Página UM 91

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Não sabe brincar de pique niedja araújo

mas configura wi fi para a mãe As crianças já não são como antes. Desconhecem totalmente brincadeiras ao ar livre, mas são craques em aparelhos eletrônicos. Quais as consequências? Leia na página 13.

Bikes são a solução. Falta de mobilidade chega às cidades pequenas Guararema tem 30 mil habitantes, muitos carros e pouco espaço para se locomover. A realidade das grandes metrópoles chega às cidades pequenas e exige ações do poder público. Página 7

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Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes ||| Produzido pelos alunos do 3º período ANO XVI ||| NÚMERO 91 ||| JUNHO de 2015 ||| DISTRIBUIÇÃO GRATUITA ||| paginaum@umc.br

Será que vai chover? A crise da água é preocupante. No Alto Tietê, adquire contornos ainda mais dramáticos porque boa parte da economia da região está ligada à produção de hortifrutigranjeiros – setor fortemente prejudicado pela seca. Segundo a Casa da Agricultura de Biritiba Mirim, no primeiro trimestre deste ano as perdas de receita oscilaram entre 25% e 30%. Página 5

Desmatamento contribui para a escassez da água

“Se não houver recomposição da vegetação, com certeza o cenário não vai melhorar”, alerta o ambientalista Helder Wuo. Página 5

Crescimento de Mogi ameaça meio ambiente

Segundo o IBGE, em um ano a cidade cresceu 4,65% e já ultrapassa 400 mil habitantes. Quem mais sofre é o meio ambiente. Página 6

Associação oferece cursos de permacultura

Cursos oferecidos em Santa Isabel visam uso mais sustentável dos recursos naturais por meio da apicultura, bioconstrução e olericultura. Página 6


Junho || 2015

02 || opinião artigo

editorial

O 5 de junho exige mudança radical de comportamento Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo, da Universidade de Mogi das Cruzes

ANO XVI – Nº 91 JUNHO | 2015 Fechamento: 28/05 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Avenida Doutor Cândido Xavier de Almeida Souza, 200 – CEP: 08780911 – Mogi das Cruzes – SP Tel.: (11) 4798-7000 E-mail: paginaum@umc.com.br * * * O jornal-laboratório Página UM é uma produção de alunos do curso de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), no contexto do Projeto Superação (Patamar Exercer), em conformidade com o Projeto Pedagógico do curso. Esta edição foi produzida pelos alunos do 6º período. Professores orientadores: Prof. Elizeu Silva – MTb 21.072-SP (Edição e Planejamento Gráfico); Profa. Agnes Arruda (Textos); Prof. Sérsi Bardari (Textos). Projeto gráfico: (Alunos do curso de Design da UMC) Felipe Magno, Fernanda Roberti, Rafael Santana, Gabriel Aparecido e Rian Martins. Orientador: Prof. Fábio Bortolotto * * * UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES – UMC Chanceler: Prof. Manoel Bezerra de Melo Reitora: Profª. Regina Coeli Bezerra de Melo Vice-Reitora: Roseli dos Santos Ferraz Veras Pró-Reitor de Campus (sede): Prof. Claudio José Alves Brito Pró-Reitor de Campus (fora da sede): Prof. Antonio de Olival Fernandes Diretor Administrativo: Luiz Carlos Jorge de Oliveira Leite Coordenadora dos Cursos de Design Gráfico, Jornalismo e Publicidade e Propaganda: Prof. Ms. Agnes Arruda

Lá se vão 43 anos desde que em 5 de junho de 1972 os principais líderes mundiais se reuniram pela primeira vez para discutir os impactos da atividade humana sobre o meio ambiente. Na Conferência de Estocolmo, Suécia, o modelo global de desenvolvimento baseado no consumo de produtos industrializados pela primeira vez foi formalmente colocado em xeque. A data foi incorporada às efemérides mundiais como Dia do Meio Ambiente. Quatro décadas depois, boa parte das propostas foi esquecida e os prognósticos mais ameaçadores estão se confirmando numa sucessão estarrecedora. Em 2012, a representante especial da ONU para Redução de Desastres, Margareta Wahlström, calculava que entre 1990 e aquele ano, 1,3 milhão de pessoas havia perdido a vida em razão de desastres climáticos. Os prejuízos financeiros ultrapassavam os US$ 2 trilhões. Só para mencionar algumas tragédias que ganharam maior destaque na imprensa em 2011, no Japão 13 mil pessoas perderam a vida por causa de um tsunami; na região serrana do Rio de Janeiro outras 600 pessoas morreram devido a deslizamentos de terra causados pelo excesso de chuvas; a seca no leste da África levou à fome absoluta 3,7 milhões de pessoas, as enchentes na Tailândia deixaram um rastro de mortes e destruição. As informações foram publicadas pelo UOL por ocasião da Conferência Rio+20, ocorrida em 2012. A sociedade tem diante de si o grande desafio de equacionar a necessidade de desenvolvimento com a preservação e a recuperação do meio ambiente. Talvez um desafio ainda maior seja o de conscientizar as pessoas da parcela individual de culpa na falência ambiental global e que as soluções dependem, basicamente, de uma tomada de posição individual. A urgência do tema inspira as matérias desta edição do Página UM, produzida pelos alunos-repórteres do 3º Semestre do curso de Jornalismo da UMC, que foram a campo cientes de que as questões ambientais não estão limitadas a um campo específico, mas talvez mais que qualquer outro tema, perpassam todas as esferas da vida e exigem mudança radical de comportamento.

•DA COORDENAÇÃO•

O ciclo da vida: versão Página UM Agnes Arruda* Produzir um jornal não é fácil. Até o caderno que está em suas mãos de fato estar disponível para leitura, há um extenso percurso. No caso do Página UM, funciona mais ou menos assim: os professores-editores se reúnem entre si e definem a temática das edições; em seguida, eles se reúnem com os alunos-repórteres – no caso, a turma do 3º JOR, manhã e noite – e discutem com eles as pautas relacionadas às temáticas definidas. Em seguida, os alunos-repórteres vão para a rua, onde as histórias serão apuradas. Depois da apuração, ele volta para a redação, escreve a matéria e seleciona as fotografias que melhor representam visual­ mente aquele texto. O professor-editor lê e faz os apontamentos necessários para que o conteúdo realmente diga alguma coisa ao público que ele se destina. O aluno-repórter então faz a revisão e o professor-editor finalmente dá o OK para que o texto

seja publicado. Fim do processo? Não é bem por aí. Antes dos textos serem diagramados nas páginas, eles são publicados na versão online do Jornal, disponível no seguinte endereço: www.pagum.wordpress. com. No ambiente, o conteúdo está disponível para a leitura tal qual a versão final do aluno-repórter; sem cortes. A ideia é, além de deixar o Página UM mais dinâmico, expandir o trabalho desses alunos para além dos portões da Universidade. E só então a partir do #PAGUM que os textos para a versão impressa são selecionados, diagramados e, finalmente, impressos para leitura. Ufa! Um trabalho e tanto que se repete a cada bimestre letivo, a cada ano. E por que isso é importante? Oras! É com o Página UM que os alunos têm a oportunidade de experimentar na prática aquilo que aprendem em sala de aula. É por meio dessa experiência que os alunos sentem o calor das ruas, se envolvem com as histórias das fontes, riem, choram, se

emocionam... E sentem o drama que é ter sua matéria de 5 laudas diminuídas a poucas linhas para poder caber na página... Pegam ônibus errado, entrevistam gente que não para de falar... E gente que não fala nadinha; gente rhyca, gente humilde, gente de gabarito e gente daquelas que ninguém nem dá nada... Mas que surpreende na hora do olho no olho. A missão do jornal-laboratório é fazer com que esses alunos-repórteres coloquem cinco sentidos a serviço do Jornalismo responsável, ético, de qualidade. Tato, olfato, paladar, audição e visão aguçados, sempre prontos para a próxima cobertura, prontos para a próxima edição. E nós continuamos nesse ciclo, agora também online, na nossa missão de formar e informar. C’est la vie. *Professora-coordenadora dos cursos de Design Gráfico, Jornalismo e Publicidade e Propaganda da UMC. E-mail: agness@umc.br.


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Falta de qualificação reduz chances de emprego Mais de 1700 trabalhadores foram demitidos em 2014 no AT; empresários cobram formação LETICIA RIENTE

CAROLINA KIUCHI JENNIFER OLIVEIRA LETICIA RIENTE REGIANE BARROS Em 2014 a taxa de desemprego sofreu elevação no Alto Tietê. Segundo uma pesquisa publicada pelo Centro de Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP), mais de 1700 trabalhadores perderam seus postos de trabalho. O setor da indústria foi o mais prejudicado. Em diversos casos o corte de funcionários se deve à queda do faturamento, o que torna excessivamente alto o custo da mão-de-obra para as empresas, obrigando-as a reduzir o quadro de funcionários. Outra causa apontada pela pesquisa é a falta de qualificação dos trabalhadores. Rodrigo Marques, impressor desempregado há dois meses, diz que a concorrência para as vagas é grande. Ele acredita que cursos profissionalizantes aumentam as chances na hora da seleção. “Há muita concorrência para uma única vaga ou o salário oferecido não atende minhas necessidades. O certificado agrega valor ao currículo.” Visando mudar esses números e alavancar as contratações, o governo do Estado e as prefeituras da região iniciaram, em

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2015, uma grande oferta de cursos de qualificação profissional. Em Mogi das Cruzes, os cursos são oferecidos, por exemplo, pelo Instituto Crescer, que qualifica jovens e adultos com cursos de informática, alimentação, turismo e serviços domésticos, entre outros. Além disso, o Instituto prepara para o mercado de trabalho com orientações sobre postura, comunicação,etiqueta social e empresarial. Só neste semestre, foram oferecidas 4600 vagas. O Centro de Integração Social (CIS), localizado em Ferraz de Vasconcelos, é outra instituição que capacita trabalhadores gratuitamente. Em janeiro foram abertas 314 vagas para diferentes áreas. A região conta ainda com

O Centro de Integração Social (CIS) de Ferraz de Vasconcelos oferece capacitação gratuita para trabalhadores. Em janeiro foram abertas 314 vagas

instituições privadas como o SENAI, que tem ênfase no setor industrial, e dispõe de escolas técnicas profissionalizantes e universidades. Para Gabriela Carrasco, aluna do curso de Photoshop e Corel Draw do Projeto Crescer, em Mogi das Cruzes, os cursos profissionalizantes preparam para o básico. “Eles ajudam bastante, mas poderiam ser mais profundos”, afirma. No entanto, apesar de tantos cursos oferecidos por instituições governamentais, além de programas sociais como ProUni e FIES que facilitam o acesso ao ensino superior, não apenas o Alto Tietê, mas o todo o Brasil, sofre com o déficit de profissionais qualificados.

O empresário Valdinei Moreira Ferreira, 35 anos, dono de uma metalúrgica em Ferraz de Vasconcelos, concorda que conhecimento prático é essencial, mas que a certificação é determinante. “Encontro bons profissionais que têm muita prática mas nenhuma formação. O profissional sem qualificação pode trabalhar para mim, mas não posso levá-lo para fazer um serviço terceirizado, por exemplo. Sei que é só um papel, mas o mercado exige isso”. Devido ao aumento na concorrência por um emprego, o atual mercado exige mais do assalariado do que a experiência. Qualificação e aperfeiçoamento se tornaram indispensáveis para a contratação de trabalhadores.

Inundações frequentes causam prejuízo ao comércio de Poá Katarine Marques definitivo neste ano, Vitoria Sampaio devido às inundações. Se outras lojas fecharem, O município de Poá mais poaenses perderão ainda não conta com a o emprego. estrutura necessária para São várias as causas comportar o volume de dos problemas, mas a água na temporada de mais recente parece ser chuvas. Consequentemente as obras do Rodoanel. as enchentes são Pelo menos este é o frequentes e causam consenso na cidade, pois prejuízo a moradores e o córrego Itaim precisou comerciantes. Um dos ter seu curso desviado principais pontos de para dar lugar à nova alagamento é o córrego rodovia. A concessionária Itaim, que corta a região SPMAR Rodoanel Sul central. e Leste, responsável Nas enchentes de 2010 pelas obras, afirma ter os comerciantes chegaram seguido as determinações a organizar um protesto ambientais. exigindo providências Uma das iniciativas da prefeitura. Ao todo, da prefeitura para 188 estabelecimentos eliminar o problema é a da região central do retomada da construção município foram afetados do piscinão da Vila pelo transbordamento das Romana, que quando águas. Os números são pronto terá capacidade da Associação Comercial para armazenar 240 da cidade. milhões de litros de Neste ano o problema água. A previsão é voltou a se manifestar. que, com a conclusão Somados à queda da da obra, não ocorram atividade econômica no mais enchentes na área comércio, os prejuízos central da cidade. com enchentes colocam Outra providência em risco a continuidade necessária é a limpeza dos negócios para alguns de rios e córregos que comerciantes. Pelo menos cortam o município para quatro estabelecimentos retirada de barrancos e fecharam as portas em detritos.


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Escassez de água prejudica economia agrícola da região Captação de água das represas também foi interditada. Problema pode gerar crise social Lílian Pereira

Lílian Pereira Magda Nathia Tamires Vichi Cauê Martinelli Cerca de 80% da economia de Biritiba Mirim e Salesópolis vem do ramo hortifrutigranjeiro, mas desde o começo do ano se encontra prejudicada pela falta de água. Dados da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) representada em Biritiba Mirim pela Casa da Agricultura mostram que as perdas foram de 25% a 30% no primeiro trimestre de 2015, o que assusta os produtores rurais, pois o período de verão é o melhor para a venda e consumo. Até recentemente muitos agricultores coletavam água diretamente da represa, mas no mês de fevereiro uma notificação do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), órgão governamental, virou motivo de incerteza. O comunicado determinava a lacração das bombas responsáveis pela retirada da água por produtores que não possuem outorga d’água – documento que autoriza a utilização da água retirada por esse meio. Na falta da outorga, os agricultores estão sendo orientados a se inscrever no Cadastro Ato Declara-

Desmatamento contribui para a falta d’água nas represas Bruna Ferreira

» tório, mantido pelo DAEE, informando a quantidade e o tempo de uso da água de que necessita e o tipo de plantação. O cadastro dá direito provisório ao recurso hídrico até que o abastecimento seja restabelecido e possam ser emitidas outorgas definitivas. Biritiba Mirim e Salesópolis não têm indústrias e a falta d’água pode sr dramática para essas cidades. Além dos produtores, os trabalhadores rurais e seus familiares também sofrem com a suspensão do abastecimento de água. “É uma questão não somente econômica; pode gerar uma crise social”, afirma o engenheiro agrônomo

» Produtores rurais estão preocupados, pois nem as chuvas recentes melhoraram a situação

da CATI, Julio Nagase, que também atendeu muitos agricultores durante os dias difíceis. As cidades já tiveram índices negativos de desemprego, mas a situação nunca foi tão critica e não se sabe o que virá pela frente. Na perspectiva de Nagase, 2015 pode ser considerado um ano perdido, não só por questões climáticas, mas também pela economia do país. O agrônomo lembra que além da água, outros fatores, como insumos dolarizados, o preço dos combustíveis, os impostos e energia elétrica influenciam o custo da produção agrícola. A medida adotada pelo DAEE levanta questões

difíceis de serem respondidas. Por um lado, a água é um bem de domínio público, e em situações de escassez, sua distribuição deve priorizar o consumo humano. É o que diz a Lei 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que respalda a ação do DAEE. Contudo, como lembra o agricultor Paulo Cezar, se o órgão mantiver a lacração das bombas, não haverá irrigação e a produção de alimentos será suspensa. “Nem mesmo as chuvas recentes foram capazes de melhorar a produção. A seca quebrou a programação de plantio e não se sabe quando será recuperada. Tudo depende do clima”, afirma.

Ausência de mata ciliar causa assoreamento de rios e represas

Bruna Ferreira Jeferson Veras Vitória Fiel A falta de água nas represas está diretamente ligada ao desmatamento da mata ciliar do entorno dos reservatórios e barragens. Isso é o que diz um estudo da ONG SOS Mata Atlântica e do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Matas ciliares são florestas, ou outros tipos de cobertura vegetal, localizadas nas margens de rios e lagos e que serve de proteção aos cursos d’água. Segundo o ambientalista Helder Wuo, nas áreas desmatadas a água escorre em todas as direções e causa erosão das margens e assoreamento do leito do rio. Onde há matas, ao contrário, a água preenche reservas

subterrâneas que podem ser utilizadas nos períodos de estiagem. Os efeitos do desmatamento já são sentidos nas torneiras, mas Wuo alerta que a situação pode piorar ainda mais. “Se não houver recomposição da vegetação, com certeza o cenário não vai melhorar. Não adianta construir reservatórios, se as nascentes não estiverem vivas”, explica. O ambientalista, que já fez parte do Comitê de Bacias Hidrográficas do Alto Tietê (CBH-AT), acompanha a situação das barragens do Sistema Alto Tietê há 10 anos. Em 2004, o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE-SP) se comprometeu a recuperar 30% da mata nativa, mas o acordo não foi cumprido.


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Cursos e atividades promovem permacultura no AT Interessados podem aprender sobre apicultura, bioconstrução e olericultura orgânica EEPSI – divulgação

Crescimento populacional de Mogi das Cruzes ameaça meio ambiente Helder Layron

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As oportunidades no Alto Tietâ acabam atraindo moradores de diversas regiões. Em consequência disso, áreas verdes são eliminadas para dar lugar a novas moradias. Um projeto que pretende mudar a paisagem da Serra do Itapety, colocou em discussão o aumento populacional em Mogi. Segundo o IBGE, em um ano a cidade cres-

Aula prática de apicultura. Alunos vêm até de outros estados para aprender sobre permacultura

THIAGO CAETANO A Estação Experimental de Permacultura de Santa Isabel, criada em 2009, oferece cursos sobre o assunto na região, visando promover um uso mais sustentável dos recursos naturais. Entre as opções de cursos, estão permacultura, olericultura orgânica, apicultura e bioconstrução. Os ensinamentos são fundamentais para a preservação do meio ambiente. A olericultura orgânica, por exemplo, consiste num sistema de plantio sem uso de pesticida, que privilegia a preservação da natureza e da saúde humana. Nas aulas de

apicultura o aluno aprende sobre a criação de abelhas – inseto polinizador cujo desaparecimento acelerado pode causar grande impacto sobre a vida humana. Outro curso que recebe muitos interessados é o de bioconstrução. Trata-se de técnicas de construção com materiais ecológicos, com mínimo impacto sobre o meio ambiente. A alternativa, que também diminui gastos com fabricação e transporte, é um elemento importantíssimo da permacultura que busca obter o máximo aproveitamento dos recursos com o mínimo impacto.

O sucesso dos cursos é tão grande que até pessoas de outros estados têm vindo particpar. “Vieram pessoas de Extrema, MG, depois de terem visto o anúncio numa página de rede social”, afirma Ricardo Maia, idealizador do projeto. Segundo ele, o número de interessados vem crescendo cada vez mais. Sobre a atividade – A permacultura pode ser aplicada desde projetos pequenos, como jardins, até grandes áreas como vilas, aldeias e comunidades, sempre de forma ambientalmente sustentável, socialmente justa e financeiramente viável.

ceu 4,65%, passando de 396.468 habitantes em 2012 para mais de 400 mil no ano seguinte. As consequências são visíveis no trânsito, na falta de moradia para os mais pobres, no aumento da violência e no desaparecimento dos empregos. Contudo, quem mais sofre é o meio ambiente. Os bairros próximos à Serra do Itapety são, atualmente, o grande alvo dos empreendimentos

imobiliários. Uma construtora da cidade pretende em até 50 anos ocupar toda a área da antiga Fazenda Rodeio, expandindo a mancha urbana até ao pé da serra – com a promessa de integrar a comodidade da cidade com a qualidade da vida no campo. O problema é que os resultados negativos para o meio ambiente já não esperam o futuro para se manifestar.

Prioridades ambientais: Projeto Renove pretende reduzir poluição por óleo vegetal Henrique Oliveira uma sociedade melhor. Na região há mais de 15 Falar em meio-ambiente ONGs com projetos voltaé falar sobre pessoas que dos à proteção ambiental. dedicam a vida a esta Uma delas é a Bio-Bras, causa. As organizações fundada em 1997 para não-governamentais reú­ promover a preservação nem essas pessoas com da água. Pesou na escolha ideias similares para agir deste foco o fato do Alto Tietê abrigar uma das em prol da natureza. A maioria das ONGs principais fontes de água que se envolvem na cau- da Grande São Paulo. sa, especificamente no Segundo Nadja Soares, Alto Tiete, tem como presidente da Bio-Bras, as prioridade fiscalizar as maiores dificuldades estão ações da população e ligadas à falta de políticas dos governos, e orientar públicas relacionadas ao o desenvolvimento de meio ambiente.

Em 2008, a Bio-Bras começou a desenvolver o projeto Renove, que tem como objetivo diminuir o despejo de óleo vegetal nos rios e córregos, visando a despoluição do rio Tietê. A ONG atua na gestão dos recursos hídricos, com o apoio de parceiros fortes, como Sabesp, CETESB, Vigilâncias Sanitárias, Prefeituras, o Comitê e o Subcomitê de Bacias Hidrográficas do Alto Tietê Cabeceiras e o Programa Petrobras Ambiental.


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Guararema: diminuição da mobilidade bate à porta Com quase 30 mil habitantes, cidade tem muitos carros e não privilegia o uso de bicicletas Maria Nascimento

Reciclagem transforma lixo em decoração natalina em Guararema Iniciativa atraiu turistas e animou o comércio Prefeitura de Guararema/Divulgação

Yasmin Castro

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Segundo a prefeitura, existem planos para a construção de ciclovias, mas não há previsão para o início das obras

Maria Nascimento a vida dos ciclistas e incentivar outras pessoas Em 13 de acbril de 2012 a adotarem esse modelo começou a vigorar a Lei sustentável e econômico de Federal nº 12.587, que transporte. Essas cidades trata da acessibilidade e contam com infraestrutura da mobilidade nos mu- adequada e segura para nicípios e da integração o uso de bicicletas. No dos diferentes modos de Brasil, existem algumas transporte. A lei obriga iniciativas voltadas para cidades com mais de 20 o assunto, mas ainda mil habitantes a elaborar estamos engatinhando. Guararema, no Alto planos de mobilidade que priorizem veículos Tietê, segundo dados do não motorizados, prin- IBGE, tem uma populacipalmente bicicletas. ção estimada em 28.016 O prazo é de três anos habitantes, mas ainda a partir da promulgação não conta com ciclovias. Segundo Marcos Santada lei. No exterior, Barcelona, na, engenheiro ambiental Amsterdã e Paris são da Secretaria Municipal exemplos de cidades que de Meio Ambiente e Plaimplementaram políticas nejamento Urbano, um públicas a fim melhorar projeto de revitalização da

avenida Antônio Teixeira Muniz inclui a construção de uma ciclovia, mas não há previsão para o início das obras. Para o engenheiro, a medida reduzirá a quantidade de veículos na região e a emissão de gases poluentes. “Vai melhorar a qualidade do ar e da vida da população”, afirma. Segundo Santana, outras ações, como a inspeção de veículos movidos a diesel (que são mais poluentes) e o plantio de árvores, melhorariam ainda mais a qualidade de vida. “A sociedade não deve se iludir com soluções que não priorizem o transporte público sustentável”, adverte.

Com decoração natalina de encher os olhos produzida com material reciclado, Guararema atrai milhares de turistas todos os anos e se firma como um dos principais pólos turísticos do Alto Tietê. O programa “Guararema – Cidade Natal” conta com a colaboração de moradores que ao longo do ano recolhem do lixo materiais que podem ser transformados em enfeites de Natal. O que começou como uma ideia em 2009 no ano seguinte se transformou em programa municipal, dada a relevância ambiental e a abrangência das ações realizadas. O “Guararema – Cidade Natal” é coordenador pela Secretaria Municipal de Cultura, mas tem desdobramentos nas áreas de educação ambiental, fomento ao turismo, ação social e programação cultural. “Até 2014, foram recolhidas e reutilizadas mais de 4 milhões de

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A decoração natalina de 2014 foi vista por mais de 500 mil turistas

garrafas PET, que certamente teriam o lixo como destino”, informa o professor Cláudio Ferraraz Jr., que participa do programa desde 2013. Em 2014 outros materiais recicláveis foram adotados, incluindo pallets, embalagens Tetra Pack, coadores de café de papel, conduítes, papelão, entre outros. Os novos materiais reduziram em 90% a necessidade de ferragens nas estruturas. “Entre os dias 26 de novembro e 28 de dezembro, ocorreram 58 eventos nas praças, parques e no Centro Cultural da cidade, com espetáculos

de música, teatro, intervenções artísticas, cursos de desenho e ilustração, entre outras atrações”, relata o professor. Somente no período natalino de 2014 o município recebeu cerca de 500 mil visitantes. O professor Ferraraz informa ainda que quando passa a époda das festas, toda a decoração é recolhida para ser reciclada e reutilizada no ano seguinte. Para dar conta dos preparativos, o programa conta com cerca de 40 funcionários contratados através de programas sociais e remunerados com um salário mínimo.


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A ambiguidade da inteligência humana Pesquisa indica que até 2050 cerca de 80% das espécies animais de áreas desmatadas podem desaparecer Gustavo Pereira A racionalidade coloca o ser humano como o mais evoluído dos animais. Contudo, parece nos faltar muita inteligência ainda. Várias evidências revelam que o comportamento humano tem mais de irracionalidade do que suspeitamos ou desejamos. Talvez fosse preferível a evolução ter estacionado em algum estágio anterior ao atual – para quem acredita na teoria evolucionista –, ou não termos comido do fruto proibido – segundo­descrito na teoria criacionista. A racionalidade e a inteligência só nos provaram o quanto somos vulneráveis a nós mesmos e como progridimos em tralhas tecnológicas e concomitantemente nos afundamos num abismo sem fim. O obscurantismo por trás da necessidade insaciável de explorar ao máximo os recursos naturais revela o paradoxo de nos servimos dos recursos e ao mesmo tempo desprezá-los. O egocentrismo e a ignorância do ser humano o colocam perto de seu próprio cadafalso. No Brasil, o desmatamento começou com a chegada dos portugueses. Interessados em vender o pau-brasil na Europa,

iniciaram a devastação pela Mata Atlântica. Foi um ato predatório que repercute até os dias atuais, resultando na extinção de espécies animais e vegetais. Uma pesquisa da revista Science, publicada em julho de 2012, alerta para o fato de que até 2050, poderá ocorrer a extinção de cerca de 80% das espécies animais (anfíbios, mamíferos e aves) em áreas que sofreram desmatamento. A urbanização crescente contribui para a diminuição das áreas verdes. Aos poucos, o homem foi trocando as florestas pela imensidão de pedra, concreto e cimento. No mundo inteiro, a urbanização é constante e o desmatamento é o fator principal para o desequilíbrio climático. Devido às proporções catastróficas atingidas no atual estágio civilizatório, a legislação brasileira prevê a proteção ambiental desde a Carta Maior até as portarias de abrangência limitada. Com isso, o legislador busca corrigir de alguma forma o erro cometido pela humanidade desde sempre: a inconsciência sobre a consciência de todos. É uma tentativa de impedir que a devastação continue.

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Lâmpadas fluorescentes são mais ecológicas, mas oferecem riscos Leonardo Carlos As lâmpadas fluorescentes ganham cada vez mais o espaço que antes pertencia às incandescentes. Mas quais as vantagens disso? Segundo o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), as lâmpadas frias são até 75% mais econômicas que as incandescentes. A diferença de consumo está relacionado ao modo como elas funcionam e à quantidade de energia necessária para gerar a mesma luminosidade. A intensidade da luz é medida pelo fluxo luminoso, cuja unidade é o lúmen. O consumo é medido em quilowatts por hora (Kw/h), e está relacionado à potência da lâmpada. Isso significa que uma lâmpada fluorescente de 40W gasta a mesma energia que uma equivalente amarela. A diferença é que a lâmpada fria emite cerca de 3 mil lúmens, enquanto a amarela emite apenas 600 lm. Um cômodo no qual se utiliza uma lâmpada incandescente de 40W receberá a mesma intensidade de luz se esta for substituída por uma fluorescente de 8W, que consome cinco vezes menos energia elétrica. Além disso, as lâmpadas

brancas duram em média seis vezes mais e não queimam quando ligadas e desligadas rapidamente – como ocorre com as comuns. As vantagens das fluorescentes são muitas, mas também há desvantagens. Uma delas é o preço, pois podem custar até três vezes mais que as outras. Como a durabilidade é muito superior, a despesa a mais deve ser considerada como investimento. Contudo, o maior problema está nos riscos que as fluorescentes oferecem à natureza. Na fabricação delas é utilizado mercúrio, substância extremamente tóxica, que pode causar problemas fetais e diversas perturbações orgânicas. O descarte do mercúrio requer cuidados especiais. Descarte consciente – A Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente de Mogi das Cruzes rea­ lizou em 2014 em dois Ecopontos da cidade, localizados no Jardim Armênia e no Parque Olímpico, a recepção de lâmpadas fluorescentes para reciclagem. O objetivo foi recolher 7.500 unidades e cada cidadão podia descartar até 10 unidades. A meta foi cumprida em pouco mais de duas semanas.


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AT conta com coleta específica para lixo doméstico Descarte inadequado causa problemas ao meio ambiente e à saúde. Separação é essencial Carolina Kiuchi Jennifer Oliveira Letícia Riente Regiane Agostinho O lixo produzido pela população nem sempre recebe destino correto. Itens como pilha, óleo de cozinha e restos de comida devem ter destinação diferente do lixo comum. As consequências do descarte inadequado vão além da sujeira acumulada nas vias públicas. O lixo compromete a saúde da população e contribui para enchentes em tempos de fortes chuvas, além de prejudicar o meio ambiente, pois alguns materiais levam anos para se decompor. Segundo o portal da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo as famosas sacolinhas de mercado, por exemplo, podem levar mais de 100 anos para se degradar. Para tentar resolver o problema, sete, das nove cidades do Alto Tietê, têm implantado postos de coleta seletiva de resíduos comuns e domésticos. O lixo recolhido é separado e destinado a postos de reciclagem ou levados a aterros sanitários. Chorume – Mesmo o lixo orgânico, composto por restos de alimentos

Onde entregar o lixo doméstico

» e que se decompõe mais rapidamente, também é altamente prejudicial ao meio ambiente, pois produz um chorume no qual se desenvolvem bactérias que contaminam a água. Suely Kusano, professora de Direito Ambiental

Vivemos na era da sustentabilidade. Especialistas­, estudiosos, cientistas continuamente buscam formas de produção cada vez mais sustentáveis e com menor impacto sobre o meio ambiente. Todos podem e devem adotar no dia-a-dia práticas de respeito ao meio ambiente.

localizada no bairro César de Souza. De acordo com Sandra Silva, encarregada administrativa da empresa­, os restos de madeira são transformados em combustível para caldeiras industriais. “A madeira é triturada, transformada em biomassa e depois queimada para que seja extraído um óleo combustível bem menos danoso ao meio ambiente que os combustíveis fósseis”, explica.

Na indústria, o óleo obtido da madeira é utilizado para gerar energia elétrica e térmica. “Por mês, produzimos cerca de 5.000 a 7.000 toneladas de biomassa”, informa a encarregada. Ela destaca que, para ser transformada em combustível, a madeira precisa ser pura, como por exemplo caixas de madeira, madeirite utilizada em obras, galhos e troncos de árvores.

Várias cidades do Alto Tietê contam com postos de coleta seletiva, mas nem todos os moradores sabem dar destinação correta aos resíduos

na Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e exPromotora do Estado com atuação em Meio Ambiente, afirma que além do chorume poder contaminar o solo, os lençóis freáticos e o ar, ele também causa danos à saúde. “Substâncias

como essa podem causar doenças respiratórias, de pele e até cânceres”, explica. Será que as pessoas sabem como destinar corretamente os resíduos?­ A dona de casa Ana Alves, 49 anos, de Ferraz de Vasconcelos, relata que separa

Reciclagem transforma lixo em combustível Glacy Kellen

o lixo, mas não sabe se o descarte final é feito corretamente.­“Separo os restos de comida, o vidro e o plástico do lixo comum, mas quando o caminhão de lixo passa, eles acabam todos juntos novamente, e não sei o que acontece depois”, afirma.

Arujá: Av. Londres, 240 – Centro Industrial. Tel.: 4653-3310. Ferraz: Rua Honorina Aires de Carvalho, 251 – São João. Tel.: 98767-5610. Mogi: Rua Júlio Perotti, 56 – César de Souza. Tel.: 4798-5965 / Av. Pref. Maurilio de Souza Leite Filho, s/n. Tel.: 4798-5965. Poá: Rua Angatuba, 74 – Calmon Viana. Tel.: 4639-1620. Salesópolis: Rua 28 de Fevereiro, 700 – Centro. Tel.: 4696-3273. Santa Isabel: Rua Aparicio Alves Gonçalves, 81 – Vila Nova Santa Isabel. Tel.: 4657-3398. Suzano: Rua Biotônico, 9000 – Jardim Colorado. Tel.: 4745-2119.

O descarte correto de produtos recicláveis ou reutilizáveis é uma das formas de preservar os recursos naturais. Em Mogi das Cruzes, a população conta com 10 ecopontos instalados pela prefeitura através dos quais os materiais podem ser descartados. Alguns produtos podem até ser transformados em energia, como é o caso da madeira.

Tudo começa com a ação do próprio cidadão. Cabe às famílias e aos indivíduos separar os produtos a serem descartados e entregá-los no ecoponto adequado. No ecoponto, os materiais são novamente separados e entregues gratuitamente as empresas parceiras. No caso das madeiras, por exemplo, quem as recebe é a Reciclatec,


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Você sabe descartar corretamente o óleo de cozinha? Mogi dispõe de legislação específica sobre coleta e destinação adequada do óleo doméstico Lanna mesquita

Lanna mesquita O óleo de cozinha tem sido frequentemente fonte de poluição ambiental. A presença dele em rios significa perda de qualidade da água pela destruição do oxigênio e eliminação da vida aquática. Nas tubulações, interage com outros tipos de resíduos e cria incrustações e entupimentos. André Saraiva, engenheiro ambiental e secretário de Verde e Meio Ambiente da prefeitura de Mogi das Cruzes, afirma que a cidade possui uma legislação específica para a coleta e destinação de óleo, na qual estão estabelecidas diretrizes para que os geradores desse tipo de resíduo possam destiná-los adequadamente. A dona de casa Rita Rodrigues, 70, acredita que a melhor forma de descarte para o óleo de cozinha e seu reaproveitamento seja utilizá-lo como matéria-prima para fazer sabão. Ela diz que nunca foi informada sobre outra maneira de descarte para o resíduo. “Embora tenha sido divulgada e adotada por várias pessoas a possibilidade de transformação deste resíduo em sabão, esta não é a única possibilidade de aproveitamento,

Ecopontos são alternativa para descarte responsável de entulhos Em boa parte das cidades o descarte de entulhos é feito em qualquer esquina, com grave prejuízo para o meio ambiente. Para mudar essa situação foram criados ecopontos – que são locais de entrega voluntária de materiais recicláveis. Todo tipo de material pode ser destinado aos ecopontos. Eles recebem entulho de construção, vidros, papelão, ferro, latas, garrafas pet, jornais, revistas e outros papéis, caixas de leite, tubos de pasta de dente, pneus, lixo eletrônico entre outros produtos. Existem dois ecopontos em Mogi: um, no Jardim Armênia e o outro no Parque Olímpico. As administrações regio-

nais dos bairros Biritiba Ussú, Quatinga, Sabaúna e Taiaçupeba, também dispõem de ecopontos, mas estes não recebem pneus, móveis e entulho de construção. Para ampliar o serviço foram criados ecopontos itinerantes, que passam em locais específicos da cidade, como Largo do Rosário e Centro Cívico, recolhendo especificamente papel, papelão e óleo de cozinha. Para utilizar o serviço não é preciso cadastro. Basta levar o material a ser descartado a qualquer um dos pontos. Algumas pessoas têm consciência do impacto desses materiais sobre o meio ambiente. “Trago para o ecoponto todo lixo que não é convencional. Descartado de forma incorreta, implica

no acúmulo de lixo, que é a principal causa de enchentes. Em decorrência dos alagamentos, chegam os animais indesejados que podem causar uma série de doenças. Sem contar a sujeira. Não é nada agradável chegar na beira do rio e ver um sofá boiando”, afirma a professora Adriana Fernanda da Silva Santos, que é usuária do s ecopontos. Adriana acha que o serviço precisa ser mais bem divulgado, para que os moradores possam se conscientizar. Segundo o site da prefeitura de Mogi das Cruzes, estão sendo feitas palestras em escolas dos bairros próximos aos ecopontos, para a divulgação e conscientização da população quanto à correta destinação de lixo e entulhos.

que a reutilização do óleo na fabricação de sabão não ajuda o meio ambiente. Ao contrario só prejudica, tendo em vista as substâncias que o compõem. Ocorre que para transformar óleo vegetal em sabão, é necessário acrescentar uma

quantidade elevada de soda cáustica – substância altamente prejudicial à saúde e ao meio ambiente. O óleo vegetal também tem sido utilizado para a fabricação de tinta e combustível, substâncias também poluentes. Como pode observar,

o problema da poluição persiste mesmo quando o óleo é transformado em outros produtos. Embora seja uma medida paliativa, a transformação é menos agressiva ao meio ambiente do que o descarte do óleo na rede de esgoto.

Pablo Januário

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A dona de casa Rita Rodrigues usa óleo vegetal para produzir sabão e outros materiais de limpeza

tanto comercialmente como ambientalmente”, explica Saraiva. O Instituto Bio-Bras incentiva o desenvolvimento de projetos voltados para a conscientização da população do Alto Tietê sobre a importância de se preservar o meio am-

biente. Uma das iniciativas colocadas em prática é o projeto Renove, cujo objetivo é auxiliar no processo de despoluição dos rios. A Bio-Bras já instalou mais de 450 pontos de coleta de óleo em toda a região. Os diretores do instituto concordam


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Programa faz coleta seletiva e promove reciclagem Resultante de convênio com a cidade japonesa de Toyama, Recicla Mogi foi implantado em 2013 Rebeca Feitoza

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Antes de seguir para a usina de reciclagem, os materiais são separados por tipos e substâncias

Rebeca Feitoza Desde 2013, Mogi das Cruzes conta com o Programa Recicla Mogi, voltado para a coleta de materiais recicláveis. Originado de um convênio com a cidade de Toyama, no Japão, o programa segue os princípios nipônicos de separação do lixo. Um ano após a implantação, o programa respondia pela reciclagem de 4% do material descartado nas regiões atendidas. Para funcionar, o Recicla Mogi depende da participação dos moradores. Cabe a eles separar o lixo orgânico do reciclável, colocando o primeiro em sacos pretos e o segundo em sacos transparentes, para facilitar o recolhimento do material. O

caminhão do Programa passa em cada bairro duas vezes por semana, em dias previamente estabelecidos. O material é levado a uma usina de triagem, onde é selecionado e vendido, em fardos, para a empresa Brasil Coleta, que atua com no gerenciamento de resíduos. O chefe de divisão do Recicla Mogi, Jorge Coelho, esclarece que o programa recicla os materiais, limitando-se à coleta e a ações de educação ambiental voltadas para a população. A maioria dos moradores afirma conhecer o programa e fazer a separação em casa, mas poucos são atendidos pela coleta seletiva. Quem não tem acesso à coleta, costuma doar os materiais

recicláveis para coletores autônomos. Através do site, a prefeitura de Mogi das Cruzes informa que são distribuídas cartilhas informativas sobre o Programa nas escolas municipais, a fim de ensinar as crianças sobre a importância da coleta seletiva. Ainda segundo o site, a divulgação também é feita por meio de panfletos, cartazes e distribuição de sacos plásticos transparentes aos moradores. Porém, a maior parte dos entrevistados afirmou desconhecer as iniciativas de divulgação. Questionados sobre os benefícios do Programa, os moradores indicaram a geração de empregos, a limpeza e organização nas ruas, e a garantia de um futuro melhor.

Niedja Araújo

Infância tecnológica Niedja Araújo Atualmente é comum as crianças dominarem aparelhos que, às vezes, nem os pais conseguem utilizar. Isso ocorre porque nasceram e se desenvolveram em uma sociedade tecnológica. Portanto, nesse campo não há nada de novo para elas. Mas essa realidade apresenta aspectos negativos, como o afastamento da natureza. Muitas crianças nem sabem mais o que é brincar em ambientes abertos e com movimento físico, como ocorre nas brincadeiras de correr e pular. Segundo a professora de Psicologia da Universidade de Mogi das Cruzes

(UMC), Daieny Panhan Theodório, as crianças que não têm contato com a natureza desconhecem muitas espécies de animais, insetos e plantas, não se socializam com outras crianças e desconhecem sensações relacionadas à natureza. Consequentemente, muitas acabam incapazes de se interessar por temas relacionados à biodiversidade e ao cuidado com o planeta. A mídia também exerce forte influência sobre o comportamento das crianças. Os veículos de comunicação utilizam todo meio e técnicas para seduzir e manipular a mente infantil, fazendo com que seres em fase de desenvolvimento sejam

engolidos pelo consumismo e se tornem pessoas preocupadas apenas em ter. Para Daieny, há outro ponto importante a ser comentado “Atualmente tanto os pais quanto as mães permanecem muito tempo fora de casa, trabalhando e estudando. Acabam se sentindo culpados pela ausência e cedendo às solicitações de consumo dos filhos”. Não dá para identificar algum culpado, especificamente, para esta realidade. O fenômeno é consequência das mudanças em curso na sociedade desde algumas décadas e que acabam por se manifestar nas famílias.


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Casas em condomínios fechados atraem pela segurança Sistema já abriga mais de um milhão de brasileiros. Segurança é feita por empresas privadas Marina Doi

Carolina Crica Guilherme Garcia Marina Doi Em cinco anos, dobrou o número de moradores em condomínios horizontais. Segundo levantamento da consultoria Amaral D’Avila Engenharia de Avaliações, em todo o país mais de um milhão de pessoas vive nesse tipo de moradia. As famílias buscam mais segurança e este fator é decisivo na opção pelos condomínios. A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informa que em 2014 foram registradas em média 3.100 ocorrências de roubo e furto para cada delegacia de Mogi das Cruzes. Neste cenário, os condomínios se tornaram uma opção para quem pode pagar pela segurança e pelas comodidades. Os preferidos são os condomínios horizontais. Uma das principais atrações oferecidas por essas estruturas é a sensação de tranquilidade no interior de muros vigiados por câmeras e portarias monitoradas. Michel Sawaya, que coordena condomínios do luxo em Mogi das Cruzes, afirma que além da segurança, a localização também é um fator

Para reduzir crimes, Mogi terá ação integrada e radares inteligentes Juliana Almeida

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Os condomínios horizontais são mais que simples locais de moradia. Além da segurança, os empreendimentos procuram oferecer também comodidades como espaços de lazer e centro comercial (abaixo)

importante. “Algumas pessoas buscam moradia próxima ao centro, já outras querem totalmente o contrário”, afirma. Além disso, as regalias que o local oferece, como espaços de lazer e comércio no próprio local, influenciam na escolha. A verdade é que esses loteamentos, considerados “cidades paralelas”, são muito mais que simples moradia. No Aruã, por exemplo, pode-se chegar à escola atravessando um portão privativo no muro do condomínio. Há também restaurante, academia, centro de compras, mercado e prestadores de serviços. Alguns investem no próprio negócio dentro de casa, como cabeleireiros e até pet shops.

Boa vizinhança – Os sistemas de vigilância dão uma sensação de segurança que tranquiliza os moradores. “Aqui eu sinto que posso confiar nas pessoas”, afirma Giselly Coutinho, moradores de um dos condomínios de Mogi. Contudo, o sistema não é 100% seguro. Foi o que descobriu Rodrigo Bernardes, que teve a obra da sua casa invadida em janeiro deste ano. “Ladrões levaram materiais de construção e

equipamentos”, conta. A ocorrência fez Bernardes concluir que a sensação de segurança pode ser ilusória. “Não há câmeras de segurança fora dos muros, então não tem como controlar se alguém vai ou não entrar”, afirma. Apesar das falhas, as estatísticas continuam incentivando a opção pelos condomínios. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), em 2012 apenas 32 condomínios sofreram assalto em todo o estado.

As polícias Militar e Civil, juntamente com a prefeitura de Mogi das Cruzes e o Ministério Público, criaram o projeto “Ação integrada de segurança pública em Mogi.” O objetivo é aprimorar a eficiência do sistema de segurança na cidade e reduzir os índices de criminalidade. Implementado nas primeiras semanas de janeiro deste ano, o projeto prevê, entre outras diretrizes, a ampliação da Guarda Municipal e a implantação de radares de trânsito com leitor de placas automático, nas entradas e saídas da cidade. Prevenção de crimes – Segundo a prefeitura, os radares possibilitam a identificação de veículos furtados ou roubados, além de poderem prevenir crimes como sequestros relâmpago. Ao fotografar a placa de um carro, o sistema envia automaticamente os dados para a Polícia Militar e se houver queixa ou alguma restrição relacionada ao veículo,

um alarme é emitido imediatamente, o que possibilita que policiais interceptem o veículo. A instalação dos equipamentos está prevista no processo licitatório de fiscalização de trânsito da cidade. O contrato estabelece a instalação de 21 equipamentos dotados de tecnologia OCR – ao custo de aproximadamente R$ 1 milhão somente para este recurso. O processo de homologação da licitação já foi finalizado e a previsão é que os novos radares começassem a operar em abril. Como parte do projeto de ação integrada, no último sábado de fevereiro foi realizado o evento “Rua Mais Feliz Cidadã”, no Jardim Margarida. Na ocasião, a Polícia Civil ofereceu aos moradores serviços como emissão de carteira de identidade e segunda via do documento. A Polícia Militar desenvolveu trabalhos de patrulhamento na região. Contudo, segundo os moradores a sensação de insegurança continua, pois o serviço de patrulhamento não é contínuo.


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•CRÔNICA•

Sabe como é, não é? Leticia Riente Ruiz Gomes Acorda às 4 da manhã, vai até outra zona da cidade, seja de ônibus, trem, metrô, e até de carro, ou não consegue nem se mexer dentro do transporte ou fica preso no trânsito por 2 horas e ainda tem que aguentar bronca do chefe (sabe como é não é?). Trabalha o dia todo, num calor de 35 graus, isso quando está dentro de um estabelecimento (não tem ar condicionado,

sabe como é, não é?), se não a sensação é de 42 graus. Fica estressado, aguenta gente sem educação, e ainda leva trabalho pra casa. Conta os minutos para ir embora, e sai ainda depois da hora (sem hora extra, sabe como é, não é?). Mais de 2 horas pra conseguir chegar em casa, sendo empurrado e esmagado no trem. Para os que não têm carro, da estação até em casa 15 minutos, passando por vielas, semáforos quebrados, e escondendo o celular

no fundo da bolsa surrada (sabe como é, não é?). Chega cansado, se depara com a fachada do lar inacabada (IPTU chegou, sabe como é, não é?), faminto devora o jantar: arroz, feijão, uma salada de batatas e quem sabe um pedaço de bife (quando tem, sabe como é, não é?). No dia seguinte levanta, para então começar tudo de novo. Dorme, pouco, trabalha muito, gasta pouco porque não tem muito, e assim esse ciclo vicioso continua. Prazer, eu sou o Pobre.


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