ENS - Carta Mensal 1963-7 - Jul/Ago

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NUMERO ESPECIAL

- RETIROS DE CASAIS -

JUL. AGO. 63 Xl/5


Carta Mensal das Equipes de Senhora Nos~a

JULHO AGOSTO 1963

Os retiros de casais O que vai pelas Equipes

Bilh ete do Centro Diretor Através do mundo

1.1

Guadalupe -

Colômbia

Vida do Movime nto Comp romi •,;os e Admissões Deus chame . a sí Breve noticiário Vocês pertencem às E. í·.. S.? Cqlendário Oração para a re un1ao de agôsto O ração ·para a reunião de setembro Publicação mensal das Equipes de Nossa Senhora Casal Respo nsável: Groci n ha e Antonio D'Eibou Redação e expedição: Rua Paraguaçú, 258 - 52-1338 São Paulo 1 O - SP Com aprovação eclésiástica


RETIROS D E CASAIS Sum á r i o

Que se irá encontrar nesta s páginas

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Aos casais que jamais fizeram retiro

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Que vem a ser um retiro?

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Notas bíblicas

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Um pouco de história ••

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Os retiros de casa is

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Vinte anos são passados Testemunhos

Retiro de casal -

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Retiro de equipe

Vantagem dos retiros

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Aos organizadores de retiros Depois do retiro

Apóstolos do retiro ••

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Condições para um bom retiro

Concluindo

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RETIROS DE CASAIS

QUE SE IRÃ ENCONTRAR NESTAS PÃGINAS?

"Os casais. nós 10 vimos, vêm procurar auxílio nas Equipes. Não são, por outro lado, dispensados de esforços. E' para orientá-los e ajudá-los no seu esfôrço que as Equipes pedem-lhes: ... g) Fazer cada ano um retiro fechado de 48 horas, no mínimo, marido e mulher juntos, na medida do possível. E' obrigatório pelo menos um retiro, antes do Compromisso da Equipe". Dos Estatutos das Equipes de Nossa Senhora.

Desejaríamos apresentar, de cada uma das obrigações dos Estatutos e de cada uma das partes da reunião mensal, um número especial da Carta Mensal, destinado a divulgar, a um tempo, o seu sentido e o seu alcance. Pela coleta das experiências, dificuldades e conquistas de cada um, chegaríamos a beneficiar a todos, mediante conselhos, testemunhos, diretrizes. E~te número, referente aos retiros, abre nossa serte de publicações. De cada uma delas temos tendência, ao tratá-las, a dizer que é a mais importante, o que não corresponde à verdade,

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uma vez que tôdas têm uma importância e seu lugar próprios . Isto posto, declaramos, entretanto, que os retiros nos parecem de suma importância na vida dos casais. Propomo-nos, com êste número , não só auxiliar os casais das Equipes a cumprir esta obrigação e a vencer as dificuldades que se lhes deparam, como também, levá-los a fazerem-se apóstolos do retiro , junto a parentes, amigos, vizinhos, na paróquia, na cidade. Encaminhá-los para um retiro será levar a salvação a inúmeros casais; será oferecer a nossos amigos a oportunidade de melhor conhecerem ao Senhor e de melhor serví-lo. Decidindo-se alguém a tratar um assunto como êste, à primeira investida, afigura-se-lhe simplicíssima a tarefa. Só na proporção em que o trabalho avança é que se vai avivando o interêsse, é que se vão apresentando as questões . Ao prepararmos o sumário dêste número , foram-se-nos deparando questões para as quais quisemos poder dar a vocês respostas mais autorizadas do que as nossas simples im;::>ressões pessoais. Dedicamo-nos, então, a alguma leituras e decidimos enviar a um certo número de equipistas um inquérito ass im formulado : Que é um retiro? De onde nasceu a idéia de se fazer retiro? Desde quando existem retiros para casais? Quais as condições para um bom retiro? ... etc ... Assim, logo após breve definição do que vem a ser um retiro , nêste número faremos um pouco de história: evocaremos a espiritualidade do deserto, os retiros na tradição da Igreja, e o primeiro retiro de casais . Testemunhos de alguns casais ilustrarão as diferenças típicas de retiros dêste gênero. Passaremos, em seguida, à análise das condições para um bom retiro: silêncio, ambiente, etc ... A última parte, intitulada "Apóstolos do Retiro" tem por objetivo incentivar nossos equipistas a que promovam retiros de casais onde não os haja em número suficiente e a que levem outros casais para os retiros por ventura já existentes.

oOo Uma nota mais técnica a respeito de como organizar retiros pode ser solicitada junto ao secretariado das Equipes. 4


AOS CASAIS QUE JAMAIS FIZERAM RETIRO

"Desde que nos casámos, em 1938, só haviamos tomado parte em recolhimentos de um dia. Não acháramos possível, ou melhor, não desejáramos realmente faze1 um retiro de diversos dias. O que nos moveu a tal passo foi a obrigação proposta a seus membros pelas Equipes de Nossa Senhora. E creio que devemos agradecer às Equipes por nos terem impelido a fazer êsse esfôrço necessário". Todos os casais, indistintamente, encontram dificuldades sérias em reservar 2, 3, 5 dias para um retiro. Mas o fato é que, todos quantos, pela primeira vez chegam a fazer retiro, conseguem superar os obstáculos que os impediriam de fazer um segundo. A vocês que nunca fizeram retiro, é preciso que se lhes di1a que tôdas as suas obje~ões e dificuldades sõo passíveis de serem superadas. Se existe, muitas vêzes, impossibilidade real de se fazer determinado retiro, ou de se fazer um retiro em tal mês ou tal ano, isso não deve levar-nos a concluir que o retiro seja impraticável. Os obstáculos surgidos tomam a nossos olhos proporções agigantadas e o demônio diverte-se em nô-las apresentar como insuperáveis. Não se deixem ludibriar por êle. Dêm maior crédito à sabedoria da Igreja que os aconselha, aos casais que se oferecem para cuidar de seus filhos, aos amigos que lhes expõem os benefícios de um retiro, à própria consciência que está a lembrar-lhes aquela ocas1oo em que souberam encontrar dois dias consecutivos para ir ao casamento de tal primo ... Certo responsável de setor citava-nos o seguinte fato: Um


casal julga-se irremediàvelmente impossibilitado de fazer retiro porque, em hipótese nenhuma , o marido pode dispô r de uma manhã de sábado. O mesmo casal conta com um mês inteiro de férias . Outro casal, no entanto, jamais opôs objeção ao retiro, embora fôsse idêntica a situação de ambos, sendo que êste segundo casal só dispunha de quinze dias de férias. Faz o retiro durante as férias. Confiem na Providência, e, além de confiar, sigam a regra. Ao concordarem em fazer parte das Equipes de Nossa Senhora, foi-lhes claramente exposto que deviam fazer retiro fechado . Se, após um ano, dois, três de vida de equipe, consideram que esta seja uma cláusula impossível de ser respeitada, então é o caso de perguntarem-se se devem ou não permanecer nas Equipes de Nossa Senhora. Antes, porém, de qualquer decisão, estejam bem seguros de que ela reflete, realmente, a vontade de Deus. Não negamos que, para alguns, seja êste um dever particularmente penoso, como no caso dos casais do Congo belga ou da África francesa . . . dos casais integrados nas Equipes por correspondência, isolados, ou separados de seus co-equipistas por centenas de quilômetros . . . E' no intúito de favorecer a êstes casais que, cada vez mais, se vai generalizando o método de se organizar retiros durante os mêses de férias . Se, em consciência , para alguns esta obrigação não puder ser cumprida com regularidade cada ano, lembrem-se de que a regra só obriga no caso de que seja praticável.

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QUE VEM A SE•R UM RETIRO?

"A palavra abrange mais de uma realidade. Cada ano, ao pregar a Quaresma, ouço anunciarem, no tempo da Paixão: retiro para comerciárias, retiro para homens ... Que significa isto? Por três dias consecutivos, ao meiodia, as empregadas do bai rro, ou, à noite, os homens da paróq u ia, re un em-se na ig reja pa ra ouvir' um se rmão. Sermão êste p recedido, ou seguido seja de um cântico, seja das Completas ou de uma dezena do terço, ou da bênção do S. S. Sacramento. Encerrada a cerimônia, cada qual volta para casa com plena consciência de como se costuma dizer ter "acompanhado" um retiro. A palavra "acompanhado" diz bem, mas me molesta. Bem outra coisa eu quisera ao envés dessa audição passiva. Costume pedir aos ouvintes que se conservem por algum tempo em silêncio e que reflitam sôbre as palavras que foram d itas. Mas nem ~ silêncio nem a reflexão podem prolongar-se. Não há tempo. E assim voltam, cada qual, ao traba lho ou à própria casa, levando o que? pergunto eu. Algo hão de levar, espero. Entretanto, em casos semelhantes, a palavra retiro não me parece ca lh ar bem; pela simples razão de lhes faltar a primei ra das condições requeridas para um ret iro: silêncio p ro longado e afastamento efet ivo das p róprias ocupações. Q uem, rea lme nte, faz retiro, seja em grupos de casais, num setor de Ação Católica, ou em qualquer outra circunstância sai de casa para ingressar nalgum convento ou casa de retiro. Já não se trata, então, de 7


"acompanhar", mas de "fazer" o retiro. Aqui, também, o participante ouve pregações, mas com o intúito de reagir a elas; de consultar o pregador, de aplicar à própria vida as palavras que ouviu; de meditar, de ler, de rezar. Há exercícios espirituais propriamente ditos. O proveito é maior. Terminada a instrução, ninguém volta à lida diária como quem vem de um sermão. Durante vários dias persistem os mesmos pensamentos, que se vão aprofundando, num esfôrço e numa unidade que só podem ser benéficos". Êste texto, extraído de um artigo do Padre Laplace, publicado em "Vie Chrétienne" de fevereiro de 1958, confirma-nos na idéia de que não se deve empregar a palavra "retiro" senão quando haja, de fato, retiro , ou seja, afastamento momentâneo da própria ambiência hab itual, ruptura com a vida quotidiana, com as preocupações profissionais, familiares ou outras, a fim de consagrar só a Deus um certo tempo. Retiros individuais ou coletivos, retiros pregados ou retiros feitos no silêncio de uma abadia. . . é tôda uma gama, dentro da qual podemos distinguir e escolher, mas são todos aspectos de uma mesma realidade: retirar-se , a fim de consagrar a Deus determinado período de tempo . Um segundo texto, sendo êste de Mgr. Gonon, levar-nos-á a uma maior compreensão do que seja o retiro : "A definição do retiro quem a deu foi o próprio Espírito Santo: "Conduzi -lo-e i para a sol idão e falarei ao seu coração". Solidão é afastamento, portanto, interrupção das ocupações ordinárias que enfebram e desarticulam a atividade interior. Solidão é silêncio e calma; é bálsamo; numn palavra: é paz, envolvendo o corpo e penetrando a alma. Condições, tôdas estas, que permitem ao ser humano recobrar a posse de si, tornando-o, assim, apto a recuperar-se, a examinar-se, a conhecer-se: a refazer-se, pois; a recobrar-se, a restaurar-se. 8


"Falar ao coração" é tarefa divina. Nutrir uma alma é como que nova criação. Exige comunhão de vida, o que só se opera pelo Verbo: omnia per ipsum tacta sunt. Só pelo Verbo Deus realiza sua obra, como, pelo Verbo, Deus se dó. E o Verbo age no íntimo de cada ser; bem no fundo de cada· alma, segreda as verdades do Pai. E quem o ouve, senão aquêle que o escuta? Quem o escuta, senão aquele que lhe dó ouvidos? Quem lhe dó ouvidos, senão aquêle que se envolve em silêncio, por fora e por dentro?" Extraído de "La Semaine des Exercices" .

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NOTAS BíBLICAS

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DESERTO

"Moisés, que apascentava as ovelhas de Jétero, seu sogro, sacerdote de Madian, e que as conduzia para além do deserto, chegou à montanha de Deus, o monte Horeb. O anjo de Yahvé manifestou-se a êle sob a forma de chama de fogo, brotando por dentre a sarça . Moisés olhou: a sarça ardia, sem que se consu misse. Disse, então, de si para consigo : "Vou aproximar-me a fim de considerar êste estranho espetáculo e ver porque a sarça nã o se consome" . Yahvé viu-o avançar para ver melhor e Deus o chamou, dentre a sarça : "Moisés, Moisés!" "E is-me aqui", respondeu êle. Então Deus disse: "Não te aproximes. Descalça as sandálias de teus pés, porque o solo que pisas é terra santa". Deus disse ainda: "Sou eu o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de lsaac, e o Deus de Jacó". Moisés então escondeu a face, com receio de que seu olhar se pousasse em Deus" . ~xodo 111 , 1 - 6 . Assim, Yahvé habita no deserto: lá se lhe oferecem os primeiros sacrifícios; lá há de revelar sua Lei . Isto os profetas de Israel não haverão de esquecer e, alguns dos maiores dentre êles, ouvirão o apêlo do deserto, como Elias, que a P.erseguição de Jezebel desencorajara. 10


"Elias caminhou no deserto um dia de jornada e foi sentar-se debaixo de um junípero. Desejou morrer e disse: "Basta-me de vida, Senhor, tira a minha alma; porque não sou melhor do que meus pais". Deitou-se e adormeceu à sombra do junípero; e eis que um anjo do Senhor o tocou e lhe disse: ''Levanta-te e come". Olhou e viu, à sua cabeceira, um pão cozido na cinza e um vaso de água. Comeu e bebeu e tornou a deitar-se. E, pela segunda vez, voltou o Anjo do Senhor, tocou-o e disse: "Levanta-te e come, do contrário o caminho será demasiado longo para ti". Ergueu-se, comeu e bebeu; depois, sustentado por aquêle alimento, caminhou durante quarenta dias e quarenta noites até o monte de Deus, o Horeb. Ali chegando, entrou na gruta, para nela passar a noite. E eis que a palavra de Yahvé lhe foi dirigida, falando-lhe assim: "Que fazes aqui, Elias?" ~le respondeu: "Eu me consumo de zêlo por Yahvé Sabaot, porque os filhos de Israel te abandonaram, destruíram os teus altares, mataram os teus profetas à espada e eu sou o único que restou". Foi-lhe dito: "Sai e permanece na montanha, diante de Yahvé". E eis que Yahvé passou . Houve tormenta, tão impetuosa que fendia as montanhas e partia os rochedos diante de Yahvé, mas Yahvé não estava na tormenta; e, após a tormenta, tremeu a terra, mas Yahvé não estava no terremoto; e, após o terremoto, houve fogo, mas Yahvé não estava no fogo; e, após o fogo, ruído de brisa ligeira. Assim que Elias a ouviu, escondeu o rosto com o manto, saiu e permaneceu à entrada da gruta" . Reis XIX, 4-13. Profetas, poetas e escritores não esconderão êsse caráter sagrado do deserto. E' para ali que , segundo Oseas, Yahvé reconduzirá o seu povo, personificado pela mulher infiel. "Conduzí-la-ei para a soledade e falarei ao seu coração". ( Oseas 11, 1 6) Lembremo-nos da permanência de João Batista e de Jesus no deserto, recordemos os textos bíblicos que nos mostram Nosso Senhor, no decorrer de sua vida pública, retirando-se para a solidão, a fim de recolher-se e orar. 11


UM POUCO DE HISTORIA

(Extraído de um artigo da Revue d' Ascétique et Mystique ( 1928) A atual prática do retiro de Loyola. E' no século XVII de S. Carlos Borromeu e de S. a verdadeira invasão de retiros,

data dos tempos de Santo Inácio especialmente sob a influência Francisco de Sales que teve início que iria transformar tôda a piedade.

"Nas comunidades religiosas onde reinam a piedade e o amor de Deus faz-se anualmente o retiro. A mesma prática é adotada por diversas pessoas do mundo que, todos os anos, tomam oito ou dez dias, desligando-se do cuidado das coisas terrenas, retiram-se para alguma casa santa, onde se dedicam exclusivamente a exercícios de piedade e do amor divino". Assim escrevia, em 1636, S. João Eudes. Alguns anos mais tarde, vê-se, levadas por S. Vicente de Paulo, "pessoas de tôdas as condições entregarem-se a êsses exercícios em retiros, com grande proveito para suas almas". Proclama-se, repetidas vêzes, que, para o cristão, não há nada mais eficaz ... O retiro parece ter sido considerado, no século XVII, prática tradicional na Igreja, com origens nos primórdios do cristianismo. 12


São Francisco de Sales refere-se aos antigos cristãos, mas quase que o grande servo de Deus, S. taurar-lhe o uso, nos tempos de

a "êste método santo, familiar que totalmente abandonado até Inácio de Loyola, voltou a resnossos Padres".

Em volumoso tratado, datando de 1 621 , averiguava-se as origens dos retiros. Indicava-se, em seu primeiro capítulo, que o retiro fôra de uso corrente em todos os tempos, adotado por filósofos, escritores e homens de negócios, que nele viam um meio apto a distender a alma e o corpo, a refazer as fôrças de uma e de outro. Era o momento propício ao estudo e ao trabalho. O segundo capítulo era consagrado aos retiros espirituais, fazendo-os remontar às Escrituras. Dando apóio a tal tradição, cita-se, ainda, os seguintes trechos : "Diversos santos e prelados da Igreja, tendo por algum tempo sacudido dos ombros seus encargos domésticos, suas ocupações rotineiras , retiravam-se, muitas vêzes, para sítios ermos, a fim de se entregarem inteiramente à prece e à contemplação". Muitos bispos dos tempos antigos , quais sejam : Santo Ambrósio, Santo Hilário, São Martinho faziam retiros frequentes nas abadias próximas de suas sedes. "Encerravam-se em mosteiros . Ali consultavam o espírito de Deus, com referência a si mesmos. Ali examinavam, cuidadosamente, o estado da própria alma, a fim de constatar se, por iluminarem os demais, não se iriam êles próprios amortecendo; se o alimento que davam não lhes estaria roubando as fôrças; se o tumulto exterior, repercutindo-lhes ao ouvido, não lhes invadira o espírito; e, enfim, se, santificando os demais, tinham-se êles próprios santificado . .. " Padres seculares e leigos imitavam - nos. São Paulino de Nola exortta por carta a uma senhora, mãe de família, a que viva, de 13


tempos a tempos, em retiro, a fim de ali aprender como realizar melhor suas ações de todo d ia: "Cuidai de vossa casa numa proporção que vos consinta algum tempo livre, que possais dedicar aos negócios da alma. Escol hei um lugar convenienté, algo apartado do tumulto da família , a fim de que vos seja possível , como em um porto, retirar-vos do ruído da tormenta das ocupações e, na tranquilidade do retiro, quebrar as ondas agitadas dos pensamentos exteriones. Dedicai-vos, então, com grande zêlo, ao estudo da Sagrada Escritura; orai com tamanho fervor , prevede, de maneira tão nítida, o futuro, que o emprêgo de vosso tempo compense largamente estes lazeres que vos concedeis . Não vos dizemos que ali afasteis de vós a família ; pelo contrário, é desejo nosso que ali aprendais a dar-vos aos outros, que ali vos exerciteis na doação de vós mesma" . oOo

Da imitação do próprio Cristo nasceram os retiros quaresmais, Instituição q ue por longos séculos persiste entre os monges das cercanias de Jerusalém. Retirar-se: fazer da quaresma um período de jejum, de silêncio, de recol himento . Os próprios leigos aproveitam êsse tempo para viver em solidão. Roberto, conde de Flandres, "retira-se anualmente, durante a quaresma, a fim de, com maior segurança, guardar continência". Pelo conjunto dos testemunhos, percebe-se que tais "retiros" de quaresma eram encarados ~ão só como tempo de penitência, mas , também, como a hora da víndima, da colheita espiritual "tempo de armazenagem, de coleta de tudo aquilo de que a alma vai viver o ano todo , tempo de encher os sótãos, as adegas, os celeiros espirituais". "Afastamento da multidão; diálogo familiar com Deus, negócios espirituais tratados d iretamente com ~Je, para proveito de outros e de si mesmo; esplendores da Ciê ncia div ina , que se leva para casa": tal a definição daquêles 14


retiros de quaresma, tal a sua finalidade; tal continua sendo o fito de nossos retiros espirituais".

UMA ENCfCLICA REFERENTE AO RETIRO

Aos 20 de dezembro de 1929, o Papa Pio XI publicava encíclica referente ao "uso dos exercícios espirituais e necessidade de lhes dar incremento cada vez maior" . O Papa expõe seu desejo de que não sõ mente membros do clero secular e regular, mas a multidão dos leigos católicos, façam retiro. "Os retiros trazem a plenitude da vida cristã , com consequente aumento de zêlo apostólico". Insiste o Pontífice em que não se considere o retiro tempo roubado ao ministério apostólico; pelo contrário, recomenda vivamente aos membros da Ação Católica que a êle recorram, qual vivificador poderoso de tôda ação fecunda. E insiste em que tais "exercícios sejam feitos em silêncio, a fim de que não se pense noutra coisa senão na própria alma e em Deus na contemplação das verdades eternas".

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OS RETIROS DE CASAIS

INICIALMENTE . . .

Há ainda relativamente poucos anos aconselhava-se aos :ristãos casados que fizessem retiro, para o que deviam procurar grupos de homens e grupos de senhoras, abandonando seu cônjuge. Ao Padre Doncoeur e aos casais pioneiros que trabalharam com êle deve-se o primeiro retiro de casais (ao que nos consta ) . Em artigo publicado em "Études", em 1938 e que se intitulava "Sainteté du Mariage Chrétien", o Padre Doncoeur expõe a razão de ser dos retiros de casais e fala no que foi o primeiro dêles, feito em 1937: " .. . la-se fazendo necessono juntar marido e mulher numa colaboração em que o pensamento de ambos encontrasse alimento comum. Mas, nem bem tiveram início as reuniões de trabalho doutrinai nesse sentido, e já se manifestava, ainda mais imperiosa, a necessidade de · retiros comuns, em que a unidade do casal cristão que São Paulo ousa comparar à unidade Cristo-Igreja recebesse diretamente a ação de uma graça especial. Do ponto de vista psicológico, o retiro em comum apresenta tôdas as vantagens de instituição adequada aos fins que se propõe. Realmente, aos olhos de Deus, o homem e a mulher formam um casal; estão submetidos a essa lei essencial de forças conjugadas que é a colaboração mútua, sincrônica, harmonizada. Diretrizes antagônicas, aparelha16


menta mal proporcionado a um e a outra são desastrosos. O excesso de fôrça de um, mais do que sustentar, acabrunha a debilidade do outro. Para caminhar lado a lado, em passo igual, é imperioso que se receba um reconfêrto, um treinamento comum. Já a ninguém espantaria a confidência ouvida num de nossos primeiros retiros de casais: marido e mulher confessam ambos que encontraram firme sustento no fato de saber que os dois tinham, juntos, ouvido as mesmas verdades e que assim, comprometidos um face ao outro, já não poderiam nem fingir ignorância, nem tampouco temê-la. O terem, juntos, rezado e meditado; o terem, juntos, constatado os próprios êrros e os próprios desfalecimentos; o terem-se colocado dentro de uma mesma, idêntica luz, não seria, por ventura, garantia da graça prometida pelo Cristo aos que, dois a dois, se reunissem em seu nome, sendo esta segundo as palavras do próprio Cristo oração à qual nada seria recusado? E há mais. Vida de casado não é vida de dois celibatários que se associassem. Tanto a santidade como a unidade do casal apresenta caracteres especificas. O retiro de casais deveria, pois, ultrapassar o programa de um retiro comum, dando-lhe precisão maior. Virtude, prece, mística não são, propriamente, no casamento, virtude, prece e mística de indivíduos isolados. São isto sim virtude, prece, vida mística de marido e mulher, ordenados, ligados um ao outro até à morte, para a realização de uma obra nova, para uma santidade especifica, que, se tem a combatê-la adversários insuspeitados, tem a sustentá-la a graça de um sacramento próprio. A realização daquilo que nos parecia sonho ia chocar-se contra obstáculos de ordem prática. Seria viável o agrupamento de casais responsáveis por crianças pequenas? Onde encontrar a hospitalidade capaz de garantir o recolhimento e a vida em comum? Como libertar as jovens 17


mães da preocupação constante pelos filhinho s? E assim por diante. . . Por fim, impulsionados por uma necessidade cada vez mais premente, foi preciso que rompessemos os laços dessas dificuldades que, por demasiado tempo, nos haviam mantido atados. Os quatro dias de Pentecostes eram como que uma promessa de liberdade . Em plena floresta normanda, o castelo de Argeronne oferecia uma solidão acolhedora e amiga. Moças cuidariam de mai s de vinte crianças, cujas idades iam dos 12 anos aos 1 2 mêses de idade. Assim foi que se reuniram , em 1937, quinze casais. Pela primeira vez, iam pôr em comum sua prece, marido e mulher meditando juntos, juntos preparando-se para a confissão, juntos elaborando seu próp rio programa de reforma, de renovação. Para a maioria, foi como que a revelação de tôda uma vida da qual não tinham consciência, embora no íntimo, tão sôfregamente a desejassem . Dali saiu o amor como que purificado, rejuvenecido, ou melhor, penetrado de novo e desconhecido frescor . Foi como ganhar confiança, como saber que, a partir dali, mais claro seria o caminho, e mais alegre, porque jamais se tinham amado assim tão profundamente, tão cristãmente. Fôra concludente a experiência, mas devem os reco nhecer que rasgava horizontes de um mundo inexplorado, encantador e provocante. Imenso era o trabalho a ser realizado, para o qual planos e guias nos faltavam . Era preciso ousadia de pioneiro, bravura de desbravado r, ao ir rasgando e construindo a própria senda à medida que se avançava. Já não podíamos, no entanto, duvidar de que seria compensador o trabalho, de que seria fertil em belos frutos".

Padre Doncoeur Sainteté du mariage chrétien Études - j~lho de 1938. 18


VI 'TE ANOS SÃO PASSADOS ...

E em que ponto nos encontramos? Aquêles quinze casais pioneiros abriram-nos caminho. Desde então, inúmeros são os movimentos que passaram a organizar retiros de casais; e as casas de retiro senão tôdas, ao menos boa parte delas deram acolhida a casais. Se as Equipes de Nossa Senhora impõem como obrigação um retiro por ano, o Movimento Familiar Cristão exige como condição para que se ingresse nas suas equipes, um retiro preparatório. Faremos aqui um apanhado dos diversos tipos de retiro existentes; e, sem esperar pela última parte dêste número, "Apóstolos do retiro", gostariamos de adiantar que, se os retiros são úteis, eficazes, benéficos, não o são oara privilégio nosso. Não é para uso exclusivo das Equipes de Nossa Senhora que se deve organizar retiros de casais, mas para a totalidade dos casais cristãos. Não somente os membros je nossa equipe devem ser instados a fazer retiro, mas todos os nossos amigos e parentes, todos os casais de nossa paróquia e de 10ssa cidade. E' preciso reconhecer que em diversos países, tais ·omo França, Bélgica, Suiça, Brasil, etc. as Equipes de Nossa Senhora foram as promotoras do desenvolvimento dos retiros de casais, missão que lhes cumpre continuar desempenhando. oOo

Em que pé estão, atualmente, os retiros de casais? Aparecem a todo momento anunciados na Carta Mensal e no Anneau d'Or. 19


Sua duração mm1ma é de dois dias; pregadores e assuntos são variadíssimos. Diremos apenas algumas palavras, a respeito de dois tipos de retiros mais comuns que iremos ilustrando com testemunhos.

RETIROS DE ESPIRITUALIDALE CONJUGAL

tsses retiros de dois dias habitualmente focalizam a vida do casal no plano de Deus. Os temas tratados são, com poucas variações, os mesmos temas de estudo dos primeiros anos de nossas equipes. Se o retiro .,.é de suma importância no limiar da vida a dois, nada perde de seu valor ao ser feito pela primeira vez dez ou vinte anos mais tarde . Assim o testemunha êste casal que recentemente nos escrevia: "Estávamos casados havia dezoito anos e tinhamos dez filhos, quando fizemos nosso primeiro retiro de casais. "Vocação conjugal" era o tema. Devemos confessar que aquilo foi para nós a revelação do que se)a o casamento. Ali viemos a conhecer aspectos da psicologia do homem e da mulher, de que nem sequer suspeitávamos. Posso afiançar com tôda a lealdade que eu, até então, não conhecia minha mulher e que ela, por sua vez, tinha em mim um desconhecido".

RETIROS FUNDAMENTAIS

Têm, habitualmente, duração de cinco dias. A finalidade do retiro fundamental é dar uma visão da vida cristã em sua totalidade . Conferências, círculos de estudos ou retiros que tratam da oração, da S. S. Trindade, das virtudes, da Virgem S. S., em geral dão ao leigo uma visão muito parcial do que seja a vida cristã. tstes retiros fundamentais, abrangendo-a em seu conjunto, 20


formam como que uma moldura bastante vasta para que nela se encaixem os ensinamentos recebidos em outra parte, as leituras espirituais e doutrinais. A espiritualidade do leigo casado está aqui incluída, evidentemente. Além de um ensinamento mais completo, esta espécie de retiro apresenta a vantagem incomparável de constituir verdadeira aprendizagem do silêncio, da oração, da vida em comum. E' o ensinamento da vida cristã a inserir-se numa experiência de vida cristã. A quem são aconselháveis os retiros fundamentais? Devem ser reservados a casais de santidade avançada, já maduros para o céu? Se a pergunta é feita em tom irônico, nossa resposta é dada com a mais absoluta seriedade: certamente, não . Casais muito jovens fizeram com grande proveito retiros fundamentais, assim como casais muito modestos e casais com escassa formação. Únicos requisitos são aqui a boa vontade, o desejo de conhecer melhor, a submissão ao que se recebe e ao que é aconselhado. Houve pregadores que nos disseram: "E' para retiros desta categoria que nos devem mandar seus amigos não praticantes , seus amigos sem fé, a fim de que se lhes descortine em tôda a sua amplidão o plano de Deus; a fim de que avaliem o amor do Criador pelas criaturas. E, enfim, para que façam uma experiência de vida cristã."

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TESTEMU 'HOS

VOCAÇÃO CONJUGAL

"Seria imperdoável deixar mos de responde r ao questionário referente ao retiro, quando a êle devemos o melhor de nós mesmos; quando determinado retiro , o primeiro, foi para nós o ponto de partida de nossa evolução espiritual. Foi graças ao nosso engajamento nas Equipes que . em dezembro de 1950, saíamos para um retiro. Maravilhosa experiência, revelação providencial, transformadora da visão tôda que, havia dez anos, vínhamos tendo de nosso casamento. O retiro focalizava a "Vocação conjun;,l" . Era com apreensão que havíamos encarado êsses dias. ~les abalaram tôda a nossa concepção da vid a a do is e do amor, por um exame escrupuloso, como jamais fizéramos. de tudo aquilo que o sacramento do matrimôno comporta . Do ponto de vi sta físico , a êsse retiro devemos a harmonia sexual, que não conseguíramos ainda, por falta de encarar o assunto com franqueza. Preconceitos, complexos, escrúpulos, tudo foi varrido, substituído por uma visão normal das coisas sob o olhar de Deus. Que passo à frente! Comunidade espiritual, lei de ruptura, diversidade ps icológica entre o homem e a mulher, o lugar da Cruz no amor: realidades que, apesar de vagamente intuidas, jamais haviam sido ex plícitas , meditadas. Qualificamos de primordial, pa 1la qualquer caml,. essa espécie de retiro e o desejamos para os inúmeros casais que conhecemos. Vemo-los, muitas vêzes, às voltas com dificuldades que deixa riam de sê-lo: o ensiname nto, a reflexão, a 22


oração de um retiro têm a virtude de colocar tudo no devido lugar e de dar a todo casal um novo ponto de partida. Quanto aos retiros que se seguiram, embora menos decisivos, nem porisso deixaram de ser ocasiões de fortalecimento de nossa vida conjugal, bases das quais, a cada vez arrancamos em direção a Deus. Nossos filhos sentem bem isso. Se, mui ·tas vêzes, se insurgem contra outros tipos de ausência, nunca reclamam quando nos ausentamos para um retiro". oOo

"Após três anos de casados, em 1945, tivemos ocas1oo de fazer um retiro de casais, cujo tema era a vida conjugal. Trouxe-nos imenso benefício êsse retiro, ao fazer com que espiritualizóssemos tôda a nossa vida conjugal. Deu resposta a problemas que começávamos a sentir e iluminou-nos todo o futuro. Tre.ze anos são passados e, no entanto, ainda nos alimenta, ainda vivemos dêle. Damo-nos conta de que foi para nós o fato mais importante de nossa vida de casados. Desde então, fizemos outros retiros e recolhimentos de fim de semana; e o último retiro, de oito dias, não nos pareceu demasiado longo". RETIRO FUNDAMENTAL

Devemos reconhecer que é o próprio Deus, vindo ao nosso encontro e chamando-nos. Se assim não fôsse, quantos dentre nós teríamos superado o transtôrno, as dificuldades que a partida para um retiro engendra? Sobretudo tratando-se de retiro de cinco dias. E' neste sentido que um de nossos amigos orientava seu testemunho, referente ao retiro fundamental, qualificando-o, por ordem cronológica, como a mais recente das "oportunidades" que Deus lhe oferecera. E' um cirurgião quem fala: "Para ser sincero, devo dizer que acolhi com escass::> entusiasmo a idéia de um retiro. Cinco dias pareciam-me 22


tempo demais. . . cinco dias inteiros de exercícios espirituais ... cinco dias roubados ao traba lho, que não pode ser assim interrompido. . . Onde arranjá-los, sem graves repercussões, sem escândalo até entre os meus colaboradores? Cinco dias com crianças turbulentas longe de nossos olhos vigilantes. E ademais, cinco dias sem abrir a bôca senão para murmurar un s

11

pater" e umas

11

aVe

11 ,

ou para confesssar-se,

sem a mínima troca de palavras entre marido e mulher: isso tudo eu qualificava de loucura, exagêro inútil do pregador. Ao mesmo tempo, porém, sentíamos minha mulher e eu em nosso fôro íntimo, um a pêlo constante: po~ que não "tentar"? Algum lucro espiritua l haveriamos de obter. . . Um casal , nosso companheiro de equipe, voltara entusiasmado de se u primeiro retiro, falando na Trindade, em nosso lugar no plano de Deus, de maneira a intrigar-nos E então como dizia um outro casal estávamos prestes a iniciar uma proeza de cinco dia s. Uma vez admitida a idéia em princípio, no fundo de nós mesmos persistia a crença de que jamais a vida de todo dia havia de nos permitir a façanha . Eis, porém, desfazerem-se um a um os obstáculos existentes. A recuperação dos operados seguiu curso normal, normalíssimo, e êles tiveram alta na véspera de nossa partida. Não surgiram novos casos urgentes. As crianças doentes sararam. E as vovós, solícitas, ofereceramse para cuidá-las. Chegamos ao local do retiro cansados, enervados pela tensão dos preparativos de uma ausência para a qual é preciso deixar tudo previsto. E, com tôda essa carga de preocupações que trazíamos, o padre a nos pedir que não pensássemos noutra coisa senão em Deus; que fizéssemos em nós o silêncio mais absoluto. Aposto como isso é utópico dissemo-nos, minha mulher e eu, a mente logo ocupada em nossos mil e um cuidados. Mas, o pregador, não contente com isso, foi mais longe, impondo-nos que nada lêssemos, que não pensásse mos senão no retiro e em suas conhrências, que nem sequer uma vista do lhos deitássemos ao último número da Carta Mensal ... 24


~editação,

conferências ... meditação, conferências ...

Era duro, para quem, como eu, não sabia meditar. No primeiro dia, levei boa parte do tempo reservado às meditações a dormir. Isso de encarar face a face a S. S. T rindade era um choque que me sacudia bastante; mas, por violenta que fôsse a sacudidela, por aliviada que se sentisse por uma vez na vida - a minha alma , o meu corpo necessitava era de um repouso. Pediam-me que optasse: ou Cristo, ou outra coisa. Ninguém pode ser um cristão tíbio . Irresistivelmente, a gente responde logo: o Cristo! Mas diz isso, sentindo que vai ser firmemente agarrado. Corria o tempo; eu continuava ainda bastante cansado, mas a consciência da minha indignidade mantinha-me singularmente desperto entre uma conferência e outra. Ademais, havia a me rodear aquela extraordinária atmosfera de quatorze casais e duas viúvas. . . Mal nos conhecíamos . . . Nem sequer uma palavra trocavamos. . . Mas já, todos os nossos pensamentos, tôdas as nossas preces, tendendo para um único fim, nos uniam. Eu rezava por minha mulher, ela rezava por mim . Rezávamos uns pelos outros. Rogávamos a Deus para que cada um O descobrisse, lhe falasse, O ouvisse. Juntos, faziamo-nos penitentes. Juntos, íamo-nos sentindo ávidos do amor do Cristo. Juntos, fomos adorá-lo, certa noite, e aquela hora que escolheramos nos pareceu curta demais para exprimir tudo quanto tínhamos a dizer-lhe. Prolonguei bastante essa hora de vigília diante de Jesus Cristo, a quem eu descobria, por fim, que tinha um mundo de coisas a dizer, de quem tinha tanto a ouvir. O fervor daquele retiro abrira-me a alma e, pela primeira vez, 25


eu começava a compreender o que seja uma oração feita a Deus, oração sem Pater, nem Ave; oração vinda da alma, formulada com simplicidade; oração vinda do coração, que fala a Deus qual criança falando a seu Pai. A leitura da Bíblia, feita pelo Padre, e por êle comentada, foi para mim extraordinário alimento. O texto sagrado falava, vivia e nós íamos compreendendo a que ponto éramos a continuidade do povo judeu, n.,.a ,adoração e na busca de Deus. Quando o Padre, na terceira noite, nos pediu que fizéssemos, um após outro, em voz alta nossa oração pessoal, vivemos instantes de singular emoção, ouvindo falar a alma de cada um. Porque todos, homens e mulheres, tivemos algo a dizer, brotado das profundezas de nosso ser; adoração ou louvor, ação de graças ou súplicas, aquêle nosso falar a Deus nos punha a nú a alma diante de nossos irmãos e nossos irmãos nos sustinham, naquêle diálogo de filho com o Pai. Mais de um principiou com voz firme, sem timidez, e foi acabar num meio soluço de emoção, tão intensa era entre nós a presença de Deus: presença de amor, de paz, da qual pressentíamos a falta que nos haveri a de fazer, quando o mundo voltasse a possuir-nos com suas preocupações, legítimas ou enganadoras que fossem. Mas, para reencontrar com segurança essa paz, essa presença do Pai, do Filho e do Espírito Santo, como deixar de buscar, apaixonadamente, o melhor caminho, o caminho traçado para os seguidores do Cristo? Caminho que, uma vez descoberto, por fim, dó-nos plena noção da oportunidade ímpar que oferecem êsses cinco dias em que, ininterruptamente, nos é dada uma visão ampla, completa, da vida cristã, verdadeiro ciclo que, partindo da Trindade e da Criação, faz-nos descobrir nossa vocação de filhos de Deus e o modo como, desde já, aqui na terra, podemos começar a viver a vida eterna em nossos encargos familiares , profissionais, sociais. E não se trata de simples vista dolhos lançada sôbre o mais belo dos panoramas ... Não. Durante 26


cinco dias, essa vida cristã é intensamente vivida nas profundezas da alma e nela se grava. Isso dista muito de um breve retiro de dois ou três dias . O tempo parecia-me que voava e eu já não pensava em dormir. E o silêncio. . . Quão apreciado foi, permitindo-nos considerar e repensar os problemas de nossa santidade, que devemos atingir em conjunto com nosso cônjuge , com nossos irmãos, com a Igreja, sob os olhares de Cristo, para maior glória do Pai . Para que possamos atinar com os desígnios de Deus a nosso respeito , é preciso que O contemplemos longe do bul ício da vida exterior, longe de tôda Preocupaçã o, em recolhimento interior jamais perturbado . E a gente acaba amando êsse silêncio , amando-o cada dia mais , a ponto de concordar em que é insubstituível . Nêle, sentem-se os espôsos maravilhosamente próximos, unidos num mesmo impulso espiritual . Cresceu a nossa intimidade; fizémo-nos mais abertos um ao outro . E agora, imensa é a nossa felicidade, ao descobrirmos fortalecido o nosso amor, e mais elevado, e mais próx imo da s alturas do Cristo. Po rqu e , no decorrer dêsse retiro, seja no s ilêncio reco lh.ido da capela, ao lado de meus irmã os que rezavam por mim , seja em passeios solitários pelo bosque, por tôda parte eu sentia o Cristo comigo, em mim . Tomei consciência de seu amor pela minha pessoa: tomei consciência de que o Pai O enviara a mim, especialmente, para que me reconduzisse eu, pobre filho a ~le, o Pai que me criou . ~le , o Pai, diante de quem me uni a minha mulher para, juntos, caminharmos até ~le . ~le, o Pai, que nos confiou cinco filhos para que, um dia, êsses nossos cinco filhos proclamem a sua glória. E eu sentia, então, um desejo intenso de irradiar essa felicidade e essa fôrça que descobria e m mim. Pois a vida cristã é inconcebível sem êsse dom absoluto de si, sem 27


que se deseje o sucesso da Igreja, da equipe, da paróquia, das missões longínquas. Seja em atos, seja em orações. Tôdas estas são verdades singelas, já de todos conhecidas, sem dúvida. Mas eu, naqueles cinco dias, descobri muita coisa. E não me cansaria de lhes falar a respeito. Por ora, limito-me a dizer-lhes: vão passar cinco dias em retiro custe o que custar. Quão mais profundo há de ser, então, o conhec1mento que terão de Deus e de seus desígnios! Hão de voltar como quem volta de uma viagem estupenda e única, suspensos ac1ma dêste mundo, amando melhor ao próximo, amando muito mais aos seus, à sua mulher, aos seus fi Ih os". oOo

"O fato de irmos para o retiro fundamental representou para nós esfô rço enorme. Para estar seguros de que iríamos, tínhamo -nos inscrito com se is mêses de antecedência . Ass im, pois, tivemos tempo de sobra para pensar nêle com frequência. Diversos casais da equipe e outras pessoas amigas pensaram em nós e por nós rezaram . Incalculável foi o benefício dêsse retiro, tanto para os casais participantes, como para seus respecti "os lares. Ninguém pode negar o quanto sejam benéficos os retiros. Para comprová-lo, basta abrir os olhos e ver, basta abrir os ouvidos e ouvir. E basta olhar como o de mônio se empenha infalivelmente em impedir que fa çamos retiro. Que outra coisa hão de ser, se não artimanha sua, os mil e um pretextos válidos ou não que encontramos sempre para não ir? Foi preciso, pois. começar por um ato de vontade, que nos movesse a decidir com firmeza: uma vez escolhida a data e tomada a decisão de ir a qualquer custo, estavam feitos os três quartos do esfôrço. Consistia o último quarto em colocar-nos dentro do estado de esp írito conveniente: 28


humildade, desejo de nada fazer além de se deixar penetrar por Deus, de nada esperar a priori e aceitar receber o que viesse. Chegar ao ponto de não querer "fazer" algo é esforço penoso para a natureza humana. Basta ver que não podemos deixar de dizer que vamos "fazer" retiro ... Creio na importância da "duração" do retiro. Se nada encontramos em nosso primeiro retiro de casais, foi por não termos conseguido integrar-nos, estar "presentes". Durou só dois dias e fomos para êle mal preparados. Desta vez, sõmente na manhã do quarto dia foi que me abandonei à ação da graça . Só então percebi a ação do ~etiro em mim. "Cada palavra encontrou em mim repercussão; minha maneira de ver mudou sob todos os pontos de vista. Voltei a encontrar-me sõzinha comigo mesma diante de Deus e é o que importa" .

2S


RETIRO DO CASAL -

RETIRO DA .Ji:,QUIPE

RETIRO DE CASAIS

Inquérito recente revelou que - salvo casos especiais de que mais adiante falaremos todos os casais são partidários do retiro feito pelo casal. O retiro do casal é fonte de unidade , de amor, de ap rofundamento em comum. E' ocasião para um "dever de sentar-se" privilegiado, geralmente seguido de troca de idéias, de revisões em comum, de notas e de resoluções. Mas. . . dêmos a palavra ~ alguns de nossos correspondentes: "Consideramos sem sentido casados; e, mesmo um retiro a problemas do casal nos parece ria tení seus problemas próprios e abordados pelo pregador" .

o retiro individual para os dois que não tocasse nos falho . Com efeito, Õ casal é conveniente que sejam

"Fazer retiro significa "afastar-se" do mundo, da vida rotineira, das preocupações, das dificuldades, para, deliberadamente, recolocar-se sob o olhar de Deus, abrindo-lhe a alma em profundidade . Significa revi sar a nossa hi erarquia de valores, devolver às preocupações quotidianas, às inquietações, aos cuidados de sempre, sua exata proporção. E isso tudo tem de ser feito pelo casal, visto que o casal como tal tem uma alma nec ess itada de alimento. E' bom que os espôsos descubram juntos sua verdadeira vocação. Porque a vida de todo dia é muita s vêzes 30


uma corrida em que se distanciam o marido e a mulher: pouco a pouco, seu amor vai vivendo sob a ameaça de se ir cindindo, de se ir materializando, por falta de vida espiritual em comum, ou de troca de idéias a respeito da vida espiritual de cada um . E' aí que entra o retiro benéf ico, oferecendo-lhes oportunidade de voltarem a encontra r-se , de voltarem a encontrar-se diante do Senhor". E' uma de nossas amigas viúvas quem nos vai dar a conc lusã o: " Lamento não ter fe ito um retiro assim prolongado com me u ma rido. (ela escreve-nos de volta de um retiro de seis di as ) . Só depois do secundo dia é que o silêncio começa a ag ir : é preciso que saibam deter-se, apartar-se do mundo, ambos, marido e mulher, para que possam encontrar-se, juntos e ao mesmo tempo sós, diante de seu Deus. Amarse - ão mais profundamente depois dessa experiência". Os casais têm por vêzes liberdade de escolher entre retiros rese rvados a casa is e outros, abertos a adultos, casados ou não. Nós mesmos anunciamos retiros desta natureza em nossa Carta Mensal , por serem pregados por padres que, afeitos aos problemas dos casais , os abordam em suas pregações. Diversos testemunhos de casais concordam com o desta senhora viúva, que veio a encoMtra r- se e ntre casai s e so lteiros: " Eu estava viúva havia três anos quando, em agôsto último, senti necessidade de um retiro. Não tivera possibilidade de fazer nenhum desde a morte de meu marido . Tendo lido a lista na Carta Mensal , inscrevi-me para o retiro anunciado para a única data que me convinha. Fui, certa de que seria eu a única exceção entre casais. Havia, porém , solteiros, além de outra senhora viúva. Não se tratava , pois, de retiro especial para casais, mas essa mistura não parece ter sido nociva, pelo contrário. Todos estiveram concordes em reconhecer-lhes os benefícios". 31


RETIRO DE EQUIPE

Em diversos países, em diversas cidades, as Equipes de Nossa Senhora deram sua arrancada inicial impulsionadas por um retiro de casais: alguns casais participantes, desejando prolongar as vantagens do retiro por uma vida de equipe, ingressaram no Movimento . E' digno de atenção o fato de sempre que isto se deu a equipe em questão ter tido um bom início. E mais ainda : em geral, o florecimento das Equipes nesses países ou nessas cidades foi dos mais férteis: os primeiros casais logo encaminharam os novos para retiros.

Sempre que haja possibilidade, deve-se, pois, aconselhar veementemente aos casais desejosos de constituir equipes que façam juntos um retiro . Com o mesmo cal o r, deve-se recomendar, também, às equipes que façam não tôdas as vê zes, que seria uma so brecarga mas de quando em quando retiro congregando a equipe tôda. Ouvir os mesmos ensinamentos, rezar em conjunto, suplicar uns pelos outro5, oferece para a equipe as mesmas vanta gens que, para o casal , oferece o retiro a dois. RE'TIROS SOL ITÁRIOS

Após cinco, seis, dez retiros de casais, pode acontecer que os espôsos sintam necess idade de uma solidão mais absoluta , como o testemunha esta carta, que jó há dois anos publicávamos: "Depois de alguns anos de casamento (no nosso caso, 8 anos de casados, 30 e 37 anos) sentimos a necessidade imperiosa de fazer, mais profundamente, um balanço de nossa vida. Graças a um retiro de casais por ano, aproximada mente, certo número de recolhimentos, dias de estudos, reuniões das mais diversas (tendo-nos as c irc unstâncias de vida colocado sucessivamente em três meios diversos) fomos pouco a oouco acumulando riquezas e exoeriências. Com nossa vida interior verdadeiramente atulhada, foi que j2


o

que vai p e 1as equipes JULHO AGOSTO - 1963

73i11vete do. Ce nt~z-o.

7Ji~z-eto.~z-

Caros amigos Por vezes, cansaço que se temas estudados fadiga, é certo,

em meio do ano, percebe-se nas equipes, certo traduz pelo menor rendimento das obrigações, superficialmente, etc. Pode ser consequência de mas a causa pode ser outra ...

No início do ano, quando a equipe retoma as suas atividades, as boas resoluções brotam quase expontôneamente. Durante as férias tomamos mais ou menos consciência dos progressos a realizar. Viagens, separações, repouso, ruptura com a rotina quotidiana. . . todas estas modificações na vida habitual, nos permitem uma visão à distância dos objetos e das pessoas. Compreendemos melhor o seu valor, ao mesmo tempo que adquirimos uma visão mais nítida sôbre as nossas atitudes. Qual é a criança que, no reinício das aulas, não toma a resolução de trabalhar bem naquêle ano? Março: resoluções. Agosto: decepção. . . nem sempre, graças a Deus. Deixemos de parte os outros campos de atividade


e ana lisemos ràpidamente o que acontece no plano da vida de equipe. Em novembro: reun1oo de balanço. Em março, relemcs as resoluções que foram tomadas então, e, com todo o entusiasmo IniCiamos a nova jornada. A equipe vai funcionar bem. . . ela vai dar a seus membros, maior soma de progressos que anteriormente. . . vamos juntos fazer novas descobertas. . . Cada um de nós estudará conscienciosamente o tema. . . I remos nos aplicar no dever de sentar-se . . . Vamos fazer um esfôrço para melhorar a caridade fraterna com os outros ... De fato, cada um dos casais faz um g rande esfôrço. Mas . .. passados três ou quatro meses, parece que as causas não vão assim tão bem. Um pouco como a criança que , após algumas semanas de esfôrço no estudo da matemática seu ponto fraco fica decepcionada de não conseguir o primeiro lugar e esquece as suas resoluções. E' verdade que o progresso de uma equipe nem sempre pode ser avaliado. Começamos então a ouvir aque la pequena frase já cláss ica: "nada aproveitei da última reunião " . . . "a equipe já não me "dó" como antigamente". Será a equipe que nos dó menos, ou somos nós que nos damos menos à equipe? Será a equipe que nos dó menos ou somos nós que procuramos nela o que ela não foi feita para nos dar? Na reunião , na equipe, não devemos ir procurar causas já feitas, mas sim ir nela "fazer" alguma causa: louvar a Deus: com os outros, apresentar ao Se nhor as nossas orações; procurar uma lu%; com os outros, procurar o Senhor, estudar seu pensamento, seu plano sôbre nós; praticar a caridade fraterna: dar aos outros aquilo que nós mesmos encontramos, dar-lhes aquilo de que necessitam, receber dos outros o que eles têm a nos oferecer. 11


Mas, aquilo que fazemos juntos na equipe não substitui: nem aquilo que nós mesmos devemos cumprir sozinhos (oração, aprofundamento da fé, leituras ... ) nem aquilo que devemos praticar a dois, como casal ( oraçco, abertura, auxílio mútuo ... ) . nem aquilo que devemos praticar juntamente com todos os nossos irmãos (na paróquia, na família oração, abertura, caridade fraterna, apostolado ... ) . O que fazemos juntos na equipe, não substitui, mas exercita, treina, sustenta, fortifica. Na equipe, nós não vamos primeiramente para ir buscar, mas para dar, para pôr em comum, para nos ajudarmos mutuamente, a fim de melhor conhecer a Deus e melhor serví-lo. Retomando a expressão de um dos últimos editoriais, si vamos à equipe um pouco para nós mesmos, vamos a ela também para os outros, mas vamos principalmente, juntos, "para Deus". Desejamos a vocês ànimo forte neste segundo semestre e lhes asseguramos, caros amigos, nossa amizade muito fraterna. O CENTRO DIRETOR

ATRAVÉS DO MUNDO Deixando o Canadá, onde nos levou a Carta Mensal de junho, vamos hoje fazer duas escalas: Guadalupe e Colômbia, sobrevoando os Estadcs Unidos, onde nos deteremos em outra viagem. GUADALUPE

Guadalupe é uma das muitas ilhas que formam os "Pequenas Antilhas", no Mar de Caraibas, ao norte da Venezuela. E' a ún1ca dessas ilhas, por enquanto, onde encontramos os Equipes de Nossa Senhcra. 111


Da

ponta

de

vista

administrativa,

a

ilha

pertence

a

Possui uma população de 251 . 000 habitantes, num territóri 0 km.2. Clima quente e vegetação luxuriante.

A de

população,

pretos

e

cipais são Pitre,

Basse-Terre, a

com

Conto

além

28.000 com

de

1 . 780

é composto ,no suo moioriO,

inteiramente cotólica,

mulatos,

França. de

crioulo~.

numerosos

capita:, com

As

cidades

prin-

Point~-ã­

13.000 habitantes e

habitantes.

uma

diocése

exercem o seu ministério poro 2. 500 habitantes.

34

que

agrupa

podres

e

os

64

diversos religiosos,

paróqUias, isto

é

ond.a

1

padre

AS EQUIPES : Existem duas equipes em Pointe-à-Pitre e uma em SatntCiaude, bairro resiC:encia l de Basse-Terre.

A primeira equipe surg·iu graças à iniciativa de um casal trances que

tinha

nessa

ido

cidade

residir temporôriomente em

1956.

Em

1960

em

Pointe-à-Pitre

formava-se

uma

e

teve

segunda

inicio equip-.

Em Bosse-Terre foi um grupo paroquial de casais que decidiu adenr O pr :meiro retiro de casa ::; às Equipes de Nossa 5enhcra em 1959. realizou-se em 1958, por iniciativa da primeira equipe. As três equipes contam com casais de côr e broncos, guadal qpenses e europeus. E' uma vitória da caridade que merece ser assinalada. Uma europeus que

grave dificuldade consiste na instabilidade dos alí permanecem dois ou três anos, para voltar

paro suas pátrios . blema da formação Outro problema:

Como consequêncio, há permanentemente e integração de novos membros. o casal de ligação reside na França.

casats depors o

pro-

Felizmente

trata-se do casal que presidiu à instalação das equipes e c~nhece bem o ambiente, como também vários dos casais. As

equipes

de

Guadoiupe,

receberam

em

novembro

último,

o

'visito de Froncis Labitte, do Centro Diretor, e que lá ficou por três dias, levando-lhes o amizade, o apoio, as orien t ações de cuja fa!to tanto IV

se

ressentem as equipes distantes.

Conta -n os

Lab itte

uma

a nil-


dota que possivelmente lhes venha a ser útil: Um casal responsável, desesperado cem o fato de um dos casais de sua equipe nunca pratrccr o dever de sentar-se, lançou mão do seguinte estratagema: convidou

o casal para jantar e, no dia combinado, recebeu-o com tôda a amabilic!ade. D~pois de uma conversa muito simpático e animado de 1O minutos, convidou-os a passar poro a sala de jontor. Os convidados tiveram o surpresa de aí ver um mesa muito ba.m arrumada. . . com dois pratos apenas. O casal que recebia convidou os seus hóspedes o se sentarem, e deles se despediu sorridente, explicando que apenas queria dor-lhes o oportunidade de ficarem sózinhos para um dever

de

s-antor-se.

Cem

efeito,

esse

casal

alegava

todos

os

meses

um

impedimento de última hora que os impossibilitava de cumprir com esta obrigação: ora uma visita imprevista, ora uma súbito indisposição, ora um trabalho importante . . . justamente no dia reservado para o

dever de sentar-se!

Conclusão: o dever de sentar-se foi excelente, tanto assim que o casal convidado ficou sinceramente reconhecido por esta brincadeira de seu responsável. A

história

poderia repetir-se

em

outros

lugares ...

COLôMBIA Poro muitos de nós, será certamente uma surprêza saber que pertinha (?) do Brasil, num oaís vi:z'inho, temos também equipes. Vejamos primeiramente os dados gerais sôbre a Colômbia.

A Colômbia tem uma superfície de 1 . 135.355 km2 e uma popu· lcção avaliada, em 1957, em pouco mais de 13.000.000 de habitantes. É um pais de língua espanhola e comporta as seguintes grupos étni· cas: lndios 2%, Broncos 20%, Pretos 4%, MestiÇos 74%. As principais cidades são: Bogotá, a capital, com tentes e Medelin com 600.000.

1 . 200.000 hab:·

Em sua grande maioria, a população é católica (93%) e agrupa-se em 48 dioceses. Contam-se 2. 050 sacerdotes diocesanos e 1 . 408 reli~iosos, o que leva o uma média de 1 padre para 4. 000 habitantes.

v


O país é extremamente montanhoso. A capital está situada a 2. 650 metros de altitude, o que torna o clima agradável, apesar da proximidade do equador. As equ ipes na Colômbia Em 1957, logo depois de sua visita ao Brasil, o Cônego Caffarel passou pela Colômbia, ali permanecendo mu1to ràpidamente. Duas equipes se formaram naquela ocasião. Mas poucas notícias chegavam delas e, depois, tôdo correspondência cessou. Em 1961 um membro de uma equipe francesa, devendo passar algumas horas em Bogotá, no decorr·er de uma viagem à América do Sul, pr0•1flificou-se o promover um contacto. Para isto, escrevera cedência o um casal, a fim dt? organizar um encontro.

Apesar do trou-se

com

um

pouco tempo de que dispunha, casal

que,

com

alguns

com

ante-

êsse equipista encon-

amigos,

tinha

constituido

um

pequeno grupo de casais. Tinham tido conhecimento dos Estatutos, mos não tinham adotado as sues regras. Uma hora e me ia de palestra permitiu ao nosso viajante , explicar 0 espírito do Movimento e, em particular o sua finalidade: a procura de uma vida ma is intensamente cristã, a vida de equipe e as obrigações como meios de progresso. Antes

de se separarem, rezaram juntos, voltados poro o estátua de Nossa Ser1horo que domina o cidade. Depois de uma treco de correspondência e o estudo, dos primeirvs

temas sôbre os Estatutos e dos pnmeiros números da Carta Mensal, o primeira equipe foi admitida em janeiro de 1962. É constituída por 7

casais,

mente

todos

dinâmico.

eles

entusiastas, estimulados Desde

o

início,

por

um

manifestaram

responsável

todos

o

observar fielmente o espírito e os métodos do Movimento. a

iniciativa de organizar um dia de recolhimento,

daram 0 utros casais, alguns dos quais formaram cujo admissão está prevista poro muito breve.

VI

de

Tomoco'Tl

poro o qual

uma

real-

decisão

segunda

conv;equipe,


Vida do Movinzento

EQUIPES COMPROMISSADAS -

São as seguintes as equipes que

fizeram o seu compromisso: Alemanha: Attendorn 1 Austria: Viena 2 Bélgica: Liege B 7 Canadá: Montreal 1O Espanha: Barcelona 30 França: Angers 8, Annecy 7, Bar-sur-Aube 3, Bellevue 1, Bordeus 1 1, 13, Déville 2, Douai 1, Grenoble 12, Hyeres 1, La Courneuve 1, Lille 12, Mâcon 2, Melun 4, Nantes 13, Paris 68, Pau 8, Saintes 1, Toulouse 2, Viroflay 1, Villemombles 2, Valenciennes 6 Ilha Maurícia: 3, 7, 8, 12.

Pediram mento, as seguintes equipes:

EQUIPES ADMITIDAS -

a

sua

admissão ao

Movi-

Alemanha: Paderborn, 4 Bélgica: Bruxelas A 68, Dottignies 2, Marienbourg 1 Canadá: Québec 3 Camarões: Duala 1 Colômbia: Bogotá 2 Espanha: Pamplona 3, 4, San-Sadurni 1, Valencia 7, 8 Estados Unidos: Chicago 1, Nova York 5 - França: Albi 1, Alençon 4, Angers 12, Beaune 3, Béthune 1, Bordeus 17, Cambrai 4, 5, Cachan 2, Oijon 5, Dreux 2, Epinal 2, Etampes 1, Evry-Petit-Bourg 1, Fontenay-aux-Roses 1, Gironville 1, Hyeres 2, La-Celle-Saint-Cioud 2, Le Puy 4, Lorient 3, Lyon 19, Marselha 20, Meaux 3, Melun 5, Montpellier 1, Nancy 9, Orsay 1, Palaiseau 1, 2, Paris 85, Périgueux 1, Rueil 2, Troyes 14, Vincennes 3 . - Ilha Maurícia 21 Itália: Turim 4 Luxemburgo: Luxemburgo 5 Suíça: Basilea 2, Bienne 2, Genebra 22, Sion 4. Vil


DEUS CHAMOU A SI Charles Pias, da Equipe B 22 de Bruxelas . Yveline Yvert, no dia 1 5 de março, da Equipe Saint-Etienne 12, mãe de 4 filhos. Simone Daudergnies, da Equipe Coeullyl, no dia 26 de março, mãe de 3 filhos. Timoléon de Vivies, da Equipe Saint-Etienne 2, no dia 29 de março, pai de 1 O filhos. Jacqueline Marcieux, da Equipe Marselha 1, mãe de 6 filhos. Nestes últimos meses, vários membros das Equipes foram chamados por Deus. Recomendamô-los às suas orações , assim como o cônjuge e os filhos que deixaram. Pensemos também que sõo os nossos intercessores junto do Pai. Por seu intermédio, peçamos para o nosso Movimento. Eis o que escrevia um equipista de Barcelona , algumas semanas antes da morte de sua esposa: "Mercedes está definitivamente acamada: a doença p·enetrou profundamente nela , destruindo pouco a pouco a sua vida, até o dia em que Deus quiser levá-la para junto de sí. Ela está fazendo a sua Via Sacra , para a glória de Deus. Para nossos filhos, para vós todos e para mi.n, será uma alegria, a felicidade de nossa vida terrena , sabê-la tão p·e rto de Deus". Mercedes faleceu alguns dias depois do compromisso da equipe , que foi feito junto de seu leito, no dia 11 de fevereiro , festa de Nossa Senhora de Lourdes. Ela faleceu a 23 de fevereiro. Toda a equipe estava presente algumas horas antes e ela encorajava cada um com palavras de amizade. Quis cantar a Salve Rainha como desp·edida. Em seguida entrou em agonia e, apesar das crises de falta de ar, pediu ao marido que cantasse, cantando ela também . Expontâneamente cantou o salmo: "Cantemos ao Senhor, aleluia ... ", falecendo logo em seguida. A fé do marido e dos filhos, de toda a equipe e dos outros equipistas de Barcelona vindos ao seu enterro, impressionou toda a assistência. Ap'Ós o cântico do Adeus, muitos dos presentes mostravam-se maravilhados e perguntavam que Movimento era êste, que permitia encarar a morte com tanta alegria! VIII


BREVE

NOTICIÁRIO

Instalação do Setor Florianó po lis Florianópolis constitui um dos mais antigos núcleos de equipes no Brasil. A pnmeira equope começou as suas atividades em março de 1955. Dois anos depois, formava-se a segunda . Atualmente a capital de Sta. Catarina conta com 6 equipes, e, não f ôsse o grande deficiência de cléro, certamente o seu núl1'1ero teria aumentado. Há grandes esperanças de irradiação para outí:::;S

cidades. No dia 25 de ag ôsto próximo, será solenemente instalado o Setor de Fl orianópo li s, ponto de partido, certamente, paro o expansão do Movimento, pois conto ele, naquela cidade com equipistos devotados e ativos. O n ovo Setor terá como responsável o casal Dilmo e Miguel Orofino, um dos vete ranos do Movimento naquela cidade. Comprom isso da Equi pe Sa ntos 1 0 Movimento em Santos, te·te n~stes dois últimos or.os um surto animador de expansão. O ~omprc­ misso do la. equipe daquela cidade marcará certamente uma neva fase de aprofundamento e de tomado de consciência de novas responsabilidades . A cerimônia está mercado poro o dia 25 de ogôsto . Encontro dos Respo nsá veis de Setor A expansão do Movimento já tem os equipes em 6 Estados torno indispensável o descentrolozoção dos orgãos dorigentes, à medida que os equipes vão odquiri,-,Jo o

sua

maioridade.

De

um

cno

paro

cá,

foram

instalados

os

Setor~s

de Johu e Campinas, devendo instalar-se brevemente o de FlorianópoliS. Esta descentralização determino o necessidade de encontros periódicos dos Responsáveis de Setor e se.Js Conselheiros Espirituais, para uma unidade de onentoção e para uma troco de experiências e testerrunhos. O prime iro destes encontros terá lugar nos dias 7 e 8 de setembro, devendo também estar presentes os Responsáveis e os Conselheiros dos

Equipes

de

Coordenação mais

antigas,

que

se

e ncontram

em

1ésperas de constituir novos Setores.

Encontro <le

Embora tivessemos todo alguns ensaios de é 1negável que 0 primeiro que se realizcu rom todas as característicos exigidos, foi o do ano passa do, em Volt· nhos, com o Rvmo. Cônego Caffarel e Franco; Labitte, do Centro Diencontros

Dirigentes -

desta

natureza,

IX


reter. Estes Encontros, de formação e espiritualidade, se destinam aos casais que tomaram a sí cargos de maior responsabilidade dentro dO Movimento, como seja, Casais Pilotos, Casais de Ligcção, membros dc:i

Equipes de ~eto r, etc. Este segu ndo Encontro terá lugar em Valinhos, nos dias 1, 2 e 3 de n ovembro. Fundo de Auxíli o às Fa mílias Um grupo de equipistas, liderados por Moacir e Celina, a cabo de instituir, em São Paul o, este "Fundo", com o objetivo de orienta r ou solucionar problemas materiais de f O'TlÍ-

Iias em dificaldade. número

do

C.

Moacir e Celina prometem dize r-lhes, no próximo qup seja esta iniciativa, já em plena a~i­ 0

Mensal,

vidode.

VOC~S PERTENCEM ÀS EQUIPES DE NOSSA SENHORA?

Um responsável de Setor, ligeiramente humorista, deu- nos conhecimento de um questionário elaborado por êle, para servir de test. Consiste o jôgo em contar 1 ponto para cada pe rgunta que pode se r respondida afirmativamente. 1 - Sabe você em que ano os Estatutos foram propostos à~ Equipes de Nossa Senhora? 2 Leu os Estatutos, de um ano para cá? 3 Seria capaz de encontrar imediatamente os se us Estatutos? 4 Conhece o número de obrigações que todo equipista deve observar?

5 6 7

8 9 X

Conhece o endereço do secretariado das Equipes de Nossa Senhora? Seria capaz de mencionar 1 O países onde se acham funcionando as E. N . S.? Sabe o nome de seu Casal Regional? Sabe o nome de seu Responsáve l de Setor? Sabe o nome de pelo menos um casa l do Centro Diretor?


1O 11 12 13 14 15

16 17 18 19 20

Lê habitualmente a Carta Mensal em extenso? Coleciona as Cartas Mensais? Mensal? Aconteceu alguma vez que se reportasse a uma Carta Já participou de algum encontro de Setor ou Regional? Tem os folhetos referentes à Regra de Vida, ao Dever de Sentar-se? Quando redige a resposta ao tema, faz um · esfôrço para escrever legivelmente, tendo em vista o casal animador e o casal de ligação? Você empresta ou dá documentos das Equipes, para tornar conhecido o Movimento? Nas férias ou em viagem, procura entrar em contacto com membros das E. N. S.? Já meditou alguma vez na questão seguinte: "Devo eu aceitar uma responsabilidade nos quadros do Movimento? Aceita o princípio de uma participação financeira para a vida do seu Setor? Se o seu Assistente tem necessidade de uma ajuda material (viagens, participação aos Encontros do Movimento) você está pronto a contribuir?

AVALIAÇÃO DO TEST:

20 pontos 19 a 12 pontos -

6 a 3 a

3 pontos O pontos

Você está maduro para o Centro Diretor! Você conhece bem o Movimento ... mas examine-se para saber se também conhece o seu espírito! Você certamente dorme durante as reuniões! Telefone com tôda a urgência para o Responsável de sua equipe para que êle o informe da próxima reunião de informação erga nizada pelo Setor ... )(J


C A L EN D Á R I O

Agôsto

16-18 -

Em São Paulo Retiro em Barueri Pregador: Frei Carlos Josaphat de Oliveira

O. P. Setembro

6-8 7-8 13-15 28-29

Outubro

4-6 25-27

Novembro

1 -3 1-3 14-17

15 22-24 Dezembro

XII

8

Em Caxias do Sul Retiro em Caravaggio. Encontro dos Responsáveis de Setor, em São Paulo. Em São Paulo Retiro em Barueri Pregador: Pe. Eugênio Charbonneau, C.S.C. Em Ribeirão Preto Retiro no Seminário Diocesano de Brodosqui Pregador: Pe Eugênio Charbonneau, C.S.C. Em São Paulo Retiro de Valinhos Pregador : Pe . Eugênio Charbonneau, C.S.C. Em Campinas Retiro na Chácara São Jo~quim Pregador: Pe. Estanislau Oliveira Lima. Em Valinhos. Encontro de Dirigentes Em Florianópolis Retiro na Vila Fátima (Morro das Pedras). Em São Paulo Retiro de 3 dias, em Valinhos, pela equipe de sacerdotes do do Mundo Melhor. Em Campinas Peregrinação das Equipes do Setor. Em São Paulo Retiro em Barueri. Em Jahu Dia de Recolhimento, no Colégio São Norberto.


ORAÇÃO PARA A REUNIÃO DE AGôSTO

A 1 5 de agôsto a lgre!a canta louvores a Ma ri a e vê na Assunção o coroamento de todas as g lór ias que procedem da maternidade divina.

Med ita ção

Texto para a oração pessoa l Mt. 1, 41 - Evangelho da festa da Assunção.

Naquele tempo: Isabel foi cheia do Esp·írito Santo e exclamou em alta voz , dizendo: Bendita és tu entre as mu lheres e bendito o fruto do teu ventre. E donde me vem a dita de que venha até mim a Mãe do me u Senhor? ... E bem-aventurada és tu , qu e acred itaste; porque se cumprirão em ti as cousas que te foram ditas da p>arte do Senhor. Oração litúrgica -

Hino das Vésperas da festa da Assun ção

O' Virgem excelsa , Concebida do Esp írito do Creador, predestinada p>ara trazer no ventre o Filho do Altíssimo Sois vós a Mulher anunciada aos demônios como sua eterna inimiga: Só vós sois cheia de graça na vossa Conceição Imaculada. XIII


Em vosso ventre concebeis a vida, e, fornecendo uma carne à Vítima divina destinada a ser imolada, reparais a vida perdida por Adão. Pre!;O devido ao pecado, a morte vencida vos abandona: e, associada ao vosso divino Filho, sois em corpo levada ao Céu. Fulgurante de tão grande glória, é elevada toda a nature2:a, chamada a atingir em vós o cume de todo o esplendor. O' Rainha triunfante , sôb.re nós os desterrados, volvei os vossos olhos, para que, tendo-vos por guia, alcancemos a feli2: pátria do Céu. Clória vos seja dada, ó Jesus, que da Virgem Mãe nascestes , ao Pai e ao ·Espírito Santo, pelos séculos sempiternos. Amém. Oremos: Para onde ides, tôda resp·landescente de lu2: como a aurora. ó Virgem prudentíssima? Filha de Sião , tôda sois formosa e doce , bela como a lua, eleita como o sol.

XIV


ORAÇÃO PARA A REUNIÃO DE SETEMBRO

Em un1ão com o Pai, Cristo é o mediador pelo qual o Pai chama a sí todos os seres. Meditação -

Texto para a oração pessoal Jo. 15, 5

"Eu sou a videira e vós sois os ramos. Quem permanece em mim e eu nêle, êsse dá muito fruto; porque, sem mim, nada Jl•odeis fazer". Oração litúrgica -

Acolhamos a Palavra de Deus -

Jo. 17, 21 -23

"Que todos sejam um. Como tú, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tú me enviaste. Dei-lhes a glória que tú me deste, para que sejam um como nós somos um. Eu nêles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade , e o mundo reconheça que tu me enviaste , e que os amaste, como amaste a mim". Oremos: Senhor Deus, Trindade Santa e Indivisível Unidade, vós infundistes nos nossos corações o E~pírito de Amor e de caridade; concedeí que não tenhamos entre nós senão um coração e uma alma, a fim de que o mundo nos reconheça como os discÍP'ulos de Jesus, Ele que nos quer um como vós sois um, pelos séculos dos séculos. Amém.

XV



tomamos a decisão de ir, naquêle ano, cada qual para o seu retiro. Ocorreu-me, então, a idéia de fazer meu retiro sozinha. Um sacerdote amigo, a quem pedi conselho, aprovoume integralmente, dando-me algumas diretrizes : fê.sse para um mosteiro, onde acompanharia todos os ofícios, a fim de estar ligada o própria vida da Igreja; fixasse um programa de três dias, comportando notadamente uma hora de adoração e a recitação do terço; não levasse comigo senão um livro mestre além do Evangelho: "O Senhor", de Guardini . Foi o que f iz. Única hóspede de um pequeno mosteiro beneditino, saí a dar longas caminhadas em cen:S rio esplêndido o que constitui coadjuvante poderoso da meditação. A oração brotou espontânea, pareceu-me fazer novas descobertas. E eu me dizia: por que será que quase todo o mundo teme o silêncio e a solidão, o encontro face a face com Deus e com a própria consciência? E por que haverá tão pouco silêncio em tantos retiros? Parece que ninguém pode deixar de falar; tem-se sempre o que dizer e por todos os cantos sussurra-se, qüando não se fala abertamente em voz alta. Levanta-se questões , discute-se, cria-se a agitação; chega-se mesmo a apresentar problemas ao pregador para que lhes dê solução. Devora-se volumes inteiros, dos quais umas poucas páginas, longamente meditadas, deveriam bastar; ou então, lê-se a vida dalgum santo, de trama apaixonante qual verdadeiro romance". Prática condenável. Isso tudo pode ser bom, mas não durante o retiro. O retiro deve ser um apartar-se do mundo ambiente; um debruçar-se sôbre si mesmo em face de Deus. E' só quando o homem escuta, quando está disponível que Deus lhe fala. Deus só fala no silêncio. Moisés teve de deixar atrás de si o povo; teve de subir a montanha: e então Deus lhe falou. 33

.


Indiscutivelmente, necessitamos de ouvir a palavra de Deus, de recebê-la do padre . Nossa educação religiosa é o mais das vêzes sumona. Mas, aos que já receberam, aos que já acumularam riquezas espirituais, por que não aconselhar êste tipo de retiro solitário? E' preciso que se enfrente a sol idão e o s'lêncio, para chegar a amá-los como amigos benfazejos. E' óbvio, também, que marido e mulher devem entrar em acôrdo, saindo cada qual para o seu lado, a fim de repartir, ao encontrarem-se novamente, tôda a abundância de bens de que vêm ricos, saciados. RETIRO A DOIS EM ABADIA

Para os que como a senhora acima citada depois de entesourarem bens espirituais, mediante pregações. leituras, dias de estudos, sentem necessidade de fazê-los frutificar, há ainda outra fórmula, testada por diversos casais. Trata-se do retiro a dois na solidão de um mosteiro. Marido e mulher partem juntos em busca de Deus no silêncio que, mutuamente, auxiliam-se a guardar. E, juntos, descobrem que êsse silêncio comoartilhado. longe de os separar, mais profundamente os une. Diversas respostas ao nosso inquérito aludem a retiros desta categoria sem, no entanto, entrar em detalhes: limitam-se a observar que os ofícios do Côro, a atmosfera do mosteiro convidam -:: oração. Daremos aqui dois testemunhos ligeiramente mais explícitos: "Integrados num grupo de casais cujo assistente é abade beneditino, fizemos breves retiros na hospedaria da abadia. Entregues à tutela de um monge , seguíamos os ofícios e, nos intervalos de tempo, pa:;seávamos . meditando ou discutindo. tsses retiros curtos, de 2 ou 3 dias, muito nos ajudaram a refletir e a restabelecer verdadeiro contacto c'o m Nosso Senhor. Estávamos ali sàzinhos, sem ri~co de nos distrairmos com a oresença de outros participantes" . 34


"Em duas oportunidades, fizemos retiro proprial""ente dito em abadia. Da primeira vez, por três dias, cêrc.a de um ano após um retiro fundzmental. Eu pudera consultar repetidamente minhas notas, ao passo que meu marido, pO' ter tido um ano singularmente sobrecarregado, mais neces sitado estava de assimilar o que ouvira do que dG receber novos ensinamentos. Eu mesma carecia de solidão, para rezar melhor. A fim de desfrutarmos de maior liberdade, ocupamos dois quartos separados. Não creio que, ~em essa medida, nos fôsse possível guardar tamanho silêncio. Chegamos num sábado e decidimos logo passar o primeiro dia em silêncio absoluto, programando para o segundo o "dever de sentar-se". Encontrávamo-nos à hora dos ofícios e das refeições. Ofícios, horas de oração, leituras, passeios, tudo era vivido na paz do mosteiro, até mesmo o combate que, em cada alma, se trava por ocasião do retiro . Cria-se assim uma comunhão de oração com os monges: reza-se por êles e com êles e êles certamente rezam por nós. Pareceu-nos boa a experiência e, dois anos mais tarde, a repetimos, fazendo novo retiro a dois".

35


V ANT AG EIM DOS RETIROS

TESTBMUNHO DE UM PREGADOR

"Eu queria si mplesmente repartir co m vocês as g raças de que Deus me cumulou: tal como aprendi com as Equipes de Nossa Senhora. Vivi uma alegria íntima e tranquila durante as se manas do último verão, em que, pela primeira vez na minha vida , pregue i re tiros. Se nti-me como que transportado, de sú bito, para o Reino de Deus. Era como tocar com a mão a ação purificadora e calmante de Jesus-. A primeira das vantagens dos retiros consiste em proporcionar a qu e m os prega uma expe ri ência de primeira grandeza em seu ministério sacerdot a l: o ver germinar a ;;emente. Não há necessidade ne nhuma de recor rer a fenômenos extra-· ordinários e miracu losos para explicar a ação de Deus nas alm as durante o retiro. Agrupem - se homens de boa vontade num am biente sa di o, distenso e religicso e ê les não ta rdarão a deixar- se penetra r pela graça e pelo amor do Sen hor. O home m que consegue ouvir c silêncio deixa-se instruir e sa nt ificar pelo Verbo de Deus· "tste é meu Filho be m -a mado e m quem puz minhas complascências. Escutai - o". ( Mt. 9-1 5) . A plenitude do amor apodera-se então da alma e a tra nsforma . Quantas vêzes não tive , em m in ha vida de padre, a sensação no anse io leal de ajuda r meus irmãos a melhor conhece rem a Jes us de que esbarrava com obstáculos "secundár ios" que são, no entanto, entrave rea l à ação da graça. tsses obstáculos todos os conhecem: são clássicos. Quando Deus fala, parece que nunca o faz no mom en to opo rtuno: ora é a falta de tempo; ora é 36


a enfermidade das crianças, ou o acúmulo de lições (que trabalheira, essas lições repetidas à última hora, no café da manhã!); ora é o marido, sobrecarregado de tarefas profissionais, enquanto a mulher se desdobra nas de ordem doméstica. . . Paira no ar um prenúncio de tempestade que oxalá desabasse. . . A gente sente-se importuno, vindo falar em serenidade, em infância espiritual. E a vida vai passando . . . A certos leigos o retiro é coisa que assusta. Consideram com admiração misto de temor os que romperam o tabú. Desconhecem a realidade. Quando o retiro segue o seu curso normal, quando não é nem "entupimento do crânio" nem introspecção doentia, mas abertura do coração a Jesus, constitui verdadeiras férias que repousam, distendem, enobrecendo a alma. Meu julgamento limita-se a uma experiência pessoal, vivida no decorrer de retiros de seis dias durante o verão, dentro de cenário natural grandioso, lá nas montanhas . As observações que se seguem devem poder aplicar-se, a meu ver, à maioria dos casos, levando em conta os matizes particulares a cada caso. Imaginem o repouso que seria para vocês já não ouvir berro de criança em arrufo; saber que nenhum chamado telefônico virá interromper as refeições, durante as quais a dona da casa já não terá de levantar-se a tôda hora. . . imaginem a tranquilidade de uma semana inteira de noites bem dormidas. O relaxamento dos nervos vai-se processando gradualmente e a mais impaciente das criaturas vai-se tornando compreensiva, mansa, submissa. São necessários dois dias para que o espírito consiga concentrar-se e se deixe impregnar de um recolhimento que não seja êle próprio uma tensão, mas um sorver calmo, atento e nutritivo da graça interior. Pouco a pouco, dissipam-se os problemas, suavizam-se os obstáculos, atenuam-se as ansiedades, cessam as crispações inconscientes. O olhar torna-se límpido. A vida já não é encarada sob o mesmo prisma. Como se transforma a visão que temos do mundo quando a vista se purifica e, dominadas as paixões por um ato de humildade, consente em deixar que a ilumine a verdadeira luz! Aquilo que antes era dificuldade já agora pode, num esfôrço generoso, ser superado. "Quão desviado estava o nosso julgamento e quão dominados estávamos por reflexos 37


que não eram os de Jesus!": constatação que não é fruto do raciocínio, mas de uma experiência vivida junto ao Mestre. Volta-se então a alma para Deus, em recolhimento profundo e simples. Os retirantes dirigem-se a De us como quem se dirige a um amigo. De bom grado, quedam-se a ouví-lo diante de seu Tabernáculo silencioso, sem qualquer sentimento, mas numa percepção tanto mais segura na fé quanto mais banhada na serenidade e na paz permanece a alma. O diólago prosseg ue, sem pretensões nem eHúvios ce lestes, mas em humildade construtiva e confiante, que, pouco a pouco, impregn3 a nossa vida e a move a uma caridade autêntica. Encontrando Jesus em sua plenitude, os retirantes descobrem-se uns aos outros (sem que haja necessidade de muitas palavras) . De -nodo especial, descobrem o outro, com quem empreendem a subida para Deus, "o companheiro de Eternidade". Quantos mal-entendidos dissipados, quantos sofrimentos por fim confessados, quanta esperança reencontrada, porque foi possível falar demoradamente, de coração a coração, abertamente, ternamente . Melhor do que eu, vocês conhecem tôda a riqueza de seu amor conjugal uma das expressões do amor Trinitório. A unidade consuma-se então no ômago do casal que vocês formam e a sua estada no deserto termina na alegria da comunhão en tre os dois e Deus, numa intimidade que nada poderia quebrar, pois o amor do Senhor é mais forte do que a fraqueza de vocês. " Deus . . . ninguém jamais o viu . . . se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, seu Amor está realizado". (João I, 4-12). Para felicidade dos retirantes e para a minha , "o Senhor fêz em nós maravilhas ... "

38


CONDIÇõES PARA UM BOM RETIRO

O SIL~NCIO

Tamanha importância tem o silêncio que é a respeito dêle condição essencial - que mais demoradamente nos deteremos. Nosso inquérito vai ajudar-nos a bem definir essa questão. Certos organizadores de retiros, até mesmo certos pregadores, não se atrevem a pedir silêncio absoluto. Pelas respostas, comprova-se que todos os casais, tendo uma vez desfrutado de um silêncio estrito são seus fervorosos partidários,com exeção de dois, únicamente. Esclareçamos logo que mais adiante falaremos do silêncio (ou dos diálogos possíveis\ entre os espôsos. Por ora, trata-se do silêncio entre os participantes do retiro à hora das refeições e no decorrer do tempo livre. Esclareçamos, ainda, que muitos desejam o que, de resto, habitualmente é feito que os primeiros instantes, logú à chegada (no jantar da sexta-feira, no caso de iniciar-se o retiro na sexta-feira à noite) sejam dedicados à apresentação de cada um e a uma tomada de contacto, a fim de que todos se conheçam, para que o retiro seja vivido numa atmosfera de caridade. Silêncio entre os participantes

"Total deve ser o silêncio, mesmo durante as refeições e as vigílias. Foi na vigília do segundo dia que nos apresentamos (num retiro de seis dias). Dêste modo, já não 39


éramos estranhos uns aos outros. Depois, o retiro prosseguiu em completo silêncio". "Somos apologistas do silê nci o absoluto entre os participantes; apesar dêle, a gente acaba sempre con hecendo-se bem e as simpatias brotam espontâneas". "Antes de irmos para o retiro, reca lci trá \(amos ante o silêncio irr.posto; e mais ainda nos revoltava a lei do s il êncio entre marido e mulher. Hoje, somos defensores do silêncio absoluto entre os participantes, mesmo durante as vigílias e as refeições, com a condição de que sejam estas entremeadas de bons di scos".

"O retiro é uma cura de silêncio; e o silêncio é u ma exigência do retiro bem sucedido. Há quem se perturbe em suas meditações ou em suas orações, se houver alguém falando, embora se trate de assun tos edificantes . No f im das contas, o que importa não é ouvir preleções ou trocar reflexões profundas; importa isto sim é descobrir a Deus um pouco mais; é rezar, é manter-se em silêncio." Em linguagem fr anca, êste militar faz-nos ve r como responder aos que solicitam alguns momentos de distensão, para amenizar tensões interiores muito fortes. Tal distensão talvez conviesse a alguns temperamentos, mas é uma ameaça ao aproveitamento do conjunto. Há de ser, então, em longas cami nh ada s soli tárias, em co ntactos com o pregador que os part icipantes por dem ais tensos buscarão bálsamo tranquilizador. Nada nos impe de de crer, aliás, que êsse silêncio, aceito e suportado por amo r i!Os o utros, seja, para êles também, gerador de calma e di ste nsão. Ao jesuíta, padre Laplace, damos a pa la vra final neste argumente: Não há quem não se si nta bem num retiro ... "com a condição, porém, de que seja estrito o silêncio. Fui testemunha de inúmeros retiros. Em bem poucos dêles , todavia, nós, os pregadores, ousamos impor, co m t ôda a sua exi40


gência, esta regra do silêncio. E' uma falta a ser sanada" . "A princípio, foi mais austero dizia-me um professor de universidade, após um retiro em que, contrariando os hábitos do grupo, eu os aconselhara a que se abstivessem de todo lazer Mas depois, chega-se a uma libertação maior e a oração é mais fecunda". Tudo está em tentar a experiência . . . Muitos dirão: "Não haverá proveito na troca de idéias?" Arriscando-me a parecer intransigente, responderei: não, sem hesitar. Troca de idéias é uma coisa, retiro é outra. ~ste não é uma sessão religiosa; é uma experiência espiritual. No decorrer de um retiro para jovens, alguém me perguntou : "Não seria poss ível consagrar o tempo livre, após a refeição da noite, à troca de idéias?" Arrependi-me por haver acedido à solicitação. Já não foi possível continuarmos no mesmo plano. Engajáramo-nos numa discussão interessante até mas na qual cada um, embora inconscientemente, procurara brilhar, sobrepujando os demais. Retiro é encontro face a face com Deus. E', pois, antes de mais nada, tempo de silêncio". Mais uma palavrinha: os participantes devem colaborar uns com os outros, para que se guarde, realmente, o silêncio. Além do silêncio da voz, hão de abster-se, o mais possível, dos gestos, cuidando, também, de evitar o bater dos saltos e das portas .. . Silêncio entre os espôsos

Casais e pregadores vão-se tornando ambos cada vez mais apologistas do silêncio entre os espôsos, a não ser em determinadas horas e em circunstâncias especiais. O parágrafo seguinte será dedicado ao "dever de sentar-se", que é aconselhável prever dentro da programação do retiro. Dêmos, para começar, a palavra a alguns casais favoráveis ao diálogo: "O silêncio entre espôsos é, inegàvelmente, de grande proveito; duvidamos, porém, da possibilidade de mantê-lo 41


estritamente. Se o retiro de casais pretende ser ocas1oo de aproximação entre marido e mulher, parece-nos quase indispensável que possam falar, trocar idéias, comunicar um ao outro as próprias descobertas, desde que se comprometam a não falar inútilmente a respeito de assuntos banais" . "Os esposos devem sentir-se, em certas horas, livres de trocar idéias ou não, se assim lhes aprouver. Não são frequentes as ocasiões que se lhes apresentam para "encontrarem-se" verdadeiramente diante do Senhor". "Deve haver, escolhidos pelo pregador, alguns momentos em que os espôsos possam relatar um ao outro suas descobertas, examinar juntos suas anotações, tomar resoluções. Cremos, além disso, na oportunidade e eficácia da oração em conjunto {terço, meditação). Seria um modo de irem-se habituando a fazê-lo e êsse talvez fôsse o primeiro passo no sentido de conservarem o hábito depois do retiro". Outro correspondente alude à dificuldade de se guardar silên cio absoluto entre espôsos, quando hospedados no mesmo quarto. Aí está um fato que todo casal há de admitir: é quase impossível não quebrar o silêncio interior compartilhando do mesmo quarto ... Razão pela qual os pregadores que embora causando certa indignação exigem que o casal ocupe quartos separados durante o retiro, uma vez feita a experiência, recebem aprovação total dos participantes. Conclua-se, pois, em favor do silêncio absoluto; os que o experimentaram descobriram-lhe o valor. Outras ocasiões particularmente durante os recolhimentos hão de encontrar os espôsos para trocar idéias. "O retiro tem por finalidade primeira o encontro pessoal, com Deus" - escreve o padr11 Laplace - encontro êsse que só no silêncio se efetua". 42


Não esqueçamos que é por Deus que se vai ao retiro; e é para Deus, para permitir-lhe atuar em nós. Nosso papel é permanecer à escuta. O tempo que se segue ao retiro é a época propícia para conversar a respeito das próprias descobertas; ou então, o "dever de sentar-se" (parágrafo seguinte e, mais adiantP, póg. 51). O "DEVER

DE SENTAR-SE"

Condições mais favoráveis do que as de um retiro oara su3 descoberta, ou para sua observância, não poderá haver. Saibamos aproveitá-las. Inúmeros casais afiançam que seus melhores "deveres de sentar-se" foram feitos durante o retiro, seja passeando, seja no silêncio do quarto. E' bom que o dever de sentar-se não ocorra cedo demais; o segundo, ou o terceiro dias são aconselháveis, num retiro de dois a três dias. Num retiro de cinco dias, o quarto dia é o mais indicado. Para qualquer casal o "dever de sentar-se" é de inestimável proveito: prooorciona um conhecimento mútuo mais profundo, cria maior facilidade em se abrir. Tanto assim que se concluiu por pedir a todos os preqadores de retiros de casais que incluam no programa o "dever de sentar-se", em pé de igualdade com as pregações e os exercícios espirituais. O "dever de sentar-se" deverá ser apresentado e explicado, tendo em vista os casais estranhos às equipes . MEDITAÇÃO APóS AS

CONFER~NCIAS

Certos preoadores incluem na programação do retiro meia hora de meditação após cada conferência: oração, reflexão sâbre as anotações feitas. procurando extrair delas o ensinamento que estava nas intenções do Senhor ministrar. . . E' êsse o momento de fa-zer com que a alma vá sorvendo as palavras ouvidas e delas se nutra. Uma vez mais, os participantes consultados a respeito são unânimes na aprovação de tal medida. 43


HORA DE ADORAÇÃO

Em muitos retiros, prevê-se uma noite de adoração . Se alguns preferem não impô-la, com receio do cansaço, outros hõ que descobriram ali a verdadeira oração, a oração prolongada. "E' um momento privilegiado para a oração e o verdadeiro contacto com Deus". Cada qu<~l deve, de resto, sentir-se inteiramente livre: tal senhora extenuada , tal homem convalescente, dará prova de maior sabedoria e virtude , permanecendo a noite inteira na cama. Das 22 horas às 8 da manhã, o S. S. Sacramento fica exposto. Cada um inscreve-se para uma hora de adoração, em fôlha preparada com antecedência. Não há regra que impeça inscrever-se para as horas iniciais ou finais, deixando aos mais saudáveis as horas do meio da noite. Entende-se que essa noite de adoração ~á se realiza havendo número suficientemente el evado de participantes. Reoetimos aoui alaumas linhas cio teste munho que acima se leu a respeito do retiro de cinco dias: "f'rolonguei basta nte essa hora de vig'lia diante de Jesus Cristo, a quem eu descobria, oor fim, aue tinha um mundo de coisas a dizer, de quem tinha tanto a ouvir. O fervor daquêle retiro abrira-me a alma e, pela primeira vez, eu começava a compreender o aue seia uma oração feita a Deus, oração sem Pater nem Ave; oração vinda da alma, formulada com simplicidade; oração vinda do coração que fala a Deus qual criança falando a seu Pai". RENOVAÇÃO DAS PROMESSAS DO MATRIMôNIO

tste gesto vem, com tôda a naturalidade, inserir-se num retiro de casais. Digamos até que é de particular importância. Agora, decorridos cinco, dez ou vinte anos, o nosso "sim" mútuo 44


pode alcançar uma lucidez e uma fôrça de engajamento de que, por certo, não suspeitávamos no dia em que nos casamos. Em pleno conhecimento de causa e com inteira boa vontade, voltamos a tomar consciência de nós mesmos para, novamente, nos entregarmos a nosso cônjuge; voltamos a tomar consciência de nosso ser conjugal para submetê-lo a Deus. Certamente um gesto como êste tem de ser preparado e explicado pelo pregador. Trata-se de ato sério e profundo, que marca os espôsos, fazendo-os mais penetráveis à graça sacramental, apôio de sua vida a dois. Há quem sustente que é êste um dos pontos culminantes do retiro. Deve, pois, ser incluído em todos os retiros de casais. SACRAMENTOS E RETIRO

Parece-nos quase supérfluo chamar aaui a atenção para a relevância dos sacramentos penitência e Eucaristia no retiro e o panel preoonderante que se lhes deve reservar. Se pretendemos deixar-nos oenetrar e converter pelo retiro, salta aos olhos C'Ue uma b"" confissão é o orimeiro passo indispensável. Há auem prefira confessar-se antes do retiro com seu confessor hilbitual; parece-nos, entretanto, que, conduzindo-nos o retiro normalmente à descoberta de nosso pecado, devamos ser levados a procurar a pregador. Ao referirmo-nos à espiritualidade do deserto, constatávamos que vai ao deserto quem deseja encontrar a Deus; quem espera triunfar de Satã, armado com a fôrça de Deus. Nosso alimento no deserto há de ser a Eucaristia, da qual demasiadas vêzas nos priva o nosso viver quotidiano.

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AOS ORGANIZADORES DE RETIROS

Daremos em linhas gerais aos organiza r (e não são poucos) umas tantas mentares referentes ao que se exige como bom retiro no tocante a: ambiente, horári o a pregador e do assu nto.

que têm retiros a ind icações complecondição para um preve r, esco lha do

Estas indi cações, no entanto, não os isentam de recorrer para detalhes mais téc n :cos à nota " Pa ra organ izar um retiro", que pode ser encontrada no Secretariado das Equipes. AMBIENTE DO RE TI RO

In úmeras respostas ao inquérito nos alertam para o fato dz que, n em o ambiente, nem tampouco as condições materiais de t odo e qualquer ret iro podem ser desconsiderados. Já vimos que diversos casais têm gôsto pela pa z dos mosteiros; vere mos que a po2s ibilidade de passeios é d esejo de muitos e que um mínimo de confôrto parece se r requ isito indi spe nsável, tanto no setor a lime ntação, como no setor alojamento . Por fim, uma aco lh ida amigável, uma casa limpa, bem arrumada e florida pred'spõem o 6. n imo dos participantes, à alegria. "Nada mais lame ntáve l do que um retiro frustrado, e m qu e, ro frio e na falta de con fà rto, um pregador desastrado não chega a "degelar" as almas" escreve um equip ista, recém-vindo de um retiro ma l sucedido. A conclusão corajosa e animadora do exe mplo seguinte vai consolar-nos do desalento dei xado por estas primeiras linhas: 46


"A vida material que levamos durante os dois dias da nosso retiro (o primeiro em dez anos de casados) impediu que dêles usufru íssemos plenamente. Os diversos participantes haviam sido espalhados em casas que distavam umas das outras três quilômetros: de onde se conclui que passávamo! boa parte do tempo a locomover-nos de um lado para outro. Ademais, as condições de confô rto eram medíocres: ouvia mos as instruções sentados em bancos de madeira sem encêsto . Quanto marido a suster o dorso curvado da mulher. . . Para remate, o retiro foi curto demais: dois dias não foi tempo suficiente para que nos ambientássemos . De tal maneira nos decepcionou a ex periê ncia, que decidimos repetí-la, na esperança de pode r participar, com melhores frutos, de um retiro de cinco dias" . Mas. . . não será êste um caso raro? Quem nos garante que todos os casais mal impressionados com uma primeira tentativa , se animem a tentar novamente? Veremos na última parte dêst~ folheto, que nos cabe a missão de apóstolos do retiro junto aos casais. Tenhamos, porém, o bom senso de oferecer-lhes verdadeiros retiros: retiros bem organizados, sob todos os pontos de vista . "E' fator primordial a atmosfera da casa que acolhe os participantes. No ano passado, chegamos a ... após uma viagem de sete horas em automóvel , debaixo de uma chuva torrencial. Desembarcamos e tivemos a grata surpresa de saber que nos restava ainda subir uma hora por caminhos montanhosos. Isso tudo não nos pôs precisamente de bom humor, com a agravante de que a casa que se nos deparou era um modestíssimo chalé de montanha, despido de atrativos. Bastou, no entanto, o sorriso luminoso de duas moças nossas anfitriãs para aclarar a situação. Sentir-se fraternalmente esperado e acolhido abre a alma da gente; põe qualquer um em disponibilidade para o que quer que se lhe venha a pedir". "Tudo naquela casa era de uma perfeição quase abso-

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luta, a começar pelo sorriso e a delicadeza das senhoras que nos acolheram. As flores eram trocadas cada dois ou três dias, as refeições eram simples, porém fartas e variadas. Tudo ali refletia "a perfeita alegria", elemento a meu ver nada desprezível. Permitir que as coisas mais santas tomem aspecto rebarbativo e poeirento é faltar com a beleza, que é reflexo de Deus". HORA RIO

Cabe ao pregador fixá-lo. Pode acontecer, porém, que êle nunca tenha pregado um retiro para casais; e, nesse caso, há de ser-lhes grato pelas sugestões que lhe ofereçam. Saibam, pois que o horário tem de ser, compulsoriamente, estrito e escrupulosamente respeitado. O que não é preciso bem pelo contrário é que seja sobrecarregado. As conferências sejam seguidas de longos período de tempo para a meditação . Haja tempo livre para a oração, as caminhadas, o repouso, a reflexão. Bastam uma conferência pela manhã e duas à tarde. Out ros espaços de tempo indispensáveis são os reservados à preparação da Missa, à ação de graças, aos diversos exercícios espirituais. As noites hão de ser longas e repousantes. Aos que, na vida de todo dia fazem tudo às carreiras inclusive a oração dêmos tempo para que vivam plenamente todos os momentos do retiro. Às vêzes, os organizadores receiam o vazio. Não esqueçam, porém, que êsse vazio será fartamente preenchido pela oração e pelo silêncio, que farão dêle o mais pleno dos tempos. Lembramos aqui que o retiro mínimo é de 48 horas completas e que, em hipótese nenhuma, há de se aceitar participantes que cheguem ou se vão, estando o retiro em curso. ESCOLHA DO PREGADOR E DO ASSUNrTO

Se, pela primeira vez, estiverem organizando um retiro casais em sua cidade, recomendamos calorosamente o retiro espiritualidade conjugal· O pregador seja escolhido em função assunto. Pode ser convidado um sacerdote afeito à matéria , algum outro assistente de equipe ou não interessado 48

de de do ou na


vida espiritual dos casais . Neste caso se é que já não os conhece emprestem-lhe os temas de estudos dos primeiros anos e alguns números de I' Anneau d'Or. Para outra espécie de retiros, os casais por nós consultados nos propõem tôda uma gama de temas: a oração; a fé; a esperança ; a caridade; as bases da vida cristã; a Igreja; os sacramentos; a Virgem Maria ... Peçam ao pregador que, ao tratar a matéria, leve em consideração o público a quem se dirige: uma coisa é falar da oração a cristãos casados, outra coisa é falar dela a celibatários, a jovens, a moças. Nem tampouco se fala da caridade a cristãos casados sem referência à vida familiar etc . .. A respeito di sto tudo, os números especiais de J'Anneau d"Or trazem diversos artigos capazes de ajudar o pregador él r.daptar-se às modalidades dos retiros para casais .

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DEPOIS DO RETIRO

A VOLTA

Tenhamos o cuidado de planejar " uma aterrissagem macia" costuma-se dizer , na previsão de um entusiasmo excessivo e desastrado, que levaria a quere r repetir a filhos, parentes e amigos , as 1 O conferências do retiro, condensadas no espaço de uma refeição ou de uma no itada. Saibamos poupar os demais . CONTINUIDADE

INDISPENSÁVEL

No e nta nto, é obrigação nossa p rever, também, a continuidade que se há de da r ao retiro . E' de praxe tomar resoluções. Para que não sejam vãs, uma das primeiras medidas a t omar é fixar cada qual a data e o modo de voltar a rever as próprias Jnotações, seja individualmente, seja, a dois. A êste tópico referem-se dois de nossos co rresponde ntes: "Parece-me que a eficác ia do retiro mais ainda que aos dias passados propriamen te em retiro esteja subordinada ao tempo ·que , a segui r, dedicamos à revisão de nossas anotações". " Da ndo sequência ao nosso último retiro, decidimos nunca mais dar por encerrado um "deve r de sentar-se" nosso, sem que abrísse mos o caderno de notas, e abo rdássemos êste ou aq uêle ponto do retiro" . Inúmeros são os casais que dão grande importância a essa revisão de notas, a ponto de dedicarem, a lguns, u m dia inteiro por mês (ou meio dia) a um recolhimento particular (um dos cân50


j uges sàzinho, ou o casal) em que voltam a consultar suas anotações, a rever as resoluções tomadas. Adquiri o hábito escreve uma senhora de, após o retiro fundamental, recolher-me um dia por mês a uma casa de retiro. Minhas únicas ocupações são ali a reflexão sôbre as notas tomadas, o silêncio e a oração. Penso que êste tempo que dou a Deus nada rouba à minha família e aos meus encargos. Volto para casa mais tranquila, mais confiante, mais carregada de amor; vejo melhor a vontade de Deus a meu respeito" . Insistentemente recomendamos êste gênero de recolhimento e, também, a volta às anotações durante o "dever de sentar-se", ou em simples colóquios entre marido e mulher. Se dissemos que era preciso limitar ao "dever de sentar-se" tôda e qualquer conversa entre espêsos, durante o retiro, persistimos agora em instar os casais a que, após o retiro, não se fartem de trocar idéias. Descobrirão nessa hora o quão próximos estavam um do outro, dentro daquela separação aparente do retiro e o quanto o ensinamento recebido, o silêncio e a oração vividos em comum têm o poder de os aproximar, se perseverarem na volta periódica aos temas do retiro. O que se segue ao retiro é de suma importância; os pregadores são unân imes em afirmá-lo. E todos aquêles que depois do impacto do retiro sentem-se decepcionados pela rapidez com que se esvaem os seus efeitos, reconhecem que não deram à consulta das notas tomadas a atenção devida.

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APóSTOLOS DO RETIRO

"Indo ao retiro, pensávamos que prejudicial não havia de ser. De volta dêle, perguntávamo-nos como pode alguém presci ndi r de uma coisa dessas e por que seria q ue tantos cristãos passavam a vida inteira sem ter feito um retiro sequer" . Todo casal volta de seu primeiro retiro possuido da idéia de repetir a experiência, mesmo que ela tenha sido medíocre. O

importante, pois, é levá-los a dar o primeiro passo. Dentro das Equipes, o papel dos casais responsáveis e dos equipistas, é primordial, assim como o do assistente. A influência do Movimento em si é também decisiva. No tocante a êste assunto, a Equipe dir igente fêz suas reflexões· Demasiados casais das Equipes têm-se furtado à obrigação do retiro e a Equipe dirigente sente-se no dever de pôr remédio falha. Considera de tal relevância o retiro que se propõe zelar no intuito de que, sempre mais, lhe seja respeitada a obrigatoriedade. Ao requerer seu engajamento no Movimento, tôda equipe terá de garantir a passagem de todos os casais por um primeiro retiro. Fora das Equipes, de outra ordem é a dificuldade que se nos depara: não estando os casais obrigados a um retiro, é, pois, por nosso testemunho pessoal, por nossa influência, que havemos de agir sôbre êles.

o

Há duas maneiras de ser "apóstolos do retiro": consiste uma delas em suscitar retiros de casais onde não os haia e a outra consiste em enviar casais a retiros já organizados e~ nossa zona, ou fora dela. Ambas serão aqui estudadas, sempre com base em respostas ao nosso inquérito. 52


SUSCITAR RETIROS ONDE NÃO OS HAJA

"Tivemos, por fim, um retiro de dois dias inteiros .. . Desde que aqui chegamos, há oito anos, vimos procurando fazer retiro juntos; foi preciso que se formasse uma equipe de Nossa Senhora para que isso ocorresse " . Estas linha.s demonstram que há casais desejosos de um retiro, sem que tenham , no entanto, ocasião de fazê-lo . A cláusula da obrigatoriedade do retiro nas Equipes tem, poi s, seu aspecto apostólico : os casais por ela compelidos a fazer retiro são forçados a promovê-los, também , para benefício de outros, desde que sejam convidados . . . Sabem o flUe sucedeu na mencionada reg1oo , após o retiro de que fala o nosso correspondente acima? Nós viemos a sabê-lo pela carta do casal responsável ao casal de ligação. Os padres beneditinos, a quem se tinham dirigido para organizar o retiro, de tal maneira se interessaram, por ver que os casais podiam procurar a abadia para ali se retirarem e dali sairem mais confiantes no Senhor, mais submissos à sua vontade e mais felizes, que , por inic iativa própria, promoveram outros ret iros de casais. Ninguém diga : "não podemos. fazer retiro porque não existem na cidade onde moramos". Digamos antes: " não existe retiro aqui, mas havemos de conseguir organizá-los e tôda uma corrente resultará da nossa iniciativa; dela haverão de beneficiar-se outros casais, no decorrer dos anos ... " Outra iniciativa capaz de ajudar os casais : ~etitos de férias: "Já no ano passado aproveitamos da deliberação que foi tomada no sentido de organizar retiros durante as férias. Passara-se o ano sem que tivéssemos podido encontrar nem sequer os dois dias mínimos e, nas férias, foi possível fazermos um verdadeiro retiro de seis dias. Não pertencemos às Equipes de Nossa Senhora, mas foi graças à lista publicada em sua Carta Mensal que satisfizemos, por fim , o nosso desejo . E' com alegria que agradecemos, pois, sem 53


êsse retiro, nossa vida de casados jamais teria rompido .:> cêrco da rotina, humana e espiritual em que se ia fechando". Finalmente, há casais que, levados por zêlo apostá i ico, tomam a iniciativa de organizar um retiro para uma região ou um meio determinado. Assim foi que três casais, um dos quais das Equipes de Nossa Senhora, uniram-se no ano passado com o fito de proporcionar, em sua região, ao meio rural a que pertencem, o benefício de um retiro. Tiveram de encontrar o pregador, a casa e ... quem quisesse fazer retiro. Começaram, pois, por fazer uma lista dos casais a serem atingidos: 52 casais receberam, assim, uma carta, convidando-os pessoalmente. tstes primeiros, por sua vez, indicaram 25 nomes novos. Uma carta pessoal obriga a uma resposta, muito mais do que uma simp les circular. . . Nossos amigos receberam, a 75 convites, 25 respostas: 14 negativas, 11 afirmativas. O retiro seria de três dias. Os organizadores vieram a saber, ma,s tarde, que foi esta uma das razões do número pequeno de respostas afirmativas: três dias causaram susto. Assim mesmo, houve onze casais que, pela primeira vez, fizeram retiro. Dois dêles sàmente faziam parte da Ação Católica; das Equipes não havia nenhum. Uma equipe está, agora, ali, em formação, "se bem que não tenhamos feito propaganda alguma" escrevia-nos um dos promotores. Apresentaremos, para concluir, a experiência de diversos casais das Equipes, pioneiros do retiro em sua cidade: a perseverança é condição essencial· Um primeiro retiro, em geral embora farta e sàbiamente divulgado atrai um número restrito. Desencorajar-se logo ao primeiro embate seria falta grave. Em Nantes, como em Genebra, foi feita a seguinte experiência: por dois anos consecutivos, organizou-se retiros aos quais não compareceram mais de 3 e 4 casais. Nem por isso abateram-se os promotores. Tiveram a coragem de novas investidas e agora colhem os frutos de seu esfôrço e de suas penas. ENVIAR CASAIS AOS RITIROS

Os 25 casais das Equipes que responderam ao nosso inquérito demonstraram estar convencidos de que o retiro é benéfico. 54


Desejam voltar a fazê-lo, desejam que outros casais o façam. Muitos dentre êles confessam não conhecer uma tática adequada para convencer os amigos e pedem sugestões. . . quando esperávamos que no-las dessem. Sem embargo, ao reler suas respostas, encontraremos talvez alguma idéia sugestiva: "Durante todo êste ano, senti os benefícios do meu retiro do verão passado. Aquêle contacto com Deus deixou marca em minha vida e tenciono voltar a fazer retiro êste verão . A fim de levar outros comigo, vou-lhes falando dessa distensão, dessa calma, dêsse bem-estar de que usufrui. Dou mais ênfase ao fator calma, porque no fundo, hoje em dia, não há quem não ande à sua procura. E assim, indo êles com a esoerança de alcançar a tão almejada calma, hão de, por fôrça, encontrar também a Deus. Reconheço que isto é o essencial: encontrar a Deus". "De volta do retiro, tão embalados estávamos que espalhamos o assunto à nossa volta. Fomos, assim, provocando muita indagação, por parte de uns, em outros, consolidando o propósito de fazer, também, um retiro. Tentamos fazer com que os nossos interlocutores descubram a necessidade que temos todos, de tempos a tempos, de dar nova carga às nossas pilhas gastas na lida diária. Assim como revitalizamos o corpo mediante um período de férias, devemos fazê-lo, também, em favor do espírito· "Será que um recolhimento não basta?" - argumentam alguns. Recolhimento é, sem dúvida , ótima coisa, mas é curto demais. Às vêzes, é a vida tôda que está precisando de ser revisada; há necessidade de maior tempo de oração, de ma is intimidade com Deus. E isso tudo só pode ser logrado no silêncio, silêncio que em um único dia nem chega a se estabelecer. Vêm depois as objeções de ordem prática: "que fazer com as crianças". . . "o preço do retiro nos embarga" ... etc ... Aqui, então, é hora de encont rar para cada caso uma solução própria; é hora de fazer entrar em campo o auxílio mútuo". 55


"Dizemos simplesmente que, feito o retiro, sentimonos felizes , apesar de quanta dificuldade possa ter surgido antes. Dizemos que a calma e a oração induzem a colocar melhor os problemas. Dizemos que o fato de fazer retiro é por si só uma graça ... " "Escrevemos um artigo para o boletim de uma associação de a ntigas alunas a que pertenço, apresentando nosso testemunho acêrca do retiro e incitando outros casais a que o façam também" . Testemunho, palavras, artigo . Uma das respostas, por fim, menciona a oração: " Procuramos irradiar todo o nosso entusiasmo; pro curamos mostrar as vantagens múltiplas do retiro; procuramos demo i ir as objeções correntes; e rezamos ... " Cabe-nos insistir ainda sôbre o fator auxilio mútuo, a que alguns se referem de passagem, sem lhe dar maior pêso. O auxilio mútuo funciona, como é claro que funcione , dentro da cquine. E' preciso, porém, levá-lo a funcionar fora de seu âmbito, atingindo outros casais alheios a ela. Que haverão de pensar, êstes, se persistimos em convidá-los, sem que jamais nos ocorra a idé ia de nos oferecermos para cuidar de seus filhos ou para substituí-l os na loja na manhã de sábado? E por fim , exortamos a todos a que rezem . Sem o auxílio de Deus, como havemos de arrastar outros casais para o retiro? O demônio empenha - se em dissuadí-los, estejamos certos. Bem o demonstram grande número de respostas, ao citarem todos os impecilhos surgidos à última hora. QUEM HAVEMOS DE CONDUZIR AO RETIRO?

"Parece-me que só é possível convencer determinado tipo de casais: aquêles que já não se satisfazem com a 56


tranquilidade, o bem-estar familiar; aquêles, numa palavra, que, trabalhados pela graça, já sentem inquietação, já percebem que nêles próprios e em sua vida tudo não corre às mil maravilhas". E' certo que os "saciados", de que nos fala a set;~uir est" correspondente, não serão presas fáceis. Tenhamos, porém, em mente, que essa satisfação tôda pode não passar de uma capa. Em todo caso, veremos, pelas linhas seguintes, que não devemos 1-oesitar em convidar casais sem fé ou cristãos não praticantes, desde que abertos e de boa vontade . E, mais ainda, casais em que um dos espôsos não crê. "Tivemos a alegria de levar para o retiro um casal cuj::> marido encara com indiferença absoluta questões de religião. Pois bem: êle acompanhou êsse retiro, colocando-se segundo nos disse - num plano estritamente humano e moral. Mas êle próprio admite que com o auxilio da graça hão de ter-lhe ficado na alma traços indeléveis". Dentre as respostas que temos senhora jovem, cujo marido, apesar um retiro, recentemente. Qual tenha não diz, mas conta como usufruiu ela

destaca-se uma: a de uma de sem fé, acompanhou-a a sido a reação do marido ela própria de tudo o que ouviu :

"De minha parte, eu desconhecia as riquezas do ma. trimônio; ignorava os tesouros de graça que êste sacramento encerra e que permanecem sempre à nossa disposição. Aprendi, também , que a caridade é algo mais do que o simples auxílio a pobres e infelizes: existe uma caridade conjugal, uma caridade de pais, da qual eu nem sequer suspeitava. Penso, agora, que terei de prestar contas não pelo número de peças de tricô que fiz aos pobres, mas do modo como correspondi ao que meu marido esperava de mim, do modo como eduquei meus filhos" . "Para quem queira induzir outros ao retiro, o meio mais seguro e mais eficaz é a ação pessoal; o contacto de 57


alma com alma, a sinceridade de amigo com amigo têm muito mais poder do que uma carta. Ainda assim, uma carta pessoal é preferivel à circular, impessoal e distante". Assim terminava um sacerdote, há alguns anos, um estudo sôbre o assunto. Tendo interrogado bom número de participantes de retiro, pudera comprovar que a quase totalidade havia sido encorajada pelo apêlo ou o testemunho de um amigo. Guardemos esta sua recomendação e não poupemos esforços para que à nossa volta outros, muitos outros usufruam da vantagem impar de um retiro. Levemos conosco, ao procurá-los, a lista dos retiros publicada em nossa Carta Mensal, a fim de podermos proporcionar-lhes a escolha da data que melhor lhes convier· Se de um lado temos de convencer, de outro, temos de ajudar a realizar e, para isso, nada melhor do que apresentar logo uma possibilidade de concretização.

ss


CONCLUINDO

APOSTOLADO EXIGE RETIRO

"porque ninguém faz, sem antes ser; porque ninguém dá o que não tem; porque á luz, para se difundir, reclama um fóco: um fóco ardente; e então, antes de agir, e para agir, é preciso ser, é preciso ter, é preciso acumular dentro da alma a luz; e é para isso que servem êsses poucos dias de retiro, para que eu seja, para que eu tenha, para que eu me impregne de caridade, no contacto com os esplendores infinitos do Verbo" "Apostolado exige retiro, porque o retiro opera nas a lmas a santidade e santidade é condição primordial para o apostolado". "Em suma, sem vida interior, não há apostolado possível, como, sem retiro, não há vida interior possível". Dizia o Santo Cura de Ars, em sua linguagem realista: "eu seria capaz de vender o meu corpo, se, com isso, obtivesse, para uma única alma, a graça de um retiro". 59


E a sabedoria hindú vem reforçar a teoria cristã: "Sim, como estas duas jovens aqui presentes, outros me procuram, dispostos a servir a Deus. Pois bem, a juventude padece da ilusão de que é capaz de fazer o bem. Mas eu, até certo ponto, contornei a situação: deixo-os cuidar dos doentes, enquanto sua visão de Deus se conserva intensa, enquanto não é uma visão desmaiada; desde o instante, porém, em que um de meus discípulos apresenta sintomas comprovadores de que caiu prisioneiro da rotina das boas obras qual lixeiro a recolher lixo tôdas as manhãs despacho-o para o nosso retiro no Himalaia . Ali, pela meditação, vai purificando a própria alma. E ali permanece até recobra r a visão de Deus; só então, se o deseja, dou - lhe permissão para voltar ao hospital. Muita cautela! o bem é capaz de perder uma alma tanto quanto o mal. Mas, se ninguém se encarregar dêle, quem é que há de fazer o bem? pergunta o velho senhor em tom de perplexidade. Vivei de modo continuou o mestre com voz grave vivei de modo tal que . pela santidade de vossas vidas, involuntàriamente façais o bem"· Dan Ghopal MUKERJ I

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