ENS - Carta Mensal 277 - Outubro 1991

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RESUMO Muitos acontecimentos marcam a vida da Igreja e das Equipes neste mês de outubro . . . . . A CNBB definiu, em ltaicí, o novo objetivo geral da ação pastoral no Brasil . . . . . . . . Natal será sede do 129 Congresso Eucarístico Nacional e a primeira etapa da segunda visita apostólica de João Paulo 11 ao Brasil .. . .. "Mulher e Família", tema da Semana da Família deste ano .. . . . . . . . . .. . .. . . . . . O matrimônio cristão, maravilha de Deus, projeto de vida, construção permanente, sacramento A fidelidade, dimensão do amor . . . . . . . . Documento do Reg ional Sul I da CNBB define os objetivos da Pastoral Familiar . . . . . . . Um casal se entusiasma com a prioridade dada à Reunião de Equipe . . . . . . . . . . . . . . A Reunião também é um momento de despertar Um Conselheiro Espiritual examina o engajamento das Equipes na missão apostólica . . . . . . . . Como uma equipe da Alemanha se analisa na sua Reunião de Balanço . . . . . . . . . . . . . . . Outubro é também o mês do Rosário . . . . . . A personalidade corajosa e marcante de Maria ESPECIAL- ABORTO O Papa conclama a todos a lutar contra o aborto Trechos de um livro que recebeu a láurea da Academia Nacional de Medicina: médicos se questionam sobre o direito à vida . . . . . . Frei Clarêncio: Morrer num poço, morrer num ventre . . .. . .. . . . . . . . . Um grupo de peritos, reunidos em Roma, examina o tema da "Vida" . . . . . . . . . . . . . . O legado do Pe. Aqui no para a história do Movimento . . . .. .. . . . . . . . . . .. . Uma Equipe escreve a sua história . .. . . Os misticismos, num exame de consciência moderno Nosso Correio . . . . . . . . . Uma nova seção: Intercâmbio . . . . . . . . . . Notícias e Informações . . . . . . . . . . . . . . Deus é Deus: um poema de D.Pedro Casaldáliga Meditação e oração, sugestões para outubro . . .

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ACOLHIDA

Rico em acontecimentos e comemorações, tanto na vida da Igreja como um todo, quanto na das Equipes de Nossa Senhora em particular, começa o mês de outubro. Natal - não o nascimento de Cristo, ainda, mas a capital do Rio Grande do Norte - está na ordem do dia. O dia 12 de outubro verá alí o encerramento do 12Q Congresso Eucarístico Nacional e o início da 2ª visita do Papa ao Brasil, que se estenderá depois a mais nove cidades. Numa mensagem recém-divulgada (pg.4), os bispos do Brasil pedem as nossas orações . Nós as oferecemos, à pg.49. A última semana do mês, em muitas dioceses brasileiras, é dedicada à Semana da Família, cujo tema este ano é "Mulher e Família" . À pg. 6, trazemos a palavra de D.Aiuisio Penna, respeito. Outubro é também o mês do Rosário. Falamos do assunto, à pg. 20. Para muitas equipes, o mês é ainda dedicado às Reuniões de Balanço. Trazemos um testemunho internacional sobre este importante momento da vida das equipes, à pg. 18.

*** O tema do aborto , tratado meio na surdina por nossos meios de comunicação, aproxima-se de um desfecho legislativo que se afigura trágico, não só para os cristãos mas para o País como um todo. Os equipistas são muitas vezes questionados sobre sua posição a respeito. Através da Carta Mensal, queríamos propor alguns títulos de livros para referência, mas infelizmente, em nossas andanças pelas livrarias , nada achamos! Assim, resolvemos fazer uma pequena pesquisa e oferecer, numa seção especial, alguns subsídios a nossos leitores. Esperamos que seja útil.

*** O Espírito Santo tem iluminado os leitores da Carta Mensal, que, na perspectiva da Segunda Inspiração, continuam a nos mandar um crescente volume de material. Muitas contribuições têm sido aproveitadas como artigos, como pode ser verificado neste número. Outras são inseridas nas Notícias e Informações. A partir deste mês, estamos criando uma nova seção, Intercâmbio, para os testemunhos e outros tipos de matérias, que nos parecem muito adequados para a grande co-participação dos equipistas que a Carta Mensal quer ser. Que Nossa Senhora, padroeira e protetora de todas as Equipes, continue a acompanhar-nos a todos em nossa caminhada. Fraternalmente, A Equipe da Carta Mensal CM Outubro/91 - 1


CAMINHANDO COM A IGREJA NOVO OBJETIVO GERAL DA AÇÃO PASTORAL DA IGREJA NO BRASIL O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), reunido em Brasília, DF, de 25 a 28 de junho de 1991, por mandato da Assembléia Geral, aprovou unanimemente as Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja no Brasil, para o quadriênio 1991-1994. O texto final das novas Diretrizes foi preparado por uma Comissão de redação, composta por 6 bispos nomeados pela presidência da CNBB. Valeram-se eles de subsídios da Assembléia Geral da CNBB realizada em abril p.p. e de outros estudos complementares. As Diretrizes atuais diferem das anteriores (período 1987-1990) não apenas na orientação geral, mas também em sua estrutura. No início, como abertura, temos um lema inspirador: "JESUS CRISTO ONTEM. HOJE E SEMPRE", o mesmo lema da Conferência do Episcopado Latino-americano a ser realizada em Santo Domingo, por ocasião do V Centenário da Evangelização da América Latina, em 1992. As Diretrizes estão inspiradas no lema e novo Objetivo Geral, elaborado e aprovado pela própria Assembléia da CNBB, em abril:

m come o da BB explicita seu sig o e seu alcance. A Igreja no Brasil , neste momento, sente-se chamada a uma nova evangelização ("evangelizar com renovado ardor") . Isto responde a uma crescente consciência de que a realidade social e cultural está mudando, o que exige um anúncio do Evangelho "novo" no ardor e, especialmente, nas expressões e nos métodos. Este apelo se dirige a todos os católicos, não só aos pastores da Igreja. Quer transformá-los de discípulos em

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apóstolos, de "objeto" da ação pastoral em "sujeitos" ativos da evangelização. Esta nova evangelização, acentua: a centralidade de Cristo, o testemunho de vida, a comunhão fraterna, a opção preferencial pelos pobres, dentro do espírito evangélico e em continuidade com a tradição recente da Igreja na América Latina. As finalidades mais imediatas (intrinsecamente conexas) da evangelização são: a formação do povo de Deus - ou seja, o desenvolvimento de comunidades cristãs maduras e ativas e a participação na construção de uma sociedade justa e solidária. A Igreja tem consciência de seu dever de cooperar, democraticamente, em espírito de serviço, com todas as pessoas e organizações que procuram justiça e fraternidade para o povo brasileiro. Consciente, também, dos graves obstáculos que se encontram neste caminho e das condições desesperadoras de tantos irmãos, ela quer marcar sua atuação pela defesa corajosa da vida, infundindo a esperança que sustenta a luta cotidiana e a longa caminhada rumo a uma sociedade nova. Consciente também do pluralismo cultural e religioso que caracteriza a nossa sociedade, compromete-se na defesa das suas aspirações e tradições culturais. Acredita que elas enriquecem a história humana, porque o seu Deus é o Deus da paz e da fraternidade universal.

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CAMINHANDO COM A IGREJA

MENSAGEM DOS BISPOS SOBRE O CONGRESSO EUCARÍSTICO Dois acontecimentos significativos marcam o mês de outubro na vida da Igreja no Brasil. Em Natal, de 6 a 13, os cristãos estarão reunidos para celebrar o 122 Congresso Eucarístico Nacional. Será a continuação de um evento que, desde Salvador na Bahia, em 1933, já foi realizado em Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Porto Alegre, Belém, Curitiba, Brasília, Manaus, Fortaleza e Aparecida. A capital do Rio Grande do Norte será o centro da oração, da adoração, da celebração eucarística e do compromisso evangelizador da Igreja no Brasil. O encerramento do Congresso terá a presença do Santo Padre João Paulo 11, que virá a nossa Pátria para começar em Natal uma segunda visita apostólica. Ela se prolongará em novas etapas: São Luís, Brasília, Goiânia, Cuiabá, Campo Grande, Florianópolis, Vitória, Maceió e Salvador. Serão momentos em que o Brasil encontrará mais uma vez o Papa e ele poderá sentir, de novo, o carinho que lhe devota o povo brasileiro. O Papa entre nós não é alguém que vem de longe, um estranho em nossas Igrejas. Cada uma delas o tem como aquele que a "confirma na fé", que está no centro de sua vida eclesial, como sinal de sua inserção no corpo da Igreja de Cristo, presente em todo o mundo e construída sobre a rocha de Pedro. A mensagem do Papa à nossa Igreja é o apelo à "nova evangelização, nova no seu ardor, em seus métodos, em sua expressãd' (aos Bispos Latino-americanos reunidos no Haiti, 3 de março de 1983). É uma convocação para renovar a missão do anúncio de Cristo com que a Igreja deve preparar-se para celebrar, dentro de poucos ànos, os 2000 anos da Redenção. O Congresso Eucarístico de Natal escolheu como tema "Eucaristia e Evangelização" , o qual se resume na frase do Evangelho de São João, 1, 14: "O verbo se fez carne". De fato, Cristo, Palavra Eterna do Pai, habitou entre os homens pela sua Encarnação. Feito carne, continua presente entre nós no ministério da Eucaristia. É por isso, que, de fato, só nos sentimos plenamente Igreja de Cristo quando nos reunimos em torno da mesa Eucarística. É ela "a fonte e o ápice' de toda vida Cristã com a qual os cristãos "mostram, de modo concreto, a unidade do Povo de Deus, apropriadamente significativa e maravilhosamente realizada por este augustíssimo sacramentd' (Lumen Gentium,ll). O anúncio evangélico continua em nossa Igreja e se resume nEle, o Cristo Ressussitado, que ela deve levar a todos os homens. Na Eucaristia se 4 - CM Outubro/91


contém pois, "todo o bem espiritual da Igreja, a saber o próprio Cristo, nossa Páscoa e Pão Vivo, dando vida aos homens'. A Eucaristia é, por isso, "o pricípio e remate de toda evangelização". (Presbyterorum Ordinis, 5). Reunidos em sua 29 1 Assembléia Geral, queremos, os Bispos do Brasil, convocar oficialmente toda a nossa Igreja, dioceses, paróquias, comunidades, agentes pastorais e fiéis para participar destes dois eventos: o Congresso Eucarístico e a visita do Santo Padre. Serão momentos de enorme satisfação religiosa e pastoral à pátria brasileira. No clima espiritual do Ano Eucarístico que a Igreja no Brasil está vivendo desde 13 de outubro do ano passado, desejamos que o Congresso e a visita do Papa sejam intensamente preparados e vividos pela oração individual e comunitária, pela reflexão em grupos, pelas celebrações eucarísticas, pelo apoio efetivo, espiritual e material, pelo interesse e entusiasmo em particular, pela acolhida fervorosa e em espírito de fé ao Pastor Comum de toda a Igreja.

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CAMINHANDO COM A IGREJA

MULHER E FAMÍLIA Anualmente a Igreja tem promovido, na última semana do mês de outubro, a "Semana da Família". A família, pela importância que tem na sociedade e em toda vida humana, deve ser tema de estudo e, principalmente de vivência, em todos os dias do ano; a sua transcendência social, porém, justifica uma semana que possibilite a todos os segmentos da sociedade refletir sobre a própria família e sobre a família em geral, vítima, nos nossos dias, de explícitos ou implícitos e até subliminares ataques que recebe nos meios de comunicação social, principalmente nas novelas. A "Semana da Família" retoma o tema da Campanha da Fraternidade do respectivo ano. Todos estamos lembrados que o tema da campanha deste ano foi "Mulher". Não há dúvida, nas últimas décadas, um dos segmentos da sociedade que sofreu maior impacto e transformações foi a "Mulher". A mulher ainda é muito discriminada e marginalizada em todo o mundo. Interessante seria pesquisarmos o modo como ainda a mulher é tratada nas culturas orientais, no continente Africano, na América Latina, nas diversas regiões do Brasil, nos ambientes rurais e urbanos, nas diversas religiões. Alguns fatores sociais provocaram mudanças radicais na maneira das mulheres encararem a sua própria vida, sua atuação na família, no mundo do trabalho etc ... Não faz muito tempo a concepção que se tinha da mulher no nosso mundo ocidental, era a do membro da família que cuidava dos afazeres domésticos e da "criação" dos filhos. O homem do trabalho remunerado, de não deixar faltar dinheiro em casa. Infelizmente quem manda no dinheiro se acha dono de tudo, inclusive da própria mulher. O grande fato social que provocou profundas mudanças no comportamento das mulheres foi o de sua profissionalização. A luta pela sobrevivência, na classe pobre, e pela conservação e crescimento do "Status Social", cada vez mais impulsionado pela sociedade de consumo e de conforto, impeliu as mulheres a também ajudar no orçamento familiar, trabalhando. As conseqüências da profissionalização da mulher são as mais variadas e profundas, como por exemplo: Uma conseqüência, causa de muitas outras é a de maior independência econômica da mulher. As mulheres ocupam cada vez mais maiores espaços em todos os segmentos da sociedade, desde trabalhos manuais, na classe pobre até os mais diversos ramos das profissões liberais e da política. Há mulheres que ganham mais que seus esposos, mudança social ainda não assimilada pelos maridos. As mulheres com independência econômica tem

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menos dificuldade de se separarem de seus maridos, possibilitando mais as separações. As mulheres profissionalizadas têm menos tempo para serem "donas de casa" e cuidarem da educação dos filhos. Na Europa e Estados Unidos os trabalhos do lar, cozinha, lavagem da roupa, limpeza da casa etc. são divididos entre mulher, marido e filhos, inclusive também, pelo fato social de acabarem as empregadas domésticas. Os movimentos femininos reinvindicam a maior igualdade e independência das mulheres em todos os setores da vida. A Campanha da Fraternidade lembra a doutrina Cristã da absoluta igualdade dos direitos e deveres dos homens e mulheres. "Homem e Mulher, imagens de Deus" é o slogan da campanha de 1990. Ainda que esta igualdade esteja afirmada na Bíblia, principalmente na Doutrina de Jesus Cristo, a Igreja sempre viveu em contextos culturais que discriminaram as mulheres. Ainda hoje, podemos afirmar que apesar das mulheres terem lugar preponderante na Igreja como catequistas, líderes de pastorais, nas CEBS etc., elas ainda são discriminadas em determinados setores de poder nas instituições eclesiásticas. O que gostaria de deixar como mensagem fundamental e pensamento central para nossa reflexão, nesta Semana da Família, é a convicção profunda que tenho, como muita outra gente, de que a mulher é o grande fator de equilíbrio e sustentáculo afetivo da família e da sociedade. Não existe no meu entender, maior crise que atinja mais profundamente todo o ser e o agir da pessoa humana do que a crise afetiva. O homem moderno, apesar de ter atingido níveis altíssimos de progresso na ciência e na técnica é alguém profundamente carente, afetivamente. Todos necessitam de amor. A mulher é o ser que Deus criou, que tem maior capacidade de ternura, de amor gratuito e de renúncia. A mãe é a segurança afetiva na família. A esposa dá a segurança afetiva no lar. Infelizmente os maridos, neste contexto cultural em que vivíamos, estavam acostumados a só exigir das esposas. Alguns pensavam que dando o dinheiro em casa, poderiam agir, como quisessem, e que a mulher, tendo o amparo material, não podia reclamar. Este tempo acabou, principalmente em boa parte da sociedade. A mulher hoje, com razão, exige iguais direitos, inclusive pela independência econômica que tem conseguido. Por maior que seja a corrente feminista, e por maiores que sejam as exigências das mulheres para conseguirem realmente abolir qualquer discriminação social em relação a elas, elas devem conservar, como dom precioso, o que receberam de Deus que as enaltece e enobrece, o dom de serem o grande fator de equilíbrio, pela sua capacidade de amor gratuito na família e na sociedade, cujas pessoas são cada vez mais egoístas e comodistas, mas carentes de afetividade. D. Aloísio José Leal Penna, SJ Bispo Diocesano de Bauru/SP

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REFLEXÃO

EU TE AMO ... QUE MARAVILHA! O MATRIMÔNIO CRISTÃO é, ao mesmo tempo,

-uma maravilha de Deus, - um projeto de vida, - uma construção permanente, - um sacramento. Uma maravilha de Deus

O matrimônio cristão é o amor humano transfigurado pela graça. Os que se amam querem viver seu amor de forma completa, incorporando todos os aspectos de sua existência, na duração, na fidelidade e na preocupação de um constante progresso. O amor de um homem e de uma mulher já é, em si, uma maravilha. Mas o amor é frágil, precisa de proteção contra as agressões externas (infidelidade) e internas (desgaste). É isto que, no plano estritamente humano, a instituição do casamento (civil) procura atingir. Construído sobre a rocha. o casamento cristão acrescenta um "algo mais" em três campos: - A duracão. O compromisso do sacramento do matrimônio sendo indissolúvel, confere à duração todas as chances de sucesso. Da mesma forma que os exploradores de épocas antigas queimavam seus barcos para impossibilitar qualquer retorno, nós, os casados, nos comprometemos pelo 'sim' sacramental, a fazer de nossa vida comum um êxito, custe o que custar. -O caráter global. O casamento diz respeito ao homem integral e à mulher integral: corpo, alma e espírito. Nesta visão global, o matrimônio cristão revela seu aspecto divino propriamente dito: ele une dois "filhos de Deus". -A felicidade. O casamento quer, no mínimo, dar ao amor as melhores condições de sucesso, ou seja, a felicidade. O matrimônio cristão assegura para esta felicidade a sua base mais sólida: a busca, a dois, da santidade, ou seja, da relação de amor com Deus. Por Ele, nosso casal, nosso lar se transforma em célula de Igreja, sinal do amor de Deus para o mundo. É por estas razões todas que o matrimônio cristão é uma verdadeira maravilha de Deus. As Equipes de Nossa Senhora nos ajudam a identificá-lo como tal. 8 - CM Outubro/91


Um projeto de ylda

Enquanto um grande número de homens e mulheres atravessam a existência sem bem saber para que vivem, nós, os batizados, temos a sorte de sabê-lo: estamos sobre a terra, mas o nosso destino é a vida eterna, numa relação de amor com Deus. Que já começa aqui. Casados, recebemos a boa nova do amor vivido em plenitude no Cristo, que nos une para realizarmos plenamente nosso ideal de vida, no desabrochar de todo o nosso ser. Nosso projeto de vida é - antes e acima de tudo, amar-nos sem limites; - depois, ajudar-nos mutuamente a viver, assumindo o encargo um do outro, no corpo e na alma, na carne e no espírito; - crescer e desabrochar, cada um procurando fazer a felicidade do outro e buscando encaminhá-lo para a santidade, construindo juntos uma "comunidade de vida e de amor"; -sermos fecundos e prolongarmo-nos tanto através de nossos filhos como de nossos empreendimentos humanos; - envelhecermos juntos, na serenidade, para prepararmo-nos a contemplar juntos a este Deus que nos uniu e que continua a nos unir. Este é o projeto de vida global que o matrimônio cristão nos oferece. As Equipes de Nossa Senhora ambicionam ajudar-nos a realizá-lo. Uma construção permanente

Mesmo santificado desde o início pelo sacramento, o matrimônio deve ser construído a cada dia. Essa noção de permanente construção faz falta, hoje, a muitos homens e mulheres, que pensam que a paixão inicial é uma garantia contra os desgastes da vida. Assim como é preciso colocar lenha na fogueira para alimentar a chama, é também preciso construir o casamento cada dia, ou, antes de mais nada, querer construí-lo cada dia. Supõe-se para tanto que evitemos de nos deixar levar por certas tendências (sobretudo o egoísmo) e adotemos, ao contrário, atitudes positivas e construtivas, reafirmando-as ao longo dos anos, com a preocupação de progredirmos continuamente em todos os planos. O diálogo é a base dessas atitudes. As disposições para tanto pertencem primeiramente ao campo da psicologia afetiva e sexual. Mas dizem respeito também aos aspectos materiais da vida a dois, quer se trate de auxílio mútuo material ou da gestão dos bens do casal. Os aspectos espirituais e culturais também têm a ver com tais disposições.

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A dimensão espiritual do matrimônio cristão não elimina o risco de crises, nem tampouco as tentações ou as provações. A vida espiritual a dois nos ajuda a procurarmos enxergar juntos, sob o olhar de Deus, de forma a não nos deixarmos esmorecer ou desanimar pelos momentos difíceis. Ao partilharmos a oração e ao praticarmos o auxílio mútuo espiritual, nosso olhar sobre os demais aspectos da vida conjugal recebe uma luz diferente, criando novos pontos de referência para os nossos problemas. Por sua pedagogia, pela "moldura" que oferecem para nossa vida e pelo estímulo espiritual que representam , as Equipes de Nossa Senhora nos levam a fazer de nosso matrimônio uma contínua construção e a buscar atingir, ao mesmo tempo, a felicidade humana e a santidade.

Um sacramento O homem e a mulher cristãos reconhecem que o amor, este apelo para entregar-se a um outro, para preferí-lo, é um dom de Deus, uma participação no próprio Ser de Deus, que é Amor. Por este amor que vivemos e nele, consagramo-nos a Deus, oferecendoLhe sem retorno todo o nosso ser. A nossa vida comum transforma-se em "sinal" de que o amor existe, de que não só ele é possível, mas que nós dois, homem e mulher, fomos dados um ao outro para dele viver, para nele descobrirmos a felicidade e o desabrochar de nossas personalidades em todas as suas dimensões, dentro do respeito pelas nossas diferenças. E entramos assim, progressivamente, na vocação de todo cristão: a santidade. ("Mínimo vital para o cristão", como dizia a filósofa Simone Weil). Eis porque queremos consagrar ao Cristo o nosso amor, que nos pertencerá mais na medida em que reconhecermos que foi de Deus que o recebemos. (Extraído do Tema de Estudos "Je t'aíme ... que/le merveílle!" das E.N.S. da França)

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REFLEXÃO

SER FIEL É SABER AMAR Amor, fidelidade e alegria. São as componentes de uma mesma realidade, de um mesmo acontecimento. Se alguns põem em dúvida a capacidade do homem de ser fiel, é pela menor capacidade de amar que revelam, entregando-se à contingência de umas satisfações momentâneas, meramente sensíveis . Tudo o que se disser sobre a fidelidade deve apoiar-se num convite para reencontrar nas relações com Deus e com os homens essa dimensão de amor para a qual somos feitos. Por mais que se procurem razões para justificar uma infidelidade, sempre se encontrará no fundo uma crise interna de amor, que é, em última análise, a mais triste e lamentável situação do ser humano: a sua incapacidade de amar, dando-se. A ninguém que saiba amar é necessário ensinar fidelidade. A perseverança, em qualquer ofício ou compromisso, não é uma simples consequência cega do primeiro impulso nem obra da inércia: é fruto da reflexão sobre o valor do objeto amado: "Passou-me o entusiasmo, você escreveu-me. Você não há de trabalhar por entusiasmo, mas por Amor: com consciência do dever, que é abnegação". Todas as lições que se derem sobre fidelidade serão sempre lições de amor sacrificado. Quem aprende a amar o que faz, a amar os que compartilham a sua vida, os seus sonhos e ambições, o seu lar; quem sabe refazer o amor quando esse parece debilitar-se ou realmente se debilita; quem aprende a perdoar e a compreender por amor; quem pensa e vive desta maneira não precisa que ninguém lhe chame a atenção para a sua obrigação de ser fiel. Sim. Certamente. O critério é sempre o mesmo em relação a tudo o que na vida merece ser considerado como objeto de fidelidade. Ser fiel à pátria, à Igreja, ao cônjuge, aos filhos, à amizade, à vocação pessoal, ao trabalho, a tantas coisas, é amar: é pôr o coração, a vontade, nessas realidades, dar-lhes valor acima de subjetivismos personalistas, vê-las como aquilo que nos aperfeiçoa e nos encaminha para a única fidelidade absoluta, essa que nos dá a felicidade plena e eterna: a fidelidade ao amor de Deus. Javier Abad Gomez (Em "Fidelidade e Felicidade")

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PASTORAL FAMILIAR

OBJETIVOS DA PASTORAL FAMILIAR Os objetivos abaixo transcritos constam do documento "Introdução à Pastoral Familiar• elaborado pela Comissão Episcopal do Regional Sul-1 (São Paulo) da CNBB

Objetivo geral: Evangelização adequada da Família para que, educada no amor, seja transmissora da fé, formadora da personalidade, promotora do desenvolvimento e do senso comunitário. Objetivos específicos: Devem ser considerados como objetivos específicos da Pastoral Familiar: a) educar para o amor e para o apreço e promoção da vida; b) levar à reta compreensão da sexualidade e da afetividade; c) promover os valores perenes da família como base da sociedade e da Igreja; d) defender a família contra as nefastas forças que a procuram destruir ou deformar; e) auxiliar as famílias em situações difíceis, críticas ou irregulares;

f) capacitar pais e filhos para o autêntico diálogo como fator de comunhão e participação; g) desenvolver a fraternidade, a partilha e o senso do bem comum; h) detectar e aproveitar os valores e os ideais da família, existentes nos pequenos grupos e comunidades; i) despertar para a vivência do Matrimônio como aliança eclesial e Sacramento.

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PRIORIDADES

REUNIÕES MENSAIS: UM PASSO A FRENTE Estou aqui, diante do Senhor, meditando sobre as prioridades deste ano, mais especificamente, sobre a "reunião de Equipe" ... e estou entusiasmada! Vou tentar explicar porque. Primeiramente, vamos lembrar e refletir sobre o caminho que o Espírito Santo está traçando e pelo qual está conduzindo as Equipes de Nossa Senhora ultimamente: Este Movimento surge, um passo a frente de sua época, resgatando na Igreja temas e questões de suma importância, como a santidade através do Sacramento do Matrimônio. Ah, esse nosso Deus é o Deus do inusitado! É o Deus da Paz, mas que não nos deixa em "paz"! As Equipes vieram mexer no "coreto"! E, graças a este carinho de Deus, e de Maria, vários casais puderam achar seu lugar na Igreja, e vivenciar mais plenamente a infinita riqueza do Sacramento que os unia, num caminhar em equipes. Passados os anos, o movimento teve uma enorme expansão, mas crescia ao lado do "joio" dessa nossa cultura, nos envolvendo muitas vezes nesse clima de falta de fé, de acomodação, de superficialidade, de egoísmo. E esse nosso Deus, em todo Seu amor, soprou Seu Espírito de vida, insuflando Sua Vida, para que não se perdesse a idéia "mestra" do seu Movimento, ainda tão inovadora. E veio a Segunda Inspiração! Inicialmente, tudo parecia muito vago, mas aos poucos, este "espírito" de novo fôlego foi tomando conta das equipes em toda parte. Diante dessa realidade, o que o Espírito Santo poderia suscitar? "Vistam a camisa das Equipes", gritou ele pelos EACREs afora, para que, leais e fiéis às regras do jogo, conseguíssemos caminhar em unidade rumo à meta: por uma espiritualidade conjugal e familiar. Enfim, decorrido esse início de caminhada, para onde nos leva hoje este Espírito Santo renovador? Tendo vestido a camisa, Ele nos chama a trabalhar no básico de nosso Movimento: as reuniões mensais. Daí o motivo de meu entusiasmo, e sob vários aspectos: - Porque fico feliz ao ver que nosso Movimento, consagrado à Maria está sendo REALMENTE velado por ela, vemos isso pelos frutos.

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- Feliz, também , por ver confirmado o carinho do Senhor pelas Equipes , notando a maneira sábia, carinhosa e firme de conduzir seu caminhar. -Feliz ainda, e muito especialmente, por ver que, mais uma vez, o Espírito Santo inspira o nosso Movimento para dar novo passo à frente em nosso tempo, quando nos fez parar para pensar e trabalhar sobre nossas reuniões mensais. Sinto que vivemos um momento histórico de nossa Igreja, que todos os caminhos estão apontando firmemente numa direçãó: COMUNIDADE! e neste cenário despontam as Equipes , com sua vivência de comunidades. Em nossas reuniões , não somente encontramos os irmãos, falamos sobre Deus e Seu Reino, jantamos e nos alegramos juntos. Sim , fazemos isso tudo, mas precisamos estar muito atentos porque Deus nos chama a viver algo muito mais profundo, uma experiência de partilha, que talvez tenhamos que descobrir, ou redescobrir! A presença de Jesus, que é o motivo de nossa união, e a vivência profunda e consciente dessa grande presença, consegue realizar um grande mistério: a unidade na diversidade. Ass im, nossa experiência de vivência comunitária em nossas reuniões mensais, é mais um passo à frente , que devemos estar felizes por termos a oportunidade de dar, pela inspiração de Deus. Por isso fico entusiasmada, pela maneira amorosa com que Deus conduz nosso Movimento, e impressionada com o que podemos descobrir e viver em nossas reuniões mensais, na certeza de que tudo isso influi no caminhar da Igreja hoje! M. Teresa e Valdison Equipe 12 São José dos Campos/SP

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PRIORIDADES

A REUNIÃO- MOMENTO DE DESPERTAR Às vezes, os desencontros, as dificuldades, os embates são momentos em que precisamos parar, avaliar e refletir sobre a nossa condição de casal, de pessoas, de cidadãos. Quando isto é feito, sempre saímos enriquecidos da experiência vivida. Quando não, saímos frustrados, magoados, céticos e desesperançados. Ser cristão é ser capaz de enfrentar as dificuldades, os impasses de maneira adulta e original - "toma a tua cruz" - quer dizer: não fugir dos problemas- não é assumir a dor e o sofrimento como pesos. Não é colocar sobre os ombros o estigma do sofrimento - é encará-lo como ascese. Tarefa difícil, com certeza, mas extremamente bela e intrigante. Até que ponto ser cristão significa para mim penetrar na aventura de viver integralmente a dor, para alcançar a sabedoria, é a pergunta que eu faço agora. Se sou capaz de entender e sou capaz de agir concretamente de acordo com a tábua de valores essenciais à minha formação humana, então sou capaz de declarar em alta voz: estou vivo - confesso que vivo! Às vezes, a reunião de equipe pode ser o momento desse despertar. A troca, a partilha das dificuldades, pode encontrar alívio na empatia que se estabelece com a luta, a dificuldade e a dor do outro e aí, eu me revigoro e tomo novas forças. A imagem que me vem agora é essa: -uma reunião é produtiva quando vemos nela a possibilidade de ascender, quando não de transcender. Um balão sobe e alcança o infinito quando temos o cuidado e a sabedoria de nos livrar dos pesos. - uma reunião pode ser um momento privilegiado de nos livrarmos dos pesos do desamparo, das dúvidas, dos obstáculos para podermos subir. - é por isso que ela não pode ser banal. Ela não pode ser leviana. Ela deve tocar nossas almas e imprimir uma marca no nosso coração. Quando isso acontece, nós podemos voar mais leves, mais livres, mais lépidos. É. Mesmo quando quero ser objetiva, acabo sempre sendo poética. Será que poesia não é isso? A beleza de uma flor nascendo no meio da pedra? A poesia informa o belo que há no deserto, na pedra, no concreto. E sob esse aspecto, a poesia é subversiva. Por que ela me planta no centro da realidade e me regula o real. Ela me remete ao coração do ser. E nesse aspecto, ela é uma experiência essencialmente religiosa. Selma (Contribuição do Setor de Campinas/SP)

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ENGAJAMENTOS

AS ENS E O ENGAJAMENTO NA MISSÃO APOSTÓLICA Durante recente reunião formal, ao ensejo da co-participação foi sugerido

à equipe refletir sobre o engajamento apostólico. Ora, todos estamos de acordo com a afirmação da encíclica Redemptoris Missio (n° 26): "Antes ainda da ação a missão é testemunho e irradiação". Este testemunho e esta irradiação se manifestam na vida conjugal, familiar, social e no ambiente do trabalho. Mas basta isto? Ante os desafios da vida moderna que os católicos devem enfrentar com coragem, poderiam os equipistas sentir-se satisfeitos sem um ativo comprometimento em ação apostólica específica? A propósito, durante a 29 11 Assembléia Geral da CNBB realizada entre 1O e 19 de abril deste ano, aquele colegiado definiu o objetivo principal da Igreja no Brasil para os próximos quatro anos: "Evangelizar, com renovado ardor missionário, testemunhando Jesus Cristo, em comunhão fraterna, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para formar o Povo de Deus e participar da construção de uma sociedade justa e solidária, a serviço da vida e da esperança, nas diferentes culturas a caminho do Reino definitivo" . O sentido do texto é bem claro, devendo toda Igreja renovar o seu processo de evangelização e tornar-se missionária com um novo entusiasmo. Desse modo, para as Equipes de Nossa Senhora, marginalizar-se desta orientação fundamental da Igreja que está no Brasil constituiria uma omissão imperdoável e um grande erro. O Pe. Caffarel pretendia formar casais com forte e sólida espiritualidade para que fossem colaboradores eficientes e seguros dos Bispos nas suas preocupações pastorais. Algumas constatações sobre o nosso Movimento ensejam a oportuniodade de uma cuidadosa reflexão sobre a qualidade do nosso engajamento apostólico. Como exemplo sigificante podemos citar o fato de que quando o Movimento busca equipistas para preencher funções de serviço tais como casal responsável de setor, casal de ligação, etc, defronta-se, não raras vezes, com respostas como: "não estamos preparados para isso","não temos tempo";"não temos carisma para esta função", etc. Afirmações dessa natureza, por certo verdadeiras para alguns casos, não condizem, em sua grande maioria, com a realidade. Por trás desta atitude não haveriam forças inibidoras a pressionar contrariamente a vontade missionária do serviço? Talvez derivassem, quem sabe, de uma fraca espiritualidade, sem vitalidade suficiente para lançar um casal na ação, 16 - CM Outubro/91


ou mesmo de insuficiente conhecimento acerca do movimento onde apenas prevaleceria o juízo de que "o movimento não é um movimento de ação", esquecendo-se do complemento "mas de gente ativa". Sabemos que no apostolado o espírito de sacrifício está sempre presente como se pode verificar na vida dos santos e dos leigos que hoje assumem responsabilidades. Voltando ao tema do engajamento, colocado em discussão na reunião de equipe, notou-se que o mesmo suscitava pouco entusiasmo e interesse alicerçado numa visão pouco profunda sobre o assunto. Quando o Conselheiro Espiritual sugeria um questionamento pessoal mais preciso, encontrava uma certa passividade. O que poderia levar a pensar que a equipe não havia alcançado um grau de consciência a respeito do fato de que a formação doutrinai e espiritual de vários anos deveria conduzir não somente a um compromisso na vida familiar e social, mas também a um engajamento apostólico específico num número razoável de casos. Os carismas são variados, mas os campos de ação também são múltiplos. Não deveriam os casais fazer um são discernimento, com ajuda mútua e do C.E. e comprometer-se numa ação concreta com generosidade, constância e amor fraterno? Nas reuniões de pastoral do clero, nós, os presbíteros que acompanhamos as ENS, por vezes sacrificando outros ministérios onde também é solicitada a presença sacerdotal, temos que responder à "acusação" de privilegiar pequeno grupo de católicos no tocante à sua formação sem que haja, muitas vezes, contrapartida de engajamento nas frentes de ação onde são gritantes as carências espirituais, sociais e materiais. O início do quadriênio da Ação Pastoral da Igreja do Brasil deveria também interessar a todos os equipistas. As perguntas para cada um são: o que posso fazer para evangelizar com renovado ardor missionário? Estou cumprindo o meu papel de cristão e retribuindo à Igreja o que ela me proporciona? Uma certa passividade ante os desafios imensos da evangelização, seria, deveras, bastante preocupante. Um Conselheiro Espiritual Brasília - DF

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INTERNACIONAL

RESIGNAÇÃO OU ESPERANÇA Aproximam-se as nossas Reuniões de Balanço. Segue aqui o testemunho de um casal das ENS da Alemanha, a respeito do enfoque que devemos procurar nestes momentos.

Quando recebemos carta de nosso Casal Responsável convidando a prepararmo-nos para a Reunião de Balanço, veio-nos à mente o trecho do Evangelho que narra a pesca milagrosa: "Mestre, afadigamo-nos a noite inteira e nada conseguimos pescar" (Lc 5,5). As perguntas para o Balanço: - Encorajamo-nos mutuamente a não esmorecer na vida espiritual? - Encorajamo-nos mutuamente a nos abrir mais na vida espiritual? - Encorajamo-nos mutuamente a nos abrir mais ao Evangelho? - Mantivemos sempre nosso objetivo em mira? - Conseguimos algum progresso no ano que passou? Foi-nos penosa a tentativa de avaliar bem cada uma destas questões e recorremos à Bíblia: em Colossenses 4, 12 lemos "Saúda-vos também Epafras, que é vosso concidadão e servo de Jesus Cristo, que não cessa de lutar por vós nas suas orações, a fim de que permaneçais firmes, perfeitos e plenos de apego a tudo o que seja vontade de Deus. "Devemos pois avaliar se agimos como Epafras - cuidando uns dos outros ou nos resignamos a continuar como estamos. Desistimos de ter esperança em, por meio da Equipe, tentarmos crescer na fé e fazer crescer os outros ou será que já nos julgamos tão perfeitos que não há o que melhorar? Em !Pedro 1, 14-161emos: "Como filhos dóceis não vos conformeis com a voluptuosidade de outrora, quando vivíeis na ignorância, mas, como é santo aquele que vos chamou, assim sede santos vós também em todo vosso procedimento". Este chamamento à santidade muitas vezes nos embaraça. Desejo tornar-me santo e tornar santos meus irmãos equipistas? Eu os amo tanto que em meu coração arde o desejo da felicidade e salvação deles? Certa vez, há cerca de 30 anos, me foi dito que nas ENS deveríamos criar um espaço no qual se experimentasse a fé. O Cardeal Ratzinger escreveu: "Como seria bom se vivêssemos em um mundo em que não fosse necessário ensinar sobre Deus, por Ele estar presente em

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todas as pessoas". Ao contrário, no nosso mundo atual cada vez mais fica frequente a incapacidade dos indivíduos em reconhecer Deus. O desenvolvimento social e intelectual conduziram o homem a um ponto onde ele sente dificuldade em reconhecer Deus. Questiona-se hoje mais que nunca a existência de um Deus. Mesmo nós, que tentamos aprofundar cada vez mais nossa fé, frequentemente sentimos que a Sua realidade nos escapa. Questionamos muitas vezes onde está Deus, que se silencia nas realidades deste mundo. Quantas meditações nas ENS ficam só em palavras vazias? Devemos, todavia, crer que Deus se deixa encontrar mesmo por aqueles que não O procuram. Na nossa Reunião de Balanço deveríamos reafirmar: Jesus vive e está no meio de nós, principalmente quando nos reunimos para partilhar nossas experiências e para, em comunidade, procurarmos a vontade de Deus ... " "(Deus) quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade" (I Tim. 2, 4). Jesus é a verdade; conhecê-Lo significa pensar, sentir e agir como Ele. Este deve ser nosso programa. O fato de termos dificuldade em segui-Lo não deve nos deixar resignados . É preciso ter esperança. "Contudo, porque tu o dizes, lançarei as redes" (Luc. 5, 5). Traduzido da Carta das E. N.S da Alemanha Agosto/outubro 90

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OUTUBRO, MÊS DO ROSÁRIO

O rosário é uma devoção muito antiga a Nossa Senhora. Seus inícios, cercados de lendas, perdem -se lá pela Idade Média. Mas continua uma devoção viva, tanto por ser popular como por ser teológicamente muito rica. Sempre foi encareci20- CM Outubro/91

da pela Igreja e especialmente pelos últimos papas. Nós a chamamos de rosário. Guardando a reminiscência de que eram muitas rosas juntadas, em cada Ave-Maria, para louvor de Nossa Senhora. É mais comum falarmos em "terço", porque habitualmente rezamos de cada vez uma terça parte do rosário. Outros povos preferem dar-lhe o nome de "coroa", lembrando que era uma coroa de rosas que preparavam para Maria. O rosário se caracteriza tanto por repetir quinze vezes o Pai-Nosso e dez Ave-Marias como pela meditação dos "mistérios". A repetição parece cansativa e sem sentido para algumas pessoas. Deixará de sê-lo quando se lembrarem de que facilita a oração para as pessoas mais simples ou mais cansadas e quando se lembrem de que todas as canções populares são repetitivas. No Nordeste são conhecidos os ABC da literatura de cordel, em que algum cantador popular narra a história aventurosa dos heróis do sertão. Eu diria que o rosário é o ABC de Nossa Senhora. Mas é muito importante que os mistérios sejam meditados, pois neles é que está contida a medula rica dessa devoção. r:: bom mesmo que se perca a mania de rezar como quem cumpre tarefas, um terço por dia ou tantos terços por dia. Por que? Deus não faz contabilidade de nossas rezas. Nós é que amadurecemos tanto quanto amadurece nossa oração. Reze um mistério só por dia, se o seu tempo for pouco, ou até uma Ave Maria só. Mas medite. Frei José Carlos


REDESCOBRINDO MARIA Um dos temas da atualidade que aparece em quase todos os debates é o da igualdade e libertaçãóda mulher. No ano passado a Campanha da Fraternidade explorou esse tema e mostrou Maria como modelo, como protótipo da rrulher em todos os tempos. E oportuno lembrar, como alerta, a aparente passividade, servidão e submissão que transparecia nas atitudes e no comportamento da mulher na época de Maria. Isso era fruto da sociedade judáica da época, cujo patriarcalismo impunha à mulher uma forma de vida ligada tão somente ao lar, aos afazeres da casa e totalmente submissa ao homem. Face a tudo isso, torna-se necessário revelar o rosto da Mãe de Deus, nossa Mãe, Senhora do Mundo, vida, doçura e esperança nossa, Nossa Senhora a doce Virgem Maria. Ao longo da história da Igreja, Maria sempre foi o modelo da mulher cristã, que dentre seus compromissos assumiu o da libertação e da participação sem esquecer todas as virtudes que lhe eram peculiares: discreção sem precedentes, submissão à vontade do Senhor, humildade, mansidão. Na verdade, são resumidos os textos que falam de Maria, no Evangelho. Mas no muito pouco que mostra Maria, percebemos claramente a personalidade corajosa dessa mulher escolhida, dentre todas, para ser a Mãe do Salvador. Em Lucas 1, 16-28, Maria aceita a proposta de Deus e assume a maternidade divina, sem consultar nem mesmo a José, seu prometido. Lucas nos revela que caminhando através da região inóspita e montan~osa, Maria vai apressadamente à casa da prima Isabel para serví-la. E aí que proclama o Magnificat (Lc 1, 46-56), "o cântico mais profético e libertador do Novo Testamento, o programa de Deus para os tempos messiânicos". -Em companhia de José, vai a Belém e numa gruta dá à luz seu filho unigênito. - Em penosa viagem, foge para o Egito, a fim de salvar Jesus da chacina determinada por Heródes (Mt 2, 13-18). - Comparece e participa das perigrinações a Jerusalém, como vemos em Lucas. - Faz com que seja antecipada a hora de Jesus nas Bodas de Caná. Associa-se à hora libertadora de seu filho, permanecendo a seu lado até o final e através do apóstolo João torna-se mãe de toda a humanidade. - Está presente no cenáculo em meio à comunidade que recebe o Espírito Santo em Pentecostes. A luz dessas considerações, podemos afirmar que Maria foi uma mulher corajosa e atuante, que proclamou que Deus derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes. Essa intrépida filha de Sião com a mesma certeza que disse "sim" a Deus, disse "não" desde sempre a tudo que se opunha ao plano de Deus. Lucy e Edson Equipe 89C Rio de Janeiro/RJ

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ESPECIAL -ABORTO

BISPOS LUTAI CONTRA O ABORTO Do jornal "Atualidade, de Curitiba, reproduzimos a seguinte matéria.

Após o Consistório Extraordinário, em abril de 1991; após a visita à Polônia, nos primeiros dias de junho passado, e "depois de ter meditado e rezado diante do Senhor", o Papa resolveu escrever uma carta a todos os 4 mil bispos católicos de todo o mundo, uma carta que ele deseja que seja "pessoal", que cada um receba como uma carta a ele diretamente dirigida. E aí ele faz um apelo dramático a que lutem, sem trégua, contra o aborto, em favor da vida. O aborto segundo o Papa, não é mais uma questão apenas de consciência individual; é uma questão social, mundial. "As estatísticas registram uma verdadeira e própria 'matança de inocentes'." O Santo Padre não cita os dados estatísticos. Mas os colhemos, em relação à Europa, no jornai"Awenire", de Milão. Os dados se referem à década que vai de 1970 a 1980, em países onde o aborto é legal e se podem obter informes confiáveis. A pesquisa versou sobre a proporção de abortos registrados, em relação a cada 1000 crianças nascidas vivas. Pois bem: 1. Na União Soviética, houve uma média de 2.300 abortos por 1000

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crianças nascidas vivas; 2. na Rumênia, 990 em cada mil; 3. na Bulgária, 937; 4. na Iugoslávia, 557; 5. na Hungria, 525; 6. na Dinamarca, 431; 7. na Itália, 364; 8. na Tchecoslováquia, 359; 9. na Suécia, 351; 1O. na Alemanha Oriental, 350. Fazendo-se uma projeção a partir desses dados e sabendo-se quantas pessoas nasceram vivas ano a ano, os números indicam não menos de 3 milhões de aborto/ano nesses países da Europa. Isto, sem levar em conta os abortos clandestinos que continuam existindo, os chamados "micro-abortos" provocados por falsos anticoncepcionais que, de fato, são abortivos, e cujos resultados práticos não há como conferir. É impressionante o volume de recursos que o Estado põe à disposição desse extermínio de fetos. O Cardeal Ratzinger dizia, em sua fala ao Consistório de abril passado, que "meios colossais" são empregados oficialmente, com o dinheiro dos contribuintes, que muitas vezes não querem contribuir para isso. E o Cardeal informa que hoje, no mundo, levando-se em conta os países da Ásia, especialmente a China, mas também a


Índia, e mesmo países da América Latina (há quem diga, embora os dados estatísticos aqui sejam muito discutíveis, que , só no Brasil, se fazem mais de 3 milhões de abortos por ano); mas levando-se em conta os países de todo o mundo, devem dar-se entre 30 a40 milhões de aborto/ano. Se isto não se pode chamar de "matança de inocentes", as palavras perderam o sentido.

INSENSIBILIDADE MORAL Mas o Papa não se incomoda apenas com o fenômeno universal da "eliminação de tantas vidas humanas que estão para nascer" (e ele acrescenta: "ou a extinguir-se", porque há um movimento no sentido da legalização da eutanásia). Ele está sumamente inquieto com o amortecimento das consciências, com a "insensibilidade moral", que se difunde nos corações dos homens. "As leis civis não só tornam patente este amortecimento, mas contribuem para reforçá-lo." O Santo Padre explica: Quando Parlamentos votam leis que autorizam a morte de inocentes e Países põem seus recursos e suas estruturas a serviço desses crimes, as consciências individuais, freqüentemente pouco formadas, são mais facilmente induzidas ao erro." É aí que João Paulo 11 recorda que uma tomada de posição maciça por parte do episcopado pode quebrar o círculo vicioso dentro do qual se aprovam leis imorais porque a consciência do povo as aprova, e a consciência do povo as aprova,

porque as leis reforçam esse tipo de imoralidade. Não estará faltando uma pregação séria, c'errada, evangélica, por parte de toda a Igreja? "Para romper esse círculo vicioso, escreve o Pontífice, parece mais que nunca urgente reafirmar com força o nosso magistério comum, baseado na Sagrada Escritura e na Tradição, a propósito da intangibilidade da vida humana inocente." CUIDADO PASTORAL COM O ENSINAMENTO NOS SEMINÁRIOS E ESCOLAS CATÓLICAS Para essa pregação maciça e una, certamente será necessário que todos os agentes de pastoral (os pregadores, os professores, os confessores, os catequistas, etc. etc.) tenham segurança doutrinai e acreditem no que somos chamados a ensinar. Por isso, o Papa faz um outro apelo aos bispos do mundo inteiro: "Após ter aproveitado todas as ocasiões para declarações públicas, deveremos oferecer uma particular vigilância no ensinamento ministrado a propósito, nos nossos seminários, nas escolas e nas universidades católicas. Devemos ser Pastores vigilantes para que a sua aplicação nos hospitais e clínicas católicas seja de acordo com a sua natureza." Certamente o Papa não ignora as dificuldades que ocorrem com famílias pobres ou com pessoas que, psicológica ou socialmente, não têm quase condição de ter ou criar filhos e que precisam de ser ajuda-

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das .concretamente para poderem levar a bom termo uma gravidez não desejada naquelas circunstâncias. Ele pede aos bispos que se esforcem , com todos os recursos possíveis, para dar apoio a todos aqueles que lutam nesse sentido. OS NOVOS POBRES

Esse esforço em favor da vida, especialmente em favor da vida dos mais indefesos, não exclui nem põe de .lado o interesse da Igreja por todos aqueles que são materialmente pobres, às vezes miseráveis, em nossas sociedades mal resolvidas, como as da América Latina, e as ainda mais miseráveis como as da África e da Ásia. Mas a luta por esses pobres do chamado Terceiro Mundo, por sua vez, não pode fazer esquecer esses "novos pobres", indefesos, e além de tudo, inocentes, que sofrem um processo de extermínio, em nome da civilização. Uma civilização bárbara em tantas coisas, particularmente nisso que o Papa chama de "cultura da morte". É preciso pregar o "Evangelho da vida" contra essa "mentalidade de morte". ABORTO E DEMOCRACIA João Paulo 11 faz duas aproximações bastante agudas e até novas: a primeira, entre democracia e aborto. Democracia é respeito

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pelos direitos de todos, principalmente dos que são mais fracos e precisam mais do apoio da lei, das instituições. Ora, o que a legislação abortista faz e o que a mentalidade de morte dos que a defendem está conseguindo, é privilegiar os interesses de adultos, por motivos muitas vezes egoístas, ou de qualquer maneira os interesses dos que podem defender-se, contra o direito fundamental de viver de alguém que é tão fraco que não pode sequer falar, nem ao menos mostrarse. A Igreja quer sempre ser a voz de quem não tem voz. E aqui entra a segunda aproximação do Papa: assim como, há cem anos, a Igreja saiu em defesa da classe operária oprimida e desrespeitada em seus direitos fundamentais, numa hora em que ela quase não tinha como se manifestar, "assim hoje, quando uma outra categoria de pessoas é oprimida no direito fundamental à vida, a Igreja sente o dever de bradar com a mesma intrepidez, por quem não tem voz. O seu é sempre o grito evangélico em defesa dos pobres do mundo, dos que são ameaçados ou desprezados nos seus direitos humanos."


ESPECIAL -ABORTO

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ABORTO E CONTRACEPÇÃO -A VISÃO DOS MÉDICOS VIDA HUMANA

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Não pretendemos entrar em considerações filosóficas em torno da conceituação ou definição de vida humana. Todavia, podemos dizer que a ciência nos informa onde e quando se inicia o ciclo de uma nova vida. É fato cientificamente comprovado e amplamente difundido que a fecundação do óvulo pelo espermatozóide, que normalmente ocorre na trompa, é o estágio em que começa o ciclo de uma nova vida humana. É o início de um processo que só termina com a morte. O óvulo fecundado evolui segundo um plano inexorável até a plenitude do desenvolvimento de todo o organismo, cujas características já estavam contidas nos cromossomos da célula única inicial. Desde o seu início o novo ser nada mais recebe do meio exterior, à exceção de alimentos sob diversas modalidades, segundo o estágio de seu desenvolvimento. Com a fusão dos gametas constitui-se uma unidade bem estruturada que, pela transmissão dos caracteres hereditários paternos e maternos, tem suas características futuras essenciais bem determinadas: sexo, grupo sanguíneo, fator Rh, cor dos olhos, da pele, dos cabelos, até mesmo o porte, traços psicológi-

cos, de temperamento, etc. Ali está escondido também o que, de certa forma, se tornará a base da inteligência e até mesmo da personalidade. Tanto assim é que- sabem muito bem os psicólogos - profundos distúrbios da personalidade podem ter origem remota, no período pré-natal. Assim, o novo ser formado com o padrão cromossômico humano é um ser vivo. Agora perguntamos: é coelho? é gato? que espécie de ser vivo é? Não há dúvida que se trata de um ser vivo humano. É o que continuará a ser sempre: a mesma pessoa com toda a sua individualidade própria. Há unidade e continuidade. No desenvolvimento do novo ser ocorrem profundas modificações, porém todas acidentais, alterando-lhe o formato, o volume, etc. mas sem que haja mudança substancial, específica, pois é sempre o mesmo ser que, desenvolvendo-se, passa por todas as fases geneticamente determinadas na célula inicial. Para que o homem chegue às fases de recém-nascido, infãncia, adolescência, maturidade, velhice, é necessário que também passe pelas fases de formação no ventre materno - que começa na trompa, com a fecundação do óvulo pelo espermatozóide, e evolui até o par-

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quer promover a dignidade humana. A consciência moral é uma necessidade básica do ser humano e isso é muito importante nesse mo~~n.to histórico, pois que - não é d1f1c1l de concluir- a crise da humanidade, a crise do nosso mundo, é de natureza moral. A técnica em si PATERNIDADE RESPONSÁVEL é neutra, indiferente; depende de A paternidade responsável é implí- como o homem a utiliza ou para cita ao próprio exercício da função que. Por exemplo, fazer aborto, conjugal. O problema que se colo- mesmo dentro das melhores técnica é: como fazer uma honesta e cas, consiste em matar seres huconsciente paternidade resmanos inocentes e indefesos. Não ponsável? O conselho universal se pode falar em progresso humanos diz que existem ações hones- no quando se institui a lei do mais tas e ações desonestas: nem todos forte! O aborto continua sendo um os atos humanos são bons e ho- crime mesmo se houver omissão nestos. No modo como se realiza a legal da punição. paternidade responsável é imporQuais são, portanto , as catante, sobretudo, salvaguardar a racterísticas de uma paternidade dignidade da pessoa humana. Só consciente humanizante? Consih~ verdadeiramente progresso, só derando que a função do médico é ha desenvolvimento do homem a de prevenir e curar as doenças qua~d~ são desenvolvidas as podentro das premissas da saúde e tencialidades naturais de humani- da normalidade do seu cliente ou zação. Muitas vezes, a ciência e a da sua comunidade, quais são, t~cnica , quando mal empregadas, para o médico, as linhas mestras sao desumanizantes. Se a fissão e de uma paternidade consciente a fus~o nuclear são empregados conforme a natureza humana? para 1mpor o terror atômico, ou se Do ponto de vista ético, é necessáconhecimentos de Psicologia são rio não abrir mão dos valores genuiempregados para lavagens cerenamente humanos que as soluções brais, não se pode falar de crescipragmáticas desprezam. Dentre mento humano. O homem no seu ~sses. valores , ressalta o respeito à agir, não pode ser inconse~üente e mtegndade morfológica, fisiológica desorientado. Ele necessita de nor- e psicológica da pessoa humana. mas objetivas de comportamento Quanto mais se destrói o processo de critérios objetivos de mora~ natural do ato, tanto menos ele se lidade, que não devem ser confunconforma à sua instituição objetiva. didos ~om costumes (uso , Os processos artificiais de planejaconvençao) . Estes devem ser informento familiar não consideram mados pelas regras morais, se se

to. São, todas, etapas da mesma vida. Em qual delas será lícito destruí-la? No caso do abortamento podemos dizer que, de certa forma é a pior, pois se mata covar~ damente alguém que nâo tem qualquer possibilidade de defesa.

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essa desnaturação do ato. Daí todos eles terem contra-indicações médicas, algumas de natureza grave, absolutas, como é o caso dos anovulatórios; outras vezes, menos graves, como é o caso do coito interrompido, do condon, do diafragma, etc. cujas pertubações psicológicas para o relacionamento conjugal são conheciélas e não desprezíveis. Também é necessário reafirmar, dentro da sexualidade humana, o respeito que se há de ter pelo outro - o respeito à dignidade humana - e denunciar, vigorosamente, uma tendência da própria sexualidade: o instinto de posse e de dominação. Há uma tendência, característica do comportamento atual, de colocar o prazer como fim em si mesmo do ato sexual e nessa perspectiva o outro é instrumentalizado como objeto do prazer. Isso é uma "coisificação" da pessoa humana, que atenta contra sua digni-

dade própria. E a sexualidade humana perde a sua bondade natural em detrimento da exaltação do prazer sexual. É a ambigüidade que marca os grandes valores. humanos. Em vez de libertar humanizando, o homem é escravizado à sua animalidade instintiva, reduzindo a sexualidade à sua dimensão genital, despersonalizadora. Criase, dessa maneira, uma mentalidade fundamentalmente anticoncepcional, causa e consequência do egoísmo e utilitarismo característicos do nosso momento histórico, deturpando, desnaturando aquela bondade fundamental da sexualidade humana. É o egoísmo sexual narcisista, imaturo e caracteristicamente irresponsável porque voltado para o próprio prazer e não voltado para a dimensão psicossociobiológica, interpessoal, humanizante, da sexualidade.

(do livro:"Aborto - o direito à vida?" - dos médicos João Evangelista dos Santos Alves, Dernival da Silva Brandão, Carlos T. Rodrigues Costa, Waldenor de Bragança, Ed. Agir, 1982 - Laúrea da Academia Nacional de Medicina)

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ESPECIAL -ABORTO

MORRER NUM POÇO, MORRER NUM VENTRE Há algum tempo atrás a Itália inteira parou, emocionada, diante de um menino de seis anos que caíra num poço artesiano de 60 metros, tão estreito que não permitia movimento nenhum. A televisão mundial se preocupou com o fato. Os jornais abriram largo espaço em todos os países. Justificam-se o interesse, a curiosidade e a dor. Era a vida de uma inocente criança em grave perigo. No entanto, essa mesma Itália, emocionada diante do acidente, acabava de aprovar a lei do aborto, que permite matar crianças que não podem se defender, não podem reagir, não podem nem chorar nem fazer-se ouvir. Elas não estão caídas num poço descuidado. Estão no ventre de uma mãe, seu ninho natural. Nem aí caiu o menino por descuido pessoal. Nasceu porque houve um pai e uma mãe. E essa mãe e esse pai assassinam o bebê, com a proteção do Estado que processa judicialmente quem deixou um poço artesiano aberto. O noticiário internacional se estarreceu diante da morte acidental de uma criança num poço. Mas não vê o crime nem transmite aos espectadores, ouvintes e leitores o grito de milhões de crianças abortadas propositadamente. Uma das muitas contradições do homem que, às vezes se emociona como pessoa, e muitas vezes agride como animal. Porque o aborto é uma agressão e não haverá lei humana que o suavize. Porque o aborto é um assassinato, ainda que a lei o aprove. Morrer num poço é uma desgraça. Matar uma criança no ventre da mãe é um crime. Frei Clarêncio Neotti, ofm

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ESPECIAL -ABORTO

AO SERVIÇO DA VIDA Reuniu-se em Roma, de 20 a 22 de abril de 1991, um grupo de peritos, para discutir o tema da "VIda •. O texto que segue é parte da Introdução e um dos capítulos do documento de trabalho ("lnstrumentum laborls"), que resultou dessa reunião. Os casais que estiverem Interessados no documento completo poderão solicitá-lo no Secretariado das Equipes de Nossa Senhora (v. endereço na contra-capa).

Fomos convocados para este Encontro pelo Pontifício Conselho para a Família, criado pelo Santo Padre João Paulo 11 em 9 de maio de 1991, que queria anunciá-lo no dia 13 de maio seguinte, dia do atentado contra a sua vida. Entre as tarefas designadas pela Constituição Apostólica Pastor Bonuscabe ao Conselho "apoiar e coordenar iniciativas para a defesa da vida humana, desde a sua concepção" (Pastor Bonus, art. 141 par. 3). Nossa reunião teve lugar depois do Consistório Extraordinário de Cardeais (4 a 7 de abril de 1991), convocado pelo Santo Padre João Paulo li, valorosa defensor da dignidade humana e da vida, sobretudo dos mais fracos, e que teve como tema "AS AMEAÇAS CONTRA A VIDA". O trabalho intenso de três dias concentrou-se especialmente sobre o tema do aborto provocado, fenômeno espantoso, um verdadeiro massacre, que liquida cada ano mais de 40 milhões de seres humanos, considerando apenas os abortos legalizados (1). O fenômeno é muito mais difundido e dificilmente quantificável. Nosso trabalho quer ser sobretudo um apoio vigoroso à família, "santuário da vida" (cf.Encíclica Centesimus Annus, 31 ). Estão hoje também em jogo os Direitos da Criança, especialmente daquelas que ainda não nasceram, assim como os Direitos da Família. Fiéis ao magistério da Igreja, a nossos variados campos de trabalho, como cientistas, biólogos, médicos, filósofos, moralistas, juristas, políticos, teólogos, convencidos da estreita relação que existe entre a Verdade da Revelação e a Ciência, refletimos sobre os seguintes aspectos do problema: (1) Cf. intervenção do Cardeal Joseph Ratzinger no referido Consistório e cf. Francesco lntrona e Paolo Moreni- L'Aborto nel Mondo: Legislazione, Statistiche e Tipologia, in Revista Italiana di Medicina Legale, n° 9, 1987, pg. 825-838.

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I. Científico-técnicos, 11. Doutrinais, 111. Culturais, IV. Legislativos, V. Político-Institucionais. Numa questão tão complexa e difícil , buscamos apresentar alguns pontos, em nossa opinião mais candentes , que queremos fraternalmente propor, em espírito de participação, como Instrumento de Trabalho, de diálogo, de pesquisa, para a tutela pastoral do dom da vida. Oferecemos, pois, estas considerações a quantos, como nós, trabalham nos mais diversos campos, ao serviço de Deus, do homem e da sociedade. Queremos ser fiéis à verdade, infelizmente tão frequentemente violentada. A praga do aborto é como uma avalanche num mundo coberto por uma espécie de "cultura da morte" , nas palavras de João Paulo 11, na Encíclica Centesimus Annus (n 2 39). (... ) Tendo em vista os debates legislativos a respeito do assunto, que começam a agitar o Congresso brasileiro, reproduzimos aqui parte do capítulo que diz respeito aos aspectos legislativos do problema. É tarefa primordial do legislador trabalhar para que o ordenamento jurídico proteja a vida humana desde o momento da fecundação. O direito nega-se a si mesmo ou então passa a ser uma imposição, por parte de quem detém o poder, aos mais fracos , se não proteger a dignidade humana, da qual o direito à vida é a primeira e mais elementar expressão. É necessário declarar com clareza que o concebido "deve ser respeitado e tratado como uma pessoa humana" (2) e que seus direitos constituem a verdadeira razão do dever de proteger que cabe aos Estados. O fim de todo direito sendo a proteção da dignidade humana ("Hominum causa omne ius constitutum est') , a iniquidade das leis abortistas não reside somente nas suas consequências (3), mas também na destruição do próprio conceito do direito. É necessário, portanto, denunciar com vigor e de forma decisiva a injustiça das leis abortistas. É preciso, outrossim , sublinhar que em algumas interpretações jurídicas, usa-se o conceito de "pessoa" de modo discriminatório: alguns são reconhecidos como pessoas, mas outros, ao contrário, não são considerados como tais, abrindo-se desta forma o caminho para a sua eliminação legal. Na verdade, o conceito de "pessoa• deve ser usado para distinguir cada ser humano de qualquer outro ente criado. Em outras palavras, cada homem é pessoa, e esta palavra indica a superioridade em relação ao resto da criação. (2) Vide, ao final deste texto, as idéias centrais da Instrução Donum Vltlle (3) Poder-se-ia enumerar problemas como: o aumento do número de abortos, a corrupção das consciências, a degradação da profissão médica, a disciplina autoritária da objeção de consciência, ...

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Certas legislações afirmam a obrigação, por parte do Estado, de proteger os embriões. Mas isto não basta. De fato, essa obrigação poderia ser justificada apenas por razões de interesse coletivo (como, por exemplo, o crescimento populacional), enquanto o motivo da obrigação de tutela se baseia no valor e nos direitos de cada ser humano. Logo, uma legislação coerente deve garantir, de fato, tal tutela. O empenho dos legisladores ao serviço da vida é essencial e fulcral. É necessário não somente para evitar a morte de tantos inocentes, mas também para evitar que a democracia se transforme em totalitarismo (4) e a liberdade numa licenciosidade egoísta. O fundamento da democracia é a afirmação da igualdade de todos os homens, exclusivamente em função de sua humanidade, e não por causa do que possua ou do que seja capaz de fazer. Quando os Estados se arrogam o direito de distinguir entre vidas humanas que têm um valor e vidas humapas que não têm valor, avança-se pelo caminho do totalitarismo. Se é lícito assassinar inocentes em nome da liberdade, então a liberdade muda de significado e converte-se numa expressão de egoísmo, não em instrumento da solidariedade e do amor. Recorda-se, finalmente, a muitos movimentos pacifistas, existentes também no ambiente católico, que as leis abortistas não contribuem para a verdadeira paz. Logo, tais movimentos, especialmente os católicos, devem empenhar-se também na defesa da vida que nasce. A exigência de leis que respeitem plenamente o direito à vida deve dirigir-se a todos os legisladores, qualquer que seja seu credo ou sua posição política. É preciso lembrar que os princípios inscritos nas declarações internacionais e nas constituições dos estados modernos indicam o respeito da dignidade humana e dos direitos do homem como uma das tarefas essenciais dos Estados. A negação do valor do ser humano concebido não significaria trair estes princípios e aceitar um critério de discriminação dos homens? . Os legisladores cristãos, em particular, têm um dever muito grave em relação à vida, seja nos Estados que já contam com leis abortistas, seja naqueles que não os têm. Nestes últimos trata-se de impedir que se fira de qualquer forma o princípio do respeito à vida e de favorecer normas que removam as causas que possam, de fato, conduzir ao aborto. Mas também nos Estados onde leis permissivas já tenham sido aprovadas, os legisladores cristãos devem considerar a mudança destas normas como um dever central e essencial de sua missão. A coerência de seu comportamento não pode ser indiferente para o julgamento que fazem os eleitores cristãos. (4) V. SCHOOYANS, Michel, L'Avortement: Enieux Politiques. Québec, Editions du Preambule, 1990, pg.1 57 ss.

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São bem evidentes as dificuldades atuais para se obter, nos Parlamentos, maiorias que respeitem plenamente o direito à vida. O que, no entanto, não isenta de trabalhar pela mudança das leis abortistas, no sentido do pleno respeito ao direito à vida desde a concpeção. Para tanto, os que creem em Deus Criador e em Cristo Redentor, devem conscientizar-se de que sua participação no exercício do poder é incompatível com a falta de compromisso com um esforço permanente e cotidiano para mudar as leis e as práticas admin istrativas.

oOo Por ocasião do Consistório Extraordinário dos Cardeais, de 4 a 6 de abril de 1991, o Cardeal Ratzinger relembrou as idéias centrais da Instrução Donum Vitae: "A ciência moderna mostra que desde o momento em que o óvulo é fecundado, inaugura-se uma nova vida, que não é a do pai ou da mãe, mas de um novo ser humano, que se desenvolve por sua própria conta. Está fixado, desde o primeiro momento, o programa do que será este ser vivo: um homem; este homem-indivíduo com seus traços característicos bem determinados. No zigoto que resulta da fecundação, já se encontra constituída a identidade biológica de um novo indivíduo humano. Estas conclusões da ciência a respeito do embrião humano oferecem uma indicação preciosa para discernir racionalmente uma presença pessoal desde este primeiro surgir da vida humana. Como poderia um indivíduo humano não ser uma pessoa humana? Apesar do Magistério não se ter comprometido expressamente com uma afirmação de natureza filosófica, ele rediz constantemente que o fruto da geração humana exige o respeito incondicional: o ser humano deve ser respeitado e tratado como pessoa desde o instante de sua concepção."

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VIDA DO MOVIMENTO

A grande perda que o Movimento- e por que não dizer a Igreja • sentiu com o falecimento do Pe. Antonio Aqulno, vem sendo recordada de multas maneiras e através de multas manifestações. Aqui publicamos dois textos que dão a dimensão nacional e Internacional da contribuição do Pe. Aqui no para a vida do Movimento.

PE. ANTÔNIO AQUI NO, SJ. E A HISTÓRIA DAS E.N.S. NO BRASIL Estamos no dia 14 de maio. O grande saguão do Colégio São Luís, em São Paulo, está cheio de gente. São muitas as pessoas que vieram, tristes, prestar uma última homenagem ao Pe. Aquino, falecido nesta madrugada, por volta das 2 hs .. Ali absorto, recordo a figura do amigo que conheci ao longo de quase 30 anos. Como não podia deixar de ser, recordei o grande amor e dedicação com que ele participou do Movimento. Em sua autobiografia, escrita a mando do superior, vai dizer que as equipes "marcaram profundamente sua vida apostólica" e a compreensão do coração dos leigos, de sua vida pessoal e sobretudo conjugal e familiar, "o que foi uma grande revelação", como ele próprio acentua em sua declaração. As Equipes, por sua vez, devem muito ao Pe. Aquino. Não apenas porque foi o dedicado Conselheiro Espiritual de algumas equipes mas, sobretudo, pela valiosa contribuição que deu à consolidação do Movimento em nossa Pátria. Não é possível , nestas poucas linhas , entrar em detalhes acerca de tudo o que fez pelo Movimento. Vamos apenas recordar que seu interesse pelas Equipes levou-o, como sempre fazia , a estudar em profundidade os documentos, as conferências e artigos do Pe. Caffarel. Isso foi-nos de grande valia. Em 1968, com o grande impacto causado pelo Concílio, não foram poucos os equipistas que se preocuparam em saber se as equipes também não deviam passar por um "aggiornamento". Com tal finalidade reuniram-se, no colégio Santa Cruz, representantes das cento e poucas equipes então existentes no Brasil. Depois de muita discussão, como é fácil imaginar, chegou -se à decisão de criar um grupo especial destinado a examinar os Estatutos e as nossas práticas diante das grandes inovações trazidas pelo Vaticano 11. Surgiu , assim , o GECENS: Grupo de Estudos do Concílio e as Equipes de Nossa Senhora. O Conselheiro CM Outubro/91 - 33


escolhido foi, precisamente, o nosso Pe. Aquino. Sua atuação foi de extraordinária valia. Seus conhecimentos teológicos e o muito que já havia lido sobre as decisões conciliares permitiram que se chegasse a uma visão aprofundada e viva do problema. Foi o apoio e a segurança de nosso conselheiro que ajudaram a nós, membros do grupo, chegar à conclusão, no documento final , que as linhas mestras da ENS , ainda que escritas antes, estavam em plena consonância com o Concílio. Logo depois, no ano seguinte, quando Esther e eu fomos indicados para Casal Responsável da ECIR-Equipe de Coordenação Inter-Regional, o Pe. Aquino, apesar de ser, na ocasião Provincial da Companhia de Jesus, aceitou ficar como Conselheiro Espiritual da nossa equipe de direção. Teve, então, oportunidade de desenvolver, a cada reunião, um bem elaborado plano para a nossa formação espiritual e o aprofundamento de importantes temas. A experiência que vinha acumulando, como superior dos jesuítas, ajudou muito ao CR na tomada de decisões cruciais . Isso para não falar das muitas conferências e retiros que pregou por este Brasil afora. Quando Rubens e Dirce nos substituíram , ele seguiu como CEda ECIR. Assim de 1969 até 1983, justamente no período em que as equipes passaram de pouco mais de uma centena para perto de um milhar, o Pe. Aqui no com sua dedicação, profunda vivência humana e equilíbrio doutrinai, contribuiu inquestionavelmente para que as equipes, no Brasil, procurassem manter a autenticidade de suas origens. Não foi à toa que , na autobiografia, ele fez questão de escrever uma parte do livro sob o título "As Equipes de Nossa Senhora" porque, como afirma logo de início , "em toda a minha evolução apostólica e espiritual pessoal , as Equipes de Nossa Senhora ocuparam um lugar de destaque". Outro dia, depois de uma palestra, alguém que não o conheceu, impressionado talvez pelos termos calorosos com que me referi a ele , veio perguntar-me: "mas, afinal, quem foi estePe. Aquino de quem você fala com tanto entusiasmo?" A resposta não me veio fácil. Haveria tanta coisa para dizer que a síntese ficava difícil. Arrisquei-me, contudo, premido pelo tempo e pela necessidade de responder ao amigo, a dizer-lhe alguma coisa. Ainda que pouca. Comecei recordando que, dentre a muita gente que conheço e convivi , o Pe. Aqui no foi , talvez, a pessoa mais equilibrada e de personalidade mais completa e madura que já encontrei. Como seria longo e difícil tentar descrever a sua personalidade, preferi contar alguma coisa que sempre me impressionou na pessoa de Antonio Aqui no. Lembrei, então, dentre outras , a capacidade que ele possuía de refletir sobre os mais diferentes assuntos. Confesso que causava-me inveja. Sobretudo sua admirável aptidão para examiná-los sob ângulos absolutamente originais . Tentei , mais de uma vez, por exemplo, aprender a 34 - CM Outubro/91


maneira com que ele tomava nota do que lia ou ouvia: depois de dividir a folha em pequenos quadrados , ia lançando neles as idéias que, por associação, a leitura ou a fala despertavam. O admirável é que a maioria dos pensamentos anotados não haviam passado, sequer, pela cabeça de quem falava. Foi o que eu mesmo constatei, várias vezes, ao ler as suas anotações depois de alguma intervenção minha no curso de uma reunião. Isso, contudo, ele fazia com a maior naturalidade e simplicidade possível. Aliás a simplicidade, a jovialidade, a afabilidade eram traços de sua personalidade que, graças a seu profundo equilíbrio, chamavam atenção, não por apresentar traços fora do comum, mas justamente porque a naturalidade e a comunicabilidade eram-lhe espontâneas . Não pude fugir, em seguida, à tentação de recordar uma outra faceta da presença do Pe. Aquino nas Equipes. É que durante todo o tempo que foi o nosso Conselheiro, na ECI R, sempre comportou -se dentro de seu papael , sem nunca intrometer-se nos assuntos relativos à direção do Movimento. Sabia e fazia questão de respeitar o caráter leigo das equipes . Por isso não se prevalecia de sua condição de sacerdote para querer impor suas idéias e opiniões, deixando que nós, os leigos, conduzíssemos o Movimento. Dele se pode dizer, com toda a tranquilidade e segurança, que o mal do clericalismo - tão presente na Igreja - não o atingia. Como o tempo avançava, achei que devia pôr um ponto final na explicação que eu dava ao meu interlocutor. Disse-lhe para finalizar: espero que algum dia, alguém com paciência e dedicação, debruce-se sobre os muitos papéis e relatórios da ECIR, nos 15 anos que contou com o aconselhamento do Pe. Aquino, para descrever o muito que as Equipes do Brasil devem a ele . Certamente, lá do Céu ele continua a zelar pelas equipes que tanto amou! Luiz Marcello Azevedo

oOo Caros Amigos, Ao receber a Carta das Equipes (do Brasil) , fiquei bem triste com a notícia da morte do Pe. Antonio Aquino. Seu livro tinha chegado às minhas mãos há poucas semanas e eu estava me preparando para agradecê-lo e cumprimentá-lo: não houve tempo. Lembro-me com emoção de nossas conversas fraternas , tanto no Brasil, em diversas ocasiões , quanto nos nossos grandes Encontros . Admirava nele, ao mesmo tempo, o entusiasmo e o equilíbrio. Ele tinha um sentido muito seguro do Movimento e sabia discernir as necessidades dos casais de hoje. Sentia-me feliz de estar em comunhão de idéias e de oração com ele. CM Outubro/91 - 35


Que Peter seja agradecido por ter tão bem evocado o Padre. E obrigado à Redação por ter publicado aqueles últimos textos, que refletem sua personalidade: a doença podia estar levando a melhor, mas não quebrou seu espírito. Deus seja louvado por todo o bem que realizou entre nós através desse seu servidor! Transmitam os meus sentimentos a todos que eu conheci e que sua partida aflige. Uma última palavrinha para agradecê-los por me mandarem tão fielmente a Carta: fico feliz em poder assim partilhar os impulsos e as preocupações de vocês .. . E confio tudo isso nas mãos do Senhor reiterando-lhes toda a minha afeição com um grande abraço Roger Tandonnet, sj

Pe. Aquino (ao centro) numa reunião da ECIR, em 1979 N.da R. Agradecemos as gentis palavras doPe. Tandonnet, que foi Conselheiro Espiritual da Equipe Responsável Internacional, após a partida do Cônego Caffarel, e que já esteve várias vezes entre nós, no Brasil. Sua manifestação é uma prova dos laços de grande afeição e amor fraterno que unem as Equipes no mundo inteiro.

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VIDA DO MOVIMENTO

APENAS UMA EQUIPE Escrever a história da equipe. ldeia solta em uma das reuniões. Relembrar as origens, Algo semelhante à "Segunda Inspiração" e sugerido por ela. Na ocasião, faltava-nos um nível adequado de motivação. Problemas particulares, crises diversas, talvez necessidade de outros casais com quem dividir incumbências, tudo nos emperrava. Eram - quem sabe? dificuldades parecidas com as de outras tantas equipes. O estudo da "Segunda Inspiração" despontou em boa hora. Após a indispensável auto análise, buscávamos meios de superar a fase. Retomar o rumo seguindo os próprios exemplos, que pretensiosamente supúnhamos encontrar no passado, seria um dos caminhos. Outras providências e, sobretudo, orações e momentos de meditação, dispensaram a prioridade da proposta, não tendo conclusão o relato de nossa história. A rigor, nem início. Somente uns poucos apontamentos, reminiscências, instantâneos inesquecíveis de um convívio extenso, ininterrupto e afetuoso (as vezes nem tanto, devemos confessar. Mas rusgas também fazem parte da fraternidade). Que fazer agora com tais lembranças? Famílias e pequenas comunidades- possivelmente mesmo as grandessão alicerçadas sobre instantes vividos em comum; instantes de alegria e de aflição, de risos, de dor, de vitórias envaidecedoras e fracassos que abatem, de recolhimento, de diversão. Nessas notas temos tudo. Elas estão, em nosso caso, equipe de Nossa Senhora que somos, impregnadas de fé e auxílio mútuo, recursos que nos foram dados para repartir o peso das adversidades e reduzir euforias e depressões a seus verdadeiros tamanhos. Vemos, ao examiná-las, que os acontecimentos registrados podem ter alterado substancialmente nossas vidas. Sem dúvida alteraram. Há nelas uma visita do Nelson, oferecendo apoio e valiosos conselhos, quando percebeu alguma turbulência num casamento ainda se consolidando. Saudoso Nelson, tão identificado com a equipe que deu seu nome, Nsa. Sra. das Famílias, ao emprendimento que inaugurava, presentes na inauguração grande quantidade de equipistas e enorme alegria. O Nelson aparecia inesperadamente em nossas casas con gostosa intimidade, para partilhar nossos contentamentos e os seus, para sanar dissabores seus e nossos. Organizava incontáveis piqueniques e passeios, os filhos ainda pequenos participavam. Atos de amor que continuam a frutificar. Durante

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todo o tempo, inclusive em sua prematura partida, única vez que nos entristeceu, encontrávamos nele desprendimento e aceitação. Lembramos de muitas e muitas noites de oração e canções com a Lygia, que também precocemente nos deixou. Procurávamos levar-lhe algum conforto e ganhamos bem mais do que demos. Desde então cantamos em nossas reuniões . A equipe deve bastante a ela, pelo trabalho concreto e eficiente que prestou e pelo alento que nos deu. Temos viagens ao Rio de Janeiro. Uma vez para um passeio de iniciativa do Conselheiro Espiritual, com albergagem no Convento do Carmo. Todos em um único veículo, que quebrou na estrada; as oficinas estavam fechadas, por ser feriado , o que transformou a jornada em sufoco de 12 horas. Em outras oportunidades , compareciamos para as reuniões mensais. Um dos casais para lá se mudara, hospedando em seu apartamento a equipe inteira quando era sua vez de acolher. Os presumíveis embaraços que um ajuntamento desordenado desses pudesse causar, foram sobejamente compensados exatamente pela proximidade , pelo exercício da co-participação em amplitude máxima. A propósito, estamos com sugestão em aberto nesse sentido: um encontro, de preferência juntamente com os filhos, em local apropriado, com despesas divididas, tarefas rodiziadas e pensamentos permutados, com o fim de tomar e declarar resoluções a serem implementadas depois. É proposta de nosso insubstituível Conselheiro Espiritual, excelente e querido como outros que tivemos, mas especial porque há tanto tempo conosco permanece, porque com ele tanto nos identificamos. É claro que 1968, data do lançamento da equipe, não poderia deixar de constar dos anais levantados. Vários de seus fundadores continuam a compô-la atualmente. Os demais equipistas foram admitidos nos seus primordios. Pilotada, que privilégio, por Maria Helena e Nicolau Zarif, teve direito a ajustes tempos depois. Eles, e igualmente os Conselheiros Espirituais , merecem capítulos destacados em nossa história, se for finalmente contada. Capítulos fundamentais . Alguns casais se afastaram, por motivos vários . Mas ainda convivem conosco, na amizade continuada que possibilita frequentes encontros. E também na memória de todas as atividades das quais participamos juntos, em trabalhos voluntários nos EACRES , na organização, na animação, em testemunhos nos esforços para o crescimento. Eventuais qualidades que , a equipe possa ter são, em boa parte, devidas a eles . Alimentamos esperanças de que voltem . No saldo apurado, com certeza estará a confiaça que podemos ter de ajuda em situações difíceis. Possuímos exemplos de completa disponibilidade na solução de problemas , participados nas reuniões , através não só de palavras de estímulo, mas com pronta ação, não obstada nem quando se fez necessária locomoção para outra cidade. E já nos encon38 - CM Outubro/91


tramos, em caso de saúde, demonstração de solidariedade e desejo de assistência efetiva tais que, fosse outro grupo, seria um fato insólito, inacreditável. Que fazer então com essas lembraças, uma vez que não houve o desfecho para o qual a coletamos? Temos, na realidade, plena convicção de que não se perderam, não foram em vão. Ao final, acabamos descobrindo que acentuaram, de forma bem nítida, nossa grande responsabilidade. Responsabilidade com o Movimento; com seus dirigentes; com o casal piloto; com os Conselheiros; com todos aqueles que trabalham incansavelmente para manter as Equipes de Nossa Senhora vivas e dinâmicas. Responsabilidade com os que partiram. Responsabilidade com nós mesmos, literalmente uma família, de~dentes uns dos outros. Percebemos, com todas as implicações que isto representa, que somos uma Equipe de Nossa Senhora. Rigorosamente igual - ainda que persistam em nós defeitos - a milhares de outras que há 50 anos intentam cumprir os compromissos que são nossa razão de ser. E recebendo de volta muito mais que as poucas normas que adotam, em uma desproporção colossal. São reflexões que nos incitam no desejo de voltarmos a um engajamento maior com os colegas que se esforçam para que nossos desígios sejam alcançados. Menos por obrigação ou gratidão do que pelo prazer que isso outrora nos causava. Estaremos então voltando ao início, reaprendendo, redescobrindo características básicas? Tomara. Uma Equipe de Nossa Senhora

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ATUALIDADE

EXAME DE CONSCIÊNCIA MODERNO Aproveitando o clima dominante no mundo, o Brasil acompanha a onda de misticismo, esoterismo e através, sobretudo, do rádio e da televisão, despeja grande quantidade de produtos: casos especiais, filmes, novelas, minisséries, pastores eletrônicos, pais-de santo, além, claro, de monstrinhos, lobisomes e vampiros de brinquedo. Exemplos? Caça-fantasmas, Sexta-Feira 13, Exorcista, Feiticeira, Mandala, o bruxo Ravengar ("Que rei sou eu"?). Ao lado da beleza do "Pantanal", Juma vira onça e é protegida pelo espírito de Maria Marruá; Leôncio é protegido pelo "Véio do Rio" que se transforma em sucurí em nome do bem-estar de sua família; Trindade tem pacto com o "cramulhão"; Vó Manuela, em Riacho Doce, mantém seu prestígio usando forças sobrenaturais; etc, etc ... Que dizer de algumas bandas de rock, do tipo "Sepultura"? Vivemos a era dos pastores eletrônicos, do messianismo. Sem sair de casa, vemos o demônio ser expulso, pessoas se dizendo curadas ou recebedoras de graças. Há, no Brasil, mais de 1.000 seitas pentencostais, com 9 milhões de adeptos. A Igreja Universal do Reino de Deus reuniu, no Maracanã, 150.000 fiéis. Lema do Senhor bispo Edir Macedo, fundador e chefe supremo da citada igreja: "no pedido, o maior; na oferta, a melhor. Deus recompensa quem dá com alegria". Por isso ele comprou a Record por 45 milhões de dólares. E já tem outra no Paraná. Nem mencionamos ainda Umbanda, Candomblé, Missa Negra e outras semelhantes. A onda chega justamente numa ocasião em que o povo vive momentos de incertezas; as instituições públicas e civis são desacreditadas; as relações pessoais e coletivas ainda mais desestruturadas. E não há diferenças gritantes entre as várias camadas sociais. Até pessoas aparentemente bem informadas penduram cristais milagrosos no pescoço, confiam na energia da pirâmide, usam a medida do Bonfim, consultam numerologia... Enquanto essas crendices forem inofensivas e derem conforto emocional a quem recorre a elas, não há grandes problemas (se o cidadão não for cristão). No entanto o misticismo avans:a à medida que o Estado é ineficiente para cumprir suas funções. E cômodo para quem detém o poder, já que o sobrenatural acaba substituindo o governo em obrigações e promessas não cumpridas . Acredita-se, então, em qualquer coisa que compense a carência material ou afetiva. 40 - CM Outubro/91


A reboque da televisão, o mercado editorial lança uma infinidade de publicações sobre bruxarias, esoterismo, a cor de sua aura, o poder da mágica e outras seitas "espirituais". Confira em qualquer boa livraria. Servem tais publicações como chamariz nas vitrines. E vendem bem. Paulo Coelho ("O Alquimista, Brida, O Bruxo") vendeu muito mais no ano passado que um escritor de talento. E qual sua qualidade? Alienação, comércio, exploração da inquietação universal do homem ("para onde vou"?). Apenas consumível, prazerosa e prejudicial como um cigarro. James Randi, 62 anos, canadense, mágico aposentado (revista Veja, 12 de maio), famoso depois de reduzir paranormais como Uri Geller, o entortador de talheres, à condição de impostores, acaba de reafirmar um desafio que fez há 25 anos atrás: oferece 10.000 dólares (depositados) a quem realizar, na sua frente, um prodígio que ele não consiga desmascarar. Uma pessoa com autênticos dons sobrenaturais poderia provar seus poderes prevendo o resultado de uma Sena acumulada em favor dos pobres, já que "não pode fazê-lo para si mesma". Os inseguros espiritualmente encontram amizade e apoio no proselitismo fácil das seitas e dos místicos. É mais confortável acreditar em quem nos diz o que desejamos ouvir que acreditar na verdade. A religião é apresentada como uma resposta às necessidades imediatas, reduzindo a salvação a um nível comercial de oferta e procura, tipo supermercado. E quando o "supermercado" cobra o preço justo e exige nosso esforço (ser cristão é ser fiel a Cristo e essa fidelidade tem um alto preço), nós o trocamos por outro, ou simplesmente o abandonamos. O Evangelho nos exorta a sermos simples como as pombas, mas também prudentes e astutos como as serpentes. "Acautelai-vos para que ninguém vos iluda." A Igreja Católica só dá aval para milagres, aparições, curas milagrosas, lágrimas da madeira quando são exaustivamente analisadas pelos cientistas e pelo clero. Nós, cristãos , ou acreditamos em Cristo ou em místicos e magias. Não é possível crer em Cristo ressuscitado, filho de Deus, que nos traz a vida eterna e, ao mesmo tempo, frequentar centros espíritas que incorporam seres que já viveram na terra. O filme "Ghost, do outro lado da vida" fez muito sucesso, exatamente porque é daquele jeito que gostaríamos que as coisas fossem depois da morte. O filme é, porém , um misto de romance - fantasia - comédia. Cumpriu sua função: entretenimento e renda. Algo está muito errado ultimamente; a fé verdadeira é sólida, não necessitando desses subterfúgios. O desconhecimento do conteúdo da fé é que leva os incautos a procurarem tantas muletas! Por isso pergunta-se, parodiando um livro conhecido: "Católico, você é cristão"? Maria Inês e Luiz

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CORREIO

Lendo o artigo transcrito na Carta Mensal de abril último, sob o título: "Jovens têm relações arriscadas", ocorreu-me fazer algumas considerações. O ato sexual se banalizou. Muitas moças e grande número de rapazes (estes principalmente há já muito mais tempo), deixaram de se preocupar com a própria preservação para o matrimônio. É uma realidade de nossos dias. Moça nenhuma é mais expulsa de casa por ter perdido a virgindade (uma das causas da prostituição em outros tempos). Diante desse quadro que mais e mais se generaliza, como orientar os nossos jovens? Como orientar um filho ou uma filha? Sabemos de antemão que o caminho não é a condenação nem a imputação de grave pecado. Vamos falar uma linguagem que aproxime gerações, não que as afaste. Não será mais importante enquadrar o ato sexual como dentro de um contexto do comportamento cristão do homem? Assim, explico: o cristão deve ter sempre e em todas as circunstâncias da vida comportamento condizente com sua crença e formação . É a lei do amor que deve nortear sua vida. Basicamente, quem ama no sentido cristão, respeita. E esse respeito deve ser condicionante de todo o relacionamento: respeitar-se e respeitar a dignidade e individualidade do outro. Tudo aquilo que de alguma forma venha prejudicar ou violentar a moral ou o psiquismo do próximo, é falta grave de conduta. Cada um irá responder por isto num julgamento divino, julgamento que de mil maneiras somos incapazes de avaliar. Estas considerações se aplicam ao nosso assunto do relacionamento sexual dos jovens de hoje, bem como para todas as demais atitudes que adotamos nos diversos planos de nossas vidas. Não se trata assim de tirar a virgindade de alguém ; trata-se, sim , de saber respeitar esse alguém como pessoa em Cristo. Tudo num contexto de vida, que abrange globalmente nosso comportamento. Assim, é tão grave perante Deus levar um jovem levianamente a praticar um ato sexual, como explorar um operário com um trabalho escravo, trair a confiança de quem acredita em nós, e coisas assim. Conclusivamente: nós, um dia, vamos ser avaliados por nossos atos de amor, como também pelos nossos egoísmos e desamor. Isto é, a nosso ver, o que podemos e devemos transmitir para nossos filhos . José Maria e Zélia Duprat Equipe n2 1 - Setor "A" I São Paulo

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INTERCÂMBIO

Estamos Inaugurando este mês uma nova seção na Carta Mensal. Intercâmbio pretende aproveitar matérias recebidas diretamente ou publicadas em boletins de Setor, visando Incrementar a troca de experiências entre equipes e equlplstas. São experiências de toda sorte e que, na modesta opinião desta Redação, podem enriquecer os nossos leitores. Evidentemente, não há espaço para publicar tudo. Por vezes, serão utilizados apenas trechos do que selecionamos. Nossos Irmãos autores nos perdoarão, certamente ...

Estamos no Movimento há 14 anos. Ao longo desses anos procuramos viver os meios que fomos convidados a exercitar. Assim é que a cada mês nos reunimos (em casas alternadas) para rezar o terço a Nossa Senhora (da Boa Viagem) , e logo em seguida participamos de uma paraliturgia na qual é ministrada a Eucaristia. Gostaríamos de passar nossas experiências aos demais irmãos equipistas, pois o enriquecimento espiritual que estamos vivendo é digno de partilhar. Cidinha e José Carlos Equipe 6. N. S. da Boa Viagem Setor Grande ABC

Velas e Ventos Estava pensando num pequeno ancoradouro com alguns barcos a vela. Logo pela manhã o vento sopra e os barcos com as velas içadas partem, mas ficaram outros cujos mastros não têm velas . A Páscoa passou, Jesus é o Vento: estamos dispostos a levantar as Velas e irmos onde o Vento nos levar ou vamos ficar Ancorados na nossa Acomodação? Lembremo-nos que um dia o Vento não virá, o mar vai secar e nós , os barcos, ficaremos na praia apodrecendo ... Esmeraldino e Léa Equipe 11 N. Sra. do Rosário Manaus/AM

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No dia 8 de Julho de 1991, o CEdas equipes 20 A, 22 A e 55 A de nosso setor, o Pe. Monteiro da Gama, natural de Portugal, completou 35 anos de ordenação sacerdotal. Na ocasião as 3 equipes realizaram uma reunião festiva e conjunta, tendo o Pe. Gama celebrado missa especial como era seu desejo, com duração de 90 minutos. Além dos equipistas das três equipes participou da mesma o Pe. Werno, também CEdas equipes do vizinho município de Canoas . Às 4 horas da manhã, o Pe. Gama escreveu o poema que segue abaixo. Enio Orphelino de Souza Equipista da Eq. 55-A Porto Alegre/AS 11

O meu Sonho

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O meu sonho: O Eu que transcende o meu ser! Como a aurora, E de passagem, agora, E é já o novo dia, Que a luz começa a fazer, Surgindo risonho já agora, sem euforia. O meu sonho sou eu consciente, a constatar e a pressentir, Espreitando o Infinito, Refletindo o bonito Que há no Porvir Em mim presente. O meu sonho sou Eu: Poeta da Terra - profeta do Céu. Pe. Monteiro da Gama Montenegro 11/6/91

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Recebemos, de Brasília, um tema de estudos que está sendo utilizado por lá, preparado por Mons. Pierre Primeau, visando aprofundar o recente documento do Papa João Paulo 11 sobra a "Missão do Cristo Redentor" (Redemptoris Missio). O tema tem uma introdução e propõe questionamentos sobre o texto, agrupados em oito capítulos. Os interessados poderão dirigir-se ao Secretariado Nacional, que dispõe de um número limitado de cópias.

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NOTÍCIAS E INFORMAÇÕES VOLTA AO PAI

MUDANÇAS NOS QUADROS

• Oedé (Orlandlna) (do Heitor), Eq.96-E, Alo 111 em 11.07.91 • Vinha exercendo a função de C.R.E. • Ronam (da Evanlr) Beraldo Amaral, Eq. 04, Pouso Alegre/MG. Eram C.L. de duas equipes, assiduos nos eventos do movi· mento e engaJados na paróquia. . Ooea (do Francisco), Eq. 01, Valenca!RJ em 27.04.91. "Fundadora• de sua equipe, assidua nos sacramentos, foi exemplo de fé para todos. Lecionou na Escola Rural por 13 anos e coordenava a distribuição da merenda escolar no Pólo Agricola.

·Região Santa Catarina Celita e Edgar Osório (Eq.16) assumem a responsabilidade pelo setor A de Florianópolis em lugar de Edna e Ênio• • A coordenação de ltaJai deixa de existir e suas duas equipes passam a Integrar o setor de Brusaue. • Região São Paulo Sul-11 Vera e José Renato Luciano substituem Silvia e Francisco de Assis Pontes na missão de Casal Responsável Regional. • Região Minas Gerais O novo Casal Responsável da Região é Astrid e José de Souza Ribeiro, que substituem Margarida e José Agostinho Tavares. • Região Paraná Marília e Dalcto Balaroti são substituídos na missão de Casal Responsável da Região por Terezlnha e Daniel Godrl.

EQUIPARTICIPANDO . Pedindo desculpas a Marllena e Mário (Petrópolis IRJ) retificamos a noticia publicada no número anterior da Carta Mensal, Informando que o boletim "Equlpartlcl- pando" é editado pela Região Rio 11 e nasceu em Janeiro de 1991 e Já se encontra em seu 42 número, cuJo recebimento acusamos e agradecemos. A Região Rio 11 engloba as ENS de Petró· polia, Valença, Piabetá e Teresópolls (Coordenação recentemente Instalada).

NOVAS EQUIPES • Manaus/AM . Eq.12 C.E.: Pe. Luiz Kirchner C.P.: Stella e Alencar (Eq. 02) . Eq.18 C.E.: Pe. Luiz Kirchner C.P.: Ligia e Ismael (Eq. 11) ·Campo Grande!MS • Eq.06 C.E.: Pe. Fabiano Vilela Figueiredo C.P.: Marly e Jairo Roberto Mina . E0.07 C.E.: Pe. Antônio Secondino C.P.: Margareth e João lima da Silva

EXPANSÃO ·Região São Pauto· Norte • Criada em 20.07.91 a Coordenação das E.N.S. de Votuporanga cuJas 04 equipes estavam até então ligadas ao setor de São José do Rio Preto. O C.R. pela nova coordenação são Adair e Luiz Carlos • . Também desmembrados do setor de São José do Alo Preto, as 05 equipes de Guaplacú(SP, estão agrupadas desde 30.06.91 numa nova Coordenação das E.N.S, sob responsabilidade de Cleonice e Nelson Pereira, tendo como C.E. Pe. Jean Marta Zauzt . • Santos(SP A primeira Experiência Comunitária nas E.N.S. (Cami· nhada) foi concluída com dois grupos e ambos optaram por Ingressar nas E.N.S. e serão pilotados por Eunice e Piffer (Eq. 02) e Marina e José Roberto (Eq. 02) e terão como CEs, respectivamente, Pe. Chiquinho e Pe. Xavier. Mais dois grupos de E.C. estão sendo Iniciados tendo como casais ant-

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madores Marlene e Edson (Eq. 02) e Lu· célla e Eduardo (Eq. OS) . Bauru/SP O setor realizou, recentemente, três reuniões de informação para casais inte· ressados em ingressar nas ENS e como resultado as equipes já existentes receberão esses casais novos alcançando o objetivo de completar todas as equipes com seis casais.

ria Dlocesana de Pastoral como Vigário Episcopal. É membro do Colégio de Con· sultores, do Conselho de Presbíteros e do Conselho Administrativo da Diocese e, ainda, membro da Câmara Auxiliar Permanente da Diocese ao Tribunal Ecle· siástlco, como Defensor do Vínculo e, desde 1983, cônego do Cabido Diocesano. Cursou a Escola Sacerdotal do Movimento dos Focolares em Roma.

CONSELHEIROS ESPIRITUAIS

JOVENS

• Rio de Janeiro/RJ Receberam sua ordenação sacerdotal, na Catedral de São Sebastião em 10 de agosto último Luiz Carlos Pereira e Luiz Arthur Marques de Barros Falcão, Conselheiros Espirituais de equipes dos setores E e F, respectivamente, da Região Rio 111. • Pouso AlegrefMG As ENS unem-se a toda a Arquldiocese de Pouso Alegre para se alegrarem pela posse em 22.06.91 de seu novo Ar· ceblspo D. João Bergese (antigo bispo de Guarulhos). D. João que tem profundo carinho pela Pastoral Familiar e quando padre na Arquidiocese de Ribeirão Preto foi CE de ENS, decidiu ser conselheiro espiritual de uma nova equipe que está sendo criada na Paroquia da Catedral de Pouso Alegre. Serão CP: Maria Rosa e Luiz. • São Carlos(SP As ENS rejubilam-se pela Sagração Episcopal do Con. Tosi ocorrida em São Carlos em 20.09.91 e que toma posse em 04.10 como novo Bispo Auxiliar de Salvador, BA. O Pe. José Aparecido Tosi Marques vinha, até então, exercendo a assistência espiritual do setor das ENS, bem como das equipes 01 e 11. Natural de Jaú/SP foi ordenado Diácono em 1973 e Presbítero em 1974. Exerceu funções espirituais e de professor de várias dlsci· plinas no Seminário Diocesano de São Carlos do qual foi Reitor de 1979 a 1986 e Coordenador Diocesano da Pastoral Vocaclonal. Foi pároco da Paróquia de Santo Antônio da Vila Prado e assumiu, conjuntamente, em 1988 a coordenado-

• Curitiba/PR Tendo como tema central "A PESCA Ml· LAGROSA • e a participação de 50 jo· vens, aconteceu nos dias 06 e 07 de julho o primeiro Encontro de Jovens filhos de equiplstas. Contamos com a valiosa colaboração dos conselheiros espirituais Carlos AI· berto de Oliveira e José Alceu Santana Albino. Tal foi o sucesso desse encontro que já está sendo pensado um Reencontro para aprofundamento espiritual. • Manaus/AM Realizados dois Encontros para Jovens no Colégio N.S. Auxlliadora. O primeiro aconteceu em 23.02.91, reunindo jovens de 12 a 16 anos Iniciando-se com o tema Amizade e Namoro e uma rápida explicação sobre as ENS. Na parte da tarde houve um painel com a participação de um sacerdote, uma religiosa, catequistas e filhos de equlpistas. O segundo encontro foi realizado em 07.04.91, para jovens maiores de 17 anos, enfocando os seguintes assuntos: Conhecimento; Ami· zade e Namoro; Sexualidade. As exposições foram Intercaladas com trabalhos de grupos, ocasião em que os jovens manifestaram-se livremente. Am· bos os encontros foram encerrados com a celebração da Santa Missa, amplamen· te participada pelos presentes.

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RETIROS Atentos à proposta do movimento de que todos os seus membros participem de


um Retiro anualmente, todos os setores das ENS no Brasil vêm promovendo seus retiros em várias ocasiões. Muitas são as notícias que nos chegam e Ilustradas com fotografias, cheias de alegria espiritual que lamentamos não ter espaço para reproduzir na integra e que nos permitimos resumir: - Manaus/AM (19,20 e 21.04.91) Tema: Prioridades das ENS e da lgJ"eja de Manaus Pregador: Pe. Luiz Klrchner (CE setor) Participantes: 66 casais - Manaus/AM (14, 15 e 16.06.91) Tema: Prioridades das ENS e da Igreja de Manaus Pregador: Pe. Claudio Dalmont Participantes: 25 casais -Setor D. Rio 111 (19,20 e 21.07.91) Tema: Família- Base da Evangelização Pregador: Frei Anselmo Fracasso (franciscano) Participantes: 27 casais -ltumbiara/GO "Foi com muito entusiasmo que preparamos nosso Retiro Espiritual - para muitos, o primeiro- para os dias 18 e 19 de maio. Tivemos a grande ventura de sermos dirigidos pelo Pe. José Carlos di Mambro que nos encantou e nos cativou pela sua sabedoria e experiência, simplicidade e orientações seguras para a vida prática. Somos muitos gratos a Deus que nos proporcionou essa feliz oportunidade.

Padre José Carlos nos surpreendeu pela sua visão ampla da vida e nos colocou com os pés no chão em relação ao futuro de nossos filhos. Deu-nos uma tarefa Importante a cumprir: "Anunciar, em ltumbiara, o valor da Família, através do trabalho pessoal, do trabalho a dois e da vivência cristã •. Que o Senhor nos dê forças para bem desempenhá-la. •

ENCONTRO REGIONAL - Brasília/DF Realizou-se em 01.02.06 o Encontro Regional Centro- Norte de 1991, com a finalidade de avaliar o que foi posto em prática pelas ENS após os EACREs deste ano. Presentes, além de Mariola e Eliseu pela ECIR, os casais responsáveis pelos setores A,B,C,D e E de Brasília; A e B de Belém/PA; CR setor de Manaus/AM e CR Coordenação de Santarem/PA. Os CEs estiveram representados na pessoa doPe. Augusto (CE setor A de Brasília) dada a Impossibilidade do comparecimento dos demais. Na oportunidade, foram debatidas as prioridades do Movimento, a nova pedagogia a ser adotada para a pilotagem e o projeto de evangelização da sexualidade entre outros assuntos. Um pequeno balanço foi apresentado pelos participantes acerca de vivência das prioridades apresentadas nos EACREs.

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ÚLTIMA PÁGINA

DEUS É DEUS Eu faço versos e creio em Deus. Meus versos andam cheios de Deus, como pulmões cheios de ar livre. Carlos Drummond de Andrade faz --fazia-- versos, melhores que os meus, e não acreditava em Deus. (Deus não é simplesmente a Beleza.) O Che entregou sua vida pelo povo e não via a Deus na montanha. Eu não sei se poderia conviver com os pobres se não topasse a Deus em seus farrapos; se Deus não estivesse, como brasa, queimandome o egofsmo lentamente. (Deus não é simplesmente a Justiça.) Muitos humanos içam suas bandeiras e cantam à Vida deixando a Deus de lado. Eu só sei cantar dando seu Nome. (Deus não é simplesmente a Alegria.) Talvez eu não soubesse andar pelo caminho se Deus não estivesse, como a aurora, rompendo-me a neblina e o cansaço. E há sábios que caminham imperturbavelmente contra o brilho de Deus fazendo História, desvelando mistérios e perguntas. (Deus não é simplesmente a Verdade.) ... Verdade sem argumentos, Justiça sem retornos, Amor inesperado, Deus é Deus, simplesmente! D. Pedro Casaldáliga

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MEDITANDO EM EQUIPE (Sugestão para o mês de Outubro) Texto de meditação (Mt. 15,21-28) Partindo dali, retirou-se Jesus para as bandas de Tiro e de Sidónia. E eis que uma mulher cananéia, vinda daqueles arredores, começou a bradar: "Senhor, Filho de David, tem compaixão de mim! A minha filha é cruelmente atormentada pelo demônio". Mas Ele não lhe respondeu palavra. Aproximaram-se então os seus discípulos e começaram a pedir-lhe: "Despacha-a, porque nos persegue com os seus gritos". Respondeu ele: "Não fui enviado senão para as ovelhas desgarradas da casa de Israel". Ela, porém , veio, prostrou-se por terra e disse: "Ajuda-me, Senhor!" . Respondeu-lhe ele: "Não está bem tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos"." E ela: "Tanto é verdade. Senhor, que os cachorrinhos se alimentam das migalhas que caem da mesa dos donos". Então, Jesus disse-lhe: "Ó mulher, é grande a tua fé! Faça-se como desejas". E desde aquela hora a sua filha ficou curada. Oração Litúrgica

Reunidos ao redor de tua mesa, no XII Congresso Eucarístico Nacional, nós te pedimos, Senhor, dá-nos sempre do teu pão: o Pão da Palavra, o Pão da Eucaristia e o pão nosso de cada dia. O Pão da Palavra, repartido pela ação missionária de tua Igreja, há quinhentos anos em nosso Continente, fez de muitas raças um só povo. O Pão da Eucaristia, teu Corpo por nós imolado, teu Sangue por nós derramado, alimento e bebida de um povo que caminha. É Deus presente no Sacramento do altar. Dá o pão nosso de cada dia aos que vivem do suor do seu rosto. E que os frutos da terra sejam distribuídos a todos com justiça, num mundo mais fraterno e solidário. Guiados pela estrela do Natal, mostra-nos os caminhos da nova evangelização, sob o olhar materno de Maria. Revigora a tua Igreja: teus Bispos, Padres e Diáconos, Religiosos e Leigos com a força do Espírito Santo. Nestas terras banhadas pelo sangue dos mártires, os mártires de ontem e os mártires de hoje, ensina-nos a dar testemunho do teu Evangelho e a proclamar sempre e em toda parte, como um filho do Rio Grande do Norte (*), na hora de seu martírio: "LOUVADO SEJA O SANTÍSSIMO SACRAMENTO!' Amém. (Oração do XII Congresso Eucarístico Nacional de Natal) (*) Mateus Moreira, mártir no período holandês (1645)


PRIORIDADES A REUNIÃO DE EQUIPE

AO ENCONT~O DA REALIDADE

FORMAÇÃO

PASTORAL FAMILIAR

COMUNICAÇÃO

EXPERitNCIA COMUNITÁRIA


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