Ano 3 - Edição 4 - Verão de 2016 www.entrementes.com.br
CONECTANDO IDEIAS ARTE - CIÊNCIA - ESOTERISMO - FILOSOFIA
EDIÇÃO DE VERÃO COMIC CON EXPERIENCE2015
E foi épico... o maior evento de cultura pop da América Latina.
CORRIDA DE SÃO SILVESTRE
Na virada do ano - A maior festa no Brasil para quem curte correr!
STAR WARS – O DESPERTAR DA FORÇA!
A força está na crítica de Dalto Fidencio sobre o filme mais esperado - por três décadas.
ENTREVISTA COM MIKE DEODATO
Um dos maiores ilustradores de Histórias em quadrinhos do mundo fala com o Entrementes.
BLACK BOWIE
David Bowie aterrissou em outro planeta para povoá-lo com o melhor rock’n roll.
CRÔNICAS DE SÃO TOMÉ – ÁFRICA As aventuras e viagens de Luisa Fresta.
POESIA DEBAIXO DO SOL
O Sol do verão inspirando os poetas.
Editorial Mais uma edição da Revista Entrementes, anunciando a estação mais quente do ano: O Verão! O conteúdo, escolhido com entusiasmo solar, mostra o lado mais humano e caloroso desse mundo hiper-maquinal. Uma matéria sobre o maior evento geek que aconteceu no Brasil em 2015: Comic Con Experience. O Portal Entrementes, orgulhosamente apresenta os detalhes dessa festa Nerd, através do nosso colunista, jornalista e crítico de cinema, Dalto Fidencio. Na capa, o destaque é a foto da Mulher Maravilha (Comic Con 2015). Dalto Fidencio também nos conta como é correr numa São Silvestre, ele faz o percurso de 15 km incansavelmente por 8 anos. A poesia e a prosa nos textos dos nossos queridos colunistas, incansáveis dons quixotes que dançam ao sabor do vento – E outros poetas colaboradores nessa edição. Os detalhes do que acontece durante as viagens, contado por Luisa Fresta sobre a sua para São Tomé, localizada no Golfo da Guiné. Dessa vez temos duas entrevistas interessantes: Com Mike Deodato, feita por Rodolfo Salvador; E outra com Street For Noise, feita por Joana D’Arc. Vale a pena conferir. Sobre cinema, temos a crítica de Dalto Fidencio, sobre a história de uma distante galáxia; e a sugestão de filmes de todos os tempos do nosso querido colunista Germano Xavier. E mais um capítulo do “Canto da Cultura”, movimento cultural nos anos 80, em São José dos Campos. Essa edição está quente e interessante. Aproveitem o verão! Elizabeth de Souza Editora da Revista Entrementes.
Sumário ENTRE VERSOS E PROSAS 10- EU SEI QUE VOU AMAR-TE – Por Marcelo Pirajá Sguassabia 11- UIVAR PARA A LUA CHEIA – Por Jorge Xerxes 12- A ITAGUASES DE ESCOBAR – Por Escobar Franelas 21- RE-COMEÇAR – Por Ronie Von 27- ELISIO – Por Alexandre Lúcio Fernandes 18- AQUARELA - Por Domingos dos Santos NO WAY – Por Domingos dos Santos EM ALGUMA PARTE – Por Teresa Bendini FÉ – Por Joka Faria VALE A PENA? - Por Elizabeth de Souza 19- SOBRE POETAS E ROSAS – Por Maria Lúcia G. Martins LACRIMOSA SERRA – Por Paulo Vinheiro O GOSTO – Por Raymundo Xavier VIAGEM – Por Domingos dos Santos 20- Poema embriagado – Por Sanjo Muchanga MATÉRIA E SOLIDÃO – Por Fernando Selmer BULAS COM 7 QUEDAS – Por Ricola de Paula POESIA VISUAl – Por Fernando Selmer
ENTRE CINE 4- STAR WARS – O DESPERTAR DA FORÇA – Por Dalto Fidencio 22 – NADA MUITO SOBRE FILMES – Por Germano Xavier
ENTRE CULTURA 14- ENTREMENTES NA SÃO SILVESTRE - Por Dalto Fidencio 30- ENTREMENTES NA CCXP 2015 – Por Dalto Fidencio
ENTREVISTA 8- ENTREVISTA COM MIKE DEODATO – Por Rodolfo Salvador 24 - ENTREVISTA COM STREET FOR NOISE – Por Joana D’Arc
ENTRE TRILHAS E VIAGENS
Expediente
28- CRÔNICAS DE SÃO TOMÉ / ÁFRICA – Por Luisa Fresta
Ano 3 – Edição 4 – Verão de 2016 Editor e Jornalista Responsável: Elizabeth de Souza MTB 0079356/SP Diagramação: Filipe Oliveira Arte da Capa: Foto tirada na CCXP2015 - por Dalto Fidencio
3- NO BALANÇO DO DOM – Por Paola Domingues 26- BLACK BOWIE – Por Wallace Puosso
ENTRE SONS
CANTO DA CULTURA 34- LIVRETOS ARTESANAIS NOS ANOS 80
ENTRE SONS
NO BALANÇO DO DOM Por Paola Domingues
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lgumas “carinhas” já passaram por este site, em outro de meus posts sobre a banda Homens de Melo, no caso, os integrantes Gabriel Sielawa e Rafael Pessoto. Essa banda no caso, é mistura nova, uma página reformulada de tudo que possa ter passado por essas cinco cabeças. A banda Dom Pescoço é a bandeira da Tropicália Psicodélica no Vale do Paraíba. “Meio surreal... Entramos numa atmosfera entre as batidas da bateria, as alternâncias das cordas e da mistura de vozes, cadenciadas, cascatas, sendo o tempo todo guiadas pelo tom providencial de Miguel Nador, o shuazeneger”. Particularmente, ao comentar sobre uma banda, procuro sempre buscar suas inspirações, ou seja, sua base; sua melodia e composição. É sempre essa conta matemática que desenvolvo, como se uma análise sintática e semântica, pra perceber o maior valor do trabalho apresentado. Neste caso particular, meu trabalho chamará atenção para um detalhe mais sutil e tão importante no projeto musical de uma banda: a incorporação musical. A Banda Dom Pescoço, diferentemente de muitas outras bandas que pude acompanhar, possui não só uma boa proposta, mas esta já tão desenvolvida, que sua apresentação no palco me permitiu analisar sua performance, e o resultado surpreendente que encontrei é, naturalidade. As bandas, com o passar dos anos, vão tomando sua proposta musical tão pra si, que executar já não é manifestação que o preocupe, que o altere. Pode ser às 08h da manhã no café da manhã ou às 03h no banco
da praça. Sua proposta já está incorporada no âmago de cada integrante. Isso transmite primeiramente leveza ao trabalho, e, segundo, permite ousar movimentos, adicionar instrumento, entreter-se com o público. A Dom Pescoço é relativamente nova, mas todos executam seu trabalho e esse diálogo “olho a olho” com o público de forma esplêndida. Não pense que esse “dom” é para muitos. Bandas renomadas não me transmitiu essa segurança, mesmo com anos de estrada. Não porquê o trabalho não esteja incorporado, mas talvez por simplesmente ter perdido o sentido. A Dom Pescoço é um trabalho ainda cheio de gás e esperança. Confiante que sua proposta é renovadora (não inovadora) e tem futuro. Diante desse exemplo praticamente didático, eu com meus alguns anos escrevendo sobre música acredito poder transmitir essa dica às bandas que querem desenvolver um trabalho autoral ou até mesmo tributos: naturalidade é a simplicidade que necessitamos. A presença de palco deve ser treinada e executada tão bem quantos os acordes de seus instrumentos. Sinta que tem um propósito e quem esse propósito é realmente transformador. Vejo bandas e mais bandas se perdendo por simplesmente não definirem seus objetivos. É além da prática e teoria: é fazer emoção! Saiba mai aqui: https://www.facebook.com/dompescoco
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ENTRE CINE
STAR WARS – O DESPERTAR DA FORÇA (Star Wars – The Force Awakens) Por Dalto Fidencio
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Star Wars – O Despertar da Força - Ficção Científica/Aventura Tílulo Original: Star Wars – The Force Awakens
Direção: J.J. Abrams Roteiro: J.J. Abrams e Lawrence Kasdan Elenco: Harrison Ford, Carrie Fisher, Mark Hamill, Daisy Ridley, John Boyega, Adam Driver, Oscar Isaac, Domhnall Gleeson, Andy Serkis, Gwendoline Christie, Lupita Nyong’o.
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oram mais de três décadas de espera para ver um verdadeiro Star Wars novamente nas telas sim, porque convenhamos, as prequels lançadas entre 1999 e 2005 por George Lucas não possuem nem de perto o espírito que tornou a trilogia original um mito, quase uma religião cultuada por milhões de fãs por todo o mundo. Por mais que os Episódios II e III tenham suas virtudes (o Episódio I merece ser desconsiderado, de tão fraco), Star Wars de verdade mesmo, só a saga original, nascida em 1977 e finalizada em 1983. Bem isso não vale mais! “Star Wars – O Despertar da Força” é absolutamente espetacular! J.J. Abrams seja louvado! Todo o medo gerado nos fãs quando a Disney comprou a Lucas Film e anunciou que seriam gravados os Episódios VII, VIII e IX se mostrou desnecessário. A Força está com este novo filme e como! Esqueçam intermináveis discussões políticas de Federações de Comércio, Senados Galáticos, Conselhos Jedi e bizarrices como midi-chlorians “O Despertar da Força” é Star Wars em sua mais pura essência, e mostra tudo que tornou essa saga muito mais do que simples filmes, e sim uma febre mundial que ultrapassa décadas, atingindo as mais diversas mídias, como animações, videogames, livros e HQs. J.J. Abrams, um fã de carteirinha da criação de George Lucas, teve a inteligência de chamar para ajudá-lo a escrever o roteiro ninguém menos que Lawrence Kasdan, o roteirista do melhor de todos os Star Wars, o
mítico “O Império Contra-Ataca”. Aqui temos um amálgama do passado e do presente os elementos narrativos e técnicos foram atualizados para o século XXI, mas sem descaracterizá-los. Trabalho mais do que brilhante. A trama se passa pouco mais de três décadas após “O Retorno de Jedi”, e, como a Disney já havia avisado de antemão, não tem nenhuma obrigação de obedecer aos acontecimentos do Universo Expandido (o que é uma pena). Para quem não sabe, a saga pode ter parado no cinema com “O Retorno de Jedi”, mas teve continuidade em outras mídias, e essas histórias fora dos filmes passaram a ser conhecidas como “Universo Expandido”. Com a morte do imperador Palpatine, o Império caiu, mas como fênix, ressurgiu na forma opressora da Primeira Ordem, herdeira dos vilões da galáxia. E como antagonista, a Primeira Ordem tem a Resistência, que por sua vez é a herdeira da Aliança Rebelde. Sim, você irá notar muitas semelhanças com a trilogia original, em inúmeras cenas e ideias deste novo filme alguns poderão chamar de falta de criatividade, mas eu prefiro chamar de inspiração e inteligência. Se tens uma fonte da vida eterna, beba dela o máximo que puderes. A líder da Resistência é a General Leia Organa (sejas bem-vinda de volta, Carrie Fisher!), e logo falarei também de outros personagens icônicos que também retornaram, mas antes vamos pra os novos protagonistas. Rey (vivida por Daisy Ridley) é a força (sem trocadilhos) feminina da trama uma personagem com-
plexa, que reluta em abraçar seu destino, mas quando o faz, não deixa pedra sobre pedra. É uma personagem ainda mais forte do que foi Leia na trilogia original. Ela é destemida, heroica e vai conquistar com méritos seu lugar entre os maiores nomes da mitológica saga espacial. Isso se vale não apenas pela perfeita construção da personagem, mas também à excelente e visceral atuação de Daisy Ridley. Finn (vivido por John Boyega) é um stormtrooper em conflito, que se torna desertor da Primeira Ordem e se une à Resistência. Ele é o alívio cômico da película, tendo cenas impagáveis com Rey e com uma certa dupla de contrabandistas muito conhecida dos fãs mas não se engane, pois Finn é também heroico quando se torna necessário. Uma ótima nova personagem que veio enriquecer
a saga, Finn tem química perfeita com quem quer que esteja contracenando com ele, numa grande atuação de Boyega. Poe Dameron (vivido pelo ótimo Oscar Isaac) é uma nova personagem diferente das demais ele não vai se descobrindo ao longo da trama como os outros dois, mas já aparece pronto. Poe é o melhor piloto da Resistência e o mestre do droide BB-8, do qual falarei adiante. É uma pena que ele seja pouco aproveitado em “O Despertar da Força”, mas isso poderá mudar nos Episódios seguintes. E chegamos ao novo vilão encarregado de empunhar um light saber vermelho Kylo Ren (vivido por Adam Driver). Ele é/foi membro dos Cavaleiros de Ren (mais sobre eles deverá ser falado nos dois próximos Episódios) e domina com muita intensidade
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o Lado Negro da Força. Seu visual remete, claro. ao ícone Darth Vader, de quem Kylo mantém guardado o elmo, destroçado. Ele é uma personagem em constante conflito, totalmente imprevisível e por isso mesmo, ameaçador. Preste muita atenção nas palavras de Kylo para o elmo de Vader, e mais ainda na fantástica cena com Han Solo para um bom entendedor, nada é exatamente como parece ser Kylo Ren poderá trazer a maior das surpresas para os fãs nos dois próximos filmes. Vale citar também sua explícita rivalidade para com o General Hux (vivido por Domnhall Gleeson), que lembra muito um Comandante Tarkin mais jovem. Kylo Ren é o mais bem construído vilão desde Darth Vader, e ainda tem muito para crescer. Darth Maul tinha visual espetacular, mas chegou mudo e saiu calado, num enorme pecado de George Lucas, e Conde Dookan, apesar de ser vivido pelo excepcional Christopher Lee, também foi muito mal aproveitado. J. J. reparou esse erro dos prequels e finalmente temos um vilão (muito!) interessante.
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Em tempo vale lembra que Darth Maul voltou muito melhor no Universo Expandido (não, ele não morreu quando foi cortado ao meio pelas mãos de Obi-Wan mas isso já é outra história). Voltando às personagens clássicas temos Han Solo (preciso dizer quem o interpreta?)! E não tem jeito, quando ele aparece pela primeira em cena, toda a sala diz “ohhh” e sorri de orelha a orelha. Não tem como não se emocionar. Harrison Ford dá um show de atuação é incrível como ele veste a pele de Han Solo com tanta naturalidade, como se o tivesse interpretado anteriormente há 3 meses, em vez de 3 décadas. Indiana Jones e Deckard que me perdoem, mas Ford é Han Solo e ponto final! Mesmo tentando se livrar da personagem desde que Solo foi congelado em carbonite. Solo tem um papel vital na trama, e protagoniza a cena mais emocionante do filme. E junto com ele temos seu fiel escudeiro, Chewbacca (vivido novamente por Peter Mayhew). Vale elogiar a decisão de Abrams, de utilizar novamente atores vestidos em fantasia para papéis como o de Chewie, ao invés de usar apenas a tecnologia de CGI para criá-lo, como por exemplo aconteceu com o intragável Jar Jar Binks, nos prequels. Efeitos “tangíveis” para cenários e criaturas casa infinitamente melhor com Star Wars do que abusos de cenas completamente digitais. O cineasta usa sabiamente a computação gráfica na medida certa, como uma aliada, não se tornando escravo da mesma. Mas temos também personagens com captura de movimento como Maz Kanata (vivida por Lupita Nyong’o) e também o Líder Supremo Snoke (Andy Serkis o maior “ator digital” da história do Cinema). Maz Kanata ainda deverá ter muita importância nos filmes restantes pois algumas questões sobre ela são misteriosas, como por exemplo, a relativa a um certo antigo lightsaber. Já Snoke é um mistério total quem será este terrível novo ser do Lado Negro da Força, líder da Primeira Ordem? E aí é que está a questão será mesmo “novo”? Iniciados no Universo Expandido logo sentiram cheiro de uma certo Sith Lord absurdamente poderoso, o Mestre de Darth Sidious. Relembrem a conversa entre Palpatine e Anakin Skywalker, quando o Sith tentava seduzí-lo para o Lado Negro da Força, em “A Vingança dos Sith” pode ser que Snoke seja ninguém menos que Darth Plagueis, o Sábio, o
único a ter aprendido a criar vida do nada, manipulando diretamente os midi-chlorians com seu vasto poder. Alguém aí se lembrou que Anakin não teve pai, e que sua mãe engravidou do nada? Se a Disney seguir esse caminho vai ser espetacular! Esperemos. Uma personagem que também foi pouco usada é a Capitã Phasma, vivida por Gwendoline Christie (A Brienne, de Game of Thrones). Vamos esperar que ela tenha maior tempo na tela nos dois próximos Episódios. E não podemos esquecer de citar os bons e velhos droides! C-3P0 (vivido novamente por Anthony Daniels) faz uma participação curta, aparecendo com um enigmático braço em uma cor diferente. Esse mistério será explicado em uma HQ a ser lançada antes do Episódio VIII. R2-D2 também faz aparição fugaz, mas importantíssima para a trama. Já o novo droide BB-8 toma conta de toda cena em que aparece. É cheio de carisma e personalidade, e possui mais “expressão” que muito ator famoso por aí. Seu carisma me fez lembrar de Wall-E apesar do design de BB-8 ser muito mais legal. A Fotografia, que ficou nas mãos de Dan Mindel é inspiradíssima, e só faz aumentar ainda mais a qualidade do longa. Ela é áspera, cheia de tons desérticos, e se faz presente para destacar os incríveis cenários do Design de Produção. Efeitos Visuais são inacreditáveis e apesar do 3D ser dispensável (nada mais é que uma criação su-
pérflua dos estúdios para encarecer os ingressos), obviamente ficam ainda mais impactantes com os tais óculos escuros. A Trilha Sonora? Ela é de John Williams preciso falar mais alguma coisa? Ouvir os temas originais (com pequenos novos arranjos) já valeria o ingresso, mas como se isso já não fosse suficiente, temos novos temas que se destacam. Atente para o de Rey, por exemplo, quando a aventura está começando. Star Wars – O Despertar da Força não é um filme perfeito, mas supera em anos-luz os pequenos defeitos com cenas fantásticas de ação, drama e aventura. É absolutamente emocionante ver na tela Luke, Han e Leia novamente, ver a Millenium Falcon detonando, ver batalhas entre X-Wings e Tie Fighters, ver brutais combates de lightsabers ver a ação ser perfeitamente equilibradas com divertidas cenas de humor, coisa em que a trilogia original era mestre temos tudo o que tornou a saga de George Lucas um verdadeiro mito transposto para uma linguagem atual, mas sem em nenhum momento nublar tudo o que Star Wars representa para todo um vasto mundo de fãs não apenas de Cinema, mas da Cultura Pop. Star Wars – O Despertar da Força é um marco cinematográfico, e merece ser visto e revisto A Força despertou, de forma avassaladora!
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ENTREVISTA
ENTREVISTA COM MIKE DEODATO Por Rodolfo Salvador
Rodolfo Salvador entrevista Deodato Taumaturgo Borges Filho ou Mike Deodato, nascido em Capina Grande na Paraíba em 1963, um dos melhores ilustradores de histórias em quadrinhos do mundo, Deodato tornou-se quadrinista influenciado pelo seu pai, Deodato Borges, que lhe ensinou a desenhar e foi quem lhe apresentou primeiramente os trabalhos dos mestres Will Eisner, Burne Hogarth. Como o ditado popular “filho de peixe, peixinho é”, o pai de Deodato foi jornalista, radialista, roteirista e também um quadrinista, tendo criado em 1963 o personagem “Flama”.
Foi na década de 70 que Deodato lançou seu primeiro trabalho independente como quadrinista, o personagem “Ninja” em parceria com o roteirista José Augusto. Já na década de 80 passou a produzir charges para jornais da Paraíba, tempos depois lançou o personagem “Carcará” e os quadrinhos “3000 anos depois” e a “História da Paraíba”. Na década de 90 desenhou para o selo norte americano de quadrinhos “Innovation Comics”, e
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depois desenhou “Miracleman Triumphant”, com roteiro de Fred Birke pela editora “Eclipse”, tendo também desenhado o quadrinho “Hibrides” com arte final de Neal Adams pela editora “continuity” do próprio Neal Adamns. Ainda na década de 90 passou a desenhar para a editora “DC Comics” onde desenhou os quadrinhos da Mulher Maravilha, tornando-se assim bastante famoso pelo mundo todo, trabalhou ainda na “Image Comics” editora do personagem
famoso “Spawn”, desenhando o quadrinho “Glory”. Atualmente Deodato vem trabalhando para a Marvel Comics onde já desenhou Os Vingadores, Thor, Hulk, etc. E é com muito prazer que eu posto aqui uma entrevista com Mike Deodato realizada via e-mail. Segue também o endereço do site de Mike Deodato para que quiser curtir o trampo dele. http://mikedeodatojr.tumblr.com/
1- Quando foi que você começou a desenhar, indo além, você fez algum curso de desenho? MD - Comecei por volta dos doze anos. Nunca fiz curso, mas meu pai, que é desenhista, me ensinou muita coisa. 2- “Transpiração” cantada por Ney Mato Grosso e Pedro Luís e Parede no disco “vagabundo ao vivo”, no seu caso a inspiração vem de onde? MD: Filmes, música, fatos marcantes em minha vida, mas, principalmente um bom roteiro. 3- Você considera o quadrinho como uma manifestação artística literária? MD: Sim, definitivamente! 4- Como foi trabalhar para a Marvel Comics e como essa experiência (tanto do trabalho como também a oportunidade de conhecer e trabalhar com nomes como Brian Michael Bendis entre outros), foi para sua vida profissional e pessoal? MD: A Marvel tem sido como família pra mim. Fiz muitas amizades e me sinto muito bem, criativamente falando, então, se depender de mim, ficarei lá por muitos anos. 5- Qual foi a revista que você mais curtiu em trabalhar?
MD: Wolverine: Origins. Sou muito fã do personagem. 6- Do seu ponto de vista, as recentes histórias em quadrinhos de super-heróis refletem a atual conjuntura dos EUA? MD: Isso depende de qual revista, qual autor, qual editora. Os quadrinhos de super-heróis hoje em dia, em geral, estão muito mais críticos e menos inocentes do que há trinta, quarenta anos atrás.
7- Quem são os desenhistas e roteiristas que você admira e mais, quais são os melhores quadrinhos que você já leu? MD: Muitos e muitos. Terei que citar só alguns por falte da espaço. Entre os autores: Miller, Moore, Morrison, Eisner, Foster. Entre os quadrinhos: Watchman, Batman Ano Um, Asteryos Polyp, Maus, League of Extraordinary Gentleman, WE3, Ken Parker. 8- E por fim, deixe ai para gente um recado de como é ser um dos mais fantásticos desenhistas da atualidade (o que não exagero de forma alguma) e fale um pouco de como seu trabalho influencia sua vida cotidiana? MD: Sou só um desenhista que adora o que faz: Minha vida é minha arte é minha vida.
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ENTRE VERSOS E PROSAS
EU SEI QUE VOU AMAR-TE Por Marcelo Pirajá Sguassábia
É
verdade. Vinícius e Tom escorregaram na norma culta, mas o nosso pacote de turismo interplanetário se encarregará de consertar o erro de português. Ou a licença poética, como queiram. Durante toda a viagem, a bordo de estofadíssima espaçonave, os pombinhos recém-casados terão como ininterrupto fundo musical “Eu sei que vou amar-te”, regravação da belíssima porém gramaticalmente equivocada “Eu sei que vou te amar”. A terráquea e miseravelmente comum lua de mel se transformará em inesquecível lua de Marte, podendo os nubentes optarem por uma esticadinha até uma das duas luas do planeta vizinho, Phobos e Deimos. Tanto em uma quanto na outra, encontrarão uma sereni-
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dade ainda maior do que em solo marciano, tão visado pela mídia dos humanos nos últimos tempos. Além do que não há sondas da NASA vasculhando as luas de lá, o que é uma garantia da mais de plena privacidade. Vermelho é a cor da paixão, e o planeta escarlate não poderia ser melhor cenário para momentos de fogo e volúpia, capazes de avermelharem de vergonha todo o sistema solar e quiçá as galáxias das redondezas. Dunas e montes ainda virgens do contato humano acolherão os corpos dos casais e ouvirão suas juras de amor eterno. Após saciada a carne, um revigorante banho com a água salgada recentemente descoberta. A mesma água encontrada nas paradisíacas praias do Pacífico estará aguardando os dois
(quem sabe três, a essa altura dos acontecimentos). Ao abrirem a janela da suite nupcial e darem com a linda visão da terra, bem distante, onde ela sempre deveria estar, e sentindo a indescritível delícia de ser humano longe de quaisquer outros exemplares da espécie, vai ser difícil querer voltar. Já prevendo essa possibilidade, levaremos um provimento extra de oxigênio, água potável e comida para pelo menos 16 dias a mais em solo marciano. Lembrando mais uma vez que o nosso pacote, no trajeto de retorno, inclui uma deslumbrante escala de três horas e meia nos anéis de Saturno. Crédito: Johannes Schedler (Observatório Panther)
ENTRE VERSOS E PROSAS
UIVAR PARA A LUA CHEIA Por Jorge Xerxes
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uando Bolinha apareceu na chácara de Seu Tatá foi só alegria. O céu de um azul intenso, o verde das matas, o brilho do sol, era como a primavera trazendo de novo o alento. O velho e bagunceiro Escovão tinha morrido há pouco tempo, Seu Tatá sentia falta doutro cão vira-latas daquele. Ele tinha ficado apenas com Batatinha e Xanadu, que eram filhotes, por isso não podiam acompanhá-lo na lida do pomar, nas idas e vindas até a vila para tratar dos negócios da chácara ou mesmo para uivarem juntos, sem compromisso, se a lua era cheia. É fato que Bolinha não estava sempre presente. Ele vinha de muito longe (ao menos para um cachorro), visto que morava noutro extremo da vila, onde ganhava o seu sustento como cão guia de um senhor cego. Bolinha era habilidoso na condução do seu dono através do calçamento e dos cruzamentos das vias. Mas o que ele gostava mesmo era da vida alegre na chácara e de acompanhar o Seu Tatá nos seus afazeres. Ao contrário do senhor cego, Seu Tatá não precisava dele, sabia se virar muito bem com a rotina da chácara, mas demonstrava carinho pelo divertido e desastrado Bolinha, meio sem tino para com as plantas. Bolinha, como todo vira-lata, gostava de se exibir, trazia uma manga na boca se Seu Tatá a arremessasse para longe. Abanava o rabo pedindo para Seu Tatá jogá-la novamente. E de novo. E de novo. E de novo. Ficava se esfregando nas pernas do Seu Tatá. E por ser correspondido, achava mesmo que Seu Tatá precisava dele. Mas aquelas brincadeiras do Bolinha eram bobagens. Só mesmo os cães, que não raciocinam, não percebem o quanto são, por vezes, ridículos em suas atitudes. Pidões e carentes; demasiado inocentes. Sair correndo, trazer uma manga na bocarra ou uivar para a lua cheia: Bolinha não se apercebia de que nada disso agregava a chácara, ao Batatinha, a Xanadu ou ao Seu Tatá. É verdade que se divertiam, mas só. A vida é grave. Existe um sentido maior para cada ato e toda a criatura deve se colocar no seu devido lugar. Então, quando Bolinha clamava por mais atenção, julgava-se merecedor de morar com Seu Tatá, assim como a Xanadu e o Batatinha, Seu Tatá foi ter com Bolinha: – Olha Bolinha, você é muito bonitinho e divertido, mas é cão guia do senhor cego lá na vila. Essa é a sua função nessa Terra. Pense bem, se não fosse por você, o senhor cego não poderia trafegar com segurança
pelo calçamento e através dos cruzamentos entre as vias, cumprindo tarefas ainda mais importantes que as tuas, na infinda escala dos desígnios das criaturas. Há um plano maior que alicerça e a tudo dá sentido. Veja como você é afortunado: mesmo sendo um cachorro vira-latas, você é também um guia, Bolinha. A Xanadu, o Batatinha e eu somos gatos. Nós somos independentes, não precisamos de você aqui na chácara. E depois, o Batatinha e a Xanadu vieram antes. Não podemos mudar uns pelos outros apenas. Precisamos estar orientados a um objetivo pré-estabelecido, anterior. Por isso, Bolinha, eu peço que você não me procure mais. Apesar de Bolinha pouco ter entendido quanto às motivações mais profundas que norteiam a aguçada percepção felina, mesmo para a parca sapiência de um reles cão vira-latas a colocação de ordem prática de Seu Tatá tinha sido bastante contundente. E Bolinha se conformou; com o rabo entre as pernas, ele retornou para o outro extremo da vila, onde morava com o senhor cego. Agora Bolinha tem consciência de como é afortunado, porque sabe que, por intermédio dele, o senhor cego pode realizar tarefas tão importantes que Bolinha é sequer capaz de concebê-las. Bolinha entendeu também que catar os objetos atirados e trazê-los de volta ao dono, assim como ficar roçando as pernas das criaturas em nada lhes acrescenta de valor, por isso desistiu desse seu feitio. Bolinha gostaria de entender a razão dos gatos, mas isso a sua natureza canina não permite. Deve haver motivo muito forte para um mundo assim tão justo e sisudo. Cada qual trabalhando como engrenagem de uma grande moenda a esmagar a si mesma. E a noite, em meio a seus devaneios, Bolinha ainda se recorda do quanto ele apreciava uivar para a lua cheia.
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ENTRE VERSOS E PROSAS
A ITAGUASES DE ESCOBAR Por Escobar Franelas
Parte 1 Os trens que chegam à estação de Itaguases vêm de vários lugares: Paranapiacaba, Jundiaí, Mogi das Cruzes, Itapevi, Luz, Brás, Barra Funda. O metrô também, e, da mesma maneira, muitas vans e ônibus. O bairro é bem assistido em transporte público, asseguram seus moradores. Outro detalhe que não foge ao olhar do visitante que aí chega pela primeira vez: o número de Unidades de Saúde, de Delegacias de Polícia, de praças arborizadas, escolas e creches. Apesar da louca movimentação de carros, pedestres, carroças, cavalos, motos e bicicletas, em todo o bairro, é possível ver que se respira um ar um tanto nostálgico, num clima suburbano típico de quatro décadas atrás, quando as únicas viaturas eram as “baratinhas” e o único hospital na região era aquele mantido pelas Irmãs Marcelinas. O máximo em construção vertical era um sobrado de três andares na parte alta da região, e toda a várzea era ocupada por diversos campos de futebol. Hoje a garotada desfila sua elegância com a bola nos gramados sintéticos das escolinhas de futebol, e pendurando crachás de identificação para que qualquer
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jogada mais violenta possa ser rapidamente identificada pelos diversos juízes que atuam nas linhas divisórias. Diversas câmeras, colocadas estrategicamente, servem para acompanhar qualquer atitude suspeita ou gesto errado de qualquer um dos garotos ou garotas. As mulheres, aliás, desfrutam de muito conforto nas alas das academias. Há salas de musculação, banheiras públicas de hidromassagem, diversos aparelhos de musculação, spinners motorizados, pesos e muitas outras manufaturas e ferramentarias para a prática esportiva correta. Itaguases é um bairro de primeiro mundo, exemplo para o Brasil. O que poucos sabem explicar, todavia, é como toda a região se tornou “modelo”, sendo periferia de um grande centro urbano e repleto de complexidades típicas de uma cidade de terceiro mundo. “Mas Sampalândia não é de terceiro mundo”, diz um astuto morador, assim que o inquiro; “o Brasil já exporta diversos modelos de qualidade de vida”, insiste o visionário morador, “e esse que você está vendo é apenas um deles”. A culpa de tudo isso, falam todos, é de Escobar Franelas, não o poeta recém-desaparecido (e mais recente-
mente aparecido, ainda que só nas telas de televisão, pois seu destino verdadeiro ainda é ignorado) e do qual todos estão comentando. Falam na verdade de Escobar, o pai. Baiano vaticinado pelo sol e pela aridez do sertão, o velho Franelas, sisudo e quieto chegou em Sampaulo no mesmo ano em que Getúlio morria em cima de um ´paudarara´. E no mesmo ano em que a bossa nova saía da zona sul carioca para o mundo, e o Brasil afirmava-se enquanto nome nos campos futebolísticos da Suécia, e também Juscelino cavoucava o centro médio do cerrado brasileiro; o velho Franelas, prático e calado, chegava na longínqua zona leste da capital de Sampalândia, para ´fazer a vida´, como se diz nas rebimbocas das parafusetas geográficas periféricas urbanas dessas terras em que, se plantando, tudo dá. Menos em Itaguases, cujo nome remete às pedras que infestam a região, impedindo uma cultura agrícola, e onde os primeiros colonos espanhois que tomaram as aldeias dos índios guaianás, resolveram se aboletar em torno do crescente comércio das pedreiras para prover a urbanidade que surgia em Sampalândia, no início do século XX. O velho Escobar estabeleceu-se na parte alta de uma várzea que se estendia por toda a região, e onde se pescava e caçava animais de pequeno porte, antes que o governo, com seus discursos tortos de convencimento, enchesse cada palmo de chão com um povo fugido da seca quente nordestina e ávido pela garoa fria da Sampalândia. Ali fincou seus primeiros roçados, e ficou vendo as plantações de casas que iam surgindo, surgindo, surgindo, aqui, acolá, mais lá, mais além, e mais, e mais, e mais Ao lado da linha férrea, brotava gente que nem milho, naqueles anos sessenta, e nos setenta nasceram chaminés, poucas, é verdade, mas que eram a fumaça feiticeira que levaria Itaguases à sanha modernizante. (Diego Bastardi, da equipe de 10 articulistas do semanário Óia, enviado especial)
Parte Final Itaguases tornou-se, com o passar do tempo, naquilo que alguns estudiosos dizem ser um lugar de prosperança ou, numa linguagem mais comum, de esperança próspera. O que personifica estes rincões periféricos assobradados pela dubiedade espera/progresso são a função identitária de cidade-dormitório que adquirem e a proposição de engraxantes numa sociedade
utilitária. As pessoas destas comunidades ocupam estas faixas que circundam centros econômicos pujantes e dinâmicos, tornam-se massa homogênea para afirmação de sistemas voláteis, de grandes avanços econômicos e enormes vácuos sociais. Com as mudanças bruscas operadas na Sampalândia, os círculos do entorno foram dispostos adequadamente (ainda que de forma aleatória), para cumprir a sina que lhes foi designada: engraxar as engrenagens, lustrar as peças, fazer a máquina girar. Era preciso que todas as itaguases do mundo se tornassem parte da peça. Para que a história não pare. É assim que podemos entender porque o bairro em questão, crescido à base do icônico “deus-dará” a que toda suburbanidade tem direito (e o dever de perpetuar, sob pena de ser duramente rebatida de forma policialesca). A oficialidade geográfica relegou a estes o direito de protagonizar, se possível, com o dever de imitar sem irritar. Foi por isso que Escobar Franelas (o pai), tornou-se a figura simpática que cumpriu a sua sina sem sucumbir a chamamento distorcido de uma arte sem religião, sem moral e sem história, como a praticada por seu júnior. A cultura do trabalho, progresso, moral e organização, preconizada desde o século 19, levantou o país, tirou os famélicos do nordeste árido para ajudar a arar as áreas fecundas do sudeste, uniu o Brasil em torno da “última Flor de Lácio”, atenuou as dores dos construtores da nação. contudo, há uma busca ensandecida pela notoriedade, o culto warholiano, o desespero das mariposas neomodernas diante do êxtase das luzes de neon que, concluímos – pois o espaço nesta coluna é curto (e custa caro!) – a terra de Santa Cruz, a nação do pau-brasil, o Estado que marchava em ordem, com destino ao progresso, corre o sério e angustiante risco de atrasar o lépido que imprimíamos em direção ao futuro. Tudo isso porque filhos não mais imitam os pais. Antes, os irritam. Como esse Escobar Franelas agora faz, numa brincadeira de pique-esconde que aflige a todos, a família, os amigos, a sociedade, a força policial e o país. (Diego Bastardi, da equipe de articulistas do semanário Óia, enviado especial a Itaguases, Sampalândia, Sampaulo, Brazil)
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ENTRE CULTURA
ENTREMENTES NA CORRIDA DE SÃO SILVESTRE! Por Dalto Fidencio
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ia 31 de dezembro dia de relaxar e acordar tarde? Não pra quem ama corridas de rua! O último dia do ano é dia da Corrida Internacional de São Silvestre! E como não poderia deixar de ser, lá estava eu, na madrugada do dia 31, rumando para São Paulo para fazer minha oitava participação na corrida mais famosa do Brasil! Desta vez foram 31 mil inscritos, fora os que participam sem inscrição mesmo, só pelo prazer de correr acho que o número total de atletas deve beirar os 45 mil corredores. Ou seja, se tanta gente reunida numa corrida forma uma belíssima imagem para quem assiste a prova, para quem quer realmente correr, atrapalha um pouco, pois a prova é disputada quase que em sua totalidade com um enorme engarrafamento humano então para se curtir a São Silvestre, é preciso um pensamento muito simples: ela não é bem uma corrida, ela é sim, uma festa aos que curtem corrrer! Esqueça preocupações com tempos ou recordes e desfrute de cada metro dos 15 quilômetros da prova paulistana. O percurso do ano passado foi mantido, e foi uma decisão correta, pois ele é muito bom, mesmo sendo maior que os oficiais 15 Km ele tem na verdade, 15450
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metros. Mas o melhor foi a largada ser novamente utilizando as duas pistas da Paulista antigamente, levávamos até meia hora (!) para conseguir passar pela largada, mas agora, mesmo saindo lá de trás, não se leva nem 10 minutos. Que essa forma de largada nunca seja mudada, é o que desejamos. Havíamos chegado em Sampa com 21º C e “cara de chuva” havia vento e estava até friozinho será que pela primeira vez eu participaria de uma São Silvestre que não fosse sob calor? A previsão era de chuva mas que nada! A largada feminina foi pontualmente dada às 8h40, com muita vibração do público, que torcia muito para as duas únicas brasileiras que tinham chance contra as africanas Joziane da Silva Cardoso e Sueli Pereira da Silva. Já a largada masculina foi dada britanicamente às 9h, já com 23º C e céu abrindo. No início, a São Silvestre não é uma corrida e sim uma prova de caminhada (a não ser que você seja do Pelotão de Elite, claro) é um verdadeiro mar de gente e é simplesmente impossível correr durante praticamente toda a parte da Paulista no máximo, conseguimos trotar depois que passamos pela largada. Antigamente
só em dias de São Silvestre (ou de protestos) se podia ver a Avenida Paulista assim livre de carros e com as pessoas a pé tomando posse dela mas agora vale lembrar que por uma iniciativa muito bacana da prefeitura paulistana, aos domingos a avenida é fechada por um período para os carros e vira um verdadeiro “calçadão” onde as pessoas andam de bicicleta, skate, patins ou simplesmente caminham por ali ótima iniciativa! Mas voltemos à prova. Depois da Paulista, temos uma curva para a esquerda, onde entramos na Avenida Doutor Arnaldo e pouco depois curvamos para a direita, na Rua Maj. Natanael e seguimos em frente, passando pela Praça Charles Miller, onde fica o tradicionalíssimo Estádio do Pacaembu, até chegarmos na avenida de mesmo nome. Daí para frente, Memorial da América Latina, Viaduto Orlando Murgel só para começar. A temperatura já estava em 24º nessa hora. Enquanto nós pobres mortais íamos em nosso ritmo lento, na Elite Feminina a brasileira Sueli chegou a liderar a prova, mas na subida da Brigadeiro, a esperança se findou e a etíope Ymer Wude Ayalew , que fazia uma prova conservadora, resolveu mostrar a que veio, e assumiu a liderança. Os metros finais na Paulista foram mais do que emocionantes, com uma luta acirrada entre Ymer e uma queniana, Delvine Relin Meringor. No final, Ymer Wude Ayalew sagrou-se bicampeã da prova, chegando apenas 2 segundos à frente da vice-campeã Delvine Relin. Elas fecharam em 54min00 e 54min03, respectivamente. Em terceiro lugar chegou
Failuna Abdi Matanga, da Tanzânia, que terminou a prova em 54min11. Logo atrás das africanas chegaram as brasileiras Sueli Pereira da Silva e Joziane da Silva Cardoso, nos honrosos 4º e 5º lugares. Elas finalizaram em ótimos 54min15 e 54min22, respectivamente. Enquanto isso eu passava pela Avenida Rio Branco e não muito depois, nós amadores chegávamos ao mais poético cruzamento da cidade o da Ipiranga com a São João! Pouco depois eu passei pelo meu ponto favorito na São Silvestre, que é quando passamos em frente à Galeria do Rock não importa o cansaço que esteja, sempre grito a plenos pulmões ali, fazendo o horns up: Galeria do Rooock!!! Um adendo é que pouco antes da São João eu comecei a conversar com um senhor que corria com uma boina do Che Guevara o senhor Dom Castro (nome sugestivo), que mesmo com mais de 55 anos e se tratando de uma enfermidade na medula óssea, estava lá, firme e forte na sua primeira São Silvestre, e vindo do Pará! Esse é um dos grandes prazeres dessa corrida tão especial ter contato com pessoas de todo o Brasil, e inclusive de outros países. Senhor Castro virei seu fã, espero que a gente se veja na corrida de 2016! Falando agora da Elite Masculina, as esperanças bra-
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sileiras eram Giovani dos Santos, Solonei Silva e Dalto Fidencio ops, errei, esqueçam esse terceiro nome aí, não sei de onde ele veio. A liderança ficava sempre alternando na primeira parte da prova, com Giovani e Solonei sempre colados no pelotão da frente. As trocas continuaram e só ficamos sabendo mesmo quem era o favorito no lugar que separa os homens dos meninos a desafiadora subida da Brigadeiro, claro! O queniano Stanley Kipleting Biwott, atual campeão da Maratona de Nova York, assumiu a ponta para não mais perdê-la, fechando a prova com o excepcional tempo de o tempo de 44min31. Ele já havia vencido a Maratona de São Paulo em 2010, e agora se sagrava definitivamente o rei das ruas da Terra da Garoa. O segundo lugar ficou com o atleta etíope Leul Gebresilase Aleme, que fez o tempo de 44min34, numa chegada tão disputada e emocionante como a feminina. Outro queniano fe-
chou em terceiro, Feyisa Lilesa, com 44min38. Giovani dos Santos mais uma vez foi o melhor atleta brasileiro, chegando na quinta colocação, com 44min58. Voltando ao poeta-atleta passei pelo Largo do Paissandu, o sublime Teatro Municipal, a Praça Ramos de Azevedo, peguei a Líbero Badaró, passei pelo Largo São Francisco e lá estava ela a Brigadeiro Luís Antônio, com sua famosa subida de 2 quilômetros, “morro acima”! Peguei meus 2 últimos copos d’água no Posto de Hidratação que existe no começo da Brigadeiro (existe outro no final dela, mas acho desnecessário pegar mais água ali quando a prova já está para terminar) e até acelerei um pouco na primeira parte, pois gosto de subidas e tinha bastante fôlego ainda, por ter feito uma prova sem me preocupar com o tempo. Na metade dela as pernas reclamaram e voltei a um ritmo mais moderado, para não ter nenhuma surpresa desagradável no final. Chegar no topo do Everest, ops, da Brigadeiro é uma sensação única! Dobrar em seguida para a direita e pegar a Paulista, correndo os últimos metros até a altura do número 900, onde fica o prédio da Gazeta é emocionante, impactante. Todo o esforço dos treinamentos é recompensado naqueles segundos e por incrível que pareça, já começamos a sentir saudades da prova! Ainda bem que um ano depois sempre tem mais. Com uma temperatura de 25º C, a missão foi cumprida! Prova finalizada, medalha (lindíssima por sinal) no peito, era hora de voltar para casa. Feliz daquele que corre a São Silvestre, pois poucos são os privilegiados que podem ter um final de ano tão marcante e realizador! Conectando ideias, conectando corridas de rua! Corrida Internacional de São Silvestre - Colocação Final Masculino 1. Stanley Biwott (Quênia) – 44min31s 2. Leul Gebresilase (Etiópia) – 44min34s 3. Feyisa Lilesa (Etiópia) – 44min38s 4. Edwin Kipsang (Quênia) – 44min41s 5. Giovani dos Santos (Brasil) – 44min58s Feminino 1. Ymer Wude Ayalew (Etiópia) – 54min00s 2. Delvine Relin (Quênia) – 54min03s 3. Failuna Matanga (Tanzânia) – 54min11s 4. Sueli Pereira (Brasil) – 54min15s 5. Joziane Cardoso (Brasil) – 54min22s Cadeirante Masculino Heitor Mariano dos Santos (Brasil) – 49min53s Cadeirante Feminino Aline dos Santos Rocha (Brasil) – 51min46s
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Moro onde o sol nasce... Acordo toda manh達 Com raios que perfuram As janelas dos meus olhos
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Aquarela É preciso fazer uma aguada de azul celeste sem esquecer de deixar máscaras para insinuar nuvens na tela (sabemos que há anjos entre elas), nuances de amarelo na linha do horizonte para contrastar com o verde-ciano e um rebanho de ondas-carneirinhos a povoar os campos do oceano, por fim, pinceladas de vermelho e ouro mostram meu avô na canoa que foi buscar o perfeito equilíbrio entre céu e mar. Por Domingos dos Santos
Em alguma parte Em alguma parte nua Sou tua Em alguma parte íntima Sou toda Em alguma parte amorfa Sou tola Em alguma parte morta Sou cripta Em alguma parte viva Sou cinza Em alguma parte inteira Sou trinca. Por Teresa Bendini
No way Os acertos são variados cada qual com sua peculiaridade, já os erros são sempre os mesmos, escritos ou vividos, nas Ilhas Marianas, no outro lado da lua, no quintal do vizinho motivos de tantos desalinhos de roupas, cabelos e destinos.
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Por Domingos dos Santos
Fé A arte encanta, na selva cidade! Entre arranha-céus, carros, asfalto Crises e mais crises. O homem descontrói as incertezas e faz arte. O caos se propaga. Há harmonia escondida nos que ousam sonhar. A fome é uma ilusão Enquanto não se faz real nos estômagos. Desde os tempos da caverna o lúdico se faz presente. Dançar, cantar, desenhar para nos fazer presentes. Mas a hora da caça é a caça. Registremos nosso viver. A felicidade em alguns segundos. No meio do dia um canto dentro do coração Reflete-se no canto de um canário. Dentro de nós nasce a possibilidade do nascimento da alma. Silenciar-se é um imenso desafio. Silenciar nossos desejos. Sair do labirinto é uma possibilidade real. Voltemos à criança que esta dentro de nós. Alma, fé, coração. A arte encanta, na selva cidade! Ainda nos sobra algum tempo? Por Joka Faria
Vale a pena? Viver nesse mundo dói do nascer ao anoitecer. Uma dor pungente que despista qualquer esperança que vaga entre os escombros à busca de inocentes. Mas as pessoas são felizes em suas redes sociais Quem dera! Mas, o poeta diz: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena” E para os que nem alma tem? Ou ainda para os que as tem tão pequenina? Por Elizabeth de Souza
Sobre poetas e rosas Ainda existem os jardins... apesar dos temores e bravamente resistem aos desamores... Mas as perfumadas rosas sinto-as cada vez mais raras (por exigirem mais atenção) no entanto sobrevivem em recantos protegidos onde ainda não chegou a humana destruição.. Mas, o certo é, que não encontro mais rosas (como antigamente...) nesses jardins planejados de plantas mais resistentes... Hoje as delicadas rosas quase só são cultivadas por mãos experientes, ou se queremos encontrá-las é preciso comprá-las... Porque as suas sementes não estão por aí, à disposição, em um cantinho qualquer como era antes... Será que ninguém está sentindo poetas e rosas fugindo, de um mundo em revolução? Procurando se esconder em outros jardins mais secretos que os(des) humanos olhares não podem ver...? Por Maria Lucia G. Martins
Lacrimosa serra A Mantiqueira passa por transformações A onda de novidades que eu esperava se instalou Ficará uma nódoa na lembrança que desbotará Já sinto saudades daquilo que quisemos e não fizemos Como alguém quem teve a sua beleza vendida Ela fica, estática, terna, como um cordeiro A serra que chora nada diz Lembro do Requiem de Mozart e sua lacrimosa. Por Paulo Vinheiro
O gosto Não gosto do fim de ano O fim de ano não é o fim de nada Não gosto do início de ano O inicio de ano não é o início de nada Não gosto do espaço entre o fim e o início Não gosto do que não é nada Gosto das bobagens que fazemos Entre o inicio e o fim do nada Grandes bobagens... Monumentais bobagens, cheias de significado Pontilhadas por grandes e tolas verdades Tolas verdades... Gosto das tolices verdadeiras Gosto das verdades tolas: As que dão graça a vida. Gosto de viver Gosto de mim e de você Gosto de ser despercebido Mas, gosto de perceber. Gosto de estar e sair De sair e ficar Gosto de ir e voltar Gosto de voltar sem ter que ir. Gosto do gosto Gosto de gostar Gosto do gosto de gostar Gosto do encosto de amparar Gosto de me amparar no encosto Não gosto do gosto do encosto Gosto da cadeira vazia Gosto da frase que a Lia lia Não gosto da frase vazia Gosto da moça que ria Da moça que via e nunca dizia. Gosto do instante de eu estar só Gosto de estar só Gosto de mim Gosto de eu gostar de mim Gosto de ser assim. Por Jose Raymundo Xavier
Viagem Na estação ferroviária há uma enorme variedade de rostos, cada qual com respectiva história e causa. - Aonde vai Sr. Tolstoi? - Estou fugindo de casa. Por Domingos dos Santos
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Poema Embriagado
Bulas com 7 quedas
Em Maputo, vi um domingo morto E um sábado asfixiado de prostitutas. Vi uma sexta-feira drogada de gente Depois duma quinta-feira morna.
No inicio nem era o Caos Mesmo assim luz se fez Luz de cura, luz de vida As 7 quedas
Em Xai-Xai, vi gente dançando tingoma Num sábado asfixiado igual à de Maputo. Vi as crianças pastando gado e cantando Os ritmos semelhantes à das guerras (xibalo). Em Zavala, me perdi com o ritmo da timbila Numa noite embriagante de xithokozelo. Vi idosos e crianças tocando africanamente Os hinos de guerra de todos os tempos (a fome). Porra afinal as prostitutas que vi em Maputo São meninas enganadas pelos senhores hipócritas Para serem escravas sexuais no Luso (da baixa) Em troca do abrigo e dinheiro de cabelo importado. Sacana daqueles hipócritas que falam asneiras Sobre o povo que morre a mingua do pão seco E farinha de milho apodrecido nos seus armazéns Pela incapacidade de gestão e amor ao próximo. Por Sanjo Muchanga
Matéria & solidão. Na Brancura do silêncio Meu rosto Empalidecido parece dizer: – O fúnebre vem de dentro! Por Fernando Selmer
Primeira........................................................ O beijo único musga o marrom glacê Que já foi pele de pêssego cremosa Saliva com morangos silvestres Segunda........................................................ Tudo de bem está para assim ficar... Terceira........................................................ Aquiescência O conhecimento sobre tantas pessoas. No singular e no plural Vê se aqui que primeira pessoa nada representa. No plural gladiam seus Eus. Quarta........................................................ O inconsciente em “Jó” permeia a instrução divina. Arrastou me em sua carruagem de “Íris” Me deu um “cadinho” do céu. Quinta........................................................ Filhos não são nossos, são iluminados Mensageiros do amor nas ondas do universo. Sexta........................................................ Após uma bateria de filmes sobre impermanência Meu coração escolheu “Wally” por mostrar a falta que o verde faz, a falta que faz o mundo se mover. A falta que se transforma em esperança. Sétima........................................................ Sua inteira pessoa desde o inicio do nosso tempo Ilumina nossos caminhos. ......................][‘mmmmmm ..........”............ Por Ricola de Paula
ENTRE VERSOS E PROSAS
RE-COMEÇAR Por Ronie Von Rosa Martins
Eles precisavam de olhos. E cérebro. Os outros pediam tinta. Tinta e palavra. Frase. Texto. Não gostavam de pausas. De paradas. Preferiam o contínuo. Mas o corpo era fraco. A carne. Esta pedira água. E álcool. E festa e som e sol. A carcaça exigira os prazeres do nada. Nada a fazer, nada a pensar. Ócio. Corpo à deriva no ócio. Mas agora era diferente. Muito tempo. Nas estantes da biblioteca. Selvagens os livros gritavam e urravam. Os cadernos batiam páginas assustadoramente brancas. Os textos decretavam que olhos deviam ser abertos. Precisavam do brilho. Vampiros. Sugavam o brilho dos olhos. Viviam destas luminosidades. E os livros não são dóceis. Até morrem, mas orgulhos, fechados em seus segredos e linhas. Mas ele não queria que morressem. Tinha uma certa relação com eles. Carne e papel. Corpos diferentes que se agenciavam. Metamorfoseavam. O problema é que os livros
eram insaciáveis. O corpo falível, cansado e incerto. Todo corpo era incerto. No telefone celular a convocação para a reunião. Todos os corpos juntos. Para o começo. Novamente o começo. Meio. Mas se parasse para pensar. Sentia que já estava na hora. O ócio também cansa. Chateia. Irrita. As festas também entendiam, as cervejas estufam o corpo. A televisão dociliza os olhos. As conversas “fiadas” se esgotam e tornam-se pregos na boca. Dolorosas e repetitivas. O regozijo dos livros. O mergulho no mar de traças. As tosses insistentes. As leituras indecifráveis. Os debates calorosos. As aulas cansativas. O café bebido como salvação para uma situação deveras complicada. Apenas um paço para a outra dimensão. A dimensão do trabalho. O capital é exigente. A produção. O corpo deve produzir, mostrar que é produtivo é imprescindível
neste mundo. Em breve os horários. E suas dificuldades. Em breve os ônibus e as portas das escolas. Em breve as pastas e mochilas. Em breve os passos sobre os mesmos passos sobre os mesmos caminhos que levam e trazem. Buscar a diferença no mesmo. O singular. Abrir um novo caminho no mesmo. Possibilidade? Necessidade. As outras vozes. Parcerias. De tempos e lugares distantes. Todas em agenciamento produzindo outra voz. Diversidade. Multiplicidade. Voz coletiva. Havia um rio e o sol e a areia que se afastavam. Lentamente. Um verão que começava a se desvanecer. Não era uma questão de alegria ou tristeza, luz e sombra. As dicotomias eram para os simplórios. Era, talvez, esse oscilar necessário do corpo que ao atravessar as dimensões de suas próprias sensações tremia em relação à possibilidade do inusitado advinda do tempo por vir.
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ENTRE CINE
Nada muito sobre filmes (sugestões de filmes de todos os tempos) Por Germano Xavier
eu ainda morava no Vale do São Francisco. Recomendo a todos os mortais! VIAGEM À LUA (LE VOYAGE DANS LA LUNE), de Georges Méliès. Considerado o primeiro filme de ficção científica da história do cinema, é datado de 1902. Representou um avanço para a época em muitos sentidos. São 14 minutos de pura magia. Vi nos dois padrões de cores. Recomendo a todos os mortais! O SÉTIMO SELO (Det Sjunde Inseglet – 1957), do diretor Ingmar Bergman. Num duelo direto com a Morte, tendo como alegoria de escape uma partida de xadrez, o protagonista tenta adiar a chegada de seu derradeiro momento em vida. Cruzadas, Peste Negra, medievo e a fé questionada são os motes de base. Um clássico, deveras. Recomendo a todos os mortais Filmaço este tal de DELICATESSEN (1991), dos diretores Jean-Pierre Jeunet e Marc Caro. Atmosfera caótica – bem do jeito que eu gosto -, mundo e pessoas passando por privações alimentícias, entre tantas outras. Um açougueiro carniceiro, vendedor de carne humana, que exerce o poder dentro de um edifício caindo ao pedaços, um romance no meio de tudo e está pronto um digníssimo exemplar de Surrealismo em altíssimo naipe. O resto só assistindo mesmo, pois não vou contar. Da mesma turma que fez O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULAIN. Recomendo a todos os mortais!
OS PÁSSAROS (THE BIRDS), de 1963. Dirigido por Alfred Hitchcock, a película é um clássico do suspense e para a época de seu lançamento suponho que deva ter sido deveras impactante. Os moradores da pacata cidade de Bodega Bay, na Califórnia, começam a sofrer inexplicáveis ataques de pássaros, o que modifica por completo o cotidiano do local. O momento final é marcante. Recomendo a todos os mortais! THE DOORS (1991), do diretor Oliver Stone. 2 horas e 20 minutos para quem gosta da mítica banda de rock liderada pelo poeta Jim Morrison e para quem ainda não conhece o universo xamânico-literário que circundava o quarteto. Apesar de focar o lado obscuro de Jimbo e apagar um pouco o brilhantismo dos outros componentes da banda, o filme agrada. Um salve para Inês Guimarães, que me apresentou ao ilustre som quando
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O PLANETA DOS MACACOS (1968), do diretor Franklin J. Schaffner, é um filme estadunidense do gênero ficção científica que inaugura a enorme série que leva o mesmo nome. Na trama, o futuro é dominado por macacos e os humanos não passam de seres subalternos a eles. Todavia, uma expedição humana oriunda de um distante passado pode mudar toda a história do mundo. Um filme a ser visto e pensado. Recomendo a todos os mortais! DE VOLTA AO PLANETA DOS MACACOS (1970), do diretor Ted Post. A saga continua, agora com foco no personagem Brent, astronauta que também faz a mesma viagem de Taylor, caindo no mesmo planeta desconhecido. Macacos, homens e mutantes numa incessante luta pelo poder. Alusões diretivas também acerca de questões referentes à produção das guerras. O filme não consegue ser brilhante como o seu precursor, mas alimenta ainda mais a curiosidade diante das continuações da narrativa. Para quem se interessar possa, recomendo a todos os mortais!
ALICE IN WONDERLAND (Alice no País das Maravilhas – 1903), filme mudo de origem britânica, dirigido por Cecil M. Hepworth e Percy Stow. É considerado a primeira adaptação para o cinema do famoso livro de Lewis Carroll. Para quem gosta deste clássico da literatura, vale a pena dar uma conferida. São pouco mais de 8 minutos. Recomendo a todos os mortais! O GRANDE ROUBO DE TREM (The Great Train Robbery – 1903), do diretor Edwin S. Porter. Considerado por muitos o primeiro filme de faroeste já produzido no mundo, com uma coleção de elementos simbólicos que fariam parte do imaginário do gênero a partir de então. Foi deveras interessante a experiência de vê-lo. Recomendo a todos os mortais! Relato da curta vida de uma prostituta francesa, o filme VIVER A VIDA (VIVRE SA VIE – 1962) é tido como a primeira obra madura do diretor Jean-Luc Godard, o cineasta filósofo. A película em P&B é dividida em doze quadros, que se unem e ao mesmo tempo não se integram totalmente. Sensualidade, filosofia, crítica social e um apanhado de referências a outros exemplares de cultura se relacionam durante todo o tempo de exibição do produto em questão. Recomendo a todos os mortais! LADRÕES DE BICICLETA (Ladri di biciclette), de 1948. Considerado a obra-prima do diretor Vittorio De Sica, o clássico em preto e branco retrata bem a situação complicada em que se enveredava a população italiana no pós-guerra. Precisando de um emprego para sustentar a família, um trabalhador vê um jovem estranho furtar sua bicicleta, sem a qual não poderia seguir no trabalho. A partir daí, inicia-se uma verdadeira saga em busca da magrela por toda a cidade. Uma película que rende muita discussão. Recomendo a todos os mortais! O ILUMINADO (THE SHINING). Lançado em 1980, a película é mais uma grande produção do diretor Stanley Kubrick. Quem gosta do gênero Terror/Suspense não pode ficar sem vê-lo. É tensão e angústia do começo ao fim. Fotografia e música surpreendem. O enredo é baseado no livro homônimo de Stephen King. As atuações de Jack Nicholson e Shelley Duvall impressionam. O ILUMINADO possui todos os ingredientes de um verdadeiro clássico do cinema. Recomendo a todos os mortais! A EXCÊNTRICA FAMÍLIA DE ANTÔNIA (1996), da diretora Marleen Gorris. O filme é um relato sobre o tempo e sobre como a vida e a morte estão intimamente ligadas por um fio inquebrantável, indivisível. Os dois elementos, destarte, ganham ares de igual beleza e dor. Tudo passa, pois tudo deve passar. Tudo vive, tudo morre. E nada nem ninguém morre para sempre. Recomendo a todos os mortais!
THE STRAIGHT STORY (História Real), de 1999 e direção de David Lynch, este monstro do cinema. Um dos filmes mais lindos e emocionantes de toda a minha vida! “Eu sou o Alvin, eu sou o Alvin!” – gritei dentro de mim após o desfecho da última cena. Parecia que era eu quem estava atravessando os Estados Unidos em cima de um cortador de gramas! Se não fui eu, em verdade eu estava lá no reboque ou no meio das tralhas do Alvin a percorrer o orgulho de uma vida para acertar contas com o tempo perdido. Que lição de vida, Iara Fernandes! E que final! Lágrimas, lágrimas, como é bom estar vivo e sentir tudo isso! Ninguém pode morrer sem antes ver este filme! Doce e feroz, manso e atroz, nós caçadores de nós! Recomendo a todos os mortais! BELLE DE JOUR (A Bela da Tarde), drama francês de 1967 com Catherine Deneuve no papel da protagonista e direção de Luis Buñuel. Atmosfera onírica, conflitos consciente-inconscientes, busca pela liberdade individual e pelo prazer acima de qualquer consequência. Mais um belo exemplar da arte que “brinca” com o tema do “duplo” no ser humano. No fundo, Séverine Serizy é um reflexo de todos nós. Um filme maiúsculo. Recomendo a todos os mortais! WILD AT HEART (Coração Selvagem), de 1990. Mais um belo trabalho do diretor David Lynch, que possui muitas influências surrealistas em sua obra. A película é uma ode ao amor vagabundo, ao amor fora-da-lei. Um filme sobre “Errância” (tema que muito mexe comigo) e com muita estrada cortada ao sol empoeirado dos Estados Unidos. Com Elvis Presley ao fundo na trilha sonora e também muitas referências diretivas ao clássico da literatura O Mágico de Oz, não há como resistir aos seus encantos de drama. Recomendo a todos os mortais! UN CHIEN ANDALOU (Um Cão Andaluz), de Luis Buñuel em parceria com Salvador Dali. De 1928, a película é considerada o primeiro e o maior expoente do movimento surrealista no cinema. Para incorporar, não para entender, tal qual a poesia. Recomendo a todos os mortais! PULP FICTION – TEMPO DE VIOLÊNCIA (1994), considerado por muitos a obra-prima do diretor Quentin Tarantino. “O caminho do homem justo é rodeado por todos os lados pelas desigualdades do egoísmo e da tirania dos homens maus. Bem-aventurado aquele que, em nome da caridade e da boa vontade, pastoreia os fracos pelo vale das trevas, pois ele é verdadeiramente o guardião do seu irmão e o descobridor das crianças perdidas. E derrubarei sobre ti, com grande vingança e furiosa raiva, aqueles que tentam envenenar e destruir meus irmãos. E você saberá que o meu nome é Senhor quando eu derramar minha vingança sobre você.” Ezequiel 25:17. Recomendo a todos os mortais!
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ENTREVISTA
ENTREVISTA COM STREET FOR NOISE Por Joana D’Arc
Joana D’Arc entrevista Street Noise formada em 2004. E passou por longos 8 anos de silencio, voltando a ativa em outubro de 2013.
1- Como surgiu a Street for Noise? O Street For Noise surgiu em 2004 da união de 3 amigos (Henrique, Rodrigo e Nem) com o intuito de fazer um som descompromissado em relação à qualquer estilo. A ideia desde o início era fazer um som com identidade própria e investir em composições autorais, mas como toda banda, começamos tocando alguns covers de bandas que ouvíamos desde a adolescência como Inocentes, Pennywise, Green Day, Ramones e Flicts. Após alguns ensaios convidamos outro amigo nosso (Fabio) para cantar já que éramos praticamente uma banda instrumental. Junto com ele veio também outro amigo nosso para juntar assim a primeira formação do Street: Fábio(vocais), Henrique (guitarra), Márcio (guitarra), Rodrigo (baixo) e Nem (bateria). Dias antes de fazer nosso primeiro som o nosso baterista Nem, resolve sair da banda e em seu lugar entra Daniel. Com essa formação foi feita a estreia do Street e seguimos o ano de 2004 com essa formação, tocando pelas cidades do ABC. No final deste mesmo ano devido a divergências internas resolvemos dar um tempo com a banda e tocarmos outros projetos. Mas na verdade o Street nunca acabou, sempre teve o sentimento e a vontade de que iriamos voltar. Então após 9 anos de silêncio, em 2013 nos reunimos como um trio, para fazer um show beneficente no antigo Micróbios Rock Bar, um dos points mais conhecidos aqui de nossa cidade. A
formação pra esse show foi: Henrique( guitarra e voz), Rodrigo (baixo e voz) Daniel (bateria). Mesmo sem tocar juntos à tanto tempo bastou alguns ensaios pra ver que o velho entrosamento estava de volta. Nos apresentamos durante o ano de 2014 com essa formação, com a qual foi gravada a Demo “Rompendo o Silêncio”, mas sempre sentimos que faltava algo. Então após uma conversa resolvemos convidar mais um amigo nosso (Edivaldo) para fazer parte da nossa família (assim que nós nos referimos ao Street, como uma grande família) e assim seguia a formação em 2015 Henrique(voz), Edivaldo (guitarra), Rodrigo (baixo) e Daniel (bateria) infelizmente Edivaldo após alguns shows teve que deixar a banda, e após uma pausa de 7 meses voltamos com o Eduardo oliveira na guitarra.
2- Como vocês definem o som da banda? Rock! Basicamente o Street é uma banda de rock. Esse lance de se limitar a uma vertente apenas não nos atrai. Queremos ter a liberdade de experimentar e acrescentar em nosso som todas as influências que temos em nossa formação musical. Mas se alguém fizer questão, nos somos uma banda que faz um Rock’N’Roll Maroto e Estridente.
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3- Como funciona o processo de composição de vocês?
Acreditamos que a música seja uma importante ferramenta de protesto, por isso temos um certo cuidado em relação às letras, queremos usar de forma positiva essa oportunidade que temos em levar uma mensagem à sociedade e dizer que não concordamos com as regras impostas. Não seguimos nenhuma “receita”, as composições geralmente são feitas por alguma experiência que vivemos ou até mesmo observamos. Tentamos ser o mais natural possível, sem muita frescura. Nossa maior preocupação é que as músicas sejam honestas, que passem realmente aquilo que sentimos.
4- Qual é o maior objetivo da banda? Ser ouvida...fazer shows...Ninguém monta banda pra ficar só ensaiando...Gostamos do palco...da atmosfera que envolve o show...A adrenalina...Isso que nos move... Conseguir gravar nosso disco e manter uma formação por 1 ano no mínimo (riso) 5- O rock é mais técnica, atitude ou inspiração? Vale a pena fazer rock n’roll no Brasil? É um pouco de cada, não adiante técnica sem atitude e inspiração...Uma coisa completa a outra... Sim...Vale muito...Num país onde se vê tanta música fútil e pobre melodicamente...Vale muito a pena ir na contramão disso...O rock foi e sempre será uma forma de contestar os moldes que a mídia e a sociedade tentam nos mandar seguir.
rem por um bem comum, outros só pra si. Mas mesmo assim vai moda, entra tendência e o Rock tá aí... Bem hoje na cena tem muitas bandas promissoras mas quase todas tem muitos anos de estrada, Plastic Fire, Worst, na cena indie rock vem crescendo também temos bandas como vivendo do ócio são bem promissoras.
7- A musica no formato digital ajuda o trabalho autoral ou atrapalha? Qual é a visão da banda sobre o cenário independente nos dias de hoje? Acredito que ajuda pelo lado de divulgar o trabalho de uma forma mais rápida que um CD convencional,porém tudo tem um custo para gravar existe gastos que muitas vezes não há retorno financeiro. A cena hoje se divide bastante entre velhas bandas,e bandas que tentam se firmar,mas a falta de público em muitos eventos vem enfraquecendo os movimentos independente.
8- Obrigada pela entrevista. Deixem os contatos da banda? Além da nossa fan page no facebook Street for Noise,você pode estar recebendo nosso material enviando um email para streetfornoise@gmail.com, agradecemos a todos pela força.
6- O que vocês acham da cena musical brasileira hoje em dia? Quais bandas brasileiras vocês acham promissoras? A cena tem seus altos e baixos, mas segue. Alguns cor-
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ENTRE SONS
BLACK BOWIE Por Wallace Puosso
isso enquanto artista, pela necessidade de me alimentar dessas coisas, que são matéria prima de qualquer criação artística. Mas, de tempos em tempos, surge algo que se sobressai, que perturba, que faz com que nossa percepção sobre determinadas coisas se altere. E, nesses momentos, eu me sinto revivido como artista.
“Tudo isso pra falar que David Bowie vai fazer falta, muita falta.”
C
onfesso que pouca coisa chama minha atenção ou me provoca enquanto artista, no que se produz ultimamente. Não sou crítico, falo de coisas que me tocam. Seja música, cinema, literatura ou teatro. Infelizmente pra mim, pouca coisa se salva. Talvez pelo “cansaço” criativo de grupos e artistas que já fizeram (alguma) diferença. Talvez porque já não haja mais nada a se dizer (que já não tenha sido dito), nenhum conteúdo imagético ou sensorial provocador o suficiente (num mundo saturado por imagens e sons), nenhuma estética que indique possíveis caminhos ainda não experimentados.
‘“A sensação que tenho é que estamos numa encruzilhada. E já faz tempo.” Muito do que se produziu nos últimos anos parece repetir modelos que deram certo em algum outro momento. Mesmo que isso signifique uma possível “releitura” de determinada obra, a ressignificação de mitos, ritos e arquétipos, experimentações de linguagem. Pode até ser um caminho. Mas o risco de se fazer mais-do-mesmo com “roupagem” diferente é grande. Digo
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Nada na vida de Bowie foi usual, rotineiro, linear. Inclusive sua morte. Completou, 69 anos, lançou um álbum excepcional que, de certa forma, rompe com seu passado e indica com incógnitas e pistas por todo lado, novos rumos para a música nesse sofrível século XXI e nos deixou um legado que impressiona. Com 25 álbuns na bagagem (dos quais pelo menos metade são essenciais para entender a cultura dos anos 70, 80) e sem necessidade alguma de provar mais nada. Ele foi (e continuará sendo) parte importante do imaginário cultural do século XX. Um artista inquieto, curioso e inventivo mesmo perto dos 70 anos, com a coragem de investigar novos caminhos estéticos, de se reinventar. Não é pouca coisa. Blackstar, seu último álbum, lançado na última sexta, dia 08, vem com trabalho inusitado, revigorado, provocador. Entre as influências para as sete canções inéditas, está o rapper americano Kendrick Lamar. E ainda tem parecerias robustas. O saxofone jazzístico de Donny McCaslin, a produção impecável de Tony Visconti, responsável pelos álbuns mais importantes de Bowie e pra arrematar, os clipes de “Blackstar” e “Lazarus”, assinados por Johan Renck, (responsável por episódios das séries “Breaking Bad” e “The Walking Dead). Em ambos os clipes, pistas de que Bowie já estava se despedindo daqui. É só prestar atenção aos detalhes. Mais contramãos, mais contracorrentes. Outros sentidos outros: Bowie não morreu, apenas deve aterrissar em outro planeta e povoá-lo com o melhor rock’n roll. Wallace Puosso*, 11/01/2016 * Ator, diretor e poeta, integrante do grupos Teatro D’Aldeia, Poesia Sob o Sol, Demora Mas Chega e Experiência Dylan.
ENTRE VERSOS E PROSAS
ELÍSIO
Por Alexandre Lúcio Fernandes
O
s dias pontuam seletivamente, contorcendo os dissabores ao avesso; transmutando ao verso o reverso dos nebulosos momentos. O sopro fúnebre que jaz na transição noite-dia reluz o torpor, vertendo a dor em um cobertor celeste de exímia maciez. A paz se realinha nas dobraduras cotidianas e furtivas, maquinando a textura das suas vestes, para que caibam nas formas mundanas e relegadas. Tudo se torna refém de uma passagem espontânea e imperceptível, profundamente natural e independente. A penumbra reverte e, obediente ao espetáculo silente que brota ‘do nada’, assiste cativo o paraíso se despir e revelar sua autoridade imponente, porém, serena e cálida. Os olhares se perdem na po-
esia retumbante dos horizontes adormecidos e misteriosos, linhas convidativas para um deleite sem precedentes. O medo se acusa, debandando-se em meio a devaneios perdidos e inexpressivos. O céu acolhe o timbre do mundo, um eco de amor sobressaído do recôndito humano que sobrevive todo dia ao tremor. Fugaz é a chama que tremula os sonhos mais belos e equaliza a ressonância poética dormente pelos cantos. A natureza se pinta no obscuro, atento a olhares que vasculham pelos valores esquecidos. Há quem ainda desembrulhe o amor em meio a tanto ódio. Tesouros são descobertos. Há passos que esculpem a esperança pelos territórios ermos, solidificam o chão e impõem base de sustento para
quem crê e segue adiante. O caminho é traçado por uma sinfonia, protagonizado por uma orquestra divina. As belezas rematam, florescendo em nossas janelas, apaziguando as aflições, o tempo latente que laça as horas e cicatriza fendas na alma. Findam-se sem enunciar. O sorriso se dilata nesse giro despretensioso dos dias incomuns, reverenciando as pradarias celestes que se avistam nesse ritmo leve de descosturar os tecidos do mundo. Viver exige perícia E uma coragem sem tamanho! Certo é que os intervalos da vida são repletos de surpresa, e que as mudanças sempre ocasionam infindas e divinas doçuras no paraíso do nosso peito.
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ENTRE TRILHAS E VIAGENS
CRÔNICAS DE SÃO TOMÉ - África Por Luisa Fresta
A
viagem começa no primeiro café tomado no aeroporto antes da partida. Finalmente abre o check-in e preparo-me para entregar a mala. Surpresa: os nossos lugares tinham sido trocados (“bloqueados”), no jargão da companhia, eventualmente por razões de segurança, “mas que não nos preocupássemos”, sossegou-nos a eficiente assistente de terra, pois os lugares eram igualmente bons, situados perto das casas de banho e da tripulação, “para qualquer coisa que precisássemos”. A troca pareceu-me favorável, embora continuasse sem perceber o motivo para se alterarem lugares depois de ser feito o check-in online. Ao entrar no avião, constatei que os lugares que nos eram destinados estavam ocupados por passageiros da classe executiva. Provavelmente a maneira que a companhia encontrou para resolver um constrangimento causado pelo over booking foi transferir dois passageiros de classe económica, dos melhores para os piores lugares do avião, ao fundo, num sítio onde qualquer criança franzina de 10 anos se sentiria encurralada. Reclamei delicadamente e o simpático staff colocou-nos à disposição dois lugares confortáveis. Problema resolvido sem dramas maiores. Entretanto uma mulher loira, elástica e atlética como uma onça, saltou por cima de um passageiro para ir à casa de banho. Fê-lo mais do que uma vez, fazendo parecer fácil aquilo que poderia causar uma crise de ciática a qualquer um. Um pé no apoio dos braços, outro por cima do passageiro que dormia profundamente junto à coxia. E lá foi ela passeando pelo avião como um gato sobre um piano de cauda. Outro passageiro
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tentou por 3 vezes ir ao WC mas os deuses não lhe foram favoráveis; de cada vez que a vontade apertava cruzava-se com o carrinho das refeições ou do café e lá ficava ele bloqueado sendo obrigado a retroceder de marcha a ré, com a elegância possível; haja próstata para tanta espera! Quando à quarta vez conseguiu chegar ao seu destino, tive vontade de bater palmas e confesso que fiquei comovida. E falando em aplausos, porque é que as pessoas aplaudem uma boa aterragem? Ok, nem todos o fazem. Eu não o faço mas gosto de observar aqueles que aplaudem, grunhem e gritam, tudo ao mesmo tempo. Como num concerto de rock. Mas não consigo imaginar o comandante Fonseca Damião como uma estrela pop. Ou rock. Nem um cirurgião, nem um professor. Tais aplausos merecem um estudo antropológico. Depois há aqueles passageiros que se beijam ruidosamente mesmo à nossa frente, enquanto fazem tremer as cadeiras reclinadas para trás. Apetece-me falar-lhes numa artrose incipiente num joelho mas receio não os comover nem os demover. De cada vez que se agarram os meus joelhos sofrem um impacto como num carrinho de choques da feira. E viva o amor. Entretanto o comandante vai dando conta da viagem à laia de crónica, com um estilo notável. E o ecrã de bordo também nos explica que sobrevoamos Nouakchott, depois Dakar. Imagino-me a mandar abraços para os amigos que por lá andam. “Ainda não é hoje que tomamos esse chá mas daqui vos sobrevoo e sinto-me incrivelmente próxima de vocês neste instante”. Grito mentalmente:
“J’ai survolé Nouakchott”. Já é um enorme passo nesta viagem, um tango aéreo, com toda a turbulência e beleza sem limites que lhe são inerentes. Aos poucos aproximamo-nos do Gana, pois Acra é o primeiro destino. Entra una equipa masculina de limpeza que nos pulveriza com aerossóis. Depois é a vez do staff da companhia
por outras palavras mas foi o que eu retive. Assim são os meios pequenos, para o bem e para o mal. O hotel é encantador; não obstante, por alguma razão que ainda ignoro, o sono teima em fugir. Por isso vos escrevo esta crónica, madrugada fora, esperando pela próxima etapa para viver. E depois contá-la. 1] Sobrevoei Nouakchott SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
espalhar desinfetante assegurando que “não oferece qualquer perigo para a saúde”. Ficamos na dúvida se se refere à saúde dos mosquitos ou dos humanos; nenhum mosquito pergunta e eu sigo-lhes o exemplo. A equipa é exclusivamente masculina, para espanto dos europeus, que estão habituados a ver estas tarefas entregues predominantemente às mulheres. Ou vice-versa, o que, não sendo igual, dá no mesmo. De Acra para S. Tomé é um pulo. Uma passagem matinal pela IC19 pode ser mais demorada e bem mais esgotante. À chegada, a temperatura é amena e o aeroporto que nos acolhe é pequeno e funcional. Os funcionários parecem excecionalmente cordiais e agradáveis. Não estamos habituados a ser mimados e este tratamento choca pela positiva. Surpreende. A saída do aeroporto é o ponto de encontro com numerosos “amiguinhos” que me querem vender coisas que ainda não sei que preciso. Um deles garante que me conhece do Facebook. Todos se apresentam e eu retribuo a gentileza com alguma timidez. Outro afirma que é o Mantorras de STP, nome que não vou esquecer por razões que explicarei mais tarde. Carregam malas que eu já estou a levar. O trajeto para o hotel, por uma estrada sossegada, fica a cargo de Santos, um jovem guia turístico muito eficiente, que acumula o emprego com o curso universitário que frequenta. Santos conhece a cidade toda e aproveita o caminho para nos falar da terra e das gentes. Ficamos a saber que os níveis de segurança aqui são altos “porque aqui toda a gente se conhece”, há pouca gente, e “se alguém fizer asneira todos sabem”; disse-o
“São Tomé e Príncipe é um arquipélago constituído por duas ilhas de origem vulcânica situadas junto ao equador, ao largo da costa do Gabão, na região do Golfo da Guiné, a cerca de 300 Km do Continente Africano. É o estado africano mais pequeno, depois da República de Seychelles. A beleza extraordinária das praias localizadas no equador, a verdura luxuriante das paisagens e as condições climáticas promovem condições fantásticas para o desenvolvimento do Turismo. As ilhas estão rodeadas de vários ilhéus de pequena dimensão, entre os quais se destacam, em São Tomé, o Ilhéu das Rolas, o Ilhéu das Cabras e as Sete Pedras e, no Príncipe, o Ilhéu Bombom, o Boné de Jockei, a Pedra da Galé, as Tinhosas e os Mosteiros. Os ilhéus estão quase todos desabitados, mas chegam a ser ocupados temporariamente por pescadores em busca de melhores oportunidades de pesca. São Tomé é uma ilha equatorial cujas encostas orientais e planícies litorais estão cobertas de plantações de cacau, lavradas de uma densa selva montanhosa entrelaçada por numerosos riachos. A ilha do Príncipe, que ocupa cerca de 15% da superfície do arquipélago, está coberta na sua maioria por floresta tropical, e as suas costas talhadas por numerosos recortes curvilíneos e sinuosos”. http://www.emb-saotomeprincipe.pt/stp.html
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ovamente o palco para a maior convenção geek/ nerd do continente foi a capital paulista, ocorrendo na São Paulo Expo, antigo Centro de Exposições Imigrantes, mesmo local do ano anterior. Devidamente credenciado como Imprensa, o Entrementes ampliou sua participação neste ano! O mesmo esquema para se levar as pessoas do ano passado foi repetido quem não queria ir de carro bastava ir até o metrô Jabaquara, que ainda dentro da estação já iria encontrar pessoas uniformizadas com a camisa da CCXP, indicando a saída correta. Lá fora, mais membros do staff da CCXP indicavam onde ficavam os vários ônibus que levavam de forma gratuita as pessoas até a São Paulo Expo. O local encontra-se em obras do lado de fora, e isso fez com que as pessoas tivessem que percorrer um longo caminho até a verdadeira entrada do evento maratonista que sou, não me importei nem um pouco, mas esse detalhe com certeza não agradou muita gente. Na quinta-feira, primeiro dia, a Imprensa entrou antes do público, para poder acompanhar a Coletiva de Imprensa, onde Érico Borgo, Marcelo Forlani, Otávio Juliato, Pierre Mantovani e Renato Fabri (todos do Omelete), além de Ivan Costa (Chiaroscuro Studios) e Renan Pizii (PiziiToys, Iron Studios), falaram o que o público poderia esperar da convenção, e de suas expectativas para o evento. Também foram respondidas perguntas dos jornalistas. Depois disso, era hora do começar pra valer a Comic Con Experience! O público começava a chegar em peso, atrás das mais diversas atrações que estariam presentes no dia. Os convidados especiais podiam ser vistos em três auditórios diferentes, o maior e mais nobre de todos era o Auditório Cinemark (chamado de Auditório Thunder no ano passado), desta vez totalmente repaginado, estando maior, melhor e mais bonito. Uma bela evolução em relação ao ano anterior!. Além do Cinemark, tínhamos também os Auditórios Ultra e Prime (os nomes me fizeram lembrar dos famo-
sos tokusatsus da Família Ultra). Algumas das atrações que passaram pelos auditórios nesse primeiro dia: Scott McCloud (uma das maiores autoridades em Quadrinhos no planeta), Ivo Holanda (ele mesmo, o hilário mestre das pegadinhas do Programa Silvio Santos!), Mark Waid (o cultuado escritor de O Reino do Amanhã, Flash, Demolidor, Quarteto Fantástico e Vingadores, só pra citar alguns de seus premiados trabalhos!), Chris Taylor (autor de Como Star Wars Conquistou o Universo), Sheldon Stopsack (criador de efeitos especiais de filmes como Guardiões da Galáxia e Terminator: Genesis), Steve Cardenas (da série Power Rangers), Evangeline Lilly mas não como a atriz de LOST, O Hobbit ou Homem-formiga ela esteve na CCXP para mostrar seu outro lado artístico, o de escritora, lançando seu livro infantil “Os Molangolengos”. Aliás, a fila pra conseguir um autógrafo em seu livro e tirar uma foto com ela “dobrava o quarteirão” sucesso total de vendas! Só não sei se foi interesse no livro mesmo ou em estar junto a ela. Os estandes estavam fantásticos! Até um Hulkbuster em escala 1:1 estava lá! E frente a frente com o Gigante Esmeralda, aliás. Mas se a Marvel deu show nisso, a DC contra-atacou com o figurino do filme Batman Vs Superman: a Origem da Justiça! Batman, Superman,
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Mulher-Maravilha e até a armadura que Batman usa no filme, para sair no braço com o kryptoniano! Além do bat-sinal Star Wars, como não podia deixar de ser, estava muito bem representada diversos manequins vestidos como Darth Vader, Kylo Ren, Chewbacca, Stormtroopers, etc além de uma infinidade de colecionáveis para se comprar. Por falar em colecionáveis os fãs de Saint Seiya ficaram de queixo caído com as incríveis miniaturas de todos os cavaleiros de ouro dava pra ficar tranquilamente meia hora por ali, só admirando cada um deles nos mínimos detalhes. Maurício de Souza, Snoopy, Transformers, Halo, Ayrton Senna, Netflix, Walking Dead, Arquivo-X, e mais uma infinidade de atrações podiam ser vistas, fossem em estandes, painéis, banners, estátuas, miniaturas, camisetas, canecas, etc. Ah, até arcades com clássicos como Street Fighter se faziam presentes! E claro, tínhamos os cosplayers! Nesse primeiro dia eles não estavam em número tão grande assim, mas não podiam deixar de estar presentes. Tínhamos de tudo, desde os mais simples aos mais elaborados. Me chamou a atenção o grande número de Deadpools no evento este fantástico anti-herói está ficando cada vez mais popular imagino então depois que seu filme estrear! Mas o maior número de fantasias era mesmo da saga de George Lucas
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e se contarmos então as camisetas da galera presente, aí Star Wars dava de goleada em qualquer um! Parei de contar depois da chegar ao número 50, nas camisetas a Força estava nessa CCXP! A área de alimentação estava enorme, e ao menos no primeiro dia, as filas ali não eram exageradas. E assim se findou o primeiro dia do evento. No segundo dia, o número de pessoas foi muito maior, o que acarretou mais demora nas filas para se pegar os ônibus “na faixa” que saíam do metrô Jabaquara, mas nada que fosse exagerado. Já na hora do almoço o número de pessoas era absurdo, o que te obrigava a ir com bastante antecedência para as filas se quisesses ver alguma atração dos auditórios, principalmente o superconcorrido Auditório Cinemark, que logo de cara receberia o britânico John Rhys-Davies, ninguém menos que o anão Gimli, de O Senhor dos Anéis! Se você não tivesse chegado muito cedo para o evento, só mesmo com o poder do Um Anel para conseguir entrar no Cinemark. Deixei para falar só agora, mas o Artists’ Alley é uma das mais importantes partes do evento. Ele reúne inúmeros artistas de Quadrinhos & Cia, nacionais e internacionais. Mas o legal desse pedacinho da CCXP é que ele abre espaço também para artistas independentes, ainda não
consagrados, que podem assim mostrar seu trabalho para um público gigantesco. E o que não falta é artista talentoso neste país! Foram cerca de 265 artistas em 163 mesas (contra 215 em 125 mesas no ano passado), onde podemos citar Adriano Batista, Alice Mattosinho, Amy Chu, Bruno Oliveira, Camila Torrano, Dalton Cara, David Finch, Fabio Moon, Gabriel Bá, Hiro Kawahara. Joe Bennet, Mark Waid, Mike Deodato Jr, Rafael Dantas, Salvatore Aiala entre muitos outros! Na sexta, os auditórios trouxeram atrações como, além do já citado John Rhys-Davies, a Universal Pictures falando sobre a adaptação para o Cinema do game Warcraft, uma palestra com Ivan Reis (um dos principais artistas hoje no mercado americano de Quadrinhos), um interessante painel com a dupla Gerard Way (roteirista de HQs e vocalista da banda My Chemical Romance) e Gabriel Bá (premiadíssimo artista brasileiro, de enorme reconhecimento também no exterior, onde já venceu o Prêmio Eisner, o “Oscar das HQs”), falando sobre a elogiada HQ Umbrella Academy, o consagrado cineasta brasileiro Carlos Saldanha (A Era do Gelo) trocando ideias com Steve Martino, diretor de Peanuts O Filme, longa sobre Charlie Brown e sua turma, a Fox Studios falando sobre suas novidades para o ano que vem (Deadpool, X-Men Apocalypse e o novo filme do cultuado diretor Alejandro
González Iñárritu, O Regresso), Lá pelo meio da tarde, a atração mais concorrida do dia Frank Miller, no Auditório Cinemark, falou sobre toda sua obra, de enorme importância para o mundo das HQs. Pouco depois, o ícone Maurício de Souza celebrou suas 8 décadas de vida e realizações no Auditório Ultra com os privilegiados fãs! Outros grandes nomes que não podem deixar de ser citados são: Jim Lee (um dos maiores nomes das HQs em todos os tempos), David Finch (Batman: The Dark Knight, Vingadores, Hulk, Ultimate X-Men, Mulher-Maravilha). alguns atores das séries da Netflix Sense8 e Jessica Jones e isso é apenas uma pequena parte das atrações! Termino por aqui o breve (?!) relato sobre os dois primeiros dias da CCXP. Além das matérias escritas, não deixem de conferir os inúmeros vídeos que fizemos, com entrevistas e imagens do evento! A Comic Con Experience, nesta sua segunda aparição em terras tupiniquins, se firma de vez como o evento definitivo da Cultura Pop no país é o maior encontro geek do continente, seja você um iniciado ou apenas um mero curioso para com esse universo que desperta tanta paixão! Sem dúvida alguma, o slogan deste ano estava certo sim, foi mesmo épico!
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CANTO DA CULTURA
ERA UMA VEZ EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS Por Elisabeth de Souza
Livretos artesanais nos anos 80
Esse, do Poeta Moraes:
Continuando a história do Movimento Cultural “Canto da Cultura” que aconteceu na Praça Afonso Pena em São José dos Campos na década de 80. No “Canto da Cultura” muitos poetas lançaram seus livretos artesanais. Não tenho em mãos todos os exemplares que vi, toquei e li, mas coloco abaixo, alguns que guardo em minha prateleira de recordações, com lindos poemas, encantos diversos e dedicatórias delicadas. Coloquei alguns exemplares, porque os tenho guardado, mas havia muitos outros artistas e poetas que lançaram seus livretos, na época.
Livreto de Idelfonso Oliveira Filho:
Estive a tomar um suco de laranja na companhia de Alberto Renart e Irael Luziano. O Poeta Renart me deu um dos seus livros e fez uma dedicatória:
O livreto de Miran do Pajeú Um folheto do Juliano Maurer
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Livreto do Edson Souza, da Banda Revolução Psicológica
Esse foi um dos primeiros livretos de Edu Planchez:
O livreto de Inocêncio Ribeiro, prefaciado por Jair Leite
O livreto de Edjalma de Oliveira prefaciado por Irael Luziano
E essa foi a tentativa de fazer o meu livreto:
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