Editorial Responsabilidade A Igreja, mestra da verdade Destaques O rótulo não basta Testemunhos O Deus que estã à espreita Oração para a próxima reunião
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Suplemento Uma palavra da E .C.I .R. Estada do Casal Laplume Adeus, Maurício O que vai pelas Equipes Adeus, Mauricio Vida do Movimento Retiros
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Publicação mensal das Equipes de Nossa Senhora Casal Responsãvel: Marlene e Laércio S. Cavalcanti Redação e Expedição: Rua da Consolação 2567 - Conj. 102 Fone: 80-4850 São Paulo 5 - SP
EDITORIAL
RESPONSABILIDADE
10: profundamente necessário, penso eu, que os cristãos de hoje estejam persuadidos de sua responsabilidade: a de tomarem sõbre os ombros o pêso do que será o mundo de amanhã.
Um perigo certamente nos ameaça: permanecermos na atitude que - é forçoso reconhecê-lo - foi muitas vezel! a dos cristãos: ficarem êles despreocupados com os acontecimentos, convencidos de que, independente de sua ação tudo correria bem. Tal atitude poderia ter sido admissivel num mundo em que os homens eram levados por uma certa corrente. Hoje êste mundo acabou. o futuro da fé e da Olvillzação - porquanto tenho para mim que não é possível dissociar o futuro da civilização de sua dimensão religiosa - está ameaçado, bem o sentimos. Não vemos nós, até mesmo cristãos aceitarem a idéia de que, na época que o mundo atravessa, o declínio da religião seria irremediável? E admitirem, portanto, como fatal que os homens se afastem de Deus'! Segundo êles, entramos num universo dominado pelo ateismo e nêle estão fadados a sobreviver apenas algumas ilhotas de oristandade, alguns pequenos grupos de "espirituais" ou de .. militantes". Sentimos ihoje muito bem o perigo e que, em face da situação que o mundo vive, não mais é possivel a abstenção. -1-
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Uma certa mobilização de tõdas as fôrças de Igreja se torna absolutamente necessária. o que aliás corresponde muito profundamente a uma das aspiraçÕes fundamentais dos homen;> de nossos dias, conscientes de que o mundo não é algo que se faz se:n nós, mas sim que se faz por nós. Os cristãos são por vêzes censurados, por não se sentirem suficientemente responsáveis porque, em última análise, entregam a Deus a solução de todos os próblemas. Não nego que esta censura seja por vêzes procedente, mas o que caracteriza na realidade o cristianismo autêntico é o pensa.mento que o futuro de cada uma de nossas vidas e da humanidade inteira está condicionado por esta misteriosa cooperação da graça e liberdade, da Revelação e da iniciativa criadora. ~ certo que não cabe a nós tudo fazer; é certo que cabe a Deus, fonte de tudo, traçar os planos; entretanto, Deus não alcançará os seus desígnios sem nós, se, de nossa parte, não cooperarmos na sua realização.
Eu penso que uma das coisas de que os cristãos de hoje têm mais necessidade, é de se descomplexarem totalmente de tudo o que poderia paralisar a sua ação. O que os ameaça hoje, continua a ser, sem dúvida, a apatia, a inércia. Mas é mais ainda o mêdo. Mêdo das ideologias que correm mundo; mêdo de assumir em tôda a sua inteireza a mensagem da fé. Uma espécie de respeito humano os emudece; já não ousam falar de Deus, não ousam mais afirmar a integridade daquilo que são. 'I'emos que amar o mundo de hoje, é certo. Temos que nos adaptar a êle, sem dúvida, mas não a ponto de renegar o essencial daquilo que a nós cabe transmitir..lhe. Se temos que nos adaptar ao mundo temos também que adaptar o mundo ' a Jesus Cristo. Atualmente são muitos os cristãos que dão a impressão de terem aderido à primeira destas proposições, mas de estarem -2-
ausentes em relação à segunda.; multo mais preocupados em adaptar o cristianismo ao mundo de hoje, do que o mundo de hoje ao cristianismo. Não temos o direito de aceitar de antemão - quando na realidade nada sabemos a respeito - que a sociedade de amanhã venha a ser descristianizada, e isto num momento em que vemos entre os jovens uma certa redescoberta do absoluto. Há na juventude que vem subindo, verdadeiros tesouros de generosidade, de coragem, de vitalidade. Não nos cabe portanto desesperar mas, pelo contrário, oonvencermo-nos de que esta juventude será o que soubermos ajudá-la a se tornar. Não digo que ela será o que soubermos fazer dela, pois que de ne. nhum modo tem ela a intenção de se deixar manobrar, mas sim, aquilo que soubermos ajudá-la a ser e a realizar. E sob êste ponto de vista, é certo que espera de nós bem mais, muitas vêzes, do que quer admitir: procura, apesar de tudo ,O& pontos de apóio que lhes podemos fornecer. Eu penso que são imensas as possibilidades atuais que irão condicionar o futuro do cristianismo, o fUturo da fé no mundo que se está construindo. E o que me aflige é verifice.r que é justamente nêSte momento que os seminários se despovoam, que as casas de formação dos religiosos não têm mais candidatos e que assistimos a tantas deserções entre os padres e religiosos. E isto para gáudio dos jornais, ávidos de informações sensacionalistas, o que acaba por nos dar a impressão de que a Igreja está des:noronando. Não penso que a Igreja es. teja desmoronando, mas sim que há sérias ameaças que a atingem do interior num momento em que, ao contrário, deveria estar forte e lillida para as imensas tarefas que lhe cabe cumprir. JEAN DANIELOU
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A IGREJA MESTRA DA VERDADE Oonsciência
e Magistérlõ
Alguns casais nos Interrogaram sõbre o problema das relações entre a oonsclência e o magistério. com efeito, a proposito da "Humanae Vitae" falou-se multo (principalmente as declarações episcopais) da "consoiência", recordando esta doutrina fundamental de que, em definitivo, é à consciência", pessoal de cada um que competem em todos os oampos, ~ decisões finais. Mas muitos de nós não sabem muito be:n o que se deve compreender por estas palavras. Se é a minha consciência. que deve decidir sõbre os meus atos, para que servem os manda. mentos, quer sejam os de Deus, quer os da Igreja; para. que servem as diretrizes, a oomeçar pelas de Cristo? ~ um assunto muito vasto que procuraremos aprofundar num próximo número. Mas alguns textos do Concílio poderão desde já esclarecer-nos. Os dois primeiros são extratos da Constituição sôbre a IgreJA no mundo de hoje. o terceiro é da Declaração sõbre a liberdade religiosa.
::A consciência é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem onde êle está sózinho com Deus e onde ressoa a sua voz. Pela consciência se descobre, de modo admirável, aquela lei que se cumpre no amor de Deus e do próximo. Pela fidelidade à consciência, os cristãos se unem aos outros homens na busca da verdade e na solução justa de !números problemas morais que se apresentam, tanto na vida individual quanto social.
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Quanto mais pois prevalecer a consciência reta, tanto mais as pessoas e os grupos se afastam de um arbítrio cego e se esforçam por se conformar às normas objetivas da moralidade. Acontece não raro, contudo, que a consciência erra, por i gnorância invencível, sem perder no entanto sua dignidade. Isto porém não se pode dizer quando o homem não se preocupa suficientemente com a investigação da verdade e do bem, e a consciência pouco a pouco, pelo hábito do pecado, se torna quase obcecadan.
(Constituição sObre a I greJa no mundo de hoje, n .0 16). "Sabem os cônjuges que no ofício de transmitir a vida e de educar - o qual deve ser considerado como miss/fo dêles própria - são cooperadores do amor de Deus Criador e como que seus intérpretes. POT isso desempenharão seu munus com responsabilidade cristã e humana e. num respeito cheio de docilidade para com Deus, formarão um juizo reto, de comum acôrdo e empenho, atendendo ao bem próprio e ao bem dos filhos, seja já nascidos, seja que se prevêem nascer, discernindo as condições seja materiais seja espirituais dos tempos e do estado de 'Vid<D e finalmente levando em conta o bem comum da comunidade familiar, da sociedade temporal e da própria Igreja. Os próprios esposos, em última análise, devem fOTmar êste juízo, diante de Deus. Estejam porém os cOnjuges cristãos conscientes de não poder 'JJTOCeder conforme seu arbítrio em sua maneira de agir, mas de que se devem gUiar por uma consciência que tem por norma a própria lei divina, dóceis ao Magistério da Igreja, o qual interpreta autênticamente essa lei à luz do Evangelhon.
(Constituição sObre a Igreja no mundo de hoje, n .0 50) .
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"Na forma.ção de sua consclencia os cristãos hão de ater-se, porém, à doutrina san:ta e certa da Igreja. Pois, por vontade de Cristo, a Igreja Católica é mestra da verdade e assume a tarefa de enunciar e de ensinar autênticamente a verdade que é Cristo. Ao mesmo tempo declara e confirma ela, por sua autoridade, os princípios de ordem moral que promanam da própria natureza humana".
(Declaração sõbre a Liberdade religiosa, n.O 14) . Atitude perante o Magistério
A nossa orientação do ano visa o aprofundamento da são do Magistério dentro da Igreja, mas também e por sequência uma reflexão sôbre a nossa atitude perante as intervençÕes.
misconsuas -·
A nossa obediência, tal como a autoridade a que nos submete, é um mistério de fé. "t certo que é mortificante, mas ao mesmo tempo é filial e libertadora. O Pe. DE LUBAC, que foi depois perito do Concílio, exprimiu isto admiràvelmente nesta meditação, escrita num momento em que as suas obras tinham encontrado objeções em alto nível. As lihas que seguem transmitem..nos a sua convicção de fé amadurecida no sofrimento. (H. DE LUBAC, Méditatlon.s sur l'Eglise). "O homem de Igreja não é apenas obediente. A.ma a obediência. Não gostaria nunca de obedecer "por necessidade e sem amor". i: que tôda atividade que merece chamar-se cristã, desenvolve-se necessàri(J)mente sôbre um fundo de entrega. Porquanto, o Espírito donde procede é um Espírito "recebido de Deus". i: o próprio Deus que se dá a nós em primeiro lugar para que possamos entregar-nos a i:le, E na medida em que o acolhemos em nós, já "não somos de nós mesmo" (I Cor. VI 19).
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Antes de se verificar em outros planos, esta lei verifica-se na ordem da fé, A verdade que Deus derrama na nossa inteligência, não é de forma algumct uma verdade qualquer, feita à nossa humilde medida humana; a vida que :tle nos concede não é uma vida natural que encontre em nós o seu alimento. Esta verdade viva e esta vida verIZadeira só penetram portanto em nós despojando-nos de nós mesmos. 1: preciso morrermos vara nós mesmos para vivermos nela, e êste esbulho, esta morte, não são apenas as condições iniciais de nossa salvação : são uma face permanente da nossa vida renovada em Deus. Ora, desta obra indispensável, a obediência católica é a obreira por excelência . Não 'tem nada de mundano nem de servil. Submete os nossos pensamentos e as nossas vontades, não aos caprichos dos homens, mas "à obediência de Cristo" (I! Cor. 10, 5; Cf . Rom. 1, 5). Só o catolicismo, dizia com tôda a justiça Fénelon, ensina o fundo desta pobreza evangélica; é no seio da Igre_ ia que se aprende a morrer para si próprio, para viver na dependência'·'. Uma taJ aprendizagem não acaba nunca. 1: duro para a natureza, e os homens que pensam ser os mais esclarecidos são os que têm mais necessidade dela. ~ por esta razão que ela lhes será particularmente salU'tar para se despojarem das suas falsas riquezas e "humilharem o seu espírito sob uma autoridade visível". 'l:ste é talvez o ponto mais secreto do mistério da fé, o mais inacessível a uma inteligência que o Espírito de Deus não converteu. . . Também não é nada de admirar que muitos homens considerem como uma tirania intolerável o exercício da autoridade na Igreja . De resto, quer o condene ou admire, o descrente só pode ter disto uma idéia falsa. O católico sabe que a Igreja só manda porque em primeiro lugar obedece a Deus. Sabe também que a
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obediência é o preço da liberdade, tal como é condição de unidade . Distingue-a com uma solicitude ciumenta, das suas falsificações e das suas caricatwras - infelizmente moeda corrente - e não prooura agradar aos homens, mas sim a Deus. Distinguindo como deve o alcance respectivo de cada um dos atos da hierarquia, tão numerosos e tão diversos, não os separando uns dos outros, não os apondo uns aos outros, recebendo-os a todos segundo o que ela própria exige, compreendendo-os como ela os compreende, nunca adota para com eles uma atitude de litígio, como se devesse a todo prêço defender uma autonomia ameaçada . Não toleraria entrar "em contestação" com os que representam Deus, tal como se se tratasse d't le próprio. Até nos casos mais martirizantes, e nestes casos com uma maior pureza do que nos outros, descobre uma convergência entre o que lhe parecia ser tmposto de fóra e o que lhe é inspirado de dentro, porque o Espírito de Deus não o abandona como não abandona a Igreja inteira, e o que opera na Igreja inteira, é também o que opera em cada alma cristã. As exigências que sua Mãe lhe manifesta, o "instinto batismal" da criança responde com alegre entusiasmo: "Onde está o Espírito do Senhor, atestá a libredade" (II Cor. 3, 17).
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DESTAQUES
O rótulo não basta Do "Boletim Informativo" da Região Estados-Sul destacamos a carta abaixo, nêle publicada, enviada pelo então Casal de Ligação dos Regionais, Esther e Luiz Marcello A zevedo, ao Responsável daquela Região, Dilma e Miguel Oro/ino.
Caros amigos Como vOOês sabem, o no~so Movimento é e faz questão de ser organizado. Por1sso insiste muito na disciplina. Mas organização e disciplina não são fins, são meios. São instrumentos de algo multo mais importante. São canais para fazer chegar, até as equipes e seus casais, aquilo que realmente conta: o espírito e a m1stlca das Equipes. E por que? Porque espírito e mística são os OOminhos que o Movimento põe ao nosso alcance - e nós os escolhemOs para procurarmos ser verdadeiros cristãos. Da mesma forma que a Companhia de Jesus ou a Orde:n dos ~rmelitas não são um fim em sf mesmo para jesuitas ou carmelitas, também a Equipe não se constitui em finalidade de nossas vidas. Tal oomo aquêles religiosos, escolhemos RS Equipes como uma "Schola" que nos é adequada, aquela que nos oferece uma "regra" que pela experiência e vivência, se mostrou a cada um de nós, apta e capaz de nos ajudar no nosso progresso oristão. Disciplina, mística, organização, regra ... tudo é melo, ins-9-
trumento, caminho, ferramenta. 'I'udo está a serviço de uma única coisa: ajudar-nos a responder ao convite de Cristo: "Sê. de perfeitos como o vosso Pai Celeste". Porisso não basta apenas organização. É preciso enohê-la de V1TALID.&DE, fazer com que a boa disposição das coisas funcione isto é, seja canal de transmissão de vida, vale dizer, sacramento do Cristo: "Eu sou o caminho, a vida, a luz". Dentro desta perspectiva, é preoiso ter em mente que o Cristo irá se manifestar aos oasais através das Equipes, na medida em que elas forem AUTl!:NTICAS. A palavra é cheia de conteúdo. Já que usamos o dicionário uma vez, vamos usá-lo de nôvo. Comecemos pelos antônimos de autêntico: "falso, apócnfo". Eis a primeira aproximação para o nosso oaso. Temos que evitar equipes falsas. o rótulo não basta. Pode ser pomposo, bonito, mas se não corresponder à realidade, não passará de embuste. Poder-Se-ia dizer que com tais equipes ocorre o mesmo que com certos "whiskys" que andam por ai: possu,e m belas garrafas com magnfficos rótulos, mas não são escooeses, genuínos. Deixemos de lado os antônimos. Vamos aos sinônimos: verdadeiro, legitimo, verídico, genuino. Fixemo-nos nêste últi:no. Se .pegarmos de nôvo o Caldas Aulete, por exemplo, vamos ver que o verbete genuíno, registra o seguinte: próprio, verdadeiro, puro, sem alteração ou mistura. "Eis ai o bom "whisky", o puro verdadeiro: aquêle que não tem alterações ' ou mistura. Em princípio nas equipes, precisamos a mesma coisa: aquelas que sejam verdadeiras, sem mistura ou alterações. A gente diria :nelhor, aquelas que procuram fazer o jôgo, as que fazem o esfôrço de pr6curar seguir o modêlo ou o ideal que o Movimonte propõe. Em outras palavras, cabe às estruturas zelar pela auten-
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ticidade de nossas equipes, fazendo em primeiro lugar, que entrem e permaneceram no movimento apenas aquêles casais que são levados pelo verdadeiro motivo para entrar e permanecer nas equipes, como o Pe. Caffarel propôs e::n conferência aqui em São Paulo: As Equipes existem para nos ajudar a "melhor conhecer, amar e servir o senhor". Isso significa, também que o entrar para as equipes exige uma vocação do casal, da' mesma forma que para ser jesuita ou carmelita, exige-se uma. vocação espeoial, afinada com o espírito e a regra daquelas ordens. Voc·ação de equipista significa estar convencido que os meios ("obrigações") colocados pelo Movimento à nossa disposição são bons e eficazes para o progresso cristão. E uma vez convencidos é preciso fazer o jôgo, isto é, esforçar-se para viver o caminho da perfeição, mas, para valer. Não é sem propósito que a pr;meira parte dos Estatutos lembra que "as equipes não são abrigos para adultos bem intencionados. mas sim CORPOS DE GUERREILHEIROS, compostos de VOLUNTARIOS". Pensem bem no alcanc«:> da expressão. Coloquem.na no contexto da época em que a Carta foi escrita - logo após a guerra - quando todos tinham consciência do risco de ser guerrilheiro, o empenho e o esfôrço que isso exigia. Fazer o jôgo nas equipes é comportar-se com a mesma dose de sacriffcio, dedicação e empenho que se exigia para ser "maquis". Logo, nas equipes não podem permanecer aquêles que não se integram, que são levados por motivos outros - mesmo legítimos - que não fazem um esfôrço lúoido, que não passam de "águas mornas", que buscam apenas uma "boa consciência". oabe-nos então mostrar aos dirigentes que ser equipista não é fácli, nem cômodo, porque ser cristão exige abnegação e sacrifício, porque a recompensa é de 100 por 1: é o próprio Cristo. -11-
TESTEMUNHOS
O DEUS PUE ESTA À. ESPREITA "Deus escreve direito por linhas tortas" . t: fácil observar em nossas vidas a exatidão dêste provérbio, claramente ilustrado no testemunho que vamos narrar. Aqui a graça de Cristo trabalhava secretamente até à súbita revelação . Esta, sem ter o esplendor deslumbrante da es-' trada de Damasco, lembra-nos à tua humilde maneira, a famosa frase de Mauriac no final da sua " Vida de Jesus": "De hoje em diante na vida de todos os homens, Deus está à espreita.
"Antes do nosso casamento, confiámos à Santíssima Virgem a nossa união porque eramos muito novos e não sabíamos muito bem se seria razcável prendermo-nos tão cedo. Durante o primeiro ano da nossa união tivemos grande preocupação espiritual a dois ; dávamos grande lugar à oração à assistência à missa durante a semana. Depois nasceu-nos uma filhinha que Deus depressa c-hamou a Si. Esta cruz aceita cristãmente ainda mais no.s aproximou de Deus. Desejávamos ter depressa outros filhos. Vieram numerosos e muitos juntos, receb:do.s com alegria. Mas, nessa altura, a nossa vida espiritual começou a baixar. Começam1ls a desejar uma vida fácil. Queríamos ganhar muito dinheiro para podermos instalar confortàvelmente os nossos filhos. A nossa oração ficou reduzida a algumas vagas "Ave Marias" à noite e a nossa vida cristã à missa dominical e a duas ou três confissões atabalhoadas por ano. A parte material submergia-nos e não tínhamos tempo para mais nada. Ao fim de quinze anos de casado, Carlos mudou de si-12-
tuação. Fêz projetos ambiciosos e arriscou-se a montar u:n negócio. Tudo ruiu e nossos sonhos também. Foram anos cada vez mais difíceis. Carlos tinha um trabalho que lhe desagradava e ao mesmo tempo tentava, novamente, montar a ;;eu negóoio. Mas aos vislumbres de esperança depressa se sucedia:n as des1lusões. Nada andava. Carlos mudou várias vêzes de situação. A nossa vizinhança, alguns parentes e vários amigos olhavam-nos de alto e desprezavam-nos. Chegou-nos uma nona criança. o nosso matrimônio cambaleava. Liandra exasperava-se diante dos revezes de Carlos. Já não mais acreditava e também não lhe dava o devido amparo moral. As crianças sentiam esta atmosfera tensa e não andavam be:n nos estudos. Foi então que o Senhor se manifestou. Um dia em que rezávamos (mais do que uma oração era um apêlo desesperado), sentimos tão fortemente a sua presença ao nosso lado, como se nos dissesse: - "Não se desesperem. Eu estou aqui." - que nos voltamos para verificar se, na verdade não estava lá. Nunca esquecere:nos isto. Durante muito tempo a vida foi dura, esta. f ante. O nosso relacionamento como casal oontinuou difícil: falávamos pouco, não dialogávamos e deslizávamos na indifença . Sõmente os filhos nos aproximavam e não desejávamos que sofressem com tudo que acontecia pois ainda sentiamos a responsabilidad~ paternal. Continuávamos, entretanto, a pensar que o dinheiro resolveria todos os problemas. Depóis, passado algum rempo, começamos a ver tudo :nuito mais claro. Tivemos a convicção de que sairfamo& daquela situação. Carlos recobrou o ânimo, amparado por Liandra e a coragem voltou. Juntos aceitamos as dificuldades e decidimos continuar a luta árdua, mas entregando.nos inteira!Ilente ao Senhor na paz. Sentimos um desejo ardente de reencontrar o Senhor, de viver com ~le. Fizemos tentativas de renovação espiritual mas -13-
sozinhos nada conseguíamos. Depois e subitamente, as dificuldades que pareoiam completamente emaranhadas desenredaram-se de forma imprevista; as crianças tiveram bolll! resultados nos estudos; reencontrámos uma união mais profunda. Sentimos que em nada tínhamos contribuído para isto que tudo vinha de Deus. Nessa altura, conhecendo a nossa' fraqueza e a nossa il1capacidade para fazer sõzinhos qualquer ooisa, entramos para as Equipes de Nossa Senhora. Foi para n6s uma descoberta maravilhosa. Compreendemos em que con. sistia verdadeiramente a vida cristã: Cristo tornou-se para nós uma pessoa viva e próxima na nossa existência diária. Fomos juntos ao nosso primeiro retiro desde o nosso casamento, um pouco contrafeitos e desconfiados. Foi extraordinário. O Senhor esclareceu-nos sôbre nós próprios e reencontrando.o plenamente, reencontramo-nos num amor jamais conhecido. As graças dêste retiro foram tão profundas para nós que custava-nos acreditar. E ainda estamos admirados com todos os esplendores que o Senhor nos deu. As crianças !"e beneficiam dêste olima interior de paz e as dificuldades diárias pareoem-nos mínimas. O dinheiro já não nos parece ser um fim; é para nós agora o meio de realizarmos o nosso papel de filhos de Deus na terra e tentamos por todos os meios transmitir isto aos nossos filhos para que êles não cometam os nossos êrros." "A oração é o colóquio com D eus . :1: o grito de nossa alma para o Senhor. :1: preciso, pois que seja alguma causa absolutamente natural, absolutamente verdadeira, a expressão mais profunda de nosso coração. Não são os nossos lábios que devem faflar, não é o nosso espírito, mas sim a nossa vontade que se manifesta, que se exPande, com tôda a verdade, na sua nudez, na sua sinceridade, na sua simplicidade ... "
CHARLES DE FOUCAULD
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ORAÇÃO PARA A PROXIMA REUNIÃO
TEXTO DE MEDITAÇÃO (I Tess. 2, 3-8) A autoridade é um serviço exigente: serviço da verdade que deverá ser transmitida sem alterações; serviço dos homens aos quais ela é apresentada para que lhes sirva de alimento assimilável. "Porque a nossa exortação não procedeu de êrro, nem de malícia nem de fraude, mas, como fomos aprovados por Deus, para que nos fôsse oonfiado o Evangelho, assim falamos, não como para agradar a~ homens, mas a Deus, que sonda os nossos corações, Porque a itossa linguagem nunca foi de adulação, como sabeis, nem u:tn pretexto de avareza; Deus é testemunha; nem buscamos glória dos homens, quer de vós, quer de outros. Podendo, como Apóstolo de Cristo, servos de algum pêso, fizemo-nos pequeno entre vós, como a mãe que cerca de temos cuidad'os os s'eus filhos. Assim, amando-vos muito, anclosamente desejávamos dar-vos não só o Evangelho de Deus, m~ ainda as nossas próprias vid'a s; porquanto nos érei~ muito queridos".
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ORAÇAO LITúRGICA (Salmo 78, 1-7)
Peçamos a Deus para abrir o nosso coração e o dos nossos filhos à sua Palavra que nos é transmitida pela Egreja, Escuta, povo meu, o meu ensinamento: inclina teus ouvidos às palavras da minha bôca; abrirei em parábolas a minha bôca; publicarei os enigmas dos tempos antigos. O que ouvimos e aprendemos, e o que os nossos pais nos contaram não o ocultaremos aos seus filhos, narraremos à geração vindoura; os louvores do Senhor e o seu pod'e r, e as maravilhas que fêz. t:le fixou uma regra em Jacó e estabeleceu uma lei em Israel, de que tudo o que ordenou aos nossos Pais, êles o fizessem conhecer a seus filhos, para que o saiba a geração vindoura os filhos que hão-de nascer; e êstes se levantem e contem também a 8eus filhos, para que ponham em Deus a sua esperança, não se esqueçam das obras de Deus, mas observem os seus mandamentos. OREMOS
Senhor, a tua palavra nos gula. Tu nô-la transmites através da Tua Igreja. Faz com que a recebamos com amor e a comuniquemos aos nossos filhos para que Ela nos reuna a todos para a vida eterna. Por Jesus Cristo, teu Filho, Nosso Senhor!
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