Página UM 90

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Música sertaneja, rock ou eletrônica? Escolha a sua balada

Ficar em Mogi ou ir para image bank

SP? Avaliamos os bares daqui Baladas, bares, restaurantes e lanchonetes são as principais atrações da noite mogiana. É possível se divertir sem ter que ir à Capital, mas falta originalidade às casas da região. O Página UM foi conferir as atrações noturnas da cidade e te conta o que encontrou. Página 10

De que tipo de balada você gosta? Mogi tem de tudo, mas o sertanejo predomina – as casas do gênero vivem lotadas. Há boas opções também para quem gosta de rock e até de música eletrônica. Confira nas páginas 10 e 11

Caroline xavier

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes ||| Produzido pelos alunos do 6º período ANO XV ||| NÚMERO 90 ||| DEZEMBRO de 2014 ||| DISTRIBUIÇÃO GRATUITA ||| paginaum@umc.br

Bicicletários das estações de Mogi não têm segurança Não é fácil a vida de quem prefere usar bicicleta para se locomover em Mogi. Nas estações de trem há bicicletários para a integração, mas por falta de vigilantes as bicicletas acabam furtadas. A prefeitura promete aumentar para 25 km a extensão das ciclovias, mas os trechos já existentes estão em péssimas condições. Leia nas reportagens da página 3.

E-books conquistam estudantes MARINA ALENCAR

Emanuela santos

As bibliotecas continuam cheias de livros de papel, mas uma nova realidade ganha força entre os estudantes mais antenados: os e-books chegaram de vez e nada indica que seja uma onda passageira. Há quem garanta que os livros de papel não vão acabar tão cedo; outros, apostam que eles já terão desaparecido. Quem está com a razão? Para fazer sua aposta, leia a reportagem da página 7.

arquivo pessoal

Ferramentas digitais ajudam no aprendizado

Preconceito ainda rola solto nos esportes Páginas 8 e 9

Ocupações irregulares mostram deficit habitacional Rubia Teles

Mogi adotou monitoramento aéreo para evitar invasões. Em Suzano (foto), a prefeitura impediu que 600 famílias ocupassem uma área. Em Itaquá, 40% dos imóveis são irregulares. Páginas 4 e 5

Lousas digitais em 3D, canais de Educação no YouTube, apps para tabletas e smartphones que ajudam a estudar. A tecnologia educativa tem muitos recursos para oferecer. Contudo, há um grande desafio a ser vencido: fazer com que todos os estudantes tenham acesso aos avanços. Página 6


dezembro || 2014

02 || opinião

Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, da Universidade de Mogi das Cruzes

ANO XV – Nº 90 DEZEMBRO | 2014 Fechamento: 4/12 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Avenida Doutor Cândido Xavier de Almeida Souza, 200 – CEP: 08780911 – Mogi das Cruzes – SP Tel.: (11) 4798-7000 E-mail: paginaum@umc.com.br * * * O jornal-laboratório Página UM é uma produção de alunos do curso de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), no contexto do Projeto Superação (Patamar Exercer), em conformidade com o Projeto Pedagógico do curso. Esta edição foi produzida pelos alunos do 6º período. Professores orientadores: Prof. Elizeu Silva – MTb 21.072-SP (Edição e Planejamento Gráfico); Prof. Franthiesco Ballerini – MTb 39.704-SP (Edição); Prof. Claudinei Nakasone (Fotografia). Projeto gráfico: (Alunos do curso de Design da UMC) Felipe Magno, Fernanda Roberti, Rafael Santana, Gabriel Aparecido e Rian Martins. Orientador: Prof. Fábio Bortolotto * * * UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES – UMC Chanceler: Prof. Manoel Bezerra de Melo Reitora: Profª. Regina Coeli Bezerra de Melo Vice-Reitora: Roseli dos Santos Ferraz Veras Pró-Reitor de Campus (sede): Prof. Claudio José Alves Brito Pró-Reitor de Campus (fora da sede): Prof. Antonio de Olival Fernandes Diretor Administrativo: Luiz Carlos Jorge de Oliveira Leite Coordenadora do Curso de Comunicação Social – Jornalismo, Publicidade e Propaganda: Prof. Ms. Agnes Arruda

editorial

artigo

90 edições de um jornal que está apenas começando

•DA COORDENAÇÃO•

O Página UM chegou à edição 90. Editado desde 1999, o jornal-laboratório percorreu um caminho de experimentação constante, evidentemente marcado por acertos e erros, como é natural em qualquer empreendimento. Vista em toda a extensão, é a história de um veículo dinâmico e comprometido com a nobre missão de ser um laboratório de aprendizado do Jornalismo. Surgido como jornal regional, o Página UM viveu uma época de jornalismo comunitário (em parceria com os moradores do bairro Mogilar, em Mogi das Cruzes) e posteriormente voltou a abrigar pautas de todo o Alto Tietê. Elas mesmas, as pautas, também variaram de teor ao longo dos anos. Inicialmente recheadas de críticas ácidas, posteriormente assumiram as demandas comunitárias e, na fase seguinte, tornaram-se mais brandas e comedidas. Obviamente o vigor das pautas guarda relação direta com o grupo de alunos encarregado da edição. Afinal, são eles que pesquisam os temas, vão às ruas, entrevistam fontes, fotografam e, impressionados pelo que viram e ouviram, redigem as matérias. Aos professores-editores cabe a intransferível missão de debater o foco das reportagens com os alunos-repórteres e promover ajustes necessários visando a melhor forma jornalística. As edições de 2014 revelam, e o leitor atento certamente percebeu, que novos ajustes editoriais estão em curso. Em lugar dos temas amenos, surgem abordagens mais vigorosas relacionadas a temas polêmicos, como o preconceito de gênero e a homofobia nos esportes, os desafios de quem luta por moradia digna, as dificuldades para se locomover de bicicletas na região, o papel das novas tecnologias no processo de aprendizagem e até a qualidade das baladas mogianas. O olhar diferenciado que os alunos-repórteres procuraram dar a esses temas pode ser conferido nas reportagens das próximas páginas. Esta edição encerra a produção de 2014, mas o ciclo iniciado pela turma atualmente no 6º período do curso de Jornalismo deverá produzir frutos ainda melhores. Nunca é demais lembrar que eles, os alunos, estão apenas começando a trilhar o caminho da busca pela notícia. Que venham, pois, 2015 e muitas outras edições do Página UM.

Prática profissional sim, mas com um ‘senhor embasamento’ Agnes Arruda* Da graduação em Jornalismo na faculdade com missão religiosa salesiana recordo, entre tantas outras coisas, que embora as atividades práticas estivessem presentes, era na formação humanística por trás de cada técnica aprendida que se encontrava o real valor daquilo que eu estava fazendo. As freiras-professoras de Filosofia, Sociologia, Psicologia e Antropologia pegavam no meu pé e no dos meus colegas, mas suas aulas nos salvaram de, na rua, não queimar a cara com perguntas besta que a gente tanto vê por aí exemplo “como você se sente” a uma mãe que acabara de perder o filho ou “qual a expectativa para o show” a um músico antes de subir no palco. Esse movimento, no entanto, era oposto ao que clamavam os universitários afoitos por “colocar a mão na massa” e, preocupadas cada vez mais em oferecer a prática aos estudantes, as escolas mergulharam tão fundo que acabaram transformando seus alunos em aparelhos tape-decks, apertadores de botão, máquinas de gravar, transcrever e reproduzir aquilo que já havia sido dito por muitos, com base em uma

teoria que, parece, considera a Comunicação como uma ciência exata . Seria cômico se não fosse trágico. Olhando para trás, não faz muito tempo que me formei; 2005, para ser exata. Embora não ache que “parece que foi ontem”, lembro-me daquele tempo com frequência. A experiência foi tão intensa quanto boa, e é essa lembrança que me esforço para manter viva todo dia ao vir para o trabalho, agora do outro lado do muro. O objetivo é que, um dia, os aqui graduados possam fazer semelhante reflexão. Algumas ferramentas têm nos possibilitado tirar do papel missão tão ambiciosa. A resolução CNE/CES n° 1 de 27 de setembro de 2013, que institui as novas diretrizes curriculares para a graduação em Jornalismo no Brasil inicia a revisão que os cursos da área tanto precisam. Quem ingressou em JOR na UMC já em 2014 cursa uma matriz curricular atualizada, que além do estágio obrigatório, dispõe de disciplinas que, em sala, guiam o aluno a colocar a mão na consciência e perceber que, mais que um contador de boas histórias, o jornalista é um fuçador das coisas do homem, que fala sobre gente, para gente e pela gente. E por isso entender de gente é FUN-DA-MEN-TAL.

No que diz respeito à Publicidade e Propaganda, o Ministério da Educação (MEC) ainda não atualizou as diretrizes curriculares para o ensino superior da atividade, mas isso deve acontecer em breve e, enquanto isso, a gente não espera de braços cruzados. A matriz de PP também foi revista, acompanhando o que aconteceu com a de Jornalismo e para praticar tudo o que aprende em sala, além das atividades das quais a gente tanto falou neste espaço ao longo do ano, agora os estudantes têm à sua disposição a AECom, Agência Experimental de Comunicação Integrada. Com orientação dos professores da Casa, estudantes de PP – e também de JOR – aplicam seus conhecimentos em missões relacionadas a instituições do terceiro setor. Além da prática profissional, fica fortalecida a atividade extensionista dos cursos, colocando os estudantes em contato não só com o mercado, mas também com as pessoas que dele fazem parte. E oras, sem pessoas, não há Comunicação. Ponto. *Coordenadora dos cursos de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda da UMC. agness@umc.br. (11) 4798-7150


2014 || dezembro

mobilidade || 03 Falta de segurança em bicicletários desafia ciclistas Na estação Estudantes, as bicicletas ficam do lado de fora e não há monitoramento LILIANE FERREIRA

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Insegurança inibe uso de bicicletas

liliane ferreira A falta de segurança dentro e fora das estações de trem é uma realidade para quem utiliza os serviços de transporte público. Chegar à estação é um desafio diário para milhares de pessoas, ainda mais para quem prefere percorrer o trajeto pedalando.

Faltam locais adequados para guardar a bicicleta nas estações. Bicicletários são raridade e quem precisa utilizar esse tipo de serviço fica a mercê da insegurança. Ninguém sabe se, ao voltar do trabalho ou da escola, encontrará a magrela onde foi deixada. Na Estação Estudan-

tes, o único espaço para guardar bicicletas fica do lado de fora da estação e não conta com monitoramento. Para quem já foi furtado, além da revolta, fica um buraco no bolso. A universitária Carla Menezes, 22 anos, teve duas bicicletas levadas em pouco menos de dois anos. “A gente sente no bolso. As bicicletas custam caro e não posso ficar comprando sempre roubam; às vezes prefiro vir a pé”, diz. Deivid Eric, ciclista e funcionário da Socicam, empresa que administra o terminal rodoviário ao lado da estação Estudantes, afirma que ocorrem muitos

furtos de bicicleta na região. “Um rapaz sempre ficava rondando as bicicletas e acabava levando algumas. A gente até mandava ele ir embora, mas não somos nós os responsáveis pelo bicicletário nem somos policiais, então não podemos fazer muita coisa”, explica. Segundo Eric, o bicicletário foi instalado no local a pedido da prefeitura. “Ela que deveria cuidar, não é mesmo?”, questiona. Procurada, a prefeitura afirmou por meio de nota que as estações da CPTM na cidade deverão passar por reformas e que nas novas estações haverá espaços adequados para guardar bicicletas. lucas eliel

Diário de um pedreiro viajante Lucas Eliel O pedreiro João Rocha de Oliveira, 52 anos, dá 40 mil pedaladas todos os dias, e não é por esporte. Ele mora no bairro Recreio Sertãozinho, em Suzano, e trabalha no bairro Palmeiras, a 20 km de distância. João passa pela estrada Portão do Honda, pela avenida Vereador João Batista Fitipaldi até chegar à Marginal do Rio Una. Na marginal, ainda interditada para carros, João segue, pedalada após

pedalada, até a Rodovia Índio Tibiriçá. Não há tempo para pausa. João segue pelo acostamento até a rotatória em frente ao cemitério João Batista Fitipaldi, onde dobra à esquerda, encara a descida sinistra ainda na rodovia, e antes de chegar à linha do trem envereda por uma rua esburacada sem nome. É o ponto final. “Tentei vir de carro mas não vale a pena. Na volta, o congestionamento que começa no viaduto novo [Leon Feffer] segue

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João Rocha Oliveira: “Não vale a pena ir de carro”. Ele pedala 40 km todo dia

até a [estrada] Portão do Honda e faz a viagem durar 50 minutos a mais. De bicicleta me estresso menos e ainda ganho em qualidade de vida”, afirma. Na rota utilizada por João Rocha, não existem

ciclovias nem ciclofaixas. Em nota, a Secretaria de Trânsito e Mobilidade Urbana informou que existem projetos de implantação de ciclovias e ciclofaixas na região, sem indicar qualquer data.

Número de usuários de bicicleta diminui entre universitários

aRISLY FRANCO

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Priscila Freire, do Depto. de Trânsito de Mogi: “cidade terá mais de 25 km de vias para ciclistas”

Arisly franco A quantidade de usuários que utiliza bicicleta como meio de transporte caiu. Segundo uma pesquisa feita com 85 alunos da Universidade de Mogi das Cruzes, somente 7% dos entrevistados utiliza bicicletas como meio de transporte. O principal motivo apontado pela maioria é o risco de acidentes de trânsito e a disputa entre bicicletas, motos e carros. Na pesquisa, foi questionado qual meio de transporte adotariam caso pudessem escolher. Mais de 55% considerariam usar a bicicleta pela economia e facilidade para guardar. “Se eu realmente tivesse segurança para vir para a faculdade e ir trabalhar de bicicleta, eu iria. Além de ser uma atividade física, eu economizaria

as despesas com gasolina ou com a passagem do trem”, afirma Priscila Santos de Paula, aluna do curso de Administração da UMC. Para Luís Henrique Pereira, do 2º ano do curso Sistema de Informação da Universidade Mogi das Cruzes, a situação é diferente. Ele vem todos os dias para a faculdade de bicicleta. “Se eu fosse depender de transporte público acabaria chegando atrasado na aula”, afirma. Para ele, faltam ciclofaixas e ciclovias em Mogi das Cruzes. A diretora do Departamento de Trânsito, Priscila Freire Silva, diz que algumas ciclovias e ciclofaixas já estão sendo implantados e ao todo serão mais de 25 quilômetros de vias especiais para ciclistas. A implantação faz parte do programa “Avança Mogi”.


dezembro || 2014

04 || moradia Prefeituras adotam medidas para combater invasões Sistema de monitoramento aéreo identifica mais de 300 áreas irregulares em Mogi das Cruzes fernanda fernandes

Prefeitura de Suzano promete programa de moradias populares Rubia Teles

» fErnanda fernandes a empresa que presta o Stefany leandro serviço é de R$ 272.784 por ano. “O projeto surgiu A prefeitura de Mogi em 2012 por causa do das Cruzes adotou um tamanho da cidade. A sistema de monitoramen- gente não consegue ir to aéreo para controlar fisicamente a todos os ocupações irregulares locais, daí a importância no município. Em 2013, do monitoramento aéreo”. o sistema identificou Nepomuceno revela problemas em 62 áreas; que o sistema também no primeiro trimestre contribui para o trabalho de 2014 foram flagra- da Defesa Civil, já que ajuda das sete invasões. Em a identificar a ocupação consequência, quase de áreas de risco antes 300 famílias foram reti- mesmo de as casas serem radas de algumas dessas construídas. “Tivemos regiões­, sendo que 38 casos pontuais, como ocupavam áreas que no Jardim Aeroporto, apresentam risco de onde 60 famílias vindas deslizamento. Os dados de São Paulo invadiram são da Secretaria Mu- uma área. Felizmente nicipal de Segurança. conseguimos impedir a Em maio, o sistema de ocupação”, revelou. monitoramento compleNepomuceno explitou dois anos de uso. De ca que se as famílias já acordo com o secretário tivessem construído as de Segurança, Eli Nepo- moradias, só poderiam muceno, o contrato com ser retiradas com ordem

Ocupação irregular em Jundiapeba. Monitoramento ajuda a evitar ações na Justiça

judicial. Para evitar que as áreas voltem a ser ocupadas, o monitoramento é rea­lizado periodicamente.­ “Também foram retiradas 38 famílias de áreas de risco de deslizamento nos bairros Botujuru, Jardim Margarida, Piatã e Residencial Itapeti”. No Jardim Lair, 108 famílias foram retiradas de áreas de ocupação irregular nos primeiros três meses deste ano. O serviço de monitoramento aéreo também contribuiu para que 36 famílias fossem retiradas do Rodeio e 40 da favela do Cisne. Jundiapeba Para conhecer a rea­ lidade de quem vive em condições irregulares, a equipe do Página UM esteve em Jundiapeba, na ocupação próxima ao

rio Jundiaí. Apenas uma pessoa aceitou conversar com a reportagem, sem, contudo, revelar a identidade. Proveniente de Guarulhos, a dona de casa de 53 anos afirma que entrou na invasão porque ficou desempregada e não podia pagar aluguel. Sem filhos e marido, ela recolhe papelão e outros materiais descartáveis para garantir pelo menos a alimentação. “Tive a chance de ir para um apartamento do ‘Minha Casa, Minha Vida’, mas não tenho renda mínima. Eles ainda não me amea­ çaram tirar daqui, mas sei que uma hora isso vai acontecer porque o lugar não é meu”, diz. A maioria dos moradores prefere não se manifestar, com medo de represálias.

Não é de hoje que Suzano sofre com invasões de áreas irregulares por pessoas da região, que se apropriam dos lotes de forma indevida com a justificativa de não possuírem moradia. Hoje, no município, existem cerca de seis mil famílias morando em áreas irregulares, conforme a administração municipal. Para tentar impedir as invasões, a prefeitura realizou 80 intervenções desde o começo do ano. Segundo a secretária de Assuntos Urbanos, Carmem Lúcia Lorente, Suzano conta com 14 agentes e quatro veículos dedicados à fiscalização de ocupações. Um dos casos mais recentes de desocupação ocorreu no bairro Miguel Badra, quando a demarcação de lotes para mais de 600 famílias foi impedida pela prefeitura. Após determinação do Ministério Público (MP) em 2006, o município criou um cadastro de moradias. Contudo, as soluções não foram imediatas. “Há alguns critérios que devem ser

considerados, como prioridade para financiamento e provimento de moradia popular, se a pessoa morava em local de intervenção pública para obras, renda familiar, se mora em área de preservação ou se for determinado pelo MP”, afirma a secretária. Atualmente, estão sendo construídas duas mil casas para famílias com renda de até R$ 1,6 mil, financiadas pelo programa “Minha Casa, Minha Vida”. Cerca de 1,2 mil pessoas que viviam em Área de Proteção Permanente (APP) aguardam as novas casas. Várias ocupações irregulares estão surgindo atrás do Centro de Detenção Provisória (CDP), na Vila Maluf. O desempregado que se identifica apenas como Xandy, reconhece o risco de ser retirado do local. “Sei que estou invadindo, mas não tenho para onde ir”, afirma. “Eu morava em Palmeiras, mas a prefeitura já me tirou de lá. Então achei esse pedaço de terra para levantar outro barraco”. Xandy divide dois cômodos de madeira com a esposa e o filho de 8 anos.


2014 || dezembro

moradia || 05 Famílias esperam decisão da Justiça sobre ocupação Moradores querem ficar na Chácara dos Baianos. Quase 1.000 famílias estão irregulares glaydston dias

Com 40% da área municipal ocupada irregularmente, Itaquá busca soluções marcus alexander

Itálo Guedes Marcus Alexander

» Glaydston Dias Lucas Babesco Parte das famílias que vive na comunidade Chácara dos Baianos, em Jundiapeba, Mogi das Cruzes, vive na expectativa de sofrer desapropriação. São 569 hectares, que correspondem a 5 milhões de metros quadrados, divididos em 414 lotes. O local abriga mais de 1,2 mil famílias, das quais 344 são produtores rurais. Os moradores e o dono da área invadida aguardam que a Justiça decida quem poderá permanecer no terreno e quem deve ser despejado. A dona de casa Rosana dos Santos, 26, mora no local há 20 anos, e tem esperança de continuar na área. “Que venha logo alguma decisão, seja pela Justiça ou pela prefeitura. Afinal, vivemos aqui há

muito tempo, construímos nossas vidas e não podemos deixar tudo para trás,” argumenta. As terras atualmente pertencem à Mineradora Itaquareia, que move na Justiça ação de reintegração de posse. “Até agora não tem nada certo. Gostaria que fosse decidido logo, mas fica esse impasse na Justiça porque a Itaquareia tem dinheiro e dificulta toda ação que possa nos beneficiar”, lamenta o comerciante Manoel do Livramento Lemos, 51 anos. Nem todos os moradores da Chácara estão irregulares. A situação dos chacareiros está resolvida. Eles lutaram por mais de duas décadas, até que em 2008 o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) desapropriou o local e garantiu a permanência

Falta de recursos impede que moradores contratem advogados

dos produtores rurais. Contudo, as famílias que não vivem da agricultura não foram contempladas pela decisão, que causou revolta em moradores como o comerciante Lemos, que se sente prejudicado inclusive profissionalmente.­ “Até agora o governo só olhou para quem tem dinheiro, como é o caso dos chacareiros. Já vivo aqui há muito tempo e não quero deixar meus filhos sem um canto para viver,” afirma. A reportagem do Página UM entrou em contato com a Mineradora Itaquareia, que enviou um histórico sobre a ocupação através do advogado Nilson Franco de Godoi. Segundo a empresa, a ocupação é irregular e as famílias ocupam área de mananciais pertencentes a ela.

A cidade de Itaquaquecetuba realizou, neste ano, um levantamento das áreas de risco e invadidas. Hoje o município registra 40% da sua área ocupada de forma irregular. A prefeitura já estuda possíveis soluções para resolver o problema habitacional, com projetos que ainda estão sendo elaborados. A Secretaria de Habitação anunciou que cerca de 1.800 famílias serão retiradas de áreas de risco e encaminhadas para as moradias construídas pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). Outra alternativa é o programa “Minha Casa, Minha Vida”, do governo federal. A secretaria também pretende implantar o aluguel social, que é um beneficio dado às famílias para pagar o aluguel durante seis meses. Contudo, o aluguel social só poderá ser liberado quando já houver definição quanto ao destino posterior das famílias. A solução provisória foi anunciada pelo prefeito Mamoru Nakashima, durante um

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Prefeitura acredita que medidas beneficiarão 500 famílias

evento de apresentação de projetos. Embora não tenha previsão de custos, nem de início para obras dos conjuntos habitacionais, o prefeito afirmou que as providências estão adiantadas. A cabeleireira Neide Quaresma, moradora do Jardim Canaã, tem esperança de conseguir uma moradia definitiva. “Acredito que as coisas vão melhorar. Não tenho condições de comprar uma casa de outra forma. Moro aqui há três anos”, afirma. Para o aposentado Francisco Carlos de Almeida,

morador do bairro Canaã há aproximadamente 10 anos, as soluções apresentadas pela prefeitura até agora têm falhas: “Eles estão investindo muito pouco. Tem muita gente vivendo por aí em terrenos invadidos”, declara. A assessoria de imprensa da prefeitura anunciou que a administração municipal está tomando medidas para a regularização das áreas invadidas. “Duas já foram regularizadas, nos bairros Quinta da Boa Vista e Jardim Americano. Agora será a vez dos bairros Canaã e Morada Feliz”.


dezembro || 2014

06 || comportamento Tecnologia facilita ensino, mas acesso ainda é limitado Para driblar carências, alunos utilizam smartphones pessoais para enriquecer o aprendizado Rogério joão

Tecnologias dominam pesquisas escolares, mas bibliotecas contam com público fiel CAIO ROCHA

CAIO ROCHA

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Helora, 18 anos, garante que aprende mais quando estuda com apoio de recursos tecnológicos

Josuel Silva Rogério João O processo de ensino-aprendizagem passa por uma rápida mudança. O desafio do momento é apresentar o conteúdo de forma lúdica e interessante. Há várias tentativas neste sentido, sendo que boa parte tem em comum o uso de novas tecnologias para a educação. Na esfera pública, o Ministério da Educação lançou em dezembro de 2007 o Prolnfo (Programa Nacional de Tecnologia Educacional),para promover o uso da tecnologia nos ensinos fundamental e médio. A iniciativa esbarra na burocracia, uma vez que cabe aos governos estaduais e municipais providenciar as condições necessárias para a implementação da ferramenta.

Em algumas escolas particulares, geralmente mais dinâmicas e menos burocráticas, a atualização já aconteceu. “A tecnologia torna mais interessante o aprendizado. Os recursos que encontro na escola são os mesmos que tenho no meu cotidiano”, revela Helora Hanna Watanabe, 18 anos, aluna do ensino médio no Colégio Raízes, de Mogi das Cruzes. Atualmente, o próprio YouTube comanda um canal intitulado “YouTube Educação”, em parceria com a Fundação Lemann. O canal possui atualmente mais de 100 mil inscritos e tem sido uma alternativa para estudantes, principalmente de escolas públicas. A diversidade do aprendizado tem despertado a atenção dos especialistas. De acordo com o Instituto de Pesquisa Energéticas e

Nucleares (IPEA) e o Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec), as tecnologias permitem a aprendizagem de formas diferentes. A exemplo da lousa digital em três dimensões (3D), professores podem elaborar aulas interativas, como, por exemplo, ao revelar o interior de uma célula, o relevo de um mapa, ou até mesmo os músculos humanos. Para Deise Ébole Caselle, professora de Sistemas de Informação na Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), a educação inovadora facilita a interatividade no aprendizado e no desenvolvimento. do aluno “A tecnologia veio para agregar valor ao ensino. O perfil do aluno hoje é de interatividade constante com esses meios, e isso não pode ser desconsiderado”.

A tecnologia traz avanços e leva pessoas a mundos antes inimagináveis. Nos dias atuais, é raro ver crianças brincando como ioiôs e bonecas. O mais comum é vê-los integrados ao mundo de jovens e adultos por meio da informática, explorando tablets e smartphones de última geração. Os equipamentos, por vezes, substituem os livros e o hábito de frequentar espaços apropriados para consultas e leitura, como as bibliotecas, por exemplo. A internet oferece respostas rápidas, o que facilita a pesquisa de todos os temas. Mas, mesmo com a tecnologia, muitas pessoas ainda preferem as bibliotecas. Em Jacareí, a Biblioteca Pública conta com usuá­ rios fixos que, apesar de disporem de notebooks e smartphones, não abrem mão dos livros físicos. É o caso da estudante de arquitetura Sara Almeida, que diz ter verdadeira paixão pelos livros. “O papel é fascinante, por isso prefiro os livros impressos”, afirma.

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Apesar dos tablets e smartphones, alguns alunos não abrem mão de livros impressos

Casos como o da estudante de arquitetura não surpreendem a bibliotecária Iris Gonçalves. Na opinião dela, a tecnologia não supera o prazer de ler um livro ou de pesquisar. “Muita gente ainda utiliza a biblioteca”, garante. O adolescente Enzo Alves Santos, estudante do ensino médio da rede pública de Jacareí, sempre recorre a bibliotecas. “Quando os professores pedem para pesquisar

eu vou à biblioteca porque é mais completa. Os professores não gostam de textos tirados da internet”, explica. Já Rebeca Fernandes, estudante de Direito, gosta dos livros impressos, mas acaba fazendo pesquisas na internet pela praticidade. “A vida de estudante e estagiária é corrida”, justifica. “Mas sempre que posso frequento a biblioteca da universidade”, garante.


2014 || dezembro

comportamento || 07 Novas formas de aprendizagem seduzem estudantes Embora muitos ainda prefiram livros impressos, e-books ganham espaço nas universidades MARINA ALENCAR

daniela pereira marina alencar Com o constante avanço tecnológico, as formas de leitura e pesquisa ficaram ainda mais dinâmicas e acessíveis. Dentre as principais possibilidades digitais estão e-readers como o Kindle e formatos como o ePub, Mobi e até mesmo o PDF, que permitem o acesso a livros e materiais didáticos de forma mais prática e barata. Uma pesquisa realizada para a empresa de consultoria de estratégias e gestão OThink, revela que apesar da pressão sobre a diminuição no uso de papel nos próximos anos, 52% da população brasileira ainda acredita na utilização do material na fabricação de livros, revistas e jornais. A pesquisa foi realizada com cerca de mil pessoas, no final de 2011. Este dado deixa claro que, apesar do constante avanço dos meios digitais, os livros físicos ainda são preferidos por boa parte dos leitores. Na opinião da livreira Gislene Godói, o papel não vai entrar em declínio. “Há muita gente que não gosta dos livros digitais, especialmente idosos que preferem pegar o papel, ter o livro na mão. Esse público tem um

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Kátia Cristina considera o custo como um dos fatores, mas não o principal. A redução de volumes e a consciência ambiental também pesam na escolha

perfil mais conservador. A maioria das pessoas que prefere o livro em papel nutre um forte sentimento de posse pelo livro e tem enorme prazer de folhear as páginas”. Por outro lado, a pesquisa aponta ainda que 33% da população aposta que até 2050 o papel como suporte de impressão deve desaparecer. Além da preocupação com o desmatamento, o custo-benefício é mais favorável aos e-readers. “Os livros de determinados cursos são muito caros, aí as pessoas acabam preferindo a versão digital”,

afirma Gisleine. Além disso, segundo a livreira, a praticidade e a facilidade de manuseio também pesam na escolha.

A estudante Kátia Cristina Oliveira, 34, é adepta dos meios digitais. Ela afirma que a consciência ambiental e a praticidade para

Livros digitais são confiáveis? JÚLIA FIGUEIREDO A demanda por equipamentos digitais de leitura segue em de crescimento, o que encoraja a indústria a avançar cada vez mais em projetos inovadores. Contudo, a expansão tecnológica têm frequentemente colocado

em discussão a segurança das informações disponibilizadas aos usuários. Na dúvida, alguns preferem se manter fiéis ao bom e velho papel. Uma pesquisa rea­lizada em 2013 pela agência londrina Voxburner­revela que 62% dos jovens

manusear e transportar são os fatores determinantes na escolha. “Ler num dispositivo é até mais agradável do que no papel. O dispositivo é adaptado para que você tenha o maior conforto visual possível, permite acesso a várias obras literárias ou acadêmicas e ao mesmo tempo, possibilita organizar seus livros por assunto, autor, além de ser muito mais fácil de carregar”. Nas instituições de ensino, a tecnologia tem sido uma grande aliada na aprendizagem dos alunos. A pedagoga Sandra Regina Coelho, de Suzano, destaca como a tecnologia pode contribuir com a formação dos alunos na sala de aula. “Alguns anos atrás, a utilização de celulares na sala era proibida. Hoje, o governo incentiva a

inovação pelo uso de dispositivos digitais. Algumas escolas particulares fornecem smartphones e tablets aos alunos. Com o passar dos anos, todo o ensino terá que se adaptar às inovações tecnológicas, e usá-las a favor do aprendizado em pesquisas que atuem como complemento do que é transmitido pelo professor em sala de aula”. Mesmo com os meios digitais em evidência, a educadora frisa a importância de incentivar o hábito da leitura. “O professor deve sim estar aberto ao uso dos meios digitais, mas precisa incentivar o hábito da leitura. Ele permite desenvolver a imaginação, a escrita, enriquece o vocabulário e a linguagem diferenciada, entre outros benefícios”, declara Sandra.

Usuários se preocupam com segurança das informações ainda preferem livros impressos. O técnico em informática Thiago Carvalho, 29 anos, é um deles. Dono de um dos e-readers mais festejados mercado, o Lev, Thiago testou a praticidade do aparelho e acabou voltando aos livros físicos que haviam ficado na es-

tante: “Gostei muito das especificações técnicas do produto, mas sinto mais segurança tendo o livro nas mãos. Pode até ser que a capa rasure, mas ainda terei o livro para ler quando quiser. No e-reader corro o risco de a qualquer momento perder tudo o que baixei”, afirma.


dezembro || 2014

08 || esportes Voleibol ainda é visto como “esporte de mulher” Jogadores mogianos relatam “piadinhas” e preconceito. Veteranos dizem que já foi muito pior maria máximo

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Atletas lamentam demonstrações de preconceito vindas da torcida. Técnico Nilson Amaro garante que internamente não há problemas

Gabriela Oliveira, (MG) durante uma partida da Superliga, em 2011. Marcelo Souza Maria Máximo A torcida inteira gritou “bicha” várias vezes, Não é apenas no em referência à opção futebol que os atletas sexual do atleta. O jogo sofrem com racismo, foi transmitido para o homofobia e outros tipos país inteiro, porém a de preconceito. No vôlei agressão só chegou ao também há problemas, conhecimento da Fedeprincipalmente por parte ração porque o jogador da torcida. Os últimos fez a denúncia. O juiz da episódios a ganhar visi- partida não mencionou bilidade na imprensa até o incidente na súmula. hoje marcam o esporte Outro incidente preno Brasil. O ex meio de conceituoso aconteceu rede do time Vôlei Fu- em 2012, com o oposto turo, Michael Santos, foi do Sada/Cruzeiro, Wallace hostilizado em Contagem de Souza. Ele foi xingado

de “macaco” por uma torcedora. O jogador do Vôlei Mogi, Alan Mariano, 20, diz que o preconceito atinge mais os homossexuais, mas mesmo sendo heterossexual, ele já foi alvo de piadas homofóbicas. “Sempre acontece uma brincadeira ou aparece alguém para dizer que vôlei é esporte de mulher”, relata. Bruno Feliciano Jorge, 20, líbero do Vôlei Mogi, acredita que a sociedade está evoluindo, porém a mentalidade das pessoas

ainda precisa de mudanças. “Alguns tabus estão sendo quebrados e caiu bastante o conceito de que o vôlei é esporte para mulheres e homossexuais. Mas existem coisas que precisam melhorar. Muitas meninas que jogam futebol são consideradas lésbicas por causa do esporte”. O educador físico da equipe mogiana, Nilson Amaro, 58, pratica vôlei desde os 14 anos. Ele conta que na época o vôlei masculino era tratado como esporte para gays. “Havia, sim, um certo preconceito e distanciamento do pessoal que jogava o vôlei, talvez não tão ostensivo quanto aquele episódio do Vôlei Futuro”. Se por um lado a manifestação de preconceito surge geralmente na torcida, no time de Mogi os jogadores se unem e não toleram esse tipo de atitude. “Temos três negros na equipe e até hoje eles não encontraram problemas com outros jogadores nem com a comissão técnica. Além disso, o nosso time conta com atletas homossexuais. Ninguém sofre nenhum tipo de retaliação interna. O que importa para nós é o comportamento e a eficiência dentro de quadra”, garante Amaro.

Xingamentos revelam intolerância no futebol “Manifestações racistas ocorrem diariamente no Brasil. Só que a maioria delas não ganha destaque nos noticiários” Natan Lira A Copa do Mundo de Futebol e as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016 atraíram olhares para o esporte e o que se viu é que o preconceito aumentou. Cada vez mais, pessoas diferentes são tratadas como se fossem de outro mundo. O caso mais recente envolve o goleiro Aranha, do Santos, xingado de “macaco” e de “preto” num jogo contra o Grêmio, em Porto Alegre. Diversos jogadores brasileiros sofrem discriminação racial em outros países, como Roberto Carlos, na Rússia, contra quem foram jogadas bananas num jogo em março deste ano. Não tem como esquecer também o ocorrido no jogo entre Brasil e Colômbia, durante a Copa, quando o zagueiro Juan Zúñiga

foi alvo de centenas de insultos após cometer falta em Neymar. Na internet, foi chamado de “macaco”. Ironicamente, antes do apito inicial daquela partida, os jogadores brasileiros e colombianos posaram com uma faixa na qual se lia a mensagem “Say no to racism” (“Diga não ao racismo”). Para o sociólogo Afonso Pola, nas últimas décadas do século passado começou a ser desconstruído o mito da democracia racial no Brasil, e ultimamente esses casos acontecem diariamente.­“O futebol é muito popular. Quando vira palco de atos racistas, estes são amplamente noticiados”, analisa. Ele ressalta que as últimas análises da realidade brasileira mostram o quanto persistem preconceitos raciais.


2014 || dezembro

esportes || 09 Preconceito contra atletas prejudica futebol feminino Jogadoras abandonam o esporte cansadas da homofobia que atinge até heterossexuais ai/prefeitura de bebedouro

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Preconceito contra jogadores está presente em todas as competições e não poupa nem quem se declara heterossexual, como Joyce Teodoro, 19 anos (abaixo), atleta de Bebedouro, SP

Beatriz Barros Luiza Valente O futebol é uma prática que vai além do esporte para os brasileiros, é uma paixão nacional. É possível ver crianças jogando e adultos fazendo de seu happy hour uma grande partida. Mas não é uma atividade apenas para meninos, meninas também sonham em ser jogadoras de futebol e começam desde pequenas a treinar. Porém, para essas garotas há uma dificuldade adicional para realizar o sonho de jogar futebol: é necessário vencer o olhar preconceituoso que considera que todas são lésbicas. Nem todas são, e mesmo quem assume a homossexualidade não gosta do preconceito. Ve-

rônica Marques, 18, não está jogando atualmente porque sofreu um acidente em campo, mas ela fazia parte da equipe sub-20 da Associação Mult-Força/ Palmeiras, de Guarulhos. Filha de técnico de futebol, desde muito nova sonhava ser jogadora. “Comecei cedo” conta Verônica. Homossexual assumida, a jovem diz que não se importa com o preconceito, mas admite que o tema é tabu e que algumas jogadoras sofrem com a situação. “As pessoas são muito mal acostumadas e não têm disposição para entender coisas com as quais não concordam. Joyce Theodoro, 19, joga atualmente no time de futsal feminino Unifafibe de Bebedouro, São Paulo. A atleta mora no alojamento do clube e diz que isso

reforça os preconceitos quanto à sua opção sexual. “Sou heterossexual, nunca me interessei por mulher, mas a discriminação existe

também no time em que jogo. Sofro preconceito, mas sou a prova de que não é pelo fato de jogar futebol que não podemos ser hétero”, afirma a pivô. De acordo com a jogadora, o técnico pede para que elas se respeitem, mas não se aprofunda sobre a questão da orientação sexual das atletas. Emily Alves da Cunha Lima lidera a Seleção Brasileira de Futebol Feminino sub-17 desde 2013 e tem experiência com o tabu do esporte praticado por meninas. A técnica e ex-jogadora explicou que muitas meninas deixam de jogar futebol e procuram outros esportes, pelo receio de serem julgadas como homossexuais. “O fato de algumas jogadoras serem gays não muda em nada o tratamento que eu dou a elas. As meninas respeitam o local de trabalho como todo mundo”, ressalta Emily. Ainda de acordo com a técnica, as jogadoras ficam chateadas e se sentem desincentivadas com o preconceito. “Muitas delas faltam no treino porque estão chateadas demais com o mundo. Mas no outro dia, elas voltam e esquecem os problemas fazendo o que mais amam: jogar futebol”, afirma Emilly.

Para praticar MMA, mulheres têm que nocautear intolerância ARQUIVO PESSOAL

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Elder Nascif e Camila Santos Maia: “o respeito tem que prevalecer”

MARIA JAISLANE Camila Santos Maia, 25, pratica Jiu-Jitsu há dois anos. Apesar de cada dia mais mulheres se dedicarem às artes marciais, ela sente na pele o preconceito de quem acha que ela atua num esporte masculino. “Por eu ser a única atleta mulher da academia a competir profissionalmente, de vez em quando tenho que ouvir algumas “gracinhas”, revela. às vezes o preconceito se esconde atrás de brincadeiras ou apelidos, como o que deram a Camila. “Me chamam de Camilão, talvez por eu ser grande e lutar com homens. Mas nem ligo mais”, garante. O preconceito não

adota como alvo apenas as diferenças de gênero. Segundo o professor de MMA e lutador de Jiu-Jitsu Elder Nascif, 29 anos, embora as artes marciais ensinem o respeito ao próximo e a tolerância, sempre tem alguém que demonstra algum preconceito. “Nunca presenciei aqui na minha academia, mas em outras já vi bullying contra pessoas acima do peso, homossexuais e até mesmo contra mulheres que praticam artes marciais”. Nascif afirma que o preconceito tem diminuído lentamente, mas ainda acontece de durante as competições a plateia se manifestar com xingamentos e expressões inadequadas.


dezembro || 2014

10 || lazer Falta criatividade aos bares mogianos Ausência de inovações caracteriza opções da cidade Fernanda Nascimento

Mogi tem balada roqueira, sim senhor! As preferidas ficam no centro CAROLINE XAVIER

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Casas de rock mogianas não agradam a todos. Fãs mais fiéis preferem a Capital

CAROLINE XAVIER Alguns bares até se esforçam, mas acabam oferecendo mais do mesmo

Fernanda Nascimento Sexta à noite, fim de ano, verão chegando. Cenário propício para uma cervejinha com os amigos para descontrair um pouco e começar bem o fim de semana, não é? Parece que muita gente pensa assim. Além bares velhos conhecidos dos estudantes, como ‘Amarelinho’, ‘Bar do João’ e ‘Bar da Tia’, há outros voltados para um público mais seleto, caso do ‘Cantagalo’ e ‘Soho’, também próximos à Universidade de Mogi das Cruzes, e o ‘Norival Bar’, na praça Norival Tavares. As tradicionais mesas de madeira, música ao vivo e alguns itens de decoração para criar um ambiente aconchegante em qualquer bar que preze

o nome, é um padrão seguido também em Mogi. O público comparece assiduamente e mantém fidelidade ao endereço favorito, mesmo que isso signifique beber sempre a mesma cerveja e comer sempre o mesmo aperitivo. Para se diferenciar algumas casas buscam referência em marcas consagradas, com maior ou menor sutileza. O ‘Cantagalo’, por exemplo, faz citação direta à cebola empanada da rede australiana ‘Outback’. A diferença se limita ao nome da iguaria, que no bar mogiano deve ser pedida pelo inusitado “In Back”. O bar também copia o bauru do ‘Ponto Chic’, receita original do bar e restaurante localizado no Largo do Paissandu, em São Paulo, onde em 1936 o sanduíche foi inventado.

Apesar do esforço, os barzinhos de Mogi não se destacam e continuam­ oferecendo mais do mesmo. Em São Paulo, vários bares se especializaram na cultura cervejeira. É o caso do ‘O Pescador’, da região da Consolação, que promove cervejas artesanais de fabricação própria durante a semana, com desconto para quem pedir o chopp duplo. Outro destaque é o ‘Capitão Barley’, no bairro Pompeia, que serve apenas cervejas especiais ou importadas. Outra grande tendência são os food trucks (comida de caminhão, em tradução livre), que oferecem pratos inovadores para os cardápios de sempre. O objetivo é ter uma cozinha itinerante, permitindo que pessoas de localidades diferentes conheçam a marca

e provem do cardápio. Quem é fã de coxinha, por exemplo, pode experimentar o petisco no sabor camarão, queijo e, quem diria, leite condensado e nutella! O ‘Só Coxinhas’ é especializado no salgado e traz inovações no cardápio. Para atender os entusiastas, foi criado até um estacionamento para os caminhões, o Butantan Food Park, no bairro Butantã, que reúne alguns dos maiores food trucks de São Paulo. O ‘Capitão Barley’ também pegou carona nessa moda e convida um food truck diferente a cada fim de semana para ficar estacionado em frente ao bar e servir os clientes. Nenhum deles estacionou em Mogi ainda, mas tenhamos a esperança de que logo a tendência chegue aqui.

Mogi das Cruzes tem uma grande variedade de baladas e bares. A cidade é a melhor opção do Alto Tietê para quem procura vida noturna agitada, até para quem curte rock n’roll. Os points mais conhecidos e favoritos dos roqueiros de plantão são o ‘Buxixo’ e a ‘Garagem 141 Music Bar’, ambos na Vila Oliveira. O cardápio musical das casas oferece extensa variedade de sons, de covers de bandas consagrados até composições próprias. O gerente de projetos João Valiante, morador do bairro Cocuera, diz que geralmente opta pelas baladas de Mogi. “É mais perto, a locomoção é mais fácil e me sinto um pouco mais seguro do que em São Paulo”. Outra boa alternativa à cena paulistana é o “Rock no Parque”, que acontece no segundo domingo do mês no Parque Max Feffer, em Suzano. E o melhor: é na faixa. Desde abril, o evento reúne em média duas mil pessoas por edição, segundo dados da Secretaria Municipal de Esportes, Recreação e Lazer. O parque está localizado na avenida Tere Nigri, s/n°, Cidade Cruzeiro do Sul, em Suzano. Em todas as casas, prevalece o pop rock. Quem gosta de rock mais alternativo tem que ir para a capital. Em endereços como o ‘Hangar 110’, ‘Manifesto Rock Bar’ e ‘Kazebre Rock Bar’, sempre há shows com bandas nacionais e internacionais de rock alternativo; já no ‘The Wall’, ‘Stones Music Bar’ e no ‘Morrison Rock Bar’, apresentam-se covers de ótima qualidade. O promotor de vendas Marcelo Reis, morador do bairro Ponte Grande, não tem dúvida: “São Paulo é como se fosse outro mundo. Lá as opções para roqueiros são 100 vezes maiores que aqui”.


2014 || dezembro

lazer || 11 Casas lotadas não deixam dúvida: o sertanejo mora aqui Com o estilo mais popular da região, casas do gênero mantêm público fiel em Mogi MARCELA VILELLA Mogi é o ‘Rancho VacaLoGABRIELA FEREIRA ca’. “Eu acho o ambiente agradável, tem pessoas de Em Mogi das Cruzes, todas as idades”, afirma cidade interiorana, a música Larissa Santato, 19 anos, sertaneja está presente que diz ter encontrado tanto na vida dos jovens “a cidade toda” no local. quanto na dos adultos. Já a estudante Marcela Apesar da proximidade Telacio, 24 anos, destaca com São Paulo o público a segurança e garante que encontra opções de entre- nunca viu sequer uma briga tenimento aqui mesmo. dentro do Rancho. Ela Badaladas de músicas ainda elogia os shows e o sertanejas como ‘Estância preço. “O lugar é arejado Nativa’ e ‘Alto da Ser- e amplo, rústico como ra’ são as mais famosas pede uma boa balada na Grande São Paulo. sertaneja, sempre com Contudo, os mogianos e ótimas bandas, ainda moradores das cidades surpreende com shows vizinhas não precisam ir maravilhosos de duplas tão longe. Em pesquisa sertanejas em alta na online com 32 pessoas, mídia, e o preço é super 50% dos entrevistados, acessível”. Se o ‘VacaLoca’ não de 18 a 35 anos de idade, acredita não ser necessá- agradar, a ‘Pink Elephant’ rio ir a São Paulo para se realiza festas sertanejas divertir, apesar de sentir todas as sextas. São as falta de mais opções de chamadas “Pinknejas”. As casas ficam em difebaladas sertanejas. Uma das opções em rentes pontos da cidade:

Fernanda Nascimento

» enquanto o ‘VacaLoca’ fica na saída para Guararema, a Pink fica no centro. “O espaço da Pink é mais chique e o Vaca mais rústico”, diz

Jéssica Morata, 21 anos. Ela prefere o Rancho e a escolha não é influenciada pelo custo, já que as casas têm preços equivalentes. Quem frequenta só a

Sertanejo é um dos estilos mais populares da região. Baladas do gênero são as mais lotadas

Pink, como Juliana Souza, 26 anos, diz que a casa costuma receber um público de classe social mais alta. “Eu gosto da Pink porque o público

é melhor, mais bonito, vai mais universitários e gente de classe social mais alta. A única desvantagem é que a Pink é menor”, afirma.

No universo eletrônico, não faltam opções de baladas em Mogi Jéssica Almeida Elephant’ e a ‘Up’, baladas THAYANA ALVARENGA declaradamente eletrônicas, mas que misturam Música eletrônica é outros estilos de acordo sinônimo de balada, e com a noite. as casas noturnas desse A estudante de raestilo musical são as mais diologia Camila Vasconfáceis de encontrar em celos, 21 anos, adora quase todos os lugares. sair nos fins de semana Em Mogi das Cruzes, as para ouvir esse tipo de opções mais populares som. Para ela, não há são a ‘The Club’, ‘Pink necessidade de ir a São

Paulo, já que o lazer pode ser encontrado aqui mesmo. “Não tem um fim de semana que eu fique em casa, porque gosto bastante de ir às baladas, principalmente eletrônicas. Eu não tenho carro, então saindo aqui por Mogi consigo garantir meu lazer com mais facilidade”, diz.

O DJ Victor Benetton, 23 anos, começou a tocar em Guararema, no antigo Cais do Porto. Atualmente ele toca em baladas alternativas em São Paulo, como a ‘Game Over’. Apesar de acreditar que a música eletrônica ainda é um dos principais estilos da balada, ele acha que ela

tem perdido espaço. “O funk está se espalhando em quase todas as casas noturnas. É difícil ir a uma balada que não toque funk. Eu mesmo toco eletrônica a maior parte da noite, mas o funk é muito pedido, então virou tendência entre os DJs mesclar os estilos”, revela.

Segundo Victor, para quem curte música eletrônica, Mogi oferece boas opções. “Com a tendência de mesclar eletrônica com outros estilos, especialmente funk e sertanejo, que são os mais populares, não é necessário sair de Mogi para encontrar uma boa balada”, afirma.


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