e vocação. Avaliar profundamente essas áreas da vida cristã é como fazer um checkup espiritual, o primeiro passo concreto para uma revolução pessoal. Portanto, minha proposta não é fornecer respostas, mas levar você a uma profunda reflexão. Sugiro que encare as linhas abaixo com seriedade de quem realmente espera encontrar plenitude em Deus: (1) Devoção: Como é sua vida de oração e de estudo da Bíblia? Busca realmente intimidade com Deus? Gasta tempo de maneira exclusiva e disciplinada para a comunhão pessoal? Deus é um ser pessoal e relacional, que busca estar próximo dos Seus filhos (Jo 4:23). Orações superficiais podem caracterizar coleguismo, mas nunca intimidade. É de joelhos que Deus nos guia, disciplina, aconselha e ajuda a discernir Sua vontade. Sem dedicar tempo e atenção exclusivos a Deus, você nunca provará de uma nova realidade espiritual (Jr 29:13).

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(2) Integridade: Existe alguma área de sua vida que necessita de mudança urgente? Alguma dificuldade espiritual que nitidamente interfere em sua relação com Deus? Alguma tentação que há muito tempo busca vencer, mas não encontra forças e sente-se derrotado a cada queda? Integridade é buscar constantemente a pureza e santidade. É o rompimento com o erro e o afastamento do ilícito. O pecado acariciado e oculto nos rouba a paz, impede o crescimento pessoal e torna impossível a realização espiritual. Mas Deus anseia nos perdoar. Ele pede apenas arrependimento e confissão. Portanto, não adie aquela oração sincera, só Cristo oferece novo coração (Sl 51:10). (3) Vocação: Você está servindo, doando de si sem esperar nada em troca? Está diretamente engajado em algum serviço solidário, abnegado e útil? Ou está passando pela vida de maneira egocêntrica em busca de satisfação pessoal? Vocação é a tarefa específica que Deus nos dá para realizar nesta vida. Missão para a qual dedicamos todo tempo, recursos, esforço e habilidades, sem esperar retribuição, status ou elogio. É a visão que norteia nossas ações e que traz propósito à existência. Se você ainda não descobriu a sua, peça a Deus que lhe revele. Sem isso, a experiência cristã se torna limitada, sem vida e destinada à acomodação e descontentamento. Agora, antes de se questionar sobre a razão de sua insatisfação espiritual, pergunte-se com sinceridade: Como está minha vida devocional? Vivo com integridade perante Deus? Sirvo meu próximo com o uso abnegado de minha vocação? A resposta ao seu descontentamento surgirá claramente e o que falta será completado no momento em que decidir agir. A revolução começa agora. Felipe Tonasso

Estudante de Teologia, licenciado em Educação Artística - Música e pós-graduando em Aconselhamento Familiar pelo Unasp felipetonasso@hotmail.com

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ENTRE E

ALAGOAS E Santana – ( MATO GRO 3331-5636 capital (zon 3541; regiã leste e oest


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