A TEOnJA DO CONHECIMENTO DE KANT: O IDEALISMO TRANSCENDENTAL Caderno Brasileiro de Ensino de Física, f1oriaIllópo!is, v.19, número especial: p. 2~ ~51 , jlJlJIJl. 20m remando LUl7g do Sillleira Ian git i r LI frg s. br
Instituto de rí sica - UrRGS
Porto Akgr·e. RS
DI/OS coisos sempre m f:! encht'nI o 01/1/(/ de crt'scel/te admiração e respeito , ql/amp 1/101 .\ ilJlens a e freqüenlell/eme o pensO/llen/o delos se oc I/j}o . () cel/ estrelado acima de mim e a lei l1Ioral dentro de /1/im .
ImmanLlel Kant
Resumo A teoria do conhec il/lel1lo de Kant - a filosofia transce ndental 011 idealismo transcendent a l - /el'e CO II/O oIJjelil'oflls/ificor a possibilidade do conhecimento cie ntífico das seculos )(Vl1 e XVll1 Elu pOr/11I da consto/ação de que nem o . empirism o hri/ânico, ne m () raci onalismo co ntinel/tal np!iu/I'WI/ sutisjil/oriolllcn/e a ciê ncia. Kon/ lIIos/rou que, apesar de o cOIl!7ecil//(:' l/to se jllndamel1/O/' 'la e:íperiêncio, es /o nunca se dá de maneira neutra, pois a e/o são lI/I/70S/O.\' as for ma s a pri ol'i da sensibilidade e do entendimento, características da co~niçâo humallo.
I. IlItrodução
[illl11anu el Kant (1724..,. 18(4) é reputado como o maior filósofo ap ós os antigos gregos. Nasce u elll KOlligsberg. Prússia Oriental , como filho de um artesão humilde, e es tudou no Colégio Fridericial1L1ill e na Universidade de KOlligsberg. na qual tornou-se professor catedrático. Não foi casado. Ilào teve filh os e J1Ullca saiu da sua ci,dade natal . Levou uma vida extremamente' metódica. C onta-se que os habitantes de sua; c idadc acel1avalll os seus relógios quando o viam sair para passear às 3 h
~
30 Illin da tard e.
Sua relk.\50 tllosóCica foi muito abrangente pois "/odo interesse de minha razão (ton/o a esp ccula/fm () /J/'áli co) cO/7cen/ro -se nos ,rês seguintl!spergul7/as. J. Que nosso saher)
di/do ('suem r ) " (Kallt. 1988. p. 833
1
•
(jll017l0
2. Quedt!\,o fazer:) J QII(, l1Ie J
Gri ro no original)
ü objetivo do trabalho é apreseJ1tar sucintamente a resposta kantiana à prilllcira de ssas tI'ês
pel'glllltas parte mais importante da obra de Kan\, as publicações do ch.amado períoda crítico. somente
1 - 1\ Crír/c u do ra::ii(} Ii/lm de Os Pen sadores apresenta tambéma paginação da segunda edição da obra original de Kant. da tada de 1787 . Utilizaremos esta Ilumeração em todas as referências.
aconleccram quando ele já tinha 57 anos. A sua leorio do conhecimenlo ou, como se diria em termos atuais, a sua I.'IIIS!cn/ologio, aparece já na primeira obra crítica: Crítica da rozc10 puro (1781). Duas respostas antagônicas à questão da origem e da possibilidade do conhecimento existiam desdc os aIltigos gregos: o racionalismo e o empirismo.' Na época de Kant oracionalisl1Io domiliava no contlnerllC (França, Alemanha, ... ); na ilha britânica, o empirismo era hegemônico. Como exporemos a seguir. para o lilósolo na sua rase crílica, as duas concepções eram insuficfentes e problemáticas. O seu eslorço eplstelllológieo pretendeu dar conta da ciência da época, explicando como foi possível a prodüção Científica. clll espeCial. a (Jeometria Euclidlalla e a Mecânica Newtoniana.
[I.
O raciol1alisl1/o
o m c io l1alis/IIo é a "posição epislemológica que rê no pensal1/enlo, na razão, a fOl1le principal do 2 COl7/lccilllcnlo" (I~essen. 1987, p. 60):, a experiência exlema ou sensí1'el é secundária, podendo até ser prejudicial ao conhecimento'. "Em senlido eslrilo, (o racionalismo é o) conjul7lo dasjilosojias que suslelllOl1/ quc /lO.I/O () 1)('/7.\OIl/enIO puro, lanlo para a ciênciaformol, COl110 paro a ciência/ólica" (Bun~e, 1986, p. 165). Platão (428/7 - 348/7 a.c.) argumentava que o Mundo Sensível (o mundo percebido pelos cinco sentidos) encontrava-se em contínua alteração e mudança. Como o verdadeiro saber tem as caracrcristlcas da necessidade lógica e da validade universal, não se pode procurá-lo no M1Indo .)(:'nsí\'(:'/' Para Platào existe
UIll
segundo mundo - Mundo das ldJios -: es~e tem realidade independente do homell1: existe
obietivamcnte. fora de nós, apesar de ser imaterial. Os objetos do Mundo Sensível são cópias distorcidas das idéias: por exemplo. um corpo pode ter a forma aproximada de um triângulo retângulo, mas nunca será
\'ucladtir'amentc um Trióngulo Relângulo. Entr~tanto, nós conhecemos o Triângulo Relângulo e sabell10s também que a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa· l . Os conceitos éticos e eSléticos. comu de Justiça, de Virlllde e de B(:'leza, também são objetos do MUl7do dos ldiios. Mas de que Illallcila é possível ter acesso a este mundo? Platão respondeu com a leoria da anomnese ou leoria da recordaçr7o: a alma participou do Mllndo das idiias em uma existência pré-terrena, contemplando aquele mundo; depois encarnou (/eoria do /'eel7carnaçr7o) como um membro da espécie humana. Mas a alma traz como idéias inalas os objetos
illlatcliais daquele mundo. Desta maneira, para Platão conhecer J recordar. Rcné Descartes (1596 - 1650) é o fundador do rociol7alismo l1/oderno. ConviCto de que a razão er'a capaz de chegar ao conhecimento da realidade de modo semelhante ao conhecimento matemático. isto é.
c _ USUCilllléllté qUCilldo falamos elll txpl'l'iência. estamllS 110S rdlTindu a aquilll quc tem ul'igCIll nos ól'gãos dos sentidos. na intlliçâo sem/rei J CXj)('liCnCiO ex/ema, Nu jargão filosófico há ainda outi'll tipo de cxpcl'iênr:ia: a in/etilO lJuc se dá pela il1/lIiç-(/o flsicol(íglCiI (DulO/oi c RousscL f 993). Daqui pal'a frentc utilizal'cmos a palavra e.'\periêneia 110 sClllido usual do tCi'mo, 3 _ Us locíollallsliIs dogll/á/icos desqualirlcam completamentc a pCi'ccpç.io. o ohscrvado. o C'\perimelllado. a íllllliç(/osclIsÍl'cl como algu illlpuilaotc 11arJ u cuohccimeJ1tu, ~ - () conilccilllL'1ll0 IllJtcllláticu. espccial~llenlé a gcumetria, ser\'iu eOlllo llludelll par'a Platào e os demais l(/ci()/lolislC/s: ,nessa
cun cepç3ll () [lCl1SJlllento impcl'a absolutamente independente de tuda a c.\['lcriência. cllnsliluilido um cunhecimclltu conccptu31 c dcdutl\(l, ('um b3se em alguns conceitos e a\iomas. lodo o resto é dedu/ido. Não é de se admil'31' que di\ClSOS !<Iciol1<1l/sli7s, CO!l1U Descailcs ( 15lJ(, - I 6SU) c Leibni/ (J 646 - J 71 (i). fUI'3m t3~bém matcmátieus.
j
,
por dedução a partir de orincíoios instituídos de maneira independente da experiência, retomou a t(!o ,.io dos idéias il1u((fs. A firlll ou qu e as idéios claras e distintas, descobertas em nossa melHe atrav és da dÚl'ido J1I ellÍdiciI. são verdadeiras. pOi s Deus nâo daria ao ho mem uma razão que o enganasse s istemalicamente .
Por volta de 1630. seguindo o se u projeto mcionalista. Descartes produ'ziu lima rís ica (l\kdnic:.J Cartesiana) , A partir do pressuposto de que o Ser Perfeito que criou todos os corpos e lhes irnprilll iu mO" lmento. impondo-I he s que o mov imento fosse conservado, chegou Descartes ao Pri nc ípio da (onse r\'aç;1o do I'vl ov illlcnto Total no mundo fí sico; se assim não fos se, o Universo pararia , reveland CJ urna illl pcrlciç;1() divi na. En un ciou o Princípio da In ércia S; afirmou que os corpos so mente podem il1lerag ir por COlltato c negou a. poss ib ilidade de vácuo: deduz iu quc o movi mento deve scr co nstituído por um rearranjo ciclico de cor pus, isto é.
tjUC
um número finito .pe corpos podem alterar as suas pos ições. serncriar vác uo .
C:.ISl) ape nas se mova ao longo de lima malha tCchada (teoria dos vórtices ou lurh ilh(j(!s). O peso dos co rpos C/3
eo nseq ül'ncia da ação pOl' contato" da corrente de matéria dirigida ao centro do "ól'lice assoc iado ao
pl3lle ta: os planetas Ill ovia m-se no 1'()rlice solar. Y\ Mecânica Ca rte s iana antecedeu a Mecânica Newtoniana e foi intluente ta nto na França,
qu allto na Inglaterra até bem depo is da morte de Desca rte s. Isaac Newton (1642 -
1727). ini cial mente
~
ca rtesiano. acabou cri tica ndo o mcionalismo e a Física de Descarte s, em especial a teoria d os 1·órlices. A epislclmilogia newtoni ana roi o e lllpi,.islllo (ver a próx ima seção) e, como bem se sa be, Newton . com o obJc tiv o de cx pli c.lI· o Ill ovim en to do s COl'pOS ce lestes, forJlluJou 7 a Lei da Gravitação ·Universal . Durante a qU3 1l a década dos St'tccentos , porta nto ano s após a morte de Newton ~ cerca de cinco décadas arós a publicaçjo do Pril7C1p io, a Mecâ nica Newtoniana ainda sofria tenaz resistência dos cartesianos nas academia s e cí rculos científicos fran ceses.
' - [)cscal'tcs cnunciou tal princípio de uma maneira muito pecul ia r, formulando-o em duas pal1es. A pnllleirJ versão de NCllton deste pl'incípio reproduziu a forma bipartida, evidenciando a inOuência cartesiana: I - Se UIJIO quantidade (() ll/l' í'O li SI' IIlm'('I', l1iio olcul1ç'al'ó jamais O repouso, a menos que seja impedido por limo ca llso ex terl1a , 2 - Uma qllon tidodc sc mpre contiJ7uouí a se 11101'1'1' .\'o hre a mesma linha rela (não m/ldando nem o determina ção, ne lll o ;l : "!}(!,,dc de .IClI IIW\'!III CI7/0) a mel70s qu(' lima causa extemo a desvie (Newton apud Casini, 1995 , p. 55) (, __ ObCal'tCS não adm itia a po ss ibili dade de um a ação à distância mas tão some nte por con tato, Os cartesianos cOlllhatera m a 1\.1ecánica Newtoniana. especia lmente a Lei da Gravitação Universal. por considerarem a ação à di stância UIl1 "f/l ons n o IIIc/ujisico". ; _ De mancira consistente com o empirism o que adotara como t('{II'ia do c()nhecimento, Newton procur'ou mostrar COIllO a Lei da GI'a\'itaçào LJniversa l .(LG) pode ser indllzida das Leis de Keple r (LK) - ta l de monstração é en{'ontrada até IloJe em alguns 1I VIOS de Meci\nica . Segundo Im re Lakatos (1987), Pierre Du hem em 1906. derois Popper em 19-+ 8. dCllwllralll com esta VCl'são indlltil'ista. mos trando que a LG corrige as LK , ou seja, dada a LG pode-se delllon s u-ar que as I..K nao c'stã o corretas, sendo ap rox imações para o movimento dos planetas. Como um a le i pode ,conllita l' COIll os ratos dos quais rOI rl't'tCl1 Sa lllent e illdll:: ida~ .i Uj 17(/0 pode ser log lc omel7te der ivada das LK simplesmente porque 1'10 cOI7)rodi::., corrige os mesl//os : U pl 'ill1 ei ro U ,: ujil'll/i11 'o que' os (jrh ifllS jJlollc /úriils erom elipses e a teorio de Ncwton permitiu demons tror que il,\' mesmilS I7Ú O SelU l' i\!,III' I,i.IUlllc lI/ e e1ljlSCS (S!IO OjJI'oximoduln ellt e elipses): ildicionalm el1 /c Kepler iljirnlOril qlle I)S co m e/os dtlscrel'iulII 1i ·" l jl' I Li !iuI l'c/llilleO.l e (/ /e()rio dI' Newtol7 predisse /ruie /órius ilProximudumente e/ipticilS, Pilrahó li cils ou hipel'b(jlicos j,urc/ eles FIc!diç'rJc,1 du :\feuínicil Newtu niol7a fora m surp"I'endentcin cn/ e corroborildus (u!g llm os upós u lII or /c de .\',,1< '1(1 1/ . L ( lill ll U c/(I re/(lr Il O J(I cometo j1l'cl'isto p or Holley'- o co me/a ' Hol!ey). Oro, se exis tisse o lógico illdll!i1'Il, () 111 ill1l1ll , qll e ,/l'l'c'rio ocorrer nos induç'(jes das leis a partir dO,I' faiaS e que as leis não contraditasse m eSles n'les!11(ls ' ; I/ (ll (Slllcil a. IC)%. p. 203)
.t
A tenacidade do s cartesianos t'oi lentamente desgastada pela crítica de pensadores e físicos 8 franceses que já havial1l aderido ao programa newtonim1O. O enciclopedista Yoltaire (1694 -
J
778). ao
retomâl' para a França depois de três anos entre os ingleses (1726 a 1729), foi o grande divulgador da Mecânica Newtoniana eJHrc os leigos. A/c Vol/aire e os seus amigos tNem ajudado {J propagar as tradições analítica e
(,JlljJírica inglesas, a França estil'era em grande medida soh o sortilégio do I"OCloJJalis rno de Descartes. Embora a basc do jJensall1cnto(rancés /cnha pcrl/lanccido cor/esioJJ{J, â influéncio newtoniano era
l/f}/
ferl/l ento hem \'indo . (Brono\Vski e
i\t1a"/ lisll . j 983. p. 264) !\ !\cad e l1lia~ de Ciências da França, em 1735, persuadida pelo físico francês (newtoniano) .
Maupcnius". decidiu enviai' expedições ao Peru e à Lapônia para medir o comprimento do arco subtendido pelo ângulo df I do meridiano terrestre. Estas medidas tinham o objetivo de determinar experimentalmente se <)
. a Terra era achatada nos pólos . como a Mecânica Newtoniana previa, ou era achatada no equador eo~o a I
Física C\I·tesiana dizia. EI1l 1736, a expedição à Lapônia liderada por Maupertius realizou uma das medidas. ellcontr,lIldo cerca de 500 toesas a mais do que o comprimento correspondente a I" do meridiano terrestre em Pari s. cQt"roborando ass illl a previ são newtoniana (as medidas realizadas posteriormente no Pau, talllbém corroooraJ'alll o jl/'()grU/1/O nelr/ol7iono). Desta forma. na época de Kant. a Mecânica Newtoniana estava amplamente aceita c era co nsiderada eOl11o uma grandiosa realização eientítica. A ciência produzida segundo os ditames do racionalisJ1to carte.lio/1o fora superada e reconhecida como tàlsa.
m. O empiris/1/o Aristóteles (384 - 322 a.c.), discípulo do raciona!ista Platão, já propugnara que "não há nada J1C/O
consistellte
/:'}}Jpirisl7/o : "cuncepção qlle fimdonleJ1ta nosso cunhecimento ,
COIll ()
esti,'esse {lJ1t es
órgâos dos sentidos" (Losee, 1993 , p. 108). Esta afirlllação é
no 'mil/ccto. que
!10 S
UII ()
}}wteriol
c(J/II
o quul el/:'
é cO!Js/ruído . J10 experiéncio otrovés dos cinco sentidos" (Honderich, 1995, p. 226). Assim . os cmpiristas consideram a experiência como a' fonte e o critério seguro de todo conhecimento. !\ sen sibilidade é supervalorizada, pois. através da percepção, os objetos se impõem ao sujeito. Como disse John Locke (1632 - l 704), a mente humana é inicialmente uma tábula rasa ou
"IIJIIO
peqlleno
Entre os fís ieos destacam-se M aupert ius ( 1698 - 1759). que em 1728 esteve na Inglate rra e intl"Oduziu na F rança a . Medllica Newtoniana. e d'Alembert (1717 - 1783)
8-
4 _
.4 l'esisJéJ1cia dos car/esiGims, considemndo a co isa de seus PO/7/0S de 1'is/a , em hem lII e/1 OS m jill1dada d o q'J/E'
Jhl l l!C t! / 011/11 /ei/ ol allla /. A tare fa que A1aupcnius propunhá-se nào era s imples. Del'io pers}/adir 1/111 círc u/o de ('o /egos leimosos - e p crsuadir colegas é sempre um lranal/IO difícil '- . 1110s/rar que a OIn /\'õo nõo cru o "11I 0/1s /ro ~ 1(,Jafisic()" da fradi çõo. / a::el" com qlle acei/(/ssel1l a lei do i/11'erso do s q}/admdos.' (Cas ini . 1995 , p. 69) .
C) () SS lI
'I
tób//o
Ii/IIJ) (I 110
qual /lodo está escrito" (Locke apud Pérez, 1988, p. 170) ; depois, a partir dos dados da
experiência. que t(lI"IleCelll ao espírito idéias simples, o sujeito forma idéias complexas 10. A ind//ção constituía-se, segundo os empiristas, no método através do qual, os enunciad os "
universais - as lei s. os princípios, as teorias científicas - eram obtidos dos enunciados particulares (enunciados que relatam algo observado, experimentado). O último empirista anterior a Kant. o lilósofo eSCOct'S Oav id Ilulllc ( 171 I - 1776), mesmo admitindo qu e todas as idéias derivam da experiência. neg ou ulTla so lução POS ili\'a ao uroh/e/l/O do ind//cão: "Q1/al é o fllndalllento de' todos os conclllsões
(I
}Jartir do
eXJleuÓ /c iu)" (1lume. 19H 5. p. 37) ou , como se justifica a passagem dos enunciados obscrvacionai s para os
enullciad,ls univ ersai s'.) HUlllc argumentou que todo o conhecimento que se refere à matéria de fato elllana das illlprcssl1cS dos scntidos. das illtuições sensíveis, mas estas somente nos dão idéias particulares e contingcntes. Não
hj
.1ust ifi cal i \a para a passagem dos enunciados particulares cont ingentes (que descrevem o' que 1'0 i
ob;ervad o) para os enunciados ulliversaisnecessários (as leis, os princípios das teorias científicas). 'lJ lás
" J\:/t'SIlI{}
on.\ ('/' \'(/r ji'C(/út' I7l t' I1/enlt! a constante conjl!}1ção de objetos, nclo terl/os r02r10 f Jura tirar quol!/IIi:'I'
;n(erÍ'ilc io C()I1CI.' /T/I.'/lt e (/ q/lalq//el' Olllro objeto q1/e não aqueles com q/le tive/1/os experiência" (Hume apud
)oppcr. 1993 .
r
42 1). ."(jl/e o sol não ·se há ç/e le\'antar amanhã, não é uma proposição menos il1te/ig íl 'el
lâo il l/p/lcu /IIaior cOl/tradição. do que' o . oflrmoçao de que ele se levantará" la ~~a g <:111 ~ égLlint e
(Hume. 1985, p. 32).
I.'
Â
delllonstra a impossibilidade de fundamentar as inferências indutivas :
De l'l! -se conlessar q1le a inferência não é int/litiva e' nem demonstrali\'o , Qllal é a /IOIUJ'(' ':O
SilO
e/ltão } Di7:er qll(, é eXjJaimel1tal é 1I/1/a petiç'ão de princípio. já q//I: todas os
ill/e n ;/l c io.\'
(f
(/S,\clI/c//wní
J}{/lJir da expl:riência supi'5e 111, 00
CO/IIO
funda/1/e/lto , que o fu///ro se
passado, e que pode/'e s semelhantes estqrão em conjunção com
qualidades sens íveis semelhantes. Se há algulI/a suspeita de que O curso da natll/'e::a JJO SSO
/I/lldar, e de que
° passadQ não possa estabelccer regras para o fut uro, todas as
e.'íjJair'ncias serão inúteis e não pode rão dar origem a nenh//I/u; inferr'ncia Ou l 'O 11 c! u.I'C/o , jJl'O J'( /I'
Porwnto. é imjJossível que orgulIlentosprocedentes da expe riêllcia possanl
estu scmelhança entre o passudo e () futl//,() já que estes (/rgul/l('nfOs es/(/o
h(/.leodos
110
suposição des/(f sel1lelhança . (Humc apud Swinburn.e, 1974, p. 19)
('0 1/1111/ 1 (/ todo.\' (lI' (, /I1pirisfOs ingl('ses é a concepção do ('spírito oll ' suj('ito cognoscel1fl.' como 1/1// êCjJllÍClllo" no qual ingressam os dados do mundo exterior transmitidos pr:los sentidos I/Iedio/l/ e (7 cC/ Jí'(/o , Os due/os q//e ill:r;ressal/l Ilesse "receptác ulo" são as chamados (por Locke e BerkelevJ "idéias ". 111111/c! de no/llino "sensações", Essas idé ias 011 sensações constituem o base de tod() () conhe cimel7to
-
)rJ..
19R2. p, I 19)
A conseqüência de não existir urna justificativa para o método il1dlltivo era a impossibilidade de
um conhecimento necessá rio da natureza; deste modo, o e/llpirisl/lO de Hume cDnduziu ao ceticisrl/o", destruindo a racional idade científica. Kant estava impressionado com o esplcndorda ciência da sua época. em especial com o sucesso da Mecânica Newtoniana. O interesse de Kant pela Física levou-o, aos 31 anos de idade. a escrever a
H/sró,/a lI/1il'CI"sol da natll/"c:;a e tcorio do céu (Pascal, 1999),
onde~propôs
uma hipótese para a origem do
sistema so lar: posteriormente, de maneira independente, o físico Laplace (J 749 - 11327) também a defendeu , ticando clltãn conhecida como a /lIpátl:'se de Kúnt-Loploce (Verdet, 1991). No seu período
pr~-críltc() ,
Kant aderira ao rociol1o!ismo. Foi lendo HUl11e que ele sentiu a '
necessidade de rcpen sar a fi loso fia:
('OI7(Í' sso-o .fi"unca/JIentc, foi o adveuêncio de David HUllle que pri/lleiralllclJte ilJterrompeu, há já J1/uitos anos o mcu sono dOf!.l11ótico c que deu lIllIa orienlaçrl(} cO /llplctamcntc dif'ercntc às minhas investigaçõcs no compo do filosofia espcc1l10tivo. (Kant apud Santos, 1981 , p. 25)
A temia do conhecimento de Kant foi conseqüência do seu esforço para salvar a ciênCia do c('l/ciS/7l0 de H u me. IV. A teoria do cOllhecimento de Kant:filosofia transcendental Não duvidava Kant da possibilidade de se chegar ao conhecimento . A ciênCia dos séculos XVII c AVIII constituía-se no atestado desta possibilidade. A reflexão dq filósofo concentrou-se na análise
jas cond içõcs que poss ibilitaram o conhecimento. Já no iilício da C/:ítico da rozrlo pura (1781). ele indica o :aminho que iri a percorrer:
QUI' IOd.o o nosso conhecimento começo com a experiência, nào há dúvida alguma. pOIS, do contrário, por meio do que o faculdadc de conheci/"l/clllO de ve ria ser despCt"toda paro o exercício senào através dc
o~jetos
que tOCOI/I nossos sentidos c el1/
parrc j)/"Uduzcrn por si 'Próprios representações, em porte pijell/' 1'111 mOl'irl/cl7{() a otividode do nosso entendill/ento jW/'O compará-los, conectá-jos
0/1
Sl:'jJul·ú-lu.\ e.
(/c.\.\'c
/1/1/
co nhecimcnto
11 10 do ,
assilllilOl' o matéria bruta dos imprcssões sensí,'eis (/
dos oh/etos que sc choll/a experiência? Seeundo o tempo, portal1to. conheci/1/(!nto l\10S
011
nós prccedc o experiência, c todo c/c cOl/leça CO/7/ cla.
c/llbora todo o
110.1'.1'0
c(J/1hccimento comccc co/"/"1 a experiêl7cio. I1C/ll jJor isso todo
de se origil1o ./lIs/umentt: do 'experiêncio. Pois poderio bem acontecer (jlle /lOSSO
U('II/1//l1/
conheci/1/cnto de experiência seja
1//1/
CO/1/jJosto dO(j/lilo
(f Ih'
1I11:'.\'1I1Ii
o
rcccnel1lOS jJor
- DOlltlil10 .lCg/lndo o quol.o espírito humol1o I7ÕO pode atingir COI11 ccrtez(J /1cl/h/l1l1O l'crdoc/c de ordell/ '01 e eSjJc culotil"{/, nem mesmo (/ cerleza de qlle uma proposiçõo deste gêl7(,/"o sC/O I/lms j}/"(}l'ól'cl quI' olllro iliJllt!I (Lalande. 1993. p. 149)
illlp,.css(5cs
C
dnCJui/o quc n nossn próprin foculdndc dc conhecil/lcnlo
j }"()l'o('odo jW" inljJre ssôes sens íve is) fornece de si mesI!/n, dislingllimos duqlli!lo
(npenas
c/ljo' odit on/e nl o
m/o
1//(flério--pril1lU antes ljue um longo exercício nos lenha
lomado alenlos n ele e nos Il!nha t{)J'nado aptos à sua ahslroção. (Kant. 1987. p. I.
Gril'o no original) !\.ant alll/nou que. apesar da origem do conhecimento ser a experiência - se alinhando aí com o clI/j1/n.\II/O - . C\istclll certas condições a jJriori para que as impressões sensíveis se convel1am em. l~lI.cnd()
COllhecilllcllto levada
:lU
c\trel11o. !lCli s "Iodo o conhecill/elllo dus coisas provenienle .wí do puro elllendil1lel//o ou du 1'O::c10 '
pllro I/tio
assim uma concessão ao racionalislI/Q, Esta concessão ao racionalisl/IO não devia ser
.
.
jW.\ Ii/ dI.' illl.laO . :I(í
Se m/o
110
njJeriÍ!ncio hú vadode" (Kal1l apud Pascal. 1999. p. 45).
('O/IICS'(//'1110S
da eXjH'riênci"l
0/1
se
/1{IO
pmcedemlO,I' segundu leis de
illlcrco!1CX(/O e mpírica dos fenômenos, nos vnngloriamos el7l vào de querer odivlnhor 0/1
procurar o exiSlência de qualquer coisa. (Kant, 1987, p. 273 /274)
/\ l'Cne'í.ào kantiana tentou mostrar que a dicotomia empirismo/ racionalismo requer uma olução interll1edi31ia jj que ' j)enSalllenlos sem conteúdo sào vazios , illluições se", conceilos sào cegn)"" idem.
r
75). Ele denominou de Iranscel1del7trt!
~i(},.,
O
enfoque que procura determinar e analisar as condições a
dc qualquer c'í.periência: Dell()millo Il'ollscendel7lallodo o conhecimento que elll geral se oClljJa n{/o tanto uml os oh/elO.\', mas Corll nosso I//Odo
de conhe.cimento de obje/os na 11/cdida em CJlle este
d('\'c ser possÍI'el a prion. Um sistema de tais conceitos rlenominar-se-ia (i/osofio
IWlJs cclJderllol. (idem. p. 26. Grifo no original)'
o ')cmicollo
IlU
enfoque transcendental constituiu-se. segundo seu idealizador, em uma revolução
filosofia. Antcs admitia-se que o conhecimento se regulava pelo objeto: esta nova abordagem
,strou que "o oh/CIO dos sentidos se reKulo pela nossa faculdade cje intuição ~ue "o jmí/Jl'io L'.rperiêncio
fjei o): n mlL'l/dimel/lO.
J
é
U/II
l ' "
(idem, p. XVII do prefácio)
/Ilodo de conhecimento qite requer entendimento" (idem, p. XVI[ do
razão impõe aos objetos conceitus a priori. Afi rmou ainda que cientistas como
ileu . lollicclli e outros já haviam se apercebido disto: ('ollljJrl'ende/'Ol1l quc'o ro7.clo elo
lel11
S(j
discerne o ljlle ela produz sCf!;lIndo o seu projelo , que·
de ir á frente CO/li princípios (..) [lois do contrário ohsefTnç(5e.~ casuais, feitos
Podelll os 1'Ct'SCI'ever esta célebre frase assim : A razclo sem (/ sensaçâo é I'ozia :
(1
SI!/lsOI,:ào se/I/ (/ roa/o é
l.
1>31'a Kallt 3 única forma de inluiçào era a inluição sensível. Ele negava possibilidade de uma tnllllÇOO eC/llaj ou raciol1a!. "]1I11Ú\'ÔO designa de 1111/0 lllOf1eira geral 11m lIlodo de conhecimento i/llediato e direlo ,:'o/() ((/ 110 I/l e .11110 IIIOl/Ie l/to o espinto e m presença de se u objeto" (Du'rozoi e Roussel , 1993: p. 2St) . A ~il(! "re/ere·se i/l/('diulOlIle/lIe ao Oh/NO e i' sil7Kulnr" (Kant. 1988. p. 377).
SCIII 11/11
plano previal/lente projetado, não se interconeClariofll l7uma lei nccessária,
coiso (jue (/ razôu prucura e necessita. A raúlo tem quI:' ir ,à notureza tl:'l7do /1/(}O.\'
11l11l1U
dos
os princípius unicamente segundu os quois fenô/Ilenos COl7cordontes entre si
podem valer como leis, e na outra o experimento q'ue cla imaginnl1 segundo aql1eles jJril7cípio,\', na I'C!/'dade para ser instruída pela l7atureza, nôn jJnrél/l 0111170
170.
quo/idod~ de
que se deixa ditar tudo o que o prnfessor quer, /lias na de jlliz nOl11eodo que
n[mga as testemul7has a responder às pC!/'gllntas que lhes j)YOpõe. (idem , p. XIII do
prefáci o) NOlQ-se que Kant antecipou aquilo em que no século XX tantos tilósofos da ciência insistiram : lualquer n:[let'imcllto é Jlltecedido por pressupostos; o cientista está sempre armado cõm teorius. "Todo
(I
'osso (() nhcC/ ,"el1/o (; i/JIj7regrwdn de teoria, inclusive I7ns.\as ohservações" (Popper. 1975. p. 75).
rassa mos a seguir a lima explicitação dafif,osofia transcendental,
V. a, Os juízos silltéticos
li
priori
Já no início da Crítica da razãn pura encontra-se a afirmação de que "sonJns jJnssilidnre.l' di! riOS
conhecilllen/os a prinri e /1/eSl1/n n entendimento cOI1/III11)amais está desprnl'idn deles" (Kant. 19R7. p .
. POl'
"co l7hecill/(!!1fOS a jJriori entenderemos não os que ocorrem de !lindo indejJendellte desta ou dOCjIl('/o
'Jeri('nc/o.
II/O.\'
ahsolutamente independente de toda o eXjJl:'I'iênSio" (idem , p. 3. Grifo no original). Os
lhecimcntos J pos teriori, são os "que dnivo!71 da experiência nu que delo depel/dem" (Lulande, 1993. p. I. ponanlO. inexi stentes sem a experiência.
Hume mostrou que a experiência nos dá acesso apenas a conhecimentos pal1iculal'es e tingentes. t-:la "nos ensino alie algo' ti constitllído deste ou daquele modo 'reli/c" (Kanl. 1987; p.
3. Grifo no original). Entretanto,
1110.\
não qlle l7ào onsso ser
é notória a existência de conhecimentos
)IUlJIllCllll:' universai s e necessários I.; quando encontramos tais características (universalidade e !ssidadc). lcmos a ceneza de dispormos de um conhecimento a priori, Um juízo expressa uma relação entre conceitos, isto é, atribui um predicado a um sujeito: por
nplo. "a IIIOÇ(/ é vC!/'/l/elha". Os j u.ízos podem ser analíticos ou smlético.\'. n predicado B pertence ao sujeilo A COll1n algo contido rocullamen/e) nesse
()/I
conceito,
Oll
Bjaz completamente fora do conceito A, embora esteja em cone:rôo com
o /lleS/I/O . No ])rimeiro caso denolllinonios o juízo analítico . no .olftro sintétú.:o. (idem. p.
1
I. Grifo no original)
Osjuízos anolíticos ou elucidativus sào verdadeiros em" virtude do significado dos seus termos. OI'
;0
I!\Cl1Ifilo digo. todos os corpos são eXlI!nsus, enttlo I!ste é lI/'njuízo analítico" (idem. p. 11), poi s não
sair do co nceito de corpo para encontrar a extensão.
) I/c('cI'sál'io (jllolifico n que não poderia não ser, nu seI' diferente do que é
(Durozoi e RousseJ. 1993. p.
"Q//ond() dif;o. Iodos os corpos são jJ('sados, éntão
penso no
IIIL'/(I
cOl/ccito de
/lI/I
corpu em geral"
O
prcdicado é algo bem diverso daquilo q//c
(idem , p. 11) e o juízo ésinlético ou amplia/Ivo. pois neste
caso pleci so sair do conceito de corpo para encontrar o peso. 05jl//:::OS ol1aliticos ou elucidotims independem da experiência, são a priori. Apesar dos juízos analílicos
serelll importantes. eles não se cons\ituem em um verdadeiro avanço do conhecimento. pois não
diu/ll nada além daquilo que já ,estava no conct:ito. O conhecimento Lletivamente avança através dos juízos sint(;tico.1 0 /1 ol/ljJlioti\'os.
Om. sn/Jrc tais princípios sintélico.I, isto é . o/J;ctl\,() últil/lo de .\I/ Ii. 110
l'L'ulllde.
1I0SS0
./111::0.1'
dc OIllpliaçlío. rcpousa todo ()
cOl1hecirllC'l1lu e.IJJ(,clIlol/l'o a fJriori: os f)rincípios analítico.\' il1lporlunl('s e necessários.
01101111'1111'
dos ('()//ccitos exigidospam
111110
11/0.1'
síntesesegul'O e \'Osta.
só pura chegar à clo/'e:::u
(idem. p. 13/ l4)
Allteriolmente a Kant admitiam-se çlois tipos de juízos ou pl'oposições: os analílicos a pri()/'/ e )s sii1t(;t/('os
1/
f)()ltNiori . !\
sua grande "rel'olllção copemicana" passou por admitir uma terceira classe: os
uízos .lil7l(;tico.I a /JI'iori Estes são necéssários e universais como os juízos analílicos, mas efetivamente anplialll o co nhccilllento Para Kallt os juízos matemáticos eram todos sil1telicos
li
priori .
. /lItes dc IlIdo p/'r?cisa-sr? obsr?/'var qlle proposiçõr?,\' /lIolr?nu)licas .1(/0
('n/
s('n/ido próprio
sell/pre juízos (/ priori e n(Jo empíricos porqlle Irazem COilSigo necessidade (vide
/1otu
dL'
pl! de pâg inO nlÍmero 1./) que
/1(/0
jJodr? ser tirado da experiência.
(idem, p.
15 )
L\:.el11pliflcou com a Geometria: QUi'
(I
/ll/ha rcla seja a mais cllrta ('ntr(' dois pontos, é /ilHa proposição sil1lética, pois
O 11101 cOl1ccilo de rclo nelO 'col1lém nada de quantidade, n/as só qualidade. O conceito
.
.
do I1lOls curlo é, f)Orlanto, acrr?scenlado il1leiramenle (' não pode Sr?r extraído do cOl1ceito de linha rr?la por nr?nhul11 desmclIlbrarllr?nlo.
(idem, p. 16)
/\ Física também continha juízos sinlhicos a priori : A ('iél1c ia da Natllreza (phvsicaJ conlé/l/ e/ll si iuízo s sinlélicos a oriori /lIlllclOio.1 seguil1te.l.
A líllllo dr? ('XCII/pio qUr?ro cilar algllll/as proposições lais CO/l/O 1.'/11
0.1
todas os mudanças do mUl1do corpóreo a quul1lidade de t1wteria
jlCI'IIIOI1L'Ce illllllável. \('1' S C/I/jJJ'l'
COII/O
011 .
em lodo ([ cOn!umcuç(/o de 17IOVill/('llI0 oçúo e reuçào I{!m qlle
Igl/ais entre si.
(idem, p. 18. Grilo no original)
Desta forma. Kant afirmou que os princípios físicos não podiam ser obtidos da experiéncia riamclltc s(' opôs à epistemologia empirista, prof'e?sada inclusive por Newton, que acreditava poder gerar ípios indllll\ '(! I/ICl1t(' a partir do observado. '
.
'
As grandes perguntas' a serem respondidas pela filosofia lransccndcnlol eram então: CO I/lO c possível a mOlc/7/ál ica pura,? ('OI//() (;
/lOssÍl'CI
(I
ciência pura da nOlurezo:?
O}'o, l 'islO CJue as ch;l7ciu\ eSI(/o realmenle dae/as, parece perlinel/l<! j)<!I'gun/(l}' 'CO/1/(}
são /)ossí,,'cis, /JOis que lêm que ser possíveis é prol'ad() pC'lo suo I'ealidm/C' , (idem , p.
2 1. Grifo no or'iginal)
Kant concordou com Hume a respeito da impossibilidade de derivar da experiência juízos necessários e universais: entretanto , negou o celicis/1/() no qLUIi o fi.lósofo escocês caiu. Kant nã o tinha dúvidas sobre a poss ibilidade e a efe tiva existência de conhecimentos verdadeiros, A Geollletria Euclidiana e a Mecânica Newtoniana provavam isto : cabia agora demonstrar como tinham sido poss íveis .
IV, !l, O )llímcl/o e o ICllômeÍlo Kant afirlll ou a ex istência de ullla realidade externa e independente do sujeito , de s ignando-a por os coisus
1'111 .\' 1
ou l1IíllleJ'/os (nu /IIJlerw). Apesar de ser um realista metafísico ' 5, negou a possibilidade de
conhecer' {/.I ('o isos el1l si. A cognoscibil idade era dosjenômenos (como os c()isos em si apresentam-se ao sujeito), ou dos ~ois{J.'i }Joro ná.\'. "que não represcl1 lom c()isas e/11 si mesmas"
)OSSOIlI.'ia, nào o sei, /1CIII I7ccessilo sahê-Io, p()rquc
,ao
.1'1'1 1/11 /cmjl/lc'/JII"
11/1/0
(Kant, 1987: p. 332).
"O que as c()isos CI7/ si
c()isa jonwis p()dc apareccr- mc dc ()Ull'() /IIod() a
(Kant, 1987; p. 332). Por isso Kant denominou sua concepção de ideolislI/o
'onsCflldc/Jwl. "C/1O/}/O idl.!ulislI/o Ir{/nsCendenlal de lodos os fenômenos {/ doutrina segundo (/ Cfual
l1Iis os
Jl7sidelD/IIos selill.!xceç(/() silllples r epresentações, não coisas em si" (Kant apud Lalande, 1993: p. 4R9. Grifo
) original). As coisos
1.!/7/
si permaneceriam para sempre em uma zona de sombra cO~l1itiva e, apesar disso,
;istia conllccilllento verdadeiro, válido 'objetivamente' (intersubjetivamente) das c()isos para nós. /\ 1//OIáia de q ua Iq uer fCI1ÓI7IC'110 constituía-se das sCl1saçõc s - .produzidas pelas co isa.\' c /1/ si
te car'cci3 111 de qualquer estrutura, Estas sensações eram ordenadas peiasféJrl7/O,Ç a priol'i da sensibilidade (o ouço
l:
(1
lel/II}(}). re sultando , nas percepç(}es: a razão aplicava-lhes as forl7los (/ priori do el7lel7dil7lenlO.
:ançandü en tão
as c()isas pal'Q nós.
Por1anto os ()bjet()s nos eram dados na sensihilidade e pensados através
C(Jl7ceiw\ e pril1c ípi()s no enlendil1lel1lo. As duas faculdades cognitivas estavam indissoluvelmente ligadas .
Ido,3l11bas indi spensáveis ao i'o nhecimento. "S(' /1/ sensibilidade nenh1l111 ()hjclo /1D.s scria dado , e se i/I enrlil//1'/lto IIcnhllll/ seria pcnsado" (Kant, 1987: p. 75) pois 'a sensação sem a razão
é vazia e a razão sem a
sação é cega' (conforme nota de pé de página número 12). A Fig . I rerresenta esquematicamente corno a cvisa e;n si se tornava em o cviso jJOI'Ú nós, como ~/II1'170
illcognosc ível se transformava no jenômeno - o objeto do conhecimento Nas próximas ,seções
'sentareillOS co m mai s detalhes o que está na ti gura. ') 11'0/11'11/0 i/IClOflsic() o/irll/o que as coisas e:'ástcnl f()ra c indcpcndcnte do (,()l7.lóêl7cia 0 11 d() sujeilo" ra. IlJ82.p. 346) O I'calism() é a "concepção segund() a qual () II/und() exlern() cxiste P()I' si mcsm o, ?1' lldC'I/ I1'I/IC/1le dc qllc algllclIl () !)erccho ou pensc nele" (Bunge, 1986, p. 165).
Mundo externo Sujeito Coisa em SI
Coisa parij
nós F
N
e n
Ú
m
I-IIIIIIIIIIII!JIIIIIIIII~4;=t:±i==~-ht-::~õ
e
m
n
e
o
n
o Conceitos Princípios a priori
Fig J- Do
núm~no
incognoscíve/ para o fenômeno
c. As/or",as da se llsibilidade Para estabe lecer no qu e consistiam as formas a priori
0 11
puras da sensihilidade. Kant
unha que se abstraísse dc qualquer ohj(!IO tudo o que lhe pertencesse pelas se nsações - impenetrabilidade. dureza... - c tudo que pensava pelo enlendimenlo - substância, peso, ... Então restava ainda "ó exle/1são 19/1ra. A/IIhos I}CUC'/1('('1I1 ri intuição puro, quC' l11eSI11O sem um ohje/o real dos sentidos OCorre () prior'
IlIIiw sillll}/es (o)'/lw da se/1sihilidade" (Kant, 1987; p. 35). Concluiu deste modo que
bilir/(/r/e é o C.lj}(IÇ'O. pois "lIledlO/1le () sen/ido exlerno
bjc/(J,lfofO dc
I1(ÍS
c lodosjunlos
J I () ClpOÇ'O
miO
é
11/11
/1(/
(111110
uma dasjiml/as do
propriedade dal/OSSO /!Ienle) represe/1/oll/O
espaço" (idem. p. 37),
conceito el1lpirico ahSlraido de experiências ex/emas. Pois o
rcprclenlaçào de espaço já lem que eslor suhjacente p aro certas sensações se n:(Crln'lIl (/ algo fora de mim (islO é, a algo nlllll lugor do espaço di\Jerso daquele el/I qlle
JilC'
C'I1COl1lro) , e iguall7le/1/e para eu poder represel1lá-/as CO II/ Ofora de rll il1l
uo lodo da
01111'0
e
j)Of'
conseguinle mio simplesmenle
C0!J10
diferel//es,
slll/lld(/s CIII jllJ!,ort's dl(ert'nlés Lógo , (J rt'jJresentuçào do espaço C IIIpres/(Ido,
uma
II/(/S CUII/O
pode ser /ol1wdu
II/edianle a experlêncio, das relações do fenôm eno eXlerno, mas esta
pró/ma expt'nêncio exlcrnaé jJrimeira/llenle jlossivej só I
J1(/O
C'
{'jll·esc )I/oçâo.
l1lediante' referida
2) O c.\paç·o é ul1/a rcprcscntação a priori necessária quc subjflz a todos as intlliiJ)cs C'x/anos. Jall/ois é possível fazer-se umo ; representação de que m/o hojo espaço olRum. emhora se possa l1luito bem pcnsar que não se encontre ohjeto alRul/lnele Ele é, portanto, considerado a condição da possihilidade dos fenómenos e niio /Imo
delC'/'IlIinação
dcpcndente
destcs : é lima
representação
a priori que
s/lhjo:::
neccS.WJ'i(/l7Icl1te aosfenól1Icnos cxtemos. (idem, 38/39)
/\ outra{omlO pi/ra do sensihilidadc era o tC/lljJo: "O scntido intcrno , mcdiantc o q/lol o lIJellte n/lli o si f/lOI/IO ( .. )"
(idem. p. :\7).
/ ) () tempo não é um conceito empírico ahstraído de qualqucr experiênc ia COIII c/C i/o. a sil/l/lltoneidodc ou o sI/cessão nCI1/ sequl!/' se apresentaria à percepç'ão se o rC/Jresentoçúo do temjJo mIO estivesse suhjacente (/ priori. SO/llente o /J/'essupondo podc-se reprcsentar ql/e algo seja num c mesmo tempo (sirnult6neo)
0/1
elll tempos
difaen/es (s/lcessi\'o).
:!) () te/llfJo é
1/1110
rcpresenlOção necessária suhjacente o todos intlliçc!es . Com
/l'.\jJei/o oOS/CI1ÓIIIC'nos elll gerol, não se pode suprimir o jJróprio tempo, }1(/O ohstante j}(),I'.\'o d(: telllpo l7Iui/ohelll eliminar os fenâmenos .
Sé'
/Jrio/i. Slí nele é possível IOdo
{I
o. /empo é, portoll/(), dm/o o
realidade dos fenômenos . Estes j)()dem todo.\' el/l
COllflll1tO desaparecer, mas o próprio 'tempo (como o condiç!io w7Il'crsal da SI/O .
!
j!o.lsihilidade) nãa pode ser suprcsso. (idem, p. 46)
Para KLlnt, como o espoço e o tempo não representavam propriedades das coisas el/l si. não endiam do l11undo externo. mas eram o único modo como podíamos representar os
fel7ól1lcno~ .
;tituindo-sc na s condiçÔes necessárias e universais de qualquer nercepção possível. estava justific.ada a ;são de .luízos s/m!!tico.I a jJriori sobre eles. "Logo, unicamente. nossa explicação tornn' cOl1cehíl'el (/ ihilidade do Geometria Aqlli te/l/o s
COl1l0 11111
1111/0
IrOllSCl'l1dentol.
conhecimento sintético a priori" (idem, p. 42 . Grifo no original) .
das partes reqlleridas para a solução do prohlema geral da filosofiu COI//O
sao possíveis proposicões sintéticas a priore -
a soher.
ill/lliçi'il:s pllros o priori, espaça e tempo , nos quais, se no juízo a priori quisermos l'(Iir d(l ClinCC llO dodo, encontral7/o.\' aquilo que pode ser descoherto a priori niio no ( OI1CeilO, lI/as nointlliçãa que Ihc corresponde, e scr-IiRado sfnteticamente àquele For csto roz!io , esses juízos jamais alcançam olém dos objelOs dos semidos,' e sÓ
Plle/é"l I\(/Ier /Juro oh/elO S de uma ex(}eriê;lCÚJ (}o'\"sível. (idem, p. 73. Primeiro grifo 110
original e segundo 110sso) Qualquer tentativa de atribuir o eSjJaço e o tcmpo às co/sos (!m si foi impugnada pelo ideali.I·lIIo mdclJ/(J!.
(l
que vai de encontro à interpretação de Newton . Para Newton, o espaço e o teriipo tinham
.
.
\
~
.
realidade no mundo externo (não se constituíam apenas em forma s da nossa sC/1sihilidadc), exislindo objelivamenle, fOI'a do sujeito, sendo inclusive independentes dos corpos, da matéria l 6
IV. d. Asformas tio
o
el/tendimel1to
rasso seguinte da filo sofia_Irol/sce ndenlol estabeleceu quais eram os conceitos aplicáveis u
mOri a objeto s dados na se /1.\ihi/idade (no cspuç'o e 110 lel1l/)()). O elltendin/el1/o foi considerado como UIll intuit il'O, discursivo" (idem, p. <i3). As perC('I)ç'oeS . dados múltipl os e de so rdenados; a apl icação dos COl/cc ilOS P/lI"()S d() enlendimenTo.
nodo de "coJ7h ecilllE'J7to /1/ediollt e co nceilos.
11(10
;1/0.'1
.,.;"":;'
onslitll í:.un -se
CI11
Oll
aTcgorias CSII'uturava esses dados , impondo ullla ordelll inteligível. "(.. .) (/ cSjJonfonc idode do 17I.'I7S01lICllt (J ri~e
qw tol llllílfljilo seio l)rill1ciro dc cerlo II/Odo perpassado. oc()!hido c lif!.od() poro qllc sc fi l ~'o disso
/IIi1
I11hecillll' lIto" (idell1. p. 1(2).
As cutcgo rio\' ['elacionadas por Kant estavam reunidas
oliriade, rio /'cl oçân
f'
e111
qUJtro grupo s - do q/lontidudc du
do 1II0da lidade '-, contendo cada grupo trêscoleg()rias con forme a tábua (idem , p.
6) apresentada na Fig. 2.
A aplicação de tai s categorias permitia dar significado às percepções. Havia ainda a
isibilidade de obter' conceitos derivados. "Ligadas aos l1/ado s da sensibilidade ]J/lra ou entre si. os egol'iu.\f(!/'IleCl!III
/11110
gl'onde jJorç[ío dé' co nceitos a priori dé'rivados" (idern, p. 108).
1. Da qUOJJtidade
Unidade Pluralidade Totalidade 3. Da relaçào
') Da qualidade
Inerência e subsistência (substantia et accidensl Causalidade e dependência (causa e efeito) Comunidade (ação reciproca entre agente e paciente)
Realidade Negação Limitação
4. Da modalidade
Possibilidade - impossibilidade Existência - não-ser Necessidade - contingência
Fig 2- Táb ua das calcga rias
o
tell/jJo ohsolllto , \'erdodcim e matemática, por si n/f'S rt/() e do S ilO própria nature::o. fl lli se m I'elaçao co m qualquer co isa (.. )11 - () espaço ahsa!lIto , CIII suo própria natllrc::o..\CIII Cj /la/qllCl' (() iso exl ema, permanccc SCI/I/ire similar c illló\'cl. (Newton, 19<iO, p. 7)
('lIl c l1l e COIII
.
I.
C0l110 ';0
". "
cl1tr?/1dilllcnto C//I gcral pode ser representado COII/O umafaculdadc dc jlllgai·1/ (idem,
p. 94. GriCo no ol'iginal), isto é, de emitir juízos, de estabelecer relações entre representações, óscol1Ceito.1 constituíam-Sé nos predicados de juízos rossíveis. A aplicação das categorIas às percepções exigia um nível de análise intermediário, pois as pnmell'as eram abstratas, intelectuais e as segundas sensíveis: o esqllc/I/(1//I'II1(l do c/1tcndimento puro. I. . .}
cste esquel/1atisl/lo de /lOSSO e/1tendil1lento é uma arte oculta nas profllndezas da
o/lIIa hUlllono cl/jo I'erdadeiro n/Ol1eJo dificilmcl1tc arrcbatarcl1/os. algum dja à )}ulure::o. dC' II/odo o poda aprescntá-Ia scm véll. PodC'l/Ios di::er ({pcno.I' o scguintc: a 11//(/<;[('/11 e
1/111
IJ/'Odllto da faculdade empírica da cOj)Ucidadl! prodl/tiv({ dI!
i/lluginil(lIo. () eS({/Ier)}o dos conceitos sensíveis (como .figuros no espoço) é j!md/ll(l e Cal/Ia q//e
11/1/
1I/1/
II/onograma da capacidade pura a priori de in/Oginaçào pelo
q/lo/ c segundo o qual as imagens tornal71-se primel!amente possiveis, mas as q//ais Ihl/
S(!/1lpl'r? quc ser conccladas ao conceito somentc medial1/c () csquema ao '11101 cOl1grllcntc.~
dl.'.\'1gl1ol/l . c CII/ si não são plcnall/entc
co/n o (,ol/ccilo. (idem, p. 18l.
Grifo no original) Sobre o esqlli'///otislI/o assim se pronunciou um autor atual: ,
Criondo cstc oj){lrato cxplicativo, Kant procurava dcterminar 'as circunstâl1cias
I/OS
qllOlS as calegorias pode/li encontrar empreg() concreto. Um esquenw serve como 1/111(/
I'l.'jJrescnlaçâo mcdiodoro que é intelectuol
Assilll,
11111
csquell/o
~
1.'111
um scntido.
I.'
sensível e/11 ol/tro.
diretamente ativado em tCrl/lOS da experiência sensorial, e
/10
I.'ntol7lO pode-sc pensaI' plausivellllCnte que ele fornecc uma inlerpretação dcssa cXjlC/'iência (.) Os csqucmas são r?m par/c rC'gras c ncstc scntido CSI(/O ligados
(f
C(}lI1pl'r:clIsão pl/ra. lilás eles ta/1lbém são em partc ill/agens. c assim eSlão-ligados à jll;'I'cejJç(/o 1!/lIpírico. O eS(jIlI!/I10 de cado categoria determino o cOl1diç(/o pI!!o quol
.
,
elo (; ap/lcá,'e1 oos ohjetos da experiência em gero/. (Gardner_ 1995. p. 72. Grifo no
miginal) . O esquell/a de todas as trés cotegnrias da quantidade era o
número~
o esquema de todas as três
gOl'ios da qllolidade era o grall de imensidadc. Kant explicou também o csquema de cada uma das demais cotcf',o/'/O.l (três de rclação e três de modalidade). Por exemplo: () esql/C'/!/O do slIbstância é a perl7lanência do real rio tel11po
O eW/"ClI/a do
CO liSO . c
r. )
do causo/idodc dc lima coisa C/li gero I é o rcal
/IIISlo o /lI!! pru::er. sl!gue selllpl'e algo diverso (.)
O esqllel/IO do J'eo/idode (; (/ existêncio nUIII tell/po () esq/ll.'illO da necessidade é a cxiSI(Jl1cia de
11111
detert~lI·nod().
objeto em todo o tempo.
00
quaj, sc é
.~
.
.'
(.) os csqucmas dos conccitos puros do cntcl7dil/1cnlO sâo as vcrdadeiras c UI7ICO.\' c()ndi~'aes para proporcionar o CSles /lI//{[ referência o objetos. por conseguinte unIU
siel1ificaç(/o (Kant, 1987, p. 183/185 . Grifo no original)
A "C(IIJOcidade dejulgol' t: a faculdade de sl/b.I·II/lIi}' soh regros. isto é. distinguir se (lIgo e.llÚ sob
/In/O
rl'gm dado (casus da{(le legis) ou não" (idem , p. (72). Esta capacidade era regida pelos jJrillcí/úns
priori do c/llendilllcnto /!lIra "que Icvaín cste jllízos.
lI/OI /)(J/IjUC
flO/IIC
(f
não só porqlle e/1/ si cal/têm os /ill1dalllel1tos de nutros
cles /I/es/llos não sc fundalll el/I nel1hulII c0I717ccillll'l1lO /IIais aito c geral" (idem. p. I 88).
O /ml1cíplO dosjuízO.1 analíticos - conforllle anteriormente ddinidos , aqueles para os quai s " o 'predic(/(Io R /)('I'leIlCe
(I(J
slljeilo A
CO/IIO
algo contido (Ocllltwllellle) nesse cOl7cCilo". (idem.
p 11) - na ()
pril1C1}J/o d(l ('(il/t /,(/diç1/0 1 '.
Os juízos sintc:úcos - conforme anteriormente definidos. aqueles para os quais o predicado "B
ia: cOJ//jile!OlIlellle /Ór{l do conceito A, embora esteja em conexão cou/ o mesl1Io" (idem, p. I I ) - deveriam seI conformes àquilo que o entendimento coloca em todo o conhecimento, às condiçõcs necessúrias e{J}a e:Xj!C'riéncia j!oss;,.c/. "O princípio supremo de todos
0.1'
juízos sintéticos é que todo objeto está sob
~o/1aiç(lel I/c(,fssrírios da unidade sintética do múltiplo da illtuiçào
97). Pal'a dar
COllta
11/110
/1/lIj/(/
.0.1' .'
experiência possíl'l:l" (idem. p.
desse princípio supremo Kant propôs uma tábua com quatro grandes pl'inCljiio\ dos
!lí;:os Silllfticos A táhua das categorias nos dá a indicação natllra! paro a tábua dos principias. /JO/~ CSI!!,I' nada l1Iais são senào regras do
liSO
objetivo das primeiras. Assilll todos os
prioci/ilál do · cntendimcnto puro são .' I. Axioll/as do intuiçào /iI'l'Cepç'Ôo
2:
Ant('ciuaçõcs do
3. AnaIOf!ias' da expl!l'iêl1cia. .t. Postulados do p('nsalllento ell/pírico
(idem , r :200. Grifo no original). ,À.s calegorias da qua/1tidade correspondiam os atiomas da intlli~'ão: "todas as iJ1{lIi~))!!s s/io [l/1tidudc.I,I:,xtcl1Iil'os" (idem, p. 202). Ele chamou de extensiva à,grandeza onde a representação das partes
cede e lorna possível a representação do todo. Todas as intuições se davam através das fo/'mas do sibilir/aae - 11 e.\jJ{)ço e O tempo - e, portanto, seriam extensivas . Sohre ('SIO síntese sucessiva da capacidade produtivo da imaginaçao no produçiYo de f/gl/iOs fI/lida-se o l1Iatemálica da extensão (Geometria)
CO//1
seus an'o/iIOS, que
cxI)/,essOIII as condições da intuição sensível a priori unica/J/('ntc sob as q/lais pode ser cOl1slituído u esquel1/a de lIl/l conceito puro du fenômeno externo (idem, p. 204)
Ligadas às categorias da qualidade, as ant'cc(oaçõcs dos percepçàes determinaval1l que i OS/C/lÓllleIIOS.
3, GI'ifo
110
/1111
grol/" (idelll.
oligillal). Portal1lo sabia-se (/ priori que qualquer qualidade de um objeto apareceria com lima
o Ilrincípio deim
o rC'al. (Iue é mil objeto da sen.l'oçÜo . possui quailtidade intensivo. isto é .
"('/11
du contradição ou Ici do tl!l'ceiro eXc/l/ido "afirma qlJe nenhl/m cnlJilclado pode afirmo quc um enunciado 0/1 é verdadeiro, 011 é(aLso" (Copi , 1978, p. 256) .
e/Ú/IO ( )
S('I'
determinada intensidade. "Toda cor, por exenlplo a vermelha, tem
Uni
grau ( ..) Ocorrel1do o nlesmo em geral
color. (ohl () I/IO/7/ento do peso, etc. " (idem, p. 2Il).
COIII li
i: digno
de nota q/le nas quantidades e /ll geral só iJOdefl/os conhecc]' a priori uma
IÍnica q//alidade, a saher, o continllidade, ao passo que em toda a qllalidade (o reul dos fenômenos) não podemos c()nhecer a priori senão a quantidade intensiva dos fcnôlllenos, a saher, o fato de possuírem grau. todo o mais é deixado ir e.\jJe/'iência.
(idem. p. 218. Grifo no original) As analogias do eXjJeriência, correspondentes' às categorias da relação; eram regras que
determ inavarn as ligações necessárias entre as percepções. A prillleira analogia enuncia o /Jrincípio da pemlO/lência do substância: "EI/I todo a l'O/'iadio
W. ,/(,111)1/1':170.1'
{)enllonece a suhstância, e o {fUontUlII do lIIeSlI/a
/1(10
é nem (fI/rl/entado nem dimil/I/ido nu
't/tllreza" (idern, p. 224. Grifo no OI'iginal). Desta forma, a conservaçào do suhstância constituía-se em um rincipio a priMi do entendimento. imposto pelo nosso intelecto aos [enôl1/enos~ esta concepção é antagônica ) e/llpirislI/o que pretendia através da experiência, derivar tal princípio. Ao se perguntar a um cientista quanto
:sava a fumaça. ele respondeu : Sublrai da le nha 'l//ci/llada o jJesoda cinza quc resto li c terás o peso da fÚllla ça. Portonlo press1Ipôs incontestável q//e mesmo no fogo a II/atéria (substância) n(/o sc destrói.
nlUS
S()lIIellle asuu forll/o
s(}lj~e
ulteruçâo . ( .. ) só podi!l1ios dor a
./enômeno (} nOll/e de suhstiincia porqlle pressupol/lUS a
SilO
11111
existência em todo o
tempo. (idem, p. 228) A segl/nda anologia explicitava o princípio da sucessão tempoml segll/ldo a !ei do wl/dade: "Todos as /1/l/dO/lços acontecem segundo a lei da concxão de callsa e efeito" (idem, p. 232).
le, al,él11 de negar uma solução positiva ao /irohlel1lU da indução, havia também refutado a possibilidade bler relações causais a partir da experiência. Kant afirmou que a causalidade não era uma propriedade da s lo\'
I:ll/si. constituindo-se em lima forma a lJ~iori do nosso entendil1lento; não podemos ter acesso aos
nenos sem impor-lhes condições de causa e efeito. A terceiro onalogia é o princípio da simultaneidade segundo a lei da açôo recíproca: "No ia ell/ que !Jadcl//. ser lJe'rcehidas no eSRaço co mo simultâneas, todas as suhstâncias estão e/1} constante recíproco" (idem. p. l34. Grifo no original).
Nos Fundal1lento,l' l1Ietojisicos da c iência natllral, Kant procurou mostrar como as tr(>s tias do eXIIl!rirnciu aplicavam-se à Física (Losee, 1993). Entendeu que a pi'imeira delas implicava o
)ia da Conservação da Massa : a segunda levava à Segunda Lei de Newton e a terceira, ao Princípio da , Reação e à Lei da. Gravitação Universal. Desta forma, as leis da Mecânica Newtoniana constituíam-se :os sil1tético.:; a / iriori . Os liostll/{/do,l' do /JensolllC'nío i!1I1/Jírico , correspondentes às categorias da /JIodalidadc. diziam ,à possibi lidade. à necessidade e à realidade das misas paro nós. Eles eram três:
..
1. Aqllilo quc cOl7corda com as condiçõcsformais da cxpcriência (scgundo a int/liçâo t'
os (ol/aitos) é possível.
2. Aquilo q/le sc infercon(!Cfo com as condições IIloferi(/is do eXjJerir!l1cio rdo
sCl7saç!ia) é de til'().
J Aquilo c/lja interconexão COI/1 o real estó deterlJlinada segundo cOl7dições da
cXj}(!liêl1cio é (existc) ncC('ssariamcntc. (idem, p. 265/266. Grifo no original)
Kant udvel1iu pal'a um uso impróprio de todo o entendilllcl7to, notando que asjort/w\ ajJrior{ somente têm validade quando operam na experiência. Elas somente conduziriam ao conhecimcllto se aplicadas às
.\"cll.Iui,"tJes
pois estas constituem-se na matéria-prima 'da cognição. Se quiséssemos I"ormal'
conccitos no\'os sobre as substâncias, forças, etc. "sem retirar do própria experiência o exe/7/plo do suo COl7exão, cO/liomos elll pums quil1leras" (idem, p. 269). Ao longo de toda ({ Crítico da wziio pu/'({ o filósofo
insistiu veementclTICnte em que a razão sem a sensação é \'(l::ia e a sensaçâo sem a razão é cerra.
V. Conclusão C0l110 VI1110S
Istiticar
C0l110
no início dcste trabalho, a teoria do conhecil1lenlode Kant tinha o objetivo de
o co nhecimcnto científico de sua época, especialmente a Geomctria Euclidiana e a rVlecânica ,
·ewtoniJI1J. tinha Sido [lossível. A retlexão kantiana não apenas 'demonstrou' tal possibilidade como talllbém rovou' que não seria possível ultrapassar estas teorias, já que se constituíam na única l11alJeira humana de reender o mundo (os coisas j)({ro nfís). A histól'ia das ciências mostrou que havia problemas com a
epistemologi~
de Kant.
bachevsky (o Copél'l1ico da Geometria) em 1829 criou as Geometrias Não-Euc lictianas. Com o advento da )ria da Relatividade c da Teoria dos Quanta no século XX. a Mecânica Newtoniana revelou-se sem a idade universa l suposta por Kant; também com a Teoria da Relatividade aprendeu-se que o espaço não é essariJr11cntc euc Iid iano. As Matemáticas que eram consideradas pe lo grande fi lósofo como
Ulll
necimento sil/lr!tico a priori. foram reconhecrdas como analíticas. Kant afirmara a impossibilidade de uma ologia Científica ls . mas na segunda metade do século de XIX os P,l'imelros
P?SSO S
nesse sentido foram
's.
Apesal' de tudo isso,
O
idealisnlO transccndcntal continua a ser reconhecido
C0l110
ullla página
ante da filosolia, não apenas pelas so luções que propôs, como também pelos problemas gerados e ilhos apollt<ldos. Como dissemos no início, a filosofia transcendental ocupou-se de outras questões: aqui \ctivemos (supe rficialmente) apenas na primeira delas (O que posso saha:». O pensamento de Kant ~u
oullOS domínios da atividade humana: a resposta dada à segunda questão (O que devo fazer ! )
'e [Kant] ({credit({vo que umo ciência telll de aplicar leis matemáticas aos dados emjJíricos, e que eSles , ser coletadas CIII experilllentos reais, mas CO/1/0 a psicologia lida com ele/llentos que supostal/lente 'SSI((II/{ dil/u!nsiJes espociais - pensamentos puros - tal experimentação não aa possÍl'eI Lhl/ seglll/do 1W em {fIlC a psicolo~ia teria de investiga,. o insfrumen!O do conhecimento - () ell. IIlas não é possil'cl 11 exomifle SilOS jm)jJrias ojJerações, e I/Iuito menos de forma desinteressada. (Gardner, 1995: p. I 13)
I.
:~
estabeleceu os requisitos essenciais da moralidade, incorporados no próprio conceito de racionalidade que o prior; têm de ser reconhecidos por toda a humanidade
l9
.
Assim ele chegou ao inl!)t'/'{{tivo coteg()rica
"Pl'Ocede apenas segundo aqlli?!o máxima, i?/1I virtude do qual podes qucrer 00 I11i?SI1IO te/1/jJo que ela Si? lorni? em lei /lniri!J'sal" (Kant apud Pascal. 1999; p. 18l) - que expressa a fórmula pura fo priori) da qual se
derivariam todas as ('egras do procedimento humano ~o. Uma lição inolvidável de Kant é que 'vemos o mundo através das nossas lentes
co~nitivas'.As
'lentes' não são exatamente como Kant as imaginou e, certamente não são iguais par3 todos os humanos , dependendo também do meio social. Entretaillo aprendemos
COI11
ele que
O
conhecilllento não é 'um espelh o
da natureza' e não se dá apenas pelo acÚmulo de percepções ou observações; ele depende da
c(iatividac~e.
da
imaginação c do poder de abstração do nosso intelecto.
Agradecimelltos Aos colegas Prof'. Maria Cristina Varriale, Prof. Carlos E. C. Pinent e Prof. Rolando Âxt 19rad,ço a leitura minuciosa deste trabalho e as críticas que permitiram o seu aprimoramento.
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4 ideia é a .l'eg/linte: se CO/1/0 ser racional l1iío se pode (coerentemel1tc) querer que U/1/0 "lIláâ/1/a" seja lei lInivt'l'101 - isto i-. devo ser universalmel1te adotado por (odos. <fllt' dt'1'<'/'{lo ogir (,ol1járl1/t'llIel1tt' -, essa máxima niío poderá ser u/I1a lei /1/oral aceitável: porque uma regra 11/0ral mclonalmenle acclte de ser UI/lO (jUt' todo (t gi?l1te pud<'.~se adopta(. Assilll. pretende dizi!r que oquilo que o f//o/'o/idadl:' ente /lOS iJlI/JM s/jo condições porá a 'conduta qUi? exigem o osscntimento de qllolqui!t' co 111 unidade cl de criaturos racionais. e defcnde ainda, tcntol1do dCl1lonstrá-Io de }orn/(f hostal7le csquclllático que um úllico cOlljlln/o de~er/l1inad() (/essos cOl/dições que possa 110 teste, se assilll jJOc!efl/os eX/Ji'i!ll,r-l/o.l. itohilidade raciollo!. E isto, dc lIIaneiro II/uito esqucmática, o quc c/e se propõe. (ivlagee. 19R9: p. 179)
,,"_ ~. t V'l n ,.' t: Ç."':" "'1':';-.. t" . ," ~ \ ~ ~ 0,.- ~ ~ .; _'t. , ···:t~{~ ;lf~ . . , ~,;'1.:._\;.~ j(~ · · _., "__ . J_f""~ '"'' : ~ :.•: \~ ~ !X \ i·;~~-~~~ . •V~~X~r,..~~~.. t,I. ,~~ '-#.~\ '"T'\~' ,- " ~1'9 _'~. !I ::l ~~~\~. .~~~ ~~~r·~~''': s.:~~ · \·~ .~· t.: f .. - ~.· . . /'f , ~ ".': . " ~ "J~ . . . . 1 -:;;.
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