ENS - Carta Mensal 1974-10 - Dezembro

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NC? 10 Dezembro

EDITORIAL - Família, instrumento de Evangelização . . . ..... . .............. . .. .. .... . A Ecir conversa com vocês . . . . . . . . . . . . . . . . . . A Família de Nazar é

5 8

Formação do conceito de fam íli a no JO .tm

lO

Os jovens e o casamento

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A pesquisa da C.N.B .B.

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A família de amanhã . . ... . ....•.. . .........

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Entardecer

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Quando os jovens perdem a Fé . . . . . . . . . . .. .

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Um exemplo de chefe de fam ília . . . . . . . . • . . .

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A mulher e a profissão . . . . . . . . . . . . • . . . . • . . . Família e equipe

33 36

Não tenho tempo ...

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Nolícias dos Setores . . . . .. . ........ . ..... . .. . Oração para a próxima

reuni~o

......... ....

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.,

..

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EDITORIAL

FAMíLIA, INSTRUMENTO

DE

EVANGELIZAÇÃO

Escrevo alguns minutos apenas depois que, com sua palavra de Pastor e Mestre na fé, Paulo VI encerrou a terceira reunião ordinária do Sínodo Episcopal. Durante todo o mês que passou, o tema da Evangelização. E com inteira. Foi uma longa meditação, de paciente investigação e acurado ses do mundo.

este esteve concentrado sobre ele, pode-se dizer, a Igreja preparada por longos meses trabalho em todas as Dioce-

Agora o Sínodo entrega ao Papa os frutos numerosos e densos desses trabalhos. Em seu magistério de Pastor Universal, este, como já começou a fazê-lo, reverterá tudo isso às Comunidades da Igreja sob a forma de um novo e robustecido alento na missão evangelizadora mas também de estradas abertas para uma evangelização que responda às exigências atuais. Algumas linhas de convergência já emergem certamente do Sínodo. Uma delas é a convicção (que deve ser muito prática) de que evangelizar não é o direito de alguns mas o dever de todos na Igreja de Cristo. A convicção portanto de que, na Igreja, cada pessoa, cada grupo de pessoas, tem a obrigação de discernir com clareza seu lugar específico na grande missão evangelizadora, qual sua form própria de evangelizar - e ocupar o lugar e empregar aquela forma. -1-


Desde quando se anunciou, há meses, o tema do Sínodo, desde o primeiro esboço de trabalho enviado aos Bispos até as intervenções na Sala Sinodal e a alocução final do Santo Padre, não houve momento em que não se sublinhasse a dimensão evangelizadora da Família. Em que sentido se pode falar de uma ação evangelizadora da Família? Paulo VI, nas palavras de encerramento do Sínodo, ressalta que os leigos em geral "e de um modo especial os pais de família, são responsáveis pela evangelização". E mais longe, referindo-se de novo aos agentes da evangelização, alude "aos pais de família, primeiros colaboradores da Igreja evangelizadora, em sua "Igreja doméstica" que é o lar. E "às donas de casa exemplares, piedosas e fiéis colaboradoras". Essas palavras do Papa sintetizam referências repetidamente feitas pelos Bispos no Sínodo, todas elas de importância. Para relembrar duas ou três apenas, sob forma quase de postulados: - Formadora de pessoas, a Família não pode deixar de educar este aspecto integrante e básico do homem que é sua fé, sua relação ao Absoluto de Deus. - Cabe à Família revelar por primeiro à criança e ao adolescente o rosto de Deus e de seu Cristo através das realidades que são essenciais à vida familiar: o amor humano, a solidariedade, o dom de si, a alegria e a dor integradas na vida, o senso da paternidade e da maternidade. - No seio da Família é que seus membros podem preparar-se para viver intensamente os grandes sacramentos da vida cristã, todos eles. - O ambiente de uma família realmente cristã pode ser ainda ponto de referência para algum de seus membros presa de ameaças à sua fé. Talvez volte ainda a se retemperar na fonte escondida que ele sabe onde encontrar. Mas eu gostaria de acentuar um aspecto que decorre de uma visão da Evangelização muito presente no Sínodo. Evangelizar repetiu-se sob várias formas no Sínodo - é também inserir o Evangelho todo na realidade concreta e cotidiana da vida : é explicitar valores evangélicos latentes em realidades do mundo e é submeter essas· realidades do mundo a este teste decisivo que é o confronto com as exigências profundas do Evangelho. Assim elas revelarão sua dimensão mais íntima, sua verdade (ou sua mentira e artificialidade) interior.

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Podemos aplicar isso à Família e discernir assim sob uma nova luz sua capacidade evangelizadora. A Família se auto-evangeliza, isto é, no seu interior, esposo e esposa podem ser portadores e proclamadores um para o outro. Pais e filhos transmitem a mensagem evangélica uns para os outros. Como? Na medida em que, pela força de um testemunho que dispensa a retórica, uns encarnam aos olhos dos outros aqueles valores que a Boa-Nova de Jesus considera essenciais, ~quelas grandes atitudes espirituais que caracterizam os discípulos de Jesus, aquelas exigências feitas aos que pretendem aderir ao Reino. A família se auto-evangeliza quando, sem frases nem conceitos, de forma mais ou menos feliz, muitas vezes com defeitos, ao sabor dos acontecimentos de toda vida familiar, um membro da família oferece aos outros um testemunho de · pobreza, ou de esperança difícil, ou de força na tribulação, ou de amor à justiça - de qualquer bem-aventurança ou virtude evangélica. A família se auto-evangeliza quando, desta forma, um de seus membros interpela os outros no mais fundo de sua existência: não uma interpelação que fere e desanima mas que convida e estimula. Toda uma família pode crescer no teor de sua vida cristã graças a esta mútua impregnação evangélica - uma evangelização endógena - rica pela sua multiformidade, forte pelo seu dinamismo, duradoura porque muito próxima da vida concreta. Mas a qualidade evangélica de uma família não pode deixar de irradiar. Outros serão, por assim dizer, contagiados. Será às vezes porque esta família que vive cada dia um pouco melhor segundo o Evangelho sentirá a necessidade de comunicar ativamente aquilo que a faz viver. Mas poderá ser também, ainda aqui, pelo simples impacto do testemunho, sem palavras mas irresistível. Neste ponto a "Ecclesia domestica", a Igreja em miniatura que é cada família cristã, a exemplo da Igreja maior, que é a Igreja Particular ou a própria Igreja Universal, realiza algo que é de sua própria natureza: não se contenta com uma vida íntima mas irradia, não se auto-evangeliza apenas, comunica o Evangelho. Estudiosos da sociedade moderna observam, com razão a meu ver, que, em nosso mundo secularizado ou em processo mais ou menos rápido de secularização, junto a um massiço mundo jovem que recusa toda forma institucional inclusive a da Igreja, em face do cansaço ou da náusea que se experimenta diante da pregação porque há pelos mass-media e pela publicidade uma saturação de mensagens audio-visuais, talvez aqui esteja uma

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das formas mais eficazes de evangelização: o anúncio evangélico e a impregnação evangélica que se processam na intimidade da vida familiar, no recesso de cada casa, por via dos laços de sangue e de afeto; num clima feito de amor, respeito, confiança; com a simplicidade do cotidiano e a profundidade das coisas essenciais. E tudo isso atingindo, por irradiação, o pequeno mundo de pessoas, de fatos e acontecimentos, de realidades que envolvem a família. Ao fim de um Sínodo que falou da Evangelização e não esqueceu a dimensão evangelizadora de cada lar cristão, talvez muitos pais e filhos terão alegria em ver um pouco mais claro como o Senhor quer que a Evangelização passe pelas soleiras de suas portas também. D. Lucas Moreira Neves Vice-Presidente do Conselho dos Leigos (Roma)

Dos 16 documentos conciliares, 14 falam na importância da vivência do sacramento do matrimônio como resposta às exigências evangélicas. Principalmente os capítulos 47 a 52 da Gaudium et Spes. "A família há de por em comum com generosidade, para as outras famílias, suas riquezas espirituais. Assim é que ela, nascida do matrimônio - que é a imagem e participação de amor entre Cristo e a Igreja - manifestará a todos a presença viva do Salvador no mundo e a autêntica natureza da Igreja". (Gaudium et Spes, 48 d).

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A ECIR CONVERSA COM

VOC~S

Encerrando-se o Ano da Família, quis a Carta Mensal preparar um número especial sobre a Família, reunindo vários testemunhos e depoimentos, que recomenda à leitura e meditação dos equipistas. Entre esses textos, destacam-se o Editorial, sobre "Família, Instrumento de Evangelização", escrito especialmente por D. Lucas Moreira Neves para esta Carta Mensal após o encerramento do Sínodo em Roma, o artigo do Mons. Enzo Gusso sobre "A Formação do Conceito de Família no Jovem", também escrito especialmente para a Carta Mensal, e a carta de Alda e Teófilo Ribeiro de Andrade, dando conta do trabalho realizado em torno do tema do Ano da Família. As Equipes de N assa Senhora, como os demais movimentos familiares, foram chamadas a colaborar com o Episcopado numa série de promoções levadas a efeito por diversos Setores e, principalmente, pelas respostas aos questionários constantes do Roteiro de Reflexão sobre a Família, da C.N.B.B. Muitos equipistas perceberam a importância dessa coleta de dados para a elaboração de uma nova Pastoral Familiar, tanto é que 90% das respostas em mãos de Alda e Teófilo provêm de casais das Equipes. Foi também uma honra para o Movimento o fato de a Coordenação dos trabalhos da Comissão do Ano da Família ter ficado sob a responsabilidade desses nossos irmãos da Equipe n. 0 2 de São Paulo. Tiveram eles a . oportunidade, durante esses trabalhos, de perceber como é importante e profícua a colaboração dos vários movimentos familiares unidos em torno de um mesmo objetivo. Criaram-se laços muito fortes entre todos os que trabalharam juntos e todos desejam sinceramente que o mesmo entrosamento possa ser vivido em todas as dioceses, em todas as paróquias, em todas as cidades.

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Fato inédito na história da Igreja no Estado de São Paulo: casais, em grande número, estiveram presentes na reunião do Episcopado do Regional Sul 1 da C. N. B . B. em Itaici, em outubro; do meio-dia do sábado 26 até às duas horas da tarde do domingo 27, 74 casais e 6 jovens participaram da reflexão dos 24 bispos presentes. O objetivo era não só avaliar os resultados do trabalho da Comissão Regional do Ano da Família, mas também situar melhor a família como agente da Pastoral Familiar. Presentes quase todos os Bispos do Estado e um Vigário Capitular, 20 Coordenadores de Pastoral e 22 assessores, todos os membros da Comissão do Ano da Família, que compreendia casais de várias dioceses (entre os quais muitos equipistas), casais membros de comissões diocesanas de Pastoral, e muitos casais de movimentos familiares, entre os quais vários dos nossos Responsáveis de Setor (Bauru, Campinas, Mogi das Cruzes, Santos, São José dos Campos), o Regional de São Paulo, de Campinas, o casal responsável pela Carta Mensal e equipistas de várias cidades (Bauru, Campinas, Jundiaí, Marília, Mogi das Cruzes, Ourinhos, Santos, São Carlos, São Paulo, Taubaté, Ribeirão Preto, etc.). Essa Assembléia foi um acontecimento de grande importância pois, como dizíamos, foi a primeira vez que um grande número de casais foi chamado a colaborar com os seus pastores numa reunião conjunta para estudar a natureza, os problemas e os principais objetivos de uma Pastoral Familiar adaptada à realidade de hoje. Naquelas 24 horas em que nós, casais, estivemos presentes, presidiu a Assembléia, na abertura D. Antonio Maria Alves de Siqueira, arcebispo de Campinas, e no encerramento D. Bernardo Miele, arcebispo de Ribeirão Preto. Os trabalhos se desenrolaram sob a direção de D. David Picão, bispo de Santos e sob a coordenação do Mons. Mauro Morelli, secret ário do Regional Sul 1 e assessor da Comissão do Ano da Família. De Roma, o Cardeal Arns mandou um telegrama de incentivo à Assembléi~, bem como o Cardeal Villot, em nome do Santo Padre. Alda e Teófilo deram um apanhado do resultado da pesquisa, Lia e Sollero falaram sobre a família na pastoral orgânica e o Pe. João Edênio do Valle, s.v.d., nos deu uma visão sociológica da família, muito interessante. A noite, os casais, divididos em grupos de trabalho com os bispos, estudaram os diversos aspectos da Pastoral Familiar e as suas sugestões foram transformadas num documento que voltou a ser estudado na manhã de domingo. No final, cada grupo, através de um representante, apresentou ao plenário o que achava mais importante. A partir desse trabalho está sendo elabo-

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rado pelo Regional um documento a ser enviado a todos os bispos do Estado de São Paulo. Esse documento, no todo ou em parte, poderá servir para nortear os rumos de uma nova Pastoral Familiar. Concluímos, dos trabalhos, que os objetivos principais da Pastoral Familiar são a evangelização da família pela família, a valorização do sacramento do matrimônio, a promoção da "igreja doméstica". Todos esses objetivos são extremamente caros ao coração dos equipistas, pois são exatamente os que vêm procurando atingir e promover. Agora, pois, que o Episcopado proclamou a Pastoral Familiar como prioritária na Pastoral global e pede a colaboração dos movimentos familiares para sua execução, todos nós devemos nos sentir individualmente chamados. É o campo privilegiado onde podemos desempenhar nossa missão apostólica, procurando ao mesmo tempo responder ao apelo dos nossos pastores, como mandam os nossos Estatutos, colaborando cada um de acordo com sua vocação, com o seu carisma, nos variados setores da Pastoral Familiar. Lembremo-nos de que, como casais cristãos, somos chamados a ser testemunhas do amor que nos une, imagem do amor do Cristo por sua Igreja. Esse testemunho que iremos dar, esse trabalho que iremos fazer, não esqueçamos de partilhá-lo na reunião da nossa equipe. A ECIR

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A FAMÍLIA DE NAZARÉ

O lar de José e de Maria era fortalecido não só pelos laços sagrados do casamento, como também pela compreensão, pela consideração e pelo afeto. Naquele ano 748 de Roma, um edito do Imperador Cesar Augusto, determinou que os varões se recenseassem no próprio lugar de nascimento. Apesar da jovem esposa de José estar para dar à luz, acompanhou o marido até Belém naquela viagem que a lei impunha. Era longe a distância de Nazaré, onde moravam, até Belém: uns 150 km de estradas medíocres que Roma não tivera tempo de reconstruir dentro de suas técnicas. Em passo de burrico, o meio de transporte que mesmo os mais pobres possuíam, a viagem teria durado quatro dias completos. Na cidade superlotada, não conseguiram hospedagem. José preferiu se abrigar numa das inúmeras grutas que havia no largo da cidade, encravadas na rocha e que alojavam os animais nas noites frias; ali pelo menos encontrariam silêncio e paz. E foi nesta gruta, um estábulo, que a jo·v em senhora "deu

à luz seu primogênito e o enfaixou e deitou numa mangedoura", seu primeiro berço. Modestos pastores, comovidos com aquela estrangeira que havia dado à luz, ofereceram seus préstimos, como fazem os homens simples, de "boa vontade", que repartem com generosidade o pouco que têm. Quando o filho foi apresentado ao templo em Jerusalém, segundo o costume, tiveram de se contentar em oferecer um simples casal de rolas, pois a compra de um cordeiro ultrapassaria o seu orçamento. Eles eram mais ricos em fé do que em dracmas. Seu lar era na Galiléia, na pequena cidade de N azar é, um aglomerado de casas rústicas, construídas com adobes brancos. Os arredores eram amenos - hortas, campos de vinhas e olivais, bosques de figueiras e romanzeiras. Em sua casa tudo era simples, exceto a suntuosidade dos lírios, das verbenas e das buganvílias que se debruçavam sobre a cerca e eram regados por Maria. No seu interior as lâmpadas

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de barro em castiçal de ferro, não forneciam mais que uma tênue luz, mas notava-se naquele lar uma luminosidade incomum. José e Maria eram descendentes do rei Davi, mas não ostentavam por isso nenhum orgulho, nenhuma pretensão. A sua realeza estranhamente não estava na ascendência mas na descendência que legaram ao mundo. Os registros pouco nos contam sobre a infância do filho Jesus. Lucas, que era pessoa de preparo, um médico, limitou-se a relatar que "o menino crescia e tornava-se forte, mostrava-se cheio de sabedoria e a graça de Deus estava com ele." O menino Jesus cresceu entre os galileus que eram simples de coração, um pouco rudes, bem menos formalistas que os judeus da Judéia. Jesus imitou-lhes os costumes e o modo de falar. Maria preparava a alimentação: pão de cevada, ovos, leite e hortaliças; só em dia de festa, peixe grelhado. Maria também tecia e buscava água na fonte, com seu cântaro. Fazia tudo com alegria e com AMOR. A vida de José está envolta em humildade e silêncio. Nele se adivinha, mais do que se sabe, o vulto de um homem já maduro, a quem a experiência da vida ensinou bom senso e moderação. Seu ofício era o de carpinteiro, uma das profissões mais antigas e indispensáveis ao homem - converte a matéria-prima mais simples em objetos vulgares, como um banco, uma mesa, mas que são essenciais ao lar. Contudo era uma família comum; ia todos os anos a Jerusalém, para as festas solenes da Páscoa. Viajava com seus vizinhos e amigos, para distrair o longo tédio da caminhada. Numa dessas viagens, quando Jesus estava com 12 anos, aconteceu um imprevisto: desencontraram-se. Pode-se calcular a aflição de José e de Maria, pois só o encontraram ao fim de três dias, no Templo, sentado entre os doutores, ouvindo-os, fazendo-lhes perguntas e deixando-os pasmos com sua inteligência e sabedoria. A alegria foi tão grande ao encontrar o filho que nem prestaram atenção à resposta estranha que ele dera: "então não sabíeis que preciso me ocupar das coisas que são do serviço de meu pai?" José viveu e morreu com a simplicidade de quem sabe que sua missão aqui na terra fora cumprida. Maria viveu mais tempo, o suficiente para ver um dia, com grande dor, o filho querido ser morto, só por salvar a vida de amigos que ele amava.

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FORMAÇÃO

DO CONCEITO

DE

FAMíLIA NO JOVEM

Como Assistente da JUC, primeiro diretor da PUC, e agora Coordenador da Pastoral da Juventude em Ribeirão Preto, o Pe. Enzo- agora Mons. Enzo sempre trabalhou com jovens. Embora ocupadíssimo, escreveu o artigo que segue especialmente para este número da Carta Mensal.

Vocês me pedem respostas a uma série de perguntas: qual o conceito de família do jovem - quais os problemas do jovem com os pais - como educar o jovem para a liberdade. Tenho impressão que ninguém de vocês deixou de entrar em contacto com vários tipos de respostas diretas a essas perguntas, seja pela vivência que mantêm com os filhos e os amigos deles, seja por conferências assistidas e leituras feitas. Creio, por isso, que o que me pedem é diferente: vamos ver se conseguimos saber qual a origem das conceituações de família do jovem ou de onde ele retira os elementos para as compor. Na verdade, é importante nos convencermos de que o jovem não inventa concepções novas de família. Genericamente falando, creio que podemos reduzir a duas as grandes fontes de onde o jovem retira o seu próprio modelo: sua família de criança e adolescente e a vivência do mundo cultural que o cerca. Poderíamos explicitar também sua situação sócio-econômica (qual a idéia de família que faz o jovem nascido e crescido num cortiço . .. ?) , mas essa razão pode, no fundo , ser reduzida a uma das duas anteriores.

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É evidente que os primeiros elementos de que lança mão o jovem para a construção do seu modelo familiar, provêm da sua própria família. Quaisquer que sejam os valores ou contravalores que nela tenha vivenciado, ele é profundamente marcado pelo equilíbrio ou desequilíbrio afetivo que viveu.

Quando sua exigência inata de proteção e segurança encontra a resposta equilibrada no amor dos pais e irmãos, sejam quais forem suas condições de conforto ou desconforto, a criança cresce desimpedida, desabrocha normalmente para a adolescência e atinge a juventude, marcada por uma aspiração íntima de reeditar, na família que organizará, a família que viveu. Na família, porém, em que o amor existe mas não se manifesta ou em que não existe, a tentativa do jovem será de superá-la ou de contraditá-la, quando ele mesmo, como pessoa, não foi definitivamente estragado pela falta de amor. O fato é que o amor é o elemento decisivo da experiência familiar do jovem: com vinte séculos de atraso sobre o evangelho, é o que afirmam as pesquisas psicológicas de hoje. Os outros elementos que possa adquirir podem todos ser conseguidos também fora da família. A modelagem do ideal de família do jovem é, portanto, profundamente marcada pela experiência afetiva familiar, que se desenrola por toda a sua meninice e adolescência. O amor ou a falta de amor crescem com o jovem e afetam seriamente a sua personalidade. O jovem não forma de repente o seu ideal familiar: trata-se de um dado vivencial que, aos poucos, desde criança, vai assumindo os seus contornos para se transformar em linhas mais ou menos definitivas quando ele pessoalmente se comprometer com a construção concreta de sua própria família. Mas esse é só o primeiro elemento. A medida que se acentua o processo de socialização do jovem, isto é, à medida que ele, superando o ambiente restrito da família, se abre como pessoa para a grande sociedade, através da inserção em grupos intermediários como a escola, o trabalho, o lazer, entram em cena outros ingredientes de que ele irá lançar mão para o seu projeto familiar. A socialização, ao mesmo tempo que abre para o jovem o contacto constante e normal com a grande sociedade, torna-o, por isso mesmo, cada vez mais autônomo da família, no campo da formação da própria personalidade e coloca sempre mais em suas próprias mãos a decisão dos caminhos a assumir na vida. Poderíamos resumir todos os fatores que, daí para a frente, começam a atuar, com a designação genérica de valores culturais.

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Queiramos ou não, o mundo contemporâneo sofre o impacto da luta de, pelo menos, quatro grandes cosmovisões: o liberalismo, o marxismo, o existencialismo e o cristianismo. Nascidos da mesma cepa filosófica - o materialismo - o liberalismo e o marxismo dividem entre si o mundo das estruturas sociais, políticas, econômicas, educacionais, etc. Apesar dos protestos e das proclamadas divergências, ambos oferecem respostas semelhantes às grandes perguntas existenciais do homem: o que é o mundo e como me relacionar com ele; quem sou eu, de onde venho e para onde vou e qual o meu papel na existência; quem é o outro homem e qual o meu relacionamento com Ele; existe Deus ou não e quem é Ele para mim e quem sou eu para ele. . . Ambos ateus, ambos materialistas, ambos baseados em sistemas econômicos. Contra eles e contra tudo, esperneia em protestos e contestações, um tanto inocuamente, o existencialismo materialista. Sua influência é passageira, tumultuada e desconexa porque nunca conseguiu transformar suas posições ideológicas em estruturas sociais concretas, nem mesmo tem condições de o conseguir, pela própria natureza de seus postulados fundamentais: a angústia, a náusea, a morte, o nada. . . Em geral quase que só atinge os emocionalmente adolescentes e similares. Os outros acabam sempre por abandoná-lo porque precisam sobreviver e sobreviver significa inserção em estruturas. Enfim, o cristianismo, que não costuma concretizar-se em estruturas sociais, políticas, econômicas, etc., mas que condensa em si a inexplicável força do fermento no interior de todos os tipos de massa. Força paciente, que trabalha consciências. Porque não se trata de ideologia, mas da própria revelação de Deus que descobre ao homem não só quem ele, Deus, é, mas também quem é o próprio homem. Aqui reside a sua força, a força da verdade que não inventa interpretações sobre o homem, mas traduz a sua realidade natural concreta, à base da certeza de Deus. Foi assim que, pouco a pouco, sua visão da pessoa humana foi agindo através dos séculos até chegar, como expressão da Consciência Humana, à Declaração Universal dos Direitos do Homem, que não encontra nenhuma explicação nem fundamentação nos postulados liberais ou marxistas ou existencialistas. É esse nível de consciência humana, fermentada pelo cristianismo, que impõe a governos liberais e marxistas exigências que eles, de si mesmos, nunca se inclinariam a atender. A família entra nesse quadro de exigências, como valor natural e cristão, e são os cristãos os que por ela mais lutam. É este o segundo elemento de que o jovem se serve para a construção do seu projeto familiar: os valores ou contravalores -12-


culturais que vicejam à sua roda e que ele, conscientemente ou não, assume. A família não constitui um dado isolado na sua atitude diante da vida: é peça engrenada na totalidade da sua cosmovisão explícita, implícita ou em elaboração. Vejamos então: na composição do seu modelo familiar entram a experiência vivida na própria família de origem e os princípios e valores da cultura que assumiu (liberal, marxista, existencialista ou cristã). É provável que uma experiência profundamente vivenciada de amor, na família dos pais, deixe tal marca nas aspirações do jovem que ele tente reeditá-la, mesmo quando seus valores culturais ou ideológicos pouco ou nada insistam nessa atitude: acontece o hibridismo das formas que nem sempre consegue sustentar-se. Por outro lado, uma cosmovisão, assumida consciente e responsavelmente, pode desfazer todas as influências de uma boa experiência familiar. São constantes os exemplos nos dois sentidos. A assimilação, portanto, da concepção cristã da família, pela consciência e pelo coração do jovem, só será suficientemente eficaz quando se juntarem a experiência familiar cristã e a vivência da cosmovisão cristã fundamentada. Aliás, a consciência clara da cosmovisão cristã é indispensável para que o jovem venha a atingir a maturidade cristã, que se baseia exatamente na posse consciente das respostas às grandes perguntas existenciais, respostas coerentemente sistematizadas, constituindo um sistema de pensamento. Sem essas respostas, o homem não consegue situar-se na vida e, na terrível mistura de valores e contravalores do nosso tempo e da nossa sociedade, ele perde o seu norte e, com ele, os critérios de julgamento das situações em que, a cada momento, se vê envolvido. No mundo concreto, em que vivemos, cujo arcabouço teórico - liberal ou marxista - se basta a si mesmo, em seus princípios e valores, independendo da revelação cristã, o jovem cristão só pode ser educado para a maturidade, isto é, para a liberdade, se for iniciado na globalidade da cosmovisão cristã. Há trinta ou quarenta anos os pais geravam seus filhos e podiam soltá-los na rua, na escola, no trabalho, nos grupos de amigos, que eles cresciam suficientemente cristãos, porque toda a nossa cultura estava penetrada de valores cristãos. Se aprendiam algo de errado, sabiam que estava errado. Hoje, a rua, a escola, o trabalho, os amigos professam, como certos, princípios valores anticristãos e afirmam serem bobagem, ingenuidade, atraso, quadratice, moralismo, coisas do passado, incompossíveis de coexistirem com o mundo atual, os princípios e os valores cristãos. Hoje, não é só a prática da vida que está em desacordo com o cristia-13-


nismo, é a própria visão teórica: há oposição de princípio e de valor. E agora, só posso trazer a sardinha para minha brasa de trinta anos de pastoral de juventude. Hoje, entre nós, ou o jovem cristão, que recebeu existencialmente de sua família noções, princípios e valores cristãos, se une a outros jovens cristãos, em movimentos suficientemente organizados, nos quais possa aprofundar e sistematizar a visão cristã da vida, ou, sozinho, acaba por se esvaziar e se acomodar. Não se tem o direito de exigir desse jovem cristão isolado que enfrente com êxito a pressão cultural do mundo em que vivemos. Daí a necessidade prática, hoje, do grupo cristão de jovens. A base familiar já não lhe é suficiente, porque ele pouco a vive em intensidade: está voltado para fora, como um ultimoanista de faculdade. A escola cristã, formadora de cristãos, que teoricamente seria um recurso a esta altura, na prática já não existe. Resta, como último recurso ou instrumento de convivência, de formação e de treinamento cristão, o grupo organizado de jovens cristãos. Não se trata de um grupo cuja única arma é o impacto emocional. Esse, em noventa por cento dos casos, só funciona quando existe a seqüência, que é constituída pelo verdadeiro movimento de grupos pedagogicamente organizados, em que haja a convivência na amizade cristã - vida comunitária; em que haja processo pedagógico de aprofundamento da palavra de Deus estudo da revelação; em que haja abertura ativa para o mundo em que o jovem tem de viver - formação na ação; em que haja vivência da oração pessoal e litúrgica. E isso, durante três ou quatro anos: não se fundamenta a maturidade cristã em seis meses ou um ano nem, muito menos, em dois dias e meio de impacto emocional. Os cristãos, pais da vida humana e cristã de seus f~lhos, são responsáveis pela existência desses grupos, encontrem ou não o auxílio ou a assessoria de padres para eles. (Quem de vocês já pensou que um padre desses também precisa viver ... ?) . Se encontrarem padres capacitados, tanto melhor. Se não encontrarem, preparem-se para assessorá-los pessoalmente, a não ser que inventem outro meio de manterem em seus filhos a vida cristã que geraram .. .

Mons. Enzo Gusso Coordenador da Pastoral de Juventude de Ribeirão Preto

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OS JOVENS E O CASAMENTO Entrevista com o Pe. Charbonneau

C.M. -

Atualmente há uma tendência entre os jovens do mundo, e também do Brasil, para recusarem o casamento não só o casamento religioso, mas a própria instituição do casamento. A que o senhor atribui isto?

Pe. Charbonneau -

No livro que publiquei recentemente, "Educar - Problemas da Juventude", abordei esse assunto. Atribuo essa tendência à instabilidade generalizada da civilização contemporânea. Alvin Toffler, em seu livro, "Future Shock", explica que a civilização anterior era de permanência e a atual é transitória. Ninguém quer assumir compromissos vitais. Isto nos leva a um novo tipo de família. Os jovens já não aceitam a moral tradicional. Há uma contestação que os leva a uma crise de fé. Eles têm uma consciência própria, independente da rígida moral clássica. O conceito de pecado, para a antiga geração, era muito ligado às regras do direito canônico. Os jovens, porém, consideram que essas leis têm uma importância relativa. Não sentem necessidade de se prenderem a elas. C.M. -

O que a família atual poderia fazer no sentido de lutar contra essa tendência?

Pe. Charbonneau -

Em primeiro lugar, tornar-se, em vez de comunidade meramente jurídica - o que ela é muitas vezes - uma comunidade de amor. Em segundo lugar, encontrar os caminhos para despertar nos jovens, dentro dos quadros mentais deles, uma renovação da fé. Estes devem ser os objetivos dos educadores e, principalmente, das famílias.

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C.M. -

De que forma o chamado "movimento de libertação feminina" vem atingir a família?

Pe. Charbonneau -

A mulher era totalmente dependente. Como esposa: do marido; como escrava: dos filhos; como dona de casa: dos deveres domésticos e afazeres caseiros. Mas em pouco tempo a sociedade abriu-se para a mulher. A redução do número de filhos deu-lhe mais lazer, portanto mais liberdade. A mulher quis ficar livre de todas as repressões. Em primeiro lugar, colocou-se como igual do marido. A seguir, recusou-se a ser apenas a escrava ou a empregada de seu senhor e de seus filhos. Saiu do lar. Teve acesso a uma cultura que antes lhe era recusada e ao mesmo tempo começou a tomar parte na vida profissional e na vida social. Agora não é mais exclusivamente esposa e mãe. Tornou-se mulher, isto é, ela mesma. C.M. -

Quais as modificações por que a família brasileira deve passar para se adaptar aos tempos atuais e continuar a ser família?

Pe. Charbonneau -

A primeira certamente seria uma modificação do conceito patriarcal para um conceito igualitário, nesse sentido de que não exista o marido "chefe supremo", a mulher submissa e os filhos mais submissos ainda. A segunda seria a vitalização do conceito de amor, para abrir aos jovens as verdadeiras dimensões desta realidade. A terceira seria o despertar do senso de fidelidade, no sentido mais amplo da palavra: fidelidade a si mesmo, a seus ideais, a seus deveres, de forma a ser capaz de subseqüentemente vincular-se de fato à vivência do amor e à da fidelidade. Em quarto lugar, despertar nos jovens o verdadeiro conceito da indisso.lubilidade do matrimônio, que não é um imperativo meramente jurídico e extrínseco à lei moral, mas é o da própria essência do amor, pois que a análise existencial deste revela uma tríplice vinculação entre amor - fidelidade - indissolubilidade. Em dezembro de 1971 a CM o entrevistou; seus pontos de vista daquela ocasião permanecem atuais e vibrantes. Sem querer repetir perguntas, pediríamos que enviasse às E.N.S., uma mensagem para este dezembro, quando se encerra, no Brasil, o ano dedic!;ldo por nossos Bispos à família. C.M. -

Pe. Charbonneau -

A mensagem é que nós temos que estar voltados para o futuro e nos esforçarmos para vencer a nostalgia, o saudosismo inúteis, para encontrarmos formas novas de apresentar aos jovens verdades eternas, incluindo entre elas o valor essencial do amor e da família. -16-

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A

PESQUISA

DA

C. N. B. B.

Durante este ano, os equipistas receberam, para reflexão e estudo, o "Roteiro de Reflexão sobre a Família", elaborado pela C.N.B.B. Enquanto se aguarda a compilação final dos dados colhidos, pedimos a Alda e Teófilo, da Equipe n9 2, Casal Coordenador da Comissão do Ano da Família, que nos dessem uma idéia dos resultados alcançados até outubro por este trabalho. Eis a carta que deles recebemos:

Prezados amigos equipistas, Como vocês já sabem, a CNBB proclamou o presente ano o "Ano da Família", objetivando uma conscientização maior dos problemas da família e uma preparação para a pastoral familiar, cujas diretrizes básicas foram estudadas em Itaici, em outubro p.p. Foi formada uma Comissão em que havia um casal representando cada um os vários grupos que se dedicam ao assunto família : M.F.C., Encontro de casais com Cristo, Unicor (casais operários), Escola de Pais, Cursilho, ENS, e um casal representante da Pastoral familiar em nossa Arquidiocese. Recebemos cerca de mil respostas aos temas enviados pela C.N.B.B. e sabemos que muitos grupos continuam a estudá-los; dada a natureza das perguntas, que implicavam em respostas quase dissertativas, foi um número satisfatório. Continuam a chegar contribuições não só individuais, como de equipes e também de grupos maiores. A Província de Ribeirão Preto, por exemplo, apresentou, em conjunto, suas sugestões para a Pastoral Familiar.

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Os temas, oito ao todo - um para cada mês, entre março e outubro - foram regularmente fornecidos pela CNBB e adequadamente distribuídos. As ENS o fizeram com a Car ta Mensal. As paróquias, dioceses e províncias eclesiásticas promoveram reuniões para meditação e debates dos temas. Aqui, é claro, houve altos e baixos. Algumas nada fizeram, outr ~s produziram muito. Merece destaque a Província de Ribeirão Preto, em que todas as dioceses promoveram reuniões próprias e, finalmente , uma assembléia interdiocesana em Barretos. Nesta reunião, todos os senhores Bispos e coordenadores da pastoral compareceram , juntamente com os casais representativos de cada diocese, e participaram efetivamente de todos os trabalhos, em ambiente de muita união e cordialidade, propiciando uma confortadora visão da Igreja de Cristo. Na Arquidiocese de São Paulo, tivemos seis reuniões, a saber : Norte, Sul, Leste e Oeste, e Centro, duas vezes. Sofremos aqui os já clássicos problemas da "cidade grande". Basta dizer que o nosso "Centro" vai, a grosso modo, do Tietê ao Pinheiros e do Ipiranga à Vila Pompéia! A dificuldade de se dar "organicidade" a esse todo urbano gigantesco é bastante conhecida e refletiu-se também nos trabalhos do Ano da Família. Os movimentos familiares, por sua vez, incluídas as ENS, embora com vitalidade própria, não estão estruturados segundo as paróquias, os setores e os vicariatos episcopais. O resultado, foi, salvante uma ou outra exceção, um comparecimento sofrível a essas reuniões, as quais, não obstante, também produziram alguns frutos. Esses encontros, como as respostas aos temas, além dos sentimentos comuns à maioria, revelaram idéias bastante originais. Foram colhidas manifestações em todo o Estado e em todas as classes sociais, e não apenas de casais, porém também de jovens e de sacerdotes. Muito interessante foi a contribuição de mais de trezen: os jovens, cujas opiniões foram colhidas por alguns casais em reuniões específicas de jovens ou em reuniões de jovens e adultos. Estas reuniões, poucas, infelizmente, foram tão positivas que alguns casais se propuseram a continuar a promovê-las; já que somos um movimento familiar, não podemos deixar de trabalhar com nossos filhos. Para não nos alongarmos em demasia, gostaríamos de abordar apenas duas impressões dominantes. A primeira é a de que, considerando-se que a "Igreja particular" - que contém em si todas as características essenciais da Igreja Universal - forma-se em -18-

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torno do bispo, é urgente e indispensável que os movimentos familiares tenham uma vivência prática, e não apenas teórica, em maior contato com seus pastores. É preciso também conseguir uma união maior, uma cooperação de todos os movimentos familiares entre si; já se esboça um primeiro passo nesse sentido na equipe de coordenação do Ano da Família. A segunda é a de que as famílias, e não apenas os casais, precisam estar permanentemente abertas a todos os probl~mas ; humanos, não se satisfazendo apenas com a solução dos seus ~ próprios problemas. Vale dizer: as famílias não devem pertni- tir que o seu cristianismo se exaura dentro das lides familiares,. mas devem olhar para fora, para as misérias do mundo, devem 1 sensibilizar-se diante delas e agir, na medida em que puderem 1 fazê-lo, para minorá-las e promover a pessoa humana, e toda a ~ humanidade. Por hoje, ficamos por aqui. Um abraço de

Alda e Teófilo

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"~ necessano levar em conta os valores fundamentais- quea doutrina da Igreja assinala à família cristã, para que a açãcr pastoral leve as famílias latino-americanas a conservar ou adqufrir esses valores que as capacitem a cumprir sua missão.

Entre eles, dentro da linha de reflexão dessa Conferência, queremos destacar três especialmente: a família formadora de pessoas, educadora na fé, promotora do desenvolvimento". (li Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano - Medellin - Doc . final zi9 2)

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A FAMíLIA DE AMANHÃ A ORIGEM DA FAMíLIA

Muitos anos atrás, tendo criado os céus, a terra, os mares, ·as plantas e os animais, Deus pegou um pouco de barro, mode~lou-o, soprou-lhe vida: estava criado o homem. Pesando-lhe a :solidão, Deus lhe deu uma companheira. Estava formado o primeiro casal, .iniciada a primeira família. Logo mais apareceria · também o primeiro problema conjugal, ao dar ouvidos Eva a · certa serpente. Pouco mais tarde, completava-se a família ao nascerem filhos. Surgiram também os problemas de educação e \O primeiro delinqüente juvenil. A FAMíLIA DO PASSADO

Durante muito tempo, a família confundiu-se com a sociedade patriarcal que pouco mudara desde os tempos de Abraão até o fim do século 18, sobrevivendo ainda em muitos lugares, no século 19 e mesmo no nosso século 20. A família do passado era essencialmente rural. Morava no campo e vivia da terra. As famílias eram numerosas, os filhos desejados, pois seriam mais braços para a terra. Essa família era basicamente pobre. Todo o esforço de seu trabalho, intenso, penoso, destinava-se a obter da terra o alimento para seu próprio sustento, muitas vezes insuficiente ou deficiente, materiais para a confecção de abrigos e agasalho contra as intempéries. A habitação era precária, as doenças freqüentes, a mortalidade alta, devido à falta de higiene, à constância das epidemias, <ias guerras, dos cataclismos. A duração média da vida era de 25 a 30 anos. Casava-se cedo, morria-se cedo. Um casamento durava em média 15 anos. Antes dos 14, via de regra, as crianças tornavam-se órfãs. O homem que conseguia sobreviver tornava-se o chefe da família, responsável pelo patrimônio, a terra, e pela transmissão <ias tradições, a soma da experiência acumulada e sempre válida, já que havia pouco desenvolvimento tecnológico, pouao progresso. Arava-se a terra no século 19 como nos tempos bíblicos, a habitação não era mais confortável que a dos romanos. -20-

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A instrução era rudimentar, os conhecimentos se transmitiam de pai para filhos. Esse tipo de família era muito estável. Sua função principal era a auto-preservação, e o aumento do patrimônio, representado exclusivamente pela terra e por alguns animais.

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O casamento, via de regra, visava a ampliação do patrimônio pelo dote e a da mão-de-obra pelos filhos. A morte prematura do pai permitia ao filho herdar cedo, transmitindo-se rapidamente de uma geração para outra a responsabilidade da direção do grupo e a tecnologia quase invariável, baseada na experiência, na tradição, cujo valor era imenso. Seus depositários, os mais velhos, gozavam de grande respeito e veneração. Os pais dispunham de enorme autoridade sobre os filhos, as mulheres eram relegadas a um plano inferior. A FAMíLIA NA ERA INDUSTRIAL

A revolução industrial, iniciada em fins do século 18, e que em muitos países continua até hoje, rompeu a imobilidade da sociedade rural e da família patriarcal e começou a transformá-la profundamente. Surgiram as novas modalidades de energia, o vapor, a eletricidade, o petróleo, surgiram as fábricas nas cidades, ainda pequenas, apareceu a necessidade de mão-de-obra para essas fábricas, começou o êxodo rural para as cidades em busca dos empregos oferecidos. Filhos abandonavam o centro hereditário, a terra, a família tradicional, e iam morar nas cidades, constituindo lá nova família.

Esta nova família industrial, urbana, tem características novas. O emprego do pai é vinculado à indústria. O trabalho árduo, penoso, mal remunerado. Seus proventos, em geral insuficientes para o sustento da família, obrigam mulher e filhos a trabalharem também. É a sociedade descrita por Dickens, por Zola. A habitação, precária, insalubre, promíscua, a mortalidade ainda alta. A tecnologia começa a evoluir e não mais se transmite unicamente de pai para filho, mas sim de mestre para aprendiz. Começa a diminuir o prestígio dos velhos, aumenta a influência . da mulher, de maior presença no lar. Os filhos escapam da Jamilia ao começarem cedo a trabalhar, às vezes em outro local, ao se casarem e ao fundarem nova família. Começa a progredir a medicina, surge a vacinação, e aumenta a duração média da vida para 40/50 anos. Devido às dificulda-

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des econômicas, passam os rapazes a casar mais tarde, por volta dos 30 anos. A vida conjugal dura em média 20 anos. A FAMíLIA NA SOCIEDADE PóS-INDUSTRIAL

Vivemos agora a era pós-industrial; na maior parte do mundo, a fase é de transição; no Brasil, ela mal começa nos grandes centros. A industrialização acelerou-se, a tecnologia progrediu em ritmo cada vez mais rápido, produtos e métodos hoje correntes eram desconhecidos há vinte anos, por vezes há dez. Surgiu primeiro a mecanização, depois a automação. Diminuiu o horário de trabalho, ele tornou-se menos penoso, suas condições melhoraram consideravelmente em termos de segurança, de higiene, de eficiência. Aumentou o nível dos salários, aumentou o poder aquisitivo, aumentou o número de produtos oferecidos, surgiu a semi-afluência. Os novos empregos requerem mais conheciment os, mais instrução. Amplia-se o ensino público, a escolaridade obrigatória. Multiplicam-se as universidades. A mulher não se contenta mais com o papel de dona de casa, €studa para ter uma profissão e a exerce, assumindo um papel -cada vez mais importante na sociedade. ·Progride consideravelmente a medicina, reduz-se a mortalidade infantil, aumenta a duração média da vida para 50/65 anos. Os filhos começam a trabalhar mais tarde, aos 14 ou 18 anos, casam por volta dos 25. A duração da vida conjugal aumenta em média para 30/40 anos. Melhora o nível de habitação, aparece e desenvolve-se a procura do conforto - é a "sociedade de consumo". Com a tecnologia em contínua evolução e transformação, sua transmissão não mais se faz de pai para filho nem sequer de ·mestre para aprendiz. Ela se transmite na escola e na empresa. Muda o papel, o conceito de pai, desaparece o respeito e a veneração pelo velho - embora aumente o número de velhos. As crianças descobrem rapidamente o mundo e suas novidades e tendem a escapar ao controle dos pais. A luta pelo "status" impede que os pais dediquem a atenção necessária à ·educação dos filhos. A mudança de padrões de comportamento foi tão rápida que não tiveram tempo de adaptar-se e as crises multiplicam-se, principalmente na adolescência. A religião é "coisa do passado" ou "superstição". A ausência de· valores morais e da procura de um objetivo espiritual, a fas.,- 22-

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cinação pelo mundo material, a influência dos meios de comunicação, criam tensões e desajustes que culminam, muitas vezes, com a dissolução da vida conjugal. A ausência física ou moral dos pais leva à insegurança dos filhos, que partem para a delinqüência e os tóxicos. É a "crise da família", que vinha sendo preparada desde a era da sociedade industrial, e que estamos vivendo hoje em toda a sua agudez. A FAMíLIA DE AMANHÃ

A era pós-industrial em alguns países já está desabrochando no que alguns chamam de era tecnotrônica, que provavelmente estará firmemente implantada dentro de vinte e poucos anos, ao chegarmos ao ano 2000, talvez antes mesmo.

I~

A automação terá se estendido ao setor terciário, escritórios, serviços; só existirão empregos exigindo alto grau de tecnologia ou sofisticação. Com novos progressos da medicina, a mortalidade ter-se-á reduzido ainda mais e a duração média da vida atingirá a faixa dos 75/85 anos. Embora diminua a natalidade, aumentará consideravelmente a população. O número de empregos não crescendo proporcionalmente, mas, pelo contrário, tendendo a diminuir com a automação, reduz-se consideravelmente o horário de trabalho e a duração da vida de trabalho. Começa-se a trabalhar mais tarde, e aposenta-se mais cedo, talvez aos 50 anos. A semana de trabalho será reduzida a 30 horas, talvez 24... Pode-se imaginar empresas trabalhando com dois grupos de empregados, trabalhando em três turnos, cada um durante três dias apenas, folgando quatro dias por semana ... As cidades crescem e se estendem extraordinarü1mente, englobando cidades vizinhas. Surgem as megalópoles, como a que se prevê indo de São Paulo ao Rio de Janeiro. Muitas firmas ou empresas, entretanto, abandonam as cidades grandes e mudam-se para cidades menores, ou para lugares isolados e distantes, no campo ou ao longo das rodovias. Toda a população estará motorizada e habitará locais distantes do trabalho, em conjuntos habitacionais. Muitos possuirão residências secundárias, no campo, na praia ou na montanha. As condições do novo trabalho, as dimensões das empresas, cada vez mais multinacionais, exigirão uma mobilidade cada vez maior da população, que mudará com freqüência de cidade, de país.

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O tamanho da família reduzir-se-á consideravelmente. De "família", terá muito pouco. Será uma justaposição de pessoas sob o mesmo teto enquanto for necessário, i.e., enquanto os filhos forem pequenos. Assim que crescerem, sairão de casa para estudar em escolas, universidades, freqüentemente distantes e, muito provavelmente, não retornarão à casa dos pais. Crescem os problemas do ócio, do lazer, da solidão. Que fazer com o tempo que sobra, o excedente da semana de trabalho reduzido, o tempo depois da aposentadoria, que poderá se estender por 30 anos ou mais? Aumentará o tempo de vida conjugal para 50 anos ou mais, e principalmente o tempo de vida conjugal após a partida dos filhos. Como será essa vida conjugal? Haverá dificuldades a vencer, um novo estilo de vida a construir. A indissolubilidade do casamento, já seriamente abalada na sociedade atual, será freqüentemente posta em xeque. A própria instituição do casamento, já questionada em nossos dias, estará cada vez mais ameaçada pela mobilidade, pelas tensões, pelos desajustes, pelo materialismo. Teremos uma sociedade muito próspera, mas não teremos uma sociedade feliz.

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A FAMíLIA CRISTA

Esta sociedade que antecipamos talvez possa ser diferente se sobreviver e evoluir a família cristã. No ano 2000, a família cristã talvez seja a única que mereça o nome de família. A despeito do materialismo, da prosperidade crescentes e talvez por causa deles, o homem sentirá cada vez mais agudamente a necessidade do espiritual. Caberá aos cristãos que receberam a Palavra, responder à sua busca. Para preparar-se para essa missão, o cristão deve redescobrir os verdadeiros valores da família, em termos de comunidade de fé, de amor e de esperança, em termos de depositária não de uma tradição formal, mas de uma experiência de vida. A família cristã deverá dar o testemunho de que os valores materiais só são válidos em função de um objetivo espiritual. A família cristã deverá ser o ponto para onde convergem todos os que buscam um relacionamento humano, todas as solidões - que serão muitas. Deverá ser verdadeiramente um "focolare", o lugar onde arde uma chama, talvez a morada privilegiada onde se poderá encontrar Deus. O Filho de Deus veio ao mundo numa família. No fim dos tempos, talvez seja na família que seu Reino desabrochará. Gérard F. Duchêne

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! ~t.


ENTARDECER

Vem sentar-te junto a mim, mulher. O banco, ali, frente à casa, nos convida a uma pausa; bem que tens o direito. Quarenta anos faz, dentro em pouco, que estamos juntos. Neste entardecer, na claridade deste dia ameno, que é também o entardecer de nossa vida; bem mereces, vês, um momento de repouso. Os nossos filhos já estão casados e foram-se por este mundo; e eis que estamos de novo sós, os dois, como no primeiro dia. Lembras-te, mulher? Nada tínhamos para começar, tudo estava por fazer. Enfrentamos a tarefa; mas é duro; é preciso coragem e é preciso perseverar. ~

preciso amar.

E o amor não é o que pensamos no começo .

Não é somente os beijos trocados, ou as palavras meigas que, baixinho, pronunciamos ao ouvido; ou sentir-se aconchegado um ao outro. O tempo da vida é longo, o dia das só depois, lembras-te, só núpcias é somente um dia depois é que a vida começou. ~ preciso construir e o que fizemos se desfaz; r

é preciso tornar

a construir e novamente se desfaz.

Vêm os filhos; é preciso dar-lhes de comer, vesti-los, educá-los; é um nunca acabar. E ficam doentes; tu ficavas de pé a noite toda, eu trabalhava da manhã à noite. Por vezes a gente desespera; os anos passam e a gente não avança e, quantas vezes, parece que voltamos atrás.

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Lembras-te, mulher? ou já esqueceste? Quantas inquietações, quantos desgostos; mas tu aí estavas. Permanecemos fiéis um ao outro. E assim pude me apoiar em ti e tu te apoiavas em mim. Tivemos a sorte de ficar juntos e juntos nos pusemos à frente do labor; e juntos enfrentamos a dureza dos dias. E resistimos. O verdadeiro amor não é aquilo que pensamos. amor não é de um só dia; é de sempre.

O verdadeiro

~ ajudar-se, é compreender-se.

E pouco a pouco vemos que tudo se acomoda. Os filhos cresceram e seguiram o caminho reto. Tínhamos dado o exemplo. Consolidamos os alicerces da casa. Que todas as casas do país sejam sólidas e o país todo, também ele, será sólido. Por isso, deixa-te ficar aqui a meu lado e olha. ceifar; é tempo de colher.

~ tempo de

Olha a tarde como é rósea; e a poeira cor de rosa que sobe por entre as árvores. Apoia-te bem junto a mim; não digamos nada; já não precisamos falar. Só precisamos estar juntos ainda um pouco e deixar que a noite venha, no contentamento da tarefa cumprida. C. F. Ramuz

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QUANDO OS JOVENS PERDEM A FÉ ...

Quantas vezes ouvimos casais lamentando: nossos filhos não querem mais saber de ir à missa, não sabemos o que fazer. . . Para esses pais, o Pe. Zezinho tem uma mensagem. Pareceu-nos tão importante que pedimos permissão Mpecial à redação da revista "Família Cristã" para, excepcionalmente, reproduzir o artigo publicado no número de agosto de 1974.

Há muitas coisas na vida de um f ilho que podem causar pânico e angústia a um coração de pai. Das mães então nem se fala! Os jovens costumam ter atitudes que realmente não cabem na lógica de ninguém, muito menos na de um coração de pai ou de mãe, que raramente depende de raciocínios lógicos. Amor de pai e de mãe é espontâneo e reage com a mesma espontaneidade com que os filhos costumam agir. Daí porque educar um filho é tarefa bem mais complexa do que os livros costumam sugerir. Exige paciência e muito, muito, muito amor e confiança em si e nos filhos. Acho que falei demais para uma pequena introdução, mas era importante. Vou tecer algumas considerações sobre um problema que às vezes, por falta de paciência ou de tranqüilidade dos pais, acaba se tornando uma tragédia familiar. Vou falar dos jovens que perdem a fé. Se os pais entendessem o que um adolescente ou um rapaz de nível universitário quer dizer quando diz que não acredita em Deus, ou na Igreja, ou em cumprir os deveres religiosos, muito sofrimento seria evitado. Não adianta nada a atitude -27


severa e agressiva de alguns pais que detectam nisso uma agressão ou um desafio. Nem adianta a lamúria e o ar de vítima de certas mães, que não escondem sua decepção, chegando mesmo a fazer chantagens para que os filhos voltem a ter fé. Este não é o caminho. Pelo contrário, este às vezes é exatamente o motivo que os fez "perder a fé". É que os jovens costumam, a partir de certa idade, desenvolver o senso crítico e descobrir uma série de mentiras e incoerências no mundo que os cer ca. Se essas mentiras se tornam tão claras que já nem admitem explicação, eles partem para uma rejeição completa de tudo o que antes parecia certo, absoluto, seguro e direito. Ora a religião pretende ensinar a verdade, o absoluto, o seguro e o direito: logo - eles rompem com aquilo que manteve uma mentira por tantos anos.

Não quer dizer que eles estejam com a razão quando assim se expressam, mas é preciso ser honesto e admitir que um adolescente ou um jovem universitário tem muitas razões para duvidar da eficária da religião ou até da necessidade da mesma. Há tanta gente acomodada, tanta gente interesseira e tantas famílias desgovernadas falando em Deus e em fé, enquanto vivem de agressão e desamor, que eles só podem concluir que religião é disfarce, fuga, enfeite ou coisa que o valha. Coisa que eleva é que não aparece aos olhos deles. Consciente ou inconscientemente, o jovem é um crítico terrível do status quo e, quando a religião não é vivida pela maioria das pessoas que ele conhece, é claro que suas conclusões não podem ser positivas. Daí porque de vez em quando o jovem não quer saber de coisas de Igreja, nem de Deus, e duvida com toda a sinceridade, e quase sempre com o máximo respeito, de Jesus Cristo, em quem ele vê um homem extraordinário, mas no qual, segundo sua incipiente lógica de jovem, não é possível crer. É bom que os pais aprendam a respeitar esse tipo de crise nos filhos, pois não é nada fácil , nem para eles, ficar fazendo perguntas tão angustiantes que quase n inguém responde. E quando respondem é com evasivas, como no caso do padre que o jovem interpela e o santo homem de Deus acaba mandando o moço rezar para ter fé. Se ele já não tem fé, como é que vai rezar para ter aquilo que não o deixa rezar? ...

As vezes a falta de fé pela primeira vez o rapaz . interior. As vezes a recusa constitui numa tentativa de

na juventude é um sintoma de que está se preocupando com uma vida de participar de um ato religioso se entender o porque daquele ato. Em ___; 28 -


muitos casos o não de um jovem a Deus ou a Jesus Cristo é o começo de um sim à vida, ao amor e a uma religião mais coerente. Feita essa descoberta, o sim a Deus e a Jesus Cristo se torna muito menos hipócrita ou superficial do que o de muita gente que nem tem a coragem de se questionar. Há pais que estragam tudo quando impõem à força a fé que professam. Se tivessem tido paciência para trocar idéias, rezar pelos filhos, lançar perguntas, fazer um convite amigo que não seria levado a mal quando recusado, teriam talvez ajudado os filhos a descobrir uma dimensão madura de relacionamento com Deus, que na juventude é bem mais difícil de acontecer. Mas como há pais que praticam uma religião infantil, não admira que tornem ridícula a fé aos olhos de um filho que está fazendo objeções e perguntas a um casal de cristãos que tem medo de ficar confuso. Há uma certa idade em que convém disciplinar os filhos e ensinar a eles o caminho da Igreja. Depois da adolescência porém e durante a juventude, eles já sabem o caminho. O que falta é carinho e paciência. Até hoje não conheci nenhum filho que fizesse pouco caso de Deus ou de Jesus Cristo ou da religião dos pais, quando esses pais souberam levar a sério e respeitar com muito carinho a crise de fé dos seus filhos. Não posso dizer o mesmo daqueles que eram tão católicos, tão católicos, que se esqueceram de ser cristãos e respeitar a crise dos filhos. Há uma única forma de ensinar religião aos filhos: respeitar sua busca de Deus. A certa altura os caminhos acabam se encontrando. Nunca perca a fé num filho que perdeu a fé!

Pe. Zezinho, scj .

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UM EXEMPLO DE CHEFE DE FAMíLIA

Neste ano dedicado à família , gostaria de apresentar aos prezados amigos equipistas, principalmente aos mais jovens, que não o conheceram, bem como trazer à lembrança dos mais antigos, alguém que deu um maravilhoso testemunho de chefe de família e de homem de Deus. Trata-se de V icente Melillo, meu sogro, falecido há cinco anos, em outubro de 1969. Conheci-o há pouco mais de trinta anos, quando me tornei noivo de sua filha Pérola. Quem de fora entra, como foi o meu caso, para uma família, tomando conhecimento assim de-repente com u ma r ealidade tão rica de valores, sofre um impacto que aos demais familiares não é dado experimentar, acostumados que foram , desde pequenos, a viver em tal atmosfera privilegiada. Por isso é que fiz questão de escrever estas palavras sobre o meu sogro. Se o fossem por minha mulher, traduziriam certamente o seu grande amor filial e a sua admiração; sendo-o por mim, dirão , além disso, da impressão causada por esta grande figura, do testemunho que dele recebi. Vicente Melillo foi um homem de princípios austeros e de uma forte personalidade. Impressionava pela sua autenticidade e não lhe faltava coragem para dizer a verdade, para transmitir o que acreditava, a quem quer que fosse. A respeito do que julgava ser de seu dever falar , nunca se omitia, mesmo que isso pudesse acarretar-lhe alguma antipatia, ou a perda da amizade dos poderosos. Não andava à procura de tais coisas, desprendido que era inteiramente. Não conheceu o medo e a covardia. E assim, possuía uma independência e liberdade difíceis de ser encontradas hoje em dia. Já no que se referia à obediência às diretivas da Igreja hierárquica, a sua submissão era total. Desde pequeno teve a preocupação do apostolado, ensinando catecismo às suas irmãs - que mais tarde se tornaram freiras. Exerceu, como poucos, a missão profética, fazendo conferências e pregando retiros, até para seminaristas. E isto, como leigo e casado, o que, naquela época, constituía uma raridade.

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O centro de sua atividade religiosa foi o amor do Cristo na pessoa do pobre. Vicentino exemplar, fundou a "Assistência Vicentina aos Mendigos", que socorre grande número de pobres de São Paulo, nos asilos de Vila Mascote (Santo Amaro) e de Bussocaba (Osasco) e na sede central, também construída por ele, no bairro de Santa Cecília. Mostrando-se completamente desapegado do dinheiro e vivendo ele mesmo o conselho evangélico da pobreza, doou a maior parte dos seus bens para a construção desses asilos, que ocupam grandes áreas de terrenos que foram de sua propriedade. Mas, muito mais que isso, doava-se a si mesmo, exercendo durante muitos anos, em tempo integral, o serviço aos pobres, sem nenhuma remuneração material. Era também homem de oração, de fé profunda e grande piedade eucarística. Moço ainda, casou-se com Dna. Regina. Não poderia ter escolhido melhor esposa. Tive a ventura de conhecê-la bem. Era também grande amiga dos pobres, humilde e submissa ao marido, dotada de excepcionais dons artísticos, sobressaindo-se mais como poetiza. Mas a qualidade que mais me impressionou nela foi uma profunda bondade. Coadjuvado por tão santa esposa, o Dr. Melillo pôde formar um lar maravilhoso com seus oito filhos, um dos quais abraçou o sacerdócio e hoje é o Bispo de Piracicaba, e outra que se consagrou à vida religiosa. Cada filho deste casal, porém, é um tesouro que Deus criou e colocou, para se formar, no estojo desse lar. Eu tive a felicidade de escolher, para minha companheira, uma das pedras desse tesouro ... Os excepcionais dons que recebeu de Deus e que o tornaram um santo homem, não alteraram a sua natureza de pessoa normal. Como qualquer outro, teve de trabalhar para assegurar o sustento da família, e o fez com muita dedicação, nunca visando em primeiro lugar o ganho, antes encarando o trabalho como um serviço ao próximo. Na sua juventude, trabalhou nos escritórios da Companhia Mogiana, em Campinas. Depois de casado, transferiu-se para São Paulo, onde cursou a Faculdade de Direito e a de Filosofia de São Bento. Exerceu a advocacia brilhantemente, sempre com o mesmo desassombro e independência. Nunca aceitou causa que considerasse desonesta ou injusta e defendeu inúmeras no interesse de cúrias diocesanas e de congregações religiosas, dispensando sempre, nesses casos, toda a espécie de retribuição. A Igreja não deixou, entretanto, de reconhecer o imenso trabalho que ele exerceu em prol da mesma, seja como advogado, seja pela sua dedicação aos pobres, o que fez com que a Santa Sé lhe conferisse a Comenda de S. Gregório Magno.

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Dr. Melillo era um orador veemente e inflamado, tanto no ';forum" como em qualquer discurso ou conferência que proferisse, fazendo com muita freqüência uso da palavra em encontros e solenidades de cunho religioso. Meu sogro não conhecia a ociosidade; estava sempre em atividade, e esta qualidade todos os seus filhos a h erdaram. Dedicava-se, nos intervalos de seu trabalho, a escr ever e a pesquisar dados históricos sobre a Igreja do Brasil, com a intenção de publicar um dia uma História Eclesiástica desta terra, o que, infelizmente, não teve tempo de concretizar. Tinha, além disso, uma natural tendência artística. Com muita facilidade produzia lindos sonetos. Mas o mais importante ocorreu nos últimos anos de sua fecunda existência. Havia perdido sua amada esposa havia já seis anos, quando recebeu o chamado de Deus, através do convite inequívoco do Sr. Cardeal-Arcebispo de São Paulo, para se tornar sacerdote. Respondeu com um humilde e resoluto SIM, tendo em vista melhor servir, como padre, os pobres, "sinal da Igreja de Cristo". Foi ordenado com 83 anos, em 1966, pelo seu próprio filho, Dom Aniger, Bispo de Piracicaba, constituindo-se isto num fato, penso, único na história. Foi capelão num dos asilos que fundou e faleceu após três anos, tendo celebrado mais de 1.000 Missas! Curioso é lembrar as palavras que Dom Paulo de Tarso Campos, na época Arcebispo de Campinas, e que era amigo de muitos e muitos anos do Pe. Melillo, nos disse, a mim e a minha mulher, a respeito de sua ordenação: "Todo padre se ordena primeiro e depois vai levar a sua vida de padre, mas o Melillo sempre viveu vida de padre e só agora é que é ordenado, como uma confirmação de toda a sua vida!" Aí está, em breve resumo, a vida de meu sogro e algo da impressão que sua pessoa me causou. Torná-la mais conhecida, através deste artigo, constitui para mim um preito de justiça à sua memória, um motivo de edificação para os caros companheiros de equipe e, afinal, um exemplo para todos de alguém que, sendo casado e vivendo como esposo e pai uma vida impregnada do Evangelho, se santificou. Cícero W ey de Magalhães Equipe nQ 1, Campinas

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A MULHER E A PROFISSÃO

Uma das conseqüências da vida moderna, deste nosso mundo em transformação, é o fato de a mulher assumir, cada vez mais, um trabalho fora do lar. Haveria um conflito entre a profissão e a missão de esposa e mãe? Como se sente, hoje, a mulher que trabalha e mantém ao mesmo tempo o seu lar? Lúcia e Nilson Machado de Oliveira são Responsáveis pelo Setor São Paulo/ D e coordenadores do curso de noivos da Igreja Nossa Senhora Mãe dos Pobres, no Butantã. Lúcia é professora de desenho cientifico e dirige a Sessão de Documentação da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Fomos entrevistá-la.

C.M. -Lúcia, há muito tempo que você trabalha?

Lúcia - Bem, eu sempre trabalhei - desde os tempos de solteira. Depois de lecionar alguns meses como professora primária, vim para cá. Comecei como aluna, continuei como funcionária e depois como professora. Hoje, tenho vinte e sete anos de profissão. C.M. - Como seu marido aceitou sua profissão? Lúcia - Quando fiquei noiva, já trabalhava há 8 anos e expliquei ao Nilson que gostaria de continuar exercendo a minha profissão. Ele relutou um pouco - vocês conhecem o sistema brasileiro - mas acabou concordando. Eu tinha o exemplo de casa: mamãe sempre lecionou e, depois que perdemos nosso pai, todos também passamos o trabalhar. C. M . - Quando seus filhos nasceram, como você conseguiu conciliar o trabalho com a educação das crianças? Lúcia- Mamãe ajudava bastante. Morávamos perto. Eu não podia ter empregada, fazia tudo em casa, mas ela cuidava dos meus filhos enquanto eu trabalhava. Tinha um menino e uma menina, hoje com 17 e 14 anos, respectivamente. Como professora de psicologia, mamãe tinha o raro dom de ajudar e de nunca interferir na educação das crianças. -33-


Mesmo assim, às vezes ficava meio puxado, principalmente quando eu amamentava - tinha que dividir o horário: ir para casa, voltar - naquele tempo eu trabalhava 6 horas (hoje, trabalho 8). Atravessei uma fase difícil também quando a menina passou uns tempos chorando de noite. Eu trabalhava muito cansada ... C .M. -

Você se sente realizada como profissional e como mãe?

Lúcia - Plenamente - e nem posso imaginar minha vida diferente! Gosto muito de minha profissão e nunca achei que interferisse com minha missão de mãe. As horas que passo longe de casa são compensadas pela atenção que dou aos meus filhos quando estou com eles. Principalmente agora na adolescência, embora passem bastante tempo fora de casa, acho que precisam mais da gente. Dou o máximo que posso, não só para eles mas também para os seus amigos. Nossa casa é até um ponto de reunião para onde trazem os colegas. C . M. - Como seus filhos consideram seus compromissos profissionais?

Lúcia - São muito compreensíveis e sinto que dão valor ao meu trabalho. As vezes eles vêm aqui para fazerem os seus desenhos -vêem de perto o meu trabalho, sentem o ambiente. Acho que isto é muito importante e constitui um incentivo. C . M. - Você disse que faltam três anos para você se aposentar. Pretende ficar em casa?

Lúcia - Talvez fique um pouco em casa, mas pretendo voltar logo a trabalhar. A minha especialidade hoje está muito valorizada e gostaria de poder continuar a ser útil. Acho que não vai ser difícil encontrar outro trabalho. C .M. -

Lúcia, talvez você seja um caso meio à parte: além do trabalho aqui e em casa, você ainda faz tanta coisa. . . E tudo com esta calma, este sorriso! Será que você é de ferro?

Lúcia - Bem, acho que está mesmo na minha natureza mim, quanto mais tiver que fazer, melhor . . .

para

C. M. - Você deve ser mesmo um caso à parte! Qual a sua opinião sobre a questão que muita gente se coloca hoje em dia: você acha que a mulher que trabalha se sente mais realizada?

Lúcia - Não pretendo ser espelho para ninguém - cada pessoa se realiza e se completa a seu modo. Acho que é uma questão de vocação. A mulher pode perfeitamente realizar-se -34-


dentro de seu lar. Penso que a mulher que trabalha fora tem os olhos mais abertos à realidade do mundo, por isso acho que a que fica em casa deve ter alguma ocupação - o que não quer dizer uma profissão - para abrir os horizontes. Há outros aspectos ainda. Para quem se limita ao lar, problemas caseiros podem assumir indevida importância- a pessoa acaba ficando bitolada naquilo. Mais importante: quando os filhos ficam moços e começam a sair de casa, a precisar cada vez menos da mãe, é bom que ela tenha uma ocupação - um trabalho, um apostolado - para evitar a depressão. Existe até uma terapia ocupacional. . . Além do mais, ainda há o fato de a profissão dar uma segurança à mulher: um dia ela pode precisar trabalhar. C. M. - Os movimentos de libertação feminina condicionam a realização da mulher a uma profissão, ou seja, a uma independência econômica. O que você diria sobre isso? Lúcia - A libertação, ou melhor, a realização feminina não pode estar condicionada a uma profissão. Penso até que em nossa sociedade, onde impera um certo "machismo", o fato de a mulher ter uma profissão e, conseqüentemente, uma independência econômica, pode trazer conflitos para o casal. C. M. - Além desse aspecto, você conhece casos em que a profissão da mulher tenha causado problemas na vida do casal e dos filhos? Lúcia - Sem dúvida. Principalmente quando a mulher encontra na profissão uma fuga das tarefas do lar e uma desculpa para não cuidar dos filhos, CUJOS cuidados delega a terceiros incompetentes. Também quando a mulher não tem condições físicas para aguentar ao mesmo tempo o trabalho fora e a lida caseira ou trabalha porque precisa mas não gosta do que faz ou, pura e simplesmente, preferia ficar em casa. Fica irritada, de mau humor, nervosa e o ambiente da casa inteira se ressente. As vezes a frustração chega a ser tão grande que não sei se compensa ... C. M. -

Como conclusão, o que você diria?

Lúcia - Acho que é preciso considerar no trabalho da mulher o aspecto "serviço". Todas nós temos dons específicos. Mesmo aquelas que têm vocação para dona de casa podem ter dons úteis para a comunidade. Penso que cabe ao marido não só respeitar a vocação da mulher, mas incentivá-la e mesmo ajudá-la a descobrir esses dons e colocá-los a serviço da sociedade. -35-


FAMíLIA

E

EQUIPE

Testemunho, escrito especia.lmente para esta Carta Mensal, por um casal muito querido por todos os equipistas. . . Mas respeitemos o anonimato que, com sua habitual modéstia, fez questão de conservar!

Nós tínhamos treze anos de casados e cinco (de nossos seis) filhos, quando passamos a pertencer ao Movimento das Equipes de Nossa Senhora. Hoje, com vinte e sete anos de casados, olhamos para aqueles primeiros dias com muita saudade (é certo) mas, - e principalmente -, com muita alegria pela oportunidade que tivemos de, como equipistas, crescermos espiritualmente, valorizando o sacramento do matrimônio colocado ao serviço da Igreja. Como casal, até aquela data, nós éramos cristãos "à moda da casa". A mulher mais dedicada aos filhos e aos cumprimentos dos preceitos religiosos e o marido um acomodado leitor de jornais e, por igual, um telespectador fanático. Era o que se podia dizer, na linguagem do mundo, uma vida normal. Aos domingos, íamos à missa. . . e de preferência nas mais "apressadinhas". A esse tempo, já tínhamos percorrido algumas cidades do interior morando um pequeno tempo em cada uma e nos encontrávamos em São Paulo com o "timinho" em "época de escola". Para completar o quadro, estávamos (como quase sempre e até agora) sem auxiliar doméstica. Assim, o convite para que tentássemos a experiência de casal equipista não foi aceito com muita facilidade. O "varão", de forma especial, achava que "as coisas iriam desequilibrar-se" e que "os filhos sentiriam nossa falta" nas noites de reuniões. 36-


Quando demos por nós, éramos equipistas. Aquelas primeiras indagações de pilotagem ("por que vocês entraram em equipe?" - "o que esperam encontrar?" - etc.) nos apanharam sem resposta concreta. Fomos maneirando, mas gostando e nos conscientizando da validade da experiência. Na ante-véspera do desligamento do Casal Piloto, fomos eleitos Casal Responsável. Fogo, minha gente! O primeiro C. Responsável de uma equipe é assim (como diremos?!) um Zagalo sem Pelé no time. Havia, então, a necessidade de mais uma reunião por mês, a preparatória com a presença da gente. Nisso, soubemos que o C. Responsável deveria comparecer a um encontro nacional e atender a convocações do responsável do setor e do Casal regional. O "telespectador" e "leitor de jornais" estava tranquilo ... mas a esposa começou a ficar assustada. Descobrimos, a essa altura, a importância dos meios de aperfeiçoamento (em concreto). Partimos para o "dever de sentar-se" bem feito. Perguntávamo-nos: - "será que essas saídas não implicarão em prejuízo dos filhos? - será que eles irão compreender a razão de ser de nossos engajamentos?" - e uma porção de outros "será?". Os "amigos" e alguns parentes nos diziam que não deveríamos sair tanto. Nossa consciência nos dizia que o importante não era tanto sair ou ficar e sim a razão pela qual sairíamos ou ficaríamos mais em casa. Se fosse para ficar lendo jornal, ou vendo televisão, a "coisa" estaria furada, uma vez que a tão só presença física não teria maior significado. Se fosse para sair, como "fuga" (a danada da evasão) . . . o furo seria o mesmo. O importante seria ficar para construir ou sair para construir. A opção teria que ser feita nesses moldes. Auxiliados por muita oração, encontramos uma solução que para nós foi ótima: - sair estando presentes. Pode parecer um paradoxo de Chesterton ... mas foi isso mesmo. . . Em nossos muitos misteres apostólicos, assumidos desde então, nós sempre que saíamos continuávamos presentes com e em nossos filhos, porque lhes dizíamos onde íamos e porque íamos, solicitando a cooperação deles. Nunca mas nunca mesmo -, eles puderam supor que nos fossem pesados e que saíamos para "descansarmos" deles ou porque não os amávamos suficientemente. Aliás, nossas saídas eram uma forma de enriquecermos nosso lar. As experiências vividas, as lições adquiridas, tudo isso era colocado ao serviço de nossa igreja doméstica que já estava se enriquecendo, de resto, com os meios de aperfeiçoamento propostos pelas equipes. Assim foi, por exemplo, o que ocorreu -37-


ao tempo de nosso sexto filho "temporão". Nossa "população" já estava crescidinha quando estava para nascer o "caçula definitivo". A notícia foi dada ao "povão" durante a oração em família que sempre fizemos diante do Cristo, à noite. Ao saber da notícia, nossos dois filhos mais velhos se comprometeram a ser os padrinhos do "esperado" (e são, para valer). Os engajamentos foram se somando: pilotagem, casal de ligação e, a partir daí, tudo quanto é missão dentro do Movimento, curso de noivos, palestras para jovens, papos com seminaristas, palestras nos "Encontros de Casais com Cristo", integrantes da equipe de pastoral da paróquia, curso de preparação para o crisma, curso de Espírito Santo, auxiliares do vigário nos misteres da missa, "quebradores de galhos" nas dificuldades dos membros da comunidade .. . "e sabemos mais lá o que". Puxa, como nos enriquecemos! A coisa mais fabulosa é constatar que pudemos ser úteis com a ajuda de Deus. Nós não somos nada, mas do pouco que demos, recebemos tudo devolvido ao centuplo. Neste ano da família, estivemos dando uma "retrospectiva" no que tem sido nossa vida de casal cristão e, com muita alegria, descobrimos que a equipe foi, para nós, aquela "schola" à qual se refere o Côn. Caffarel. É nela que, mês a mês, voltamos para nos reabastecermos e podermos voltar a trabalhar pela grande Igreja. É ela o nosso ponto de apoio e o nosso estímulo, dando-nos o "élan" espiritual de que carecemos. No começo, tínhamos "vergonha" e (por que não dizê-lo?!), até medo de respondermos sempre afirmativamente, nas partilhas, a todos os meios de aperfeiçoamento. Pensávamos que poderíamos, com isso, passar por "pedantes", "carolões" ou, até mesmo, provocar "impactos negativos" no crescimento daqueles que não estariam encontrando tanta "facilidade" para crescer. Afinal, concluímos que o importante era continuar sendo fiéis ao Cristo e autênticos. Para nós, também, as facilidades não eram muitas. A falta de tempo (oh!, a falta de tempo!) era uma realidade e não uma desculpa. Acontece que tínhamos colocado as mãos no arado. . . e importava seguir sem olhar para trás. A oração em família, por exemplo, foi do terço ao comentário de um trecho de livro religioso, da Salve Rainha ao Pai Nosso, com a presença de todos quando possível, de número menor quando alguns passaram a ter aulas à noite. . . mas continuou sendo realizada com o mesmo espírito de união no Cristo. Assim o tema, assim o "dever de sentar-se", assim a leitura meditada do editorial, assim a meditação diária (o "leitor de jor-38-


nais", das 11,30 ao meio-dia, manda dizer que não está em casa), assim a regra de vida, assim a ascese, assim a leitura da Bíblia ... Esse esforço de crescimento serviu para toda nossa pequena igreja. A "ecclesiola", com a ajuda divina, está, toda ela, engajada. Nossos filhos participaram e participam de encontros de jovens. Nenhum deles, de forma alguma, nos deu "dor de cabeça". São, todos eles, cumpridores dos preceitos religiosos e estão ao serviço da comunidade. . . Para alegria nossa, em nossas bodas de prata (missa com texto preparado pelo Cons. Espiritual de nossa equipe), nós os tivemos ao nosso lado, no altar, unidos aos casais irmãos das Equipes que participavam da cerimônia, dando, em comum, graças ao Senhor que nos proporcionou tantas e tão generosas bênçãos. Para coroar este Ano da Família, fomos indicados para pilotar uma equipe de "casais brotinhos" (têm, aproximadamente, a idade de nosso filho mais velho) e estamos nos remoçando com eles. É uma "delícia" a gente poder olhar para aquelas "esperanças" da Igreja e ter a certeza que, orando em comum, eles serão fermento na massa, sal e sol do mundo. Novas famílias engajadas no Amor.

"Esperamos contar com famílias que, em ambiente de afeto, respeito e confiança, formem pessoas equilibradas para a sociedade, realizem a "ecclesia doméstica" pela educação na fé de seus membros, principalmente crianças, adolescentes e jovens, e promovam o desenvolvimento integral da pessoa humana e da coletividade . Da família educadora na fé à qual queremos prestar nosso apoio e a juda, esperamos a primeira e melhor catequista de seus filhos. Como célula e porção da grande comunidade eclesial, nela repercute, com força e autenticidade, tudo quanto constitui a própria essência da Igreja: o anúncio da palavra, a oração comunitária, a proclamação da fé, o amor fraterno traduzido especialmente na ajuda mútua, a procura de Deus e a busca da Salvação . Nela nascem e amadurecem as vocações para os diferentes ministérios da Igreja e nela encontra seu lugar o compromisso dos leigos em favor da Igreja" . (Do documento da XXII Assembléia da C . N.B .B ., fevereiro de 1973)

-39


NÃO

TENHO

TEMPO

Sabe meu filho , Até hoje não tive tempo prá brincar com você. Arranjei tempo prá tudo. Menos prá ver você crescer. Nunca joguei dominó, dama, xadrez, ou batalha naval com você. Percebo que você me rodeia, Mas sabe, sou muito importante e não tenho tempo ... Sou importante para números, convites-sociais ... Uma série de compromissos inadiáveis ... E largar tudo isso prá sentar no chão com você ... Não, não tenho tempo! Um dia você veio com o caderno da escola pro meu lado. Não liguei; continuei lendo o jornal. Afinal, os problemas internacionais São mais sérios que os da minha casa. Nunca vi seu boletim nem sei quem é a sua professora, Não sei nem qual foi sua primeira palavra, Também, você entende ... não tenho tempo ... De que adianta saber as mínimas coisas de você Se eu tenho outras grandes coisas a saber? Puxa, como você cresceu! Você já passou da minha cintura. Está alto ! Eu não havia reparado isso. Aliás, não reparo quase nada, minha vida é corrida, E quando tenho tempo, prefiro usá-lo lá fora. E se uso aqui , perco-me calado diante da TV. Porque a TV é importante e me informa muito ... Sabe, meu filho ...

-40-


A última vez que tive tempo para você, foi numa cama, Quando o fizemos! Sei que você se queixa, Que você sente falta de uma palavra, De uma pergunta minha, De um corre-corre, De um chute na sua bola, Mas eu não tenho tempo ... Sei que você sente falta de abraço e do riso, Do andar-a-pé até a padaria prâ comprar guaraná. Do andar-a-pé até o jornaleiro prâ comprar "Pato Donald", Mas sabe hâ quanto tempo não ando a pé na rua? Não tenho tempo ... Mas você entende, sou um homem importante, Tenho que dar atenção a muita gente, Dependo delas ... Filho, você não entende de comércio ... ! Na realidade, sou um homem sem tempo! Sei que você fica chateado, Porque as poucas vezes que falamos é monólogo, só eu falo E noventa e nove por cento é bronca! Quero silêncio, quero sossego! E você tem a péssima mania de vir correndo sobre a gente, Você tem mania de querer pular nos braços dos outros ... Filho, não tenho tempo para abraçâ-lo. Não tenho tempo prâ ficar com papo-furado com criança. Filho, O que você entende de computador, comunicação, cibernética, racionalismo? Você sabe quem é Marcuse, Mac Luhan? Como é que vou parar prâ conversar com você? Sabe filho, Não tenho tempo, mas o pior de tudo, O pior de tudo é que ... Se você morresse agora, jâ, neste instante, Eu ficaria com um peso na consciência Porque até hoje Não arrumei tempo prâ brincar com você. E na outra vida, por certo, Deus não TERA TEMPO de me deixar, pelo menos, vê-lo!

(Tirado do livro ''Deus Negro", de Neimar de Barros)

-41-


VIDA DO MOVIMENTO

NOTíCIAS

S.AO PAULO -

DOS SETORES

Cinqüenta anos de casamento

"A 7 de outubro de 1924, Yo.landa e Walter Sócrates do Nascimento se uniram, por amor, perante Deus e os homens. Passados 50 anos, bem vividos no mesmo espírito de então, seus filhos, genros, nora, netos e bisneto convidam V. S. e Exma. Família para a Solene Missa de Ação de Graças . . . "

E, no dia 7 de outubro de 1974, festa de Na. Sra. do Rosário, ao som do belíssimo órgão do santuário de Na. Sra. de Fátima, em São Paulo, entraram na igreja precedidos de quatro casais as filhas e os genros - Yolanda e Walter, ela ao b r aço do único filho homem, ele acompanhado da filha mais velha. O sorridente e feliz cortejo aproximava-se do altar para render graças a Deus por 50 anos de vida conjugal.

Walter, bastante emocionado, e Yolanda, muito senhora de si, disseram - pela primeira vez, porque desde o seu casamento e mesmo desde as bodas de prata a fórmula mudou - que aceitavam e prometiam felicidade um ao outro pelo resto da vida: era a promessa de continuar vivendo como há cinqüenta anos vêm fazendo, a ratificação de toda uma vida de amor e doação. -42-


D. Benedito de Ulhoa Vieira, que presidia a concelebração, apresentou a todos como exemplo esse casal cristão e mostrou que o sucesso de sua vida conjugal devia-se ao fato de ter sido vivida não a dois, mas a três: ele, ela e Deus. Disse D. Benedito: "Hoje, quando tantas vidas conjugais fracassam, quando tanto amor jurado é esquecido, quando tantos jovens desistiram de acreditar no casamento, a pergunta que se coloca é esta: pode o amor durar sempre? Pois este casal é a prova de que o amor, quando edificado em Deus e vivido com Ele, pode realmente durar sempre ... " E acrescentou: "Pergunto aos que se encontram aqui nesta igreja hoje: se vocês estão decepcionados com o seu amor, não será porque esqueceram, no dia do seu casamento, de convidar a Jesus? não será que se esqueceram de abrir-lhe a porta do seu lar? de pedir-lhe que viesse morar com vocês? que fosse o companheiro de sua caminhada? Sem Ele não há amor que possa ser eterno, porque Ele é a fonte do amor, Ele é o próprio amor." Yolanda e Walter têm 4 filhas e 1 filho, 16 netos e 1 bisneto, que nasceu, como se fora de presente, quase às vésperas das bodas. Estão há 15 anos nas Equipes, pertencendo à Equipe n. 0 13 de São Paulo. Aos 82 anos, W alter, sempre alegre e bem dispostos, mais jovem de espírito do que muito jovem por aí, seria, segundo disse o Pe. Tandonnet quando aqui esteve em 1969 e o conheceu, ao hospedar-se em sua casa, o decano dos equipistas do mundo ... MANAUS

Recebemos, com grande alegria, do Pe. Luís Kirchner, assistente da Equipe de Manaus, a seguinte carta:' "Prezados amigos em Cristo, Estou mandando um pequeno aviso e informação para ser usado na Carta Mensal das Equipes. Lembranças de Manaus, terra da Vitória-Régia, Igarapés e a Zona Franca. Desde já queremos estender nosso convite aos equipistas para participar conosco do nono Congresso Eucarístico Nacional, a ser realizado em Manaus, de 16 a 20 de julho, 1975. ENS em Manaus é apenas uma equipe, 7 casais agora, e se alguém de outros Estados vier, nos procure para contar como vai nosso movimento em outras regiões. Não é só o custo de vida que é difícil aqui. Esperaremos suas visitas e apoio para nos incentivar com novas idéias e sugestões. -43-


Apesar do fato que as ENS têm dois anos e pouco de implantação no Amazonas, estão sobrando só 3 casais da experiência inicial. Assim vai a vida. Mas, sendo bons cristãos, somos cheios de esperança que "se esta obra vem dos homens, ela mesma se desfará; mas se vem de Deus, não a podereis desfazer" (Atos 5, 38-39). Enquanto isso, lutamos para aumentar nosso número e compartilhar da Boa Nova. Já conseguimos mandar dois casais para encontros em São Paulo e sempre recebemos os visitantes equipistas em nosso meio com grande alegria. Tire suas férias em julho, venha conhecer o Amazonas e sua beleza, faça suas compras - tudo isso e muito mais o espera em Manaus!" ,

Uma equipe isolada é muito triste. Esperamos que muitos aceitarão o convite. O endereço do Pe. Luís: Paróquia de Na. Sra. Aparecida Padres Redentoristas - Rua Com. Alexandre Amorim, 353 Fone: 2-02-19 - Caixa Postal 40. BRASíLIA

As Equipes de Brasília andaram bastante ativas no segundo semestre. Tiveram sua primeira reunião de equipes mistas (chamada "inter-equipes"), seu retiro, cujo pregador foi D. Marcos Barbosa em pessoa, lançaram a equipe 6 e já têm casais para a n. 0 7. Merece destaque especial a participação da Coordenação no Dia de Oração e Estudo da Família, realizado por iniciativa do Arcebispo de Brasília, D. José Newton, que convocou as direções do MFC e das ENS para se encarregarem da organização e coordenação do programa. Respondendo ao apelo do seu pastor, as ENS de Brasília prazerosamente uniram-se ao MFC num trabalho que durou meses para congregar, em um dia de oração e estudos sobre a Família, representantes de 15 movimentos de apostolado leigo, os quais, com grande entusiasmo, após orarem e meditarem, examinaram a fundo as três questões propostas, ou seja: - Quais as características que definem uma família cristã? - Quais os males que afligem e afetam as famílias de Brasília? - Quais as sugestões que oferecem para sanar os males apontados? Entre os subsídios que os 90 participantes do encontro ofereceram no tocante às sugestões de caráter prático para sanar os males que afetam · a família brasiliense, sobressaiu a idéia da realização de uma Semana da Família, de 1 a 8 de dezembro, -44-


com o objetivo de sensibilizar toda a sociedade de Brasília para os valores da Família e a sua preservação, utilizando-se de todos os meios: paróquias, escolas, clubes de serviço, órgãos dos 3 poderes da República, meios de comunicação, etc. O dia começou com ensaio de cantos, invocação ao Espírito Santo, saudação de boas vindas. Seguiu-se a leitura de um trecho de documento conciliar sobre a família, e a de um documento sobre a família cristã extraído de carta pastoral do então Cardeal Montini, agora Paulo VI. Encerrou-se essa primeira parte com 15 minutos de oração e a bênção do Ss. Sacramento. Os trabalhos propriamente ditos tiveram o seguinte desenrolar: explicação da mecânica dos trabalhos, "aula-espetáculo", trabalhos de grupo (2 horas). Após o almoço, conclusões finais (2h 1/2). Encerrou o dia uma palestra de D. José Newton, seguida da Santa Missa. JACAREí

Realizou, com grande sucesso, o seu retiro, segundo se depreende de carta enviada por Salete e Guerino, responsáveis pela Coordenação de Jacareí: "Houve muita oração, reflexão, alegria e magníficas palestras dadas pelo Pe. Francisco Batistela, redentorista de Aparecida do Norte e fundador do Movimento das ENS nessa cidade. Mais uma vez o Espírito Santo nos abençoou com sua graça para o grande aproveitamento que todos tiveram nesses dois dias. Entre as palestras proferidas, três tocaram bem fundo os casais: "A família e o valor do sacramento do matrimônio", "Os valores espirituais dos meios de aperfeiçoamento" e uma bela explicação sobre o "Ano Santo", desde o seu início até os dias de hoje. Houve o comparecimento de 32 casais, sendo 23 de J acareí e 9 de Mogi das Cruzes."

Parabéns, Jacareí, e gratos pela notícia! CASA BRANCA

Sylvia e Geraldo Lopes da Cunha, Casal Coordenador, enviaram notícias sobre o retiro, que congregou 22 casais ( equipistas e não equipistas), das cidades de Casa Branca, S. José do Rio Pardo, Paulínia, Mogi-Mirim e Poços de Caldas. Pregou o retiro o Pe. José Lambert, Provincial dos Estigmatinos, num ambiente tranquilo, de recolhimento, entrosamento e reflexão. Parece que a turma gostou tanto que já solicitou a sua inscrição para o próximo retiro. "Diante das opiniões e dos testemunhos dos casais,

-45-


escrevem Sylvia e Geraldo, nos sentimos satisfeitos e entusiasmados a promover outros retiros para que o Reino de Deus se estenda a outros lares cristãos." Mas o apostolado pelo retiro realizado em Casa Branca não se limitou a casais. Contam Sylvia e Geraldo que a pedido do seu vigário promoveram um retiro espiritual para moças - conseguindo o comparecimento de 18 moças, "que gostaram muito e se sentiram entusiasmadas e valorizadas através das palestras, entendendo que elas têm sua missão na Igreja de Cristo". O objetivo principal do retiro fora despertar as moças - na faixa de 25 a 35 anos - para o apostolado. SANTOS -

11~

Semana da Família

"Família, Irradiação de Amor" - Esta frase foi divulgada através de cartazes e plásticos e rodapés de jornais, anunciando a IP Semana da Família na Baixada Santista. O Setor de Santos das ENS, idealizador dessa realização, aglutinou os movimentos religiosos da Diocese e, através de comissões e sub-comissões, na semana de 21 a 29 de setembro de 1974, promoveu palestras, pesquisas, concursos escolares, celebrações litúrgicas e consultórios de orientação familiar. Os objetivos da Semana da Família foram: conscientizar a população jovem e adulta da cidade e da periferia, em toda a Baixada Santista, sobre os valores da família e prestar um serviço para defender, preservar e estimular esses valores. A Semana transcorreu num clima de intensa participação, quer dos executantes, quer das famílias, culminando com a celebração da Santa Missa pelo Sr. Bispo Diocesano, D. David Picão, num ginásio de esportes de um dos clubes de Santos. E.T. -

Na reunião do Episcopado do Estado de São Paulo em Itaici em outubro, entre as recomendações e.laboradas pelos grupos de trabalho, sugeriu-se que a iniciativa da Semana da Família fosse estendida a todas as dioceses do Estado.

DEUS CHAMOU A SI

Só agora ficamos sabendo do falecimento, no dia 21 de junho, do diácono Rodolfo Pedro José Mehlmann, da equipe 5 de Mogi das Cruzes. Como noticiara a Carta Mensal na época da fundação da equipe, o professor-diácono era também o Conselheiro espiritual da equipe à qual pertencia. Caso único, ao que parece, no Movimento, pelo menos aqui entre nós. Sua esposa, Olga, continua a participar da equipe, dando à mesma, segundo escreve o Casal Responsável, "um edificante exemplo de fé, pela serenidade que sente e transmite". -46-


NOVAS EQUIPES

Curitiba - Setor A - Equipe 7 - Na. Sra. da Esperança Casal Piloto: Marina e Caio Simões Pires, da equipe 1; Conselheiro espiritual: Frei Sergio Wrublewsky; 7 casais. Niterói -Equipe 7 - Casal Piloto: Helena e Paulo, da Equipe 3; Conselheiro Espiritual: Pe. Eduardo. Jaú - Equipe 10 - Casal Piloto : Carminha e Evandro 7 casais. Equipe 11 - Casal Piloto: Maria e Otávio Auler 7 casais.

Durinhos - Equipe 1 - Na. Sra. Aparecida - Cons. Esp.: Pe. Waldir - 8 casais. Equipe 2 - Na. Sra. do Perpétuo Socorro - Cons. Esp.: Pe. Miguel - 7 casais. Casal Piloto de ambas: Cleunice e Sidney Novelli, ex-responsáveis do Setor de Bauru. Brasília -

Equipe 6 -

Pilotos: Helenie e Sergio .

• RETIROS

PARA

1975

REGIÃO SÃO PAULO -

A

MARÇO

De 21 a 23

com crianças

ABRIL

De 25 a 27

sem crianças

MAIO

De 22 a 24

com crianças

JUNHO

De 22 a 24

sem crianças

AGOSTO

De 22 a 24

sem crianças

SETEMBRO

De 19 a 21

com crianças

OUTUBRO

De 24 a 26

sem crianças

NOVEMBRO

De 21 a 23

com crianças

Local: Instituto Paulo VI

-47-


ORAÇÃO PARA A PRóXIMA REUNIÃO

A liturgia neste mês de dezembro nos fala da expectativa pela vinda do Messias, da chegada do Emmanuel, que vem habitar conosco para nos salvar. Por ser este número da Carta Mensal dedicado à família, escolhemos para a meditação durante o mês e na reunião a epístola da Festa da Sagrada Famflia, ou seja, do primeiro domingo depois do Natal. lt também um dos textos da nova liturgia do casamento . Ao colocar, na reforma do calendário litúrgico, esta festa tão próxima do Natal, a Igreja certamente quis dizer-nos alguma coisa. lt no silêncio da meditação que descobriremos a ligação entre as duas festas.

TEXTO DE MEDITAÇÃO -

Col. 3, 12-21

Irmãos! Como eleitos de Deus, santos e bem-amados, revesti-vos de sentimentos de terna compaixão, de bondade, humildade, doçura e paciência, suportando-vos mutuamente e perdoando-vos, se algum de vós tem queixa contra o outro. Assim como o Senhor vos perdoou, perdoai também vós. E, acima de tudo, tende a caridade: é o laço da perfeição. E que a paz do Cristo triunfe em vossos corações, esta paz a que fostes chamados a fim de formar um só corpo. Vivei em ação de graças. Que a palavra do Cristo habite em vós plenamente. Com toda sabedoria, instruí-vos e exortai-vos uns aos outros, por meio de salmos, hinos e cânticos espirituais; cantai a Deus em vossos corações, sob a inspiração da graça. E tudo o que fizerdes, em palavra ou ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus Cristo, dando graças a Deus Pai por meio dEle. Mulheres, sede submissas aos vossos maridos, como convém no Senhor. Maridos, amai as vossas mulheres e não as trateis com aspereza. Filhos, obedecei em tudo aos vossos pais, porque isso é agradável ao Senhor. Pais, não irriteis os vossos filhos, para que não desanimem. -48-

'


ORAÇÃO LITúRGICA

A terra da minha vida está ressequida! De cansaço em cansaço meu coração apela pela tua vinda! Meu ser inteiro suspira pela tua chegada. Não aguento mais a solidão dos meus dias. Caminho ao lado dos homens, converso com meus companheiros de caminhada, paro diante de outros rostos solitários. Tudo parece tão estranho de mim nesta hora. As amizades me decepcionam. as companhias me aborrecem, uma e10tranha e radical experiência de solidão toma conta de mim. Mas tu podes acabar com minha solidão. Tu Senhor Jesus, tu virás. Eu creio na tua vinda para mim , para todos os homens. Estou vivendo a festa da espera. É bom esperar pela chegada de alguém que a gente ama. Enfeito meu coração , preparo meu interior , coloco flores alegres e cortinas brancas nos cantos de minha vida. Espero tua chegada. Temos muito que falar. Vem, Senhor Jesus, vem depressa! As nuvens do céu estourarão e tu v1ras. A terra d .~ minha v:da será banhada pela água de tua pessoa.

"Oração do Advento" Frei· Almir Rib eiro Guimarães , O.F.M .


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