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RAUL BRASIL

Nº 107 | Ano XXI | 2019

Escola Raul Brasil: jornalistas falam da difícil tarefa de reportar a tragédia

DENNIS MACIEL

Psicóloga diz que, diante de tanta violência, profissionais também desenvolver ter problemas psicológicos Dennis Maciel

O

massacre na Escola Estadual “Prof. Raul Brasil”, em Suzano, abalou não só a comunidade, mas também profissionais da Imprensa, que cobriram o atentado. Devido à proporção da tragédia, manter o profissionalismo foi um dos desafios para quem esteve no local. O atentado na resultou na morte de 10 pessoas e ganhou repercussão internacional. Jornais como o The Guardian, Washington Post e The New York Times noticiaram o crime. Grande parte das informações que circularam no mundo foi produzida por jornalistas que es-

tavam em Suzano. Marcus Alexander Pontes, repórter policial do Diário de Suzano, foi o primeiro jornalista a chegar na escola após o atentado. Ele afirma que se deparou com um cenário de caos e sofrimento. Durante a cobertura, coletou informações fornecidas pela polícia. O jornalista conta que o massacre na Escola Raul Brasil foi o caso mais intenso que já noticiou. “Senti de perto o drama vivido pelos alunos e professores. Apesar de tudo, é preciso ter sensibilidade. O jornalista policial precisa ter algo para, depois, descarregar essa carga negativa, seja conversando com um amigo ou realizando algo que faça bem”, afirma.

Jornalistas procuram equilíbrio entre lado profissional e emocional durante cobertura de tragédias

A repórter Aline Moreira, 24 anos, entrevistou familiares das vítimas e acompanhou o desenvolvimento do caso durante os dias posteriores ao atentado. “Uma das coisas que mais me tocou foi o velório das vítimas. Tive que conter minhas lágrimas. Foi muito forte presenciar o sofrimento das famílias chorando perto dos caixões dos filhos”, desabafa.

A repórter fotográfica Sabrina Silva, do Diário de Suzano, explica que muitos jornalistas não respeitaram o luto dos familiares. “Minhas fotos foram focadas na ação policial e não no sofrimento alheio. Alguns jornalistas constrangeram pessoas fragilizadas para conseguirem matéria impactante. Isso é absurdo”, lamenta. A psicóloga Solange Pedroso

Pires diz que não só sobreviventes, alunos e comunidade estudantil envolvidos no caos, mas quem rabalhou na cobertura, como os jornalistas, pode desenvolver problemas psicológicos. “O transtorno pós-traumático também afeta os envolvidos indiretamente. Recomendo que estes profissionais procurem um psicólogo para evitar transtornos”.

Games são culpados por atos violentos dos jovens? Lucas Almeida O massacre na Escola Estadual “Prof. Raul Brasil”, em Suzano, trouxe à tona uma discussão bastante complexa. Jogos violentos geram problemas psicológicos em adolescentes? Embora muita gente acredite que Guilherme Taucci Monteiro, 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, 25 anos, atiraram nos colegas influenciados por jogos, especialistas afirmam que o comportamento agressivo não pode ser explicado por um único fator. A psicóloga especialista em saúde do adolescente, Karina Ferreira, afirma que não é ade-

quado culpar os jogos pela conduta agressiva. “Devemos olhar o contexto no qual o jovem está inserido, a estrutura familiar, possíveis traumas e outros comportamentos ”, explica. Para a psicóloga, a ausência de acolhimento e de bons valores familiares na infância podem se manifestar na vida adulta na forma de violência. A especialista afirma que os games de computador podem, na verdade, auxiliar a lidar com as emoções. Karina ainda afirma que o comportamento agressivo pode ser provocado por causas diversas. “Quando alguém sofre de algum distúrbio psicológico, qualquer coisa pode atuar como

FLICKR / GOVERNO SP

Populares depositam flores no muro da escola. Sociedade busca explicações para a tragédia

gatilho. Pode ser um filme, um jogo e até um desenho”. Já a professora da rede estadual, Joana D’arc Lima, defende que a dedicação excessiva aos jogos eletrônicos pode atrapalhar o desenvolvimento, principalmente

quando não há controle por parte dos pais. O estudante Vinicius Barbosa, 19 anos, jogador assíduo de Counter Strike: Global Offensive (CS:GO), parecido com o que os atiradores costumavam praticar, afirma

que os jogos estimulam a disciplina e o pensamento estratégico. “É um jogo considerado violento sim. No entanto, é lúdico e estimula o raciocínio. Os jogos não alteram minha personalidade”, garante.


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