Jornal-laboratório do curso de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes | Produzido pelos alunos do 5º período | Ano XVIII | Número 99 | Distribuição Gratuita | paginaum@umc.br
Estudantes mogianos ainda esperam gratuidade nos ônibus ALINE MOREIRA
Benefício oferecido em Suzano e Poá ainda não está disponível para mogianos. Medida que favoreceria presença nas aulas e ajudaria os estudantes a aplicarem o dinheiro em outras necessidades é considerada inviável para os cofres do município. Página 4
União F.C não sai do vermelho. E não estamos falando da camisa LEONARDO NASCIMENTO
Time chegou ao auge em 2006, mas logo afundou novamente em problemas. Leia na página 12. HEITOR HERRUSO
Guararema pode se tornar estância turística Cidade está pleiteando junto ao governo estadual a condição de Município de Interesse Turístico (MIT), como primeiro passo para se tornar estância turística. Expectativa é de aumento da atividade no comércio e na hotelaria. Página 13
RENAN OMURA
Faxineiro fundou e mantém projeto social O funcionário de um supermercado em Suzano destina R$ 200,00 do seu salário mensal para a ONG, que doa alimentos, brinquedos e itens de primeira necessidade para orfanatos e asilos. Leia na página 8.
2
opinião
2017 | Ano XVIII | Nº 99
editorial
Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC)
Ano XVIII – Nº 99 Fechamento: 7/abril/2017
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Avenida Doutor Cândido Xavier de Almeida Souza, 200 – CEP: 08780-911 – Mogi das Cruzes – SP Tel.: (11) 4798-7000 E-mail: paginaum@umc.br * * * O jornal-laboratório Página UM é uma produção de alunos do curso de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), em conformidade com o Projeto Pedagógico do curso. Esta edição foi produzida pelos alunos do 5º período. Professores orientadores: Profa. Simone Leone – MTb 399.971-SP (Pautas e Edição de Textos); Prof. Elizeu Silva – MTb 21.072-SP (Orientação geral, Edição e Planejamento Gráfico); Prof. Fábio Aguiar (Fotografias); Projeto gráfico: Andre Eiji Nihiduma; Guilherme Mendonça de Oliveira; Luis Felipe Candido Gregorutti (Alunos do curso de DG da UMC): Orientador: Prof. Fábio Bortolotto
* * * UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES Chanceler: Prof. Manoel Bezerra de Melo Reitora: Profª. Regina Coeli Bezerra de Melo Pró-Reitor de Graduação do Campus (sede): Prof. Claudio José Alves de Brito Diretor de EaD Prof. Ariovaldo Folino Junior Pró-reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão Prof. Miguel Luiz Batista Júnior Diretor Administrativo: Luiz Carlos Jorge de Oliveira Leite Gestora dos Cursos de Design Gráfico, Jornalismo e Publicidade e Propaganda: Prof. Ma. Agnes Arruda
O Página UM não foge à regra segundo a qual a história é escrita em ciclos. A cada ano a equipe de alunos-repórteres responsável pela apuração, redação, fotografias e diagramação das matérias muda completamente. Produzido no 5º e 6º Semestres do curso de Jornalismo da UMC, seus autores, portanto, estão sempre de passagem. Ao assumirem o jornal, sabem que logo o deixarão em outras mãos. Desta dinâmica decorre que a cada ciclo de um ano o jornal adquire ares típicos da equipe que o produz - em que pese a existência de um projeto gráfico-editorial bem definido que norteia o trabalho, bem como da atuação dos professores-editores. A edição que o leitor tem em mãos inaugura um novo ciclo, com a cara da turma que o produzirá ao longo deste ano. É possível perceber o entusiasmo com o qual os alunos -repórteres deste ciclo se entregaram à tarefa. A cara do Página UM em 2017 será a que eles a ele derem. A essência do jornal, contudo, permanece inalterada. A vocação experimental, seu papel pedagógico-laboratorial, seu compromisso com a liberdade de expressão - nada disso se sujeita aos ciclos. Bem vindo ao Página UM de 2017.
da coordenação
Jornalismo e Obsolescência Programada (ou A Profissão que Nasceu Morta) Agnes Arruda* O Jornalismo está tão presente na nossa vida que é difícil pensar quando ele não existiu. Não vivemos sem as informações que, em forma de notícia, colocamos em comum com nossos pares. Apesar disso, a profissão Jornalismo se consolidou apenas em meados dos anos 1950, e essa foi justamente uma época em que toda a ciência estava se reestruturando. Foi quando os conhecimentos, antes separados por área, passaram a ser reconectados entre si. A mudança de paradigma não ajudou muito o recém-nascido Jornalismo, que precisou definir suas fronteiras de atuação justamente quando as outras áreas de conhecimento subvertiam as próprias fronteiras. A profissão se tornou obsoleta pouco depois de sua gênese. O desafio de formar jornalista ficou ainda maior. Como ensinar técnicas de uma profissão na qual a todo momento os canais se transformam, os códigos se ressignificam... AS PESSOAS SE RECONFIGURAM? Impossível. Por certo período não sobrou muito o que fazer senão torcer para que o conteúdo passado no início do curso fosse útil quatro anos depois, o que nem acontecia. Muitos recém-formados chegavam no mercado já desatualizados para a atuação profissional. Os anos 2000 escancararam essa reali-
dade, e hoje se questiona não somente a necessidade do diploma universitário para ser Jornalista, mas também o que exatamente faz esse profissional. Se para alguns o Jornalismo é um compilado de técnicas, para nós elas são importantes, mas a aplica-las no contexto no qual se inserem é muito mais; por isso a necessidade do equilíbrio entre teoria reflexiva, e não somente técnica, e prática acadêmica, e não somente profissional, no momento da formação. Na UMC, a experiência do jornal-laboratório Página UM tem esse caráter. Sim, é um jornal de papel que solta tinta nos dedos e tem grande probabilidade de virar embrulho para peixe logo após sua circulação, mas na concepção trabalhada, o meio pouco importa quando o conteúdo tem relevância social e a cobertura proposta dá conta dessa missão. Para nós, não se faz Jornalismo apenas com um lide perfeito ou pirâmide invertida impecável. O bom Jornalismo está também no olhar crítico apurado e na consciência de que a tecnologia se reinventa, mas passe o tempo que for, uma boa história será sempre aquela que, independente da forma de publicação, se atentou ao que estava também nas entrelinhas. Boa leitura.
*Professora-coordenadora dos cursos de Design Gráfico, Jornalismo e Publicidade e Propaganda da UMC. E-mail: agness@umc.br.
artigos
Juntxs pela trans-formação Randal Savino* Ser lésbica, gay, bissexual e transgênero é fazer parte de uma resistência aos padrões de comportamento que nos foi ensinado a todos desde o nascimento. Ser afeminado ou “caminhoneira” é algo considerado inaceitável por muitas pessoas, mas não é porque o meu match do Tinder tem trejeitos femininos ou porque a guria do meu Facebook se veste de maneira masculina... É porque não fomos educados a aceitar as pessoas da maneira que são. A luta por proteção nas ruas é diária, ir e vir sem levar uma “lampadada” na cara é um objetivo a ser atingido no fim do dia. Os LGBTs, lutam diariamente por respeito, adorariam receber o mesmo tratamento que pessoas cis-hétero - cis é a pessoa que se identifica com o sexo de nascimento - recebem nas delegacias ao registrar um boletim de ocorrência, pois eles não são indagados sobre sua sexualidade antes que o B.O seja feito. Eles não são diferentes e querem ser como todo mundo, porque independentemente de qualquer coisa, são seres humanos. Ser chamado de viado, bicha e baitola hoje é motivo de orgulho, não há motivo para sentir vergonha desses termos. Esses “xingamentos” sempre foram relacionados às bichas afeminadas e elas são as primeiras que dão a cara a tapa para conquistar seus direitos, que ainda não nos são tão garantidos assim, mas continuem firmes na causa. Cada discurso de ódio disparado contra a comunidade LGBT é transformado em força para lutar por Dandara dos Santos, travesti que foi espancada em Fortaleza e Danielly Barbie que foi morta por um policial em Mogi, pelo gay oprimido dentro de casa, pela lésbica estuprada no banheiro da escola e pelo bissexual reprimido. Uma luta contínua pelo simples direito a vida, porque existir é resistir. Educação sobre sexualidade, identidade de gênero, a criminalização da homofobia e direito de casamento entre pessoas do mesmo sexo seriam formas de apoio do Estado à comunidade LGBT, seria o início de uma nova era em busca da equidade de direitos para todos. Abra a sua mente, gay também é gente! *Aluno do 5º Semestre do Curso de Jornalismo
economia
3
2017 | Ano XVIII | Nº 99
Dia das Mães movimenta mercado de flores Cooperativa SP Flores está otimista com as vendas e espera aumento de 25% em comparação com 2016 BEATRIZ FERNANDES
Beatriz Fernandes O Dia das Mães está chegando e é considerado a principal data do comércio de flores no primeiro semestre, e a segunda mais lucrativa do ano – atrás apenas do Natal. A movimentação e a procura são grandes, o que gera um aumento nas vendas e consequentemente na produção. Os produtores da Cooperativa SP Flores apostam nessa data e esperam um maio florido com vendas 25% maiores em relação ao ano passado. Localizada no bairro Taboão, em Mogi das Cruzes, a SP Flores é a maior cooperativa de flores e plantas do Alto Tietê. Segundo o gerente comercial Fábio Cubas, 2016 foi um divisor de águas para a Cooperativa e 2017 começou com a mesma força do ano anterior. “Nosso crescimento tem sido em torno de 30% anual”, comenta. Fábio explica que a logística da empresa começa na produção dos cooperados, que atualmente são cerca de 70. Após o envio para a Cooperativa, os produtos são direcionados aos três canais de vendas, ou seja, loja física, leilão e intermediação. De acordo com o gerente, a expectativa para o Dia das Mães é conquistar o melhor resultado da história da Cooperativa (até então foi em 2016). “Nossa meta se divide entre vender e atender. Queremos vender o máximo possível, sem deixar de atender com qualidade nossos clientes e cooperados. Buscamos um resultado cerca de 25% maior que o do ano passado”, afirma Fábio. Atualmente, a Cooperativa conta com mais de 1.200 tipos de flores. De todas as variedades, as mais procuradas pelos consumidores para presentear as mães são orquídeas, girassóis e rosas.
Cooperativa tem registrado crescimento anual de 30%. Datas especiais, como o Dia das Mães, impulsionam as vendas
Conforme a responsável pelo departamento de marketing e assistência ao cooperado, Hellen Figueira, as vendas em datas comemorativas aumentam cerca de 30%. “O aumento do Dia das Mães
em maio, em relação ao mês de março, quando ocorre o Dia Internacional da Mulher, gira em torno de 50%”, relata. Hellen esclarece que a empresa não possui um número especí-
fico de clientes, pois são muitos e a todo momento entra um novo consumidor à procura dos produtos, mas que sempre busca atender todos os setores de vendas. Grande parte dos produtores
são especialistas no cultivo de orquídeas. A maioria diversifica a produção com espécies diferentes ou até mesmo outros tipos de flores, para fornecer à Cooperativa produtos durante todo o ano. Jorge Hatanaka é um exemplo. Sua produção é composta 90% por orquídeas cymbidium e 10% por outras espécies. O produtor comenta sobre a rotina intensa de trabalho: plantar, adubar, regar, colher e embalar, sendo a última uma das partes mais importantes, pois é o processo final. “A embalagem deve ser resistente, para que não caia dos carrinhos no momento do transporte, com celofane para proteger e haste bem posicionada para não pender ou machucar a flor”, descreve. Hatanaka tem toda sua produção voltada para o Dia das Mães, principalmente da orquídea cymbidium, nas cores amarela e vermelha. Ele acredita que 2017 será ainda melhor que 2016.
Negócios alternativos são opção para crise financeira CAYNAN FERREIRA
Caynan ferreira Não é segredo para ninguém que o Brasil vive uma das maiores crises de sua história, muitos desempregados, alta nos preços, etc. Assim o brasileiro tem que buscar outras formas para gerar renda e sustentar sua família já que o método convencional não está funcionando, com isso surgem os negócios alternativos que conseguem ajudar a pagar as contas, e em algumas situações se tornar a principal renda. Os dados do IBGE no último trimestre mostram que a taxa de desemprego chegou a 12%, o que representa 12,3 milhões de desempregados no Brasil, sendo o maior
Wilson de Jesus hoje ganha a vida vendendo produtos pela internet
índice desde 2012. O metalúrgico Wilson de Jesus está nessa estatística, mas consegue viver mesmo sem trabalhar com a carteira assinada, ele vende seus produtos em
um site de vendas na internet. “As vendas na Internet hoje em dia conseguem ser tão lucrativas quanto trabalhar em uma empresa”, disse o metalúrgico. Ele conta, que além
de seu negócio dar certo, passou até a vender cada vez mais. Ao ser perguntado se essa era a melhor alternativa para quem está desempregado, ele responde: “Sim, o mercado na Internet é muito grande e tem espaço para todo mundo”. A professora Miriam Sugahara, especialista em Marketing, acreditava que a situação do pais ia melhorar, o que, em sua opinião, não aconteceu. “Vemos, na verdade, que só piorou”, afirma a professora. Para ela, a melhor opção para as pessoas atualmente sejam os negócios alternativos. “Eles podem gerar uma renda complementar, mas em alguns casos se tornam até a principal fonte renda da família e em alguns casos viram empresas”.
4
educação
2017 | Ano XVIII | Nº 99
saúde
5
2017 | Ano XVIII | Nº 99
Mogi não oferece Passe Livre a estudantes
Idosos adotam exercícios para melhorar a saúde
Quase dois anos após tentativa da implantação, estudantes mogianos continuam sem o benefício
Academias especializadas disponibilizam atividades físicas para a interação e bem-estar de idosos
ALINE MOREIRA
FOTOS: RENAN OMURA
Jovens e adultos adotam EJA como segunda chance para concluir estudos
Projeto Mais Vida promove doação de medula óssea LILA CUNHA
TATIANA FLORIS
Todas as disciplinas do ensino fundamental e médio são oferecidas à noite
Tatiana Floris Fila em agência da Mogi Passes: não há gratuidade para estudantes mogianos. O motivo seria o alto custo para a prefeitura
Aline Moreira Em março de 2015, foram feitos estudos sobre a implantação do Passe Livre em Mogi das Cruzes por meio da Comissão Especial de Vereadores (CEV), presidida pelo vereador Mauro Araújo. Porém, o projeto, que estava previsto para entrar em vigor em 2016, não foi aprovado. A não aprovação do Passe Livre foi o ponto de partida para que estudantes questionassem o motivo pelo qual o benefício não entrou em vigor. Em contrapartida a Mogi, cidades vizinhas, como Suzano e Poá, já oferecem o acesso gratuito para os alunos desde 2013. Mogi é a maior e mais desenvolvida cidade do Alto Tietê. Por isso, a população esperava que o Passe Livre se tornasse uma realidade. Porém, de acordo com o vereador Mauro Araújo, que foi o responsável pela tentativa da implantação, o assunto não é tão
simples. “Fizemos diversos estudos e, na época, o custo do Passe Livre foi, e ainda é, inviável para os cofres públicos”, destacou. O custo seria de R$ 15 milhões ao ano. Questionado, o parlamentar observou que, por enquanto, não há projeto semelhante em vigor na Câmara. “No momento não há; o que não nos impede de tentar em outro momento econômico”. Enquanto isso, os estudantes se viram como podem. Victória de Mari, 18 anos, se desloca todos os dias entre o bairro Alto do Ipiranga e a ETEC Presidente Vargas, em Mogi. De acordo com ela, a isenção da tarifa dos ônibus seria de muita importância. “Para mim, seria a garantia de poder frequentar as aulas. Facilitaria a minha vida e a da minha mãe”. Leontina Nilda, 53 anos, a mãe, é quem arca com as despesas de transporte da jovem. “Só com a minha renda fica difícil para pagar o transporte. A escola é longe e nem dá para ir a pé”.
Já Joyce Retucci, 21 anos, estudante de Ciências Contábeis, diz que o Passe Livre permitiria utilizar o dinheiro do transporte para outras necessidades. “Poderia ser investido em cursos ou livros, por exemplo". A jovem ainda ressalta que o benefício para os estudantes que não trabalham seria enorme. “Há alunos que às vezes faltam por não ter dinheiro para a condução”, afirma. Em Suzano, o Passe Livre funciona desde 2013. Guilherme Souza, 17 anos, estuda Mecatrônica à tarde e à noite cursa Publicidade e Propaganda na UMC. Ele é um dos beneficiários do programa na cidade. “Sem o passe livre eu teria que gastar um absurdo com passagens. É nosso direito”, conclui. A Secretaria de Transportes de Mogi das Cruzes foi contatada pelo Página UM. Porém, até o fechamento da edição não houve retorno.
Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), 8% dos brasileiros maiores de 15 anos não sabem ler nem escrever. Desses, a maioria tem acima de 19 anos. Os números do IBGE revelam uma leve redução no número total de pessoas não alfabetizadas, quando comparado aos anos anteriores. Para quem deseja voltar aos bancos escolares, uma possibilidade é o programa de Ensino para Jovens e Adultos (EJA), desenvolvido pelo MEC e presente em 16 escolas de Mogi das Cruzes. Genivaldo Gonçalves Santana, aluno do terceiro ano do EJA, assim como muitos brasileiros, teve que abandonar a escola para trabalhar e ajudar a família. Atualmente com 55 anos, o morador do distrito de Jundiapeba, revela que era um sonho de seu pai ver todos os filhos formados. “Meu pai já faleceu, mas mesmo assim estou realizando o sonho dele”. Para Genivaldo, ocupar o tempo com os
estudos também é uma forma de se manter longe dos botecos, “Eu bebia demais”, conta o pedreiro. Tendo permanecido mais de 40 anos afastado da escola, Genivaldo soma-se aos 5.617 estudantes matriculados no sistema de Educação para Jovens e Adultos (EJA) em Mogi das Cruzes, segundo o Censo Escolar publicado no segundo semestre de 2016. No EJA, todos que não puderam concluir o Ensino Fundamental e/ou Ensino Médio na idade adequada, têm uma segunda chance para se alfabetizarem, sem custo financeiro, através do supletivo. Para Marly Kano, professora de Química e Física há 17 anos, o que diferencia o ensino regular do EJA, são os alunos. “No EJA, os alunos têm sim certa dificuldade de aprendizagem, mas eles são mais dedicados, mais educados e mais responsáveis”, compara a professora. Além do EJA, quem ainda não possui o diploma do ensino básico, pode adquiri-lo por meio de outros programas como o Centro Estadual de Educação para Jovens e Adultos (CEEJA).
A hidroginástica contribui para combater doenças crônicas, fortificar os ossos e dar flexibilidade e relaxamento
Patrícia Rosa comemora o sucesso no primeiro ano do Projeto Mais Vida
Anny Nunes
Lila Cunha
A pratica de atividades físicas está associada à vida saudável e ao bem-estar, e para os idosos não é diferente. Para a prevenção e a manutenção da saúde, muitos têm buscado nos exercícios uma alternativa ao invés dos remédios, pois eles melhoram o desempenho geral e podem reduzir os sintomas de boa parte das doenças crônicas típicas do envelhecimento. Cerca de 24% dos 163.259 habitantes de Mogi das Cruzes têm acima de 60 anos sendo, portanto, considerados idosos. Para atender as necessidades dessa população, a cidade dispõe de 64 academias especializadas na terceira idade, nas quais os usuários podem se envolver em atividades como esportes, hidroginástica e jogos para reforçar a memória. O coordenador da academia Pró Hiper do bairro Mogilar, Auclésio Ranieri, afirma que os exercícios físicos, combinados com a inte-
O transplante de medula óssea é um procedimento que pode beneficiar portadores de doenças relacionadas ao sistema imunológico, como leucemia e anemias graves. A grande dificuldade no processo de doação é a busca por doadores compatíveis. As chances são de 1 a cada 100 mil pessoas, em média. Com base nesses dados, a fotógrafa Patrícia Rosa decidiu fundar o Projeto Mais Vida, que promove a conscientização sobre a importância do transplante. Por meio do projeto são realizadas campanhas de diagnóstico precoce de doenças raras e a prevenção de qualquer tipo de câncer. “O nosso foco é a saúde”, afirmou a fundadora do projeto. Em 2016 foram realizadas duas fortes divulgações sobre o tema em Mogi das Cruzes e em Biritiba Mirim, reunindo interessados em doar. Aproximadamente 800 pessoas candidatarm-se como doadores.
Aparelhos para alongamentos também são disponibilizados na academia
ração social, ajudam a prevenir várias doenças físicas e mentais. “Aqui no Pró Hiper nós pensamos na inclusão do idoso com uma boa saúde. Não adianta aumentar a expectativa de vida se ela não vier acompanhada da qualidade”, relata Ranieri. Ivete Medeiros, 67 anos, faz academia há quatro meses e já vê resultados. “Os exercícios físicos ajudam consideravelmente na minha saúde. Eu tomava muitos
remédios devido à osteoporose, mas depois de começar a fazer academia o médico retirou dois remédios. A pressão e a diabete também normalizaram devido às atividades físicas”, contou Ivete. Os exercícios físicos podem trazer vários benefícios às pessoas da terceira idade, desde que orientados por profissionais. Os exercícios melhoram a capacidade funciona,l aumentando também a qualidade de vida.
Atualmente o Projeto Mais Vida conta com o apoio de instituições e personalidades do Alto Tietê, como a Liga de Pediatria da UMC e a repórter da TV Diário, Priscila Tovic, nomeada madrinha da ação. “Participar da campanha faz eu me sentir bem. Me dá a sensação de que podemos vencer qualquer obstáculo”, diz Priscila. A próxima campanha deve ser realizada entre julho e agosto deste ano. Para cadastrar-se como doador basta procurar o Projeto Mais Vida levando um documento com foto. O candidato deve doar cerca de 5ml de sangue que é enviado para análise e aprovação. Se a pessoa for considerada combatível, o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME) entra em contato para confirmar o desejo de realizar o transplante. Enquanto o próximo evento não acontece, é possível acompanhar informações do Projeto na internet e página do Facebook.
6
saúde
2017 | Ano XVIII | Nº 99
cidades
7
2017 | Ano XVIII | Nº 99
Crianças especiais inspiram luta dos pais
Suzano prevê integração no transporte público
Com muito amor, pais encaram o desafio de dar o melhor para crianças com necessidades especiais
Se concretizada, a integração trará economia para aproximadamente cinquenta mil suzanenses por dia
FOTOS: ANDRIELE MENDES
SAMUEL BARÃO
Suzanenses se queixam da situação da Santa Casa FOTOS: HULLI MORAES
Terminal Estudantes, em Mogi. No detalhe, diretor de imprensa do Sindicato
Na família de Paula e Cláudio, a paralisia cerebral de algumas das crianças não impede a integração entre os irmãos
Larissa Martins Estação de Trem da CPTM está localizada ao lado do Terminal Rodoviário Norte, que foi inaugurado em 2011.
Andriele Mendes O casal Paula Barbosa e Cláudio tem quatro filhos: Lucas, 6 anos, Júlia, 5 anos, Matheus, 3 e Tiago, 2. Além destes, Paula também é mãe de Caio, 9 anos, fruto do primeiro casamento. Os três meninos filhos do casal são portadores de necessidades especiais. O primeiro filho, Lucas, passou por várias complicações. Após 15 dias de vida, ao mamar, ele aspirou o leite, que foi para nos pulmões. Os pais o levaram ao Hospital Infantil Cândido Fontoura, em São Paulo, onde foram descobertos graves problemas que exigiam uma delicada cirurgia imediatamente, a estenose. Após a cirurgia, durante um ano o bebê precisou usar sonda para se alimentar. Após a recuperação, Lucas foi encaminhado à AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) Mogi das Cruzes, a mais próxima da família, que reside em Poá. Os mais novos, Mateus e Tiago, sofrem de paralisia cerebral e também necessitam do atendimento da AACD. Porém, Paula não pode mais levá-los à unidade, pois, se-
Samuel barão
Ana Silva Rodrigues (esquerda), Neli Clementino e Marisa Clementino estão entre os pacientes frustrados com o atendimento na Santa Casa de Suzano
Hulli Moraes
Gabriel, 9 anos, atropelado por motocicleta, segue em tratamento de fisioterapia
gundo ela, as crianças receberam alta. Ela observa diariamente a regressão dos filhos por falta de tratamento. Contudo, ela se sente grata pelo apoio recebido e por tudo que foi realizado pelos meninos. “Gratidão é o sentimento que tenho por todos da unidade”, diz, emocionada. Gabriel, de apenas 9 anos, teve a vida transformada após um trágico acidente. Em março de 2014 ele foi atropelado por uma moto, e durante o socorro sofreu duas paradas cardiorrespiratórias. No hospital, a mãe Elaine dos Santos
foi informada da morte encefálica do filho. A chance dele voltar à vida era muito pequeno. Praticamente sem esperanças, a família já se preparava para o pior quando Gabriel reagiu. Era o começo de uma grande luta. Na busca por ajuda para o filho Elaine conheceu a AACD. O menino recebeu tratamento dois anos e sete meses até receber alta por falta de progresso. Procurada para comentar os casos, a AACD de Mogi informou que por dificuldade financeira é obrigada a dispensar pacientes.
Motoristas de ônibus do Alto Tietê acumulam a função de cobrador
A Santa Casa de Suzano, único hospital público da cidade, sempre foi alvo de críticas por parte dos pacientes, que se queixam da demora no atendimento e da falta de médicos. Apesar de muitos anos nessa situação, percebe-se que a mudança na saúde pública está longe de acontecer. A aposentada Neli Clientino, 70 anos, teve que esperar por atendimento durante 8 horas sofrendo com dores renais e vesiculares. Ela estava acompanhada da filha Marisa Clientino, que lamenta: “Minha mãe precisa de especialistas em nefrologia e urologia, porém não tem nenhum desses médicos aqui. Sempre que ela passa mal preciso trazê-la à Santa Casa, mas faltam especialistas para prescre-
ver um tratamento adequado que possa ser feito em casa”. Marisa lamenta a falta de opções em Suzano. “Venho à Santa Casa por ser mais perto, pois se pudesse levaria minha mãe ao SUS de Mogi das Cruzes. Lá, apesar de demorado, os exames são mais específicos e os médicos dão mais atenção aos pacientes”. A dona de casa Ana da Silva Rodrigues também revela indignação com o atendimento da Santa Casa de Suzano. “Vim porque estou com dor no corpo e na cabeça há alguns dias. Não fizeram nenhum exame, e apenas me deram um remédio e inalação”, afirma. A diretoria da Santa Casa foi contatada para esclarecer o motivo da demora no atendimento e a falta de médicos, mas não houve retorno.
O município de Suzano apresentou à Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) proposta para se tornar a primeira cidade no Alto Tietê a ter integração entre trens e ônibus. O objetivo é reduzir a despesa do trabalhador e do estudante que utilizam os transportes públicos da cidade. Se realizada, a integração trará economia para aproximadamente 50 mil pessoas por dia, quase 15% da população suzanense. O plano envolve a implantação de catracas e de validadores do Cartão BOM na estação Suzano da CPTM e nos atuais e futuros terminais rodoviários urbanos.
Atualmente há apenas um terminal rodoviário na cidade, ao lado à estação de trem. Contudo, há planos para a construção de outro no distrito de Palmeiras, projeto que se arrasta desde 2011. O projeto suzanense se inspira no exemplo de outras cidades da Região Metropolitana de São Paulo, como Barueri. Para a prefeitura, a viabilização trará crescimento econômico para o comércio da cidade, uma vez que os passageiros poderão investir os dinheiro das passagens em outras coisas. Adilson Ferraz, 42 anos, mecânico que trabalha em Suzano há 17 anos, é a favor do projeto,
porém afirma que a ideia precisa sair do papel: “Seria muito bom que essa integração acontecesse, porque até o governador do Estado veio aqui anos atrás, porém nada foi resolvido. O povo já está cansado de promessas”, afirma. Ana Paula Cruz, 19 anos, moradora de Suzano e estudante do curso de Direito da Universidade Mogi das Cruzes (UMC), afirma que a possível integração entre trens e ônibus municipais trará muitos benefícios a população: “Eu utilizo o transporte público cinco dias por semana, e meu gasto mensal ultrapassa R$ 320 reais. Com a integração, eu teria uma economia mais de R$ 160 reais, o que ajudaria muito”.
Nas linhas intermunicipais da região do Alto Tietê, os motoristas de ônibus cobram passagem e dirigem ao mesmo tempo, colocando em risco a segurança dos passageiros e deles próprios. O acúmulo de função se tornou possível com a instalação nas catracas de validadores eletrônicos de bilhetes. Segundo os trabalhadores, a maior dificuldade é se concentrar no trânsito enquanto cobram a passagem, dão troco, e acompanham o embarque e desembarque de passageiros. Procurado pela reportagem do Página UM, o diretor de imprensa do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Rodoviários e Anexos de
ta nas conversas populares, já que o aumento não reflete as melhorias esperadas. Ônibus lotados, atrasados e que por vezes quebram no caminho são alguns dos problemas mais citados pelos passageiros. Para ver de perto a situação, embarquei em uma das linhas
mais movimentadas da cidade, que atravessa toda a Avenida Japão, a E203 Conjunto Santo Ângelo, que, segundo os passageiros, é sempre lotado. São 17:10, horário de pico, uma grande fila já está formada e o ônibus sai do Terminal Estudantes, no Centro Cívico, já lotado. Pas-
sando pelo centro da cidade, mais passageiros embarcam e uma forte chuva obriga a fechar todas as janelas. Sem ar condicionado, o calor é insuportável. À frente, um ônibus de outra linha quebrado. Seguindo a viagem, somente próximo do bairro, a situação fica mais cômoda.
Mogi das Cruzes, Suzano e Região, Reginaldo Paccini, informou que há três anos tramita em Brasília um projeto de Lei Federal que impede o acúmulo de função por profissionais de qualquer categoria. Trata-se do PL 2.163-A, de autoria do Deputado Federal Vicentinho, em parceria com o Sindicato. O projeto aguarda votação na Câmara dos Deputados. Paccini alerta também que a falta de cobrador nos ônibus contraria o Artigo 28 do Código de Trânsito Brasileiro, que estabelece a necessidade de atenção redobrada do motorista ao conduzir o veículo. A função de cobrador de ônibus não é regulamentada por lei, o que, segundo o diretor de imprensa do Sindicato, pode contribuir para que as empresas eliminem esse posto de trabalho.
Alguns passageiros têm a sorte de contar com mais opções de linhas para se locomover, mas a grande maioria é obrigada a enfrentar a lotação todos os dias, como eu enfrentei ao viajar neste dia na linha do Conjunto Santo Ângelo.
Passageiros mogianos pagam caro para andar em ônibus lotado Paulo Oliveira Os mogianos embarcaram em 2017 com uma péssima notícia: o aumento da passagem de ônibus de R$ 3,80 para R$ 4,10. Alvo de constantes reclamações, o transporte público sempre está em pau-
8
cidadania
2017 | Ano XVIII | Nº 99
cidadania
9
2017 | Ano XVIII | Nº 99
Faxineiro suzanense mantém projeto social
LGBTs lutam por implantação de Conselho
Ganhando um salário mínimo, Alexandre busca ajuda de internautas para beneficiar asilos e orfanatos
Desde 2015, Câmara nega construção de Conselho que proteja homossexuais, trans e travestis em Mogi
FOTOS RENAN OMURA
Renan Omura Enquanto recolhe o lixo do supermercado onde trabalha, Emerson Alexandre do Prado calcula com rigor todos os gastos do mês. O desafio do faxineiro é, com um salário mínimo, pagar todas as despesas e ainda manter seus projetos sociais. É com ajuda da internet que Alexandre consegue arrecadar recursos e divulgar seu trabalho. Mais de 500 pessoas já foram beneficiadas pelo malabarismo financeiro do faxineiro. Mais conhecido como Alexandre, aos 39 anos, ele doa R$ 200 de seu salário todo mês para a ONG Science, da qual é o fundador. Contando com 100 colaboradores, a organização doa brinquedos e mantimentos a orfanatos e asilos da região e semanalmente o grupo distribui sopa para moradores de rua em Suzano. Grande parte da ajuda vem dos internautas que, desde 2015, ano em que o projeto ganhou destaque na internet e participou de programas de televisão. O semblante alegre do faxineiro não revela as dificuldades que enfrentou quando era criança. Seu pai sofria de alcoolismo e por isso não acompanhou o crescimento dos filho. Caçula entre seis irmãos, o faxineiro foi criado pela mãe. A difícil situação não limitou a sua criatividade. Alexandre aprendeu a criar seus próprios brinquedos com caixas de leite e hoje constrói bonecos que são doados para orfanatos. O fundador da ONG conta que o projeto surgiu no clube de ciências da escola Leda Fernandez Lopes, no bairro Vila Maria de Maggi em Suzano, quando ele tinha 13 anos. Motivado pelos professores, um grupo de amigos desenvolveu a ideia da ONG e passou a ajudar as instituições.
FOTOS: RANDAL SAVINO
Alunos arrecadam e distribuem chocolates
O mundo dos ciganos modernos do Alto Tietê
JHENIFFER FREITAS BRENDA ELVIRA
Campanha de arrecadação é planejada na sala de aula e envolve todos os alunos
Jheniffer Freitas
Emerson Alexandre é coordenador da equipe de limpeza num supermercado
Bonecos construídos por Alexandre
Alexandre já atuou como zelador em outras empresas, mas foi em março de 2015, como faxineiro que ganhou destaque nos meios de comunicação. Enquanto entregava sopa para os moradores de rua no centro de Suzano, ele foi fotografado por uma cliente do supermercado que o reconheceu. Após alguns dias, a foto
estava na internet e a página da ONG alcançou 1.000 seguidores. Logo surgiram os convites das emissoras de TV. Atualmente o projeto recebe cartas e ajuda até de outros países, como China e Estados Unidos. Porém o faxineiro lamenta a falta de ajuda na região. "A inernet ampliou o alcance da ONG, mas ainda falta a conscientização local". Contudo ele não pensa em desistir. “Este ano será abençoado”, afirma sorrindo. Alexandre mantém uma página do projeto no Facebook, onde são disponibilizadas mais informações sobre suas atividades.
A Páscoa em um colégio de Itaquaquecetuba tem um significado a mais: o da doação. Neste ano, os estudantes realizaram uma ação solidária arrecadando chocolates para serem doados a crianças carentes de instituições da cidade. A iniciativa surgiu há 17 anos em uma reunião pedagógica de docentes com coordenadores e acabou virando tradição na escola. Os estudantes participam de toda a execução do projeto. São eles quem levam os chocolates, fazem a contagem e embrulham. Com a ajuda dos docentes e da instituição, são pensadas atividades como brincadeiras, peças de teatros e outros para serem apresentadas as crianças. A ação realizada no Colégio Apollo, busca despertar a solidariedade em crianças e adolescentes. No dia da entrega dos chocolates participam todos do 3º ano do ensino médio. “Nessa fase, eles estão entrando no mundo adulto e queremos que sejam solidários e multiplicadores”, conta a diretora Marilza Silva. Para um dos colaboradores, o
professor Cleber Palombo, a iniciativa contribuiu para estreitar laços de amizade com alunos e colegas de trabalho, além de estimular a ajuda ao próximo. Ele ainda ressalta que o contato com crianças os sensibiliza e observou que a ação amplia a visão de mundo deles. “Já tivemos alunos, principalmente do 3º ano, que acabaram apadrinhando crianças e deram continuidade ao que aprenderam no colégio”, completa. No local os estudantes colocam orelhas de coelho e pintam os rostos, há também uma conversa com a assistente social que explica o funcionamento da instituição. São realizadas as atividades programadas e a entrega das caixas de bombons. Para a aluna Geovanna Machado, participar desta ação é fazer o bem a si mesma. “Ajudar neste projeto é ótimo, pois gosto de fazer o bem e ter como retribuição a felicidade das pessoas”, conta. A proposta de despertar a solidariedade deu tão certo que alguns jovens acabaram apresentando um novo projeto: doar agasalhos para o inverno.
Membros e convidados presentes na reunião do fórum que vista a implantação do Conselho LGBT em Mogi das Cruzes Nas cabanas não faltam comodidades como eletrodomésticos e até vídeo games
Randal Savino Alexandra Braga é mulher transexual, ativista política, membro do fórum mogiano LGBT. Ela foi vítima de transfobia na maior parte de sua vida. Durante seu processo de transição ela sofreu diversas agressões verbais, físicas e psicológicas vindas da família por conta de sua identidade de gênero. Foram dez anos de tratamento psicológico até conseguir encaminhamento para a cirurgia que daria a ela o prazer de se enxergar em um corpo feminino. Assim como as travestis e outras pessoas trans, Alexandra também enfrentou dificuldades no mercado de trabalho, o que a obrigou a se prostituir para sobreviver. Ela lamenta a inexistência de instituições públicas que garantisse seus direitos. Apesar de tudo, ela conseguiu se formar no ensino superior e atualmente é pós graduada e professora na rede municipal em Mogi das Cruzes. Desde 2015, Alexandra e outros membros do fórum LGBT de Mogi lutam pela implantação de
Brenda Elvira
A ativista LGBT Alexandra Braga (esq.) luta pelo direito ao nome social
um Conselho Municipal que vise defender e proteger a vida dos homossexuais, bissexuais, transexuais e travestis que diariamente sofrem agressões na cidade. Em 2016 o projeto chegou a ser discutido na Câmara de Vereadores mas logo em seguida foi barrado pelo atual presidente da Câmara. Alexandra afirma que o processo de implantação do fórum foi barrado por pura LGBTfobia e ainda complementa: “Quando se trata de trans e travestis, não há saúde pública e quando um homem ou uma mulher transexual precisa ir ao médico acaba sendo uma situação vexatória, pois o médico, a atendente e todos os outros
acabam desrespeitando seu nome social”. Alexandra foi a única candidata a vereadora LGBT em Mogi das Cruzes nas eleições de 2016, e um de seus objetivos era garantir uma discussão mais justa na Câmara sobre a construção do Conselho. Diversas vezes o assunto foi discutido entre os vereadores da cidade e em cada uma delas havia uma justificativa diferente para arquivar o projeto Em julho 2016, a travesti Danielly Barbie foi morta por um policial militar no centro da cidade após realizar um programa com o mesmo. Os coordenadores do Fórum estão acompanhando as investigações do caso.
Um povo sem documento, conta em banco e acesso à tecnologia. Essas sãos características que vem à mente quando o assunto é o povo cigano. Porém, os ciganos do Alto Tietê vivem de uma forma totalmente diferente. Apesar de manter a tradição das roupas coloridas, das festas e da liberdade, o grupo que pertence à etnia Calon, de Itaquaquecetuba, deu espaço para algumas mudanças em sua cultura. O líder do acampamento, Robson Soares Batista, 65, conta que todos possuem casa no Alto Tietê, porém o espírito viajante e o gosto pelo comércio faz com que aluguem suas casas e vivam nas tendas dos acampamentos. "Temos casas, mas não aguentamos ficar dentro, nós nascemos com o dom de ser cigano", explica. Além de água encanada e luz elétrica, as tendas contam com outras comodidades, como geladeira, televisão e videogame. Segundo Robson, não há do que reclamar. "Não pagamos luz nem água. Os maiores problemas são
a chuva e o vento. Às vezes são tão fortes que derrubam tudo, mas bastam trinta minutos para colocar tudo em pé novamente", garante. O terreno em que vivem há mais de 45 anos não é deles. "O dono ainda não tirou a gente, mas se ele quiser que a gente saia, sairemos na mesma hora", afirma. Os ciganos do Alto Tietê vivem do comércio de veículos. As mulheres ganham dinheiro lendo mãos e realizando trabalhos místicos. As crianças frequentam escolas públicas. "A meninada toda sabe ler e escrever. Só os mais velhos é que não sabem", revela Robson. Ainda que haja muito preconceito com o povo cigano, no acampamento de Itaquá não há queixas de desrespeito da vizinhança para com o grupo. "Gente de fora só entra aqui para fazer negócio”, garante o líder. Estima-se que existam cerca de 500 mil ciganos em todo o Brasil, divididos em dois grandes grupos: as etnias Calon e Rom. Dados do IBGE identificaram 291 municípios que abrigam acampamentos ciganos, localizados em 21 estados.
10
cotidiano
2017 | Ano XVIII | Nº 99
esportes
11
2017 | Ano XVIII | Nº 99
Chega de fantasmas assombrando a sua TV
Programa mogiano de Esporte apresenta falhas
300 mil kits digitais foram entregues no Alto Tietê para que a população possa receber sinal da TV digital
Agentes sociais e usuários destacam a importância do programa, mas reclamam do abandono das instalações
JOÃO DE MARI
FOTOS: ANA CAROLINA
Carreira de jovem mogiano decola com The Voice Kids
Alunos da UMC disputam jogos paralímpicos
KAYANE ROCHA
THAYNA DE OLIVEIRA
Fachada do prédio principal do núcleo da Vila Jundiaí, um dos dez existentes na cidade. Falta de segurança afasta usuários
Ana Carolina
Voluntários trabalharam intensamente para que população recebesse decodificadores do sinal digital antes do dia 29
No Dia Internacional da Mulher João Vitor se apresentou no Mogi Shopping
João de Mari
Kayane Rocha
A maioria dos moradores do Alto Tietê fez parte de mais um momento histórico da telecomunicação no país: o desligamento do sinal analógico. No último dia 29 de março, o sinal dos televisores foi desligado e a comunidade passou a assistir TV com programação totalmente digital, deixando para trás os velhos fantasmas que assombravam a telinha. Foram disponibilizados kits gratuitos (conversor digital, antena UHF e controle remoto) aos moradores inscritos em programas sociais, como o Bolsa Família, que puderam adaptar aparelhos antigos à nova tecnologia. A mudança vale apenas para emissoras de TV aberta. A Seja Digital, entidade responsável por viabilizar a migração do sinal criada pelas operadoras Algar, Claro, Tim e Vivo, comandou ações com intuito de informar e preparar os cidadãos para o tão almejado momento. "Estamos passando por uma grande
mudança na maneira de assistir televisão, e acredito que seja para melhor", afirma Antônio Biondi, consultor de mobilização da Seja Digital. No dia 4 de março, estudantes e professores dos cursos de Elétrica, Mecânica e Caldeiraria do SENAI de Mogi das Cruzes e de Suzano, atenderam a população que compareceu nas escolas técnicas para obter explicões sobre a retirada do kit e a instalação dos aparelhos. O professor de Eletroeletrônica do SENAI Suzano, Francisco Carlos Fernandes da Silva, ministrou palestras para moradores da região, no auditório da escola, e contou ao Página UM que a novidade trouxe melhorias tanto na imagem e som dos aparelhos como na vida da comunidade carente. "Antes de qualquer coisa, esclarecemos aos alunos que a finalidade da migração é de caráter social. A TV é o principal meio de comunicação do país e, além de se informar, os brasileiros assistem
novelas e programas de auditório para relaxar", diz. "O sinal de antigamente chegava à casa de, em média, 89% dos brasileiros. A expectativa é que com o sinal digital esse número ultrapasse 95%", afirma. Andando pelas ruas do bairro Jardim Veneza, em Mogi das Cruzes, fica claro que muitos moradores se prepararam para a mudança. Basta olhar para o alto e ver inúmeras casas com antenas UHF. Em uma delas mora Elizete Pereira dos Santos, 61, beneficiária do Bolsa Família. Na sala de estar da casa, dividindo espaço com um sofá pequeno e uma geladeira modesta, a TV transmitia em imagem limpa um desenho animado assistido por Laura, neta de dona Elizete. Ao ser questionada a respeito do novo serviço, Elizete não conteve o sorriso. "Nossa! A imagem melhorou 100%. Antes eu não assistia televisão. Deixava para meus netos que gostam muito. Agora eu também assisto, pois dá gosto ver uma imagem tão bonita!", afirma.
João Vitor Mafra encantou a todos quando fez sua primeira apresentação no início do ano, em 8 de janeiro, no programa “The Voice Kids” exibido pela TV Globo. O jurado Carlinhos Brown se surpreendeu com a performance e virou a cadeira para João, garantindo assim sua classificação para a segunda fase do programa, que também foi marcada por grandes emoções. Apesar de não ter ido além da segunda fase, o garoto percebeu que a partir dali grandes oportunidades surgiriam. Apesar da pouca idade, João Vitor tem história. Aos 6 anos ele já competia no programa Ídolos, da Rede Record, quando também conseguiu avançar várias etapas. Um pouco mais tarde, aos 9 anos, participou de um concurso no Alto Tietê chamado “Festival de Talentos Underground", conquistando o primeiro lugar. Ao perceber o talento do jovem, a escola de música Under-
ground ofereceu uma bolsa de estudos para que ele aprimorasse seus conhecimentos no universo artístico. A bolsa, claro, foi mais que bem vinda. Sobre o The Voice João afirma: "Amei participar do programa. Foi o começo da realização do meu sonho e eu não quero parar. Vou continuar estudando para ser cada vez melhor. Pretendo fazer muito sucesso”. O sonho do talentoso talvez esteja mais próximo do que ele imagina. Desde que voltou do programa os convites para comerciais, shows e apresentações não param de surgir. No Dia Internacional da Mulher ele se apresentou no Mogi Shopping, com músicas selecionadas para homenagear e emocionar o público. Na mesma semana ele se apresentou em Biritiba Mirim, em São Roque, e outra vez em Mogi das Cruzes, no Parque Centenário da cidade. Com um contrato assinado com a Universal Music Brasil, e uma proposta de outra gravadora, João almeja grandes voos.
O Programa de Esporte e Lazer da cidade foi desenvolvido pela Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social em 2003 e visa a democratização do esporte. O programa completará um ano em Mogi das Cruzes. O Página UM foi até um dos núcleos para verificar se o projeto está sendo executado conforme planejado e constatou que não está de acordo com o prometido. O núcleo da Vila Jundiaí é formado por seis agentes sociais que são alunos do curso de Educação Física da UMC e pela coordenadora Cibelle Siqueira e oferece diversas atividades para cerca de 250 alunos, número que a equipe pretende aumentar, já que o ideal é ter 400. “Nós saímos pelo bairro para distribuir panfletos e divulgar o programa”, contou Cibelle. A implantação do projeto aconteceu na cidade em 2016 após alguns anos de planejamento. “Foi necessário pesquisar o lugar certo, que precisava ser em pontos onde há vulnerabilidade e onde haverá procura por esporte”, contou a coordenadora. O governo do Estado destinou cerca de 1,5 milhão de reais para a
Ellen Helena Gonçalves, de PP, conquistou duas medalhas no tênis de mesa
Thayna de Oliveira
Aula de futebol na quadra da Vila Jundiaí. Projeto é importante para os alunos
implantação, entretanto é responsabilidade da prefeitura manter a infraestrutura dos núcleos, mas essa parte não está saindo como planejado. O núcleo está sem eletricidade há 9 meses e logo na entrada é possível ver pichações e grades arrancadas. A falta de segurança também é um problema. “Quando chegamos ao centro esportivo no ano passado, ele estava abandonado, com muitos usuários de drogas, nós tínhamos medo de ir trabalhar”, explica a agente social Bruna Lima. Roubo dos materiais e de cabos de energia também dificultam. “Existem muitas coisas que a prefeitura poderia fazer para o núcleo, mas acaba dei-
xando de fazer o mínimo devido a ação dos vândalos”, pontua Bruna. Há relatos de que o bairro melhorou e que os usuários de drogas no núcleo diminuíram e é notório o impacto positivo na vida dos moradores, mas muito ainda precisa ser feito. “O programa me ajuda bastante na saúde e fiz amigos também, mas falta segurança”, afirma Maria Rita Rodrigues, moradora do bairro há 30 anos. “A importância do projeto para os alunos é muito grande”, afirma o agente social Eliakim de Souza. “Mas a falta de infraestrutura prejudica muito o desenvolvimento do nosso trabalho”, finaliza Eliakim.
Os esportes podem mudar vidas. Ellen Helena Gonçalves Pereira é um exemplo disso. Ela é cadeirante e atleta da equipe da Universidade de Mogi das Cruzes e conquistou duas medalhas, uma de ouro e uma de bronze, no 1º Campeonato Paralímpico Universitários. “Tive a ajuda mais que especial do professor Jhonny. Ele me apresentou o projeto e me fez acreditar que seria possível, apesar do tempo curtíssimo de treino. Eu, que nunca tinha praticado tênis de mesa, voltei para casa mais que realizada pois tive a alegria de conquistar duas medalhas. Muito mais que as medalhas, essa competição me mostrou o quanto consegui evoluir em tão pouco tempo, e me motivou a cada vez mais buscar melhores resultados. Fez também com que eu tomasse mais consciência do meu corpo e enxergasse minhas limitações de uma maneira diferente”, ressalta a atleta.
Os jogos ocorreram entre os dias 8 e 10 de dezembro de 2016 no Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro e contaram com a participação de 154 atletas de dezoito estados brasileiros. A Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) mostrou força e esteve muito bem representada. O chefe da delegação, professor Luiz Henrique Peruchi, gestor do curso de Educação Física, contou com a participação de cinco estudantes, os quais concorreram nas modalidades bocha, atletismo, natação e tênis de mesa. O professor Johnny Fernandes da Silveira treinou os atletas Eberton Aparecido Thomas Santos (Fisioterapia), Evelyn Vieira de Oliveira (Publicidade e Propaganda), Ana Paula Araújo Guimarães Ramos (Contabilidade), Ellen Helena Gonçalves Pereira (Publicidade e Propaganda), Hadassa Machado dos Santos (Direito) e Victória Godoy (Psicologia), que voltaram para casa com um total de 6 medalhas: três de ouro, duas de prata e uma de bronze.
12
esportes
2017 | Ano XVIII | Nº 99
turismo
13
2017 | Ano XVIII | Nº 99
Com 103 anos, União F.C. não sai do vermelho
Guararema pode se tornar estância turística
A falta de patrocínio e os maus resultados em campo assombram o alvirrubro mogiano desde 2006
Município tem forte vocação turística e atende a todos os critérios exigidos pelo governo de São Paulo
LEONARDO NASCIMENTO)
Mogi/Helbor aposta nas categorias de base SUELENN LADESSA
Treino no Ginásio Professor Hugo Ramos reúne atletas de diversos lugares Clube de futebol mais antigo da cidade sofre com precariedade financeira, mas ainda conta com o apoio da torcida
Gustavo Gomes Leonardo Nascimento O União Futebol Clube, de Mogi das Cruzes, já foi muito mais popular do que nos dias atuais. Desde a fundação em 1913, o time tem sido referência para jovens mogianos na busca pelo sonho de se tornar jogador de futebol. No clube ocorreram os primeiros chutes de jogadores conhecidos internacionalmente, como o zagueiro Felipe Augusto, que jogou no Corinthians e atualmente no Porto, em Portugal. O “Brasinha”, como o clube era carinhosamente chamado, atingiu o auge em 2006, quando ganhou acesso à terceira divisão do Campeonato Paulista. Contudo, logo voltou à divisão anterior. A partir de então, diversas comissões técnicas assumiram o clube, mas nenhuma conseguiu fazê-lo se destacar positivamente. Em 2011 o clube frequentou as páginas policiais por conta do ex-treinador José Luiz Soares, acusado de assédio sexual e este-
Torcedor Wagner Lorijolla: "É muito difícil, mas ainda tenho esperança"
lionato contra alguns jogadores. A perda de patrocinadores foi inevitável e, com pouco investimento, os resultados dentro de campo se tornaram cada vez piores. O vice-presidente Delmiro Goveia reconhece a situação do clube, mas ressalta que a legislação tem atrapalhado. “Não é só o União que perdeu patrocínio. A lei Pelé é um dos principais fatores, pois desde que entrou em vigor enfraqueceu os times e favoreceu os empresários de jogadores”, afrirma. Ele defende que,
além de mudanças na legislação, é necessário criar um centro de treinamento e condições para investimentos futuros que tragam benefícios para o torcedor. De acordo com Goveia, a prefeitura tem deixado a desejar em relação ao futebol na cidade. “Ela não faz os investimentos adequados. Há vários municípios em que o município apoia fortemente o futebol, transformando-o em vitrine da cidade”, diz. Nesse contexto, a vida do torcedor do União fica complicada.
Suelenn Ladessa Desde que o time de basquete Mogi/Helbor passou a competir pelas primeiras posições na liga nacional, o basquetebol se tornou um dos esportes preferidos dos mogianos, atraindo cada dia mais multidões para os jogos no Ginásio Hugo Ramos. Visando a renovação, o time Mogi/Helbor tem reforçado as categorias com talentos vindos de várias partes do país. São jovens que por meio de esforço, dedicação, paciência e união procuram realizar o sonho de serem reconhecidos pelo esporte. Eles vêm do litoral e do interior paulista, da Grande São Paulo, do Vale do Paraíba e até de
Contudo, alguns persistem. Wagner Lorijolla, 41, torcedor do alvirrubro mogiano há 19 anos, afirma que mesmo com na fase ruim a torcida precisa exercer seu papel e constribuir para a reconstrução do time. “O pessoal precisa vir nos jogos e apoiar. Lutar novamente pelo Sócio Torcedor também é válido, pois isso ajudaria o clube e traria benefício para os torcedo-
outros estados, como Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro. “A estrutura aqui em Mogi é muito boa, não perde em nada em comparação com outros lugares”, afirma o jovem atleta Matheus Brito. As categorias de base do time em 2017 se dividem em Sub-12, 13, 15, 16 e 17, comandados por Caio Bueris, sub-19 com Alexandre Rios, e sub-22 com Danilo Padovani. Cada vez há mais interessados no basquete em Mogi. O técnico e professor de Educação Física Caio Bueris afirma com convicção: “Nosso trabalho tem sido efetuado de forma correta, formando não só jogadores, mas também cidadãos”.
res. O importante é não deixar de fazer o nosso papel. Pode parecer difícil, mas ainda tenho esperança”, afirma. A reportagem do Página UM entrou em contato com a prefeitura de Mogi das Cruzes e solicitou esclarecimentos sobre investimentos no futebol na cidade, mas até a conclusão desta reportagem, não houve resposta.
HEITOR HERRUSO
Heitor Herruso Guararema é uma cidade de belezas naturais e alto potencial turístico. Por isso, está pleiteando ao governo estadual a condição de Município de Interesse Turístico (MIT). Este é o primeiro passo para que, no futuro, o município se torne uma estância turística, assim como Salesópolis. O processo foi incentivado pela Lei 1.261/15, que estimula e estabelece regras para que mais cidades se tornem estâncias. A lei exige que primeiro elas se tornem MIT, e garante o repasse anual de verbas para essa categoria. Para isso, deve-se atender a alguns requisitos mínimos, como ser um destino turístico consolidado com atrativos expressivos, possuir um Conselho Municipal de Turismo (COMTUR) ativo e oferecer serviço médico emergencial. De acordo com Maria Elizângela Barbosa Benitez, encarregada técnica e turismóloga da Secretaria Municipal de Indústria, Comércio, Turismo e Agricultura de Guararema, a cidade atende a todos os critérios e não pode perder esta oportunidade. Elizângela espera receber recursos do Fundo de Melhorias dos Municípios Turísticos, que deverão ser investidos em melhorias para a experiência do turista. “Os títulos manterão a beleza e infraestrutura da cidade. Os efeitos positivos alcançarão também os moradores, que poderão usufruir de tudo”, complementa o administrador de empresas e assessor responsável pela Secretaria de Turismo, Fernando Moreira de Moura, que aposta no aumento da geração de renda do município. Nos últimos anos o faturamento de algumas lojas passou a depender da alta temporada. É o caso de uma tradicional sorveteria. A
Patrimônios históricosde Guararema estão abandonados Victor Neres
Em destaque, a recém revitalizada Estação de Luís Carlos. Abaixo, a Igreja Matriz, o trem turístico de Guararema (Maria Fumaça 353), a Pedra Montada e a Igreja Nossa Senhora da Escada, que abriga a única imagem de São Longuinho do país
proprietária, Ivone Aparecida Gobetti Rodrigues, espera que com a conquista dos títulos haja turistas durante o ano todo: “O movimento vai aquecer o comércio e o prestígio vai ajudar muito a cidade”, afirmou. Marlon Rodrigues do Nascimento sente o mesmo em seu café: “Ainda há muito a se fazer, mas a obtenção do título é o primeiro passo para a cidade se profissio-
nalizar turisticamente”, comentou. Além de comerciante, ele é presidente da Associação Comercial de Guararema e do COMTUR. No entanto, o pensamento estratégico não pode ser deixado de lado. O turismo de Guararema ainda é focado no centro, que é pequeno. Jefferson Rodrigues de Faria é turismólogo e morador do município, e afirma que se não houver
um trabalho bem feito, ocorrerão alguns conflitos e turbulências. “No trânsito, estudos minuciosos podem prevenir transtornos e na saúde, deve-se considerar filas mais longas nos postos de atendimento, visto que a cidade conta apenas com a Santa Casa”, indica. Ainda assim, ele está otimista e espera ver, a longo prazo, uma estância turística consolidada.
Há mais de dois anos, três patrimônios históricos encontram-se abandonados ou perdidos em Guararema. No bairro Convento, o famoso "Casarão" foi demolido. Outros dois monumentos históricos, o obelisco e uma antiga igrejinha, localizados na entrada de Luiz Carlos, estão rodeados de mato alto. O Casarão, inaugurado com o nome de Itaguaçu foi construído para ser uma pensão. "Como não dava muito lucro, os donos o transformaram num bordel. Depois que uma das funcionárias foi assassinada, o local foi fechado, e depois de algum tempo foi adaptado para receber uma creche. Depois disso, se tornou hotel, e finalmente virou uma casa de aluguel. É triste vê-lo ser demolido", lamenta o agricultor Danilo Coutinho, de 73 anos. A antiga igrejinha foi construída pela família Cubas, em 1891. "Era costume dos europeus construírem prédios religiosos em suas propriedades", conta o memorialista João Augusto Figueiredo, de 48 anos. Já o obelisco de Luiz Carlos foi instalado em 1918 em homenagem à inauguração da estrada para a localidade, pois antes o acesso só era possível pela ferrovia.
14
especial
2017 | Ano XVIII | Nº 99
cultura
15
2017 | Ano XVIII | Nº 99
Tragédia do fretado: 10 meses de poucas providências
As fascinantes obras do artista caboclo JBC
A Mogi-Bertioga continua perigosa, assistência às famílias é precária e sobreviventes esperam indenizações
Mogiano simples e inculto do século XIX produziu obras que integram o imaginário da arte sacra nacional
meio ambiente
INGRID CAROLINE
Volume de água dos reservatórios do Alto Tietê volta a subir ADRIELLY BELARMINA
Fretado estudantil aguarda alunos próximo à UMC. Acidente da Mogi-Bertioga expôs debilidade do serviço
Ingrid Caroline Em julho de 2016 o capotamento de um ônibus da empresa União do Litoral, na rodovia Mogi-Bertioga, km 84, ocasionou a morte de 17 estudantes e do motorista, e deixou 28 feridos. Este foi o ponto de partida para questionamentos sobre a atuação das empresas de transporte fretado e as responsabilidades dos órgãos públicos. Dez meses após o acidente, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) informa que a rodovia ganhou pintura, sinalização e muro de proteção no km 84. A Agência Reguladora de Transportes do Estado de São Paulo (Artesp), revela que intensificou a fiscalização. Apesar das melhorias na via, sobreviventes e familiares pedem por justiça e cobram a liberação de indenizações. O advogado António Martinho, que representa a empresa União do Litoral, contratada pela prefeitura de São Se-
bastião para transportar cerca de 623 estudantes, afirma que alguns famíliares foram indenizadas mediante acordo mediado pela Defensoria Pública, enquanto outras aguardam o desfecho do processo que corre na Justiça. A empresa e a prefeitura de São Sebastião afirmam que prestaram suporte a todos que as procuraram. As vítimas, porém, dizem algo diferente. Muitas famílias ainda se encontram fragilizadas por causa do acidente e acham que a assistência até o momento está sendo muito precária. O estudante Deni Koch, 18 anos, nega que tenha sido amparado pelas instituições. “Não fomos procurados por ninguém. Apenas a Defensoria Pública tentou mediar um acordo para as famílias”, afirma. Koch relata danos que carregará por toda a vida. Semanalmente ele passa por sessões de fisioterapia para tratar das fraturas na coluna, no dedo indicador direito e no joelho. “Precisei de atendimen-
to psicológico", conta. Após a tragédia, ele acabou abandonando o curso de Sistemas de Informação porque ficou com os dois braços imobilizados. "Além disso, perdi a vontade de estudar”, revela. Para o advogado criminalista José Beraldo, que defende onze famílias de vítimas e sobreviventes, o valor total das indenizações varia entre 1 milhão a 2 milhões de reais. Os bens da empresa União do Litoral foram bloqueados pela Justiça para assegurar pagamentos futuros. A prefeitura de São Sebastião, contratante do serviço, é ré em todas as ações ingressadas e possivelmente será condenada a pagar indenizações. O acidente deixou marcas profundas. Segundo Jeferson Silva, estudante de Publicidade e Propaganda, ainda há muita desconfiança com relação às condições de segurança dos veículos. "O trajeto exige atenção triplicada, e o pouco de segurança que sentimos é porque conhecemos e confiamos nos motoristas”, afirma.
Reservatorio de Taiaçupeba, em Mogi das Cruzes, em fase de recuperação
Adrielly Belarmina O nível de água dos reservatórios do Alto Tietê subiu nos últimos meses. Mesmo sendo o sistema que recebeu o menor volume pluvial do Estado, de setembro de 2016 a março deste ano, os reservatórios da região apresentaram elevação de 13,7% no volume de água. Uma das principais contribuições veio dos moradores, que passaram a economizar. De acordo com dados disponibilizados pela Sabesp, no início da crise hídrica, em 2014, a média do consumo da população era de 169 litros por dia/pessoa. Em 2015, quando a crise ainda fazia parte do cotidiano, houve uma redução para 114 litros por dia/ pessoa. Neste ano, a média voltou a subir para 120 litros por dia/ pessoa. Mesmo com o crescimento do consumo, ainda assim a po-
pulação continua a economizar. Informações da Sabesp relativas ao nível dos reservatórios indicam que a crise hídrica é coisa do passado. O Sistema Alto Cotia, por exemplo, atualmente opera com 100,9% de sua capacidade. O Sistema Cantareira, principal responsável pelo abastecimento da capital, atualmente opera com 65%. O Alto Tietê foi o que registrou menor recuperação, tendo chegado a apenas 54,8% do volume total. O desempenho dos reservatórios está diretamente relacionado aos níveis de chuva na região em que estão instalados. Segundo informações da Sabesp, no Alto Tietê choveu bem menos que em outras regiões. Contudo, a economia das famílias contribuiu para a elevação de 13,7% verificada no sistema nos últimos meses.
FOTOS: DORIVAL MARTINS JR.
Dorival Martins Jr. Dos vários tesouros da histórica cidade de Mogi das Cruzes, muitos passam despercebidos, ou até mesmo esquecidos. Como o caso das obras de JBC. Simples e ingênuas, produzidas por um caboclo de roça e sem estudos, acabaram por se tornar grandiosas obras da arte sacra nacional. Jose Benedicto da Cruz nasceu aos 2 de fevereiro de 1877, em Paraibuna, conforme registros de batismo da capela local, e faleceu em 1935. Segundo depoimentos colhidos por Eduardo Etzel e publicados no livro “JBC – Um singular artista sacro popular” (1978), ele era um caboclo de olhos verdes, “pardão, cor de cuia”, homem simples, católico e religioso. E foi pelo Alto Tietê que JBC, também conhecido como Zé Santeiro, deixou sua marca através de suas obras. O principal acervo se encontra na Igreja de São Sebastião, no bairro de mesmo nome no distrito de Taiaçupeba. “Não cremos que exista no Brasil uma igreja de roça toda decorada com pintura ingênua como esta de São Sebastião. O artista pintou as partes principais, sem preocupação de fazer uma decoração universal, como faria se fosse um artista erudito”, escreveu Eduardo Etzel. O tempo e o descaso fizeram com que grande parte da obra se perdesse. A própria Capela de São Sebastião foi recentemente ameaçada por uma reforma irregular durante a qual foi aplicada argamassa sobre parte da pintura. O fato chamou a atenção de admiradores das obras de JBC, como Pedro Gandolla, cineasta mogiano que atualmente produz o documentário "A História Que Ninguém Vai Contar", abordando a deterioração do patrimônio his-
Há quase 50 anos "Café Santo" alimenta devotos do Divino Lucas Etiene
Vista frontal do Altar. Uma das caracteristicas de JBC são as voluntas-nuvens utilizadas em diversas de suas pinturas
Altar e forro da Capela com talhação em madeira e pinturas de autoria de JBC
tórico. O primeiro episódio do documentário retrata justamente a vida e a obra de JBC. “Infelizmente o descaso com a obra de JBC é um reflexo da irresponsabilidade social e das instituições com a nossa herança cultural e daí a importância de documentar o que ainda não foi destruído. O documentário pretende ser uma referência para repensar e re-significar o sentido da cultura como manifestação da identidade”, afirma Gandolla. Antônio Sergio Damy, professor e historiador, percorreu a região com a série Caminhos
Antigos, publicada em seu blog Dialética Cultural, em parceria com o professor Ângelo Nanni. Os historiadores passaram em locais onde obras de JBC resistiram ao tempo. “A importância é que ele foi um artista caboclo, sem formação erudita. É um exemplo de superação e de poder criativo. Diarista, criador e recriador de igrejas e pinturas, capaz de realizar uma releitura única das obras clássicas e ambientá-las no meio rural e caboclo”, afirma Damy. Pesquisador da arte sacra nacional, Eduardo Etzel ficou im-
Detalhe: forro do Altar-Mor da Capela
pressionado com o talento de José Benedicto da Cruz. “Ele foi, sem a menor dúvida, um singular artista sacro popular e, pela qualidade e versatilidade de suas atividades, afirmamos, sem hesitação, ímpar na História da Arte Sacra Popular Brasileira. Sua obra é completa. Não conhecemos no panorama da arte sacra brasileira o labor de um inculto artista caboclo que se aproxime de JBC”, conclui Etzel em seu livro sobre o artista.
A Festa do Divino Espírito Santo de Mogi, além de símbolo cultural da cidade, é também uma das maiores do Brasil. Entre as diversas atividades da festa, que acontece no mês do maio, a Alvorada é uma das mais tradicionais e antigas. São nove dias de procissão às 5h da manhã, com ponto de partida no “Império”. Cada dia é realizado um trajeto diferente. Em 1968, Dona Rita, uma das chefes das rezadeiras, começou a servir café e pão com mortadela para os devotos logo após as alvoradas, e em 1994 que ela convidou Justina Moreira, rezadeira e professora aposentada, para fazer parte da equipe que servia o café. Justina já ajudava na organização, mas foi no "Café Santo" que deu sua maior contribuição para a festa, Foram quase 20 anos preparando e servindo os devotos. Ela conta que, no último dia, a equipe fazia um tipo de confraternização entre eles e os festeiros e era muita alegria. Hoje aos 68 anos, Justina só acompanha as rezas nas casas. E também tem a turma jovem que acompanha a Alvorada e prestigia o “Café Santo”. Edson Marques de Souza Filho, de 19 anos, estudante de Educação Física, segue seus avós desde os 10 anos pelas procissões da madrugada. Edson lembra que ia direto para a escola depois de tomar o famoso café, mas não perdia um dia de Alvorada. Até hoje ele acompanha com seus familiares.
16
cultura
2017 | Ano XVIII | Nº 99
Filosofia budista se adapta à cultura brasileira A visão de dois representantes de diferentes religiões sobre como a sociedade se relaciona com as crenças FOTOS: BRUNA SOUZA
Família libanesa comemora 105 anos da vinda para Mogi ARETHUSA SAMELI
Monge peruano Arturo John Noguni Lopez, formado em Engenharia e Oceania, do templo Shingonshu Henshoji, de SP
Descendente de libaneses Pedro Andere, na Praça da Mesquisa, em Mogi
Arethusa Sameli
Apesar do crescimento de outras religiões, o catolicismo ainda é a principal do país
Padre Marlson Assis Araújo
Bruna Souza Patrícia Barreto
o contato do catolicismo com o budismo no Brasil não resultou em sincretismo religioso. “As religiões, incluindo o budismo, apenas se adaptaram às características culturais do lugar – o que se verifica inclusive com o budismo no Brasil”. O monge Seishin ilustra algumas dessas adaptações: “No Japão, por exemplo, os rituais são escutados sentados ou de joelhos no tatame. No Brasil, por influência da cultura local, as pessoas permanecem sentadas em cadeiras”, explica. As adaptações parecem não incomodá-lo. Ao contrário, ele considera como um traço positivo do Brasil o fato de todas as religiões conviverem num clima de respeito mútuo.
Mais que uma religião, o budismo caracteriza-se como filosofia de vida. No Brasil, os seguidores dessa prática oriental são apenas 0,13% da população. Quase nada, comparados com os 64,6% de brasileiros que se declaram católicos. Os dados são do Censo de 2010. Para o monge Arturo John Noguni Lopez (Seishin), do Templo Budista Shingonshu Henshoji de São Paulo, o budismo é religião e prática ética, dados os valores que prega. "O budismo ensina o respeito ao próximo, a convivência em harmonia, e o respeito à natureza que nos dá os mantimentos”, afirma.
A opinião é compartilhada pelo docente da Faculdade de Filosofia e Teologia Paulo VI, de Mogi das Cruzes, padre Marlson Assis Araújo. “A espiritualidade mostra-se como ponto em comum entre o catolicismo e o budismo”. Surgida no Nepal há 2.500 anos, a filosofia budista foi difundida em diversos países por meio da imigração japonesa do início do século XX. Foi dessa forma que ela chegou ao Alto Tietê. Os templos Nambei Shingonshu Daigozan Jomyoji e Honpa Hongwanjiem, em Suzano, e os templos Ryushoji, Nambei Hongwanji e Zengenji, em Mogi das Cruzes, têm essa origem. O padre Assis defende que
No começo de 1912, Mogi das Cruzes recebeu os primeiros refugiados de origem libanesa. José Cury Andere chegou à cidade buscando uma nova oportunidade para viver. Após sua chegada, os Anderes que ainda viviam na região do Líbano se aventuraram e atravessaram o Oceano Mediterrâneo atrás do sonho de reconstruir suas vidas. Em 1949, chegou então ao Brasil Youssef Nassif Andere, com sua esposa Marie Aboud Kalil Andere e sua filha recém-nascida Laila Andere. Já no Brasil nasceram Nádia Andere e Jazira Nassif Andere dos Reis. A história é contada por Pedro Andere, de 20 anos, neto de Jazira. A chegada de sua família à cidade, segundo Pedro, transformou radicalmente suas raízes culturais. Adequar-se ao novo mundo foi o mais difícil. Para se adaptar em Mogi eles investiram em bares, pastelarias e restauran-
tes com culinária típica libanesa. Ao passar dos anos, os obstáculos que enfrentavam diminuíram e o legado à cidade era aos poucos construído. “É muito gratificante ser descendente de libanês, pois meus antepassados ajudaram na economia mogiana”, declara Pedro, ao se lembrar dos feitos de seu bisavô Youssef, que possuía uma pastelaria no centro de Mogi das Cruzes, onde servia, além de pastéis, as típicas comidas do Líbano como quibe e esfirras. Hoje, Pedro Andere é formado em gastronomia. Seu talento na cozinha veio de berço, pois herdou as habilidades culinárias do bisavô. “Independentemente de estarmos no ano de 2017, a cultura libanesa nunca morreu em nossa família e as tradições de nosso povo ainda são sólidas. O momento que mais me alegra são os almoços de domingo, que reúnem todos ao redor da mesa, e saboreamos as comidas típicas de nosso país”, conta.