Revista Entrementes - Edição de Primavera

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Ano 2 - Edição 3 - Primavera de 2015 www.entrementes.com.br

CONECTANDO IDEIAS ARTE - CIÊNCIA - ESOTERISMO - FILOSOFIA

EDIÇÃO DE PRIMAVERA A SERRA DA MANTIQUEIRA RETRATADA NA OBRA DE RUY OHTAKE A bela obra de arquitetura do EducaMais Jacarei.

MULTICOLECIONISMO : UMA ARTE SOFISTICADA O colecionador de sonhos mostra sua variada coleção de obras artísticas.

ANTONINA, UM BELO CENÁRIO DE SONHOS! A beleza da cidade litorânea do Paraná.

ENTREVISTA COM LUIZ DOMINGUES

O músico paulistano conta sobre sua trajetória musical.

ESSENCIALMENTE VISÍVEL PARA OS OLHOS A crítica da animação “O Pequeno Principe”.

DELEITAI-VOS! VÓS QUE OUSAIS ADENTRAR O MUNDO DA POESIA


Editorial Mais uma edição da Revista Entrementes, anunciando a estação mais bela do ano: A Primavera! O conteúdo, escolhido com minúcia, dá ênfase à beleza e ao amor. Uma matéria destacando o belo na obra arquitetônica de Ruy Ohtake, que retrata as cores e a sinuosidade da Serra da Mantiqueira. E na capa a imagem da obra. O amor pelas artes do colecionador de sonhos Paulo Dylan que conta suas experiências, numa matéria envolvente. A beleza da cidade de Antonina, Paraná, mostrando suas ruas e histórias de seus monumentos. O amor escorrendo por entre as mais belas poesias dos Poetas do Portal Entrementes. E por entre as Prosas dos nossos escritores. Uma bela entrevista com o músico Luiz Domingues que nos conta a sua trajetória. E toda a essência cativante da animação “O Pequeno Príncipe” nos comentários do nosso crítico de cinema. E mais um capítulo do belo movimento cultural que aconteceu nos anos 80, em São José dos Campos, chamado de “Canto da Cultura”. Enfim, com gotas amorosas, distribuímos exemplares do que há de mais belo entre as palavras e imagens. Deleite-se-nesse doce-deleite! Elizabeth de Souza Editora da Revista Entrementes.

Expediente Ano 2 – Edição 3 – Primavera de 2015 Editor e Jornalista Responsável: Elizabeth de Souza MTB 0079356/SP Revisão: Paulo Vinheiro, Dalto Fidencio e Elizabeth de Souza Diagramação: Filipe Oliveira Arte da Capa: Foto da obra arquitetônica de Ruy Ohtake

Sumário ENTRE VERSOS E PROSAS 03 - CELEBRAÇÃO AO RENASCIMENTO DA NATUREZA - Por Elizabeth de Souza 06 - MAIS UM DIA DE AMOR - Por Alexandre Lúcio Fernandes 07 - A BELEZA DA DÚVIDA - Por Escobar Franelas 12 - UMA RUA NUNCA É “SÓ” UMA RUA - Por Ronie Von Martins 13 – MUNDO DA POESIA 17 - O RETRATO - Por Milton T. Mendonça 20 - RÁDIO MIOLO - Por Marcelo Pirajá Sguassábia

ENTRE CINE 04 - O PEQUENO PRINCIPE (The Little Prince) - Por Dalto Fidencio

ENTRE CULTURA 08 - O COLECIONADOR DE SONHOS - Por Dalto Fidencio 22 - A SERRA DA MANTIQUEIRA NA ARQUITETURA DE RUY OHTAKE - Por Joka Faria

ENTREVISTA 18 - ENTREVISTA COM LUIZ DOMINGUES - Por Joana D’Arc

ENTRE FILOSOFIA 21 - ÓPTICA DA REFLEXÃO - Por Jorge Xerxes

ENTRE TRILHAS E VIAGENS 24 - PASSEANDO POR ANTONINA - Por Ana Maria Alcidez

ENTRE TESES E ANTITÍTESES 26 - IDEAÇÃO MENTAL DO SÍMBOLO - Por Jorge Xerxes

CANTO DA CULTURA 27 - Marcos Planta - Grande Figura - por Elizabeth Souza


ENTRE VERSOS E PROSAS

CELEBRAÇÃO AO RENASCIMENTO DA NATUREZA Por Elizabeth de Souza

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chegada da primavera é um momento único ou pelo menos deveria ser. Comemorado pelo culto pagão porque marca o fim do inverno, uma estação associada ao desconforto, frio e falta de alimentos. A primavera traz a esperança e a celebração do renascimento da natureza e por isso os festivais de fertilidade e abundância. No dia 23 de setembro de 2015, às 5h20 no Hemisfério Sul começa a Primavera. É quando ocorre o equinócio, em que o dia e a noite tem a mesma duração, isto é, 12 horas. O dia e a noite em equilíbrio perfeito. Equinócio – do Latim, aequus (igual) + nox (noite) = noites iguais. O mito da Primavera está ligado à Deméter, deusa da agricultura e a sua filha Perséfone. Conta a lenda que a Terra era uma eterna Primavera onde não faltavam alimentos, tudo sempre verde e com muitas flores e a responsável por tudo isso era Deméter.

“Rapto de Prosérpina” de Rubens

“Primavera” de Botticelli

Ela era uma das esposas de Zeus e com ele teve a filha Perséfone. Uma bela jovem que brincava entre as flores. Certo dia, ao passar por ali o terrível Hades, o deus das pro-

fundezas, viu a moça e não resistindo a sua beleza a raptou. Deméter entrou em desespero e ficou procurando sua filha, por muito tempo e com isso a Terra ficou desolada, seca, sem frutos e as plantas não cresciam mais. Ao descobrir o que tinha acontecido com sua filha foi ter com Zeus e exigiu uma solução. Para amenizar a situação, Zeus fez com que Perséfone ficasse parte do ano com seu esposo nas profundezas e outra parte com sua mãe na terra. Então Deméter, quando longe da sua filha, fica triste e desconsolada e seu coração é como o outono e o inverno. E quando sua filha volta para terra ela fica feliz e seu coração explode de alegria na Primavera e no verão. As deusas Deméter e Perséfone representavam os poderes da natureza e seus ciclos, para os povos antigos. Estamos esquecendo tudo isso?

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ENTRE CINE

O PEQUENO PRÍNCIPE (The Little Prince) Por Dalto Fidencio

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O Pequeno Príncipe - Animação / Fantasia Tílulo Original: The Little Prince - Direção: Mark Osborne

Roteiro: Irena Brignull e Bob Persichetti Elenco: vozes de Rachel McAdams, James Franco, Paul Rudd, Marion Cotillard, Mackenzie Foy, Jeff Bridges, Benicio del Toro.

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m 1943, o escritor, poeta e aviador Antoine de Saint-Exupéry lançou um livro - pequeno em seu tamanho e imenso em sua alma poética - que entraria para o rol dos mais lidos de todos os tempos (são quase 150 milhões de exemplares vendidos, nos mais diversos idiomas). Sim, estamos falando de “O Pequeno Príncipe”, uma obra-prima da literatura, que é leitura obrigatória a toda pessoa de bom gosto. Portanto, qualquer cineasta que pretenda adaptar uma história tão cultuada, precisará fazê-lo com muito cuidado, correndo sério risco de fracassar, caso não siga fielmente o original. Mas o diretor Mark Osborne (“Kung Fu Panda”) topou o desafio e veremos ao longo desta critica se ele se saiu bem... Os roteiristas Irena Brignull (“Os Boxtrolls”) e Bob Persichetti (debutando no ofício) resolveram criar uma história paralela para ser contada junto com a do livro... particularmente preferia que a pérola de Saint-Exupéry simplesmente fosse transposta para a Sétima Arte, mas essa decisão ao menos possibilitou que ocorresse um belíssimo contraste na produção, já que contamos aqui com duas animações, uma em CGI, competente mas absolutamente normal, e outra em stop-motion, bela e poética. O foco da produção se volta para a história de uma menininha que tem a vida completamente controlada por uma mãe obcecada em planejar cada minuto da vida da criança. O objetivo é que ela seja aprovada numa escola altamente conceituada... perder tempo, por exemplo, “sendo criança”, está fora de questão. Mas a vida da garotinha tem uma grande guinada quando ela faz amizade com um simpático e excêntrico velhinho, que é ninguém menos que o Aviador da his-


tória do Pequeno Príncipe. Todo este mundo “real” é mostrado em animação CGI corriqueira... mas quando o menininha começa a ler a história do Pequeno Príncipe, que lhe é presenteada pelo velhinho, sua história ganha cor, ganha alegria, ganha infância. Passamos a acompanhar a mesma em animação stop-motion, que, numa sacada genial, inclusive mimetiza as sublimes ilustrações feitas no livro por Saint-Exupéry. São essas cenas que realmente encantam na película... com uma Fotografia soberba e um ar nostálgico e emocionante. Até os diálogos do livro estão ali... é realmente uma pena que essas partes não cheguem sequer a metade da duração da produção. Ali sim, é pura Poesia, e nos faz pensar que obra-prima poderíamos ter tido se a história fosse só aquela. Que sublime é ver na tela aquelas personagens marcantes do livro... o jovem príncipe de cabelos dourados, morador do Asteroide B 612, sua Rosa, a Raposa... só isso já vale o ingresso. Uma pena que toda essa magia seja meio quebrada quando voltamos ao mundo “real”, da menininha... aliás, você notará que ela, assim como o Pequeno Príncipe, nunca tem seu nome revelado, ou seja, ela é uma “Pequena Menina”... uma bela e sutil sacada do roteiro. As personagens adultas nem de perto possuem a profundidade e riqueza das infantis, e isso prejudica a trama. Mas o problema nela é realmente o último ato da história, onde quis se criar uma sequência à trama de Saint-Exupéry... totalmente dispensável, sem nenhuma Poesia, com exceção de seu final. Se o visual é impecável, a Trilha Sonora não fica muito atrás, principalmente quando os trechos do livro são

mostrados... ela ficou a cargo de Hans Zimmer e Richard Harvey. Uma curiosidade interessante: o diretor Mark Osborne ganhou o livro de sua esposa, quando ainda eram namorados, há mais de duas décadas... e ele marcou a sua vida, tornando-se um símbolo para o casal, de que eles estariam sempre juntos mesmo morando em cidades diferentes, já que o cineasta precisou se mudar para estudar Animação. “O Pequeno Príncipe” de Mark Osborne pode não ser um diamante atemporal como a obra literária homônima que o inspirou, mas nem por isso deixa de ser recomendado. Assista, faça renascer a criança que todos temos dentro de nós... com isso, conseguirás ver o elefante dentro da jiboia. Preste atenção, não é um chapéu! Temos uma animação doce e pura, que visualmente é um deleite e que foge da mesmice hollywoodiana. É tocante... e nos faz relembrar uma das mais belas verdades... a de que o essencial é invisível para os olhos, e só podemos ver com o coração!

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ENTRE VERSOS E PROSAS

MAIS UM DIA DE AMOR Por Alexandre Lúcio Fernandes

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que definir de um olhar curvo, anoitecido pelo timbre noturno da poesia acalentadora? O que extrair de um colo que se redime pelo tempo e emparelha a doçura fluida pelos dias comuns? O soneto de quem simplesmente ama se equaciona e se deduz belo e límpido pela textura das manhãs. O dia reverencia os olhos fundos de fé, o sorriso inundado de afeto, a alma que passeia na grandeza dos pequenos momentos. Hoje é mais um dia. Necessário crer. Porque beleza há, ainda! Todo dia é apenas dia. Todo momento só é um momento e nada mais. O azulado do céu manipula as sensações, nada mais que extravagância em meio ao espetáculo da vida, que cunha encantos dentro do peito. O valor das coisas mundanas e turvas se altera na medida em que vestimos o tecido da esperança, e adornamos o nada com um zelo de quem cuida. As cores saem das nossas mãos, colorindo o que se debruça, sem cor, pelos quatro cantos. O mundo ganha tonalidades através do nosso apelo franco em viver. Os desejos suprem o que retumba e desperta entre a nascente dos olhares, dos braços que entrelaçam o calor de suas atrações. O que sentir em meio ao deslumbre dos dias que florescem vida? Viver é deixar-se arrebatar pela frequência de encantos que se desdobra em cada segundo que absorvemos o aroma do ambiente. O sorriso sempre espreita encontros singulares, temperados com a sutil bonança de quem se alimenta de

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“Jovem defendendo-se de Eros” de Bouguereau

paz. Amar é entender, não saber mais responder. É quando finda o arrebatamento, o elo que sintoniza coração e sentimentos. O alvorecer se fragmenta na arquitetura da alma, cingindo fé dentro de almas desvalidas e fatigadas. O

deslumbre ecoa melodias, feito trilha da nossa elevação. Mais um dia, e o amor nasce nas particularidades, amparado sobre o berço das nossas enlaçadas mãos.


ENTRE VERSOS E PROSAS

A BELEZA DA DÚVIDA Por Escobar Franelas

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omeçar a primeira linha da primeira coluna com minha participação nesse oásis literário, é – na falta de uma palavra mais bem elaborada – desconfortável. Pense num jogador mediano fazendo sua estreia num time grande e sua estreia se dá jogando num Maracanã lotado numa tarde ensolarada de domingo! É o meu caso. Falar o que? Falar de quê? Penso, rememoro, repenso, me demoro: encontrar o assunto não é difícil, mais complicado é decidir sobre qual dos vários que assuntam (e assustam) a minha cabeça irá versar. São vários. Minha primeira vontade é fazer uma propagandinha, falar de meus livros, de um filme ou uma música ou um disco fundamental para minha formação, coisas nesse nível. Mas pudores me impedem de seguir este plano, vou pra outro terreno. Penso falar da Casa Amarela, um espaço cultural em São Miguel que ajudo a administrar e que se tornou, com o correr dos anos, a minha meca, o paraíso onde me deleito, minha macondo, minha pasárgada. É lá que refinei a prática da cultura do abraço, onde encontro alguns dos mais leais e necessá-

Escobar Franelas - Foto by Xavier

rios amigos, meu refúgio em busca de paz, bom papo, arte prazerosa, boa bebida e boa comida. A Casa Amarela tornou-se, com o passar do tempo, um templo onde, mais do que a fruição artística, somos agraciados com a poética da boa convivência, os prazeres das coisas pequenas, o orgasmo da arte sem muitos artificialismos, o criadouro de novas ideias. E quão belo é o espetáculo da arte sendo criada, remendada, aliterada, edulcorada! Parece o pôr-do-sol sendo revisto em câmera-lenta diversas vezes, por ângulos diferentes. É esse êxtase que vivo constantemente, quase uma rotina, gostosa repetição de coisas que me dão paz.

Por último, pensei em falar um pouco de audiovisual, uma de minhas paixões – assim como os livros – mas, embaralhando todas as cartas que escondi sob a manga da blusa, optei por dar uma banana pras reticências e decidi escrever metalinguisticamente sobre isso mesmo: a dúvida! A beleza da dívida que tenho com essa dúvida. Esse afã é o que me move, me promove, me inaugura, estimula, eleva e vela as minhas utopias. E de muitos. As dúvidas são meu porto inseguro, que me faz dar saltos e cambalhotas e permitem voos inusitados – nem sempre belos, confesso! – mas que inegavelmente me faz crescer como animal humano. Por isso mesmo pago sempre em moeda corrente e ainda assim fico devendo um troco para o dia seguinte. E, de tanto tentar, saiu-me este textículo que entrou por uma porta, saiu por essa outra. Quem quiser que conte mais. No próximo número!

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ENTRE CULTURA

O COLECIONADOR DE SONHOS Por Dalto Fidencio

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Entrementes teve a honra de visitar o quartel-general de Paulo César Fernandes, notório colecionador de São José dos Campos, e também agora, novo colunista da revista digital! Paulo, na verdade, é mais que um colecionador, ele é um multicolecionador, já que não se atém a apenas um tipo de objeto... em seu acervo podemos conferir incríveis móveis antigos, máquinas fotográficas, peças finas de porcelana, máquinas de escrever, aparelhos de som, livros, e claro, uma vasta coleção de vinis, pelos quais ele é mais conhecido. Eu citei apenas alguns dos itens, eles são em número muito maior, pode acreditar. Como ele nos disse, quando você foca numa coleção apenas, você tem um objetivo, que é possuir todas as peças daquilo, mas quando se é um multicolecionador, você entrelaça tudo e talvez não consiga chegar a lugar nenhum... mas isso de forma alguma é um empecilho para ele, pelo contrário, isso é uma das coisas que o impulsionam, que o encantam. Quem por exemplo coleciona discos do Bob Dylan, tem um final à vista, mas um multicolecionador jamais chegará ao fim de uma coleção, e isso é fascinante para Paulo. Ele não é apenas um colecionador de objetos, ele é um, como prefiro chamar, colecionador de sonhos. “Parece até trabalho de RH, não é? Nunca tem fim. Eu vivo em dois mundos na verdade... vivo no meu mundo moderno, em minha casa, que não tem nada de antigo, e vivo aqui no meu espaço cultural - que minha esposa inspiradamente diz na verdade ser ‘falta de espaço’. São duas realilidades, dois universos.” Não é a toa que Paulo se define como um “tripolar”! Paulo é um poço de conhecimento sobre suas coleções... conversar com ele é adquirir preciosidades de diversas culturas

diferentes. Por exemplo, ele possui cerca de sete mil vinis, e nos mostrou uma jóia rara, que é o LP norte-americano Highway 61 Revisited, de Bob Dylan (sexto álbum de estúdio da carreira do astro), de 1965. Paulo César, que é também conhecido pela alcunha de “Paulo Dylan”, por ser praticamente um “PhD” no cantor e compositor norte-americano, levou vários anos para conseguir este LP. Ele não fica preocupado em obter rapidamente... ele não vai até a peça, ele deixa que ela venha até ele, em seu devido tempo. Ele nos contou uma particularidade deste vinil, que é ser mais completo que sua versão nacional (que obviamente ele também possui), já que no LP brasileiro, a música “Like a Rolling Stone” foi cortada em alguns segundos, o que aliás é um sacrilégio na opinião deste que vos escreve. Vale citar também que a capa da versão nacional não é idêntica à original. Basta olhar pra outro lado de seu espaço cultural para ver belíssimas peças da saudosa Cerâmica Weiss, tradicionalíssima fábrica que ficava na Zona norte de São José dos Campos. Ao lado delas, inúmeras revistas O Cruzeiro (revista semanal que circulou entre o final da década de 1920 até a metade da década de 1970) e logo depois, uma

grande quantidade de livros, onde uma rápida olhada revelou obras de Saramago, Umberto Eco, Edgar Allan Poe... Mas Paulo nos revela que os seus xodós são os móveis antigos... e ele possui algumas peças de cair o queixo. Ele nos mostra um em particular, que ele trouxe de São Lourenço, MG. Ele encontrou o móvel num passeio com a família... passeio que perdeu completamente espaço para a negociação para adquirir o móvel, como ele nos contou. “Eu acabei com o passeio, pois negociar leva muito tempo. E trazer o móvel pra cá foi uma aventura também. Eu tento evitar a aventura, mas me meto na aventura. Eu estou sempre tentando evitar, ter uma vida normal, mas em seguida lá estou eu de novo em alguma aventura”, nos diz, bem-humorado. Paulo afirma que mexer com arte e cultura não é um privilégio, é uma coisa que você tem que carregar para sempre. Na verdade, às vezes é até um peso. “Eu gostaria de não ser colecionador de nada”, nos diz. Paulo não apenas coleciona objetos que são pura arte e cultura, ele é um profundo fomentador da arte e da


cultura em São José dos Campos, e gostaria de vê-las mais valorizadas. “Pessoa que mexe com saúde, educação, arte e cultura, deveria ser bem remunerada e bem valorizada, porque não é nada fácil. Eu acho que arte e cultura, dessas que fazem a pessoa progredir, deveriam ser ensinadas na escola. De onde os Beatles saíram? De escolas que tinham arte e cultura. Não uma cultura de quebra galho, mas uma cultura profunda mesmo, que você sai profissional. O poder público tem que investir nisso”. Paulo também afirma que é preciso valorizar os artistas locais, investir neles para que os mesmos tragam um retorno artístico/cultural para a cidade. “Temos que valorizar a prata da casa. Temos bailarinos, músicos de ótima qualidade. Se Minas Gerais tem Beto Guedes, São Paulo e São José dos Campos têm Beto Quadros. Não há necessidade de se contratar shows tão caros sendo que nós temos músicos aqui tão bons. Basta fazer escola. O que precisamos fazer aqui entre os artistas em geral, é entrelaçar tudo”. Para mostrar o valor do artista nacional, Paulo costuma comparar Nelson Cavaquinho com Bob Dylan: “É a mesma coisa... só que um nasceu no Brasil. Bob Dylan não fala de morte, amor e vida? Nelson Cavaquinho também fala disso, e às vezes até com mais pegada ainda. É relativamente simples, mas ao mesmo tempo é sofisticado. Eu comparo também Elizeth Cardoso com Ella Fitzgerald... é a mesma coisa, ambas são divas. E se Jimi Hendrix tivesse tido oportunidade de ouvir Jacob do Bandolim tocar, ele teria ficado de queixo caído, pois é algo maravilhoso”. Música para Paulo é emoção. A pessoa pode ter a melhor técnica do mundo, mas se ela tocar e não emocionar... não cumpriu seu objetivo. Para Paulo, o que está faltando para São José dos Campos é entrelaçar... e ele diz isso lembrando que é uma pessoa individualista: “Mas se você somar o seu individualismo com outro e com outro e com outro, a gente entrelaça tudo, pois a participação é importante. São José dos Campos

não pode ser conhecida apenas como cidade tecnológica. Não podemos ficar dependentes de empresas, a cidade e o Vale do Paraíba são um celeiro de artistas, mas se conhece tão pouco, infelizmente”. É preciso menos inveja e mais cooperação entre as pessoas, ele nos diz sabiamente. Paulo começou sua aventura no mundo do colecionismo aos 12 anos, ao ver um tio colecionando bolinhas de gude e logo fazia eco a ele. E aos 16, teve contato com o LP Blood on the Tracks, grande clássico de Bob Dylan, lançado em 1975. Também teve um mãos um disco de Jimi Hendrix... pronto, a partir daí nascia sua paixão pelos vinis. Aos 20 e poucos anos já começava sua coleção de móveis, outra grande paixão sua. “Eu já cheguei a ter cerca de 50 mil dis-

cos, e hoje tenho por volta de 7 mil. Se me perguntarem se ouvi todos, a resposta é não, mas eu admirei cada uma das capas. Pois não é só o vinil, não é só a música, é a capa por inteiro. As capas daquele artista Elifas Andreato, por exemplo, são maravilhosas. Então tudo me interessa no vinil, tudo é arte”. Mas ele não tem as coleções apenas para si próprio, ele gostaria de deixá-las em exposição, mas para isso ele precisaria de mais cooperação das pessoas, e apoio do Poder Público. E não se deve jamais deixar de agradecer a quem nos apoia - Paulo deixa bem claro - , pois cultivar a gratidão é uma das coisas mais importantes entre as pessoas, coisa que anda meio esquecida. “É importante você passar pela cidade e fazer alguma coisa por ela”, ele

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nos diz. Uma coisa que Paulo também destaca, é que as Casas de Cultura da cidade precisam ser mais visitadas, inclusive pelos próprios agentes culturais. É preciso ter mais intercâmbio entre todos. E ele também deixa claro que o trabalho dos agentes culturais é muito bom, e defende que as pessoas que labutam nesta área deveriam ter seu valor reconhecido e ser bem remuneradas. “Temos que fazer uma estrutura para valorizar a todos. E se o nosso músico, o nosso bailarino, o nosso coral for trabalhar no exterior depois, ou mesmo em outro estado ou cidade, que ele volte depois para nossa cidade para se apresentar aqui também. Se quisermos que a cultura da cidade vá para frente, nós temos que nos conhecer”. O colecionador de sonhos sempre gostou do patrimônio humano. Ele vê a sofisticação na arte que um leigo poderia achar muito simples. Ele capta a arte onde quer que ela se encontre. E não basta apenas confeccionar algo dito artístico... é preciso impregnar com arte, ter alma de artista. Paulo, ao observar um quadro, consegue reconhecer onde o pintor deu as pinceladas de angústia, em que parte ele passou sofrimento com a obra, onde ele quis finalizar sua criação. Paulo também defende que o correto é se fazer uma audição das músicas e não simplesmente ouvi-las. Ele se recolhe a seu espaço cultural e faz audições de Bob Dylan,

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Leonard Cohen, Fagner... “depois de uma hora é como se eu tivesse tomado um calmante”, nos diz. E ele cita uma de suas frases favoritas, de autoria de Paul Klee: “O papel do artista é convencer os outros da veracidade de suas mentiras”. “Que coisa maravilhosa você conversar com uma pessoa dessas! Que não vai ter medida pra te atender? Outro que estou ficando apaixonado é Fernando Pessoa, que disse que o poeta é um fingidor. Eu adoro essas contradições. São simples, mas sofisticadas”. “Basta ficar uma hora ou duas aqui no meu espaço que eu sinto uma felicidade enorme. Antes de vir para cá eu sinto uma tristeza, mas o lugar me revigora”, ele nos diz. Devido à grande quantidade de material que possui em suas coleções, Paulo se lamenta não ter mais muito tempo para suas leituras e pesquisas. “É o multicolecionismo. Eu já tentei ser colecionador de uma coisa só - no

caso, os vinis - mas não consegui... em menos de um mês essa resolução se mostrou impossível para mim. Não tem como, pois há tanta coisa bonita!”. Paulo não é contra as coisas modernas, mas a internet não o atrai, muito menos músicas em MP3: “Já me perguntaram o motivo de eu não colocar as músicas em MP3... é por causa da capa! Eu quero ver a capa, eu quero aquele objeto para poder tocar, para poder conhecer e admirar quantas vezes quiser”. Ele também não troca de jeito nenhum um bom show em VHS, Laserdisc ou mesmo em DVD, por um visto na internet, em computadores ou smartphones. Paulo é um grande admirador das capas dos LPs. Ele pega o disco Disraeli Gears, segundo álbum da banda Cream, de 1967, - edição americana - e diz: “olha que coisa maravilhosa vou mostrar para vocês”. Pega outro vinil, desta vez de Ella Fitzgerald: “olha a combinação das cores da capa. Se você não gostar da música, coloque a capa num quadro. Você vai ter uma obra de arte na sua parede. Outro que gosto muito é Dave Brubeck (pianista de jazz norte-americano), ele coloca coisas do Miró, obras de arte na capa. Coisa impressionante”. Colecionador há praticamente 4 décadas, Paulo segue mostrando jóias de seu acervo, como discos de Edith Piaf, Renato e Seus Blue Caps, e o clássico Nashville Skyline, de Bob Dylan, que ele levou 30 anos para conseguir. Paulo não é atraído por essa moda atual do retrô... pois essas peças são apenas para decoração, não flertam


com a arte, que é seu verdadeiro interesse. É apenas algo consumista. Ele nos conta que quando você é infectado pelo “vírus” do colecionismo, tem seus problemas, mas é muito bom: “mas tem que ser algo natural... não é ir atrás de um rádio porque fica bonitinho na decoração da minha casa. A casa tem que ter arte. Se quiser decoração eu faço com coisas novas, Você tem que passar por um quadro na sua parede e sentir que aquilo é arte, tem que querer parar um pouco para ficar admirando. Essas coisas dos anos 50 e 60 são muito bonitas, elas são diferenciadas. Eu considero tudo como arte”. Paulo também se interessa sempre pela história da peça. Gosta de saber quem fez, a técnica usada na manufatura, a personalidade... às vezes até se sente chateado quando não consegue saber a história do que acaba de adquirir. Mas apesar da frustração que isso pode causar, ele gosta da dificuldade em obter as informações... ter que garimpar é algo que o agrada. O seu prazer está em todo o processo de descobrir, adquirir e aprender sobre a peça... o seu prazer está muito mais no caminho do que no destino. Paulo pega um vinil de Leonard Cohen, cantor, compositor e poeta canadense: “isso aqui é lindo demais! É de uma simplicidade, mas se você fizer uma audição em vez de apenas escutar... é grandioso! Tem umas 3 ou 4 pirâmides na música, que eu coloco como Leonard Cohen, Bob Dylan, Frank Zappa e Lou Reed. São todos pirâmides... formam a base. Às vezes quando quero ouvir algo pesa-

do, sabe o que eu escuto? Bob Dylan ao vivo. Não é pesado na instrumentação, mas como ele joga as palavras. Isso que é interessante... ver como a pessoa se expressa”. Paulo também admira muito os brasileiros, como Paulinho Nogueira, e cita o choro feito por Toquinho, com letra de Vinícius de Moraes, o Choro Chorado Pra Paulinho Nogueira, e diz: “é a mesma coisa que a música do Bob Dylan, em que ele agradece Woody Guthrie. Estou ficando encantado já, eu quase furei o vinil. Fiquei aqui uma noite inteira escutando. Quando estou com meus discos, o tempo passa quase em câmera lenta, parece algo quase mágico”. Paulo lembra que o Brasil também tem grandes guitarristas como os estrangeiros, e que em se tratando de violonistas, violeiros, aí ele considera nosso país o dono do mundo. O fato de o país ser multicultural torna o nosso dedilhar sem limites. E deixa claro que temos grandes talentos

também em São José dos Campos. Entusiasta do “face to face”, do contato humano, Paulo acredita que não precisamos de teatros enormes, para 1500 ou 2 mil pessoas, e sim de teatros para 300 pessoas, onde há muito mais calor humano, onde se pode conhecer desde quem vende o ingresso até o músico propriamente dito. E o mesmo vale para os cinemas de hoje, tão pasteurizados e sem a convivência humana de antigamente, onde se fazia amizades até na fila para comprar ingresso. Nas calçadas, se ficava amigo do vendedor de pipoca ali da esquina... não procurávamos apenas o filme como acontece hoje, e sim toda uma relação social. Hoje infelizmente se perdeu esse patrimônio humano. E assim nossa visita a essa figura ímpar da cidade de São José dos Campos chegou ao fim, e tivemos que retornar ao monocromático mundo normal do qual fazemos parte. Mas guarde esse nome: Paulo César Fernandes, pois quando estiveres no Vale do Paraíba e tiveres a sorte de estar ocorrendo alguma exposição de peças de seu acervo, de forma alguma se permita perdê-la. Conhecer as preciosidades do colecionador de sonhos, e mais ainda sua própria pessoa, não tem preço! Conectando ideias, conectando arte! Ou quiçá colecionando ideias, colecionando arte... Imagens de Dalto Fidencio

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ENTRE VERSOS E PROSAS

UMA RUA NUNCA É “SÓ” UMA RUA Por Ronie Von Martins

“Prospect Street” de Edward Hopper

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ma rua nunca é “só” uma rua. Uma rua é um mundo inteiro. E é neste mundo. Novo mundo de casas que se olham e de pátios que se tocam que abrimos os olhos e estendemos passos. Um passo nunca é “apenas” um passo. Assim como a rua, o passo também é mágico. Penso nas ruas que se delineiam em minha memória. Casas que ainda me sussurram segredos. Cores antigas que ainda alegram as visões da minha infância. E ali. Nas ruas onde meus passos se inscrevem, ainda vejo as pessoas que mais ninguém vê. São minhas, também as pessoas, pois habitam minha memória, e o perfil que delas traço são únicos. Linhas tênues de suas existências que me olham das sombras, das janelas antigas;

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sob as árvores. Vejo-me ali. Criança. Distante destes tempos que configuraram minha carne, meu corpo e minha palavra. Era apenas um “guri”, e minhas preocupações eram “caçar” Maria-gorda na valeta logo depois dos trilhos. Brincar de “pescar bonecos de plástico” com minha irmã e comer amoras empoleirado na amoreira, um Tarzan invadia meus pensamentos de “mandinho”, como os mais velhos me chamavam na escola. Mágica. De uma sonoridade férrea, a rua se enchia do fluxo do ferro e das velocidades dos homens e dos trens que coabitavam e que amalgamavam. Homens de ferro, trilhos de carne, esperanças sinuosas como as linhas dos trilhos. O ferro era como o sangue que dava vida a

minha rua e aos homens que nela pulsavam. Ainda vejo um pai, sentado juntamente com outros tantos pais, em um trole, impulsionando o pequeno veículo com os pés. Deslizando pelos trilhos das alegrias infantis a descerem seus “ranchos”, mulheres sorrindo, crianças tagarelas e cachorros. Vários cachorros na minha infância não havia “cães”. E todo guri tinha um cachorro, e todo cachorro tinha no seu guri o melhor amigo do mundo. E na minha infância não havia o crescer, o trabalhar Estudar era uma imposição. “pra ser alguém na vida” mas nós, as crianças já éramos tudo que queríamos ser. Éramos alegria, empolgação e imaginação. As pequenas “calçadinhas” de nossas casas eram verdadeiras poltronas para as nossas conversas e risadas; que eram interrompidas pelos gritos das mães chamando para o banho e para a janta. E antes de dormir, respirávamos as casas, os trilhos, os jogos, os amigos. Inflávamos os pulmões do ar mágico de nossa rua e nos rendíamos ao sono, que nos surpreendia sempre sorrindo. E as vozes das casas diminuíam os trilhos e suas velocidades e seus movimentos e seus caminhos todos, de repente se aninhavam ao nosso redor para cantar algumas antigas canções de dormir. E nossas mães desligavam nossas ruas com a promessa de novamente ligá-las magicamente no outro dia.


Ousais adentrar o Mundo da Poesia e tereis esperanças!!!

“Ruinas” - foto de Ana Maria Alcidez

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Relatos da Montanha A chuva tão esperada finaliza o inverno chega no galope da ventania. Alimenta o ventre da montanha Renova os veios de água pura. Ouro em gotas, linfa sagrada. Encapadas com tecido aveludado as pedras do rio repletas de musgo. Ipês, limoeiros, abacateiros, cinamomos, anunciam as cores da primavera. Alguns homens querem ser cavalos Relincham e coiceiam quando perdem as estribeiras. Sempre tem alguém comendo pelas beiradas bode na capineira Cleusio no jogo de damas. Primeiro é uma queimada logo em seguida terrível secura aquece os pulmões sangra as narinas. As portas do formigueiro estão abertas ao agro-negócio. A erva daninha era erva de bixo. Ao ver a saracura no mato pensei no poeta Reginaldo uma ave tão nossa bendita saracura. Por Ricola de Paula

Primavera Ilumino-me de azul! Molha-me a primavera O céu desceu em pequeninas pétalas. Cola-me à alma suave flor azul vestida assim, de céu Já não sou eu E a luz em mim é dela.

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Por Teresa Bendini

O capital dos dias sobrenadam imagens no rosto de minha mente (pois sou mais um que esperará no saguão a cândida sensação dos aportados). sobrevagam dores de homens recém-acordados - centopeias acorrentadas em seus grilhões-crachás: peregrinos do nada em forma capital. sobrevoam lixos de grupo sacolas logo-esgoto (meu lugar no mundo é o cômodo que abraça a camareira cansada em dobro por ser todo-dia o veloz asseio). a atendente já nem liga mais para a cor dos olhos de quem entra, seus dedos assinam as permanências esquálidas dos estranhos, a cozinheira prepara o ovo re-mexido na panela sem politetrafluoretileno e tudo termina num gosto de alumínio. sobressaem minhas veias curvadas nas palmas do sol. deitam os que não conseguem mais sustentar o peso, a amargura, o vexame, a insegurança, a impotência dormem-fetos em sonhos de renascença tardia em prol do amanhã incompatível aos insurretos. Por Germano Viana Xavier

Tá chegando a primavera A gente sabe que a primavera está para chegar quando os ipês explodem exagerados em cores que não existem em nenhuma caixa de lápis, quando as mulheres começam a exibir belos ramalhetes de flores nas vestes e nos enfeites, e quando o sabiá começa a assoviar melodias que os arcanjos cantaram somente para os ouvidos de Johann Sebastian Bach. Por Domingos dos Santos

Flores há flores em meus olhos que não nascem nas primaveras que são de infinitas esperas azuis, intactas, nascem à revelia orvalhadas pelas lágrimas caladas da minha poesia. Por Tonho França


Eu e Tu Eu e tu somos poetas da noite Que causa inveja a madrugada Somos a poesia da primavera Que alegra o amor das borboletas E alimenta o brotar das flores Somos o aroma dos jardins Que atraem os enamorados ao luar Eu e tu somos a poesia cantada Somos a serenata irresistível da noite Cobrindo as estrelas de amores nus Ao cantar dos grilos depois da chuva Eu e tu somos a própria nudez Que a noite veste com timidez E alegra quem o admira como a lua Mas eu e tu somos o sol e a terra Que se amam mesmo distante Por Sanjo Muchanga

FAXINA Na noite de ontem ventou forte. Como se a natureza varresse dos galhos a poeira das folhas mortas. Daqui a pouco vem a primavera... para decorar o mundo com flores.

Jardim de Inverno O velho sentou-se num banco de jardim e descansou. Passaram pombas, passaram meninos de skate um grupo atletas deslizou atrás de si e um vento frio gelou seu rosto. Sorriu, o coração batia lento, às vezes descompassado, outras vezes até se esquecia de bater trazia nas mãos gretadas frieiras ulceradas luvas, um caderninho, rabiscava tópicos relia, riscava, apagava e rescrevia quase sempre os mesmos, quase sempre utópicos pensando tratar-se de uma ideia repentina inovadora, genuína. Olhou para os atacadores soltos e emaranhados e gostou de os conhecer livres, desapertados sem medo de escorregar no esquecimento olhou para o cimento entre a relva fresca. E pensou: meu Deus, que tormento Pensou na sua Aurora, olhou a sua foto num minúsculo porta retratos pediu-lhe ajuda para apertar os sapatos. De repente materializou-se à sua frente um vulto breve, indefinido e milagrosamente lépido e eficaz, tratou do assunto O velho tentou um sorriso e agradeceu mas quando pôs os óculos já o menino se evadia no horizonte. Por Luisa Fresta

******* Se tempo for setembro: flor. Por Wilson Gorj

HAIKAI sempre três pontinhos a pairar por entrenós... reticente mente ******* indo preso à letra quase perco o haicai mas ah... a borboleta! Por Gustavo Terra

100 Maquiagem Sou como um cavalo no mar Sou a alergia dos alérgicos Sou como a vitrolinha Que tocava James Brown O antigo e o novo Sou a cigana analfabeta Que lê a mão Sou o umbigo inflamado do pós-parto do filho bastardo. Sou o sujeito e o coletivo. A atração e a repulsão. Por Nunes Rios

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Triversos de primavera amanhece lento gota rebrilha no chão rouba a luz do sol ‘ folha vem caindo vira volteia flutua num ar imensíssimo ‘ sentido pequeno sem motivos de ter tido um pálido fruto ‘ uns pássaros olham ninhos recém construídos aguardo de vidas ‘ mil gotas de mel das flores que nem nasceram fazem estas linhas ‘ cultivo jardim de versos talvez vorazes expressos de mim ‘ fugazes assim de incertos a certeiros docemente feitos Por Paulo Vinheiro

O Poder da Música As azaleias de mesa Ficam rubras Na primavera de Vivaldi Entregam-se Aos encantos da música Perdem-se em voos Sem sair do lugar Devoram-se Num frenesi sem igual E esse ritual Contagia a humana sensação Em mim De apreciar o som A luz E a cor No Universo adverso Da minha ins-piração.

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Por Elizabeth de Souza

Asas de Drummond Há um poema num pássaro morto no asfalto, um poema traído. Há um poema na fome daquele mendigo. E nas praças há poemas de jardins. Há um poema sangrando no discurso daquele político E um poema tão triste numa tarde de domingo.. talvez desistindo E outro começando ali na festa de batizado. E outro ainda dormindo. Há um poema sussurrando na flor, orvalhando. E outro cortando árvores, matando rios! E outro ainda de dar nos nervos. Há um agora, dizendo sim. Numa capela lá fora, no fim da estrada E há também os que não creem que há poemas pelo caminho. Havendo aqueles que tropeçam neles. Que os olham “pedras”. Como são “pedras”, poemas pelos caminhos! Por Teresa Bendini

E o coração pulsa Dança, dança, dança a estrela. E Prometeu na eterna noite acorrentado. Entre bem e mal a humanidade caminha. Cirandas! A estrela dança, dança, dança. E no labirinto da vida, buscamos o fio. Dança, dança, dança. E a vida segue entre bem e mal mal e bem. E o coração pulsa. E no bater de asas de uma borboleta Universos nascem. Por Joka Faria


ENTRE VERSOS E PROSAS

O RETRATO Por Milton T. Mendonça

A

tela ficava lá em cima do cavalete. Toda branca. O ateliê na semiescuridão esperava ansioso pelo rosto que seria esculpido. O artista perambulava pelas ruas à espreita, procurava a mulher misteriosa que o perseguia em sonho. Ela era bela como a primavera, cabelo solto ao vento, olhar perdido no horizonte, tez branca como a lua em céu de brigadeiro. Os dias passavam lentos, monótonos. Nos fim de tarde, cansado pelo caminhar constante ele pensava vê-la cruzando a rua ou virando uma esquina e corria em seu encalço ansioso, desesperado. Mas, somente encontrava mulheres vulgares, olhares vazios, sorrisos sem esperança. Parava abrupto e se virava aterrorizado, voltando para seu ateliê que, como ele, esperava. Solitário. No dia seguinte, a procura recomeçava. Uma luz brilhava em seus olhos famintos. Os dedos percorriam a tela em branco, traçando as linhas do rosto, o formato do nariz. Ele a amava. Foi num desses dias abafados, calorentos, que ele resolveu mudar o rumo dos passos. O artista, encurvado pelo tempo, caminharia por novas veredas. O ateliê se iluminou. A tela em branco, única, sentiu-se viva. Reflexo colorido tingiu fugaz sua trama virgem. Ele partiu. Atravessou o rio. Pagou o barqueiro e seguiu caminho observando as pessoas que passavam céleres atrás de seu destino. Caminhou por toda região até o cair da tarde. O sol já pensava em se pôr quando ele a viu. Correu como sempre fazia, ansioso. Pode vê-la ao virar a esquina entrando na casa amarela no fim da rua. A lâmpada acesa jogava uma luz triste no chão de terra. Ele parou, coração apertado, uma angústia latejando no peito. Uma lágrima rebelde caiu pela

pálpebra semiaberta, descendo frouxa pelo rosto cansado. “Era ela?” “Finalmente a encontrara?” Correu como nunca. Seus pensamentos se chocando, tentando se libertar da angustia de mais um engano. O sorriso esperançoso forçando saída. Ele correu. A casa baixa o esperava. A porta aberta, escancarada, o convidava a entrar. Segurou o medo, como se segura um cavalo selvagem e entrou. Na sala vazia, sobre uma mesa dura de madeira negra, ela “Meu ateliê” de Milton T. Mendonça estava deitada. Seu rosto branco, ainda belo, sorria para ele. Ela estava morta. Uma dor aguda atingiu seu peito. Um grito mudo sufocou sua garganta. Depois do enterro solitário, ficou três dias e três noites sentado ao lado do tumulo, cismando. Levantou-se no final do terceiro dia, sem olhar para os lados e desceu até o rio onde se sentou a margem. Algum tempo depois o encontraram morto. Foi recolhido pelos funcionários da prefeitura e levado ao necrotério. Despachado pelo médico, foi enterrado, talvez por falta de espaço, ou quem sabe, simplesmente por ser indigente, na mesma cova onde estava a moça solitária. Alguns anos depois, na hora de recolher os ossos, encontraram os dois abraçados e ao lado o retrato acabado.

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ENTREVISTA

ENTREVISTA COM LUIZ DOMINGUES Por Joana D’Arc

Joana D’arc entrevista o paulistano Luiz Domingues, músico desde 1976, já tocou em muitas bandas. Atualmente, está com Pedra, Kim Kehl & Os Kurandeiros e Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada. Escreve em diversos Blogs e revistas sobre assuntos variados.

1- Como surgiu o seu interesse pela musica?

Com maior foco e interesse, por volta dos seis anos de idade, em 1966, ouvindo Rock; MPB; música instrumental; e trilhas de cinema e TV, através do rádio, TV e discos em casa.

O conjunto desses três ingredientes que mencionou, mas com a ressalva de que a tal da “atitude” é um conceito bastante deturpado e cabe uma reflexão mais pormenorizada para não ser mal compreendido.

Corro o risco de esquecer de alguma, e peço desculpas pois sei que faltarão muitas! Anote aí: Estação da Luz; O Voo Livre; Stranhos Azuis; Vento Motivo. Pedra; Tomada; Cracker Blues; Baranga; Blues Riders; Marcenaria; Os Depira; Stuffbreakers; Klatu; Cosmo Drah; Ronaldo Estevam; O Trilho; Quiçá se Fosse; Pão com Hamburger; Centro da Terra; Anjo Gabriel; O Trigo; Confraria Fusa; Os McCacos; Balls; Delinquentes de Saturno; Dusty Old Fingers, O Livro Ata, Blindog,Denny Caldeira & Os Borbulhantes, Betagrooveband,Canyon, Utopia, Epopeia, Homem com Asas, Vento Azul do Som, Quarto Astral, Miss Love, Senhor X, Montanha; King Bird; Nacionarquia, Carro Bomba, Kamboja, As Radioativas etc etc, ou seja, artistas talentosos temos aos montes, só lhes faltam oportunidades.

4- O que você acha da cena musical brasileira hoje em dia?

6- Vale a pena fazer rock n´roll no Brasil?

2- Quais são suas influências?

Múltiplas em termos de Rock; MPB e Black Music, tudo das décadas de cinquenta; sessenta e setenta; Jazz & Blues; Música erudita; Folk Music; Trilhas de cinema e TV etc.

3- O rock é mais técnica, atitude ou inspiração?

A cena mainstream da atualidade é a pior possível sob qualquer parâmetro em que se analise. A subcultura de massa dominou completamente a difusão cultural oficial. Todavia, no subterrâneo, tem muito gente boa, que só não aparece por conta do bloqueio vergonhoso da máfia do jabá.

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5- Quais as bandas brasileiras que acha promissoras?

Pelas condições que temos hoje em dia para trabalhar, infelizmente não existe incentivo. Essa turma toda que eu citei na resposta anterior, luta por puro idealismo e amor à arte, pois está muito difícil, para não dizer impossível.


7- O que você tem ouvido ultimamente?

Tenho ouvido bastante o material que bandas novas me mandam para análise e resenha em meus Blogs.

8- Desde que começou o seu trabalho musical, o que mudou de negativo e de positivo pra você?

Pelo aspecto positivo, a Internet como ferramenta de divulgação e pelo negativo, a decadência da indústria fonográfica, que no bojo, destruiu uma cadeia enorme de comércio como as lojas de discos, por exemplo. E pior ainda, a absoluta falta de espaço na mídia mainstream, contaminada pelo maldito jabá e a escassez de espaços para as bandas se apresentarem ao vivo.

9- Com tanta experiência, o que você poderia dizer para as bandas iniciantes?

Nestes tempos difíceis, é preciso ter muita paciência com as dificuldades que são muito grandes. Portanto, tenacidade é uma palavra a ser cultivada pelos artistas jovens que estão começando suas carreiras neste período bastante hostil.

10- Você escreve para algumas revistas. Fale um pouco deste trabalho. Atualmente sou colunista fixo de duas publicações impressas. Na Revista Bass Player, que é uma revista técnica e direcionada para adeptos desse instrumento, o desafio que me foi dado, foi lançar minibiografias de baixistas que militaram no Rock Brasileiro dos anos 60 & 70. Já na Revista Gatos & Alfaces, tenho coluna com tema livre, mas sempre estou falando de aspectos da contracultura dos anos 60, prioritariamente.

tes. Por exemplo, no Site/Blog Orra Meu, que é um site de cultura paulista/paulistana, o editor quer que eu fale sobre aspectos da cultura e/ou personagens ligados à São Paulo, estado e capital; No Blog Limonada Hippie, tenho carta branca, mas também priorizo a contracultura sessentista e aspectos pop da década de setenta. Na Revista Eletrônica Cinema Paradiso, o assunto é obviamente o cinema. Já nos meus Blogs pessoais, uso o Blog 1 para reunir toda a minha produção de textos; No nº 2, publico textos alternativos, abro espaço para colunistas convidados que publicam crônicas e poemas e estou publicando em micro capítulos, a minha autobiografia na música. E finalmente no nº 3, estou republicando a minha autobiografia, mas em capítulos maiores e formatados como livro.

13-Qual é a avaliação que você faz do seu trabalho depois de tantos anos de estrada?

A melhor possível! Tanto na música, quanto na parte de textos, creio que adquiri muitos simpatizantes, que me apoiam e incentivam-me a prosseguir, graças ao seu entusiasmo.

14- Quais os endereços de contato da na web?

Blog Luiz Domingues 1: http://luiz-domingues.blogspot.com.br/ Blog do Luiz Domingues 2: http://blogdoluizdomingues2.blogspot.com.br/ Blog do Luiz Domingues 3: http://luizdomingues3.blogspot.com.br/ Imagens de Joana D’Arc e Luiz Domingues

11- Fale um pouco sobre as bandas que você toca. E onde podemos adquirir os cds.

Atualmente estou tocando com Kim Kehl & Os Kurandeiros; Ciro Pessoa & Nu Descendo A Escada e, Magnólia Blues Band. Sobre discos dessas bandas (com exceção da Magnólia Blues Band, que não faz trabalho autoral, mas se propõe a tocar clássicos do Blues na noite paulistana), basta procurar os respectivos sites desses trabalhos, ou suas respectivas páginas no Facebook.

12- Você escreve para alguns blogs e também para os seus. Qual é a diferença entre eles?

Sou colaborador fixo de vários Blogs e sazonal de outros tantos. Nos Blogs alheios, tenho desafios diferen-

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ENTRE VERSOS E PROSAS

RÁDIO MIOLO Por Marcelo Pirajá Sguassábia

I

ndependentemente do que você esteja pensando agora, por trás desse pensamento tem uma musiquinha, não tem? De pano de fundo, como quem não quer nada. Às vezes uma, depois outra. Tem dias em que rola uma faixa só, teimosamente. Você até quer passar pra outra, mas o cérebro não deixa. O programador da Sinapse FM resolveu que aquele é o dia daquela música, e não há jabá que o faça mudar de ideia. Ocorre também da música não ter nada a ver com você, muito menos com seu estado de espírito naquela hora. Mas gruda como chiclete nos neurônios. É quando você se pega cantarolando o prefixo do Programa da Xuxa, sem saber por que cargas d’água, no meio de uma reunião da empresa. Meu DJ mental é um cara eclético, mas acima de tudo beatlemaníaco. Assumido e incorrigível. Colocar Beatles no aparelho de som pra mim é redundância – as mais de duzentas músicas deles eu assovio o tempo todo. É o que se pode chamar de original soundtrack biológico. Tocou na entrada do meu casamento e quero que toque no meu enterro, mesmo não estando mais lá pra escutar. Acontece algo que me deixa feliz e a Rádio Miolo ataca de “I want to hold your hand”. Se falta coragem não falta “Hey Jude”, a fabulosa injeção de ânimo que o velho Macca fez para o filho do John. Um momento de reflexão e tiro da cachola “Julia”, “Because”, “Across the Universe”. Se quero meditar, a lavra do George Harrison leva à Índia numa sentada, de preferência em posição de lótus. Porém nem tudo é Beatles, embora quase tudo seja. E de repente se abre o inesgotável baú dos mineiros. Só

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de Beto Guedes tem pelo menos umas 20 músicas no hit parade pessoal: “Tesouro da Juventude”, “Noite sem Luar”, “Sol de Primavera”, “Maria Solidária”, não há o que ainda possa ser dito dessas coisas, são os profetas do Aleijadinho em forma musical. Valem todo o ouro das Gerais. Chico é a próxima parada do dial. “Meus Caros Amigos”, com “O que será” e “Mulheres de Atenas”, ou aquele outro disco com um Buarque pra lá do terceiro uísque, fotografado à frente de uma samambaia, que tem “Cálice” e “Trocando em miúdos”. Em outra estação, mas na mesma frequência, Caetano e o eterno espanto de “Bicho”, “Joia”, “Muito”, de um “Cinema Transcendental” que transcende “Qualquer Coisa”. Trilhas de uma época em que não se falava de música de trabalho, exposição à mídia, shows privê no Golden Room do Copa. Vamos aos clássicos. A Quarta balada de Chopin, alguns trechos de Tristão e Isolda, os Brandenburgos de Bach, o concerto para piano de Rachmaninov. Tudo isso em deliciosa ciranda no toca-discos interno. Vira e mexe esses monumentos reaparecem, virando e mexendo comigo, tocando sem que seja preciso levantar da cadeira e caçar o disco na estante. O que acaba acontecendo é que eu coloco pra tocar só os mais novos. O tido como “diferente”, que vai surgindo. E ouço a fim, muito a fim de ser pego de surpresa, arrebatado com algo demolidor. É pena, mas essa primeira audição quase sempre acaba sendo a última. Então volto ao meu flash-back. Som na caixa craniana, graves e agudos equalizados. No repertório, só as dez mais de todos os tempos. Sem correr o risco de incomodar o vizinho e economizando energia elétrica.

“O Friso de Beethoven” de Klimt


ENTRE FILOSOFIA

ÓPTICA DA REFLEXÃO Por Jorge Xerxes

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ENTRE CULTURA

A MANTIQUEIRA NA ARQUITETURA DE RUY OHTAKE Por Joka Faria

O EducaMais Jacareí trás em sua arquitetura a beleza da Serra da Mantiqueira. Como diz o próprio Ruy Ohtake sobre sua obra: “deve ser surpreendente e contemporâneo”. Uma arquitetura que retrata o hoje e deixa um imenso legado de arte, cultura e educação para as futuras gerações. E a Mantiqueira em suas cores e ondulações presente nessa monumental obra de Arte. A presença da Serra da Mantiqueira nesta obra de arquitetura e também diante de nós, cidadãos do Vale do Paraíba. Quando o Vale começa no sentido São Paulo-Rio, vindo pela Rodovia Presidente Dutra, avista-se a Serra do lado esquerdo e a obra de Ruy Ohtake fica do lado direito, na cidade de Jacareí. A cidade com sua efervescência artística, ganha este espaço grandioso que deve ser conhecido no mundo todo. E com o EducaMais Jacareí, o Vale do Paraíba

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deixa mais ainda de ser uma mera ligação entre Rio e São Paulo e começa a descortinar a arte contemporânea produzida na região num conjunto com a arte de todos os tempos. O Centro de Formação de Professores – EducaMais de Jacareí é um lugar onde acontecem as manifestações artísticas de todas as áreas que existem e possam até ser inventadas. Educação, cultura e arte entrelaçando todos os conhecimentos formais e informais. Este espaço nos instiga a buscar o novo em qualquer manifestação artística, um laboratório de aprendizagem de professores a buscar inovações na educação. Hoje Jacareí com mais de duzentos mil habitantes tem acesso a um espaço de arte como de qualquer grande cidade do mundo. E ali, na Sala Ariano Suassuna, o teatro recebe espetáculos locais e nacionais de grande envergadura. A sala com setecentos lugares possui


equipamentos de som e luz de última geração garantindo uma qualidade técnica para qualquer espetáculo que ali se apresentar. E do lado de fora, abre-se para receber oito mil pessoas em grandes eventos.

co. É incrível como uma cidade de 200 mil habitantes como Jacareí, faz uma obra desse porte.

Pisar, sentir este espaço projetado para as manifestações artísticas é uma experiência marcante. Possui onze salas de multiuso com nomes de grandes personagens da cultura brasileira.

“A peça cultural tem que ter importância para essa cidade e em relação ao Vale do Paraíba, tem que ter o caráter de um berro, de um grito de cultura e não pode ser um grito no vazio, tem que ser forte. Então eu pintei em quatro tons de vermelho toda a fachada” (Ruy Ohtake)

Salas amplas espalhadas pelo local garantem diversos encontros de aprendizado para os professores e a comunidade de forma geral. E ali a Orquestra Jovem de Jacareí tem a sua sede e faz os ensaios; um centro de convivência, utilizado nos encontros com as pessoas da terceira idade; Uma creche ao fundo servindo as crianças do entorno do EducaMais; o esporte praticado pelo pessoal do skate. E assim a comunidade como um todo se integra no local, de uma imensa beleza interna, amplo e bem arejado facilitando o aprendizado formal e informal. Dentro do prédio, no teto, pode-se ver tubos de diversas cores inspirando os transeuntes com uma visão mágica. Um amplo salão para receber exposições de arte e eventos. A cidade tem muito a mostrar e a criar de agora em diante, num espaço a altura do fazer artísti-

Ruy Ohtake engrandece a arquitetura no Vale do Paraíba ao projetar esta obra de arte, que merece ser visitada e apreciada por todos. Uma obra que tem importância para o Vale do Paraíba e precisa ser valorizada. Como diz o próprio Ruy Ohtake é uma “obra amiga da população”. E assim a cidade descobre os caminhos para uma nova participação cidadã de seu povo. O Brasil ganha um novo cartão postal que merece ser experimentado, sentido e vivido. Uma beleza arquitetônica que deve ser vista por sua comunidade e por gente do Brasil e do mundo. Afinal o mundo hoje é um imenso quintal. E arte é brincar, soltar-se nas ondulações do EducaMais. Só resta criar, espaço tem. Uma longa jornada ao EducaMais Jacareí para a geração atual e as futuras gerações.

Centro de Formação de Professores EducaMais Jacareí Local: Jacareí - SP, Brasil Início do projeto: 2010 Conclusão da obra: 2014 Área do terreno: 6.445 m² Diferenciais técnicos: Design /Ruy Ohtake Imagens de Elizabeth de Souza

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ENTRE TRILHAS E VIAGENS

PASSEANDO POR ANTONINA Por Ana Maria Alcides – Guia de Turismo, mora em Curitiba.

A

ntonina, esta pequena cidade do litoral paranaense abriga um povo trabalhador e muito acolhedor que recebe seus visitantes oferecendo um leque de belas paisagens, excelente gastronomia com nosso prático típico barreado, e muitas opções de lazer, culturais e esportivas durante o ano todo.

Esta ladeira é a 7 de Setembro, fica ao lado de um ótimo restaurante chamado Buganvil.

Seu pequeno Centro Histórico guarda registros importantes dos primeiros moradores. Fundada em 1714, conta sua história nas características marcantes de seus casarões que já fizeram parte de muitas produções cinematográficas como o filme: Oriundi, com o ator Anthony Quinn, Cafundó com ator Lázaro Ramos. Também cedeu esse belo cenário para filmagens da nova versão da novela global “O Astro” entre outras produções.

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Igreja Nsa. Sra do Pilar, no Centro Histórico que completou este ano 300 anos

Seu lado religioso fica bem marcado pelos diversos templos na cidade como: Igreja Nossa Senhora do Pilar, padroeira do município (1714), Igreja de São Benedito (1824), Loja Maçônica (1869), Igreja Quadrangular, Assembleia


de Deus, Igreja Batista, entre outras. Berço da Orquestra Filarmônica Antoninense, que no dia 30 de agosto último completou 40 anos de belos espetáculos. É também palco de um dos melhores carnavais do Paraná que faz sua população de quase dezoito mil habitantes triplicar. Muitas casas tem plaquinhas de azulejo com nomes de músicas para que quando o grupo de seresteiros da cidade passarem por elas executem essas músicas. Entre essas casas, uma chama muito a atenção porque foi o lar dos queridos Nhô Belarmino e Nhá Gabriela, compositores de “As mocinhas da cidade” entre outras músicas. Esta bela cidade também é palco de manifestações folclóricas como o Fandango Paranaense, que é um conjunto de danças chamado “Marcas” acompanhado de viola, adufo e rabeca e o som dos tamancos de madeira no chão.

Esta é uma das mais belas vistas do local chamado Ponta da Pita.

Você consegue ter esta vista enquanto estiver saboreando um delicioso sorvete de gengibre no Trapiche Municipal. Ao longe o Santuário N Sra do Pilar

Estação Ferroviária de 1928 que foi construída porque a original, feita de madeira, foi destruída por um incêndio. Ao fundo a Igreja de Bom Jesus do Saivá(final do século XVIII) Parte do casario tombado da cidade

Este cantinho da Ponta da Pita é onde os casais namoram apreciando a paisagem.

Saindo do Centro Histórico, nada melhor do que apreciar um belo pôr do sol na Ponta da Pita, um local lindo para vivenciar esse mágico momento. Imagens de Ana Maria Alcidez

Trapiche Municipal

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ENTRE TESES E ANTÍTESES

IDEAÇÃO MENTAL DO SÍMBOLO Por Jorge Xerxes

O

yin-yang é antigo símbolo caracterizado por uma figura plana representando duas gotas complementares – uma negra (o yin) e outra branca (o yang) – cujas fronteiras externas definem uma circunferência. A figura transmite a ideia de movimento, estando as gotas justapostas direcionadas num mesmo sentido de rotação em relação ao centro. Há ainda dois pequenos círculos, cada um deles disposto no quarto frontal ao longo do comprimento da gota; um pequeno círculo branco no yin (negro) e outro pequeno círculo negro no yang (branco). Diz-se que estes pequenos círculos remetem ao simbolismo de que o yin nasce do yang, e vice-versa. Este símbolo representa, portanto, não um objeto estanque ou coisa inerte, mas sim um processo circulatório, fluido e ininterrupto – havendo inclusive trocas entre estes dois polos. Imagine o yin-yang agora não mais como uma figura plana, mas sim uma esfera cujas gotas complementares estão mapeadas sobre a sua superfície. Nessa ideação mental, tridimensional do símbolo, os pequenos círculos opostos (dispostos nos quartos frontais das gotas de outrora) já não são mais círculos. São remoinhos ou vórtices gerando duas concavidades opostas na superfície; e esses dois remoinhos vão se encontrar no ponto central do yin-yang tridimensional. Observe que a figura geométrica resultante desse exercício da imaginação é ainda uma única superfície, não mais bidimensional, mas que pode ser descrita valendo-se de três dimensões. As trocas entre yin e yang são representadas agora pelos dois vórtices, para os quais podemos nos valer da analogia de uma supernova interior ao yin (princípio destruidor) e um buraco negro interior ao yang (princípio construtor). Exatamente no centro desse símbolo geométrico temos um ponto de singularidade (ou horizont de eventos) entre os polos – remetendo ao criativo,

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a alternância de um estado ao outro, pelos remoinhos, novamente um processo circulatório (e não um objeto inerte ou coisa estanque). Existe também uma borda contínua para esta superfície yin-yang tridimensional. Esta é caracterizada pela curva de interseção entre as gotas. Podemos imaginar essa linha de fronteira da dualidade, onde os opostos tentam se acomodar dinamicamente. Será que essa linha de fronteira representa o plano físico (universo consciente)? Será que a superfície yin-yang tridimensional serve de modelo para o plano astral (universo inconsciente)? E será que o ponto de singularidade poderia ser uma idealização do plano causal (universo criativo)?


CANTO DA CULTURA

ERA UMA VEZ EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS Marcos Planta - Grande Figura! Ator, poeta e declamador

Chegava ao Canto da Cultura e declamava os poetas brasileiros Encantava

com sua maneira peculiar de declamar e quem viu e ouviu nunca mais poderia esquecer, ”E agora, José?” ou ainda “Porque hoje é Sábado” que ele declamava todo sábado. Declamava Vinícius, Drumond, José Régio, Fernando Pessoa, Dailor Varela e outros. Marcos Planta tinha um respeito e um amor sem limites pelas mulheres e as reverenciava, sempre. Como ator, fazia teatro na cidade e o seu grupo produzia peças que apresentava pelos bairros.. Chegou a produzir a peça “Jaula Aberta” baseada no livro do Dailor Varela por quem nutria grande admiração.

Recortes de jornais é do Valeparaibano de setembro de 1981

Revista Em cena

Marcos Planta hoje! Nosso amigo, ator, poeta e declamador, Marcos Planta foi-se embora de São José dos Campos há quase 30 anos. Com seu carisma, fazia da Praça Afonso Pena e das ruas dessa cidade, seu palco. Desfilava personagens, criados com um jeito todo especial e junto com Irael Luziano, revolucionava essas bandas de cá. Ninguém mais soube do Marcos Planta, nenhuma notícia, apenas boatos de sua morte chegaram até aqui, mas eram suposições. Mas, o Portal Entrementes, conectando ideias, conectando o mundo, alcançou Tucano, interior da Bahia e de lá, um rebento de Marcos Planta, fez a conexão. Contou de seu pai, Marcos Planta, que está vivo e atuando como sempre fez. Imagens atuais do Poeta:

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ANUNCIE NA REVISTA ENTREMENTES O Portal Entrementes é uma revista digital de conteúdo essencialmente cultural, conta com a colaboração de mais de 20 colunistas, escritores, poetas, críticos, músicos, artistas plásticos, ufólogos, etc que estão espalhados por várias partes do Brasil, assim como em Portugal e Moçambique.

O conteúdo da revista impressa é contribuição dos próprios colunistas junto com outras matérias interessantes feitas pela equipe do Entrementes. Para que o projeto continue levando conhecimento e cultura até as pessoas, precisamos da sua contribuição.

Além das postagens dos colunistas tem-se uma agenda onde são postados releases de vários eventos para divulgação e também são feitas matérias especiais sobre variados temas na região e em outras cidades ou estados, que são registrados através de vídeos, entrevistas e imagens.

Colaborando conosco, além de nos ajudar a divulgar conhecimentos, estará também divulgando sua empresa.

Agora no formato de revista impressa que é publicada trimestralmente (Março, Junho, Setembro, Dezembro).

Adote essa ideia e junte-se a nós... Agradeço a colaboração e a parceria! Elizabeth de Souza - Editora do Portal www.entrementes.com.br contato@entrementes.com.br (12) 98134-9857


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