ENS - Carta Mensal 303 - Setembro 1994

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i CARTA

~ MENSAL ~

~ Equipes de Nossa Senhora


ÍNDICE CARTA DA EQUIPE RESPONSÁVEL INTERNACIONAL NOTÍCIAS INTERNACIONAIS . . . . . . . . . . . PROJETO EVANGELIZAR A SEXUALIDADE. . . EDITORIAL: CARTA DE FÁTIMA . A ECIR CONVERSA COM VOCÊS . . . . . . . .

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DEPOIMENTOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . NOSSA BIBLIOTECA . . . . . . . . . . . . . . SESSÃO INTERNACIONAL DE FORMAÇÃO . . .

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Nota: O símbolo do VIII Encontro Internacional das Equipes de Nossa Senhora foi concebido e realizado pelo pintor português José Guimarães que o ofereceu gratuitamente à Organização.


Caros amigos do mundo inteiro Antes de começar a redigir nossa primeira carta como responsáveis, pois acaba de nos ser confiada a responsabilidade das Equipes de Nossa Senhora, dirigimos nossos pensamentos a vocês membros das equipes que vivem em cada um dos continentes. Pensamos em vocês todos, na pequena parcela que conhecemos e na grande maioria que dificilmente teremos a alegria de conhecer pessoalmente, nos que já percorreram uma caminhada no Movimento e nos estão iniciando, nos que já atingiram a paz resultante de uma fé madura e naqueles que ainda carregam dúvidas e incertezas, nos que estão engajadas na construção do Reino e nos que ainda estão descobrindo a riqueza do serviço. A responsabilidade por nós assumida significa um chamado a um amor maior, para melhor podermos nos colocar a serviço do Reino de Deus através do serviço às ENS. Um chamado a um amor maior a Deus por primeiro, um chamado a um amor maior a vocês irmãos das equipes, um chamado a um amor maior aos irmãos que não fazem parte das Equipes. Em sua conferência aos R.R. da Europa, em 1987, em Chantilly. Pe. Caffarel disse acreditar ter havido na origem das ENS, uma inspiração do Espírito Santo.

As Equipes possuem, é verdade, um carisma fundador. Deus confia um carisma a uma parcela de seu povo para o bem de todos.

É inerente ao carisma das Equipes contribuir para que o casamento seja verdadeiramente um caminho de santidade. Nesse sentido elas se dispõem a: - Orientar os casais para uma realização plena do amor humano, levando-os a descobrir novas dimensões desse amor; - Ajudá-los a se amar com o próprio amor de Cristo; - Levá-los a ser para o mundo um sinal de que o amor é possível, e é o que dá sentido á vida. Isso começou a ser compreendido p~los iniciadores do Movimento e foi sendo cada vez melhor clarificado .através dos anos. E, graças aos primeiros casais e conselheiros espirituais e aos muitos que os seguiram e que se mantiveram atentos às inspirações do Espírito Santo, o Movimento pode ser um fermento de renovação na Igreja. O mundo passou, no últimos anos, por profundas transformações e conseqüentemente a realidade conjugal e familiar é hoje bastante diferente daquela de algumas décadas atrás. Compete a nós membros atuais das ENS, como depositários de seu carisma e continuadores de todos os que colaboraram para a sua evolução, permanecer atentos aos sinais dos tempos atuais e em espírito de acolhimento ao que Deus quer nos revelar, para poder discernir a direção em que o Movimento deve evoluir afim de permanecer fiel à inspiração inicial. Nesse sentido, iniciou-se no EnCM Setembro/94 - 1


contro de Lourdes em 1988, com a Segunda Inspiração, uma busca de renovação a que se deu continuidade em Fátima, ao se optar pela missão das ENS como tema central do Encontro e da Orientação Pós-Fátima. Somos chamados ao amor e essa chamada contém em si duas dimensões: somos chamados a "ser" e somos chamados a uma missão. - Somos chamados a "ser" casais fundado no amor, casais felizes, casais que se sacrificam através da vida a dois e também através da vida comunitária. - Somos chamados a "ser" um sinal para o mundo. Somos chamados a uma missão. O amor implica em compromisso, em missão e o amor é condição para o compromisso e para a missão. "Simão, filho de João, me ama mais do que estes outros? Pedro respondeu: 'Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo'. Jesus disse: 'Cuida de meus cordeiros"'. (Jo 21,15) Nossa missão tem a ver com a realidade do casamento hoje. O que nós casais das ENS, que buscamos conhecer o pensamento de Deus para o casal, que buscamos conformar nossa vida com essa vontade de Deus a nós revelada, temos a dizer, a oferecer aos outros casais, aos jovens casais, para ajudá-los a viver os valores cristãos nas situa2 - CM Setembro/94

ções, no contexto adverso em que grande parte deles estão inseridos? Em nossa missão muita coisa ainda não está clara. O próprio Pe. Caffarel, na conferência já referida acima, disse que a missão das ENS ainda não havia sido bem compreendida. Precisamos continuar buscando, precisamos nos por a caminho numa atitude de esperança e confiança em Deus. "Eis que estarei com vocês todos os dias até o fim do mundo". (Mt 28,20) As sombras vão se iluminando durante o caminhar. As ENS constituem um caminho que escolhemos para melhor realizar o projeto de Deus em nossa vida e para participar da construção do Reino de Deus. Não podemos, pois, dissociar a vida de equipe da construção do Reino de Deus. Somos chadessa construção do Reino a partir da vivência do Sacramento do Matrimônio, a partir da vida em comunhão proposta pelas Equipes e em comunhão com a Igreja. Vivendo plenamente o Sacramento do Matrimônio e a vida em comunidade proposta pelas ENS, o Reino de Deus já está, em certo sentido, acontecendo em nossa vida e essa vivência nos prepara e nos impulsiona a participar da construção do Reino, realizando a nossa missão. Com o nosso carinho Cidinha e lgar Fehr


Solidariedade Quando a E. R. I. lançou seu apelo à solidariedade para o Encontro de Fátima- um apelo mais urgente que dos outros encontros - ela não estava segura da repercussão que isso teria, e também não tinha consciência da complicação que traria ao Secretariado Internacional, já tão sobrecarregado com a preparação do Encontro. Mas, na vida, algumas vezes é preciso ir em frente, deixar-se levar pela verdadeira sabedoria, aquela intuição que vem do coração. Foi essa mesma atitude, "a sabedoria do coração", que impulsionou os casais equipistas do mundo inteiro a responder ao apelo à solidariedade com todo o entusiasmo e generosidade. No Secretariado, passou-se horas sobre esse "quebra-cabeça" bendito: recenciar e reunir as ofertas, as perguntas, os nomes, os endereços, as inscrições, as passagens de avião, através de fax, telefones, cartas ... O dinheiro que chegava vinha ou de uma super-região, ou de um setor, ou de um casal... Com ele tentou-se ajudar o país ou a região mais pobre e distante que havia pedido auxílio ... Felizmente nas Equipes existe a "Solidariedade da amizade" e a ajuda enviada ao Secretariado Internacional para os amigos equipistas, a fim de organizar tudo, foi decisiva. Sabemos também que esse movimento de solidariedade aconteceu nas super-regiões, setores e equi-

pes ... e que as necessidades de uns foram cobertas pela generosidade de outros, sem que houvesse necessidade de levar o problema ao Secretariado Internacional.

Se o Encontro de Fátima teve um cunho internacional, uma visão de Igreja Universal, isso aconteceu porque muitos casais de diferentes países têm o Movimento como uma grande família e por isso desejaram que o maior número possível de seus membros dele pudesse participar. Muitos casais que enviaram sua ajuda não puderam estar presentes em Fátima (não puderam pelas mais diferentes razões possíveis), mas quiseram Já estar presentes por intermédio de seus irmãos e irmãs de outros países, de outras igrejas. Houve também muitos casais que indo a Fátima quiseram - com generosidade - ajudar para que também outros pudessem experimentar a grande felicidade de estar presentes. Esses casais tiveram a alegria de encontrar pessoalmente, em Fátima, com os novos amigos que beneficiaram com sua generosidade. Queremos aproveitar essas linhas para dizer um grande "OBRIGADO" a todos. Num momento como esse, em que o mundo vive tantas divisões individualismo, egoísmo, é uma grande alegria poder afirmar e constatar que numa circunstância como essa os membros do nosso Movimento se sentem profundamente e concretamente unidos uns aos outros. CM Setembro/94 - 3


Pe. Olivier: 50 anos de sacerdócio No pequeno oratório das Equipes de Nossa Senhora, à rua Glaciàre 49, em Paris, no dia 16 de junho de 1994, o Pe. Olivier celebrou a missa, como faz todas as quintas-feiras. Mas essa quintafeira foi diferente, porque os responsáveis do Secretariado convidaram alguns responsáveis antigos e atuais do Movimento para se juntarem aos participantes habituais do Secretariado da França e do Secretariado Internacional. Ha 50 anos atrás, no dia 16 de junho de 1944, o Pe. Olivier recebia a ordenação sacerdotal. Durante a missa - ação de graças por excelência - ele lembrou que a cerimônia foi feita na discrição e que nem seus parentes puderam assisti-la porque (por desorganização) não foram comunicados. Lembrou também seus diversos ministérios e reafirmou sua alegria- exprimida no seu último editorial - de ter trabalhado com e pelas Equipes de Nossa Senhora.

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Esta missa tão comovente está ligada a uma série de Eucaristias, pois todas as quintas-feiras ao meio dia, no pequeno oratório o Pe. Olivier celebra a missa na intenção de todos os casais do Movimento do mundo inteiro. E nós sabemos que equipistas distantes se unem, pela prece, a essa missa semanal. Às intenções do dia, Pe. Olivier acrescenta aquelas que são enviadas para ser entregues aos "lntercessores" (grupo de orantes, jejuadores e sofredores que existem dentro das Equipes de Nossa Senhora). Assim, junto ao pequeno grupo presente, existia uma corte invisível que em volta do Pe. Olivier agradecia ao Senhor pelos 50 anos de sua vida sacerdotal. A festa se prolongou com um aperitivo e um almoço fraternal, momento em que os amigos presentes lhe ofereceram uma lembrança pela comemoração de tão comovente aniversário.


Na tarde do dia 21 de julho, em Fátima, Pe. Olivier e os casais responsáveis pelos resumos e pela elaboração do texto final fizeram uma avaliação do Projeto "Evangelizar a Sexualidade". Alegrou-nos muito saber que Brasil e França foram considerados as "locomotivas" deste projeto pelo número de casais que a ele aderiram nesses dois países. Todos foram unânimes em afirmar que alguns dos produtos positivos deste trabalho foram a revitalização do "dever de sentar-se" e a riqueza de intercâmbios sobre o tema nas reuniões de equipe e a conseqüente tomada de consciência da influência da sexualidade sobre todo o resto da vida. Assim exprimiu-se um dos participantes: "Ela é o barômetro da nossa vida mesmo que não seja a ditadora". O documento final que, antes de sua divulgação, será primeiramente apresentado ao Papa João Paulo 11, deixa clara a fé no casal, no matrimônio e na Igreja e faz um pedido veemente de ajustamento da Pastoral nos seguintes pontos: a) Que a Igreja Hierárquica seja mais "mãe" do que "mestra", mais

''formadora de consciência" do que "elaboradora de regras". b) Que seja dada prioridade ao "amor" e não aos "métodos". c) Que sejam levadas em consideração as diferenças entre as várias situações de vida (recém-casados, casais já em bodas de prata, os idosos, etc.). d) que seja aceita a referência de consciência de cada um. Consciência essa esclarecida pelo Magistério, também ele amplamente esclarecido. Publicamos a seguir a carta que recebemos do casal Sofia e Carlos, portugueses que dedicaram o melhor de seu tempo ao longo dos últimos meses para ler todo o material que lhes enviamos e selecionar as principais idéias e testemunhos. A vocês, Sofia e Carlos, o nosso muito obrigado. O serviço eficiente e eficaz de vocês permitiu que o pensamento e a vivência brasileiros se somassem aos de tantos outros países e que assim pudesse ser configurada a imagem da sexualidade vivida pelos casais cristãos neste final de sécl!!~. Beth e Romolo EC/R

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CARTA ABERTA AOS QUE RESPONDERAM AO PROJETO .. EVANGELIZAR A Muitas vezes pensamos em vocês, desconhecidos de rosto e de nome que aceitaram libertar uma parte do mistério do vosso casal, de formulá-lo em palavras para que ele se transformasse num tesouro para os outros. Um grande "obrigado" a todos, aos casais, claro, mas também aos Conselheiros Espirituais que também quiseram manifestar-se ou foram ajuda tão importante no decorrer das reuniões. Nós vos acompanhamos durante este longo caminho, nos vossos trabalhos, nos vossos entusiasmos e nas vossas críticas, muitas vezes construtivas em relação ao Projeto. Este, apesar de suas imperfeições, teve o mérito de existir, de ter feito surgir as vossas respostas e de ter sido o terreno que proporcionou o aparecimento de tantas opiniões e testemunhos voluntários, de grande qualidade. Todos estes documentos, escritos de mil e uma maneiras, são a prova da importância que atribuíram à vossa vida de casal, de Movimento ao serviço da Igreja que vos foi pedido. Como trabalharíamos? Nós lemos todas as vossas respostas a todas as pistas, exceto a Pista IV- Educação dos Filhos para a Sexualidade, julgada pelo Grupo Internacional como um pouco fora do nosso assunto principal. Esta pista talvez venha a ser utilizada para um tema de um novo trabalho mais específico sobre jovens, descoberta do amor, os seus problemas atuais como coabitação juvenil ou outros mais. 6 - CM Setembro/94

Antes de iniciar a coleta de elementos, a ERI pediu conselhos sobre os métodos a usar a especialistas na matéria. Estes ficaram impressionados com o número de respostas recebidas. Aconselharam limitar o número de assuntos propostos ou a considerar um certo número de respostas. Efetivamente, região após região, encontrávamos, sensivelmente, o mesmo número de opiniões dominantes e quase a mesma percentagem nas tomadas de posição. As diferenças apareciam-nos muito mais da idade dos casais (quando a referência ou o teor da resposta faziam-nos adivinhar) ou das circunstâncias reais do dia-a-dia vivido pelo casal. Limitávamos os assuntos a quatro grandes capítulos: I - Homem/Mulher/Casal - Imagem de Deus 11 - Construção do Casal 111 - Fecundidade IV - Ética sexual. Formação da consciência cristã. Mas, quanto à leitura das respostas ... não foi possível! A certa altura, demo-nos a ler tudo, calados no início, interessados e mesmo sensibilizados. À medida em que corriam as páginas, descobríamos uma expressão nova, uma iluminação diferente, um pouco de humor ou ironia, ou ternura, ou sofrimentos, ou alegria. Numa palavra, verdadeiras jóias que aproveitamos, pois permitiam traduzir melhor as idéias que pareciam comuns. Alternada ou sucessivamente encantados, apaixonados, em admiração!


Muitas vezes, apeticia-nos responder-vos, dialogar com alguns ... mas, sem o anonimato, pensamos então, não teriam sido possíveis alguns testemunhos. E, essa proximidade com alguém tornando tão distante, sensibilizava-nos ainda mais. No domínio da Ética há, como devem calcular, fortes divergências entre alguns. Acolhemos isto serenamente, dado que, pessoalmente, nós não procurávamos passar uma opinião definida e, muito menos, a nossa. Tentaríamos, sim, refletir o mais fielmente possível todas estas opiniões, sem suavizá-las, mesmo as que se apresentavam radicais nos dois sentidos. A maioria tinha opiniões comuns com predominância de uma consciência esclarecida, o que simplificava muito. Como não se trata de "política", nem de um "jogo", não há "ganhadores". Foi um juízo que nunca esteve presente na Equipe Internacional que trabalhava em conjunto. Para nós, o nosso trabalho principal - coleta de elementos contidos nas respostas de língua portuguesa - Brasil e Portugal- terminou. O mesmo foi feito por diferentes países e o trabalho consubstancia-se na redação do documento final. Estamos conscientes que há, neste trabalho, que foi feito por centenas e centenas de casais um contributo notável e valioso para reflexão da Igreja visto que é matéria que provem de cristãos de boa vontade. Se nos sentimos mais descansados pela tarefa cumprida ficamos,

se possível, mais empenhados ainda, rezando pelo Pe. Olivier que será o responsável pela síntese final e pela redação do documento. Pedimos as bênçãos do Senhor para ele e para todos os que refletiram e partilharam as suas vidas. A nós, pessoalmente, que já estivemos no Brasil há 12 anos, a viver um mês com as ENS, vivendo inúmeras experiências, reuniões, encontros que nunca mais esqueceremos, foi um relembrar, um reavivar do muito que então aí sentimos. O entusiasmo, o voluntarismo, a disponibilidade, a alegria, a forma como então já viviam o vosso amor e a vossa sexualidade no Senhor e com o Senhor, foram marcantes para nós. Por isso, ao ler, parecianos que os papéis falavam. Queremos também, dizer que nos sentimos orgulhosos pelo número de equipes que trabalharam o Projeto. Com que alegria vimos essa adesão! Com que susto quando víamos chegar aqueles grossos volumes pelo correio! Temos mais de 1,5 metros de pastas de arquivo! E mais ficaríamos aqui a falar. Mas, já vai enormíssima a nossa carta! Por fim queremos agradecer ao Senhor mais esta oportunidade que nos deu de sentir as pessoas e, nelas, o amor humano e o amor a Ele. Recebam todos a grande amizade de Sofia e Carlos Grijó

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A .. CARTA DE FÁTIMA .. Ao final do nosso Oitavo Encontro Internacional, na cerimônia de encerramento, Álvaro e Mercedes Gomez-Ferrer leram a "Carta de Fátima" que republicamos aqui. Cada casal, cada conselheiro espiritual participante do Encontro recebeu esta carta em um envelope fechado, que lhe era pessoalmente endereçado. Não era uma carta de adeus... Álvaro e Mercedes, que acabam de deixar a responsabilidade de casal responsável do Movimento, já se despediram de todos numa Carta da E.R.I. precedente. Essa "Carta de Fátima" é uma primeira apresentação da orientação do Movimento para os anos vindouros. Ela lança um apelo urgente à

missão que devemos assumir, como casais e como Movimento, na Igreja e no mundo. Ela é endereçada em primeiro lugar àqueles que participaram do Encontro de Fátima, mas ela diz respeito a todos os casais do Movimento do mundo inteiro. Todos trilharam o mesmo caminho estudando o tema sobre a Família e, de uma forma ou outra, todos estiveram presentes em Fátima... É assim juntos que caminharemos rumo ao futuro.

É muito importante que releiamos juntos (o casaO essa Carta e a comentemos nas nossas equipes. Mas, o mais importante é não a esquecermos sem dar-lhe uma resposta na nossa vida concreta.

Queridos amigos das Equipes, vindos de países tão numerosos e tão diversos. Queridos amigos do mundo inteiro: No momento em que chegamos ao fim desse Encontro, o último de nossos Encontros antes do fim do século, nós lhes dirigimos esta carta, a vocês que estão aqui e que partilham uma profunda experiência de Igreja e os encarregamos de transmitir pessoalmente à equipe de vocês, ao seu setor, a mensagem que o Movimento lhes confia. Nós, que aqui estamos reunidos, pertencemos a equipes dos quatro cantos do mundo: equipes criadas recentemente que têm todo o dinamismo da juventude; equipes maduras, cheias de experiência e sabedoria; equipes antigas que viveram, com fidelidade e perseverança, mudanças na história, na Igreja e no Movimento. Equipes de países muito diferentes: aquelas que acabam de se unir ao Movimento: Coréia, Chile, Romênia, Hungria; aquelas onde o Movimento está em plena expansão e aquelas onde ele atingiu uma certa maturidade: Africa, Alemanha, Austria, América Espanhola, Austrália, Canadá, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Índia, Irlanda, Ilhas Maurício; aquelas que estiveram na raiz da implantação do nosso Movimento: Bélgica, Brasil, Espanha, Portugal, Itália; e finalmente a França, onde o Movimento nasceu; equipes também do movimento irmão "Igreja Doméstica", vindas da Polônia, Checoslováquia e Ucrânia. 8 - CM Setembro/94


Velhos continentes unidos a jovens culturas. Todos com nossos filhos presentes aqui ou presentes nos nossos corações. Todos unidos a Maria que nos precede no caminho da fé. Há uma bela frase de Santo lrineu que nos diz: "A glória de Deus é que o homem viva". Aí está o duplo objetivo das Equipes de Nossa Senhora: a glória de Deus e dos casais sempre mais "vivos". Neste mundo que, cada vez mais, encaminha-se para uma cultura da morte, mas ao qual Cristo prometeu seu Espírito até o fim dos séculos, é necessário humilde, mas resolutamente, fazer germinar "tudo que é vida". Respondendo a essa vocação, nós colaboramos, mesmo sem perceber, na construção do Reino de Deus.

É um objetivo que parece muito afastado das realidades de nossa vida quotidiana, onde se misturam as dificuldades profissionais, as incertezas econômicas, os bloqueios de comunicação, as incompreensões conjugais, os conflitos de família, o conformismo de nossa equipe, a rotina de nossa vida, a insegurança de nosso mundo ... É por isso que as Equipes de Nossa Senhora nos oferecem meios, toda uma rica pedagogia, para nos ajudar. Mas essa pedagogia não é um fim em si mesma. Ela nos foi dada para nos tornar aptos ao serviço concreto que o Povo de Deus espera de nós. Essa pedagogia repousa sobre três pilares: - orientações de vida, - pontos concretos de esforço, - uma vida de equipe. É do primeiro deles, as orientações de vida, que gostaríamos de falar-lhes, hoje. Elas são um caminho pedagógico para chegar a viver plenamente a espiritualidade conjugal. A espiritualidade nos chama a viver todas as realidades de nossa vida segundo o Espírito, na busca da vontade de Deus. Ela nos pede também que tomemos nossa vida conjugal entre as mãos e escolhamos para ela, de comum acordo, orientações sucessivas, mas o Movimento também pode sugerir, propor, oferecer alguns caminhos a seus membros. As orientações nos mostram os aspectos de nossa vocação cristã, das atitudes evangélicas, para nos permitir aprofundá-las e trabalhá-las, durante alguns anos, em casal e em equipe, e assim encarná-las nas nossas vidas de casai, gradualmente. Tradicionalmente, o Movimento exprime essas orientações através de frases do Evangelho e as apresenta ao término dos Encontros Internacionais. Após o último Encontro, em Lourdes, depois de um profundo discernimento sobre as aspirações das Equipes e de um fervorosa invocação ao Espírito Santo, o Movimento não quis propor uma orientação muito concreta mas antes provocar, com o documento "Segunda Inspiração", uma reflexão de fundo em todos os níveis: cabia a cada casal, equipe, setor, região ou super-região parar, interrogar-se, "encontrar o impulso interno" do carisma das Equipes de Nossa Senhora e deixar-se renovar pelo Espírito Santo. Muitas iniciativas, bastante criativas, surgiram nos diferentes países. Outras foram propostas pela Equipe Responsável Internacional a todo o Movimento. CM Setembro/94 - 9


Mas as aspirações que tínhamos não foram saciadas. Vocês não sentem que a porta continua aberta, que devemos transpô-la e caminhar com mais determinação? O espírito da Segunda Inspiração alcança uma nova etapa. "É chegado o momento de propor-lhes, para os próximos anos, uma orientação ao mesmo tempo muito precisa e muito ampla pois ela procura abrir a espiritualidade conjugal à missão. Ela pode ser resumida nos seguintes termos: "Convidados às bodas de Caná", e se apóia em frases extraídas do Evangelho de São João: "Eles não têm mais vinho" "Fazei tudo o que ele vos disser". "Enchei de água as talhas". "Eles não têm mais vinho"

É Maria que nos fala. Ela nos ajuda para que nos contemplemos e olhemos o que acontece à nossa volta, com um realismo desarmante e terno que toca de muito perto a experiência de nossa vida de casais, de nossa vida de leigos. Maria nos pede primeiro que paremos, que nos contemplemos, que nos escutemos, para que possamos perceber qual "o vinho" que falta na nossa relação conjugal e na nossa família : será o vinho do amor tornado insosso pela rotina da vida? ou o vinho da compreensão que nos pede uma escuta renovada? será o vinho do perdão para fazer renascer o que estava perdido? ou o vinho da esperança e da alegria que têm sua fonte fora de nós mesmos? ... Maria nos convida a sair de nós mesmos, de nossas organizações bem controladas, de nossas opiniões já prontas, de nossas seguranças bem estabelecidas e a nos aproximarmos dos outros, a olhar, a escutar, a partilhar uma boa nova, a "sofrer com", a não fecharmos os olhos às carências que constatamos. O que falta na nossa equipe, no Movimento ou na Igreja: será o vinho da amizade que está sempre pronta para um novo esforço? ou o vinho da gratuidade que não espera recompensa? será o vinho do serviço que não almeja nenhum poder? ou o vinho da comunhão que faz desaparecer toda e qualquer divisão? ... Que "vinhos" faltam no nosso mundo? Não esperemos que alguém nos peça. Cabe a nós estarmos atentos à realidade que nos cerca. É com um olhar de amor que nós descobrimos o que está faltando: será o vinho do amor a ser constituído para tantos casais jovens? ou o vinho do amor para regenerar e reafirmar após as crises? será o vinho da proximidade e da presença diante do afastamento e do medo? ou o vinho da solidariedade para compensar tanta indiferença? ou o vinho da paz e da justiça para salvar o mundo da morte? .. . 1 O - CM Setembro/94


"Fazei tudo o que ele vos disser". Maria nos ensina também que não devemos agir cegamente ou segundo nossos critérios, mas sim escutar o Senhor e agir de acordo com o que Ele pede de nós, pois é o único que pode mudar nossa pobre água em vinho.

É um grande apelo à oração, à escuta da Palavra de Deus para descobrir o que Ele nos diz, um apelo a saborear, a ruminar essa Palavra e fazê-la encarnar-se na nossa vida. É um grande apelo à oração sem a qual não podemos descobrir qual é o "nome" que o Senhor nos dá, o "nome" que nos indica em que parcela de sua vinha Ele quer que trabalhemos. É também oração, deixarmo-nos dirigir pelo Senhor. Ser formos nossos próprios guias, multiplicaremos nossos esforços e a amplitude da tarefa nos esmagará. Se o Senhor é o pastor, é Ele que renovará o que fizermos, por caminhos inesperados. "Enchei de água as talhas". A água que vamos trazer, nós o sabemos, não é grande coisa mas, sem ela, o Senhor não poderá agir pois Ele fez uma opção: a opção de se encarnar na história, de começar sempre da terra, de se apoiar no trabalho dos homens, de nos associar à sua obra de redenção. Neste Encontro de Fátima, acabamos de celebrar uma festa como a das bodas de Caná. Jesus e sua mãe nos acompanharam. Para muitos de nós, o vinho "começava a faltar". No mais profundo de si mesmo, cada um sabe como o Senhor reaqueceu nosso coração com um "vinho novo". Pelo nosso sacramento do matrimônio, nós fomos "convidados para as bodas de Caná". Hoje, somos convidados de novo. As bodas de Caná não terminaram. E o diálogo de Jesus e sua mãe se repete até o infinito, em todos os cantos do mundo. Muitos outros casais não puderam vir: casais de nossa equipe, de nosso setor, casais de nosso país, casais que não pertencem ao Movimento, casais que buscam alguma coisa, casais que se sentem sós e que se sentem perdidos. Estamos aqui porque fomos convocados. Fomos testemunhas privilegiadas de uma caminhada de amor, de fé e de esperança. Os outros esperam que nos lhes levemos a mensagem. Não temos o direito de deixá-los de fora, de não convidá-los a participar destas núpcias. Pelo nosso batismo, pelo nosso sacramento do matrimônio e graças ao Movimento temos recebido muitos ''talentos" dos quais muitas vezes nem suspeitamos. E não os descobriremos se não os fizermos frutificar. Não podemos enterrá-los pois eles nos seriam tirados. Porque fazemos parte das Equipes de Nossa Senhora, temos uma missão específica na construção do Reino de Deus. Não é com medo, mas com a confiança de servos fiéis que deveremos prestar contas, um dia, de tudo aquilo que nos foi dado. Fátima, 23 de julho de 1994. Álvaro e Mercedes GOMEZ-FERRER Equipe Responsávellntemacional

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Na sessão "a ECIR conversa com vocês" da Carta Mensal de julho, falamos do caminho que levou o Movimento de Lourdes a Fátima, e até dissemos que ele revolucionou a geografia. Agora, novos caminhos se abrem e nos convidam a irmos

DE FÁTI MA AO ANO 2000 Foi assim que Padre Olivierfinalizou o Oitavo Encontro Internacional das E.N.S., convocando-nos para pegarmos nossos filhos e corno famílias irmos ao Encontro do mundo para transformá-lo de maneira que possamos oferecer às gerações do próximo século, um legado de paz e de felicidade. Suas palavras fizeram que todos unidos pelo mesmo ideal, esquecessem as diferenças de línguas e costumes e aderissem ao mesmo projeto. Mostraram sua adesão levantando e balançando os chapéus e um verdadeiro mar branco se espalhou pela eSRianada de Fátima. Éramos cerca de 5500 pessoas provenientes dos cinco continentes que vibramos ao percebermos a catolicidade das E.N.S. e a sua força. Para os 508 brasileiros mais uma emoção foi somada a esse momento: Cidinha e lgar, assumindo a direção internacional do Movimento afirmaram em cinco línguas: "Somos servidores do Senhor" e foram saudados pelas nossas cores verde e amarelo e por aquela música que diz tanto dos povos deste lado do mundo- "Mãe do Céu Morena". Foram dias de profunda reflexão, oração e celebração cujo ponto central foi a consciência que o Movimento agora toma de que nós, casais aquipistas, somos o núcleo de famílias cristãs que têm a missão de evangelizar-se e evangelizar as demais famílias do mundo; consciência de que a espiritual idade conjugal deve ser fonte da espiritualidade familiar e nesse sentido lança a Orientação de Vida

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para os próximos anos: "Convidados às Bodas de Caná" que nos coloca no coração da Missão através de seus três enfoques: Ver. "Eles não têm mais vinho" Julgar: "Fazei tudo o que Ele vos disser'' Agir. "Encheias talhas de água". A orientação que cada um de nós recebe pela "Carta de Fátima" precisa ser bem compreendida, partilhada na equipe, no setor e nas nossas famílias. Para isso, já se encontra à disposição de todos no Secretariado, um texto para auxiliar a nossa reflexão, oração e celebração. Esta Carta Mensal especial procura por em comum os Atos de Fátima, isto é, muito do que foi lá refletido e que culminou com a Orientação de Vida. Lê-los com cuidado vai colocar todos em sintonia, prontos para darmos à missão todo o empenho que o Espírito nos pedir. Finalizando, gostaríamos de lhes dizer que cada um de vocês, suas famílias, suas equipes estiveram presentes no Encontro e que cada sonho, cada dor, cada dificuldade, cada alegria foram apresentadas à Senhora de Fátima que as recebeu em seu coração de Mãe. Por isso recebam agora de volta toda a esperança que lá colhemos, toda a certeza de que este é o compromisso que o Senhor quer que assumamos como Movimento neste final de século e toda a graça que Maria oferece aos que amam Seu Filho. Um grande abraço. Beth e Romolo (casal Responsável da EC/R)


E. N.D. ESPECIAL FÁTIMA/94

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Encontro, comunhão, coparticipação, oração. Difícil traduzir em palavras o que foi o VIII Encontro Internacional das ENS realizado em Fátima, Portugal, de 18 a 23 de julho de 1994, reunindo cerca de 5500 participantes (dos quais 508 do Brasilj. Na chegada, no dia 18, dirigimo-nos aos locais de hospedagem onde encontramos todo o material do Encontro, cada um na sua língua respectiva e os pequenos chapéus brancos que usaríamos durante todo o evento. À noite (ainda clara) dirigimonos à esplanada do Santuário para o Acolhimento, Terço e Pro-

cissão, presididos por O. Serafim Ferreira e Silva, Bispo de LeiriaFátima. Após as palavras de acolhimento, a recitação do Terço com o 1° mistério em alemão, o 211 em inglês, o 3° em italiano, o 4° em espanhol e o 5° em francês. Após cada mistério entoava-se o cântico do Encontro BEA TAM ME DISCENT OMNES GENERATIONES e ao final do terço o SALVE REGINA. Encerrando a cerimônia, palavras de exortação de D. Serafim e a procissão das velas com a imagem de Nossa Senhora e cânticos de Fátima.

CARTA DE ACOLHIMENTO Queridos Amigos, Desde o ano de 1954 que, em cada período de 5 ou 6 anos, as Equipes de Nossa Senhora no mundo inteiro são convidadas a encontrar-se: eis-nos reunidos em Fátima para o VIII Encontro Internacional. Acontece que este encontro coincide com o ano de 1994, o qual foi promulgado pela ONU como o" Ano Internacional da Família", iniciativa esta acolhida e seguida pela Igreja. Esta feliz coincidência explica a razão pela qual as Equipes de Nossa Senhora - movimento de Igreja - tenham escolhido a Família como tema deste encontro bem como do ano de preparação: "Ser Família Hoje na Igreja e no Mundo". Se o casal é de fato o coração de sua família, e se a família cristã pretende viver uma verdadeira espiritualidade evangélica, então o nosso Movimento tem a sua responsabilidade na construção do Reino de Deus no mundo, uma responsabilidade muito particular dada a própria dimensão familiar do Reino de Deus.

É com a finalidade de partilharmos essa responsabilidade, de nos convertermos individualmente e em casal, de renovarmos a nossa esperança, 14 - CM Setembro/94


que viemos dos quatro cantos do mundo para nos reunirmos em torno da Virgem Maria, nossa Mãe e Mãe da Igreja. O Movimento organizou este encontro em Fátima, esta pequena vila de Portugal, onde Maria quis aparecer aos mais pequenos, àqueles que possuem um coração de criança, um coração aberto à subordinação da vontade de Deus. Os nossos amigos das Equipes portuguesas são os anfitriões deste encontro organizado com os responsáveis do Movimento após um longo trabalho, num espírito colegial, e cheio de grande entusiasmo e generosidade. A Equipe Responsável Internacional, que vos convocou para este encontro das Equipes de Nossa Senhora, saúda-vos e acolhe-vos assim, com muita Alegria. EQUIPE RESPONSÁVEL INTERNACIONAL

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Álvaro e Mercedes GOMEZ-FERRER (Espanha) Alberto e Maria Almira RAMALHEIRA (Portugal) Peter e Dorotea BITTERLI (Suíça)

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Benoit e Marie-Odile TOUZARD (França)

lgar e Cidinha FEHR (Brasil)

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Antonie e Marie-Magdeleine BERGER (França)

Pe. Bernard OUVI ER (Bélgica)

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HOMILIA DE ACOLHIMENTO Não vou dizer que Fátima e Família têm 4 letras em COMUM e que o 4 é simbólico de convergência e totalidade. Nem repetirei o lugar COMUM de que a Mensagem de Fátima é o Evangelho e toda Bíblia desde Génesis até ao Apocalipse, em todas as suas páginas apela para a Família. "1

Também não pretendo resumir a

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_ , POR-EM-COMUM, isto é, partilhar valores na fraternidade e na

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nhar que de fato e com afeto a instituição da Família aparece na vida dos pastorinhos, nas aparições e em toda a Pastoral de Fátima.

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a) Os 2 irmãos Francisco e Jacinta eram primos da Lúcia. Com os Pais, os parentes e os vizinhos '"~ constituíam uma Família alargav da, com dimensões concêntricas e ~- ritmos de sístola e diástole. Sabemos que são hoje diferentes os diversos tipos do possível agregado familiar, pois não estamos em 1917 e Aljustrel não é Usboa.

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b) Nas imagens e nas palavras do acontecimento global das aparecem a Família Trinitária e a Família de Nazaré; o vínculo da Unidade é o Amor. c) Por sua vez o Santuário de Fátima é uma casa COMUM da Grande Família de muitos irmãos, que escolhem Maria como Mãe e 16 - CM Setembro/94

Rainha de uma civilização do Amor. Todos os peregrinos têm em COMUM e partilham a mesma Fé; manifestam e desejam o propósito de imitar JOÃO, herdando e recebendo Maria em sua CASA. Toda a Pastoral de Fátima, nas suas infra-estruturas e nos seus planos, gira à volta destes 2 pivôs: acolhimento e recolhimento. Procura acolher quantos convergem para a Capital Mariana do mundo, buscando Algo e Alguém. E esforça-se por que haja silêncio, interioridade, encontro, reconciliação e paz. Esta é a palavra que nasce no coração e se toma sensível numa bandeira invisível multiplicada nos lenços brancos que acenam e chamam o REGRESSO ADEUS. Fátima é fonte e berço de Amor! Fátima é porto de abrigo e altar de consagração para a comunhão! Fátima é Santuário de encontro e de paz. ... E, deixai que vos lembre, em Fátima, que o segredo da Felicidade é a FIDELIDADE. E que a beleza e a riqueza da vossa Fidelidade gerem por osmose sacramental a felicidade dos outros, que são da nossa Família e nossos irmãos. Que Maria, nossa irmã e nossa Mãe, nos ajude. Amém! D. Serafim Fe"eira e Silva Bispo Leiria - Fátima


Manhã de 3' feira, dia 19. Concentrados na Cruz Alta (extremidade oposta à Basílica, na grande esplanada), a impressionante procissão das bandeiras de todos os países presentes ao Encontro, até a área defronte à Basílica para a cerimônia de abertura e celebração da Santa Missa pelos mais de 300 Sacerdotes presentes e presidida por Sua Eminência D. Antonio Ribeiro, Cardeal Patriarca de Lisboa. Seguindo-se à celebração, a conferência do Pe. Manuel lceta (ex-conselheiro da Super Região Espanha) sobre o tema

"Para uma Espiritualidade da Família". Após o almoço e preparação em casal, a primeira "Reunião de Equipe" agrupando os casais conforme os locais de hospedagem. Início de fortes momentos de comunhão, coparticipação, oração, partilha e troca de idéias sobre os temas propostos, sendo o do primeiro dia "O projeto de Deus para o Casal e a Família". À noite, após orientação de Cidinha e lgar, o "Dever de Sentar-se" realizado pelos casais participantes.

SAUDAÇÃO DE ABERTURA PELA ERI Caros casais das Equipes de Nossa Senhora, queridos Conselheiros Espirituais, jovens amigos: Estamos todos aqui por que respondemos a um apelo do Senhor através do nosso Movimento. "Escuta", "sai" , "levanta-te", "vem", são as palavras que se repetem nas Escrituras. Saímos dos nossos países e das nossas casas. Eis-nos em Fátima, depois de ter ultrapassado as dificuldades da primeira e da última hora. Nesta bela terra de Portugal, vamos celebrar uma festa da família, vamos viver um encontro de conversão. É, em nome da Equipe Responsável Internacional e com uma alegria profunda que os acolhemos neste local abençoado por Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja. Os casais, membros da ERI, que vamos anunciar vão chamar os equipistas dos diferentes países do mundo onde o Movimento está implantado. Com esta cerimônia, abrimos o Oitavo Encontro Internacional das Equipes de Nossa Senhora Desejamos que todos abram o coração ao sopro do Espírito Santo. À/varo e Mercedes Gomes-Fe"er

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O PROJETO DE DEUS SOBRE A FAMÍLIA 1. Enquanto Presidente da Eucaristia que agora celebramos, desejo saudar muito cordialmente todas as pessoas que nela participam. Saúdo com especial afeto os membros do Movimento das Equipes de Nossa Senhora que, neste Santuário de Fátima, realizam o seu VIII Encontro Internacional. Conheço o Movimento, desde há vários anos, e sei quanto ele tem contribuído em numerosos países, incluindo Portugal, para uma maior dignificação e vivência cristã do Movimento e da Família. 2. A Palavra Divina da Escritura, hoje ouvida nas Leituras e no Evangelho (Gen 1,1-31 ; Ap. 7,112; Mt. 5,1-12), fala-nos do grande Projeto de Deus sobre a Família. Encontram-se ali claramente desenhados os traços essenciais desse projeto e estou persuadido de que os membros das Equipes de Nossa Senhora já muitas vezes fizeram deles o objeto de sua reflexão. Todos sabemos que, no desígnio de Deus Criador e Redentor, a Família surge no mundo como um reflexo vivo, uma imagem fiel do próprio mistério de Deus Uno e Trino. Logo ao criar o homem à Sua Imagem e Semelhança, Deus fê-lo Homem e Mulher, masculino e feminino, numa recíproca complementaridade estrutural de funções, quer no que respeita à ajuda mútua a prestarem um ao outro, quer no que toca à missão de

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transmitirem e cultivarem a vida humana sobre a terra. Não era bom que o homem estivesse só, à maneira de um nômade, isolado do convívio de uma relação plural e diferenciada com um ser semelhante a si. Por isso Deus o criou Homem e Mulher, para que ambos formassem uma só carne, vivendo a comunhão profunda do Amor no seio da Família e colaborando ativamente com o Criador na germinação da Vida Humana e no seu desenvolvimento. Esta comunhão íntima de Amor e de Vida alcançou a sua dimensão mais plena e carregada de sentido, quando Jesus Cristo a assumiu e fez dela um sinal, um Sacramento, da Sua doação amorosa à Igreja. Em Cristo Jesus, a Família Cristã tomou-se Igreja em miniatura, Igreja Doméstica. O ideal cristão do Matrimônio e da Família é, sem dúvida, uma realidade magnífica, um projeto apaixonante, no qual os discípulos do Senhor se devem sentir comprometidos. 3. Constitui um projeto nunca totalmente realizado. Se é certo que existe um ideal Cristão de Família, também é verdade que não há Famílias Cristãs Ideais. Em maior ou menor grau, todas se encontram marcadas pela usura dos tempos e pela negatividade do pecado. O que distingue a Família não é uma situação idílica de ausência de problemas e dificuldades. É,


antes, um certo espírito de tensão permanente na busca gradual do melhor e do mais perfeito; e é a certeza firme de que, em Jesus Cristo Ressuscitado, o pecado e a morte já foram vencidos e, por conseguinte, se estivermos radicados n'Eie, seremos capazes de entrar no dinamismo do Amor até o fim. O projeto cristão de Família é um projeto novo, feito para Homens e Mulheres novos, nascidos da Páscoa de Jesus. Supõe o propósito sincero de viver, segundo critérios evangélicos, aqueles valores especificamente cristãos que o Senhor nos deixou consignados no sermão das Bem-Aventuranças. Supõe, numa palavra, o esforço contínuo para alcançar a Santidade, vocação comum de todos os discípulos de Jesus, solteiros ou casados, Sacerdotes, Religiosos ou Leigos.

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Entende-se que o mundo velho e caduco tenha dificuldade em compreender e aceitar um tal projeto novo de Família. Cabe, por isso, aos casais e às Famílias Cristãs dar testemunho de que esse projeto não só é viável, como também representa uma excelente forma de realização pessoal e social. O Movimento das Equipes de Nossa Senhora tem ajudado muitos Casais a viver e a testemunhar a realidade cristã do Matrimônio e da Família. Dou Graças a Deus convosco por todo o bem que tendes realizado e, por intercessão de Santa Maria, Nossa Senhora de Fátima, peço ao Senhor continue a conceder-vos abundantes Graças e Bênçãos. D. António Ribeiro Cardeal Patriarca de Lisboa 19 de Julho de 1994

PARA UMA ESPIRITUALIDADE DA FAMÍLIA

~Nações

~~:oduç:;cilio

~~~~~ ano da graça de 1994 fosse "0 Ano Internacional da Família" Unidas quiseram

no mundo inteiro, para chamar a atenção de todos os povos para esta pequena célula a partir da qual se cria toda a sociedade porque a sociedade e os povos serão aquilo que a família for. Desde o princípio que a Igreja aderiu entusiasticamente a esta iniciativa. Nem poderia ser de outra forma. A Igreja existe desde o momento da Encarnação, diz o

Vaticano 11. A Encamação realizou-se num lar, o de Maria e José. A Igreja foi criada numa família e, ao longo dos tempos, foi-se expandindo por toda a parte através da família. Falar da Igreja é falar da família em todas as suas dimensões. E, reciprocamente, para nós cristãos, dizer família é dizer Igreja. São inseparáveis. As Equipes de Nossa Senhora, "unidas ao Pai, em íntima comunhão com a Igreja e totalmente abertas ao mundo" também aderiCM Setembro/94 - 19


ram a esta iniciativa. Demos graças a Deus por isso. Todas as Equipes do mundo, durante este ano, trabalharam o tema da família com resultados indubitáveis. E aqui, em Fátima, aos pés de Maria, eis-nos reunidos em assembléia extraordinária, convocados igualmente pela família. Neste fim de século e de milênio, queremos renovar a nossa fé, aumentar o

nosso amor, redobrar a nossa esperança e proclamar que a paz e a justiça nascem na família, assim como tudo o que pode ajudar o mundo a caminhar para a sua plenitude. Nos momentos de desencanto, queremos trazer uma nova luz para descobrir os sinais dos tempos e os desígnios de Deus.

Espiritualidade conjugal e familiar Quando um homem e uma mulher se unem pelo sacramento do matrimônio, criam uma família, independente de virem ou não a ter filhos. Uma nova célula vem unirse à trama a parir da qual se forma a sociedade e, de um modo especial, a Igreja. Cria-se uma família porque o amor é irradiante e é necessariamente fecundo. Exige uma participação ativa e estende-se a todos os que rodeiam o casal. Tal como ao plantar uma semente se pensa no fruto que ela contem e que será· colhido no verão, assim também marido e mulher possuem em si o potencial de uma imensa fecundidade. Cria-se uma família porque Jesus Cristo encama no sacramento. Homem e mulher transformamse em sacramento, presença real de Jesus Cristo vivo. Um para, o r Q.Utro, ambos para o mund_g. Os esposos são uma presença específica de Cristo no meio dos homens e mulheres de cada época da história. E Jesus Cristo encarna-se neles para continuamente se dar como oferenda ao Pai, para

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salvação de todos, até ao fim dos tempos. Esta presença específica dos esposos vive-se na espiritualidade conjugal. E encontramo-nos perante a primeira dificuldade. A palavra espiritualidade provoca uma certa desconfiança pois pode parecer vazia de conteúdo e referirse a um conceito pouco definido e afastado da realidade da vida. No entanto, é uma palavra cheia de sentido. Significa antes de mais aquilo que orienta as nossas vidas, as nossas referências de base. Significa sobretudo a aceitação do Espírito de Deus nas nossas vidas. Existe portanto uma espiritualidade conjugal que orienta a vida dos casais. As Equipes de Nossa Senhora dão-vos os meios para a adquirir e desenvolver. Mas poderemos também falar de uma espiritualidade familiar? Falar de espiritualidade familiar, é falar de dimensão específica da espiritualidade conjugal: a da fecundidade ... É falar de uma única e mesma realidade, vista de ângulos diferentes. Quando dizemos


que Deus é UNO e TRINO, falamos de duas visões distintas de um único e mesmo Deus. O espírito humano é limitado e tende a simplificar, perdendo a noção da globalidade. A espiritual idade conjugal encerra em si a espiritualidade familiar. Se assim não fosse, ficaria mutilada no que lhe é mais específico: a fecundidade. As Equipes de Nossa Senhora, "peritas" em espiritualidade conjugal e entre-ajuda - é este o seu carisma, o dom de Deus que lhes é próprio - são inevitavelmente "peritas" em família. Poder-se-ia entender um amor entre esposos cristãos que não fosse fecundo? Poder-se-ia chamar cristãos aos esposos que se encerrassem na sua dualidade, num egoísmo a dois ou em compromissos externos, mesmo que importantes, deixando de se preocupar com os filhos? Não! Pediram-me que falasse da espiritualidade familiar à luz daquilo que nos é próprio, a espiritualidade conjugal. Contemplei Maria e José. Como esposos e como pais -criadores da primeira família que foi Igreja- sempre me inspiraram. Há quem pense que não podem servir de modelo: "é um casal especial". E eu pergunto: qual é o casal que, à sua maneira, não é especial? Cada casal é único. Mas sãÓ as atitudes de Maria e José face aos acontecimentos, as suas referências na procura da \ vontade de Deus, numa palavra o seu estilo ..., que nos podem inspirar, que podem fazer-nos mudar para que, como eles, tornemos

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possível a Encarnação de Jesus em nós através da fé, para depois o darmos ao mundo como oferenda. Gostaria que essa atitude de encarnação de Jesus em nós e de ·oferenda pessoal fosse ponto central desta conferência porque se trata da atitude mais importante da espiritualidade conjugal. Sabemos que os filhos podem seguir as suas vidas pQr camint10s diferentes dos pais mas a.re~on­ sabil idade dos pais está não no sucesso 011 insucesso aparentes-aacaminhada dos seus filhos mas sim no dom que fazem de si pró~ prios ocupando-se dos seus filhos. Tãmbém sabemos que os trabalhos e os compromissos podem não ter, à primeira vista, uma eficácia quantificável mas que o nosso contributo para o plano salvífico de Deus, é a oferenda pessoal, Deus recebe-a e transforma-a. Porque "a salvação vem-nos de Deus". É assim que Jesus Cristo a viveu. Ele poderia ter, talvez, realizado atos mais surpreendentes durante a sua vida mortal. É a sua oferenda que nos salvou. "Apesar de Fi Iho de Deus, aprendeu a obedecer, sofrendo, e uma vez atingida a perfeição tomou-Se para todos os que lhe obedecem fonte de salvação eterna" (Heb. 5,8-9). Vou fazer uma dupla reflexão: A.- Uma reflexão concreta sobre a vida no lar. A referência será a oração de Maria Imaculada. 8.- Uma reflexão mística sobre o amor total, sobre a família vivida como vocação. A referência será Maria aos pés da cruz de seu Filho. CM Setembro/94 - 21


A.· A vida no lar Como acabei de referir, vamos considerar em conjunto a oração de Maria. Mas podereis perguntarme: o que é que existe de comum entre a oração de Maria e a vida de família? A resposta à primeira pergunta parece bem simples; nos dois casos - o oração e a vida em comum -referimo-nos à nossa maneira de entrar em relação com os outros: à maneira de nos relacionarmos com a nossa família e com quem nos rodeia, à maneira de nos relacionarmos com Deus. Por muito duro que isso possa parecer, é evidente que aquilo que eu sou, a minha realidade, se I mantem quando entro em relação · com Deus e com os outros. Não ' podemos iludir-nos e pensar que mantemos excelentes relaçóes_com Deus e que, se as nossas relaçoes com os outros são dificeis, a culpa é dos outros ... Se sou uma pessoa que escuta, que acolhe, que elogia, que dá sentido à sua oferenda, ... eu sou tudo isso perante os outros e perante Deus. Sou de fato essa pessoa. E Maria? As atitudes de oração daquela que foi Mãe de Deus poderão ajudar-nos a orientar a espiritual idade da nossa vida de família? Poderíamos ser tentados a pensar que Aquela que chama ao Seu Deus "Meu Filho" se encontra excessivamente distante da nossa realidade terrestre. Ou então, passando de um extremo ao outro, poderíamos limitar-nos a fazer belas suposições sobre a forma 22 - CM Setembro/94

como Maria viveu o Seu encontro amoroso com Deus. Mas o caminho não foi fácil para a Mãe de Jesus. Parece evidente que a ORIENTAÇÃO da sua vida se baseou naquele "fiat" inicial. Mas discernir a vontade de Deus sobre Ela ao longo de sua vida e viver em consonância com essa vontade, foi sem dúvida, difícil e por vezes doloroso. A Sua relação com Deus foi marcada por uma profunda evolução. Percorreu, sem dúvida, um longo caminho desde o seu "Eis aqui a escrava do Senhor", até lhe chamar "Filho", porque era sua mãe, e tomar consciência de ser mãe da humanidade, mãe da Igreja e esposa do Espírito. A força motriz da vida de Maria assenta sobre este "faça-se em mim segundo a Tua palavra". Submeter a Sua vida à vontade de Deus foi o que a fez estar atenta à Sua palavra, a guardá-la no seu coração, a saboreá-la e por fim a pô-la em prática. A Sua paixão foi discernir a palavra, a vontade de Deus sobre si própria, para a pôr em prática. Escutar, guardar, meditar, pôr em prática: toda a Sua vida passa por estas palavras, numa coerência profunda entre a oração e a vida. Rezando a sua própria vida para que a oração iluminasse o seu caminho. Na minha vida, tive ocasião de constatar que muitos homens e mulheres, conscientes ou não, não sei, na simplicidade das suas vidas, escolheram este caminho. Maria, esposa e mãe, primeira leiga da Igreja,


levou uma vida simples na Sua casa, na Sua aldeia, sempre perto de Seu Filho, uma vida semelhante à de muitos de nós... A partir do que Maria era na Sua relação com Deus, não me parece temerário tentar deduzir o que foi a Sua existência quotidiana com os outros, afim de podermos encontrar aí uma luz que inspire a nossa caminhada conjugal e familiar e descobrir uma maneira de transformarmos a nossa existência tendo em linha de conta as nossas especialidades. O Seu caminho pode ser o nosso. A Sua evolução pode ser a nossa. Também nós vivemos a nossa vida familiar como um processo, por vezes difícil, que nos amadurece pouco a pouco, que nos abre aoª-., ·,outros, um processo que nos conduz à dádiva, Maria não centrou a razão de ser da Sua vida em si mesma. Encontrou-a em Deus e nos outros. Fiel ao seu Esposo, ao seu Filho, aos discípulos com os quais permaneceu até o fim, ajudando-os na missão que lhes fora confiada, Maria empenhou-se no bem dos que a rodeavam. Deixou-se vencer. "A espiritualidade é menos uma ~uestão de ésforço que de renúnêíã" djz-nos Antomo de Mello. Para nós como para muitos de nossos contemporâneos, a grande dificuldade está aqui. Não queremos deixar-nos vencer, não assumimos a dependência. Calar o nosso ego, conseguir o seu silêncio, parece-nos impossível. Mas é aqui que está o segredo: não é possível conviver em paz, se não se compreender

esta realidade. Quantos casais demoram anos ã compreender quê o amor é simplesmente isso: querer tornar o outro f · I aria foi um ser introspectivo, que escutava, guardava e saboreava. No silêncio do seu coração, pode assim acolher a realidade que a envolvia. Muitas vezes, sem a compreender, sem atingir o seu alcance, mas com uma confiança ilimitada a ue e em ue on 1ava. A dor não a abateu. A sua te, o seu "creio em ti" sustevea. Manteve-se forte aos pés da cruz e até o fim da sua vida. Contrariamente aqueles que vivem "para o exterior", dependentes do "parecer bem", de tantas aparências vãs.._do que se diz ou '1laõ se diz, desejosos de afirmar o seu -poder, ... tão facilmente derrotados pela falta de força interior, tão instáveis, tão incoerentes, tão exigentes para com os outros, contrariamente a estes, os casais que vivem "para o interior" recolhem como primeiro fruto dessa atitude a serenidade que toma possível o crescimento equilibrado dos seus filhos, a maturidade do amor conjugal. Maria viveu uma relação sem culpa e como tal não culpabilizante. Que estranho nos parece isto! Contudo, na liturgia, dizemos que "Deus ama a inocência e a restitui a quem a perdeu". Talvez Deus queira que as nossas relações com Ele sejam suficientemente adultas para superar a culpabilidade. É certo que Maria viveu o privilégio da sua concepção imaculada. Mas também é certo que vivemos o privilégio e a certeza de

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nos sabermos perdoados, de saber que esse perdão nos transforma e nos redime: tudo pode voltar a ser como antes na nossa relação com Deus e, se o desejarmos, em todas as nossas relações. A nossa cultura é propícia à cuJA pabilização dos outros. EncontraH mos sempre um culpado, a culpa é sempre dos outros, e ficamos muito tranqüilos. Existem casais que se culpabilizam constante:. rTleííte um ao outro, em vez de assum1r em coniunto as aleQrias e às âíflculdades, os erros e as fallias, em yez de tentar remedi.á-.los.-e corriQi-los, sem comentflrins m~ -

~ Sempre que, por exemplo, escutarmos a confidência de uma criança e sentimos essa dor profunda de quem se considera culpado de coisas tão insólitas como simples defeitos físicos ou incompreensão mútua dos seus pais, perguntamo-nos o que poderá terse gravado no coração desta criança, o que terá ela ouvido, para a levar a dizer um dia "foi por minha culpa". E depois ouvem-se pessoas dizer que não sabem o \ que é a regra de vida ou que não sabem qual escolher... Seria um bom tema para nos questionarmos e prestar atenção às mensagens que par vezes transmitimos inconscientemente, a fim de nos corrigirmos ... Maria exerceu a sua autoridade. Nada mais surpreendente do que a resposta de Maria às palavras de Jesus em Caná: "Que temos nós com isso, mulher?". A sua resposta "Fazei tudo o que Ele vos disser" impressiona. Uma criatura, 24 - CM Setembro/94

mesmo sendo sua mãe, obriga o Filho de Deus a agir. Não lhe diz como deve fazer, mas obriga-O a agir. Desconcertados num mundo de excessiva permissividade, temos de compreender que os filhos precisam que os pais sejam verdadeiros pais e que exerçam a sua autoridade, de acordo com as várias fases de crescimento. Sem, contudo, cair no extremo absurdo do autoritarismo. É-nos difícil encontrar o equilíbrio entre estes paios opostos. Creio que as Equipes, na sua dinâmica, oferecem os elementos necessários para esse equilíbrio. Maria viveu uma dádiva pessoal o "Faça-se em mim" ... A sua vida atingiu um sentido total na doação que fez do se Filho como mãe e como representante de toda a humanidade. Deixai-me citar aqui as palavra de Alejandra Vallejo-Najera, numa entrevista intitulada "A doença mais grave do mundo, é a solidão". Dizia ela: "Creio cada vez mais no poder da família, da minha família. Aconteça o que acontecer, estará sempre presente. Quero transmitir isto às minhas filhas: aconteça o que acontecer, eu estarei sempre presente. As mães etíopes e somalis alertam-me muito para esta realidade: consumidas pela fome, continuam a amamentar os filhos, razoavelmente gordin hos pelo fato de as consumirem. É uma imagem que me ficou gravada no espírito e que tenho muito presente. Não tenho dificuldades econômicas, mas quero ser como uma mãe etíope, aconteça o que acon-


tecer, mesmo que tenha de morrer, estarei sempre presente". E aqui, chegamos a um dos pontos chave da nossa vida cristã, o núcleo do espírito de família: .a. VIDA é feita para ser dadS; A vida, foi-nos dada, é um presente que nos foi dado para fazermos dela um dom cada vez melhor todos os dias. A vida é um maravilhoso intercâmbio de amor. E difícil entendê-la fora desta perspectiva.

"Deixar-me consumir como uma mãe etíope". O que é a vida de muitos de vós, se não isto? Fazerse pão que se deixa abençoar, se parte e se partilha para ser comido, como o pão da Eucaristia. O segredo está no dom de si próprio e não na dádiva de coisas que se podem comprar. Senão, onde estaria a causa da verdadeira alegria, que torna agradável e gratificante a vida em comum?

B.- O amor total

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Foi contemplando Maria aos pés da cruz que compreendi o que é o amor total. A liturgia, fala também na luz total em referência à contemplação de Deus na VIDA eterna. Compreendi então, que existia também um apelo ao "amor total" e que Maria o viveu durante toda a sua vida e de uma forma privilegiada na tarde de Sexta-feira Santa. Maria não abandonou Jesus naquele momento supremo. Esteve presente, de pé, confortando-o com a sua presença. E, naquela hora, fez a oferta do seu Filho ao Pai, na renúncia total de si própria. Celebrou a primeira Eucaristia, a primeira oferta redentora ao Pai. E ao mesmo tempo, aceitou a sua maternidade universal: "eis o teu filho", tornando-se a Mãe da Igreja, a Mãe de todos os homens. Amor total, porque deu tudo, porque não existe maior e melhor dádiva do que a oferta do Filho Àquele que é Senhor e Pai de todos; amor total pela aceitação da humanidade inteira. O amor total é o amor que tudo dá e que se

abre a todos. "Não basta dar mui- f to, é preciso dar tudo". Santa Teresa dizia que "tinha levado vinte anos para passar de um amor de conveniência a uma paixão absoluta". É esta paixão absoluta que nos faz ultrapassar os limites do nosso eu e ter um coração capaz de uma oferta total, um coração como uma família na qual todos têm lugar, tal como em Maria a grande família humana teve e tem o seu lugar. Quando nos apresentam um desconhecido, sentimos rapidamente se é uma pessoa aberta aos outros, capaz de se interessar por nós e pelos outros, esquecendo-se um pouco de si mesmo ou se, pelo contrário, centra toda a sua pessoa naquilo que é, no que tem, no que faz e no que pensa. Ter um coração conjugal, vencer o coração de celibatário significa não viver centrado em si, em função de si, mas encontrar no outro, no nosso conjunge, a nossa razão de ser, a nossa própria realização, compreender que não podemo ser um só, senão no outro, por el

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e nele. Quando o que dá sentido à nossa existência está fora dela, então começa-se a criar um coração conjugal. Mas o coração humano pode ainda, abrir-se muito mais. Pode tornar-se um coração familiar. Criado à imagem de Deus, comunidade de amor, tem a capacidade de acolher em si muitas pessoas, todas as pessoas. O coração familiar abrange todo o tipo de fecundidade: começando pelos próprios filhos, prolongando-se pelos mais próximos e chegando finalmente à grande família humana. Aquele que tem uma coração familiar é alguém que congrega, que gera comunidade. Partindo de Maria, foi-me fácil reconhecer em seguida o amor total em Jesus, a sua oferta ao Pai pelos homens, E ainda mais fácil, reconhecê-lo no coração de Deus, nosso Pai, que nos deu o seu Filho. E no Espírito, que é este mesmo amor total, amor que se faz entrega e união. E recordei pessoas. Muitas pessoas. Vi muitos pais aos pés d~ cruz dos seus filhos, muitos esposos e esposas aos pés da cruz do seu conjunge. Passaram na minha vida e deixaram a sua marca. E procurei essas pessoas a minha volta. E encontrei-as. Casais mais velhos, jovens, muitos consagrados. Pessoas como muitos de vós, que encontraram o segredo do amor total na simplicidade das suas vidas. E que na plenitude da sua vocação, descobriram o sentido último da vida. Quando o jovem rico se apresentou a Jesus para lhe perguntar 26 - CM Setembro/94

o que deveria fazer para alcançar a vida eterna, ouviu da Sua boca este apelo que se manteve ao longo dos séculos: "Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres; depois vem e segue-me". Este apelo a IR MAIS LONGE, que todo o ser humano tem o direito de ouvir na sua juventude - e que os adultos têm a obrigação de tornar possível aos mais novos é a resposta a muitas questões sobre a verdade do homem, sobre a finalidade da vida humana, sobre a santidade, sobre a forma de encontrar a felicidade, de atingir a plenitude ou, como se diz em linguagem moderna, de conseguir realizar-se. Este texto do jovem rico, foi quase sempre objeto de uma leitura e interpretação clerical. Como se se tratasse de um apelo reservado aos que abandonam tudo e se consagram à vida religiosa ou ao sacerdócio. E fala-se assim de estado de perfeição, de estado de vida perfeita. Os lejgos,-eom-as suas responsabiTidades çjy_is, não podem literalmente vender o ue ssuem e pareceriam, por esse fato, estar excluídos do apelo a IR MAIS LONGE. Trata-se, contudo, de um apelo feito a todos. E tem, também, uma leitura para os leigos, urna leitura que se enquadra na, amor total e no es írito de família. ontemplando o Pai, sede perfeitos como o vosso Pai do céu é perfeito", encontramos Nele o segredo da plenitude e da perfeição humana. De Deus, foi-nos revelado que é Criador, que é Amor e que por isso é Pai; foi-nos confiado


que é Uno e Trino, que é Família. A perfeição do Pai é a perfeição do amor que se dá, que se dá plenamente e a todos sem distinção. Criados à sua imagem e semelhança, somos chamados a ser criadores, a partir dos dons de que Ele nos deu, a ser amor, a ser uno, a ser família. Este apelo não pode ser diferente do outro apelo a IR MAIS LONGE, do "vende tudo o que tens". É o mesmo apelo que se realiza no amor total. Mas como uma outra leitura, de uma forma diferente, menos clerical e mais de acordo com o vosso mundo secular. Voltemos, também, o nosso olhar para o processo do crescimento humano. Ao nascer, qualquer pessoa tem uma necessidade imperiosa de ser amada, uma necessidade excessiva. O amor, na sua origem, é um enorme saco vazio, para poder conter um dia o amor excessivo de Deus. O ser humano foi criado para ser amado e, portanto, para amar. Ao princípio, a criança não é capaz de amar. Apenas tem necessidade de ser amada e corre o risco de ficar "ferida" no seu amor se não receber todo o amor de que necessita. As feridas são como buracos num saco, pelos quais se escapa muitas vezes o pouco amor que possuímos. Todos fizemos já esta experiência dolorosa de sentir que, quando nos atingem · nestes pontos sensíveis, parece que ficamos vazios de amor. O filho é o amor dos pais, "o nõsso amor com pernas" e começa a encher o seu saco recebendo as primeiras manifestações deste

amor. Começa a reconhecer-se, recebendo este amor dos seus pais. E reconhecer-se-á na sua existência sempre que receber amor. Por sua vez, muito cedo, começará a retribuir este amor que recebeu. "Amemos, pois Ele nos amou primeiro" diz S. João. A primeira expressão de amor da criança é o sorriso. O sorriso é sempre a primeira comunicação de amor e a sua ausência, a primeira manifestação de desamor. Existem rostos habitualmente sorridentes. E outros que nunca sorriem. Depois, a criança, na sua dependência e fragilidade, estende os seus braços para o abraço. Primeiros gestos de amor que, também, devem existir na vossa vida de esposos ... Ao amor dos pais juntar-se-á o amor dos irmãos e irmãs, dos avós, das pessoas importantes que estão à sua volta. Depois, uma forma de amor que é a amizade ... até descobrir, pouco a pouco, um amor mais profundo que a levará a dar a vida na juventude, nesse oceano do amor conjugal ou da consagração da própria vida. E, desde o primeiro instante, o amor de Deus Pai será a fonte principal, amor presente e atuante, em todos os momentos, em cada criatura. Mais tarde, será o amor pelos filhos, e pelos netos, se os houver, a amizade da maturidade, a amizade por outros casais ... É importante compreender que as diferentes formas de amor não se substituem umas às outras. O amor acumula-se. Assim, o amor CM Setembro/94 - 27


dos esposos reúne todas as formas de amor. É impossível imaginar uma amor conjugal que não sorria ou dois esposos que não sejam amigos. O amor acumulase até ao amor total, capaz de tudo dar, de conter o mundo numa har- · mania cada vez maior. Amor dis- , posto a acolher o amor excessivo de Deus. A expressão do amor total, é a bondade. "Nenhuma palavra má saia da vossa boca, mas só a que seja boa para edificar, quando for preciso, a fim de beneficiar aqueles que ouvem ... Todo o azedume, animosidade, cólera, gritaria e maledicência, se elimine do meio de vós, bem como toda a espécie de maldade. Sede bondosos, compassivos uns com os outros e perdoai-vos mutuamente ... " (Ef. 4,29 e ss). Este amor é "paciente e benigno, não é invejoso, não se ufana, não se ensoberbece, não é inconveniente, não procura o seu interesse, não se irrita, não suspeita mal, não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Nunca acabará" (1 Cor 13,1-7). Quem nunca pensou que tudo isto é utópico? Mas conhecemos à nossa volta, pessoas cuja vida é a prova irrefutável e a demonstração cabal de que o amor total existe e pode ser uma realidade. A sabedoria é a imagem da bondade porque "Ela é resplendor da luz eterna, espelho sem mancha da atividade de Deus, e imagem da sua bondade" (Sab 7,26). A sabedoria e não erudição. A sabedoria como capacidade de assimi28 - CM Setembro/94

lar e saborear a realidade e o sentido das coisas no íntimo do ser. Esta sabedoria só é possível na bondade. Só na bondade, não nos enganamos; só na bondade, CONHECEMOS o segredo da realidade humana e divina. Sabedoria, bondade, amor total e espírito de família são conceitos que coexistem, e decorrem uns dos outros, representando uma forma de encarar a vocação laica, o apelo a IR MAIS LONGE.

Nas Equipes de Nossa Senhora Ainda que brevemente, gostaria de exprimir aqui algo que sinto muitas vezes e de forma especial ao escrever esta páginas. Refirome aos mejos que as EguipêSõfê.; fecem aQ§_Bspgsgs, Não se trata apenas da beleza do seu conteúdo - até na sua redação. Quando dirijo sessões de Formação 1, gosto de repetir: "É um privilégio estar num movimento que pede este tipo de coisas". Acredito, sobretudo, que estes três meios - as orientações, os pontos concretos de esfor o eVI a e e~- despertam em nós o espírito de Maria, e nos conduzem quase insensivelmente à eseiritualidade conjugal, ao amor "tõtal, para vjyer como Ela com um "coração de família. É por isso, que as nossas equipes se chamam Equipes de Nossa Senhora. E é muito mais do que um bonito nome. Nunca deveríamos esquecê-lo. Viver uma orientação, escutar regularmente a Palavra de Deus, preparar todos os dias... um encontro como o Senhor, unir-se todos os dias ... numa oração conju-


• gal, conseguir todos os messes o tempo para um verdadeiro diálogo conjugal. .. impor-se uma regra de vida, encontrar-se todos os anos com o Senhor, pedir regularmente ... a entre-ajuda da equipe para estes pontos ... As Equipes são originais! Não pedem aos seus membros para fazer isso ou aquilo mas para começar a viver de uma outra forma, promovendo determinadas atitudes, uma verdadeira conversão para tornar possível a espiritualidade conjugal e a entre-ajuda, para desta forma seguir Jesus, para bem dos esposos e para maior glória de Deus. Não nos apercebemos talvez que cultivando "a abertura à vontade e ao amor de Deus", desenvolvendo "a capacidade de viver na verdade", aumentando "a capacidade de encontro e de comunhão" (documento sobre a partilha) nos aproximamos da vida espiritual que animava Maria. A sua missão, diferente da de Jesus e dos discípulos, foi a de tornar possível a Encarnação de Jesus e

de oferecer, depois, para salvação dos homens. Talvez que a nossa vocação nas Equipes de nos leve a identificarmo-nos com Ela: tornar possível a Encarnação de Jesus no nosso sacramento para, em seguida, O oferecermos através da nossa oferta. Cumprir esta missão pressupõe atitudes concretas. Talvez sejam precisamente essas atitudes que nos pedem as Equipes... É um sentimento pessoal. Por vezes quando alguém está muito apaixonado, vê mais do que a realidade. O meu amor por Maria e a minha paixão pela Equipes podem-me levar a ver aquilo que não é. Mas sou eu que falo e é assim que o sinto. Maria passou desapercebida na Sua verdade, um pouco eclipsada pelo esplendor do Verbo. Passou em silêncio. Como muitos de vós. Na minha pobreza, gostaria de poder dizer o mesmo.

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Mano/o lceta, s.m. Fátima, 19 de Julho de 1994.

INTRODUÇÃO AO DEVER DE SENTAR-SE 1) Na programação deste Encontro Internacional foi reservado um tempo para um dever de sentar-se. Muitos perguntarão: "Porque fazer um dever de sentar-se no âmbito de um Encontro Internacional? Não nos deveríamos ocupar durante esse tempo de qualquer coisa mais diretamente ligada a um tal encontro?" Por outro lado, numerosos casais que tomaram parte no último Encontro Internacional (Lourdes,

1988) e que, ai, marido e mulher se encontraram em profundidade, num dever de sentar-se, conservam ainda a lembrança e reconhecem todo o seu significado. 2) Nós, casais das Equipes de Nossa Senhora, comprometemonos numa caminhada de amor, que tem como ponto de partida e como horizonte de chegada o amor conjugal. Mas o amor conjugal, esse amor único, exclusivo, indivisível, é à imagem do amor de CM Setembro/94 - 29


Deus, do amor que existe entre o Pai e o Filho. O amor é um só e Deus é a sua fonte. O amor é um dom de Deus. O dom de Deus torna-nos capazes de amar como Ele nos ama. Nós crescemos nesta capacidade de amar na medida em que, correspendendo ao dom que recebemos, nos dispomos a amar o nosso conjunge e nos exercitamos no amor conjugal. A nossa vida conjugal é o espaço que nos é oferecido para nos exercitarmos no amor. A nossa vida conjugal é acolhimento do amor do outro. E a dinâmica deste amor, que vem de Deus, leva-nos a abrirmo-nos ao amor dos filhos, ao amor dos nossos irmãos mais próximos, ao amor de todos os irmãos. 3) Comprometemo-nos numa caminhada de amor. E toda a pedagogia, toda a dinâmica das Equipes de Nossa Senhora está orientada neste sentido. Toda a pedagogia das Equipes de Nossa Senhora leva-nos a viver a comunhão de amor com o nosso conjunge, o que nos prepara para viver a comunhão de amor com os filhos, os irmãos, a comunhão de amor com Deus. E cada Encontro Internacional deve constituir um tempo favorável para a vivência desta comunhão. As celebrações, as conferências, a convivência, as reuniões da equipe e em especial o dever de sentar-se, por envolver a nossa célula de base, devem levar-nos a uma comunhão mais perfeita. O clima que reina num Encontro Internacional pode favorecer o 30 - CM Setembro/94

diálogo em profundidade, tão necessário mas nem sempre alcançado. Um diálogo em que os conjunges procuram em conjunto descobrir a verdade de cada um, para a expressar face ao outro, para se acolherem um ao outro tal como são, para se ajudarem mutuamente a crescer, a superar-se Muitas vezes pensamos que já conhecemos suficientemente o nosso conjunge e ficamo-nos pela imagem que dele construímos. Uma imagem que nem sempre corresponde à realidade. Em tais circunstâncias, a comunicação entre nós torna-se difícil, porque nos dirigimos a uma pessoa diferente daquela que está à nossa frente. Não nos devemos fixar na idéia que fizemos do outro, uma vez por todas porque as pessoas mudam e evoluem. Necessitamos estar atentos para acompanhar as transformações do nosso conjunge. Necessitamos ser flexíveis, para estarmos prontos a corrigir certas idéias que fazemos a seu respeito. Necessitamos ser sensíveis para descobrir os aspectos mais desconhecidos da sua personalidade. Este tempo que nos foi reservado para um dever de sentar-se num clima de fé, de fraternidade e de esperança, sob o olhar maternal de Nossa Senhora, é particularmente favorável a um diálogo verdadeiro e profundo, em que se procura alcançar o mistério do outro, com tudo o que ele ainda encerra de desconhecido e de maravilhoso. Cidinha e lgar Fehr


DEVER DE SENTAR-SE Sugestões 1) Recomenda-se que o casal comece por fazer uma oração espontânea. 2) Em seguida sugere-se a leitura desta pequena história: Era uma vez, num país distante, um velho que sonhava entrar no Palácio do Rei. Todos os dias, durante largas horas, espreitava por detrás das grades do parque, olhando ao longe a fachada do Palácio. Um dia os soldados da guarda vencidos pela obstinação do velho, abriram-lhe as grades e deixaram-no entrar na casa da guarda. A partir desse dia ele vinha sentarse todos os dias, durante horas, num canto da sala da guarda contemplando o vaivém dos soldados. O velho morreu convencido de ter passado os seus últimos anos no Palácio do Rei, sem imaginar, que por detrás das paredes, a poucos passos do pequeno banco onde se sentava, havia salas maravilhosas, cheias de tesouros incomparáveis, que o teriam deixado atônito. Muitas vezes nos assemelhamos a este velho, relativamente ao conhecimento que temos do nosso cônjuge. Por comodismo, timidez, respeito humano, medo, pode acontecer que renunciemos

a procurar a sua verdadeira imagem e que nos fixemos sobre a "imagem" que fazemos dele, convencidos de que conhecemos a sua vida interior. Na realidade, não fazemos mais do que ficar à porta de entrada do seu mistério, parados no exterior, cravados diante da entrada, pensando estar no interior do Palácio. E privamo-nos de conhecer o que é o mais importante. 3) Por fim as pistas para orientar o vosso diálogo: 1- Criamos condições para que o outro se expresse livremente, para que ele seja "verdadeiro", sem a preocupação de agradar sempre? Como? Parece-nos importante expressar livremente os nossos sentimentos, agradáveis ou não? Porque? 2- Temos evoluído no conhecimento mútuo? -Que sinais percebemos dessa evolução. 3 - Temos estado atentos aos caminhar do outro? - Qual o maior anseio do meu conjunge atualmente? O que mais o preocupa? Qual foi a sua maior alegria nos últimos tempos. 4 - Neste momento, que gesto, que palavra, vindos de mim, o fariam mais feliz? Porque não o fazer, não a dizer... ?

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E N.D. CM Setembro/94 - 31


Iniciou-se a 4 6 feira (20. 07) com a Celebração Penitenciai, realizada na Esplanada do Santuário, seguindo-se a mesa-redonda moderada por Pe. Victor Feytor Pinto (CE da Super-Região Portuga) com a participação dos casais: Mary e Anthony Borba (E.U.A.), Mariola e Elizeu Ca/sing (Brasil), Maria Carolina e Manoel Nazareth (Portugal), Isabel

e Michel Renaud (ela Portuguesa e ele Belga), respectivamente nas áreas de psicologia, humanismo e direitos humanos, sociologia e filosofia. Após o almoço, mais uma reunião de equipe, seguida da missa no Santuário as 19:00 hs. Jantar e uma animação nas casas encerraram o programa do dia, num clima de confraternização e amizade.

CELEBRAÇÃO PENITENCIAL Casais das Equipes de Nossa Senhora e jovens, a celebração desta manhã é uma etapa decisiva do nosso encontro, para que, juntos, estejamos abertos ao Espírito Santo durante estes dias. Quem sabe se, para alguns casais, o "dever de se sentar" de ontem não os

encaminhou já para este momento de graça. apoiando-nos uns aos outros na oração quando dizemos estas palavras de penitente: "Confesso a Deus todo poderoso e a vós irmãos... ". Que esta breve meditação possa levar cada um de nós a uma caminhada pessoal.

ACOLHER A MISERICÓRDIA: UM ATO DE FÉ Como Ezequiel, ousamos dizer: "A mão do Senhor está sobre mim". Por vezes quando, no Evangelho, Jesus cura, faz um gesto, toca com a mão. Celebrar o sacramento do perdão é consentir que, através da Igreja, a mão do Senhor esteja sobre mim. Mas corremos sempre o risco de sermos atraídos pela vertigem da dúvida. É possível. Para que tentar? Na minha vida há tantas fraquezas, tantas recaídas... Algumas vezes, o casal está tão longe da primavera do noivado. 32 - CM Setembro/94

"A mão do Senhor está sobre mim" - e a palavra encosta-nos à parede: "Filho de homem, estas ossadas podem reviver?" Que ato de fé para acolher a misericórdia nesta celebração em que a Igreja é servidora do dom de Deus! Esta manhã, abramo-nos como Ezequiel à ação do Espírito consolador: "Farei descer sobre vós um sopro para que viveis". Como poderá isto acontecer? "Reconhecereis em mim o Senhor quando vos abrir os vossos túmulos".


Senhor, faço esta caminhada na pobreza. Vinde e auxiliai-me na falta de fé. Depois de teres aberto

o túmulo do teu Filho Jesus, podes abrir o túmulo do pecado em que me encontro sepultado.

SOIS CHAMADOS À LIBERDADE É um sofrimento de amor descobrir que o nosso coração está dividido, que tão dificilmente conseguimos amar. Quando se diz a uma criança que Jesus é salvador, a criança interroga-se: salvar de que? O adulto sabe, por uma experiência de vida, estas divisões interiores que levaram S. Paulo escrever aos Gálatas: "... o espírito opõe-se à carne". Ele constata: "vós não fazeis o que quereis" (Gal5-7). Celebrar a reconciliação, é ouvir de novo o apelo à liberdade. Pela

esperança recusamos a divisão interior do coração. Esta liberdade cresce, como recorda João Paulo 11, numa consciência bem formada. Na graça de um coração arrependido, cada um recebe o dom da clarividência para identificar em si quais os dons do Espírito que foram estiolados e apenas pedem para crescer: amor, alegria, paz, paciência, bondade, benevolência, auto-domínio. Senhor, tu chamas-me à liberdade de filho de Deus.

LANÇAR-SE NOS BRAÇOS DO PAI Já David em situação de grande angústia pressentiu que não era preciso ter medo de Deus. A Bíblia guardou o seu grito: "É melhor cair nas mãos do Senhor cuja misericórdia é grande, do que cair nas mãos dos homens" (2 Sam 24, 14). Quantos momentos na vida de um casal ou de uma família são parábolas de ternura de Deus. Jesus concede à vida familiar as imagens mais fortes, tal como a rutura dolorosa do filho que já não quer conhecer os seus pais e a casa do seu pai, a fim de nos fazer compreender o quanto Deus nos ama. Quantos casais sofrem através do que lhes é mais querido: os filhos. Celebrar o perdão, é algo muito

semelhante à atitude do filho que se vem refugiar nos braços do seu pai ou da sua mãe, do esposo e da esposa que sofreram e c;~ue de novo se podem abraçar. E saber como o filho pródigo lançar-se no5 braços do seu Pai, como o filho pródigo amado e sempre esperado. Tal é a simples grandeza do sinal que vamos celebrar em conjunto: reencontrar o lugaí que na realidade nunca perdemos na ternura do Pai, que tanto amou o mundo que lhe enviou o seu Único Filho. Guy THOMAZEAU Bispo Auxiliar de Meaux 20 de Julho de 1994.

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DESAFIOS À FAMÍLIA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

No programa do nosso Encontro Internacional das Equipes de Nossa Senhora, pareceu ser muito importante olhar para a realidade da Família, com os seu problemas e alegrias e descobrir em reflexão plural, quais os desafios que o mundo de hoje, na proximidade do 3° Milênio, lhe faz. Escolheram-se quatro Casais, com especialidades sócio-profis-

sionais diferentes, com culturas e países de origem diferentes e, por isso, mesmo, com diferentes sensibilidades: Saudando, como moderador, todos os Casais e Conselheiros Espirituais presentes neste Encontro, permito-me perceber o debate com meia dúzia se notas que podem orientar a reflexão que pretendemos fazer:

1g A SOCIEDADE DE HOJE INFLUENCIA FORTEMENTE A FAMÍUA QUE TEMOS - INFEUZMENTE ESTA INFLUÊNCIA, NA MAIOR PARTE DAS VEZES, É NEGATIVA. A) A sociedade tem muitos fatores positivos: - A consciência maior da dignidade humana; - O sentido profundo da solidariedade universal; -A ânsia incontida da unidade, da harmonia e da paz; - O crescimento da ciência e da técnica; - Uma sensibilidade maior, sob o ponto de vista ético. Estes fatores positivos não estão a ser desenvolvidos o suficiente, mas sao de per si, sinais de esperança. 8) A sociedade tem, também fatores negativos: - O racionalismo que recusa o valor da afetividade; - O subjetivismo individualista que sacrifica sistematicamente o outro, na competição constante; - A permissividade hedonista que consagra o prazer corno único interesse; 34 - CM Setembro/94

- Uma visão redutora da sexualidade, analisada apenas sob o aspecto do corpo; - Urna concepção economicista de todas as relações humanas e da organização da própria sociedade. Estas características da sociedade sacrificam a vida familiar, porque comprometem habitualmente as relações positivas entre o homem e a mulher, entre os Pais e os filhos. C) A sociedade está marcada por falsos absolutos com uma cultura que compromete valores. - A cultura do sucesso, impede a solidariedade necessária; -A cultura do dinheiro, não permite a partilha urgente perante os pobres; -A cultura do poder, destrói toda a capacidade de serviço; - A cultura do prazer, não abre as portas ao sacrifício que é um dos elementos mais belos do amor fraternal.


~ ético ou rroral, é problema

O problema da sociedade não é um

É preciso encharcá-la de valores cristãos para acontecer a cMiiza..

cultural. E a cultura que tem de mudar.

çáo da solidariedade e do amor.

~GRANDES DESAFIOS SÃO FErrOS À FAMÍUA, NESTA SOCIEDADE EM QUE VIVEMOS: A) Superar com urgência os graves problemas que a Família sofre hoje: - As tensões, as rupturas, os divórcios implícitos e explícitos; - O empobrecimento da vida pela quebra da fecundidade, o que provoca o envelhecimento da população; - O estatuto da mulher, sacrificada a constante duplo emprego, no trabalho e em casa; - O conflito de gerações com a marginalização dos velhos que não produzem e das crianças que não nascem ou a quem se não deixa participar. 8) Aceitar a viver a liberdade, uma vez que todos falam em liberdade, mas quase ninguém a reconhece como opção pelo bem comum. Isto supõe: - Educar na liberdade e para a responsabilidade; - Educar para valores - a Verdade, a Justiça, o Amor;

- Educar para a Saúde, estilos saudáveis de vida; - EdLCar a sext.JaldOOe l'urTala paa a COIICI Aizaçãn positiva dos sonhos. C) Provocar o reencontro com Deus, com a riqueza relaciona! que este encontro implica: -Aprofundar a Fé enquanto adesão à pessoa de Jesus Cristo; - Aceitar crescer na vida cristã, pela confiança em Jesus Cristo, pelo conhecimento maior de Jesus Cristo e pelo compromisso em Jesus Cristo; -VIVer um união plena com Cristo, também através da Oração e dos Sacramentos vividos em Família; - Celebrar a Fé na redescoberta de Cristo nos pobres a quem servimos com alegria. Tenho vontade de dizer: Família cristã, mostra ao mundo de hoje o que és, que diferenças marcam a tua vida em comparação com as Famílias que se não reclamam de cristãs.

3II É UM TEMPO DE ESPERANÇA ESTE FIM DE SÉCULO. NA AURORA DO 3II MILÊNIO QUEREMOS SER, EM FAMÍUA, ESPERANÇA PARA O MUNDO. A) Perante a concepção do que é a Família nuclear, temos de aceitar o desafio da Família alargada ao encontro e diálogo de gerações: 8) Perante tantas Famílias em sofrimento pelas rupturas não provocadas, divorciados que se casaram de novo, temos de aceitar o desafio de os acolher, os ajudar e

os aproximar de Deus. C) Perante a contradição da Reprodução Medicamente Assistida num mundo que se fechou à fertilidade, temos de reinventar a fecundidade, ajudando as crianças, que não têm Família, eventualmente através da adoção melhor organizada. CM Setembro/94 - 35


D) Perante a contracepção, temos de afirmar até à exaustão a paternidade responsável, com processos humanos que respeitem a dignidade da pessoa e do casal e acompanhem os valores da natureza. E) Perante as "fugas existenciais" a que muitos jovens estão sujeitos, evadindo-se no barulho, na vertigem, no álcool, no sexo anárquico, no tabaco, quando não na droga ou mesmo no suicídio, temos de envolver-nos nos processos de prevenção, sobretudo na prevenção primária, através da educação para o sentido da vida. F) Perante a crise econômica generalizada e que, na recessão, afeta tantas Famílias temos de conseguir a partilha de bens, a partilha de empregos, mesmo alguma partilha da habitação, para conseguir a sobrevivência de muitas Famílias. G) Perante o fenômeno dos migrações que desenraíza tanta gente, temos de educar-nos para o acolhimento ativo sobretudo nos Estados e nas Comunidades que têm trabalhadores de outros países. H) Perante a intromissão do Es-

tado na privacidade de muitas Famílias, havendo mesmo pressão sobre as opções a que os casais têm direito, temos de conseguir leis que garantam sempre os Diretos da Família consagrados em texto e oferecidos aos governantes de todo o mundo pelo Papa João Paulo 11. I) Finalmente, perante a primeira responsabilidade dos Pais Cristãos que é educar na Fé os seus filhos, temos de conseguir nas nossas casas a educação cristã das crianças, adolescentes e jovens, o que é possível numa verdadeira comunidade crente e evange~zadora, comun idade de diálogo com Deus e comunidade aberta ao serviço dos mais pobres. É mesmo tempo de Esperança, se os Casais das Equipes de Nossa Senhora e as suas Famílias, desafiando a história, forem capazes de construir uma nova civilização: a civilização da solidariedade e do amor. Pe. Victor Feytor Pinto Conselheiro Espiritual da Super-Região de Portugal

DESAFIOS DOS VALORES: A MORAL 1. -INTRODUÇÃO Já é corrente a afirmação e mesmo a constatação de que vivemos hote num estado de profunda crise. E uma crise que afeta o sistema de valores da sociedade, a ordem ética e moral, a dimensão espiritual do homem, o desenvolvimento cultural e educacional, os serviços de saúde, a organização . 36 - CM Setembro/94

econômica, e assim outras facetas da vida. Na verdade, é uma crise sem precedentes na história da humanidade. Costuma-se dizer, inclusive, que o desenvolvimento tecnológico está produzindo muito mais benefícios ao homem do que à Família, ao Casamento, à Religião, à Edu-.


cação e às mudanças no meio ambiente urbano, por exemplo. O que interessa mais de perto nesta reflexão é considerar alguns desafios relacionados aos valores do Casamento e da Família na perspectiva da Moral Cristã.

São muitas as dimensões da vida humana e familiar que estão sendo atingidas pelo processo de modernização da sociedade, transformando a Família numa realidade por vezes difícil de ser analisada e mesmo entendida.

2. ·DIFERENTES TIPOS OU CONSTITUIÇÕES FAMILIARES

O certo é que hoje não se pode mais pretender que existe um único tipo ou modelo de Família. Dependendo da realidade de cada país, o leque de tipos familiares é muito amplo. A Família já não é algo que se circunscreve ao Pai, Mãe e Filhos. São muitos os componentes que afetam a constituição familiar, como os Casamentos por experiência, as uniões consensuais livres, os divórcios, os abortos, o crescente número de católicos unidos só no matrimônio civil. Pode-se dizer que isto acontece, entre outras razões, em função do secularismo reinante em nossas sociedades, da imaturidade psicológica das pessoas, do despreparo dos jovens para o casamento e para a nova vida familiar, do descrédito no casamento estável e duradouro, da falta de responsabilidade para um compromisso e dedicação ao outro, das dificuldades

sócio-econômicas das pessoas, da instabilidade política, do declínio da religiosidade e da própria desestabilização da Família. Um sintoma sempre crescente dos nossos dias é o desconhecimento de que o Matrimônio e a Família são projeto de Deus, que convida o Homem e a Mulher, criados por Amor, a realizar o seu projeto de Amor com fidelidade até à morte. Na verdade, o Amor ainda permanece como a principal motivação para alguém se casar. Pesquisas feitas no Brasil revelam que mais de 90% dos jovens (homens e mulheres) pensam em se casar algum dia. Contudo, apenas 49% se imaginam passando o resto de suas vidas com a mesma pessoa, embora a maioria ainda considere o casamento como sinônimo de Amor. Só que o Amor é "eterno enquanto dura" diz o poeta brasileiro.

3. ·LUGAR QUE OCUPA A FAMÍLIA

São frequentes as manifestações do papa João Paulo 11 e de Conferências Episcopais sobre a importância da Família para o futuro da humanidade. Com esse enfoque, procuram salientar que a vida no mundo depende, antes de mais nada, da Família. Sociedade onde existem Famílias bem cons-

tituídas, Famílias estáveis, sadias e felizes, Famílias que assumem sua tarefa insubstituível de educar para o Amor, de formar personalidades, de promover o espírito comunitário e de desenvolver integralmente as pessoas, podem ser consideradas sociedades privilegiadas. Mas, o que é que observaCM Setembro/94 - 37


mos hoje? Perguntando a meninos e meninas de 11 a 15 anos de idade sobre "o que é ser feliz" , o ter uma Família foi colocado, respectivamente, em 3° e 4° lugares. Mais importante do que ter uma Família para que haja efetiva felicidade, segundo os entrevistados, é ter dinheiro, ter realização profissional, e estar junto com quem se ama. Entre os adultos, contudo, independentemente da classe social, a Família é colocada como valor mais importante, antes da carreira profissional, do dinheiro, da vida amorosa, do sexo, dos amigos, da aparência física, do consumo e do lazer. Com estas situações tão contraditórias, cabe uma pergunta: a sobrevivência da Família está garantida? Será que ela continuará sendo a célula mais importante da sociedade? Do ponto de vista pastoral, fica claro que é necessário trabalhar crianças e jovens, especialmente através da preparação remota e próxima para o casamento, para

que vejam na Família um espaço privilegiado de realização humana e cristã e seu papel preponderante à sobrevivência de seus membros. Poderíamos tomar a Família como uma das imagens mais bonitas para descrever o Reino de Deus, até porque é na Família onde historicamente este Reino se inicia. A Família passa a ocupar um lugar privilegiado na sociedade e na Igreja quando ela se torna imagem do próprio Deus, seu criador. Para isto, a Família deve estar fundada no Amor, na Justiça, na Solidariedade, no Perdão, na Esperança, na Generosidade, na Proclamação da Palavra de Deus, na Celebração dos Sacramentos, na Vivência das Verdades da Fé, no cuidado aos pobres, doentes e abandonados. Assim entendida e fundada uma Família, torna-se mais fácil imaginar um equilíbrio sadio no relacionamento Pais e Filhos, e uma convivência amorosa com o objetivo de desenvolver um projeto de vida em comum, com metas e compromissos definidos.

4.-0AMOR Dentre os valores relativos à Família, é compreensível que o Amor ocupe o primeiro lugar. Ele é parte fundamental na vida de um lar, na vida de uma Família. Sem o Amor, podemos dizê-lo com toda a franqueza, não existe Família, não existe Lar. Portanto o que sustenta uma Família é o Amor entre todos os seus membros. Por isso mesmo, a melhor forma de definir uma Família 38 - CM Setembro/94

é chamando-a de "a mais bela comunidade de amor'', pois é a partir dele que se origina uma Família e, logicamente, dele há de depender sua sorte e seu destino. O Amor é como a rocha: dá Esperança à Vida, possibilita o cultivo de Valores éticos e morais indispensáveis à formação das pessoas, leva as pessoas a um nível de maturidade mais elevado, proporciona bem-estar global.


O Amor na e da Família deve ser duradouro, capaz de não abalar Pais, Filhos, Irmãos e Parentes, mesmo quando acontecem as crises, que costumam afetar os lares em diferentes momentos de suas experiências de vida. A Família, enquanto comunidade de Vida e Amor, tem como missão promover a Educação para o Amor, sobretudo o Amor que Jesus Cristo viveu. E um dos seus fundamentos é o diálogo amigo, que fortalece os corações de Pais e Filhos, reduz a existência de conflitos de gerações e aproxima a todos para que se compreendam, se conheçam, se queiram, se estimem, se amem. Em levantamento realizado, é possível verificar que um dos desejos mais importantes e imediatos das pessoas, independentemente do seu nível sócio-econômico e

cultural, é "conviver mais com a família" (cerca de 56% das pessoas das classes alta e média e 57% das pessoas da classe baixa). No nossos dias, o Amor é a principal motivação para alguém se casar, como já dissemos anteriormente inclusive, é o Amor que faz um Casamento ou uma união conjugal durar e se Feliz. Mas, se este sentimento mágico impera, porque tantas separações e divórcios? Porque tantas Famílias desajustadas e desintegradas? Na grande maioria dos casos esquece-se que o Amor deve ser construído diariamente, deve ter a devida manutenção, como se faz em relação a edifícios, pontes e estradas. Será então que ingredientes dessa construção estão sendo esquecidos?

5. -A CONVIVÊNCIA FAMILIAR Um dos Valores mais importantes da Família é a convivência humana que proporciona. Convivência que significa o ato de vier em comum com os outros, de estabelecer relações íntimas, de favorecer o convívio amoroso, de garantir diálogo fraterno e construtivo, de educar para a vida. O Papa João Paulo 11, dirigindose às Famílias, reconhece que "há pouca vida humana nas Famílias dos nossos dias". E porque isto? Porque as pessoas de uma Família, em geral por terem interesses e necessidades tão diferentes, não têm com quem partilhar o bem comum. A maior expressão da convivên-

cia é o Diálogo Conjugal e Familiar. E este se realiza com dificuldades crescentes. A tendência é fugir de casa. Buscar cada vez mais amigos e atividades. Inventam-se programas só para não permanecer em casa. Ai, o verdadeiro Diálogo torna-se difícil, para não dizer impossível. Sem diálogo e convivência não há construção do Casal, não há construção da Família. Não ha também como construir uma unidade amorosa entre Pais e Filhos. Sem Diálogo, troca de experiências e convivência familiar ninguém se prepara para a futura vida familiar. Através de um levantamento realizado no Rio de Janeiro, foi CM Setembro/94 - 39


possível verificar que 88% dos Pais têm dificuldades em dizer não aos seus filhos, e acabam cedendo aos seus caprichos e solicitações com medo de errar na educação. Qual será a tendência destes filhos? De serem os tiranos de seus próprios Pais. Educados de maneira a não encontrarem dificuldades, deixando de fazer o aprendizado da convivência com o

diferente, os filhos vão mostrar-se pessoas sem estrutura, sem disposição de superar os inevitáveis obstáculos da vida e, dessa forma, estarão completamente despreparados para assumir no futuro compromissos duradouros. A convivência familiar faz os filhos crescerem com um projeto de vida, vendo sua Família caminhando em direção a um rumo seguro.

6. -A GRATUIDADE, A RENÚNCIA E O SACRIFÍCIO

Os valores da gratuidade, da renúncia e do sacrifício tocam bem de perto o coração e a vida das pessoas de uma Família. Falam de ingredientes relativos ao ser pessoa na Família. Antes de mais nada, são princípios cristãos importantes. Contudo, a Realidade que nos cerca é bem diversa. É valorizado quem mais tem, quem sabe realmente tirar vantagem em tudo, quem obtém maior satisfação no que faz. O papel da Família é justamente o de educar para a gratuidade, a renúncia e o sacrifício, na medida em que, cada vez mais, necessitamos de uma sociedade solidária, para fazer frente à situação de tantos irmãos infelizes, porque lhes falta até aquilo que é essencial para viver: não têm casa (são 12 milhões de Famílias no Brasil, ou 31% do total), não têm comida (são 32 milhões de brasileiros, ou 21% da população total, vivendo em 9 milhões de Famílias miseráveis), não tem emprego (são cerca de 35 milhões de pessoas desempregadas ou subempregadas, ou 50% da força de trabalho), não 40 - CM Setembro/94

têm saúde, não têm educação, não têm paz e harmonia, e assim por diante. Nestas circunstâncias, faz sentido o apelo às Famílias, melhor situadas na pirâmide social, para que promovam uma educação para a gratuidade, a renúncia e o sacrifício. A gratuidade é um dom e um valor. Educar para a gratuidade significa partilhar com os mais necessitados; significa doar-se aos outros, sendo solícitos, disponíveis para auxiliá-los, sendo solidários não só nos momentos alegres, mas principalmente nos momentos difíceis. Como poderá alguém viver a doação no matrimônio, se esta qualidade humana e cristã não é colocada ao serviço dos outros, especialmente em Família? A renúncia é um dom e um valor. Educar para a renúncia significa educar para o desapego e valorizar aquilo que é essencial para uma vida digna. Por exemplo, renunciar ao luxo, ao supérfluo, ao desperdício, ao esbanjamento é pensar naqueles que nada têm.


Como é possível estar em paz com Deus e em paz com nós mesmos se deixamos que em nossa casa alimentos se estraguem e a água se desperdice, quando tantos dos nossos irmãos não têm o que comer e não têm o que beber? De uma coisa podemos estar certos: inúmeras bocas desejam aquele alimento que deixamos estragar ou a água que deixamos escorrer inutilmente de nossa torneira. O sacrifício é dom e um valor. Educar para o sacrifício significa educar para a generosidade. Infelizmente, nos nossos dias, quando os Pais pensam em dar alguma coisa aos filhos, são qua-

se sempre coisas materiais. E os filhos, por serem explorados por várias horas diárias de propagandas destinadas a torná-los pequenos consumidores, também querem que os seus Pais lhes dêem ou comprem, preferencialmente, tudo o que lhes é mostrado. A questão do dinheiro - como ganhálo e como gastá-lo -toma-se o tema central da vida familiar e, muito frequentemente, motivo forte de tensão e de grande infelicidade. Sacrifício, renúncia e gratuitidade são forçac; e qualidades a conquistar, porque são valores essenciais à construção de uma Família sólida, disponível para o serviço das demais.

7. -COMPROMISSO A nossa civilização privilegiada o instante, a ruptura de padrões estabelecidos, o descartável, o apelo às novidades, os modismos, a rapidez dos meios de comunicação, os lançamentos, os novos modelos, as refeições ligeiras, as liquidações, o forno micro-ondas, e assim por diante. Na verdade, é do espírito do nosso tempo o efêmero, a pressão para mudar no menor espaço de tempo possível o que se tem. Este comportamento traz conseqüências óbvias. As pessoas não querem mais comprometer-se com valores perenes. Assumir um compromisso duradouro está fora de cogitação para um número

sempre maior de pessoas. Neste sentido, a Família, especialmente os Pais, tem aí um grande desafio a vencer: educar os filhos para que procurem comprometer-se de forma responsável naquilo que venham a fazer. Se a Família não tem um projeto de vida, que tem como base um estilo de vida a seguir ou a construir, dificilmente isto poderá ser solicitado no futuro aos filhos. E, certamente, dificilmente irão preocupar-se em vencer os desafios colocados pela vivência dos valores éticos e morais relacionados com o casamento, a Família, a fidelidade e tantos outros aspectos da vida.

8.- ORAÇÃO O Papa João Paulo 11, na sua Carta às Famílias, faz um apelo muito significativo: "é preciso que a oração se torne elemento predo-

minante do Ano da Família na Igreja: oração da Família, oração pela Família, oração com a Família". E, ao longo de toda a sua CM Setembro/94 - 41


Carta, salienta frases do seguinte tipo: - "a oração reforça a estabilidade e a solidez espiritual da Família"; - "a oração deve tornar-se um hábito arraigado na vida quotidiana de cada Família"; - "a oração com as Famílias e pelas Famílias tem muita importância para que os casais amem a sua vocação e consigam superar as situações difíceis". A oração em Família, por certo, tem um valor inestimável, não apenas como forma de manter a Fé de seus integrantes, mas para que ela possa sentir-se efetivamente uma Família, comunidade de pessoas amadas por Deus e que desejam levar este amor para os demais irmãos. De entre os desafios, do mundo de hoje, a Família tem por missão

e vocação promover a oração, já que, em função do secularismo reinante, as pessoas estão a afastar-se cada vez mais das suas crenças religiosas. A oração individual, familiar ou comunitária está a deixar de ter a sua importância, para ser algo de ocasião, em função de necessidades que as pessoas precisam satisfazer. A oração em Família, promovida pela Família como um valor essencial, apresenta vantagens singulares, porque permite discernir a vontade de Deus na vida de todos os dias, escutar a Sua Palavra de Pai Amoroso e descobrir que todos - Pais e filhos - são pecadores, andando lado a lado num caminho de conversão e santificação. A oração torna a Família uma comunidade de Fé, uma pequena Igreja.

9. - CONCLUSÃO Poderíamos ter tratado de tantos outros valores relativos à Família, corno o da vida, o da paternidade responsável, o da espiritualidade conjugal e familiar, o da comunidade de Fé, o da fidelidade, etc. Deve ter ficado claro, contudo, que a Família tem um duplo papel a desempenhar, como agente de transformação social e religiosa (eclesial). Aberta ao mundo, a Família deve formar homens para o amor e a solidariedade, educá-los a agir com justiça e respeito para os demais, de sorte que tenhamos uma sociedade melhor com mais paz e harmonia. A vida quotidiana familiar deve estender-se para toda a socieda42 - CM Setembro/94

de, porque se a Família é considerada a primeira escola das virtudes sociais e religiosas, tem ela que ser protagonista das transformações necessárias. Se a Família vai bem, também podemos dizer que a sociedade vai bem. Contudo, se a Família não vai bem, não dá para esperar que a sociedade vá bem. O grande desafio presente no mundo de hoje, e que a Família deve contribuir para alcançar, diz respeito à formação de homens íntegros, pessoas que exerçam suas funções políticas e sociais com dignidade e honradez, que são fundamentais para termos uma sociedade com justiça e ética. Mariola e Elizeu Calsing - (Brasil)


Iniciada a 5' feira (21.07) com a celebração da Santa Missa, seguida da palestra 'Vocação e Missão das ENS, hoje". Em seguida ao almoço a apresentação do Projeto

Sexualidade e, depois, a ~Expo~ onde os países presentes ao Encontro montaram seus ~stands". Após o jantar o dia foi encerrado com noite de oração e vigília.

HOMILIA Olho para cada um de vós, casais com o respeito e o amor com que sempre olhei o casal ao qual devo a vida e a fé que me ensinou a viver sabendo que existo para a eternidade: os meus pais. 1) Nas passagens de nível dos primeiros caminhos de ferro Norte Americanos podia-se ler este triplo aviso: "Stop-look-listen", quer dizer: "Pare-olhe-escute". É o que pretendem as Equipes de Nossa Senhora desde há muitos anos: dizer às famílias para pararem na sua agitação desesperante, olharem de onde vêm e para onde vão - vêm de Deus e voltam para Deus - e escutarem a Palavra de Deus e a voz da sua consciência. É frequente que os cristãos se sintam condicionados na sua vida de família, pelas informações, costumes e escândalos repetidos, que se preocupem mais com o que lhes é "apresentado" dia após dia do que com aquilo que "devem escutar" nas suas consciências e na palavra de Deus. A maioria das famílias não é um reflexo das informações porque vive com nobreza. O risco está nas exceções que são difundidas pe-

las informações e que, à força de serem repetidas pela "mídia", podem ser transformadas por alguns em normas legítimas de comportamento, que destroem o amor conjugal, o amor dos filhos e esta fonte dos mais nobres valores que é o casal. 2) O casamento, como todo o sacramento, faz nascer e crescer a vida da fé dos cristãos e dá-lhes uma missão. Uma missão específica, porque o casamento e a ordem são dois sacramentos destinados à salvação dos outros. Contribuem para a nossa própria salvação mas através do serviço prestado aos outros. Estes dois sacramentos conferem uma missão especial na Igreja e promovem a edificação do Povo de Deus. Cada sacramento tem uma influência em toda a vida, mas é vivido em circunstâncias concretas. E vós que sois casados no Senhor, viveis toda a vossa vida como um sacramento: todos os momentos e aspectos da vossa vida. O casamento é, na Igreja, um estado de vida. 3) Amados de Deus! Com a mesma dignidade, homem e muCM Setembro/94 - 43


lher, existem "à imagem de Deus". As perfeições do homem e da mulher refletem um pouco a infinita perfeição de Deus; as de uma mãe e esposa, as de um pai e esposo. O homem e a mulher são feitos "um para o outro": Deus não os fez "a metade" ou "incompletos": criou-os para uma comunhão, na qual cada um é uma ajuda para o outro, porque são iguais como pessoas e complementares como masculino e feminino. Porque o homem foi criado à imagem de Deus (Gen, 1 ,27) que é Amor (I Jn 4,8-16); é por isso que, criados homem e mulher, o seu amor recíproco se converte em imagem do amor absoluto e indefectível de Deus pelo homem. Por isso, é um amor agradável aos olhos do Criador (Gen 1,31). A primeira leitura (Ap. 2, 1-7) diz do amor: "Tenho porém contra ti que deixaste a tua caridade primitiva ... Arrepende-te, pratica as obras de antes". Com a leitura deste texto, conclui-se, por vezes, que o primeiro amor, seja conjugal ou sacerdotal, é o melhor, que é importante regressar sempre a este anterior amor. Mas a Palavra de Deus nunca quis dizer isso. É preciso regressar ao primeiro amor, apenas quando se lhe foi infiel. Porque o amor atual é mais profundo, mais autêntico, mais experiente. Desde o princípio, tiveste confiança um no outro. Mas o tempo tornou essa confiança mais profunda. É mau sinal para vós casais ter saudades do primeiro amor e para nós padres, dos primeiros ministérios. Tenho mais motivos para amar 44 - CM Setembro/94

Deus hoje e agora do que na altura dos meus primeiros passos sacerdotais e também tenho mais motivos para ter confiança em Deus. No princípio, confiava-me totalmente a Ele, mas agora sei que posso ter confiança n'Eie: não vivo apenas a minha fé "n'Eie" mas também a minha experiência "de Deus". Tenho a certeza que convosco se passa qualquer coisa de semelhante. 4) O vosso amor é qualquer coisa de tão bom que - de uma forma surpreendente - a Bíblia começa pela narração da criação do homem e da mulher (Gen 1,26-27) e acaba com a visão das "Bodas do Cordeiro" (Ap. 19,7-9) subli nhando a relação de esposos entre Deus e o povo eleito e depois uma relação da mesma natureza entre Cristo e a sua Igreja. A aliança dos esposos integra-se na aliança de Deus com os homens: "o autêntico amor conjugal é assumido no amor divino" (Gs 48). Tertuliano, entusiasmado por esta visão, exclamava: "Que casamento o de dois cristãos, unidos por uma única esperança, por um único desejo, por uma única disciplina, por um único serviço! Os dois, filhos de um mesmo Pai, servidores de um único Senhor, nada os separa, nem no espírito, nem na carne; antes pelo contrário, são dois numa só carne. Onde existe uma só carne, existe um só espírito" . E precisamente, a segunda leitura fala-nos deste Espírito que é um (I Cor. 12, 1-12). Ninguém pode dizer algo tão simples e ao mesmo tempo tão profundo como "Jesus é Senhor" senão pelo Espírito


Santo. Não podeis dizer nada nem fazer nada nem sentir nada de bom sem o sopro do Espírito Santo. Este mesmo texto diz-nos que a unidade é, também, o fruto deste mesmo Espírito. Se é capaz de unir num só corpo- a Igreja- pessoas de raça e cultura diferentes, é tanto mais capaz de unir os que formam um só corpo pelo casamento. Aqui o nobre desejo de "formar apenas um" junta-se à força do Espírito, fonte de unidade no amor. 5) É por isso que as Escrituras que apresentam este amor humano como um puro reflexo do Amor de Deus, dizem que o mesmo é "forte como a morte" e que "as muitas águas não poderiam extingui-lo" (Cant 8,6-7) . Mas as águas que querem submergir o amor autêntico tomaramse mais violentas e mais abundantes. É por isso que nós os pastores, e vós, casais, somos tão necessários à transmissão da fidelidade e dos valores humanos e cristãos do casamento e da família. No que respeita à felicidade, gostaria de despertar nos numerosos casais que a perderam, a esperança na capacidade de renascimento que o amor possui. Em quantos casais se realiza o que Antonio Machado exprime com tanta beleza: "Eu julgava o meu casamento extinto, remexi as cinzas ... queimei a mão". Nunca caiam na situação daquele que esperou demasiado mas que já não espera, expressa de forma realista e trágica pelos discípulos de Emaús (Luc 24,1335): "Nós esperávamos: .. •. Já não

esperam mais. A sua esperança desmoronou-se, Cristo fê-la renascer, mais firme e mais alegre. Tende confiança! Se Cristo quer estar em todas as pessoas, como não o descobrir no íntimo de vosso casal? Podemos constatar que depois da ressurreição, Jesus confunde-se com as pessoas do meio em que se encontra. Assim, no jardim do túmulo, aparece como jardineiro, à beira mar como pescador, no caminho para Emaús como viajante. Queria significar com isto até que ponto é verdade que está nos nossos irmãos. É por isso que, antes de dar a conhecer a sua presença aos que o amavam, permitia que o confundissem com uma pessoa qualquer. Vejam por isso no outro Aquele para quem cada um de vós vale muito mais do que vale para o outro - apesar de ser muito. Os esposos devem ultrapassar rapidamente a fronteira entre o "não querer" viver sem o outro e o "não poder• viver sem o outro. A maturidade no amor é a garantia da fidelidade. Acabo de falar do "dom de Deus• na fidelidade. Pois bem, é uma grande ajuda saber que para além do que cada um vale para o outro, os dois em conjunto valem muito mais para Aquele que os uniu desde o princípio, Aquele que não só "possui o amor" como nós, mas que "é o Amor": Deus. A fidelidade daquele que é capaz de ver no seu conjunge a maior prova da bondade de Deus para consigo é indefectível. Estar perto de Deus é a melhor maneira para que amar seja realmente amar. Da mesma .forma que falar CM Setembro/94 - 45


significa pronunciar palavras e que florir significa fazer despontar botões, amar é respirar, inspirar e insuflar amor. E não outras coisas que hoje em dia nos querem fazer passar por amor. 6) a família cristã é uma comunidade que vive na história concreta deste fim de milênio. Mas sabe bem que viver na história, é fazê-la e não suportá-la. Não pode viver passivamente, na atmosfera ambiente, sem lutar para criar um mundo melhor. Logicamente isto deverá ser procurado não apenas pelos pais mas também pelos filhos. Estes devem estar convictos

de que esta nobre luta para sair da lama não os faz viver fora da realidade, mas converte-os em melhores servidores, e os faz afirmar os valores de que eles próprios e a família são portadores, com naturalidade mas também com firmeza e coragem. Estes valores cristãos que salvam a humanidade, como diz Chesterton com a sua habitual lucidez: "Retirai o que é sobrenatural e apenas ficará o que não é humano: o que é desumano". Monsenhor CARLES Arcebispo de Barcelona Fátima, 21 de Julho de 1994

~-f; A VOCAÇÃO E MISSÃO DAS E.N.S.

Q~

NO MUNDO DE HOJE

~Carisma e Vocação- Missão e Compromisso Sempre nos disseram que as Equipes de Nossa Senhora não são um Movimento de ação, que não propõem aos seus membros compromissos concretos e alertaram-nos para o perigo de empenhar o Movimento como tal, em determinadas ações ou tomadas de posição. Mas também sabemos que nas Equipes de Nossa Senhora os casais são levados, pela formação, pela oração e pelo aprofundamento da conversão, a descobrir a pouco e pouco o desejo e a exigência de se comprometerem onde se sentem chamados. Embora este fato seja verdade, trata-se apenas de uma meia verdade. Com efeito, se as Equipes de Nossa Senhora não nos propõem compromissos ou ações con46 - CM Setembro/94

Ú)

eretas, sempre tiveram uma missão específica na Igreja e no mundo, uma missão decorrente da sua vocação. "Ter uma missão" é mais profundo e abrangente que ''ter um compromisso". A missão do Movimento deveria orientar a escolha dos nossos compromissos porque, no centro de todo o compromisso, existe uma missão que lhe dá o verdadeiro sentido. As Equipes de Nossa Senhora receberam, na altura de sua fundação há mais de 50 anos, um Carisma do Espírito Santo. O próprio Padre Caffarel que é muito prudente nestas afirmações dizianos, durante uma conversa privada que tivemos há 3 anos, mais ou menos, estas palavras:


"Agora depois de todo este tempo .. devo reconhecer que na criação das Equipes existiu qualquer coisa mais para além da minha inspiração e da dos primeiros casais. Houve uma "inspiração do Espírito". Uma inspiração, um carisma, é um dom de Deus concedido à Igreja e ao Mundo, através de uma Ordem Religiosa ou de um Movimento. Um dom de Deus nunca é feito para ser fechado como um tesouro, para ser guardado. É um "talento" dado para responder a uma necessidade e por isso, para ser partilhado. Cada carisma é uma vocação, um chamamento e contém, implicitamente, uma missão. Mas na verdade, o ser portador de uma missão nunca se revela imediatamente, constitui antes uma descoberta progressiva. Poderíamos dizer que, quanto mais se partilha um dom, mais se descobre a missão decorrente desse mesmo dom. As Equipes de Nossa Senhora, há 50 anos, foram o que o Padre Caffarel queria que elas fossem : "fermento de renovação na Igreja". Apelemos à nossa imaginação e tentemos situar-nos na época: o Sacramento do Matrimônio não se situava ao mesmo nível que o da Ordem e a concepção do casamento como caminho de santidade era nova. Outra novidade era a criação destas pequenas comunidades de leigos casados e de um Padre. Se hoje na Instituição Igreja - mesmo no Vaticano - se fala de espiritualidade conjugal, se existe uma revalorização do Sacramento do Matrimônio, se apa-

receram outros Movimentos de Casais que se declaram, alguns abertamente, como os CPM, "filhos" das Equipes de Nossa Senhora na sua metodologia ou na sua espiritual idade, isto quer dizer que as Equipes de Nossa Senhora cumpriram uma parte importante da sua missão ao longo destes anos. Voltando agora à nossa época, podemo-nos interrogar sobre a atualidade da vocação e da missão das Equipes de Nossa Senhora. É sempre possível que um carisma já não seja atuante na Igreja, que já tenha passado o seu tempo e que, por esse motivo, vá perdendo gradualmente a sua força e o seu dinamismo e dê lugar a outros carismas, a outros chamamentos suscitados pelo Espírito. Isto é a história da Igreja. O importante é o Amor de Cristo pela Sua Igreja e pelo mundo. Os carismas estão ao serviço do Amor. E sucedem-se na história como resposta às necessidades de cada momento. As Equipes de Nossa Senhora são uma resposta ainda hoje? - Hoje em dia, a Igreja chama a uma nova evangelização sustentada pelo amor humano e pela vida familiar. É agora que tem necessidade de leigos casados possuindo uma formação em que a Fé e a Vida se alimentam mutuamente. - Hoje, mais do que nunca, o mundo interroga-se sobre a forma de evitar e curar as dolorosas feridas do Amor Conjugal; hoje, mais do que nunca, os jovens procuram uma Boa Nova para as suas vidas conjugais. Acreditamos que, se as Equipes CM Setembro/94 - 47


foram inspiradas em determinada altura da história, era não só porque constituíram uma necessidade nessa altura para renovação da teologia do Sacramento do Matrimônio e para a constituição de

pequenas comunidades de casais, mas sobretudo para estarem hoje presentes. O nosso Movimento tem ainda a cumpri r a parte mais importante da sua missão ;

11- Qual é, atualmente, a vocação do Movimento? 1- Ser o que somos: um Movimento de Espiritualidade Conjugal Se perguntarmos a um jovem casal: "Têm uma espiritualidade conjugal? ", sem dúvida que eles nos responderão que não sabem. Mas se lhes perguntarmos: "Como casal em que é que estão de acordo? O que dá sentido à vossa vida de casal? ", responder-nos-ão muito simplesmente: "Para nós o mais importante é ...• ou "O que é evidente na nossa vida é... ". Estas coisas, pequenas ou grandes, que parecem claras a ambos, que são decisões tomadas em conjunto, são uma iniciação à espiritualidade conjugal pelo que constituem os primeiros passos no caminho da vida conjugal. Normalmente, cada ser humano, mais ou menos consciente, tem o seu próprio projeto de vida. No casal, homem e mulher podem prosseguir individualmente o seu próprio caminho, mas quando nos casamos, é preciso saber ultrapassar este projeto individual e cada um renunciar a um pouco de si mesmo para construir um projeto comum. Isto é conjugalidade. Homem e mulher, unidos em Cristo, podem deixar-se levar pelos acontecimentos da vida, pelos sofrimentos e pelas alegrias, podem deixar correr. Mas podem também tentar dar um sentido à

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sua vida e construir um projeto de vida conjugal e familiar. Mais ainda podem abrir este projeto à Vontade de Deus e fazer da Vontade de Deus o projeto de vida do seu casal. Isto é a Espiritualidade. Se queremos "viver em casal segundo o Espírito", viver na procura da vontade de Deus, é pouco a pouco, através de um diálogo profundo, da oração e de pequenas renúncias, que iremos orientar as nossas vidas segundo o plano de Deus. É esta a espiritual idade conjugal proposta pelo Movimento: conhecer a Vontade de Deus para o casal encarná-la na nossa vida concreta. Esta espiritualidade retira a sua força da Graça do Sacramento do Matrimônio. Trata-se da nossa identidade. Esta identidade não nos afasta dos outros: sendo o que somos - um Movimento de casais unidos pelo Sacramento do Matrimônio - podemos ajudá-los melhor porque temos alguma coisa de específico a partilhar. Se, a pretexto de estar mais perto dos outros, deixarmos diluir e perder a nossa identidade, não temmos nada a oferecer e não terão nada a pedir-nos. 2- Como atingir esta Espiritualidade Conjugal a) Vivendo as propostas do M<?vimento


As três principais são: - Reunião de Equipe - Pontos Concretos de Esforço - Orientações de Vida A escolha de qualquer pedagogia corresponde a uma mística e a um discernimento das necessidades. É preciso fazer um esforço permanente para aprofundar a mística dos meios, não é possível aceitar as coisas sem as compreender nem propô-las sem dar uma razão. A REUNIÃO DE EQUIPE: Em Março-Abril de 1973, oPadre Caffarel escrevia um Editorial "Retomar o fôlego". Tinham-lhe pedido: "Qual o assunto que gostaria de tratar pela última vez antes de deixar os casais da sua equipe?" Pensou longamente: Espiritualidade Conjugal, Carta, Equipe, Fé, Missão? Não. E escreveu: "Antes de morrer..,.. devemos fazer o nosso testamento1 espiritual... e decidi falar do sig- \ nificado cristão de uma reunião de equipe ... da sua substância} sobrenatural e do seu mistério ... No meio desses casais reunidos numa sala de um apartamento,

sente-se a presença intensa do Ressuscitado, vivo, atento a todos, amando cada um como ele é com õ seu a o mau e o seu lado bom, e desejoso de o ajudar a atingir a sua plenitud ~ LE está lá, como na noite de Páscoa naquele quarto na parte alta de Jerusalém, quando apareceu de repente aos olhos daqueles outros equipistas: os Apóstolos. Soprou sobre eles dizendo: "Recebei o Espírito Santo". Eelestransformaram-se em Homens novos.eJesus Cristo, entre os Casais, não deixa de soprar o Seu Espírito. E aqueles que se abrem a este soprofruto de uma aprendizagem gradual - transformam-se em Homens e Mulheres novos. E a reunião desenrola-se animada pelo Espírito". Será que nos apercebemos da importância destas 3, 4 ou 5 horas de Reunião de Equipe que temos por mês? Como as preparamos? Como utilizamos o tempo durante a reunião? Qual é a qualidade da nossa escuta e da nossa participação? Qual é a qualidade da nossa presença?~

OS PONTOS CONCRETOS DE ESFORÇO Outros Movimentos têm reuniões semelhantes às nossas. A Oração, o Pôr em Comum, o Estudo de um Tema tomaram-se procedimentos muito difundidos. O que é específico das Equipes de Nossa Senhora são os Pontos Concretos de Esforço e de Partilha. Os pontos concretos de esforço pretendem incutir em nós atitudes que conduzem a uma mudança de vida. São chamamentos para con-

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cretizar o nosso Amor a Cristo, individualmente e em Casal, no local em que nos encontramos, sem forçar etapas nem ritmos e sem nos culpabilizarmos, de forma gradual personalizada. Tal como a Ação do Espírito Santo em nós, existem da nossa parte abertura e docilidade mas também assiduidade no tempo e adesão da vontade profunda. Os pontos concretos de esforço CM Setembro/94 - 49


não foram escolhidos arbitrariamente nem ligados sem qualquer razão. Possuem uma coerência interior que os une. Cada um deles convida-nos a uma permanente procura destas três atitudes: - procura da Verdade sobre nós próprios - procura da Vontade de Deus - procura do Encontro e da Comunhão A Escuta da Palavra, a Meditação, a Oração Conjugal e Familiar, o dever-de-Sentar-se, a Regra de Vida, o Retiro em Casal: conhecemos bem estes seis pontos, mas temos prestado atenção à sua formulação? Leiamos o anexo à Carta ou a Segunda Inspiração que volta a falar deles. Primeiro, falase no infinito e não no imperativo: «escutar. .. meditar. .. encontrarse ... fixar-se ... colocar-se ...», porque se trata mais de formular atitudes do que concretizar coisas. Em seguida, encontramos os advérbios que nos chamam à assiduidade: «regularmente ... cada dia... cada mês ... cada ano ... » . Mas sobretudo, descobrimos as palavras-chave que nos indicam a

procura das três atitudes: Verdade: "Verdadeiro encontro" ... "verdadeiro frente a frente" ... "Verdadeiro diálogo"; Vo:1tade de Deus: "sob o olhar do Senhor" ... "na presença do Ser.hor" ... "para planificar a vida na Sua presença" ; Encontro : "encontrar-se" .. . "reencontrar-se"... "em casal" .. . "juntos". A Partilha, esta parte da Reunião de Equipe que temos tendência a esquecer, pode ser um dos momentos mais fortes de entreajuda espiritual e de conversão. Na partilha procuramos também a Verdade, a Vontade de Deus e a Comunhão, e fazemo-lo em Equipe. Apercebemo-nos então, que as diferentes dimensões da nossa vida precisam de mais coerência e assumimos as nossas fraquezas com humildade, convictos de que, apesar de tudo, o Espírito atua permanentemente em nós, para o nosso bem. Mutilamos as Equipes se esquecemos a Partilha, mas também as mutilamos se nos limitarmos à Regra sem procurarmos o Espírito. ')f

AS ORIENTAÇÕES DE VIDA: a) Assimilar a Espiritualidade Conjugal não é um fato imediato. Exige a continuidade de um caminhar. Este caminhar é mais fácil se avançarmos pouco a pouco numa determinada direção até sentirmos que uma atitude foi devidamente assimilada e que podemos começar a trabalhar noutra. É o papel das orientações de vida. São um dos melhores meios pedagógicos para assimilar a pouco a 50 - CM Setembro/94

pouco a Espiritualidade Conjugal. É verdade que o próprio casal pode escolher as suas Orientações de Vida, e o Movimento quer também ajudar-nos sugerindo sucessivas orientações. Tradicionalmente, exprime-as por frases do Evangelho e propõeas no encerramento dos Encontros Internacionais: um texto do Evangelho, resumido em duas ou três frases que serão aprofunda-


das durante cinco ou seis anos. Estas propostas que o Movimento nos faz facilitam-nos a caminhada. Com efeito, a escolha das orientações corresponde a um discernimento das necessidades profundas dos casais em momentos históricos concretos. A procura coletiva da vontade de Deus pode então ser partilhada, encorajada, esclarecida e sustentada pelos membros da Equipe apoiando-se em toda a pedagogia do Movimento. Com efeito, pode-se aprofundar a orientação a partir de cada um dos pontos concretos de esforço, através de um Tema de Estudo, no Pôr-em-Comum, na Oração de Equipe, etc ... b) Reencontrar a "força interior" do nosso carisma: O Padre Caffarel fala permanentemente de "reencontrar a força interior". É expressão francesa de tradução muito difícil. Quer dizer: se estais inquietos, se quereis mais, se procurais uma renovação, não procureis noutros lugares, o Carisma contém em si mesmo a força do seu crescimento. É este o tema que desenvolvem os três documentos fundamentais que são a Carta, o Complemento à Carta- O que é uma Equipe de Nossa Senhora?, e a Segunda Inspiração. É necessário fazer periodicamente uma leitura contemplativa destes documentos e aprofundar cada tônica, cada pensamento, cada idéia de fundo. O que se mantem sempre é a situação fundamental, mas é apenas gradualmente, que em contato com a vida, com as dificuldades, com as necessidades e com as

expectativas, que este projeto inicial revela, pouco a pouco, a sua potencialidade. Cada geração aprofunda uma parte, escava numa direção e a árvore cresce de uma forma equilibrada na condição de não se afastar desta força interior que dá a vida e a fecundidade à pequena semente inicial. Nem a intuição nem o aprofundamento desta intuição se revelam na sua pureza total. São pessoas imperfeitas que os transportam em e as exprimem numa linguagem marcada pela sua época, cultura e maneira de ver e sentir. A Carta é a "pedra angular'', o documento de referência. Está escrita numa linguagem voluntarista e apaixonada. As idéias de fundo, a mística a aprofundar estão lá, na enorme força da primeira descoberta, mas estão misturadas com propostas menos importantes, que se referem mais à pedagogia e que serão adaptadas nos documentos seguintes para melhor responder às novas necessidades e à evolução histórica. O Complemento à Carta: O que é uma Equipe de Nossa Senhora? desenvolve a noção de equipe para chegar à noção de comunidade, revê o sentido profundo das obrigações da Carta, redu-las a seis, intitula-as e apresenta-as como metas a atingir e não como coisas a fazer; por outro lado, este documento introduz-nos à peãagogia, a grande idéia das orientações de vida. A Segunda Inspiração faz um discernimento sobre a situação do Movimento, da Igreja e do mundo CM Setembro/94- 51


após quarenta anos de existência das Equipes e reconhece o desejo de uma renovação a todos os níveis. Introduz as noções de gradualidade e de criatividade, identifica os domínios do compromisso mais específico das Equipes e mantem os seis Pontos Concretos

de Esforço numa procura das três atitudes: a Verdade, a Vontade de Deus e a Comunhão. A Segunda Inspiração lança um apelo a viver esta comunhão no seio do Casal e da Equipe, mas também no seio do Movimento, da Igreja e do Mundo. ~

111 - Como viver a nossa missão?

(f)

Ouve-se freqüentemente dizer: "Antes de mais é preciso formar a nossa Equipe. Não estamos prontos para a Missão". Como se a Equipe fosse uma realidade imutável que construímos de uma vez por todas ... e a Missão nunca chega ... Cada um de nós pertence a uma Equipe diferente e cada Equipe encontra-se no seu próprio estado de evolução. A Equipe é qualquer coisa viva, que se cria, que cresce, que evolui, que se destrói, que passa por crises. Não tenhamos medo desta palavra. É uma lei da vida. Isto quer dizer que terminou uma época e que outra começa. E se queremos crescer, temos que passar por várias etapas, como na vida de um Casal. Primeiro: o entusiasmo da descoberta da Equipe e dos métodos do Movimento; depois: é a crise da realidade- começamos a conhecer-nos melhor, os pequenos defeitos aparecem, as pequenas irritações repetem-se. Surge a crise da rotina: já sabemos o que o outro vai fazer, as reuniões são iguais, então temos que apelar à criatividade para as renovar. E de repente, aparece a crise dos quarenta anos: não seria melhor outros companheiros de Equipe?... e se puséssemos de

lado a Partilha? ... e se procurássemos por outros lados? ... e se? ... e se ... Se a Equipe se mantiver chegará ainda a crise da esclerose que nos leva a contentarmo-nos com aquilo que já fazemos, porque, com a idade, tornamo-nos rígidos, cansamo-nos de recomeçar. Duas questões se colocam: Como ultrapassar todas estas crises? Quando chegará a ~tura da missão? Para responder à primeira questão, importa encarar um duplo esforço: - Descobrir a força da fidelidade que nos faz esperar na noite escura dos sentidos" uma renovação, este sopro inesperado do Espírito que toma possível o que parecia impossível; - Celebrar o Amor da nossa Equipe, o Amor do nosso Movimento, como estamos a fazer neste momento, porque o Amor morre se não o celebrarmos, se não o festejarmos. Quanto à segunda questão, uma resposta muito simples: -A palavra MISSÃO faz medo, mas não é mais do que partilharmos as nossas riquezas e as nossas descobertas. Não adiemos

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este momento. Um poeta espadeve ainda aprofundar a teologia, a antropologia e a mística do Canhol di-lo de uma forma maravilhosa "A riqueza da alma, perde-se se sal. O projeto Sexualidade inserese plenamente nesta missão das não for partilhada". Equipes de Nossa Senhora: refleQuais são, portanto, os apelos que decorrem da nossa Missão? xão de vida, serviço de Igreja. Vamos apresentá-los tal como os b) Sermos Casais Fecundos: entendemos ...Jk O dom da vida está no centro da a) Sermos cada vez mais~ nossa missão de Casais. Por sua «Casal» ~ vez é um ato de amor gratuito, participação no Mistério de Deus e Diz-se muitas vezes que o Casal e a Família devem empenhar-se testemunho de Esperança. Os na Igreja como se o Casal e a nossos Filhos ajudam-nos a dasFamília fossem exteriores à Igreja. cobrir as atitudes profundas do O Casal e a Família são a Igreja e Amor Total: o dom de si mesmo, a humanidade, a escuta, a paciêncomo tal "local de evangelização". 0 Casal é um sinal visível do Amor cia, a disponibilidade. Poder chamar crianças à vida é uma graça de Deus e toma credível este mas também uma grande responAmor através do Seu Amor. O Casal como tal tem portanto uma missabil idade porque a fecundidade são a cumprir. A parte mais fundabiológica prolonga-se na educamental desta missão é ser "cada ção, missão que nunca acaba. É vez mais Casal". E não é o mais preciso investir bastante para fácil. A prirll'eira coisa de que a transmitir os Valores Cristãos, Igreja e o Mundo têm necessidamas sobretudo para que os nosde, é de Casais plenamente husos filhos descubram que são Fimanos e que vivam em plenitude lhos de Deus e para que apreno seu Sacramento. dam a conhecer esse Deus que é É preciso viver mas também rePai. fletir sobre o que vivemos para Mas a fecundidade chama-nos também a ter um Coração de Fadescobrir - na nossa vida real - os mília. Pode-se ter um Coração de sinais de Esperança do Espírito e propô-Jos aos outros. Aqueles que Família mesmo não tendo filhos tenham a preparação e os talentos porque a qualidade da nossa prenecessários, em união com os sença e do nosso acolhimento são Conselheiros Espirituais, devequalidade de fecundidade. riam avançar mais nesta reflexão Ter um Coração de Família é ter e fazê-lo com uma linguagem a capacidade de acolher o impronova, com uma pedagogia indutiviso com prontidão e simplicidade; va com base na vida e na realidaé também a maneira de estar prede. A sociedade laical apropriousente, de escutar, de olhar, de sorse da linguagem sagrada e rir; é a intensidade do interesse banalizou-a. Temos necessidade pelo outro, pelo que ele é, pelo que ele diz, pelo que ele sente. de encontrar uma nova linguaTrata-se de tentar encarnar os gem, novas imagens. A Igreja CM Setembro/94 - 53


traços da presença de Cristo para ser - para os outros - portadores de uma Outra Presença, uma presença motivada pela compaixão, pela compreensão, uma Presença que transforma as pessoas. c) Sermos Casais Responsáveis A nossa vida de Casal e da Família está ancorada no mundo. Assim as grandes questões tais como a Justiça, a Solidariedade, a Paz, a Defesa da Vida ... não nos podem ser indiferentes. A nossa vida é como um tecido no qual podemos seguir um pequeno fio de ouro que aparece e desaparece de forma irregular, para reaparecer e finalmente seguir uma linha reta, a linha do chamamento do Senhor. Não é por princípio ou por dever que nos tentamos comprometer. A questão que o Senhor nos coloca no seu apelo à Missão é sempre uma questão relacionada com o Amor. Todo o compromisso - e a Responsabilidade dentro do Movimento é também um compromisso - deveria ter origem no reconhecimento deste Amor do Senhor por nós. O apelo a "amar mais" foi o apelo lançado a Simão Pedro "Simão, filho de João, amas-Me mais do que estes?" ... "Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que Te amo" ... "Apascenta as minhas ovelhas", foi a resposta de Jesus. A conseqüência do nosso Encontro com o Senhor no seio das Equipes, do nosso Amor que cresce, é a "paixão", esta "compaixão" pelos outros Casais dentro e fora do Movimento, vivida de acordo com as atitudes do "Pastor", atitudes de animação, valorização, misericór54 - CM Setembro/94

dia, perdão, serviço ... No domínio específico das Equipes de Nossa Senhora, ou seja, do Amor Conjugal que é bastante abrangente, temos uma grande responsabilidade de presença, de trabalho e de difusão. A construção do Reino de Deus ficará incompleta ou terá a sua realização retardada se o nosso "talento" ficar enterrado. Mas o Movimento deixa-nos também a liberdade de nos empenharmos onde nos sentimos chamados, segundo as nossas afinidades, formação profissional ou circunstâncias da vida: a cidade, a política, a arte, o voluntariado, etc ... Todos estes empenhamentos são alimentados pela nossa pertença às Equipes de Nossa Senhora. Também é preciso dizer bem alto que aqueles que sofrem, os que estão doentes, os que por qualquer motivo se encontram em situação de sofrimento pessoal, conjugal ou familiar e que não podem assumir compromissos concretos, esses participam plenamente na Missão do Movimento. Mais ainda, eles vivem em Missão permanente porque, através do seu sofrimento, associam-se à Missão salvífica de Cristo. d) Sermos Parábolas de Comunhão: Precisamos de afirmar e testemunhar que toda a Evangelização tem necessidade de uma comunidade. A Evangelização é o Caminho de Vida. A pequena comunidade que se reúne em nome do Senhor é salvífica e formativa, muito mais do que poderá ser o


enunciado de grandes princípios. É local de Evangelização e Caminho de Conversão, porque é o local onde se realiza o esforço dos seus membros para terem um só coração, o de Cristo. E isso não se consegue lendo teorias sozinho em casa, mas através da interação destes homens e destas mulheres que partilham, se completam, se ajudam, abertos ao Sopro do Espírito. A pequena comunidade que faz esta experiência de Evangelização no interior dela mesma, parte em Missão com o mesmo Espírito. Não trabalha sozinha. Comunica, dialoga, trabalha em Equipe, vive na Colegial idade e no Encontro. Nós somos a Igreja e esta Igreja vive, como noutras alturas, um período difícil da sua história. Confrontados com um ambiente que rejeita os valores evangélicos, ela pode ter a tentação de afirmar mais do que procurar, de se referenciar mais do que se preocupar com a Comunhão . Quando trabalhamos nas nossas Igrejas locais, quando colaboramos com outros Movimentos, quando acedemos aos pedidos da hierarquia, a nossa atitude não deverá ser a fuga, a crítica,

ojulgamentoantecipado. A nossa atitude deverá ser idêntica à que aprendemos a viver nas Equipes: a abertura, o diálogo, a compreensão de um outro ponto de vista, o encontro afetuoso do outro quando a convergência das opiniões é difícil. Tudo isto sem recusar a audácia, a firmeza, a transparência, a verdade. Estas atitudes vividas no seio da Igreja podem aplicar-se às nossas relações quotidianas com os nossos vizinhos, colegas de trabalho, as pessoas que encontramos, ... Somos chamados a ser Parábolas de comunhão na Igreja, Artífices da Paz à nossa volta. Este Encontro é uma festa nupcial para o nosso Movimento. A Vocação e a Missão das Equipes de Nossa Senhora encontram a sua expressão mais exata na imagem das Bodas de Caná com a Igreja, com o Mundo. Queremos concluir esta conferência com um convite: Ao regressarmos, a imagem das Bodas vai-nos acompanhar, então vamos vivê-las como as vivemos aqui: por vezes em clima de festa, por vezes num clima de sofrimento, mas SEMPRE como uma expe)!P riência de conversão.

PEÇAMOS A MARIA, MÃE DE CRISTO, A CORAGEM DE DIZER "SIM" A ESTE APELO E A PERSEVERANÇA PARA O CONCRETIZAR DIA A DIA COM ALEGRIA E CONFIANÇA

Álvaro e Mercedes GOMEZ-FERRER Fátima, 21 de Julho de 1994

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Iniciou-se o penúltimo dia {61 feira) com a celebração da Missa da Família. Emocionantes a procissão do ofertório e as orações (intenções) feitas pelos jovens, filhos de equipistas, que se encontravam em Fátima. No final da manhã, a conferência do Pe. Olivier ':4 Família no Centro da Missão da Igreja". No período da tarde a última reunião de equi-

pe" num clima de muita comunhão e já um início de saudades, pois no dia seguinte iríamos separar-nos destes "novos irmãos" tão queridos. A noite foi reservada para uma grande festa, com apresentação de músicas e folclore pelos vários países representados no Encontro. O frio e a garoa não conseguiram esfriar a alegria e o calor humano reinantes.

HOMILIA DO ARCEBISPO KEITH O'BRIEN (ST. ANDREWS E EDIMBURGO, ESCÓCIA) É para mim uma grande alegria estar aqui convosco nesta missa da família numa altura que refletimos sobre o tema da "missão" no final desta maravilhosa semana cujo tema geral foi: "Ser família hoje na Igreja e no mundo". E estou, sem dúvida, particularmente feliz pelo fato de os jovens e as crianças estarem convosco nesta missa da missão. Sei que muitos de vocês tiveram um programa separado durante esta semana que foi bastante enriquecedor. Mas nesta missa da família, estamos todos juntos para rezar, tomando consciência do valor das nossas famílias e pedindo muito particularmente pelas crianças de todo o mundo que se encontram privadas do amor de uma família. Vocês, queridas crianças e jovens, estão aqui devido ao amor dos vossos pais, um pelo outro; estão aqui porque são muito im56 - CM Setembro/94

portantes para nós e vos amamos; e sabemos o que o Papa João Paulo li disse na sua mensagem do início do ano no Dia Mundial da Paz: "Uma comunidade que rejeita os seus filhos, os marginaliza ou os conduz ao desespero, nunca poderá conhecer a paz". Ao deixarmos, em breve, este maravilhoso Santuário de Nossa Senhora de Fátima em Portugal, queremos regressar aos nossos lams, às nossas Igrejas, aos nossos países, levando uma mensagem de amor e de paz. Vejo a missão de cada um de nós como uma missão de cura: levar o poder de cura de Cristo às situações de ruptura que possam existir nas nossas famílias, nas nossas Igrejas, no mundo. Cada um de nós, fortificado por este tempo de partilha em Fátima, tem uma missão muito especial de cura.


AS RELAÇÕES NO SEIO DA FAMÍLIA Há pouco mais de cinco anos que, no sul da Escócia, aconteceu a catastrófica explosão de um Jumbo 103 da Pan Am sobre a cidade de Lockerbie, em Dezembro de 1988, matando 270 pessoas, Numerosas famílias foram duramente atingidas por este trágico acontecimento, mas provavelmente ninguém mais do que os Flanigans. Nesta catástrofe, morreram os pais e a sua filha de dez anos. Mas um dos filhos, David, não estava em Lockerbie nessa altura: dois anos antes, depois de uma discussão com o pai, saíra de casa e fora viver na Inglaterra. Mas segundo se diz, por uma cruel coincidência, tinha pensado visitar os pais para tentar uma reconciliação no dia a seguir ao Natal, precisamente cinco dias depois do desastre. David chegou tarde demais, e o dinheiro da indenização, perto de um milhão de libras, não lhe terá verdadeiramente servido para nada. Segundo o que se conta, após a morte dos pais continuou a viver da mesma forma que o filho pródigo da parábola do Evangelho: "esbanja os seus bens numa vida dissoluta". Morreu asfixiado no seu próprio vômito num quarto de hotel na Tailândia. Se há palavras que David Flanigan possa ter dito durante estes cinco anos, foram certamente estas: "Esperei demais". Este jovem apercebeu-se bem que tinha esperado cinco dias a mais para voltar para casa e fazer as pazes com o pai e a mãe. Certamente que pensou, como qualquer filho pró-

digo, que teria sido acolhido de braços abertos, que teriam feito uma festa, mas isso não aconteceu devido a essa terrível catástrofe. Esta "história de Lockerbie" mostra bem a força das relações humanas, das relações no seio da família. E a lição que poderemos, talvez, tirar deste encontro de Fátima é muito simplesmente o poder que existe realmente no seio de uma família, a força poderosa das relações humanas e a influência que temos uns nos outros. Recentemente, um dos padres da minha Arquidiocese falava-me de um jovem da sua paróquia que se tinha suicidado. Os seus pais separados há pouco tempo, tinham-se divorciado. O pai voltara a casar, e o filho de 17 anos vivia agora com o pai e a madrasta. A pressão provocada por esta ruptura foi demais para ele e suicidouse. Deixou três notas, uma para a mãe, uma para o pai e uma para o seu melhor amigo. É, talvez, a nota de seis palavras deixada ao seu amigo que melhor resume o seu desespero: "Eu estou morto, tu não. ha! ha!". É claro, que deverá fazer parte da nossa missão para com os membros da nossa família levar a cura do amor de Cristo a partir de agora aos nossos lares e ao coração daqueles a quem demos tanta vida e amor. Encontramos uma extraordinária visão nesta leitura do livro do Apocalipse onde nos é dito: "Não haverá mais noite, e não precisaCM Setembro/94 - 57


rão de lâmpadas nem da luz do sol porque o Senhor Deus iluminará e eles reinarão pelos séculos dos séculos". A luz e o amor do Senhor, eis o que nos é pedido que

levemos aos que nos rodeiam, enquanto esperamos que a luz do Senhor brilhe para sempre sobre aqueles que amamos.

AS RELAÇÕES NO SEIO DA IGREJA

Evidentemente que não vivemos apenas no interior da célula familiar. Estamos abertos aos outros. Procuremos refletir agora sobre a nossa abertura à família da Igreja. Agradeçamos a Deus pela presença, aqui, de toda a Igreja: bispos, padres, religiosos, leigos e leigas, jovens e adultos. Assim como existe uma força poderosa nas relações humanas, existe também uma força semelhante nas nossas relações com a família da Igreja. Há alguns meses, um padre falava-me das experiências que vivia durante as visitas na sua paróquia. Pediram-lhe que visitasse uma idosa de 84 anos, que tivera um enfarte. Pensava-se que não era católica, mas ao contar a sua vida ao padre, a sua história esclarece-se. Quando se tinha casado, há 62 anos, fora com um homem não católico, sem religião e, a partir desse momento, os católicos da cidade tinham literalmente passado a evitá-la, a exclui-la apenas porque amava um homem que lhe foi fiel durante 62 anos e mais. Apesar de ter um forte desejo de voltar à Igreja, nunca conseguira ter coragem para o fazer até a morte se aproximar. Vendo um padre em casa, disse simples e humildemente: "Veio ralhar comigo". O padre ficou emocionado até às lágrimas pela fé daquela mulher e 58 - CM Setembro/94

respondeu-lhe simplesmente: "Não. Venho pedir-lhe desculpa em nome da Igreja Católica pelo que lhe aconteceu desde há 62 anos". A mulher recebeu então todos os sacramentos da Igreja, voltou a ir à missa e vive simples e humildemente a sua fé, pronta a encontrar-se, face a face, com o Salvador, bom e misericordioso. Poderemos dizer que esta mulherfora condenada à morte, há 62 anos, pelos membros da nossa Igreja e que não era com Deus que tinha necessidade de se reconciliar, mas mais com a família da Igreja. Sim, cada um de nós, através das nossas palavras e atos, poderemos ser portadores de morte e não de vida, no interior da família da Igreja. Mas quando trazemos a vida, que acontecimento tão maravilhoso! Durante a Quaresma, recebi uma carta de alguém que queria tornar-se católico. E ao explicarme a sua caminhada em dirE~çáo à Igreja Católica, o aspecto em que insistia mais pode ser resumido nesta frase que escreveu: "É mais o sentir-me bem e aceito no seio de uma comunidade. É este sentido irresistível de comunidade que soa verdadeiro: eis os filhos de Deus com todos os seus problemas". A capacidade de fazer o bem,


algo que dá vida. Eis o que deveria resultar das nossas relações no seio da Igreja. E as relações que deveríamos cultivar no âmbito da nossa missão para com a Igreja, são certamente as que os membros das primeiras comunidades cristãs mantinham uns com os outros, tal como são admiravelmente descritas na segunda leitura da missa de hoje, tirada dos Atos dos Apóstolos: "Eram assíduos ao ensino dos apóstolos, à união fraterna, à fração do pão e às orações... Frequentavam diariamente o Templo ... partiam o pão em suas casas, e tomavam o alimento com alegria e simplicidade do coração,

louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo•. Nestas palavras, nestas frases dos Atos dos Apóstolos, encontramos uma extraordinária definição da nossa missão, numa altura em que nos preparamos para regressar às nossas Igrejas em união com toda a Igreja. Nunca esqueçamos estas palavras do Papa João Paulo 11: "A Igreja é um lar e uma família para todos. Abre totalmente as suas portas e acolhe todos os que estão sós ou abandonados; neles, vê os filhos amados de forma muito especial por Deus, quaisquer que sejam as suas idades, aspirações, dificuldades e esperanças".

AS RELAÇÕES NO INTERIOR DA GRANDE FAMíUA DE DEUS EM TODO O MUNDO Subjacentes a tudo o que acabo de dizer sobre as nossas relações no seio das nossas famílias e na família da Igreja, existem as nossas relações com Deus Todo Poderoso que nos dá forças para cumprirmos a nossa missão no mundo. É São Paulo que, na sua carta aos Coríntios, nos revela algo da nossa formidável vocação, quando afirma: "Somos os embaixadores de Cristo ... ". E a dimensão espantosa da nossa vocação está expressa ainda com mais força no Evangelho de S. João quando o próprio Jesus nos diz: "Eu sou a luz do mundo; quem Me segue não andará nas trevas". Devemos acreditar que Cristo, a luz do mundo, veio ao mundo para

nos conduzir das trevas à luz. Cristo veio para nos ajudar nas relações com Deus Todo Poderoso, para passar da morte à vida, das trevas à luz e para nos ajudar nas relações no seio da nossa família e da família da Igreja. Na leitura do Evangelho da missa de hoje, tirada do Evangelho de S. João, encontramos o relato do encontro de Jesus com a Samaritana. A mulher diz: "Sei que o Messias (que se chama Cristo) está para vir e que, quando vier, tudo nos dará a conhecer". Jesus respondeu-lhe: "Sou eu, que falo contigo". Jesus declara muito claramente à Samaritana que, efetivamente, Ele é Cristo e diz que "muitos Samaritanos daquela cidade acreditam n'Eie por causa da palavra da mulher que testemunhava". CM Setembro/94 - 59


CONCLUSÃO

Possamos nós estar sempre conscientes do poder do Amor que existe nas nossas famílias, unidas e inspiradas no modelo da Sagrada Família de Jesus, Maria e José, em Nazaré. No ano passado na festa da Sagrada Família, o Papa João Paulo 11 proferiu esta Oração: "Sagrada Família de Nazaré, comunidade de amor de Jesus, Maria e José, modelo e ideal de todas

as famílias cristãs, nós te confiamos as nossas famílias. Abre o coração de cada Família à Fé, ao acolhimento da Palavra de Deus e ao testemunho cristão, de tal forma que se torne fonte de novas e santas vocações" . Façamos nossa esta prece nesta missa da missão das Equipes de Nossa Senhora em Fátima! Arcebispo Keith O'Brien 22 de Julho de 1994

~ FAMÍLIA NO CENTRO DA MISSÃO DA Ao iniciar esta última conferên, creio não ser de mais lembrar ~ que o Movimento das Equipes de Nossa Senhora é um Movimento de casais. E faço-o poque li na imprensa a propósito do tema que aqui nos reúne que, a partir de agora, as ENS deixaram de privilegiar a espiritualidade conjugal para se converterem à espiritualidade familiar. Não! É uma conversão que não desejamos. Na Igreja, existem muitos Movimentos e Associações que estão centrados na família, na educação dos filhos, etc. , mas existem muito poucos orientados para o casal. Não é o momento de renunciar à nossa identidade nem à nossa vocação específica. Somos um Movimento de casais. Mas o casal é o fundamento da família e estamos bem conscientes desse fato. Ao refletirmos aqui na missão da família, em comunhão com toda a Igreja e com a Sociedade Civil, não mudamos de orientação, mantemos firme60 - CM Setembro/94

mente a nossa vocação. Jean Giono, um romancista francês muito conhecido, descreve num dos seus romances, um personagem que faz uma descoberta que lhe parece sensacional. Ao contemplar a noite cheia de estrelas, este homem descobre, de repente, que a constelação ORION se parece com uma flor de cenoura. E esta descoberta enche-o de alegria. Maravilhado, repete sem cessar: "ORION- flor de cenoura!" É sem dúvida a primeira pessoa a pensar nisso. E tem, portanto, um segredo que só ele conhece. Sente-se rico e se guardar o segredo, será o único a possuir esse tesouro. Será mais rico que qualquer outra pessoa, mas ... sê-lo-á à maneira do avarento que quer guardar tudo para si. Ao passo que se partilhar a sua descoberta gritando para quem o quiser ouvir: "ORION -flor de cenoura", então partilhará a sua alegria e a sua riqueza com toda a gente! ORION - flor de cenoura! Os


cristãos possuem qualquer coisa de semelhante. São portadores de uma fonte de alegria única, são fiéis depositários de uma Boa Nova que não podem manter em segredo. Têm de a fazer expandir e de a comunicar até aos confins da terra. Nisto consiste a missão! Em anunciar ao mundo inteiro que todos somos chamados à alegria de Deus. Toda a Igreja é missionária, não por fantasia mas pela sua própria natureza. A Igreja, quer dizer o povo de Deus, é o corpo de Cristo. Ela é missionária como o é o próprio Cristo, que era o enviado do Pai . A Igreja é a enviada do Filho. E a Igreja somos nós. Cada um dos seus membros participa na sua missão. Cada cristão é missionário por vocação. Não se é missionário apenas porque se conhece a ordem que Cristo deu: "Ide e levai a Boa Nova a todas as cria-

turas". Não se é missionário da mesma forma em que se é um funcionário ou um soldado cumprindo ordens. É-se missionário poque se é portador de uma Boa Nova que não se pode abafar, de uma novidade explosiva que tem de transbordar. Se vivermos verdadeiramente a vida de Deus, não poderemos impedir que ela transborde. Não poderemos deixar de a tomar conhecida, de a comunicar. A palavra admirável de São Paulo deverá ser também entendida neste sentido: "Ai de mim se não evangelizar!". Mas não nos deixemos levar apenas pelo entusiasmo. É preciso mostrar que esta missão, que esta vocação missionária tem fundamentos sólidos e raízes profundas. E digamo-lo simplesmente: Não se pode encontrar nada mais sólido nem mais profundo . ~

@

1.- Existe missão e missão

Importa antes de mais nada, precisar o que se entende por missão. Porque há missão e missão. Podemos considerar duas perspectivas: 1) A missão no sentido tradicional, como era interpretada há duas gerações atrás ou mesmo antes do Concílio. Existiam dois parâmetros ou duas dimensões: No espaço. Era ir para longe anunciar o Evangelho. O missionário era alguém ÇlUe deixava o seu país, a sua cultura e os seus hábitos, para ir pregar a povos estrangeiros, principalmente pagãos. Existe assim toda uma lenda dou-

rada dos missionários, que suscitou algumas vocações. Era a missão no sentido geográfico ou territorial e os territórios eram partilhados um pouco como as terras do "Far West", entre as congregações missionárias, sob a autoridade e o controle da Congregação para a Propagação da Fé. No tempo. Esta missão tem apenas um tempo: é uma primeira etapa. É o primeiro anúncio do Evangelho e um dia poderá considerar-se terminada. O documento conciliar "Ad Gentes" prevê três fases a terceira das quais é a implantação da Igreja local. É a missão entenCM Setembro/94 - 61


di da como atividade temporal. Tudo isto condiciona sem dúvida uma certa idéia de missão que já foi muito discutida... Falava-se pois, de "país de missão" e alguns talvez se lembrem da agitação provocada pela publicação do livro dos padres Godim e Daniel: "França, país de missão", creio que logo a seguir à guerra. Falava-se de um tempo de missão e uma excelente revista missionária (Parole et mission) colocava em 1982 a seguinte questão: "A missão vai acabar?" Falava-se da era pós-missionária como se fala hoje da era pós-industrial. 2) Uma nova concepção Foi, sobretudo, após o Concílio que se operou a transformação. Lembro-me de um Capítulo geral dos dominicanos em 1977, em Quézon City (Manila), no qual discutimos longamente o nosso conceito tradicional. Falava-se ainda em territórios de missão e dos nossos missionários e missionárias, como de um corpo especializado. Foi aí que rejeitamos

este vocabulário e proclamamos que toda a Ordem era missionária com caráter permanente e em todo o mundo. Evidentemente que não podemos analisar aqui todos os pormenores e fases sucessivas. Basta simplesmente precisar o seguinte: De que falamos quando dizemos: missão? - Não falamos da missão diretamente orientada para os pagãos ou os povos longínquos a fim de os conduzir à Fé. - Não falamos da missão como uma ação bem delimitada no tempo e que termina com a presença dos sacramentos, das estn.rturas de base, da hierarquia local. - Falamos de uma missão que já começou entre nós, cristãos, e que visa pessoas do nosso país que vivem num clima de grande descristianização. -E falamos de uma missão permanente - um pouco como se fala de formação permanente; nunca poderemos parar e dizer: está feito! ~

11.- Jesus, a Igreja e nós

@ Esta missão, esta vocação missionária, é, antes de mais nada, a do próprio Jesus. Estar em missão, ser missionário é ser enviado por alguém, por Deus. Ora, o-enviado por excelência, é Jesus. 1) Jesus o enviado No Antigo Testamento, os profetas são os enviados de Deus. Moisés: "Envio-te" (Ex 3,10); Isaías: "Eis me aqui, enviai-me" (ls 6,8); Jeremias que tenta esquivar-se 62- CM Setembro/94

"Ah! Senhor Javé, não sou um orador porque sou ainda muito novo!" (Jr. 1,6) . O último e o maior, João Batista, o novo Elias, enviado para aplanar os caminhos ao Messias. Jesus apresenta-se como o enviado de Deus, o encarregado da missão por excelência. Ele é aquele que Isaías anunciava como declarou na sinagoga de Nazaré: "Cumpriu-se, hoje, esta passagem das escrituras que acabais de ouvir" (Lc 4,21). Jesus repete sem cessar: fui en-


viado, vim para... , o filho do Homem veio para... tendo sempre em vista a obra de salvação. Trata-se de anunciar o Evangelho (Me 1,38), de cumprir a Lei e os profetas (Mt 5,17), de trazer o fogo à terra (Lc 12,49), não trazer a paz mas a espada (Mt 10,34), de chamar os pecadores e não os justos (Me 2,17), de salvar o que estava perdido (Lc 19,1 O), para servir e dar a vida em resgate (Me. 10,45). No quarto Evangelho, o envio do Filho ao mundo pelo Pai é referido 40 vezes. Coisa fantástica em S. João: a expressão "que me enviou" é muitas vezes usada gramaticalmente como um qualificativo da palavra Pai, designando com isso um atributo do Pai ou uma definição das relações do Pai com o Verbo encarnado. Também a expressão "aquele que me enviou" é muitas vezes usada para designar o Pai, como em Jo 7,33: "Vou para aquele que me enviou•. 2) A Missão da Igreja continua a de Cristo A missão da Igreja situa-se na mesma linha da de Cristo e, segundo os Evangelhos, pode afirmar-se que, existe apenas uma missão: aquela que o Filho de Deus feito homem recebeu de seu Pai e que cumpriu até o fim - a morte na cruz e a ressurreição - e que em seguida transmitiu à sua Igreja para que ela a cumpra também até o fim, inspirada pelo Espírito. Cristo foi enviado ao mundo pelo Pai e por sua vez a Igreja foi enviada ao mundo por Cristo: "Corno o Pai me enviou, também Eu vos envio". E existe um mandato pre-

ciso confiado por Cristo aos Apóstolos: "Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra. Ide, pois, ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo, ensinai-as a observar tudo o que vos mandou". (Mt 28,18-20) É a vontade explícita de Cristo que assim se exprime. Ele que fundou a Igreja, que lhe deu a sua estrutura, quis expressamente confiar-lhe uma missão no sentido estrito e basta lembrar estas palavras do Evangelho de S. Mateus para compreender que não depende de nós que a Igreja, t,e dedique à ação missionária. ~ 3) E a Igreja somos nós A lijreja não é o Papa e os Bispos. E o povo de Deus conduzindo pelos seus pastores. Fomos nós que herdamos esta missão. E nada mais justo, pois somos nós que possuímos este tesouro da Boa Nova que não podemos guardar ciosamente como os avarentos. Todos nós, quer dizer todos os cristãos segundo o seu estado, consagrados ou leigos, religiosos ou cristãos casados, indivíduos, casais ou famílias. Todos sem exceção! Tal como não é possível ser totalmente cristão sem ter o desejo de anunciar a Boa Nova, também a família que se diz cristã não o é totalmente se não possuir a "veia missionária". Contudo, à primeira vista, esta vocação não é evidente. - A própria Escritura parece apresentar mais do que uma vez a família como um obstáculo à pro-

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cura do Reino de Deus. O Pai dos crentes, Abrãao, foi chamado a deixar tudo para partir: "Deixa a tua terra, a tua família e a casa do teu pai ..." (Gen 12,1). O autor de um célebre livro sobre Jesus referiu que parecia existir uma grave tensão entre Jesus e a sua família. É verdade que o Senhor chama ao distanciamento e por vezes de uma forma radical: "Eu vim fazer a divisão entre o filho e o pai, a filha e a mãe" ... (Mt. 10,35). "Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim" ... (Mt. 1037). "E todo aquele que por minha causa deixar irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos, terras ou casa, por causa do meu nome, receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna" ... (Mt. 19,29). - Por outro lado, a família mudou muito. Em geral, não é mais aquele ninho quente e acolhedor, onde as mães incentivavam em segredo o despertar das vocações, desde a mais tenra idade. A família explodiu e muitos pensam que em vez de ser um porto de paz e conforto, num mundo agitado em todos os sentidos, a família se tornou ela própria um núcleo de problemas. Os pais vivem tensões esgotantes. Uma jovem mãe de dois filhos dizia ao seu marido, até com algum humor: "Quando tivermos acabado as compras, o jantar, os impressos dos impostos, chamado o encanador, deitado as crianças, telefonado à tua mãe e visto o fim do "western", não adormeças sem me dares um beijo". 64 - CM Setembro/94

Inquéritos e sondagens revelam-nos regularmente a extensão das mudanças: "Três em cada quatro franceses são a favor das ligações livres"; "para os habitantes de Bruxelas, o casamento não é indispensável ao sucesso do casal"; "mais de um Flamengo em cada quatro desejam o divórcio"; na Suécia, 33% dos nascimentos são ilegítimos" ... Não é preciso dizer mais nada! E contudo, a família continua a ser um fundamento essencial à vida humana e à vida cristã. É célula de base. a) Se Jesus convida a ultrapassar o limite, demasiado estreito, da família, como aliás da "nação", considera-a, pelo menos implicitamente, como o local de referência por excelência para afirmar o caráter absoluto do amor de Deus: É preciso amá-LO mais do que pai, mãe, irmã, mulher, filho ... e o Filho de Deus quis viver ele próprio a realidade familiar como condição essencial da sua encarnação. b) Aliás, o Papa João Paulo 11 não perde uma oportunidade para sublinhar a importância da família cristã como célula da Igreja, como célula de evangelização: -As famílias cristãs existem para formar uma comunidade de pessoas no amor. Como tal, a 1~1 reja e a família são, cada uma na sua vocação específica, representantes vivos da eterna comunhão de amor das três pessoas da Santíssima Trindade na história da humanidade. - É na medida em que a família cristã acolhe o Evangelho e fortifica na Fé que se transforma em


comunidade evangelizadora. c) apesar de a família moderna ter sido fortemente abalada, constata-se que, contrariamente ao que certas "modas" e manifestações poderiam fazer crer, continua

{2\ 111.- A família no centro da missão. '\:!.) Se queremos que a Igreja - isto é o povo de Deus, isto é nós cumpra a sua vocação e a sua missão, é preciso trabalhar para tornar as famílias cristãs verdadeiramente missionárias. Na minha paróquia no Zaire, há 20 anos, tentei mais de uma vez com os cristãos africanos responder à questão: em que altura se pode afirmar que a Igreja está verdadeiramente implantada? Quando existe o altar e a eucaristia, como dizíamos nessa altura? Quando existe um clero (bispo e padres) autônomos? Concordamos em afirmar: quando existem famílias verdadeiramente cristãs que vivem realmente a sua fé. Poderemos dizer a mesma coisa para a missão. Com efeito, é preciso reconhecer que a relação entre a família e missão é bastante complexa. A família tem necessidade de se evangelizar: por isso, ela própria é alvo dessa missão. Em segundo lugar, é um local de missão, um todo onde os seus próprios membros se evangelizam reciprocamente. Mas sobretudo - e é o aspecto que queremos sublinhar aqui - ela deverá ser agente de missão, agente de evangelização, positiva e ativamente missionária. 1) A família objeto de missão A evangelização nunca termina:

a ser para os adolescentes e jovens adultos um dos valores mais preciosos. Uma das suas esperanças mais queridas é a de serem bem sucedidos na sua vida familiar. ~

é permanente. É preciso aprender a viver como verdadeiros cristãos, como esposos, como pais, como filhos e isto não se faz por si só! É preciso deixarmo-nos interpelar continuamente pela Palavra de Deus, pelo apelo a viver o Reino. Na nossa época, esta evangelização da família é particularmente necessária para reencontrar o sentido cristão do casal, do sacramento do matrimônio, da célula familiar. Não tenhamos dúvidas: a evangelização da família não se limita aos discursos moralizadores ou a lembrar os imperativos da moral sexual, como acontece freqüentemente. É todo um compromisso de fé que interessa atingir: "Em cada família, serão precisos longos tempos de escuta em oração e também de escuta mútua, porque é nestes momentos que se transmitem lentamente e quase em segredo os valores religiosos" (Cardeal Danneels). Não é este o verdadeiro sentido do Dever De Sentar Se? Nas Equipes de Nossa Senhora, quisemos estar na primeira linha de uma nova evangelização da família, concentrando os nossos esforços num objetivo que foi esquecido durante muito tempo: a sexualidade. Como vivêla de uma forma verdadeiramente humana e cristã? CM Setembro/94 - 65


2) A família local de missão Mesmo no interior da família, existe uma interação que poderíamos chamar de missionária. - Os pais têm uma missão, com um sentido profundamente cristão, para com os seus filhos: eles são os primeiros educadores da fé. Mons. Houssiau, bispo de Liêge, lembrava que é "através do testemunho dos gestos diários que o amor de Deus penetra no coração da criança. É em família que ela aprende a acreditar em tudo, a esperar tudo, a suportar tudo". - Mas os esposos têm, antes de mais, uma missão um para com o outro. O casal é o núcleo da família e cada um dos cônjuges tem uma responsabilidade evangélica em relação ao outro. Também aqui, sobretudo aqui, o Movimento das Equipes de Nossa Senhora está no centro da missão. - Os próprios filhos têm algo a dar aos pais: "É preciso ter confiança na capacidade dos filhos em transformar o seu ambiente familiar e escolar, com vista a fazer deles comunidades de amor e de evangelização" (P. Gauthy). Freqüentemente, serão perguntas e interpelações que obrigam os pais a aprofundar a sua fé. Mas também uma nova forma de abordar a palavra de Deus e de a transmitir. Assim as novas gerações tem um gosto pela oração que não tinham os mais velhos, um sentido da justiça e da partilha que é profundamente evangélico. Deixai-vos evangelizar pelos vossos filhos. Talvez os jovens es66 - CM Setembro/94

tejam em vias de reinventar o casal? Mesmo nas suas opções diferentes das nossas, talvez exista umq mensagem ... 1( 3) A família missionária ~ Aqueles que têm a sorte de ter um familiar missionário (um irmão, uma irmã, um tio ...) sem dúvida que compreendem imediatamente o que significa "uma família missionária". Para eles, esta vocação de cristãos tomou-se qualquer coisa de concreto, de imediato. Estão mais facilmente abertos a outros horizontes, apreendem mais facilmente as dimensões universais às quais é chamado o povo de Deus e, muitas vezes, sentem melhor o que eles próprios receberam. É evidente que podemos persuadir-nos a ser missionários por razões que falam ao espírito. Mas esta noção desenvolve-se em nós de uma forma quase instintiva quando temos a possibilidade de fazer a experiência muito concreta das imensas necessidades dos homens e que particularmente conhecemos o dom de Deus e a esperança que Ele deposita em nós. Em suma, trata-se antes de mais nada, de estar apto a fazer esta descoberta e a abrir o coração às dimensões do mundo. Para isso, existem meios a desenvolver no seio da família: a) Primeiro, vivendo na oração, na reflexão e na troca de idéias, a missão do povo de Deus em marcha; mas também estando atentos a todas as formas de miséria, a todas as necessidades. A este nfvel, a midia que, freqüentemente contribue para encher a imagina-

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ção com tantas coisas inúteis, pode desempenhar um papel importante. A vocação missionária aparecerá como uma aventura muito mais aliciante que todos os "Dallas" e outros seriados da televisão. b) Escolhendo projetos missionários a realizar em família, é possível ajudar as jovens igrejas por meio de doações em dinheiro que muitas vezes se tomam necessárias (e, no fundo, é a maneira mais fácil) pelo apoio a um jovem seminarista, por uma correspondência mantida como uma família ou pela gemi nação de comunidades. Existem associações de casais que decidem dar todos os meses uma porcentagem fixa dos seus ganhos em proveito de famílias do Terceiro Mundo. c) Criando uma solidariedade de famílias que, unidas num esforço comum, podem obter dos poderes públicos melhores condições de vida: melhoria do tempo de trabalho e dos locais de vida e de encontro, reconhecimento dos direitos dos mais necessitados... d) Existem famílias que partem em missão: consagram-lhe alguns anos, longe de seu país. Assim, a revista do Colégio para a América Latina (COPAL) anunciava recentemente a partida para as margens do lago Trticaca de um jovem casal belga com o seu bebê ... e) Mas a melhor maneira e a mais segura de tornar a família

missionária, é sem dúvida uma certa forma de educação que importa procurar. É com esta noção que queria terminar. A família atual apresenta uma diversidade de modelos e muitas vezes uma imagem conturbada em comparação com a família tradicional. Certos valores que pareciam sólidos desmoronaram-se. Mas, ao mesmo tempo, descobriram-se outras dimensões ignoradas. Assim, o modelo de família autoritária desapareceu para dar lugar ao diálogo, a uma troca de impressões mais franca e a uma verdadeira educação para libertar e para as responsabilidades pessoais. É aqui que o papel dos pais é determinante e que se transforma em ação. Compete-lhes criar um ambiente familiar propício, não temendo afirmar as suas convicções pessoais e sobretudo vivê-las; mas também suscitando e incentivando nos filhos uma generosidade, um sentido do serviço e da gratuidade que os tornará capazes de opções de vida talvez mais difíceis mas também mais belas. Importa sobretudo não lhes cortar as asas! Deus fala ao coração. Mas é preciso saber escutar. Aos pais, diria uma última palavra: "Não parem a música!" e ainda: "Não apaguem o Espírito".

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Fátima, 22 de Julho de 1994 Padre Bemard 0/ivier, o.p.

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Manhã de sábado, 23 de julho. Para proteger-se do frio e da garoa, um "mar de chapeuzinhos brancos" estendia-se pela esplanada do Santuário. Cerimônia de encerramento e posse dos nossos irmãos Cidinha e lgar Fehr como novo casal responsável pela E RI. Ao ser anunciado o seu nome, os brasileiros agrupados num canto da esplanada irromperam numa entusiasmada manifestação ace-

nando com fitas verde-amarelo que traziam consigo e então cantaram um trecho da música "Mãe do Céu Morena •, uma das preferidas de Cidinha e lgar. Seguiu-se a Celebração Eucarística presidida por Pe. O/ivier e a comovente procissão do adeus, tendo à frente a imagem de N.S. de Fátima seguida pelas bandeiras dos países presentes ao Encontro Internacional.

AS BODAS DE CANÁ Homilia do Padre B. 0/ivier 23 de Julho de 1994 Eis um texto do Evangelho de São João que conhecemos bem e que os comentadores interpretam

com conceitos muito diferentes. Proponho-vos aqui três breves reflexões.

1. "A mãe de Jesus estava presente". O texto insiste na expressão "a mãe de Jesus". Estava presente, um pouco corno em sua casa, parece. Encontra-se no centro da narração. Vê tudo, sente tudo, adivinha tudo. É ela que, através da sua intervenção vai desencadear

a ação. Sabe o que é preciso fazer, a quem se devem dirigir: •Já não tem vinho!". Desta forma a mãe de Jesus, que é nossa mãe, está sempre presente na nossa vida. Compreende tudo, adivinha tudo e sabe o que é preciso fazer.

2. Jesus "e os seus discípulos também foram convidados •. É a primeira saída de Jesus com aqueles que O seguem. E será a ocasião do primeiro dos seus milagres, do "primeiro dos sinais". Reparemos numa coisa que nos deve alegrar. A primeira rnanifes68 - CM Setembro/94

tação pública de Jesus, o primeiro sinal do mundo novo que vem inaugurar, é a sua participação numa festa, mais, num banquete nupcial. Poderemos desejar um símbolo melhor para um Movi-


mento de Casais? A primeira iniciativa do Senhor ocorre numa festa de casamento. E o seu primeiro sinal é o de trazer o verdadeiro vinho das bodas, o que anuncia desde já o Banquete

Eterno. Não poderemos concluir que o Senhor vem Ele próprio transformar pela Sua graça esta realidade humana do amor, da união do casal? Não é esta uma Boa Nova para o matrimônio?

3. Apesar de Jesus trazer o verdadeiro vinho das bodas, não age como um mágico. nossa vida humilde e fiel, de todos Também não age como um criaos dias. A vida de casal, de família, dor que faz vinho a partir do nada. de trabalho. Trazemos o pouco de Faz com que os homens particique somos capazes, mas este pem na sua ação. Faz trabalhar os pouco o Senhor transforma-o, ilucriados: "Enchei de água essas mina-o pela Sua graça e pelo Seu talhas". Existiam seis talhas para amor. encher. Era preciso bombear mais Então, irmãos e irmãs, metei de 400 litros de água. É um trabamãos à obra: enchei de água as lho humilde, mas sério e indispenvossas talhas para que o Senhor sável. a transforme no vinho do Reino! Assim acontece nas nossas vidas. É o Senhor que pode fazer o vinho da eternidade. Mas nós dePe. Bernard Olivier Conselheiro Espiritual da ERI vemos trazer a água, quer dizer a

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Estamos recebendo (e por certo continuaremos a receber) depoimentos de equipistas brasileiros que participaram do VIII Encontro Internacional. Por razões de espaço, e também de prazos de confecção da carta, estamos publi-

cando neste número alguns dos primeiros depoimentos recebidos. Se a programação e o espaço disponível assim o permitirem, possivelmente nas próximas edições da CM publicaremos outros depoimentos.

UMA SÓ ESPERANÇA Senhor, como descrever quanta beleza existe neste encontro de casais? É preciso agradecer à Virgem Santa por aqueles dias tão grandiosos em enriquecimento espiritual. Várias línguas, várias raças, porém um só amor, uma só esperança para um mundo melhor. Como descrever tudo isso, para que nos conscientizemos que não podemos parar de crescer na amizade, na caridade, na humildade e no amor ao próximo? O projeto de Deus, os desafios do mundo, uma resposta: as E.N .S., a missão e o envio foram

os temas que levaram nossas almas e fortificaram nossos corações no Amor em Cristo. Mãos à obra minha gente, estamos instrumentalizados para tanto. Precisamos atingir projetos concretos e significativos pelos pobres, pelos velhos, crianças e todos aqueles que se apresentarem diante de nós. Sejamos sujeitos transformadores em nossa sociedade. Nossa Senhora nos enviou e nos preparou, cabe a nós darmos uma santa resposta. Arye Elzira Equipe Nossa Senhora de Fátima, n 11 3 - Mogi das Cruzes, SP

A PROF(C)/SSÃO DA FÉ De algum tempo para cá, infelizmente fala-se muito que a Igreja Católica está perdendo terreno para as inúmeras seitas e religiões novas que estão aparecendo neste mundo de Deus. No entanto, quando se tem a oportunidade de assistir a uma de70 - CM Setembro/94

monstração de fé, como assistimos agora neste 811 Encontro das Equipes de Nossa Senhora em Fátima, não acreditamos que seja verdade que o catolicismo esteja perdendo espaço. Quem presenciou mais de 5.500 pessoas rezando fervorosamente


em conjunto, pode desmentir o que andam falando por ai. Tudo foi comovente. As celebrações eucarísticas e as procissões sempre lideradas pelos Bispos, a participação vibrante dos jovens, a presença dos Conselheiros Espirituais e um magnífico e bem regido Coral, conseguiram transformar a praça da Basílica de Fátima, em momentos de fé profunda e emoções indescritíveis. Tudo foi muito bem planejado e toda a organização esteve perfeita. A cada dia, dos 5 que passamos em plena convivência, parecíamos uma grande Família. Eram casais, Bispos, Conselheiros Espirituais e jovens representando os 44 países participantes, que formavam realmente uma grande Família Cristã. As conferencias e grupos de es-

tu dos, além de muito fecundos em aprendizagem, nos transmitiam a necessidade de aprofundamento nos problemas familiares do mundo, objetivando uma maior conscientização da retomada dos valores sociais, educacionais e morais. Jamais esqueceremos aquela imagem compacta de pessoas rezando juntas no Santuário de Nossa Senhora de Fátima. Vendo toda aquela beleza, sentimo-nos um pouco como os três pastorinhos que tiveram a graça de ver Nossa Senhora. Nós apesar de não termos tido essa graça, tivemos o privilégio de assistir a uma demonstração de Fé e Devoção como jamais vimos, por isso somos muito agradecidos a Deus. Helena e Eros Equipe 4 8 - Nossa Senhora Luz dos Povos - São Paulo/SP

O SENHOR EM FÁ TIMA Era uma 2 11 feira ensolarada, quando começaram a chegar pessoas dos quatro cantos da terra, trazendo em seus corações espírito de partilha e ânsia de viver em comunidade. Foi assim que chegaram a Fátima mais de 2.500 casais, 380 padres e mais de 200 jovens, todos para participar do XIII Encontro Internacional das ENS. Durante todo o encontro de 18 a 23/07, pudemos sentir que todos tinham um só coração e um só espírito, partilhavam com alegria as suas vidas e o alimento, e mantinhamse constantemente em oração,

louvando e agradecendo a Deus pelas maravilhas que ele faz. O Espírito Santo desceu em forma de "luz e calor" e todos começaram a profetizar nas mais diversas línguas, orando, cantando e bendizendo ao Senhor e um verdadeiro Pentecostes se fez, pois apesar das línguas serem diferentes todos se entendiam, o Senhor falava em seu corações e todos eram um. Então o espírito do Senhor soprou sobre os apóstolos ali reunidos dizendo: "Ide, retornai às vossas comunidades, façam tudo o que Jesus vos mandar'', ficai atenCM Setembro/94 - 71


tos "Àqueles que não têm vinho" e "encham as talhas com água" para que Eu as possa transformar em vinho. Esta foi a missão que as ENS receberam em Fátima do Senhor; eis a missão que cada casal aquipista deve assumir. Precisamos fazer como Maria fez nas Bodas

de Caná: estar atentos, fazer o que está ao nosso alcance e interceder ao Senhor por aqueles que precisam; confiando que a Sua misericórdia transformará a água em vinho de boa qualidade. Amém. Carmem e Manoel Eq. 1 - Piracicaba/SP

IDE URGENTE POR TODO O MUNDO E PREGAI O EVANGELHO Queridos amigos equipistas. Fomos testemunhas privilegiadas de uma caminhada de amor, fé e de esperança. Vivenciamos o 8° Encontro Internacional em Fátima. Para nós foram dias de graça, recolhimento, confraternização e muito amor entre todos os membros da grande família das ENS. Sob a luz da cruz de Cristo, os cinco continentes foram representados por pessoas de todas as raças e culturas, mas todos com um amor incondicional a nossa Mãe Maria. Se fosse possível sintetizar Fátima, ficaríamos com o envio do Pe. Bernard Olivier: "IDE URGENTE por todo o mundo e pregai o Evangelho". Agora mais do que nunca é preciso colocar nossos talentos a serviço de nossos irmãos, preparando a família do ano 2.000. "IDE URGENTE por todo o mun-

do e pregai o Evangelho". O envio é para hoje precisamente agora. É preciso se desinstalar. "IDE URGENTE por todo o mundo e pregai o Evangelho". Mesmo com poucos recursos, pouco tempo, a hora de evangelizar é agora. Trazemos o pouco de que somos capazes, a nossa água, mas este pouco o Senhor transformao, ilumina-o pela sua graça, pelo seu amor. Em Fátima sentimos a força e a esperança que representam as ENS e mais do que nunca acreditamos que é possível ser agente de mudança. Irmãos e irmãs, mãos á obra, enchei de água as vossas talhas para que o Senhor a transforme em vinho do reino.

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Terezinha e Daniel Equipe 40 - Nossa Senhora da Fraternidade - Setor B - Curitiba/PR


FÁTIMA 94- ENCONTRO INTERNACIONAL DE JOVENS Tive a oportunidade de participar do Encontro Internacional de Jovens, entre 11 e 16 anos de idade, filhos dos casais das Equipes de Nossa Senhora, realizado em Fátima, e que aconteceu concomitantemente ao Encontro dos casais. Como todos os comentários começam pelas coisas ruins, também é assim que vou começar. A pior coisa que aconteceu no Encontro foi a falta de organização. Começou no 111 dia, quando deveríamos ir para os alojamentos (quartos) às três e meia da tarde, e fomos apenas às cinco. Os horários quase nunca eram cumpridos, e os chefes de grupo (ao todo eram 11 grupos), foram escolhidos em cima da hora. E, por fim, a comida era uma só para todos os jovens, pouca e, em alguns dias ruim. Mas não só de coisas ruins foi o

Encontro. Teve coisas boas, e muito boas. A melhor, foi a convivência. Conheci muita gente legal, e um ou outro chato, mas isso não importa. Fiquei muito amigo de praticamente todos os jovens (espanhóis, italianos, franceses, australianos e, principalmente, brasileiros e portugueses). Estou morrendo de saudades deles. Fizemos passeios à praia, grutas e lugares típicos de Portugal. Foram ótimos. Os alojamentos eram simples e muito confortáveis. O Encontro foi divertido e alegre. Nós, brasileiros que lá estivemos, éramos os mais animados, juntamente com os portugueses. Para mim, este Encontro teve um saldo muito positivo, e espero que o próximo seja aqui no Brasil.

Durante o 811 Encontro Internacional das Equipes de Nossa Senhora, realizado em Fátima, participei do Encontro de Jovens filhos de casais equipistas, e fiquei no grupo de 11 a 16 anos. E nosso Encontro foi maravilhoso. Pude adquirir uma ótima convivência com muitos jovens. Éramos mais de 180 neste grupo. Foi um momento de esquecer todas as diferenças, como nacionalidade e língua. Mas, é claro, cada um procura mostrar as coisas boas que somente o próprio

país possuía, e tudo isto num clima super-bom. Fizemos vários passeios, e assim pudemos conhecer lugares maravilhosos de Portugal. O grupo era descontraído, e os bate-papos legais. Mas nem tudo foi um mar de rosas! A hospedaria era muito simples, confortável, mas precisava ser mais limpa. A comida era ruim e repetitiva. No começo, a língua foi uma grande barreira. Mas a organização foi terrível. Os horários nunca eram respeitados.

Gustavo de Assis Calsing 16 anos - Brasília

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Mas, além disso tudo, acho que faltou espiritualidade. Não tivemos nenhuma oração ou palestra. E as missas eram os únicos "passeios" que não eram obrigatórios. No geral, contudo, eu gostei

muito do Encontro. Foi uma experiência nova em minha vida, e que vaificarmarcadapormuitotempo. Renata de Assis Calsing 13 anos - Brasília

~: .ft. FÁ TIMA 94 - Caminhada de Amor, de Fé e de Esperança Ao iniciar a conferência "A Família no topo da missão da Igreja", no 5 11 dia do Encontro de Fátima, o Pe. Olivier disse ter ficado muito impressionado ao ver, na cerimônia de abertura, os casais convergindo dos diferentes pontos de entrada do Santuário para a capelinha e que no momento teve a convicção de que representávamos o Povo de Deus caminhando na História em uma mesma direção. Os casais ali presentes haviam saído de seus respectivos países com expectativas e motivações diferentes, mas, certamente, eram movidos por um só impulso de amor e fé. Este mesmo impulso transcendeu as expectativas e motivações pessoais e seu sentido coletivo nos dá uma visão mais clara do Corpo de Cristo. Ali, no Santuário a ela dedicado, agradecíamos a Maria o "sim" que tomou possível a primeira família cristã. E fazíamos isto logo no início da cerimônia de abertura quando era ensaiado o refrão do Cântico do Encontro: "Beatam, Beatam me dicent omnes generationes". Quase dois mil anos depois estávamos ali reunidos para, preocu74- CM Setembro/94

pados com a realidade da família no mundo de hoje, meditarmos sobre o exemplo daquela família de Nazaré, pedindo a intercessão de Maria. Seis dias depois, na cerimônia final, nos foi entregue a Carta de Fátima e nela Maria nos responde, primeiramente chamando a nossa atenção: "Não tem mais vinho", para em seguida nos exortar: "Fazei tudo o que Ele vos disser''. E Cristo nos diz: "Enchei de água as talhas". Assim, do lugar onde nasceu a azinheira sobre a qual Nossa Senhora apareceu, "parece desprender-se uma luz consoladora e cheia de esperança que diz respeito aos fatos que caracterizam o fim deste segundo milênio (João Paulo 11, Fátima 13/03/91). À luz desta luz e à sombra desta azinheira pedimos a renovação da graça do nosso casamento e à graça que originou as Equipes de Nossa Senhora. Que Maria, nossa irmã e nossa mãe, nos ajude na missão específica que devemos desempenhar, pelo fato de pertencermos às Equipes de Nossa Senhora, na construção do Reino de Deus. Amém! Marlene e Fernando Moraes Eq. 97- 8 - Região Rio I


EQUIPES DE NOSSA SENHORA EM FESTA O VIII Encontro Internacional das ENS acontecido e celebrado em Fátima no mês de Julho foi uma FESTA, uma verdadeira apoteose onde se constatou que a FÉ é uma FORÇA imbatível: onde se constatou que Maria Santíssima, Mãe de Deus e da Igreja, é capaz de convidar seus filhos dos quatro cantos do mundo, a grande multidão para que em coro, em todas as línguas, das mais diversas raças e culturas, proclamá-La Bemaventurada; onde se viu que o matrimônio e a família são a mais bela flor da criação divina, com raízes tão profundas que garantem não só a sobrevivência do matrimônio e da família, mas que mostram também que o matrimônio e a família se constituem corno o mais nobre e valioso valor da humanidade. Gostaria de expressar aqui o que vivi e senti neste VIII Encontro Internacional em Fátima: uma vivência e experiência que jamais se há de apagar nos que lá estiveram. Esta experiência me fez chamar de FESTA DAS ENS, vista em sua dimensão de FÉ MARIANA E MATRIMONIAL-FAMILIAR OU IGREJA DOMÉSTICA. A) O VIII Encontro Internacional de Fátima foi um momento de VIVA E FESTIVA expressão de FÉ. Só a fé tem o. poder e a força de envolver tantos CASAIS- SACERDOTES E BISPOS das mais diversas origens geográficas e culturais. Só a fé é capaz de deslocar e levar para tão longe para muitos dos que lá estavam e com gastos que exigiram até grandes

sacrifícios. Desde aquele altar monumental do santuário, nas celebrações eucarísticas, com a presença tão expressiva tanto de casais como de sacerdotes e bispos, presença comovente e impressionante, isto tudo era uma prova de muita fé celebrada festivamente e com longa duração. Uma prova de fé que ao redor do altar da mesa de Cristo somos todos irmãos. Diante daquele altar e daquela multidão sentia-se a impressão que eram os filhos da mesma mãe e do mesmo pai espalhados pelo mundo inteiro e neste momento reunidos para um encontro familiar e festivo na Casa do Pai. Quando todos os filhos se encontram na Ca3a do Pai o clima é sempre de festa. B) O VIII Encontro Internacional de Fátima foi uma festa dos filhos ao redor da mãe. Em todos os encontros cristãos, Cristo é sempre o centro. Mas este Cristo Jesus e sempre o filho de Maria. Não encontraremos nunca um Jesus sem Maria. O Cristo Jesus veio ao mundo para salvar e Maria foi o caminho para Jesus chegar aos homens. O coração de Maria foi o ninho onde Jesus nasceu. Foi com Maria que os pastores encontraram Jesus. De Maria, Jesus quis precisar. A história da redenção do mundo não pode excluir Maria. Nas ENS onde os casais buscam DEUS, MARIA é quem traz, quem mostra e quem nos entrega DEUS. Ela é que nos ensina o COMO buscá-LO, o COMO recebê-LO, o COMO conservá-LO coCM Setembro/94 - 75


nosco. No santuário de Fátima por tantas coisas vistas, ouvidas e celebradas sentimos o calor matemo de Maria. Lá sentimos que Mãe é Maria. Uma Mãe que entende tudo e todos, que ouve e acolhe todos com o mesmo amor materno. Lá sentimos que peso tem Maria, que importância tem Maria nas Equipes de Nossa Senhora. Felizes os que puderam estar lá Mas Jesus diz que é feliz também quem crê sem ter visto. Na festa do VIII Encontro Internacional a rainha foi MARIA. C) O VIII Encontro foi uma festa do MATRIMÔNIO da FAMÍLIAIGREJA DOMÉSTICA. Quando Jesus entregou as chaves da responsabilidade da Igreja por Ele fundada ao Apóstolo Pedro, disse que as portas do inferno nunca prevaleceriam contra ela. Esta Igreja nunca será vencida embora tenha que sofrer combates com todos os sinais de uma aparente derrota. Esta Igreja começa com o casal cristão. Sem o casal abençoado no sacramento do matrimônio, não teríamos nem família e nem Igreja doméstica. O casal que começa com aquela força misericordiosa e divina que os leva a se amarem ao ponto de quererem se unir e formar um só coração uma só carne. Este amor no casal cristão traz a fecundidade do Deus Pai, a força criadora do Deus Pai capaz de gerar filhos semelhantes

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a eles mesmos. O VIII Encontro Internacional de Fátima quer enaltecer e celebrar festivamente estes homens e estas mulheres que pelo sacramento do matrimônio fazem nascer a FAMÍLIA-IGREJA DOMÉSTICA, espelho e imagem da FAMÍLIA DA TRINDADE DIVINA. O VIII Encontro em Fátima mostrou que esta família é possível e que esta família existe, existem muitas agrupadas em pequenos grupos chamados ENS. Em Fátima vimos que estas famílias existem em todos os cantos do mundo. Que o matrimônio é querido por Deus e que é um grande meio de santificação quando se vive em plenitude o amor em todas as suas dimensões. O Matrimônio é um caminho de felicidade quando vivido no plano divino modelando-se na FAMÍLIA TRINITÁRIA. Este Encontro extraordinário de Fátima será para todos os casais uma nova força e um novo impulso para tornar feliz a vida do casal e será um grande estímulo para tantos casais jovens que mais do que ouvir querem ver o como é bom e como é maravilhoso como é divino marido e mulher amarem-se como o Deus Pai ama o Filho-Deus e como o Deus Filho ama o Deus Pai e quando cada um dos cônjuges se sentir que é o amor para aquele ou aquela que está ao seu lado. Se Maria for a Rainha do seu lar, a festa não terá fim. Pe. Avelino Perti/e.


ENCONTRO INTERNACIONAL DE JOVENS- FÁ TIMA\94 Minha irmã e eu fomos ao Encontro Internacional com um misto de curiosidade e expectativa. Nossos objetivos eram de um contato com jovens de outros países cujas famílias tivessem uma espiritualidade como a que vemos em casais brasileiros que pertencem ás Equipes. Também tinhamos interesse em conhecer como funciona uma Equipe de Jovens no Movimento. Em Fátima havia vários jovens brasileiros na nossa faixa etária de 17 a 25 anos, além de outros jovens brasileiros que eram da faixa etária de 12 a 16 anos. A grande maioria dos jovens não pertencia a equipes de jovens tendo ido à Fátima por serem filhos de casais equipistas. Em paralelo com a nossa participação, a Equipe Internacional dos Jovens se reuniu não havendo interação entre os dois grupos. De fato, fomos simplesmente colocados junto com os outros jovens sem muita organização de como as coisas deveriam funcionar. Por exemplo, nas reuniões de equipes o coordenador era o mais velho o que não necessariamente significa o mais preparado; não houve também um trabalho de colocação dos jovens nas equipes de acordo

com o seu conhecimento de alguma língua estrangeira para facilitar a comunicação, o que resultava em que as reuniões perdiam completamente a sua dinâmica. A desunião e a desinformação foram os traços característicos do encontro de Fátima, infelizmente. Com raras exceções, os brasileiros conviveram com os brasileiros, os espanhóis com os espanhóis e assim por diante. Outro aspecto negativo foram certas conclusões dos grupos como, por exemplo: "todos os caminhos levam a Deus" quando se concluiu que "a missa aos domingos é muito importante" e os jovens pretendem ter uma religião em comunicação direta com Deus! Houve claramente falta de direção nas reuniões, que talvez devessem ser conduzidas por casais jovens das ENS. Seria injusto não reconhecer o trabalho dos organizadores de Portugal que se esforçaram ao máximo para acomodar a todos, mesmo se considerando que houve a chegada de muitos jovens que não se haviam inscrito. Acreditamos que, infelizmente, perdeuse uma grande oportunidade de engajar mais jovens nas equipes. Ana Beatriz e Maria Luisa Wey Alphaville - São Paulo

6 E. n.D.

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Um olhar sobre Fátima A experiência de participar de um Encontro Internacional corno o de Fátima é algo de maravilhoso, de inesquecível. Apesar do frio cortante (coisa inédita em julho, naquela região), tivemos muitos momentos fortes de coração, de partilha, de descobertas surpreendentes e edificantes. Para os que tiveram o privilégio de ter participado de alguma maneira das celebrações, o deslumbramento da visão (do alto) de uma multidão de chapeuzinhos brancos: éramos mais de cinco mil pessoas vindas de todas as partes do mundo, que se tinham preparado para esse encontro e que participavam de tudo com fé e alegria. E, que dizer da emoção que se sente quando, na comunhão, todas aquelas pessoas se aproximam de mãos estendidas, na busca desse Deus de amor que orienta suas vidas? O coral estava lindo! Casais equipistas de todas as línguas que encontraram juntos um jeito comum de elevar as suas vozes até Deus, num canto de louvor e agradecimento que soou muito afinado aos ouvidos de todos, enchendo de encanto as manhãs cheias de neblina. No coral, um casalzinho brasileiro, Graça e Eduardo, de Porto Alegre, cantou pelo Brasil a felicidade de sermos equipistas. Em todas as reuniões de equipes dos hoteis repetiu-se o milagre de encontro, a alegria da troca de idéias, a admiração da descoberta da grandeza dos filhos de Deus. Pessoas de realidades dife78 - CM Setembro/94

rentes, em diferentes situações econômicas e culturais que buscam a verdade, a vontade do Pai e o encontro e comunhão. Depois de toda essa vivência tão enriquecedora, depois dos momentos em que o coração bateu mais depressa como na posse dos nossos queridos lgar e Cidinha como responsáveis da equipe internacional, depois de tudo isso, o começo do Pós -Fátima: uma carta de Mercedes e Álvaro que nos convida 'a missão e uma orientação de vida "ao mesmo tempo muito precisa e muito ampla", desenvolvida num documento que é uma semente a ser cultivada por todas as equipistas. Que cada setor se empenha no aproveitamento dessa orientação, incentivando as equipes de base para que elas estudem, reflitam e completem esse documento com sua fé e seu discernimento, sob a luz do Espírito Santo. Em meio a tanta alegria, em Fátima, uma nota triste: a morte súbita do Monsenhor Primo Vieira, conselheiro de equipe muito querido dos casais equipistas de Santos, São Paulo. Um homem de grande cultura e dedicação ao seu trabalho, um poeta que ia regularmente a Portugal e gostava muito de Fátima . Entre seus pertences, um diário e nesse diário um observação preciosa: "Há católicos que são como o sol de inverno que é pálito e não aquece ... " Era alguma coisa que o preocupava e na qual deveríamos refletir seriamente. Participantes de um Movimento


que nos confia a missão de sermos sinal de amor transformador no nosso mundo e no nosso tempo, participantes de um Movimento que nos oferece tantas oportunidades de melhora e tempos de graça como o Encontro lnternacio-

nal de Fátima, será que estamos atentos para que brilhemos como "luz diante dos homens" e sejamos capazes de aquecer os corações de nossos irmãos com nosso acolhimento e solidariedade? Wilma e Orlando

,.: _ ,.~

CONVIDADOS ÀS BODAS DE CANÁ, ENS/NEWSWORK, 23 pg M

Este tema de estudo, tem metodologia para nos ajudar por objetivo lançar a Orienta-~-- a fazer dessas palavras do ção de VIda que é proposta Evangelho um projeto de vida pelo Movimento para os próCONVI:OOS para nós, casal. Essa metoBODAS oe CANÁ dologia considera como partiximos anos, a partir do recencularmente favoráveis três te Encontro Internacional das ENS, realizado em Fátima, meios que sáo: O diálogo em Portugal. Como nos doeucasal, a co-paticipação e a mentos anteriores ("Projeto oração em equipe. Evangelizar a Sexualidade", (*) Este tema encontra-se à tema "Ser Família Hoje") ela ~.__ _ _ _~ disposição dos interessados no Secretariado das ENS. quer também sugerir uma CM Setembro/94 - 79


UM PRESENTE DO CÉU: SESSÃO DE FORMAÇÃO INTERNACIONAL A Mãe qe Deus dá muitos presentes a todos. As vezes nem valorizamos, ou justificamos como sendo o destino ... Todavia, nossa ida à Fátima foi um presente muito especial para não percebermos que veio do céu. Além de participarmos do Encontro, onde nos surpreendemos com o número de casais presentes e com a riqueza das atividades, participamos da Sessão de Formação. Por que? A Mãe de Deus quer proporcionar a todos os seus filhos condições de um crescimento espiritual para chagarmos mais perto de Seu Filho Jesus, através de nossos Irmãos. Para atingir esse objetivo um caminho é, sem dúvida, o cuidado que devemos ter com a nossa Formação Permanente, que agora se apresenta sob a forma da Sessão de Formação Internacional. Mas o que é uma ~essão de Formação Internacional? E uma ocasião em que devemos nos encorajar a prosseguir nos caminhos da espiritualidade conjugal, onde temos a oportunidade de aprofundar o conhecimento docarisma e da pedagogia do movimento e de ajudar na sua divulgação. O programa constou das seguintes partes: 1) orações pela manhã; 2) celebrações eucarísticas; 3) palestras: "Oração de Contemplação", "Orientação", "A Partilha", "Sentido da Responsabilidade, "OCasal Cristão: vocação a Santidade", "E.N.S. no mundo e no tempo"; 4) reuniões de equipes, que foram realizadas todas as tardes; 5) dinâmica de grupo I fórum de debates sobre os temas das palestras. Após participarmos da Sessão de Formação chegamos à conclusão que para realizar a partilha e para que ela

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seja uma verdadeira ajuda mútua é essencial uma mudança interior, uma total abertura de coração, para que possamos compreender nosss>s irmãos e nos fazermos entender. E necessário ouvi-los e depositar-lhes a nossa confiança, de tal forma que os outros se aproximem de nós para partilhar. Para isso, achamos que a atitude de servo do Senhor, isto é, de alguém que se entrega e confia, deve estar na base de todo o serviço aos outros. A fim de concretizar essa atitude, devemos ter espírito aberto e sentido de colegialidade, tomando como exemplo o pastor, que está sempre atento às suas ovelhas. Pensamos que é importante que o nosso serviço aos outros seja fundamentado nas três atitudes propostas pelo Mov imento: 1) cultivar a assiduidade em nos abrirmos à vontade e ao amor de Deus; 2) desenvolver a capacidade de viver a verdade; 3) aumentar nossa capacidade para viver o Encontro e a Comunhão. Concretizar estas atitudes passa primordialmente por acreditar, viver e testemunhá-las. Nós, como casal participante desta Sessão de Formação Internacional, bem como todos os demais casais participantes do Movimento das Equipes de Nossa Senhora, temos o compromisso e missão de colaborarmos para que as Orientações sejam bem vividas, a partir do esforço em testemunhar a nossa Vocação Cristã, pois assim seremos Sinais de Amor Transformador nos ambientes em que vivemos e atuamos.

Maria Cecília e Gaspar- EC/R


MEDITANDO EM EQUIPE Sugerimos escolherem um dos textos das Celebrações Litúrgicas do Encontro Internacional, quais sejam: a) Mateus 5,1-12 b) Lucas 15,11-24 c) Lucas 24,13-26 d) João 4,4-15, 19-26,39-42 e) João 2,1-12 Pistas para reflexão podem ser encontradas nas respectivas homílias publicadas nesta edição. ORAÇÃO Mulheres: Por toda a Igreja grande família de Deus com o Papa, os pastores e todos os seus membros, para que com coerência de fé e de vida, anunciem a todos os homens o Amor de Deus. Oremos irmãos: Todos: Ouvi-nos Senhor! Homens: Pela paz diante de tantos conflitos alimentados pelo ódio e pela vingança, para que se realize em breve um mundo de fraternidade e amor. Oremos irmãos: Todos: Ouvi-nos Senhor! Mulheres: Pelos casais do mundo inteiro, para que sejam empenhados e fiéis servidores da Tua Palavra, Oremos irmãos: Todos: Ouvi-nos Senhor! Homens: Por todas as famílias, para que vivam na alegria da fé a missão de transmitir a Palavra. Oremos irmãos: Todos: Ouvi-nos Senhor! Todos: Ouvi com amor Pai Celeste a oração da Vossa família que põe em vós a sua confiança. Ajudai-a a acolher a Tua Palavra e pô-la em prática com generosidade. Por N.S.J.C. Amém!


CÂNTICO DO VIII ENCONTRO INTERNACIONAL Ref. Beatam, Beatam me dicent omnes generationes Beatam, Beatam me dicent omnes generationes 1. A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu salvador Porque pôs os olhos na humilcfade de sua serva de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações 2. O Todo Poderoso fez em mim maravilhas


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