PUM 85

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Alunos do 2º Sem. JOR participam do Página UM

É a sociedade que muda a política

A participação no Jornal, que geralmente ocorre no 5º e 6º semestres do curso, foi oferecida aos alunos do 2º semestre. Eles aceitaram o desafio com entusiasmo e desempenharam bem as funções.

Esta é a opinião do sociólogo Afonso Pola, entrevistado pelo Página UM. Ele defende que responsabilidade, coerência e interesse são ingredientes para a população escolher corretamente seus representantes nas urnas. Página 12

carolina nogueira

Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, da Universidade de Mogi das Cruzes ||| Produzido pelos alunos do 2º e 8º períodos de Jornalismo ANO XIII ||| NÚMERO 85 ||| OUTUBRO-NOVEMBRO de 2012 ||| DISTRIBUIÇÃO GRATUITA ||| paginaum@umc.br

Vivian Fernandes

GLÁUCIA FRANCISCO

Em Arujá, população pede mais investimentos em cultura e lazer. Página 3

flávia faria

Infraestrutura, criminalidade e qualidade da Educação preocupam moradores de Itaquá. Páginas 4 e 5 Moradores de Ferraz esperam mais empregos. Página 11

Desafios para os novos Prefeitos Em Guararema, os alunosrepórteres observaram a má distribuição da infraestrutura. Alguns bairros carecem das melhorias existentes na região central. Página 11

MARCELO SOUZA

fernanda santos

thamirys marques

Thiago Rodrigues

Em Poá, a falta de fiscalização permite que o comércio abuse do barulho. Moradores também pedem mais investimento na Saúde e na Cultura. Página 6

ariane noronha

A produção laboratorial em Jornalismo, que procura reproduzir a atuação profissional em escala reduzida, deve espelhar-se na matriz inclusive no que tange às preocupações relacionadas aos rumos da sociedade. Cabe ao Jornalismo registrar o cotidiano adotando um olhar crítico que enxerga além das aparências e dos discursos oficiais. Mais ainda se aproxima do ideal, o jornalismo que dá voz a setores tradicionalmente esquecidos. Não há produção laboratorial plena, portanto, descolada desses pressupostos. Nesta edição do Página UM, produzida durante as eleições municipais recentes, os alunos foram às cidades do Alto Tietê (exceto Guarulhos) para observar e ouvir das pessoas quais os principais desafios para os gestores municipais na legislatura que se iniciará em 2013. As demandas são variadas e não correspondem, necessariamente, às principais reinvindicações das cidades. Revelam, tão-somente, o olhar dos alunos-repórteres e a manifestação das pessoas entrevistadas. No entanto, servem como termômetro dos desafios de cada lugar. Boa leitura.

larissa murata

Editorial

A falta de emprego na cidade e problemas na infraestrutura urbana preocupam os moradores de Santa Isabel. Página 2

A sensação de insegurança assusta os moradores de Suzano. Há problemas também nos serviços de saúde. Página 7

Em Mogi, o trânsito é uma das principais preocupações. As passagens de nível da linha férrea agravam o problema. Página 8

Em Biritiba-Mirim, a falta de empregos na cidade e o atendimento público de saúde são as principais reclamações. Página 9

O cultivo de eucalipto, principal fonte de renda da cidade, sofre com a falta de investimentos. População também reclama da falta de ônibus. Página 10


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02 || santa isabel Moradores de Santa Isabel sofrem com falta de esgoto População ainda precisa conviver com mau cheiro, sujeira e risco de doenças fotos: Vivian Fernandes E glaydston palma

Claudia Soares O Alto Tietê é rico em áreas verdes e regiões de proteção ambiental. A área rural também ocupa grande parte do território, conhecido como “cinturão verde” do estado. Em Santa Isabel não é diferente. O município de 362 mil km² é um dos que tem maior potencial turístico da região. No entanto, infelizmente a cidade sofre com a falta de rede de esgoto. Boa parte dos dejetos são jogados em córregos a céu aberto. Segundo dados do último censo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), Santa Isabel abriga mais de 50 mil moradores, sendo quase 40 mil na área urbana. Apesar da localização privilegiada, junto à rodovia Dutra, os moradores se veem obrigados a conviver com a sujeira, o mau cheiro e o risco de doenças, principalmente nos bairros mais afastados. “A situação piora em épocas de chuva, pois a sujeira espalhada acaba causando enchentes. A água suja chega a bater na cintura”, conta a dona de casa Maria Aparecida Rodrigues. A falta de saneamento básico causa poluição séria. Calcula-se que o

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Vista do alto, Santa Isabel é uma das mais pitorescas cidades do Alto Tietê. No dia-a-dia, os habitantes enfrentam desafios como falta de oportunidades de trabalho e deficiências na infraestrutura urbana

despejo mensal no ribeirão Araraquara chegue a 65 toneladas de cargas orgânicas. “Na escola, temos que despejar toda sujeira no córrego marginal (referindo-se ao ribeirão Araraquara), né? Não tem outro jeito, as crianças precisam ter condições de estudar”, explica a professora Aline de Barros. Atualmente, o saneamento básico isabelense é gerenciadopelo Departamento de Água e Energia Elétrica do estado (DAEE) e da

Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb). Segundo a Prefeitura de Santa Isabel, uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) começou a ser construída na última semana de setembro, e a previsão é que fique pronta em até dois anos. Foram liberados R$ 2 milhões pelo Governo Federal para construção da rede e, por ocasião da reportagem, funcionários faziam medições e marcações no terreno.

Panorama Um passeio pela região central de Santa Isabel revela problemas que, resolvidos, melhorariam a qualidade de vida de moradores e turistas. Um dos mais visíveis é a grande quantidade de cães abandonados. O isabelense Leandro Maciel conta que “o problema existe há muito tempo e ninguém toma providência”. Outro é a dificuldade de locomoção. As calçadas são apertadas e desniveladas. Além disso, não há rampas de acesso para idosos e cadeirantes. Nas ruas, há placas de sinalização deterioradas pelo tempo. (C.S.) __________ Colaborou: Glaydston Dias Palma

Falta de empregos preocupa moradores Vivian Fernandes dade de encontrar vagas é muito grande e quando A falta de empregos é aparece alguma, geralum dos problemas que mente é para trabalhar mais incomoda em Santa em supermercado ou Isabel. A falta de opção loja”. As oportunidades faz isabelenses procurar no Fórum, na Prefeitura oportunidades em outras e nas Secretarias são cidades e até mesmo na muito raras e extremacapital. Com isso, a mão- mente disputadas. “São -de-obra que poderia órgãos pequenos, com melhorar a cidade acaba poucos funcionários, e a rotatividade nos cargos indo para bem longe. Segundo a moradora é muito baixa”, afirma. Para o funcionário púPriscila Lopes, “a dificul-

blico Milton Braga, a instalação de novas empresas ajudaria muito a resolver o problema. Porém, ele mesmo lembra que boa parte do município está localizada em área de preservação ambiental, o que reduz consideravelmente as chances se grandes empresas se instalarem na cidade. __________ Colaborou: Gabriela Oliveira


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arujá || 03 População pede mais investimentos em cultura e lazer Moradores sentem falta de atividades culturais e cobram opções de lazer para toda a família Gláucia Francisco não quer viajar, restam Rodrigo Barone apenas as praças. O músico Renato Souza Arujá, conhecida como acha que a cidade merece “Cidade Natureza” devido ter um teatro, uma concha ao alto grau de preservação acústica para apresentação da natureza observada de corais e festivais de no município, tem nas música, além de espaço diversas praças espalha- apropriado para exposições. das pela região central e “Eu gostaria que houvesse bairros, um motivo a mais mais atividades culturais de charme. No entanto, na cidade, principalmente a população reclama da apresentações teatrais”, falta de opções de lazer afirma Patrícia Dollores, para os fins de semana. estudante de psicologia. Por falta de alternativa, Já a comerciante Elisa muitos moradores são Gonçalves sente falta de obrigados a se deslocar um parque para levar para outros municípios os filhos e para praticar quando desejam ir ao atividades físicas. “Arujá cinema ou ao teatro, é conhecida como Cidade por exemplo. Para quem Natureza, no entanto não

Terceira Idade se interessa pela política Embora o voto não seja obrigatório para quem tem mais de 69 anos, muitos arujaenses desta faixa etária não abrem mão do dever cidadão. O que eles mais buscam com o voto é qualidade de vida. Otávio Marco, 79 anos, diz que “enquanto tiver disposição, votar será uma honra”. José Mario, 78 anos, confia no voto como forma de exigir melhorias. “Meu voto faz a diferença e, como cidadão, tenho o direito de questionar”, diz.

possui um espaço que promova a integração com o meio ambiente”. “Faltam projetos de prática esportiva oferecidos pela prefeitura. Depois da fase escolar, os jovens ficam sem opção nessa área”, afirma a universitária Letícia dos Santos. “A cultura, o esporte e o lazer são iniciativas que melhoram a qualidade de vida da população. Além disso, são uma forma de combater, indiretamente, a criminalidade e a violência”, acredita o universitário Pedro Lima. __________ Colaboraram: Eduardo Moraes e Marina Alencar

Fotos: Gláucia Francisco

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Mesmo reconhecendo o charme das praças, arujaenses querem mais opções de lazer

Jovens cobram mais cursos profissionalizantes Embora adolescentes, eles se preocupam com questões fundamentais, como desemprego e ausência de formação profissional. A estudante Maria Cecília defende que a participação política é uma forma de contribuir com a sociedade. “Atualmente a cidade está em decadência por falta de interesse dos eleitores”. Edson Oliveira, também estudante, reforça a tese de que a política é um dos caminhos para garantir melhorias para a cidade. “Meu voto tem o poder de mudar”, afirma.

Todos concordam que a escolaridade é um fator que afeta a capacidade de inserção no mercado de trabalho. Coerentes com este ponto de vista, cobram da nova administração projetos para melhorar o ensino municipal. Uma das prioridades para os jovens é a oferta de cursos gratuitos de qualificação profissional. Joyce Santos tem consciência de que para ter uma boa profissão precisa se qualificar. “Quem não pode pagar um curso profissionalizante, corre o risco de ficar sem emprego”, afirma.

NAIARA: “Curso técnico não substitui faculdade, mas mesmo assim é essencial”

Naiara da Silva tem opinião semelhante: “Sei que curso técnico não substitui o curso superior, mas mesmo assim ele é essencial para o jovem ingressar no mercado de trabalho”. Para Mateus de Oliveira, “a cidade deveria oferecer cursos técnicos para os jovens”. Atualmente Arujá

dispõe de apenas uma Escola Técnica Estadual (ETEC), que compartilha o prédio da Escola Municipal Sidônia Nasser do Prado, no bairro Jardim Rincão. São oferecidos gratuitamente cursos técnicos de Administração e de Logística. (GF/RB) __________ Colaboraram: EM e MA

Preocupação no Parque Rodrigo Barreto é o Posto de Saúde A falta de medicamentos e o tempo de espera pelas consultas estão entre as principais reclamações de quem busca atendimento no posto de saúde do bairro Parque Rodrigo Barreto. De acordo com os usuá­rios, além do tempo de espera, a falta de médicos especialistas obriga os moradores a se deslocarem para outras unidades em busca de atendimento. “É pouco médico para muita gente”, diz a diarista Ivonete Silva. “Às vezes temos de esperar vários meses para conseguir encaminhamento para o médico especialista”. Simone Capponi se queixa da falta de estrutura e do mau atendimento. “Há dias em que é necessário esperar durante horas na fila. Para exames de laboratório e medicamentos da Unidade de Saúde, a dificuldade é ainda maior”. Para a autônoma Eliane Conceição, a falta de medicamentos é o principal problema. “Muitas remédios não são distribuídos e nem sempre podemos comprar”, diz. (GF/RB) __________ Colaboraram: EM e MA


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04 || itaquaquecetuba Moradores exigem melhorias na infraestrutura O Pajoan foi apenas um dos problemas. Buracos nas ruas e trânsito caótico são constantes FOTOS: Natan Lira / Marcelo Souza

Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, da Universidade de Mogi das Cruzes

ANO XIII – Nº 85 OUTUBRO-NOVEMBRO | 2012 Fechamento: 5/12/2012 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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Avenida Doutor Cândido Xavier de Almeida Souza, 200 – CEP: 08780911 – Mogi das Cruzes – SP Tel.: (11) 4798-7000 E-mail: paginaum@umc.com.br * * * O jornal-laboratório Página UM é uma produção de alunos, no contexto do Projeto Superação (Patamar Exercer), em conformidade com o Projeto Pedagógico do curso. Excepcionalmente, esta edição foi produzida pelos alunos do 2º e 8º períodos de Jornalismo. Orientador geral e editor: Prof. Elizeu Silva – MTb 21.072-SP Projeto gráfico: Felipe Magno, Fernanda Roberti, Rafael Santana, Gabriel Aparecido e Rian Martins * * * UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES – UMC Chanceler: Prof. Manoel Bezerra de Melo Reitora: Profª. Regina Coeli Bezerra de Melo Vice-Reitor de Planejamento: José Augusto Peres Vice-Reitora Executiva: Roseli dos Santos Ferraz Veras Pró-Reitor de Campus (sede): Prof. Claudio José Alves Brito Pró-Reitor de Campus (fora da sede): Prof. Antonio de Olival Fernandes Diretor Administrativo: Luiz Carlos Jorge de Oliveira Leite Coordenador do Curso de Comunicação Social – Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Rádio e TV: Prof. Dr. William Araújo

Natan Lira Marcelo Souza Infraestrutura. Essa é uma das principais reivindicações da população de Itaquaquecetuba. A cidade localizada a 43 km de São Paulo está entre as piores no quesito infraestrutura, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dados da Administração Municipal revelam que em 2004, somente 20% das ruas da cidade eram pavimentadas. A

expectativa é de que até o próximo ano a pavimentação chegue a 99% das vias. Outro problema, que afeta os bairros Jardim Pinheirinho, Josely, Louzada e Lucinda, é a reserva de lixo do aterro sanitário Pajoan, que implodiu pela segunda vez em 2011, quando o chorume – substância química produzida pelo lixo –, por falta de fiscalização, não estava recebendo o tratamento adequado. Outra preocupação é a proximidade entre o aterro

Os problemas são vão das ruas sem calçamento, ao risco de novas explosões no aterro Pajoan. Severina Josefa (alto, esquerda) reclama da falta de atenção do Poder Público, enquanto Carlos Eduardo (abaixo, direita) aponta a falta de fiscalização

e o córrego Taboãozinho, que pode comprometer todo o abastecimento de água dos municípios vizinhos. A aposentada Severina Josefa, 65, relembra que em 2000, ano da primeira explosão, o mau cheiro e a grande quantidade de insetos, provocados pelo lixo, era insuportável. Severina afirma nunca ter recebido nenhum tipo de cuidado da empresa, embora more a poucos metros do local. “Nunca ninguém se preocupou com as famílias, desde

que ocorreu a explosão. A empresa falou que iria pagar nossos prejuízos mas até hoje estamos esperando”. De acordo com Carlos Eduardo, 19, auxiliar de produção, a fiscalização nas proximidades do aterro só começaram dois meses atrás. Segundo Eduardo, uma das providências tomadas pela prefeitura na época da explosão foi a mobilização de uma ambulância do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) para atender a população que

mora nas proximidades do aterro. Diferentemente das demais cidades do Alto Tietê, Itaquá é a única “cortada” pela Rodovia Ayrton Senna (SP-70). Por conta disso, a quantidade de veículos que trafegam diariamente no município prejudica o sistema viário municipal. Para não pagar o pedágio cobrado na rodovia, muitos motoristas preferem a rota alternativa por dentro da cidade, o que piora ainda mais os congestionamentos e as condições das vias municipais.


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itaquaquecetuba || 05 Educação em Itaquá é a pior da região, diz SEADE Embora alguns problemas estejam sendo resolvidos, cidade ainda está em desvantagem Foto: Secretaria de Educação de Itaquá

Rodrigo Dias Renata Sousa Itaquaquecetuba tem a segunda pior taxa de escolaridade do Estado de São Paulo, segundo dados do Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS) divulgados em 2011. O município atingiu 40 pontos, dos 100 possíveis, na escala indicadora de escolaridade. A cidade está em 644º lugar no ranking estadual e só perde para Potim, que obteve 39 pontos. Itaquá também tem a pior escolaridade da Região Metropolitana de São Paulo e do Alto Tietê. Seis cidades da região alcançaram ou ultrapassaram o índice do Estado, que é de 68 pontos. O déficit na Educação de Itaquá tem sido tema de discussão em várias audiências públicas. O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) afirma que a cidade necessita de pelo menos cinco novas escolas. Um dos encontros sobre o tema aconteceu na Associação Comercial. Na ocasião, a Comissão de Educação e Cultura da Assembleia Legislativa se reuniu com membros do sindicato para debater

Criminalidade preocupa Itaquá Renata Sousa

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Cheiro de gás e falta de segurança na Escola Municipal Professor Paulo Mendes exigiram intervenção urgente

sobre o sistema de ensino municipal e estadual da cidade, além das necessidades e demandas a serem supridas. Desde lá, no entanto, nenhuma solução foi implantada. De acordo com o diretor da Apeoesp, Douglas Martins Izzo, várias deficiências do sistema municipal de educação foram apresentadas nos encontros. “Há um déficit muito grande de escolas em Itaquá. Alguns bairros novos nem têm escolas estaduais ou municipais e as crianças são transportadas para bairros vizinhos, superlotando as unidades existentes”. Além do déficit apresentado, as escolas também sofrem com problemas estruturais. Um exemplo disso é o que ocorre na Escola Municipal Paulo Nunes, que apresentava cheiro de gás e sinais de abandono e falta de segurança. Depois de reclamações de pais de alunos e da

própria coordenação da escola, foram iniciadas algumas obras de melhoria. “Estes trabalhos não irão atrapalhar o ano letivo dos alunos e têm como objetivo, além da reforma do prédio, descobrir a origem do mau cheiro existente na escola. Além disso, será implantado o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd)”. No dia 10 de setembro, os 1.600 alunos da unidade foram encaminhados para outras escolas. No dia 5 de outubro, o diretor da unidade, Silvio Gavazzi, junto com as assessoras de supervisão Renata Gomes de Brito e Marilda Arminda Vischi Soares, se reuniram com os pais para conversar sobre a reforma e o encaminhamento dos alunos para outras unidades. Durante o encontro, o diretor frisou que haverá transporte escolar para levar e buscar as crianças.

A cidade de Itaquaquecetuba ainda figura entre as cidades mais violentas do estado de São Paulo. Os dados são da Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP), que mesmo registrando redução nos índices em todo o Estado, indicam o município do Alto Tietê como um dos mais preocupantes em casos de homicídio doloso (intencionais). O ranking é feito com as dez cidades onde mais acontecem assassinatos. Pesquisas da Secretaria apontam 21,04 homicídios dolosos para cada 100 mil habitantes. De 2000 a 2007, os índices sofreram quedas sucessivas. De 2008 até 2011, a situação voltou a se inverter. A questão gera polêmica entre os moradores. A aposentada Madalena, 82 anos, moradora do bairro Jardim Patricia, diz não considerar Itaquá uma cidade violenta, mas que reconhece que poderia ser melhor. “Falta policiamento. Só vejo viaturas da PM quando há ocorrências”, afirma. A estudante de RH, Micae­ la Lira, 21 anos, tem a mesma opinião de Madalena e por isso procura

se prevenir: “Não ando em locais escuros e evito lugares desconhecidos”. Joice Vieira de Oliveira, 25, conta que nunca sofreu nenhum tipo de violência, mas conhece muitas pessoas que já foram assaltadas ou até mesmo agredidas por criminosos. “Acho que o policiamento aqui é muito fraco, pois quase não se vê viaturas nas ruas, principalmente no bairro Terra Prometida, conhecido por ter um dos maiores índices de ocorrências da cidade”, revela. Alberto da Cruz, 30, conhece a violência de perto, pois já foi assaltado algumas vezes. “É muito descaso com a população. Precisamos de mais policiais, principalmente nos bairros mais afastados e de campanhas de conscientização contra a violência”, declara. Segundo o delegado Rubens José Ângelo, a área da segurança sofre com um déficit muito grande de funcionários. “Essa é uma questão que diariamente é divulgada e abordada por nós. A falta de funcionários no setor de investigação ocorre, ao longo dos anos, muito por conta de aposentadorias e outras desvinculações. Nos finais de semana,

Números da violência:

69 homicídios dolosos 890 furtos e 1.002 furtos roubos de veículos 1.286 roubos

Fonte: Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo. Dados relativos a 2011

por exemplo, tenho que atender duas ocorrências ao mesmo tempo, em Poá e Itaquá, que é cinco vezes maior”, afirma. O titular da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise), Eduardo Boigues Queiroz, pediu aos vereadores, em audiência realizada no início do ano, a elaboração de uma lei municipal para que todos os bares da cidade fechem as portas a partir das 23 horas. A medida visa diminuir o tráfico de drogas e os homicídios. “Nos últimos meses presenciamos uma série de crimes nos bares de Itaquá. Quando envolvem entorpecentes, eles quase sempre são seguidos de morte. Se o município trabalhar em conjunto, é possível reduzirmos as taxas de criminalidade”, afirma o delegado.


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06 || poá

Poá aos berros

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Cultura sofre com falta de apoio Fernanda Santos

Estratégia dos comerciantes para chamar a atenção, alto falantes e carros de som incomodam até possíveis fregueses

Munícipes sofrem com barulhos produzidos por carros de som e pelo comércio popular Lucas Cachoni Quem gosta de ter que falar alto, berrar e quase perder a voz para ser entendido? Essa é a realidade de quem passa pelo centro de Poá. “Horrível! Atrapalha tudo!”, diz Josineide Lana, 33 anos, microempresária. “Eu não sei porque eles (o comércio) fazem isso. Não aumenta em nada as vendas. Ao meu ver, até atrapalha. Até aspirina já ouvi anunciarem”, realça Roberto Nascimento, 23 anos, auxiliar de almoxarifado. Além do incômodo, a poluição sonora representa riscos para a população. “A exposição prolongada a estes ruídos pode provocar insônia,

dificuldade de concentração, cansaço, estresse e até hipertonia arterial, enfarte, úlceras estomacais ou mesmo surdez”, alerta a fonoaudióloga Soraia Barroso. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 50 decibéis de ruído é a média aceitável para o ser humano. A exposição constante acima de 85, pode prejudicar a saúde. “Ouvir música e conversar em tom razoável ajudam a preservar a saúde. Que fica exposto a ruídos altos

Gabriela Pasquale de teatro, biblioteca com acervo de mídias variadas, Em Poá há muito a ser incentivo aos grupos e melhorado na área da Cul- entidades artísticas da tura. A Expoá, exposição da cidade e claro, a valoriprodução local de flores, é zação dos artistas locais”. Apesar de contar com o o evento mais divulgado. Para reduzir a carência, Centro Cultural Taiguara, a organizações não-gover- praça da Bíblia e o recémnamentais promovem -inaugurado Pavilhão de saraus, encontros filo- Exposições Prefeito José sóficos e abrem espaço Massa, a população costuma se deslocar para outros para grupos teatrais. De acordo com Filipe municípios para particiFerreira Lima, vice-tesoureiro par de eventos culturais. da ONG Opereta, dedi- Ananda Oliveira, 23 anos, cada à difusão cultural, viaja em busca de atrações falta muito para a cultura culturais: “Gosto muito poeanse melhorar. “A ci- dos eventos organizados dade precisa de espaços pela Opereta, entre eles adequados, como salas peças e saraus, porém,

Saúde precisa de ajustes

constantemente deve utilizar protetor auricular. Sempre que possível, Fernanda Santos beiro alerta para o fato de que a espera prolongada janelas e portas devem A saúde pública em pode representar um risco permanecer fechados para manter o som do Poá não é das melhores. adicional para a saúde Faltam médicos para garan- dos pacientes. “Já atendi lado de fora”, explica. tir atendimento rápido e um senhor com dores no especializado à população. braço esquerdo, que havia Poluição visual A empregada doméstica esperado por 2 horas. A poluição visual é Maria da Conceição, 43 Assim que ele entrou, fiz outro problema, como conta o ajudante geral anos, fraturou o braço há um pré exame e diagnosAmilson dos Santos: “É seis 6 meses, mas ainda tiquei começo de enfarte. cartaz para tudo que é sofre fortes dores. “Venho Se tivesse demorado um lado! Em época de campa- ao posto de saúde toda pouco mais, poderia ter nha eleitoral piora ainda semana para tentar fazer sido tarde”. Até para atendimentos mais. Eu gostaria que Poá fisioterapia, mas até hoje agendados a demora é tivesse uma lei da cidade não consegui”. O mecânico Aparecido recorrente. Grávida de 6 limpa”, afirma. Silva afirma que as difi- meses, a consultora de venNível de ruído produzido em situações do cotidiano: culdades são frequentes. das Ana Carolina Pacheco, Tipo de som Decibéis Música baixa............................................................. 40 “As filas são sempre enor- conta que só consegue fazer Conversa................................................................... 50 mes. Muitas vezes vamos acompanhamento pré-natal Secador de cabelo..................................................... 90 embora sem conseguir porque o médico manda Caminhão................................................................ 100 Buzina de carro....................................................... 110 atendimento”. uma carta à Secretaria de Turbina de avião...................................................... 130 A médica Renata Ri- Saúde informando que

como são os únicos em Poá, às vezes acabo indo para Suzano ou Mogi em busca de atrações musicais e espetáculos”. Outra ONG, o Folhetim Cultural, informa a população sobre os principais acontecimentos culturais da cidade. A prova disso foi a realização de um varal de poemas, que foi apreciado pela babá Divina Costa, 50. Moradora de Itaquá, aprovou a ideia. “Esse tipo de ideia incentiva as pessoas a gostarem de poesia e prova que a cultura está sempre viva. __________ Colaborou: Daniela Pereira

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Fernanda Santos

Espera passa de 2 horas

sua gestação é de risco. “Não fosse isso, eu só conseguiria atendimento de dois em dois meses, que é o tempo de espera para uma consulta com ginecologista e obstetra”, afirma. __________ Colaboraram: Daniela Pereira e Júlia Figueiredo


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suzano || 07 População cobra mais segurança nas ruas de Suzano Assaltos e sequestros assustam os moradores, que culpam a falta de policiamento pela violência Ariane Noronha

Ariane Noronha Postes sem iluminação, ausência de guardas municipais e insuficiência de câmeras de monitoramento. Essas são algumas queixas de moradores e comerciantes de Suzano relacionadas à segurança pública. “Falta investimento da prefeitura nesse quesito. Meus irmãos, meu pai e até a minha mãe já foram assaltados aqui na cidade e isso mostra o quanto Suzano está perigosa. À noite, por exemplo, ninguém tem coragem de atravessar a passarela da estação de trem. É um local escuro onde os criminosos gostam de abordar quem passa. Isso não deveria acontecer”, desabafa o mecânico Carlos Gomes da Cruz, 25 anos. A gerente Luzia Pedro, 37, que trabalha na avenida General Francisco Glicério, uma das principais vias do centro, conta que as lojas são frequentemente assaltadas. De acordo com ela, pelo menos uma vez por semana alguma loja é alvo da ação de criminosos, o que aumenta o receio de ser a próxima vítima. “Em alguns pontos da cidade falta iluminação pública e por isso os guardas municipais e a

Suzanenses apontam problemas na saúde pública Aline Sabino Uma pesquisa feita no mês de setembro por um site de notícia aponta que 86,5% dos suzanenses reprova a saúde pública do município. O único hospital de Suzano é a Santa Casa, que atualmente está inaugurando sua terceira unidade. Porém, o único hospital disponível para atendimento à população é a Unidade 1, o que acarreta demora e reclamações entre os moradores. Em 2011 foram denun-

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Trabalhadores da região central da cidade relatam que assaltos a lojas e clientes têm ocorrido com frequência

Polícia Militar deveriam circular mais pelas ruas, como forma de inibir os assaltantes. A segurança pública é um assunto que sempre deveria ser discutido nas prefeituras e medidas de melhoria deveriam ser implantadas com frequência”, declara. Para a auxiliar de saúde bucal Naiara de Almeida, 19, o problema da segurança pública está presente em várias cidades do Alto

Tietê, não só em Suzano – embora concorde que o município realmente carece de investimento neste setor. “Tenho um amigo que foi sequestrado aqui na cidade e levado para outro local. Por sorte, não ocorreu nada mais grave. Para mim, investir na segurança nunca é demais”, ressalta. __________ Colaboraram: Maria Jaislane e Maria Máximo

ciados pela imprensa vários problemas relacionados à área da Saúde em Suzano. Dívidas milionárias, mortes de recém-nascidos e a demora no atendimento estão entre os mais lembrados pela população. ”A saúde em Suzano está um caos. Não tem médicos, os exames demoram para ficar prontos e há muita burocracia no atendimento", reclama Jefferson dos Santos, Administrador de Licitações. Usuária do serviço público de saúde, a ven-

dedora Crisleiane Nadja demonstra preocupação. “Há muito que fazer na saúde pública de Suzano, principalmente nos postos de saúde. A Santa Casa até melhorou, mas ainda não tem a quantidade de médicos suficiente para atender toda a população.” Apesar do caos, os moradores têm esperança em dias melhores.. “Eu acredito que isso pode mudar. Espero que minha filha cresça com saúde e a geração dela também”, declara Cristina Rodrigues, auxiliar adminstrativo.

UTI neonatal depende de ajuda Federal Loriani Vicentini ravelmente as despesas do setor. Para arcar com os custos, As duas unidades da Santa Casa de Misericórdia o município recorreu ao existentes em Suzano, que Programa Rede Cegonha, concentram todo o aten- do Governo Federal.O dimento, são insuficientes. interventor Marco Rizzo Quem precisa de internação informa que sem a ajuda precisa esperar na fila ou dos governos Federal e procurar atendimento em Estadual, é impossível manter a UTI. outros municípios. Para as grávidas, a Em abril deste ano a UTI neonatal de Suzano situação gera inseguranpassou por reformas para ça. “Tenho medo de não aumentar o número de poder contar com uma leitos. As adaptações boa estrutura hospitaaumentaram conside- lar na hora de ter meu

filho, ou pode ocorrer algo ainda pior. Já pensou se não houver uma unidade para garantir a vida de meu bebê?”, pergunta Fabiana da Silva Marchetto, grávida de sete meses. A vendedora Phâmella Morais, de 27 anos, também gestante, teme não conseguir internação. “Infelizmente, não há como prever se terei leito e assistência da UTI para minha filha no momento que eu entrar em trabalho de parto”, diz.


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08 || mogi das cruzes Cancelas dos trens atrapalham o trânsito em Mogi Fechadas a cada sete minutos, elas causam parte do congestionamento na região central Thamirys Marques

Thamirys Marques Instaladas para dar segurança aos pedestres, as cancelas da linha de trem em Mogi das Cruzes trazem mais transtornos que benefícios. Da estação Braz Cubas até a Estudantes, há quatro passagens de nível que são fechadas para a passagem dos trens. No Alto Tietê, Mogi das Cruzes é a única cidade com passagens de nível, o que complica ainda mais o trânsito na cidade. "Eu acho que a prefeitura tem que encontrar outra solução. O que não dá é o centro da cidade parar de sete em sete minutos para o trem passar. Imaginem quando o Expresso Leste vir definitivamente...", desabafa a estudante Rafaela Campos, parada há 10 minutos em uma das cancelas. O também estudante Gustavo Dias estava a pé, mas não menos revoltado: “Essas cancelas são horríveis, atrapalham a vida de todo mundo. As passarela não boas, são todas escuras. Também não entendo porque as cancelas fecham tanto tempo antes do trem passar.” Visando a redução de acidentes, em janeiro a Companhia Paulista de

Ruas de Mogi das Cruzes param em horário de pico Excesso de veículos e transporte coletivo deficiente prejudicam o trânsito Luís Araújo

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Os planos da CPTM de reduzir o intervalo entre os trens aumentará ainda mais o problema

Trens Metropolitanos (CPTM) instalou câmeras de monitoramento nas passagens. Nem assim a situação melhorou. É o que pensa Júlia Ferreira, operadora de telemarketing: “Essas cancelas não trazem segurança para os pedestres nem para os motoristas, pois falta sinalização adequada, principalmente na Vila Industrial e em Brás Cubas. Com isso, infelizmente ocorrem acidentes graves, pois automóveis e pedestres passam entre as cancelas, sem que ninguém faça nada”. Mesma opinião do vendedor Bruno Mendes: “Elas não dão segurança nenhuma. Qualquer um pode ultrapassá-las e duvido muito que os guardinhas tenham disposição para correr atrás”.

Moradores reinvidam Unidades de Saúde que funcionem 24 horas Márcio Moura De acordo com a Prefeitura de Mogi das Cruzes, a cidade dispõe de 30 Unidades Básicas de Saúde. Nelas é possível agendar consultas com clínico geral ou especialistas, e até com dentistas (exceto na UBS de Braz Cubas). No entanto, apenas três postos funcionam 24 horas – as unidades Cézar de Souza, Jundiapeba e Jardim Universo. Para a dona de casa Conceição Alves, que faz acompanhamento de pressão arterial na UBS do bairro Santa Tereza, se a unidade que frequenta funcionasse dia e noite, o atendimento seria melhor. “Moro no

Parque Olímpico, então tenho que optar pelas Unidades do Jardim Universo ou de Santa Tereza. Vou à segunda, por ter menos pacientes. Se todos os postos funcionassem 24 horas, acredito que seriam mais vazios e as pessoas se sentiriam mais seguras para procurar um médico perto de casa em qualquer horário”. A falta de funcionários também é alvo de reclamações. “Trouxe meu filho para fazer uma avaliação mais detalhada do problema respiratório e só encontrei plantonista, que diz para procurar o Pró-Criança”, desabafa Fátima Tavares, que tentava agendar consulta para o filho de três anos.

Quando os relógios apontam cinco horas da tarde, as ruas de Mogi das Cruzes ficam praticamente paradas. Com exceção dos finais de semana e feriados, os motoristas sofrem todos os dias neste horário com o fluxo lento do trânsito e acabam perdendo muito tempo no deslocamento. “É um inferno usar o carro nessa cidade no horário de pico, quando praticamente todo mundo está saindo do trabalho”, afirma Caio Borges, 22 anos, que mora na Vila Oliveira e trabalha em Jundiapeba. “O mais triste é ouvir dos caras da Prefeitura que o trânsito de Mogi não é ruim, que o de São Paulo que é caótico. Isso é piada de mau gosto, só pode ser. Não sei em que mundo eles vivem”, completa. “Mogi das Cruzes cresceu nos últimos anos e vem apresentando o mesmo problema de trânsito das grandes cidades. Parece não haver

solução”, opina Roger Nakamura, comerciante que trabalha no centro da cidade e mora no Mogilar. “O trânsito piorou muito de uns tempos pra cá porque o número de carros aumentou bastante”, emenda. A análise faz sentido. De acordo com a Secretaria Municipal de Transportes, a frota de veículos de Mogi das Cruzes é de 190 mil. Esse número indica que há, aproximadamente, um carro para cada duas pessoas da cidade, que tem população estimada em 390 mil habitantes. Para os munícipes, a situação está atrelada a outro problema: deficiência do transporte coletivo. “Muitos veículos andam no horário de pico com uma ou duas pessoas”, observa Borges. “Se tivesse mais ônibus e se oferecessem mais conforto aos usuários, tenho certeza de que muita gente optaria por utilizá-los. Isso evitaria esse desperdício de espaço que tanto atrapalha a vida”, complementa Nakamura.


OUTUBRO-NOVEMBRO || 2012

biritiba-mirim || 09 População de Biritiba reclama da falta de empregos Trabalhadores enfrentam muitas dificuldades em busca de vagas de trabalho no município FOTOS: Angélica Ribeiro

Angélica Ribeiro Localizado entre Mogi das Cruzes e Salesópolis, Biritiba Mirim enfrenta graves problemas de geração de emprego. Uma das reclamações mais frequente da população de 28 mil habitantes é a falta de oportunidades de trabalho na cidade, o que obriga muitos a se deslocarem para outros municípios. Quem decide permanecer na cidade tem a agricultura como uma das poucas alternativas. Biritiba Mirim faz parte do Cinturão Verde que abastece cerca de 35% de todo o mercado consumidor do estado de São Paulo e 5% do Rio de Janeiro. Apesar do desemprego, poucos biritibenses têm interesse nas vagas do campo. “Eu precisava de mais ou menos uns 50 funcionários”, afirma o produtor rural Hiroshi Shintate, revelando dificuldade para contratar. “Quem não quer trabalhar na roça aqui em Biritiba Mirim tem que procurar oportunidades em outras cidades, principalmente em Mogi das Cruzes ou São Paulo”, afirma Alison Demetrius da Silva, 21 anos. O motivo para os trabalhadores preferirem outras atividades pode estar relacionado às con-

Espirra, Biritiba! Leandro Morais

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Maioria das ofertas de trabalho está na agricultura. Quem deseja outras atividades, como a cobradora Caroline Santos (abaixo), precisa se deslocar para outras cidades

dições de trabalho na zona rural. Wellington Ramalho da Silva, de 21 anos, morador do Jardim dos Eucaliptos, conta que o trabalho é pesado. “Trabalhava mais de dez horas por dia, embaixo de chuva ou sol forte, de domingo a domingo. Tinha apenas uma folga a cada 15 dias”. Assim, por mais que existam vagas nas propriedades rurais, os trabalhadores preferem ir em busca de melhores oportunidades. Balcão de empregos Desde 2006 Biritiba Mirim conta com um Balcão do Empregos oferecido pela municipalidade para quem está procurando trabalho. No entanto, a maioria das vagas oferecidas é fora da cidade e nem todas as empresas oferecem vale-transporte. “É preciso muita força de

vontade para enfrentar tanta dificuldade”, desabafa Caroline da Silva Santos, 20 anos, moradora do bairro Castelano. Depois de permanecer 4 meses desempregada, por meio do Balcão Caroline conquistou uma vaga de cobradora em uma empresa de transportes coletivos de Mogi das Cruzes.

Alternativas Alison Demetrius da Silva, 21 anos, morador do bairro Cruz das Almas, vê no setor do turismo uma saída para o problema do emprego, mas lamenta a falta de investimentos na área. “Não temos infraestrutura adequada e nem mão-de-obra qualificada para receber turistas”, afirma. De fato, o turismo de aventura poderia ajudar a reduzir o desemprego, pois 80% do território do município está localizado em área de proteção manancial – o que dificulta a instalação de empresas. Os moradores da cidade estão com a expectativa de que em 2013 três indústrias se instalem no município. _________ Colaboraram: Emanuela Santos e Thayana Alvarenga

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O atendimento público em saúde é oferecido apenas pela prefeitura. Nenhuma das unidades tem internação

Leandro Morais “A Saúde em Biritiba Mirim vai mal, mas se piorar tem que espirrar daqui, porque aqui não tem internação”. É com bom humor que o aposentado Celso Mathias da Cunha dá ideia da condição do atendimento médico na cidade. Biritiba Mirim conta com uma população de 28.575 habitantes. Pode parecer um número pequeno para quem vive fora dali, mas pequeno mesmo é o número de postos de saúde a que a população tem acesso: são apenas três Postos de Saúde da Família (PSF), com infraestrutura modesta atendendo nos bairros Ioneda, Cruz das Almas e Jardim dos Eucaliptos, um Pronto Atendimento (PA) e um Centro de Especialidades (CE). Todas as unidades são de responsabilidade da prefeitura. Não há unidades estaduais, e menos ainda federais. Há, também, um hospital particular. Duas situações chamam a atenção em relação às estruturas municipais: pois todas são extremamente centralizadas, distantes pouco mais de 1 quilômetro uma das outras. A exceção é o PA do bairro Ioneda. A segunda, seu Celso já havia antecipado: nenhuma conta com leitos para internação. _________ Colaboraram: ES e TA


OUTUBRO-NOVEMBRO || 2012

10 || salesópolis É preciso valorizar o eucalipto em Salesópolis! A principal fonte de renda da cidade sofre com a falta de investimento público FOTOS: Larissa Murata

Luana Nogueira Com 155 anos, Salesópolis é um dos municípios que compõe o Alto Tietê. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população da cidade é de 15.635 habitantes. Sua principal fonte econômica são as plantações de eucalipto, iniciadas em meados de 1960. Com 98% do território em área de preservação de mananciais, essa foi umas das maneiras encontradas para gerar emprego e dinheiro para a cidade. Agora, a melhoria e o futuro do setor são alguns dos desafios para o futuro prefeito e 11 vereadores eleitos pelos salesopolenses nas últimas eleições. Por muitos anos, a produção de eucalipto foi uma das culturas mais rentáveis para o município. Em 2004, segundo o IBGE, foram produzidos 358.017 metros cúbicos de madeira na cidade, mas em 2010 a produção havia caído para 235.657 metros cúbicos, redução de 34%. A queda foi sentida por produtores de madeira como Pedro de Souza, 47 anos, que atua no setor desde 1980. Na opinião dele, o início de 2012 foi um dos piores para o município. Segundo o produtor, os empresários do ramo não conseguiram escoar a

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Falta ônibus para a população Luana Nogueira

“É preciso encontrar novas formas de valorizar o que é produzido na cidade”. Guilherme Cruz, técnico florestal

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Passageiros que precisam viajar para Mogi reclamam da demora dos ônibus

Larissa Murata produção de eucalipto para as fábricas de celulose da região. “Tivemos uma queda considerável no preço da madeira. Foi implantado um sistema de cotas que permitira fazer apenas duas viagens de eucalipto. Antes era ilimitado. Por causa dessa situação, houve demissão de funcionários e a cidade parou”, lembra. O técnico florestal Guilherme Cruz da Silva, 21, acredita que Salesópolis precisa encontrar novas formas de valorizar o que é produzido na cidade. “O setor florestal brasileiro é muito promissor e não para de crescer. O que deve mudar é o foco dessa matéria-prima que é o eucalipto. Ele não é usado só para celulose e/ ou construção civil. Hoje,

se faz muita coisa com eucalipto, desde o papel de jornal até créditos de carbono”, argumentou. Para ele, a capacitação é a melhor maneira de ampliar o setor na cidade. “Seria bom a implantação de uma escola profissionalizante agrícola/florestal para os filhos desses produtores aprenderem que existem muitas possibilidades”, afirma. A Associação Comercial de Salesópolis estima que

com a queda nas vendas do eucalipto, o setor varejista do município tenha sofrido uma redução de 30% nos lucros. Durante o período em que a crise se instalou na cidade, os setores alimentícios, de vestuário e de móveis sofreram com a falta de compradores, o que resultou no corte de diversos postos de trabalho. __________ Colaboraram: Jéssica Almeida e Lucas Eliel

A área de transporte público de Salesópolis é apontada pelos usuários como uma das que mais precisa da atenção da prefeitura. A demora dos ônibus, a lotação e as condições de conservação dos veículos são as principais queixas dos passageiros. Apesar do alto preço da passagem da linha 311, Salesópolis–Mogi, que custa R$ 4,80, o que mais causa reclamação é o reduzido número de veículos nos horários de pico. “Os ônibus vêm superlotados, às vezes com quase 100 pessoas. É comum os passageiros terem que esperar o próximo veículo, por não conseguirem embarcar”, relata a estudante Aline Aparecida de Souza, 19 anos.

A segurança dos veículos também é questionada. “É muito precária, pois os ônibus não contam com cinto de segurança, e é comum estarem com os pneus carecas”. Já a estudante Marcela Vilella, 17, reclama da falta de horários fixos da linha. “Há dias em que os ônibus passam mais cedo, outros que passam mais tarde”, reclama. Para o estudante Mateus Campos, 19, é papel do prefeito lutar por melhorias no transporte público da cidade. “Medidas simples podiam ser empregadas para melhorar a qualidade dos ônibus. O mais básico seria aumentar a quantidade de carros nos horários de pico, porque muitas pessoas são obrigadas a viajar em pé nos horários mais complicados”, afirma.


OUTUBRO-NOVEMBRO || 2012

guararema || 11 Má distribuição da infraestrutura causa reclamações Clima interiorano atrai turistas e renda. População reclama da falta de obras nos bairros Fotos: Flávia Faria

Flávia Faria Desde 1960 Guararema se destaca pela grande produção de orquídeas de variados tipos, o que a fez ser conhecida como “Cidade das Orquídeas”. Trata-se de uma cidade com belas paisagens e clima de interior, ideal para quem quer repousar e fugir do estresse das cidades grandes. Considerada um dos poucos lugares perto de grandes centros que mantém o jeito interiorano, a cidade ainda oferece uma rotina calma e acolhedora, sendo garantia de paz e sossego. Além disso, oferece um roteiro turístico rico em história e cultura. Contudo, o cenário de belas paisagens se limita ao centro da cidade, onde a infraestrutura recebe elogios da população. Na região central, calçadas e faixas de pedestre, por exemplo, são dotados de piso antiderrapante. Se a região central, entre outros benefícios, conta com calçadas e faixas de pedestres dotadas de piso antiderrapante, em boa parte dos bairros falta calçamento e sobram burados. O contraste pode ser observado em bairros como Nogueira, Ipiranga e Parque

ferraz de vasconcelos Programa de Expansão Industrial promete aumentar empregos em Ferraz de Vasconcelos Rogério Nascimento

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No centro, as condições das vias merece elogio. Já em bairros como o Nogueira (foto abaixo), faltam asfalto e poda do mato

Agrinco. Para Fernanda Gorete de Jesus, 30 anos, moradora do Ipiranga, o problema está longe de ser resolvido. “Falta

infraestrutura adequada para receber turistas e visitantes e a prefeitura praticamente não atua na região. Por exem-

plo, na estrada Mário Alves Pereira, que liga a cidade a Salesópolis, os moradores tiveram que fazer um mutirão para tapar os buracos e melhorar as condições da via”. A rodovia concluída em 2008 como parte do programa de pavimentação de rodovias vicinais do governo de São Paulo, se encontrava em péssimas condições, o que impedia a passagem de veículos. Na época, o estado destinou parte da verba total do programa para a pavimentação da via, mas os moradores afirmam que o trabalho nunca foi feito.

No horário de pico da tarde, entre 16h30 e 19h30, os trens da CPTM que partem abarrotados da estação Guaianazes rumo à estação Estudantes, em Mogi das Cruzes, têm uma significativa redução do número de passageiros quando abrem as portas na estação de Ferraz de Vasconcelos. Centenas de homens e mulheres desembarcam na cidade depois de mais um dia de trabalho. Com população de pouco mais de 160 mil habitantes, Ferraz de Vasconcelos foi o município do Alto Tietê que mais gerou postos de trabalho nos últimos 4 anos. É o que informa Vanderlei Jesus Kechner, secretário de Indústria e Comércio da cidade. Mas ele alerta que “deve levar algum tempo para que os efeitos possam ser sentidos pela população”.

A cidade dispõe, atualmente de aproximadamente 42 mil postos de trabalho. A indústria emprega a grande maioria da população, com 47,6% das vagas. O setor de serviços vem em seguida, com 29,1% das vagas, e o comércio emprega 17,9% da população. A construção civil fecha a conta, abrigando 5,3% dos trabalhadores. O Programa de Expansão Industrial desenvolvido pelo poder público com apoio da Associação Comercial e Industrial da cidade, promete a abertura de mais vagas de trabalho com a instalação de novas indústrias no município. A previsão é de que 92 empresas cheguem até o primeiro semestre de 2013. A construção de um shopping pode criar mais 1.250 novos postos de trabalho, dando ao município maior versatilidade setorial, equiparando o setor de serviços ao industrial.


OUTUBRO-NOVEMBRO || 2012

12 || entrevista “Não existe democracia sem política”

Carolina Nogueira

Para o sociólogo Afonso Pola, responsabilidade, coerência e interesse fazem parte da receita para escolher certo e mudar a maneira de se fazer política Carolina Nogueira Os desafios dos próximos vereadores e prefeitos eleitos no Alto Tietê são realmente grandes, numerosos. Mas o maior desafio é do eleitor, de escolher bem, e se responsabilizar por sua decisão. Qual a importância da política para a sociedade? Por que as pessoas cada vez dão menos importância para a política? Afonso Pola: A política não tem nos dado motivo de orgulho ultimamente, muito pelo contrário. Mas não existe democracia sem política, mesmo num momento em que o avanço tecnológico permite uma interação muito maior entre as pessoas. A sociedade perdeu o encanto pela política e por isso ela está perdendo importância para as pessoas. Qual é a responsabilidade do eleitor? AP: O conceito de participação política é muito amplo. O cidadão precisa enxergar na política algo que interfere na sua vida de forma positiva. Para que isso aconteça, é necessário que ele exerça sua cidadania de forma plena. [Na eleição é necessário] escolher criteriosamente, pois trata-se da escolha de quem vai

dirigir o destino da cidade. Mais que apenas votar, é necessário acompanhar a atuação dos eleitos. A compra de votos é uma evidência da falta de interesse do eleitor? O que fazer para acabar com essa prática? AP: Eu acho que a compra de votos acabará no dia em que o vendedor e o comprador forem efetivamente punidos. Porém, há um hábito pouco construtivo de resumir o problema da corrupção à política. E não é. Há pessoas que condenam os políticos corruptos, mas dão caixinha ao guarda. Tudo é corrupção e a corrupção é ruim porque afeta o coletivo. O julgamento do mensalão surtirá algum efeito sobre a percepção do brasileiro quanto à impunidade? AP: A corrupção cria um ambiente favorável para a manutenção do poder. Atualmente o mensalão está em evidência, mas

O sociólogo e educador, com especialização em política, Afonso Pola, falou sobre esta grande responsabilidade do cidadão. Em entrevista ao Página UM, o educador e ex-militante político esclareceu mitos da lei eleitoral, falou sobre mensalão, ficha limpa, corrupção e compra de votos. quantos escândalos envolvendo figuras políticas do país vieram à tona, sem que os meios de comunicação fizessem pressão? É interessante que haja condenações. Trata-se de um processo de compra de apoio político e acho que os responsáveis têm que ser punidos, mas que os envolvidos no caso Carlinhos Cachoeira também sejam julgados e condenados, por exemplo. Porque só assim, condenando a corrupção independentemente dos grupos envolvidos, será possível criar uma outra cultura. Se não queremos mais a cultura da impunidade, este é o momento de desconstruirmos essa cultura e colocar outra no lugar. A atuação de bons políticos pode mudar a postura de descrédito da população em relação à política? AP: Sem dúvida existem pessoas bem intencionadas. Mas mesmo essas

pessoas­, quando chegam num ambiente contaminado, talvez não se rendam, mas têm a ação neutralizada. Conheço pessoas que já se elegeram e não querem voltar para a política por este motivo. Elas queriam servir à sociedade, mas não conseguiram. A sociedade é quem tem que se movimentar para mudar isso.

teúdo pronto, mastigado, que deve ser consumido sem grandes questionamentos. A imprensa poderia promover uma reflexão libertadora, mas infelizmente não o faz. Isso ocorre por causa dos grupos econômicos “A educação ruim gera que estão por trás disso bons telespectadores, tudo. péssimos eleitores, e muitos candidatos”. Essa A Lei da Ficha Limpa e é uma frase corrente a Lei de Acesso à Infornas redes sociais em mação representam as tempo de eleição. Você melhorias desejadas? AP: Essas leis são positiconcorda? AP: Sim. A educação de vas por causa do debate baixa qualidade, que não que geram. Houve uma leva à reflexão, torna as grande mobilização, e isso pessoas manipuláveis. é um ganho inestimável. Os avanços tecnológi- Mas é óbvio que a lei, cos são um ganho para por si só, não resolve quem busca informação, nada. Há inúmeras leis mas também podem importantes que não ser utilizados pelos ma- foram aplicadas. Portanto, nipuladores. Jornais e a lei só tem importância televisões não convidam se for cumprida. Por outro lado, o acesso as pessoas a refletir. Ao à informação e a inelecontrário, oferecem con-

gibilidade de políticos ficha suja não devem ser considerados como conquistas. São apenas direitos da sociedade. Qual o seu principal conselho para o cidadão? AP: As pessoas precisam refletir muito na hora de votar e cobrar dos candidatos um posicionamento claro quanto ao que pretendem fazer. É muito fácil fazer promessas e se a sociedade não cobrar, também serão facilmente esquecidas. Além disso, as pessoas devem se lembrar que elas também fazem parte da coletividade, e por isso não podem votar pensando unicamente no interesse pessoal. Se o voto for usado de forma sóbria, consciente e consequente, ganha não só o indivíduo, mas toda a coletividade.


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