1970
N.0 4 j un ho
EDITORIAL A
Vocação
das Equioes de Nossa ..... . ...... . ............ . Cr isto no Lar ... . ..................... . Testemunhas de Deus: Sejamos Falemos Dêle . . ..... . ......... . .. . Fala a ECIR .. . .................... . . . O que deveria ser uma Equipe ..... . Testemunhos ........... . .. . . . .. . ... . . Esta noite, pois que o tempo está bom ......... . .. . . . .. .. . . ........ . Oração para a próxima reunião ..... . Se,:~ hora
p. p.
1 2
p. p. p. p.
4 5 7 9
p . 11 p. 12
SUPLEMENTO Falam Nancy e Pedro Dlas de Estudos dos Casais Responsávei s ..... .. ...... . O nôvo Ritual do Matr imônio . A Paz de Cristo ....... . ..... . Primeira notícia sôbre a P eregrinação .. ... .... .. .. Diário de um P eregrino Faju to Ainda os 20 anos . . . . . . . . . . . . . . II Encontro Nacional das ENS Balance te da Secretaria . . . . . . . Deus Ch amou a si . . . . . . . . . . . . Reti r os para 1970 . . . . . . . . . . . . . .
p. I p.
v
p. VIII p . XV p . XVII p . XVIII p. XXIV p. XXV p . XXVI )J. XXVII p. XXVIII
Revisão, Publicação e Distribuição pela Secretaria da.> Equipes de Nossa Senhora no Brasil. Rua Dr. Renato Paes de Barros, 33 - ZP 5 - Tel.: 80-4850 SÃO PAULO (CAP.)
- direitos reservados somente para distribuição interna
EDITORIAL
A Vocação das Equipes de Nossa Senhora A demora exigida para a impressão da Carla Mensal . não nos permite publicar neste número, senão duas noticias sôbre a Peregrinação a Roma. Reportamo-nos aqui à que se realizou há 5 anos em Londres na qual, como agora, todos os países se achavam representados, inclusive o Brasil, com o casa.s Glória-Payão e Eslhcr-Marcello. Numa das sessões realizadas então, o Revmo. Cônego Caffarel pronunciou uma conferência da qual damos a seguir um trecho, que continua a ser inteiramente oportuna. "Procuremos compreender o que, à primeira vista, poderia nos surpreender: O amor dos cristãos entre si tem características tão peculiares que não pode ser confund:do com nenhum outro. Em face dêsle amor, os não-crentes não são tentados em confundi-lo com uma amizade qualquer. Não podem deixar de ver nêle uma qualidade que lhes é desconhecida. São levados assim a descobrir no amor fraterno dos cristãos, a própria maneira de amar que vemos em Deus, a maneira do Pai que amou os homens a ponto de lhes dar seu próprio Filho, a maneira do Filho que os amou a ponto de dar a própria vida. Assim, quando se amam, muilo mais do que por seus discursos, os cristãos proclamam que Deus é amor. O amor mútuo é o sina] característico, perpétuo, universal, dos discípulos de Jesus Cristo. Os cristãos não são reconhecidos por uma insígnia na lapela mas sim por êste sinal. Se os falsos amores aprisionam, a caridade fraterna, liberta. É o grande meio de encontrar a Deus: "Todo aquêle que ama nasceu de Deus e conhece Deus". É também o grande meio de dilatar o coração às dimensões do universo. Não é possível, com efeito, fazer a verdadeira descoberta desta realidade maravilhosa que é a caridade fraterna, ~em que a pessoa se sinta impaciente por instaurá-la em tôda a parte: em meio a seus parentes, na sua paróquia, nos grupos de que faz parte. -
1-
Mesmo no plano humano, como não seria ela levada a promover o diálogo, o espírito de fraternidade? E preciso afirmá-lo com veemência: todo progresso em profundidade no exercício da caridade leva necessàriamente a um progresso em extensão: porquanto, abrir-se à caridade, entre filhos de Deus, é abrir-se ao próprio amor de Deus, que, abarca tôdas as criaturas. Voltemos entretanto ao objeto desta palestra: Qual é, então, a vocação de nosso Movimento? De bom grado posso definí-lo como segue: As Equipes de Nossa Senhora têm consciência de de estar e de quererem estar a serviço do Mandamento Nôvo: "Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei; nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros".. As Equipes tem por ambição trabalhar com tôdas as suas energias para que a caridade fraterna seja instaurada entre os esposos, entre pais e filhos, entre casais e, além do Movimento, entre todos os membros da cristandade. Nosso mundo tem urgente necessidade do espetáculo de cristãos que se amam entre si. E se o nosso Movimento se aplicar sem desfalecimentos em promover e difundir esta caridade fraterna, então, podem crer, atenderá a uma das necessidades mais urgentes de nosso tempo". Henri Caffarel
ESPIRITUALJDADE CONJUGAL !
CRISTO NO LAR Como pode ser sentida a presença de Cristo no lar de um casal cristão que a Êle se entregou e que Lhe dá constantemente o seu lugar, o primeiro? Esta pergunta, presente no espírito de todos os casais que procuram um aperfeiçoamento cada vez maior de sua espiritualidade e de sua adesão á Cristo, é respondida de forma sublime e, ao mesmo tempo precisa pelo Padre Caffarel, num de seus escritos: "Partamos_ do Filho, porque foi Êle que formou o casal ao unir o homem e a mulher. Ao criar o casal ficou ligado a êle. Não é como o operário que se retira, uma vez terminada a sua tarefa.
-2-
Mantém-se, assim se pode dizer, como cabeça dêste pequeno corpo míst:co, assim como é a cabeça da sua grande Igreja. Da cabeça o influxo vital penetra o casal e cura-o pouco a pouco de tôdas as consequências do pecado, enriquece o amor, aumenta a união, vivifica a pequena comunidade, e , pão apenas marido e mulher mas também os filhos. Para operar tudo isto, não recorre a meios exteriores, mas utiliza tôda a vida do casal, tornando-a veículo de graça, verdade:ramente santificante - contanto, é claro, que a isto se preste, islo é, que seja verdadeiro e que marido e mulher tenham uma fé viva no sacramento. Pouco a pouco, pela sua constante ação no casal, chega a infundir-lhe os Seus pensamentos, sentimentos, vontade e em primeiro lugar a Sua caridade e o Seu amor para com o Pai. Mas esta caridade de Cristo não conquista o casal sem encontrar reticências. A "cobiça" para falar como S. Tiago (Ti. 1,15) - nós diríamos o amor de si mesmo - está lá presente, atuante, fonte de pecados. Entre a caridade e a cobiça trava-se um conflito inexplicável, opondo-se um ao outro. O casal que consente na caridade de Cristo vai, dia após dia, morrer para a cobiça e para o pecado e ressuscitar par·a uma vida nova que, pouco a pouco, vai conquistando todos os Setores da sua existência. Esta passagem da morte à vida, mais não é do que o mistério pascal de Cristo - mistério da sua morle e ressurrei~;;ão. Assim corno o cristão lJllido a Cristo pelo batismo deve recorrer à Eucaristia para dela receber urna vitalidade renovada, o mesmo se passa com o casal ligado a Cr:Sto pelo sacramento do matrimônio. Há um laço estreito entre o sacramento do Matrimônio e o Sacramento da Eucaristia e não apenas no pr(rneiro dia quando à missa se segue o matrimônio, mas ao longo de tôda a vida. "Vivereis de mim", prometeu Cristo aos que se alimentam com o seu Corpo. Morrem de inanição os que comem o Corpo de Cristo: tanto os casais como os indivíduos. Através da Eucaristia Cristo comunica ao casal as energ1as vitais da sua humanidade gloriosa, que o Sacramento do matrimônio utiliza e põe a atuar para a santificação d::~ comunidade conjugal e familiar".
-3-
Não menos edificante é aquêle testemunho pres tado por um casal equipisla ao demonstrar a sua compreensão do sacram ento do matrimônio e a forma como tenta vivê-lo:
I•
I! I•
"Entregamos tudo a Cristo, as nossas pessoa5~ e as nossas vidas, no dia do nosso casamen to. Como compensação, me ilumina-nos pelo poder do seu amor ao qual recorremos constantemente, sabendo que sem ~le nada podemos fazer. Ajuda-nos a reatar a nossa união após cada "disputa". Com ~le, desejamos cada um dos n0ssos filhos. Foi tambem com ~le que nos dirigimos ao encontro dos outros. Com ~le queremos dizer de nôvo lodos os dias um ao outro o nosso "sim". Para nós a graça mais importante do sacramento do matrimônio é esta vinda de Cristo ao nosso lar e êste dom que concede ao nosso amor de se poder fortalecer constantemente no seu amor."
Sejamos Testemunhas de Deus Falemos Dêle É preciso entrar no âmago dos problemas, e nunca o fazemos sem tremer, porque é sempre difícil falar com Deus e sabemos bem que o que podemos dizer é sempre de tal maneira def~ciente, em comparação com o que ~]e é, que tememos que o que vamos dizer eonstitua mais um écran do que uma luz. Compreendemos a imensa distância que há entre as nossas pobres palavras humanas e a maravilha que se teria de exprimir. Poderíamos ser tentados ao silêncio e, no entanto, é preciso falar de Deus. Há um silêncio que é bom, aquêle que a nossa alma aspira, quando prefere encontrar Deus na solidão e na oração, a exprimi-Lo por palavras: é o silêncio da contemplação e do contato coração a coração do homem com o seu Deus. Mas há um silêncio que é mau, o daqueles, cristãos ou homens de outras reLgiões, que não têm a coragem de !alar de Deus, que têm uma espécie de respeito humano de temor prejudicial, que faz com que tenhamos por vêzes a impressão que existe uma espécie de mutismo cúmplice que nos no~sos dias se estende sôbre ~le. É preciso romper êste silêncio; lemos de ser testemunhas de Deus. A objeção que ouvimos, e que a nós próprios nos impomos, de
-4-
que para falar de Deus é preciso ser digno de o fazer, não tem qualquer justificação, porque se êsperássemos ser dignos de Deus para falar d'Êle, quem ousaria jámais falar de Deus? Mas o que nos sossega neste ponto é que, quando falamos de Deus, não pregamos a nós mesmos; quem fala de Deus e que julga em nome de Deus o que são us humens , condena-se a si mesmo ao mesmo tempo que julga os outros. Por outras palavras falar de Deus, é tanto falar a si mesmo como falar aos outros, é neste sentido ultrapassar tôdas estas oposições para se pôr na presença do que nos ultrapassa. Cardeal Danielou
FDLD I ECIR Caros amigos Corno tôdas as equipes, a ECIR também realizou recentemente a sua reunião de balanço, pouco antes de completar um ano de atividades na sua nova fase. Um dia inteiro passado no ambiente repousante da Faculdade Anch~ eta , a alguns quilômetros da cidade, ao abrigo da agitação cada vez mais trepidante de São Paulo. O dia foi curto para a análise de todos os pontos do alentado questionário que Esther-Marcello tinham enviado com antecedência para estudo. Curto e um tanto cansativo, mas saímos todos dali satisfeitos, pois foi possível abordar a vida das Equipes sob todos os ângulos. Analisamos o desenvolvimento das novas estruturas, postas a funcionar durante o ano findo , particularmente as várias Regiões. Detivemo-nos nas atividades das várias Comissões. encarregadas de assessorar a ECIR: houve falhas, certamente, em se tratando de uma inovação. Mas o saldo foi positivo. Analisamos o funcionamento do conjunto das equipes. Há altos e baixos, como é normal num Movimento como o nosso, o que não impede que vem êle crescendo num ritmo firme e constante. Mas não é isto o mais importante; o que mais importa não é tanto o crescimento numérico das equipes, mas sim o seu aprofundamento. Não nos esquecemos da recomendação do Diretor Espiritual das Equipes, o Rvmo. Cônego Caffarel: "É preferível 10 equipes fortes, do que 50 medíocres." Foi justamente êste o ponto que, durante todo o balanço, esteve subjacente em tôdas as nossas trocas de idéias. Por que, ~ alguns pontos, nota-se um progresso animador, ao passo qllf' em outros há um certo esfriamento, perda de embalo, estacionamento, ausência de irradiação?
-5-
I
i
A resposta não é simples. Considerando o problema nas suas grandes linhas, poderia êle ser encarado sob dois ângulos: pelo lado do equipista, pelo lado do Movimento. Pelo lado do equipista, a perda do entusiasmo inicial, a rotina, o mêdo por vêzes inconsc:ente do esfôrço que a subida exige, o fato de que as E.N.S. não são feitas para lodos os temperamentos ou vocações, havendo aquêles que nunca se adaptarão aos seus métodos ... Pelo lado do Movimento. . . Êste o ponto que, naquele momento, nos cabia mais particularmente analisar. Quando surge uma nova equipe, o Movimento assume para com ela uma responsabilidade: a de ajudar os casais que o procuram a caminhar com firmeza para a realização do ideal contido na primeira parte dos Estatutos; levar os casais a crescerem numa espiritualidade própria do cristão casado e encontrarem nela o impulso e o apôio que anime tôda a sua vida e oriente as suas atividades. Cabe assim ao Movimen lo a responsabilidade de envidar todos os esforços para que não falte às equipes o apôio e o estímulo que estão no direito de esperar de seus quadros dirigentes. Ora, com o crescimento das equipes, l!á · necessidade crescente de casais que, depo:s de "receberem" do Movimento, se disponham também a "dar". Dar de sí, dar uma fração de seu tempo para que se aprimorem e desenvolvam as equipes e que, num mundo onde são tantos os lares que vivem mediocremente o casamento, se multipliquem os casais que venham a conhecer as riquezas de seu sacramento, levando-lhes a fôrça, a alegria, o impulso de que têm necessidade. Em suma, há necessidade crescente de colaboradores. Algun., hesitam em oferecer esta colaboração ao ver a sobrecarga dos atuais dirigentes. Mas é justamente esta situação que c prec1so corrigir, invertendo os têrmos. Em vez de poucos trabalhando muito, precisamos chegar à fórmula inversa: muitos trabalhando menos, dentro de suas reais possibilidades. Outros hesitam porque julgam a tarefa que se lhes propõe t·uperior às suas capacidades. Estariam dispostos a trabalhar, mas consideram-se incompetentes. Lembraríamos aquela frase de Nancy no Dia de Estudos dos Responsáveis: "·Cristo não foi procurar os grandes, os sábios, os letrados, para difundir a sua Mensagem". . . Nas obras do Senhor nunca estamos sozinhos. Foram muitos outros os pontos Dbordados na reunião de balanço. Mas, ao traçar as grandes linhas de sua atuação para 1970, a ECIR decidiu concentrar as suas atividades no trabalho de formação em profundidade, não só úvs casais das equipes, mas particularmente através da formação mais intensiva de seus dirigentes.
-6-
SUPLEMENTO à Carta Mensal
das Equipes de N os~a Senhora JUNHO 1970
,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,
A ECIR SE APRESENTA
FALAM NANCY E PEDRO A Comissão da Carta Mensal pede que nos apresentemos ... Para que, se vocês estão cansados de nos ver. . . Para que, se Marcello já contou, no Encontro dos Responsáveis, todos os "milagres" de nossa vida, ao proceder à nossa "canonização". Por sinal que invalidade pela falta de um requisito essencial: a .ausência - sorte nossa - do advogado do diabo que teria certamente muita coisa para dizer. . . Para que, ainda, se a nossa maior ambição é deixar-nos ficar no nosso cantinho, calçados os nossos chinelos (protestos de Nancy !) , na companhia dos três filhos que ainda gravitam ao redor de nós, aguardando os três outros que já estão em órbita própria mas vêm com frequência pôr a casa em reboliço com os cinco netos . .. Mas, já que os Estatutos das Equipes não falam em aposentadoria, vamos deixar de parte os chinelos e a cadeira do vovô e bater à máquina se quiserem mesmo nos ouvir, alguma coisa da experiência que 34 anos de casados nos deram e a influência que nela tiveram as Equipes de Nossa Senhora. No ponto de partida, nada de particular: o vídeo-tape da vida de todos vocês: os primeiros tempos passados na descoberta de um pelo outro ... a harmonização de nossos temperamentos, a interpenetração de nossas almas, a confrontação de nossas espiritualidades, os planos de futuro, no firme propósito de construir um lar cristão. Com a diferença que, não havendo então a pre-I-
li 1.1
I!
~ 11
li
paração ao casamento e sendo, ainda, a literatura sôbre o assunto extremamente pobre foi à nossa custa que fizenws a aprendizagem da vida a dois. E isto nos últimos lampejos da era em que o casamento era ainda considerado como o último refúgio dos cristãos que não tinham a coragem de optar pela vida inteiramente consagrada a Deus. Já estávamos casados quando Pio XI lançou a "Casti Connuhii" que modificou radicalmente êste conceito, abrindo novos horizontes. Já possuíamos uma vivência cristã marcada por atividades apostólicas: Congregação Mariana e vida Vicentina de um lado, de outro, Ação Católica e catequese. Procuramos um apôio para. a nossa vida espiritual, sentindo que não podia ser a mesma do tempo de solteiros. Mas nada havia, absolutamente nada para casais. E foi assim que, cada um de seu lado, nos engajamos em grupos que se adaptassem às nossas aspirações pessoais. Mas o que nêles encontrávamos estava longe da problemática do lar. Apenas, depois de alguns anos, a oportunidade de colaborar na formação de um "Departamento de Casados" na própria Congregação Mariana e, paralelamente, na organização de um "Centro de Estudos" para casados. Longe estávamos de imaginar que seria êle o embrião de um futuro grande Movimento de Casais. pois foi dêste Centro de Estudos que nasceu a primeira Equipe de Nossa Senhora. Após um ano de casados, a alegria imensa da eclosão de uma nova vida, a experiência extraordinária e sem paralelo da paternidade, a emoção de acompanhar o despertar gradativo de uma vida para a vida. Dois anos depois, nova experiência mas, esta, particularmente dolorosa: um filho com grave deficiência psico-motora. Sem nada compreender dos desígnios de Deus ante um filho cuja vida física e intelectual se processava num ritmo desalentador, aprendemos a passar da resignação dolorosa que deixa o coração amargurado, à aceitação integral e serena de uma Vontade superior. Dezesseis anos depois, Deus chamava a si esta alma à qual o céu reservava as claridades que o envoltório terrestre lhe recusara. Os anos de sucederam. Vieram os outros filhos que, ao lado de novas alegrias, trouxeram também trabalhos, responsabilidades, cansaços redobrados, mas também, sempre, o sentimento muito forte que acima de nossas dificuldades e lutas, Deus aí estava com a sua Providêncià e o seu amor. Mas, com o correr do tempo, a vida vai se tornando monó·· lona. As dificuldades, as lutas, endurecem o coração, se não nos precavermos. Tem-se a impressão que também o amor se desgas· ta. A própria vida espiritual tende a deslizar na rotina, tanto mais que nada favorecia a realização do "nós" espiritual, na vida conjugal. À impressão de estarmos marcando passo, soma-se a do isolamento. -li-
I
Quinze anos se tinham passado. 1950 marca uma nova fase na nossa vida. Fazemos a descoberta das Equipes de Nossa Se· nhora. Com ela, a impressão que deve sentir o navegante que, perdido o rumo, vislumbra no horizonte o navio que o poderá conduzir ao pôrto. Fazemos a descoberta do pensamento de Deus sôbre o amor humano; do verdadeiro sentido da carne, ainda considerada mais ou menos suspeita; das dimensões da paternidade. Descobrimos o sentido comunitário da família e compreendemos que, ao aplicar-nos em fazer do nosso lar uma célula viva da Igreja, é na construção da própria Igreja que estamos trabalhando. O sentido mesmo do sacramento de nossa união, vai lentamente se revelando e adquirindo uma riqueza nova: Cristo que toma o nosso pobre amor humano e o consagra a Deus por um sacramento! Já sabíamos que o batismo nos consagrava ao Senhor, mas descobrimos agora que o casal também é consagrado. O casal. .. nós, nosso amor, nossa vida, nossos filhos, nosso lar! Fazemos também a descoberta das novas riquezas de uma vida espiritual que, finalmente, podia ser vivida a dois e animada ainda pela possibilidade de uma colaboração estreita nas atividades apostólicas. Fazemos a experiência do quanto esta participação conjunta na oraçfto, no estudo, na ação, é capaz de unir o casal, ao mesmo tempo no plano humano e espiritual. É, ainda, a descoberta da vida em equipe. A evidência viva de que a palavra do Evangelho - amai-vos uns aos outros não é uma expressão vã, um ideal platônico. A experiência da verdadeira fraternidade, possível também além no círculo familiar. A realidade do auxHio mútuo de que tantas vêzes fornos os beneficiários, da amizade sincera, dedicada, sem reticências, sem máscara. Era então possível abrir sem reservas o coração, entre esposos, sim, mas também entre amigos. Era possível o auxílio fraterno, efetivo, concreto, na marcha para Deus, com uma profundidade nunca experimentada anteriormente.
Depois, expansão das Equipes. . . a ampliação do circulo de amizades sinceras, sólidas, dedicadas e a satisfação de ver vitorioso um ideal no qual se acredita. Desde então, muitos anos se passaram. A confiança naquilo que nos empolgara no início do Movimento não se alterou. Reconhecidos pelo que receberamos, convictos de que as Equipes eram uma bênção de Deus e uma solução para o fortalecimento da família cristã, não hesitamos em continuar a dar a nossa contribuição para que outros fôssem também beneficiados. O auxílio mútuo, a confiança em Deus, fizeram o milagre da difusão do Movimento que foi crescendo muito além das modestas expectativas iniciais. -lll-
Os filhos também cresceram. Tornaram-se adultos; procuramos ajudá-los a atravessar as incertezas e lutas da adolescência. Com êles junto de nós, com outros jovens ao redor de nós, assistimos, não raro angustiados, ao impacto nesta juventude, das diferentes crises que sacodem o mundo de uns anos para cá: crises de fé em Deus, crises de confiança nos homens. Participamos de suas inquietações, de suas perplexidades, de seu idealismo e generosidade, na procura de caminhos novos para uma nova era.
- - .-.- A nossa geração foi a da descoberta da espiritualidade conjugal e dos movimentos familiares. Filão nôvo dentro da Igreja e que respondeu a uma necessidade de nossos tempos, quando a familia se encontrava na crise que ainda perdura. Hoje, nova crise, de não menor importância , atinge a juventude que amadurece para o dia de amanhã. Como tôdas as crises de crescimento não duvidamos que seja a transição difícil para o acesso coletivo a uma conscientização da sociedade na verdade, na justiça e na paz. Assim como a Providência soube suscitar, dentro da Igreja, vocações certas que abriram rumos certos capazes de contribuir para a consolidação da família, conforta-nos a confiança inabalável de que a nova geração, de quem depende o futuro do mundo, e da Igreja, também encontrará na Providência o apôio de que necessita para cumprir a missão que lhe cabe de construir para Deus o mundo para o qual caminhamos. A nossa convicção, ante a experiência de 34 anos de casados, de 20 anos de equipe em que atravessamos e vivemos fases niti-. damente diferenciadas, é que hoje, mais do que nunca, a grande missão da família é de, sem descurar de sua própria integridade, debruçar-se sôbre os problemas da educação. Se a juventude de nossos dias sofre graves perplexidades, é que não foi preparada, ontem, para as realidades de hoje. E não tem hoje onde se apoiar. Alegra-nos entretanto verificar que, para isto, um esfôrço se está realizando. Experiências várias se esboçam, daqui dalí, algumas bem sucedidas, dentro das equipes e fora delas. Não podem elas ficar isoladas. Cabe aqui a união de esforços, o mesmo auxílio mútuo que tornou possível a eclosão, o crescimento, a expansão das Equipes de Nossa Senhora .
e
11
• -IVI
Dias de Estudos dos Casais Responsáveis 4 e 5 de abril
Os dias de estudos, êste ano, foram "diferentes". O "velho" Assunção estava ocupado e fomos parar no Colégio Cristo Rei. Bairro? Paraíso, é claro ... Até a "cochilada", nas cadeiras estofadas, era "mais gostosa" ... As Missas, concelebradas ali mesmo, no palco. O almôço, servido pelos próprios equipistas, sem atropelos nem engarrafamentos. Num exemplo de que ser Responsável é servir, até a "Dona Ecir" botava a comida na bandeja para a gente ... Daí, era espairecer pelas arquibancadas do ginásio; havia lugar para todos e bastante tempo para "aquêle papo". No fim da tarde, depois de um lanche super-gostoso, os "artistas" se apresentaram: tivemos de tudo, jogral, piano, canto, piadas e até teatro, numa ilustração de como não deve ser uma reunião de equipe. Saiu-se dali direto para a cama, com bastante tempo para "recuperar".
Concelebração da Sta. Missa nos d ias de Estudos dos Casais Responsáveis de Equipe.
- V-
Mas nesse "Paraíso" também era preciso trabalhar um pouco. Ouvimos três ótimas palestras de equipistas, que nos ajudaram a entender melhor "o que é ser Casal Responsável". "a importância da reunião preparatória" e como devem ser "as relações do Casal Responsável com o Pe. Assistente e o Movimento". bem como uma excelente conferência <le Frei Clemente da Costa Neves, que nos mostrou "a responsabilidade de casal cristão no mundo de hoje". Pena que uma das palestras c esta conferência tivessem sido feitas depois do almôço, justamente quando, segundo a expressão de um Casal Responsável, "o sono é <le lascar" - e olha que as cadeiras ajudavam mesmo. . . Todos êsses assuntos foram aprofundados a seguir nos Grupos de Trabalho, onde procuramos juntos o caminho para sermos melhores Responsáveis. Graças a êsse trabalho em grupo, em que os casais de to<lo o Brasil estavam em "embaralhados", e onde cada um leva a experiência do seu Setor, de sua Coordenação, voltamos para casa com a impressão de que fazemos verdadeiramente parte de um Movimento, de uma "equipe de equipes". Ouvimos testemunhos de Brusque e de Petrópolis, de Curitiba e do Rio, de Campinas e de Taubaté, de Itú, de São José, de Jundiaí. , etc.; etc. Florianópolis, Caxias e Pôrto Alegre não vieram, êsle ano. porque estão tendo várias Sessões de Formação por lá: a viagem é longa e cansativa e a despesa ficaria muito grande. Mas fique sabendo êsse pe soal que sentimos muito a sua falta. No próximo ano, queremos vê-los por aqui novamente! No fim, tínhamos recebido tanto que só sabíamos agradecer. Magda e Felício, que organizaram e coordenaram tudo aquilo; à Lucillia e Inah, graças a cuja dedicação ninguém ficou sem ho pedagem, ao pessoal de Jundiaí que, numa demonstração de auxílio fraterno, veio em pêso dar a sua contribuição para o êxito do encontro, trabalhando na Sc1:retaria, no almôço, na liturgia; ao Marcello e ao Nicolau, que nos "pajearam" durante o Encontro com sua palavra e sua presença amigas.
À
li
Mas houve um agradecimento maiJ r, que tocou a todos: porque as E.N.S. estão fazendo 20 anos no Brasil agora em Maio, Da. Nancy e Dr. Moncau foram alvo de comovente homenagem. Depois das palavras de Marcello e Esther, cuja emoção contagiou a todos, Da. Nancy e Dr. Moncau receberam o abraço daquêles -VI-
O Casal Moncau recebe um livro das mãos do C. R. da mais nova equipe, contendo as assinaturas dos c. Responsáveis representando as 304 equipes do Brasil.
que, durante êsses vinte anos, militaram ao seu lado, e de um casal representando cada Região, após o que lhes foi entregue. pelo Casal Responsável da mais nova equipe, um livro contendo as assinaturas dos Casais Responsáveis representando as 304 equipes existentes. É pena não podermos reproduzir aqui as palavras de Da. Nancy: deu-nos de improviso uma lição de humildade e de confiança no Espírito Santo. O Dr. Moncau pronunciou o sermão da Concelebração de encerramento, cujo celebrante principal foi o Pe. Melanson, fundador, com o casal Moncau, das Equipes no Brasil; e era realmente emocionante ver os nossos Assistentes ouvirem atentamente a palavra daquêle leigo que nos dizia o quanto ainda há por fazer, o quanto a Igreja e o mundo ainda precisam das E.N.S., o quanto Deus espera de nós ... Êsses dois dias ficarão por muito tempo na lembrança de quem dêles participou. Os que não puderam vir perderam "um encontro e tanto" ... -VII-
NOTíCIAS DA IGREJA
O Nôvo Ritual do Matrimônio Entrevista com Monsenhor Benedito de Ulhôa Vieira
Para que a cerimônia do casamento readquirisse o seu verdadeiro sentido, era preciso, além de medidas de ordem pastoral, que o próprio ritual do matrimônio passasse por uma transformação - como passara a missa. A primeira modificação introduzida foi tornar obrigatória a Jeitura da Epístola e do Evangelho da Missa do Casamento no início da cerimônia, visando colocar, logo de início, a assistência num clima religioso. Depois, começou a ser usado em algumas paróquias, a título de experiência, um ritual no qual os noivos assumiam finalmente, de modo mais evidente, o seu papel de ministros do sacramento. (1) Eis que agora já está em uso um ritual inteiramente nôvo, apresentado pelo Secretariado Nacional de Liturgia e adotado em setembro do ano passado pela Comissão Central da C.N.B.B. (2 ) É um acontecimento muito importante para a Igreja, em vista das possibilidades de catequese que oferece. A nós, equipistas, que assumimos como forma princ:pal de apostolado a preparação para o casamento, interessa diretamente. Porisso pedimos a Mons. Benedito de Ulhôa Vieira, vigário da Paróquia Universitária de São Paulo, que nos apresentasse o nôvo ritual. Mons. Benedito foi um dos pioneiros da preparação para o casamento em São Paulo: o curso que deu no Graal, em 1954, foi um dos primeiros de que se tem conhecimento; êsse curso foi encerrado pelo próprio Cardeal, D. Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, que procedeu à bênção das alianças dos noivos. Mons. Benedito sempre lutou para que predominasse o caráter religioso da cerimônia do casamento: o nôvo ritual, hem como as diretrizes pastorais para a Arquidiocese de São Paulo, representam de certo modo o triunfo das suas idéias. C.M. - Para podermos avaliar o caminho percorrido, gostaríamos que o sr. apontasse inicialmente as fa lhas do ritual antigo. - VIII'
Mons. Benedito -
O seu principal defeito era dar um papel quase exclusivo ao padre - só êle falava, os noivos diziam apenas uma palavra: "sim" ... Além dessa participação reduzidíssima dos noivos, não havia participação alguma do povo. Porisso é que se introduziu a "cantoria" - era para distrair um pouco ... C.M. - O sr. acha que o rito que estêve em uso, à título de experiência, ajudou a preparar o público para receber o nôvo ritual? Mons. Benedito - Com o ritual "de transição", o pessoal começou a tomar conhecimento de que algo de diferente estava acontecendo: para que todos pudessem ouvir o diálogo entre o sacerdote e os noivos e dos noivos entre si, cessou a cantoria. O fato de poder acompanhar criou um interêsse, uma atenção, um. respeito que não havia de jeito nenhum - e que foram o primeiro passo para uma futura participação. Paralelamente, em algumas paróquias, houve todo um trabalho junto aos noivos, através de cursos de preparação para o casamento e também de med :das de ordem prática destinadas n acentuar o caráter religioso da cerimônia: exigências de pontualidade, de simplicidade na ornamentação, de discreção dos fotógrafos, etc., uma só classe de casamentos para Lodos, introdução dos casamentos comunitários, etc. Nós aqui, por exemplo, entre outras coisas, insistimos muito na pontualidade da noiva: ela lem que assinar um compromisso por escrito e eu ameaço não fazer o casamento se ela chegar atrasada. C.M.- E tem dado certo? Mons. Benedito - Temos conseguido 95 % de pontualidade. De vez em quando uma se atrasa - nesse caso, eu faço o casamento em cinco minutos. É muito desagradável. mas, como tôdas foram avisadas, não posso permitir que uma prejudique o casamento da outra. C.M. - Isto vem provar que, por mais que um mau hábito se tenha tornado praxe, é possível modificá-lo ... Mons. Benedito - Mais difícil do que convencer as noivas a chegarem na hora é conseguir que de istam da "cantoria" durante o casamento. É uma verdadeira luta, porque elas querem cantoria a todo custo ... E agora só pode havêla na entrada e na saída, e um pouco de órgão - bem baixinho - quando não atrapalha muito. C.M. - Porque o nôvo ritual é para ser ouvido. . . Como é êle? Mons. Benedito - Na sua estrutura, é bem igual à missa. Começa com uma saudação e uma oração, e temos três leituras - como na missa. Depois da homilia, o rito propriamente dito, o sacramento: antes da troca de consentimentos, cuja fórmula, inspirada no rito anglicano, é muito bonita, os noivos assumem um compromisso de vida matrominal, prome-IX-
•
tendo amor e fidelidade; o sacerdote ratifica o seu gesto. Procede a seguir à bênção das alianças, que os noivos entregam um ao outro dizendo: "Recebe esta aliança em sinal do meu amor e da minha fidelidade". O povo então é chamado a orar pelos dois: é a Oração dos Fiéis - pedindo graça, saúde, vida longa, fidelidade, alegria em receber os filhos, crescimento no amor de Cristo, lar aberto, etc. Havendo missa, prossegue-se com a missa; nesse caso, a Bênção nupcial, segue o Pai Nosso; senão, vem depois da Oração dos Fiéis. Qualquer das três fórmulas, que são belíssimas, mesmo a mais parecida com a Bênção antiga que pedia só pela noiva, pede pelos dois - par a que se amem e se ajudem, "se tornem um só coração e uma só alma", para que "sejam" animados pela fôrça do Evangelho", "sirvam a todos de exemplo" e "sejam entre os homens verdadeiras testemunhas de Cristo". Segue a Comunhão e a cerimônia termina com três orações de despedida - para as quais há três fórmulas também - e a bênção. C.M. - De fato, êste ritual segue muito de perto o esquema da missa. De tão perto que cabe perguntar: será que não teremos logo os casamentos com missa? Mons. Benedito - O ideal é realmente que os casamentos sejam realizados dentro da missa. Diz o ritual na sua apresentação que o matrimônio "deve ser realizado normalmente dm·ante a missa" e as suas primeiras palavras, logo após o título, "Rito do Matrimônio, são: "Quando, por justa causa, o Matrimônio fôr celebrado sem Missa, observe-se o rito seguinte". Na prática, o casamento fora da missa tem sido consequência da falta de padres. Quando o vigário está sozinho ou só tem um coadjutor, a solução está nos casamentos comunitários, mas, nas igrejas grandes, não vejo motivo para o casamento não ser celebrado na missa. C.M. - O objeção era que "com missa, demora muito". Parece: que agora não fará muita diferença ... Mons. Benedito - Realmente, como faltam só ofertório, prefácio e consagração, com a Oração Eucarística n. 0 2, que é bem curta, a missa demoraria apenas cinco minutos mais, dez quando muito! De qualquer maneira, mesmo que a missa demore ainda um pouco para entrar nos hábitos - e eu não acredito que demore muito - uma das vantagens deste ritual é que a Comunhão faz parte da cerimônia. Os noivos que procmavam uma igreja de manhã para comungar não precisam mais fazê-lo. Eu aproveito a última aula do curso de noivos para avisá-los de que poderão comungar durante o casamento. C.M. - O sr. poderia apontar outras vantagens dês te nôvo r l lual '! Mons. Benedito - Além da variedade muito grande de fórumlas - há diversas opções para quase tudo :
-X-
orações, leituras, bênção das alianças e bênção nupcial, oração dos fiéis - o mérito principal dêste ritual é a transformação de monólogo em diálogo, possibilitando uma participação de todos: diálogo do sacerdote com o povo, com os noivos, dos noivos entre sí. Também os pais e padrinhos são chamados a participar: os padrinhos podem fazer as leituras, os pais podem dar a bênção nupcial junto com o sacerdote. C.M. - Na prática, já está havendo essa participação do povo, dos pais c padrinhos? Mons. Benedito -
Depende da formação religiosa do pessoal, do tipo de assistência. Quando há um certo nível espiritual, a cerimônia é participada - a bênção nupcial com os pais, por exemplo, só tenho aiTiscado em casos assim. Quando se trata de casamento "social" ou quando o nível cul1ural é baixo - e a grande maioria dos casamentos se enquadra nessas duas categorias - a participação é nula ou mínima, e só poderá ser resolvida com uma catequese. C.M. - E no caso de casamentos mistos, o que acontece? Mons. Benedito - Confesso que não estou muito entusiasmado com a solução dada aos casamentos ecumênicos. Além do aspecto litúrgico, preocupa-me bastante a questão de saber se os dois estão preparados para uma vivência ecumênica - que não é ceder, mas respeitar, e ter plena firmeza na própria fé. C.M. - Voltando ao ritual, como concebe essa catequese? Quanto tempo o sr. acha que vai demorar para haver maior participação? Mons. Benedito - Há uma pedagogia da própria cerimônia: vai despertando entre os convidados o sentido de que o casamento é um empenho pessoal, de que estão de alguma forma vinculados ao que está acontecendo, de que não são meros espectadores. Sentindo-se envolvidos, passam a participar. Aliás foi o que aconteceu com a m ;ssa. Com a missa em português, o pe'>soal foi freqüentando mais, participando melhor, comungando mais. A mesma esperança eu tenho em relação ao casamento. Com os cursos de noivos, com os casamentos feitos com mais beleza litúrgica - não beleza exterior, mas beleza da própria cerimônia - com a linha de maior simplicidade imposta pela Carta Pastoral de D. Agnelo (3) (linha pela qual nós, vigários da Região Cen.. tro, vínhamos nos batendo há dois anos), acho que com tudo isso posto em prática pouco a pouco, nós teremos, dentro de dois ou três anos, tanta ou quase tanta participação nos casamentos quanto temos nas missas. C.M. - O sr. citou os cursos de noivos como um dos meios de catequese. A preparação para o casamento é obrigatória ou apenas facultativa na arquidiocese de S. Paulo? -XI-
Mons. Benedito -
Obrigatória. Para terem uma idéia do esfôrço de catequese que isto representa, só na Região Centro (53 paróquias) são aproximadamente 90 cursos programados para êste ano. Aquí na paróquia temos 8, dos quais já demos 1. C.M. - Não seria a obrigatoriedade uma faca de dois gumes? Como é recebida pelos noivos? Mons. Benedito - A obrigatoriedade é positiva - e eu sou um dos que mais têm lutado por ela - porque é a única oportunidade que se tem de uma catequese sôbrc o casamento, de se dar aos noivos uma visão sacramental do matrimônio. É claro que nem todos os noivos aceitam a idé:a com entusiasmo ... A maioria reluta um pouco, mas acaba resignando-se. É preciso uma certa firmeza: nós forçamos, com jeito, até onde der: assim só escapam mesmo os que têm uma impossibilidade real de assistir às aulas - o que é bastante raro - c nesses casos procuramos ser compreensivos. C.M. - Em que os casais de equipe podem ajudar para uma maior conscientização do matrimônio como sacramento? Mons. Benedito - Primeiro, dando cursos para os noivos parece-me que muitos dão. No entanto, com u preparação obrigatória, seda necessário que um número muito maior se dedicasse a êsse trabalho, e que os casais fôssem formando outros casais para substituí-los. Segundo, pela própria difusão da idéia de um matrimônio mais santo, que é o que se procura nas E.N .S. C.M. - Não teriam também um testemunho a dar através da cerimônia do casamento dos próprios filhos? Mons. Benedito - Na medida em que os filhos entrem no jôgo. há certamente um apostolado a fazer nesse sentido. Os casais das equipes deveriam ser os primeiros a dar o exemplo de uma cerimônia realmente religiosa, em que se dá maios valor àquilo que acontece no altar do que a qualquer outra coisa; de uma cerimôpia simples, despojada daquela "pompa" que era um. paliativo às deficiências do ritual e portan lo agora não tem mais razão de ser. Nesse setor, acho que as mulheres poderiam ajudar bastante. Penso na ornamentação da igreja . mas também nas roupas: os chapéus estão desaparecendo, mas ainda há muito exagêro no modo de vestir, não só dos convidados mas também dos noivos. Ajudaria muito a colocar as coisas no seu devido lugar se aparecesse um traje litúrgico para o casamento - como já há para a Primeira Comunhão. Eu sei que ~ entra um problema de vaidade feminina, mas bastaria que um costureiro se interessasse pela idéia para que a moda pegasse ... Voltando ao aspecto mais sério, parece-me que os casais das equipes estão particularmente bem preparados para conseguirem uma cerimônia bastante participada, assumindo um papel dentro da -XII-
liturgia: podem encarregar-se das leituras, dar a bênção nupcial com o sacerdote, enfim, associar-se ativamente à cerimônia, de tal maneira que transmitam aos convidados a convicção de que estão ali principalmente para rezar. C.M. - A propósito, quanto aos convites, o sr. teria alguma sugestão a fazer? Mons. Benedito - Sempre achei que não se devia convidar para "assistir" à cerimônia do casamento, mas para "participar" da mesma. A primeira coisa que eu gostaria de ver mudada seria portanto êsse verbo. Depois, em vez de "cerimônia religiosa do casamento", ficaria mais litúrgico "cerimônia do compromisso matrimonial" ou "cerimônia em que seus filhos receberão o Sacramento do Matrimônio". Uma fórmula bonita poderia ser: "têm a alegria de participar que seus filhos ... e ... decidiram unir-se pelo Sacramento do Matrimônio, e convidam para participar da Missa de Casamento etc.". Um convite nesses têrmos sempre tem um impacto: já prepara os espíritos para a cerimônia. C.M. - Cerimônia belíssima, não há dúvida, se fôr realizada dentro dessa linha. Unimos nossos votos aos seus para que os casamentos entrem ràpidamente nessa fase de purificação e participação que valoriza tanto o Sacramento do Matrimônio, e ficamos muito gratos por todos êsses esclarecimentos que o sr. nos deu.
* * *
(1) - Em 1961, o Centro Diretor lançara um inquérito, "Os Casais c o Concilio", que abordava os aspectos principais da doutrina da Igreja sôbre o casamento - entre êles, a liturgia do casamento. As objeções apresentadas aos rituais em vigor eram: a cerimônia do casamento, principalmente quando confrontada com a do Batismo e a da Ordenação, não solenizava suficientemente o sacramento; o rito não dava o devido destaque ao fato de serem os noivos os próprios ministros do sacramento; a pobreza da liturgia não apresentava condições para uma conscientização da assi tência, ficando esta cada vez mais alheia ao que se passava no altar. (2) - "Rito do Matrimônio" - Série "Liturgia e Pastoral", n. 0 7 - Edições "Lumen Christi" Mosteiro de S. Bento, Rio de Janeiro, 1970 -Texto aprovado pela CNBB em 20 de setembro de 1969 e confirmado pela Sagrada Congrega· ção do Culto Divino (Roma) em 29 do mesmo mês. A publicação recebeu aprovação eclesiástica a 2 de fevereiro de 1970. (3)- "Diretrizes pastorais sôbre os sacramentos do Batismo, Confirmação e Matrimônio" - Carta Pastoral do Cardeal Rossi- 20 de dezembro de 1969. -XIII-
Fórmulas Tiradas do Ritual do Matrimônio Fórmula do Consentimento: "Eu,
te recebo, ... , por minha mulher (meu marido) . e te prometo ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-te e respeitando-te todos os dias da minha vida." Bênção das Alianças
"ó Deus, que fizestes aliança conosco, abcncoai t as alianças de . . . e .... permaneçam fiéis um ao outro e amem-se mutuamente em vossa paz." (fórmula 2)
Bênção Nupcial " Nós pedimos, ó Pai, que êstes vossos filhos permaneçam firmes na fé e amem 05 vossos mandamentos; que se conservem fiéis um ao outro e sejam, para todos, um exemplo. Animados pela fôrça do Evangelho, sejam entre os homens verdadeiras testemunhas de (fórmula 1) Cristo .... " " ... Nós vos pedimos por esta vossa filha que hoje se une a seu marido pelo sacramento do matrimônio. Desça sôbre ela a vossa bênção e sôbre aquêle que ela recebe como companheiro. Que êles encontrem a felicidade dandose um ao outro, adornem de filhos o seu lar e enriqueçam a Igreja, e sirvam a todos de exemplo. Na alegria vos louvem e na tristeza vos procurem, sintam em seus trabalhos vossa assistência e nas aflições o vosso consôlo. Enfim, após uma vida longa e feliz, possam, com os amigos que os cercam, chegar ao reino do céu. (fórmula 3) -XIV-
NOTÍCIAS DE ROMA
A PAZ DE CRISTO Por ocasião da passagem do domingo de Páscoa, Sua SanHrlade, o Papa, transmitiu a todo o mundo católico uma belíssima mensagem, ressaltando uma vez mais o imenso alcance, principalmente na atualirlade, da expressão "A Paz esteja convosco". Assim falou S. Santidade: "Homens Irmãos: Que saudação vos poderíamos dirigir, neste dia tão feliz da Páscoa, senão a mesma que Cristo ressuscitado dirigiu à comunidade dos seus disdpulos, ainda opressos pela incerteza e pe"A PAZ ESTEJA CONVOSCO" lo mêdo (Jo. 20,19)! A Paz esteja convosco Sim. Nós ousamos fazer No so êsse anúncio, sereno e forte, como se a Nossa voz mais não fôsse que o eco fiel da sua, c, assim, da parte d'Êle, daquêle Jesus redivivo na nossa realidade histórica e já existente numa nova realidade meta-histórica, bem-aventurada e eterna, repetimo-vos: "A PAZ ESTEJA CONVOSCO"! Esteja convosco, os que vos encontrais aqui, neste foro dos povos, e que havereis experimentado, de alguma maneira, a presença misteriosa do Senhor, prometida onde quer que se realizasse uma reunião congregada no seu Nome; esteja convosco, caríssimos fiéis de Roma; esteja convosco, peregrinos e hóspedes desta -XV-
Urbe, onde qualquer pessoa, vinda das mais remotas paragens do mundo, poderá sentir-se como em sua casa; esteja convosco, ilustres Representantes dos diversos povos, aqui mensageiros e conosco colaboradores e obreiros da amizade, que queremos fazer reinar sôbre a terra: a todos, os Nossos melhores e mais sinceros votos de que "A PAZ ESTEJA CONVOSCO". E elevando agora a voz do Nosso coração, queremos estender êstes Nossos votos serenos da Páscoa a um auditório, por Nós desejado, em círculos bem mais vastos: à Nação Italiana, que é a que Nos está mais próxima; mas, de igual modo, a tôdas as outras; sim, a tôdas as Nações do mundo, à lmmanidade inteira; e quereríamos que êstes Nossos votos de paz penetrassem e se tornassem eficazes também naquelas paragens ainda assolad:.!s por guerras locais, a fim de que, na justiça e na liberdade, ai viesse a ser recomposta a concórdia c a colaboração, para o progresso comum: PAZ, "A PAZ ESTEJA CONVOSCO"! Depois, esteja com·osco também, jovens da geração atual, e que advertindo os desacertos funcionais da sociedade progredida , para ela buscais ulteriores progressos, mais assentes em verdadeiros complementos humanos; esteja convosco, homens do setor do trabalho, ainda necessitados de uma equidade social melhor, não na eversão, mas sim no equilíbrio do bem comum; esteja convosco, artífices do mundo cientifico e técnico; esteja convosco, corifeus da cultura; esteja convosco, políticos, promotores e árbitros do bem público; esteja convosco. todos os que operais no mundo moderno. A todos cheguem realmente os Nossos votos de paz! Às famílias, às escolas, às oficinas, aos quartéis, às casas de sofrimento e de tratamento da saúde e aos lugares onde se expiam penas . . . chegue a tôda a parte, enfim: P A Z I
-XVI-
Primeira Notícia sôbre a Peregrinação O L'Osservatore Romano do dia 4 de maio publicou na primeira página o artigo seguinte, do qual deixamos de transcrever o discurso enquanto aguardamos a tradução oficial:
O PAPA FALA ÀS EQUIPES DE NOSSA SENHORA A F AMfLIA, ESCOLA DE SANTIDADE "Um homem e uma mulher que se amam, o sorriso de uma criança, a paz de um lar: sermão sem palavras". O Papa recebeu em audiência, na manhã de hoje, cêrca de dois ntil casais de vários países, pertencentes ao Movimento "Equipes de Nossa Senhora", vindos a Roma para uma peregrinação que se encerrará quarta-feira. Durante a audiência o Santo Padre pronunciou um discurso cujos capítulos são os seguintes: O mah·imônio, grande realidade terrestre A irrevogável indissolubilidade Amor exclusivo e fecundo Sacramento da nova aliança Célula do organismo eclesial Os esposos colaboradores do Criador Superar as tentações e dificuldades A assistência do sacerdote O caminho da santidade Lares fiéis, esperança do mundo Os peregrinos das Equipes de Nossa Senhora, provenientes de vinte países, que trouxeram ao Papa os sentimentos de devoção de todos casais de espiritualidade familiar existentes no mundo, eram guiados por seu fundador, cônego Henri Caffarel. A audiência foi precedida pela Santa Missa, concelebrada no altar da Confissão por 160 sacerdotes, conselheiros espirituais das Equipes vindos a Roma, e presidida por monsenhor Poupard. da Secretaria de Estado. O Papa foi acolhido pelos quatro mil peregrinos com o canto "Tu és Pedro" e "Cristo Venceu". Depois do sinal da cruz que abriu a audiência, o casal brasileiro Marialba e Mariano de Araújo Bacellar Neto fizeram, em nome de todos equipistas, uma saudação ao Papa.
-XVII-
Primeira Notícia sôbre a Peregrinação O L'Osservatore Romano do dia 4 de maio publicou na primeira página o artigo seguinte, do qual deixamos de transcrever o discurso enquanto aguardamos a tradução oficial:
O PAPA F ALA ÀS EQUIPES DE NOSSA SENHORA A F AMtLIA, ESCOLA DE SANTIDADE "Um homem e uma mulher que se amam, o sorriso de uma criança, a paz de um lar: sermão sem palavras". O Papa recebeu em audiência, na manhã de hoje, cêrca de dois mil casais de vários países, pertencentes ao Movimento "Equipes de Nossa Senhora", vindos a Roma para uma peregrinação que se encerrará quarta-feira. Durante a audiência o Santo Padre pronunciou um discurso cujos capítulos são os seguintes: O matrimônio, grande realidade terrestre A irrevogável indissolubilidade Amor exclusivo e fecundo Sacramento da nova aliança Célula do organismo eclesial Os esposos colaboradores do Criador Superar as tentações e dificuldades A assistência do sacerdote O caminho da santidade Lares fiéis, esperança do mundo Os peregrinos das Equipes de Nossa Senhora, provenientes de vinte países, que trouxeram ao Papa os sentimentos de devo~ão de todos casais de espiritualidade familiar existentes no mundo, eram guiados por seu fundador, cônego Henri Caffarel. A audiência foi precedida pela Santa Missa, concelebrada no altar da Confissão por 160 sacerdotes, conselheiros espirituais das Equipes vindos a Roma, e presidida por monsenhor Poupard. da Secretaria de Estado. O Papa foi acolhido pelos quatro mil peregrinos com o canto "Tu és Pedro" e "Cristo Venceu". Depois do sinal da cruz que abriu a a udiência, o casal brasileiro Marialba e Mariano de Araújo Bacellar Neto fizeram, em nome de todos equipistas, uma saudação ao Papa.
-XVII -
Paulo VI, depois de seu discurso, fêz uma saudação parti· cular em alemão e em espanhol. No fim da audiência, depois da bênção apostólica, o Papa recebeu além do fundador do Movimento, cônego Caffarel, os responsá.veis pelas Equipes, Maria e Luiz D'Amonville, e casais representantes de Portugal, Espanha, Áustri~, índia, Líba~~, Congo, Iugoslávia e outros países onde o Movimento de espintualidade conjugal está mais difundido.
Diário de um Peregrino Fajuto DIA 30 DE ABRIIL DE 1970
Com um dia de antecedência os quinze casais brasileiros chegaram a Roma em uma tarde bonita de sol. Para fins de hospedagem foram divididos em dois grupos: um no Domus Mariae, outro no Tranquelleon - logo e irreverentemente batizados de pensão de Dona Maria e do Sossega Leão. O Trenquelleon das irmãs Maristas fica no Monte Verde, bairro residencial nôvo, composto de prédios de apartamentos de até cinco andares, ajardinados, artísticos. Por dentro o mármore empresta um ar distinto, mas a distinção do silêncio foi quebrada pelo tagarelar dos brasileiros, eufóricos por não terem sido alojados em algum mosteiro secular, onde padres barbudos fôssem menos afeitos à limpeza. Uma hora depois saem todos em excursão a pé, que termina em incursão das esposas no magazine Stand. "É preciso trocar dinheiro! aceitam traYelers checks? não; aceitam só dólares". Os maridos se distraem percorrendo a feira semanal da praça em frente, que funciona até oito da noite. É em tudo idêntica às brasileiras; alcachofras, cogumelos e aspargos são corriaueiros e baratos, bananas vendem-se aos quilos, um ovo custa Cr$ 0,17 e a carne nove cruzeiros cada meio quilo. À hora do jantar estavam apenas os brasileiros, uma senhora nigeriana, que não entendemos porque veio, nem como depois sumiu, e um padre das vizinhanças, quando surge o primeiro casal equipista de fora. São fibanêses, de uma das sete equipes de Beirute. Vieram graças à cotização e sorteio feitos entre os companheiros de sua equipe. Falam quatro linguas e ainda entendem nossas mímicas. E à noite ouvimos pela primeira vez o disco dos cantos da peregrinação. Foi apreciado, apesar do fanhoso do toca discos. -XVIII-
DIA 1
O 1.0 de maio em Roma foi feriado para valer. Nem o transporte coletivo funcionou. Saímos a pé pelo Monte Verde nôvo c antigo. Os lixeiros também não trabalham. Na igreja de São Pancrácio faz-se pequena oração; a via Aureliana AnHca nos conduz aos jardins do Gianicolo. "Che vista portentosa" explica o casai ao lado, que traz dois bambini ao colo e um cani pela coleira. Entre as cúpulas, tôrres e monumentos reconhecemos a basílica de São Pedro. Tiramos um retrato fingindo que o indicador está apoiado no pináculo da igreja. Pais passeiam crianças montadas em burricos minúsculos. Junto a um muro sobrecarregado de história, vemos uma lagartixa verde salpicada de pontinhos brancos. Ela nos olha curiosa; nunca terá visto brasileiros? Durante o almôço começam a chegar os outros equipistas: poucos italianos, franceses, muitos portuguêses, etc. Ao todo 35 casais. O mais perfeito reboliço que já aconteceu no Trenquelleon. A despeito da língua, todos querem ser amáveis com todos. Falávamos castelhano fingindo que era italiano; o português gutural cheio de "ouis" era francês. 'Mas o difícil mesmo era entender os portuguêses do norte: que dialeto rebarbativo! À tarde, encontro geral na igreja de São Pedro. Espetáculo realmente impressionante, pois não há nada mais impressionante do que a praça e a igreja de São Pedro. E se nela colocarmos quatro mil equipistas caminhando e cantando em uníssono, é impossível deixar de sentir vários arrepios de emoção. Como a igreja é imensa, como é linda! Como canta bem o padre Fréchard. solista e regente do côro! Algumas saudações em várias línguas. Mais cantos. Os vitrais começam a fill.rar côres fantásticas quando o sol va.i se pôr. Todos estão encharcados de emoção, de beleza, de elevação. Para o primeiro dia foi dose de elefante. DIA2 Pela manhã houve uma excursão de ônibus pela cidade. Excursão à moda de peregrinos: visitam-se três igrejas, cada uma mais bonita ou mais antiga do que a outra. Alguns protestam porque o ônibus sequer parou junto ao Coliseu para uma fotografia. Tivemos que comparecer, com outros seis casais, representantes de outros tantos países, a um encontro com jornalistas, no f'Untuoso mas austero hotel Columbus, estado do Vaticano. o~ jornalistas não fazem muitas perguntas, mas também não se mostram interessados nos canapés e aperitivos que são servidos. O Brasil é considerado um bom assunto: "pais longínquo; muito sol; o Rio de Janeiro é lindo". Todo italiano parece ter um parente "chi stá in Brazilc".
-XIX-
À tarde pregação do cardeal Danielou e missa na igreja de São Paulo. Recebeu-se nova bagagem de emoção e de fé. O teto é maravilhoso e a igreja tão grande que os dois mil casais ocuparam só a nave central; caberiam seis mil. Estão todos sentados em seus banquinhos de dobrar- complemento indispensável do peregrino. Alguns são de aspecto tão frágil, que é de admirar suportem uma pessoa. Por mais um dêsses milagres da boa organização francesa, a comunhão é servida a todos em apenas sete minutos. O jantar no Trenquelleon, com as demais refeições, foi simples mas saboroso. A equipista ao lado é de Guadelupe. Descobrimos que muitas frutas de lá são, não só as mesmas do Brasil. como têm o mesmo nome: manga, cajú, sapotí, carambola. Já o português, do outro lado da mesa, descreve pratos típicos e conta que o seu preferido chama-se "batatas ao murro". Explica, com tôda seriedade, como se prepara: "assam-se batatas, põe-se-as no prato, dá-se-lhes um murro em cima, rega-se com azeite e come-se; é uma delicia". À noite, reunião de equipe; cada uma com sete casais, geralmente de países diferentes. As d~ficuldades de lingua são suplantadas por aquela mágica afinidade que existe entre equipistas. Apresentações; orações; tema: "porquê você veio a Roma?" A esta altura não seria mais necessário responder.
DIA 3
O programa reza: "Às 10,15 hs missa no Circo Massimo com a Liturgia da Palavra por grupos linguíslicos". Os dois mesmos ônibus especia:s levam os peregrinos do Treoquelleon pelas congestionadas ruas de Roma. Em geral são ruas largas, arborizadas, mas o número de carros andando ou estacionados é impressionante. Alguns são tão pequeninos que parecem carros de dar corda. Chega-se muito cedo. Os brasi!e:ros e alguns franceses mais espertos aproveitam para ir visitar o Foro Romano. Tem-se que ir em passo acelerado, sempre subindo. Ao se chegar às ruinas param todos ofegantes, não se sabe se devido à marcha ou devido ao deslumbramento do cenário. Missa ao ar livre, sob um sol que seria escaldante, não estivéssemos em Roma no comêço de u~na primavera tardia. Outra vez cantos. Cantam os franceses, cantam os portuguêses, os alemães, os espanhóis, os inglêses, os croatas; só nós brasileiros não cantamos. Precisamos criar vergonha, ou melhor, deixar a vergonha de lado, e aprender a cantar. Durante a comunhão, as ruínas do Palatino, olhando a cena de cima, pareciam escancarar seus arcos. À tarde "dever de sentar-se". No estado de espírito dos peregrinos o assunto é resolvido em meia hora. As mulheres aprovei-XX-
tampara lavar alguma roupa: "Sabe, há varajs no terraço do último andar". Às cinco horas, reunião de equipe. Tema: "porquê você entrou nas Equipes?". "Ora, que pergunta; eu vou lá me lembrar; estão sempre a fazer perguntas de curioso". Pois então lá vru a resposta: "Entrei nas equipes porque minha mulher pediu que entrás-semos". Todos, gostaram: "c'est un bel temoin". Mas como essa gente é boa; até em resposta mal humorada descobrem um belo testemunho. À noite excursão de ônibus pela cidade. Vêem-se praças, palácios, estátuas, fontes e escadarias de que já se ouviu alguma vez a história, ou pelo menos que têm nomes conhecidos. O mais bonito é talvez ... não, não é possível dizer o que é mais bonito. pois tudo é muito bonito. De 11 da noite às 6 da manhã, em revezamento e por sorteio, houve uma espontânea vigHia de orações. "Você teve sorte de cair na primeira hora, eu vou ser entre lhe 2hs!" -"E eu que caí entre 3 hs e 4hs!" - "Afinal, vocês vão fazer vigília por comodidade ou é um sacrifício para valer?" DIA 4 Todos apareceram com roupas "de ver o Papa". Mas os ônihus não apareceram. Os motorislas não estão em greve; é apenas uma paralização em algumas emprêsas reinvindicando melhores contratos de trabalho. Não é greve, ornam a explicar, apenas não se trabalha. Os llxe1ros também não trabalham, mas êstes é por.. que estão em greve mesmo. Têm-se que ir até o Vaticano, a cinco quilômetros. Os peregrinos arrumam-se como podem; alguns vão a pé, outros nos poucos táxis ou ônibus coletivos que trabalham. São reconhecidos de longe, porque todos carregam suas cadeirinhas de desmontar. A basílica de São Pedro parecia ainda mais bonita. A concelebração da missa por 160 padres - todos conselheiros espiriturus de equipe - parece coisa normal naquela imensidão de igreja. Terminada a cerimônia o Papa entrou tão inesperadamente que as saudações e cânfcos prepa1·ados para sua chegada foram esquecidos e uma vibrante c prolongada salva de palmas acolheu Sua Santidade. As palmas ainda ecoavam nas várias abóbodas quando Marialba e Mariano iniciaram seu discurso de ~ audaçao, em nome dos equ.pis L as de todo mundo. Os brasileiros sentiram um nó na garganta. Paulo VI respondeu com um discurso em voz clara, pausada, vivendo e sentindo o que dizia. Foram os momentos de mruor emoção por que passamos. Depois de rezar um Padre Nosso e de nos dar a ~ ua bênção, Sua Santidade cumprimentou pessoalmente um casal de cada país presente e deu a mão aos mais próximos nas várias tribunas. Os eqwpistas deliravam e batiam palmas. E, durante todo tempo, os -XXI -
guardas suíços, com suas alabardas complicadas e seus penachos escarlates, mantiveram-se em posição de sentido, sem mover um músculo. Se não piscassem de vez em quando poderiam ser tidos como bonecos de cêra, surgidos de um passado de operetas. Almôço para os quatro mil peregrinos, às três horas, no palácio dos Congressos. Ainda uma vez a organização foi perfeita. Os comentários giravam sôbre o único assunto possível. Só lentamente a emoção foi cedendo. Mal foi possível organizarem-se Ieuniões, por grupos linguisticos, nos vários salões do palácio. A noite nova reunião de equipe, desta vez com a presença de um meigo padre da cidade de Braga, aquela que tem uma Sé tão velha quanto. Falou-se sôbre atividades apostólicas. É bom reunirem-se dados e testemunhos de lugares tão diferentes. Em conclusão, parece que nós brasileiros temos que assumir uma atitude mais madura, procurando e exercendo atividades apostólicas por iniciativa própria, sem esperar que o Movimento ou .alguém outro nos dê a receita e o prato já preparado.
DIA 5 Excursão turística de ônibus. Visita à basílica do Latrão, imensa igreja que é a paróquia de Roma e cuja porta principal tem dois mil anos de idade. No edifício ao lado, a escadaria que foi trazida por Santa Helena do palácio de Pilatos e que Jesus subiu várias vêzes no dia de seu julgamento. De acôrdo com as instruções do cartaz, seus 28 degraus devem ser subidos de joelhos, ganhando-se nove anos de indulgência por cada degrau. "Isso não é religião, é superstição; é duvidoso que a escada seja a verdadeira; o amor ao próximo é mais importante do que subir escadas de joelhos". Apesar de tudo, ou exatamente devido às críticas, os brasileiros, um a um, subiram de joelhos os 28 degraus. Foi o momento em que mais nos sentimos peregrinos. Depois visita ao Coliseu, que é menor do que a gente pensa, {; visita às catacumbas, que são como a gente pensa. Mas sempre aprendemos que as catacumbas nunca foram morada, mas apenas o cemitério e pois lugar de oração dos primeiros cristãos, e que a cruz passou a ser símbolo dos católicos só depois do século VI, usando-se antes o peixe, a pomba com um ramo no bico ou a sobreposição das letras gregas X e P. Depois disso já não sentimos a mesma admiração por coisas antiquissimas; o que tive~ só quatrocentos anos é olhado com menoscaso. A tarde, outra vez na igreja de São Paulo, o cônego Caffarel falou durante quase duas horas. Alguns equipistas chegaram a cabecear, embora todos o ouvissem em sua própria língua, graças ao sistema de fones individuais falando no idioma que se escolhesse. Depois houve missa concelebrada, que terminou quando já era noite lá fora. A última reunião de equipe no Trenquelleon degenerou em -XXII-
reumao conjunta de todos 35 casais; esta iniciou-se com cantos sacros que degeneraram em cantos folclóricos e êstes degeneraram em cordão carnavalesco. Uma folia. As irmãs Maristas, na saleta ao lado, cochichavam em italiano, mas não pareciam aborrecidas.
DIA 6 O último dia da peregrinação foi na cidade de Assis, a 160 quilômetros de Roma. Em ônibus especiais, a partir das cinco da manhã, seguiram todos cantando e confraternizando. A estrada é boa e a vista maravilhosa. Não há terrenos incultos; a paisagem parece limpa, escovada, artisticamente arrumada. Há três pedágios onde não existe congestionamento, e postos de gasolina com bares ou restaurantes de primeira categoria. Pouquíssimos caminhões, pois carga foi feita para viajar de trem. Os últimos trinta quilômetros são em região montanhosa, e depois avista-se Assis, que é pitoresco de longe e de perto. Visitam-se relíquias e lugares santos: as roseiras que não têm espinhos; a pomba chocando ovos, no ninho que todos anos ela constroi nos braços da estátua do Santo; o cinto e as roupas por êle usados; a cabana onde morreu; a bonita Porciuncula, capelinha por êle reconstruída há setecentos anos. Do lado de fora, ban-aquinhas vendem objetos religiosos, vestidos, louças, quinquilharias e os procurados lenços italianos. É preciso pechinchar, geralmente acaba-se pagando metade do preço pedido. E então, manda a h·adição, que o comerciante ofenda em voz baixa o comprador que se afasta, chamando-o de "usurari" e de outras coisas piores. O túmulo de São Francisco está na igreja de seu nome, lá no alto do morro. As pinturas originais de Gioto mostram uma arte ainda rudimentar, mas cheia de misticismo. Ali realizaram-se duas missas, cada uma assistida por dois mil equipistas e concelebrada por sessenta sacerdotes. No banco em nossa frente há um equipista que é cego. Canta- e com entusiasmo, pois a simplicidade e o amor de São Francisco unem mais fortemente os equipistas, neste encerramento de peregrinação. Às cinco horas da tarde, emocionados, despedimo-nos dos três casais brasileiros, que, com mais 58 representantes de outros treze países, irão permanecer durante três dias em Assis, rezando e decidindo sôbre a orientação do nosso Movimento durante os próximos anos. No ônibus, de volta a Roma, trocam-se endereços e promessas de visitas. Possivelmente ninguém vai escrever e muito menos visitar outros países, mas é-certo que ninguém, mesmo vivendo cem anos, vai esquecer êsses dias maravilhosos em que tantas emoções consolidaram o nosso amor pelo próximo e a nossa fé em Deus. -XXIII-
AINDA OS 20 ANOS
AVENTURAS DE UMA PILOTAGEM OU COMO FAZER PARA
CHEGAR AO DESTINO DE QUALQUER JEITO Era nos idos de 1960. Depois da reunião de informação, ficara marcada a primeira reunião da Equipe n. 0 1 de Baurú, que nascia sob os auspícios do Pe. Pedro Paulo Koop, hoje Bispo de Lins. O casal pilóto era da Equipe n. 0 1 de Jaú, já havia sido pilôto da Equipe n. 0 2, e levava consigo o Cgo. Pedro, Assistente das duas equipes e da Coordenação. Levavam-se duas horas de Jaú a Bauru, e como a reunião estava marcada para a noite, os três iam de trem. Mas o marido se atrasou e acabaram perdendo o trem. Naquela época, não havia asfalto e qualquer chuva mais forte deixava a estrada impraticável. Ora, naquela noite, chovia torrencialmente ... o trem já se fôra, o pessoal em Bauru estava esperando, não havia outro remédio senão ir de carro mesmo. Lá se foram, pedindo a N.a Sr.a da Boa Viagem que os protegesse dos atoleiros. Afinal. as Equipes são d'Ela, e Nossa Senhora deu um jeito: chovia tanto que não se enxergava nada, mas chegaram sãos e salvos atrasadissimos, cansados, mas aliviados, pensando que era o fim dos seus problemas. Qual o que! Mal entravam na cidade, descobriram que não sabiam onde era a reunião. . . Como ficara acertado que iriam de trem, um dos casais havia ficado de esperá-los na estação. Numa altura dessas, nem adiantava pensar que o casal ainda estivesse lá: o trem teria chegado há muito tempo. O que fazer? Procm·aram a casa paroquial: o Pe. Pedro já havia saído para a reunião. Pergunta de cá, telefona de lá, acabam descobrindo o enderêço da reunião. De noite, numa cidade estranha, levam outros tantos preciosos minutos para encontrar a casa. No fim, chegam, para surprêsa e alegria de todos. Uma surprêsa maior os aguardava: o trem não havia chegado, nem deveria chegar; ficara retido n'algum brejo por falta de energia elétrica, devido à chuva. . . Descobriram então, atônitos e maravilhados, que o fato de estarem em Bauru naquela altura só podia ser obra do Espírito Santo. A equipe começava com "santo forte"! Depois da reunião, os três iam vollando para Jaú, alegres e confiantes, confortados por aquela certeza de uma proteção muito especial. Mas, como derrapava demais, dois iam lá atrás, no porta-malas, para fazer pêso.,.. Contem-nos, vocês também, suas peripécias! -XXI V -
11 - ENCONTRO NACIONAL DAS EQUIPES DE NOSSA SENHORA Da Coordenação de Brusque, recebemos o comunicado que. pela sua importância, transcrevemos em seu inteiro teôr:
11. Encontro Nacional das E. N. S. a realizar-se nos dias 24, 25 e 26 de julho de 1970 em nossa cidade. A experiência do ano que se passou foi o suficiente para que os nossos altos escalões determinassem a realização do segundo encontro, agora de âmbito NACIONAL, na cidade de BRUSQUE. Auscultando os valores integrantes de nossa Equipe de Coordenação ouvimos de todos a mesma disposição e o mesmo entusiasmo no sentido de tornar realidade uma idéia que nasceu em B!RUSQUE e que desejamos ver transformada como um motivo a mais no crescimento da amizade e fraternidade equipista. Aquêles que estiveram conosco em 1969, sentiram que encontros desta natureza somente farão crescer em todos nós o entusiasmo pelo nosso movimento. E outra não é a finalidade proposta: a par dos nossos trabalhos espirituais encontrarmos motivação para crescermos todos fraternalmente, dentro de uma amizade sólida e de um amor como o próprio Cristo sempre pregou. Dito isto vamos desde já procurar reservar a data: será no período de férias de julho. Coincidirá com a realização em Joinville da maior Feira de Amostras das Indústrias Catarinenses. Assim os motivos para uma viagem à BRUSQUE aumentarão: por certo maior será a presença de todos vocês entre nós e por isso mesmo desejamos começar a receber logo os pedidos de inscrições. Vocês sabem, BRUSQUE é uma cidade pequena e desejamos ter tudo preparado com antecedência a fim de que ninguém fique decepcionado: todos aquêles que desejarem nos dar a satisfação de suas presenças PRECISARÃO enviar suas inscrições até o dia 1. 0 de julho de 1970. Por hoje ficamos neste primeiro grito de alerta: venham todos à BRUSQUE! Voltaremos oportunamente com maiores detalhes a presença de cada responsável de suas equipes, levando-lhes nossa mensagem de simpatia e fraternidade, EM CRISTO SOMOS Edy e Adherbal Schaefer -XXV-
\
BALANCETE DA SECRETARIA (abril de 1970) RECEITA: Contribuições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p/ Peregrinação a Roma ...... , . . . . ENCONTRO: Contribuições . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . Venda de Impressos e Livros . . . . . . . Saldo credor em 31/3/70
•••••••••
o
o.
22.891,7[; 8.871,80 31. 763,5;)
3.087,71 5.374,60 1.400,00 1.572,60 623,25 141,94 114,00 598,83 47,15 8.425,90 622,00 1.826,65 366,50 1.084.12
..................... ...
CONTAS A PAGAR: Tipografia e Papelaria ............ . Empréstimo ..................... . Aluguel (abril) ... ................ . Móveis Kastrup (sala de reunião) .. .
Cr$
8. 069,00 3.357,40
•••••••••••••
DESPESAS: Tipografia e Papelaria ........... . Passagem p/ Peregrinação a Roma .. Entrada Passagem p/ Peregrinação a Roma ......................... . Salários .......... . .............. . Aluguel (março) ................. . Telefone (março e abril) ......... . Manutenção e consêrto de máquinas Correio, condução. telegramas, rodoviária .......................... : Material de conservação e limpeza .. ENCONTRO: Buffet "Blue Room" Sears ........ . Crachás ......................... . Livrarias ........................ . Farmácia, sabonetes, copos e pratos de papelão, papel, etc. . ............ . Colégios, gratificações ............. . Saldo credor em 30I 4/70
Cr$ 5. 825,35 5. 640,00
2.1). 285,25 6.478,30 31.. 763,55
5.854.00 1.500,00 623,25 1.245,75 9.223,00
-
XXVI-
DEUS CHAMOU A SI Recebemos dos Setores de Curitiba (PR) e Americana (SP) as seguintes comunicações de falecimento: SRA. JAMILE CARAN DE SOUZA DIAS Faleceu, dia 28 de março pretérilo, vílima de lamentável acidente, a Sra. Jamile Caran de Souza Dias. Era casada com o Sr. Carlos Augusto de Souza Dias, deixando seis filhos menores: Raquel, Carlos, Augusto, Eduardo, José Alberto, Milton e Carmelita. A extinta era natural de Limeira, irmã do Cônego Valdomiro Caran, Cura da Catedral de Campinas, deixando ainda mais oito irmãos. A Sra. Jamile pertencia a Equipe de Nossa Senhora das Dores (equipe n. 0 4) de Limeira. DOM MANUEL -
ARCEBISPO DE CURITIBA
"Pela terceira vez, em Curitiba, os sinos dobram em funeral pela morle de um seu arcebispo. Dom Manuel da Silveira D'Elboux, como sucessor de dom Áttico Eusébio da Rocha, por sua vez substituto de dom João Francisco Braca, foi o terceiro Arcebispo Metropolitano de Curitiba, tendo tomado posse a 8 de dezembro de 1950. Filho de tradicional família católica de Itú (São Paulo), onde nasceu a 29 de fevereiro de 1904, foi ordenado sacerdote a 15 de agôsto de 1931 e a 10 de janeiro de 1940 foi eleito bispo auxiliar de Ribeirão Prêto, tendo sido escolhido como bispo da mesma diocese em 1946. A notícia de seu falecimento - vítima de um colapso cardíaco, causou verdadeiro impacto nos meios religiosos e oficiais do Paraná. Milhares de fiéis levaram suas homenagens e preces ao querido arcebispo que, durante 19 anos, como Príncipe da Igreja deu um permanente e sincero testemunho do próprio Cristo, mostrando-se um homem simples, amante das coisas simples. da gente humilde, à qual se chegava com igualdade cristã, pois foi incansável em amparar e melhorar os trabalhos de promoção social. Apoiou sempre as congregações leigas, coordenando-as na CADAL, para cuja participação convidou as EQUIPES DE NOSSA SENHOIRIA.. Dom Manuel foi, aliás, grande incentivador do movimento das ENS, na Arquidiocese de Curitiba, prestigiando as programações das mesmas e, por várias vêzes, deu o estímulo -XXVII-
fle sua presença em diversas atividade.• equipistas, inclusive comparecendo em retiros na Rondinha, pois vivência cristã, como afirmara em seu úllimo artigo na "Voz do Paraná", é testemunho, é um encontro por dentro, é um contato direto interior com a realidade que professamos. Sem essa vivência com Cristo pela Graça, pela oração c pelos sacramentos, seria impossível dar testemunho sincero e eficaz do próprio Cristo no nosso convívio com o próximo.
RETIROS PARA 1970 dia 12 a 14 de junho, em Barueri -- Pe. Ianoel Pestana dia 7 a 9 de agôslo, em Valinhos - Pe. Mário Zuqueto dia 28 a 30 de agôsto, em Barueri - Pe. Francisco de Assis Gandolfo dia 18 a 20 de setembro, em Barueri - Pe. Antônio Aquino dia 25 a 27 de setembro, em Valinhos - Pe. Antônio Lobo dia 2 a 4 de outubro, em Barueri - Pe. João Edênio do Vale dia 9 a 11 de outubro, em Valinhos - Pe. Frederico Dattler dia 20 a 22 de novembro, em Barueri - Pe. Pedro Lopes dia 27 a 29 de novembro, em Barueri - Pe. Oscar Melanson dia 4 a 6 de dezembro, em Valinhos - Pe. Alfonso Pastare ATENÇÃO:
os retiros de 18 a 20 de setembro e de 27 a 29 de novembro serão retiros em ABSOLUTO SIL~NCIO. atendendo assim a inúmeros pedidos que nesse sentido foram feitos. É oportuno lembrar mais uma vez que Valinhos comporta 22 casais c Barueri 27. Filhos menores poderão ser levados e ficarão sob a guarda das irrnãsinhas de Jesus Crucificado, que nisso têm muita prática e muito carinho. Suzana e João Batista Villac (rua Monte Alegre, 759, telefone 62.80. 92) já receberam inúmeras inscrições e lembram que só as reservas feitas com antecedência garantem vagas. -
XXVIll-
í~
por isso que se multiplicaram_ as "Sessões de Forma~ para os equipislas mais antigos, os "Mutirões", para os demais. Para isto o apêlo que faz para que vocês não hesitem em f:e inscrever para êstes Encontros. Depende de vocês, caros amigos, que se multipliquem os Pilotos autênticos, os Ligações autênticos, os Setores autênticos e, com isto, as Equipes autênticas. Depende de todos nós, das cúpulas e das bases, que as Equipes de Nossa Senhora possam responder ao que o Senhor delas espera, levando assim a Sua Mensagem a muitos lares, contribuindo para que se mui tipliquem, dentro de uma sociedade em crise, dentro de uma Igreja em crise, as suas células componentes. O abraço muito cordial da ECIR ~:ão"
PALAVRA DO CONSELHEIRO ESPIRITUAL
O que Deveria ser uma Equipe "Aprendi com a vida que a vida valor não tem se a vida não fôr vivida pela vida de outro alguém." Caros amigos, A nossa Tarefa é construir uma comunidade ou equipe ba~ .seada no amor; daí segue-se a atividade apostólica mais importante das nossas equipes: difundir a verdadeira comunhão. A co~ munhão das comunidades deve, conforme S. Agostinho, transbordar num amor que abrange todos os homens, Acudindo às necessidades dos santos (Rom. 12J3) devemos rstar conscientes que nem todos nós temos a mesma tarefa dentro da equipe ou dentro do movimento. "Pois assim como num f,ó corpo temos muitos membros e todos os membros não têm a me ma função, assim também nós . sendo muitos, somos um só corpo em Cristo mas cada membro está a serviço dos outros m embros" (Rom. 12,4-5). Que fique, portanto bem claro: todos nós somos co-responsáveis. Os textos citados da maior carta apostólica, tanto em qualidade, quanto em quantidade indicam as nossas duas incum~ l.ências:1. construir a comunhão 2. difundir a comunhão
-7-
1. -
Construção da Comunhão
Temos de construi-la interionnente sob o impulso do Senhor e, portanto, sob o impulso da afeição para com os irmãos. A fonte dêste impulso é a união de todos em redor da mesa do Senhor, na celebração eucarística, a qual se deve prolongar numa vivência eucarística dentro e fora da equipe, dentro e fora das nossas famílias. Temos de construí-la exteriormente. Cada indivíduo, cada casal, cada equipe tem os seus lados positivos e também negativos. Construir a comunhão exteriormente consiste no aproveitamento de ambos os lados. É, sem dúvida, uma atividade difícil de realizar na prática. As dificuldades no entanto, não devem desanimar-nos, mas, estimular-nos para vencê-las. 2. -
Difusão da Comunhão
Se possuirmos como movimento e como el}Uipe a verdadeira comunhão ou, se pelo menos, nos empenharmos seriamente em realizá-la, segue-se automàticamente a atividade de difundir a comunhão. "Nemo dal quod non habel" (ninguém dá o que não possue). O nosso movimento e a nossa equipe estarão apostolicamente aptos, pois êlcs só poderão "ser Cr:sto" para os homens do nosso tempo, quando realizarmos a comunhão com Deus, levando-o para os nossos semelhantes e quando realizarmos a comunhão com os nossos semelhantes, levando-os para Deus. Os homens do nosso tempo são homens com pontos de interrogação e exclahlação, isto é, homens com dúvidas e pontos altos; existem, no entanto, também os homens tranquilos e inabaláveis. Antigamente expressava-se tudo isto em têrmos mais simples. Dizia-se: os irmãos devem ajudar-se e sustentar-se mútuamente a fim de levarem o Cristo aos semelhantes. Seja como fôr, uma comunidade deve ser em sí uma comunhão a fim de que ela possa ser comunhão para os outros. Se nós não conseguirmos realizar a comunhão, podemos colocar de lado ns nossas ilusões e os nossos sonhos porque, nêste caso, o nosso movimento e a nossa equipe carecem de fôrça e influência, e, aos poucos, perderão a sua razão de existir.
--.-.-Fala-se muito hoje em dia. Cada um tem a sua op1mao sôbre tudo e todos. Reconhecemos que tudo isto pode contribuir para um futuro brilhante. O que, entanto, nos deve intranquilizar é a crescente incoerência entre a nossa palavra e a nossa vida.
-8-
Alguns dentre nós se acomodaram, pensando ter alcançado a meta final. Sentem-se seguros dentro de sua liberdade, por êles mesmos aumentada no decorrer dos anos, mas não querem sauer de responsabilidade dentro ou fora do movimento. Outros sàmente falam sôbre formaçfio, mas dentro do seu comodismo não querem saber de nenhuma atividade apostólica dentro ou fora do movimento. Outros ainda expressam sua preocupação pelo futuro do movimento. "Não é mais o movimento de outrora" - "não é mais a equipe com que sonhavam no seu início". Êles, contudo, ficam bem afastados, não se comprometem, não se expõem. Êles, aliás, agem como agiam antigamente. Alguns saem do movimento e abandonam a sua equipe, pois. a nossa tarefa é dura. Há equipistas que condenam duramente os companheiros: aquêles companheiros que desejam uma renovação rápida, que têm dificuldade em aceitar a renovação, que querem uma renovação mais lenta, que duvidam de certas formas renovadoras. Sempre devemos respeitar e amar a todos, também os pioneiros, os quais deram e ainda dão o melhor de si ao movimento. Se não tivermos êste respeito e amor, não somos nem cristãos. menos ainda equipistas. Minha gente, tudo isto não é o espírito do Cristo, não é comunhão. Esta comunhão com Deus, levando-o aos homens e esta comunhão com os homens levando-os a Deus, como todos os valo· res espirituais, é uma qualidade, é um dom; dom êste que deve ser pedido, cultivado e realizado constantemente por cada um t1e nós na sua própria vida e na própria equipe, na sua própria família, no seu próprio ambiente. Por isso, felizes aquêles que ouvem a palavra de Deus: "quem por minha causa perder a vida, acha-la-á e a põem em prática! Cônego Constantino W. M. Van Veghel, O. Prem.
TESTEMUNHOS Durante a última reunião de nossa Equipe, debatemos o tema intitulado "a oração em nossa vida". Adotamos como subsídio de nossos estudos o trecho do Catecismo Holandês denominado "O Senhor nos ensina a rezar•·.
-9-
O tema em questão é ali comentado eom muita simplicidade e, ao mesmo tempo, com uma profundidade que nos tocou o coração. Nunca havíamos pensado realmente como o próprio Cristo faria suas orações, como se propusera a torná-las parte integrante de Sua vida. Impressionados com tudo aquilo que havíamos debatido durante a reunião, voltamos para casa decididos a fazer um balanço de nosso comportamento diante dêsse problema, verificar como nos encontrávamos em face da necessidade da oração cotidiana. O balanço não foi positivo. Ainda que houvéssemos reconhecido que tínhamos o hábito de rezar, senLmos que alguma coisa nos faltava. Começamos a perquirir os fatos e estávamos chegando à conclusão de que, em razão da vida muito corrida e atribulada que levávamos, não tínhamos tempo material de procurarmos um encontro mais ín timo com Deus. Assim foram passando os dias sem que encontrássemos uma verdadeira solução para o problema. Num jantar em companhia de nossos filhos algo de inusitado sucedeu. O assunto que conversávamos girava em tôrno de missa e oração. Na opinião de nossos filhos a missa era muito demorada e quando chegava a hora da oração êles já estavam cansados. Procuramos fazer ver a êle~ que o tempo d:spendido na assistência à missa e mesmo para a prática das orações era mínimo em relação às demais exigências de suas atividades diárias. Qual não foi o nosso espanto quando a nossa filha de 9 anos de idade virando-se para os demais, disse: "Mas vocês não sabem que tudo o que fazemos: comer, dormir, brincar, estudar, quando oferecemos a Deus já é uma oração?" Ficamos na hora meio pasmados, mas, ao mesmo tempo. muito felizes pensando como a vida para ela deve ser gostosa, pois que pode contar com Deus em . tôdas as coisas que faz durante o seu dia. Daí conclúímos: - quantas coisas boas são desperdiçadas e quantas outras poderíamos fazer melhor se pensássemos desta Jnesma forma. Se em nossa vida tudo vai bem, agradecemos e compartilhamos com :Êle. Se uma dificuldade surge diante de nós, peçamos a :Êle a ajuda para resolvê-la, ou quando não, a paciência neces~ária para aguardar uma solução. -10-
O Bolelim Informativo das Equipes de Nossa Senhora da Região- Santa Catarina-Rio Grande do Sul transcreve num de seus últimos números, um artigo traduzido por um casal equipista de Ribeirão Prêto, intitulado:
"Esta Noite, Pois que o Tempo está Bom" (Charles-Ferdinand Ramuz: - "Livret de Famille". que merece, sem dúvida, ser lido e meditado por Lodos nós equipistas :Vem sentar-te ao meu lado, no banco, diante da casa, mulher; é teu direito; vai fazer quarenta anos que estamos juntos. Anoitece, o tempo está bom, e é também o anoitecer de [nossa vida: tu ,mereceste bem um momento de repouso. Eis que os filhos estão encaminhados, e partiram pelo [mundo; e novamente somos apenas dois, como no comêço. Lembras-te, mulher? Não tínhamos nada para começar, tudo estava por fazer. Nós demos tudo. Mas foi duro. É preciso coragem, perseverança. É preciso amor, e o amor não é aquilo que a gente pensa quan[do começa. Não são apenas os beijos que se trocam, as palavras sussurradas ao ouvido, ou sentir-se cerrado um contra o outro; O tempo da vida é longo, o dia de núpcias é apenas um dia, c em seguida, tu te lembras? É só em seguida que a vida começa. preciso fazer o que está desfeilo; é preciso refazer, pois está desfeito ainda. Vêm os filhos; é preciso nutri-los, vesti-los, educá-los. E não acaba mais. Às vêzes ficavam doentes, e tu passavas a [noite de pé. Eu trabalhava da manhã ao anoitecer. Às vêzes dá o desespêro; os anos se sucedem e a gente não progride e até parece que recúa. Lembras-te mulher? Tôdas as preocupações, todo o trabalho; somente lu estavas lá. Permanecemos fiéis um ao outro. Assim, pude apoiar-me em ti e te apoiaste em mim. Tivemos sorte de estar unidos; lançamo-nos os dois à obra, aguentamos firme. O amor verdadeiro não é aquilo que se pensa O amor verdadeiro não é de um dia, mas de sempre. É
-11-
f'. ajudar-se compreender-se. E pouco a pouco a gente vê que tudo se arranja. As crianças cresceram e se saíram bem. Nós lhes havíamos dado o exemplo. Consolidamos os alicerces da casa. Que tôdas as casas do país sejam sólidas, e o país também será sólido. Por is o, vem para o meu lado e olha, puis é o tempo da colheita quando tudo é rosado ao anoitecer, c uma poeira rosa se eleva por tôda a parte entre as árvores. Senta-te pertinho de mim. Não diremos nada; não precisamos dizer nada. . Prec:samos apenas estar juntos ainda uma vez c, no contentamento da tarefa cumprida, esperar que a noite chegue.
Oração para a próxima Reunião TEXTO DE MEDITAÇÃO (Lc. 6,27-35) Mas Eu digo-vos a vós que me ouvis: Amai os vossos inimimigos, fazci bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos maldizem, rezai pelos que vos maltratam. Ao que te bale numa face oferece-lhe também a outra, e àquele que te leva a capa não lhe impeças de ficar também com a túnica. Dá a todo aquêle que te pede, e ao que leva o que é teu não lho reclames. O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-lho de igual modo vós também. Se amardes os que vos amam. que agradecimento vos é devido? Pois também os pecadores an"lam aquêles que os amam. Se fizerdes bem aos que voz fazem, que agradecimento vos é devido? Também os pecadores fazem o mesmo. E se emprestardes àqueles de quem esperais receber, que agradecimento vos é devido? Também os pecadores emprestam aos pecadores a fim de receberem outro tanto. Mas vós, amai os vossos inimigos, fazei bem e emprestai, sem nada esperar em troca. Será grande, assim a vossa recompensa e sereis filhos do Altíssimo, porque :f;:le é benigno para com os ingratos e os maus. ORAÇÃO LITúRGICA (Sal. 131) :f;:ste salmo das "Subidas" sendo curto irradia a paz filial dum peregrino que conta apenas com o Senhor. Senhor, o meu coração não é orgulhoso, os meus olhos não são ambiciosos. Nem eu aspiro a grandezas ou pompas, demasiadas para mim. Antes reprimi e aquietai minha alma; como criança ao colo da mãe. Como criança, Assim minha alma dentro de mim Israel, espera no Senhor, Agora e para sempre! -12-
EQUIPES NOTRE DAME 49 Rue de la Glaciere Paris XIII EQUIPES DE NOSSA SENHORA Rua Dr. Renato Paes de Barros, 33 - ZP 5 São Paulo (Cap.)
Tel.: 80-4850