JEITINHO BRASILEIRO
Sinal de criatividade, questão de sobrevivência ou falta de integridade?
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Out-Dez 2018 – Ano 11 no 48
Exemplar: 9,06 – Assinatura: 28,80
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GENIALIDADE: pessoas superdotadas são mais comuns do que se imagina
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APRENDA A CONVERSAR COM QUEM PENSA DIFERENTE
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LIÇÃO DE VIDA: O PROFESSOR BRINCALHÃO QUE TAMBÉM É LINHA DURA
MUDE SEU MUNDO: A YOUTUBER QUE EVANGELIZA SEM TIMIDEZ
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________ C.Qualidade ________ Depto. Arte
Da redação
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Editor Wendel Lima
OS DOIS LADOS DO JEITINHO Daniel Oliveira
O TERMO “JEITINHO BRASILEIRO” não tem tradução e precisa de vários adjetivos para defini-lo, mesmo em português. Porém, um pouco de convivência de um estrangeiro com brasileiros logo vai levar qualquer gringo atento a identificar esse traço cultural como uma das principais marcas de nosso povo. Como perguntamos na chamada de capa, seria esse nosso jeitinho um sinal de criatividade, questão de sobrevivência ou falta de honestidade? No momento em que são realizadas as eleições mais polarizadas da nossa história após a redemocratização, e a coerência dos candidatos é analisada e questionada, faz bem conversar sobre integridade, valor em destaque na rede educacional adventista neste bimestre. Pelo fato de permear nossa cultura, não é fácil fazer uma autocrítica equilibrada sobre o jeitinho brasileiro. Entendemos melhor nossa maneira de ver as coisas quando nos confrontamos com o diferente. Isso nos ajuda a olhar “de fora” nossa cultura. Esse parece ser um dos principais aprendizados de viver em outro país ou de conviver com estrangeiros. Gosto de pensar que o “jeitinho” brasileiro tem aspectos positivos e negativos. Enxerguei isso depois de ler um artigo da professora Margaretha Adiwardana no livro Perspectivas no Movimento Cristão Mundial (Vida Nova, 2009). Nascida na Indonésia, de ascendência chinesa e naturalizada brasileira, essa missionária vive há décadas no Brasil. Apesar de tratar do jeitinho brasileiro como uma “faca de dois gumes” no contexto do campo missionário transcultural, sua reflexão tem implicações mais amplas. Margaretha aponta quatro virtudes do nosso jeitinho: (1) a criatividade, flexibilidade e inventividade a que recorremos diante de desafios e adversidades; (2) a solidariedade que costumamos manifestar para com o próximo, “dando um jeito” para ajudá-lo; (3) a postura conciliatória, que enxerga na conversa pessoal e na simpatia um caminho mais eficaz de solução de problemas do que apelar para regras impessoais; e (4) a inclinação para a convivência pacífica, partindo da ideia de que todos têm que viver bem. Ela também lista quatro vícios desse traço cultural brasileiro: (1) a dificuldade de respeitar leis e autoridades, o que fica claro em nossa indisciplina e no espírito “moleque” de transgredir regras; (2) o individualismo, que nos faz enxergar numa rede de relacionamentos uma oportunidade para conseguir vantagens; (3) o imediatismo irresponsável, que tende a preferir o atalho a pensar nas consequências de longo prazo; e (4) o orgulho etnocêntrico, que nos leva a pensar que nossa maneira de viver seja superior à de outros povos. Não sei quanto a você, mas acho que a leitura de Margaretha sobre esse traço peculiar da nossa cultura merece alguma reflexão, discussão e atitude de mudança. Por isso, sugiro que você “dê um jeitinho” de ler toda a revista, principalmente a matéria de capa. E, se não for pedir muito, “abra uma exceção” e comente esses e outros assuntos em nossas redes sociais ou via e-mail. Seu comentário pode ser publicado na próxima edição. Até mais! 2 |
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4 CONECTADO
A OPINIÃO DE QUEM SEGUE E CURTE A GENTE
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GLOBOSFERA
WEBSÉRIES, NARRATIVA VISUAL, ESCOLA NA SELVA E LIVROS DIDÁTICOS
8 ENTENDA
AS SETE PRAGAS DO APOCALIPSE
20 PERGUNTAS
INTEGRIDADE, ADOLESCÊNCIA DE JESUS, ELEIÇÕES E USO DE DROGAS
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APRENDA
A CONVERSAR COM QUEM PENSA DIFERENTE
O FO POR DAS
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29 NA CABECEIRA
LIVRO RESGATA HISTÓRIA DE MISSIONÁRIOS QUE TROCARAM OS ESTADOS UNIDOS PELOS ANDES
30 GUIA DE PROFISSÕES CONHEÇA A CARREIRA QUE RESPONDE PELA SAÚDE FINANCEIRA DAS ORGANIZAÇÕES
16 REPORTAGEM
A SUPERDOTAÇÃO É MAIS COMUM DO QUE SE IMAGINA
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CÊNCIA USO DE
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... SE NÃO EXISTISSE CONSUMISMO
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O FOTÓGRAFO PREMIADO POR REGISTRAR O COTIDIANO DAS FAMÍLIAS
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Revista trimestral – ISSN 2238-7900 Out-Dez 2018 Ano 11, no 48
CAPA
GAMBIARRA À BRASILEIRA: VÍCIOS E VIRTUDES DA NOSSA CULTURA
Ilustração da capa: Thiago Lobo
CASA PUBLICADORA BRASILEIRA
Editora da Igreja Adventista do Sétimo Dia
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Rodovia Estadual SP 127 – km 106 Caixa Postal 34 – 18270-970 – Tatuí, SP Fone (15) 3205-8800 – Fax (15) 3205-8900 Site: www.cpb.com.br / E-mail: sac@cpb.com.br
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Editor: Wendel Lima Editores Associados: Fernando Dias e André Vasconcelos Projeto Gráfico: Marcos Santos e Éfeso Granieri Designers: Renan Martin e Fábio Fernandes
AIS AGINA
Marta Irokawa
Diretor-Geral: José Carlos de Lima Diretor Financeiro: Uilson Garcia Redator-Chefe: Marcos De Benedicto
24 MUDE SEU MUNDO
A YOUTUBER QUE VENCEU A TIMIDEZ PARA DECLARAR SUA FÉ EM CRISTO NA INTERNET
Gerente de Produção: Reisner Martins Gerente de Vendas: João Vicente Pereyra Chefe de Arte: Marcelo de Souza Colaboradores: Alexander Dutra, Antonio Marcos da Silva Alves, Almir Afonso Pires, Almir Augusto de Oliveira, Eder Fernandes Leal, Edgard Luz, Marco Antônio Leal Góes, Pedro Renato Frozza, Raquel de Oliveira Xavier Ricarte, Rérison Vasques e Rubens Paulo Silva
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Assinatura: R$ 28,80 Avulso: R$ 9,06 www.conexao20.com.br Tiragem: 30.000
26 LIÇÃO DE VIDA
A HISTÓRIA DO MARCENEIRO QUE SE TORNOU PROFESSOR PARA MOLDAR VIDAS
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Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita do autor e da editora.
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Informação Conectado & Opinião Globosfera Ao ponto Entenda
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Desabafos, sugestões, interação e dúvidas para a seção Perguntas? É aqui mesmo!
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FIM DO CRISTIANISMO? É fantástico perceber como essa reportagem da última edição foi pertinente à realidade em que vivemos. Precisamos dar mais atenção aos nossos jovens e buscar entender melhor seu contexto, a fim de que a igreja seja mais relevante para eles. Ao ler esse texto, fica evidente para mim que a mudança na forma dessa geração se relacionar com Deus não faz dela mais pecadora nem menos comprometida; apenas evidencia sua necessidade de conhecer melhor o Pai. Rafael Vieira Alves São Paulo (SP)
Penso que não chegamos ao fim do cristianismo, mas ao fim das rotinas religiosas que não fazem muito sentido na cabeça da nova geração. De certa forma, algumas posturas assumidas por essa geração são reações ao que temos feito como igreja. Hoje, os jovens não se interessam por uma religiosidade de aparências, que se legitima em argumentos de autoridade ou tradições. Para mim, isso é positivo, pois demanda da igreja um cristianismo autêntico e real, sem hipocrisia, a começar por seus líderes. Também é positiva a possibilidade de que esses questionamentos da juventude levem os jovens a pesquisar mais a Bíblia. Albert Schmitke Azevedo Brasília (DF)
FORMAÇÃO DE VALOR A reportagem de capa da última edição (jul-set) nos faz refletir sobre o papel da generosidade na vida cristã. Quando desviamos o olhar de nós mesmos e olhamos para o mundo ao nosso redor, cumprimos a missão que Cristo nos pediu e contribuímos para o desenvolvimento de uma sociedade mais fraterna. Cada instituição adventista de ensino deve concentrar esforços para desenvolver o valor da generosidade na formação de seus alunos. Herald Perroni Pettersen Belo Horizonte (MG)
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Na reportagem “Fim do cristianismo?”, algo me chamou a atenção: a igreja acaba tropeçando em seu medo de perder os jovens. Como um millennial, também creio que discutir e se aprofundar é o caminho para uma igreja envolvida com a sociedade. Creio também numa igreja que vive o amor e não tem medo de dizer o que crê; que leva os jovens a uma experiência real com Deus por meio de diálogos abertos,
feitos de maneira humilde, bíblica e profunda.
Rogério Mistura Bom Retiro (SC)
A GALERA QUE DISSE “SIM” Apreciei a entrevista com o pastor Jackson Roberto de Andrade, que desenvolve seu ministério há 14 anos na capelania escolar. Seu exemplo serve de incentivo para quem está na área e pretende seguir nesse ministério. Além disso, reforço a percepção do entrevistado de que, para se comunicar com adolescentes, não é necessário ser descolado e inovador, mas estar ao lado deles. Isso revela que os capelães são pastores de fato. Paulo César Martins Betim Santa Maria (RS)
IMAGINE SE NÃO EXISTISSE O CAPITALISMO Gostei muito da matéria, pois acredito que o papel da igreja é levar os membros a profundas reflexões nas mais diversas áreas da vida, como na política e na economia. O texto não levanta posições enviesadas, mas questiona a premissa de que a sociedade formada pelo modelo capitalista apresenta condições justas de crescimento para todos. Sem fanatismo nem partidarismo, esse texto retoma o velho bom senso, outrora esquecido, a fim de proporcionar uma reflexão sobre o tema. Parabéns pela iniciativa! Silas F. Barrella Engenheiro Coelho (SP)
MAIS QUE VENCEDOR Merece destaque a matéria “Mais que vencedor”, que conta a história de um jogador que abandonou sua carreira para adorar a Deus. Isso me faz refletir sobre o que tenho colocado como prioridade em minha vida: o sucesso profissional, acumulando tesouros aqui na Terra; ou o sucesso espiritual, acumulando tesouros no Céu. Assim como esse jogador, quero me entregar completamente a meu Salvador e ser Sua testemunha.
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Diani Becker Lamborghini São Roque do Canaã (ES)
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Q p A e n m p fu e e x
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Ao ponto
Texto Wendel Lima Ilustração Kaleb
IMAGEM QUE VALE MUITAS MEMÓRIAS
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Quando você começou a empreender? Aos 17 anos, quando abri uma empresa de servidor de internet e rapidamente consegui muitos clientes mas, da noite para o dia, perdi tudo. Depois fui trabalhar na área de e-commerce de uma editora em São Paulo; porém, sem deixar de ter meu próprio negócio. E como entrou para o mercado da fotografia? Eu mantinha um blog com os registros fotográficos das minhas viagens de mochilão pelo mundo. Depois passei a fotografar as atividades da igreja e as ações solidárias do nosso grupo de amigos. Até que um dia fotografei o casamento de uma amiga como um trabalho voluntário. Gostei da experiência e outros também gostaram do resultado. Novos convites
surgiram. Eu queria investir na fotografia publicitária, pois era o que estudava na época, mas acabei me especializando em casamentos. Estudei, ganhei prêmios na área e estava com a carreira consolidada. Porém, o nascimento da sua filha despertou em você outro olhar. Sim. Passei a olhar mais para as crianças e suas relações familiares. Nos casamentos, meu interesse maior não era registrar a noiva, mas as daminhas e pajens. Passei a fotografar partos; porém, foi em 2012 que nasceu a fotografia documental de família para mim. Percebi que tirava fotos profissionais dos meus clientes, mas não da minha filha. Até que, no aniversário da Isabella, trocamos a festa por um fim de semana em família
na praia em que não tirei minha máquina do pescoço. Registrei a alegria, o choro e a irritação. Qual é a importância do serviço que você oferece? Mesmo nas famílias tradicionais, as relações estão fragilizadas, talvez pela correria da vida. Acho que meu trabalho ajuda as pessoas a pensar na importância de passar mais tempo juntas. A essência da família está nos intervalos dos grandes momentos. Principalmente as crianças percebem isso: elas valorizam as coisas simples que os adultos passam por alto. Minhas fotos não são mirabolantes. Gosto de imagens simples, mas que despertem sentimentos, aquele nó na garganta. Como as famílias reagem ao resultado final do seu trabalho?
Ficam felizes, pois reconhecem o quanto são abençoadas. Falo para meus clientes que não fotografo para os pais e, sim, para os filhos. Lá na frente, os filhos vão querer saber como foi a primeira infância deles, pois a gente costuma não lembrar o que ocorreu até os quatro anos de vida. É importante um profissional registrar isso, pois depois os filhos não vão querer apenas ver a si mesmos, mas fotos deles com os pais. É um material que acaba não tendo preço e valendo tanto quanto uma festa ou viagem. Por isso, toda vez que saio para fazer um ensaio, oro a Deus para que possa honrá-Lo. Quero gerar reflexão e fazer as pessoas pensarem em como o amor Dele pode ser visto nas relações de família. E sempre aprendo nesse processo. OUT-DEZ
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ESTE PUBLICITÁRIO TEM 36 anos e vários prêmios nacionais e internacionais de fotografia documental. Palestrante requisitado em eventos da área, Renato de Paula também ministra cursos e workshops. Sua paixão é registrar o cotidiano das famílias e a beleza dessas relações. No seu livro recém- lançado, A Essência da Família, o pai da Isabella (7) e marido da Mônica fala um pouco sobre sua infância, a produção dos ensaios, dicas de empreendedorismo e a importância de valorizar os momentos comuns com aqueles que dividem o mesmo teto com a gente.
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Colaboradores: Allan Novaes, Felipe Lemos, Jairo Souza, Mairon Hothon, Mauren Fernandes, Murilo Pereira, Priscila Baracho e Thiago Basílio
C v r ç O ju c d r
Unasp
NARRATIVA VISUAL Quem deseja fazer uma faculdade na rede educacional adventista terá mais algumas opções em 2019. A Faculdade Adventista da Bahia vai oferecer o bacharelado em Nutrição e o tecnólogo em Gestão de Recursos Humanos (adventista.edu.br). O Unasp, por sua vez, abrirá os cursos de Farmácia, Veterinária e Psicologia em Engenheiro Coelho; Gastronomia, Pedagogia e Administração em Cotia; Direito e Psicologia em Hortolândia; Direito no campus do Capão Redondo e Enfermagem na unidade do bairro Liberdade, em São Paulo (unasp.br).
Fernando Borges
ESCOLA NA SELVA
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PASSE ADIANTE
Cerca de 1.600 líderes de jovens da Igreja Adventista participaram de um congresso global sobre identidade religiosa, missão e liderança das novas gerações em Kassel, na Alemanha. Sobre o tema “Pass It On” (passe adiante), eles assistiram a palestras e participaram de workshops. Mais informações e materiais estão disponíveis em youth.adventist.org/GYLC.
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A 35 horas de barco de Manaus funciona a Escola Técnica Adventista do Massauari (ETAM), com 49 alunos. O espaço foi inaugurado no dia 20 de julho, com o apoio da ADRA Brasil, agência humanitária da igreja, e de 240 voluntários do Unasp e de seis universidades americanas. O plano é que no futuro a ETAM receba alunos da região no regime de internato e ofereça ensino superior a distância.
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Dejan Stojkovic
MAIS OPÇÕES
Se você quer conhecer um estudo das Escrituras em forma de narrativa audiovisual, precisa acessar thebibleproject.com. O projeto lançado em 2014 por um grupo de teólogos, programadores e designers de Oregon, em Portland (EUA), é uma iniciativa sem fins lucrativos mantida por financiamento coletivo. A produção mescla, com equilíbrio e consistência, conhecimento acadêmico e qualidade narrativa.
Arquivo pessoal / ASN
A dependência tecnológica facilmente pode gerar um afastamento entre as pessoas (autismo digital). É fácil utilizar eletrônicos como uma rota de fuga ou evitação.”
S n d s fu to
Carolina Raupp, mestre em Psicologia, em entrevista ao Portal Adventista sobre a relação entre dependência tecnológica, automutilação e suicídio. Entrevista no link https://bit.ly/2MQT4Wi 6 |
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NOTA MÁXIMA
SUA VOZ PODE SER OUVIDA
Foi a última avaliação do MEC para o Unasp, o que coloca o centro universitário adventista entre as melhores instituições de ensino superior do país (nota 5). Foram avaliados os cursos, a estrutura física, atividades de extensão, pesquisa e metodologia de ensino.
Com essa frase terminaram os dez capítulos da websérie -10, a vida não é um jogo, disponível na plataforma feliz7play.com. Oferecendo um contraponto ao jogo de desafios Baleia Azul, a produção tratou de regras, convivência, princípios religiosos e bullying. O resultado vai além das 450 mil visualizações contabilizadas até julho, mas envolve também as dezenas de adolescentes que procuraram ajuda por meio dos canais da plataforma de streaming da Igreja Adventista. Uma equipe de voluntários atende de maneira personalizada por meio de chat, WhatsApp e redes sociais.
Em 1983, a CPB, editora da Igreja Adventista lançava seu primeiro título didático para a rede educacional da igreja. Depois de 35 anos, os números atuais são os seguintes...
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títulos didáticos
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paradidáticos
Nunca se discutiu tanto a pausa e nunca ela foi tão necessária como agora.”
SEGUNDA TEMPORADA
de unidades impressas Arquivo pessoal
Débora Bonazzi, publicitária adventista que há 17 anos trabalha em grandes empresas de mídia e tecnologia, falando sobre os movimentos que pregam um shabbat (sábado) digital.
50 milhões 220 mil
alunos atendidos
120 bilhões de reais
é o que o Brasil perde por não reciclar 97% das quase 80 milhões de toneladas de lixo produzidas por ano no país.
14 mil bolsas
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Dejan Stojkovic
de sangue foram doadas nos últimos anos pelos jovens adventistas do Amazonas por meio do projeto Vida por Vidas.
Se a primeira temporada da websérie Fora de Série teve foco nos dilemas gerais dos adolescentes, a segunda, lançada no fim de julho, discute especificamente os relacionamentos amorosos, familiares e entre amigos. O que se mantém é o pano de fundo religioso da atração. Os novos dez capítulos de 20 minutos estão disponíveis na plataforma feliz7play.com.
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37%
das pessoas que se tornaram membros da Igreja Adventista em 2017 tinham entre 13 e 30 anos de idade. Fontes: revista Veja (1/8/2018) e ASN out-dez
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O primeiro anjo derrama sua taça sobre a Terra. À semelhança da sexta praga do Egito (Êx 9:10, 11), aqueles que endurecerem o coração a Deus serão atingidos por úlceras (Êx 9:35).
Primeira praga (Ap 16:1, 2)
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O quarto anjo derrama sua taça sobre o Sol, elevando o calor do planeta e provocando queimaduras nos seres humanos. Infelizmente, os ímpios não demonstram nenhum arrependimento, e sim maior ousadia contra Deus.
Quarta praga (Ap 16:8, 9)
4
O segundo anjo transformará as águas do mar em sangue, matando assim os seres marinhos. Esse flagelo é uma alusão à primeira praga do Egito, quando as águas do rio Nilo se tornaram em sangue (Êx 7:17-21).
Segunda praga (Ap 16:3)
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Apocalipse
Texto André Vasconcelos Design Renan Martin Ilustração Vandir Dorta Jr.
As sete pragas do
Entenda
Na terceira praga, são os rios e as fontes das águas que se transformam em sangue. Assim, os rebeldes que derramaram o sangue inocente do povo de Deus só encontrarão sangue para beber.
Terceira praga (Ap 16:4-7)
3
As sete pragas do Apocalipse e o Armagedom são algumas das profecias bíblicas popularizadas pela mídia. De filmes a seriados, o Armagedom é retratado como uma guerra ou catástrofe que destruirá o planeta. Mas o que o Apocalipse ensina a esse respeito? Antes de mais nada, é importante saber que a palavra "Armagedom" ocorre apenas uma vez em toda a Bíblia, em conexão com a sexta praga do Apocalipse (16:16), e que todos os flagelos são “derramados” por anjos. Entenda o significado dessas profecias.
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O quinto anjo derrama sua taça sobre o trono da besta (poder religioso de Apocalipse 13:1-10 antagônico ao povo de Deus) e faz com que seu reino fique em densa escuridão. Enquanto as pragas anteriores afetam a humanidade, essa atinge diretamente a autoridade de Lúcifer, uma vez que ele delegou seu trono à besta (Ap 13:2). Esse flagelo também ecoa a nona praga do Egito (Êx 10:21-23).
Quinta praga (Ap 16:10, 11)
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O último anjo derrama sua taça pelo ar. Semelhantemente à sétima praga do Egito (Êx 9:24,25), os seres humanos são atingidos por uma chuva de pedras. Além disso, há um grande terremoto e as ilhas saem do lugar. É nesse contexto que Jesus volta à Terra, aparecendo nas nuvens como um guerreiro preparado para a guerra, a fim de libertar Seu povo (Ap 19:15, 19).
Sétima praga (Ap 16:17-21)
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O sexto anjo derrama sua taça sobre o rio Eufrates. O secamento simbólico desse rio remete à queda da antiga Babilônia (Is 44:27, 28; Jr 51:36, 37). Da mesma forma que Ciro, rei da Pérsia, desviou o Eufrates para conquistar a cidade, Jesus, o Rei dos Reis (19:14-16), vencerá a Babilônia profética (união dos poderes políticos e religiosos do tempo do fim) com Seu exército do Oriente (Is 41:2, 25; Mt 24:27). O lugar em que os inimigos de Deus se “ajuntam” para a batalha é chamado de Armagedom, mas essa batalha ocorrerá somente por ocasião da sétima praga (Ap 16:17–19:21).
Sexta praga (Ap 16:12-16)
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________ Editor
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Uma Nova Era Segundo as Profecias do Apocalipse (CPB, 1998), de Mervyn Maxwell; Revelation of Jesus Christ (AUP, 2009), de Ranko Stefanovic; Secretos del Apocalipsis (ACES, 2014), de Jacques Doukhan.
Saiba +
O que é o Armagedom: Literalmente “montanha de Megido”. Porém, não existe uma montanha com esse nome, o que revela o caráter simbólico dessa visão. O Armagedom, na verdade, refere-se a uma batalha espiritual que terá seu clímax na segunda vinda de Cristo, quando Ele libertará Seu povo e destruirá os ímpios (Dn 12:1). A alusão ao vale de Megido (não a uma montanha) reforça essa ideia, pois esse lugar foi palco de diversas batalhas na história de Israel (Jz 5:19; 2Cr 35:20-27).
Quando ocorrerão: Em algum momento entre o término da intercessão de Cristo no santuário celestial e a segunda vinda (Ap 15:8).
Quem é atingido: Os ímpios, isto é, aqueles que não se submetem a Deus e por isso recebem a marca da besta (Ap 16:2). Assim como os israelitas no Egito (Êx 9:26), o povo de Deus não será atingido pelas pragas, pois os fiéis estarão selados ou protegidos (Ap 7:1-3).
Literais e simbólicas: Muitos estudiosos reconhecem que as pragas são eventos reais descritos em linguagem simbólica. No entanto, há uma tendência de interpretar a quinta e a sexta como figuradas, enquanto as demais se cumpririam exatamente como são descritas. Isso, contudo, não impede que todas as pragas possuam elementos simbólicos. No caso da sétima praga, por exemplo, o grande terremoto, a chuva de pedras e a volta de Jesus certamente são eventos literais, ao passo que a divisão da “grande cidade” requer algum tipo de interpretação simbólica (Ap 16:20, 21).
QUADRO GERAL
Interpretação Capa & Reflexão Reportagem
Texto Thiago Basílio e Ruben Santana Ilustrações Thiago Lobo
Perguntas Imagine
O POVO DO No Brasil, contornar situações adversas é praticamente uma questão de sobrevivência. O problema é que muitas vezes essa conduta afeta nossa integridade
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HÁ POUCO MAIS de dois anos, no dia 5 de agosto de 2016, o Brasil experimentava a maior exposição midiática de sua história. Após muitas críticas internas e externas, e sob a desconfiança da imprensa internacional, era chegada a hora da abertura do maior evento esportivo do mundo: os Jogos Olímpicos. Pela primeira vez sediados na América do Sul, a competição atraiu a atenção de 2,5 bilhões de pessoas para o Rio de Janeiro. A maior audiência televisionada da história! Assim que o espetáculo começou, os corações foram acalentados e rendidos às belas imagens naturais do Rio de Janeiro na trilha sonora de “Aquele Abraço”, de Gilberto Gil. Assisti à cerimônia no YouTube dias depois, no canal oficial do comitê olímpico, com um “Galvão Bueno” narrando em inglês. No “palco” do estádio do Maracanã, centenas de pessoas trajadas com figurinos metálicos dividiram pedaços de papel-alumínio num sincronizado balé de movimentos perfeitos, que criaram formas que referenciavam obras de Athos Bulcão, um famoso artista plástico brasileiro que completaria 100 anos em 2018. A sinestesia causada pelos movimentos precisos dos voluntários, o espelhamento prateado do material que manuseavam com as luzes, a trilha sonora e a interação com as projeções deram um efeito espetacular nos primeiros atos da cerimônia, que viria a ser aclamada pela crítica por sua simplicidade, criatividade, alegria e envolvência. Ao explicar os simbolismos desse primeiro ato, o locutor disse algo como: “Aqui eles chamam de ‘gambiara’ o talento brasileiro de criar do nada algo brilhante.” Ou seja, uma referência clara, intraduzível e essencial da cultura brasileira, celebrada em nível global naquela histórica noite. A cultura da gambiarra, dos ajustes, do “jeitinho brasileiro”, no contexto da cerimônia de abertura, representou uma economia de 90% em relação aos gastos da cerimônia das Olimpíadas de Londres, em 2012. Isso sem deixar nada a desejar em nível de qualidade e exuberância. Imagine quantas gambiarras, quantos jeitinhos, quantas “camaradagens” foram necessárias para chegar a um resultado tão surpreendente! A partir de então, o que era para ser um caos anunciado passou a ser noticiado com normalidade e até credibilidade. Os jogos correram bem, sem grandes incidentes, e a “Rio 2016” ficou marcada como uma grande Olimpíada, arrancando elogios e até desculpas da imprensa internacional. O mundo descobriu um dos segredos do nosso jeitinho: na hora, vai!
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RAÍZES DO IMPROVISO Porém, por definição, o que é o jeitinho brasileiro? Em artigo publicado no Portal Estadão (7/6/2016), Vítor Sandes, doutor em Ciência Política pela Unicamp, considera que o jeitinho “expressa as artimanhas que os brasileiros fazem para superar as adversidades e/ou para ganhar vantagem em negócios e serviços cotidianos, a partir de uma conduta avessa às normas e leis estabelecidas”. Resumindo, são formas alternativas que o brasileiro encontra para resolver seus infindáveis problemas.
“Nosso país foi fundado nas relações pessoais postas acima da lei, e disso resultou a consideração de que as penas da lei serão sempre para os outros, para os inimigos, e não para aqueles que conseguem se valer dela para auferir vantagens, privilégios e impunidade”, analisa Renato Garibaldi Mauri, doutor em Filosofia pelo Instituto Piaget (Portugal) e professor no Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus Engenheiro Coelho. Tais condutas e práticas resistiram ao tempo e foram se tornando cada vez mais sofisticadas ao longo da história. Contudo, será que esse é um jeitinho realmente só do brasileiro? “Isso é particularidade da cultura brasileira. Claro que, se formos para os países latinos, teremos uma cultura semelhante, mas com algumas diferenças”, avalia Tânia Maria Lopes Torres, doutora em Ciências Sociais pela PUC-SP e também docente do Unasp. O jornalista André Fran (@andrefran) já visitou mais de 60 países e concorda com ela. Criador e diretor do programa Que mundo é esse? e colunista nos programas Estúdio I e Globo News Internacional, todos no canal fechado, André considera que a particularidade do jeitinho brasileiro está na forma de utilização dessa habilidade. Para ele, o brasileiro tem boa articulação. Na opinião de André, existem duas faces desse nosso traço cultural. O lado positivo é a criatividade para lidar com um problema inesperado, enquanto que o negativo é achar que se pode livrar de situações adversas só usando o carisma e bom humor. “Unindo essas duas faces, acho que é uma coisa mesmo do brasileiro, que não tem igual em outra cultura que conheci. Tanto para o bem, quanto para o mal”, pondera. E, se é cultural, certamente esse jeitinho pode ser identificado em diferentes situações do nosso cotidiano e contextos da nossa sociedade.
Você já deu aquele “jeitinho”? *G.D., 18 anos, Pirenópolis (GO) -entrada. Porém, ral com o dinheiro contado para a meia “Certa vez fui a uma atividade cultu tinha percebido isso Não va com a data de validade vencida. minha carterinha de estudante esta , fazendo com nela ha adin rasp no guichê. Então dei uma até chegar próximo de ser atendido i entrar pasegu Con pra. com a aria ibilit ha, o que poss que a data não aparecesse na carteirin cia.” ciên , mas fiquei com certo peso na cons gando metade do valor do ingresso
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O JEITINHO NOSSO DE CADA DIA Pode parecer que não, mas o jeitinho influencia, por exemplo, nossa linguagem. Quando pretendemos visitar um amigo ou parente, a frase “coloque mais água no feijão que eu tô chegando” expressa flexibilidade e criatividade nos relacionamentos interpessoais. Trata-se de incluir, possibilitar ajustes nas situações para benefícios individuais e coletivos, sem que alguém necessariamente seja prejudicado. Em contrapartida, há também quem utilize o jeitinho para obter vantagens pessoais, como desconto com carteirinha estudantil falsificada e boas notas sem estudar para os exames. Essas práticas, por mais rotineiras que pareçam, evidenciam uma propensão pessoal à corrupção, ao descumprimento de regras, à alienação ou até mesmo ao abuso de poder. O artigo publicado em 2011 na Revista Interamericana de Psicologia (v. 45, nº 1, p. 27-36), pelo psicólogo Ronaldo Pilati e mais quatro pesquisadores, ressalta que, “apesar de o jeitinho brasileiro ser associado ao rompimento das normas sociais, ainda assim é visto como uma estratégia válida para resolver problemas e lidar com a burocracia”. No entanto, quando o assunto é educação, o jeitinho parece não colaborar muito para o cumprimento de algumas demandas exigidas pelos educadores. “Mesmo que o termo sugira certa criatividade e capacidade de improviso, acaba por prejudicar o processo educativo, porque compromete questões importantes, como o aprofundamento e a organização do estudante”, garante o professor Renato Garibaldi Mauri. O ponto é que lançar mão do jeitinho não será imoral em todas as circunstâncias, mas o que dificulta saber quando ele afeta ou não nossa integridade é o fato de estar bem arraigado em nossa cultura.
Você já deu aquele “jeitinho”? inadimissível reconhecer que um parlamentar, eleito pelo T.M., 15 anos, voto popular para represenBrasília (DF) tar os interesses da população, “O jeitinho que eu vote para o benefício da socieacabei dando foi não dade somente quando recebe ter lido nenhum paradidático pedido pelo um “extra” além do seu satisfatóprofessor, pensando rio salário. Segundo a professora que lendo o resumo Tânia, a dinâmica do jeitinho é ajudaria. O problema a do “privilégio camuflado, traé que a gente acaba mado ‘jeitosamente’, pouco perse enganando nessas cebido, feito com graça e arte de situações e fica com a tal sorte que possa até mesmo consciência muito peser admirado pelos outros”. sada. Refleti bastante sobre isso e, pensanÉ por isso que vários vídeos do bem, conclui que e áudios de flagrante corrupção desrespeitei o profesque vêm a público são marcados sor. Afinal, ele pediu por sorrisos, gracejos, congraisso e era o mínimo tulações e cinismo. “Esse jeitique eu deveria ter nho é a prepotência em tom feito como estudante.” de brincadeira”, complementa Tânia. É símbolo de uma perversidade e sarcasmo que leva o infrator a rir de quem foi trapaceado. O problema é que essa lógica do jeitinho na política costuma ser praticada não apenas por quem foi eleito para uma função, mas por qualquer cidadão comum que pretende tirar proveito para si às custas dos outros. Isso acontece quando se recorre a um político para conseguir urgência numa cirurgia na rede pública de saúde e “pular” a fila de espera; ser beneficiado com um “cabide de emprego” em órgãos públicos ou ainda trocar votos por cesta básica, dentadura e telhado de igreja.
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A POLÍTICA DO JEITINHO Na política, o uso do jeitinho tem se mostrado lamentável. É só olhar a bagunça que se tornou nossa democracia. O caso de corrupção conhecido como “Mensalão”, por exemplo, mostra como a malandragem pode ser “institucionalizada” e uma “ética paralela” ser estabelecida no campo político. As suntuosas mesadas recebidas por parlamentares, a fim de que aprovassem medidas de interesse do governo da época, foram entendidas pelos corruptores e corrompidos como se fizessem parte das esperadas “regras do jogo”. Afinal, era uma forma de “todo mundo sair ganhando”. Essa lógica de que “os fins justificam os meios” foi defendida por alguns que acreditam que o país no fim saiu ganhando com os projetos de franco interesse social aprovados à base de propina. É no mínimo
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Você já deu aquele “jeitinho”? A.C., 17 anos, Garopaba (SC) ho não muito adequado. Há “Várias vezes tive que dar um jeitin prova de química para fazer uma tinha do algumas semanas, quan escola no dia do exame e disse e não havia estudado, liguei para a aula porque estava doente. que não tinha condições de ir para tinha condições de ir para eu Realmente eu estava doente, mas dia. Acho que o que faz a o outr em a prov a aula. Resultado: fiz a ria das vezes, dá certo. Tigente praticar o jeitinho é que, na maio um peso na consciêncom i rei boa nota naquela prova, mas fique não ter estudado.” por Tudo ti. cia. O que fiz foi errado, pois men
Boa parte da população parece estar saturada de ouvir notícias sobre o mau uso do dinheiro público e da desonestidade na política. Porém, não é difícil imaginar que a utilização desse mesmo jeitinho faria bem para a vida pública brasileira se interesses coletivos estivessem acima dos individuais. A ECONOMIA DO JEITINHO “Uma vantagem do jeitinho brasileiro para a economia do Brasil é o caráter empreendedor do nosso povo. Nesse sentido somos muito resolvidos”, analisa a economista Loraine Staut (@lorastaut). E isso não é segredo para ninguém, né? O orçamento apertou um pouquinho e as alternativas já passam a ser pensadas para complemento de renda. Vender cosméticos para amigos do trabalho, aceitar encomendas de pizzas, pegar projetos por fora. A crise atual, que já se arrasta por quase quatro anos, levou à criação de 11 milhões de empresas por necessidade, segundo o Sebrae. Ou seja, muita gente desempregada enxergando como alternativa de sobrevivência a abertura do seu próprio negócio. Entretanto, é sempre bom fazer interpretações mais cautelosas sobre tais alternativas, pois “‘jeitinho’ quer dizer distorção. Se alguém precisa de um jeitinho para fazer o bem é porque o sistema vigente não oferece instrumentos nem instituições eficazes para atender quem precisa”, pondera Thais Heredia (@thais.heredia), premiada jornalista especializada em economia, que trabalhou na GloboNews. Como nem tudo são flores, o jeitinho também é utilizado para enganar. Exemplos disso vemos com frequência quando empresas tentam dar uma “maquiada” nos relatórios a ser apresentados aos acionistas, ou quando cidadãos comuns conseguem laudos médicos falsos para comprar carro com desconto. “A partir do momento que alguém alega, de maneira mentirosa, ter uma necessidade especial e consegue comprar um carro 14 |
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mais barato, ele está lesando as pessoas que realmente têm deficiência e que possuem o direito de comprar o carro mais barato”, exemplifica a economista Loraine Staut. A jornalista Thais Heredia explica também que “o dinheiro não é elástico. Cada vez que alguém paga um valor a menos por um serviço, imposto, produto – e o valor cheio é o praticado no mercado, alguém tem que pagar a diferença, não tem erro! É o mesmo quando tentamos dar um jeitinho de burlar os impostos e taxas”. Numa visão de macroeconomia, campo que tem relação direta com a política, verificamos com certa frequência o governo tentando manipular resultados, fazendo acordos econômicos e incentivos fiscais para, no fim das contas, os números fecharem. “Isso provoca uma perda gigantesca de arrecadação num país que demanda muito do Estado. Quem sofre é a população mais pobre, que depende dos serviços públicos de saúde, educação e segurança, para citar o mínimo”, justifica Thais. De jeitinho em jeitinho, a conta da corrupção, segundo o Ministério Público Federal (com dados de 2017 levantados pela ONU), é estimada em torno de 200 bilhões de reais por ano. Daria para fazer cinco Olimpíadas no Rio por ano. “O jeitinho é o jeito mais caro de o Brasil pagar suas contas”, salienta a jornalista. Tudo isso compromete a credibilidade do Estado, tornando os investimentos privados cada vez mais cautelosos e modestos.
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QUESTÃO DE INTEGRIDADE Jesus não era brasileiro, mas Seu primeiro milagre (Jo 2:1-11) pode ser considerado um jeitinho, principalmente se analisarmos a forma discreta com que ele aconteceu. Para contextualizar, imagine quão vergonhoso seria o momento em que o noivo da festa, provedor da família que estava se formando a partir daquele momento, percebesse que não havia mais bebida para oferecer aos convidados do seu casamento... Maria, mãe de Jesus, foi quem O informou sobre o problema. Cristo logo encontrou uma alternativa de solucioná-lo sem que quase ninguém notasse o transtorno, preservando o noivo de um grande constrangimento. ‘’É como se Jesus falasse: ‘Não se preocupe, Eu vou dar um jeito nisso. A gente vai resolver essa situação e ninguém vai perceber’”, compara Felipe Carmo (@flpscarmo), pastor, mestre em cultura hebraica pela USP e também professor do Unasp. Foi basicamente uma espécie de jeitinho que Ele deu para que a festa continuasse sem gerar problemas para o noivo. Jesus interveio na situação como alguém que conhecia e respeitava as regras do jogo, surpreendeu ao solucionar o impasse e gerou um benefício coletivo sem que ninguém saísse prejudicado. “É claro que isso não se reflete em todas as atividades Dele durante
Você já deu aquele “jeitinho”? R.S., 15 anos, São Luís (MA) Não me lembro agora especificamen te de alguma situação em que dei um jeitinho, mas provavelmente isso já deve ter acontecido e tenho certeza que no momento devo ter ficado de boa e me sentindo mal depois. O jeitinho acaba afetando nossa integ ridade, porque nos ajuda a conseguir as coisas mais facilmente, aind a que de forma ilegal ou errada.”
Seu ministério. Jesus não ficava dando jeitinhos pra lá e pra cá”, pondera Felipe Carmo. O fato é que, tanto a utilização das vias “convencionais” para lidar com situações adversas quanto o jeitinho podem ser imorais e comprometer a integridade do indivíduo se as motivações foram tortas. No fim das contas, o que define a instauração do prejuízo a um indivíduo ou a uma sociedade não é tanto o como isso ocorre, mas principalmente os objetivos por trás da ação. É possível, por exemplo, causar a morte de milhões de pessoas sem que isso seja considerado ilegal por uma constituição, enquanto se pode salvar outras milhares ao dar um jeitinho. Da mesma forma, você pode oferecer um espetáculo tecnológico e competente com uma verba significativa, ou, na falta de grana, proporcionar uma experiência “analógica” inesquecível para 2,5 bilhões de espectadores. Basta usar corretamente a gambiarra. *Para preservar a identidade dos adolescentes que deram depoimentos nesta reportagem, a identificação nos boxes foi feita com iniciais de pseudônimos
Você já deu aquele “jeitinho”? B.G., 17 anos, Piracicaba (SP) “Dar um jeitinho se tornou algo tão comum para os brasileiros, que é difícil lembrar de ocasiões específicas em que o utilizamos. A gente não para a fim de refletir nisso, porque não encaramos mais como um jeitinho. Faz parte disso, por exemplo, o simples ato de baixar músicas on-line ou assistir a filmes ‘piratas’. Algo tão banal, que nunca liguei pra esse tipo de coisa.”
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Reportagem
Texto Rebbeca Ricarte Design Fábio Fernandes
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Eles não estão presos em lâmpadas mágicas, nem são tão raros de se encontrar. São pessoas superdotadas em alguma habilidade específica, que precisam de apoio para explorar o próprio potencial e contribuir com a sociedade
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NERD OU GÊNIO? Segundo o documento Saberes e Práticas da Inclusão da Secretaria de Educação Especial do MEC (2006), estudantes superdotados são definidos como aqueles que “apresentam desempenho acima da média ou elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: capacidade intelectual geral; aptidão acadêmica específica; pensamento criativo ou produtivo; capacidade de liderança; talento específico para artes e capacidade psicomotora” (p.12). Com base nessa definição, percebe-se que a genialidade de alguém não se mede somente pelo desempenho em disciplinas formais da escola. A psicóloga Janete Suárez tem estudado esse tema há alguns anos. A tese de doutorado em Psicologia
que ela tem desenvolvido na PUC de Campinas (SP) trata desses alunos geniais que, segundo o Censo Escolar de 2016, são quase 16 mil em todo o país. O que muitos especialistas acreditam é que esse número está subestimado, pois falta infraestrutura no Brasil para identificar alunos com altas habilidades. A ONU, por exemplo, estima que pelo menos 10 milhões de brasileiros, ou cerca de 5% da população, sejam superdotados. Para ter um diagnóstico adequado, Janete explica que não se trata apenas de medir o QI (quociente intelectual). Segundo ela, os principais estudos científicos que levam em conta as altas habilidades consideram a teoria dos três anéis do psicólogo norte-americano Joseph Renzulli. De acordo com esse modelo, o comportamento de superdotação é caracterizado pela intersecção de três fatores: habilidade acima da média, motivação e criatividade. De acordo com Janete Suárez, a identificação de superdotação é um processo bastante dinâmico, que envolve vários profissionais. Essa equipe leva em conta, por exemplo, o que o aluno faz bem, considera informações oferecidas pelo professor dele, bem como pelo próprio aluno, a avaliação de sua família e o contexto socioeconômico e cultural em que vive. Por isso, o “processo inclui entrevistas, observações, sondagens do rendimento escolar, análise de produções e instrumentos como testes e escalas de avaliação específicas para esse fim”, detalha a pesquisadora (ver o quadro “Teste de inteligência”, na p. 19). RECONHECER OS PONTOS FORTES André Gentil hoje não atua na sua área de formação. O engenheiro elétrico formado pelo ITA em 2014, com extensão na Universidade de Southampton, na Inglaterra, descobriu que sua alta habilidade com os números, identificada ainda na adolescência, poderia lhe trazer mais realização no mundo dos negócios. “Na faculdade, percebi que minha preferência não seria atuar na área técnica. A realidade atual é que as carreiras são cada vez mais fluidas. Trabalho agora na área de administração, com gestão de projetos”, ele justifica. André acredita que o caminho é identificar as próprias habilidades mais fortes e descobrir como explorá-las da melhor forma, “fazendo o que gosta, naquilo em que é bom e aprendendo sempre”. A questão é que, para potencializar as altas habilidades, é preciso contar com uma rede de suporte, tanto na escola quanto na família e no grupo social out-dez
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INGRESSAR “DE PRIMEIRA” em uma das faculdades mais prestigiadas do país é um desafio e tanto. O Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) é considerado o vestibular mais difícil do Brasil, não simplesmente pela concorrência, mas também pelo alto nível das questões. São quatro módulos de prova, e apenas 150 vagas para cinco cursos de engenharia disputadas por jovens estudantes de todo o país. André Gentil conseguiu uma dessas concorridas vagas em 2009, quando concluía o ensino médio, aos 17 anos, e ingressou no curso de engenharia eletrônica. Ao longo da jornada de preparação para o vestibular, ele recebeu dos colegas o título de “nerd” ou “gênio”; porém, André acredita que o segredo do seu sucesso foi perceber muito cedo sua habilidade acima da média com números e investir no aperfeiçoamento desse talento natural. No dia a dia, ele foi descobrindo, do seu próprio jeito, como potencializar seus pontos fortes. Por aprender ouvindo, ele se concentrava em entender a teoria nas aulas expositivas com o professor, e fazer exercícios sozinho em casa. “Também me desafiava participando de olimpíadas na área de exatas”, complementa. O estudante pernambucano recebeu medalha de ouro na Olimpíada Brasileira de Física, em 2008, e foi um dos cinco brasileiros que viajou até o Vietnã naquele ano para representar o país na competição mundial. Em sala de aula, embora se destacasse na área de exatas, André se esforçava para alcançar os melhores resultados em todas as disciplinas. No ITA, ele manteve a mesma postura e por isso recebeu menção honrosa da instituição em 2014 por seu desempenho nas áreas de física, matemática e humanidades.
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de convívio. Do ponto de vista dos relacionamentos, por exemplo, os superdotados enfrentam desafios, pois às vezes sofrem mais rejeição do que experimentam aceitação e admiração. Os colegas de classe que não entendem a respeito de superdotação acabam associando a genialidade de alguém a seu QI ou condição econômica. Esse senso de inadequação às normas comportamentais estabelecidas pode fazer com que os superdotados optem pelo isolamento e pela hostilidade. GENIALIDADE NA MÚSICA Quando a família de Eduardo Brito resolveu mudar para São Paulo, a ideia era colaborar para o desenvolvimento do filho. O caçula da família, que estudava no Colégio Adventista de Rio Branco, no Acre, chamava a atenção pela desenvoltura musical. Aos 5 anos ele aprendeu a ler sozinho e repentinamente. “A professora dele me chamou e falou que isso estava gerando mais inquietação nele, por estar acima do nível dos colegas da sua idade. Então eles nos propuseram avançá-lo, e ele adiantou um ano na escola”, relata a mãe dele, a funcionária pública Bárbara Brito. Dois anos depois, porém, essa “inquietação” havia aumentado, Eduardo não conseguia ficar mais que poucos minutos na sala de aula sem fazer perguntas. A escola então propôs que a família buscasse ajuda especializada. Na capital acreana eles não encontraram um psiquiatra pediátrico, por isso foram para a capital paulista levando provas e anotações escolares para que fossem avaliadas. A família voltou para Rio Branco com uma série de questionários que precisavam ser respondidos por familiares, professores e amigos. Seis meses depois, veio o laudo final: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Com dificuldades de aceitar o diagnóstico do filho, Bárbara procurou alternativas em vez de medicá-lo. “Como ele tinha muita energia, pensei em enchê-lo de atividades. E foi assim que a música surgiu na vida dele”, lembra. Paralelamente, a mãe procurou uma neuropsicóloga, que confirmou o diagnóstico de TDHA, mas acrescentou que Eduardo apresentava um alto nível de QI, e que a família deveria procurar o núcleo de altas habilidades do governo. Em um ano de estudos musicais, o avanço do garoto foi notório. Bárbara foi chamada pelo professor para ficar ciente da grande habilidade do filho, e uma pessoa do núcleo de habilidades do governo passou a acompanhar o caso. No fim do processo, Eduardo foi avaliado por um maestro da Escola 18 |
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Acreana de Música, que confirmou, por meio de um certificado, sua superdotação musical. Eduardo se desenvolveu no piano e em diversos instrumentos. “Aprendi a tocar violão bem rápido. Uma pessoa me ensinou o básico e me aperfeiçoei vendo vídeos, mas também toco sanfona, cavaquinho e percussão”, conta Eduardo, hoje com 15 anos e aluno do Colégio Adventista de Santo Amaro, na zona sul de São Paulo. A mudança para a capital paulista ocorreu para que ele tivesse melhores condições de se desenvolver na música. Na escola, ele é atualmente um aluno de desempenho normal. Apresenta dificuldades em algumas disciplinas, mas alta habilidade na música. Por conta do TDHA, é um pouco desafiador para ele ler as partituras, mas compensa isso tocando as músicas de cor. “Acredito que sou alguém que pensa de maneira mais rápida e fácil, mas eu não acho que seja um gênio. O que faço é me esforçar muito, treino muitas horas por dia para continuar sendo bom no que faço”, destaca o adolescente, dizendo que não se enxerga acima da média. DOUTORA ANTES DOS 30 Aos 28 anos, Danielle Dutra recebia o título de doutora em Biologia. Chegar a esse ponto da vida acadêmica ainda tão jovem é para ela resultado de habilidade, mas também de muito esforço. A vocação da bióloga foi descoberta no ensino médio, quando estudava no Colégio Adventista do Arruda, em Recife (PE). A garota gostava de estudar e se dedicava para ir bem em todas as disciplinas. Contudo, por causa da didática do professor de Biologia, ela passou a apreciar mais essa matéria. Até que um dia esse professor perguntou para a sala quem gostaria de participar do Prêmio Jovem Cientista, e somente Danielle, na época com 14 anos, levantou a mão. Começou aí um trabalho conjunto. O professor Gilberto Santana (Giba), hoje diretor do Colégio Adventista de Ji-Paraná (RO), começou a orientar a aluna, que precisou ler diversos artigos científicos. No concurso daquele ano, a proposta era sobre soluções para a erradicação da fome e desnutrição. Eles tentaram duas ideias que não vingaram, mas a terceira deu certo: fazer um melaço de cana enriquecido com cálcio e zinco. “Escolhi esses minerais depois de muita pesquisa, e de constatar que eles eram essenciais para
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crianças com raquitismo e idosos com osteoporose. Escrevi o projeto, desenvolvemos o produto, testamos o sabor do melaço, aumentamos em muito sua concentração de cálcio e zinco, e enviamos para o concurso”, relembra. Danielle venceu o prêmio daquele ano e foi homenageada em Brasília (DF). A partir de então, a garota que queria estudar Direito percebeu que sua vocação e seu futuro “ganha pão” estava na Biologia. Aos 16 anos, ela passou em quarto lugar no vestibular da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Logo se envolveu em projetos de extensão e de iniciação científica. Chegou a inscrever nove trabalhos por ano em congressos, tudo com o foco nas especializações. Depois da graduação, ela foi para o mestrado e, em 2017, concluiu o doutorado. A menina de família pobre disse que não poderia se dar ao luxo de ficar desempregada nem estudar sem bolsa de estudos. Por isso se esforçou não apenas para ser uma boa aluna, mas a melhor que poderia ser. Hoje Danielle trabalha na área que estudou: morfofisiologia. Ela é professora e técnica de laboratório concursada na Universidade Federal de Pernambuco. CRESCER EM CONJUNTO Nas histórias de André, Eduardo e Danielle, um mesmo padrão se repete: a escola foi o trampolim para um crescimento ainda maior. “A escola é responsável por oportunizar a todos os alunos a harmonização de suas áreas de desenvolvimento e desempenho. Cabe aos educadores levantar hipóteses, oferecer incentivo e aperfeiçoamento das potencialidades dos alunos, e procurar ajuda técnica para não errar. Isso tudo começa com o olhar diferenciado de um professor”, sintetiza a psicóloga Janete Suárez. A pesquisadora defende, inclusive, que os alunos superdotados tenham avaliações diferenciadas dos demais, e vê como positiva a medida de “pular séries”. Ela justifica sua opinião com base num artigo dos pesquisadores Saiying Steenbergen-Hu e Sidney M. Moon, que analisaram 38 estudos sobre o tema publicados de 1984 a 2008. As pesquisas têm mostrado que a aceleração das séries nos casos de superdotação tem promovido melhor desempenho acadêmico, motivação para aprender, envolvimento com as atividades escolares e autoconceito positivo. Essa aceleração da vida escolar já está prevista na nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional. O aluno pode ser admitido mais cedo que o normal na escola, realizar seus estudos em tempo inferior ao previsto, e, se dominar os conteúdos da série em que se encontra, poderá pular fases. Depois de participar da Olimpíada Mundial de Física, ingressar aos 17 anos no ITA, e se tornar bem- sucedido no mundo dos negócios, André Gentil acredita que suas altas habilidades não fazem sentido se ele pensar no acúmulo de conhecimento apenas para si. “Quando compartilhamos, colocando na mesa, vemos muito pouco o lado de competir com os outros, mas sim de competir consigo mesmo. Ajudar os outros faz com que criemos aliados, movamos as pessoas ao redor para que todos saiam ganhando”, sintetiza a postura que tem adotado desde o ensino médio. Se mais superdotados pensarem como ele, esses milhões de brasileiros com altas habilidades que ainda precisam se descobrirem e serem descobertos podem dar uma grande contribuição para solucionar os maiores problemas do nosso tempo, seja no Brasil ou ao redor do mundo.
Teste de inteligência
Embora existam muitos testes de QI (quociente de inteligência) disponíveis on-line, eles não costumam apresentar uma metodologia confiável. O melhor é procurar um psicólogo com registro no Conselho Regional de Psicologia ou uma clínica multidisciplinar, que normalmente são formadas por psicólogos, neurologistas, psiquiatras e pedagogos. Os testes mais utilizados para esse propósito são aplicados por psicólogos. São a Escala de Inteligência Wechsler para Crianças (WISC), que avalia o desempenho cognitivo, a capacidade intelectual e o processo de resolução de problemas; e a Escala de Inteligência Wechsler para Adultos (WASI), que visa atender a necessidade de uma medida breve de inteligência em pessoa de 16 a 89 anos. Ambos os testes são aprovados pelo Satepsi, órgão do Conselho Federal de Psicologia que certifica a qualidade técnico- científica desses instrumentos.
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Básica
Texto André Vasconcelos Imagem © radachynskyi | Adobe Stock
Jó era íntegro e se desviava do mal
INTEGRIDADE De acordo com o dicionário Houaiss, o termo “integridade” se refere à qualidade de uma pessoa “honesta, incorruptível, cujos atos e atitudes são irrepreensíveis”. A Bíblia apresenta uma definição semelhante, porém, com alguns detalhes a mais. No Antigo Testamento, por exemplo, o termo “integridade” (hebraico tom/ tummah) apresenta diversas nuances, como: sinceridade de coração (Gn 20:5; 1Rs 9:4), simplicidade ou inocência (2Sm 15:11) e inteireza (Jó 2:3, 9; 27:5; 31:6). Outra palavra hebraica utilizada para expressar a ideia de integridade é tamim, que geralmente é traduzida como “perfeito” ou “íntegro”. Esse termo é usado para se referir à Noé (Gn 6:9), Abraão (Gn 17:1) e Davi (Sl 18:23). Contudo, o exemplo mais emblemático é o de Jó, “um homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal” (Jó 1:1). Quando Jó via uma pessoa com fome, ele a ajudava (31:16-18); quando via uma mulher bonita, ele desviava o olhar para não cobiçá-la (31:1, 9); quando via alguém passando frio, ele o agasalhava (31:19, 20). Em resumo, as ações de Jó estavam alinhadas com suas convicções, ou seja, ele era coerente. Por isso, diante das acusações que recebeu, ao examinar seu próprio coração, ele manteve a certeza de que não havia negociado sua integridade. Pessoas coerentes, a exemplo de Jó, possuem valores tão sólidos, que sua conduta se torna previsível, mesmo diante de circunstâncias diferentes e desfavoráveis. Por fim, a integridade traz vantagens individuais, como a paz de espírito, e coletivas, como a confiança. Pessoas íntegras são emocionalmente mais equilibradas e tendem a inspirar pelo exemplo. Uma virtude mais do que importante em nossos dias. Fontes: verbete “Integridade”, em Dicionário Bíblico Wycliffe (CPAD, 2007), p. 977. “Integridade”, em Dicionário Bíblico Unger (SBB, 1993), p. 624.
Curiosa
Texto André Vasconcelos
COMO FOI A ADOLESCÊNCIA DE JESUS? A curiosidade quanto à infância e adolescência de Jesus vem de longa data. No segundo século, por exemplo, muitos cristãos já especulavam a esse respeito. O evangelho apócrifo de Pseudo-Tomé menciona uma ocasião em que o menino Jesus, com apenas cinco anos de idade, teria transformado as águas barrentas de um riacho em correntes cristalinas e dado vida a 12 pássaros de barro (2:1-5). Essas especulações eram feitas, em parte, porque a Bíblia diz pouco a respeito de Jesus antes de Sua fase adulta. O que
sabemos é que, aos 12 anos, Ele foi com os pais a Jerusalém para celebrar a Páscoa (Lc 2:41-52). Nessa ocasião, Jesus passou três dias no templo discutindo com os doutores da lei, o que revela que Ele estudava as Escrituras. É importante mencionar que, nessa época, as crianças iniciavam o estudo do Antigo Testamento aos cinco anos de idade em uma escola rabínica. Jesus, no entanto, parece ter sido educado somente em casa. É por isso que muitos se admiraram do conhecimento Dele a respeito das “letras”
(Jo 7:15), isto é, da Bíblia, pois sabiam que Ele não havia frequentado uma escola rabínica. Sabemos ainda que o trabalho braçal fez parte da formação de Jesus. De acordo com os evangelhos, tanto Ele quanto Seu pai José eram um tékton (Mc 6:3; Mt 13:55). Essa palavra grega geralmente é traduzida como carpinteiro; porém, ela se refere a uma profissão mais abrangente, algo como um “construtor” que trabalhava com pedra, metal e madeira. Talvez Jesus tenha trabalhado em Séforis, a capital regional da Galileia
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até o ano 20 d.C., uma vez que Nazaré estava a 5 quilômetros dessa cidade e que Herodes Antipas empreendeu muitas construções ali com mão de obra da região. Apesar das poucas evidências a respeito da infância e juventude de Jesus, é possível afirmar que o estudo da Bíblia e o trabalho fizeram parte de Seu desenvolvimento (Lc 2:52). É importante lembrar que os evangelhos não são biografias exaustivas sobre Jesus, mas relatos selecionados com o propósito de inspirar fé no Filho de Deus (Jo 20:30, 31).
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Fontes: Alberto R. Timm, “Jesus na adolescência”, Sinais dos Tempos, janeiro de 1999, p. 29 (bit.ly/2JoPgWB); Oskar Skarsaune, À Sombra do Templo (Vida, 2004), p. 64, 65; Robert Guelich, Word Biblical Commentary (Word Incorporated, 2002), v. 34a, p. 310.
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Ponto de vista
Texto Fernando Dias Imagem © arygin Andrii | Adobe Stock
Eleição
As drogas psicoativas podem alterar o humor, a percepção, o comportamento e a consciência de quem as utiliza. O vício nelas prejudica a saúde e incentiva a criminalidade e os comportamentos de risco. Devido a esses fatores, o consumo de várias drogas é reprimido ou proibido. Porém, mesmo assim, há um debate crescente se o consumo e a comercialização, pelo menos de algumas delas, deveriam ser legalizados. Saiba o que alguns grupos religiosos dizem sobre o consumo de drogas.
Sim
Enteógenos são drogas que alguns religiosos utilizam em seus rituais, a fim de chegar ao estado de transe. Para eles, as alucinações são experiências extracorpóreas e de interação com entidades espirituais. Os sadus hinduístas, por exemplo, usam a maconha, que creem ter surgido da baba do deus Xiva. Os indígenas norte-americanos fazem uso do cacto peiote, enquanto que algumas etnias brasileiras (e os praticantes da religião catimbó) bebem o suco do arbusto jurema, hábito descrito por José de Alencar em seu livro Iracema. Por sua vez, os rastafáris fazem uso da ganja, e os fiéis do santo-daime e da União do Vegetal utilizam um chá alucinógeno de plantas amazônicas.
Não
Para as igrejas cristãs, as drogas que alteram a mente são consideradas nocivas e seu uso é visto como um desrespeito a Deus, que Se comunica, por meio do Espírito Santo, com a mente do ser humano e deseja habitar em seu corpo (1Co 3:16; 6:19; 10:31). Os adventistas, por exemplo, enfatizam a abstinência completa de qualquer psicotrópico, inclusive dos legalizados, como álcool, tabaco e cafeína. Historicamente, os adventistas também têm se envolvido no combate às drogas, especialmente com campanhas e cursos antitabagistas.
Depende
O catolicismo e algumas igrejas protestantes mais liberais, mesmo condenando o vício, na prática toleram o uso de drogas lícitas e não disciplinam membros que usam drogas ilícitas. No islamismo, o álcool é condenado, mas não há proibição tão rígida para várias drogas mais pesadas. Pesquisas científicas apontam que, além de ter uma família amável e ser bem informado sobre as drogas, pertencer a uma comunidade religiosa e vivenciar essa fé é um fator muito importante na prevenção das drogas. Por isso, nas igrejas mais conservadoras, o uso de drogas lícitas tende a ser menor entre os jovens.
É o ato de escolher, por meio das urnas, alguém para ocupar uma função, seja de presidente da República, governador, deputado ou senador. A eleição é um procedimento corriqueiro nas democracias e instrumento de renovação política. Eis os fatores importantes para uma boa eleição: periodicidade, estabilidade das regras, transparência no processo e liberdade de expressão. Na vida pessoal também elegemos a profissão, o cônjuge e a religião. Isso geralmente ocorre na
Juventude Fase da vida intermediária entre a infância e o pleno desenvolvimento do corpo e da mente. Quem é jovem costuma ter energia de sobra para malhar na academia, formar amizades, estudar bastante e viajar, sem falar na coragem para enfrentar desafios e vencê-los. Não é à toa que, metaforicamente, a juventude é comparada à
Primavera Uma das quatro estações do ano que, em 2018, começou no hemisfério Sul no dia 22 de setembro e durará até 21 de dezembro. No hemisfério Norte (para nossos leitores do Amapá, Roraima, e regiões do Pará e Amazonas), a primavera deste ano foi entre 20 de março e 21 de junho. Durante a primavera, os dias vão ficando cada vez mais longos e as noites cada vez mais curtas. O fenômeno aquece o clima e geralmente provoca chuvas. É a estação das flores, órgãos das plantas de admirável
Compleição Conjunto de características (físicas ou psicológicas) que definem um ser. Numa época em que o país se agitou com a eleição de legisladores, governadores e do presidente da República, aproveite para refletir sobre as escolhas que precisa tomar ainda na juventude, usando a primavera da vida para se tornar alguém de compleição saudável e determinada.
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Fontes: Declarações da Igreja (CPB, 2012); Paulo Dalgaralondo et al., “Religião e uso de drogas por adolescentes” (Revista Brasileira de Psiquiatria, jun. 2004); Rafael G. dos Santos, “Aspectos culturais e simbólicos do uso dos enteógenos”, disponível em neip.info; Zila Sanchez et al. “Fatores protetores de adolescentes contra o uso de drogas com ênfase na religiosidade” (Ciência & Saúde Coletiva, jan. 2004); Gina Abdala et al., “A religiosidade/espiritualidade como influência positiva na abstinência, redução e/ou abandono do uso de drogas” (Revista de Estudos em Religião, mar. 2010).
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CONSUMO DE DROGAS
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Texto Fernando Dias
DA ELEIÇÃO À COMPLEIÇÃO
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Imagine
Texto Jessica Manfrim Design Renan Martin
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CONSUMO, LOGO EXISTO? A verdade é que toda a humanidade consome, e isso há milênios. Consumimos para satisfazer tanto as necessidades básicas (comer, beber e vestir) como as supérfluas (adquirir objetos ou serviços que proporcionem diferenciação, status, senso de pertencimento e gratificação pessoal). Nos últimos anos, o termo “sociedade de consumo” tem sido usado para explicar o modo de viver no Ocidente. É um estilo de vida marcado pela alta taxa de compra e descarte de mercadorias, grande quantidade de bens e produtos disponíveis, gosto pela novidade, sentimento de insaciabilidade e pelo protagonismo do consumidor. Esse tipo de sociedade só é possível porque, como escreveu o sociólogo alemão Karl Marx, lá no século 19, um fetiche foi atribuído à mercadoria (valor simbólico). No contexto capitalista, a mercadoria ganha vida própria, algo que vai além do seu preço de produção (valor de troca) e de suas propriedades f ísicas (valor de uso). De certa forma, cultuamos a mercadoria. Diante disso, o que mudaria se o consumismo fosse substituído pelo consumo consciente?
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OBSOLESCÊNCIA DESPROGRAMADA
NATUREZA RENOVADA
Quando se fala sobre o impacto do consumismo na natureza, os números são alarmantes. Nós, terráqueos, já estamos consumindo 30% a mais do que o planeta é capaz de repor. Um relatório da ONU revelou que 44,7 milhões de toneladas de lixo eletrônico foram produzidos em 2016, e apenas 20% desses resíduos chegaram a ser reciclados. Para conscientizar as pessoas sobre esse tema, foi criado o Dia de Sobrecarga da Terra (Overshoot Day). A ideia é mostrar em que data do ano a capacidade de reposição do planeta para aquele período foi esgotada. Neste ano, por exemplo, foi em 1o de agosto. Bem mais cedo do que em 1997, quando o Overshoot Day foi no fim de setembro. O déficit ecológico começou a preocupar os especialistas no começo da década de 1970. Hoje o cálculo é o seguinte: se os padrões de produção, consumo e descarte continuarem como estão, em 50 anos precisaremos de dois planetas Terra para suprir a demanda de água, energia e alimentos. A melhor maneira de mudar isso está nas escolhas de consumo, o ponto é que nem sempre é fácil. Dados de uma pesquisa de 2014 mostram que 77% dos europeus prefeririam consertar seus aparelhos do que comprar outro, mas se deparam com dificuldades para encontrar peças de recomposição, e o preço, muitas vezes não compensa. Facilitar a troca de peças, aumentar a durabilidade dos aparelhos, do prazo de garantia e do intervalo de tempo entre uma atualização de produto e outra são boas medidas a ser tomadas. O consumo consciente tem quatro palavras-chave: reduzir, reutilizar, reciclar e repensar.
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PROPAGANDA INFORMATIVA
O apelo comercial para se vender produtos, ideias e um estilo de vida está cada vez mais forte. Se nas décadas de 1950 e 1960, os anúncios destacavam a qualidade de um bem de consumo, como carro e máquina de lavar, hoje eles trabalham com a lógica do consumo de pertencimento, vendendo um conceito e status. Para entender essa comparação, uma propaganda clássica da Kombi, realizada em 1969, mostrava que ela era apenas um palmo mais comprida que o Fusca. A vantagem era conseguir estacionar um veículo espaçoso numa vaga de fusquinha. Por sua vez, um anúncio do Honda Civic, de 2010, traz uma foto do carro, numa rodovia, ao lado de pneus rodando sozinhos, e a frase: “Perto dele, os outros desaparecem.” A ideia é comunicar que a compra de certo bem ou serviço identifica o indivíduo como pertencendo a determinado grupo social. O ponto é que esse apelo constante para ter o mais novo, belo e desejado, leva o consumidor a sofrer de “obsolescência psicológica”.
Em resumo, todo consumo causa impacto na economia, na natureza e nas relações sociais. Esse impacto pode ser positivo ou negativo. Porém, desde o século 17, o consumo tem sido associado à ostentação, abundância, ao materialismo, à exclusão, ao individualismo, egoísmo, à decadência, falta de autenticidade e desagregação dos laços sociais. E é por isso que sua prática e incentivo têm nos levado cada vez mais a discussões morais e éticas. Refletir sobre os padrões de consumo e seu impacto é o que pode determinar mudanças futuras, tanto nas empresas como no mercado e na legislação. O raciocínio: eu “invejo, logo compro” precisa ser substituído pelo “analiso, e talvez compro”. Poder de escolha é algo poderoso, especialmente quando precedido pela capacidade de reflexão. Somente assim é possível quebrar o “feitiço” da mercadoria e consumir levando em conta a preservação do meio ambiente, as relações justas de trabalho, a saúde humana e animal, além da qualidade, durabilidade, preço e marca do produto e/ou serviço. Fontes: Sociedade de Consumo, de Lívia Barbosa (Zahar, 2004); O Império do Efêmero, de Gilles Lipovetsky (Companhia das Letras, 2009); “O que é consumo consciente?”, artigo do Ministério do Meio Ambiente (mma.gov.br); “Consumo, consumismo e seus impactos no meio ambiente”, artigo de Tais Queiroz (recicloteca.org.br); “Obsolescência programada”, artigo de Rodolfo Pena (brasilescola.uol.com.br); relatório The Global E-Waste Monitor 2017 (ONU), disponível em ewastemonitor.info; e “Esta lâmpada já está acesa há 110 anos”, artigo de Carlos Eduardo Ferreira (tecmundo.com.br).
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Todo produto possui prazo de validade, pois o desgaste das peças é inevitável. Porém, aparelhos que duram muito não são bons para a economia. Essa ideia vem da Grande Depressão, que ocorreu em 1929. Durante essa profunda crise econômica, que afetou principalmente os norte-americanos, foi difícil esvaziar os estoques. Por isso, os economistas da época falavam que “um produto que não se desgasta é uma tragédia para os negócios”. Surgiu então o conceito e a prática da obsolescência programada, ou seja, um produto já sai de fábrica planejado para durar menos, acelerando assim a troca por uma versão mais nova. No caso de produtos caros, em que é empregada alta tecnologia, como os smartphones, essa lógica fica mais evidente. Um caso que vai na contramão disso é o da lâmpada incandescente que ilumina há 117 anos a sede do Corpo de Bombeiros de Livermore, na Califórnia (EUA). Ela foi instalada em 1901. Ao contrário das lâmpadas fluorescentes, que duram 8 mil horas, as incandescentes não passam de mil. A explicação para o caso da Califórnia, porém, é que o filamento daquela lâmpada é feito de carbono e não de tungstênio, como as convencionais. Isso demonstra que tecnologias mais duráveis poderiam prolongar o uso dos produtos e reduzir o consumo. Reduziriam também a extração e utilização de matéria-prima, bem como a energia gasta e o lixo gerado no processo produtivo.
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Ação Mude seu mundo
Texto Jhenifer Costa
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Lição de vida Aprenda Na cabeceira Guia de profissões
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Alana Gabriele Raiser, 21 anos, conta como se tornou missionária no YouTube e quais são os principais desafios da profissão
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expõem a vida particular, compartilham experiências e princípios bíblicos para milhões de pessoas que talvez de outra forma não teriam oportunidade de ouvir sobre a Bíblia. Para se ter uma ideia, os usuários do YouTube assistem 1 bilhão de horas de conteúdo por dia ao redor do mundo. Para o pastor e publicitário Odailson Fonseca, organizador de dois encontros de youtubers adventistas do Brasil, atualmente o YouTube é a melhor plataforma para se falar sobre cristianismo. “As pessoas
estão buscando conteúdo, respostas, dicas e curiosidades. Vejo isso como uma oportunidade para que os jovens cristãos se posicionem com uma abordagem leve e relevante”, aconselha. De acordo com a lógica do YouTube, um canal se mantém quando consegue dialogar com um público específico. No caso dos jovens, temáticas como beleza, moda, videogames, viagem e saúde costumam chamar a atenção. E as youtubers que estão começando a utilizar a plataforma, acabam
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d p c a n t n E m u c v c Foto: Alana Gabriele Raiser
HÁ ALGUM TEMPO, adolescentes sonhavam em ser atores de cinema e TV, esportistas ou modelos, mas agora a ideia de ser youtuber tem atraído muita gente. O canal mais famoso do YouTube no mundo, Pewdiepie, tem 65,5 milhões de inscritos. No Brasil, mais de 31 milhões de fãs acompanham o trabalho do piauiense Whinderson Nunes, o influencer mais famoso do país. Os youtubers cristãos também estão crescendo em popularidade. Esses jovens
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Foto: Alana Gabriele Raiser
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LIVRO ABERTO Desde que começou, Alana tem compartilhado momentos bem particulares com os internautas, como fatos engraçados de sua infância e a cerimônia de seu casamento; além de dramas pessoais, como um diagnóstico que havia recebido de anorexia e bulimia. A exposição da própria vida faz parte da profissão de youtuber. Alana percebeu, por exemplo, que os usuários costumam comentar mais os vídeos em que tratam de assuntos pessoais e delicados. “Acho que não faria isso há alguns anos mas, com o tempo, toda essa gente que me acompanha passou a fazer parte da minha vida. Eles se importam e comemoram comigo, mas também me criticam. No fim, é como uma grande família”, compara. Há identificação, confiança e desabafo. É como uma via de mão dupla. Um ajudando o outro”, complementa. Lidar com a exposição não parece ser um problema, já que o sucesso do canal foi algo tão inesperado para ela. Alana mal pôde acreditar quando chegou à marca de 10 mil inscritos, ainda mais porque seus primeiros vídeos eram feitos pelo celular e
por ela mesma. Muitas dessas produções foram realizadas na sua casa, na pequena cidade de Rodeio (SC), que tem apenas 11 mil habitantes. O vídeo mais assistido até aqui do canal Cristão Declarado é o “Cinco Tipos De Roupas Que Você Não Deve Usar”, com mais de 939 mil visualizações. Apesar do sucesso, muitas pessoas criticaram a opinião de Alana e cerca de 1,7 mil pessoas marcaram o vídeo como “não gostei”. “Estar no YouTube é se submeter às críticas. Mas isso faz parte do meu trabalho e aprendi a administrar essas situações”, explica. Por outro lado, 68 mil pessoas sinalizaram que gostaram do vídeo, uma evidência de que a fala da youtuber adventista ecoa em certo segmento da sociedade. ESCOLHA PROFISSIONAL Hoje Alana encara o YouTube como ambiente de trabalho. E é assim que os gestores da plataforma enxergam o próprio negócio, bem como os youtubers que buscaram profissionalização. Prova disso é que vários cursos, além de um estúdio, são oferecidos pelo YouTube para seus comunicadores mais promissores, a fim de que eles potencializem sua audiência. Segundo a revista Forbes, em 2015, o canal Pewdiepie arrecadou 12 milhões de dólares com publicidade. Alana leva as gravações a sério. Ela cumpre horários, faz planejamento, investe tempo e dinheiro. “Encaro a vida de youtuber como uma escolha profissional. E, apesar de me divertir enquanto trabalho, sempre me cobro muito para ter bons resultados”, diz ela. A própria Igreja Adventista também já ajudou Alana na compra de um smartphone melhor para gravar seus vídeos. A catarinense publica semanalmente seus vídeos, além de cuidar das postagens de seus perfis nas redes sociais. Por causa da visibilidade que tem alcançado, Alana também tem tido a demanda de responder mensagens e atender a convites para palestras. Os temas que ela aborda surgem a partir de situações do cotidiano, de mensagens que ela lê e ouve, ou de temas sugeridos pelos seus seguidores.
INFLUENCIADORA Como numa família, muitos dos inscritos no canal de Alana a procuram para conversar e receber ajuda, seja em relação ao casamento ou à espiritualidade. Algumas pessoas querem apenas desabafar, enquanto outras esperam ter respostas. “É muito difícil estar nessa posição em certas situações. Eu sou nova, ainda tenho muito para aprender, e mesmo assim as pessoas esperam muito de mim. Sintome privilegiada, mas a responsabilidade é gigante!” Nos últimos três anos, a youtuber tem colecionado centenas de histórias interessantes. “Os seguidores me procuram para dizer que meus vídeos mudaram sua vida ou que foram resposta para suas orações.” Alana conta que procura não perder oportunidades de influenciar positivamente as pessoas. Quando alguém pergunta sobre religião ou Bíblia, por exemplo, ela convida o internauta a estudar com ela por meio de um canal mais pessoal. Foi assim que ela decidiu criar grupos no WhatsApp para compartilhar conteúdo religioso diariamente. Essas redes de contatos reúnem adeptos de diversas denominações, além de curiosos. E Alana procura dar atenção para todos. “Já recebi mensagens dizendo que meus vídeos impediram suicídios, que colaboraram para restaurar relacionamentos, que fortaleceram a fé de outras pessoas e as ajudaram a tomar decisões importantes. São mensagens que me enchem de gratidão”, assume. Nesse processo de compartilhar sua jornada espiritual, Alana também tem crescido. Ela aprendeu a lidar com a timidez, além de conhecer muitas pessoas, viajar para dar palestras e conversar com jovens cristãos de vários lugares. “Quando você fala sobre Deus, passa a acreditar ainda mais Nele. Quando você fala sobre fé, sua fé aumenta”, comemora ao mencionar os benefícios do seu ministério para sua espiritualidade. O próprio nome do canal, Cristão Declarado, surgiu da sua convicção de ser cristã e de afirmar isso publicamente no ambiente digital. “Acredito que todos os cristãos têm que se declarar para o mundo. Levanto essa bandeira e tenho muito orgulho da minha fé!” out-dez
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escolhendo falar sobre beleza e moda. Porém, essa não foi a opção da catarinense Alana Gabriele Raiser, de 21 anos. Ela decidiu criar o canal Cristão Declarado em 2015, depois de uma experiência bem significativa com Deus. “Começei meu canal porque sempre quis ser missionária, mas ao mesmo tempo era muito tímida. Com meu celular consegui realizar esse desejo. Na verdade, tive que superar minha timidez para ser usada por Deus”, confessa. Atualmente, a youtuber tem cerca de 480 mil inscritos em seu canal (no início de 2017 eram menos de 30 mil) e a maior parte do conteúdo que produz é opinativo e relaciona a espiritualidade com temas como sexualidade, namoro, casamento, autoestima e comportamento. “Procuro pensar em quais temáticas as pessoas que me acompanham gostariam de ouvir. No geral, sempre acabo indo para o lado espiritual, porque o objetivo principal do meu canal é testemunhar sobre Cristo”, complementa.
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Lição de vida
Texto e Foto Vívian Vergílio
O professor de História, brincalhão, mas exigente, que incentiva seus alunos a se responsabilizarem por sua própria história de vida
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D CONHECI O PROFESSOR Reniê durante a gravação de um vídeo no início de 2017. Pelos corredores da escola em que ele leciona, adolescentes eufóricos faziam muito barulho. Até que, de repente, uma porta se abriu ao nosso lado, e surgiu um senhor magro, de 1,70 de altura, calça jeans, camiseta polo e um par de óculos apoiadono meio do nariz. Com um sorriso de lado, sereno, mas firme, ele disse: “Parece que tem um monte de franguinhos cacarejando aqui fora. Façam silêncio!” Dito isso, virou as costas e fechou a porta atrás de si. “A gente está atrapalhando a aula do professor!”, um garoto reagiu com um arzinho de desapontamento. “Eita, o ‘Zé’ ficou bravo!”, outro exclamou meio rindo, meio lamentando o que havia feito. BRINCALHÃO E EXIGENTE Zé é a forma carinhosa como Reniê Ávila, professor de História, de 55 anos, é tratado por seus alunos do colégio da Faculdade Adventista de Minas Gerais (Fadminas), um internato adventista na zona rural de Lavras. Esse codinome foi dado a ele depois que Reniê contou para os estudantes numa palestra que “Zé” era um apelido que um admirado professor dele dava para todas as pessoas de quem gostava. “Se existe alguém que merece ser chamado de Zé, é o meu extraordinário professor”, comenta Paula Strutz, aluna do segundo ano do ensino médio. “Ele é meu professor preferido, tanto de História quanto da vida. Ele é bom no que faz porque gosta. Ele nasceu para dar aulas”, elogia a garota, reconhecendo a capacidade que Reniê tem de compartilhar o conhecimento que acumulou. Em sala de aula, não é difícil também ouvir o amado professor chamando seus alunos de Zé, e alunas de Zéza. No dia a dia, Reniê expressa seu carinho pelos 26 |
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DIÁRIO DE PROFESSOR Reniê é paulista de Hortolândia. Em sua infância e adolescência, ele também cresceu num internato e aprendeu a valorizar a educação. Seus pais trabalhavam no antigo IASP, hoje um dos campi do Unasp. Depois de concluir o ensino médio, Reniê tentou ingressar no curso de Engenharia Ambiental, mas não tendo sido aprovado, se aventurou a trabalhar com árvores derrubadas, o que o levou ao ofício de marceneiro. “Em 1985, ganhei do meu pai uma serra, um torno e uma furadeira. Não sabia operar nada daquilo, mas fui tentando e me tornei marceneiro.” E foi nessa fase da vida que Reniê se casou, teve filhos e sentiu a necessidade de mudar para um lugar mais tranquilo. Assim, em 1996, a família acabou parando “de mala e cuia” em Lavras. Ali, o sistema de internato dava seus primeiros passos no colégio e havia trabalho de sobra para um marceneiro. Reniê ajudou a fabricar armários, portas, mesas, cadeiras e carteiras que depois usaria como professor. Oito anos se passaram e, enquanto Reniê moldava pedaços de madeira, o tempo também o moldou. Ele pensava em cursar uma faculdade, mas achava que estava velho demais para mudar de profissão. Foi então que concluiu que sua experiência de vida não seria um empecilho, mas uma vantagem para um professor de História. “Fui aprovado no curso de História da Universidade Federal de São João Del Rey, e cá estou”, conta em tom de piada.
NA SALA DE AULA Reniê leciona História desde 2006. Sua jornada semanal de 24 horas em sala de aula, do sexto ano do ensino fundamental ao terceiro do ensino médio, exige dele outras quatro horas diárias de dedicação fora da escola. Quem frequenta as aulas do Zé sabe que ele é cheio de manias. O professor exige que, no dia a dia e nas provas, os alunos usem um dicionário. Para Reniê, isso é um exercício de sabedoria para quem tem a humildade de aprender. Os estudantes podem utilizar também nas avaliações uma espécie de “cola”. “Cada aluno tem o direito de levar uma folha de papel com anotações manuscritas, mas de uso pessoal. Ninguém é obrigado a lembrar tantos dados e informações”, Reniê justifica seu método dizendo que os estudantes precisam saber apurar, organizar e utilizar informações. Reniê também pede que todo o conteúdo apresentado esteja no caderno. Por isso, cabe ao aluno faltante “correr atrás” do que perdeu. Ao incentivar a responsabilidade dos estudantes, ele diz que não aceita que o mau desempenho escolar seja atribuído somente ao professor. Para ele, aluno, pais e docente dividem essa responsabilidade. “Cada um tem 33% de parte nisso.” Na opinião de Ester Viaro, aluna do segundo ano do ensino médio, esse estilo exigente do professor não agrada imediatamente alguns alunos. Porém, depois os estudantes acabam reconhecendo a importância dessa postura. “Além de História, a gente aprende muitas curiosidades com ele, coisas sobre Deus e a respeito da vida. Dentro ou fora da sala de aula, o Zé é a mesma pessoa. Ele sempre está feliz pelas conquistas dos alunos e disposto a ajudar no que for preciso.” NOS INTERVALOS Entre dar aulas, corrigir provas e preparar conteúdos para os alunos, Reniê troca seu jaleco por um macacão, e volta para a marcenaria em que trabalhou por anos. Ao longo da entrevista, ele se levantou para pegar e me mostrar algumas de suas produções: o cabo de um ferro de passar que fez no torno em 1978, um quadro pendurado na parede da sala, um jarro e uma mesa de centro com
puxadores feitos de pregos que encontrou numa ferrovia antiga. Quando não está com ferramentas na mão, Reniê está perambulando pela linha férrea, onde gosta de vaguear sem rumo, enquanto organiza seus pensamentos. Em sua casa, sobram livros e falta uma televisão, aparelho que há 15 anos ele julga ser desnecessário. A última vez que ele viu a bola rolando na tela foi na Copa do Mundo de 1994. Telefone fixo ele também não tem, mas mantém uma conta no Facebook, por meio da qual conversa com velhos amigos e com os novos que faz em sala de aula. “Reniê tem uma personalidade muito forte, mas também um coração imenso. Ele é muito autêntico, gosta de expor sua opinião, mas é aberto para ouvir os outros. Acima de tudo, ele é fiel ao que acredita, e não usa máscaras. Se mais pessoas fossem assim, acho que o mundo estaria melhor”, elogia Otávio José dos Santos Filho, professor de Educação Física que convive com Reniê há mais de 20 anos. MUDAR HISTÓRIAS Zé ou Reniê, não importa como você queira chamá-lo, segue cativando pessoas por onde passa. “Ele não é somente um professor de História que prepara seus alunos para o vestibular; é um homem capacitado por Deus para preparar seus alunos para a eternidade, com princípios que atravessam a História”, comenta Eduardo Sampaio, também ex-aluno de Reniê. Para a jornalista Ketlin Brito, repórter na TV Novo Tempo, Reniê é um professor que ela guarda no coração. “A gente percebia que ele estava realmente interessado em nosso aprendizado. Ele cobrava nossa atenção nas aulas, mas sem ser chato. Reniê era simpático e atencioso dentro e fora da escola. Tenho grande carinho por ele.” Não sem razão, hoje Reniê marca positivamente a vida dos alunos porque um dia também teve um professor que o inspirou: Valdir Negreli, do IASP. Dessa maneira, Reniê segue fazendo sua história, influenciando a história de outros e, de certa maneira, mudando a História. Se pudesse voltar no tempo, talvez teria escolhido ser professor bem antes. Quem sabe assim poderia ter sido Zé para mais pessoas! OUT-DEZ
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estudantes mesclando um jeito brincalhão e ao mesmo tempo exigente. “Exijo bastante dos meus alunos. Eles precisam aprender a ter responsabilidade, a deixar a imaturidade de lado e a assumir as consequências dos seus atos”, confessa o professor. Quem sentiu isso na pele foi o jovem jornalista Ronaldo Vicente, que hoje é produtor de conteúdo na TV Novo Tempo, emissora da Igreja Adventista. “Durante o semestre, ele explicava o conteúdo uma, duas, quantas vezes fosse preciso. E sempre dizia: ‘Se você ficar em recuperação comigo, você está perdido, cara!’” Agora mais maduro, Ronaldo reconhece a contribuição de seu antigo mestre: “Foi um privilégio ter tido um professor de pulso firme e competente como ele.”
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Texto Nádia Teixeira Design Renan Martin
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DEMONSTRE INTERESSE
Você pode fazer isso com seu corpo, por exemplo, não cruzando os braços e expressando receptividade no rosto. Isso gera acolhimento e derruba barreiras. Ouça seu interlocutor e não o interrompa enquanto conclui o próprio pensamento. Cuide também do tom da sua voz, a fim de transmitir respeito em vez de intimidação e espírito de disputa.
NÃO INDUZA RESPOSTAS
Evite perguntas que direcionam posições, como “você está chateado?” Isso pode sutilmente constranger ou irritar seu interlocutor. O ideal é perguntar “como você se sente?”, assim ele tem a oportunidade de expressar as próprias emoções sem ser julgado antecipadamente.
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OUÇA
OPINIÕES DIFERENTES EXISTEM porque as pessoas são formadas por diversos valores, crenças e experiências. Um desafio do mundo contemporâneo é que esses pontos de vista divergentes estão concentrados, seja nos centros urbanos, cada vez mais populosos e multiculturais; seja nas redes sociais, que têm conectado e, ao mesmo tempo, afastado cada vez mais as pessoas. Lidar com o que é diferente deve ser considerado algo necessário e, na maioria das vezes, enriquecedor. Contudo, isso costuma não ser fácil, ainda mais numa época em que muitos querem opinar, ter razão e não desejam ouvir. Apesar de não haver uma “receita pronta” para esse desafio, seguem algumas dicas.
SEJA CLARO E OBJETIVO
NAS REDES SOCIAIS
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A postura amigável deve ser mantida especialmente quando é possível se “esconder” atrás de uma tela. As redes sociais não são o melhor espaço para estabelecer um “palanque”; por isso, deixe a conversa sobre temas polêmicos para mensagens inbox ou bate-papo pessoal. O ambiente digital é um espaço público, no qual também precisamos exercer civilidade. out-dez
A
Em discussões, você não precisa criar um discurso longo para justificar sua opinião. Vá direto ao ponto com as palavras certas e sem lições de moral.
É preciso estar aberto para ouvir. Se quem pensa diferente de você estiver certo, você terá a chance de aprender com ele. Se o outro estiver errado, permita que ele chegue a essa conclusão por si mesmo, sem você apontar o dedo.
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Aprenda
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Na cabeceira
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Aviso de spoiler “Seu marido ainda estava de cama quando uma delegação de índios altos entrou pela porta. Tinham vindo para solicitar que o missionário fosse com eles ensinar seu povo. – Sinto muito; mas, como vocês podem ver, estou doente. [...] Na época, Wallace tinha apenas doze anos. [...] O coração maternal de Ana pareceu pular do peito quando viu seu pequeno rapaz se dirigindo ao pai e lhe assegurando: – Eu posso ir, papai. Ficarei feliz em ensiná-los” (p. 54-55).
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VOCÊ QUE ESTUDA num colégio adventista ou visitou um templo adventista, que já sintonizou a emissora de rádio ou TV Novo Tempo, que leu livros e revistas da CPB, foi atendido em um hospital da igreja ou consumiu produtos vegetarianos da Superbom, talvez não tenha ideia que, há poucas décadas, a denominação não contava com nada disso. Para chegar a esse nível de organização e desenvolvimento, muitos pioneiros derramaram “sangue, suor e lágrimas”. O livro Aventura nos Andes e Amazonas (CPB, 2018, 134 p.) conta a história de dois deles: o casal Ferdinand e Ana Stahl. A obra, que foi relançada numa linguagem mais atual e projeto gráfico moderno, já inspirou muitos jovens com o exemplo do desprendimento desses norte-americanos que ajudaram a estabelecer a Igreja Adventista no Peru, há mais de um século. O livro, escrito por uma jovem missionária que conviveu com os Stahls, relata a vida deles a partir de quando foram transferidos para Lima, em 1909. Conhecidos como “os apóstolos dos índios”, eles tiveram o desafio de, por três décadas, plantar a mensagem adventista
nos planaltos do lago Titicaca, na cordilheira dos Andes, e entre os chunchos, na floresta amazônica. A obra relata muitas aventuras e a maneira maravilhosa com que Deus concretizou o sonho de ver o evangelho florescer entre os peruanos. O exemplo deixado por esses missionários é admirado até por estudiosos não adventistas, servindo como um modelo de missão e de aculturação entre povos nativos. Talvez a leitura dessa obra motive você a valorizar a abundância de recursos que hoje existem na igreja e leve a estender essas bênçãos àqueles que carecem de educação, saúde e salvação.
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Recomendo Ouse Pedir Mais, de Melody Mason (CPB, 2017, 335 p.) “Um livro que vai mudar o conceito de muitas pessoas de como orar e fazer jejum. Ele nos mostra como Deus pode agir quando nos entregamos completamente a Ele. Um livro muito inspirador que pode ajudar a fortalecer sua fé.”
Saúde Total, de Cesar Vasconcellos (CPB, 2014, 102 p.) “O livro explica como podemos obter saúde, não só no aspecto físico, mas também emocional e espiritual. O assunto é abordado de maneira bem prática, dando dicas para quem busca o bem-estar integral. Se você está investindo em uma vida mais saudável, esse livro é uma ótima leitura!”
Bruna Vieira | Tatuí (SP)
Milena Ribeiro | Sorocaba (SP)
Escavando a Verdade, de Rodrigo Silva (CPB, 2007, 176 p.) “Por meio de diversas descobertas arqueológicas, o autor vai conectando acontecimentos da história antiga com a Bíblia. Ele mostra que os inusitados relatos encontrados no livro sagrado têm veracidade histórica. Recomendável para os interessados em arqueologia, história antiga e religião.”
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Da América para os Andes
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Texto Glauber Araújo
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________ Depto. Arte
Guia de profissões
Texto Glória Barreto Ilustração alekseiveprev | Fotolia
Contabilidade
Área que responde pela saúde financeira das organizações GRADE CURRICULAR
Um contador qualificado para o mercado precisa dominar a dinâmica dos negócios. Para tanto, sua formação deve equilibrar habilidades em gestão e empreendedorismo com o conhecimento de teorias contábeis e de aspectos comerciais, societários e de análise financeira e orçamentária da contabilidade. A rede adventista ainda enfatiza a formação ética e moral, algo essencial para quem vai lidar com o dinheiro de empresas e organizações.
PERFIL DO ALUNO
O CONTADOR FAZ parte de um grupo seleto de profissionais que entende bem dos aspectos financeiros do mundo dos negócios. Não é exagero dizer que ele é o “médico das empresas”. É ao contador que os empreendedores recorrem antes de abrir um negócio, pois cabe a ele traçar as metas de crescimento da empresa e dar instruções para que ela se desenvolva saudavelmente. Em caso de falência ou recuperação judicial da organização, é o contador (auditor/perito) que acompanha o processo e analisa as causas da “morte”. Nos últimos dez anos, a profissão tem crescido e se tornado uma das mais procuradas pelos jovens, especialmente por causa da internacionalização da contabilidade e da possibilidade de atuar em qualquer país do mundo.
O contador hoje é um gestor financeiro. É ele que oferece suporte à administração das empresas quanto à manutenção, crescimento e desenvolvimento financeiro do negócio. Por isso, o aluno precisa conhecer de gestão, ter um pensamento lógico e dominar a análise e interpretação de texto, tabelas e gráficos. E apesar de usar muito os números, contabilidade não é só matemática!
ÁREAS DE ATUAÇÃO
É possível atuar em inúmeras áreas e funções, como controller, auditor, perito contábil, analista financeiro, diretor financeiro, analista de risco de mercado, contador público, atuário, consultor contábil-financeiro, analista tributário, gerente de planejamento tributário, auditor fiscal, professor e pesquisador.
SALÁRIOS
Variam conforme a função, especialização, tempo de serviço e porte da empresa. Em média, 2,5 mil reais mensais para analista financeiro júnior; até 26 mil para gerente de auditoria; 35 mil para quem trabalha na controladoria; e pode passar de 50 mil para quem assume a diretoria financeira de uma grande empresa.
Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) São Paulo (SP) Nota 3 no MEC (reconhecido) R$ 835,00 por mês Bacharelado, noturno, oito semestres unasp.br/sp Engenheiro Coelho (SP) Nota 4 no MEC (reconhecido) R$ 928,42 por mês Bacharelado, noturno, oito semestres unasp.br/ec Hortolândia (SP) Nota 4 no MEC (reconhecido) R$ 973,14 por mês Bacharelado, noturno, oito semestres unasp.br/ht Unasp EAD (educação a distância) R$ 297,00 reais por mês Curso on-line com três encontros presenciais por semestre Bacharelado, oito semestres unasp.br/cursos/ead Faculdade Adventista de Minas Gerais (Fadminas) Lavras (MG) Nota 4 no MEC (reconhecido) R$ 769,00 por mês Bacharelado, noturno, oito semestres fadminas.org.br Faculdade Adventista da Bahia (FADBA) Cachoeira (BA) Nota 4 no MEC (reconhecido) R$ 597,00 por mês Bacharelado, noturno, oito semestres adventista.edu.br/cienciascontabeis
Es de pe cip us Em ca co De inq em
Instituto Adventista Paranaense (IAP) Ivatuba (PR) R$ 759,00 por mês Bacharelado, noturno, oito semestres iap.org.br
Fontes: Edilei Rodrigues de Lames, coordenador do curso de Ciências Contábeis do Unasp, campus Hortolândia, e sites exame.abril.com.br e catho.com.br
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Histórias que nos inspiram a ter mais
Este livro descreve a fidelidade de cristãos durante tempos de perseguição e a incrível participação de animais que foram usados por Deus para ajudá-los. Em condições desafiadoras, cada uma dessas testemunhas colocou sua confiança em Deus e demonstrou um apego inquebrantável à fé, sem levar em consideração o custo.
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O livro narra a história de superação de Ben Carson. Menino pobre de Detroit (EUA), desmotivado e sempre tirando notas baixas, ele superou suas limitações com a ajuda da mãe, que o motivou a redirecionar a vida e tomar as decisões que o levaram a se tornar um dos mais respeitados neurocirurgiões do mundo.
Helbert, que defendeu a Seleção Brasileira Sub-17, sonhava com uma carreira gloriosa no “mundo da bola”, mas tudo mudou quando ele decidiu trocar os gramados do futebol pelo campo do evangelho. Essa história é uma inspiração para aqueles que querem ser vitoriosos no time de Cristo.
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Franz Hasel foi convocado para fazer parte da tropa de elite de Hitler. Entretanto, seus princípios religiosos não o tornavam bem-visto por seus superiores. Essa é uma história verdadeira e tocante de uma família que decidiu ser fiel a qualquer custo e foi protegida por Deus.
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