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Jornal-laboratório do curso de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes | Produzido pelos alunos do 5º período | Ano XVII | Número 97 | Distribuição Gratuita | paginaum@umc.br

Serra do Itapety oferece lazer e aventura GUSTAVO PEREIRA

Aluna da UMC ganha ouro nas Paralimpíadas Rio-2016 NICHOLAS MODESTO

Embora a Serra do Itapety integre a paisagem da cidade, nem todo mogiano já se aventurou a explorá-la. Disposto conhecer de perto os encantos da serra, nosso repórter faz sua primeira subida a pé, relatada detalhadamente na página 11.

Durante muito tempo Evelyn sequer cogitava praticar algum esporte. Contudo, um convite recebido no meio da rua mudou tudo. Ela começou a treinar numa equipe de bocha adaptada de Suzano, passou a competir e logo as conquistas vieram. A agora campeã paralímpica Evelyn Vieira de Oliveira, aluna do 7º Semestre de Publicidade da UMC, ganhou o ouro e o respeito de todos. Página 7

Professora promove inclusão pelo esporte

AECom ajuda alunos a ganhar experiência

JÉSSICA GIDORINI

THIAGO CAETANO

Os cursos de Comunicação Social e de Design Gráfico da UMC contam com a Agência Experimental de Comunicação (AECom/UMC) para ajudar os alunos a adquirir experiência profissional. A agência atende organizações sem fins lucrativos e algumas demandas da própria universidade. Tudo é feito pelos alunos. Leia na página 4.

Dr. Miojo Pena Branca, o palhaço do hospital ALLAN LOPES

Na pele do Dr. Miojo Pena Branca, Clerson Pacheco, 46, comanda uma trupe de palhaços que leva alegria a hospitais. Seu grupo, o Soul Alegria, foi fundado há 11 anos, atualmente conta com 45 doutores palhaços que atendem sete hospitais da

capital e um de Mogi das Cruzes. “Nossa função é levar conforto. Não falamos sobre a doença ou o motivo da internação; falamos sobre a vida", afirma. A cada quarto, novas histórias vão sendo escritas. Leia na página 10.

Desde os anos 1990 Lurdinha coordena projetos de inclusão social através do esporte, voltado para crianças portadoras de deficiência. Não foi uma trajetória fácil. Os clubes particulares sequer permitiam que portadores de deficiência se misturassem com as demais crianças. "Hoje sou apaixonada e quero trabalhar especificamente com crianças deficientes”, garante. Página 14


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opinião

2016 | Ano XVII | Nº 97

editorial

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC)

Ano XVII – Nº 97 Fechamento: 26/outubro/2016

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Avenida Doutor Cândido Xavier de Almeida Souza, 200 – CEP: 08780-911 – Mogi das Cruzes – SP Tel.: (11) 4798-7000 E-mail: paginaum@umc.br * * * O jornal-laboratório Página UM é uma produção de alunos do curso de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), em conformidade com o Projeto Pedagógico do curso. Esta edição foi produzida pelos alunos do 5º período. Professores orientadores: Profa. Simone Leone (Textos); Prof. Elizeu Silva – MTb 21.072-SP (Orientação geral, Edição e Planejamento Gráfico); Prof. Fábio Aguiar (Fotografias); Projeto gráfico: Andre Eiji Nihiduma; Guilherme Mendonça de Oliveira; Luis Felipe Candido Gregorutti (Alunos do curso de DG da UMC): Orientador: Prof. Fábio Bortolotto

Jornalismo de qualidade a serviço dos leitores A sociedade contemporânea vive hoje na chamada Era da Informação, conectada, multifacetada, segmentada e, ao mesmo tempo, massificada. Há quem divida o mundo em virtual e real. Há quem não veja mais fronteiras entre um e outro. Nesse mundo, em que tudo está “junto e misturado”, se encaixa perfeitamente a frase de Bill Kovach e Tom Rosenstiel, jornalistas americanos, que define o atual papel de quem tem o ofício de reportar as notícias: “O novo jornalista não decide mais o que o público deve saber. Ele ajuda o público a pôr ordem nas coisas” (“Os elementos do jornalismo” - Geração Editorial, 2003). O mundo hoje mergulha com sede no caos midiático em que qualquer pessoa com um celular com câmera e conexão à Internet pode “postar” qualquer coisa, a qualquer

momento, de qualquer lugar do mundo. As mídias, nas plataformas online e off-line, convergem e dialogam. Assim como também conversam as pessoas sobre o que escutam, assistem e leem. É à leitura que convidamos aqueles que recebem, nesse mês, a edição de número 97 do Jornal Página UM, o resultado da produção dos estudantes do 6º semestre do curso de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). A publicação é um exercício prático de jornalismo puro, mas também um serviço à comunidade à medida que reúne, em suas páginas, informações que podem fazer a diferença na vida das pessoas. É para ajudar que estamos aqui! Com informação de qualidade, honesta e objetiva. Boa leitura!

da coordenação

O ancestral não é passado

Sobre uma experiência latinoamerica de pensar a Comunicação * * *

*Agnes Arruda

UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES Chanceler: Prof. Manoel Bezerra de Melo Reitora: Profª. Regina Coeli Bezerra de Melo Pró-Reitor de Graduação do Campus (sede): Prof. Claudio José Alves Brito Diretor de EaD Prof. Ariovaldo Folino Junior Pró-reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão Prof. Miguel Luiz Batista Júnior Diretor Administrativo: Luiz Carlos Jorge de Oliveira Leite Gestora dos Cursos de Design Gráfico, Jornalismo e Publicidade e Propaganda: Prof. Ma. Agnes Arruda

Recentemente no México para um Congresso, pude trocar figurinhas com pesquisadores de toda América Latina sobre Comunicação; principalmente a comunicação popular, dos marginalizados, aqueles que, alheios aos grandes meios e aos meios de massa, fortalecem seus vínculos comunicativos por meio de iniciativas próprias de troca de mensagens. Muito me encantou em especialmente o trabalho de duas colombianas sobre o resgate e a preservação dos conhecimentos milenares de tribos indígenas do País por meio das ferramentas da Educomunicação. São iniciativas simples, que envolvem os meios impresso e radiofônico para se resgatar, registrar e propagar esses ensinamentos, mas,

mais que isso, para não se deixar perder aquilo que um dia foi a raiz de muito do que se tem e se conhece hoje. Olhar para trás com vistas para o futuro é uma boa forma de se viver o presente. Na comunicação, encontrar onde está a raiz dos vínculos mais fortes, mais fraternos, mais profundos do ser humano, pode ser a chave para não somente a transmissão ou a troca de mensagens mais efetivas, como de fato para o reestabelecimento de uma ordem na qual a alteridade, ou seja, a capacidade de se colocar no lugar do outro para compreende-lo e assim conviver, não seja uma utopia, mas sim uma real possibilidade. Sonhemos. *Professora-coordenadora dos cursos de Design Grá�ico, Jornalismo e Publicidade e Propaganda da UMC. E-mail: agness@umc.br.


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Odonto atende população gratuitamente Clínica da UMC oferece serviços de restauração, extração, tratamento de canal, próteses, entre outros Jennifer Oliveira A Clínica Odontológica da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) oferece serviços para aqueles que precisam de atendimento e não têm muitos recursos. A clínica atende em média 60 pessoas por dia e toda a população pode fazer o tratamento. Os principais serviços são restauração, extração simples, tratamento endodôntico (canal) simples e periodontal, próteses, entre outros. O atendimento é realizado pelos próprios alunos do curso com supervisão e auxílio de professores. De acordo com a coordenadora do curso de Odontologia da UMC, professora Tatiana Ribeiro de Campos Mello, um dos papéis da universidade é justamente oferecer serviços à comunidade. “Considero isso importante para

a população, pois, por exemplo, Mogi das Cruzes não possui um Centro de Especialidades Odontológicas. Com isso, a nossa clínica supre uma carência oferecendo diversos atendimentos de saúde bucal”, afirma. Os interessados no serviço devem procurar a clínica diretamente ou ser encaminhados pela Secretaria Municipal de Saúde de Mogi. Na inscrição é preciso pagar uma taxa de até R$ 60, porém o tratamento é gratuito. Julianne de Oliveira Lopes, estudante do 6° semestre de Odontologia na UMC, afirma que a clínica é importante para acrescentar conhecimento aos alunos. “Com base no que é ensinado na sala de aula e com a ajuda dos professores é possível realizar o atendimento necessário no paciente. Esta experiência contribui muito

para a vida profissional, já que com a prática ainda na universidade, adquirimos mais segurança para entrar no mercado de trabalho”, explica. A paciente Irene Doi aprova o serviço e destaca a utilidade para a comunidade. “O tratamento que realizei foi muito bom, além dos profissionais e os alunos atenderem bem. No meu caso, apenas o material foi cobrado, e então o tratamento ficou bastante em conta. Em outras oportunidades usaria novamente o serviço, pois a clínica da UMC não difere de um consultório comum”, afirma. A clínica da UMC funciona de segunda a sexta-feira, das 8 h às 17 h, na Avenida Doutor Cândido Xavier de Almeida e Souza, 200, no Centro Cívico, em Mogi das Cruzes. Para mais informações o telefone é 4798-7139.

Curso de Psicologia da UMC também oferece atendimento gratuito

KATARINE MARQUES

Lyamara Alves O curso de Psicologia da Universidade de Mogi das Cruzes conta com um serviço escola para atender a comunidade. O atendimento é gratuito e visa todas as faixas etárias. Desde que o curso foi implantado, mais de 40 anos atrás, ocorre esse atendimento. O trabalho é realizado por estudantes do último ano do curso de Psicologia, com orientação dos professores. A reportagem do Página UM conversou com a coordenadora do Curso de Psicologia, professora Ana Cristina Gomes, que fala da participação dos estudantes e a importância dessa experiência para o mercado de trabalho.

Alunos, funcionários e população em geral podem utilizar serviços da clínica

“O Serviço Escola faz parte da formação do aluno, então necessariamente nós precisamos

oferecer essa oportunidade de estágio. Cada instituição organiza seu sistema de serviço escola. A

JULIANNE DE OLIVERA LOPES/ ARQUIVO PESSOAL

Atendimento é realizado por alunos do curso, com a supervisão de professores

gente busca oferecer para o aluno um número variado de estágios, a partir das nossas disciplinas. Eles têm uma parte teórica importante e a parte prática, que ajuda a inseri-los no mercado de trabalho”. Segundo a coordenadora, a demanda é variada. "Há pessoas que procuram por telefone, e outras vêm pessoalmente. Esse serviço já faz parte da cidade, pois a população já sabe que dentro da Universidade tem atendimento gratuito de Psicologia. Muitas pessoas da cidade nos procuram para esse tipo de acompanhamento”. O atendimento pode ser solicitada mediante encaminhamento médico, por recomendação de escolas ou por iniciativa espontânea do interessado. Os tratamentos oferecidos são o Plantão Psicológico e Psicoterapia Adulta e Infantil, podendo ser individual ou

em grupo. Os tratamentos têm a finalidade de proporcionar melhor qualidade de vida para quem procura. Os plantões acontecem todos os dias e são destinados às emergências. Cada paciente tem direito a até dois retornos. Após a última consulta, a ficha do paciente é encaminhada para avaliação da supervisão. A Clínica tem algumas especialidades de atendimento, como psicoterapia, orientação profissional, avaliação psicológica, queixa escolar e situações para necessidades especiais. Para ser atendido é necessário fazer a inscrição diretamente na clínica, que fica na Avenida Doutor Cândido Xavier de Almeida e Souza, 200, no Centro Cívico. O telefone para contato é 11 4798-7133. A clínica funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h, e aos sábados das 8h às 14h30.


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Alunos ganham experiência em agência da UMC A Agência Experimental de Comunicação é ligada aos cursos de Comunicação Social e Design Gráfico FOTOS: JÉSSICA GIDORINI

Na Agência Experimental de Comunicação os alunos atendem clientes reais e encaram desafios semelhantes aos que encontrarão no mercado de trabalho

Jéssica Gidorini Em 2014, a Universidade de Mogi das Cruzes reativou a Agência Experimental de Comunicação (AECom/UMC) na qual alunos de Jornalismo, de Publicidade e Propaganda e de Design Gráfico podem colocar em prática o que aprendem em sala de aula. A agência atende gratuitamente organizações do Terceiro Setor com serviços de assessoria comunicação, que incluem campanhas publicitárias, desenvolvimento de identidade visual, assessoria de imprensa, entre outros serviços. No âmbito das campanhas, a AECom/UMC também organiza e divulga eventos internos e externos. Entre os clientes internos estão a Semana da Comunicação, e o Mimese Cineclube, eventos do

curso de Comunicação Social. No momento, a agência está desenvolvendo uma campanha para o curso de Odontologia da UMC. Liliane Santos, do 7º Semestre de Publicidade e Propaganda, já foi monitora da AECom. Entre outros trabalhos, ela participou da campanha de arrecadação de brinquedos para o Núcleo Aprendiz do Futuro e da criação do novo logotipo da Festa do Divino Espírito Santo do bairro Brás Cubas. Para ela, a atuação na agência contribuiu muito para seu crescimento pessoal e profissional. “Foi um período de muito aprendizado. Poder vivenciar a rotina de uma agência, atender mais de um cliente ao mesmo tempo e aprender a trabalhar com prazos, foi de grande valor”, afirma. “Pude também trabalhar e contribuir com

Professor Elizeu Silva, coordenador da Agência Experimental de Comunicação

organizações que prestam serviços importantes para a comunidade. Me sinto muito mais preparada agora para desenvolver os trabalhos na área da Publicidade e Propaganda”.

Para o professor Elizeu Silva, coordenador da agência, o desenvolvimento dos alunos é notável. “Eles ficam mais confiantes para atender as demandas, e isso libera a criatividade. Como espaço

de produção, a AECom permite que os alunos tenham contato com clientes e demandas reais. Isso faz com que eles amadureçam profissionalmente e ajuda-os a identificar seus pontos fortes e fracos”, comenta. “Para a instituição também é bom, pois revela a preocupação da universidade em oferecer um ensino de qualidade e com a formação completa dos futuros profissionais”, acrescenta. Segundo especialistas, a prática profissional possibilita ao estudante desenvolver habilidades, atitudes e competências que não são possíveis no ambiente escolar. Para o coordenador de recursos humanos, Leoncio Fernandes Cerqueira, estágios e monitorias permitem ao aluno ampliar o senso de responsabilidade, o profissionalismo e o comprometimento com os resultados. Ajuda, também, a adquirir a postura profissional tão necessária ao ambiente de trabalho. Cerqueira desta que toda experiência anterior à entrada no mercado, seja estágio, cursos ou atividades extras, são ferramentas importantes e se tornam diferenciais na hora da contratação. “É muito difícil encontrar candidatos qualificados e quando olhamos para o público jovem, essa dificuldade dobra, pois muitos deles dependem da ajuda familiar para custear o ensino. A qualificação do candidato é muito importante, mas a experiência é determinante na seleção do profissional”, ressalta o especialista. A AECom/UMC está localizada no prédio VI (Centro Cultural) do campus I, e funciona de segunda a sexta-feira, das 13 h às 17 h. Mais informações sobre a Agência podem ser obtidas através do e-mail aecom@umc.br ou do telefone (11) 4798-7150.


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Estúdios do LabCom atendem alunos de todos os cursos

Pipoqueira da UMC sobre clientes: “Amo esse povo“ YASMIN CASTRO

MARIA NASCIMENTO

Sempre sorridente, Tia Vilma, 56, há cinco anos atende no pequeno trailer vermelho do Centro de Convivência. "Não troco meu trabalho por nada", diz

YASMIN CASTRO

A estrutura do Laboratório de Comunicação, que inclui Rádio, TV e Foto, está disponível para a comunidade acadêmica

Maria Nascimento A Universidade de Mogi das Cruzes oferece aos alunos de todos os cursos um Laboratório de Comunicação que pode ajudar na produção de trabalhos audiovisuais. O LabCom fica no prédio VI do campus de Mogi das Cruzes, mesmo prédio que abriga a Biblioteca e o auditório do Centro Cultural. Alessandro Modugno, laboratorista editor de imagens e cinegrafista, explica que a estrutura é composta por estúdios de rádio, de fotografia e de TV, ilhas digitais de edição, câmeras e microfones profissionais. Além do Alessandro, outros dois técnicos auxiliam os alunos nas atividades. O LabCom faz em média, sessenta atendimentos mensais, a maioria para alunos de Jornalis-

mo e de Publicidade e Propaganda, segundo a também técnica de estúdio Gabriela Gonçalves. “Quem nos procura são principalmente alunos de Comunicação Social, mas alunos e professores de todos os cursos podem utilizar os estúdios”. Paulo Gabriel, estudante do 4° período de Psicologia, não sabia dessa possibilidade. “É muito importante essa interdisciplinaridade entre os cursos da UMC. Dessa maneira, outros cursos de Humanas, Exatas e Biológicas podem adentrar no universo da comunicação audiovisual e consequentemente da comunicação social, conhecendo maneiras mais aprofundadas e interessantes de abordar um assunto”. Hércules Moreira, professor responsável pelo LabCom ressalta a importância do espaço

para a comunidade acadêmica. “Os laboratórios de Comunicação são importantes porque é por meio deles que o aluno pratica a teoria aprendida em sala de aula. É uma maneira de exercer o que aprende com os professores, além de ser uma experiência, não mercadológica, mas acadêmica”. Segundo o professor, o uso dos laboratórios pela comunidade acadêmica em geral ocorre de acordo com a disponibilidade dos espaços. O interessado em utilizar os laboratórios deve agendar um horário junto aos laboratoristas. A única exigência é a assinatura do professor solicitante da atividade que exige laboratórios. O LabCom funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h, e aos sábados das 8h às 12h.

O barulho do milho que cai na panela quente antes de virar pipoca não incomoda Vilma da Silva, muito pelo contrário. Há cinco anos, a “Tia”, como é conhecida, trabalha para oferecer uma saborosa combinação entre pipoca, amendoim, queijo e bacon para quem passa pelo Centro de Convivência da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Atrás de um pequeno trailer vermelho, a senhora de sorriso largo afirma que seu trabalho é como um lazer, que ela não troca por nada. “Não penso em fazer outra coisa. Amo trabalhar aqui e meus clientes amam minha pipoca.” Tia Vilma tem 56 anos, nasceu e vive em São Paulo. Ela conta que essa é sua segunda profissão. Antes de ganhar espaço como única pipoqueira da universidade, trabalhou como empregada doméstica. A nova oportunidade surgiu com a ajuda de um parente que, na UMC, encontrou uma maneira de melhorar a renda da família que

não é pequena: viúva, Vilma tem três filhos e cinco netos. O difícil é trocar apenas meia dúzia de palavras com a vendedora. Enquanto cuida do fogão, Vilma se desdobra em conversas com os clientes. A relação carinhosa e recíproca surpreende. Muitas vezes, sequer é preciso conhecer a Tia Vilma para receber suas palavras calorosas. Todos são tratados como pessoas especiais. “Você prefere mais queijo ou amendoim, meu amor?”, pergunta para um cliente. “Aquele menino é seu filho? Ele é lindo”, comenta para outra. Segundo ela, muitas amizades surgiram graças à profissão. Falante e sorridente, a vendedora de pipocas se enche de orgulho ao falar da vida que leva. Todas as noites, de segunda a sexta, o óleo ferve na panela e seu sorriso contagia. “Como é bom a gente se sentir assim, amada pelas pessoas. Quem dá amor, recebe amor. Eu sou muito amada nessa universidade. Eu amo esse povo, é muito, muito bom”.


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Biblioteca da UMC está de portas abertas para comunidade Mais de 150 mil volumes de todas as áreas podem ser consultados e até emprestados pelos usuários MARINA DOI

Bibliotecas públicas da região resistem à era digital VERÔNICA RIBEIRO

Interior da biblioteca "Francisco Xavier de Jesus”, em Ferraz de Vasconcelos Além dos livros, o acervo é composto por trabalhos acadêmicos, periódicos, dicionários, normas técnicas, vídeos e CDs

LETÍCIA RIENTE

Marina Doi

Em meio a tantas ferramentas digitais para a leitura de livros, as bibliotecas ainda sobrevivem na região no Alto Tietê. Ao todo, são 90 mil títulos à disposição do público nas bibliotecas municipais de Mogi das Cruzes, Suzano, Poá e Ferraz de Vasconcelos. Os acervos incluem livros de todas as áreas, além de uma pequena amostra de exemplares em braile. Há também obras em áudio e vídeo. Nas três bibliotecas de Ferraz, além dos livros é possível utilizar a rede Wi-Fi para acessar a internet. De acordo com a bibliotecária Maria da Graça Guimarães Menna Barreto, o local recebe até entre 30 e 50 pessoas por dia. Para empréstimos e consultas ser cadastrado. Em Poá, a Biblioteca Municipal “Florestan Fernandes” dispõe de cinco mil exemplares, que ainda estão sendo classificados – por isso não é possível emprestar ma-

A Biblioteca Central da Universidade de Mogi das Cruzes mantém as portas abertas para a comunidade. Quem não é aluno ou professor da UMC também pode utilizar o acervo. Além do acesso no local, a biblioteca cede livros para os visitantes utilizarem fora da Universidade. Nesse caso, adota-se o empréstimo especial que permite ao usuário permanecer com o livro durante uma hora e meia. Caso o horário não seja respeitado, há cobrança de multa no valor de R$4 por hora de atraso. Para a bibliotecária responsável Decléia Faganello, o serviço prestado à comunidade é uma forma da Universidade se integrar com a cidade. “Abrir a biblioteca para quem não é aluno, funcionário ou professor da UMC contribui com o desenvolvimento da comunidade”, diz.

Exemplo dessa contribuição são as visitas regulares que a população faz ao local. De acordo com a recepção da UMC, a busca pelo acervo por parte de alunos de escolas públicas e particulares e de pessoas que buscam conhecimento específico, é considerável. Rian Fernandes, 21, estudante de Educação Física matriculado em outra universidade, já recorreu aos recursos do local para estudos. “Estou elaborando meu TCC e, para expandir minhas pesquisas, fui até à biblioteca da UMC procurar conteúdos que complementem meu tema”, relata. “Quem indicou foram professores da minha faculdade”. Engana-se quem acha que os frequentadores vão à biblioteca apenas para estudar. “Há pessoas que vêm todos os dias para ler jornais e revistas”, afirma Decléia. A biblioteca da universidade

possui acervo de aproximadamente 150 mil volumes, entre livros, trabalhos acadêmicos, periódicos, dicionários, normas técnicas, vídeos e CDs.

Como usar a biblioteca Para utilizar a biblioteca o visitante precisa utilizar a portaria A para ingressar no campus. Na recepção, é necessário apresentar documento com foto para um cadastro, que será consultado sempre que a pessoa voltar à universidade. A Biblioteca Central fica no prédio VI da UMC, campus Mogi das Cruzes, e funciona de segunda a sexta-feira, das 7h45 às 22 horas, e aos sábados, das 7h45 às 14 horas. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 4798-7117. A universidade fica na avenida Doutor Cândido Xavier de Almeida e Souza, 200, no Centro Cívico.

teriais. Contudo, a consulta é livre. Já em Suzano, na biblioteca do "Centro de Educação e Cultura Francisco Carlos Moriconi”, são disponibilizados 15 mil títulos de todas as grandes áreas do conhecimento. A biblioteca dispõe de acervo em braile e recebe visitas monitoras. Segundo o bibliotecário Gilmar Santana, uma média de 200 pessoas passa pelo local diariamente. Mediante cadastro, o usuário pode fazer consultas locais e empréstimo de obras. A biblioteca dispõe de versão digitalizada das obras. Em Mogi, a Biblioteca "Benedicto Sérvulo de Sant'Anna" dispõe de 35 mil livros de todas as áreas disponíveis para a população, além de edições em braile. Para ter acesso, também é necessário fazer cadastro na unidade. Os endereços das bibliotecas, bem como as regras para cadastramento de usuários podem ser encontrados na internet, nos sites das prefeituras.


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Evelyn, do 7º PP, é a menina de ouro da UMC Evelyn Vieira de Oliveira, atleta da bocha paralímpica, ganhou medalha de ouro nos Jogos Rio-2016 NICHOLAS MODESTO

"A medalha já virou praticamente um acessório", afirma a atleta. Da descrença total no esporte até o lugar mais alto do pódio, Evelyn superou barreiras e coleciona vitórias

nicholas modesto Dividir um triciclo com o irmão, se arrastar pela casa, subir no sofá, na cama, e até abrir a geladeira para “roubar” comida, são as lembranças de infância mais nítidas que Evelyn Vieira de Oliveira guarda. Evelyn tem 29 anos e possui uma síndrome congênita que a impossibilitou de andar desde o nascimento. Mas, mesmo com esse obstáculo, fez algo que muitos imaginariam impossível: ganhou uma medalha de ouro nos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Na adolescência, a atleta da bocha nunca se imaginou praticando algum esporte. “Nunca imaginei sendo atleta por entender que eu não tinha condições. Esporte, para mim, era correr atrás de bola, pular. Mesmo assim eu adorava bola e bexiga. Me lembro de pedir para que montassem uma rede de vô-

lei bem baixinha, em casa, para eu poder jogar”. A estudante do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) tem a família como estrutura, a base de tudo. Faz tudo pensando nela, buscando dar uma melhor qualidade de vida, e recompensar os familiares por tudo que fizeram por ela. Ela não tinha plano algum relacionado ao esporte. Sonhava apenas em conseguir estudar e ter uma profissão. Sabia utilizar computadores e escrevia bem, por isso pensava exercer alguma profissão no setor administrativo. Em 2009, Evelyn andava pelas ruas de Suzano com a mãe (na época ainda não tinha a cadeira de rodas motorizada que utiliza atualmente), quando uma professora do Sesi a abordou e perguntou se conhecia modalidades

paralímpicas. Ela não conhecia, e se espantou ao descobrir que era possível até receber auxilio em dinheiro como atleta. Ligou para se informar melhor sobre o assuntou, mas não tinha muita esperança: “Antes mesmo de ouvir o coordenador do projeto falei que não havia possibilidade de eu ser atleta. Mas não foi bem assim”, afirma. Ela foi até a escola e conheceu a bocha. Em pouco tempo já soube em qual categoria se encaixava, a BC3, na qual o lançamento da bola é feito com uso de uma calha. Viu que era possível, e correu atrás. Começou a praticar e, em pouco tempo, entrou em competições, onde descobriu um novo universo. “Antes eu só saía de carro, porque tinha vergonha de sair de transporte publico. Pouco tempo depois eu estava indo para campeonatos, viajando para outros

estados, outros países, e conhecendo histórias de outras pessoas que também tinham alguma deficiência”, conta. Depois de participar de campeonatos regionais, brasileiros, Copa América, no Canadá, e um open em Portugal, Evelyn acredita no esporte como uma ferramenta de transformação social. A partir da bocha, passou a se enxergar como cidadã. Entendeu que a visão que as pessoas têm dela é aquela que ela passar. “Se eu me mostrar como coitada, as pessoas me verão dessa forma. Mas se eu me mostrar à espera de uma oportunidade para construir uma história, é assim que todos me verão”. No momento do ouro, ela demorou a acreditar: “Demorou para cair a ficha. Meus parceiros comemoravam muito, vibravam. Eu olhei toda a torcida e na mi-

nha cabeça veio toda a minha trajetória, desde 2010. As vezes em que bati na trave, não fui para o brasileiro, ou fui fiquei com a prata em alguma final, por ter feito algo errado, os títulos que ganhei”, conta. Agora ela quer deixar como legado um alerta para as pessoas se lembrarem dos deficientes, melhorando a acessibilidade em todos os lugares. "Todos serão beneficiados", defende. Mas não só para pessoas com deficiência, mas espera ter tocado todos que têm algum objetivo, qualquer que seja. “Não precisa ser esportista, mas pegue os valores que o esporte oferece. Você aprende a valorizar uma equipe e as pessoas que estão ao seu lado, a ter disciplina e, mais que tudo, se enxergar como alguém que pode fazer mudanças”.


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cidadania

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Atendimento à população de rua é deficitário Serviço Social de Mogi das Cruzes atua isoladamente. Políticas intersetoriais permitiriam mais eficácia GEOVANNA GARCELLAN

Geovanna Garcellan Dependência química e violência são os principais problemas que pessoas em situação de rua enfrentam em Mogi das Cruzes. E o que tornam mais graves as condições é o preconceito e a falta de políticas públicas no município para atender de forma intersetorial essa população, afirma Osni Damásio da Silva, agente da Secretaria de Assistência Social. O Decreto Federal nº 7.053 sobre Política Nacional para a População em Situação de Rua determina a realização de ações educativas de combate ao preconceito e de conscientização quanto ao respeito a essas pessoas. Entretanto apenas uma vez por ano o município promove campanha de orientação voltada a crianças e adolescentes – que não compõem o perfil majoritário deste grupo, formado na maioria por homens entre 30 e 45 anos. O Decreto também determina a criação de canais de comunicação para recebimento de denúncias de violência contra a população de rua. Isto também não acontece em Mogi. De acordo com Larissa Carla Pina, que está nas ruas há mais de quatro anos, as ações da Guarda Municipal para dispersar os que buscam abrigo em praças no centro da cidade, principalmente no Largo Bom Jesus, são truculentas. “Os guardas são agressivos com a gente. Eles batem e ameaçam. Nós ficamos com medo”, conta. A falta de um centro especializado para atender as denúncias de abuso moral e físico que essa população sofre, aumenta o sentimento de insegurança de quem vive nas ruas. José Luiz da Silva, o Rabicho, gestor cultural do Casarão da Ma-

Mogi precisa de voluntários

ERICK MINORU NISIYAMA

Jovens voluntários da Interkaikans. Quem ajuda também é transformado

Tamires Vichi Pessoas em situação de rua se concentram no Largo Bom Jesus, centro de Mogi

riquinha, em frente ao Largo Bom Jesus, conta que já presenciou operações violentas da GM. “Essa política de higienização é muito forte e falta diálogo. Já está mais do que claro que a violência não resolve nada, mas quando se trabalha com cultura e esporte, por exemplo, conseguimos progredir”, pontua. Na opinião de Rabicho, a solução seria unir o trabalho da Secretaria de Assistência Social ao de outras pastas no desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a população em situação de rua. Osni concorda com a sugestão. Segundo o agente, o Serviço Social está organizando a criação de um Comitê Gestor Intersetorial. “Ainda não temos previsão de quando

será instituído legalmente o comitê, mas já iniciamos reuniões com outros setores da prefeitura e as expectativas são positivas. Com a participação de outras pastas poderemos oferecer um atendimento melhor”, explica. Outro problema grave enfrentado por essa população é que a maioria é dependente química. Dados da Secretaria de Assistência Social indicam a dificuldade para a reinserção dessas pessoas na sociedade devido ao uso de drogas. Porém a cidade ainda não possui unidades de reabilitação. O primeiro CAPS-AD (Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Outras Drogas 24 horas) do município será inaugurado somente em novembro deste ano.

Centro POP é o único da cidade

Atualmente o Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua – Centro POP – é a única unidade em Mogi das Cruzes preparada para atender e encaminhar a população de rua da cidade. Segundo Osni, 40 pessoas são atendidas diariamente com higienização, alimentação e acompanhamento psicológico. A unidade também conta com uma equipe de oito agentes sociais que faz trabalhos de abordagem todos os dias, das 7h às 21h. Larissa, que recebe atendimento no Centro POP há quatro meses, diz que muitas vezes faltam materiais de higiene pessoal. O problema, como explica Osni, se dá pelo atraso de repasses do governo federal.

Mais de 100 entidades beneficentes de Mogi das Cruzes se mobilizam para ajudar crianças, idosos, portadores de deficiência, pacientes com câncer, famílias de baixa renda e animais abandonados. Para todo esse trabalho elas necessitam de pessoas, e é aí que as dificuldades começam. Faltam voluntários em Mogi. A Associação Mogiana de Educação e Ação Social, por exemplo, no passado oferecia oficinas de informática, artesanato, dança, violão, corte e costura, entre outras, mas atualmente, por falta de professores, teve que suspender alguns cursos. O problema não é apenas mogiano. No Brasil atualmente há grandes discussões acerca da importância do trabalho voluntário como ferramenta de transformação social. A estudante Kelly Mayumi, de 19 anos, faz parte da Associação Interkaikans, que reúne jovens de Mogi para arrecadar roupas, utensílios e mantimentos que são repassados a outras quatro entidades do Alto Tietê e de São Paulo. “Desde a primeira vez me apaixonei pela causa", afirma. "Podemos fazer algo para o mundo. Por mais que não tenhamos poder de nada, o pouco que fazemos ajuda pes-

soas de uma forma grandiosa”. A atuação das associações não se resume ao assistencialismo, mas procura promover inclusão social e criar oportunidades. O GAPC (Grupo de Apoio à Pessoa com Câncer) de Mogi é uma das entidades que atua desta forma. Além de disponibilizar medicamentos não acessíveis pelo SUS, fraldas, acompanhamento psicológico, nutricional e fisioterapeuta, o GAPC também oferece alfabetização de adultos. Outras tantas ONGs oferecem cursos para reforçar o ensino e a profissionalização, abrindo portas para pessoas mais carentes. Na ONG Love Down, engajada com o desenvolvimento de pessoas com Síndrome de Down, a maior dificuldade é conseguir voluntários para o dia-a-dia, já que para eventos especiais sempre tem gente disposta a ajudar. Além do voluntariado ter se tornado importante ferramenta social, também transforma quem oferece um pouco do próprio tempo. “No final de cada evento eu me sinto feliz, numa paz interior indescritível”, afirma Kelly. Além disso, a participação em atividades voluntárias têm chamado atenção no mercado de trabalho, podendo ser um ótimo diferencial no currículo.


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Moradores reclamam da falta de serviços públicos No Jardim Piatã I e II, falta de pavimentação e córregos sem canalização estão entre os problemas AMANDA MANTOVANI

Doenças cardíacas matam quase mil pessoas por dia REPRODUÇÃO SBC

Socidade Brasileira de Cardiologia mantém site que calcula riscos de doenças

Magda Nathia

Moradores da rua Bragança Paulista, no Jardim Piatã II, convivem com mato alto, falta de limpeza e córrego a ceú aberto

Amanda Mantovani A impressão que se tem ao andar pelas ruas e ouvir os moradores dos bairros Jardim Piatã I e II é que ali os serviços básicos não são realizados pela prefeitura. Há problemas com ruas esburacadas e sem pavimentação, falta de limpeza pública, córregos sem canalização, mato alto e descarte irregular de lixo. “A verdade é que nós não temos benefício nenhum”, queixa-se Mirian Castro, moradora do Jardim Piatã II. Ela conta que na rua Barra Velha, onde mora, os córregos a céu aberto causam problemas há muito tempo. “Em 2015 o córrego subiu e eu perdi todos os móveis na enchente. Felizmente consegui salvar meu filho, mas até hoje luto para recompor minha vida”, relata. Ela conta que em época de eleição são realizadas promessas de melhorias, mas depois tudo é

esquecido. “A única coisa que conseguimos foi um posto de saúde e uma creche”. O vice-presidente da Associação dos Moradores do Jardim Piatã, Antonio Lima, reforça a opinião. “Aparecem aqui pedindo voto mas nada é realizado. Precisamos de asfalto e da limpeza dos córregos urgentemente, mas pelo visto, estamos abandonados”, lamenta. Antonio Lima afirma que a situação no bairro é tão crítica que há risco de proliferação do mosquito da dengue. “Falam tanto dos cuidados com o mosquito da dengue, fazem tanta campanha, mas nos deixam nesse estado”, critica. O presidente da Associação dos Moradores do Jardim Piatã, Geraldo Mauricio, afirma que em 2008 houve uma reunião com o prefeito, na qual foi prometido asfaltamento para o bairro. "Infelizmente foram só promessas”, garante. Para Geraldo o que mais incomoda é a falta de pavimentação.

“Precisamos de muitos serviços, mas se fosse para pedir apenas um, seria a pavimentação urgente das ruas”, diz. Segundo dados da prefeitura, cerca de 90% das ruas do Jardim Piatã I e II não são asfaltadas. O outro lado Em nota, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSU) informou que não há previsão de obras ou projetos de melhorias. Afirma, porém, que a prefeitura mantém serviços rotineiros de manutenção das vias dos bairros. Com relação à limpeza dos córregos, a Secretaria informa que o serviço é realizado frequentemente. Ainda segundo a nota, os descartes irregulares de lixo, sempre que detectados, são recolhidos. Na mesma nota, a Secretaria afirma que os bairros são atendidos pela coleta domiciliar de lixo três vezes por semana (terças, quintas e sábados), no período diurno.

Doenças cardíacas levaram à morte 346.896 pessoas no Brasil em 2015. E os números não param: até o dia 23 de outubro deste ano já foram mais de 280 mil mortes, segundo o Cardiômetro – ferramenta online desenvolvida pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), que calcula a mortalidade por patologias cardíacas no Brasil. O comerciante Desidério Sampaio de 58 anos, de Poá, descobriu por acaso que tinha problemas no coração. Após se sentir mal e procurar um hospital, ele foi diagnosticado com arritmia. Além disso, algumas veias do lado esquerdo do coração estavam entupidas. A suspeita médica é de que ele tenha tido vários infartos silenciosos. Agora, mudanças foram necessárias: “Adotei uma alimentação mais leve, o que tem me ajudado a perder peso. Além disso, diminuí o ritmo de trabalho”, explica. A alimentação é fator essencial para a prevenção e tratamento das doenças. Segundo o cardiologista, Celso Amodeo, iniciativas simples podem melhorar a saúde e a qualidade de vida. “Manter um estilo de vida saudável com redução do

consumo de sal e de alimentos ricos em gorduras, fazer atividade física, não fumar e evitar o consumo de álcool são algumas formas de prevenção”, afirma. Para ajudar na conscientização, a SBC investe em campanhas que alertam a população sobre esses riscos. Durante o mês de setembro, por exemplo, a entidade organizou diversas ações em função do Dia Mundial do Coração, celebrado em 29 de setembro. Por isso, o mês foi apelidado de Setembro do Coração. “Programas como esse ajudam a chamar a atenção da população sobre o problema”, ressalta o médico. Ainda segundo Amodeo, alguns sintomas indicam o surgimento da doença e devem ser observados. “Falta de ar, dor no peito, batimentos irregulares (arritmia) são os principais”, alerta. Uma recomendação importante é que as pessoas passem regularmente no médico e façam exames de rotina. Para aqueles que desejam saber qual a probabilidade de desenvolverem doenças cardíacas, é possível fazer um teste online no site da SBC, disponível no link: http://prevencao.cardiol. br/testes/riscocoronariano/principal.asp.


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voluntariado

“Doutores palhaços” levam alegria a hospitais Buscando o bem-estar dos pacientes, o grupo Soul Alegria faz visitas com muito humor e descontração Ewelin Alves O Grupo Soul Alegria acredita que rir é o melhor remédio para tudo e por isso leva um pouco de alegria e amor a hospitais na forma de “palhaçada”, com doutores de avental branco e nariz vermelho. Eles arrancam sorrisos pelos corredores e quartos dos hospitais. O projeto social Soul Alegria foi criado em 2011, com o intuito de transformar os atendimentos de doutores palhaços, tendo como objetivo principal atender os adultos, idosos, acompanhantes e os profissionais da saúde. São 45 doutores palhaços voluntários que atendem em oito hospitais, sendo sete na capital e um em Mogi das Cruzes. A cada quarto uma nova história ocorre, por meio de ações simples como contar piadas, fazer charadas, conversar, fazer palhaçadas para provocar um sorriso, e até ouvir desabafos. Eles interagem com o paciente e seus acompanhantes com a intenção de fazer com que aquele momento da vida não seja tão amargo. Da mesma maneira é feita a abordagem com os profis-

sionais da saúde, pois um trabalho que exige tanto empenho e esforço também merece um momento de descontração. Clerson Pacheco, 46 anos, fundador do Soul Alegria, há 11 anos dá vida ao palhaço Doutor Miojo Pena Branca. Ele defende que as visitas não levam apenas alegria a quem está internado, mas promove a humanização e a sensibilização das pessoas. “Minha função social é levar um pouco de conforto a quem precisa. Não falamos sobre a doença ou o motivo da pessoa estar ali; falamos sobre a vida, as coisas que eles fizeram de bom, damos força para que eles queiram sair daquela situação. Essa é a função social de um palhaço, e vai muito além de fazê-los sorrir”. Vanessa Passos, 37 anos, palhaça há 14 anos e voluntária do Soul Alegria há três, como a Doutora Charadinha, atende no Hospital Regional em Santo Amaro com seu colega Danilo de Oliveira, 32 anos, o Doutor Tum Tum, voluntario há um ano. Eles acreditam que trabalhar nesse projeto é uma maneira de contribuir para um mundo melhor. “Podemos encher

o mundo de amor, olhar para o outro e levar atenção, carinho, levar esperança de dias melhores e distribuir sorrisos. Sei que não podemos mudar o mundo, mas podemos fazer nossa parte, e o Soul Alegria nos permite isso”. A coordenadora da central de ação voluntária do Hospital do Servidor Público Municipal, Fátima Nicoletti, acha primordial o trabalho do Soul Alegria. “Acredito que os doutores palhaços são peça chave na recuperação dos pacientes. A cada visita eles trazem alegria, distração, e a melhora é visível principalmente nos idosos. Melhora a condição de medicamento e os pacientes respondem melhor ao tratamento. Quando eles chegam é uma alegria só, mudam o humor dos funcionários e acompanhantes, passam grande confiança para todos”. Além das visitas aos hospitais, o Soul Alegria promove a palestra motivacional “O mundo ideal não se sonha, se faz”, em empresas, universidades e escolas e também oferece o curso de doutor palhaço, com duração de seis meses, para qualquer pessoa que queira ser voluntario do projeto.

ALLAN LOPES

ACERVO SOUL ALEGRIA

Administradores, secretária executiva, instrumentadora cirúrgica, entre outros profissionais, atuam como voluntários

Clerson Pacheco, fundador do grupo Soul Alegria, como Dr. Miojo Pena Branca


lazer

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Serra do Itapety oferece lazer e aventura O Pico do Urubu, na Serra do Itapety, é um dos pontos turísticos mais conhecido da região GUSTAVO PEREIRA

William Honorato é recordista em voo livre no Pico do Urubu, são mais de 30 voos para praia, entre eles um para Boiçucanga, que fica a aproximadamente 100 quilômetros da regiao de Mogi das Cruzes.

Gustavo Pereira Com a saída prevista para as 8 horas da manhã, Rubens Eduardo, 20, e Andrew Lucas, 22, me encontram perto de casa – moro em Cesar de Souza. O mais experiente do grupo é Rubens, que faz trilha há mais de dois anos. Andrew, assim como eu, é principiante. No Terminal Rodoviário Geraldo Scavone encontramos o último integrante do grupo, Thiago Caetano, 22, também debutando na aventura ao topo da Serra do Itapeti. Caminhamos até a avenida Lothar Waldemar Hoenne e seguimos por ela até o bairro Ponte Grande. O caminho, até este ponto, é tranquilo. A dificuldade começa logo no início da rua Benedito Ferreira Lopes. A partir daí é só

subida, e muitas extremamente íngremes. O sol aparece em alguns momentos entre nuvens – torço para que o tempo melhore e que encontremos alguma espécie rara dos animais que habitam essa região. Quem sabe uma onça parda? Jefferson Leite, 46, veterinário da Zoomédica Assistência Médica Veterinária e do Núcleo de Prevenção e Controle de Arboviroses, em entrevista que me concedeu, afirmou que na Serra do Itapety existem espécies raras e ameaçadas de extinção, entre elas a jacutinga, a onça parda, o gato-do-mato e o gato-mourisco. Para ele, a presença do ser humano influencia, pois causa impacto direto no habitat. Por isso, revela o veterinário, existem áreas protegidas do Parque Municipal e da Estação Ecológica

do Itapety, além de outras. Mas ele alerta que mesmo assim não é suficiente. Falta à cidade um centro de triagem de animais silvestres. No meio do caminho não encontramos a onça parda, mas nos deparamos com Klegineuton Andrade dos Santos, 24, com o seu cão Malhado. O destino deles também é o Pico do Urubu. Morador de Ponte Grande, ele conta que vai sempre a pé ao pico. Quando não pode contar com os amigos, Malhado lhe faz companhia. Chegando ao topo, enfim admiramos a beleza da vista. A paisagem recompensa nossa subida. Os raios solares mergulham na mata fechada criando um efeito estroboscópico quase hipnótico. Observar a cidade instiga no grupo a reflexão do existencialis-

mo individual e coletivo, abrindo espaço para filosofias e questionamentos sobre a vida. Entre as discussões sobre a importância de aproveitarmos a vida, me lembro de uma frase do poeta Mario Quintana que diz “Um dia... Pronto! Me acabo. Pois seja o que tem que ser. Morrer: o que me importa? O diabo é deixar de viver”, ou como disse Benjamin Disraeli, “a vida é curta demais para ser pequena”. Antes de irmos embora, conheço William Honorato, 40, integrante do Clube de Voo Livre de Pico do Urubu e recordista em Cross Counter (voo de longa distância). Vencedor do festival de voo livre de 2015, ele conta que já soma 30 voos para a praia, entre eles, para Boiçucanga que fica a

aproximadamente 100 quilômetros de Mogi. Enquanto ele se prepara para voar, eu aproveito para fazer algumas fotos. Dessa vez não encarei o voo livre duplo. Percebo que para quem pratica, voar é uma arte, envolve noções de meteorologia, física e muita prática. A decida é mais árdua que a subida. Klegineuton nos mostra duas trilhas que geralmente faz em grupo. O caminho é estreito e agora o maior esforço é para não cair. A trilha é cheia de ladeiras íngrimes. Ao final da nossa expedição todos estão cansados, mas a satisfação reflete no olhar. A sensação é de que viajei para outro lugar, um pedaço de beleza que está muito perto de nós e reflete a maior riqueza da cidade de Mogi das Cruzes: A Serra do Itapety.


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animal

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Animais ganham hospital público em Mogi Centro de Bem-Estar Animal atende vítimas de maus tratos e abandono. É a primeira iniciativa do gênero no AT ONG ADOTE JÁ

Jeferson Veras Mogi das Cruzes ganhou no dia 17 de setembro o primeiro hospital público veterinário da região do Alto Tiete. O hospital fica no bairro Cesar de Souza tem por volta de 345 metros quadrados com espaços para cães e gatos, sala de cirurgia, sala de observação para animais em recuperação e espaço banho e tosa. Segundo a Prefeitura de Mogi das Cruzes foram investidos nesse projeto R$ 657 mil reais. Para o veterinário do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) Jefferson Leite, a chegada do hospital tem sua importância pelo fato do atendimento ser principalmente para animas carentes de atendimento médico. Ele reconhece, entretanto, que a implantação de uma unidade de atendimento gratuito não é a solução imediata para o problema dos inúmeros animais que sofrem sem atendimento médico. “São necessárias

CAROLINA CRICA

Hospital fica no Cento de Controle de Zoonoses (CCZ), em César de Souza

leis de proteção e bons projetos de castração e de registro destes animais. Além disso, não existe mudança sem que haja conscientização da população e uma boa associação entre ONGs, médicos veterinários, sociedade e poder público”, afirma. O valor investido no hospital veio de emenda parlamentar destinada à ONG Adote Já, engajada

no projeto desde o início. A entidade, que administrará o hospital, afirma que a intenção é acabar com o serviço de eutanásia que há anos sacrifica animais da região por falta de atendimento. O Centro de Bem-Estar Animal atende a população de baixa renda e animais resgatados pelo CCZ. Casos graves serão acolhidos na hora sem precisar de agendamento.

Suzanense retoma treinos após sonho Olímpico

LEONARDO CARLOS As Olimpíadas Rio-2016 tiveram sabor especial para uma atleta da região. Trata-se da suzanense Giovana Pass, 18 anos, que pela primeira vez participou dos jogos, na modalidade adestramento. A jovem, que começou no esporte aos cinco anos, representou o Brasil ao lado de Luiza Almeida, Pedro Almeida, Manuel Almeida e João Victor. Na prova individual, Giovana ficou com a 47ª colocação, a segunda melhor marca entre os brasileiros, atrás apenas de João Victor. “Fiquei feliz com o meu resultado. A experiência foi indescritível. Só o fato de poder competir com os melhores do

Abandono de animais domésticos cresce em Mogi

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Zíngaro, cavalo com o qual Giovanna competiu nas Olimpíadas Rio-2016

mundo já fez tudo valer a pena. Minha prova foi linda, sem erros, fiquei extremamente satisfeita”.

Passado o clima olímpico, a amazona agora projeta a sequência da carreira. O primeiro passo foi a aquisição do novo cavalo Cabernet. “Estou treinando meu novo cavalo, para, quem sabe, competir com ele em Tóquio em 2020. Ele só tem três anos, então há o risco dele não chegar a tempo no nível que a competição exige. Neste caso, o Zíngaro – utilizado no Rio, ainda estará pronto”. Treinando na capital paulista, a amazona já tem em mente os próximos objetivos. “Minha próxima competição é o campeonato brasileiro em novembro. Mas meu grande objetivo é participar do próximo mundial, que será disputado em 2018”, afirma.

Cidade tem cerca de 80 mil animais abandonaos. Denúncias são raras

Carolina Crica Com população de 429.321mil habitantes (IBGE), Mogi das Cruzes tem atualmente cerca de 80 mil animais abandonados, segundo o veterinário Jefferson Renan Araújo Leite, do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da cidade. O maior problema, segundo o veterinário, são os animais semi domiciliados, ou seja, aqueles que possuem donos mas que estes não se responsabilizam. “Eles vivem nas ruas, onde acabam tendo contato com outros animais, procriando, brigando e sendo contaminados por doenças. Depois retornam para casa, onde entram em contato com humanos aumentando ainda mais o problema”. As causas para o abandono de animais vão de dificuldades econômicas até as viagens de férias e a impossibilidade de levar o animal. Segundo a veterinária e proprietário de um haras em Arujá, Bárbara Assis, para cuidar de um cão ou gato a família pre-

cisa desembolsar entre R$ 100 e R$ 150 mensais. "Há pessoas que compram um animal por modismo, sem se dar conta que precisam de um espaço adequado, que precisam dedicar tempo e carinho ao animal, que é necessário atendimento veterinário etc. Quando percebem que não conseguem dar conta, ou não querem o trabalho, soltam ele nas ruas”. O Centro Zoonoses de Mogi das Cruzes adota o programa de castração gratuita como medida preventiva para a reprodução descontrolada de animais. Para o oficial de Controle de Animais, Ênio Roberto, o fim do abandono será realmente eficaz quando existir educação em primeiro lugar. Nos casos de adoção é necessário avaliar o adotante e o adotado. E completa: “Quando há maus tratos, é necessária intervir judicialmente, mas infelizmente as leis não funcionam como deveriam e as pessoas muitas vezes evitam de efetuar a denúncia, o que torna quase impossível solucionar o problema”.


personagens

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Negócios diferentes: a ousadia que deu certo Pessoas que não se adaptaram ao mercado tradicional mostram que carreiras alternativas podem dar certo HENRIQUE MOREIRA

João Machado, o guardião da memória arujaense JOÃO RENATO AMORIM

Henrique Oliveira Moreira Seu nome é Lucas Lopes, tem 19 anos e mora em Suzano. Lucas escolheu o malabarismo como profissão e está nesse ramo há três anos. O que o levou a essa escolha foi o desejo de se envolver mais diretamente com seus sentimentos e de sentir-se livre para se expressar. Largou, então, o emprego no telemarketing e as metas diárias traçadas pelos supervisores. “As pessoas te veem apenas como número, e não como ser humano que está ali tentando dar o melhor de si”. A decisão de Lucas segue uma tendência. “Principalmente pessoas de cargos importantes e que vivem a rotina empresarial há muito tempo acabam largando tudo quando percebem que só o dinheiro não basta”, explica o neurocientista e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Fernando Canova. Para ele, as pessoas começam a encontrar suas vocações quando mudam o pensamento do quanto vão receber para o quanto fazer determinada coisa será bom. Largar tudo para fazer mala-

barismo no semáforo foi o primeiro passo em busca da felicidade para Lucas, mas a família achou que era uma decisão muito radical. Contudo, ele se diz mais feliz atualmente. “Ser artista de rua está sendo a minha melhor escola. Lidando diretamente com o público aprendo que fazendo bem o que amo o dinheiro vem, como consequência”. A partir do primeiro passo Zupim – o personagem interpretado por Lucas Lopes – participa de vários eventos, entre festas e apresentações de teatro, além de dar aula de circo na Escola Estadual Geraldo Justiniano, em Suzano. Ele está aprendendo balé contemporâneo, street dance e acrobacias para chegar ao seu objetivo que é entrar em uma companhia de circo ou num bom grupo de teatro.

Jefferson Bueno Acordar cedo nunca foi problema para o suzanense Jefferson Dantas Bueno, 44 anos. Desde os 15 ele adestra cães, profissão que escolheu quando uma pessoa lhe disse que ele tinha "dom" para aquilo. Antes de se descobrir como encantador canino, Jefferson sou-

be exatamente o significado das palavras “prazo final”, quando trabalhava fazendo coxinhas e outros salgadinhos com a mãe. “Ela não gostou quando comecei a trabalhar com cães, porque teve que continuar sozinha. Mas não me arrependo”. Deixar a mãe foi uma decisão difícil, pois ele também amava o que fazia. Porém, quando colocou na cabeça que devia trabalhar com adestramento, indo até Mogi de bicicleta para buscar cães, percebeu que não poderia mais desistir. “Montei um local de treinamento ao lado da Escola Antônio Rodrigues de Almeida (o Cruzeirinho), e lá conheci muitos policiais que também utilizavam o local para treinar cães”. Ele ainda faz uma maratona diária para buscar os cães, mas agora munido de carro e carreta. Por mais que as pessoas associem a palavra estresse a situações negativas, muitas vezes são nesses momentos de crise que a criatividade aflora. “O nível de estresse muito alto causa ansiedade e faz você levantar de manhã pensando ‘hoje vai ser melhor, hoje eu vou fazer diferente”, diz Fernando Canova.

Através de livros e fotos, João Machado preserva a memória de Arujá

João Renato Amorim A história das sociedades é construída aos poucos. E essa contínua construção se dá por gente que quixotescamente tem como missão juntar e preservar registros e memórias. João Gonçalves Machado, 82, pode ser considerado como um desses operários que ajudam Arujá a cuidar da sua memória. Paulista de Cruzeiro, é formado em Sociologia, com mestrado e doutorado na área. Em 1954 ingressou no Exército e em 1956 foi a uma missão de paz no Canal de Suez, Egito. Ficou mais de seis anos na região, onde cursou antropologia. Reside na cidade há 37 anos, após um exílio político do Regime Militar (1964-1985). “Todos os sociólogos foram exilados”, conta. Ele é autor de duas obras sobre a cidade: “Arujá-Conto, canto e encanto com a minha história”

e “Arujá-Serra dos Rayos”, um infanto-juvenil sobre a origem do nome da cidade. Além disso, colaborou com jornais e revistas de São Paulo. Ele não guarda nenhum exemplar das obras, pois acha estão obsoletas. Em uma sociedade tecnológica, João afirma que muitos jovens ainda têm interesse por história. Muitos o procuram. O seu acervo é composto basicamente de fotos e microfilmes com documentos de Arujá e Mogi das Cruzes. Entre as inúmeras peças, a que ele considera de maior valor é a cópia de um documento de 1612 sobre a origem de Mogi. Ele diz ter mais de 500 fotos sobre a vida e o cotidiano arujaense, acervo iniciado há mais de vinte anos. Parte das fotos vem de doações de amigos e conhecidos. Nos meses de julho e agosto, organizou uma exposição na Biblioteca Municipal, onde a população pode ver em algumas imagens a história da cidade.


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inclusão

Lurdinha, a “mãe” dos atletas com deficiência Professora de Educação Física se dedica à inclusão social de portadores de necessidades especiais FOTOS: THIAGO CAETANO

Thiago Caetano Você tem um sonho e sabe que, para conseguir realizá-lo, precisará de muita dedicação para romper diversas barreiras nesse caminho. Maria de Lourdes da Rocha, de 47 anos, tinha um desejo: trabalhar com crianças. Conhecida como Lurdinha, ela chegou a ter chance de participar como atleta dos Jogos Olímpicos de Seul, na Coréia do Sul, em 1988. Porém, por falta de patrocínios, acabou não disputando. Nem por isso sua bela história com o esporte se encerrou. Nascida na cidade de Rinópolis, interior de São Paulo, Lurdinha ingressou na faculdade de Educação Física em 1990. Naquela época, trabalhava três dias da semana fazendo faxina em apartamentos, treinava no período da tarde e estudava à noite. Dois anos depois, o Clube Náutico Mogiano a convidou para trabalhar no “Projeto Patinho”, voltado para o atletismo, esporte que praticava. Mais tarde passou a trabalhar também com natação, algo que não estava nos seus planos. “Fiz muito estágio com natação, mas não era meu sonho. Do atletismo eu fui direto para natação. É tudo tão diferente... Eu falava que não queria natação, mas acabei gostando “, conta. Lurdinha montou então um programa de inclusão pelo esporte para crianças portadoras de deficiência. A procura foi grande desde o início, inclusive dos pais das crianças. A partir daí, Lurdinha encontrou a primeira barreira em sua trajetória. “Quase não tinha natação em Mogi, imagina para deficientes. A barreira começava no fato de que os clubes particulares não permitiam que as portadoras de deficiência se

Professora de Educação Física é considerada “mãe” dos atletas portadores de deficiência. Para a educadora, a convivência com as crianças garante aprendizado

misturassem com as outras crianças. Primeiro trabalhei com um autista bem severo. Eu não tinha nenhuma experiência. Foi aí que decidi trabalhar com essas crianças, mas meu objetivou nunca foi esse. Hoje sou apaixonada e quero trabalhar especificamente com crianças deficientes”, garante. Para Lurdinha, a convivência com as crianças proporciona um aprendizado muito grande e não existe felicidade maior do que ver um sorriso estampado no rosto delas. “Cada um tem sua história, sua vivência com deficientes. É tão pouco o que eles querem: serem iguais, um cidadão igual a outro. Então é muito pouco para eles. A partir deles, estou aprendendo muito”. Realizado o sonho de traba-

lhar com crianças, Lurdinha traçou um novo objetivo: ver um dos seus alunos disputando os Jogos Paralímpicos. No momento ela está se concentrando em Jaqueline Gonçalves, 20 anos, para a natação, e Élber Nunes,16, para o atletismo. Ambos estão sendo preparados para os jogos de 2020, em Tóquio, Japão. “A Jaqueline já disputa alguns campeonatos pela região e acredito que em 2020 ela possa estar lá. O mesmo deve acontecer com o Élber. Quero que eles realizam o que eu não realizei”, finaliza.

Lurdinha sonha em ver alunos disputando os Jogos Paralímpicos 2020, em Tóquio, no Japão


direitos

Código de Defesa do Consumidor garante direitos de devedores

Dica para quem está endividado

Inadimplentes têm o dever de quitar dívidas, mas não podem ser constrangidos ou incomodados pelos credores LETÍCIA SANTIAGO

Número de endividados cresce. Comerciante poaense José Aparecido Donizete mostra dívidas e busca solução para quitá-las

Letícia Santiago O número de inadimplentes e endividados cresce a cada dia no país. De acordo com os dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, no mês de agosto de 2016 o porcentual de famílias com dívidas alcançou a marca de 58,0%, um

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aumento de 0,3 ponto porcentual em relação aos 57,7% registrado em julho do mesmo ano. O total de famílias com contas atrasadas também aumentou entre julho e agosto, de 22,9% para 24,4%. Em reflexo desse crescimento, os direitos dos devedores passaram a ser discutidos, pois em alguns casos os clientes com débitos

em atraso são constrangidos pelas empresas de cobrança. Ligações telefônicas em horários e locais inapropriados e exposição do devedor ao ridículo estão entre as medidas abusivas de cobrança cometidas por credores. “O consumidor inadimplente tem a obrigação de cumprir o pagamento, porém ele precisa ter os seus direitos res-

“Primeiramente, é necessário que a família conheça seus gastos. Saber o que é essencial, importante para viver e o dispensável no orçamento. Em segundo lugar, é preciso conversar com cada pessoa e empresa a quem você deve. Assim, mostra sua intenção de pagar. Em terceiro lugar, sugiro fazer duas listas de credores: pessoas físicas e pes-

peitados. O credor não pode ligar a todo instante perturbando-o em horários impróprios, deixar recados com outras pessoas ou enviar cartas que indiquem no envelope que trata-se de uma cobrança. A dívida precisa ser detalhada apenas com o responsável”, explica o advogado e especialista em direitos do consumidor Dori Bocault. O consumidor inadimplente que recebe esse tipo de abordagem deve registrar uma reclamação no Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor). “O artigo 42 do Código de Defesa do Consumidor aborda as cobranças de dívidas e o 43 os cadastros de inadimplentes em serviços como SPC e Serasa, a partir desses artigos verificamos que toda vez que uma empresa atormenta ou ameaça o devedor, é necessário registrar junto ao Procon uma reclamação para que a mesma possa ser autuada por suas importunações. Aquele que tiver a oportunidade, pode gravar a ligação para comprovar que está sendo cobrado de forma indevida”, afirma o especialista. Após tentativas para eliminar pendências financeiras, muitas vezes os consumidores fracassam, e isso, pode ocasionar no famoso “nome sujo”. “Depois do vencimento da data limite para pagamento da dívida, a empresa deve notificar o devedor com uma carta que contenha origem da dívida e os devidos valores. Além disso, a empresa precisa estar ciente de que o consumidor foi notificado sobre o atraso. Em até dez dias,

soas jurídicas. E, finalmente, em quarto lugar comece a pagar com o que sobra mensalmente do orçamento doméstico.Se houver possibilidade de contratar um crédito consignado (aquele com desconto em folha de pagamento) e quitar tudo, será formidável! Mas se não for possível, vá pagando tudo à vista e informando aos outros credores da sua situação”.

caso o cliente não faça uma renegociação, o mesmo poderá ser cadastrado nos serviços SPC ou Serasa”, ressalta Dori. Ser um consumidor consciente significa pensar, pesquisar e avaliar se a compra é realmente necessária, porque as pessoas costumam comprar produtos que são desnecessários, adquirindo até mesmo empréstimos ou parcelando no cartão de crédito apenas para sentir a satisfação da compra. O consumidor que não possui conhecimento do valor de suas dívidas pode se perder em meio a tantos cartões de crédito e consumos impensados, ocasionando riscos para sua saúde financeira, ou seja, sujeitando-se à inadimplência. “Em qualquer problema na vida, ignorá-lo ou desconhecê-lo impede que possamos trabalhar na solução. Numa guerra, ao desconhecer o inimigo somos facilmente derrotados. Na área financeira ocorre o mesmo. As dívidas minam nosso ânimo, qualidade de vida e até nossa saúde.” explica o administrador financeiro e diretor da empresa Valores Múltiplos - Reorganização Financeira, Walter Eclache. O comerciante José Aparecido Donizete, residente no município de Poá, está endividado em três cartões de crédito e não sabe como quitar suas pendências. “Fiz uso abusivo do cartão de crédito comprando tudo que podia parcelado, isso me gerou uma dívida de cerca de R$ 3.000, não sei como resolver esse problema” afirma.


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cultura

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Batalha das Trevas reúne cultura e contestação Movimento cultural reúne jovens nas ruas de Jundiapeba, levando música, dança e cultura a população Juliana Almeida Batalha das Trevas é um movimento cultural dos jovens mogianos que acontece toda sexta-feira, desde janeiro de 2016, na Praça dos Veteranos de Guerra em Jundiapeba. Eles se reúnem para batalhas de rimas, dança de rua e levam a cultura Hip Hop para as ruas do bairro. O Hip Hop é muito rico em linguagem e danças. É um estilo conhecido por utilizar a arte como forma de protesto social e por valorizar a identidade cultural das periferias. Muitas pessoas o adotam como estilo de vida, alguns chegando a se tornar MCs (Mestres de Cerimônia). Quem participa das Batalhas geralmente sonha com este futuro. A Batalha das Trevas surgiu da vontade de sete garotos que gostavam do ritmo e escreviam

letras de rap. Sem condições de ir para outros lugares apresentar sua arte, planejaram uma batalha perto de casa para proporcionar à comunidade a cultura da rua. Era uma forma de ajudar os jovens do bairro a alcançar seus sonhos e lutar por seus direitos. Além de incentivar garotos que estão conhecendo o rap, Renato Lima, de 21 anos, diz que qualquer movimento cultural pode mudar a vida das pessoas. “Para mim é muito importante ter a Batalha em Jundiapeba. Participei da roda por acaso e gostei muito. Cada sexta-feira aparece gente nova por lá para conhecer e acaba ficando, e isso é muito importante porque as crianças que estão lá vão aprendendo e se interessando mais por cultura”. A Batalha conta com apresentações de dança, poesias e DJs,

permitindo que jovens carentes tenham voz. “É como um grito dos excluídos em rimas”, afirma Marcos Brito, 17 anos, um dos organizadores da Batalha das Trevas. Não são só os jovens do bairro que gostam do movimento: moradores de outras regiões dizem que se sentem mais seguros por ter jovens envolvidos com cultura e não com as drogas e violência. Sem apoio da prefeitura ou de qualquer instituição, a Batalha segue firme. Bruna Rafaela, 17 anos, também organizadora, diz que eles tentaram conseguir patrocínios, mas até o momento não ocorreu. “Todas as instituições que fomos atrás de autorização e ajuda com equipamentos se recusaram a nos ajudar, então fica tudo por nossa conta. Uma das coisas que não nos deixar desistir é ver que as rimas começaram a despertar o interesse das crianças”.

JULIANA ALMEIDA

Sexta-feira à noite é dia de hip hop na Praça Veteranos de Guerra, em Jundiapeba. Batalha ocorre desde janeiro de 2016

Artistas lutam para sobreviver da própria arte Lílian Pereira A produção é própria, feita em estúdios improvisados que podem emprestados ou próprio quarto. O sonho de viver da arte é algo em comum na vida de muitos jovens que estão no mercado. Gabriel Marcondes, de 19 anos, Larissa Braga, de 18, e Alexandre Becker Klein, de 20, são suzanenses que buscam de forma independente o reconhecimento artístico. O Alto Tietê é berço de artistas independentes, seja na música, nas artes visuais e plásticas, na poesia, no jornalismo. Entretanto, viver da arte não é tão fácil quanto pode parecer. “É quase utópico. Você precisa de outra fonte de renda para investir em si mesmo”, afirma Larissa, vocalista do duo Dolphinkids. O mercado está cada vez mais fechado para esse tipo de arte, é verdade, mas internet pode dar uma ajuda valiosa. Conseguir lugares para shows é sempre um desafio. Alexandre, que integra as bandas Destilado do Mar e Lamusia, conta que é preciso fazer covers (cantar músicas de artistas conhecidos) em algumas ocasiões. “Se você não fizer covers fica mais difícil”, afirma. Os ‘perrengues’ para transportar instrumentos e conseguir equipamentos são constantes. “Certa vez num bar um sujeito já bêbado comprava bebidas e mandava dar o troco pra gente. Ele tropeçou e então vimos que estava com uma faca. Ficamos sabendo que ele era ladrão, que havia cometidos vários roubos, mas foi o dia que mais ganhamos grana”, revela Alexandre.

JACQUELLINE ANGELO

Alexandre Becker Klein, 20, músico

Aliar a arte visual e a música é algo que Gabriel Marcondes sabe fazer muito bem. Em um mundo mais underground, ele faz parte do NRECORDS, um coletivo de hip-hop formado por seis pessoas. Ele vive de freelances. “Na região tem muita gente talentosa, muito projeto bom, e geralmente a galera se conhece e se ajuda”. Trabalhar em duas áreas é algo que se tornou possível na vida dele, que busca sempre ser o melhor no que faz. “De uns tempos para cá se tornou possível trabalhar nessas duas áreas. Posso dizer que sou ilustrador e músico, e basicamente tudo o que faço é de forma independente”, diz. Segundo os músicos, a arte independente tem sido cada vez mais valorizada, mas ainda há muitas portas fechadas. “Não dá para comparar a força do mercado daqui com o de São Paulo. Isso faz com que os artistas da região tenham um pouco mais de dificuldade de botar a cara na rua, e talvez menos retorno”, conclui Gabriel.


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