ENS - Carta Mensal 278 - Novembro 1991

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RESUMO João Paulo 11 fala da responsabilidade dos cônjuges pelo amor e pela vida . . . . . . A desintegração social que nos ameaça . . Um rápido relato da reunião do Colegiado ECI R/Regionais em Jundiaí . . . . . . . . Alguns textos sobre nossos Pontos Concretos de Esforço . . .. . . . . . . . . . . . . . . Uma reflexão sob forma de oração . . . . . O amor maravilhoso do casal : dom de Deus e mistério . . . .. . . . . . . .. . . .

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ESPECIAL Vários documentos sobre uma Prioridade: a Pastoral Familiar; a nossa atitude diante das "situações irregulares" . . . . . . . . . Maria, Filha eleita de Israel . . . . . . Dois textos sobre os santos: adorá-los ou venerá-los? Como surgiu seu culto? . . . Prioridades: Ir ao encontro da realidade; Comunicação . . . . . . . . . . . . . . . A atualidade de um documento que faz 100 anos . A unidade apesar das diferenças . . . . . . . . . Um testemunho sobre a leitura dos acontecimentos Os jovens escrevem . Sugestões para leitura . . . . . Correio . . . . . . .. . .. . . O que será um "sino de ouro"? Intercâmbio . . . . . . . Notícias e Informações .. . . . Última página . . . . . . . . . . Sugestões para meditação e oração .

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ACOLHIDA

Não sabemos se vocês notaram, mas este é o terceiro mês em que esta seção, anteriormente denominada "Um Momento com a Equipe da Carta Mensal", passou a se chamar "Acolhida" . Sabem por que?

Sempre ficamos muito impressionados quando, em algumas paróquias, no Brasil e mais frequentemente em outros países , ao chegarmos para participarmos da Eucaristia, o sacerdote nos recebe na porta. Transmite um calor diferente. Ele não é dono daquela paróquia, daquela igreja, mas ele está a serviço da comunidade. Ele quer que nos sintamos bem, em casa na casa de nosso Pai.

Também nós, a equipe da Carta Mensal, a serviço do Movimento das Equipes de Nossa Senhora, queremos que vocês se sintam bem , que se sintam em casa. Por isso viemos até esta porta para acolhê-los como irmãos. Sem vocês , sem que haja quem leia o que está nessas páginas, nosso serviço seria inútil.

Sejam bemvindos!

A equipe da Carta Mensal

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PALAVRA DO PAPA UM SERVIÇO AO AMOR E À VIDA O trecho a seguir faz parte de um discurso proferido por João Paulo 11, por ocasião de um encontro sobre o método Billings.

Responsabilidade pelo amor e pela vida. Esta expressão recorda-nos a grandeza específica da vocação dos cônjuges, chamados a serem os colaboradores conscientes e livres daquele Deus que é amor, que cria por amor e que chama ao amor. O termo "responsabilidade" é , por conseguinte, eticamente decisivo, porque nele se acolhe, por um lado, a dignidade do "dom" que se recebe e, pelo outro, o valor da "liberdade", a quem ele é confiado, a fim de o fazer frutificar. Quanto maior é o dom , tanto mais alta é a responsabilidade da pessoa que livremente o recebe. E que maior dom , no plano natural , do que esta vocação do homem e da mulher a exprimir um amor fiel e indissolúvel, aberto à transmissão da vida? No amor conjugal e na transmissão da vida, o homem não pode nunca esquecer a sua dignidade de pessoa, que eleva a ordem da natureza a um nível específico, que já não é meramente biológico. Por isso a Igreja ensina que a responsabilidade pelo amor é inseparável da responsabilidade pela procriação. O fenômeno biológico da reprodução humana, de fato , do mesmo modo que encontra no seu início a pessoa, assim também tem no seu termo o surgir de uma nova pessoa, única e irrepetível , feita à imagem e semelhança de Deus . Nasce daqui a dignidade do ato procriativo , no qual o amor interpessoal dos cônjuges encontra o seu coroamento na nova pessoa do filho. Por isso a Igreja ensina que a abertura à vida nas relações conjugais protege a própria autenticidade de relações de amor deles, salvando-os do perigo de cair no nível de mero gozo utilitarista. Nesta responsabilidade pelo amor e pela vida, Deus Criador convida os cônjuges a não serem executores passivos , mas sim "cooperadores e quase intérpretes" do seu desígnio (Gaudium et Spes, n. 50) . Eles, com efeito, no respeito da ordem moral objetiva estabelecida por Deus, são chamados a um insuprível discernimento dos sinais da vontade de Deus acerca da sua família. Assim, em relação às condições físicas, econômicas, psicológicas e sociais , a paternidade responsável poderá exprimir-se "quer com a deliberação ponderada e generosa de fazer crescer uma família numerosa, quer com a decisão, tomada por graves motivos e no

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respeito da lei moral, de evitar temporaneamente, ou também a tempo indeterminado, um novo nascimento" (Humanae vitae, n. 10). A ciência oferece hoje a possibilidade de reconhecer com segurança os períodos de fecundidade e de infecundidade do organismo feminino. Deste conhecimento os cônjuges podem servir-se com benefício, para diversos fins legítimos: não só para distanciar ou limitar os nascimentos, mas também com o fim de escolher para a procriação os momentos mais favoráveis, sob todos os pontos de vista, ou então, também para reconhecer os períodos com melhores possibilidades de conseguir um concebimenta , nalguns casos de dificuldade. Nesta aplicação dos conhecimentos científicos na regulação da fertilidade, a técnica não se substitui de modo algum ao empenho das pessoas e nem sequer intervém a manipular a natureza da relação, como, pelo contrário, é o caso da contracepção, na qual se separa deliberantemente o significado unitivo do ato conjugal daquele procriativo. Aliás, na prática dos métodos naturais a ciência deve sempre conjugar-se com o autodomínio, uma vez que no recurso a ele é necessariamente chamada em causa aquela perfeição própria da pessoa, que é a virtude. Por isso, pode-se dizer que a continência periódica, praticada para regular de modo natural a procriação, requer uma profunda cultura da pessoa e do amor. Ela exige de fato, escuta e diálogo recíproco entre os cônjuges, atenção e sensibilidade pelo outro, constante domínio de si mesmo: qualidades, todas elas, que exprimem o amor autêntico para com a pessoa do cônjuge, por aquilo que ela é, e não por aquilo que se desejaria que fosse. A prática dos métodos naturais exige o crescimento pessoal dos cônjuges na edificação comum do seu amor. Esta conexão intrínseca de ciência e de virtude moral constitui o elemento específico e moralmente qualificante do recurso aos métodos naturais. Ela faz parte de uma formação integral dos que ensinam e dos casais, para os quais deve ser claro que não se trata de uma simples "instrução" separada dos valores morais próprios de uma educação ao amor. Ela permite, por fim, compreender que não é possível praticar os métodos naturais, como uma variante "lícita" de uma escolha de fechamento à vida, que seria, por conseguinte, substancialmente análogo à que inspira a contracepção: só se há uma disponibilidade fundamental à paternidade e à maternidade, compreendidas como colaboração com o Criador, é que o recurso aos métodos naturais se torna parte integrante da responsabilidade pelo amor e pela vida.

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CAMINHANDO COM A IGREJA

VIOLÊNCIA E DEGRADACÃO MORAL A multiplicação assustadora dos seqüestros, assaltos e assassinatos, bem como a intensificação do tráfico de drogas são sintomas alarmantes de uma sociedade gravemente enferma. Seria um diagnóstico simplista enxergar como causa exclusiva desses crimes a situação de extrema pobreza de uma grande parcela de nosso povo. Sem dúvida, a profunda desigualdade social, característica da sociedade brasileira, não deixa de ser um caldo de cultura para a proliferação do vírus da violência sob todas as suas modalidades. Mas não é o fator único, nem talvez o fundamental. Na verdade, nem todos os que assaltam, seqüestram, assassinam ou comerciam a droga fazem-no para sobreviver. A indústria do crime esconde, muitas vezes, a mentalidade doentia do enriquecimento fácil sem esforço. Sobretudo, é a manifestação evidente do desmoronamento dos valores espirituais, religiosos e morais sem os quais não é possível a construção de uma sociedade digna da pessoa humana. De fato, o que estamos assistindo é a negação brutal da dignidade de cada pessoa e do respeito devido aos direitos dos outros. O direito à integridade física da vida. O direito de preservar os bens adquiridos honestamente. O direito de viver com os outros sem temor e de trabalhar com tranqüilidade sem a necessidade de cercar-se de uma segurança excessiva. O que está em jogo é a consciência da obrigação que cada cidadão deve ter de ganhar a sua vida e de promover-se pelo trabalho honesto e responsável e não pelo lucro fácil e criminoso. Direitos e deveres feridos pelos traumas dos seqüestros e assaltos, pelos assassinatos, pelo estímulo ao consumo da droga, a qual não só desfibra moralmente um povo, e especialmente a sua juventude, como alimenta o crime. Estamos diante não só de uma afronta à dignidade das pessoas como a todas as normas de convivência social. É o triunfo de uma mentalidade criminosa que, pouco a pouco, contamina jovens e adultos, pobres e pessoas de posse. O recurso à violência como um meio normal para uma vida fácil e irresponsável. É a cultura da violência e da morte, a qual se introduz em nossa sociedade contrariamente a todas as suas tradições humanas e cristãs . É preciso reconhecer que a esta situação não é estranha à corrupção moral que marca infelizmente nossa sociedade. A violência e os desman4- CM Novembro/91


dos morais são cogumelos do monturo. Uma sociedade que perdeu todo o senso da moralidade é particularmente vulnerável à violência e aos atentados contra a vida física e psíquica das pessoas . Onde buscar remédios eficazes para deter este fenômeno alarmante de desintegração social, que ameaça os alicerces de nosso país? Primeiro, na educação da consciência moral dos cidadãos, de todas as idades e níveis sociais. É preciso reconstruir em cada um a consciência da dignidade humana. É necessário afirmar a primazia dos valores espirituais , religiosos e morais para uma sociedade sadia. Daí por que devemos repelir todos os atentados a esses valores, não só em sua expressão violenta como em sua destruição progressiva pelos meios de comunicação social. Não há como negar a responsabilidade desses meios na crise moral que atravessa a sociedade brasileira. Assim , na busca desordenada de audiência os canais de televisão recorrem à exploração dos mais mesquinhos instintos humanos. É a vitória do irracional, do instintivo e das paixões sobre a razão , a virtude e a sensatez. Não basta punir severamente os culpados por toda esta onda de crimes que ameaça a vida em sociedade e a paz social. É preciso ir à raiz do mal, não só suprimindo as causas da miséria como recuperando nas consciências embotadas o senso dos valores que dignificam a vida humana. Urge também punir os responsáveis pela desintegração da consciência moral de nossas famílias e de nossa juventude. A repulsa unânime da sociedade brasileira à violência deve ser acompanhada pela repulsa à onda de imoralidade que está destruindo nossas energias espirituais e religiosas. Pois , quando se perde a consciência moral , perde-se a consciência da dignidade dos outros e de seus direitos. Dom José Freire Falcão Cardeal-Arcebispo de Brasília. Publicado no Correio Brasiliense 3 de Agosto de 1991

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VIDA DO MOVIMENTO

REUNIÃO DO COLEGIADO ECIR/REGIONAIS Realizou-se em Jundiaí, em 14 e 15 de setembro, a reunião do Colegiado ECIR/Casais Responsáveis Regionais, com um comparecimento quase total, lamentando-se apenas as ausências doPe. José Carlos de Mambro, de Nancy Moncau e do casal Maria Regina e Carlos Eduardo Heise, da ECIR. Dois destaques básicos poderiam ser dados ao Encontro, um quanto à forma e outro ao conteúdo. No que diz respeito à forma, a reunião foi marcada pelo aprofundamento cada vez maior do espírito de colegialidade do grupo. Apesar de todas as dificuldades, um imenso esforço foi feito por todos para, acima das especificidades regionais, assumir a responsabilidade de uma visão global do Movimento das Equipes de Nossa Senhora do Brasil. Evidenciou-se um entrosamento cada vez maior de todos , marcado por uma grande seriedade nos debates e nos grupos, por um profundo recolhimento nos tempos dedicados à oração e por muita alegria nos (poucos) momentos de encontro e lazer. Os dois dias foram de verdadeira vivência em Igreja. O conteúdo revelou uma identificação cada vez maior do Movimento no Brasil com a caminhada da Igreja em nosso País. O Novo Objetivo Geral da Ação Pastoral da Igreja no Brasil , definido pela CNBB em abril deste ano em ltaicí (1 ), foi o pano de fundo de todos os temas debatidos, sendo a principal preocupação de todos a forma mais adequada pela qual o Movimento se inserirá nesse objetivo, dentro da perspectiva de seu carisma específico. Quer se tratasse das Prioridades do Movimento, quer de aspectos financeiros, esta foi a linha mais marcante da Reunião. Durante a Missa celebrada no domingo, tomaram posse os novos Casais Responsáveis Regionais de Minas Gerais (Astrid e Ribeiro) e de São Paulo Sul-11 (Vera Lúcia e José Renato). Cada casal levou do Encontro, como intenção a ser incluída nas suas orações, as principais preocupações de um outro casal, sorteado sob o olhar do Espírito Santo. Os temas debatidos e as conclusões serão agora levados ao Encontro Nacional, que será realizado no próximo mês de novembro.

(1} V. Carta Mensal n° 277, outubro 1991 , pg .2

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PONTOS CONCRETOS

A ESCUTA É bom que façamos, de vez em quando, um balanço para avaliarmos como está nossa relação com Deus e com o próximo. Diariamente praticamos a escuta da Palavra de Deus . E aonde nos leva essa Escuta? A Leitura do Evangelho e a Meditação devem nos levar a um profundo relacionamento com Deus e a uma sede cada vez maior de gozar da sua intimidade. Mas devem nos levar também a uma transformação de nossas atitudes em relação ao próximo. Se realmente "escutarmos" a palavra de Deus, seremos levados a vencer o orgulho, a auto-suficiência; seremos levados a valorizar os outros pelos dons que têm , pelas suas qualidades. Por que é que somos tentados a valorizar as imperfeições apenas? O que nos perturba? Será que são nossos defeitos que enxergamos nos defeitos dos outros? Não podemos dizer que nosso relacionamento com Deus é bom se estamos sempre criticando, censurando, desmerecendo os outros. Não seremos nós cúmplices da imperfeição deles? O que nós, como cristãos, fizemos para ajudar os outros a melhorar? A escuta da palavra de Deus , se for feita como ponto concreto de esforço, vai nos levar a tomar uma direção diversa, a um acolhimento do outro, do companheiro , dos filhos , dos amigos e até dos desconhecidos. Ela pode nos levar a vencer a insegurança, a fortalecer a vontade de crescer interiormente, a nos tornarmos mais humanos e mais cristãos. Podemos ser sábios em doutrina e em doutrinas, mas isto de nada valerá, se nosso modo de ser nos afasta dos irmãos . Lenice e Luiz C.R. Setor - Eq .1 Araraq uara/S P

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PONTOS CONCRETOS

MEDITAÇÃO A palavra "meditação" tem vários significados. Aqui nós a entenderemos como oração mental ou íntima, não expressa, necessariamente por palavras. É a oração mental que nos faz descobrir a grandeza de Deus e nos comunica o gosto de estar em sua presença; sem este tipo de oração nossas orações vocais correm o risco de se tornar meras formalidades sem alma, uma repetição mecânica de fórmulas . É interessante notar que não somente aprendemos a ler, a escrever, a calcular, mas também precisamos aprender a orar. Os apóstolos , vendo Jesus certa vez voltar de um período de oração, pediram: "Senhor, ensina-nos a orar!" (Lc 11 ,1). Compreende-se bem este pedido: diante de Deus , que não vemos , sentimo-nos , naturalmente desambientados, pois estamos acostumados a tratar com coisas e pessoas visíveis. A criança dificilmente fica tranqüila em oração silenciosa: também muitos adultos só conseguem rezar quando envolvidos numa celebração sensível ... As coisas de fora nos atraem e distraem com frequência. Por isso, a tradição cristã foi instituindo métodos de oração mental, dos quais um , ao menos , será a seguir explanado. COMO MEDITAR

Tomemos a Sagrada Escritura, que é a Palavra de Deus , um sacramental , o pão por excelência da vida da oração . Escolha você o livro ou a página de sua maior afinidade. Peça as luzes do Espírito Santo, certo de que está na presença de Deus. Ponha-se a ler com atenção e vagar, sem a preocupação de quantidade. Talvez os primeiros versículos nada lhe digam , mas , após certo trecho, certamente uma frase o impressionará, e o obrigará a parar um pouco. Será, possivelmente, um versículo já lido muitas vezes , que nunca lhe disse grande coisa, mas que desta vez lhe fala vivamente, como por exemplo: "Ele me amou e se entregou por mim " (GI2,20): "Minha alma é como terra seca diante de ti" (SL 142,6) ; "Senhor, tu sabes tudo: tu sabes que eu te amo" (Jo 21 ,17); "Ele primeiro nos amou" (1Jo4,19) . Pare então. E procure mobilizar a inteligência para refletir sobre a verdade assim expressa: "Ele, o Deus infinitamente Santo, me ama ... E me ama gratuitamente, antes que eu o pudesse merecer... Tenho estado consciente disso? Tenho respondido com minha fidelidade e generosidade?" O aprofundamento da verdade bíblica suscita silêncio interior, admiração, adoração .. . A seguir, faça uma prece de ação de graças , acompanhada de pedido de auxílio para que você possa corresponder melhor ao plano de Deus . 8 - CM Novembro/91


Por último, é importante formular um propósito prático a ser cumprido em conseqüência da mensagem aprofundada. Após esta parada mais ou menos prolongada sobre o texto, pode-se continuar a leitura bíblica até encontrar outra ocasião de se deter e refletir (meditar). Em síntese, são cinco os momentos integrantes deste método de meditação: 1) leitura pausada; 2) reflexão; 3) contemplação, adoração silenciosa; 4) prece; 5) propósito concreto. Como se vê, a meditação não pode ser confundida com o estudo. Este visa apenas enriquecer a inteligência, ao passo que a meditação deve suscitar os afetos do coração e a elevação da mente a Deus; há de ser vivida também após seu término. Tal método é o mais antigo existente na Igreja. Na época moderna, os mestres de espiritualidade concebem outros métodos, sempre procurando mover a reflexão e os afetos (o coração) para que a meditação seja um pleno encontro da criatura com o Criador. Ao cristão é lícito escolher o caminho que mais lhe convenha para penetrar nas coisas de Deus, mas importa que tenha consciência da necessidade de praticar a oração mental. O. ESTEVÃO BETENCOURT, monge beneditino Colaboração Eq . 50 Setor E GUARÁ-DF

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PONTOS CONCRETOS

A ORAÇÃO CONJUGAL O exercício da oração consiste em estabelecer uma relação direta com Deus. É a maneira mais eficaz de comunicarmo-nos com Ele. Jesus, na montanha, ensinou uma oração que tinha como destinatário Deus. "Pai Nosso, que estais nos céus ... " (MT 6,9): este é o modelo perfeito de oração. Oração implica, pois, uma apelação à Deus. E um diálogo estabelecido e nunca interrompido. E se isto ocorre, tem de ser por algo que está fazendo fraquejar nossa fé. A vida com Deus é vida de fé. E a fé não é sentir senão saber. Não é emoção, senão convicção. Não é evidência, senão certeza. Há circunstâncias em que nossa esperança se confunde com a ilusão. Porém a ilusão pode desvanecer-se, no entanto a esperança permanece. Neste sentido, a oração é o suporte fundamental que permite a retroalimentação das virtudes e o contato interno entre elas, pois sempre nossa oração está iluminada pela misericórdia de Deus. Por que é diálogo de Amor Divino. Porém, este é um diálogo-paradoxo, porque se realiza em silêncio, quando temos esvaziada nossa interioridade e já a temos cheia de Deus. Quando, em um ato de sublime humildade, temo-nos deixado amar por Ele. Este é um diálogo de Amor Divino: um diálogo em silêncio e sossegado, que demonstra a presença cada vez mais profunda de Deus em nós. Quando Deus está em nós: "Ele é a Presença Pura e Amante e Envolvente e Competente e On ipotente, como diz o Pe. Ignácio LarraNaga. No meio de nossas atividades diárias, por momentos, torna-se sumamente difícil estabelecer esse diálogo. Porém, o que se torna mais árduo, ainda, é, uma vez estabelecido, perseverar nele! A oração conjugal aponta, precisamente, para essa perseverança. Ambos devem estar alertas quando o outro já não responde. Então esse é o momento de reformular-se a vida na fé. Esta atitude permite recomeçar a via comunicativa do diálogo divino. As modalidades podem ser diversas: mediante as orações convencionais, vivenciando cada palavra para assumi-la como própria, ou dizendo ao Senhor, com nossa voz, as tribulações que nos agridem e invadem, os acontecimentos que fortificam nosso sossego interior. Tudo isto realizado numa atmosfera de sincera e humilde alegria, porque sabemos, com toda certeza, que o Senhor está conosco, escutando nossa prece. E nele está nossa Paz. Daniel e Techi Teobaldi/ Córdoba 3 Traduzido da Carta Argentina

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REFLEXÃO

ORAÇÃO DA NOITE Esta noite eu vou dormir em paz. NÃO fiz nada de estrondoso, nada de excepcional, nada de avançado. NÃO me prendi ao passado, mas também não me iludi com o presente. NÃO me pus a criticar, mas também não elogiei sem motivo. NÃO me pus a mentir, mas também não joguei verdades na cara de quem algo buscava. NÃO me enquadrei em sistemas, contudo, não me revoltei nem tentei destruí-los. NÃO me acomodei com a situação, mas também não fiz pouco caso dela. NÃO me deixei pisar, mas também não pisei em ninguém . NÃO fui perfeito, mas sei que não fui o pior dos homens. NÃO acertei em tudo , mas sei que não errei na maioria das coisas . NÃO fiz o bem que deveria ter feito, mas também não fiz todo o mal que fui acusado de fazer. NÃO mudei meu povo, minha igreja, minha geração, minha época, meu vizinho, não contribu í de maneira visível para a história. Mas uma coisa eu fiz, no dia que term ina: eu tentei ser gente. TENTEI com todas as forças do meu ser adquirir um pouco mais de humanidade, para poder me tornar mais parecido com aquele, cujos ensinamentos eu sigo, desde que descobri que: ELE era meu CAMINHO, a minha VERDADE e a minha VIDA. E TENTEI isso porque acredito que Deus um dia se fez gente como eu , foi humano como "EU PODERIA SER", e amou o mundo de uma forma que eu também posso amar. HOJE eu não fiz nada de estrondoso, eu apenas tentei ser um milagre de Deus na terra. É POR ISSO que esta noite eu vou dormir em paz. EU VIVI ... Sheila e Jorge Equipe 68/C Rio 111

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REFLEXÃO Este texto é a continuação de "Eu te amo ... que maravilha •, cuja publicação Iniciamos no número de outubro/91 da carta mensal (pg. 8). Aconselhamos reler aquele texto, antes de começar esta reflexão.

EU AMO VOCÊ; ISSO É MARAVILHOSO "Quem não ama, não conhece Deus,pois Deus

é amor. • I Ep. de S. João /V-8

Eu amo você: isso é maravilhoso Para esta reunião , contemplemos a maravilha que é o nosso amor, a nossa chance de ter "um sol que ilumina nossa existência ... " Que saibamos olhar, avaliar e comparar o nosso amor em relação a tantos que são infelizes , sozinhos, alienados (perdidos no amor), nômades de amor, doentes de todas as formas .. . Que o nosso amor nos una sempre .. . Eu amo você: isso é um dom de Deus Essa maravilha é um dom de Deus ... Como poderíamos explicar, de outra forma, o fato de nós termos encontrado no meio da multidão, quando brotou em nós algo de misterioso que nos impulsionou um para o outro? sim , esse amor tão belo, é verdadeiramente um dom de Deus .. . Eu amo você e por isso devo ser grato. Saibamos agradecer a Deus o amor que nos une. Saibamos oferece-lo ao Senhor, ajudemo-nos mutuamente a sustenta-lo, da mesma forma que se alimenta uma fogueira. Eu amo você: isso é um mistério Por que você? por que eu? por que nós dois? Saibamos entrar nesse mistério e aceitar tanto a parte desconhecida do amor, a beleza que é amar como o risco relativo que ele representa. Onde nos levará o amor? A que alegrias , a que sacrifícios , a que descobertas? Aceitar entrar no mistério do nosso amor é ser plenamente humanos e plenamente cristãos . Porque o amo. acredito em você; eu o amo porque acredito em você Aceito, de coração aberto, o risco do amor, porque acredito em você. Aceitei construir minha vida na chance de que você me faria feliz. essa noção de confiança no outro e na vida é indissociável da fé em Deus; 12 - CM Novembro/91


porque a maravilha que é o amor, o mistério que é o amor nos levam naturalmente a Deus, que é Maravilha, que é Mistério. Texto de referência: Humanae Vitae, Paulo VI, 1976. "... (o amor conjugal) é antes de mais nada um amor plenamente humano, quer dizer, ao mesmo tempo espiritual e sensível. Não. é portanto um simples ímpeto do instinto ou do sentimento; mas é também, e principalmente, ato da vontade livre, destinado a manter-se e a crescer, mediante as alegrias e as dores da vida cotidiana, de tal modo que os esposos se tornem um só coração e uma só alma e alcancem a sua perfeição humana. E depois, um amor total, quer dizer, uma forma muito especial de amizade pessoal, em que os esposos generosamente compartilham todas as coisas, sem reservas indevidas e sem cálculos egoístas. Quem ama verdadeiramente o próprio consorte, não o ama somente por aquilo que dele recebe, mas por ele mesmo, por poder enriquece-lo com o dom de si próprio. É ainda amor fiel e exclusivo, até a morte. Assim o concebem efetivamente o esposo e a esposa no dia em que assumem, livremente e com plena consciência, o compromisso do vínculo matrimonial. Fidelidade que por vezes pode ser difícil, mas que é sempre nobre e meritória, ninguém o pode negar. O exemplo de tantos esposos, através dos séculos, demonstra não só que ela é consentânea com a natureza do matrimônio, mas que é, além disso, fonte de felicidade profunda e duradoura. É, finalmente, amor fecundo que não se esgota na comunhão entre os cônjuges, mas que está destinado a continuar-se suscitando novas vidas. "O matrimônio e o amor conjugal estão por si mesmos ordenados para a procriação e educação dos filhos. Sem dúvida, os filhos são o dom mais excelente do matrimônio e contribuem grandemente para o bem dos pais. (Humanae Vitae- Paulo VI, 1968) Pistas para reflexão: - O que eu amo em você; o que me levou a aceita-lo desde o primeiro encontro ... - O que gosto menos e que às vezes me faz sofrer ou me deixa constrangido? - Como a descoberta do amor transformou nossas vidas? - O que você espera de mim? - Nosso amor é um trampolim ou um refúgio? -Sabemos recriar no nosso lar a mesma atmosfera do início? - Como foi a evolução do nosso amor? - Ele nasceu através da provação? - Nessa evolução, onde fica o espiritual? - Nesse campo, pedimos ajuda à equipe e ao Movimento?

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- Sem nenhum exibicionismo, temos o cuidado de testemunhar ao mundo a maravilha do nosso amor? (Aos nossos filhos , nossos parentes, nossos amigos e a todas as pessoas que nos cercam) . Texto para rezar "E então o Senhor mandou ao homem um profundo sono; e enquanto ele dormia, tocou-lhe uma costela e fechou com carne o lugar. E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher e levou-a para junto do homem. "Eis agora aqui, disse o homem, o osso dos meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher, porque foi tomada do homem". Por isso o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne." Gen 2, 21-24

Algumas flores: " ... 0 verdadeiro amor não é nada mais que a graça de acrescentar infinitamente todas as excelentes razões de amar e ser amado ... " J. de Bourbon Busset Ele: "Como és formosa, amiga minha! Como és bela! Teus olhos são como pombas. Ela: ''Como és belo meu amor! Como és encantador! Nosso leito é um leito verdejante. Cântico dos Cânticos " ... Todavia, se no vosso temor procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor, Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez e abandonásseis a ceia do amor, Para penetrar no mundo sem estações, onde rireis, mas não todos os vossos risos, e chorareis, mas não todas as vossas lágrimas . O amor nada dá senão de si próprio e nada recebe senão de si próprio. O amor não possui e não se deixa possuir. Pois o amor basta a si mesmo. Quando um de vós ama, que não diga: "Deus está no meu coração", mas diga antes; "Eu estou no coração de Deus." E não imagineis que possais dirigir o curso do amor, pois o amor, se vos achar dignos, determinará ele próprio o vosso curso.

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O amor não tem outro desejo senão, o de atingir a sua plenitude. Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos, sejam estes os desejos: De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho que canta sua melodia para a noite; De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada; De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor, E de sangrardes de boa vontade e com alegria, De acordardes na aurora com o coração alado e agradecerdes por um novo dia de amor; De descansardes ao meio-dia e meditardes sobre o êxtase do amor; De voltardes para casa à noite com gratidão; E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado, e nos lábios uma canção de bem-aventurança." Gibran Khalil Gibran

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PASTORAL FAMILIAR

CASAMENTO: EVANGELIZAÇÃO Desde os tempos em que as ENS eram estimuladas a ser, apenas , "movimento de espiritualidade", evitando-se até tratar de pastoral, que víamos neste movimento e por intermédio daqueles que participavam um forte apoio e, porque não dizer, um forte "pilar" em favor da família , que a cada dia é mais agredida, e mais difícil se torna manter seus reais valores . Portanto, foi com alegria que lemos o artigo "Pastoral Familiar" na carta de agosto e, estimulados pelo convite, nos animamos a ponderar e sugerir algo em favor desta linha de trabalho. É evidente que a realidade familiar, que vivemos no presente, é bem diferente da que vivíamos há 30 ou 40 anos atrás. A velocidade e agressividade no processo de comunicação, aliado aos novos "valores" que se implantaram em nosso País, em conseqüência da irresponsabilidade e corrupção, que, a começar pelos dirigentes, acabam por contaminar toda uma sociedade, por certo influíram e continuam influindo em muito na formação e nos valores dos jovens , grandes vítimas do contexto em que vivemos. Ass im é que, ao nos defrontarmos com os jovens de hoje, eles nos parecem bem mais informados , atualizados e, conseqüentemente, mais preparados para uma maior participação na sociedade. Entretanto, quando nos defrontamos com estes mesmos jovens, no que diz respeito a casamento, matrimônio, vida a dois , quer nos parecer, tomando por base a maioria, que pouca evolução aconteceu nesta área, ao contrário, que se perderam valores essenciais , para que este projeto possa atendê-los e realizá-los no seu viver. Nossa hierarquia continua presa a um limite de idade e, sem muita exigência, testemunha uniões falidas por antecipação. Há muitos anos que se falou em preparação remota para o casamento, porém ainda continuamos como trabalho principal os mesmos "Cursos de Noivos". Casais em crise hoje são o comum , assim como é comum a separação ou o divórcio. Novos movimentos surgem para tentar salvar o casamento, já que é crescente o número de casais-problemas . Por que em tudo que diz respeito ao homem , preferimos o remédio, ao invés da vacina? Quando os jovens partem para o casamento, estão cheios de esperança, como aconteceu conosco. Eles querem que o casamento deles seja diferente, que exista paz, compreensão, respeito, que seja uma decisão

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de amor verdadeiro. Só que não estão preparados para trabalhar em si mesmos e na relação que o casamento pressupõe. Por quê? Simplesmente porque estão sendo criados em um mundo altamente competitivo e egoísta, ingredientes que acabam com qualquer casamento. Simplesmente porque a maioria está muito preocupada com a sobrevivência e pela conquista de um espaço e, portanto, não tem tempo para buscar os verdadeiros valores na fonte, que são os ensinamentos de Deus. A religião Católica está presente no Brasil, tem um número expressivo de adeptos, boa participação nas celebrações , mas ainda é pequena a participação consciente, que leve a uma mudança no agir. Aqui ou acolá deparamos com alguns sinais positivos de alguns jovens , que são diferentes , mas a realidade é que se trata de uma minoria. Os casamentos CRISTÃOS precisam ser diferentes , para que sejam realmente SINAIS . Todo casamento na Igreja Católica é rotulado como um casamento cristão que, portanto, passa a ser SI NA L. Estará isto certo? Hoje em nossa Igreja não se pode dizer que seus casais são um sinal do amor de Cristo pela Sua Igreja, mas, que se encontram casais .. . E continuamos o processo de sacramentalização, ao invés de uma evangelização. Os casamentos existem na sua maioria, mais pela pompa, do que por um sacramento, e isto é de conhecimento público. Acreditamos que as ENS , pela sua característica, pelo aprofundamento que se propõe, pelo estilo que adquirem , têm todas as condições, e porque não dizer, uma dívida para com a sociedade, para reconquistar aos jovens os valores inerentes à decisão consciente ao casamento, ao menos naqueles que vão ser os SINAIS. Como fazê-lo? É um desafio que precisa ser propagado e uma atitude a ser tomada em conjunto: CNBB, Pastoral da Família, Dioceses e todos que desejam assumir um processo de EVANGELIZAÇÃO, promovendo assim uma qualificação aos seguidores de Cristo e não uma multidão de indiferentes . Abraços , Joaquim e Déa Equipe 2 - Manaus

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PASTORAL FAMILIAR

A DOR DA SEPARAÇÃO De fora, é fácil moralizar e apontar o dedo. Dentro de um casamento em crise, tudo fica mais complicado. Mas há algo que os casais que passam por uma fase difícil têm de avaliar de cabeça fria. Precisam arranjar tempo para imaginar a dor que causam com seus conflitos. Se seus ombros e sua cabeça estão aptos a assumir a crise de uma separação ou até mesmo de uma traição, talvez os ombros e as cabeças dos filhos não estejam, como provavelmente nunca estarão. Primeiro é necessário avaliar a dor do casal. Realmente é muito triste para uma pessoa viver ao lado de quem ela não ama mais, talvez nunca tenha amado. A exigência da Igreja parece cruel e absurda. Muitos casais se revoltam porque gostariam de separar-se e ainda assim freqüentar sacramentos, contar com outra bênção da Igreja, na qual, no fim das contas, ainda querem viver. Consumada a separação ou a traição, a dor é grande. No marido, na mulher, nos filhos e nos parentes. Fica difícil reunir os pedaços de quem ontem mesmo parecia feliz e restituir essas duas pessoas a si mesmas e aos seus filhos. Mas aos olhos dos filhos, a dor é ainda maior que a dos pais. Sentem que foram traídos por aquele que se casou de novo com outra pessoa. Nem sempre falam, mas agem como quem muda os padrões de comportamento. Na cabeça do filho, cujo pai ou mãe resolveu sua vida com outra pessoa, fica um sentimento de que não vale a pena se pautar pela lei dos pais ou da Igreja deles, porque pregaram uma coisa e fizeram outra. Reconstruir como esta cabecinha e este coração machucados? Quem lhe devolve os pais inteiros e juntos? Alguns pais conseguem até fazer os filhos aceitarem esta nova situação. A maioria consegue silêncio. Não se fala mais no assunto. Mas a dor fica. A Igreja é santa e pecadora. Mas tem uma sabedoria de vinte séculos. E quando proíbe a traição, não pensa apenas no casal , mas também nos filhos. Dói mais perder o pai ou a mãe do que o marido ou a esposa para alguém. De qualquer maneira, quando se é adulto, aguentam-se mais as desilusões. Mas quando se é jovem ou criança, a dor é persistente, mesmo quando a ferida vira cicatriz. Por causa dos filhos, muitas pessoas mantêm um casamento que há tempos deixou de ser feliz. Digam o que quiserem, mas não deixa de ser heróico. A Igreja pede dos pais este heroísmo. E é por isto que os cursos de noivos insistem no tema. Se não é para assumir os filhos até as últimas conseqüências, entre elas a solidão, que se repense o sacramento. Casar é lindo, mas não é, nem nunca foi, fácil. E nunca vai ser. A paternidade é uma condição que implica uma disposição infinita para assumir o filho. No riso e também na dor... Pe. Zezinho, SCJ

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O NUMERO CRESCENTE DOS DIVÓRCIOS Somos surpreendidos com certa freqüência, com as notícias que mais um casal amigo ou simplesmente conhecido se separou, interrogando-nos, sobre as causas de tal atitude. Ficamos, por vezes, sem compreender como isso pode acontecer, pois nada faria prever tal desfecho. Não nos damos conta dos imensos dramas conjugais e familiares que se vivem à nossa volta, quase sempre movidos pelo egoísmo de um deles ou de ambos, da ausência de diálogo, da falta de respeito pelo outro, que é distante da participação da gestão da vida patrimonial, que é esquecido na partilha da vida de todos os dias , cujas atitudes e comportamentos correm o risco de serem mal interpretados. O mal estar instala-se, o sentimento de incompreensão cresce e acabam por concluir que está esgotada a hipótese de uma vida em comum feliz. Nem a existência de filhos consegue constituir o cimento desta união, a qual se encontra ameaçada no seu âmago , que é o amor conjugal , que entrou em crise, por falta de alimento, que é o diálogo, a permanente descoberta e revelação de um ao outro. Não é difícil encontrar como causa, entre outras, uma deficiente ou mesmo inexistente preparação para o matrimônio, para a qual chama a atenção a Familiaris Consortio e que muitos sacerdotes se esforçam para que os noivos a levem a sério. Muito se tem feito, neste domínio, graças a Deus, embora continue a haver ainda muito caminho para percorrer. Mas não basta ajudar os noivos na sua preparação para o matrimônio: é preciso ajudá-los a vencer as primeiras dificuldades de uma nova vida, em comunhão, para a qual são necessárias disposições de espírito que tem de ser permanentemente ajustadas, a fim de evitar os mal entendidos , os aborrecimentos , os sentimentos de mal estar. Sobretudo é necessário ajudar os jovens casais na fase da desidealização do outro: com efeito, na generalidade dos casos, o outro raramente corresponde inteiramente ao ideal que acerca dele se constitui. É preciso desidealizá-lo, aceitá-lo tal como ele é, sem dramatismo, embora sem nunca perder a esperança de que venha a melhorar naquilo que for mais negativo e gerador de insatisfação, procurando mais valorizar e desenvolver aquilo que une do que aquilo que divide, e fazendo um esforço constante por procurar entrar e perceber o mundo do outro, os seus valores, as suas crenças, as suas marcas de educação, os seus receios , as suas esperanças, as suas motivações .

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Quantos divórcios se devem a um acumular de coisas fúteis e sem grande importância, facilmente resolúveis e ajustáveis, se detectadas e dialogadas a tempo. Quantos divorciados se arrependem de tal decisão, por vezes tomada precipitadamente e sob o impulso da emotividade, e só não voltam atrás por orgulho ou por se sentirem feridos de morte no seu coração pela injustiça que tal separação para eles representou. Não vamos desfiar o rosário das conseqüência nefastas, não só para o casal que se divorcia, mas sobretudo para os filhos, para quem a estabilidade e unidade dos pais é fundamental para assegurar um crescimento equilibrado e uma atitude confiante perante a vida e cooperante para com a sociedade. Texto extraído da Carta Mensal das Equipas de N. Senhora nº 3 - Portugal março/abril 1990.

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A PASTORAL DAS SITUAÇÕES IRREGULARES "Quem dentre vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro à mesa para calcular a despesa e para ver se tem com que acabá-la para evitar que, depois de lançar os alicerces, não podendo completá-la, comecem todos os que a vêem zombar dele, dizendo: "Este homem começou a construir e não pode chegar ao fim?" (Lc. 14, 28-30) Tomamos a liberdade de citar aqui este trecho de Lucas, porque acreditamos que não se pode tratar isoladamente do tema das situações assim chamadas "irregulares" . No trecho citado, o Cristo nos dá a adequada visão da prudência necessária para todo trabalho de evangelização e conseqüentemente de pastoral. Sem querer fugir da questão do tratamento pastoral, que as situações irregulares exigem, cremos que de nada adianta tratar delas se não se dedicar uma atenção primordial às nossas ações de Igreja, que permitem - e por vezes provocam -a sua existência. Tratar do urgente sem tratar do essencial é prorrogar indefinidamente as próprias situações que se quer evitar. A visão de um mundo pluralista em vias de descristianização nos leva, na esperança que nos infunde o amor de Deus , a refletir constantemente sobre nosso papel de cristãos casados. O que os homens de hoje esperam de nós? Qual é a nossa missão atual? No caso específico do mundo em que vivemos, em nosso Brasil de hoje, onde a grave deteriorização dos valores morais em geral e dos valores evangélicos em particular apresenta sinais de grande evidência, esses questionamentos adquirem uma importância ainda mais fundamental. No exercício da Pastoral Familiar, parece-nos que o problema das situações irregulares deve ser examinado, em primeiro lugar, sob o enfoque do que seja uma verdadeira Pastoral do Matrimônio. Em primeiro lugar, justificamos a diferença que estabelecemos entre "Pastoral Fam iliar" e "Pastoral do Matrimônio" . Entendemos que, da mesma forma que na pastoral do Batismo ou na Pastoral do Crisma - cujo enfoque parte do sacramento - o sacramento do matrimônio merece uma atenção, por parte de toda a Igreja, que assuma seriamente sua preparação e o acompanhamento de sua vivência. Mesmo porque não cremos que haja possibilidade de se viver autenticamente a evangelização da família, se não houver primeiramente uma preocupação com o núcleo original dessa família, que é o casal. Quando dizemos que a atenção para com a pastoral do Matrimônio deve ser de toda a Igreja, entendemos que devem estar igualmente envolvidos CM Novembro/91 - 21


neste trabalho leigos e sacerdotes, cada qual na sua função específica, porque a realidade não nos apresenta tão claramente este quadro. E trazendo a contribuição de nossos trinta anos de preocupação com o problema, podemos afirmar sem muito receio de errar que senão todas, pelo menos uma grande parte das chamadas "situações irregulares" é conseqüência das falhas ou da inexistência de uma verdadeira Pastoral do Matrimônio. De fato, em nossos inúmeros contatos destes anos com casais em dificuldade para viverem o seu sacramento do matrimônio, pudemos constatar que na raiz do problema quase sempre se encontrava uma falha no consentimento original de seu casamento. E está claro, segundo os estudiosos da matéria e de conformidade com o bom senso, que "é o consentimento- e só o consentimento- que produz o matrimônio"(1). E o Código de Direito Canônico define o consentimento como sendo "o ato de vontade pelo qual o homem e a mulher, por aliança irrevogável, se entregam e se recebem mutuamente para se constituir matrimônio". Poderá existir um ato de vontade, sem que antes haja uma capacidade para conhecer e para deliberar em face do matrimônio, que se deseja contrair (2)? E este conhecimento prévio não se refere apenas à pessoa do cônjuge, mas principalmente à instituição matrimonial como um todo e ao objeto que se quer atingir através dele. Em outras palavras, não haverá consentimento real e verdadeiro se não houver um adequado conhecimento do ato, ao qual se vai consentir. É verdade que , pela nossa fé, somos levados a crer que a graça de Deus poderá agir a qualquer momento, e que "o Espírito sopra quando quer e onde quer". O entendimento do sacramento do matrimônio, pela força do próprio batismo dos cônjuges, poderá vir depois do casamento. Este fato faz parte das "razões que levam a Igreja a admitir celebração do matrimônio mesmo aqueles que estão imperfeitamente dispostos" (F.C. nº 68}. Entretanto cabe-nos, como Igreja, fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para esclarecer aqueles que vão se casar, através de uma adequada preparação a esta celebração. E sem querer entrar mais profundamente na questão da preparação ao matrimônio - que merece toda uma discussão à parte - parece-nos que, diante da gravidade da situação que vivemos, é urgente e essencial que o assunto seja revisto e que não só os "cursos de preparação" sejam reestruturados, mas que uma série de outros pontos relativos ao assunto sejam repensados. Estando engajados, há muitos anos, nos cursos de preparação para o Batismo e para o Matrimônio, gostaríamos de apenas levantar aqui alguns desses pontos: (1) Rafael Llano Cifuentes: Novo direito matrimonial católico. Ed. Marques Saraiva, Rio de Janeiro, pg . 297 (2) ibidem, pg. 298

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1. A preparação dos sacerdotes nos seminários. a respeito do sacramento e sua vivência. Cremos que a mais estreita convivência dos seminaristas com casais poderia dar-lhes uma visão mais prática das necessidades da preparação para o matrimônio; 2. A integração dos conceitos referentes ao matrimônio cristão na preparação para outros sacramentos (Batismo, Eucaristia, Reconciliação, Crisma); 3. O grau de importância. freqüentemente secundário. atribuído em muitas de nossas dioceses ao sacramento da matrimônio e à Pastoral Familiar como um todo. Esquece-se, demasiadas vezes, aquilo que os psicólogos estão cansados de nos dizer: que é nos primeiros anos de vida de uma criança que se lhe transmitem os valores essenciais sobre os quais sua vida de adulto será construída. Se nós, como Igreja, sacerdotes e leigos, nâo nos preocupamos em ajudar as famílias a transmitirem aos filhos alguns conceitos como justiça, verdade, ou como a própria indissolubilidade do matrimônio, será muito difícil que, uma vez adultos, eles venham a adquirir tais valores. E da mesma forma que caminhamos cada vez mais para as injustiças sociais e para o egoísmo, estamos abrindo o caminho para as situações irregulares. Ainda neste mesmo campo, creio na importância do testemunho de casais que, apesar das dificuldades que a realidade que os cerca lhes cria, procuram viver plenamente o seu amor conjugal. A própria afirmação de que é possível viver o amor de Deus no casamento é de enorme significado no mundo em que vivemos. A questão que se coloca é de que forma e com que comprometimento as nossas dioceses e as nossas paróquias ajudam os fiéis a serem , através do sacramento do matrimônio, cada vez mais, sinais do amor de Cristo. 4. O contato individual e pessoal do sacerdote com os nubentes . Não para julgá-los ou avaliá-los, mas para ajudá-los a praticar conscientemente o ato de vontade de que falamos antes. Aliás, a este respeito diz João Paulo li na Exortação Apostólica Familiaris Consortio: "Quando ... não obstante todas as tentativas feitas , os nubentes mostram recusar de modo explícito e formal o que a Igreja quer fazer ao celebrar o matrimônio dos batizados, o pastor não os pode admitir à celebração" . Quanto se conhece, efetivamente, das disposições dos nubentes? Quantos de nossos vigários se preocupam realmente com isto? Quantos casos cada um de nós conhece em que fomos omissos e, indiretamente, provocamos mais tarde uma situação irregu/af? 5. A dignidade e a simplicidade do rito de celebração do sacramento. Quantas vezes testemunhamos cerimônias que , constituindo um fim em si mesmas , contradizem profundamente estes princípios ... Quantas vezes a igreja (prédio) e a Igreja (comunidade) estão simplesmente sendo usadas como palco para um ato que nada tem a ver com o sacramento ... CM Novembro/91 - 23


Não seria muito mais condizente com a situação econômica, que se vive em nosso país, se as celebrações fossem mais simples, enfatizando, na festa, a participação da comunidade? 6. O acompanhamento dos jovens casais. Na medida em que a comunidade se preocupar com os recém casados, "estimulando-os a se inserirem vitalmente na comunidade eclesial" (FC n11 67) , estará colaborando decisivamente para que os casamentos não venham a se transformar em situações irregulares. Dissemos, no início, que, seguindo os preceitos de Jesus Cristo sobre a prudência, não queríamos tratar apenas das próprias situações irregulares, mas de ações que cremos devam ser tomadas para evitar que elas surjam. Falamos dos aspectos de preparação - remota e próxima - do matrimônio. Isto, porque estamos convencidos de que, ao mesmo tempo em que nos preocupamos com o urgente, devemos nos debruçar seriamente também sobre o fundamental, o essencial. Sem dúvida, a nossa "opção preferencial pelos pobres" deve nos levar a contemplar, como pobres , todos aqueles que são vítimas da falta de amor. Os pobres do amor. São os "casos urgentes" que nos cercam. De todos, certamente, o que nos inspira mais preocupação é o caso dos que, por sua situação irregular, não podem receber os sacramentos. A prudência indica que esses casos devem ser abordados e estudados individualmente, com muito cuidado na atitude que vai se tomar. Existem , pelo menos, duas questões angustiantes no ar: como agir no caso de uniões mais antigas , com filhos , e com os esposos precisando de ajuda mútua? como fazer com aqueles que , embora mereçam a nossa compreensão, nossa caridade , nosso amor, fraterno , devem viver à margem da comunidade, não podendo receber os sacramentos? No momento, cremos que não há resposta definitiva a estas perguntas. Quem sabe, somos ainda um povo com cerviz dura demais para discernirmos a vontade de Deus nestes casos . Mas acreditamos que há algumas atitudes que podemos tomar. para seguirmos os preceitos do Senhor, rico em misericórdia: - Através dos nossos movimentos familiares e através das paróquias , estendermos as mãos a esses "pobres do amor conjugal", primeiramente talvez àqueles que apresentam melhores condições de preparo religioso. Criarmos condições para que, mesmo sem participar dos sacramentos, possam participar da vida da comunidade eclesial e serem evangelizados . - Mostrar-lhes com toda a humildade que, na nossa pobre condição humana, muito pouco entendemos da misericórdia do Senhor Deus; que a prática dos sacramentos pode não ser o único caminho para a salvação; que através de seu sofrimento e de sua "pobreza", eles também podem tornar-se evangelizadores de seus irmãos de comunidade.

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- Sem formar grupos mistos de casais que vivem o sacramento do matrimônio com casais em "situação irregular" - que poderiam derrotar o próprio objetivo que se propõe - criar grupos específicos em que estes últimos, contando com a presença de um sacerdote ou de um casal animador, possam , em ambiente de oração, partilha, co-participação e auxílio mútuo, aprofundar a sua espiritualidade . Procurar, através destes grupos, esclarecer a posição da Igreja em relação à sua situação. O importante, ao que nos parece, é não fecharmos as portas da comunidade e da Igreja a estes casais, para não nos tornarmos administradores infiéis da vontade do Senhor, que se encarnou para trazer a salvação aos pobres , aos pequenos , aos pecadores, e que foi crucificado e ressuscitou pelos que sofrem . (Extraído de um documento apresentado por Peter e Hélene Nadas no Encontro Nacional de Pastoral Familiar, em Recife, PE, em 26/07/91)

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MARIA FILHA ELEITA DE ISRAEL No dia 21 de novembro celebramos a memória litúrgica da "Apresentação de Nossa Senhora". Esta festa teve sua origem por ocasião da dedicação da basílica de Santa Maria Nova, construída em Jerusalém nas proximidades do Templo. No século VIII todo o Império Bizantino já celebrava essa festa. No ocidente começou a ser celebrada em Avinhão, no tempo do Papa Gregório IX e passou definitivamente ao Calendário Romano em 1585, por obra de Sixto V. O objeto desta festa é a apresentação de Maria no templo, baseada num texto apócrifo do prato-evangelho de Tiago, que afirmava terem Joaquim e Ana levado Maria ao santuário, estando a menina com três anos e que lá teria crescido como virgem entregue ao serviço de Deus. Diz ainda o texto: "O sacerdote a fez sentar no terceiro degrau do altar, e o Senhor Deus a revestiu de graça, e ela dançou com seus pezinhos e toda a casa de Israel passou a gostar dela" (7,3). Embora careça de fundamento histórico, a Igreja em sua tradição professa que o período de preparação para o seu papel de Mãe do Senhor foi uma vida que transcorreu "no templo" . Crescendo no templo, amadureceu nela a graça que Deus lhe havia dado em sua concepção. Os comentaristas modernos não se apegam tanto ao templo histórico e externo de Jerusalém, quando comentam esta festa. Eles preferem ver em Maria a "casa de ouro" , figura que brota da comparação com o Santo dos Santos do Templo de Salomão revestido de ouro, onde se guardava a Arca da Aliança. A verdade teológica que emana desta festa é a certeza de que Maria, cheia de graça na sua imaculada conceição e na anunciação , viveu e sempre correspondeu a tal graça; foi sempre fiel à sua elevação, colocou-se totalmente a serviço de Deus . Como esta festa evoca a imagem do templo, podemos dizer que o templo é, antes de tudo, o lugar onde o povo eleito está diante de Deus . Maria cresceu na tradição religiosa deste povo . Crescendo no templo, ela se torna pelo Espírito, santo "templo do Senhor" . Mauro Zequin Custódio, cmf

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ADORAR OU VENERAR Toda vez que se fala em Nossa Senhora ou nos santos, surge a questão: Que tipo de culto prestar a eles? Alguns irmãos separados costumam levantar polêmica que quase nunca leva a um diálogo produtivo: Vocês católicos adoram as imagens dos santos e a Virgem Maria, e isso é proibido pelas Sagradas Escrituras! O cristão deve estar bem esclarecido a respeito do culto aos santos . Ninguém adora santos ou as estátuas deles. Só a Deus- que é Santo por excelência e que é Pai, Filho e Espírito Santo- nós prestamos o culto de adoração. O que vem das origens do cristianismo é a celebração da memória daqueles que se destacaram no seguimento de Cristo e do Evangelho. A eles prestamos o culto de veneração. Veneramos a vida de fé que eles levaram . Admiramos a coragem e o exemplo que nos deixaram. A imagem não é adorada. É como o retrato de pessoa querida e a lembrança dela ... Por outro lado, a memória dos santos nos ajuda a viver nosso cristianismo. E como, ao longo dos séculos, eles foram vistos como intercessores junto a Deus , preces e celebrações tornam-se freqüentes em torno da figura deles. Apenas à Nossa Senhora prestamos um culto especial, acima de todos os santos. A este culto a Igreja dá o nome de Hiperdulia. Aos santos e aos anjos , prestamos o culto de Ou/ia. Mas adoramos só a Deus, a cujo culto chamamos de Latria, a mais alta forma de adoração a Deus. Os católicos amam a Maria porque ela é a Mãe de Jesus. Podemos dizer bem claramente que ninguém , mas ninguém mesmo, poderá amar a Cristo se não ama também a sua Mãe. Por isso, todo cristão, que tenha o mínimo de instrução deve agradecer a Maria. Deve saber também que idolatria é substituir Deus por outra coisa. Não há dúvida, Cristo ocupa o centro de nossa fé e de nossa história. Maria entra em nossa vida e em nossa história de salvação por sua íntima e inseparável união ao Filho de Deus , encarnado em seu seio. Os católicos imitam a Maria, porque Deus a cumulou de dons e privilégios , para que pudesse cumprir dignamente o papel que lhe fora confiado. "Bendita entre as mulheres" ( Lc.1,42 ). Pe. Mauro Ziati Pereira. C.E. das ENS de José Bonifácio/ SP

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O CULTO DOS SANTOS O dia 1º de novembro é consagrado a Todos os Santos. É bom relembrarmos nesta ocasião, como nasceu esta homenagem aos irmãos que nos precederam no Reino.

Os primeiros santos cristãos foram os mártires. A palavra mártir significa testemunho; os apóstolos foram testemunhas da Ressurreição de Cristo; os mártires do Apocalipse oram diante do Trono e recebem as Vestes Brancas; estas testemunhas de Cristo são membros do seu Corpo, especialmente honrados por sua semelhança com Cristo, que deu sua vida pelos homens( ... ) Mas bem no início do Cristianismo- ao que parece- as honras funerárias das primeiras vítimas das perseguições não eram diferentes daquelas usadas para um cristão qualquer. As cerimônias tinham semelhanças com as pagãs: flores e perfumes eram usados pela família e amigos do finado que se reuniam no cemitério para uma ceia funerária (os cristãos usavam mais o enterramento que a incineração) . A família do morto se reunia novamente nos seus aniversários. Duas diferenças do culto pagão apareceram logo: A primeira é que o aniversário que passava a se comemorar era o da morte (o "nascimento" do mártir no céu, reunido a Cristo); a outra, é que no caso dos mártires, não somente a família, mas toda a comunidade, tomava parte no enterro e também na comemoração dos aniversários. O primeiro testemunho claro do culto de um mártir é um relatório do martírio de S.Policarpo. O documento não só registra um autêntico diálogo, mas também nos narra como a fiel Smirna recolheu os ossos do santo "mais preciosos que jóias de alto preço" e os enterrou em lugar seguro e como se comprometeu a se reunir naquele local novamente para celebrar os aniversários de seu martírio , preservando assim a memória daquele que morreu para preparar o caminho dos que o seguiriam . Nas comunidades logo se começou a associar a morte de um mártir com um sacrifício litúrgico. Pouco a pouco tornou-se praxe a colocação de uma relíquia de mártir sob o altar, o que era costume bem apropriado, pois nas palavras de Santo Ambrósio (logo após a descoberta dos corpos de S. Gervásio e S. Protásio) eles tomam agora seu lugar onde Cristo se oferece como vítima. Cristo morre para todos sobre este altar, e estes redimidos, por seu sofrimento ficam sob o altar. Como outras doutrinas, as da natureza e valor do martírio e o culto dos santos mudaram muito nos séculos.

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Os trechos do Evangelho que prometem a recompensa celestial aos que confessam o nome Cristo, e testemunham com sua morte não só a esperança da imortalidade mas também sua completa adesão a Cristo, propiciaram logo a mudança no costume de se rezar pelos mártires para se rezar aos mártires com crescente devoção na eficácia de sua intercessão pelos outros membros do Corpo de Cristo. Na parábola (Lc 16, 19-31) do homem rico e do mendigo Lázaro, homem pobre e justo, após sua morte, estaria capacitado a aliviar os sofrimentos do rico pecador. Orígenes e S. Cipriano centraram sua doutrina na Comunhão dos Santos e definiram melhor o poder da sua intercessão após a morte. Houve muitas acusações aos cristãos de estarem "adorando" seus santos e se tornando politeístas. Santo Agostinho formulou claramente a diferença entre a devoção dos mártires e a adoração a Deus: "Construímos templos a nossos mártires não como templos a deuses, mas como tumbas a homens mortais cujos espíritos vivem com Deus . Não construímos altares para oferecer sacrifícios a mártires , mas só oferecemos sacrifício a Deus, o mesmo Deus: nosso e deles. Durante o sacrifício eles são nomeados em sua honra e ordem , pois eles são homens de Deus que venceram o mundo por Deus".( ... ) Durante o IV Século a devoção aos Santos expandiu-se rapidamente. Neste mesmo século nasceu o costume de se cultuar também os confessores, as virgens e os ascetas . Logo se colocou o problema de como reconhecer uma pessoa como Santo e quem era a autoridade para tomar esta decisão. No começo da Igreja isto era feito , como vimos, pela aclamação popular. A comunidade local venerava aqueles que tinham sofrido morte em perseguição ou que, tendo tido vida tão santa, ninguém tinha dúvidas de seu destino eterno. Listas oficiais de mártires documentam estes costumes em igrejas do IV Século. Estas listas eram trocadas nas várias comunidades e tornou-se comum que um mártir de uma comunidade passasse a ser celebrado em outra e, às vezes, por toda a cristandade. Usardo foi o mais importante compilador destas listas (ano 875) . Seu trabalho é ainda hoje a principal fonte da atual lista de Mártires da Igreja Católica Romana. Bastante cedo, milagres foram considerados como prova de santidade, no Ocidente e não no Oriente. A "incorrupção" do corpo era considerada uma prova. As relíquias dos santos eram vistas como sendo ao mesmo tempo uma fonte de milagres (curas) e proteção para a Igreja que as possuísse. Um crescimento muito grande no número de relíquias e na popularidade coincidiu com a conversão dos bárbaros na baixa Idade Média.

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Muitas vezes as relíquias mudavam de cidades ou eram divididas entre cidades: assim o culto se espalhava. Tornou-se uma honraria para uma Igreja possuir relíquias de outras cidades distantes: a rivalidade acontecia pelo número e pela qualidade das relíquias: para adquirir uma "boa relíquia" grandes somas foram dispendidas. Nesta época em que as verificações científicas inexistiam um mercado gerou fortunas para "relíquias" de autenticidade duvidosa. A queda de Constantinopla em 1204 foi a ocasião em que este "mercado" mais floresceu. Sem dúvida um grande número de "milagres" são explicáveis em termos de força do convenci mento, auto-sugestão e diagnósticos imperfeitos. Todavia, ninguém seria capaz de atribuir todos os milagres ocorridos a estas causas. Existem relatos fidedignos de curas em todas as classes sociais e em ambos os sexos, todavia, inevitável proeminência ficou gravada por curas de "magnatas" da época, que retribuiam com obras de arte e grandes construções comemorativas . Aos poucos a decisão de canonizar ou não, isto é, de declarar com autoridade que uma pessoa era digna do culto público foi se tornando privativa do Papa. Foram várias as razões para isto. A primeira é que esta escolha informal levava a abusos. Outra foi que com o crescimento do prestígio do papado, a partir do século XI , a decisão papal dava mais "status" ao novo santo. Muitos fatores fizeram com que o Papa ordenasse antes de sua decisão um estudo por comissões dos pedidos de canonização . Com isto se formaram os primeiros "processos" de canonização: a partir disto passou-se a coletar farta documentação que, analisada e arquivada sobre a história e os testemunhos dos santos, constitui fonte permanente de consulta. A respeito dos cultos antigos pouco ou nada poderia ser feito . Também sobre o culto exagerado e a proliferação das relíquias, nada a não ser exortações . Para os santos novos, todavia, os critérios evoluíram em leis que muitas mentes esclarecidas ajudaram a redigir e administrar. Os papas que "legislaram" a este respeito foram principalmente Alexandre 111 (1159-81) e Inocêncio 111 (1199-1216) . O crescimento da centralização da Igreja após a reforma gregoriana foi também um poderoso fator para o estabelecimento destas novas exigências legais. Comissões foram criadas pelos papas com a finalidade de investigar a vida e os milagres dos candidatos à canonização. Desde aquele tempo as investigações seguem as mesmas direções: a vida e os milagres, Os métodos das pesquisas , todavia, evoluíram para se enquadrar dentro dos melhores padrões da época. No processo existe um elemento designado como o "promotor justitiae" (conhecido popularmente como advogado do Diabo) outro como "postulador" que exerce função equivalente ao advogado de defesa. Todo o processo segue normas ditadas por Benedito XIV na obra "De servorum 30- CM Novembro/91


Dei beatificatione et beatorum canonizatione" (sobre a beatificação dos Servos de Deus e sobre a canonização dos Beatos) (1734-8) na elaboração da qual se serviu de sua longa experiência anterior como "Advogado do Diabo" em vários processos de canonização. Colaboração de João e Maria Célia de Laurentys

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PRIORIDADES

IR AO ENCONTRO DA REALIDADE • No Brasil, os casais das ENS escolheram seis prioridades às quais vão se dedicar de uma forma toda especial nos próximos anos, para continuar transformando a realidade conjugal e familia r" .

Uma dessas prioridades é "IR AO ENCONTRO DA REALIDADE", em busca daquilo que existe, ir na direção do real , em termos de realidade brasileira deste momento presente; ou ainda, a realidade específica da vivência do casamento e da fam ília no Brasil de hoje, adequando nossa ação e nossas atitudes para que produzam efeito neste conjunto: a vivência no casamento e a família. Esta realidade, por mais que se queira pensar que a conhecemos, pelo nosso íntimo e através da amostragem que se nos apresenta diariamente, pelo testemunho de casais amigos ou conhecidos e mesmo através do noticiário e das estatísticas, a verdade é que esta realidade só pode ser constatada mediante um reconhecimento introspectivo, visando conhecê-la e compreendê-la. Só então, haverá uma maior capacitação para que a ação dos casais das ENS e mesmo as suas atitudes possam se adequar e produzir efeitos. Os equipistas têm uma grande responsabilidade nessa ida ao encontro da realidade, não só pelo seu testemunho do amor de Cristo, como pela realidade que é a força do Espírito Santo, sempre ao seu lado e pela sua missão evangelizadora. Sobretudo, em decorrência do próprio objetivo das ENS, dentre os quais, o auxílio mútuo. O alvo a ser alcançado nessa prioridade é tudo aquilo que negue a vida conjugal e familiar, e sobretudo a própria vida no plano biológico. E assim, a realidade é fundamentalmente expressar a nossa fé em Deus, na sua existência e do seu Filho Jesus Cristo, divulgando a sua doutrina seja onde for, em qualquer tempo ou espaço, evangelizando a si mesmo, ao casal, à nossa família e ao próximo, com a ajuda de orações e, se necessário for, no próprio plano material. Lutar para afastar da nossa vida as desavenças, separações, rivalidades, ódios, rancores, ilegalidades, ilícitos, guerras, abortos, genocídios, homicídios, etc., invocando a ajuda de Maria Santíssima. Ajudar a construir, pregar a Paz, a concórdia, a fraternidade, o auxílio mútuo, deve ser a tônica e acima de tudo, o dever precípuo do cristão, aplicando sempre os ensinamentos de Cristo, tornando-os concretos e eficazes. O valor do Evangelho é fundamental no cumprimento dessa missão, preponderantemente no plano familiar, pois atingirá os jovens, que são as células da futura sociedade, preparando-os adequadamente para a aplicação do Plano de Deus, que sempre foi e é, o maior projeto do Universo. Neuza e Carlos Mário - Eq. 01 - Salvador/BA


PRIORIDADES

COMUNICAÇÃO "Por isso é que Paulo e Barnabé ficaram bastante tempo lá, falando corajosamente, firmados no Senhor que apoiava a palavra de sua graça realizando sinais e prodígios por meio deles" (At 14, 3-4). Estudando os Atos dos Apóstolos, notamos com que empenho os nossos irmãos se dedicavam a transmitir a Boa Nova para todas as comunidades pelas quais passavam . O trabalho de comunicação era realizado no "corpo a corpo ", no dia-a-dia. Eles não falavam, mas principalmente viviam as verdades que estavam sendo transmitidas; faziam de suas vidas verdadeiras "bandeiras" do ideal cristão, do modo de viver que Jesus havia lhes ensinado ("Ele", com a doação da própria vida). E o que acontecia por onde eles passavam? Centenas , milhares de pessoas acreditavam , abriam seus olhos à luz da Fé e aderiam totalmente ao modo novo de vida apresentado. Isto porque as pessoas viam atitudes novas naquelas pequenas comunidades, atitudes que vinham da fé em Jesus. E havia algo entre eles que ninguém podia entender, mas todos podiam intuir, a presença do Cristo Ressuscitado, que os impelia a proclamar as verdades e a construir o Reino de Deus naquela época, nas cidades por onde passavam ... Nós, cristãos deste final do século XX, muitas vezes nos esquecemos de que esse mesmo Cristo Ressuscitado também está conosco; Ele também nos acompanha, nos orienta, nos estimula para uma vida autenticamente cristã. Ele nos dá a força para enfrentarmos as dificuldades próprias do nosso tempo e também nos dá o dom de comunicação para que possamos, também hoje, falar do nosso ideal , através de nossas atitudes no dia-a-dia. A comunicação que foi tão importante para os primeiros cristãos , também o é em nossos dias; tanto que foi colocada como uma das prioridades das ENS para os próximos anos. É muito importante que todos nós nos analisemos frente ao problema de comunicação em nosso lar, em nossa equipe, dentro do movimento, dentro da Igreja, dentro do trabalho, da sociedade em geral... Como podemos agir para que o Amor circule completamente? Cada equipe deverá dar a maior importância para que a comunicação efetivamente se concretize de modo que todos nós sejamos realmente envolvidos na experiência cristã que nos propomos viver. Que todos nós sejamos portadores da Boa Nova, agentes de transformação, pela nossa comunicação cristã. Maria Teresa e Odir Setor- Bauru/SP CM Novembro/91 - 33


ATUALIDADE 11

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RERUM NOVARUM CEM ANOS DE ATUALIDADE Assinando a Rerum Novarum a 15 de maio de 1891 , aos 82 anos de idade, mas na metade do seu longo pontificado de 25 anos, teria pensado Leão XIII na influência extraordinariamente duradoura desta Encíclica? A verdade é que nenhum documento de qualquer Papa foi tão rememorado pelos sucessores quanto este, que completa [este ano] o centenário da sua promulgação.(... ) Razão desta perenidade não terá sido somente a singularidade de primeira "Encíclica Social". Será, antes, a forma como tratou da questão social. Ao reler 100 anos depois o documento de seu predecessor, João Paulo 11 , desde o primeiro capítulo da Centesimus Annus, põe em foco, com autoridade máxima, seus aspectos mais relevantes. Primeiro entre eles é o contexto histórico no qual, com notável lucidez, Leão XIII colocava sua Encíclica: contexto da formidável primeira "Revolução Industrial" em pleno desenvolvimento, com suas sensíveis repercussões e com transformações radicais não só no campo da ciência e da técnica, mas em todos os níveis. No plano político, uma concepção nova e diferente do poder, da autoridade e do próprio Estado como instituição. No domínio da economia, particularmente envolvido pelo crescimento industrial, a irrupção de estruturas até então desconhecidas, novas modalidades de propriedade (aparecimento do capital) e de trabalho (assalariado) . No ambiente social, o eclipse total da sociedade tradicional e os primeiros sinais de uma nova sociedade, ávida de liberdade e justiça mas temerosa de acabar gerando somente novas formas de escravidão e de injustiça; "divisão da sociedade em duas classes separadas por um abismo profundo" (R .N. 38); choque ideológico violento entre liberalismo e intervencionismo; entrada em cena da "questão operária" e das idéias e ideais "socialistas". A "ânsia de novidades" (rerum novarum cupido) , a que aludia o Papa no próprio título da Encíclica, não produzia portanto, somente frutos benéficos para a humanidade. Trazia também consigo uma bagagem de medo e de ansiedade: concentração de riqueza, indigência da maioria, corrupção, fermentos de conflitos e lutas, mais graves entre eles os conflitos entre capital e trabalho e entre classes representativas de um e do outro - classe empresarial e classe operária, esta levada a tomar consciência de si própria, do seu valor e seu poder, da força inerente à sua união e organização. Diante deste contexto, a simples promulgação da Encíclica hoje centenária constituía (saliente-se esta dimensão de evidente importância) uma proclamação da autoridade da Igreja para pronunciar-se em matéria social. A Encíclica servirá, aliás, de modelo para muitos outros pronunciamentos e de fonte para a "doutrina social da Igreja" que, sob essa forma de documento pontifício, se inaugurava com ela. Consciente da inovação, Leão XIII quis

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sublinhar explicitamente que a fazia no cumprimento de um dever pastoral. Não para propor soluções técnicas para problemas políticos ou econômicos, mas para indicar caminhos à consciência cristã, em questões profundamente éticas com repercussões espirituais. Daí provêm os pricípios que a Encíclica sente o dever de propor. Primeiro entre todos, verdadeira "chave de leitura do texto pontifício", adverte João Paulo 11 , a dignidade do trabalho e do trabalhador enquanto tal (C.A.6). Do trabalho porque é atividade de uma pessoa humana. Do trabalhador porque graças ao trabalho cresce como pessoa e membro de uma sociedade. Segundo princípio, eixo da R.N., o do direito à propriedade privada conjugado, porém, com o da destinação universal dos bens da terra, seja do solo rural (perspectiva central da Encíclica) como do solo urbano. Ao lado desse direito, posto em maior evidência pelas circustâncias históricas, Leão XIII proclama, promove e defende outros: o de criar associações profissionais ou sindicatos patronais ou operários (estes últimos até para reivindicar e tutelar direitos legítimos e inalienáveis) ; o de receber um salário justo, suficiente não só para a própria sobrevivência, mas para o sustento da família; o de viver a dimensão espiritual da existência e portanto de ter liberdade de consciência e de prática religiosa privada e pública. Atual pela lucidez com que proclama esses direitos, a R.N. o é também na crítica que faz ao socialismo , ao falar da propriedade privada, e ao liberalismo, ao tratar dos deveres do Estado. Estes - anota Leão XIII- são mais exigentes quando estão em causa os trabalhadores e "a multidão dos deserdados", dos que não têm ninguém por eles e ao lado deles. É um princípio básico da R.N. e deveria ser também na organização política: maior empenho em favor de quem mais precisa. Leão XIII chama amizade esta norma que João XXIII chamou solidariedade e Paulo VI , civilização do amor. A breve análise que João Paulo 11 faz dos "traços característicos da Rerum Novarum" termina reafirmando que a justa consideração da dignidade e valor da pessoa humana é a alma da Encíclica do seu predecessor. A serviço dessa dignidade na pessoa do trabalhador a Igreja não cessa de tomar posição. Ao mesmo serviço deve colocar-se o Estado dentro das suas capacidades e dos seus limites. Há 100 anos, a imorredoura Encíclica convocava para esse serviço. Outras Encíclicas retomam a sua voz profética, continuando a convocação. Card . Lucas Moreira Neves Arcebispo de Salvador (BA)

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UNIDADE Quando pensamos em unidade dentro das Equipes de Nossa Senhora, a idéia inicial que nos vem à cabeça é a da união entre todas as pessoas de uma mesma equipe e de todas as equipes em união. Observando a natureza humana, percebemos que cada pessoa possui necessidades e temperamentos diferentes. Como então possuir uma unidade com tantas diferenças assim? A riqueza está justamente aí. Porque ela se encontra onde há diversidade de dons. A pobreza está onde a padronização se faz atuante. Se ela existisse, todos os homens seriam iguais e não haveria o confronto de idéias, que é a chave para questionar as verdades individuais e aceitar as verdades do outro. Pois cada um , dentro da sua verdade, sofre alterações . Com o decorrer dos acontecimentos, vai alterando seu modo de pensar-e agir. Viver o amor nas Equipes de Nossa Senhora, com todos os integrantes e suas diversidades , de uma forma verdadeira é uma das atitudes mais difíceis. A afinidade já não é tão importante. O que nos aproxima é a busca do mesmo objetivo , que é a santidade. A nossa emoção muitas vezes não deixa haver unidade entre nós , mas a nossa razão deve nos colocar à frente daquilo que consideramos como objetivo maior. Que o nosso ato de amor seja repleto do verdadeiro amor, que é mais adulto que a nossa emoção. Como você está vivendo concretamente a unidade em um movimento que tem como base o mandamento maior do amor? Este amor está sendo somente emotivo ou racional?

Leda e Mazinho Equipe 5 Araraquara/SP

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TESTEMUNHO

Aconteceu Comigo ... Existe uma frase velha nossa conhecida que diz: "Nunca pensei que poderia acontecer comigo". E foi exatamente o que aconteceu conosco. Vínhamos conversando, felizes após um final de semana com amigos, as crianças dormiam atrás do banco. Quando de repente, um deslize no carro, só que não conseguimos controlá-lo e fomos jogados no mato, descontrolados não sabíamos onde iríamos parar ou se iríamos parar. Foi tudo tão instantâneo que não tive tempo para pensar em nada. Não sei bem se entreguei a Deus nossas vidas, sei com certeza que não tive tempo nem de pensar em pedir perdão a Deus pelos meus pecados, fazer uma breve confissão. Com certeza, também pensei que tudo estava acabado. Toda nossa família corria um sério risco e quando, enfim, o carro parou e me senti viva, ouvi os gritos das crianças e o pânico voltou a tona: Como estavam as crianças? Será que machucadas demais? - Vivas, sim! Machucadas, não! Então a alegria voltou ao meu coração, Deus tinha sido tão bom conosco. Tudo tinha acontecido tão rapidamente e poderia ter terminado em tragédia, mas Deus nos quis ainda aqui para que terminássemos nossa missão. Isto veio muito forte dentro de mim e, a partir de então, passei a refletir sobre a minha vida, minha família, minha fé. Nesta reflexão, observei nitidamente que não estava preparada para Deus, como estava distante, vivendo as alegrias do mundo e lembrandome de Deus nas amarguras. Como não estava preparada para meu Deus! Coisas que até então tinham um valor tão grande, passaram a ser pequenas. Ao olhar o carro todo amassado e nós inteiros , senti como as coisas materiais não valem nada diante de vidas . Deus , talvez, quis me puxar as orelhas , pois ultimamente tinha reclamado tanto de coisas que incomodavam por não serem confortáveis e novas. Deus deve ter dito baixinho no meu ouvido: Olha, você só encontra o conforto e a paz Comigo! Entrega-te a mim e tudo será mais fácil. Aí eu senti que al.guma coisa mudou com igo, com meu marido e até com as crianças. Talvez o efeito seja passageiro, pois ainda estamos em estado de choque, mas sempre que estivermos nos desviando deste caminho de Deus , estivermos brigando por futilidades , estivermos nos destruindo por palavras e ações, vamos nos lembrar deste puxão de orelha, que fo i forte e ficará para sempre em nossa mente , como algo que

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nos levou perto da morte, mas nos trouxe o bem maior da vida, que é a fé e a união, que jamais será esquecido por nós. Esta experiência fortaleceu nossa união familiar; sinto mais forte a presença do meu marido junto a mim ; valorizo cada instante que dispomos hoje, pois agora, mais do que nunca, sabemos quanto é efêmera nossa passagem na terra e que devemos vivê-la intensamente. Apesar das dificuldades, sabemos que devemos louvar e amar mais e mais a Jesus e reservarmos um tempo para Ele, colocar, enfim , nosso aprendizado das Equipes de Nossa Senhora. Rita de Cássia e Bessa Eq . 1O - Fortaleza/Ce

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JOVENS

JOVENS AO PÉ DA LETRA Mais um jovem quis dar-nos o seu testemunho a respeito do que foi o Mini-Encontro Internacional das Equipes Jovens de Nossa Senhora

Nos dias 17 a 21 de julho foi realizado em São Paulo o Mini-Encontro Internacional das EJNS. Foi mais uma das grandes oportunidades em que Deus se fez presente e revelou seu grande sentimento paterno para conosco. O encontro contou com a presença aproximada de 130 jovens e uns 1O "jovens de espírito", representados por adultos que sem dúvida nenhuma, deram uma grande contribuição. Este fato me deixa muito feliz e com esperanças na edificação de um mundo melhor, pois, em 1986, quando o Movimento ainda era chamado de Equipinhas de Nossa Senhora participei de um encontro em São José dos Campos e não houve grande diversidade. Desta vez participaram equipistas do norte ao sul do país, vindos de Belém (PA), Fortaleza (CE), Recife (PE), Brasília (DF), Belo Horizonte (MG), Juiz de Fora (MG), Ilha do Governador (RJ), Piabetá (RJ), São Paulo (SP), Jacareí (SP), São Bernardo do Campo (SP), Porto Alegre (AS), Tramandaí (AS), França, Portugal e Colômbia, confirmando e vindo a testemunhar que o movimento está crescendo e frutificando por este nosso imenso Brasil e pelo mundo. Esta busca de Cristo funciona como uma verdadeira injeção de ânimo no corpo enfermo e debilitado da sociedade. Nestes tempos de conflitos de idéias e turbulências, muitos jovens não têm alicerces capazes de suportar as pressões do mundo e com isso procuram abrigo e proteção em outros ídolos, vícios e falsas promessas de salvação. Eles se esquecem que o "essencial é invisível para os olhos" (Saint-Exupéry: O Pequeno Príncipe) e que muitas coisas que acontecem em nossas vidas não têm explicação e nem solução técnica ou científica, a não ser quando visualizadas pelos olhos da fé. As EJNS apresentam uma nova filosofia de vida, revelando a grande capacidade transformadora do homem no meio em que vive, a partir do seu "sim" e do despertar da vocação cristã. Mas voltando ao assunto, e partindo do princípio que se tratava de um Encontro e não um Retiro, a equipe de serviço está de parabéns pela organização e esquema de distribuição das atividades.

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As orações e missas possibilitaram uma interiorização e contato mais íntimo com o Pai. As palestras e reuniões de grupo nos ensinaram a ouvir o próximo e falar com ele, respeitando a individualidade e, ao mesmo tempo, proporcionando um amadurecimento espiritual através da partilha e troca de experiências do dia-a-dia de cada um. Os temas abordados foram a Reconciliação, o Serviço e a Eucaristia, e a partir desta tríade os vários meios e instrumentos que podem levar à santificação. As horas de lazer, com um concurso de fantasia, gincana e baile, além de boas risadas , fortificaram os laços de amizade e integração, formando uma só grande família. Chegado o dia da partida, a saudade apertou no lado esquerdo do peito e com ela algumas lágrimas desciam pela face de muitos de nós, revelando que a bondade e humildade de Maria romperam o casulo que envolvia nossos corações expondo-os ao calor e à energia vital do amor do nosso Pai. Um grande abraço e que a paz de Cristo esteja com vocês , Gastão Miguel Responsável do Setor Juiz de Fora- EJNS

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NOSSA BIBLIOTECA

I

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A partir de sua experiência com deficientes mentais, tendo convivido com seus sofrimentos e suas buscas, Jean Vanier desce neste livro às próprias raízes da sexualidade humana. Ele os criou homem e mulher -Jean Vanier, Ed.Paulinas , São Paulo , 1987, 240 pgs.

ELE OS CRIOU HOMEM E MULHER

Pílula, aborto, paternidade responsável .. . Certos traumas, gestos, medos e atitudes dos pais durante a concepção , a gestação e o parto podem marcar definitivamente a vida de um recém-nascido. O parto sem dor e a geração de crianças perfeitas não são os objetivos deste livro. Mas também podem ser alcançados através de uma maternidade assumida dentro de valores cristãos . Diálogo com a vida • Frei Vittorio lnfantino e Ora. Elizabeth Kipman , Ed . Paulinas , São Paulo, 240 pgs.

"Percebe-se hoje, na moderna classe média, uma particular fome de espiritualidade ou de Deus ... Há um certo fervilhamento de tentativas ... que pipocam aqui e al i, no sentido da busca de saídas para uma pastoral da classe média." Trechos da brochura: Pastoral da Classe Média na Perspectiva da Libertação - Clodovis Boff, Ed . Vozes, Petrópolis, 1991 , 36 pgs .

Clodovis Boff

Pastoral de ela e édi

a perspectiva da li ertaç

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CORREIO

Já há algum tempo pensávamos em escrever parabenizando a equipe da Carta Mensal pelo excelente trabalho que vem desenvolvendo. No movimento, há 20 anos, temos encadernados todos os exemplares desde 1972 e não cansamos de repetir às nossas filhas que ali, naqueles volumes azuis, está um tesouro inesgotável, do qual sacamos freqüentemente aliment5> para a nossa vida espiritual, religiosa, social. E notável como a Carta Mensal é atual e por si só um argumento poderoso contra aqueles que ainda vêem nas ENS um movimento à parte da caminhada da Igreja. Vocês têm sido incansáveis em nos despertar para as grandes preocupações da Igreja, para os Documentos Papais e da CNBB ; alertam-nos para a necessidade de uma fé coerente com a realidade, sem contudo deixar de mostrar, de modo convincente - e atraente - que as ENS têm os meios para fazer de nós verdadeiros cristãos. "Despertar", o artigo de Peter na Carta de março, para citar exemplo recente, teve a força do testemunho autêntico: levou-nos à meditação dos nossos valores, da distribuição do nosso tempo, abriu-nos os olhos para a realidade que nos cerca. Nesta de agosto, o artigo "Tesouros" deixou-nos emocionados às lágrimas e agradecidos a Deus por existirem pessoas como o Pe. Aquino. Quando responsáveis de Setor, tivemos oportunidade de encontrá-lo muitas v~zes, e uma, mais de perto, quando esteve hospedado em nossa casa. Eramos impressionados não apenas pela sua inteligência, conhecimentos, ponderação, mas, principalmente, pelo ar de santidade que sua pessoa transmitia. E agora, lendo um pouquinho sobre sua vida, vemos que era mesmo especial. Daí uma sugestão, um pedido: consigam para nós, equipistas, e para a Igreja do Brasil, sob a forma de publicação, estas meditações e anotações de Pe. Aqui no. Quantas almas serão beneficiadas! O Movimento das ENS precisa de mais este caminho de santificação e destes dados para enriquecer sua biografia, já tão especial. A exemplo do excelente trabalho de D. Nancy, "0 sentido de uma vida", um sobre o Pe. Aqui no também se faz necessário. E o mínimo que podemos fazer por quem tanto amou as ENS e que, mesmo depois de morto, continuará a fazer o bem. Fica aqui nosso pedido veemente. Reiterando nossos cumprimentos, queremos deixar os agradecimentos pelo bem que nos fazem , através da carta Mensal. Como disse Pe. Aquino : "Vão em frente" . Os amigos e leitores fiéis, Leda Márcia e Edson Eq. Nossa Senhora do Sagrado Coração - nº 1 Setor A - Juiz de Fora

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O SINO DE OURO Contaram-me que, no fundo do sertão de Goiás , numa localidade de cujo nome não estou certo, mas acho que é Porangatu, que fica perto do rio de Ouro e da serra de Santa Luzia, ao sul da serra Azul - mas também pode ser Uruaçu, junto do rio das Almas e da serra do Passa Três (minha memória é traiçoeira e fraca; eu esqueço os nomes das vilas e a fisionomia dos irmãos, esqueço os mandamentos e as cartas e até a amada que amei com paixão)- , mas me contaram que em Goiás , nessa povoação de poucas almas, as casas são pobres e os homens pobres, e muitos são parados e doentes e indolentes, e mesmo a igreja é pequena, me contaram que ali tem - coisa bela e espantosa - um grande sino de ouro. Lembrança de antigo esplendor, gesto de gratidão, dádiva ao Senhor de um grã-senhor - nem Chartres, nem Colônia, nem S. Pedro ou Ruão, nenhuma catedral imensa com seus enormes carrilhões tem nada capaz de um som tão lindo e puro como esse sino de ouro, de ouro catado e fundido na própria terra goiana nos tempos de antigamente. É apenas um sino, mas é de ouro. De tarde seu som vai voando em ondas mansas sobre as matas e os cerrados , e as veredas de buritis , e a melancolia do chapadão, e chega ao distante e deserto carrasca!, e avança em ondas mansas sobre os campos imensos , o som do sino de ouro. E a cada um daqueles homens pobres ele dá cada dia sua ração de alegria. Eles sabem que de todos os ruídos e sons que fogem do mundo em procura de Deus - gemidos , gritos , blasfêmias , batuques , sinos , orações, e o murmúrio temeroso e agônico das grandes cidades que esperam a explosão atômica e no seu próprio ventre negro parecem conter o germe de todas as explosões - eles sabem que Deus, com especial de Iícia e alegria, ouve o som alegre do sino de ouro perdido no fundo do sertão. E então é como se cada homem , o mais pobre, o mais doente e humilde, o mais mesquinho e triste, tivesse dentro da alma um pequeno sino de ouro. Quando vem o forasteiro de olhar aceso de ambição, e propõe negócios , fala em estradas, bancos , dinheiro , obras , progresso, corrupção - dizem que esses goianos olham o forasteiro com um olhar lento e indefinível sorriso e guardam um modesto silêncio. O forasteiro de voz alta e fácil não compreende; fica , diante daquele silêncio, sem saber que o goiano está quieto, ouvindo bater dentro de si , com um som de extrema pureza e alegria, seu particular sino de ouro. E o forasteiro parte, e a povoação continua pequena, humilde e mansa, mas louvando a Deus com sino de ouro. Ouro que não serve para perverter, nem o homem nem a mulher, mas para louvar a Deus . E se Deus não existe, não faz mal. O ouro do sino de ouro é neste mundo o único ouro de alma pura, o ouro no ar, o ouro da alegria. Não sei se isso

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acontece em Porangatu , Uruaçu ou outra cidade do sertão. Mas quem me contou foi um homem velho que esteve lá; contou dizendo: "eles têm um sino de ouro e acham que vivem disso, não se importam com mais nada, nem querem mais trabalhar; fazem apenas o essencial para comer e continuar a viver, pois acham maravilhoso ter um sino de ouro" . O homem velho me contou isso com espanto e desprezo. Mas eu contei a uma criança e nos seus olhos se lia seu pensamento: que a coisa mais bonita do mundo deve ser ouvir um sino de ouro . Com certeza é esta mesmo a opinião de Deus , pois ainda que Deus não exista, ele só pode ter a mesma opinião de uma criança. Pois cada um de nós quando criança tem dentro da alma seu sino de ouro que depois, por nossa culpa e miséria e pecado e corrupção, vai virando ferro e chumbo, vai virando pedra e terra, e lama e podridão. Rubem Braga (A Borboleta Amarela - Crônicas Rio de Janeiro Liv. José Olympio - 1955)

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INTERCÂMBIO

DISCERNIR (... ) Como cristãos, não podemos nos sentar e chorar ou ficar presos a críticas e compaixão. Não foi para isso que fomos escolhidos, com certeza. Devemos aproveitar os acontecimentos para discernir a vontade de Deus sobre nós naquele momento. Oque poderíamos aprender a partir daquele fato? O que o Senhor estava querendo dizer? Se nos propuséssemos a uma meditação bem profunda e corajosa, lá dentro de nós mesmos talvez ouvíssemos uma voz que nos inquira: "E você, ... ?" Regina e Cleber Equipe 60/C Rio de Janeiro 111

*** CRESCER Estamos em busca da perfeição, apesar de termos consciência de que as dificuldades são muitas para atingi-la plenamente. Uma coisa é premente em nossa equipe: a gratuidade do amor mútuo. Procuramos com esse amor entrelaçar nossas culpas com crescimento espiritual; pecados com conhecimentos. Assim, nos propusemos a estudar a Bíblia e começamos com os Atos dos Apóstolos, agora com Romanos; estamos caminhando para um crescimento. Equipe N.S. das Famílias n° 2 Dois Córregos - São Paulo

*** AMAR Deus tem sido maravilhoso conosco, mas nem sempre conseguimos passar corretamente aquilo que aprendemos ou experimentamos. Amar! Amar! Amar! Amar! Amar! .. . Amar! ... Amar "apesar de ". e não "por causa de". Sim, ó Pai, conceda-me mais esta graça: de Amar! Mas Amar somente o Amor! E Amarei a Vida! E Amarei a Morte! CM Novembro/91 - 45


E Amarei a Todos! Na assombrada força de seu Amor!!! Um grande abraço e que Maria nos una cada vez mais e nos ensine a propagar o Poder do Amor de Jesus! Marília do Marçal. Equipe- 3 Varginha - MG

*** CASAL INFORMAÇÃO Com o objetivo de aprimorar a formação do Casal Informação, a Região Rio 111, realizou um mini encontro na noite do dia 9 de agosto passado, reunindo os casais responsáveis de Setor, casais informação e expansão da região, onde todos os que compareceram se sentiram mais orientados e fortalecidos · para o exercício da tarefa. Um dos resultados positivos foi a decisão tomada pelo casal regional Regina/Cieber, de preparar um documento extraído das nossas reflexões e observações e da troca de experiências dos casais, que servirá para orientações futuras. Penha- Viriato Equipe 52 O Rio de Janeiro

*** A equipe é que nos ajuda na caminhada de fé do nosso casamento, a cada reunião nós sentimos força e coragem para continuarmos na construção de um mundo novo". O casal José e Cecília, fizeram Bodas de Prata no dia 2 de março de 1991 e tamanha foi nossa alegria de ver seus amigos, filhos e parentes participando da Santa Missa, que foi uma mensagem e testemunho de amor, alegria, fraternidade e união. Equipe 13 Marília/ SP

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NOTÍCIAS E INFORMAÇÕES EXPERIÊNCIA COMUNITÁRIA NAS ENS

Atendendo o solicitado quando do I Encontro de Casais Animadores de Ex. Co. e Casais Pilotos em maio passado, a Região São Paulo Sul I realizou em 24-0891 um D.D.A. (Dia de Aprofundamento) objetivando a formação de casais engajados ou desejosos de engajamento nessa missão. Compareceram equipistas de Mogl das Cruzes, Santos, Grande ABC, Alphaville e São Paulo. Na parte da manhã foi apresentada por Gislene e Afonso uma palestra Introdutória seguindo-se exposições, por vários casais já com experiência de animação das Ex. Co., sobre os 8 temas. Essas exposições foram intercaladas com apresentações das 8 primeiras cartas das Equipes em pilotagem (Reunidos em nome de Cristo). Após o almoço os participantes foram divididos em grupos de trabalho para o estudo de quatro casos preparados para a ocasião. A seguir o estudo dos casos foi relatado em plenário, com ampla discussão pelos participantes. Na ocasião foi distribuído aos participantes o Gula do Casal Animador que é uma reedição do material preparado pelos equiplstas de Ribeirão Preto/SP. A Região São Paulo Sul I conta hoje com 32 casais engajados neste tipo de apostolado, cujo objetivo é também a expansão dos quadros do Movimento. -NOVAS EQUIPES . Guaratinguetá{SP Eq. 12 - N.S. da Amizade C.E.- Frei Carlos Pierozan C.P.- Lulza e Paulo Roberto Meireles Eq. 13- N.S. da Rosa Mística C.E. - Pe. Antonio Galvão dos Santos C.P.-Maria Alzira e Alcy Barreira Carrinho

-VOLTA AO PAI . Madalena (do Trindade), Eq. OS- N.S. de Fátima, José Bonifáclo/SP Um dos "soldados" mais valiosos do Movimento naquela cidade não pela sua bravura ou exuberância, mas pelo seu exemplo de singela dedicação e entrega. ão de todos os homens.Agora junto do Pai que envie suas bênção a todas as equipes para que fortalecidas na fé e no amor, lutem com mais dedicação pela salvaçãao de todos os homens. . Eduardo Kall (da Regina), Eq, 1 de Guaratinguetá{SP. Fundador do movimento naquela cidade e seu grande entusiasta foi piloto das equipes 2,3, e 4 e responsável pela Coordenação das ENS de Guaratinguetá entre 1968 e 1973. Sua partida prematura deixa uma grande lacuna entre seus Irmãos equlpistas.

-RETIROS . Realizou-se entre 21 e 23.06.91 o 12 Retiro de 1991 do Setor de Guaratinguetá{SP com a participação de 27 casais. Pregado por Frei Uli Stelner O.F.M., o tema central foi a gratuidade do amor de Deus e a necessidade de irmos ao encontro desse amor. . Os 19 casais do Setor de Niterói/RJ que participaram em 25 e 26.08.p.p. do retiro pregado por Frei Anselmo Fracasso O.F.M. voltaram para casa encantados. Além das palestras belíssimas e de grande profundidade e das outra atividades (com destaque para a Via Sacra) gozaram também da acolhida sempre carinhosa das Irmãs e do convívio fraterno entre todos. O tema abordado foi "O Reino de Deus como dom gratuito e a nossa resposta a Ele ". A frase que mais marcou a todos os presentes foi "Reinvestir no próximo os benefícios que recebemos gratuitamente de Deus ".

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O HOMEM RECOLHIDO Certo dia .. . Perguntaram a um homem que sabia meditar, como fazia para viver recolhido, apesar de tantas preocupações. Respondeu : Quando me levanto, levanto-me Quando caminho, caminho Quando como, como Quando falo, falo Interromperam-no dizendo: - Mas, nós fazemos a mesma coisa. O que é que o senhor faz a mais do que nós? Ele repetiu : Quando me levanto, levanto-me Quando caminho, caminho Quando me sento, sento-me Quando como, como Quando falo, falo. Mas de novo retrucaram: - É exatamente isto o que nós fazemos também. - Não, retrucou o Homem ... Quando vocês se sentam, já estão se levantando, Quando se levantam, já estão correndo, Quando correm, já estão chegando ao fim. "Fazer as coisas no momento certo, dando o melhor de si e aproveitando o melhor de cada um ... É o segredo da PAZ da VIDA". Colaboração Paula/Genildo - Eq. 08 Recife/PE PRECE Senhor meu Deus, glória vos dou. No meu caminhar por estradas incertas, sede o meu guia. Nos momentos de aflição, fazei com que eu enxergue vossa luz. Quando atingido pelo sofrimento, dai-me forças para que eu suporte sem desespero. Diante das dificuldades, dai-me mais fé. Permite que a vossa luz se faça em meu coração e eu possa espalhá-la ao redor dos meus passos. Senhor, concede-me o perdão das faltas, mas concede-me também a coragem e a resignação para ressarcir os meus débitos. Estende enfim, sobre mim e todos aqueles que comigo cruzarem a estrada da vida, um sopro de paz e fraternidade. Colaboração da Eq. 06 - Recife/PE

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MEDITANDO EM EQUIPE (Sugestões para o mês de novembro) Texto de Meditação (Mt.25.31-46) "Quando o Filho do homem vier em glória com todos os seus anjos, então se assentará no seu trono glorioso e todas as nações se reunirão em sua presença e ele vai separar uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos . As ovelhas colocará à direita e os cabritos à esquerda. E dirá o rei aos que estão à direita: "Vinde abençoados de meu Pai , tornai posse do reino preparado para vós desde a criação do mundo. Porque tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, fui peregrino e me acolhestes, estive nu e me vestistes, enfermo e me visitastes , estava preso e viestes ver-me" . E responderão os justos: "Senhor, quando foi que te vimos com fome e te alimentamos, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos? Quando foi que te vimos enfermo ou na cadeia e te fomos visitar?" E o rei dirá: "Em verdade vos digo, todas as vezes que fizestes a um destes meus irmãos menores, a mim o fizestes" . Depois dirá aos da esquerda: "Afastai-vos de mim, amaldiçoados, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Porque tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, fui peregrino e não me destes abrigo ; estive nu e não me vestistes , enfermo e na cadeia e não me visitastes" . E eles responderão, dizendo: "Senhor, quando foi que te vimos faminto ou sedento, peregrino ou enfermo ou na cadeia e não te servimos?" E ele lhes responderá dizendo: "Em verdade vos digo : Quando deixastes de fazer a um desses pequeninos , foi a mim que não fizestes". E estes irão para o sofrimento eterno, enquanto os justos para a vida eterna.

Oração Litúrgica. Rejubilemos com o nosso Deus, cuja alegria é distribuir benefícios entre seu povo. E com entusiasmo lhe peçamos :

R. Dai-nos, Senhor, a graça e a paz! Deus eterno, para vós mil anos são como o dia de ontem que passou, concedei lembrarmos que a vida é como a flor que abre de manhã e à tarde morre.

R. Dai-nos, Senhor, a graça e a paz! Dai ao vosso povo o vosso maná, para não passar fome, e a água viva, para nunca mais sentir sede;

R. Dai-nos, Senhor, a graça e a paz! Fazei que vossos fiéis procurem as coisas do alto e sintam o seu sabor, e que façam de seu tempo de trabalho e lazer uma glória ao vosso nome;

R. Dai-nos, Senhor, a graça e a paz Senhor, livrai-nos de todo mal e derramai copiosa bênção sobre nossas casas;

R. Dai nos, Senhor, a graça e a paz Dai-nos aos que morreram contemplar a vossa face, e fazer que um dia também nós vos contemplemos;

R. Dal-nos, Senhor, a graça e a paz Oremos: Jesus Cristo, que fizeste o ladrão arrependido passar da cruz ao vosso Reino, aceitai a humilde confissão de nossas culpas e fazei que, no instante da morte, entremos com alegria no Paraíso. Vós que sois Deus com o Pai na unidade do Espírito Santo.


PRIORIDADES A REUNIÃO DE EQUIPE

AO ENCONTRO DA REALIDADE

FORMAÇÃO

PASTORAL FAMILIAR

COMUNICAÇÃO

EXPERitNCIA COMUNITÁRIA


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