ENS - Carta Mensal 1953-4 - Abril

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CARTA MENSAL DAS EQUIPES DE NOSSA SENHORA- França VI ano, n!! 3

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Dezembro 1952

O HOMEM NÃO VIVE SOMENTE DE PÃO... Como você julgaria um soldado da Indochina que enfiasse nos bolsos ou no cantil, sem as lê, as cartas de sua esposa? Por mais que ele sustente que está unido a ela pelo coração e não por notícias ou declarações de amor, ele não lhe convenceria. Certamente não são as palavras, mesmo as mais amorosas, que realizam a união entre os seres, mas as palavras são ainda o que melhor permitem a nós, espíritos encarnados, entrar em comunhão e fazer comunicação. Pretender que se está unido e negligenciar os meios de expressão e de troca, seria inconsciência ou má fé, e sempre um sintoma inquietante. Este sintoma inquietante não existiria na sua vida cristã - que está, ou pelo menos deveria estar, em união ao Cristo? Se o Cristo fala, você escuta? Você lê e relê o Evangelho, sua mensagem, para com ele entrar em comunicação? O essencial de uma mensagem, diríamos, é de nos abrir um caminho de compreensão dos sentimentos e pensamentos íntimos de seu autor. É desta forma que você lê o Evangelho? Para além das palavras, das situações, você consegue penetrar o pensamento vivo do Filho de Deus, perceber os batimentos de seu coração eterno, estabelecer relações pessoais com Jesus Cristo? Quem lê frequentemente o Evangelho, não apenas usando a racionalidade, mas abrindo-se espiritualmente, em silencio interior, não tardará a entrar em comunicação com o Cristo. Um amor, eu diria de homem à homem - não de homem à Deus, nasceria entre ele e Cristo, uma união indestrutível se tece. E isto é vida cristã. Mas tal não acontece de uma vez por todas. É tarefa a ser refeita cotidianamente. Fazse necessário escutar o Cristo a cada dia, escutar seu diálogo com o Pai e com os homens, demoradamente contemplá-lo andando, orando, se fatigando, chorando, sofrendo. Em resumo, estar atento ao modo de se exprimir, de se doar de Cristo (o que faz por mim pessoalmente, não se deve esquecer o caráter pessoal de sua mensagem; ele se dirige a mim). Deste modo o Evangelho torna-se alimento, precisamente o alimento do qual Cristo nos fala: "O homem não vive somente de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus." Como desejo que cada um de vocês sinta fome sempre que não leia o Evangelho. E porque não experimentar uma boa troca de ideias em equipe, a respeito deste assunto? E tornar regular esta prática na partilha? Creio no valor de um método para firmar na nossa vida práticas, que deixadas ao nosso bel prazer não seriam realizadas, ou no mínimo abandonadas bem depressa. Há pouco tive uma conversa que ilustra muito bem isto que acabei de dizer. Em um lar, o pai, a mãe e os dois mais velhos fazem a leitura diária, durante uma semana, de uma mesma página do Evangelho. No domingo dedicam um tempo a uma partilha: cada um por sua vez, sem ser interrompido ou questionado pelos outros, diz o que a passagem lhe sugeriu, aquilo que foi entendido, em que esclareceu sua vida. Este por em comum é de uma riqueza

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Corresponderia a nossa Carta Mensal nº 3 de abril de 1953.


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