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TEXTO E CONTEXTO: o mandamento bíblico para preservar a natureza P. 20
Abr-Jun 2019 – Ano 12 no 50
Exemplar: 9,50 – Assinatura: 30,20
ENTENDA. EXPERIMENTE. MUDE
CRIADOS PARA CUIDAR A responsabilidade socioambiental dos cristãos P. 10
ENTENDA A ERA DO ANTROPOCENO P. 8
SUSTENTABILIDADE: A HISTÓRIA DE UM CONCEITO P. 16
IMAGINE O BRASIL SEM A AMAZÔNIA P. 26
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Da redação
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Editor Wendel Lima
PLANETA RENOVADO Daniel Oliveira
NO LIVRO A Criação: Como Salvar a Vida na Terra (2006), Edward Osborne Wilson, biólogo norte-americano da Universidade Harvard (EUA), apelou para que cientistas céticos e líderes religiosos, apesar de suas diferentes visões de mundo, se unissem em favor da preservação do planeta. Segundo ele, ciência e religião são duas das maiores forças que existem para mobilizar a humanidade, e elas deveriam ser usadas para salvar nossa “casa”. Apesar de discordar da visão evolucionista do autor, penso que a proposta dele nos ensina duas lições. A primeira é que, se um cientista não religioso precisa apelar para que os cristãos cuidem da natureza, talvez nosso testemunho esteja comunicando que não levamos isso muito a sério. A segunda lição é que o cristianismo atual talvez inspire pouco seus adeptos a zelar pela natureza porque sua visão a respeito do futuro está distorcida. Conforme escreveu o apóstolo Pedro, a expectativa em relação à vida futura molda nossa atitude na vida presente (2Pe 3:9-13). Nesse sentido, muitos cristãos precisam ajustar seu foco quanto ao que a Bíblia diz ser a vida eterna. Costumamos ouvir que Céu e Terra estão em oposição. Enquanto o primeiro é retratado como o local da habitação de Deus e o futuro endereço dos salvos, o segundo é descrito como o território do diabo e um lugar de passagem que será destruído com fogo em breve. Apesar de essa distinção não estar totalmente errada, certas ênfases da argumentação nos levam a negar o valor do nosso planeta e a viver uma fé desencarnada. A grande narrativa bíblica nos apresenta que o conflito entre o bem (Cristo) e o mal (Satanás) iniciado no Céu (Is 14:12-15; Ez 28:12-17) foi transferido para a Terra por meio da queda moral de Adão e Eva (Rm 5:12). Essa decisão do primeiro casal trouxe consequências mortais para toda a humanidade, os demais seres vivos e o próprio planeta (Gn 3). Mas toda essa rebelião não pegou Deus de surpresa, pois, desde a eternidade (Mt 25:34), Ele já havia elaborado um plano de resgate, que incluiria o pagamento da dívida do ser humano (Jo 19:30), a vindicação do Seu caráter (Fp 2:10), a restauração dos relacionamentos rompidos (2Co 5:18, 19) e a destruição do mal (Ap 20:14,15). Portanto, quando a Bíblia fala da vida eterna, descreve uma realidade que será iniciada por mil anos no Céu (Ap 20), mas desfrutada, em sua plenitude, na Terra restaurada (Mt 5:5). Ou seja, o planeta que foi irresponsável e gananciosamente explorado pelo ser humano até agora, dando já sinais de esgotamento, será renovado e se tornará a sede do governo divino (Ap 21:22-27). Uma evidência textual disso, segundo ressalta o teólogo norueguês Sigve Tonstad, é que a promessa de “novo céu e nova terra” (Ap 21:1) foi registrada com o termo grego kainós e não neos. Isso significa que João não estava falando de algo “novo” em sua origem, distinto do anterior, mas de uma realidade superior, radicalmente transformada, de uma ferida que foi cicatrizada, da vida que surge de uma condição de decadência e ruína (Custodios del Planeta, Aces, 2016, p. 58-61). A Bíblia indica que temos uma relação profunda com a terra: nós e os animais fomos criados por Deus a partir dela (Gn 2:7, 19). Em hebraico, Adão (’adam) tem relação direta com terra (’adamah) e a cor vermelha (’adom). Portanto, a relação dos cristãos com a natureza pode mudar quando entenderem que o plano de redenção de Deus não inclui apenas a humanidade, mas toda a natureza (Rm 8:18-23). Logo, aqueles que passarem por uma renovação da mente (Rm 12:2) estarão alinhados com a missão divina de renovar o planeta. 2 |
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A OPINIÃO DE QUEM SEGUE E CURTE A REVISTA
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GLOBOSFERA
DOCUMENTÁRIOS, PROGRAMAS DE TV E CURSOS ON-LINE SOBRE RELIGIÃO E ECOLOGIA
8 ENTENDA 24 PERGUNTAS
A ERA DO ANTROPOCENO
PESQUISA EM ANIMAIS, GASTRONOMIA, ÁGUA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
32 APRENDA 33 NA CABECEIRA
5 AO
A AD DES
1
A CUIDAR DO SEU LIXO
LIVRO REFLETE POR QUE OS CRISTÃOS PRECISAM MUDAR SEU ESTILO DE VIDA
34 GUIA DE PROFISSÕES CONHEÇA A CARREIRA QUE TRABALHA PARA ALIVIAR E ELIMINAR A DOR DOS PACIENTES
16 ARTIGO
SUSTENTABILIDADE: A DEFINIÇÃO E HISTÓRIA DE UM CONCEITO
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... O BRASIL SEM A AMAZÔNIA
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A ADVOGADA QUE DEFENDE O DESCARTE RESPONSÁVEL
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CAPA
A RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DOS CRISTÃOS
Ilustração da capa: Gabriel Nadai
CASA PUBLICADORA BRASILEIRA
UE OS UDAR
Editora da Igreja Adventista do Sétimo Dia Rodovia Estadual SP 127 – km 106 Caixa Postal 34 – 18270-970 – Tatuí, SP Fone (15) 3205-8800 – Fax (15) 3205-8900 Site: www.cpb.com.br / E-mail: sac@cpb.com.br
SÕES
QUE AR
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Revista trimestral – ISSN 2238-7900 Abr-Jun 2019 Ano 12, no 50
Serviço de Atendimento ao Cliente Ligue grátis: 0800-9790606 Segunda a quinta, das 8h às 20h Sexta, das 8h às 15h45 Domingo, das 8h30 às 14h
20 TEXTO E CONTEXTO O MANDAMENTO BÍBLICO PARA PRESERVAR O MEIO AMBIENTE
28 MUDE SEU MUNDO
DESBRAVADORES: A GALERA QUE EXPLORA CORRETAMENTE A NATUREZA
Editor: Wendel Lima Editores Associados: André Vasconcelos e Márcio Tonetti Projeto Gráfico: Éfeso Granieri e Marcos Santos Designer Gráfico: Renan Martin Diretor-Geral: José Carlos de Lima Diretor Financeiro: Uilson Garcia Redator-Chefe: Marcos De Benedicto Gerente de Produção: Reisner Martins Gerente de Vendas: João Vicente Pereyra Chefe de Arte: Marcelo de Souza Colaboradores: Alexander Dutra, Almir Afonso Pires, Almir Augusto de Oliveira, Eder Fernandes Leal, Edgard Luz, Henilson Erthal de Albuquerque, Ivan Góes, Raquel de Oliveira Xavier Ricarte, Rérison Vasques, Rubens Paulo Silva e Vanderson Amaro da Costa Assinatura: R$ 30,20 Avulso: R$ 9,50 www.conexao20.com.br 9115/39408
30 LIÇÃO DE VIDA
A MENINA QUE DEIXOU A FAZENDA PARA SE TORNAR EDUCADORA AMBIENTAL
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita do autor e da editora.
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Informação Conectado & Opinião Ao ponto
Globosfera Entenda
SINAIS DO CRIADOR (P. 10-15) Achei relevante a matéria “Sinais do Criador”. Talvez hoje, mais do que nunca, o ser humano esteja em busca de descobrir sua origem e propósito de vida. À luz do relato bíblico da criação, eu encontro ambos! Neste mundo em que as identidades são voláteis, enxergo sinais que apontam para um Criador que me planejou e me criou com um nobre objetivo. Ao entender isso, a existência passa a ter sentido na medida em que eu ando com Ele e me submeto à Sua vontade para minha vida. Giancarlo Trevilato Novo Hamburgo (RS)
A FÉ É RACIONAL? (P. 16-19) Apreciei o modo com que o doutor Rodrigo Silva desconstruiu a ideia do senso comum de que fé é incompatível com a razão e a ciência. Isso precisava ser desmistificado, pois assim fica mais fácil desenvolver a fé verdadeira. Além disso, o texto destacou a triste realidade que os jovens universitários estão enfrentando em ambientes céticos, como a universidade. Por fim, a matéria me ajudou a compreender que a fé, além de ser racional, é sobrenatural. E isso não é contraditório. Alisson de Souza Loureno Sorocaba (SP)
Essa matéria levanta várias confrontações à nossa cultura eclesiástica. Se quisermos, como igreja, fugir do estereótipo de crédulos e ingênuos, precisamos fazer perguntas mais profundas. A dúvida sincera não precisa ser temida nem desencorajada. Ela nos ajuda a buscar respostas coerentes, e isso nos 4 |
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Homero Nascimento Gama (DF)
CALÇADA DA FÉ (P. 8-9) Em um passado recente, as pessoas pareciam mais preocupadas em “ter” do que em “ser”. Atualmente, creio que o foco permanece em si e em suas conquistas, mas agora a principal preocupação é “parecer que têm” e “são”. Na contramão disso, o autor do infográfico mostra que a motivação dos que entraram para a “galeria da fé” foi outra. Eles não apenas pareciam fiéis a Deus, mas o foram de fato. Por isso, seus atos não ficaram registrados numa calçada da fama terrena, e sim numa galeria celestial. O texto despertou em mim o desejo de imitar os “heróis da fé”, não buscando mera aparência, mas a essência da espiritualidade.
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Paulo César Martins Betim Santa Maria (RS)
APRENDA A VENCER O SEDENTARISMO A matéria me fez pensar naqueles meus amigos que estão recebendo acompanhamento especializado de um profissional da área de emagrecimento. Além de uma mudança nos hábitos alimentares e do suporte emocional, eles têm lutado contra o sedentarismo. A prática de exercício físico é o que mais tem feito diferença nesse processo.
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Pedro Henrique Santos Moura Varginha (MG)
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auxilia a entender que não devemos, necessariamente, travar uma guerra com argumentos acadêmicos para evangelizar alguém, mas sim, acima de tudo, pregar por meio de nosso exemplo.
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Ao ponto
Texto Wendel Lima Ilustração Marta Irokawa e Thiago Lobo
DESCARTE RESPONSÁVEL PATRÍCIA FAGA IGLECIAS LEMOS tem uma carreira sólida. Ela é professora da Faculdade de Direito da USP, instituição na qual conquistou todos os seus títulos acadêmicos. Especialista em consumo sustentável, sua atuação vai além da sala de aula e da teoria. É autora de livros e participante de reuniões na ONU sobre o futuro das cidades. Foi secretária do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (2015-2016) e atualmente é presidente da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo). Nesta entrevista, ela fala sobre nossa responsabilidade em relação ao lixo e o direito das próximas gerações de ter um meio ambiente equilibrado.
Quais são os grandes desafios da reciclagem no Brasil? Precisamos avançar muito nessa questão. Para tanto, é necessário unir as políticas públicas, ao investimento da iniciativa privada e à conscientização da população. No que cabe ao poder público, já temos a Lei 12.305/2010, que impõe a logística reversa, o que serve para baterias, pneus, eletroeletrônicos e muitos outros itens. Mas ter uma política pública eficaz, também é dispor de um sistema de coleta seletiva eficiente. E isso é responsabilidade das prefeituras. Que países são referência no cuidado com o lixo? A Alemanha, mas outros países europeus também se destacam. Na verdade, a destinação do lixo é uma preocupação da Europa desde a década de 1970. Até 2020,
eles querem atingir a meta de ter 50% das suas embalagens sendo descartadas de maneira adequada. Veja que eles levaram quase 50 anos para chegar neste nível! Por isso, não dá para mudar as coisas do dia para noite no Brasil. As leis precisam acompanhar a realidade de implementação. Em 2014, por exemplo, os lixões de todo o país eram para ter sido desativados, mas muitas cidades não tinham nem o plano de gerenciamento de resíduos. O jeito foi postergar esse prazo em nível nacional. Porém, no estado de São Paulo, não temos mais lixões e a Cetesb tem dado suporte técnico para que as prefeituras formem consórcios regionais, a fim de viabilizar a abertura de aterros sanitários que sejam econômica e ambientalmente mais sustentáveis.
Se é possível fazer dinheiro com o lixo, por que não temos mais pessoas investindo nisso? Nosso país é modelo em reciclagem de latinhas. Quase 98% do que produzimos são destinados adequadamente, mas nem todo item tem um bom valor agregado como o alumínio. A reciclagem fica mais comprometida ainda quando a população não separa o lixo de forma correta. Dependendo de como e onde ele for descartado, não dá para ser reutilizado. Outra atitude importante é priozirar produtos e embalagens que gerem menos impacto na natureza. Isso os europeus já têm levado a sério também. As novas gerações estão ecologicamente mais conscientes? Creio que sim, principalmente as crianças. Muitas delas é que educam os pais sobre esse assunto. Penso que no
futuro a mudança cultural vai exercer pressão maior do que a própria legislação. Por iniciativa dos meus alunos na USP, por exemplo, abrimos uma clínica de defesa ambiental, que presta consultoria para órgãos públicos. E agora vamos fazer uma cobertura viva no prédio anexo da faculdade de direito, no centro de São Paulo. A legislação ambiental brasileira é avançada? É muito avançada. Nossa Constituição Federal de 1988 foi a primeira no mundo a usar o termo meio ambiente. A preservação da natureza é um direito fundamental das gerações atuais e das futuras. Quem não nasceu ainda também tem o direito de herdar um ambiente equilibrado. Por isso, não podemos regredir no que já avançamos, pois seria colocar em risco o próprio direito à vida. ABR-JUN
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Texto Wendel Lima Imagens Adobe Stock
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PARA ASSISTIR Programas de TV: Origens: 16 episódios (28 min.) da temporada Terra Viva discute mudanças climáticas, sucessão ecológica e a interação humana com o mundo animal, vegetal e mineral (novotempo.com/origens).
Educação: três episódios (28 min.) da série Meio Ambiente mostram iniciativas de escolas adventistas nas áreas de economia de água, educação ambiental e reciclagem (novotempo.com/educacao)
Agenda 2030 em 3D Se você quiser entender quais são os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) lançados pela ONU em 2015, com a adesão de 150 países, acesse nossosobjetivos.com.br. A chamada Agenda 2030 inclui a erradicação da fome e pobreza, investimento em saneamento básico, a luta pela igualdade de gênero e o planejamento de cidades mais sustentáveis.
Documentários: a plataforma de filmes Videocamp disponibiliza produções independentes selecionadas pelo Circuito Tela Verde, um projeto do Ministério do Meio Ambiente (videocamp.com). Os documentários tratam de desafios sérios como a destinação do lixo e mobilidade urbana e de curiosidades sobre a diversidade ambiental do Brasil. Cursos on-line: as plataformas coursera.org e edx.org oferecem opções gratuitas das melhores universidades do mundo sobre temas como urbanismo e turismo sustentável.
PARA LER
Sustentabilidade na Universidade (Unaspress, 2015), 112 páginas, e-book gratuito com coletânea de artigos sobre experiências no Unasp (disponível em unaspress.com.br) 6 |
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Geoscience Research Institute (GRI): artigos acadêmicos em inglês e espanhol sobre ecologia e conservação, a partir de uma perspectiva criacionista (http://adv7.in/Ts)
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PARA PENSAR
6 mil
referências científicas
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autores, editores e colaboradores
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nacionalidades
42 mil
comentários para revisão Fonte: The Intergovernmental Panel on Climate Change (ipcc.ch)
iálogo Universitário: D revista disponibiliza artigos em português, escritos por pesquisadores adventistas do mundo todo, a respeito da relação entre religião e ecologia (http://adv7.in/Tt).
Não podemos resolver uma crise sem a tratarmos como uma crise. [...] E se não encontramos soluções nesse sistema, talvez tenhamos que mudar o próprio sistema. [...] Esgotamos as desculpas e estamos esgotando o tempo. Viemos aqui para dizer que a mudança está chegando, quer gostem ou não.”
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O relatório especial do sexto ciclo de estudos do The Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) da ONU, divulgado em outubro, indicou que precisamos reduzir em 45% as emissões de CO2 até 2030 e zerar isso até 2050. Veja alguns dados que mostram a seriedade do estudo:
Greta Thunberg, estudante e ativista sueca, então com 15 anos, em discurso crítico contra os governos representados na conferência da ONU sobre o clima, em dezembro, na Polônia. Ela defendeu que é preciso substituir urgentemente os combustíveis fósseis por fontes energéticas mais limpas.
O aquecimento global vai afetar muito fortemente o Brasil. Vai afetar milhões de brasileiros que vivem no Nordeste, transformando uma região que hoje é semiárida em desértica. A floresta amazônica também é um ecossistema que irá sofrer significativamente com o aumento da temperatura. E os grandes centros urbanos sofrerão com o aumento de eventos climáticos extremos, como inundações e grandes secas.” Paulo Eduardo Artaxo Netto, professor do Instituto de Física da USP e membro do IPCC, no Diálogo de Talanoa Sobre Mudanças Climáticas, em outubro, no Rio de Janeiro. Especialistas se reuniram para discutir o mais recente relatório do IPCC. abr-jun
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PARA SABER
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Entenda
Texto Guilherme Cavalcante Design Renan Martin
A ERA DO ANTROPOCENO O ÚLTIMO RELATÓRIO ESPECIAL publicado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), em outubro de 2018, confirmou os temores do mundo: o processo de mudança climática global deve seguir em estado quase irreversível nas próximas décadas. O relatório foi um apelo para que governos e população se mobilizem rapidamente a fim de conter o nível de aquecimento da Terra. Se antes a previsão de que a temperatura do planeta subiria 2ºC até o fim deste século gerava muita preocupação, a revisão desses cálculos agora mostra que podemos chegar em 1,5ºC já entre 2030 e 2052. Vale lembrar que essa variação de temperatura leva em conta o estado atual da Terra em comparação a como era o planeta em meados do século 19, na chamada era pré-industrial. O que chama a atenção no relatório também é a confirmação de que todo esse cenário sombrio tem como principal causa a ação humana. É por isso que a Comissão Internacional em Estratigrafia [ICS] e a União Internacional das Ciências Geológicas [IUGS] estudam se vão reconhecer o termo “antropoceno” como o nome da nova fase da história da Terra. Saiba o que isso significa.
O TAMANHO DAS NOSSAS PEGADAS
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COMO CHEGAMOS ATÉ AQUI?
A atividade humana no meio ambiente tem impactado a natureza desde que o ser humano habita este planeta. Porém, o que há de diferente, a partir da Revolução Industrial, é a intensidade dessas mudanças. Isso se explica pelo progressivo uso de combustíveis fósseis (carvão, gás e petróleo) e o crescimento atípico no nível de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera.
Se para os cristãos é possível ver as digitais do Criador na natureza, para os cientistas do IPCC, são claras as digitais do ser humano na mudança climática do planeta. Veja o tamanho dessas marcas.
1ºC foi quanto a temperatura global aumentou desde meados do século 19 até 2017. Isso parece pouco, mas a elevação de apenas 0,5ºC é capaz de dobrar a perda de habitat de algumas plantas, insetos e vertebrados.
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O QUE É?
A palavra “antropoceno” é a junção dos termos gregos antropos (homem) e koinos (novo). A expressão começou a ser utilizada nos anos 2000 para designar uma nova era geológica em que a influência humana se tornou o principal fator de mudança na estrutura do planeta.
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QUEM PODE MUDAR ISSO?
Se antes o cuidado do meio ambiente era uma preocupação apenas de especialistas, hoje a questão precisa mobilizar empresários, políticos, economistas, acadêmicos e a sociedade civil como um todo.
O QUE NOS RESTA?
Segundo o IPCC, o quadro é irreversível. O que pode ser feito é frear esse avanço, postergando e minimizando os efeitos do fenômeno.
é a meta para a redução de emissão de CO2 até 2030.
45%
70-85%
Ilustração: © macrovector | Adobe Stock
é a taxa que as energias renováveis (solar, eólica e biomassa) devem ocupar no fornecimento de eletricidade até 2050. O percentual atual é de 17%.
ntou Isso nas bitat ados.
de dólares é o investimento anual que precisa ser feito no setor enérgico até 2035.
411,24 ppm
100 milhões
(partículas por milhão) foi a concentração de CO2 registrada na atmosfera no ano passado, ou seja, 50% a mais do que o registrado na era pré-industrial.
é o número de pessoas que vivem em áreas suscetíveis a inundações ao redor do mundo. Caso o nível do mar continue a aumentar, a tendência é que esse número dobre até 2100. abr-jun
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Fonte: IPCC Special Report – Global Warming of 1.5 ºC (outubro de 2018)
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Interpretação Capa & Reflexão Artigo
Texto Thiago Basílio Colaboração Camila Torres Ilustrações Ilustração ??????? Gabriel Nadai
Texto e contexto Perguntas Imagine
CRIADOS
PARA CUIDAR O meio ambiente é constantemente atacado pelo ser humano, mas essa é uma atitude cara, incoerente, autodestrutiva e incompatível com a responsabilidade cristã
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ACHO QUE NINGUÉM ESPERAVA QUE ALGO do tipo acontecesse novamente em tão curto espaço de tempo. Além do choque, o desastre em Brumadinho (MG) despertou inevitavelmente tristes memórias da nossa história recente, quando, em novembro de 2015, uma barragem com dejetos de minério se rompeu, sepultando 19 pessoas e poluindo, não se sabe por quanto tempo, os 853 km de extensão do Rio Doce. Todo esse material foi levado pelo rio em seu curso, afetando o abastecimento de água para 3,2 milhões de moradores do interior de Minas Gerais e Espírito Santo, chegando até o litoral norte capixaba, onde deságua no Atlântico. Até hoje, muita gente sente o impacto dos incalculáveis e irreversíveis desdobramentos daquela situação. Contudo, pouco mais de três anos depois, o inacreditável acontece novamente. No mesmo estado, com a mesma empresa, tendo o mesmo estopim. A diferença? Desta vez a tragédia humana aumentou exponencialmente. Era hora do almoço no dia 25 de janeiro quando a barragem da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), se rompeu, soterrando com lama mais de 300 pessoas (197 mortes haviam sido confirmadas até o início de março). Nesse lamaçal de descaso, as respostas são poucas e as perdas incontáveis. Por quais motivos acidentes como esse ainda acontecem? Temos realmente a necessidade de explorar a natureza de forma inconsequente e destrutiva? Qual é nosso papel social e moral diante das emergentes e, muitas vezes, urgentes demandas da pauta ambiental? Tudo isso tem que ver com a manutenção da vida. E, se a existência é ameaçada, nosso dever sempre será procurar preservar os seres humanos e a criação como um todo. Afinal, fomos criados para cuidar (leia o artigo “Guardiões do planeta”, p. 20-23). DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Nos últimos anos, a ideia de sustentabilidade passou a dominar o debate público, principalmente porque relatórios científicos periódicos passaram a pintar um cenário catastrófico para o futuro da Terra, caso algumas medidas não sejam tomadas. Nesse contexto, a definição para desenvolvimento sustentável que se consolidou entre as ONGs e os organismos internacionais é abr-jun
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daquele que é “capaz de suprir as necessidades da geração atual, garantindo a capacidade de atender às necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro”. Para o jornalista Delton Unglaub, que é mestre e doutorando em Administração de Organizações pela USP, onde estuda a relação das empresas com a sustentabilidade, é importante ter a consciência de que o avanço tecnológico e o econômico sempre estará atrelado a algum nível de destruição ambiental. “Porém, se houver planejamento, pode-se fazer um melhor uso desse desenvolvimento, minimizando os danos ao meio ambiente e criando situações de repasse. Às vezes, por exemplo, é possível ‘compensar’ o dano ambiental num lugar, preservando outro. O fato é: precisamos minimizar os custos do progresso com responsabilidade ambiental.” Um relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) revelou que, se nada for feito no que diz respeito à emissão de gases que geram o efeito estufa na atmosfera, até 2100 a Terra pode ter sua temperatura elevada a um nível que representaria o caos. CILADAS DO “PROGRESSO” Existe também a questão muito debatida sobre o aumento do volume dos oceanos. A pesquisa do IPCC constatou que a água pode subir até 82 centímetros (com o derretimento das geleiras), isso, somado à maior frequência de furacões categorias quatro e cinco, seria desastroso para muitas cidades litorâneas e megalópoles. Em outubro de 2018, esse mesmo instituto apresentou uma proposta para diminuir a emissão de gases poluentes, na tentativa de limitar o aquecimento global em 1,5 ºC a mais do que os níveis pré-industriais (veja o infográfico das páginas 8 e 9). Houve muita resistência às medidas apresentadas por esse relatório, principalmente dos países produtores de petróleo (os combustíveis fósseis são um dos vilões do aquecimento global). Analisando friamente, de uma perspectiva econômica apenas, as resoluções colocadas na mesa podem, em curto prazo, representar a perda de muito dinheiro. Ainda é mais fácil e rápido lucrar quando não se leva a sério a responsabilidade ambiental. Por isso, quando metas de preservação são estabelecidas, leva-se em conta os diferentes níveis de desenvolvimento dos países. Por exemplo: Europa e Estados Unidos lançaram as bases do que são hoje nas revoluções industriais dos séculos 18 e 19. Naquela época, não existia a preocupação ambiental, o que garantiu que explorassem desenfreadamente os recursos naturais. Não havia ninguém para questioná-los. 12 |
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CARO E QUEM COSTUMA PAGAR A CONTA SÃO OS MAIS VULNERÁVEIS.” “Infelizmente, as gerações que nos antecederam e que ergueram os pilares da civilização industrializada que somos atualmente estavam orientadas por diversos paradigmas equivocados. Um deles era o da infinidade dos recursos naturais. Acreditava-se que a natureza tinha uma capacidade ilimitada de fornecer insumos para a produção e consumo humanos e de absorver os rejeitos criados por esse mesmo padrão de produção e consumo”, explicou a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (2003-2008), em entrevista para a Revista Escola Adventista, em março de 2018. Enquanto os países mais ricos passaram por um processo de industrialização e urbanização mais lento, e sem restrições quanto à legislação ambiental; os países emergentes e mais pobres enfrentaram e enfrentam um processo de transformação social e econômica mais rápido e drástico. Adicione a isso, a dificuldade dessas novas economias concorrerem com mercados já consolidados e que podem, com mais facilidade, adaptar-se às novas regras do jogo no contexto do aquecimento global. Um exemplo prático: enquanto a Europa está com o foco em diminuir a quantidade de combustível fóssil utilizado em sua moderna rede ferroviária, o governo indiano está preocupado ainda em levar energia elétrica para parte da sua população que sequer conhece tal avanço da modernidade. Isso indica que, o processo de industrialização pelo qual passaram os países desenvolvidos nos dois últimos séculos, à base de combustíveis fósseis (matriz energética mais barata e mais poluente), agora as nações emergentes terão que enfrentar usando fontes de energia renováveis (mais caras e menos poluentes). É óbvio que esses acertos não acontecem sem conflitos. Afinal, nenhum país quer entrar num acordo internacional para se prejudicar econômica e/ou politicamente. O fato é que se não houver ações assertivas sobre a questão, ficará insustentável a vida na Terra.
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A GANÂNCIA CUSTA
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O PREÇO DA GANÂNCIA No entanto, nem tudo é só alarme. Por ser algo vagaroso, a formação de uma cultura de preservação ambiental é uma construção de décadas. Mas que tem mostrado seus resultados. “Desde 1970, foram publicados muitos relatórios sobre a condição do planeta e vários governos têm trabalhado para reduzir os danos ambientais. Então, há de fato uma evolução”, observa Delton. Com o tempo, percebeu-se também que era possível aliar crescimento econômico com responsabilidade ambiental. No fundo, quando se analisa de perto essa equação, a conclusão é que, assim como diz o ditado, “o barato pode sair caro”. “Compensa fazer o certo. Se não, acontece exatamente o que ocorreu em Minas Gerais. As pessoas morrem, e a empresa vai ter que lidar com todo o prejuízo humano, social e ambiental de uma tragédia”, enfatiza. Em outras palavras, a ganância custa caro e quem costuma pagar a conta são os mais vulneráveis. Em sua declaração oficial sobre meio ambiente, a Igreja Adventista do Sétimo Dia relaciona os desafios ambientais de hoje com a moralidade e espiritualidade dos seres humanos: “esses problemas se devem, em grande parte, ao egoísmo e à ganância do ser humano, que sempre busca obter mais por meio do aumento da produtividade, do consumo ilimitado e do esgotamento de recursos não renováveis. A causa da crise ecológica está na ganância humana e na opção de não praticar a boa e fiel mordomia dentro dos limites divinos da criação” (Declarações da Igreja, CPB, 2012, p. 55).
IRONICAMENTE, QUEM DEUS COLOCOU PARA CUIDAR DA NATUREZA E MANTER O BEM-ESTAR DO PLANETA, FOI QUEM ESTRAGOU TUDO: O SER HUMANO.”
O CRISTÃO E O MEIO AMBIENTE Segundo o relato bíblico, Deus colocou o ser humano em um ambiente com muito verde, ar puro, alimentos frescos e todas as condições ideais para a vida. Ali havia perfeita harmonia entre a humanidade e a natureza, porque o propósito divino para a criação era que a experiência das criaturas fosse plena. abr-jun
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OVOS DE TARTARUGA E ECOTURISMO
Um bom exemplo de como o senso de responsabilidade (mordomia cristã) pode mobilizar um projeto de impacto socioambiental vem de Honduras, na América Central. Ali, a comunidade de Punta Ratón recebeu nos últimos anos alunos e professores dos programas de pós-graduação da Universidade de Loma Linda, uma instituição adventista localizada no sul da Califórnia (EUA). Em certas regiões do país, há problemas endêmicos de pobreza, como acesso limitado aos alimentos. Na região de Punta Ráton, as pessoas fazem uma única refeição por dia, comendo arroz e feijão, e aquilo que encontrarem, como carne e ovos de tartaruga-oliva, uma espécie marinha ameaçada de extinção. Nesse contexto, o grande desafio dos pesquisadores foi criar a consciência de que a preservação desse animal também poderia garantir a preservação de toda a comunidade local. Com um trabalho estratégico, que contemplou as frentes de educação, empreendedorismo econômico e assistência social, a vila de pescadores foi descobrindo que era possível ter no ecoturismo uma fonte de renda. “As pessoas de Punta Ratón desejam trabalhar para a conservação das tartarugas por meio do ecoturismo, oferecendo acomodação, refeição para os turistas e servindo de guia nas visitas às praias de nidificação”, explicou a bióloga Noemi Duran, que trabalhou no local durante seu programa de PhD. Punta Ráton entendeu que é mais lucrativo preservar. Fonte: Revista Adventista, janeiro de 2018, p. 18-21 (acervo.revistaadventista.com.br)
Ironicamente, quem Deus colocou para cuidar da natureza e manter o bem-estar do planeta, foi aquele que estragou tudo: o ser humano (Gn 3). Por isso, ao longo dos milênios, e especialmente nos últimos dois séculos, o domínio dado por Deus à humanidade sobre a natureza foi interpretado como uma “carta branca” para a exploração, contrariando o propósito divino de que fôssemos responsáveis em nossa tarefa de cuidar do meio ambiente (Gn 2:15). Essa postura de cuidado é o que o documento adventista chama de “boa e fiel mordomia”, ou seja, o senso de responsabilidade. Mesmo os que acreditam no breve retorno de Cristo à Terra e na restauração completa que Ele realizará, não estão autorizados a destruir ou negligenciar a destruição do nosso planeta. Afinal, aqueles que se prepararam para viver numa nova fase da história da Terra, na qual reinará a justiça (2Pe 3:13), precisam viver de modo correto desde agora. É por isso que o documento da Igreja Adventista insiste que seus membros devem defender e adotar “um estilo de vida simples e saudável”, em que as pessoas não participem “da rotina do consumismo desenfreado, do acúmulo de bens e da produção exagerada de lixo. É necessário que haja respeito pela criação, restrição no uso dos recursos naturais, reavaliação das necessidades e reiteração da dignidade e da vida criada” (Declarações da Igreja, p. 55). MEMORIAL DA CRIAÇÃO O desejo divino é que tenhamos respeito por sua criação. Ele se importa tanto com isso que reservou um dia especial para lembrarmos Dele como Criador e de nossa responsabilidade como criaturas. “Ao reforçar a relação entre o Criador e a criação, a comemoração do sábado semanal nos lembra de que nossa existência depende de sistemas de suporte da vida no planeta”, destacam os biólogos Floyd Hayes, professor do Pacific Union College, e William Hayes, docente na Universidade de Loma Linda, ambas instituições americanas da Califórnia (Diálogo Universitário, v. 25, no 2, 2013, p. 18-22). Essa relação mais próxima da natureza ajuda a construir uma percepção de que nós, humanos, estamos acompanhados, como criaturas, por outros inúmeros e diferentes seres que também são essenciais para a manutenção da existência na Terra. Esse respeito corrobora, por exemplo, o ideal de priorizarmos uma dieta vegetariana, pois a vida animal não deve ser sacrificada desnecessariamente. Com base nessa justificativa, a deputada
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holandesa Marianne Thieme foi eleita defendendo a bandeira dos direitos dos animais. Cofundadora e atual presidente do Party for the Animals (Partido dos Animais), ela abraçou a fé adventista, atraída por enxergar pontos de convergência entre a mensagem da igreja e seu ativismo. “Agora é a hora de se levantar e mostrar que você está envolvido e que você tem soluções práticas para tornar este mundo um lugar melhor”, declarou a parlamentar à Adventist Review, em julho de 2014. A luta do partido se concentra na proibição da caça, matança de animais sem anestesia e na agricultura ecológica, além, claro, da valorização e divulgação da dieta vegetariana. É óbvio que, quando tocamos nesse tema, é necessário ponderar que para muitas pessoas ao redor do globo se alimentar de carne é uma questão de sobrevivência, seja por causa de sua condição financeira ou pela disponibilidade de alimentos em sua região. Porém, na maior parte do mundo Ocidental, essa mudança de dieta é possível e, quando realizada com bom senso, contribui para a saúde do planeta e de quem opta por ela. UMA QUESTÃO DE SAÚDE Seguindo as constatações de alguns estudos científicos dos últimos anos, é possível averiguar que, muito mais do que condições favoráveis para a sobrevivência, o contato com a natureza – e aqui me refiro especialmente aos ambientes naturais nos quais o ser humano fez o mínimo de alterações – beneficia nossa saúde. Apesar de partir de uma visão evolucionista, o conceito de “biofilia” (amor à vida/natureza), popularizado pelo biólogo norte-americano Edward O. Wilson, pode ser uma hipótese para nos ajudar a entender por que a contemplação da natureza e a interação com ela costuma gerar bem-estar. Portanto, a ideia de levar flores para alguém acamado, por exemplo, ou mesmo permitir o contato de um enfermo com seu bichinho de estimação (como alguns hospitais têm autorizado) podem ser fatores importantes para a aceleração do processo de cura. Pesquisas realizadas pelas Universidades de Chiba (Japão), de Exeter e Birmingham (Reino Unido) e pelo Centro Médico Universitário de Amsterdã (Holanda) têm apontado que caminhadas ao ar livre são mais vantajosas do que exercícios em ambientes fechados. Morar perto de áreas verdes ou ter um jardim em casa também ajudam a reduzir o estresse, a pressão arterial e a aumentar os glóbulos brancos (defesa do corpo). Se o contato com a natureza parece contribuir para nosso bem-estar, a preservação do meio ambiente tem relação direta com a prevenção de problemas de saúde pública. O crescimento de casos de malária nas últimas décadas, doença que já poderia
É PRECISO ESCOLHER ENTRE SER ATIVISTA DA VIDA OU PROTAGONISTA DA DESTRUIÇÃO.” ter sido extinta, mostra isso. Fatores ambientais e a resistência crescente dos mosquitos aos inseticidas e medicamentos específicos explicam um pouco o tamanho do nosso desafio. NOVA ERA Na descrição bíblica sobre o futuro, a noção é de que estamos numa contagem regressiva para o fim dessa era marcada pela rebeldia humana contra a vontade de Deus, condição e atitude que os cristãos chamam de pecaminosa. O pecado fadou nosso planeta ao caos, à miséria e à morte, mas é necessário que sejamos guardiões do patrimônio divino enquanto houver possibilidade. Em seu artigo “Por que os cristãos devem praticar a mordomia do meio ambiente se este mundo será destruído?”, publicado no livro Custodios Del Planeta (Aces, 2016, veja a resenha na p. 33), o teólogo Arthur N. Patrick argumenta que essa é uma questão de responsabilidade espiritual. Para ele, não fazer isso, “é ser tão irresponsável como um médico que tem a capacidade de manter a viabilidade da vida, mas, em vez disso, escolhe destruí-la deliberadamente”. O fato é que a natureza é construída com inúmeras conexões. Quando algum elo é quebrado ou comprometido, vários níveis desse processo são prejudicados e, normalmente, as consequências são contabilizadas em mortes. Infelizmente, o que ocorreu em Brumadinho, por exemplo, é o resultado de uma postura diametralmente oposta aos valores e interesses que deveríamos defender, pois, acima de tudo, Deus é o doador do fôlego (Gn 2:7). Por isso, é preciso escolher entre ser ativista da vida ou protagonista da destruição. abr-jun
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Texto Thamires Mattos Imagem Adobe Stock
QUESTÃO DE S
Saiba quando – e por que – começamos a falar de sustentabilidade
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EM UMA SEGUNDA-FEIRA qualquer, às seis e meia da manhã, seu celular toca. Você foi dormir tarde e precisa acordar cedo – quem nunca? –, e sente uma leve dor de cabeça. Mesmo assim, decide levantar. Antes mesmo de lavar o rosto, pega um copo e segue em direção à cozinha. Para sua surpresa, não tem água ali. Incomodado, você deixa isso para depois e vai tomar banho, na esperança de despertar após uma ducha fria. No entanto, também não tem água no chuveiro. As gotas que caem dali estão quentes, pois ficaram muito tempo paradas na tubulação. A irritação vai tomando conta de você. Afinal, o que há? Ainda com sono, tenta lavar o rosto com o pouco de água que consegue. Ao olhar no espelho, percebe que existe uma espinha crescendo em sua bochecha. Ainda é pequena, mas dói. Melhor passar a pomada agora, antes que as coisas piorem. Não há tempo para preparar um café da manhã reforçado; por isso, pão com manteiga, suco de laranja e uma banana vão ter que o sustentar durante as aulas. Você escuta a buzina da van escolar – um som estridente e chato para quem está com dor de cabeça. O jeito é sair correndo de casa com sua mochila e celular. Depois de sentar-se e colocar o cinto de segurança, seus dedos “coçam”. É hora de checar suas mensagens! Várias notificações aparecem na tela bloqueada: aquele “bom dia” da sua tia no grupo da família, um amigo falando sobre o último episódio da série preferida de vocês e aplicativos
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que querem lhe vender coisas. Nada de crush, infelizmente. Mas uma notificação chama sua atenção: é do app de notícias que veio instalado no seu celular. A manchete? “Abastecimento de água suspenso por tempo indefinido na cidade.” Eu sei que isso parece super dramático, quase a cena de abertura de um filme apocalíptico. No entanto, a falta de água está longe de ser ficção, principalmente em grandes centros urbanos. A Cidade do Cabo, na África do Sul, por exemplo, sofre com as mudanças climáticas e suas reservas de água foram prejudicadas a ponto de governantes estabelecerem um “dia zero” em abril de 2018, quando todo o abastecimento seria suspenso por 24h. Os habitantes entraram em pânico. Campanhas foram realizadas para diminuir o consumo. Nada elaborado demais: com motes simples, tipo “tome banhos curtos”; “não lave a calçada” e “mude seu sistema de descarga”. O resultado? O “dia zero” foi adiado por tempo indefinido, tendo em vista que as metas de economia de água foram alcançadas. Mesmo assim, os moradores de lá sabem, e os daqui também devem estar alertas, que racionamento de água é uma questão de tempo apenas. E como chegamos a esse ponto? A resposta é simples, mas dolorida: insustentabilidade. A HISTÓRIA DE UM CONCEITO
O desenvolvimento do conceito de sustentabilidade tem muito que ver com descobertas científicas, acordos políticos e a conscientização da população por meio da educação e da mídia.
1957
Robert Revell e Hans Suess publicam um artigo sugerindo o excesso de CO2 na atmosfera terrestre: indícios de um “efeito estufa”.
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MAS, AFINAL, O QUE É SUSTENTABILIDADE? Segundo o dicionário Merriam-Webster, o mais tradicional da língua inglesa, existem registros da utilização da palavra “sustentável” já em 1924. A década de 1920 foi, em grande parte, marcada pela popularização da tecnologia de comunicação, mas nessa época não havia ainda a preocupação coletiva com a conservação do meio ambiente. Por isso, provavelmente, “sustentável” significasse apenas “capaz de ser sustentado”. Depois de 1924, porém, o mundo passou por uma grave crise econômica, a Segunda Guerra Mundial, a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, novas manifestações culturais e sociais, independência de países colonizados pelos europeus, regimes autoritários e processos de (re)democratização. Contudo, as mudanças que o mundo sofria não eram apenas políticas, culturais e econômicas, mas também ambientais. Em 1950, estudos começaram a indicar que a temperatura do planeta aumentaria. Sete anos depois, o oceanógrafo Robert Revell e o físico nuclear Hans Suess publicaram um artigo que sugeria que havia excesso de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera terrestre, o que poderia desencadear um “efeito estufa”.
1969
1972
1979
O termo “desenvolvimento sustentável” é utilizado num documento da União Internacional para a Conservação da Natureza. É criada a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, que ajudou a estabelecer critérios internacionais nessa área.
A conferência da ONU realizada em Estocolmo (Suécia) define ações de preservação ambiental. É lançado o livro The Limits to Growth, com os estudos de 17 especialistas sobre os riscos do crescimento populacional e do consumo desenfreado.
São realizadas duas convenções na Suíça: uma em Berna sobre a conservação da fauna e da flora em habitats naturais e outra em Genebra a respeito da poluição do ar. abr-jun
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É nesse contexto que a expressão “sustentabilidade” ganha um novo significado (veja a linha do tempo “A história de um conceito”). A expressão “desenvolvimento sustentável” foi usada pela primeira vez num documento da União Internacional para a Conservação da Natureza, em 1969, mas ainda demorou um tempo para cair “na boca do povo”. Aos poucos, a humanidade começou a perceber que problemas globais se resolvem com participação global, e que se existem direitos humanos universais, também existem deveres humanos universais, o que inclui a preservação do planeta que dividimos. NOSSO FUTURO COMUM Finalmente, a comunidade mundial resolveu agir. Em dezembro de 1983, a médica Gro Harlem Brundtland, então primeira-ministra da Noruega, foi escolhida para formar e liderar a comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento da entidade, que depois ficou conhecida como Comissão Brundtland. O grupo foi formado por representantes de 21 países, incluindo o Brasil. Após intensos debates e muitas pesquisas, a Comissão Brundtland publicou um relatório que moldaria a discussão do tema dali para frente. O título do documento não poderia ser mais sugestivo “Nosso Futuro Comum”. O relatório enfatizava as mudanças no relacionamento entre a humanidade e o planeta e apontava que não era mais possível pensar num desenvolvimento que não fosse sustentável. É daí que nasce a definição mais popular de sustentabilidade: “Forma de desenvolvimento que atenda às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades.” O trabalho da Comissão Brundtland trouxe visibilidade aos problemas ambientais mais graves da época e, principalmente, influenciou governos do mundo inteiro a assinar acordos para reduzir a emissão de gases poluentes e investir em tecnologias sustentáveis. Essas ações visavam fortalecer
o tripé do desenvolvimento sustentável: crescimento econômico, proteção ambiental e igualdade social. Até ali, e porque não dizer até hoje, a maioria dos países estava preocupada apenas com o crescimento econômico; o que é justificável, pois sem ele, não há geração de emprego nem melhoria das condições de vida. O ponto, porém, é que esse crescimento não pode ocorrer com base no uso irresponsável dos recursos naturais, pois eles são finitos. Por isso, o desenvolvimento econômico deve estar sempre atrelado à proteção ambiental. O que exige o uso mais racional de matéria-prima e energia, bem como a substituição, sempre que possível, de fontes não renováveis pelas renováveis. Ou seja, é melhor produzir energia elétrica utilizando a luz solar e o vento do que depender de usinas nucleares pois, além de se tratar de um recurso finito, ainda apresenta sérios riscos de radioatividade para o meio ambiente e a saúde humana. A terceira dimensão do conceito de sustentabilidade é a igualdade social. Isso porque o bem-estar de todos os seres vivos que habitam a Terra, especialmente dos humanos, é a cereja do bolo do desenvolvimento sustentável. Sociedades que se preocupam em diminuir suas desigualdades têm maiores chances de equilibrar o crescimento econômico e a proteção ambiental, pois atentam mais para questões de moradia, transporte, inclusão social e de acesso aos recursos naturais. AVANÇOS E RETROCESSOS Está claro que, até 2019, ainda não conseguimos cumprir o plano da Comissão Brundtland. No entanto, é preciso pontuar os avanços. Alguns deles ocorreram na Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e Desenvolvimento, também chamada de ECO-92, sediada no Rio de Janeiro. Diversos países se comprometeram a promover mudanças de políticas públicas e a trabalhar para conscientizar sua população. Cinco documentos foram assinados naquela oportunidade: (1) um que reforça os princípios de desenvolvimento sustentável propostos no “Nosso Futuro Comum”;
1983
1985
1987
É assinado o Protocolo de Helsinki (Finlândia) sobre a contenção da emissão de gases poluentes. É formada a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU sob a liderança de Gro Harlem Brundtland.
No Brasil, é criado o Ministério do Desenvolvimento Urbano e do Meio Ambiente. O artigo de Joe Farman, Brian Gardiner e Jonathan Shanklin na revista Nature revela a descoberta do buraco na camada de ozônio da Terra.
O Protocolo de Montreal (Canadá) é assinado por 197 países, com o intuito de diminuir a emissão de substâncias que empobrecem a camada de ozônio. A Comissão Brundtland (ONU) publica o documento “Nosso Futuro Comum”, o qual apresenta a definição clássica de desenvolvimento sustentável.
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O Rio de Janeiro (Brasil) sedia a ECO-92 (ONU). Diversos países se comprometem com a pauta ambiental.
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1997 O Protocolo de Kyoto (Japão) é assinado: novas metas em relação à redução de emissão de gases causadores do efeito estufa.
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(2) a Agenda 21, que incentiva o diálogo interno de cada país para definir como resolver seus problemas socioambientais; (3) um documento com recomendações para a preservação de florestas; (4) outro sobre a preservação da biodiversidade; e (5) aquele que ficou conhecido como a Convenção do Clima, que trata da redução de emissão de gases poluentes. Para tanto, os países mais ricos prometeram reduzir a emissão de gases como CO2 e metano a níveis abaixo dos que eram lançados na atmosfera antes de 1990, enquanto que as nações mais pobres também reduziriam sua poluição, mas sem um nível comparativo. Essas decisões influenciaram o Protocolo de Kyoto, talvez o mais conhecido dos documentos sobre mudanças climáticas. O Brasil assinou e ratificou esse documento proposto em 1997 no Japão, mas o país mais poluidor do planeta, os Estados Unidos, não aderiu ao acordo. Nos anos seguintes, a legislação ambiental brasileira foi aperfeiçoada. A Lei de Crimes Ambientais (9.605/98), por exemplo, estabeleceu seis tipos de delitos contra o patrimônio ambiental. Já em 2004, o lançamento do Plano para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia conseguiu diminuir significativamente a destruição da nossa floresta. Porém, em anos mais recentes, esse processo tem sofrido retrocessos. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a área desmatada na Amazônia em 2018 foi de 7.900 km², o que corresponde a mais de um milhão de campos de futebol. Isso significa também que houve um aumento de 13,72% no desmatamento da floresta em relação a 2017. Visto que as metas estabelecidas em Kyoto ainda não foram completamente cumpridas, e o acordo
1998
A Lei de Crimes Ambientais (9.605) é sancionada no Brasil.
CONSCIÊNCIA VERDE
expira em 2020, a comunidade internacional se reuniu em 2015 para traçar novos planos com base no quinto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC, na sigla em inglês). Os dados apresentados pelo IPCC em Paris, na França, mostraram que já passou da hora de a humanidade agir mais seriamente em relação ao tema, porque, quanto mais tempo demorarmos para isso, mais caras e ineficientes serão nossas medidas para conter os efeitos das mudanças climáticas. O Acordo de Paris, assinado por diversos países, incluindo Brasil e Estados Unidos, visa limitar o aumento da temperatura da Terra até 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Porém, apenas um ano após sua criação e sem ter sido ainda implementado completamente, a representatividade do documento já sofria baixas. Os Estados Unidos anunciaram que deixarão o acordo. Por sua vez, o governo do Brasil já sinalizou na mesma direção, mas a política ambiental brasileira para os próximos anos ainda se mostra incerta. O fato é que, se houver mais retrocessos, talvez ocorra também reação e pressão de setores da sociedade que já entenderam a importância e urgência da pauta (veja o quadro “Consciência verde”). Desastres como os de Mariana, em 2015, e mais recentemente em Brumadinho, ambos em Minas Gerais, nos lembram de que o custo ambiental é uma conta que não compensa pagar. “Não somos apenas insustentáveis, mas representamos uma grave ameaça ao bem-estar e à segurança das futuras gerações”, avaliou Gro Harlem Brundtland, numa palestra na Universidade de Stanford (EUA), 30 anos depois de aceitar o convite da ONU. Para mudar isso, é preciso primeiro entender o que é sustentabilidade, e depois agir. Essa matéria foi escrita para ajudar você nesses dois passos.
Em 20 anos (19922012), cresceu a percepção do brasileiro sobre os problemas ambientais.
+ 65% disseram que é importante cuidar do meio ambiente porque é uma questão de sobrevivência. 80% estavam dispostos a tomar alguma atitude para resolver os problemas ambientais de sua cidade.
52% ainda não separavam o lixo doméstico. 47% disseram saber definir o que é desenvolvimento sustentável, mas apenas 26% deles acertaram a resposta. Fonte: pesquisa “O que o brasileiro pensa do meio ambiente e consumo sustentável” (2012)
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2011
2012
2015
A conferência Rio+10 é realizada em Johanesburgo (África do Sul) com o objetivo de fazer um balanço dos obstáculos e avanços em relação à ECO-92.
O documento assinado na Conferência de Copenhague (Dinamarca), que procurava gerar cooperação dos países mais ricos em relação aos mais pobres, não teve representatividade.
A Conferência de Durban (África do Sul) renova a vigência do Protocolo de Kyoto até 2020.
A Rio+20 é realizada no Brasil e seu documento final “O Futuro Que Queremos” faz alusão ao Relatório Brundtland, colocando a erradicação da pobreza como um dos maiores desafios da sustentabilidade.
Depois do fracasso da Conferência de Copenhague, o Acordo de Paris prospera, com o compromisso de impedir que o aumento da temperatura da Terra passe de 1,5°C em relação à era pré-industrial.
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Texto e contexto
Texto André Vasconcelos Ilustração Vandir Dorta Jr.
GUARDIÕES DO PLANETA
O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo (Gn 2:15, NVI)
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UMA EXPRESSÃO POPULAR no idioma da Letônia diz que não se deve “contratar um bode para ser jardineiro”. A razão para a proibição é óbvia: ele devoraria a grama verde e todas as flores em um piscar de olhos. A lógica desse provérbio parece irrefutável, não é mesmo? Afinal, designar um ser com potencial destrutivo para cuidar de um ambiente que precisa de proteção não é a escolha mais prudente. Mas por que Deus colocou o ser humano no jardim do Éden e pediu que ele “sujeitasse” a terra e “dominasse” os animais (Gn 1:28)? Seria uma “carta branca” para a humanidade explorar o planeta? SENHORES DA CRIAÇÃO Antes de qualquer resposta precipitada para essa pergunta, devemos analisar o que as palavras “sujeitar” e “dominar” significam no hebraico bíblico, sua língua original, e como elas são utilizadas em outras passagens do Antigo Testamento. O verbo “dominar” (radah) transmite a ideia de governar e administrar. Essa expressão é usada frequentemente na Bíblia para se referir ao domínio de um rei ou nação sobre outros monarcas e povos inimigos (1Rs 4:24; Sl 72:8; 110:2; Is 14:2 e Ez 29:15). É utilizada também para se referir à ação de subjugar outra pessoa (Lv 25:43; 2Cr 8:10 e Jr 4:31). De maneira semelhante, a palavra “sujeitar” (kavash) pressupõe um tipo de dominação imposta (Nm 32:22; 2Sm 8:11; 2Cr 28:10 e Et 7:8). Apesar de ambos os termos aparentemente expressarem a ideia de dominação, é importante lembrar que a relação entre o ser humano e a criação é qualificada ao fim do sexto dia pela expressão “muito bom” (Gn 1:31). Segundo o teólogo Nahum Sarna, isso revela a existência de uma inter-relação “harmoniosa e mutuamente benéfica” entre a humanidade e o restante da criação de Deus (Genesis, 1989, p. 12). É provável que a ordem de dominar os animais esteja relacionada ao ato de dar nomes a eles. Em Gênesis 2:19 e 20, é relatado que Deus criou os animais a partir da terra e então os conduziu à presença de Adão para serem nomeados por ele. Essa autorização para dar nomes aos animais deve ser interpretada como uma delegação de autoridade, um exercício da soberania relativa que o ser humano recebeu sobre a natureza. Assim como Deus manifestou Seu domínio sobre o tempo e o espaço quando nomeou o dia, a noite, os céus e os mares (Gn 1), Adão demonstrou seu domínio sobre o reino animal ao nomear os bichos. É importante destacar que esse senhorio inicial do ser humano sobre os animais não foi algo conquistado pela humanidade, mas algo outorgado por Deus. Uma das restrições para esse domínio era a dieta vegetariana (Gn 1:29). O consumo de carne só foi autorizado pelo Senhor após o dilúvio (Gn 9:3, 4), quando a relação entre
o ser humano e os animais já havia sido desiquilibrada pela presença do pecado. O senhorio limitado do ser humano sobre os animais também é expresso de forma sutil no relato da queda moral do ser humano (Gn 3), quando o homem e a mulher foram enganados pela serpente. O fato de Satanás ter escolhido um animal para destruir a humanidade não deixa de ser irônico e trágico. Aquele que deveria dominar o reino animal foi dominado por ele. Já a ordem para sujeitar a terra provavelmente tenha que ver com o cultivo dela. É importante destacar que a terra é descrita em Gênesis 1:2 por meio das palavras hebraicas tohu wavohu, traduzidas ao português por “sem forma e vazia”. Essa expressão não é apenas uma figura de linguagem (hendíade) para representar o caos primitivo, mas uma representação gráfica da terra em seu estado de esterilidade e infertilidade, conforme o uso das palavras tohu e vohu em Isaías 34:11 e do termo tohu em Deuteronômio 32:10 e Jó 6:18. Esse estado de improdutividade começou a ser revertido quando Deus ordenou à terra que produzisse “relva, ervas que deem semente e árvores frutíferas que deem fruto” (Gn 1:11). A Bíblia, no entanto, menciona que a erva do campo (que é diferente da erva que dá sementes em Gênesis 1:11, 12, 29) ainda não tinha brotado porque, entre outros motivos, não havia ninguém para “lavrar o solo” (2:5). A solução para esse problema foi apresentada por meio da formação de Adão (v. 7). Dessa forma, o texto parece sugerir que a ordem de “sujeitar a terra” dada ao ser humano está intimamente relacionada à sua tarefa de “lavrar o solo”. Essa ideia é reafirmada em Gênesis 2:15. Nesse verso é dito que o Senhor colocou o homem no jardim do Éden e lhe ordenou que o guardasse e cultivasse. O verbo “cultivar” (‘avad) significa literalmente trabalhar. Adão deveria trabalhar a terra a fim de que a produção dela fosse determinada por ele. A palavra “guardar” (shamar), por sua vez, aponta para o cuidado e o zelo que o ser humano deveria ter para com a terra. Essa mesma palavra é usada com frequência no Antigo Testamento para retratar o cuidado de Deus com Seu povo (Sl 121). Além disso, tanto o termo ‘avad como shamar são usados juntamente em Números 3:7 e 8:26 para descrever os “deveres” dos levitas e seu “serviço” no tabernáculo do deserto. Ou seja, a missão do ser humano para com o jardim é retratada nas Escrituras como um dever religioso, comparado ao trabalho dos levitas no santuário. Dessa forma, torna-se evidente que a ordem para “sujeitar a terra” não tem nada que ver com a exploração do meio ambiente, nem deve ser utilizada para justificar tal atitude. Ao contrário, a ordem de Deus para os primeiros seres humanos foi que cuidassem com responsabilidade da natureza. ABR-JUN
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DEUS, TERRA E HOMEM O relato de Gênesis 1 a 3 apresenta uma tríade inseparável: Deus-terra-homem. A terra é a primeira parceira de Deus no processo da criação, sendo o primeiro elemento criado com a capacidade de produzir vida. O Senhor também a utilizou para formar os animais do campo, as aves (2:19) e, principalmente, o ser humano (2:7). O ser humano, assim como o solo e os animais (1:22), foi criado com a capacidade de gerar vida. Se a primeira ordem divina para a terra foi produzir relva, ervas e árvores frutíferas (Gn 1:11), para o ser humano foi: “sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra” (v. 28). Isso mostra que tanto a terra quanto o ser humano são parceiros de Deus no processo criativo. Além da relação Deus-terra e Deus-homem, existe a relação homem-terra. O homem (’adam) veio da terra (’adamah), e cada uma de suas escolhas afeta diretamente o destino dela. Quando Adão e Eva pecaram, o solo foi contaminado: “maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos” (Gn 3:17, 18). Por causa do pecado, o ser humano passou a ter dificuldade para lavrar o solo, de modo que já não seria tão simples sujeitá-lo. A terra, por sua vez, começou a produzir plantas com espinhos, o que modificaria drasticamente o cenário perfeito da criação original. Toda vez que a humanidade peca, a terra sofre e reage. Quando Caim matou Abel, por exemplo, o solo se tornou ainda mais difícil de ser cultivado (Gn 4:12). Essa realidade era tão dura que o patriarca Lameque, o pai de Noé, clamou por alívio do trabalho e do sofrimento causados pela “terra que o Senhor amaldiçoou” (5:29). Outro exemplo de como o solo é afetado pela pecaminosidade do ser humano se encontra em uma advertência de Deus ao povo de Israel: “Não suceda que a terra vos vomite, havendo-a vós contaminado, como vomitou o povo que nela estava antes de vós” (Lv 18:28). Por outro lado, quando a humanidade reestabelecer seu relacionamento com o Senhor, a terra também será restaurada à sua perfeição original (Ap 21–22). Na Terra renovada, os seres humanos “plantarão vinhas e comerão o seu fruto”; “não trabalharão debalde”; e “o lobo e o cordeiro pastarão juntos” (Is 65:21, 23, 25). Em outras palavras, a relação homem-terra se tornará harmoniosa novamente quando Deus for o elo entre ambos. Só então o ser humano será bem-sucedido em sujeitar a terra. LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA O relacionamento entre o ser humano, a terra e os animais assume traços ainda mais dramáticos após o dilúvio. Quando a narrativa bíblica retoma Gênesis 1:28 no capítulo 9:1 a 3, duas fórmulas são alteradas de maneira intencional. A ordem para encher a terra é mantida mas, para o 22 |
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PONTO DE EQUILÍBRIO Dois extremos, portanto, devem ser evitados na relação do ser humano com os animais e a terra: (1) achar que pode fazer o que bem quiser, é o que pode alimentar o ímpeto da exploração; e (2) exaltar a natureza acima da humanidade e, até mesmo, de Deus, o que representa risco de idolatria. Na história de Israel, o segundo extremo era mais comum do que o primeiro. Quando os israelitas negligenciavam seu papel como senhores da criação e se rebaixavam diante da natureza, os animais, o sol, a lua e as estrelas se tornavam objetos de culto (Êx 32:4; 2Rs 23:5). Hoje, no entanto, é possível dizer que a humanidade se depara com ambos os extremos, de modo que nunca foi tão importante encontrar um ponto de equilíbrio. Se por um lado o ser humano moderno promove a exploração do meio ambiente em nome do progresso, do consumo e do desenvolvimento, por outro, cultua a natureza por meio de filosofias que enxergam todos os elementos naturais como divinos (panteísmo). Assim, mais do que nunca, se faz necessário assumir com dignidade a função de soberano que o Senhor designou ao homem e à mulher quando os colocou no jardim e lhes ordenou que dominassem os animais e sujeitassem a terra. Deus criou o ser humano e o pôs no jardim com um único e simples propósito: representar a divindade diante da criação. E, convenhamos, essa é uma baita responsabilidade!
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ser humano sujeitá-la, não. Por sua vez, o mandato divino para “dominar os animais” é modificado: a relação entre a humanidade e o reino animal passa a ser pautada pela luta em favor da própria sobrevivência. Já a terra não apenas se tornou mais dif ícil de ser cultivada em consequência do pecado, mas “ela mesma” se rebelou contra o ser humano a fim de sujeitá-lo: “No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás” (Gn 3:19). A sujeição completa da terra não é possível em um mundo dominado pela transgressão. Enquanto essa realidade prevalever neste planeta, a natureza será “subversiva” e buscará ceifar a vida do ser humano por meio de catástrofes. Quando vai para a sepultura, o ser humano é engolido pela terra e reduzido à sua matériaprima: o pó (Ec 12:7). Depois do dilúvio, a ordem de “dominar os animais” é rebaixada a uma interação marcada pelo “pavor” e o “medo”. Enquanto os seres humanos lutam para dominar seu alimento; os animais lutam pela própria sobreviência. De soberano gentil, que nomeia carinhosamente cada ser vivo, o ser humano se transformou em dominador cruel. Assim, o Adão vegetariano (um modelo do ser humano ideal) constrasta fortemente com o tirano caçador Ninrode (um modelo do ser humano corrompido; ver Gênesis 10:8, 9).
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O RELACIONAMENTO ENTRE O SER HUMANO, A TERRA E OS ANIMAIS MUDOU RADICALMENTE APÓS A QUEDA MORAL DA HUMANIDADE. E ESSA RELAÇÃO SE TORNOU AINDA MAIS DRAMÁTICA DEPOIS DO DILÚVIO
Para saber mais
Sexto episódio da série “Eis o homem”, do programa de TV Origens (novotempo.com/origens) e o livro Anúncios de Enredo em Gênesis, de Laurence Turner (Unaspress, 2017).
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Básica
A BÍBLIA E A SUSTENTABILIDADE
Texto André Vasconcelos Imagem Adobe Stock
O conceito de desenvolvimento sustentável ou sustentabilidade tem três dimensões: econômica, ambiental e social. Ter um modelo econômico com o mínimo possível de impacto ambiental e que diminua a desigualdade social é uma das principais discussões do século 21. Apesar de esse debate ser contemporâneo, um livro milenar apresenta princípios que podem ser úteis para os dilemas atuais. A partir das leis idealizadas por Deus para a sociedade do antigo Israel, é possível tirar algumas lições: 1o Economia. A “economia” de Israel tinha como base a agricultura e a pecuária, atividades que foram endossadas pelo próprio Deus em diversos textos da Bíblia (Êx 23:14-19 e Dt 15:19). Porém, isso não era uma desculpa para que os israelitas explorassem a terra indiscriminadamente e maltratassem os animais (Êx 23:5, 12; Dt 22:10; 25:4 e Pv 12:10). 2o Meio ambiente: O povo de Israel deveria explorar a natureza de forma sustentável, conforme observado em pelo menos duas leis. A primeira delas orientava os israelitas a não cortarem árvores frutíferas quando sitiassem uma cidade, a fim de que não ficassem sem alimento depois (Dt 20:19). Já a segunda os instruía como proceder no caso de encontrar um ninho de aves (Dt 22:6, 7). Eles poderiam comer os filhotes e os ovos, mas não a mamãe ave, que era a “fonte” de novos ovos. Dois detalhes chamam a atenção aqui: (1) assim como as demais referências bíblicas, o texto indica que a vida do ser humano vale mais do que a dos animais. Há uma hierarquia de valor na criação; (2) ecoando o quinto mandamento do decálogo (Êx 20:12), se os israelitas “respeitassem” a mamãe ave, poderiam ser abençoados pela promessa de que teriam a vida prolongada. 3o Justiça social: Deus também orientou a sociedade israelita a observar o ano sabático e o jubileu. O primeiro tinha que ver com um ciclo de sete anos e, o segundo, com um período de 50. No ano sabático (7o), as dívidas eram canceladas, os escravos hebreus eram libertos e a terra era deixada sem ser cultivada (Lv 25:1-7; Dt 15:1-18). O objetivo principal dessas ações era ajudar os pobres (Êx 23:11). O jubileu, por sua vez, se referia ao quinquagésimo ano (Lv 25:8-55). Nessa ocasião, além de perdoar as dívidas, libertar os servos e deixar o solo descansar, as propriedades que haviam sido vendidas retornavam para as famílias originais (v. 10, 13-16, 24-34). Por meio dessas leis, o povo de Israel era preservado tanto da pobreza quanto da opressão.
Algumas leis do Antigo Testamento podem orientar uma nova postura no século 21
Curiosa
Texto Ágatha Lemos Imagem Adobe Stock
A ÁGUA ESTÁ PRA PEIXE Que a ingestão, em média, de dois litros de água potável por dia evita doenças renais e melhora o desempenho nos exercícios físicos, muita gente sabe. Porém, a todo tempo a ciência da saúde traz novidades surpreendentes sobre esse líquido indispensável. Um estudo realizado pela Universidade de Loma Linda (EUA), em 2002, por exemplo, revela que a água ajuda a diluir o sangue, contribuindo para diminuir as chances de infarto e derrame. Segun24 |
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S tidade suficiente é ingerir água de qualidade. Para isso, o Instituto Butantan de São Paulo tem colaborado bastante. Utilizando o peixe paulistinha, ou zebrafish, como é conhecido na comunidade científica, tem sido possível identificar a toxidade da água. O peixe paulistinha está substituindo roedores nos experimentos relacionados à imunologia, farmacologia, toxologia e outras áreas. Essa substituição tem acelerado
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as pesquisas, pois o ciclo de vida do peixe é mais rápido. Um processo que pode demorar até três meses com um camundongo, leva aproximadamente 72 horas com o peixe. Além disso, a transparência que os embriões apresentam em estágio de larva facilita a avaliação detalhada de estruturas e sistemas orgânicos, e da própria qualidade da água.
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Fontes: liveitlomalinda.org (sétimo episódio); news.vumc.org (8 de julho de 2010); e site redezebrafish.com.br
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do pesquisa realizada pela Vanderbilt University Medical Center, em 2010, a água também pode contribuir para o controle da pressão sanguínea, pois sua presença determina a densidade do sangue. A água ainda é indispensável para o transporte de nutrientes. Ela melhora o funcionamento do intestino e aumenta a imunidade do corpo, porque ajuda a eliminar toxinas. Contudo, tão importante quanto tomar água em quan-
A z d e O s c d s to V
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Ponto de vista
Texto Mateus Teixeira Imagem Adobe Stock
Ecologia
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PESQUISA CIENTÍFICA
EM ANIMAIS
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Texto Márcio Tonetti
DA ECOLOGIA À GASTRONOMIA
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Tudo ligado
A utilização de animais em pesquisas científicas, um método que vem sendo utilizado desde o século 18, tem sido alvo de questionamentos mais sérios nas últimas décadas. A questão gira em torno da reflexão de que, apesar de não raciocinarem e se comunicarem como os seres humanos, os animais sofrem, como nós. O debate ganhou força a partir de 1975, quando o livro Libertação Animal, do filósofo australiano Peter Singer, foi lançado em inglês. A obra, conhecida como um clássico do movimento de proteção dos direitos dos animais, denunciou os abusos da indústria pecuária e de cosméticos contra o bem-estar animal. A discussão tem se estendido também para o uso de animais em pesquisas científicas. Seria correto usá-los como cobaias em experimentos que podem beneficiar a humanidade? Veja abaixo a posição de alguns grupos religiosos.
Não
Os espíritas entendem que os animais são portadores de um princípio inteligente, alguma manifestação de afeto e uma verdadeira alma em período evolutivo. O jainismo, hinduísmo e budismo, por sua vez, são religiões que, por acreditarem na reencarnação de seus familiares em forma de animais, costumam se opor a qualquer tipo de violência contra os bichinhos, ainda que seja para fins científicos.
Sim
Para os católicos, os testes científicos em animais são moralmente aceitáveis, desde que realizados dentro dos limites da razão e como contribuição para o cuidado e preservação da vida humana. Logo, eles se opõem ao sofrimento e sacrifício inútil de animais. O judaísmo vai na mesma direção. Há proibição da crueldade contra os animais. Com base em alguns textos bíblicos (Êx 23:5 e Dt 25:4), defende-se que os bichos sejam tratados com bondade e compaixão. Por sua vez, para a Igreja Adventista, os animais, como criaturas de Deus, têm valor intrínseco, e não apenas utilitário. Além disso, entende-se que somos responsáveis por cuidar deles e da natureza como um todo (Gn 1:26-28). Negligenciar isso é pecar e ser moralmente injusto. Portanto, o recomendável seria: (1) reduzir o número de animais usados em teste; (2) refinar as técnicas, de modo a evitar ao máximo o sofrimento deles; e (3) substituir, sempre que possível, os testes em animais por experimentos com “cobaias” inanimadas. Fontes: Declarações da Igreja (CPB, 2012); “Aspectos éticos da pesquisa com animais”, editorial de Saul Goldenberg na revista Acta Cirúrgica Brasileira, v. 15, no 4, 2000; “Animal welfare in different human cultures, traditions and religious faiths”, em Asian-Australasian Journal of Animal Sciences (AJAS) 2012, 25 (11): p. 1499-1506; “Os animais e o homem”, artigo disponível em cefa.org.br; artigo “Testes em animais: a igreja é a favor ou contra?”, disponível em aleteia.org/pt; “Como os cristãos devem tratar os animais nas pesquisas?”, na revista Diálogo Universitário, v. 26, no 3 (2014), p. 9-12 e 29 (dialogue.adventist.org/pt).
Não se sabe ao certo quem é o “pai” desse termo, mas acredita-se que tenha sido o biólogo, filósofo e naturalista alemão Ernst Haeckel, discípulo de Charles Darwin. É definida geralmente como a ciência que estuda as relações entre os seres vivos e seu habitat natural. O termo se popularizou na década de 1960, com os movimentos
Ambientalistas Grupos conhecidos pela defesa da causa ambiental. Você certamente já ouviu falar de algum protesto liderado pelo Greenpeace, WWF ou por outras ONGs “verdes”. De maneira bastante contundente e com forte viés político, esses ativistas lutam contra problemas ambientais usando diversos meios para chamar a atenção, inclusive a
Arte Habilidade ou técnica (do latim, ars) usada com o intuito de expressar ideias, emoções e sentimentos. A arte pode atrair por meio do que é belo, harmonioso e sublime ou por causar repulsa e desconforto, apelando ao que é esteticamente grotesco, estranho ou incomum. Ao longo da história, expressões artísticas como a pintura ganharam diferentes estilos. Em alguns momentos, houve inclinação para uma linguagem mais abstrata, enquanto que em outros períodos buscou-se aproximar mais de um estilo concreto. Esse é o caso das obras do famoso pintor francês Claude Monet (1840-1926) que, além de ser um dos mais célebres artistas da escola impressionista, escreveu um livro de receitas pelo fato de ser um bom cozinheiro e apaixonado pela
Gastronomia Pode se referir tanto à comida tradicional de determinada região quanto à arte de cozinhar, prática aliás que virou moda nos programas de televisão. Não precisamos protestar como um ambientalista contra atividades gastronômicas que causam grande impacto ambiental, mas podemos cultivar o hábito de ter à mesa pratos saudáveis e ecologicamente corretos que, como uma obra de arte, surpreendam nossos olhos e o paladar.
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Texto Jessica Manfrim Imagem Gabriel Nadai
... o Brasil sem A VISTA PANORÂMICA aérea revela um gigante verde rodeado por caminhos de água, de todas as cores e extensões. Com quase 7 milhões de km2, que se estendem por nove países, a Amazônia é a maior floresta tropical e bacia hidrográfica (20% da água doce) do mundo. No Brasil estão 60% dessa floresta, que se espalham por nove estados. A Amazônia tem papel fundamental na absorção de dióxido de carbono liberado na atmosfera, o que minimiza o aquecimento global. Porém, infelizmente, o desmatamento da floresta está agravando a crise climática e seus efeitos já podem ser sentidos em outras regiões do país. Como seria o Brasil e o mundo se a Amazônia fosse destruída?
POLÍTICA DO DESFLORESTAMENTO
A pressão para a flexibilização de leis que privilegiem os interesses imediatos do agronegócio, a descriminalização da grilagem (apropriação ilegal de terras públicas por indivíduos ou empresas privadas) e a redução drástica das áreas de preservação e das reservas indígenas são sinais preocupantes. A questão é que a ideia de desenvolvimento para a região amazônica sempre esteve ligada à abertura de estradas, à extração de minérios, ao corte de madeira em grande escala e ao agronegócio. E, pegando carona nesse modelo de crescimento econômico, vêm o aumento da violência por causa da grilagem, a exploração do trabalho escravo, a impunidade para crimes ambientais e a escassez de água para o plantio. Tudo isso, porém, em médio prazo, também compromete a agricultura, pois empobrece o solo da floresta e diminui a água disponível para a irrigação.
CLIMA TEMPERAMENTAL
Sem a Amazônia, o clima temperado de algumas regiões do planeta ficaria “temperamental”. Isso porque a floresta interfere no clima do Brasil e do mundo. De 25 a 50% das chuvas que caem no Sudeste do Brasil são originárias da Amazônia. O ponto é que o desmatamento afeta o ciclo hídrico da bacia amazônica, provocando períodos cada vez maiores de estiagem numa região que constantemente precisa de umidade. E a estiagem na floresta impacta diretamente outras regiões do país, bem como o Uruguai, Paraguai e o norte da Argentina. Em 2014 e 2015, por exemplo, a região Sudeste do Brasil sentiu esse baque no abastecimento de água. Num cenário mais dramático, sem a floresta, a neve das montanhas de Sierra Nevada, que serve de reserva de água para o estado da Califórnia (EUA), diminuiria em 50%. Simuladores de mudanças climáticas mostraram que, se a Amazônia for completamente destruída, não teremos água na região mais industrializada do país nem para o agronegócio, setor importantíssimo para a economia do Brasil. Nesse caso, nem a transposição do rio São Francisco ajudaria, pois as chuvas no Velho Chico também dependem da floresta tropical. Para que isso não ocorra é preciso levar a sério o desmatamento na região. Estima-se que, se chegarmos a 25% de devastação da Amazônia, ela pode se transformar em savana. Cerca de 20% da floresta já foram perdidos.
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a Amazônia BIODIVERSIDADE PERDIDA
A Amazônia é a floresta tropical mais rica em espécies de plantas e animais (10%) do mundo: incluindo 2,5 milhões de tipos de insetos. Os cientistas estimam que uma nova espécie é encontrada ali a cada dois dias. Por isso, o maior tesouro da Amazônia não é seu solo, seus minérios nem sua madeira, mas sua biodiversidade. A indústria madeireira brasileira tem uma perda muito grande de matéria-prima. Enquanto esse negócio tem cerca de 70% de perda por causa de falta de infraestrutura e baixo nível tecnológico, produtos comercializados por alguns grupos indígenas no Brasil e no exterior apresentam outro modelo de “exploração” da floresta: o mel com certificação orgânica dos índios do Xingu; o óleo de pequi que os kisêdjê apresentaram numa feira de slow food em Turim (Itália); e o cumaru vendido pelos caiapós e panarás para empresas internacionais de cosméticos artesanais. As reservas indígenas são as áreas mais preservadas da floresta, pois os povos tradicionais atribuem um significado quase sagrado para a natureza, estabelecendo com ela uma relação mais sustentável. Com eles, podemos aprender que é preciso investir na floresta, não apenas explorar sua fauna e flora. E que ganhar dinheiro de maneira sustentável demanda tempo.
O ACRE NÃO EXISTIRIA
Alguns memes divulgados na web retratam a região Norte do país como uma área que só tem selva e questionam se o estado do Acre realmente existe. Essas brincadeiras mostram que os “sulistas” conhecem pouco sobre a história da floresta, de seus povos, das tradições e do estilo de vida. Via de regra, nossa educação ambiental e conhecimento histórico são muito deficientes. A ideia, por exemplo, de que a Amazônia é o paraíso intocado na Terra ou o “inferno verde” vem desde a chegada dos portugueses, no século 16. Porém, novas pesquisas têm mostrado que, antes da colonização europeia, o sul da Amazônia era habitado por uma população entre 500 mil e 1 milhão de pessoas, distribuídas em uma grande rede de aldeias fortificadas e centros cerimoniais interconectados. Os registros arqueológicos indicam também uma ampla manipulação da floresta para extrair seus recursos. O domínio português contribuiu para o isolamento do Norte em relação ao restante do Brasil, pois as províncias do Grão-Pará e Maranhão se reportavam diretamente para Portugal. Mesmo no século 20, durante a ditadura militar, a floresta foi vista como uma barreira para o “desenvolvimento”, um espaço vazio e improdutivo que precisava ser ocupado. Contudo, se a floresta desaparecer, o prejuízo será incalculável.
Se você acha que esses dados não são muito futurísticos mas, infelizmente, próximos da realidade atual, acertou. Se quisermos proteger o clima, a biodiversidade, os povos tradicionais, as reservas de água, a indústria e o agronegócio, temos que agir em relação ao processo destrutivo que está em curso, a fim de estabelecer uma relação mais sustentável com a floresta. Especialistas recomendam explorar 15% e preservar 85% da floresta. Para tanto, a política ambiental brasileira precisa investir em pesquisa sobre as espécies que compõem a Amazônia e que possam ter valor comercial (bioprospecção), desenvolvimento técnico, projetos de manejo comunitário, melhor fiscalização e inibir o financiamento de obras associadas ao desmatamento. Precisa também incentivar a produção de itens com certificação de origem, a educação ambiental e o reflorestamento. Só assim será possível evitar a perda da floresta e agregar valor econômico à sua biodiversidade. Com isso, ganham os indígenas, os ribeirinhos, o país, o clima e o planeta. Fontes: “A floresta amazônica e o futuro do Brasil”, de Charles Clement e Niro Higuchi, em Ciência e Cultura, v. 58, no 3 (2006), p. 44-49; matérias no site da revista National Geographic: “Diminuição da Amazônia pode afetar clima e abastecimento de água em todo o planeta”, de Craig Welch (21/11/2018), “Floresta amazônica já abrigou milhões a mais do que se pensava”, de Erin Blakemore (28/03/2018); “Bolsonaro prometeu explorar os recursos da Amazônia – mas ele pode fazer isso?”, de Scott Wallace (31/10/2018); entrevista com o físico Paulo Artaxo no site bluevisionbraskem.com; “Revista Science faz alerta sobre riscos da gestão Bolsonaro para a Amazônia”, de Giovana Girardi, em estadão.com.br (24/01/2019); “O chanceler quer apagar a história do Brasil” e “A Amazônia não é nossa”, de Eliane Brum, em brasil.elpais.com; “Amazônia Animada: a representação da região amazônica no cinema de animação brasileiro”, dissertação de mestrado em Design na PUC-Rio (2012), de Davi de Barros Coelho.
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Ação Mude seu mundo
Texto Noemi Almeida Imagens Naasom Azevedo
Lição de vida Aprenda Na cabeceira Guia de profissões
DE BEM COM A NATUREZA Clube de Desbravadores ensina adolescentes a explorar o mundo natural sem destruir o meio ambiente
A DESBRAVADORA PÕE-SE de pé em um salto, animada para o dia que começa bem cedo, às seis da manhã. O esforço é feito em conjunto com o grupo de meninas da sua unidade, que passaram a noite calculando quanto cada uma iria ganhar pelo montante de material reclicável coletado. De banho gelado tomado, elas correm em direção ao galpão para fazer a troca. A fila já começa a ficar grande. Aproveitam para se revezar e carregar o celular na “árvore” que apelidaram de high tech. Correm para perto da bicicleta dinamoelétrica, onde se aquecem para o terceiro dia de provas do acampamento. Seria um dia difícil. A fila finalmente avança e as desbravadoras saem radiantes por terem ganhado o suficiente para comprar lembrancinhas para os pais no “shopping” do evento. Uma manhã comum para os adolescentes que participaram do 5o Campori Sul-Americano. O acampamento internacional, realizado pela Igreja Adventista a cada cinco anos, reuniu 100 mil pessoas em duas edições, na cidade de Barretos (SP), nos dias 8 a 13 e 15 a 20 de janeiro. RECICLAGEM E ENERGIA LIMPA Participar de um evento gigante como esse é uma experiência inesquecível para muita gente, porque envolve conhecer pessoas novas e de outras culturas, ouvir mensagens bíblicas inspiradoras, desenvolver habilidades em competições disputadas com os amigos e exercitar os valores que são enfatizados no Clube de Desbravadores ao longo de todo o ano. O contato com a natureza e o cuidado com o meio ambiente fazem parte dos valores ensinados por essa agremiação, ligada à Igreja Adventista, que completa 60 anos no Brasil em 2019. No evento no Parque do Peão de Barretos, cerca de dez toneladas de resíduos foram destinadas para a reciclagem.
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A visitação ao estande de ideias sustentáveis do campori também deu asas à imaginação dos desbravadores. O objetivo era mostrar soluções simples e inovadoras para os problemas do dia a dia. “Nessa exposição propusemos alguns itens que funcionam a base de energias limpas e renováveis, para mostrar a eles que existem formas alternativas de se viver em sociedade”, afirma a jornalista Vanessa Arba, uma das coordenadoras da mostra. Nesse espaço, por exemplo, os acampantes conheceram a árvore fotovoltaica, que transforma raios solares em energia elétrica. Ela serviu de ponto de recarga de bateria de celular e de iluminação à noite. Outro item que atraiu os desbravadores foi a bicicleta dinamoelétrica, que gerava energia a cada pedalada. A reciclagem também ficou por conta dos acampantes, que recebiam um pouco da moeda oficial do campori, o “camporito”, cada vez que levavam e pesavam o lixo na central de coleta seletiva. Segundo o organizador do evento, pastor Udolcy Zukowski, a atividade era livre, não contava ponto para os grupos nem era requisito da competição, mas mesmo assim um terço dos 3.300 clubes do evento contribuíram com a coleta. CONTATO COM A NATUREZA “Não deixe nada além de pegadas. Não tire nada mais do que fotos. Não leve nada além de lembranças.” Essa frase que todo desbravador aprende quando vai fazer trilha, acampar, observar a fauna e flora ou praticar esportes radicais, indica que as atividades ao ar livre são uma das grandes ênfases do Clube de Desbravadores (saiba mais em adventistas.org/desbravadores). E é no contato com a natureza que o desbravador tem sua curiosidade despertada para conhecer melhor a respeito do meio ambiente. No currículo do clube existem as chamadas classes regulares para membros de 10 a 15 anos. Entre outros requisitos, para completar esses ciclos, o desbravador precisa conquistar especialidades: bótons que vão no seu uniforme e que indicam que ele desenvolveu certo conhecimento e habilidades sobre determinada área. Entre as 476 especialidades, é possível estudar desde astronomia até insetos.
Mais do que um hobby, envolver-se com Foi o que ocorreu com Beatriz Vilela atividades desse tipo, ajuda a desacelerar o Duarte. Ela encontrou em uma das esperitmo da vida e a desenvolver competências cialidades do clube aquela que acredita de relacionamento e comunicação que não ser sua vocação profissional. Onze dos serão desenvolvidas apenas vendo a vida seus 21 anos ela tem convivido no Clube passar por meio de uma tela. É o que de- Estrelas do Rei, de São José do Rio Prefende a psicopedagoga Adriana Hilário, to (SP), onde ajuda na liderança. Foi na de Artur Nogueira (SP). Ela, que estuda o agremiação que ela desenvolveu o amor corportamento das novas gerações, lem- pela natureza. “O clube sempre influenbra que os seres humanos cia muito quando o asaprendem observando, sunto é cuidado com o imitando e participando. meio ambiente. Prova Adriana percebe ainda disso é que estou curoutro problema na falta sando o quinto semestre de contato com o munde Ciências Biológicas”, do natural: “Numa soexemplifica Beatriz, cuja ciedade em que cada vez faixa de especialidades do uniforme está replemais troca-se o real pelo ta de bótons da área de digital, nossa mente acanatureza. ba sendo condicionada a No evento em Barrenão refletir, por causa do tos, Yasmin Silvestre, 16, grande número de inforfoi apresentada como remações com as quais nos deparamos sem conseguir cordista de especialidaprocessar.” des entre os acampantes. Leonardo Vieira é bió- Yasmin Silvestre, de 16 anos, A garota de Toledo, no logo e professor da rede tem 152 especialidades, sendo Paraná, tem 152 insígnias, pública de Barretos. Ele, 54 delas na área de natureza sendo que 54 delas são que não conhecia o Clube da área de natureza. Ela de Desbravadores, se surpreendeu com as também teve a quem imitar. A mãe, que é atividades da agremiação durante o evento. diretora de clube, tem 117 e, o irmão, 111 “É muito dificil ensinar tudo o que é ne- bótons. Foi realizando a especialidade de cessário sobre biologia para os alunos na História Eclesiástica que Yasmin também escola. Porém, fico aliviado em saber que decidiu a graduação que irá cursar: História. os desbravadores colocam em pauta temas como o contato com a natureza e o cuida- CONEXÃO COM O CRIADOR do com o meio ambiente. Dessa maneiNa filosofia do clube, as atividades ao ra, percebo que não estou sozinho”, afirma ar livre não são ferramentas apenas para Leonardo. Ele disse também que vai passar a o desenvolvimento físico, mental e social, recomendar o clube para outros estudantes. mas oportunidades também para que os desbravadores enxerguem as digitais de VOCAÇÃO PROFISSIONAL Deus na natureza, O reconheçam como “Quem participa do Clube de Des- seu Criador e assumam o papel de cuidabravadores descobre que existe também dores da criação. aventura, amizade e superação fora das Portanto, para os desbravadores, não telas. Descobre que não precisa neces- se trata apenas de preservar a natureza, sariamente de um aparelho eletrônico perpetuar a vida na Terra ou fazer a difepara se divertir”, explica o pastor Udolcy, rença na comunidade. Eles entendem que, que também é o líder dos desbravadores de acordo com a Bíblia, a volta de Jesus sul-americanos. Para ele, conquistar as se aproxima e, com ela, virá a promessa especialidades do clube é uma ótima do estabelecimento de novos céus e nova oportunidade para pesquisar curiosida- Terra (Ap 21:1; 2Pe 3:13). Enquanto isso des, aprender técnicas úteis e até mesmo não ocorre, é possível viver, em alguma identificar sua vocação profissional. medida, como se já estivéssemos lá. ABR-JUN
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Lição de vida
Texto Alessandra Guimarães Ilustração Marta Irokawa
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A MENINA DA
FAZENDA
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Francisca Pinheiro deixou o campo para estudar na metrópole, e uniu conhecimento acadêmico e tecnologia digital para preservar as árvores urbanas
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ENQUANTO O BRASIL foi o país que mais arrancou árvores nos últimos 34 anos, segundo estudo da Universidade de Maryland (EUA), publicado na revista Nature, em 2018, existem pessoas trabalhando na contramão desta realidade. Por chamada de vídeo, conversei com a professora Francisca Pinheiro da Silveira Costa, pós-doutora em Ciências Florestais pela USP e empreendedora na área do meio ambiente. Durante nosso longo bate-papo, percebi nessa mulher de voz tranquila que seu envolvimento com a natureza vai além dos títulos acadêmicos que conquistou. Seu sangue, de fato, é verde! Alguns dias depois dessa primeira entrevista, trocamos alguns áudios. Nas mensagens, o canto dos passarinhos competia com a fala da pesquisadora. Logo entendi o motivo: ela conversava comigo sentada debaixo da sombra de uma macadâmia, no seu quintal. Nunca conheci alguém que amasse tanto a natureza, principalmente as árvores. Essa forte relação com a flora nacional, ela carrega inclusive no sobrenome: Pinheiro, árvore símbolo da alegria e festividade. A seguir, compartilho com vocês um pouco da história dessa mulher de meia-idade, que tem se dedicado à educação ambiental. 30 |
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AMOR DE INFÂNCIA Foi lá na fazenda Rio Vermelho, no município de Itapaci, interior de Goiás, que Francisca aprendeu a amar a natureza. Fruto do segundo casamento do seu pai, caçula de uma família de 12 irmãos, ela nasceu na cidade; porém, era no campo que ela se sentia em casa. Seu pai era fazendeiro, plantava arroz e criava gado. Por isso, ela cresceu no mato. “Minhas melhores lembranças da infância são na fazenda, com o verde, brincando e me sujando muito”, relembra com carinho. Na sua casa atual, na zona rural do pequeno município de Engenheiro Coelho (SP), ela tentou reproduzir um pouquinho do ambiente que desfrutou na infância. Em vez de uma residência espaçosa, optou por um quintal grande, cheio de árvores. “Elas são minhas amigas, cuido delas e converso com elas.” Não tive dúvidas disso! Durante esse trecho da conversa em vídeo, percebi seus olhos brilharem ao falar do que sente pelas árvores. Porém, seu núcleo familiar hoje é bem menor do que o contexto no qual cresceu. Francisca é casada com um administrador e geólogo de uma multinacional, e mãe de um filho que, atualmente, estuda administração internacional na Suíça. Na infância, a paixão pela natureza dividia espaço com outro afeto: os estudos. Mesmo sendo pessoas com pouca educação formal, seus pais sempre incentivaram os filhos para que estudassem. Ela se recorda, por exemplo, do esforço dos pais para comprar o material escolar a cada início de ano letivo e de como encadernavam com cuidado cada livro e caderno da filha. Além do incentivo que vinha deles, Francisca já mostrava interesse natural pelos estudos. “Sempre fui uma aluna que tirava nota dez, e essa cobrança não vinha dos meus pais não, era uma meta pessoal.” Na escola, a disciplina de geografia era a sua predileta. Mas, o que ela lamenta é que as aulas não empolgavam. “Mesmo estudando num bom colégio, meus professores de geografia deixavam a desejar, e isso me chateava.” E foi esse incômodo que acabou definindo a escolha profissional de Francisca. “No terceiro ano do ensino médio, enquanto meus colegas escolheram carreiras prestigiadas, como Medicina e Direito, eu escolhi cursar Geografia, pois desejava ser a professora que nunca tive.”
ENSINO NA PRÁTICA O amor pela natureza e pelo conhecimento levaram Francisca à Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais, onde cursou Geografia. Depois de graduada, a menina da fazenda encontrou na sala de aula sua grande realização. Francisca foi professora do ensino fundamental e médio para as disciplinas de geografia e história, em colégios adventistas de Uberlândia (MG) e Piracicaba (SP). “Eu procurava usar a criatividade para que o ensino chegasse aos alunos de maneira mais prazerosa.” Para isso, muitas de suas aulas eram realizadas em laboratórios, às margens de rios, zoológicos, planetários e museus, fazendo desses ambientes uma extensão da escola. Contudo, a motivação dessa professora para educar na prática, não veio apenas de experiências frustrantes da infância, mas da convicção de que a escola é o espaço privilegiado para se ensinar de maneira marcante o cuidado com o meio ambiente. A busca desse ideal Francisca encara como um dever religioso: “Somos administradores da criação de Deus. Temos a missão de ensinar que é nossa responsabilidade o cuidado com o outro, seja ele ser humano, animal ou vegetal. Essa é uma questão espiritual também”, justifica. Em 2005, Francisca começou a atuar na educação superior, também na rede adventista. Ela foi professora nos cursos de graduação e diretora de pós-graduação, pesquisa e extensão no Unasp, campus Engenheiro Coelho, até julho de 2018. Seu envolvimento com a metodologia de pesquisa aplicada nos cursos do campus, contribuiu para que os estudantes alcançassem bons resultados na academia. “Era o único momento que eles tinham durante a graduação para mostrar que eram donos de uma ideia. E eu me sinto vitoriosa por ter feito parte disso.” Enquanto compartilhava conhecimento, ela também adquiria novos saberes. Entre 2002 e 2011, Francisca concluiu o mestrado, doutorado e pós-doutorado na USP, uma das universidades mais importantes do país. Seu objeto de estudo em todas essas fases tinha que ver com as árvores nas regiões urbanas. De um jeito ou de outro, a educadora tentava buscar soluções mais harmônicas para esse relacionamento que tende a ser
conflituoso. O que Francisca nunca imaginou é que a pesquisa desenvolvida na academia seria o impulso para ela trilhar também um caminho no empreendedorismo. ÁRVORE DIGITAL Com 51 anos, sendo 27 deles dedicados à educação, Francisca abraçou um novo desafio. Ela decidiu sair do ambiente acadêmico – seu espaço conhecido – para desbravar uma área diferente: o empreendedorismo. Tudo começou com a pesquisa do pós-doutorado, que se concentrou na criação de um novo método para cadastro de árvores urbanas. A ideia era realizar um inventário digital arbóreo, que contribuísse para o planejamento, revitalização e adequação das árvores no contexto das cidades. Em 2018, ela decidiu colocar a pesquisa em prática. Abriu sua empresa, a Geotree (geotree.org) e contratou parceiros que desenvolveram um aplicativo com base na proposta do estudo. Usando a tecnologia em favor da preservação da natureza, sua empresa coleta diversas informações sobre as árvores de um local, conseguindo determinar fatores importantes para a cidade, como o risco de queda e o controle climático do ambiente. O mais interessante desse projeto é que a população local também sai ganhando. As informações coletadas ficam disponíveis para o público, colaborando para a formação da cultura ambiental da cidade. “As principais informações das árvores são registradas em um banco de dados e disponibilizadas por meio de QRcodes impressos em pequenas placas de madeira, que identificam as características de cada árvore e o valor econômico-ambiental que ela possui.” Desde pequena, Francisca entendeu que seu papel como cristã é cuidar do que Deus criou. Como educadora, procurou transmitir esse conceito e valor na prática. Hoje, como empreendedora, ela é responsável por mostrar ao setor público e privado que, para ninguém sair perdendo, o desenvolvimento tem que estar atrelado à preservação ambiental. É verdade que essa não é uma tarefa fácil, mas os anos como professora lhe ensinaram uma grande lição: educação leva tempo e alguém precisa começar esse processo de mudança. abr-jun
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Texto Nádia Teixeira Design Renan Martin
A cuidar do seu lixo LIXO, LIXO, LIXO. Se você observar bem, vai perceber que ele está em quase todo lugar. Em grande quantidade e muitas vezes descartado no lugar errado e de maneira inadequada. O problema é sério porque a produção atual de resíduos sólidos é alta: cada brasileiro descarta, em média, 1 kg de lixo por dia. São mais de 78 milhões de toneladas de resíduos por ano. Para piorar esse quadro, em 30% das cidades do país não existe sequer uma iniciativa de coleta seletiva. A pergunta é: o que podemos fazer com tanto lixo produzido? Existem opções mais caseiras (reciclagem e compostagem) e outras mais empreendedoras, como fazer um “negócio do bem”, tornando assim o lixo rentável. Veja as dicas ao lado.
Fontes: Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil – 2017 (abrelpe.org.br); e sites cataki.org; compostasaopaulo.eco.br; pensamentoverde.com.br; folha.com.br/empreendedorsocial e revistapegn.globo.com.
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COMPRA INTELIGENTE
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CUIDADO COM O DESPERDÍCIO
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Comprar somente o necessário e o que gera menor impacto na natureza é o primeiro passo. Procure produtos biodegradáveis e que possam ser reutilizados para outros fins. Alimentos orgânicos e frutas da estação também fazem parte de uma cadeia produtiva menos poluidora. O melhor mesmo é não consumir além do que você precisa.
Frutas, verduras e legumes, os chamados alimentos frescos, são os que estragam mais rápido e tendem a ser desperdiçados. Por isso, compre-os na quantidade certa e cuide com o acondicionamento deles. Além disso, muitos desses alimentos in natura podem ser aproveitados integralmente, com casca e tudo. O programa Cozinha Brasil do Sesi, por exemplo, apresenta receitas de reaproveitamento de alimentos.
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COLETA SELETIVA
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Reciclar é um hábito que precisa ser cultivado. E isso começa na separação do lixo em casa. Embalagens de plástico, vidro e papel podem ter um destino mais útil do que o aterro sanitário. Materiais específicos como eletrônicos, pilhas, remédios e óleo de cozinha também precisam de um descarte adequado. Verifique se sua cidade tem cooperativa de reciclagem e coleta seletiva. Em algumas cidades, catadores de lixo podem ser cadastrados e acionados por meio de aplicativos. Outra alternativa é reutilizar materiais descartáveis, fazendo móveis e objetos de decoração com eles. O lixo orgânico, por sua vez, pode até passar pela compostagem dentro de apartamentos, sem cheiro e ainda produzindo adubo. Corra lá no YouTube e veja alguns tutoriais.
Vários empreendedores estão percebendo que o lixo poder ser muito rentável. Empresas grandes e pequenas têm se especializado na coleta de óleo de cozinha, lâmpadas, lixo eletrônico ou mesmo de itens recicláveis em geral. O potencial do setor no Brasil ainda é grande, pois jogamos fora muito lixo. Para conhecer ideias inovadoras e, quem sabe, apoiar algumas delas e até criar negócios com base em outros insights, acompanhe a mídia especializada e os prêmios voltados para o empreendedorismo social.
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Na cabeceira
Texto Wendel Lima Design Renan Martin
Quão verde é sua religião?
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“Necessitamos ampliar nosso horizonte moral e nossas noções de justiça e mordomia. Muitos cristãos, e alguns adventistas do sétimo dia, não valorizam corretamente a criação” (p. 12).
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“No Antigo Testamento, valoriza-se mais a plenitude do que a produção. Por plenitude se entende uma realidade que é sensível às necessidades de toda a criação, incluindo os demais seres vivos e o planeta” (p. 43).
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“Se não somos capazes de cuidar de nosso planeta nesta vida, podemos esperar que Deus nos dê um planeta renovado na vida eterna?” (p. 265).
NÃO FOI FÁCIL escolher um livro para resenhar neste espaço. Parece que os cristãos, e especialmente os adventistas, ainda não despertaram para a importância da temática da preservação ambiental e de como o cuidado com o planeta tem relação direta com sua declaração de fé. Se, no passado, segmentos do cristianismo já utilizaram textos bíblicos e argumentação filosófica para justificar a exploração de seres humanos e da natureza, nas últimas décadas, um novo olhar tem sido lançado para a Bíblia, a fim de entender como sua mensagem desafia o estilo de vida consumista de muitos cristãos. O livro Custodios del Planeta: Ecoteología y Ambientalismo (Aces, 2016, 281 p.) faz parte desse esforço de reflexão e conscientização. Ele é a versão em espanhol da coletânea de 23 artigos lançada em inglês (2013), num simpósio na Universidade de Loma Linda, na Califórnia (EUA). Apesar de os capítulos terem sido escritos por um time de teólogos, biólogos, educadores e especialistas, a linguagem é acessível para o público em geral, especialmente para quem está se preparando para entrar no ensino superior. Entre os pontos fortes do livro estão sua concisão e abrangência. Os capítulos são curtos, mas oferecem um panorama das principais questões que envolvem teologia e ecologia. Organizada em cinco partes, a obra oferece uma reflexão bíblica sobre a relação dos cristãos com o meio ambiente e discute como devemos cuidar dos demais seres vivos, quais são as implicações da degradação ambiental para a saúde humana, além de apresentar algumas estratégias de conservação e diretrizes para a educação ambiental. Outro ponto forte do material é a combinação de teoria e prática. O biólogo Timothy Standish, por exemplo, explica como se
envolver politicamente na causa ambiental: atentando para as discussões sobre legislação e programas governamentais na área, bem como apoiando organizações que trabalham com conscientização em nível local. Por sua vez, a química Carrie Wolfe apresenta mudanças de hábitos que podem diminuir o impacto ambiental do seu estilo de vida, como reduzir, reciclar e reutilizar o lixo; fazer compostagem em casa; comprar produtos locais; juntar água da chuva; usar energia eólica e solar e adotar a dieta vegetariana. No entanto, para a teóloga romena Adelina Alexe, que publicou uma resenha sobre a versão original do livro, em 2014, a obra peca em ser repetitiva em alguns argumentos. Segundo ela, talvez isso tenha ocorrido pelo fato de o material ter vários autores, que tratam de uma variedade de temas, mas a partir da mesma perspectiva: que a fé cristã, quando corretamente compreendida, envolve obediência à ordem de Deus para cuidar da natureza. abr-jun
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Guia de profissões
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FISIOTERAPEUTA Conheça o profissional que trabalha para curar ou aliviar as dores de seus pacientes
PERFIL DO PROFISSIONAL
Além das competências técnicas, o desenvolvimento de três características é importante para um futuro fisioterapeuta: (1) paixão em ajudar outro ser humano, pois o papel dele, muitas vezes, será de eliminar ou aliviar a dor de alguém; (2) deve ser paciente e detalhista, porque isso contribuirá para que faça diagnósticos mais precisos; e (3) ser motivador, pois os clientes costumam desistir facilmente do tratamento.
GRADE CURRICULAR
De acordo com o MEC, a carga horária mínima do curso de Fisioterapia é de 4 mil horas, sendo 20% delas dedicadas aos estágios. Quem optar por essa carreira, terá que estudar disciplinas como anatomia, biologia celular e molecular, controle neural do movimento e fisioterapia aplicada às principais áreas médicas.
ÁREAS DE ATUAÇÃO
ONDE HÁ MOVIMENTO, há fisioterapia! Profissionais e pesquisadores dessa área são responsáveis em garantir que a mobilidade do corpo humano funcione da melhor maneira possível. Por isso, quando alguém sofre um acidente que compromete algum movimento, o fisioterapeuta entra em ação. E como cada caso é único, antes de definir como será o tratamento, esse profissional analisa exames, laudos médicos e as condições do paciente. Além das áreas convencionais de atuação, o fisioterapeuta tem conquistado espaço nas empresas e trabalhado na prevenção de doenças causadas por esforços repetitivos, típicas do ambiente profissional. A carreira tem ganhado destaque também por causa do envelhecimento da população brasileira e das complicações decorrentes do uso da tecnologia digital.
ONDE ESTUDAR
O fisioterapeuta pode atuar em hospitais, trabalhando pelo bem-estar integral dos pacientes e em conjunto com uma equipe multidisciplinar; em clínicas, tratando de problemas genéticos, doenças adquiridas, sequelas de acidentes e vícios de postura. Além disso, pode atender em domicílio, academias, empresas ou clubes esportivos e aplicar seu conhecimento aos tratamentos estéticos.
SALÁRIOS
A média salarial nacional é de 2 mil reais. Mas, como sempre, fatores como a região do país, área de atuação, a qualificação e a experiência do profissional vão interferir no valor do seu contracheque. Por exemplo, profissionais que trabalham na área do esporte podem ganhar até 10 mil reais mensais.
Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) São Paulo (SP) Nota 3 R$ 835,00 mensais Manhã, oito semestres unasp.br/sp
Faculdade Adventista da Bahia Cachoeira (BA) Nota 4 R$ 1.139,00 mensais Tarde, dez semestres adventista.edu.br
Fontes: Diego Patrício, coordenador do curso de Fisioterapia da Faculdade Adventista da Bahia e assessoria de comunicação do Unasp, campus São Paulo; sites guiadacarreira.com.br e catho.com.br.
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