Conexão J.A. - A Geração da Ressaca

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a revista do jovem que pensa

www.conexaoja.com.br abril-junho 2012

25594 – Conexão JA 02/2012

Os jovens mergulham no mundo do álcool cada vez mais cedo. Saiba o que pode ser feito para mudar essa cultura da bebedeira

E.Granieri ________ Designer ________ Editor

EXPRESSÃO

Ativistas sírios explicam os protestos por liberdade

________ C.Qualidade

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________ Depto. Arte


a revista do jovem que pensa

www.conexaoja.com.br abril-junho 2012

25594 – CONEXÃO JA 02/2012

Os jovens mergulham no mundo do álcool cada vez mais cedo. Saiba o que pode ser feito para mudar essa cultura da bebedeira

E.Granieri ________ Designer ________ Editor

EXPRESSÃO

Ativistas sírios explicam os protestos por liberdade

________ C.Qualidade

abr-jun 2012

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Ano 6, no 22 • abr-jun/2012 ISSN 1981-1470 www.conexaoja.com.br Capa: Éfeso Granieri e Rogério Chimello Foto de capa: Daniel Oliveira

________ Depto. Arte

Nova fase E

sta edição marca uma nova fase da nossa revista. A primeira é a tiragem: foi triplicada, agora são 30 mil exemplares. A segunda é nosso público: estamos recebendo como leitores mais de 24 mil alunos do ensino médio da rede educacional adventista do Brasil. Bem-vindos! Duas ótimas notícias, que fazem nossa equipe vibrar pelas possibilidades, temer pela grande responsabilidade e trabalhar dobrado para que a gente se supere a cada número. Para isso, contamos com a vinda do designer Éfeso Granieri para nosso time. Ele, que já participou em matérias recentes, agora assina essa edição e vai fazer dupla com Marcos Santos (Marquinhos) daqui para frente. Por outro lado, demos tchau para o editor associado Matheus Cardoso, que trocou o calor de nossas terras tupiniquins pelo gelado campus da Andrews University, em Michigan (EUA). Boa sorte e que ele volte do país do Tio Sam com seu Ph.D! Para quem fica, resta a desafiadora tarefa de repaginar a Conexão. É isso mesmo, com as mudanças de tiragem e de público, teremos muitas novidades editoriais e gráficas já na próxima edição. Outras seções, mais participação dos leitores, surpresas na infografia, a análise de tendências e o desdobramento de nossas pautas na plataforma digital, no novo site que estamos preparando para você. Tudo isso sem perder a cara da Conexão e nosso jeito de fazer revista. Esse redirecionamento tem sido para mim como voltar à sala de aula. Falo isso, porque depois de ter deixado a capelania do Colégio Adventista do Portão, em Curitiba, há três anos, volto a trabalhar em favor do sucesso e do crescimento espiritual dos alunos do ensino médio. Vale destacar para os leitores que já nos acompanham há mais tempo, que essas mudanças não significam que vamos limitar nossas pautas ao universo escolar. Vamos continuar falando dos grandes dilemas, desafios e possibilidades de nossa geração, mas agora com um enfoque educativo mais claro, intencional.

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Uma amostra disso são os temas que escolhemos para esta edição. São assuntos úteis para quem está cursando o ensino médio ou faculdade, mas que vão além dos muros das escolas ou dos limites do campus. Tratam do nosso cotidiano. Na reportagem de capa, procurei pintar um quadro real e sem moderaçao do consumo de álcool entre os jovens brasileiros. A idade média de início e o perfil de consumo são os números mais assustadores. Precisamos diminuir esses dados. Quem sabe começando por você. Em duas matérias assinadas por Diogo Cavalcanti, nosso editor associado, você vai compreender melhor dois assuntos que não saem da mídia e devem cair no vestibular. A reportagem é sobre o declínio americano, sua crise econômica e política. Será que os chineses vão ultrapassar os ianques? O que levou milhares de pessoas a protestar em Wall Street? Já na entrevista, Diogo conversa com dois ativistas sírios que estão fora de seu país e denunciam os massacres em sua terra natal. Esses conflitos são mais um capítulo da chamada Primavera Árabe. Mas não para por aí. Nosso repórter Fernando Torres visitou a exposição inédita sobre o cotidiano do Império Romano. A mostra passou por Belo Horizonte e fica até o dia 22 de abril no Masp, em São Paulo. Entrevistamos também um dos maiores defensores do cristianismo, o Dr. Gary Habermas, que apresentou algumas evidências históricas da ressurreição de Cristo. E por falar em fatos e mitos, o jornalista Michelson Borges explica as poucas semelhanças e as inúmeras diferenças entre as teorias da evolução e da criação. Enfim, não dá para perder! Para quem conhece a revista, é só matar a saudade e para quem nunca a leu, demorou. Boa leitura! Wendel Lima

Editor

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Rod Cai Fon Site

SER Lig

Seg Sext


8 Sem moderação

William de Moraes

O retrato preocupante do consumo de álcool entre os jovens brasileiros e o que fazer para mudar essas estatísticas

14 Criacionismo

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5 Expressão

A guerra entre ciência e religião deixa o homem sem as respostas mais importantes

O declínio dos Estados Unidos

O que está por trás da crise da superpotência e como isso afeta o mundo

Ativistas sírios falam sobre a crise humanitária em seu país

7 Link

Fotolia

Com as redes sociais estamos falando mais, mas será que nos comunicamos?

13 Mercado de Trabalho Wikipédia

A pergunta mudou: O que você é antes de crescer?

30 Conexão Direta

20 Música

O ateísmo implícito na clássica canção Imagine, de John Lennon

Ouvindo a voz de Deus no silêncio

16 Roma

As peças que contam os bastidores do império mais duradouro do mundo

CASA PUBLICADORA BRASILEIRA Editora dos Adventistas do Sétimo Dia Rodovia Estadual SP 127 – km 106 Caixa Postal 34 – 18270-970 – Tatuí, SP Fone (15) 3205-8800 – Fax (15) 3205-8900 Site: www.cpb.com.br / E-mail: sac@cpb.com.br SERvIçO DE AtEnDImEntO AO CLIEntE Ligue Grátis: 0800 9790606 Segunda a quinta, das 8h às 20h30 Sexta, das 7h30 às 15h45 / Domingo, das 8h30 às 14h

Editor: Wendel Lima Editor Associado: Diogo Cavalcanti Projeto Gráfico: Marcos S. Santos Designer Gráfico: Éfeso Granieri Diretor Geral: José Carlos de Lima Diretor Financeiro: Edson Erthal de Medeiros Redator-Chefe: Rubens S. Lessa Gerente de Produção: Reisner Martins Gerente de Vendas: João Vicente Pereyra Chefe de Arte: Marcelo de Souza Chefe de Expedição: Eduardo G. da Luz

21 Sustentabilidade As escolas que tiraram os projetos ecológicos da lousa

Colaboradores: Edgard Luz, Douglas Menslin, Mário Ritter, Antônio Marcos Alves, Enildo do Nascimento, Ivan Góes, Arnaldo Balog Jr. e Marco Antônio Góes Assinatura: R$ 20,00 Avulso: R$ 6,30 Tiragem: 29.500

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Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita do autor e da Editora.


Envie um e-mail pra gente: conexaoja@cpb.com.br – As mensagens publicadas não representam necessariamente o pensamento da revista. @gizelletimoteo: acabei de ler a matéria de Tales Tomaz intitulada “Macmania” na Conexão. É triste ver que muitos de nós estamos endeusando a tecnologia.

Conexão com os “calebes” Na região metropolitana de Salvador, os jovens que participaram da Missão Calebe – projeto em que voluntários dedicam suas férias para o trabalho humanitário e evangelístico – entregaram dezenas de exemplares da Conexão. Quem informa é o pastor Yure Santana, coordenador do projeto na região, e que já acompanha nossa revista há alguns anos. Segundo ele, no início do ano, mil voluntários foram mobilizados para ações sociais, estudos bíblicos e distribuição de literatura cristã.

@GleidysAngel: Conexão JA estou inconformada com a revista. É inacreditável a riqueza do conteúdo! Parabéns!

Gosto muito das revistas adventistas, especialmente desta. Parabenizo vocês também pelo blog conexaoja.com.br. Augusto Júnior, Tefé, AM augustoj633@gmail.com

Pelo Twitter @pauloliveira7: A Conexão JA simplesmente é incrível. Recebi minha revista e está cada vez melhor. Vamos juntos pedir que seja mensal.

Caloura

@caique bezerra: a Conexão deste trimestre está bombando. Achei superinteressante o infográfico que conta a história do CD Jovem. #ConexãoJA mensal. @DiLucs: muito bom o texto do Joêzer Mendonça @notanapauta, explorando a importância dos Salmos para nossa música. @gioeugenia: chegou minha Conexão e cada vez mais ela me surpreende pelas matérias criativas, inteligentes, espirituais e de qualidade. Parabéns!

@paolanayara: hoje terminei de ler minha Conexão. É a minha revista preferida! Os temas deste trimestre estão bons demais! Quero muito #ConexaoJAMensal. @sem_santos: acabo de ler na Conexão que vai sair um DVD comemorando os 20 anos de CD Jovem, e terá muitas músicas massas! @WashingtonIasd: parabéns, a revista está cada vez melhor. Só falta ser mensal! Que Deus continue abençoando essa equipe.

@conexaoja conexaoja@cpb.com.br blog: www.conexaoja.com.br

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A Késia Campos, do interior do Maranhão, teve seu comentário publicado na última edição. Ela mandou um e-mail dizendo que passou em três vestibulares: em Matemática na Universidade Estadual do Maranhão e na Universidade Federal do Piauí, mas optou por estudar administração numa faculdade particular mais perto de sua casa. “Estou mudando de cidade, mas estou levando a Conexão comigo”, contou. Sucesso e que a revista te ajude nessa nova fase!

@mileygrazy: cada dia mais admiro a revista Conexão e não me arrependo de ter feito a assinatura.

Imagem: Fotolia

@hani_hp: Entre tanta enganação, de uma coisa eu não me engano. Das revistas, a @conexaoja é a melhor! Parabéns!

Foto: cortesia do entrevistado

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DIOGO CAVALCANTI

Por água, comida e liberdade

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Sírios falam sobre os protestos e a repressão em Homs. Segundo ativistas, a população é vítima de um massacre

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Foto: cortesia do entrevistado

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chamado “efeito borboleta”, em que a batida de asa de um inseto pode dar início a um furacão, é apenas uma tese na ciência, mas um fato comprovado nas relações sociais. Pequenos protestos reprimidos com violência na Síria deram lugar a manifestações por todo o país, escrevendo mais um capítulo da chamada Primavera Árabe. A violenta resposta do governo local já tem sido classificada por organismos internacionais como um massacre. Jornalistas perderam sua vida, relatando a situação crítica de civis atacados pelo exército. Nesta entrevista, iniciada no fim de fevereiro no Twitter, ativistas sírios, contam como estava a situação, especialmente em Homs. Ambos não participam de conflitos armados nem moram mais na Síria, mas têm contato constante com parentes e amigos. Abu Hazem, natural de Homs, está agora na Arábia Saudita e Rafif Jouejati, em Washington, DC. Abu é estudante de Medicina e trabalha para um jornal sírio de língua inglesa. Rafif é consultora de gestão, mas abandonou seu trabalho para se dedicar ao ativismo no Twitter e em seu blog (rafifj.blogspot.com).

Ambos estão muito preocupados com sua terra natal. O que está acontecendo exatamente agora em Homs? Abu Hazem: A situação na cidade de Homs está insuportável. Minha família, que mora lá, me conta histórias de horror. Eles moram no bairro de Bab Al-Siba, um dos principais focos de manifestações. Nos últimos 25 dias não pude conversar com minha família, exceto em duas ocasiões, porque todos os meios de comunicação – telefones, celulares e internet – estão cortados. Nessas duas conversas por telefone, eles me contaram que há uma falta severa de comida e remédios, devido ao forte cerco do exército do regime. Além disso, tiros e bombardeio a civis são fatos diários e ficam mais intensos dia a dia. Não há eletricidade ou água na maior parte do dia. Rafif Jouejati: A situação na Síria chegou ao nível de um desastre humanitário, um genocídio. O povo em Homs, Daara, Idlib, Hama e nos subúrbios de Damasco está sofrendo bombardeios contínuos dos militares do regime de Assad. O regime posicionou atiradores nos telha-

dos, tornando extremamente difícil às pessoas sair para comprar comida. O regime desenvolveu uma prática, particularmente em Homs, de atear fogo em residências, com os moradores ainda dentro delas. Suprimentos médicos estão extremamente baixos ou não existentes, por isso muitos feridos morrem desnecessariamente. Muitos hospitais foram transformados em centros de detenção, então, os civis estão transformando suas casas em hospitais improvisados. Existe alguma estimativa do número de vítimas? Rafif Jouejati: A Coordenação de Comitês Locais da Síria (LCC, sigla em inglês) documentou aproximadamente 9 mil mortes, incluindo mais de 600 crianças, desde o começo da repressão militar. Como se iniciaram as manifestações populares e qual foi a resposta do governo? Abu Hazem: Por volta de 15 de março do último ano, ativistas antiregime convocaram protestos por toda a Síria pela prisão e tortura de crianças pequenas que picharam frases antiregime no muro de sua abr-jun 2012

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por Diogo Cavalcanti

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Após a repressão do governo, os protestos pararam? Rafif Jouejati: Pelo contrário, os protestos cresceram em tamanho e número a cada dia. Os sírios preferem morrer a viver sob uma ditadura. Devido ao fato de os protestos terem crescido, o mesmo ocorre com a oposição fora da Síria. Continuamos a assistir bravos atos de resistência civil a cada dia, como queimar pneus nas principais estradas, para atrasar a chegada de forças de segurança, declarar greves gerais, ou distribuir folhetos e panfletos à noite. Abu Hazem: Ativistas e amigos em Homs sempre me dizem: – Preferimos viver 6

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com dignidade, ou então, morrer�. Para ser honesto, nunca pensei que o povo buscaria liberdade e dignidade com tamanha dedicação. O que o povo de outras partes da Síria está fazendo por Homs? Abu Hazem: A resposta de muitas áreas na Síria foi em favor de Homs. Pessoas da cidade de Hama (a 40 km de distância), por exemplo, arriscam sua vida para levar comida e remédio para Homs. Outras regiões protestam diariamente para aliviar um pouco da pressão em Homs, a fim de dispersar o ímpeto das forças do regime. Rafif Jouejati: As pessoas na Síria estão fazendo tudo o que podem para ajudar a população de Homs e de outras cidades em calamidade. Médicos trabalham em hospitais improvisados; moradores do campo tentam infiltrar comida e água nas comunidades; e manifestantes de diferentes cidades cantam sua solidariedade a Homs.

(1) Uma zona de exclusão aérea, com a qual o Exército Livre da Síria poderia se reorganizar e usar como base para libertar a Síria do regime de Assad. E isso pode ocorrer se países vizinhos, como a Turquia, coordenassem com a OTAN e os países árabes, o envio de uma pequena força militar para a área de protestos; (2) Reconhecimento do Conselho Nacional da Síria (líder da oposição na Síria), considerando-o o legítimo representante do país. Também, reconhecimento ao Exército Livre da Síria e apoio com armas; (3) Campanha de mídia em apoio ao caso da Síria, pois acreditamos que a mídia é um instrumento muito poderoso para derrubar um regime como esse.

“Muitos hospitais foram transformados em centros de detenção, então, os civis estão transformando suas casas em hospitais improvisados.” – Rafif Jouejati

O que os sírios esperam da comunidade internacional, mesmo de países distantes como o Brasil? Rafif Jouejati: A Síria está pedindo ajuda à comunidade internacional. Há um pedido urgente por corredores humanitários, a fim de assegurar passagem segura a suprimentos. Até agora, o regime de Assad não permitiu qualquer assistência. De fato, o diretor executivo do Crescente Vermelho [organização equivalente à Cruz Vermelha] foi assassinado há algumas semanas, quando tentava averiguar a situação. Os sírios também precisam se defender de alguma forma. Eles pedem ajuda ao Exército Livre da Síria, para que receba proteção. O Exército Livre da Síria é composto por soldados desertores que deixaram o regime, porque se recusam atirar em civis desarmados. Abu Hazem: Os sírios esperam três ajudas principais da comunidade internacional:

Existe esperança? Rafif Jouejati: Sempre temos que ter esperança. Os sírios estão esperando e orando por uma solução. Enquanto a situação em Homs é de desespero, temos que continuar trabalhando para assegurar que seus residentes não morreram em vão. A única forma de honrá-los agora é assegurar que Assad seja removido do escritório por quaisquer meios necessários e estabelecer a Síria como um estado democrático e civil, no qual todos os cidadãos sejam igualmente protegidos pela força da lei. Abu Hazem: É claro que existe esperança. Se não fosse assim, não poderíamos continuar lutando. Se você procura ao longo da história, não existe nem apenas um exemplo de um tirano que permaneceu no poder após um levante popular. O povo na Síria sofre dificuldades há 11 meses agora esperando que o regime entre logo em colapso. A questão é: quantas vidas teremos que perder antes que o sonho se torne realidade?

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escola, em Daara. Primeiramente pensávamos que aquilo não iria para frente, porque sabemos o quanto o regime é brutal. No entanto, algumas pessoas responderam ao chamado e iniciaram uma grande manifestação pacífica em Daara. As forças do regime então responderam abrindo fogo contra os manifestantes, matando 60 pessoas. Daquele ponto em diante, protestos passaram a ser diários em Daara, assim como a matança promovida pelas forças do regime. Após isso, a cidade de Homs iniciou protestos em apoio a Daara e pedindo reforma. Mas a resposta brutal das forças do regime transformaram as demandas por reforma em um clamor pelo fim da ditadura. Daquele momento em diante, Homs começou a ser um foco das manifestações pacíficas antiregime. Rafif Jouejati: As mãos das crianças [da escola] foram esmagadas e suas unhas, arrancadas; então foram mandadas para suas famílias a fim de servir de exemplo do que aconteceria a qualquer um que ousasse protestar. Daquele ponto em diante, a revolução se iniciou, e agora não há mais volta. Hoje existem protestos em todas as grandes cidades e vilas. Todos os dias, civis fazem funerais pelos seus queridos. E, quando os enlutados começam a cantar slogans antiregime, os militares abrem fogo.


Obcecados pela palavra

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ato: com a internet, os chats, as redes sociais e os celulares, estamos falando mais. Dúvida: isso significa que estamos nos comunicando mais? Pode-se retrucar dizendo que, se estamos falando mais, é porque estamos nos comunicando. Mas será que comunicação é só isso? Não, não é só isso. Essa é a temática de um conhecido estudioso da comunicação, o jornalista Ciro Marcondes Filho, no seu livro Até que ponto de fato nos comunicamos? Ele suscita essa questão importante para mostrar como precisamos rever nossos conceitos. Certamente falar é importante. Transmitir ideias, sentimentos e emoções aos outros é vital para o ser humano. Mas, ultimamente, falar se tornou uma obsessão. Queremos que o outro nos ouça a qualquer custo. A internet espalhou a ideia de que eu não preciso ser nada de mais para ter um palanque e falar para o mundo. Não preciso estudar e me esforçar para ter algo importante a falar e deixar registrado para as próximas gerações. Há milhões de blogs para provar isso. A maioria deles não recebe mais que uma visita por dia – a visita do seu próprio autor. É uma evidência da nossa obsessão por falar. Mas comunicar é mais do que isso. É também ouvir, e não é ouvir qualquer coisa ou de qualquer jeito. É ouvir algo e deixar que aquilo faça diferença no nosso modo de pensar, sentir e agir. Quantas vezes ouvimos com indiferença, sem sequer olhar para os olhos da pessoa! Com nossas máquinas de comunicar, então, os olhos do outro nem estão mais ali para receber nossa atenção. Não queremos ouvi-lo. Claro, ouvimos o que ele tem a nos dizer, desde que seja na hora, do jeito e sobre o assunto que eu quero. Do contrário,

dou um unfollow, fico invisível ou simplesmente ignoro a mensagem. Pareceu familiar essa descrição? Sim, porque é a nossa vida de “comunicação” na internet. Muitos não escutam sequer a si mesmos, sem refletir sobre quem são e o que estão fazendo da vida. Por isso, tratam de encher o ambiente de sons e imagens, com direito a fone de ouvido e TV ligada permanentemente. Ouvem e veem, mas com o único objetivo de preencher o vazio e escapar desse arriscado momento de encontro consigo mesmo, que poderia ser revelador. Mais uma vez, realmente há um monte de mensagens, mas nada relevantes e que exijam atenção, ou seja, que não comunicam. Na verdade, estamos ouvindo apenas para esperar nossa vez de falar novamente. É por isso que muitos de nós, quanto mais conversam – seja online ou offline –, mais se sentem sós, vazios. Porque não conseguem se comunicar. Falam e até mesmo ouvem bastante, mas o que está lá dentro, aquela ideia ou sentimento, continua secreto, inacessível. Dessa manera, ficamos todos batendo cabeça, enviando loucamente scraps para fingir que estamos nos comunicando. A verdadeira liberdade não está no mero falar ou ouvir, mas no que se pode falar e ouvir. É por isso que amigo não é aquele que compõe número na rede social, mas com quem nos comunicamos de verdade. E isso pode ocorrer tanto online quanto offline, mas precisamos admitir o poder que o ambiente tem de nos influenciar, e talvez conversar em um lugar barulhento não seja a decisão mais inteligente quando se quer falar ou ouvir algo importante. Tales Tomaz

É professor de Comunicação Social do Unasp e mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. talestomaz@gmail.com

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Com as redes sociais, falamos muito mais e isso pode ser um problema

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Wendel Lima

O RISCO DO

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PRIMEIRO GOLE

Lei seca

Pesquisas e documentários mostram que os jovens estão bebendo sem moderação e muito cedo. Você pode ajudar a combater essa cultura do vício e a diminuir as estatísticas que merecem letras garrafais

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Foto: William de Moraes

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madrugada em Porto Alegre numa rua frequentada por jovens que passam a noite bebendo. “Você se machucou hoje?”, pergunta o repórter Caco Barcelos a um jovem com a mão engessada. Com voz rouca e alterada, o rapaz com no máximo 20 anos explica: “Eu estava meio alcoolizado, tomei uma garrafa de vodka e acabei caindo por cima do meu braço”. Sem largar um copo – e ao melhor estilo “beber, cair e levantar” – ele conta que já foi atendido no pronto-socorro, mas voltou para se “divertir”. “Continuo bebendo, porque não pode (sic.) parar de beber, se não perde a graça”, completa o garoto. Esse trecho da reportagem sobre o consumo de álcool entre os jovens, da edição de 19 de abril de 2011 do Profissão Repórter, é o retrato de uma epidemia no Brasil. Os números são taxativos: os jovens estão bebendo sem moderação e muito cedo. Mais do que uma terrível ressaca no dia seguinte, esse comportamento representa enormes riscos para quem abusa do álcool, preocupação para os pais e familiares, despesas extras para a saúde pública e trabalho redobrado para equipes de resgate médico e policiais. Só ri da situação, quem está “chapado” ou lucra com o produto. Por isso, essa matéria foi feita para que você não se anime a aumentar essas estatísticas e ajude quem já faz parte delas.

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A ideia de falar desse tema surgiu depois de observar a placa da campanha (alcoolparamenoreseproibido.sp.gov.br) em vários supermercados no interior de São Paulo. A mobilização é fruto da Lei nº 14.592, de 19 de outubro de 2011, que prevê fiscalização mais intensa e punição mais rígida para os estabelecimentos paulistas que vendem e/ou permitem que menores de idade comprem e consumam bebida alcoólica. A legislação foi assinada depois que uma pesquisa encomendada ao Instituto Ibope confirmou o que todo mundo sabia: apesar de proibido, os me-


Porém, mais alarmante do que o fácil acesso ao produto, é o nível de consumo. A. G., 31 anos, empresário, mora em São Paulo e não esconde que gosta de beber. Baladeiro, no seu perfil no Facebook, são inúmeras as fotos em que posou com amigos, mulheres e, claro, a bebida. “Eu gosto de beber e aguento bem. Mas estou procurando beber só de fim de semana, porque estou fazendo academia e o álcool dá barriga”, relata. Tudo começou aos 15 anos: “bebia uma só para ficar doido, tipo pinga, e depois saía. Mas só de fim de semana, um ou dois copos.” Apesar de o pai nunca o ter intencionalmente incentivado ao consumo, ele reconhece que o exemplo da família, associado à influência dos amigos, pesou: “Meu pai bebe. Se eu puxei alguém, foi ele.” A. G. conta que com a conquista da independência financeira, passou a beber e gastar mais, usando vodka e uísque, geralmente misturados com energéticos e refrigerantes. Ele, que durante uma fase já chegou a beber todos os dias, hoje sai apenas aos fins de semana, o que significa um gasto de 1.200 reais mensais apenas com bebidas. Não é para menos, a cada balada são cinco doses de destilados, que têm um teor alcoólico oito vezes maior do que a cerveja. Segundo A.G., ao voltar para casa, ele é “cuidadoso”. Retorna de táxi ou de carona com amigos

O exagero na hora de beber está ligado também ao consumo de energéticos. Muitos misturam essas bebidas estimulantes ao álcool, para melhorar o sabor e “reduzir” seu efeito entorpecente. Na verdade, a alta concentração de cafeína dos energéticos dá a falsa impressão de lucidez, o que pode levar o usuário a pensar que não está bêbado e que pode até dirigir. Um estudo feito ao longo de um ano com mil universitários norteamericanos, publicado no site da revista Galileu,1 mostrou que o uso semanal de energéticos, por exemplo, aumenta as chances de envolvimento em bebedeiras e de desenvolvimento do alcoolismo.

Epidemia Com o cruzamento das informações de sucessivas pesquisas, o perfil de consumo da geração atual tem ficado cada vez mais claro: ele é iniciado cedo, em casa, está associado à mistura de bebidas e energéticos, se intensifica na universidade e é marcado por porres nas festas e baladas. Segundo um levantamento de 2004, feito com alunos da rede pública das capitais brasileiras, o primeiro gole acontece em média aos 12,5 anos, geralmente em confraternizações de família. O que representa um grande risco para se desenvolver a dependência, sendo que 80% dos alcoólatras iniciaram o consumo antes dos 18 anos, de acordo com o Catrod (Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas). Um comportamento que tem chamado a atenção dos especialistas é o binge drinking, ou bebedeira. Segundo o levantamento feito no Estado de São Paulo, pelo Instituto Ibope, 18% dos adolescentes de 12 a 17 anos bebem regularmente. E conforme o I Levantamento Nacional dos Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira (2007), 28% dos adultos e 16% dos adolescentes entrevistados haviam bebido em excesso no ano anterior à pesquisa.

QUANDO SE PASSA DA CONTA

Quem gosta de beber, costuma subestimar seus hábitos. Por isso, o tipo de consumo é classificado tendo como base uma tabela que vai do único gole na vida até a dependência química. A pergunta feita é: quanto você bebeu nos últimos 30 dias? A luz amarela e depois a vermelha são acesas quando o usuário apresenta o seguinte comportamento.

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Sem moderação

que, apesar de terem bebido também, não querem correr para “se aparecer para as mulheres”. “Eu não quero me arriscar, até porque tem essas blitze e não posso perder minha carteira”, completa. Apesar de não planejar parar de beber, apenas reduzir o consumo, A.G. reconhece que o álcool é uma droga e não faz bem. Mas ele confirma uma realidade ainda mais preocupante da vida noturna: “Do jeito que os adolescentes estão bebendo, até os 40 anos eles vão morrer. Eu vejo menina de 14 anos com uma garrafa de vodka na mão e fumando pra caramba”, explica. Para ele, o consumo de álcool na época da sua adolescência era menor e não associado às festas rave e ao uso de drogas sintéticas.

Frequente: bebeu seis ou mais vezes. Pesado: bebeu 20 ou mais vezes. Abusivo: é quando se passa a ter problemas físicos, mentais e sociais aparentes. Mesmo que parcialmente, ainda se consegue cumprir com as obrigações cotidianas. Dependência: é quando não mais se consegue cumprir com as obrigações cotidianas devido ao uso da bebida. A pessoa passa quase que todo o tempo sob o efeito do álcool ou em busca dele.

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Ilustração: Fotolia

nores têm acesso fácil ao álcool. O estudo mostrou que 39% dos adolescentes já compraram bebidas pessoalmente. De acordo com essa nova lei, supermercados, lojas de conveniências, restaurantes, bares e boates deverão colocar avisos de proibição, exigir documento de identidade dos adolescentes e não expor as bebidas alcoólicas próximo de outras sem restrição, como sucos e refrigerantes. Os estabelecimentos que desrespeitarem a lei poderão ser multados em até 92 mil reais e ser interditados. No Carnaval deste ano, mais de 6 mil pontos de venda foram fiscalizados e 79 foram multados.

Fonte: Senad

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Mudança cultural

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Se os números são contundentes e informação parece não faltar, por que toda uma geração está afogando seu futuro numa garrafa? Apesar de ser mais simples do que a solução desse problema, a explicação para esse fenômeno é complexa e multifatorial. Lesgislação funcional e fiscalização rígida têm grande importância na reversão desse quadro, mas não são tudo. O grande salto está na mudança cultural, no modo como a sociedade vê o álcool. Para tanto, é preciso lidar com pontos nevrálgicos: o exemplo da família, a educação dos jovens, a regulação da publicidade e o resgate dos valores religiosos. “Nossa cultura está começando a achar que o cigarro é ruim. No entanto, continuamos achando que ficar bêbado numa festa é divertido”, criticou George Vaillant, pesquisador da Universidade Harvard (EUA) e uma das maiores autoridades mundiais sobre alcoolismo. Em entrevista à Veja,2 ele disse que, assim como aconteceu com o fumo, a embriaguez tem que deixar de ser associada à alegria, diversão e esportes. 10

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Tal pai, tal filho Porém, para os especialistas, essa mudança cultural começa onde o consumo se inicia: em casa. “Quando a criança é colocada muito cedo em contato com esse uso regular dos pais, ele pode desenvolver o uso do álcool como um valor cultural”, explica o professor de psicologia do Unasp, Noel Costa, no documentário Open Bar: a sociedade de ressaca. “A maioria das pessoas não percebe o risco que a bebida alcoólica traz, e o jovem, menos ainda. Ele tem a necessidade de testar seus limites, por isso, busca usar seu corpo como um laboratório”, completa. J. C. S., 15 anos, mora no interior do Paraná e diz ter experimentado álcool pela primeira vez há um ano, numa confraternização familiar. “Meus pais e tios tomavam, aí eu quis experimentar”, relembra. A garota, que confessa não achar certo beber por causa de sua idade e dos prejuízos da bebida para a saúde, garante nunca ter exagerado, mas conta que costuma ingerir cerveja, “batidinha” e uísque com energético. A precocidade do consumo de J. C. S. já desperta preocupação e advertência dos pais. “Ela não deve estragar a vida desta maneira, tem é que se preocupar com os estudos e em ter uma profissão”, aconselha o pai. Apesar de não ter oferecido bebida para a filha, E. A. S. reconhece que o “espelho para o filho é a convivência com os pais”. Ele, que começou a beber socialmente aos 16 anos – também em casa – diz que às vezes abusa nos fins de semana, mas que em contrapartida fica mais de um mês sem ingerir álcool. Para E. A. S., os pais têm falhado em acompanhar mais de perto a vida dos filhos, especialmente suas amizades. “A porta de entrada para qualquer droga é a falta de limite. Famílias que sabem dar limites aos filhos, costumam não passar por isso. O grande problema está no pai que permite a droga entrar em casa. E depois que a droga entra, a mãe não deixa sair, porque trata o camarada como um coitadinho. Às vezes, o cara não trabalha

Beber, cair e não levantar

2.500.000

pessoas morrem por ano no mundo em decorrência do uso de álcool

320.000

dessas têm entre 15 e 29 anos

60

tipos de doenças e ferimentos são causados pela bebida, como cirrose, epilepsia, envenenamento e câncer de diferentes tipos (colorretal, mama, laringe e fígado). Fonte: Dados da ONU disponíveis em: alcoolparamenoreseproibido.sp.gov.br

O país da cerveja O consumo médio anual per capita da bebida tem aumentado

2011 – 64 litros 2009 – 54 litros

Fonte: Renê Andreasi, consultor da indústria de bebidas, em entrevista para o documentário Open Bar.

Ilustrações: Rogério Chimello e Fotolia

E é no período universitário que o mau hábito adquirido em casa e desenvolvido na adolescência tende a se consolidar. Em 2010, foi publicado o primeiro estudo nacional sobre o consumo de drogas entre universitários. O levantamento com 18 mil estudantes de cem instituições de ensino das capitais brasileiras mostrou que 86,2% já haviam bebido alguma vez na vida; que 18% já tinham dirigido sob efeito do álcool; e que 60% haviam bebido no mês anterior à pesquisa, número bem maior do que a média nacional, de 38%. Além disso, 25,3% tinham se embriagado nos últimos 30 dias e 19,2% usavam álcool de forma abusiva. Não é sem razão que, segundo a pesquisa do Ibope no Estado de São Paulo, a faixa etária que apresenta mais problemas com alcoolismo é a de jovens adultos (18 a 34 anos).


m

os

Ilustrações: Rogério Chimello e Fotolia

pos

professor de Geografia trabalhe a distribuição dos padrões de uso em várias regiões; o de Química explore a composição das drogas e; o de matemática analise com a classe as estatísticas epidemiológicas. Por sua vez, na disciplina de Língua Portuguesa, Tatiana recomenda uma análise do discurso dos comercias sobre cerveja, de modo que os alunos olhem com mais criticidade para essas peças publicitárias.

Educação pró-saúde

Novos consumidores

Quando a família não faz a lição de casa, a escola não pode deixar de cumprir seu papel. “A escola trabalha o desenvolvimento humano, a cidadania e pode combater as drogas na perspectiva de promoção de saúde”, defende Tatiana Amato, psicóloga com mestrado em prevenção de drogas. Para ela, é importante que os colégios deem orientação ainda na infância, ajudando o aluno na resolução de seus conflitos, para que, ao chegar à adolescência, não seja vítima fácil da pressão dos amigos. E na adolescência, quando muitos dão seu primeiro gole, é que a escola deve levar os estudantes a refletir sobre seu comportamento. “A primeira intervenção é nesse momento. É partir da experiência que já tiveram, explorando os potenciais riscos desse hábito, para que eles desenvolvam alguma crítica em relação aos seus atos”, destaca a psicóloga. O que a experiência tem mostrado é que não basta oferecer meras informações sobre o álcool e drogas, e sim explorar esses temas na perspectiva da relação de causa e efeito no cotidiano dos jovens. Um bom exemplo é alertar sobre os perigos do binge (bebedeira) que, além do risco de coma alcoólico, costuma estar associado a outros comportamentos negativos, como sexo livre (e sem proteção), envolvimento em brigas e acidentes de trânsito. Tatiana sugere também que o tema álcool seja abordado de maneira interdisciplinar, ou seja, da perspectiva de várias áreas. Ela sugere, por exemplo, que o

Educar os jovens para filtrar o conteúdo da mídia, especialmente da propaganda sobre cerveja, é um desafio para um país que ainda tem restrições muito brandas para a divulgação de bebidas. Segundo a psicóloga Ilana Pinsky, supervisora da pós-graduação do Departamento de Psiquiatria da Unifesp, a regulamentação sobre esse tipo de produto no Brasil é ridícula. Em entrevista ao site da ONG Instituto Alana3, ela critica a legislação federal que não vê a cerveja, as bebidas ice e os vinhos populares como bebidas alcoólicas para fins de publicidade. A psicóloga argumenta que as cervejas são bebidas de iniciação, ou seja, são a porta de entrada para o consumo de álcool, que costuma ocorrer no início da adolescência. “A publicidade de cerveja vendeu um estilo de vida. Não tem nada a ver com informação sobre o produto, porque eles são muito parecidos entre si”, Pinsky avalia com propriedade. Mais do que mostrar o consumo do produto, os comerciais têm procurado fixar uma marca que está relacionada ao futebol, celebridades, praia e curtição. “Quanto maior é a exposição que o jovem tem à publicidade de álcool, maior é a probabilidade que ele desenvolva problemas ou se torne dependente, e maior é a probabilidade que ele comece a beber cada vez mais cedo”, garante Pinsky. O objetivo das cervejarias é claro: fidelizar uma nova geração de consumidores do produto. Consumo que só cresce, segundo informação do consultor da indústria de bebidas, Renê Andreasi, no documentário

25,3% dos universitários tinham se embriagado no mês que antecedeu a pesquisa.

18% já tinham dirigido depois de beber. Fonte: I Levantamento Nacional Sobre o Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras (Senad e Grea/Fmusp).

Open Bar. O consumo médio anual por pessoa no Brasil é de 64 litros de cerveja, dez litros a mais do que há dois anos.

Fé na prevenção Um dos grandes fatores de prevenção e recuperação das drogas é a religião. “A questão da prática religiosa como fator de prevenção ao uso de drogas é um fato”, afirma com todas as letras a pesquisadora e professora da Unifesp, Zila Sanchez. Ela estudou, em nível de mestrado e doutorado, a relação entre fé e consumo de drogas. Na sua dissertação, Zila apresentou dados que não servem para uma amostragem mais ampla, mas que nem por isso deixam de ser interessantes. Dos jovens que pesquisou numa favela de São Paulo, 81% dos que não usavam entorpecentes praticavam uma religião e 13% dos que consumiam drogas tinham uma religião. Para os pesquisadores, esses números não são milagre. Zila aponta cinco fatores que colaboram para isso. Segundo ela, as religiões: (1) proíbem ou classificam como incorreto o uso de drogas; (2) pregam o cuidado com o corpo; (3) proporcionam aos jovens um grupo de amigos que geralmente não consome drogas; (4) oferecem alternativas de lazer, como a participação em grupos de música e acampamentos e; (5) orientam as famílias dos fiéis a não consumir e a não estimular

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ar

e não estuda, e tem casa, comida e roupa lavada. Aí fica difícil sair da droga. Aquele amor que não corrige, não é amor”, avalia Roman Oresko Filho, terapeuta familiar e diretor da Fazenda Revive, em Gravataí, RS. Ele fala com a experiência de quem há 12 anos trabalha na recuperação de alcoólatras e dependentes químicos em geral. Roman destaca que mesmo entre as famílias que se dizem cristãs tem faltado o estabelecimento de limites.

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Presos ao copo (dependentes do álcool)

Open Bar

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que seus filhos usem entorpecentes. Porém, Zila ressalta que não vale apenas professar, é precio praticar a fé. “Dizer que é católico ou protestante, sem frequentar, coloca você num nível de risco igual aos que não têm religião”, adverte.

apesar desse tratamento – popularizado pelos Alcoólicos Anônimos (AA) e Narcóticos Anônimos (NA) – ter suas limitações e ressalvas, o método se mostra eficaz para milhões de pessoas ao redor do mundo.

Fé na intervenção

O tripé trabalho, terapia e espiritualidade tem sido a saída para J. S. F., 29 anos. Usuário de álcool desde os 13 e do crack a partir dos 16 anos, há dez meses ele bebia cinco garrafas de cachaça por dia. Na loucura do vício, até álcool combustível ele tomou. Criado num dos morros mais perigosos de Porto Alegre, Maria da Conceição, estudou apenas até a 5ª série do ensino fundamental e nunca trabalhou. “Eu não sei o que é ter uma carteira assinada”, revela. Para manter o vício, passou a roubar a família e desconhecidos. Foi expulso de casa pelo pai e ficou três anos preso. Porém, há pouco menos de um ano, J. S. F. está internado na Fazenda Revive, a clínica de Gravataí, RS, administrada por Roman. Lá, os dependentes são desafiados a redescobrir o domínio próprio, a liberdade de não depender da droga, num ambiente em que limites são respeitados. O projeto é mantido pela Igreja Adventista Central de Porto Alegre e recebe ajuda de duas sedes administrativas da denominação. Por isso, pessoas como J. S. F. podem ter um tratamento gratuito por um ano. Além dele, mais de mil pessoas foram atendidas pela clínica nos últimos 12 anos. Cerca de 30% ficam até o fim da terapia e geralmente conseguem vencer o vício.

A professora lembra que, quando se trata de intervenção e recuperação de dependência química, a fé também é grande aliada. Os usuários de drogas lícitas ou ilícitas que participam de grupos religiosos têm mais chance de deixar o vício. Segundo Zila, num primeiro momento, as comunidades religiosas dão a essa pessoa fragilizada o senso de pertencer, funcionando assim como grupo de apoio. Num segundo momento, por sua vez, o indivíduo tem a oportunidade de aprender sobre doutrinas e abraçar um novo estilo de vida em que não há espaço para as drogas. Essa contribuição social fundamental das igrejas é comprovada pelo número expressivo de entidades de recuperação de dependentes químicos que são mantidas por organizações religiosas. Além disso, são os líderes religiosos, mais do que as instituições do governo, que costumam ter acesso e boa vontade de ajudar os usuários de drogas de sua congregação e comunidade. E é no modelo oração e trabalho, desenvolvido por igrejas protestantes dos Estados Unidos na década de 1940, que boa parte dos grupos e clínicas de recuperação buscam inspiração. Para Zila Sanchez, 12

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Deixando o fundo do copo

12,3%

BRASILEIROS

19,5% HOMENS

6,9% MULHERES

Fonte: II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil (2005) – Senad.

J. S. F. está quase lá. Faltando um mês para deixar a clínica, ele já planeja voltar para a casa do pai, trabalhar e viver com dignidade. Mas, para os que se enganam pensando que podem brincar com fogo sem se queimar, J. S. F. apela: “O vício tira seu sonho, sua felicidade, você perde a vontade de viver. Quando você toma o primeiro gole não sabe se aquilo pode te afundar. Quem não usou, nunca deveria usar.” Fica o conselho! Matéria publicada no site da revista Galileu (revistagalileu.com.br): “Consumo de energéticos pode acelerar alcoolismo, diz pesquisa”. Disponível em http://glo.bo/aUnfvR. 2 Veja, 18 de agosto de 1999. 3 Entrevista publicada em 23 de fevereiro de 2012 no site alana.org.br e disponível no link http:// bit.ly/y7PcNl. 1

Para saber + cisa.org.br cebrid.epm.br senad.gov.br fenaprevencao.org.br alcoolparamenoreseproibido. sp.gov.br Imagem: Fotolia

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Ilustrações: Rogério Chimello e Fotolia

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Produzido em 2011 como TCC por formandos de Jornalismo do Unasp, esse documentário serviu de base para nossa matéria. A produção entrevistou os principais especialistas do assunto no Brasil e faz um alerta que precisa se tornar viral na web. Veja em: http://vimeo.com/3293708


Carreira de futuro

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As profissões mudaram. A forma de escolhê-las também Outro ponto fundamental é avaliar se esses campos de atuação estão crescendo ou diminuindo, já que alguns mercados mudam conforme a economia e a região do país. Uma pesquisa realizada em 2011, pela agência Michael Page, tomando como base as contratações no Brasil, mostrou que os setores com maiores índices de efetivações na região Sudeste foram aqueles ligados a finanças, engenharia (petróleo e gás, produção, manutenção e processos) e construção civil. No Norte, Nordeste e Centro-Oeste, 60% das contratações estavam relacionadas ao comércio, à gerência, às vendas e ao serviço. Enquanto que, no Sul, o destaque ficou por conta do marketing. Mas e daqui a três ou quatro anos, tudo isso poderá mudar? Talvez, vai depender de uma série de fatores. Nesse caso, entra em cena o fator pesquisa. É de suma importância acompanhar diariamente, através da mídia, como anda o mercado, bem como as profissões de destaque. Visitas às empresas, feiras de carreiras, entrevistas com profissionais irão ajudar, e muito, nessa importante tomada de decisão. Vale lembrar ainda que, segundo pesquisas, uma pessoa chega a passar por até cinco carreiras antes de se aposentar. Você não deve ter medo de escolher a profissão, mas sim de não estar preparado para exercê-la quando ela chegar. Cristiano Stefenoni

Jornalista, consultor de carreiras e autor do livro Profissional de Sucesso e Gestão de Carreira (CPB). c.stefenoni@hotmail.com

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obre o Uso de 5) – Senad.

o passado, quando se falava em profissão, a pergunta mais comum era “o que você vai ser quando crescer?” Hoje, com a disputa acirrada do mercado, esse questionamento mudou para “O que você é antes de crescer?” Em outras palavras, a vida profissional, que começava na época do vestibular, agora é um processo contínuo desde a infância. O uso de tecnologias avançadas, a integração global por meio das redes sociais e o temor dos pais sobre o futuro dos filhos fez surgir uma geração que está confusa, não apenas sobre qual carreira seguir, mas também sobre qual profissão não seguir, visto seu alto preparo competitivo e as variedades de escolha. É por isso que, quem deixa para depois o domínio do inglês e da informática, já está atrás da concorrência, desvantagem que será sentida na primeira entrevista de emprego. Certa vez, uma gerente de recursos humanos me falou de sua pesquisa de mestrado sobre “as melhores profissões da atualidade”. Então perguntei qual a conclusão do estudo e ela me respondeu que as carreiras mais promissoras ainda não existem e surgirão nos próximos dez anos. Sim, há uma lógica nisso. Antes, a pessoa estudava Psicologia para atender em um consultório. Hoje, o psicólogo pode atuar na área de recursos humanos, recrutamento e seleção, treinamento e gestão, entre outras possibilidades. O futuro do químico era uma sala de aula. Agora, ele trabalha com pesquisas genéticas e em empresas de petróleo e gás. O diploma de Direito, com o registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), credenciava o cidadão a, no máximo, abrir um escritório de advocacia ou tentar a carreira pública. Contudo, hoje as multinacionais precisam de advogados que cuidem de questões ambientais ou que defendam as corporações em casos que envolvam crimes cibernéticos. O engenheiro passa a atuar com nanotecnologia. Enquanto isso, o arquiteto desenvolve projetos em 3D para ajudar na mobilidade urbana. Atualmente, já não é mais a empresa que determina o salário, mas a área em que o profissional atua. Por exemplo, em uma mesma organização, dependendo da função, um engenheiro pode ganhar 3 mil ou 30 mil reais por mês. É por isso que quando um jovem vai enfrentar o vestibular, ele não deve mais levar em consideração simplesmente o nome da profissão, mas sim, os diversos campos de atuação que ela oferece ou oferecerá.

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Em vez de inimigas, ciência e religião são aliadas. E sem elas, a humanidade não teria suas mais importantes respostas

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o ótimo livro Por que a Ciência Não Consegue Enterrar Deus (p. 56), o matemático e professor de Oxford, John Lennox, apresenta uma ilustração interessante que ajuda a entender o propósito da ciência e da religião. Trata-se do bolo da tia Matilde. Segundo Lennox, se o bolo, depois de pronto, fosse levado a um químico, ele poderia analisar suas propriedades químicas, as reações ocorridas em seu preparo. Se fosse levado a um físico, este analisaria as partículas do bolo e sua consistência. Outros cientistas fariam análises semelhantes do bolo a partir de sua área de pesquisa. Mas se fosse perguntado a todos eles por que a tia Matilde fez o bolo, nenhum saberia responder. Eles poderiam dizer muita coisa sobre a estrutura do bolo, mas nada a respeito do propósito dele. Assim ocorre com a ciência: ela pode nos dizer muita coisa a respeito do como. E assim ocorre com a religião, que pode nos ajudar a entender o porquê. Se ignorarmos deliberadamente uma delas, ficaremos sem importantes respostas sobre o mundo que nos rodeia. O criacionismo bíblico procura estabelecer essa interface entre ciência e religião (ou teologia bíblica), porque parte do pressuposto de que as duas, corretamente entendidas, são complementares. 14

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Tia Matilde Pense bem: como poderíamos, afinal, conhecer o propósito para o qual a tia Matilde teria feito o bolo? Simples: apenas se ela mesma revelasse esse propósito. No entanto, mesmo essa revelação teria que fazer sentido, ser racional e lógica. Por exemplo: se soubéssemos que Matilde não tem filhos e ela dissesse que havia feito o bolo para o filho, imediatamente notaríamos a incoerência. Mas, se ela de fato tiver um filho e ele estiver de aniversário, a revelação do propósito fará todo o sentido. Para o criacionista, a Bíblia é a revelação confiável dos propósitos de Deus porque, entre outros motivos, passa no teste da racionalidade (a história, as profecias detalhadamente cumpridas e a arqueologia estão aí para confirmar isso). Assim como Isaac Newton e tantos outros cientistas do passado e do presente, os criacionistas entendem que a ciência e a teologia – corretamente compreendidas, repito – são as duas lentes dos óculos com os quais podemos enxergar as respostas mais adequadas e satisfatórias para o como e o porquê.

Caixa fechada O advogado e professor Phillip Johnson, em seu contundente livro Darwin

no Banco dos Réus (p. 21), sustenta que “‘evolução’ pode significar qualquer coisa desde a declaração não controversa de que a bactéria ‘desenvolve’ resistência aos antibióticos à grande afirmação metafísica de que o Universo e a humanidade ‘evoluíram’ inteiramente por forças mecânicas sem propósito. Uma palavra elástica assim é capaz de induzir ao erro, dando a entender que sabemos tanto sobre a grande afirmação quanto sabemos sobre a pequena afirmação”. Resumindo, o darwinismo (a despeito das várias compreensões a respeito do que seja “evolução”) é um modelo naturalista, ou seja, está teoricamente embasado no naturalismo filosófico. Isso significa que não há espaço para o sobrenatural em nenhum momento da História, nem mesmo na origem de tudo. “Para um naturalista, o Universo é análogo a uma caixa selada. Tudo o que existe na caixa (a ordem natural) é causado ou explicável em termos de outras coisas existentes no interior da caixa. Nada, nem mesmo Deus, existe fora dessa caixa; portanto, nada fora da caixa que chamamos Universo, ou cosmo, ou natureza pode ter qualquer efeito causal sobre o interior da caixa” (Ensaios Apologéticos: Um estudo para uma cosmovisão cristã, p. 251).

CRIACIONISMO

De mãos dadas


CRIACIONISMO

Criação com propósito

Extinção em massa (origem dos fósseis) e formação da coluna geológica durante e após o Dilúvio Mutações degenerativas ou apenas modificadoras

Destino: recriação no futuro

Base filosófica: naturalismo

O Universo e a vida “surgem”

Origem inferior da vida que vai se tornando mais complexa

Origem superior da vida e degeneração após a queda

Milhares de anos de presença de vida sobre a Terra

Michelson Borges

Jornalista e mestre em Teologia michelson.borges@cpb.com.br

Microevolução (modifica, não acrescenta informação) Seleção natural (explica a sobrevivência do mais apto, mas não seu “aparecimento”)

História da vida contada em eras de muitos milhões de anos Coluna geológica formada ao longo de muitos milhões de anos

Mutações podem promover melhorias

Destino: incerto

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Base filosófica: teísmo

=

muita gente é que a teoria da criação tem evidências científicas, além de religião; e o evolucionismo não é pura ciência, tem muito de filosofia ateísta. Assim, você poderá analisar qual dessas cosmovisões responde satisfatoriamente o como e o porquê da vida no Universo.

EVOLUCIONISMO

boa ferramenta, mas não dispensam as explicações da “tia Matilde”, porque entendem que a ciência, como ferramenta humana, tem suas limitações, e a busca da verdade tem que ser tão ampla quanto a verdade o é. Para que tudo isso fique mais claro, você pode acompanhar abaixo um quadro comparativo dos modelos criacionista e evolucionista. O que surpreende

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Ilustrações: Rogério Chimello

Lembra-se do exemplo do bolo da tia Matilde? A ciência (método) pode explicar o como das coisas, mas o naturalismo tenta nos fazer crer que o bolo simplesmente surgiu, sem um propósito aparente. Porém, a tia Matilde insiste em dizer que fez o bolo para o filho, porque ele está de aniversário. Cientistas criacionistas respeitam o método científico e procuram trabalhar com essa

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Roma é pop

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Exposição temática no Masp revela os bastidores do mais duradouro império do mundo

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Imagens: Fotolia

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Ilustrações: Rogério Chimello

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úlio César tem cara de poucos amigos. Mas é ele quem faz as honras da casa na megaexposição “Roma – A Vida e os Imperadores”, em cartaz até 22 de abril no Museu de Arte de São Paulo (Masp). Colossal, a cabeça da estátua de 5,20 m de um dos maiores líderes do Império Romano (c. 98-117 d.C.) está exposta logo de cara no amplo salão, que reúne 370 peças originais vindas diretamente da Itália. Só não espere uma sequência exaustiva de bustos de imperadores ou poderosos. A grande sacada da mostra é relembrar a saga de uma das mais importantes civilizações do mundo principalmente pelos olhos de cidadãos anônimos. “Queríamos representar o poder e a vida cotidiana dos romanos e mostrar como eles conseguiram se perpetuar no poder por tanto tempo e estender seus domínios por quase toda a Europa, norte da África e parte da Ásia”, diz o curador Guido Clemente, professor de História Romana na Universidade de Florença.


Figurar nos trending topics da Antiguidade foi moleza para Roma. Desde que Rômulo matou Remo e fundou a cidade, segundo a lenda, o Império desenvolveu a manha de incorporar os povos conquistados às suas tradições e, ao mesmo tempo, assimilar aspectos dos povos vencidos. No campo da religião, por exemplo, inverteu a lógica da imposição. Os romanos introduziram, sim, os cultos a Júpiter, Vênus e Diana, mas também toleravam outras divindades. Em alguns casos, tinham tanta “boa vontade” que integravam a seu panteão figuras de outras religiões, como a estátua da deusa egípcia Ísis (II séc. d.C.). Na política, Roma desprezava a célebre democracia ateniense. “Porém, incluía os estrangeiros em sua cidadania. Mesmo os escravos, quando libertados, podiam se incorporar à sociedade”, contrapõe Clemente. Algumas peças da exposição mostram que o povão também tinha direito a ser eternizado em esculturas,

como a Cabeça de Negro (II séc. d.C.), que retrata um escravo liberto, e a Cabeça de Dácio (sem data), de um homem de feições orientais. O governo do imperador Sétimo Severo, entre 193 a 211 d.C., é um dos símbolos máximos do caldeirão de etnias. Para começar, ele nasceu em uma província africana e não tinha ascendência romana. Como esposa, escolheu a princesa síria Júlia Domna. Ao aportar em Roma, a estrangeira trouxe na bagagem várias perucas coloridas frisadas – aquelas reprovadas pelo apóstolo Paulo (1Tm 2:9-10) –, que, rapidamente, viraram moda. Dê uma espiada na mulher anônima retratada em Cabeça com Peruca Removível (Idade Severiana).

Cotidiano A vida cosmopolita também se manifestava na arte e na cultura. Dos gregos, os romanos herdaram o gosto pelas artes cênicas. Eles assimilaram as máscaras teatrais, mas alteraram “um pouquinho” a função

dos teatros: os palcos se transformaram em arenas, onde gladiadores e feras exóticas lutavam para bancar a diversão da elite. “Roma também importa da Grécia a técnica de escultura, porém, em vez de romantizar as feições dos imperadores, desenvolve o retrato realista”, diferencia Clemente. Realistas, sim; fracas, nunca. A expressão guerreira da estátua de 2,20 m do imperador Calígula (I séc. d.C.) não deixa dúvidas: Roma se achava maior do que tudo. E o que dizer dos objetos do cotidiano dos romanos? A mostra traz desde primitivos aparelhos de aquecimento banho-maria, castiçais, lamparinas – que poderiam ter sido usadas pelas dez virgens (Mt 25:1-13) – e jarros de prata e terracota – iguais aos utilizados nas bodas de Caná (Jo 2:1-11). Do Egito, o Império trouxe a técnica da produção em vidro – a exemplo dos singelos unguentários, idênticos aos que, provavelmente, circularam no enterro de Lázaro (Jo 11:1-45) – e a inspiração para o design de joias, com representações de esfinges.

Assim como na história, na Bíblia, Roma tem grande destaque. O Livro Sagrado previu o surgimento, a força e o declínio do império (Dn 2), criticou os aspectos imorais de sua cultura (Rm 1:21-32); e relacionou sua trajetória a um sistema religioso que misturaria cristianismo com paganismo (Ap 12 e 13). Mas, talvez, o que mais impressiona, é que em apenas nove versos e na figura de uma estátua, a Bíblia descreveu os últimos 2.600 anos de história. Nessa descrição, Roma não seria eterna.

Montagem sobre imagens de Fotolia e Arquivo do Museu Nacional Romano

Ilustrações: Rogério Chimello

Pernas de ferro, pés de barro

Cabeça com peruca removível abr-jun 2012

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Gentileza imperialista

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________ Editor

Cabeça de Dácio

Jornalista fmt_news@yahoo.com.br

Unguentário

________ C.Qualidade ________ Depto. Arte

Fernando Torres

Montagem sobre imagens de Fotolia e Arquivo do Museu Arqueológico Nacional de Florença

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(pontífice máximo), usada até hoje para designar o papa. O próprio cristianismo, aliás, nasceu nas províncias do Império. Não por acaso, os Estados Unidos se apropriaram do símbolo das legiões romanas, a águia, um ícone subliminar da política imperialista. Contudo, esse reino, assim como todos os que vieram depois de Roma, tem pés de barro. “A ideologia norte-americana pode até ser parecida com a dos romanos, mas a realidade, não. Os Estados Unidos nunca serão um império, o único poder do mundo”, pondera Clemente. Mas isso, já é outra história.

Montagem sobre imagens de Fotolia e Arquivo do Museu Arqueológico Nacional de Florença

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Mas um dia as pernas de ferro de Roma começaram a fraquejar. “Foi justamente ao perder a capacidade de sincretismo, a partir do século III d.C. que o Império começou a decair”, aponta José Eduardo de Lima Pereira, presidente da Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte, e um dos principais responsáveis pela vinda da exposição ao Brasil. O legado, porém, persiste até hoje. Anote aí: foi o direito romano que constituiu o conceito de habeas corpus, por exemplo, embora o termo só tenha sido legitimado na Inglaterra, no século XIII. A autoafirmação divina dos imperadores também originou a expressão pontifex maximus

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Imagem: Arquivo do Museu Nacional de Nápoles

Declínio do império


Água e fogo Em 79 d.C., as lavas do vulcão Vesúvio destruíram a cidade de Pompeia. Restaram as ruínas destas paredes pintadas à mão para contar a história, os afrescos de Terzigno. Nessa arte, as cores são diluídas sobre uma parede mural com a argamassa ainda fresca.

Dona Lívia e seus dois maridos Lívia era casada com o patrício Tibério Cláudio (com quem gerou o futuro imperador Tibério), mas caiu nas graças do imperador Augusto, rival de sua família. Em 39 d.C., o divórcio e o casamento foram viabilizados como parte do acordo de paz.

UFC romano Também chamados de provocatores, os gladiadores serviam como entretenimento para os romanos. Para se proteger das feras e dos adversários, eles usavam elmo na cabeça, galerus nos braços e schinieri (espécie de joelheira) até as canelas.

O insano

A cidade de Éfeso, na Turquia, uma das maiores cidades do Império Romano, era foco de adoração da deusa Diana, suposta protetora das selvas, como citado em Atos 19:34-35. O apóstolo Paulo combateu seu culto entre os cristãos recém-convertidos.

Iluatrações: Rogério Chimello

Falsa deusa

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O imperador Nero, aquele maluco que incendiou Roma e botou a culpa nos cristãos, não era adorado por ninguém. Quando morreu, em 68 d.C., seus inimigos mandaram destruir todas suas estátuas. No Masp, está exposta uma das poucas que sobraram.

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O mundo sem religião Você já imaginou o paraíso sem Deus? John Lennon sim

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Ilustração: Thiago Lobo

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m repórter americano embarca de volta para os Estados Unidos quando o regime sanguinário do ditador Pol Pot passa a perseguir e matar todos os opositores. Seu amigo cambojano é preso e forçado a entrar no sistema de reeducação do novo governo. Esse é o enredo do filme Os Gritos do Silêncio (1984), que mostra como a insanidade belicista poderia ser curada por meio da fraternidade entre as pessoas. Parece um sonho, mas se todos se unirem, o mundo poderá viver sem divisões, como se fosse realmente um. Eu também gostaria que fosse assim. E o John Lennon também. Esse verso está na canção ouvida no fim do filme: Imagine. Só há um problema. Não com a bonita melodia da música. Não com as boas intenções do filme ou do compositor, já que a letra de Lennon almeja um mundo sem cobiça, sem o imperialismo assassino, sem os motivos torpes para matar e também sem motivos pelos quais morrer (“nothing to kill or die for”, diz a letra). A questão é outra, e está no próximo verso dessa canção: “Imagine que não há nenhum paraíso, é fácil se vo20

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cê tentar; imagine que não há inferno e que acima de nós exista só o céu”. John Lennon queria o céu, mas não o Céu. Imaginava um paraíso terrestre, e não o Paraíso celeste. Ao compor essa música, talvez ele tivesse em mente a intolerância e a violência de sistemas religiosos que mataram em nome de Deus e de Alá, porque mais à frente a letra diz: “Imagine que não há mais religião”. Nos anos 1970, Lennon vivia uma fase família, pacífica e pacifista. Portanto, ele imaginava um mundo sem religião ou sem um certo tipo de religioso? Ao denunciar as chacinas de Pol Pot, o filme utiliza a canção Imagine, que se tornou uma espécie de hino pela fraternidade, que sonha com um mundo de paz, mas sem religião. O regime de terror de Pol Pot preconizava um mundo sem Deus e sem fé. Ou seja, Pol Pot matava em nome de deus nenhum. No filme, as cenas de “reeducação” dos prisioneiros do governo cambojano mostram a tentativa de extirpar da mente das pessoas a ideia de qualquer religião. O comunismo soviético agiu da mesma forma. Quiseram sair da religião

para entrar na história. Mas entraram na história do campo de concentração e da repressão facínora. Escritores que promovem o ateísmo, como Sam Harris e Richard Dawkins, também imaginam um mundo sem religião. Ao procurar demonstrar que as religiões seriam a raiz de todos os males, esses autores não explicam o fato de que os regimes políticos que almejaram um mundo sem fé e sem fiéis, não só tiraram a liberdade de culto e de expressão das pessoas, como também lhes tiraram a vida. Ninguém mediu o tamanho da alcateia em pele de ovelha que tem tratado o cristianismo como balcão de negócios, como tribunal de censura, como cartola para mágicos da fé. Por isso, o cristianismo prediz um Paraíso no Céu e não na Terra. Já o comunismo lutava para ver a classe operária chegando ao paraíso das conquistas sociais. O capitalismo se contenta em ver todas as classes chegando ao paraíso das compras. E o ateísmo gostaria de chegar a um paraíso sem o Paraíso. Joêzer Mendonça

Doutorando em Musicologia pela Unesp e regente de coral em Curitiba, PR. joezer.7@gmail.com

N v


Nota verde

Coleta de óleo de cozinha, reflorestamento e blitz ecológica. Os projetos que tiraram a sustentabilidade da lousa

por Charlise Alves, Leonardo Siqueira e Rosemeire Félix

radores ficavam surpresos ao saber que havia um ecoposto para a coleta de óleo de cozinha bem pertinho da casa deles”, lembra Eduardo Costa, hoje estudante de Análise de Sistemas.

Continuidade Na avaliação da professora Mariângela Ávila, a proposta sensibilizou os alunos e os levou a ações concretas. “A proposta partiu de uma prática afetiva para uma mobilização efetiva. Eles precisaram se envolver e abraçar a causa para, a partir de então, gerar a mudança que gostariam de ver na sociedade”, reflete. Os resultados desse envolvimento já podem ser vistos no dia a dia dos alunos. “Meu pai tinha o costume de misturar todo o lixo. Agora, separamos o que é orgânico e damos um fim correto ao lixo que produzimos”, comenta a ex-aluna

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do óleo de cozinha e de lâmpadas fluorescentes. Por isso, decidimos nos organizar e orientar a comunidade”, relata a ex-aluna Jéssica Bittencourt, uma das estudantes envolvidas no projeto. No caso do óleo de cozinha, o correto é armazená-lo após seu uso, já frio, em garrafas do tipo pet, e entregá-lo em um ecoposto. O descarte correto do resíduo também evita a contaminação do esgoto. “Cada litro de óleo despejado no esgoto polui cerca de 10 mil litros de água”, informa a voluntária Júlia Campos, que também participou do projeto no ano passado. A proposta de conscientização ganhou força. A iniciativa foi divulgada em um shopping da cidade. “Procuramos a administração do shopping que, após saber que o projeto era inédito no bairro, abriu as portas para a gente. Muitos mo-

Ilustrações: Fotolia

O

que era para ser apenas uma atividade corriqueira da aula de Biologia ultrapassou os limites da escola e se transformou em um projeto pioneiro para a comunidade. Orientados pela professora Mariângela Ávila, alunos do terceirão do Colégio Adventista Marechal Rondon (Camar) pesquisaram as principais necessidades da população porto-alegrense. E, depois de um período de apresentações e discussões em sala de aula, resolveram incentivar a comunidade a adotar práticas menos agressivas ao meio ambiente. “A gente percebeu que, de uma forma geral, a população ainda não sabe como funciona a coleta automatizada de lixo orgânico domiciliar, sistema implantado na cidade em julho de 2011. Além disso, os moradores demonstram dúvidas em relação ao descarte correto

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Leonardo Siqueira

A professora Patrícia Cavalheiro, consultora de educação ambiental da rede adventista gaúcha, coordena um grupo de pesquisa no Camar. Projetos já levaram estudantes da rede a apresentar trabalhos em feiras de iniciação científica

M

fize

ambiental”, explicou Roberto, que na época da plantação estava no 3º ano do ensino médio. Desde 2008, a SOS Mata Atlântica e o Unasp têm acompanhado o desenvolvimento das árvores. Este ano, além do plantio de mais três mil mudas em torno do lago, o projeto prevê a abertura de uma trilha na mata para que os alunos estudem a vegetação e avaliem o impacto do reflorestamento na vida de animais de pequeno porte e aves.

em

Blitz ecológica

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Impacto

AÇÕ

Se o problema do desmatamento não foi resolvido, pelos menos os aluColégio Israelita Brasileiro

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Quem vê o grupo de adolescentes conversando animadamente nos corredores do Colégio Adventista Jardim dos Estados (CAJE), em Campo Grande, não imagina que o tema da rodinha seja meio ambiente. O assunto do bate-papo foi o que motivou esses alunos a se envolver num projeto de conscientização sobre a preservação da fauna, flora e recursos naturais do cerrado. Todos os anos, as turmas do ensino médio se mobilizam para a defesa do meio ambiente. Em 2011, eles se engajaram na “Blitz Ecológica”, com o apoio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), parceiro do colégio há sete anos. Usando máscaras e pinturas no rosto, a turma saiu às ruas e distribuiu mais de mil mudas de árvores nativas do cerrado. O grupo orientou os motoristas sobre como plantar e preservar a vegetação. Alessandra Campana, professora de Biologia responsável pelo projeto, conta que a ideia surgiu durante o planejamento das aulas que abordariam vegetação nativa do cerrado e desmatamento. A ação recebeu o reconhecimento do poder público, rendendo ao colégio o prêmio “Ecologia e Ambientalismo – 2011”.

Ilustrações: Fotolia

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que continua este ano e pretende plantar mais três mil mudas no local. Segundo a coordenadora pedagógica do ensino médio da instituição, professora Maria Cristina Barbosa, o projeto foi criado por iniciativa do colégio quando foi descoberto que Hortolândia tinha índice próximo a zero de mata nativa. Plantar o futuro Em parceria com o Unasp, a engenheira florestal Carolina Mathias, da Fundação As 10 mil mudas de mata atlântica plantadas há quatro anos por alunos, SOS Mata Atlântica, conduziu um estuprofessores e funcionários do Centro do no local que revelou que o ecossisUniversitário Adventista de São Paulo tema apresentava evidências claras de (Unasp), campus Hortolândia, já atingi- devastação e desequilíbrio. Por isso, o ram mais de três metros de altura. O re- caminho foi restaurar a mata ciliar. florestamento das margens das nascentes A SOS Mata Atlântica doou as mudas e da área da instituição contribuíram para orientou o plantio. E o Unasp convidou os elevar o índice de mata nativa na cidade alunos das séries iniciais ao ensino médio e proteger as fontes de água. Realizado para colocar a mão na terra. Quase quatro em 2008, o plantio faz parte do proje- anos depois, as 10 mil mudas, de 30 esto “SOS – O Planeta Terra Pede Vida”, pécies, deram uma nova cara à paisagem próxima às 12 nascentes da instituição. Passando o bastão: Agora universitários, alunos pioneiros Para o aluno de Sistemas do ecoposto do Colégio Adventista Marechal Rondon voltaram à escola para incentivar a nova turma do terceirão de Informação, Roberto Momberger, ter participado do projeto trouxe muita satisfação. “Não foi somente um plantio de árvores, mas sim a retomada de um conceito muito simples que é a preservação da natureza. Preciso fazer minha parte em favor da conscientização Leonardo Siqueira

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Cristine Moreira. Em menos de seis meses, a iniciativa ganhou a adesão da escola e já faz parte do calendário oficial de atividades da instituição. Neste ano, os ex-alunos que deram início ao projeto estão incentivando os novos colegas a abraçar a causa.


MS: caracterizados, alunos

De cara nova: plantio de 10 mil

fizeram uma blitz ecológica

mudas transformou a paisagem de

em parceria com o Ibama

nove hectares do campus do Unasp,

Rosemeire Félix

Oséias Sallazar

em Hortolândia, SP

AÇÕES SUSTENTÁVEIS

sos conscientemente, precisamos repor aquilo que for possível, como, por exemplo, replantando árvores”, avaliou o estudante. Para Artur Zanelatto as ações individuais precisam ser

Separamos abaixo alguns projetos que sairam do papel e estão gerando impacto positivo de conscientização e transformação da comunidade. Todos eles são realizados por escolas adventistas.

Energia. Em Hortolândia, SP, placas supersensíveis absorvem o calor do sol, vento, chuva e brisa e aquecem o gás que garante o abastecimento de 39 chuveiros e o banho quente de 200 alunas do internato adventista.

Arte. Em Fortaleza, as aulas de arte transformam lixo reciclável em brinquedos e utensílios domésticos.

Boa troca. Na região central da Bahia, os boletos e carnês em papel foram substituídos pelo débito em conta. Além disso, os produtos de limpeza tradicionais foram trocados por biodegradáveis. Lixo eletrônico. Em Porto Alegre, as escolas adventistas recebem equipamentos eletrônicos sucateados, como computadores usados, e os encaminha para empresas especializadas nesse tipo de reciclagem.

Praças. Também na Capital gaúcha, os estudantes adotam espaços públicos abandonados e aproveitam as aulas de ciências para aprender como reorganizar esses ambientes

Ilustrações: Fotolia

do projeto, Ana Carolina Ribas e Jefferson Recalde influenciaram suas famílias a separar o lixo reciclável do orgânico. “Acredito que esse já foi um passo importante”, argumentou Ana. Para Francyele Moura, todos devem fazer algo para preservar o planeta. Além de carregar uma sacola na bolsa para colocar lixo e descartá-lo em casa, Franciele vigia os colegas para que coloquem o lixo no cesto.

Saúde. Na região metropolitana de Porto Alegre, os alunos das séries iniciais transformam garrafas pet em armadilhas para mosquitos da dengue.

Patrimônio. Em Novo Hamburgo, RS, caixas de leite viraram uma submanta utilizada para eliminar as goteiras no telhado da quadra de esportes. O mesmo projeto será implementado este ano em Viamão.

Fonte: Charlise Alves, Thais Firmino, Murilo Lélis e Patrícia Cavalheiro

Colégio Israelita Brasileiro

ECOCIDADE No Colégio Israelita Brasileiro, em Porto Alegre, os princípios do judaísmo, da sustentabilidade e do empreendorismo são a base da cidade-laboratório construída na escola. Lá, os alunos aprendem sobre cidadania, religião, política, economia e ecologia. A cidade de 500 m2 tem centro cultural, sinagoga, mercado, prefeitura e, lógico, espaço para o verde. Chamada de Ir Ktaná (pequena cidade), o ambiente é inspirado na cidade de Sfat, no norte de Israel. Esse colégio ainda se destaca pela criação da ONG Patrulha Ecorresponsável. Formada por alunos, a ONG supervisiona, ensina e divulga atitudes relacionadas à consciência ecológica

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nos mostraram ter aprendido uma lição. Para Jefferson Recalde, o uso consciente dos recursos naturais, como a água, madeira, entre outros, deve ser enfatizado. “Além de usar esses recur-

incentivadas. “Se o poder público intervém, a ação se torna obrigatória. O ideal é agir por consciência e não por obrigação”, explicou. “Não podemos pensar apenas em preservar o mundo para nossos filhos, mas prepará-los para preservar o planeta”, completa o aluno. Algumas mudanças pessoais e nos hábitos da família mostram que o grupo encarou o assunto com seriedade. Depois

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O impasse americano 25594 – Conexão JA 02/2012

Os Estados Unidos atravessam uma das fases mais difíceis de sua história. Entenda o que está por trás disso e como o declínio americano pode afetar o mundo

Imagens: Fotolia

por Diogo Cavalcanti

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Imagens: Fotolia

Talvez fosse só aparência, talvez fosse um castelo de cartas.’” Para Zakaria, assim como para outros especialistas, o mundo entrou em uma nova era, multipolar (dirigido por vários polos ou potências), plana (de mais igualdade entre os países) e pós-americana. Esse novo mundo abre alas para uma nova superpotência: a China. Com um bilhão de habitantes a mais em relação aos Estados Unidos, a economia chinesa emerge há mais de uma década numa velocidade incrível de dois dígitos por ano. O país se tornou recentemente o maior produtor industrial, exportador e a segunda maior economia do planeta, ultrapassando o Japão em 2011. Esse crescimento espetacular associado à crise financeira levou o Fundo Monetário Internacional a refazer os cálculos no ano passado e prever que até 2016, a China poderá se tornar a maior potência econômica mundial, à frente dos EUA. Essa percepção tem feito políticos, acadêmicos e analistas estremecerem, principalmente, nos Estados Unidos. Há apenas dez anos, a economia chinesa era oito vezes menor que a americana, e hoje cresce no retrovisor, pedindo ultrapassagem. Ainda mais grave para os americanos é a impressão de que seu país está “diminuindo” em relação ao mundo. As dúvidas, portanto, são até que ponto a impressão é real e que efeitos o declínio americano e a ascensão chinesa terão para o mundo.

Crise de realidade Na grande mídia, na internet e nas prateleiras das livrarias, o tema tem sido um campo de batalha. Títulos como

The Post-American World 2.0 (O Mundo Pós- Americano 2.0), de Zakaria, e o nostálgico That’s Used to Be Us (Assim Costumávamos Ser), do premiado jornalista Thomas Friedman, são exemplos. Outros são mais fervorosos na defesa da honra americana. Destaque para o recente The World That America Made (O Mundo que a América Criou), de Robert Kagan, historiador, comentarista político e assessor do précandidato republicano à presidência, Mitt Romney. No livro e fora dele, Kagan troveja contra os “declinistas”. Aliás, “declinista” é um rótulo mortal em tempo de eleições. É evidente que não só os EUA, mas seus principais aliados europeus e o Japão sofrem a pior crise econômica desde os anos 1930. Em contrapartida, as potências emergentes, como China, Brasil, Índia, Turquia e África do Sul, não sentiram tanto o efeito da crise, e o abismo econômico entre ambos os blocos diminui cada vez mais. A ascensão dos emergentes tem gerado mais discordância sobre os assuntos internacionais. Embora os EUA, mesmo em seu “auge”, nunca tenham conseguido apoio para muitos de seus projetos, a dificuldade hoje parece ser maior. As relações mundiais tornaram-se mais complexas e menos determinadas pelos americanos. Por outro lado, mesmo nesse mundo multipolar, a maioria dos especialistas acredita que os Estados Unidos ainda serão uma força predominante, devido ao seu poderio econômico, militar e, principalmente, por seu softpower. “Para mim, sem dúvida, os EUA continuarão a ser o país mais poderoso do mundo”, afirma Zakaria. “Iremos apenas dividir esse espaço. Por que digo isso?

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A

pós o colapso da União Soviética, os Estados Unidos entraram nos anos 1990 como superpotência isolada, o triângulo hegemônico sobre a pirâmide da nota de um dólar. O analista político Francis Fukuyama chegou a declarar “o fim da história”, em que a vitoriosa América seria a líder incontestável de um mundo cada vez mais democrático e liberal. Mas esse “fim” deu lugar a um novo começo. Quando o primeiro avião atingiu a torre norte do World Trade Center, iniciou-se de fato o século 21. O choque despertou uma fúria desproporcional (Afeganistão, Iraque), seguida de um declínio em relação aos princípios fundadores da nação (Abu Graib, Guantânamo, Patriot Act) e um grave descuido da economia interna. Até que, em outro fatídico setembro, dia 14, ano 2008, o alicerce financeiro do Ocidente rico desabou, começando pelos Estados Unidos. A superpotência já não era mais a mesma. De lá para cá, os Estados Unidos se viram mais contestados internacionalmente, acredita Fareed Zakaria, editor da revista Time, apresentador da rede CNN e um dos mais influentes consultores internacionais. Em entrevista à emissora Globo News, ele afirmou: “Há uma deslegitimação dupla do poder americano. A guerra do Iraque deslegitimou seu poderio político-militar. E a crise financeira foi mais devastadora. Ela deslegitimou seu poder econômico. A maioria pensava que os EUA eram a melhor economia do mundo. A mais desenvolvida, a mais dinâmica e com a indústria financeira mais desenvolvida do mundo. A crise fez várias pessoas pensarem: ‘Espere aí.

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Os EUA ainda têm a economia mais dinâmica e diversificada. São um país com muitas inovações, vindas de todos os setores privados”, justifica. Contudo, parece que os próprios americanos não se enxergam mais no topo. Sentem-se diminuídos. Numa pesquisa realizada pelo Pew Research Center em 2009, 44% dos americanos afirmaram que a maior potência econômica do mundo era a China, contra os 25% dos que acreditavam serem os EUA. A massa americana está mais preocupada com a situação do país do que com sua projeção externa. De acordo com outra pesquisa, encomendada pela revista Newsweek em 2011, 91% dos americanos acreditam que a nação falhou em lidar com seus problemas. Lá, a taxa de desemprego (8,3%;no Brasil são 5,5%), a criminalidade, o acesso à saúde, as escolas falidas, a poluição, a cultura vulgarizada e a infraestrutura decadente são as maiores preocupações. Ainda existem outros problemas sérios, como a perda de competitividade comercial e a astronômica dívida pública de 14,5 trilhões de dólares somada a 1,3 bilhão de dívida fiscal. “Após quase um século, os

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Candidatos? Analistas apontam que, se a economia e a influência americanas se enfraquecerem criticamente, o país não poderá sustentar seu alcance militar global. “Se o poder americano declinar, esta ordem mundial declinará juntamente. (...) O declínio americano, se for real, significará um mundo diferente para todos” – defende Kagan.2 Sem os EUA ou um substituto à altura, entraríamos num “século de ninguém”, afirma Roger Cohen, colunista do jornal The New York Times. Seria a “Era da Ansiedade”, acredita Gideon Rachman, chefe da seção internacional do jornal Financial Times e autor do livro The Zero Sum (A Soma Zero). Faltam substitutos à altura. Nem mesmo a China preenche as condições mí-

nimas.“ A China é ainda um país muito pobre. (...) O foco de qualquer governo chinês estará sempre no espaço doméstico, no crescimento econômico interno, não na projeção de seu poder no mundo”, analisa Michael Mandelbaum, professor de política externa na Universidade Johns Hopkins e coautor do best-seller How America Fell Behind in the World It Invented (Como a América Ficou Para Trás do Mundo que Ela Inventou).3 Sem a hegemonia americana, completa Mandelbaum, “haverá mais desordem no mundo. Não chegará ao caos. Mas, onde os EUA não puderem mais intervir, haverá desordem. O custo da liderança atrofiada será pior para o mundo do que para os Estados Unidos.” Aliás, a China também não navega num mar de rosas. Os avanços de sua abertura econômica e a ascensão de uma classe média mais informada e questionadora podem elevar as pressões por mais representatividade política e liberdade de expressão. Os próximos anos também serão decisivos no comércio internacional, cada vez mais resistente aos produtos chineses, forçando o dragão exportador a olhar mais para o mercado interno.

CRISES E SUPERAÇÕES Em todas as fases de sua história, os EUA se viram ameaçados por fatores internos e externos, mas sempre os superaram. Hoje, novas ameaças pairam sobre o país, que busca redenção mais uma vez Imagens: Wikipédia

________ Editor

1776

1861-1865

Anos 1930

1942-1

Revolução Americana Com pás, enxadas, alguns “brinquedos” franceses e muita fé em Deus, colonos expulsam o exército mais bem equipado da época e fundam os Estados Unidos da América.

Guerra de Secessão Depois de um conflito que quase dividiu o país, os EUA saíram mais coesos e preparados para ascender economicamente.

New Deal O presidente Roosevelt lidera a recuperação da maior crise econômica da história do país, por meio de seu plano New Deal (Novo Acordo).

Segunda Os EUA ve militares anos vasta

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Estados Unidos não mais têm o dinheiro”.1 Enquanto isso, a China tem a reserva nacional: algo em torno de 2,5 trilhões de dólares, o equivalente a um Brasil no bolso. A fonte secou. Por esses e outros motivos, milhares de americanos saíram às ruas pela primeira vez, ocupando Wall Street e centenas de outros locais.

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Os culpados Se os Estados Unidos enfrentam sérios desafios no cenário internacional, os maiores, sem dúvida, estão no front doméstico. Todos os especialistas apontam para os políticos como o câncer do país. Há uma atmosfera tão tóxica em Washington, que impede a solução até dos problemas mais urgentes. Os políticos discordam acidamente sobre qualquer coisa e não conseguem fazer frente às questões nacionais.

Em The Audacity of Hope, livro escrito por Barack Obama ainda enquanto senador, ele descreve o quadro: “Não, o que é perturbador é o abismo entre a magnitude de nossos desafios e a pequenez de nossos políticos – a facilidade com que nos distraímos com o pequeno e trivial, nossa fuga crônica de decisões difíceis, nossa aparente inabilidade de construir um consenso para resolver qualquer grande problema.”4 Um exemplo escandaloso dessa disfuncionalidade política foi a resistência dos republicanos à extensão do limite da dívida americana, quase provocando um calote gratuito em 2011, prejudicando ainda mais a imagem americana no exterior. A mudança deve ser urgente. “Se não mudarmos logo o curso, poderemos ser a primeira geração em um tempo muito longo que deixará após si uma América mais fraca e mais fraturada que jamais foi herdada”, alerta Obama em seu livro. Essa urgente mudança de curso deve envolver não apenas a transformação do processo político, mas da própria estrutura de governo, concedendo mais representatividade ao povo.

Só para se ter uma ideia do anacronismo do sistema político americano, a Califórnia tem o mesmo número de senadores que Wyoming, estado 65 vezes menos populoso. Outro absurdo: um candidato pode perder as eleições para presidente, mesmo tendo a maioria dos votos, como ocorreu com Al Gore em 2000 – ele perdeu, mesmo tendo meio milhão de votos a mais que George W. Bush. É um sistema político tão atual quanto o da época de Thomas Jefferson, há 200 anos. Esse atraso político-institucional faz com que projetos que beneficiariam dezenas ou centenas de milhões de americanos sejam engavetados apenas porque senadores de estados pequenos os vetam. É como um ônibus em que cada passageiro tem um breque e pode parar o veículo quando quiser.5 Assim, o ônibus, ou melhor, a superpotência, simplesmente não anda. É unânime a opinião – de CEOs a estudantes – que somente uma revolução, uma virada de mesa nacional pode salvar os Estados Unidos não só da perda da hegemonia, mas da completa falência do país, como tantas vezes já ocorreu no passado (veja o quadro “Crises e superações”).

1942-1945

1945-1989

Anos 1980

2012

Segunda Guerra Os EUA vencem as duas potências militares que dominaram por anos vastas regiões do mundo.

Guerra Fria Os EUA distendem ao máximo suas capacidades políticas, financeiras, militares e científicas para fazer frente aos soviéticos.

Mal-estar Após escândalos políticos e reveses no exterior, os EUA também entram em profunda recessão. É nesse momento que Reagan, com seu lema “America is back” (“A América está de volta”), lidera a recuperação nacional.

Declínio e impasse A América precisa de um milagre para se reequilibrar como nação e líder global. Um New Deal 2.0 e, quem sabe, uma China ajudariam.

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lidera crise país, w Deal

À China não interessa a falência americana, muito menos uma guerra. Por sua vez, os Estados Unidos podem obter grandes benefícios do desenvolvimento chinês. Os EUA são o maior cliente de seus produtos, bem como país estrangeiro que mais gera empregos e lhe transfere tecnologia. Também é a nação que mais deve à China (1,2 trilhão de dólares). Se os Estados Unidos caírem, a China e o mundo implodirão juntos. Seria o caos. “Acredito que a relação entre China e EUA está fadada a prosseguir nessa ‘terra de ninguém’, em algum lugar entre a amizade e a inimizade”, analisa Zakaria.

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FATOS SOBRE O PODER AMERICANO Produto Interno Bruto A soma das riquezas de um país

econômica mundial, os EUA

que o da China. Representa

EUA U$ 14,3 trilhões

incríveis 22% da economia mundial. China U$ 5,8 trilhões

Fonte: Fundo Monetário Internacional, 2010

O poderio militar americano é

PIB per capita A riqueza de um país dividida pelo número de seus cidadãos

têm um PIB de 14,5 trilhões de dólares, 2,5 vezes maior

Militar incomparável. Com um investimento anual estimado em cerca de 600 bilhões de dólares (sem contar a guerra no Afeganistão), supera t o d a s as demais potências somadas, e isso, consumindo apenas 4%

China: U$ 5.184

De longe, a maior potência

EUA: U$ 48.147

Econômico

de seu orçamento. O país tem bases em mais de 90 nações e dominam os mais avançados armamentos e técnicas de combate. É pioneiro no uso de aeronaves não tripuladas, chamadas de drones. Há milhares deles em ação, comandados por operadores numa base em Nevada.

país da internet, do GPS, do Google, do Facebook, Facebook da Apple, do Vale do Silício, etc. Isso ocorre graças ao ambiente de negócios amigável, à simbiose mercado-universidade e à liderança global em empreendedorismo criativo.

ELES ESTÃO PERDENDO A PACIÊNCIA...

Cultural

Pesquisa

O país também conta o seu

Das

magnetismo de seu softpower,

universidades do mundo,

uma capacidade de atrair o

18 são americanas. Das

mundo para seus valores de

50 melhores, 38 são dos

democracia, liberdade e consumo, especialmente pelos

EUA, de acordo com o instituto chinês Academic Ranking

meios de comunicação e o cinema. A China, por exemplo,

of World Universities (ARWU). É por isso que os Estados

já havia feito vários filmes sobre ursos panda, mas foi

Unidos atraem os melhores cérebros, e os que deixam suas

Hollywood que ganhou o mundo com Kung Fu Panda.

universidades formam líderes em todo o mundo.

91%

dos americanos acreditam que o país falhou em lidar com seus principais problemas.

54%

acreditam que a economia está piorando.

20

melhores

78%

Mariane Baroni / Imagens: Fotolia

Inovação Os EUA são o

creem que falta vontade nos políticos para mudar a situação.

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Grande parte dessa força vem da fé no excepcionalismo americano, em que os Estados Unidos são vistos pelos seus cidadãos como uma “nação sob Deus” (lema nacional), escolhida por Ele para uma missão em favor do mundo. Vanderlei Dorneles, doutor em ciências pela USP e autor do livro recém-lançado A Mitologia do Império, explica que os americanos “acreditam que o país tem uma missão divina, por isso creem que não só a estabilidade da nação, mas a do próprio mundo depende deles.” É exatamente a força dessa crença que fez a nação se reerguer no passado e pode fazê-lo agora. “A crença mobiliza forças internas que, numa situação comum, 28

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não poderia mobilizar. O efeito da fé é comprovado em pesquisas. Pessoas religiosas têm mais força para se recuperar de doenças. O mesmo ocorre com uma nação que crê numa determinada mitologia ou religião”, explica. Ao longo da história, impérios surgem e se desintegram. Estudiosos, mesmo os mais nacionalistas como Kagan, concordam que os Estados Unidos não serão uma exceção. A questão é: chegou a vez dos EUA? A resposta mais prudente é: talvez. Tudo depende do povo americano, mas, especialmente, de seus líderes. A ascensão de outras potências não representa maior ameaça do que as mazelas internas da nação. Os próximos

anos dirão se a América foi capaz de reagir e vencer mais uma vez. Referências 1 James Bradford DeLong e Stephen Cohen. The End of Influence. Citado por James Fallows, no artigo: “How America Can Rise Again”. The Atlantic Magazine. Disponível em: http://goo. gl/QJs1J 2 Robert Kagan. “Not Fade Away: Against the Myth of American Decline”. Ensaio publicado no periódico The New Republic Magazine. Disponível em: http://goo.gl/JoeSw 3 Declaração concedida em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Disponível em: http:// goo.gl/Xwn3Q 4 Barack Obama, The Audacity of Hope, p., 22. Tradução do autor desta matéria. 5 Ibid. A analogia do ônibus foi criada por Michael Keeley, ex-vice-prefeito de Los Angeles, citado no artigo de Fallows.

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*Horá

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Imagens: Fotolia e Wikipédia

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Fonte: Pesquisa encomendada pela revista Newsweek e publicada na edição de 19/09/2011

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A voz de Deus Ele costuma falar, quando você está disposto a ouvir

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ocê já ouviu a voz de Deus? Já imaginou como seria ouvi-Lo falar? “Pastor, eu oro mas não consigo ouvir ou discernir a resposta de Deus.” Essa é uma das frases que mais escuto quando jovens questionam a relevância da oração e me interrogam se vale a pena pedir a orientação de quem não veem. Tudo seria mais simples se Ele simplesmente falasse claramente. Mas seria audível? Apenas uma impressão na mente? E como saber se é realmente Ele ou imaginação? Um dia decidi ouvir a voz de Deus e elaborei um plano. Viajei para Minas Gerais determinado a passar três dias nas montanhas para discernir a vontade dEle para mim. Na bagagem, levei apenas uma barraca, a Bíblia, água e frutas. A ideia era silenciar todas as outras vozes e no sossego da natureza estabelecer intimidade de Deus. É interessante observar que em Hebreus 1:1, a Bíblia afirma que Deus falou “muitas vezes” e de “muitas maneiras”. O retrato pintado pelo Livro Sagrado é do Deus que procura adoradores, do Deus que deseja ser encontrado e provar intimidade com Seus filhos. Deus fala. Sua essência é a revelação e o relacionamento. Muitos já afirmaram ter ouvido essa voz, mas esse relacionamento só é desfrutado em reciprocidade. Se Ele fala, alguém tem que ouvir. E ouvir, exige prioridade. No capítulo 3 do livro de 1 Samuel, Deus opera uma mudança na maneira de tratar Seu povo. Até ali Deus havia falado a um velho sacerdote chamado Eli, mas devido à condição pecaminosa do povo e aos poucos dias de vida que restavam ao homem, Deus decidiu falar a um jovem que vivia no templo. Seu nome: Samuel. Por três vezes Samuel “escutou” uma voz, mas na quarta, após um conselho de Eli, decidiu “ouvir” e atender (“... então veio o Senhor, e pôs-se ali, e chamou como das outras vezes: ‘Samuel, Samuel.’ E disse Samuel: ‘Fala,

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porque o Teu servo ouve’” – v. 10). Até ali, a Bíblia relata que Samuel não conhecia a Deus (v. 7). Não conseguia discernir a voz claramente, não existia intimidade com o Deus que fala. Certa vez perguntaram à Madre Tereza de Calcutá porque ela gastava tantas horas em oração e o que ela falava com Deus. A madre respondeu: “Eu não falo nada, apenas escuto.” Porém, acrescentaram: “Então o que Deus fala com a senhora todo esse tempo?” Ao que ela respondeu: “Deus não fala nada, Ele apenas escuta também.” O maior grau de intimidade entre duas pessoas pode ser apenas o silêncio. O conhecimento que nos traz respostas e nos faz ser um com Ele é privilégio de quem aprende a ouvir e esperar, mesmo em meio ao aparente silêncio. Existe um mistério que sonda a oração. Não compreendemos quase nada sobre o milagre que é falar e ouvir o Deus vivo. Espiritualidade viva e real começa de joelhos. Não há outra maneira de ouvir a Voz em meio ao caos da vida que levamos. O convite é para ajoelhar-se, aquietar a alma e reconhecer a dependência da Voz. Há quanto tempo você não ouve Deus falar? Talvez você nunca tenha provado essa conexão direta e tem relutado provar. Talvez porque a resposta não lhe pareça audível. O meu desafio para você é buscar, ouvir, atender. Naqueles três dias nas montanhas, Deus confirmou meu chamado para ser pastor de jovens de uma forma totalmente inesperada, mas essa história fica para outro texto. O importante é que Deus falou comigo, porque eu estava pronto para ouvir. E você? “Vocês Me procurarão e Me acharão quando Me procurarem de todo o coração” (Jr 29:13, NVI). Felipe Tonasso

Formado em Música e Teologia, é pastor de jovens da Igreja do Unasp, campus Hortolândia (SP). felipetonasso@hotmail.com

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