ENS - Carta Mensal 274 - Junho 1991

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RESUMO

A ECIR conversa com vocês sobre a reunião de equipe . . . . . . . . . . . . . . . . . . O Frei Barruel anal isa as implicações da Encíclica Redemptoris Missio para as ENS 5 Um documento do CONIC e um da CNBB nos alertam para algumas realidades brasileiras . . 7 Considerações do documento "O espírito e as grandes linhas do Movimento" sobre a nossa inserção no mundo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 Destaque para uma das "Prioridades": a Reunião de equipe

Editorial do Pe. Olivier: Começar da estaca zero? . . . . . . . . . . Carta de Maria Almira e Alberto Ramalheira, o casal português da E.R.I. . . . . . . . . .

Espaço de Nossa Senhora: Maria, Serva do Senhor . . . . . . . . . . . . . . . . . . Trecho final do texto de Dom Boaventu ra Kloppenburg sobre Igreja e Capitalismo . Reproduzimos dois textos, um do Pe. Zezinho e outro de Fernando Sabino, sobre as realidades que nos cercam . . . . . . . . . . . . . O que vem a ser o ato de "ficar"? . . . . . . . Considerações sobre a ética e o bom senso Testemunho: Morrer para o egoísmo . . . . Considerações sobre o trabalho, por um teólogo do século IV . . . . . . . . . . . . Nosso "Correio" continua substancioso . . Notícias e Informações . . . . . . . . . . . Última página : O grande diálogo do amor . Meditando em Equipe: sugestão para junho

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A EC/R CONVERSA COM VOCÊS

O CRISTO NA REUNIÃO DE EQUIPE Quando um grupo está reunido, tem sempre alguém que costuma lembrar, e muitas vezes de forma solene, que Cristo está ali presente, porque foi Ele mesmo quem disse: "Onde se acham dois ou três congregados em meu nome, aí estou Eu no meio deles" (Mt 18,20) . Na reunião de equipe, certamente, essa promessa se realiza, e vem concretizar a fidelidade de Jesus Cristo, para com aqueles que se congregam em seu nome, para com aqueles que desejam sua presença que anima e fortalece a fé, a esperança e a caridade. Parece oportuno perguntar, no entanto, sobre o Cristo que está presente nas reuniões de equipe. Não que se está duvidando de sua presença! Mas, será que o Cristo presente nas reuniões mensais é o mesmo em todas as equipes existentes? Será que a qualidade do Cristo, se assim se pode dizer, é a mesma em todas as equipes? Ou será que não existe razão para afirmar que o Cristo presente é "diverso"? Ou que a intensidade da sua presença é variável, dependendo das pessoas (casais e conselheiro espiritual) que formam a equipe? O que esta reflexão permite concluir, até o presente momento? Fundamentalmente, que a convicção eclesial de estarem reunidos em nome de Cristo, e junto com Ele, é bem diversa de equipe para equipe, de reunião para reunião, em função de seus integrantes. Se os membros da equipe, ao fazerem suas orações, leitura e meditação da Palavra de Deus, por exemplo, não fizerem disto um exercício de discernimento sobre sua vida conjugal e familiar, sobre sua participação na comunidade eclesial, sobre sua vocação e missão na história da salvação do povo de Deus, sobre sua situação profissional, sobre seu comprometimento político, e assim por diante, então é possível concluir que aquele grupo de pessoas não leva para a reunião de equipe um Cristo comprometido, libertador e que exige mudanças nas estruturas da sociedade.

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Por isso é que podemos dizer que depende de cada membro da equipe a "qualidade" e a "intensidade" do Cristo presente nos encontros ou reuniões que realizam os casais e o conselheiro espiritual. Se o Cristo está presente, porque assim sempre o quis, compete a cada um revelar esta presença, que será melhor ou pior, maior ou menor, de acordo com o tipo de vida que cada um leva, em função da coerência entre o ser e o agir cristão de cada um.

É verdade que Jesus, como Deus, pode se fazer presente sem a ajuda e independentemente de cada membro da equipe. Mas quer se utilizar de cada um, como S(3U instrumento e discípulo, para concretizar a evangelização e a salvação daquele que nele crê. Torna-se fundamental ,portanto, voltar ao questionamento feito: qual é o Cristo que cada membro da equipe leva para a reunião mensal? Ou colocando de outra forma, como cada membro se prepara para comparecer à reunião de equipe?

- É daqueles que preparam tudo de última hora e, portanto, levam um Cristo despreparado? - É daqueles que se lembram, no último instante, que há uma reunião para ir e, portanto, levam um Cristo descuidado, apressado? - É daqueles muito preocupados com as aparências e, portanto levam um Cristo bonito por fora, que gosta de aparecer para os outros, que gosta de ser o centro das atenções, que se realiza quando elogiado? - É daqueles que vão para uma reunião forçados, para cumprirem uma mera obrigação ou formalidade, para agradarem ao conjuge e, portanto, levam um Cristo mal humorado, que se irrita facilmente? - É daqueles que participam da reunião com angústia, com o tempo contado porque um outro compromisso mais importante vai se seguir e, portanto, levam um Cristo que perde a paciência e a tolerância com o irmão? - É daqueles que vão à reunião porque gostam do convívio agradável e inteligente, onde é possível discutir e trocar idéias sobre pontos de vista comuns e, portanto, levam um Cristo que está ali para bater papo e "jogar conversa fora"? 2 - CM Junho/91


- É daqueles que gostam de ir à reunião para desabafar seus problemas é mágoas que não conseguem ser resolvidos em casa e, portanto, levam um Cristo amargo, atormentado e dramático? - É daqueles que vão à reunião sempre com boas intenções, mas sem querer assumir responsabilidades e, portanto levam um Cristo "legal" e descomprometido? - É daqueles que se julgam aptos a enfrentar qualquer reunião sem nenhum tipo de preparação e, portanto, levam um Cristo auto-suficiente e pretencioso?

É justamente por isso que as equipes não podem ser formadas por casais que não têm vontade de assumir as propostas da Igreja e do Movimento, especialmente aquelas que se referem à vida sacramental, espiritual e pastoral. A reunião de equipe é a reunião da pequena Igreja, convocada por Cristo, que se reúne para uma celebração litúrgica; para uma experiência comunitária do Deus vivo, presente e atuante; para o fortalecimento da fé, esperança e caridade; para pôr em comum a vivência sacramental; para a busca do referencial que possibilita continuar crescendo na espiritualidade conjugal e familiar, em função da vivência de cada um dos irmãos de equipe. Como a reunião de equipe é a vida e a alma desta comunidade eclesial de famRias ali representadas pelos casais e conselheiro espiritual, e que deve motivar atitudes apostólicas ou pastorais, além do desejo profundo de aprender o seguimento de Cristo, ela deve ser bem preparada, vivida intensamente durante o mês todo, preparada ansiosamente com todos os membros da equipe. Enfim, a reunião de equipe concretiza o ser equipe, o ser do time de Nossa Senhora, que quer se abastecer espiritualmente, mas que também deseja uma formação permanente, para tornar sua vocação e missão benéfica para os outros, para a construção do Reino de Deus entre os homens, para a construção de uma sociedade autenticamente humana e cristã. Da mesma forma que não há vida cristã sem fé viva e vibrante, não há reunião de equipe sem a presença do Cristo que salva, transforma, CM Junho/91 - 3


interpela, evangeliza, compromete, incentiva o agir, concretiza o Magnificat em cada um dos seus integrantes. A espiritualidade, preocupação central da vida do Movimento e da reunião de equipe, cresce e se desenvolve pelo compromisso do cristão com as mudanças de estruturas sociais, econômicas, políticas e culturais, a exemplo do próprio Cristo. O Movimento das Equipes de Nossa Senhora, através da reunião de equipe, passa a ter, assim, a dimensão e a atuação da Igreja. A equipe de base, orientada pela vida dos primeiros cristãos, deve, portanto, produzir uma consciência comunitária e convencer seus membros a fazerem parte do mundo com a responsabilidade de fazer a história, a caminhada do povo de Deus, evangelizando e deixando-se evangelizar permanentemente, à luz da palavra de Deus e dos ensinamentos da Igreja. Mariola e Elizeu Calsing

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CAMINHADO COM A IGREJA

A Carta Encíclica 11 REDEMPTORIS MISSI0 11 de João Paulo lle as E.N.S.

A'recente Encíclica do Papa João Paulo 11 "sobre a validade permanente do mandato missionário" (07-12-1990) e dirigida a todos os católicos do mundo inteiro, não pode deixar de ter um impacto forte sobre o Movimento das Equipes de Nossa Senhora. As ENS são elementos ativos da Igreja, e por essa razão, participam de sua vida. Essa carta do Papa é um convite geral lançado a todos os batizados católicos para que levem a sério o seu "mandato missionário". Este envio é baseado sobre o batismo recebido por cada um, que o insere numa estrutura hierárquica responsável pela pregação e difusão do Reino de Deus. A Igreja é, ao mesmo tempo, sinal e instrumento da salvação de Jesus Cristo, que é oferecida a todos os homens. Ela mesma é a realização essencial deste Reino. Ao mesmo tempo, ela se coloca a serviço de sua concretização, apresentada pela Revelação Bíblica como um Reino de Justiça, de Paz, de Solidariedade. Não se trata de um "projeto de sociedade": Jesus Cristo é, ele mesmo, a plena realização deste Reino. Mas é somente seguindo seus ensinamentos que este Reino será concretizado através do tempo e do espaço. A Igreja está a serviço do Reino porque chama cada um à uma conversão permanente; porque mantém em todos os cantos, comunidades eclesiais; porque difunde no mundo os valores evangélicos de amor, de justiça, de paz, de crescimento na vida divina; porque reza permanentemente pela vinda deste Reino. Desel~ os primórdios da Igreja, constata-se que todos os membros da Igreja são verdadeiros missionários num mundo pagão. ''Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós" (Jo 20,21). Cada um será missionário por aquilo que ele é, e não tanto por aquilo que diz ou faz. A "missão" das ENS é, pois, a colaboração com a ação do próprio Cristo: "Eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo" (At 28,20) . A "missão'; não é baseada sobre a capacidade humana, mas sim sobre a força do Cristo ressucitado. São três os níveis da atividade missionária: entre os pagãos, entre os batizados relapsos, e entre os fiéis da Igreja. Nenhum destes três níveis pode escapar à atividade missionária dos membros das ENS, embora os dois últimos sejam os mais frequentemente atingidos. O Papa salienta que CM Junho/91 - 5


hoje em dia não é mais em regiões isoladas e longínquas que a atividade missionária se apresenta como a mais urgente, mas sim nas grandes cidades, onde se forma o futuro das jovens nações. Cita, também, as áreas de migrações permanentes e as de fixação de refugiados: a permanência da pobreza e da miséria constituem um desafio para a comunidade cristã. Cita, o Papa, a juventude como objeto de preocupação missionária: as EJNS (Equipes Jovens de Nossa Senhora) são um passo promissor nesta direção. Há também áreas culturais, que o Papa chama de "aerópagos", -fazendo alusão à pregação de São Paulo em Atenas-, e merecem especial atenção os Meios de Comunicação Social, que estão unificando a humanidade, transformando-a numa "aldeia global". Não é suficiente usá-las para difundir a mensagem cristã e o Magistério da Igreja, mas é necessário integrálos nessa "nova cultura" criada por eles. O anúncio missionário visa essencialmente a conversão cristã, isto é, a adesão plena e sincera à Cristo e ao seu Evangelho. Cada comunidade cristã deve ser ao mesmo tempo evangelizada e evangelizadora. Daí a importância primordial das Comunidades Eclesiais de Base, que são chamadas a construir centros de formação cristã e irradiação missionária. O diálogo inter-religioso também faz parte da missão evangelizadora da Igreja. Mas a salvação vem unicamente de Cristo. Por essa razão, o "diálogo" não dispensa a "evangelização". Da mesma maneira, a função da Igreja não é a de oferecer aos povos o "ter mais", mas sim, o "ser mais". Um desenvolvimento material não pode bastar: O excesso de riqueza é tão nocivo quanto o excesso de pobreza. É através de todos os seus membros, sacerdotes e leigos, especialmente - mas não exclusivamente - os que são consagrados, e sob a responsabilidade e orientação dos bispos, que a Igreja deve assumir a sua função missionária. Oxalá todos, e principalmente as famOias e os jovens, levem a sério o chamado do Espírito Santo para participar do esforço missionário da Igreja. Fr. J.P. Barruel de Lagenest O.P.

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MENSAGEM DA IV ASSEMBLEIA GERAL DOCONSELHO NACIONAL DE IGREJAS CRISTÃS DO BRASIL- CONIC O CONSELHO NACIONAL DE IGREJAS CRISTÃS DO BRASIL- CONIC, reunido em assembléia geral , nos dias 27 e 28 de novembro de 1990 em Porto Alegre - RS, com a participação das Igrejas Católica Romana, Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Episcopal Anglicana do Brasil, Metodista, Presbiteriana Unida do Brasil e Católica Ortodoxa Siriana do Brasil , colocando-se sob a ação do Espírito Santo a serviço e testemunho da unidade da Igreja, no atendimento à oração de 'Jesus "que todos sejam um" (Jo 17), analisando a situação do país e a realidade do povo brasileiro, vê com apreensão e denúncia muitos sinais de morte, presentes: -na situação de miséria da grande maioria da população brasileira, mais empobrecida ao longo dos últimos anos, com uma minoria se enriquecendo às custas dos 100 milhões de pobres (IBGE/PNDA - 90) ; -nos planos econômicos que vem se repetindo nas últimas décadas, penalizando cada vez mais os trabalhadores, ficando eles marginalizados na distribuição da riqueza, com salários que não atendem nem as condições de vida digna, nem os princípios constitucionais (art. 7, inc. IV da Constitução) ; -na exclusão do povo, dos segmentos sociais das negociações da dívida externa, cujo preço representa um injusto ônus para todos, num pesado sacrifício e mesmo na diminuição da vida para milhões de trabalhadores e produtores rurais ; -no descrédito e desencanto nas elites políticas, evidenciados nas últimas eleições com altos índices de votos brancos e nulos, consequência das frustrações e das esperanças desfeitas pela frustração e o não cumprimento de tantas promessas e, também, pela omissão do Congresso Nacional em regulamentar dezenas de preceitos constitucionais; -no sucateamento da educação política e privada/comunitária, como forma de agressão ao direito à vida de todos e de obstrução à construção de uma sociedade justa e igualitária; a ausência de um diálogo, de um projeto educacional resultante da participação de todas as partes envolvidas, é reveladora de autoritarismo e de isolamento da sociedade; -na falta de uma política agrária voltada à defesa dos pequenos produtores, à sobrevivência de milhões de trabalhadores rurais em terra e às necessidades básicas do povo; -na ganância do lucro capitalista que polue e destrói o meio ambiente, ameaçando a vida, pois "destruir a terra é destruir os filhos da terra" (CNBB - 90) . CM Junho/91 - 7


Diante deste quadro que preocupa e entristece, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, que tem como fundamento o Evangelho, em sua mensagem de vida, de justiça, de paz e de esperança e que, por isso mesmo, tem se pronunciado em sua história a favor dos direitos humanos, dos oprimidos, dos movimentos, de emprestar sua voz e colocar-se a serviço dos injustiçados, dos empobrecidos, dos marginalizados, dos apáticos e sem esperanças, sentindo e alegrando-se com sinais de vida: -na busca de construção de um sistema democrático que possibilite a participação de toda a sociedade na discussão e na solução de propostas em favor da dignidade e da vida para todos; -na defesa e integridade da natureza - criação de Deus - presente na consciência de grande maioria de nosso povo e na luta permanente de muitos movimentos sociais e populares; -na solidariedade e empenho de entidades e de parcelas significativas da população em defesa dos direitos da criança e do adolescente; -no empenho de tantos cristãos em construir uma nova comunidade que celebra o culto a Deus neste mundo, que aprende a partilhar o pão, a terra, os dons, a justiça, a fraternidade, a esperança e a vida. Neste contexto ... conclamamos nossas Igrejas, o povo cristão, a população toda, para uma caminhada democrática através de uma presença efetiva nas organizações e movimentos sociais e de uma permanente atuação no processo político-institucional. Conclamamos nossas Igrejas, o povo cristão e a sociedade, para o estabelecimento de valores morais e éticos como requisitos indispensáveis à participação político-administrativa, para as relações sociais e, principalmente, para as relações econômicas. Conclamamos nossas Igrejas, o povo cristão, os homens e mulheres de boa vontade para a vivência da comunhão ecumênica com a renovação da esperança na promessa de um novo céu e uma nova terra. Porto Alegre, 28 de novembro de 1990

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EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA (do "Boletim" da CNBB)

A luta que o povo brasileiro vem enfrentando há anos pelo acesso à educação abriu espaço à criatividade popular e ao surgimento de formas variadas de educação ao lado das modalidades tradicionais. Apareceram, em diferentes contextos, as escolas comunitárias: uma maneira das classes populares, que não conseguem chegar ao ensino público, fazerem valer os seus direitos e ao mesmo tempo apontar ao Estado sua omissão em oferecer educação básica a toda a população. Outras experiências tem surgido em nosso país vinculadas ao esforço coletivo do grupo onde se inserem. O retorno ao individualismo, nos últimos tempos, as diversas formas de dominação e manipulação do homem, estão levando o povo a reaprender sua identidade comunitária, produzindo relacionamentos associativos que ajudam a criar um clima propício ao avanço das mudanças sociais. Há um consenso sociológico de que a base da nacionalidade, da sociedade e dos grupos que é o solo que cada cidadão pisa, é o espaço que cada um ocupa, é a atmosfera cultural que se respira. É dentro desse espaço físico e emocional que se dá a formação para a cidadania. A educação não é conquista do indivíduo, mas função do grupo; é uma forma especial de ação entre cidadãos. Por isso a força motriz da educação reside no interesse da comunidade em utilizar a força de trabalho de cada um de seus membros, seu poder criativo, sua imaginação para o bem comum. A educação tem uma dimensão social e assume um caráter prático e dinâmico de convivência, onde todos educam a todos. A educação tem uma função social pelo fato de poder reduzir as várias formas de pobreza e limitação material e ampliar o processo participativo. A história mostra nos diversos países, que com uma população educada, a desigualdade social e as tensões resultantes dos desníveis sociais podem ser mais facilmente reduzidos. O compromisso social da educação se torna visível na relação entre escola e coletividade. A escola tem sido acusada de instituição alienante por não se alimentar da realidade do ambiente e seus programas não corresponderem às necessidades sociais. Fala-se, com frequencia, da inutilidade social da escola atual. O que se espera da escola é uma atuação conjunta com outras agências sociais para que seus programas educacionais tenham o êxito desejado e sejam fonte de desenvolvimento sócio-econõmico-cultural, fator de equilíbrio. Será necessária Uma articulação dos CM Junho/91 - 9


meios, uma integração de esforços e convergência de objetivos, enfim uma efetiva participação de todos. Dentro dessas perspectivas e com a força do idealismo, em muitos lugares foram criadas escolas comunitárias por grupos de bairros como uma alternativa à inexistência de escolas ou falta de vagas, atendendo o ensino pré-escolar, a alfabetização de crianças, jovens e adultos. Elas vêm se expandindo no norte, no nordeste e em bairros carentes de algumas cidades do sudeste. Funcionam em centros comunitários, sedes de associação de moradores, tanto em áreas rurais como nas periferias urbanas. Já são numerosas em Belém, São Luís, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. As escolas comunitárias apresentam características semelhantes e em sua origem tem traços comuns, apesar de realidades regionais tão diversas. Muitas experiências contaram com a iniciativa ou apoio da ação pastoral das Igrejas locais. A idéia de "comunitário" na prática dos movimentos populares se projetou como nova forma de organizar os setores marginalizados da sociedade, de criar novas relações sociais, de descobrir no cotidiano as possibilidades novas da comunidade. Na área educativa há uma gama conceitual muito ampla. São escolas comunitárias: a) as que fazem um trabalho assistencial ou escolar; b) as que não tem fins lucrativos; c) as que realizam a integração do povo no bairro; d) a escola que é capaz de dar resposta aos grupos organizados ou articulados para melhorar a situação. A organização pedagógica dessas escolas tem provocado uma oportuna reflexão sobre o seu papel social e sobre a validade de sua atuação. Ás vezes, a precariedade das instalações, a falta de material didático, o excesso de crianças na mesma sala, a falta de preparo e especialização do professor conduzem a experiência ao fracasso. Mas muitos educadores tem conseguido superar os problemas e obtido êxito em seu trabalho, favorecidos pela identificação cultural e pelos conteúdos vinculados à realidade do ambiente. A educação popular criou, a partir de Puebla, princípios pedagógicos que se procura vivenciar no grupo: humanização, personalização, respeito à cultura, educação segundo suas necessidades e conforme a realidade, desenvolvimento da visão crítica, "dando os princípios culturais e normas de interação social que possibil item a criação de uma nova sociedade" (1029). A organização administrativa interna da escola varia de lugar para lugar. Há, porém, traços comuns: a valorização da participação dos pais nas decisões e a gestão democrática envolvendo a comunidade. Um conselho e representantes das famnias participam da administração dos fundos. Onde foi possível foram feitos convênios com os orgãos públicos, para equilibrar a manutenção. Bem mais antigas que as escolas comunitárias populares, encontramos 1O - CM Junho/91


em todo Território Nacional as Escolas da Comunidade com abrangência e atuação bem diferentes das primeiras. A Campanha Nacional de Escolas de Comunidade surgiu em 1943 em Recife, graças ao idealismo de um grupo de universitários que iniciou um movimento em favor da educação de jovens sem condições de frequentar escolas públicas ou particulares, a que deram o nome de Campanha do Ginasiano Pobre. Nestes dois tipos de experiências concretas de educação comunitária o fundamental é a participação e união de forças para o trabalho educativo. A educação comunitária cria valores e normas que norteiam o seu comportamento associativo. Isto se realiza mediante a participação que leva o grupo a descobrir os problemas, identificar soluções mais apropriadas na organização para torná-las factíveis. Nos últimos anos, começam a aparecer as primeiras escolas católicas que gradualmente buscam entrar nas perspectivas supracitadas. "Pode ser a melhor forma de fazer a opção pelos pobres, mas pode também ser a melhor forma de educar a classe média na escola da democracia e da participação". (Herbert de Souza, Algumas idéias sobre a escola comunitária, in Revista da Educação AEC,ano 13, nQ 54, 1984). Será a escola nova de um novo tempo, eliminando a contradição entre público e privado, resolvendo o problema da escola autoritária e democrática através de formas participativas de organização e gestão.

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O EQUIPISTA E SUA INSERÇÃO NO MUNDO (Do documento "O Espírito e as Grandes linhas do Movimento")

O equipista é um leigo. Vive no mundo, nele trabalha, nele cresce espiritual e profissionalmente. Vive, trabalha e cresce num mundo cada vez mais complexo, cada vez mais absorvente, voltado para os valores materiais e cada vez mais esquecido dos valores morais e religiosos.

É neste mundo paganizado que as Equipes de Nossa Senhora são chamadas a atuar, com a Igreja, levando os seus membros a serem fiéis ao programa traçado pelo Concnio de "oferecer ao gênero humano a colaboração sincera da Igreja, para o estabelecimento de uma fraternidade universal que corresponda à vocação altíssima do homem" (A Igreja no Mundo de hoje- Gáudiun et Spes- nº 3) . Mas como atuar, se o trabalho é imenso, sobre-humano mesmo? O que é impossível ao homem é possível a Deus. O que se nos pede é de nos engajarmos com fé na obra redentora iniciada por Cristo e continuada pela Igreja. O que se nos pede é trabalhar para o estabelecimento de uma fraternidade universal. E a raíz de todos os males é justamente o predomínio do egoísmo sobre o amor. O que o mundo precisa é ser invadido pelo amor. E, neste ponto, os equipistas são particularmente bem preparados. Pertecem a um movimento que, através de seus métodos, de sua mística, de todos os seus recursos comunitários os ensina, os incentiva, os apóia para a vivência da fraternidade cristã. Tendo assim o privilégio de muito receber, têm eles o dever de não guardar só para si o que adquiriram, mas sim repartí-lo com o próximo. "Com a força do Cristo, podeis e portanto deveis realizar grandes coisas", nos disse Paulo VI no fim de seu discurso, várias vezes comentado. Eles o podem fazer de·várias maneiras: Pelo testemunho de sua vida -vida pessoal , familiar, social. Vida pessoal simplesmente vivida, mas de quem tem em alta conta a retidão no seu proceder e, por isso, não pactua, não transige, não burla .. . Vida familiar 12 - CM Junho/91


que se alicerça na vivência do amor. Num mundo que cada vez mais explora as contrafações do amor, o amor de uma familia cristã não pode deixar de marcar o ambiente em que vive. "Um homem e uma mulher que se amam, um sorriso de criança, a paz de um lar: a pregação sem palavras, mas tão surpreendentemente persuasiva, em que todo homem pode já pressentir, como por transparência, o reflexo de um outro amor e o seu apelo infinito" (Paulo VI). Vida social, que vai desde o trato com aqueles que entram em contato, até o modo de se apresentar, de conversar, de se divertir nos mais variados encontros sociais. Pela sua atividade profissional - "Querem ser competentes na própria profissão", nos dizem os Estatutos na sua primeira página. Mas esta palavra "competência" tem uma amplitude que pode passar despercebida à primeira vista. E isto porque é extremamente vasta a gama de profissões. E, por conseguinte, também ampla a gama de responsabilidades. Mas, qualquer que seja o trabalho, desde o mais humilde ao mais elevado, pode ser encarado do ponto de vista de um serviço prestado aos homens. E o cristão deve pensar duas vezes antes de se entregar a um trabalho que não seja, por qualquer título, um serviço. E não deverá pensar nem mesmo duas vezes, quando se trata de um trabalho em que se explora o homem e, muito mais, quando se explora a sua intemperança ou as suas paixões. Qualquer que seja o trabalho, com as ressalvas apontadas, é sempre uma colaboração à obra de Deus. A criação, iniciada no albor dos tempos, continua ininterruptamente a se processar. E o homem recebeu do Criador o dom inigualável de ser, com Ele, artífice na criação do universo que o cerca. O trabalho assume assim um valor incomparável e, ao mesmo tempo, engrandece o homem que a ele se entrega conscientemente. Qualquer que seja o trabalho, o cristão poderá transfigurá-lo, se a ele se entregar com alegria, honestidade, competência. Dirigentes ou dirigidos, todos podem contribuir para criar ao redor de si um ambiente de fraternidade e, na medida das próprias forças e influência, trabalhar para que haja no mundo mais justiça, condição da paz. O equipista que aprendeu ou aprimorou na equipe a mística de fraternidade, de cooperação, de auxOio mútuo, pode e deve impregnar o seu ambiente de trabalho destas virtudes, penetrando-o do sentido cristão do amor ao próximo e ajudando assim a tornar Deus presente no seu meio.

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Esta síntese, muito suscinta, daquilo que se acha ao alcance do equipista fazer, malgrado as suas limitações, mostra entretanto que estas fracas forças, somadas às de seus irmãos de ideal e às de todos os cristãos conscientes, podem contribuir para que as Equipes de Nossa Senhora deem à Igreja a sua colaboração para "construir um mundo de acordo com a dignidade eminente do homem ... e corresponder sob o impulso do amor, com esforço generoso e comunitário às exigências urgentes de nossa época" (A Igreja no mundo de hoje - Gaudium et Spes- nº 91) .

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PRIORIDADES

REUNIÃO DE EQUIPE A Reunião de Equipe é o lugar onde o movimento se realiza. Tal é o valor desta, que o Padre Caffarel colocou-a como algo a ser refletido acima de qualquer outro evento do movimento. Ora, se somos concordes em reconhecer o valor da Reunião de Equipe em nossas vidas, um primeiro questionamento se faz presente. Como é que nos preparamos, individualmente e como casal, para participar deste encontro? O primeiro passo a ser dado para participarmos e vivenciarmos uma verdadeira Reunião de Equipe está em prepará-la com a devida antecedência. E este preparo começa com a realização da Reuniao Preparatória. Não se pode conceber uma reunião na qual os participantes são informados, no momento de sua realização, do conteúdo a ser tratado. O ideal seria que a Reunião Preparatória fosse sempre realizada com a participação, além do Casal Responável e do Casal Animador, do Conselheiro Espiritual. Infelizmente, sabemos que nem sempre isto tem sido possível em muitas equipes. Entretanto, este não deve ser motivo para que não se faça assim mesmo esta preparação. Esta reunião deve ser realizada com a devida antecedência em relação à reunião mensal, de tal forma que os casais equipistas possam receber em tempo hábil o Roteiro. Assim sendo, o casal poderá bem preparar-se, refletindo sobre o Tema de meditação, dialogando sobre a sua Co-Participação, fazendo um Dever de Sentar-se sobre a Partilha, etc.

Uma última palavra sobre a Preparatória; como as nossas reuniões devem ser uma "caminhada", estas não devem ser de momentos estanques, sem ligação com as anteriores e com nossa vida do mês. Deve-se procurar fazer com que cada reunião seja uma continuação da anterior, permeada de nossa vivência do mês. Com relação à Reunião de Equipe própriamente, devemos sempre nos lembrar de que ela é um valioso elemento para nossa formação. Mas, para que a reunião seja realmente proveitosa, é fundamental que o casal se prepare adequadamente, como já mencionado.

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Outro ponto que deveremos ter sempre em mente é o do porque nos reunimos em equipe, isto é, qual o objetivo destas reuniões. Infelizmente muitos casais têm perdido esta verdadeira riqueza em suas vidas, por terem se esquecido do porque estarem participando do movimento das Equipes de Nossa Senhora. Não participamos destas reuniões socialmente, mas porque nos propusemos um objetivo mais nobre, o de caminhar rumo à nossa santificação como casal. E este é um momento privilegiado para nossa formação como cristãos. Na Reunião de Equipe, tudo tem importância, seja o Tema de Estudo, a Co-participação, a Partilha, etc. . Para termos a presença de Jesus em nosso meio, é preciso que participemos de coração aberto (transparência) e tenhamos uma verdadeira aceitação do outro. Lembremo-nos que fomos chamados juntos tais como somos, pelo Espírito Santo. A reunião é tanto melhor quanto mais se tem disponibilidade para com o outro. Devemos acolher e amar verdadeiramente nosso irmão ou irmã de equipe, mesmo que não seja aquela pessoa que escolheríamos para amigo. Se ele ou ela ali está, foi porque o Espírito Santo o colocou para servir de instrumento para nosso próprio crescimento e, portanto, precisamos amá-lo e serví-lo. Se bem que todos os momentos da reunião sejam importantes, um se destaca por ser o "coração" da mesma; Trata-se da Partilha. Quando ela é bem vivenciada e participada, quando realmente partilhamos nosso verdadeiro empenho de buscar aquelas três atitudes - de nos abrirmos à vontade de Deus, à verdade e ao maior encontro e comunhão - quando colocamos com franqueza nossos sucessos e fracassos, aí podemos buscar a verdadeira entre-ajuda. É na Partilha que podemos verificar como está a nossa caminhada de compromisso cristão. Por esta razão ela não deve ser uma "cobrança", uma "fiscalização" ou uma simples "contabilização de perdas e ganhos". Dar vida a uma partilha é aceitar que a famnia e a equipe são "Igrejas", como presença do Senhor que nos convoca, nos perdoa e nos ama. Assim , pois, trata-se de uma Partilha de Vida. Deve-se questionar a validade de uma equipe onde a partilha consta de uma rápida passada para "cumprir'' com o roteiro. Muitas vezes deixa-se de aproveitar a riqueza da reunião, para se cair num questionamento estéril a respeito das partes que a compõem (Porque a partilha? porque o Tema de Estudo por escrito? etc.). As equipes são um movimento de espiritualidade. Ora, não existe espiritual idade sem aprofundamento, sem estudo, sem reflexão. Não vem ao caso a questão do que seja espiritual idade; o que parece indispensável é sublinhar a dupla 16 - CM Junho/91


dimensão da mesma que é a ação e a reflexão. A ação é justamente a santificação da realidade conjugal, e um dos grandes auxnios à reflexão é (ou deveria ser) o próprio Tema de Estudo. O Tema de Estudo é a reflexão sobre o mesmo. Exige de nós um verdadeiro empenho. Daí a necessidade do casal refletir a dois sobre o mesmo e comprometer-se com sua colocação por escrito. Ao nos posicionarmos por escrito sobre o assunto estaremos fornecendo subsídios necessários ao Conselheiro Espiritual para que ele possa ajudar a bem preparar a reunião mensal, e a ajudar aos casais no seu processo de caminhada. E, o que é tão ou mais importante, nos comprometemos com aquilo que escrevemos. Embora toda reunião seja uma co-participação, nós temos um momento próprio para este fim, e este deve ser muito bem aproveitado. Assim como a partilha, a verdadeira Co-participação não se realiza sem esforço. Muitas equipes pulam este momento. Por este "pulo" a amizade é que muito perde do seu vigor; sem se conhecer, os casais não podem amar-se como verdadeiros irmãos. Observa-se neste particular que nas equipes onde os casais têm atividades apostólicas, a reunião tende a se tornar muito mais rica e animada. Como conclusão, porém sem a intenção de havermos esgotado o assunto, verificamos que a equipe faz parte de uma caminhada. Precisamos nos lembrar que não estamos numa equipe para cumprir regrinhas ou ordens, mas para que ela nos ajude a realizar nossa caminhada de santificação. Nossa vida de cristão deve ser uma conversão diária. A equipe também caminha. Assim, a Reunião de EqÚipe tem sua finalidade no serviço que ela presta aos casais, como instrumento de formação, como etapa de um caminho que leva ao Pai, com Nossa Senhora. Maria Regina e Carlos Eduardo

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EDITORIAL

' COMEÇAR DA ESTACA ZERO? .

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Quando se começou a falar de Segunda Inspiração, houve reações espontân~as em diversos sentidos. Houve, principalmente, duas posições extremas e opostas. Alguns, mais para o lado saudosista, temiam que se abandonasse o carisma fundador em prol de uma linha nova e inédita. Outros, dentre os casais mais novos, desejavam que se "começasse tudo da estaca zero"! "Deixemos de ser escravos de uma tradição! Perguntemo-nos: se fossemos criar hoje um movimento de espiritualidade para casais, como seria?" Era uma visão de Segunda Inspiração radical e confesso que achei essa atitude promissora, encorajando alguns de.sses casais a levar avante sua busca. Não dizianios nós que a · Segunda ·Inspiração era um apelo à inventividade e à criatividade? •.· · ·· Eu próprio quis refletir sobre esta questão, pois ela se levanta inevitavélmente, se quisermos encarar as novas realidades. E fiquei convencido de que as respostas que obteríamos seriam muito parecidas com aquelas que se encontram na tradição das Equipes de Nossa Senhora. Existem coisas 'incontornáveis', insubstituíveis, como o dever de sentar-se ou a oração conjugal, como a vida em equipe e a partilha ... E o acesso regular da maioria dos casais a funções de responsabilidade (equipe, setor, pilotagem, ligação... ) é um trurifo precioso com frutos evidentes. Começar da estaca zero? Basta uma reflexão sólida, profunda e verdadeira para redescobrir a importância e a adequação dos objetivos e dos métoc dos das Equipes de Nossa Senhora. ··

*** Outro dia, fiz uma experiência surpreendente. . Um jovem casal de noivos que se prepara para o casamento - e muito seriamente - pediu-me uma entrevista porque tinham "muitas perguntas para fazer''. E realmente, inundaram-me com perguntas; Mas a cada uma delas, a minha s\.Jrpresa ia crescendo, porque constatava que cada uma encor,~tra­ va sua resposta na prática da vivência das E.N.S. · Como exemplo, só citarei uma pergunta dentre uma duzia. "Um ponto que 18 - CM Junho/91


nos preocupa muito, é de poder ter a certeza de caminharmos juntos, de não nos afastarmos um do outro sem perceber. O que devemos fazer? Claro, falei-lhes do dever de sentar-se, que não conheciam. Expliquei como funciona. Acharam que era 'genial' . Ou ainda, disseram: "Seria interessante saber como fazem os outros casais, seria importante discutir com outros que estão no nosso caso... '' Falei da vida.em equipe e da co-participação. Queria me ater a uma só pergunta, como exemplo. Mas a tentação é forte demais! Poderíamos fazer desfilar todos os pontos de esforço e todas as atividades de uma reunião de equipe. Fiz a prova, da maneira mais direta possível, do quanto tudo isto continua atual.

*** Por temperamento, não gosto de fazer propaganda ou publicidade para a minha capelinha. Mas não podia deixar de falar-lhes do Movimento das Equipes de Nossa Senhora. Se assim desejarem, poderão entrar. Mas entenderam muito bem que seu verdadeiro problema - como construir um casal - é justamente aquele que enfrentamos todos juntos. E penso que deve haver muitos jovens como eles, que buscam, que sentem que precisam ser ajudados e que talvez não saibam em que porta bater. Sem querer fazer recrutamento, precisaríamos saber estender-lhes a mão, falar-lhes de nossa experiência. Dizer-lhes, talvez, simplesmente: venham e vejam! Existem casais oficialmente encarregados da informação e da difusão. Mas devia ser uma preocupação de todos! Ao mesmo tempo, para os "antigos", aí está um chamado urgente para reativar os recursos que lhes são oferecidos, para dar-lhes uma nova juventude, uma nova eficácia. Não fiquemos sentados sobre nosso tesouro, como os avarentos. Não deixemos dormir ou mofar nossas riquezas espirituais, exploremo-nas a fundo! Podem estar certos de que o filão ainda está longe de se ter esgotado. E a vantagem deste tipo de riqueza, é que ela aumenta na medida em que a gastamos ou distribuímos... É um pouco como aquela parábola dos talentos ... Fr. Bernard OLIVIER, O.P.

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CARTA DA EQUIPE RESPONSÁVEL INTERNACIONAL

Queridos amigos, Voltamos a ter oportunidade de nos dirigirmos de novo a todos vós, casais e conselheiros espirituais das ENS de todo o mundo, neste tempo de Páscoa da Ressurreição do Senhor, acabados de regressar da Califórnia (E.U.A.), onde estivemos durante 2 semanas a conviver e dar formação a casais e conselheiros espirituais das equipes de imigrantes portugueses, que atingiram já a 26 equipes, agora integradas em três setores, que constituem, juntamente com o setor da Nova Inglaterra (7 equipes), a Região das equipes de Língua Portuguesa nos EUA (RELPA) . Ao tomarmos uma consciência mais clara das profundas carências experimentadas por tantos dos nossos irmãos, quer no campo material, quer no campo cultural e espiritual, decidimos partilhar convosco a reflexão sobre a nossa responsabilidade perante tais situações, tendo por base os Atos dos Apóstolos (4,32-35) e a Segunda Inspiração (4.). Segundo o primeiro texto, as primeiras comunidades cristãs, que as ENS pretendem tomar como modelo, viviam em plenitude a comunhão e a partilha de bens, não havendo entre eles qualquer necessitado, pois cada um recebia conforme a necessidade que tivesse. Todos·os que possuíam riquezas materiais vendiam-nas e depunham aos pés dos Apóstolos o produto dessas vendas. Talvez nós não tenhamos hoje fazendas ou casas que possamos vender, mas temos outras riquezas (habilitações profissionais, por exemplo) que nos proporcionam rendimentos que poderemos partilhar com os necessitados. E como identificar os necessitados? Como partilhar com eles os nossos bens? A prática dos primeiros cristãos, sem eliminar certamente o auxnio direto ao necessitado que vive ao nosso lado, parece ir no sentido de confiar o produto da venda dos bens a instituições (os Apóstolos) que se encarregavam de distribuir a cada um conforme a necessidade que tivesse. Nesta linha se poderá considerar o pagamento dos impostos, segundo critérios de justiça social, em que cada um paga conforme a sua capacidade econõmica, havendo os que, sem nada pagarem, recebem os benefícios dos bens públicos colocados pelo Estado ao dispor de todos os cidadãos, entre os quais se contam a saúde e a educação, a que se adicionam os benefícios da segurança social, que procura atender às necessidades dos doentes, dos sem trabalho, dos aposentados, dos sem teto, etc. Por issso, o pagamento dos impostos justos é um dever moral e 20 - CM Junho/91


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de solidariedade. Também se incluem nesta mesma linha as ofertas que fizermos para a Igreja, que continua a ter uma ação muito meritória junto dos mais necessitados, e para outras instituições, públicas ou privadas, de solidariedade social, que mantêm programas de auxilio aos mais carenciados e às vítimas dos flagelos sociais como a droga, a prostituição, etc. Também a partilha dos bens que nos comprometemos a fazer com o nosso Movimento, a que vulgarmente chamamos de cotização, correspondente ao rendimento de um dia de salário, ou, dito de outro modo, a 1/365 do nosso rendimento anual, é um gesto semelhate ao dos primeiros cristãos, de depor ao pé dos Apóstolos o produto da venda dos nossos bens, que são o nosso trabalho, para fazer face aos encargos com o nosso Movimento. Com efeito, sendo o nosso Movimento de espiritualidade, isto é, de formação permanente, necessário se torna fornecer aos seus membros todo o material de estudo e reflexão, como os temas anuais e as cartas mensais, bem como organizar sessões de formação I e 11 , cursos para CP e CL, jornadas de RE e RS, seminários, encontros e outros meio·s de animação das equipes que, embora co-participados nos seus encargos pelos respectivos participantes, envolvem gastos de organização vultuosos. Por outro lado, o objetivo da construção da unidade do nosso Movimento, no exercício da co-responsabilidade e da colegial idade, exige permanentes reuniões de reflexão e de decisão a todos os níveis, com deslocações, por vezes, de longas distâncias e, consequentemente, dispendiosas, bem como a ligação entre a ERI e as SR ·e RI. Além dissso, a permanente preocupação de difusão da 'espiritualidade conjugal e familiar, bem como da expansão do nosso Movimento em áreas novas e, por vezes, distantes, por exemplo, os países da América Latina, da Europa do Leste, e da África, tudo isto se traduz em vultuosos encargos que as ENS suportam, com alegria, espérança e espírito de partilha, de acordo com o nº 4 da Segunda Inspiração. Se é importante partilhar os nosssos bens materiais para tornar possível ao nosso Movimento realizar a sua vocação e missão na Igreja e no Mundo, mais importante ainda é partilharmos a nossa riqueza humana e espiritual, a nossa fé, a nossa esperança e sobretudo o nosso amor, que se traduz em serviço aos outros, na satisfação das suas necessidades de formação humana e espiritual, oferecendo a nossa disponibilidade e o nosso tempo. Esta disponibilidade, na gratuidade, constitui, aliás, um interpelante testemunho, que facilitará muito a receptividade à nossa mensagem, ao mesmo tempo que predispõe os beneficiários das ações a uma atitude de reciprocidade, isto é, de partilharem gratuitamente aquilo que receberam. CM Junho/91 - 21


Mas se nem todos temos disponibilidade de terhpo para nos colocarmos ao serviço dos nossos irmãos necessitados, de formação humana e espiritual, que esperam pos nós e a quem o Senhor quer chegar através de nós, poderemos ao menos ·ser genero~os na nossa partilha de bens materiais, na nossa cotização anual, fazendo dela üm gesto de solidariedade para com todos os nossos irmãos do mundo que carecem de ser esclarecidos acerca da sua dignidade de homens e de mulheres, do amor de Deus para cóm eles, que se concretiza no seu amor conjugal e familiar, do seu direito a realizarem a sua profunda aspiração à felicidade, não apenas na vida eterna, mas já neste mundo, no seio da sua famnia, superando diferenças, tensões, desencontros, mal entendidos, silêncios, rotinas, que matam o amor; que carecem de ser ajudados a estar atentos ao cônjuge, aos filhos e aos outros e a dialogar sobre o seu projeto comum, em constante adaptação às circunstâncias concretas da vida; que carecem de ser consciencializados da sua vocação à santidade através do matrimônio, libertando-se da visão pecaminosa da sexualidade e promovendo a comunhão do casal em todos os aspectos da vida. Para dar pleno sentido à cotização, a nossa equipe de base soleniza-a e espiritualiza-a, fazendo a sua entrega numa celebração eucarfstlca que se integra na reunião do mês da cotização. A cotização não pode ser uma "esmola" que se dá para tranquilizar a consciência, mas sim um contributo ativo e generoso para que o nosso Movimento realize a sua vocação e cumpra a sua missão na Igreja e no mundo, onde lhe incumbe anunciar que o sacramento do matrimônio está ao serviço do amor, da felicidade e da santidade.

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· Os vossos Maria Almira e Alberto Ramalheira

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MARIA SERVA DO SENHOR Jesus, o único mediador entre Maria e Deus "0 primeiro momento da submissão de Maria à única mediação entre Deus e os homens, a de Jesus Cristo, é a aceitação dà maternidade por parte da Virgem de Nazaré ...A maternidade de Maria, impregnada profundamente pela atividade esponsal da 'Serva do Senhor', constitui a primeira e fundamental dimensão daquela mediaçào que a Igreja confessa e proclama em relação a ela" (RM,39) . Na anunciação, foi revelado a Maria quem era o único mediador entre Deus e os homens: aquele que seria o filho de suas entranhas por obra do Espírito. Ao aceitar sem condições a maternidade, Maria aceita o mediador, o Filho do Altíssimo. Maria submete-se totalmente à vontade de Deus: "Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a sua palavra"(Lc 1,38). Esse foi o "primeiro momento de submissão à única mediação, a de Jesus Cristo: a aceitação da maternidade por parte da Virgem de Nazaré" (AM,39) . Maria entendeu sua própria maternidade .como doação total de si mesma, de sua pessoa, a serviço dos desígnios salvadores do Altfssimo (AM,39) . É preciso entender a servidão como acordo esponsal : Maria foi a mulher que, por amor esponsal - virginal -, "consagrou" totalmente sua pessoa a Deus. A maternidade de Maria está impregnada profundamente pela atividade esponsal da serva do Senhor (RM,39) .

Jesus foi o único mediador entre Deus e Maria, Maria e Deus. Maria foi eleita, redimida e agraciada em Jesus Cristo, o amado do Pai. E, por meio de seu filho, sua resposta chegou até o altar do céu. Maria foi a "primeira a experimentar em si mesma os efeitos sobrenaturais dessa mediação única" (RM, 39) . Sem Jesus Cristo Maria teria sido como um ramo cortado da videira, como uma serva sem redentor, como um ventre materno sem fruto, como uma mulher sem a graça de Deus. Tudo o que ela era, devia-o a Ele. Ela havia recebido tudo de Deus por meio dele. Por isso Lucas e sua Igreja a proclamam "bem-aventurada". Oração Louvado seja o Pai, nosso Deus trascendente, por haver-se aproximado de nós, pela mediação de seu único filho, e por ter estabelecido conosco, CM Junho/91 - 23


e por meio dele, uma eterna aliança de amor; Louvado seja o Pai, porque Maria, a humilde mulher de Nazaré, foi a primeira a experimentar toda a riqueza da mediação de Jesus que a acolheu sem nenhum tipo de reservas; Óbrigado por nos ter mostrado em Maria até onde pode chegar em nós o efeito divinizante da mediação de seu Filho, nosso Irmão Jesus Cristo. Amém. José Cristo Rey Garcia Paredes (Trad . Suely Mendes Brazão)

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A IGREJA E O CAPITALISMO (3a. parte) Publicamos aqui o trecho final da Orientação Pastoral para os fiéis da Diocese de Novo Hamburgo/ RS, do Bispo Diocesano Frei Boaventura Kloppenburg, OFM. Os números de março e maio de 1991, da Carta Mensal, trazem os trechos iniciais deste documento.

7. Esta sumária ponderaÇão sobre os componentes do sistema econômico capitalista permite concluir que ele, em cada um dos seus elementos constituintes, é aceitável e compatível com as exigências do Evangelho, ou seja, de que pode haver capitalismo de inspiração cristã. Entretanto, é evidente, que cada um de seus elementos componentes é suscetível de sofrer abusos que conduzem ao surgimento de tipos de capitalismo viciado e selvagem e, portanto, inconciliável com a visão e vida cristã. Em sua configuração histórica liberal, a economia de mercado foi, de fato, atingida pelos seguintes vícios com efeitos econômico-sociais aberrantes: -a propriedade privada dos bens de produção absoluto, sem hipoteca social; -a avidez exclusiva do lucro como motor essencial e sem freio do progresso econômico; - a concorrência como lei suprema de economia e sem limites de ordem moral; - a dissociação entre capital e trabalho, com a cansequente exploração do trabalho pelo capital, estabeleendo entre um e outro relações de força e não de direito, tratando o trabalhador como simples mercadoria ou instrumento de produção e não como pessoa e sujeito de direitos econômicos. Este liberalismo sem freio, com razão denunciado como "gerador do imperialismo internacional do dinheiro" não merece a bênção de Deus, nem o apoio dos cristãos. CM Junho/91 - 25


8. Na sociedade de hoje, é dever dos cristãos, contribuir eficazmente para a real ização do encontro entre o capital e o trabalho. Não estamos mais na Europa do Século XIX quando começou a era da industrialização, sem legislação trabalhista e sem jurisprudência laboral , quando buscou-se inspiração no paleoliberalismo otimista e mecanicista da escola de Adam Smith (1733-1790) . Aquele liberalismo assegurava a iniciativa econômica sem maior preocupação para com a dignidade e os direitos da pessoa do trabalhador, sustentando que essa era, apenas, mais um instrumento no processo de produção. Negando ao Estado o direito e odeverde intervir, o liberalismo de fato propiciou uma imensa exploração dos fracos pelos fortes. Era a ideologia do então adveniente sistema capitalista. A doutrina social cristã se opôs, decidida e sistematicamente, ao "laissez faire" da máquina liberal. 9. Se queremos acabar com a miséria e a pobreza, devemos fomentar o crescimento econômico. O erro mais fatal do socialismo foi pensar que a pobreza podia ser superada mediante a distribuição da riqueza existente, sem ao mesmo tempo providenciar a criação de novos e abundantes bens. Sem produzir fartura é ilusório querer distribuí-la. Sem o crescimento econômico só teremos a pobreza generalizada e o nivelamento para baixo. Só haverá eficácia social onde houver eficiência econômica. Sabemos pela história que as políticas que favorecem a produção tendem a melhorar a condição dos pobres mais eficazmente que as políticas que promovem a distribuição da riqueza existente. E a experiência nos ensina que o único sistema econômico conhecido e comprovado capaz de produzir novas riquezas é aquele que se baseia na energia e criatividade da empresa privada unida ao mercado com seu mecanismo de indicadores de preço muito matizado. Mas é evidente que não basta o mero crescimento econômico ou o simples aumento da riqueza e fartura. Infelizmente devemos constatar que a solicitude pelo bem comum e a preocupação pelos mais pobres não nascem espontânea e automaticamente da iniciativa privada, nem do livre jogo dos mecanismos do mercado. Se a acumulação de bens não for regida por uma intenção moral e para uma orientação para o verdadeiro bem da humanidade, ela se volta facilmente contra o próprio homem e, ao lado do subdesenvolvimento, produz o superdesenvolvimento que leva à civilização de consumo como uma forma de crasso materialismo. Deve, pois, o crescimento ter como alma uma determinação firme de se empenhar pelo bem comum, sem se deixar arrastar por anseios de exclusiva 26 - CM Junho/91


utilidade pessoal. Todos devemo-nos sentir responsáveis por todos. Não queremos a luta de classe mas a solidariedade entre elas. Depois de recordar a Timóteo que "a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro, por cujo desenfreado desejo alguns se afastaram da fé, e a si mesmos se afligem com múltiplos tormentos" {1 Tim 6,1 O), o apóstolo Paulo lhe faz esta recomendação: "Aos ricos deste mundo exorta-os que não sejam orgulhosos, nem coloquem sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que nos provê tudo com abundância, para que nos alegremos. Que eles façam o bem, se enriqueçam com boas obras, sejam pródigos, capazes de partilhar. Estarão assim acumulando para si mesmos um belo tesouro para o futuro, a fim de obterem a verdadeira vida". (ib. 6, 17-19) Novo Hamburgo/AS, na solenidade da Epifania do Senhor de 1990 Frei Boaventura Kloppenburg, O.F.M.

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REALIDADE

JUSTIÇA DE DEUS Já faz tempo que os brasileiros poderosos calam seus profetas matando-os ou mandando bater neles. Por estas e outras razões, Deus não é mais cidadão brasileiro. Cassaram-lhe a cidadania, mas Ele vive como clandestino nas casas de quem ainda acredita em não roubar, não cobrar ágio, não mentir, não matar, não oprimir, não deixar os outros com fome, não se aproveitar da situação, não aceitar suborno, não receber salários atronômicos quando a maioria não ganha para comer. Mas Deus não entra, nem pode entrar, nas igrejas que oprimem, com a idéia do demônio e do castigo e arrancam dinheiro do povo simples; nas companhias mineradoras e nas indústrias que poluem nossas águas e matam nosso verde; nas fábricas de agrotóxicos notadamente perigosos; nos projetos faraônicos que sugam dinheiro da nação. Deus não pode ser encontrado nos latifúndios onde o peão não pode produzir para seu próprio sustento; nas grandes fazendas onde o patrão leva o veterinário de avião para cuidar do garanhão doente, mas deixa que seu oprário ferido vá de caminhão por 20 horas de estrada para esperar na fila do INAMPS; onde se plantam se processam e se comercializam drogas; nos hospitais que deixam o doente morrer por falta de um papel. Não se encontra Deus na lei de levar vantagem, nem na cabeça dos que vivem na base do "se eu não faço, outros fazem"; nas indústrias do som, da imagem e dos motéis que exploram algo lindo como o amor e o transformam em flor suspeita das madrugadas; nas clínicas de aborto; nas casas de jogo onde pais de famnia perdem o pão dos filhos ; na indústria de sequestras. Deus foi banido das programações infantis que até falam dele mas desprezam costumes e crenças. A televisão sequestra as crianças dos pais por horas e horas e ensinam erotismo infantil com canções lascivas de adultos, roupas sempre reveladoras, pouquíssima informação cultural e desenhos cheios de violência. Mas pedem a benção de Deus para o programa. Deus não é brasileiro. Não que Ele não queira. É que no Brasil muitas pessoas consideram-No um pregador ultrapassado, que não fala economês ou capitalês, não tendo o que dizer aqui. Se quizer sobreviver, deve voltar ao latim e limitar-se a batizar, fazer casamentos, se ainda houver quem queira casar diante d'Eie, celebrar bodas, enterrar mortos, benzer lojas, bancos e carros. Mas deve ficar na sacristia das igrejas. Que não se 28 - CM Junho/91


meta na política nacional, difundindo a idéia de que o povo é dono de si mesmo. No Brasil, a história já tem dono e os 140 milhões de pobres estão com o seu destino traçado: ficar no seu lugar, e o país terá ordem e progresso. O Brasil não admite desordem e se o Criador teimar em querer repartir a terra entre todos e moralizar o capital, os que mandam no país pedirão auxnio a alguma nação amiga da democracia e o enviarão de volta para o lugar de onde veio. Enquanto apenas dava conselho aos ricos e poderosos, Deus era bem aceito. Entrou para a clandestinidade quando o salário dos deputados ficou 200 vezes maior do que o do trabalhador que não consegue nem o suficiente para o pão e o leite dos filhos. Agora, nem seus escolhidos o vêem direito. Ele anda frequentando muito mais os hospitais, as casas dos pobres e os lugares onde se passa fome e onde a vida pende por um fio. Mas como os 1O milhões que detém o dinheiro e o poder não se misturam com esta gente, ao menos Ele tem chance de continuar no Brasil. Não vão achá-lo nunca. Pe. Zezinho S.J.C. (Da revista Famnia Cristã)

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ATUALIDADE

Reproduzimos aqui um trecho de Fernando Sabino, publicado em seu livro "A volta por cima" (Ed. Record, pg.87)

REFERENCIAL Uma agência de publicidade me encomendou um texto para um poster, contendo uma mensagem aos jovens - aqueles que serão "os homens de ação no ano 2000". Fico lisongeado e confuso. Pergunto ao Luís o que esperaria que eu lhe transmitisse numa mensagem. Ele responde apenas:

- Um referencial. Peço que se explique melhor. Ele me diz que está estudando para a prova de física e que acha Newton "uma cara legal", por causa dos princípios dele. Tenho uma vaga lembrança de um princípio de Newton, e só um, aprendido no ginásio: aquele que fala em lei da gravidade, envolvendo uma maçã que caiu em sua cabeça - qualquer coisa assim. Mal aprendido, portanto. Os dois princípios que ele evoca são outros, que anunciou, acrescentando: -O que eu acho legal em Newton é que ele começa por nos dar um referencial. - E voce gostaria que lhe dessem um referencial para a vida em geral. 30 - CM Junho/91


Coisa bem difícil, nos dias de hoje. Uma das lembranças mais antigas que eu tenho é a de minha mãe a dizer que estava tudo mudado, diferente do seu tempo "não dá para entender o que se passa hoje em dia". De vez em quando me vejo repetindo suas palavras. Não dá para entender- mas não porque as coisas sofreram um processo natural de evolução-ao longo dos anos, progrediram muito desde então. O que acontece é que de súbito tudo no mundo parece ter passado a decorrer numa sequência desordenada e caótica. A própria linguagem se subverteu: não há mais sujeito, predicado e complemento, que dirá concordância entre eles. As palavras não fazem sentido, se desvirtuam a cada momento no trato cotidiano. Os fatos perderam qualquer espécie de lógica que lhes dê relação de causa e efeito - perderam o referencial. Um referencial. É o que. os jovens de hoje esperariam . receber como mensagem dos mais velhos. Mensagem difícil, transcendendo os limites da física de Newton e invadindo os da ética de Aristóteles. Que referencial será este? Um código de princípios de ordem moral?

- A normalidade, talvez - falei, e me antecipei ao jovem, pensando em voz alta: - Mas o que é normal e o que não é hoje em dia? Ele me ouvia, pensando em silêncio. A moral será assim flexível, a ponto de poder ser subvertida a cada passo, de acordo com as circunstâncias do momento, sujeita às conveniências de cada um? Não haveria mais no mundo de hoje necessidade de uma tábua de valôres, um código de ética, um parâmetro de conduta pelo qual nos pautarmos em sociedade? Onde está Moisés com as tábuas da Lei? Como dizia CM Junho/91 - 31


Dostoievski, se Deus não existe - como parece ter sido decretado, revogando as disposições em contrário- tudo é permitido? - Voce diz um mandamento?- perguntou ele -Sim, por que não? Amar a Deus sobre todas as coisas, por exemplo. É um mandamento, o primeiro. Mas que não vale nada sem o resto: e ao próximo como a si mesmo. Um mandamento, sim. Ou vários. Que podem tanto ser os da lei de Deus como o da lei dos Escoteiros, tanto faz. O que é preciso é que haja uma lei. E que ela seja cumprida. Ou pegue - coisa que nem sempre acontece no Brasil. -Uma lei a partir de que? - Do normal, talvez - repeti - Digamos que a normalidade seja o que decorre do respeito às leis da natureza e mais do que isso: da equidade, do juízo e do bom senso. Por aí. É o direito natural. Uin exemplo? O respeito à vida: é errado matar. Não matarás. Esta é a lei. A ela antepomos as exceções: a não ser em casos de legítima defesa. Defesa da própria vida - e por aí vai, até a legítima defesa putativa, ou a da honra: aquela que costuma absolver tantos assassinos de mulheres. Ou da Pátria ameaçada, que leva à guerra, aos fuzilamentos, à tortura, ao assassinato a sangue frio. Quando a lei - a de Deus - é curta e grossa: Não matarás, ponto. Esta Lei não pegou. E nenhuma outra: Se defendemos um princípio de direito natural, somos retrógrados. Se protestamos em nome da moral, que às vezes envolve o respeito "aos bons costumes e à moralidade pública" invocado pelas autoridades, somos reacionários, 32 - CM Junho/91


quadrados, caretas- quando não fariseus, hipócritas. Ou pior que isto: moralistas - que é xingamento. Passemos portanto a ensinar aos jovens que o "legal" é ser amoral, ou simplesmente imoral. Contra o perigo de pegar a AIDS, por exemplo, vale tudo: o desvio de conduta sexual, o despudor, a perversão, pouco importa - basta usar a camisinha. Para ficar só nesta área - sem falar na corrupção de costumes em relação ao bem público, que é de todos, portanto, não é de ninguém. Cada um que trate de defender o seu. E daí? Daí que não tenho competência para transmitir nada aos jovens. Não passo de um escritor sem pretensão de ensinar aquilo que ainda não acabou de aprender. E que às vezes nem começou. O que voce espera de mim, Luís, senão que reaprenda com os jovens a reformular sempre a minha concepção do mundo e das coisas? Cabe é a voce ensinar os mais velhos a olhar o mundo com os olhos de moço. E reaja, quando eles quiserem despejar sobre a sua cabeça a carga de ressentimento, inveja, rancor, vaidade, soberba e hipocrisia que acumularam ao longo dos anos, desde que perderam a mocidade. Tente o impossível: não perca a sua mocidade. O que se espera de um jovem não é que conquiste o mundo, nem o salve para os seus dias de maturidade. É muito menos e, no entanto, muito mais do que isto: que devolva a este mundo a experiência do seu próprio coração, oferecida ao seu semelhante. Amá-lo como a si mesmo- ofereça a ele o seu coração, como eu lhe ofereço o meu. Esta é a minha mensagem. Ou o meu referencial.

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ATUALIDADE

o ATO DE Quando ouvi pela primeira vez o neologismo "ficar' ' não entendi bem. Na minha ignorância achei que era ficar conversando ou dançando com o mesmo par em uma festa. Comecei a indagar pacientes, parentes mais jovens e alunos sobre o que consistia o "ficar' '. Ninguém conseguiu definir os limites. Pode ser o ficar falando, até praticar o ato sexual. E veja que não falo em "fazer amor'', pois não é possível praticar o sexo com amor tendo conhecido alguém apenas um punhado de minutos antes. E, no dia seguinte, nem se falam mais, como se nada houvesse acontecido! A corte, o lirismo dos apaixonados, não pode ter sido resumida, abortada e elaborada na velocidade da computação, para que em seguida e instantaneamente, a afetividade surja e seja introvertida nos amantes. Preocupei-me, então, em repensar as razões de seu surgimento. Seria a chegada da chamada "liberdade feminina "? Será que é o novo caminho para que a humanidade atinja a fel icidade plena? Será o anúncio do aparecimento de uma forma nova de relacionamento mulherhomem que vai tornar todos felizes e realizados?

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FICAR 11

A corte e o namoro sempre fazem parte da história do "enamoramento" entre seres humanos. Foi a principal razão do aparecimento dos poetas. Como pode alguém, que nunca se expôs à conquista, à cativação, entender Romeu e Julieta, Tristão e lsolda? O mais belo sentimento que podemos sentir - o amor - é o que modifica o curso da história na busca de um mundo melhor. Será que os jovens ainda não descobriram que a paixão é o segredo do sentido da vida? Que o coração sem amor, não colore a vida de seu possuidor? E que felicidade é uma questão de foro íntimo, e que cada um é responsável pela sua? Que somente os apaixonados sabem viver e morrer? Que quando termina um amor, o vácuo e a indiferença nos empurram em busca de outro? Ou será que as pessoas embruteceram os seus corações matando o amor? Será que a vida tornou-se preto e branco? Rollo May, em "Coragem de Criar'', afirma que é mais fácil entregar o corpo do que o espírito, pois este significa "baixar a guarda", exporse, dar-se. Entendo que toda a modificação e progresso deveria ser no sentido de tornar a humanidade mais feliz, menos vazia. Mas, o que encontrei entre os jovens é que depois do "ato sexual do ficar( ... ) vem


o vazio, uma vontade louca de chorar, vontade de levantar e sair correndo, pois não tem nada a ver, e no dia seguinte nem olho para a cara dele ou dela para não me lembrar do que aconteceu". Isto, que o sexo pode ter sido até bom! Por que então a negação da conquista, do conhecimento? Será que é considerado perda de tempo? Será uma perda da perspectiva de um mundo bom para si e para os seus? Ou será somente a perda de respeito por si, a prostituição de seu espírito, que é muito pior que a do corpo. Qual a expectativa de novos valores, referências sobre os quais construiremos nossa fel icidade?

Será que nós, pais, estamos falhando em nossa missão de começar a construção da felicidade de nossos filhos? Um jovem resumiu o que julgou ser a causa do aparecimento do "ficar" - muita liberdade e pouca orientação. Como vêem, estou cheio de dúvidas - o "ficar" ainda é uma nebulosa em meu cérebro - ajudem-me ou ajudem-se. Cesar Pereira de Lima (em Zero Hora, 6/4/91) Enviado por Evani e Marco Antonio Schoeller Eq. 14 - Setor Leste Rio Grande do Sul

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BOM SENSO E ÉTICA DO DIA-A-DIA

"Por não se pensar, durante muito tempo, que uma coisa acaba por parecer boa" (Thomas Paine)

é má, ela

Esta frase foi escrita há 200 anos e referia-se à atitude passiva dos americanos diante dos atentados à sua liberdade cometidos pelo rei George em relação à então colônia. Hoje, o tirano que ameaça destruir a nossa liberdade tem outro nome: chama-se corrupção. A corrupção está todos os dias nas manchetes, com histórias e cenas de ética questionável, de subornos, de propinas, de caixinhas, estelionatos, vandalismos, assaltos, roubos, furtos e outras formas de desonestidade e violência. Os editores de jornais de todos os tipos de mídia já se habituaram a guardar espaço para a última notícia sobre corrupção: quando não é uma coisa é outra e não passa dia sem que haja uma novidade. O que é pior, como já alertava Thomas Paine, é que toleramos tudo isso! Acabamos aceitando como normal o fato de que, em havendo uma brecha, todo brasileiro é um ladrão em potencial, seja "colando" na escola, armando "negociatas" na bolsa de valores ou "mutretando" uma concorrência pública. Aceitamos a necessidade de nos trancarmos a sete chaves em nossas casas e o risco de levar um tiro ou uma "cacetada" ao passarmos pelas ruas de nossas cidades. Aceitamos as mentiras do mecânico da oficina ou do presidente da empresa, como se fossem a coisa mais normal do mundo, uma espécie de hábito institucionalizado de nossos dias. Aceitamos as mentiras dos governos. E a corrupção dos políticos é tão generalizada que nem como piada faz mais sucesso. Para nós, "está tudo bem": é a política, dizemos. Por que toleramos todos esses atos de destruição? Primeiro, porque muitos de nós estão pessoalmente envolvidos e tiram vantagens da desonestidade e da corrupção. Segundo, porque muitos de nós são fracos e apáticos. Temos medo de tomar atitudes corajosas e positivas para deter essa tempestade de vergonha. Terceiro, porque muitos outros não conhecem outro valor que não seja o dinheiro. Compreende-se que alguns lutem pelo pão de cada dia, pela roupa do corpo, mas um bom número de "gente bem" critica e despreza todo e qualquer esforço que procure deter a onda 36 - CM Junho/91


da corrupção, enquanto passeiam pela Europa ou pelos Estados Unidos. Não há nada de anti-ético em passear por aí, mas parece um tanto amoral aproveitar-se dos benefícios de um sistema quando nada se fez para construí-lo, protegê-lo ou mantê-lo. Em quarto lugar, uma boa parte de nós parece contentar-se com a noção de que, enquanto observam padrões éticos razoáveis, não têm que se sentir responsáveis pela conduta dos outros. Não percebem o quanto a redução da desonestidade e da corrupção tem a ver com a preservação de nossa liberdade econômica e política. Talvez, para esses, a liberdade nem seja mais tão importante ... Como observava um colega, outro dia: "As pessoas não são conscientemente imorais: são inconscientemente amorais". Por fim , há aqueles de nós que não acreditam que a corrupção seja tão ruim assim. Há tanto tempo que convivemos com ela que começa a ter até um ar de respeitabilidade. Como é triste! E como é ameaçador para o futuro dos nossos filhos, da nossa Nação... E no entanto muitos, no íntimo, sentimos que esses sintomas da corrupção são os sinais de uma febre mais profunda, mais perigosa. Uma febre que está se espalhando. Sentimos que não dá para espantá-la com o simples desejo de que vá embora; que se for se espraiando sem controle, o corpo todo deste país vai ser sacudido pela violência do crime, pelos sobressaltos da tentativa de acabar com a democracia como sistema e da ânsia desenfreada pelo poder e pelo dinheiro, como nunca se viu. Quaisquer princípios ou instintos mais refinados que ainda tenhamos conservado serão as primeiras vítimas desta epidemia fatal. As leis que no têm base ética não produzem efeito. Os grandes crimes resultam da nossa passividade e de nossa aceitação implícita das pequenas desonestidades. Estamos diante de um mar de desonestidade. Numa pesquisa recente feita com candidatos a emprego em algumas empresas, um dos testes revelou que 42% - mais do que 2 em cada 5! -eram desonestos em potencial. Carregamos nas costas uma inflação incompreensível , que é visceralmente desonesta e cuja carga é distribuída injustamente. Estamos desiludidos com o govêrno, desconfiados das empresas e das instituições, cheios da hipocrisia reinante. Ora, sem princípios, sem honestidade, quando ninguém pode confiar em ninguém, não há liberdade possível! E sem liberdade, é perigoso ser honesto. Caso nosso próprio passado recente não o comprove, perguntemos aos Sakharov e aos Solzhenitsyn da vida! Será que estamos conscientes das consequências dos nossos CM Junho/91 - 37


atos sobre a liberdade, sobre a democracia no nosso país? E será que estamos realmente preocupados com isto? Será que estamos, como sempre, esperando que o vizinho faça algo a respeito? Vamos deixar de ser preguiçosos, egoístas, indiferentes ao futuro! Se a liberdade tem alguma importância para nós, por que não garantí-la para os nossos filhos? Por que não dar uma chance aos que estão começando agora, aos jovens, aos marginalizados, às mulheres, de desfrutar um pouca da democracia e da liberdade? Não há lógica, não há raciocínio cínico capaz de justificar a nossa indiferença! Não sou um pessimista. Não procuro provocar, apenas despertar. É preciso compreender que a liberdade se perde, em primeiro lugar, de dentro para fora. Parece que não entendemos as lições do passado. A ética é a corrente sanguínea de uma sociedade livre, um sangue que não pode ser permanentemente adulterado. Todo esforço, porém, é pouco. A fragmentação dos interesses individuais em nosso país, as atitudes voltadas a "levar vantagem em tudo", não conduzem a um pluralismo que é essencial ao funcionamento da democracia, mas provocam o desmoronamento do frágil sistema social que temos. Peter Nadas (Documento publicado por ocasião do Simpósio Internacional "A Ética no Mundo da Empresa", São Paulo, maio de 1991)

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TESTEMUNHOS MORRER PARA O EGOÍSMO Em reunião informal de nossa equipe discutimos a questão suscitada pelo título. Que é morrer para

o egoísmo?

Resposta muito fácil: Praticar, em todas as situações do cotidiano, o perdão, traduzido em paciência, renúncia, abnegação, benevolência, aceitação, perseverança na solução dos conflitos, tendo como meta a busca constante da PAZ: Agora vá ao dicionário, querido irmão equipista. Leia as definições!

É realmente exequível concretizar a resposta acima? Temos sempre presente que devemos agir no mundo como testemunhas de Cristo, praticando as virtudes mencionadas? Tudo aquilo que nos machuca abre feridas. É um fato inquestionável. No entanto, o nosso crescimento contínuo, a sabedoria, o carisma do Movimento deverão, em tempo bem mais breve do que ocorre com as pessoas que não têm nosso privilégio, fechar as feridas. A co-participação e a correção fraterna são recursos para nos auxiliar a perdoar. Como reflexão intelectual está perfeito. E daí? Como trabalhar com as cicatrizes?

É nesse ponto que percebemos como todos nós somos desmedidamente apegados à nossa imagem e não à de Deus; que a vida moderna (será só a moderna?) nos impele a viver no egoísmo; que as dificuldades financeiras nos fecham o coração; que educamos nossos filhos para sobreviverem à competição ... E toda esta constatação nos entristece: confessamos amiudamente o mesmo pecado ... Para nós, equipistas, porém, há um caminho seguro: meditar, no nosso Magnificat diário, nas palavras que pronunciamos.

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Cristo, antes de sua morte, também sofreu várias quedas. E não retrocedeu! Nós, até aprendermos a morrer para o egoísmo, sofremos incontáveis quedas! Tendo, como certeza, que o objetivo último de nossa vida conjugal , familiar e social é alcançar e viver as riquezas de um amor plenamente humano e cristão, estaremos sempre nos reerguendo, caminhando decisivamente para realizar tal objetivo. A meditação diária da Palavra de Deus nada mais exige de nós além · disto: a reflexão desta nossa escalada para o alto. Disso tudo decorre a grande importância da formação contínua e da realização - através das obras - dos pontos concretos como meio de atingirmos a felicidade. "Quem de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar a pedra". (Jo 8,7) "Vá e não peques mais" (Jo 8,11). Maria Inês e Luiz Eq. 5 - Limeira

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TRABALHO Como Você pode reclamar do trabalho, Você, que tão facilmente de tudo ri e zomba? Tem a humanidade algo de bom sem o trabalho? Existe alguma espécie de felicidade sem fadiga? Mediante o trabalho recolhemos os frutos da terra e os do comércio. Com o trabalho conseguimos construir cidades, viver em habitações, vestir-nos, calçar os pés e manter a nossa mesa com farta comida. Mas por que devo enumerar todas as vantagens que o trabalho nos traz? O homem, que dele se envergonha parece-me um zangão que vive na preguiça: quer viver às custas dos outros sem cooperar para o bem comum e, diante de qualquer acontecimento, só tem a dizer ao mundo: Vício que deriva do ócio. Uma vez que todo o bem provém do trabalho, não envergonhe a classe dos empregados que se empenham no trabalho. Lembre-se de que os patrões devem trabalhar como os emprega-dos e até mais do que eles, porque devemos considerar também as preocupações. Voltem seus olhos para aqueles que vivem do trabalho de suas mãos. Se não só os empregados, mas também os patrões devem trabalhar, porque Você reclama da situação de empregado e do trabalho? O trabalho é comum aos empregados, aos patrões, mas não as preocupações. E, se os empregados trabalham como os patrões, estes talvez sejam os mais oprimidos. Por que não considerar este fato como uma infelicidade? Teodoreto de Cifo {393- 460) in "A Divina Providência" (Diário Vozes, 1991)

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CORREIO

Continuamos recebendo muitas cartas de nossos leitores. É uma grande alegria para nós! Continuem escrevendo .. . Aqui seguem alguns trechos da correspondência.

Elias, da Graziela, da Equipe 4 de Recife/PE, escreve, em carta dirigida a Nancy Moncau :

Li o livro "O Sentido de uma vida", de sua autoria, quase de um fôlego e estou relendo vagarosamente. É uma lição de vida que todo católico deveria ler, principalmente o equipista. Gostaria de receber do Divino Espírito um pouquinho só do que foi dado a seu marido, Pedro Moncau. As cartas para os filhos, que coisa maravilhosa! Dois grandes amigos nos escrevem sobre o artigo "Despertar" (CM março 91 ):

(. ..) Muito bom. E/aquente. Inquietante. lncitante. Mete o dedo na ferida. No abrigo burguês que temos em nós. Uns menos, outros mais. Muitos outros satisfeitos com ele, pois, ali dentro, não falta nada. Pelo contrário, é cheio de conforto. Tanto que se pode ignorar o que vai lá fora . Rezemos para que a graça abale e desperte a nós todos em cuja porta o Senhor bateu. Rezemos para que este artigo seja um despertar de nossa gente. Luiz Mareei/o M. Azevedo

O "Despertar" é uma das melhores coisas publicadas na CM. É muito humano, muito vivencial e cheio do calor da vida . Ao lê-lo, tive a impressão de conviver com o Peter naqueles acontecimentos. Eu também passei na Europa pela mesma guerra. Em 1945 estava na guerrilha e era um comandante dos ''partizans" iugoslavos. Mas os espetáculos da destruição e da morte, da catástrofe a que assistimos e de que fazíamos parte eram os mesmos, tanto em Budapeste quanto nas montanhas e campos e cidades interioranas da lugoslavia. A leitura do "Despertar·~ especialmente na sua primeira parte, trouxe para mim de volta aquela parte da minha vida. Pe. Dragan Seljan 42 - CM Junho/91


De Dorinha e José Julio, de Florianopolis, nos chegam alguns comentários, ainda sobre a Carta Mensal de março/91 :

Bravo! Taí um recado direto, na linha gaúcha do "curto e grosso". Recado sério .. . Ser "consumidores" é cômodo demais. Não viemos ao mundo e muito menos entramos no movimento das Equipes prá sermos meros espectadores. Devemos participar. Os meios de comunicação, infelizmente, nos tornam, quase sempre, uns parasitas. Espectadores e consumidores dos enlatados, que nos são enfiados guela adentro, dando-nos o direito apenas de digerí-los, sem degustá-los. (. ..) Por isso, desde jovens, deixamos de pensar. Ou pensamos tão pouco ... Gostamos do artigo ''A cura pelos Pontos Concretos de Esforço" e das notícias necrológicas: quantos novos santos para levar ao Pai nossas necessidades e requerer d 'Eie as graças que deyeremos haurir enquanto palmilharmos este vale de aperfeiçoamento espiritual. Gostamos também do deslocamento do Editorial para as páginas centrais. Vania e Perez, de São José dos Campos nos escrevem, contando o carinho com que foram recebidos pelos casais das equipes de Baurú, ao levarem para lá, já por duas vezes, suas filhas que cursam a faculdade naquela cidade. E acrescentam:

Que o Cristo comunitário, que trazemos dentro de nós, nos ilumine sempre. Que este Espírito que nos une atue sempre. Obrigado, meu Jesus, por estes novos irmãos que conhecemos. Seria maravilhoso que acolhéssemos, em nossas casas, todos os vestibulandos, filhos de equipistas, que enfrentam as dificuldades de encontrarem casa, alojamento, longe, pela primeira vez, de sua família . O Pe. José Valter Rossini nos conta que, após ter assistido Equipes em Petrópol is e Ribeirão Preto, voltou agora para Araras, sua terra natal, onde substitui o Pe. Daví Roland , inclusive como Conselheiro Espiritual de duas equipes. E diz:

Lendo com carinho a última Carta Mensal (março/91) , vi com alegria a carta do Pe. Daví e resolvi escrever-lhes também, para mais uma vez aplaudí-los neste maravilhoso trabalho que vocês fazem em favor das Equipes. A Carta Mensal é importantíssima e sempre procuro incentivar os casais para que leiam realmente o rico conteúdo que nos é transmitido todo mês. Que alegria, que felicidade, ver tanta coisa bonita e instrutiva pam tantos casais! (. ..) Que Maria Santíssima os abençóe e os incentive a continuar. CM Junho/91 - 43


Obrigado por suas calorosas palavras, Pe. Rossini. Contamos com as suas orações - e de todos os casais e Conselheiros Espirituais - para a missão que recebemos. Nossos agradecimentos, também, a Irene e Dionísio, de Taubaté, que, em resposta à solicitação da Carta Mensal , nos mandaram um livreto, por eles montado, contendo a coletânea dos artigos de Nicolau e M. Helena Zarif publicados pela C.M. em 1986, sobre a reunião de equipe. Terminam sua carta dizendo: Fica aqui o nosso lembrete para os demais casais se socorrerem desses artigos, os quais, embora publicados em 1986; estão atualizadíssimos, como atualizada deve ser toda a reunião de equipe. Blanche e Lauro, da equipe 4 do Setor B de São Paulo nos encaminham uma reflexão sobre a preparação do casamento - que publicaremos num próximo número - e escrevem : A Carta Mensal sempre nos interessou, mas agora ela está empolgante.(.. .) Somos realmente chamados a propalar a face gloriosa de Cristo. O Cristo ressuscitou, alegremo-nos! Aleluia! Somos chamados à santidade, mas "um santo triste é um triste santo"! Tenhamos um grito de fé, num esperançoso canto de alegria. Tentamos, inúmeras vezes, na equipe, fazer da partilha e da co-participação um testemunho de alegria, cada qual narrando o sucesso de seu esforço. Realmente, temos que ser ''portadores da Boa Nova ", como nos lembra a EC/R; é com alegria que devemos portá-la, levá-la, proclamá-la. Ainda sobre a matéria "Um Caso a Pensar'', publicada na C.M. de Novembro/90, rec~bemos outra carta de Zélia e José Maria Duprat, da equipe 1 do Setor A de São Paulo, na qual reiteram que o assunto "casais recasados" continua a merecer suas preocupações. Referem-se também à C.M. de Março/91 na qual identificam duas referências, a propósito: Carta da ERI (pg.22) onde é mencionado que equipistas da França e da Bélgica, em pequenos grupos, pesquisam sobre a atitude pastoral para com divorciados e "recasados". A outra referência encontra-se na matéria "Despertar-Terceira Experiência" (pg.25) onde se lê textualmente "E está me incomodando, todos os dias até agora,". lnc:lagando quanto à posição das ENS e da equipe da Carta Mensal sobre o assunto, Zélia e José Maria colocam o seguinte: "Os casais recasados, 44 - CM Junho/91


pelo simples fato de o serem, estão em estado permanente de pecado? No nosso modo leigo de pensar e, usando nossa sensibilidade achamos que não, pois o pecado está ligado a uma lei do amor. Assim, tanto pode estar em estado de pecado um casal recasado que deixa atrás de si um rastro de infelicidade para outros, como um casal unido perante Deus no sacramento, mas que se une por razões indignas ou inconseqüentes, cujos inúmeros exemplos poderíamos lembrar''. Compartilhamos das preocupações de Zélia e José Maria e que são também das ENS como um todo. Reportamo-nos, também, à Carta Mensal de Março/91, onde na matéria "As prioridades" consta como uma das prioridades escolhidas pelos equipistas de base (e não pela "cúpula" d~s ENS) :"Ir ao encontro da realidade, especialmente da realidade conjugal e familiar ... e evangelizá-la". Pretendemos dedicar o número de Novembro/91 prioritariamente a este assunto e desde já solicitamos a colaboração de nossos leitores com artigos, testemunhos e experiências concretas sobre ação de equipistas quanto à evangelização de "casais em situação não sacramental". No âmbito específico da Região de São Paulo Sul I há casais equipistas já dedicados a este assunto e assim sendo o envio de matérias para a Carta Mensal também poderá ajudá-los.

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NOTÍCIAS E INFORMAÇÕES EACRES/91 Região Nordeste : Realizado em 16 e 17 de março de 91 no Colégio da Medalha Milagrosa em Recife I PE com a participação de 20 casais responsãveis e 2 casais pilotos assim distribuidos: 11 CR e 2 CP do Recife, 2 CR de João Pessoa / PB, 4 CR de Parelhas/RN e 3 CR de SalvadorlBA.

São Paulo/SP Eq . 13/B N.S.Busca da Verdade (formada a partir de Ex. Com .) C.E.: Pe. América Maia, S.J. C.P. : Maria Thereza e Carlos Heitor Seabra Curitiba/PR- Setor C Eq .05- N.S. da Paz C.E.: Frei Estevão Nunes C.P.: Dalva e Valmor

Santa Catarina : Eq. 14- N.S. Imaculada Conceição C.E.: Frei José Aparecido C.P.: Lélia e Arnaldo

Realizou-se na cidade de Blumenau, reunindo aproximadamente 80 casais Responsãveis e 5 Conselheiros Espirituais , inclusive o Pe . José Carlos Di Mambro e D. Onéris, Bispo da Diocese de Lages e entusiasta C. E. do Setor daquela cidade.

Eq . 15- N.S. de Lurdes C.E.: Hélio Dalmagro C.P.: Terezinha e Mãrio

São Paulo - Norte :

São José do Rio Preto/SP

Realizado em 23 e 24 de fevereiro de 91 em Catanduva/SP com a participação de 71 CRE's e 5 CE's. A missa de encerramento foi presidida por D. José de Aquino Pereira, Bispo da Diocese de São José do Rio Preto e concelebrada por CE's de Catanduva, Ribeirão Preto, Votuporanga e Paraíso.

Eq . 16- N.S. Mãe do Amor C.E.: Pe . Jarbas C.P.: Maria Inês e Viomar VOLTA AO PAI - Roldão (da Marly) Montenegro de Sã, Eq . 88/C, Rio de Janeiro, Rio 111 em 12/02/91

NOVAS EQUIPES Garca/SP Eq. 06 - N.S. de Fãtima (formada a partir de Exp . Com .) C. E.: Pe. José Manoel Bello de Oliveira C.P.: Janete e Luiz Conessa Juíz de Fora/MG Eq . 24- N.S. das Mercês C.E.: Pe. Lellis C.P. : Cida e Jehovah

Eq . 25 - N.S. da Rosa Mística C.E.: Pe. Sebastião C.P.: Maria José e José Maurílio

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- Durval (da Trindade) Pereira, Eq.01 de Pederneiras/SP da qual foi seu fundador em 1960. Além de seu engajamento nas ENS como CRE por 7 vezes e CL das equipe 2 e 3, teve intensa participação no Curso de Noivos e na equipe de liturgia da Paróquia de São Sebastião. Cristão autêntico , equipista consciente , valorizava sobremaneira a mística, a estrutura e todos os eventos do Movimento, contagiando os irmãos à participação e ao crescimento na fé. Fé que se traduziu na aceitação total da vontade do Pai , nas horas mais ãsperas da caminhada, a enfermidade fatal. - Valter (da Yeda) , eq . 6, Valença/RJ em 18.03.91 . Deixa , além da saudade , um grande exemplo de engajamento apostóli-


co. Participante do Cursilho , do Emaús e do Curso de Noivos, foi responsável pela sua equipe em 1990 e dispunha-se a assumir a coordenação de uma experiência Comunitária quando sua moléstia agravou-se . "Combateu o bom combate " e merece o descanso e a felicidade eterna junto ao Pai.

róquia de São Camilo de Lélis, após ter assistido por um ano o Pároco da Matriz de N.S. da Candelária. Vem assistir a equipe 05 - N.S. da Conceição, cujos membros já tinham por ele muito carinho , admiração e amizade . JUBILEU DE PRATA

PALESTRA

Os equipistas de São José do Rio Preto/SP agradecem ao Frei Barruel pela palestra proferida naquela cidade em março último sobre como "Evangelizar a sexualidade" que lhes deu a possibilidade de refletirem sobre um assunto que muitas vezes é "tabú " e assim poderem melhor transmití-lo aos filhos e à sociedade e dando assim , um melhor testemunhos de casais cristãos.

Em novembro de 1990 transcorreu o 25º aniversário da eq . 05/B - N.S.do Rosário de São Paulo/SP. Na "Reunião Festiva" de dezembro último, seus membros participaram da missa concelebrada por seus antigos e atual Conselhei ros Espirituais, respectivamente, Frei Estevão , Pe. Paulo e Pe . lsidro. MUDANÇA NOS QUADROS

Casa Branca/SP CONSELHEIROS ESPIRITUAIS

O Setor de ltú/SP conta com mais um Conselheiro Espiritual. Trata-se do Pe. Ou rvai de Almeida, responsável pela nova Pa-

Assumiu a responsáb ilidade pela Coordenação das ENS o casal Sonia e Alcebíades Espiíndola Neto , em substituição a Sandra e Pau lo.

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O GRANDE DIÁLOGO DO AMOR Assim falou, um dia, o Amante à sua Amada: "Não quer você seguir, comigo, a mesma estrada?" E ela d isse:"E se for uma grande subida para enfrentarmos, os dois, durante toda a vida?" "Não temas a subida ", então diz-lhe oAmante, "pois o amor nos transporta em sua asa possante". Mas a Amada persiste:"E se houver muito espinho e muita pedra aguda, ao longo do caminho?" E ele responde:"Espinho e pedra viram flor, quando existe no peito um grande, imenso Amor. "E se a noite chegar, deixando tudo escuro, diz ela, como achar a trilha do futuro?" "Sossegue! ... A minha vida, unida sempre à tua, será brilho de sol, será clarão de lua!" Mas ela insiste: "E o frio? .. .a neve em vez de orvalho, e a gente a caminhar sem agasalho?" "Querida, o nosso Amor, diz ele, é chama ardente que sempre há de aquecer a existência da gente! "E se chegar, um dia, a fome , em mau momento e a vida nos negar o trigo do sus-

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tento?" "Cavaremos a terra, os dois juntos, então, para plantar o Amor que é trigo, fruto e pão!" "E se formos, depois, por um grande deserto, uma região sem água alguma, longe ou perto?" Mas ele dizia:"Querida, a vida de quem ama é fonte de onde a água em ondas se derrama " E se o Amor acabar?... A Amada então hesita ... que nos vai suceder em tamanha desdita?" "Querida o amor não morre, o Amor é puro e terno Porque o Amor é Deus e o grande Deus é eterno! Não, o Amor não acaba ... O Amante respondeu .. . se todo Amor for grande assim como este meu. Ele só acabará quando o sol apagar e não houver mais água alguma em todo o mar!" E ele estendeu a mão, assim, como proposta e ela lhe deu a sua, assim, como resposta ... E sorrindo, o bom Deus, que tudo estava a olhar, pois mais chamas no sol e mais águas no mar!


MEDITANDO EM EQUIPE (Sugestão para junho) Texto de meditação (Atos 2, 42-47) Eram assíduos ao ensino dos apóstolos, à união fraterna, à fração do pão, e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos. Todos os crentes viviam unidos e possuiam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuiam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um. Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o Templo. Partiam o pão em sua casa e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava, todos os dias o número dos que tinham entrado no caminho da salvação. Oração Litúrgica

Celebrando nosso Salvador que se dignou a nascer da Virgem Maria, lhe peçamos: R. Senhor, que vossa Mãe interceda por nós. Sol de justiça, precedido pela aurora luminosa da Virgem Imaculada, fazei que caminhemos sempre à luz de Vossa presença R. Senhor, que vossa Mãe interceda por nós. Salvador do mundo, preservastes vossa Mãe de toda sombra de pecado pela virtude de vossa redenção , preservai também a nós de todo pecado R. Senhor, que vossa Mãe interceda por nós. · Redentor nosso, que tornastes a Imaculada Virgem Maria uma habitação para Vós e o Espírito Santo, faze i de nós templos perenes de vosso Espírito R. Senhor, que vossa Mãe interceda por nós. Rei dos Reis, que quisestes ter vossa mãe convosco no céu em corpo e alma, concedei que pensemos sempre nas realidades do alto R. Senhor, que vossa Mãe interceda por nós. Liturgia das Horas Oração das Equipes ao Espírito Santo (v. última capa)


ORAÇÃO 0~5 J ,Ql,HP-ES, AQ .fSPíf\ITO SANTO ~

Espírito Santo.

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Vós sois o alento do Pai e do Filho na plenitude da eternidade. Vós nos fostes enviado por Jests -para nos f'~~er compre~~der o . qu_e ele no!? disse e nos conduzir à verdade completa. •

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VóS3·sois para nós sôpro de vida, sopro criador, sôpro santificádor. Vó.s sois quem renova to<)as

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Vos p'e diníos humildemehte que nos'· deis vida~ e que habiteis em cada 'um de nós, em cadâ ~?n- de nossos lares, e em cada ' I! ~ ' ,.., , • uma de nossas equipes, Para que possamos viver o sacramenfo do ·m atrimônio como um lugar de amor, um projeto d~e felicidàdé~ · e um caminho para a santidade . Amém.

EQUIPES bE· NOSSA SENHORA 01050 Rua João Adolfo. 11 8- 9' - cj. 901 -Tel. 34-8833 São Paulo - SP


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