~
i CARTA o
~§ MENSAL o
=
<(
Equipes de Nossa Senhora
• Pais e Filhos • Mês das Missões • Pastoral Familiar • Ano Internacional da Família
ÍNDICE EDITORIAL
. ....... . .... . .
"ELES NÃO TÊM VINHO"
.. • . .
2
PROMOÇÃO DE CONDIÇÕES DE VIDA DIGNAS PARA A FAMÍLIA .. . . . . . .
4
(Jo2,3)
A FAMÍLIA FACE AOS DESAFIOS DE HOJE NO DOMÍNIO SOC IAL . . . . .
6
SOS FAM ÍLIA PARA O BRAS IL
. 11
FILHO PRÓDIG0,1994
. 13
. . . .
CARTA A NOSSOS FILHOS ..
. 17
A HORA DE FALAR DOS FILHOS A DEUS .
. 19
SER MISSIONÁRIO, HOJE
. . . .. . .. .
. 21
ESPÍRITO MISSIONÁRIO- ESTAR ATENTO
.22
MENSAGEM DE JOÃO PAULO li PARA O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES (23 .10.94) . .
. 23
O DOCUMENTO DA CNBB SOBRE AS ELEIÇÕES GERAIS . . . . . . . . . .
. 26
O CR IME DE ABORTAR . . . . . . . . .
. 27
O SENTIDO DA RESPONSABILIDADE .
. 29
PERFIL DAS EQUIPES DE NOSSA SE NHORA
. 34
O DEVER DE SENTAR-SE : ALGUMAS PISTAS
. 35
ELEIÇÃO DO CASAL RESPONSÁVEL DA EQUIPE . . . . . . . . . .
. 37
CRESCER EM COMUNHÃO .
. 38
FORMAÇÃO DA FAMÍLIA . .
. 39
NOTÍCIAS E INFORMAÇÕES
. 40
NOSSA BIBLIOTECA
. 43
CORREIO
. .. .
. . .... . . . .
. 44
CONFORMIS MO CRÔNICO .
. 46
ORAÇÃO A NOSS A SENHORA APARECIDA .
. 47
VOCÊTOPA?
. 48
. .... . ......... . .
Queridos Casais Equipistas Paz e bem! Iniciamos o mês missionário, no qual a Mãe Igreja nos pede que anunciemos com zelo e perseverança a "Boa Nova aos povos". E o que seria para nós a "Boa Nova aos povos?" Certamente o Evangelho de Jesus Cristo. Ainda celebrando o "Ano Internacional da Família", estamos agora vivendo a continuidade da beleza, profundidade e universalidade que foi o Encontro em Fátima, no qual o convite às "bodas" nos foi feito. E nós como respondemos à esse convite? Vamos ou não participar da grande festa que DeusPai nos preparou? Neste sentido, renovo hoje o convite de Maria que nos diz. "Fazei tudo o que ele vos disser". E o que "ELE" nos diz hoje? Nos diz: que "ELE" escolhe a família humana como meio de sua encarnação e preparação para a missão. Que "ELE" se empenha, com solicitude em reunir todos os homens e mulheres constituindo a grande família dos "Filhos de Deus". Que "ELE" busca sempre a vontade do Pai. Nós por nossa vez
também devemos buscá-la. Que "ELE" se compromete com a construção do Reino aqui na terra. Baseados na Boa Nova de Jesus, somos missionados a participar da vida e na missão eclesial enquanto cristãos; casais e família~ que vivem essa "Boa Nova". Somos e defendemos a família como uma parcela de amor; uma pequena Igreja; uma "missãozinha", na qual se pode através da oração, sobriedade e simplicidade, mostrar aos nossos irmãos e irmãs desesperançados um caminho seguro para Deus. Somos desafiados a ser protagonistas da missão, apresentando propostas concretas para a animação, formação e construção das famílias hoje. Coloquemonos no abandono à "Divina Providência" para nos lançarmos aos desafios do sistema-social e cultural, o mundo religioso, da comunicação social e dos jovens, que exigem de nós esforços de presença e evangelização. Que as nossas orações à Sagrada Família alimentem nossa caminhada. Abraços e orações Pe. Mário José - EC/R.
CM Outubro/94- 1
11
ELES NÃO TÊM VINHO .. (Jo 2,3)
"Jamais peço dinheiro às pessoas; o que lhes peço é que eles venham e vejam, que eles tomem contato com os pobres. Quando um tal contato se estabelece, fica muito fácil perceber o que é preciso fazer." (Madre Teresa de Calcutá em 'J\ Alegria da Doação") Neste rico Evangelho de São João, comentando as Bodas de Caná, gostaríamos de nos deter para uma pequena reflexão em três pontos que consideramos fundamentais, tendo em vista o VIII Encontro Internacional das Equipes de Nossa Senhora em Fátima. "No terceiro dia, houve um casamento em Caná da Galiléia e a mãe de Jesus estava lá" (Jo2,1)
São dois testemunhos eloqüentes, tanto o de Maria como o da Madre Teresa, de como é fundamental a presença concreta na realidade dos acontecimentos e da vida , e que se esteja atento aos sinais, para que nos apercebamos dos apelos e da vontade de Deus . Assim como Maria e Jesus foram convidados a estar presentes naquelas bodas, à celebração da família por excelência , Mad re Teresa também faz o convite aos homens e mulheres de boa vontade do nosso tempo, para que estejam presentes em outras realidades . Somente quando se está presente fisicamente numa determinada situação é que pode-se vir a descobrir o que fazer para que esta realidade seja transformada , conforme a vontade de Deus . 2 - CM Outubro/94
"Como não houvesse mais vinho, a mãe de Jesus lhe disse: 'Eles não têm vinho'" (Jo2,3)
Um segundo ponto a refletir é com relação à figura dos "eles". Quem seriam hoje os "eles" do Evangelho? Seria eu, com todos os meus problemas e dissabores, angústias e preocupações? Seria eu, o "tolo" do Evangelho que, ao receber tantos dons, guarda-os somente para si, a fim de prestar contas no juízo final? Ou os "eles" seriam tão somente meus familiares, marido, esposa, filhos, no nosso pequeno mundinho de quatro paredes? Creio que a maioria de nós, casais das Equipes de Nossa Senhora, se tivermos a coragem de olhar para fora do nosso pequeno universo, como aliás muitos já o fazem, iremos encontrar quem são aqueles que realmente não têm vinho: as famíl ias desajustadas, incompletas, destruídas, as famílias pobres, as oprimidas, sem condições dignas devida, que lutam contra a fome, o desemprego, a falta de saúde, que não têm seus direitos respeitados ... Certamente Deus quer para seus filhos um Projeto ambicioso, ,na tarefa de construção do Reino. E, sem dúvida alguma, a proposta deixada para nós através de seu Filho Jesus, do qual nos proclamamos seguidores. Cremos mais, que com os inúmeros dons recebidos, seja em relação ao nosso casamento, nossos filhos, nossa condição econômica-social, nossa pertença a um movimento que tanto enriquecimento espiritual nos proporciona, deveríamos estar
permanentemente atentos a esta realidade de famílias carentes de "vinho" e ao nosso lema do ano passado: "Aquele a quem muito foi dado muito será pedido!" "Como não houvesse mais vinho, a mãe de Jesus lhe disse: 'Eles não têm vinho' " (Jo2,3) "Já de há mu~os anos", diz Maria Regina, "este versículo é colocado na minha vida em momentos difíceis , Hoje, após Fátima, refletindo sobre o mesmo, constato que é muito mais profundo do que imaginava". "Eles não têm vinho ". Que vinho será este? Certamente a falta desse vinho se manifesta nos problemas familiares, nos desentendimentos entre o casal, entre os filhos , nas doenças, etc. Mas, que são estes problemas quando comparados com a realidade da grande maioria das famílias brasileiras? Ainda nos lembramos dos recentes dados fornecidos pela a última Campanha da Fraternidade? Pensemos um pouco naquelas famílias que não têm o vinho da dignidade de pessoas humanas , que vivem naqueles cubículos onde se abrigam precariamente famílias não só de pais e filhos, mas muitas vezes de avós, tios e outros agregados, todos dentro do mesmo espaço, numa experiência de verdadeira partilha, e hosp~alidade . Por que não fazermos uma pequena experiência? Sintamo-nos convidados pela Madre Teresa, assim como Maria e Jesus um dia foram convidados às bodas, e vivamos pessoalmente um pouco desta outra realidade, a realidade da grande maioria das famílias brasileiras.
Façamos um "Dever de Sentar-se" - e seria ótimo se nossos filhos pudessem conosco compartilhar desta experiência- e verifiquemos como anda a nossa austeridade, a nossa simplicidade de vida e, acima de tudo, a nossa coerência entre a fé que professamos e a vida cotidiana, e nossa solidariedade para com os pobres. Entretanto, o apelo que o Movimento nos faz no presente momento, não é no sentido de nos despojarmos de todos os nossos bens, como no Evangelho do jovem rico, mas que passemos realmente por uma transformação interior, valorizando o que realmente importa, com conseqüências que transformem. A grande sabedoria desta nova postura do Movimento é de que ele nos convida como casal, a sair de nós, para ir além da nossa equipe, a deixar de olhar para nossos próprios umbigos, no dizer de Dona Nancy, e olhar na mesma direção, em direção àquelas famílias carentes d<? nosso carisma e da nossa partilha . A nossa volta podemos constatar o grande número de famílias sem o vinho do Amor, da esperança, da dignidade reconhecida de filhos amados de Deus . "Como não houvesse mais vinho, a mãe de Jesus lhe disse: 'Eles não têm vinho"' (Jo2,3) O exemplo de Maria nos leva a rever as nossas atitudes de vida. Ela , uma simples convidada à festa , porém atenta à realidade dos acontecimentos. Maria Regina e Carlos Eduardo EC/R
CM Outubro/94- 3
PROMOÇÃO DE CONDIÇÕES DE VIDA DIGNA PARA A FAMÍLIA Pela Constituição do Brasil, a família é considerada a base da sociedade. Por isto mesmo, cabe ao Estado prestar proteção especial à família, através de programas assistenciais quando necessários, na pessoa de cada um dos que a integram (art. 226). Ora, está aí o que poucos brasileiros sabem: às famílias devem ser garantidas condições para que seus membros possam usufruir de níveis adequados de bem-estar. Isto significa, na prática, que nenhum chefe de família poderia estar desempregado ou recebendo salários que não pe rmitem o sustento daqueles que vivem sob sua proteção e responsabilidade. O que vemos, contudo, é bastante diferente. São mais de 9 milhões de famílias cujo rendimento mensal não lhes permite comprar alimentos de que precisam para satisfazer suas necessidades nutricionais. São mais de 12 milhões de famílias que não têm casa, vivendo em favelas, em condições indignas. São mais de 35 milhões de pessoas sem emprego ou com empregos que não oferecem um salário suficiente para a vida familiar e para a educação das crianças e dos adolescentes. 4 - CM Outubro/94
Poderíamos, ainda, lembrar tantas outras situações que são contrárias a uma vida digna para as famílias, relacionadas com a educação, saúde e saneamento.
É realmente estranho que, ao lado dos inimagináveis progressos da técnica e da ciência, nossa sociedade conviva com essas insuportáveis situações de pobreza e miséria das famílias, que é resultado da insustentável forma de distribuição das riqu ezas entre nós. São poucos os que têm muito e são muitos os que têm tão pouco! Há o consenso de que a família é a célula básica da sociedade. Portanto, se a família vai bem, a sociedade também vai bem, e vice-versa, porque todo o processo de construção de uma vida sadia, equilibrada e responsável se dá na família. O Papa João Paulo 11, que tanto se preocupa com as ameaças à vida digna em família, faz constantes apelos aos governantes do mundo inteiro e aos organismos internacionais para que resguardem a família como um tesouro pre·cioso da sociedade, como a principal fonte da reconstrução da humanidade. É sua a frase: "O futuro da humanidade passa pela família", isto é, o futuro da nossa
sociedade está nas mãos das nossas famílias de hoje, ou nas mãos das famílias que forem bem constituídas nos dias de hoje. Todos os governos deveriam tutelar a família, promovendo as oportunidades necessárias para que tenha condições dignas de vida, não apenas no sentido material, mas também social , espiritual e moral.
É isso basicamente o que propõe a Carta dos Direitos da Família, redigida e apresentada pela Santa Sé (Vaticano) em 22 de outubro de 1983. Ao mesmo tempo que enumera os direitos da família, faz um veemente apelo para que sejam assegurados o seu efetivo reconhecimento e observância em todos os países do mundo. Propõe, entre outros, os seguintes direitos para uma vida digna: • uma adequada política pública no campo econômico, social , fiscal e jurídico, de modo a assegurar um nível de vida compatível com a dignidade e o pleno desenvolvimento da família; • uma ordem social e econômica em que a organização do trabalho permita aos membros da família viverem juntos com bem-
estar e estabilidade; • uma remuneração suficiente para a vida familiar e a educação dos filhos; • uma moradia decente, adequada à família, em ambiente que ofereça os serviços sociais indispensáveis; • uma assistência social digna aos necessitados; • medidas de segurança social que preservem a vida e a integridade dos membros da família. Olhando para o que acontece ao nosso redor, é fácil perceber que, com freqüência, esses direitos costumam ser ignorados e não raro minados por leis, instituições e programas sócio-econômicos. Sem esses direitos, ou essas condições, é difícil imaginar que uma família venha a se desenvolver em plenitude, porque a ausência de um mínimo de infra-estrutura social cria situações de pobreza e miséria e representa uma ameaça à construção de uma sociedade justa e solidária. CNBB - Setor Família nii4 Julho/Agosto de 1994
CM Outubro/94- 5
A FAMÍLIA FACE AOS DESAFIOS DE HOJE NO DOMÍNIO SOCIAL 1.· Introdução: Agradecemos aos organizadores deste Encontro, e a todos vós, o convite que nos foi feito e a alegria que nos é dada por estarmos convosco neste dia e podermos partilhar dos dons deste Encontro. Não sendo membros das Equipes de Nossa Senhora, sentimo-nos muito honrados pelo vosso convite. Convosco, damos Graças a Deus pela vossa história e por todo o bem que, através de vós, tem sido feito a muitos Casais e Famílias, à Igreja e ao mundo. Desejamo-vos um feliz e fecundo encontro entre vós, e vosso com Nossa Senhora, nesta terra de Fátima. A nossa participação vai ser muito sintética, limitando-se a propor para reflexão algumas grandes questões que consideramos relevantes para a maior parte dos povos e culturas do nosso tempo, àcerca das relações mútuas entre Família e Sociedade. Na seleção e no tratamento dos temas que vos apresentamos intervieram critérios das nossas formações acadêmicas e práticas profissionais, do campo das Ciências Sociais, assim como da nossa formação cristã e procuramos ter em conta as circunstâncias próprias deste Encontro, designadamente os contributos dados pelos outros participantes desta Mesa-Redonda. 6 - CM Outubro/94
2.· Desafios da Sociedade Família
à
2.1 A diversidade de concepções de quadros valorativos de formas de sentir e de modelos de comportamento existente, consagrada ou até valorizada em muitos países sobre o Casamento e a Família, em parte decorrente do fenômeno de cada vez maior comunicação e interinfluência entre os povos e culturas do nosso planeta, obriga hoje muitas Famílias a confrontar permanentemente, de muitas formas, os seus valores e modelo de vida com outros, por vezes muito diferentes.
Além disso, as Famíl ias são, em geral, muito vulneráveis a grandes fatores e processos de mudança sócio-cultural que estão em curso, em ritmos e formas diferentes um pouco por todo o mundo, tais como, por exemplo a urbanização, o êxodo rural, a industrialização e a terciarização, a escolarização, as migrações, a democratização, a liberalização da economia, a difusão dos meios de comunicação social, a inovação científica e técnica, o novo papel da mulher na sociedade e a generalização do trabalho feminino fora de casa, a mobilidade social ascendente, a secularização, por um lado, e o aparecimento dos novos ·movimentos religiosos e novas formas de religiosidade por outro. De tudo isto decorre que, em
muitas sociedades se observa uma grande insegurança de critérios e modelos sobre o casamento e a Família, os seus fins, valores e sentido, as suas funções e formas de organização, os papéis e as relações familiares. A interdependência crescente entre os povos e culturas e as novas formas de relação de maior complexidade, entre as instituições, organizações e grupos, em grande parte dos países e religiões do mundo atual , põem freqüentemente as Famílias numa situação de dependência e subalternidade perante os objetivos, valores e instituições dominantes, com riscos de desvalorização do casamento e da Família, e agravamento das dificuldades com que as Famílias têm de se enfrentar nas relações com a sociedade de que fazem parte.
2.2 As escalas de valores próprias de cada sociedade e cultura lançam hoje muitos desafios às Famílias, por várias razões e de diversos modos. No que toca aos próprios valores, pode identificarse que, em diferentes povos e culturas, o materialismo, o hedonismo, o individualismo, o relativismo e o pragmatismo vão-se instaurando como valores dominantes. Por outro lado, é bastante frequente observar-se uma duplicidadede discursos sobre a questão dos valores: uma coisa é a proclamação dos valores, como ideais a atingir, outra coisa é a prática social que pode consagrar uma outra escala de valores que são os que efetivamente orientam a ação; muitas ve-
zes esta disparidade está relacionada com a falta de condições sociais, econômicas e políticas objetivas que tornem possível atingir, com a necessária plausabilidade, os valores proclamados. Em qualquer dos casos, a vida familiar, especialmente em algumas das suas funções, sofre um impacto considerável. 2.3 A visibilidade da Família, as suas imagens e representações dependem muito de sociedade para sociedade. Acontece muitas vezes que se dá uma tentativa de apropriação da imagem da Família pelas várias forças e agentes sociais, seguindo os seus próprios objetivos e estratégias, desde o discurso político-ideológico, ao discurso publicitário, daí podendo resultar imagens unilaterais e distorcidas, tais como as imagens idealizadas e romantizadas, ou instrumentalizadas por ideologias políticas, desde as revolucionárias às conservadoras. De um modo ou de outro, a Família pode ser seriamente atingida por pressões e expectativas sociais fortes. Os efeitos destes fenômenos nas representações e estratégias dos jovens àcerca do casamento e da Família podem ser significativos. 2.4 O mundo contemporâneo, na diversidade das suas formas de organização social e de sociabilidade, produz seguramente efeitos diferenciados nos vários tipos de Família existentes, designadamente ao nível das suas funções mais típicas e universais. Assim, depende de sociedade CM Outubro/94 - 7
para sociedade o modo como é valorizada a dimensão comunitária das Famílias, não só no que diz respeito à dimensão da Família, sua coesão e organização, como no que toca à relevância das suas funções sociais. Mas as condições sócio-culturais e políticas também podem lançar desafios aos dinamismos internos próprios da comunidade familiar , designadamente a relação e tensão entre amor e vida, unidade e diferença, estabilidade e mudança ou crescimento, e "interior" e "exterior". Também a geração da vida é objeto de grandes desafios nas nossas sociedades. As concepções e os comportamentos nesta matéria têm-se vindo a alterar significativamente, designadamente a respeito da contracepção e do aborto, da sexualidade e da sua relação com o amor e o casamento. As novas questões da reprodução medicamente assistida e da engenharia genética, e o debate sobre a situação demográfica mundial e nos diversos continentes e países tem efeitos diretos ou indiretos sobre as Famílias, designadamente sobre o modo como entendem e exercem a paternidade e a maternidade responsáveis. Estas matérias têm sido muitas vezes abordadas segundo critérios parcelares, conduzindo a conclusões redutoras, estando a exigir um nível superior de abordagem interdisciplinar e de diálogo entre os vários saberes e leituras da realidade humana e social, incluindo os planos ético e espiritual. No horizonte destas 8 - CM Outubro/94
temáticas perfila-se claramente a grande questão do sentido da vida e de qual o seu valor nas nossas sociedades. Na grande variedade de formas de serviço à vida de que são capazes, incluindo a educação, as Famílias encontram-se muitas vezes perante desafios muito importantes à sua identidade e espaço de intervenção, designadamente perante o papel crescente da escola e de outros agentes de socialização e o fato de eles entrarem em conflito mais ou menos aberto entre si e com a Família, o que afeta gravemente a capacidade de educação dos Pais, levando muitos a demitir-se desse direito e responsabili dade. Em muitas sociedades, um grande número de Famílias vê-se em sérias dificuldades para fazer face aos novos problemas da educação e integração dos mais novos, assim como dos mais idosos.
3.- Desafios da Família à sociedade Nas condições atuais, a existência de Famílias com modelos de pensar, sentir e atuar suficientemente consolidados lança desafios às sociedades a que pertencem. Parece-nos que os podemos ordenar em torno de grandes temas com que o Cristianismo tem interpelado as sociedades de todos os tempos e lugares, a partir do Evangelho. 3.1 Perante a diversidade de idéias e práticas, as Famílias obrigam as sociedades a confrontar-
se com a questão do homem e da mulher sua unidade e a sua diferença, e a uma procura constante do sentido e do bem do casamento e da Família. A força do amor e da vida concentrada no casamento e na Família, e as exigências do seu crescimento podem ser caminho de questionamento e de procura da verdade e do bem acerca do homem e da mulher, da Família e da própria sociedade.
3.2 A dinâmica do amor e do desenvolvimento da vida familiar pode manter constantemente um apelo em favor das liberdades individuais, da democracia política respeitadora da Família e de todas as instituições e grupos que concorrem para o bem comum, e do aprofundamento da democracia econômica e social de modo que todas as Famílias e pessoas tenham condições sociais objetivas que possibilitem o maior grau de exercício da liberdade em responsabilidade, segundo a consciência de cada um. 3.3 A vida familiar reclama que se promova a justiça nas relações sociais, econômicas, e políticas, a todos os níveis, e se respeitem os direitos humanos e os direitos das Famílias. Reclama ainda que se cumpra o princípio da subsidiaridade que salvaguarda a autonomia e capacidades das Famílias perante as outras instituições, em especial o Estado, o qual deve conformar-se com as exigências éticas e formais próprias de um Estado de direito. 3.4 A Família que vive da expe-
riência radical do amor pede e dá solidariedade à sociedade a que pertence. Isso expressa-se não só na solidariedade entre parentes e vizinhos, mas também nos modelos de desenvolvimento econômico e social, no combate às profundas desigualdades sociais entre estratos sociais ou regiões no interior de cada país e nas relações internacionais, hoje profundamente marcadas pelas enormes diferenças entre países ricos e países pobres. 3.5 O bem das Famílias obriga as sociedades à criação de uma ordem social que defenda e garanta a segurança e a paz, tanto nas relações internacionais como dentro de cada nação, nas relações laborais, políticas e sociais. As Famílias precisam de paz. Para isso, as sociedades devem favorecer a cooperação, o diálogo, a abordagem positiva das tensões e conflitos, no respeito das diferenças legítimas, a todos os níveis, entre os povos, culturas, religiões, instituições, grupos, Família e pessoas. 4. Para vencer os desafios
Os desafios que são, na nossa opinião oportunidades abertas às Famílias e às sociedades do nosso tempo para se atingir um novo modelo de vida mais capaz de vencer os constrangimentos e os dilemas que se apresentam neste tempo doloroso e, simultaneamente, cheio de esperança, ou seja, para caminharmos para a civilização do amor. Não obstante, talvez as seguintes ações sejam úteis para as FaCM Outubro/94 - 9
mílias de hoje venceram os desafios que lhes estão postos: a) reforçar a identidade, dar fundamentos sólidos, sentido e valores às Famílias; b) reforçar a consciência de missão das Famílias, reconhecer melhor o contributo próprio da Família para o bem das pessoas e da sociedade, estimulálas a dar testemunho; c) incrementar a abertura e relação das Famílias entre si e com os outros grupos e instituições, estimula-las a participar, tomar iniciativas, ser criativas, e a apoiar outras famílias; fortalecer o associativismo familiar;
1O - CM Outubro/94
d) conhecer melhor, avaliar e intervir sobre as condições sociais que têm mais influência na vida das Famílias; e) dinamizar a Igreja Católica e todos os cristãos na defesa e na valorização do casamento e da Família; é uma responsabilidade histórica que exige o anúncio claro do Evangelho da Família e formas adequadas de serviço a todos os tipos de Família; é tarefa de toda a Igreja, em especial das igrejas domésticas e dos leigos casados. Maria Zulmira e Manuel Luís Marinho Antunes {8 9 Encontro Internacional das ENS, Fátima, Mesa Redonda em 20.07.94)
SOS FAMÍLIA PARA O BRASIL Com um início tímido em 02/08/92 iniciava-se o SOS Família de Bauru/SP. Em 3 meses de funcionamento ainda não tínhamos atendido nenhum cliente. Todavia, perseveramos. Tínhamos a esperança que semente bôa em terra fértil tinha de germinar bem, com saúde e robustez. Após 3 meses começamos a atender os primeiros casos de conflitos conjugais e familiares. Pois esta é a proposta do SOS Família: procurar resolver problemas conjugais e familiares, tendo em vista o fortalecimento da família que Deus criou e que não pode acabar. Essa idéia sublime e vibrante foi expandindo-se, até que após palestra em Jaú, cidade a 50 Km de Bauru, aquela abnegada comunidade Jauense, iniciou o trabalho de organização do SOS Família de Jaú, que culminou inaugurada em 15/08/93. Após Jaú fomos solicitados através de palestra a dar informações sobre o SOS Família em Piracicaba. Nesta cidade o SOS Família foi inaugurada no final de 1993. Em Janeiro de 1994 palestramos em Franca e o SOS Família
foi inaugurado em 12/06/94. Atendemos solicitação dos equipistas das ENS de Recife com toda orientação para fundar o SOS Família. Não sabemos até o momento como anda sua implantação. Temos palestras marcadas para S. Joaquim da Barra, que segundo informações, existem lá 42 casais em disponibilidade para os SOS Família. Em Pindamonhangaba e Guaratinguetá, onde também fizemos palestras, o SOS já está em andamento. Outras localidades como Piratininga, Ribeirão Preto, Araraquara, Ourinhos, Olavo Bilac, deverão nos contactar para orientação e instalações de seus respectivos SOS Família. Sem falar em Fátima onde o SOS Família já foi anunciado.
É com muito prazer e muita alegria que contribuímos para a orientação e instalação dos SOS Família em outras localidades, e para isso basta nos contactar (endereço abaixo) e marcar a data. Abraçar o ideal de lutar pela preservação da família não é missão fácil, mormente nos dias atuais em que a família recebe influências terríveis da sociedaCM Outubro/94- 11
de em si, dos meios de comunicação e da própria política sócioeconômica do País. E, nós, equipistas ou cristãos que fomos chamados por Deus para construir o SOS Família, reconstruir as famílias destruídas e desestruturadas temos uma grande responsabilidade nessa luta. Além disso temos de retribuir o chamamento de Deus para ser sal da terra e luz do mundo. Queremos um mundo melhor para todos. Assistir casais se destruírem, se separarem, sem nada fazer, é omitir-se. É não retribuir ao talento que Deus nos deu para atender nossos irmãos. Basta doarmos um pouco de nosso amor. Se assim agirmos estaremos sendo evangelizadores. Pois vejam: Jo 3,3-11, diz "Amemos uns aos outros "Jesus Cristo quando aqui esteve agiu desta maneira e nos deixou esta missão. E Paulo não disse que o amor é a única lei de Jesus Cristo? Portanto, se você acredita como Jo 3,16, que "Jesus Cristo é enviado do amor"; como Me 12,28-30, que "o centro do evangelho é o amor"; como Paulo em Rm 13,81O, que "o amor sintetiza a vontade de Deus"; e que o amor é a fonte de todos os comportamentos humanos e que os dons dependem do amor, é chegada a hora de praticarmos e exercitarmos nosso gesto concreto, auxiliando aqueles que procuram e precisam de 12 - CM Outubro/94
nosso amor, nosso exemplo e nossa esperança.
É o equipista, o cristão, saindo de dentro para fora, para evangelizar, para levar a palavra de Jesus Cristo e o nosso auxílio. Será um trabalho consciente , transparente, sublime e grandioso. Seremos semente de um futuro melhor, com paz e vida. Semente boa em terra fértil germinará e dará bons frutos. O povo fiel ou Pobres de Javé, desejavam a restauração do templo e da cidade em bases justas, e nós do SOS Família queremos a restauração da família e ser semente de um futuro melhor, um futuro novo, cheio de paz e vida (Miqueias 4,2) .
Vamos ter esperança! Pois isto significa Paz e o fim da luta competitiva, um mundo sem crises conjugais e familiares; e seremos grandes colaboradores para esse mundo que tanto almejamos e apregoamos. Será que Deus nos escolheu através dos SOS Família para sermos também "povo fiel", para trazermos paz para a humanidade, agindo exatamente na célula, no núcleo da sociedade que é a família? Ada e José Ornar Abdo Coordenadores do SOS Família de Bauru R. 13 de Maio, 14-78 Fone: 0142 232824 CEP: 170.40450 BAURU-SP
FILHO PRÓDIGO, 1994 As coisas não estão nada bem, pensou Artur com seus botões. A grana acabou. E conforme foi acabando a grana, foram acabando os amigos. Que amigos, hein! Só estavam atrás das farras que paguei para eles, da erva que de vez em quando repassei, de tudo o que de bom o meu tutu podia comprar para eles. Agora, sumiram todos. Claro, já não tenho mais o carro para leválos para cima e para baixo. Tive que mudar para este quartinho de cortiço, porque o aluguel do apartamento, não dava mais para pagar. E agora nem emprego consigo arrumar. Só aquela firma de limpeza que tem a vaga de faxineiro ... Artur ficou pensando no que seus pais diriam se soubessem. O pai dele era grande empresário numa cidade do interior , com intensa atividade industrial e comercial. Tinha duas fábricas, uma revenda de automóveis, uma série de casas e terrenos na cidade. Moravam numa verdadeira mansão, com um monte de empregados. A mãe dirigia a casa e tinha intensa participação na paróquia. Eram só dois filhos e Artur era o mais novo: tinha vinte anos. O Carlos, com vinte e cinco anos, tinha terminado a faculdade e estava, quando Artur o vira pela última vez, assumindo uma das fábricas. Fora dois anos atrás , quando Artur tinha ido se despedir dele e que Carlos nem sequer olhou para ele! Quero mais que ele se dane , disse Artur em voz alta . Naquela altura , lembrou , tudo parecia tão fácil, tão legal.
Ele tinha completado dezoito anos. Cursava o segundo colegial, mas estava cheio daquilo. Estava também cheio da cidade, cheio de ser o caçula em quem todos mandavam, cheio de não poder fazer sempre o que bem entendia. Cheio de ter que pedir dinheiro toda hora para o pai, cheio das perguntas dele, cheio das noitadas e dos fins de semana sem graça. Não agüentava mais a pressão da mãe para que estudasse, nem a hipocrisia do diretor da escola, que o deixava passar de ano para puxar o saco do pai. Até aquele dia .. . Jogou-se sobre a cama, fechou os olhos e rememorou a cena e a conversa . Tinha ido ao escritório do pai e entrou na sala sem bater. A Betinha, secretária do pai, estava ali, numa atitude que, ao pensar agora, Artur achava meio esquisita . Mas ao vê-lo entrar, endireitouse e foi saindo. -Oi pai, disse Artur. -Oi filho. O que você veio fazer aqui a esta hora? Não deveria estar no colégio?
-É mas queria conversar com o senhor. É urgente. - O que é que há de tão urgente que não possa esperar até de noite?
- É que já faz três noites que estou esperando até tarde pelo senhor, mas não consigo encontrá-lo, respondeu Artur. - Tenho tido muitas reuniões, estou trabalhando duro, sabe. Ainda CM Outubro/94- 13
mais com a recessão, com as eleições que vêm vindo e tudo mais ... Mas o que você quer? Artur pensou no discurso que tinha preparado, mas não conseguiu lembrar nada. Durante alguns segundos, que pareciam uma eternidade, suportou o olhar inquisidor do pai. -Bom disse afinal, é assim ... Eu quero ir embora. - Embora? Como assim? Para onde? Por que? - metralhou o pai. - Não sei, replicou Artur. Só sei que estou cheio de tudo, já tenho dezoito anos e quero viver minha vida e longe daqui. Quero ir para alguma cidade grande. Quero aproveitar enquanto sou jovem. Aqui não tem nada para mim. O telefone tocou. Durante vários minutos, o pai ficou entretido numa conversa sobre a situação do departamento de vendas. Quando repos a fone no gancho, voltou-se para Artur: -Sim. O que você dizia? Ah, sim . Que você quer ir embora. Mas você ainda não terminou nem o colegial! Você não sabe nada, não é ninguém , o que você vai fazer? -Será que eu não posso tentar me virar? Já sou grandinho, já tenho dezoito anos e acho que tenho o direito de viver como eu quero, replicou Artur. - Posso perguntar com que dinheiro? Você não tem um tostão! -Pois é. Andei conversando com uns caras que entendem deste negócio. E parece que eu tenho alguns direitos. A metade do que o senhor tem é da mãe. Um quarto é do Carlos e outro quarto é meu. Eu quero que o senhor me adiante minha par14 - CM Outubro/94
te da herança! Tinha desferido o grande golpe. Por alguns momentos, seu pai ficou sem fala. Depois, sem olhar para ele, fez aquele discurso que Artur já esperava. Que não tinha trabalhado a vida inteira para que um filho jogasse tudo fora. Que não era isso que esperava. Que Artur era injusto, que se não tinha dedicado mais tempo para estar com ele é porque tinha que sustentar a família . Por que ele não poderia ser como o Carlos, tão sério, tão trabalhador? E mais um monte de coisas do gênero. E finalizou: -De qualquer forma, esta é uma decisão que não posso tomar sozinho. Tenho que falar com tua mãe. Você já conversou com ela? -Ainda não. - Tá vendo? Vai agora cuidar d~ tua vida e me deixa trabalhar. A noite a gente se fala. Aquela noite, a reunião foi longa e tenebrosa. A mãe chorou muito. O Carlos, que também foi convocado, só tirou sarro. E a coisa se prolongou por mais alguns dias, num ambiente horrível. Até que finalmente, conforme Artur ficou sabendo , a mãe tinha ido conversar com o padre e que este, para surpresa de Artur que já não o via havia vários anos, aconselhou que o deixassem ir. Parece que tinha falado qualquer coisa de um tal de "filho pródigo" que aparece no Evangelho e que, se os pais quisessem que um dia ele voltasse, tinham que primeiro deixá-lo ir. Depois, demorou mais alguns dias até o pai arranjar o dinheiro que não era pouco - e, finalmente, uma bela manhã, Artur, feliz da vida, de carro novo, entre as lágrimas da mãe, um sorriso e um abraço forçado do pai e a indiferença do irmão,
pegou a estrada ... Artur sacudiu a cabeça e sentou na cama. Tudo isso agora não existe mais, pensou . A questão é que estou com fome , não tenho um tostão para comer, não sei como vou pagar o aluguel desta espelunca e não tenho emprego. Vou lá na firma de limpeza.
~~ Três meses depois, Artur estava irreconhecível. Tinha perdido dez quilos, só lhe restava a roupa do corpo, dormia, quando conseguia , em baixo da ponte. O dinheiro que ganhava na firma de limpeza, um pouco menos que o salário mínimo, mal dava para a condução. Tinhamno mandado trabalhar no hospital que mantinha contrato com a firma , mas como o serviço que ele fazia, atrás do necrotério, não dava na vista, nem uniforme ele tinha ganho. Uma vez, ao recolher os restos cirúrgicos - pedaços de braço, perna, tumores- para jogar no icinerador, chegara a pensar em comê-los!. .. Eram duas horas da manhã. Não conseguia dormir. Em volta dele, em baixo da ponte, aquele cheiro de urina e de vômito. De cócoras, com a cabeça entre os joelhos, Artur conversava consigo mesmo à meia voz: -Cheguei no fim. Agora não dá mais. O Mané, aquele faxineiro na casa do meu pai, é um milionário comparado comigo. E tem uma família, tem gente que se preocupa com ele , tem gente para ele cuidar , para ele olhar. Eu não tenho ninguém ... Mas como não tenho ninguém? Não é assim . Tá certo que eu fui embora, que eu os larguei , mas afinal , ainda são minha fam ília . Acho que vou ter que engolir essa. Vou botar o pé na estrada e vou voltar para casa. E vou falar assim
para o meu pai: Tudo bem, eu sei, não deu certo. Torrei o tutu, não sobrou nada. Vocês tinham razão . Estou arrependido, mas eu sei que isso não adianta. Só o que peço, é que vocês me arrumem um emprego. Não precisa se preocupar comigo como filho; só quero ser empregado na fábrica ou em qualquer outro lugar. Juro que não vou dar trabalho. Fico em qualquer canto, trabalho em qualquer serviço ... Levantou-se e falou em voz alta: - Alguém tem aí uma ficha de telefone? Ninguém respondeu . Mas lembrouse que teria que ligar interurbano e que, de qualquer forma, uma ficha não daria. Mas poderia ligar a cobrar! Saiu correndo em direção a um orelhão, a duas quadras dali. Com o coração na mão, discou o número. Depois da mensagem , com lágrimas nos olhos, ele gritou: - Aqui é o Artur! Quem fala? E ouviu a resposta: - Artur? Não conheço! Clique. Desligou . Era a voz do Carlos. Sentou na guia, com os pés na sarjeta e chorou. Tinha perdido a última esperança. A família que ele pensava reencontrar, com a qual ele queria contar, o descartava. "Não conheço", o Carlos disse. Sou um estranho para ele, como posso chegar lá e pedir um emprego? Durante meia hora, soluçou e chorou. Mas, de repente , pensou: Tudo bem , o Carlos é um desgraçado que nunca me entendeu , que nunca gostou de mim. Mas minha mãe e meu pai não podem fazer isso comigo! Levantou-se de novo, enxugou as lágrimas e, devagar, se pôs a camiCM Outubro/94 - 15
nho. Quase arrastando-se, foi saindo da cidade, buscando a estrada que o levaria para casa.
Nunca lhe passou pela cabeça que isto poderia acontecer. O velho disse:
A caminhada foi exaustiva. Ele andava como que anestesiado. Já não sentia nem a fome. Foi pedindo esmola, por vezes ganhava um pedaço de pão velho. Dormia no mato. Um inseto picou seu pé que logo inchou. Mas ele foi em frente, pensando no pai e na mãe que iria encontrar, de tudo o que ia rever. Não sabia sequer quantos dias tinha andado. O sapato arrebentou e ele o abandonou numa valeta. Por fim, chegou no último morro e, lá de cima, avistou a cidade. A visão o fez voltar a si. As lágrimas encheram seus olhos e fez a última descida correndo, tropeçando, cheio de alegria, gritando. Pai! Pai! Estou de volta! Cheguei!
-Depois que separou da mulher, cada um foi morar para um lado. A casa ficou para o filho, que só vem aqui de vez em quando. Tem um apartamento naquele prédio grande -apontou.
Na frente da casa, ele parou. Examinou a fachada, que lhe pareceu mudada. As janelas de cima estavam fechadas com as venezianas. Tocou a campainha, mas não aconteceu nada. Bateu palmas, gritou: Ô de casa! Depois do que lhe pareceu um século, um homem, um velho que ele não conhecia , apareceu, vindo dos fundos. Gritou, de longe: - 0 que é? -
-O doutor José Ferreira está aí? perguntou Artur.
-Já não mora mais aqui faz mais de ano, disse o velho, chegando mais perto. Agora esta casa é do Doutor Carlos. -Como não mora aqui? Mudou-se? Não podia acreditar no que ouvia.
16 - CM Outubro/94
Artur sentiu-se tonto. Perguntou, com a voz quase apagada: - Separou-se da mulher? Da dona Tininha?
-É hoje em dia é assim, respondeu o velho, que parecia contente de ter com quem falar. Depois que o filho mais novo foi embora, o doutor Ferreira quase não aparecia mais em casa e, quando vinha, só brigava com a dona Tininha. No fim , acabou saindo da casa e se juntou com a tal da dona Betinha e parece que foi morar na Europa. Largou tudo na mão do doutor Carlos. E a dona Tininha ficou muito doente, dizem que acabou internada num sanatório ... Mas quem é você? Você conhece a família deles? - Família? disse Artur, que família?
~ O corpo dele foi achado uns dias depois, enforcado numa árvore, à beira do rio. No bolso da camisa toda rasgada, encontraram um bilhete para o Dr. Carlos Ferreira. Só tinha sete palavras. Dizia: "Eu estou morto, você não. ha! ha!" PeterNadas Equipe 3- O São Paulo/SP
CARTA A NOSSOS FILHOS Estimulados por Madre Domitila, então Diretora do Colégio Nossa Senhora do Rosário, e sob a orientação de lvone e Álvaro Moura, tendo como Conselheiro Espiritual Frei Estevão Nunes, nos idos de 1965, ainda jovens casais como muitos de vocês, constituímos a Equipe Nossa Senhora do Rosário, exatamente sob a inspiração de Nossa Senhora, quando de suas aparições em Fátima. Conceição e Mário, Romilda e Nilton, Germana e Conrado e Marilena e Oscar continuam nossos irmãos queridos e saudosamente lembrados, embora afastados. Acolhemos, então, Lourdes e Gerson, Dinah e Pestana que vieram enriquecer e animar nosso grupo e, como disseram: ".. .pegamos o bonde no meio do caminho, mas tinham reservado para nós um lugar confortável e aconchegante." Paulatinamente fomos compreendendo a razão da reunião mensal: a refeição em comum , a oração, a leitura do Evangelho, a partilha , a co-participação e o tema de estudos. Encontramos, um pouco depois, a regra de vida, um milagroso antídoto da omissão, verdadeiro bálsamo regenerador do mal da preguiça e da acomodação. Num encontro a dois, sob a proteção de Nossa Senhora, revisamos nossa rotina e planejamos nossas condutas de esposos e pais. E, quando nos sentimos ameaçados pelas trevas da incompreensão e dos erros, somamos nossas energias e sentados, frente a frente, abrimos nossos corações para o diálogo conjugal, confessando nossas faltas , grosserias e fracassos e, na presença do Senhor rezamos , pedimos ajuda, apenas ajuda e nos perdoamos mutuamente. Uma vez por ano, nos
afastávamos de vocês para um retiro espiritual. No começo, também vocês nos acompanharam na Casa São José e ficavam com as Irmãzinhas, brincando, convivendo e aprendendo a oração da vida- servir ao Senhor! (até cartinhas nós recebemos, lembram!) . Foi assim que, com o passar dos anos, ficamos conhecendo, no profundo da alma de cada um, a alegria de juntos procurarmos conquistar os objetivos equipistas, na unidade com Deus e na reciprocidade dos serviços. Tudo isso não teria acontecido e nem seria possível, não fosse o concurso de três sacerdotes que nos conduziram ao longo de tantos e tantos anos. Estevão, Paulo e lsidro, completamente diferentes entre si, mas que, todavia, são idênticos, apenas na santidade. Nos deram o caminho , assumiram o peso de nossa cruz espiritual, aconselharam e viveram , par e passo ao nosso lado, em todos os momentos, bons e maus, conduzindo, ensinando e amando. Foram eles que elucidaram para nós o importante sentido da partilha e sua grande importância no plano da aventura espiritual equipista, vivida como casal com outros casais, que se ajudam mutuamente a cumprir com os compromissos assumidos com as Equipes de Nossa Senhora em favor e benefício das famílias . Dificuldades e obstáculos, alegrias e bons momentos- que foram tantos - a ajuda mútua e o espírito fraterno nos permitiram acolher em nossa caminhada. E, nos momentos de angústia e profunda tristeza, fomos surpreendidos com a força emanada do coração de casais que sofreram a maior perda humana que CM Outubro/94 - 17
se possa imaginar, no decorrer de uma vida conjugal. A fé e a coragem com que enfrentaram a dor e o sofrimento amenizaram a nossa dor e o nosso sofrimento, porque vimos neles a face confortadora de Maria e a certeza do amparo do amor perene de Jesus. A criação desta nossa pequena Igreja, que é a Equipe, deu-se realmente pela vontade unânime de ser estabelecido um sentido de vida cristã, que, por estes quase 30 anos, vem sendo o nosso norteio, estimulado em nossas assíduas reuniões e por meios de aperfeiçoamento, entre outros, pelos temas de estudo. O tema "SER FAMÍLIA, HOJE, NA IGREJA E NO MUNDO" proposto a todas as Equipes do mundo, como preparação ao encontro internacional de Fátima, em julho de 1994 e como uma "contribuição à Igreja e ao mundo, através de uma maior conscientização e uma melhor formação de cada casal no Movimento", nos levou a reflexões importantes sobre quanto deixamos de aproveitar se tivéssemos, no início de nossas vidas de casados e formadores de família , a oportunidade de conscientizar ensinamentos que ora nos proporciona. Em nossa última reunião, houve manifestações como estas: porque não tivemos antes as reflexões ora proporcionadas pelo tema? Neste estágio da vida, pontos fundamentais nos servem apenas de um exa-
me de consciência do passado; decidimos encaminhar a vocês algumas reflexões extraídas do texto, como sugestão para que, desejando, possam receber uma cópia completa .* Queridos filhos, nesta visão panorâmica e sintética ao mesmo tempo, queremos afirmar-lhes que buscamos o melhor para vocês. Fomos educados e formados por pais honestos, justos, coerentes porque nos transmitiram o que herdaram da tradição, da família , da Igreja. Não conseguimos nos adequar à nova hierarquia de valores quer da sociedade, quer da família de hoje. Nós como vocês tivemos palavras e atitudes impensadas que arranharam nossos sentimentos de pais e filhos. Estes sentimentos têm força e tamanho que não podem e não devem ser medidos. São tão gran,des que comparam-se ao infinito. E lá que, em algum ponto do tempo, chegaremos juntos e olhando para trás acharemos graça em tudo que passou. E veremos como foram pequenas em comparação com a grandeza de ser pais e de ser filhos. "O perdão é antes de tudo um encontro." Dinah e Pestana - Eulália e Raposo lvone e Álvaro - Lourdes e Pompílio Maria de Lourdes e Gerson Maria Luiza e Cláudio - Neyde e Cid (Equipe Nossa Senhora do Rosário 58, São Paulo, Capital)
* N. da R.: Os casais anexaram textos de reflexão extraídos do tema, especialmente sobre Espiritualidade da Família, Ter um Projeto e Criar um Espírito de Família.
18 - CM Outubro/94
A HORA DE FALAR DOS FILHOS A DEUS Naquela noite, quando a reunião já ia a meio, alguém trouxe à baila, mais uma vez, a questão dos fi Ihos nossos que, na curva da adolescência, dão o grito de independência em matéria de religião. Vamos deixar por isso mesmo e nos tranqüilizar sabendo que eles são bons de caráter, não tomam drogas e estão presentes nos grandes momentos? Ou devemos chorar pensando que eles vão cair na ira do Senhor? Josias e Mafalda acham que não existe à face da terra outra atitude mais sensata que deixar o barco correr, que os filhos sigam o caminho, ou a encruzilhada, em que se meteram. Mafalda acha mesmo que falar de oração, em casa ou na igreja, "é uma interferência na liberdade deles" e, ainda segundo o velho Josias, "querer impingir ensinamentos religiosos mais afasta do que atrai os jovens". Todos os equipistas, inclusive o conselheiro espiritual, pareciam concordar, até que Antenor protestou. - "Não, eu não consigo ficar indiferente quando vejo os meus filhos privar-se da palavra de Deus, desligar-se da vida sacramental, trocar a missa por nada." -"Mas eles acreditam em Deus e, se têm outra concepção de vida cristã, deixa que eles estão bem" -tentou explicar Mafalda. Antenor conta que também ele deixara de ir à igreja quando era jovem mas depois descobriu
"como é bom e gostoso conhecer mais de perto o Evangelho e levar a sério a vida religiosa". Seu testemunho, no entanto, em nada demove os oponentes. Para eles, "o importante é respeitar a liberdade dos nossos fi Ihos e saber compreendê-los". Antenor concorda mas não se cala: "Todo cristão consciente", diz, "deve sentir von tade de evangelizar os outros, a começar pelos seus". As palavras pró e contra se multiplicam e atropelam, o volume de voz sobe mil decibéis, as posições se radicalizam mas tudo não passa de um jogo de palavras: evangeliza, não evangeliza; fala, não fala; deixa, não deixa. Questão delicada e complexa essa a de evangelizar os nossos filhos. Se é verdade que São Paulo pede aos pais para não "chatearem" os filhos - certamente isso vale também no campo religioso ele não abdica da tarefa de evangelizador quando diz: "A fé vem pelo ouvido". Hoje, o apóstolo não diria também que ela vem pelos olhos? Se a gente não fala, para os nossos, da descoberta que dia a dia fazemos do mistério de Cristo e da sua Igreja, da alegria que é alimentar e expressar nossa fé em comunidade, quem falará? Se os nossos debandaram por fastio, por cansaço ou porque nela não encontram mais atrativo, que faremos então? Há algum tempo a nossa CARTA MENSAL publicou um artigo CM Outubro/94 - 19
creio que de Fernando Sabino que, com uma ponta de ironia, falava de um tal 'referencial' - algo com que um jovem enchia a boca sem saber muito bem o que a palavra queria dizer mas que o escritor traduzia, mais ou menos, por "leitmotif", uma idéia-força, qualquer coisa que sirva de bússola na vida de uma pessoa. Para muitos e bons jovens, o melhor referencial seu está na justiça, na solidariedade, no amor, na busca da verdade e da liberdadee tudq isso é muito bom. Nem outra coisa, certamente, Cristo preza mais. Olhem aí as obras-de-misericórdia e as bem-aventuranças. Mas não é o mesmo Cristo que elogia o homem que, tendo 100 ovelhas, deixa 99 que estão bem e vai em busca da outra que ficou para trás? E, se acreditamos que Cristo é o Caminho que nos leva ao Pai, como ficar indiferentes se vemos os nossos filhos ficar para trás, perdidos nos atalhos da vida? Os nossos filhos têm a liberdade de seguir ou não nossos passos na direção daquele que é Caminho, Verdade e Vida para todos que acreditamos nele. E não seremos nós que vamos constrangê-
20 - CM Outubro/94
los tolhendo essa liberdade. Mas, se acreditamos na "vida em abundância" que também Cristo quer que todos tenhamos, como ficar indiferentes se dessa qualidade de vida não participam aqueles que vieram a este mundo através de nós? Como ficar indiferentes se os vemos contentar -se com verdades relativas? Não seria egoísmo amar o Senhor nosso Deus e por ele ser amados quando vemos os nossos filhos privados das vias normais para alcançar tais mercês? Por que não havemos de beber todos da mesma água que mata a sede e sentir como ditas a nós e aos nossos filhos as palavras que Jesus disse à samaritana: "Se conhecesses o dom de Deus ... "? Uma mulherzinha da minha paróquia, que sofre por não ver os filhos beber da mesma água que Jesus lhe serve pela fé, promete levar até o fim sua missão evangelizadora de uma forma bem simples: "Quando os meus filhos eram pequenos, eu falava de Deus para eles; agora que cresceram, eu falo deles para Deus". Eis uma boa postura. Equipista presente/Rio
SER MISSIONÁRIO, HOJE Evangelizar, nunca foi ostentação de força física, esbanjamento de recursos econômicos ou mostragam de meios poderosos, como que para derrotar inimi ~o~ e }~ pressionar os amigos. M1ss1onano não é nenhum Rambo e nenhum Tarzan. A única força compatível dentro da evangelização é a do amor e da fé . Por isso, o missionário de Cristo, hoje, não precisa se preocupar com o "ter" , mas apenas com o "ser" . Quanto ao "ter", bastam-lhe um cajado (símbolo do profetismo), uma túnica (símbolo da proteção de Deus) e um par de san dálias (símbolo da caminhada). Quanto ao "ser", ele necessita permanecer fiel à verdade, que no Evangelho foi-lhe revelada; estar firme na fé , decidido na esperança e forte no amor. Não é fácil , hoje , proclamar a Verdade de Cristo num mundo que aprendeu a navegar ~ar;s,d~ ideologias mentirosas. Nao e fac1l proclamar a fé no Ressuscitado numa sociedade que se gaba de acreditar tão-somente na cor do dinheiro. Não é fácil proclamar a esperança no meio de comunidades tantas vezes decepcionadas por falsas promessas. Nem é fá-
cil proclamar amor ao homem tantas vezes provado pelo ódio e pela violência. Também, não é fácil resistir à tentação de partir para o anúncio do Reino de Deus armados de agressividade, equipados de meios sofisticados e financiados com dinheiro de proveniên cia duvidosa .. . Não é dito que sejamos obrigados a dispensar os Meios de Comunicação Social ; nem é dito que precisemos desprezar um dinheiro honesto. Os meios podem servir e o dinheiro pode ajudar. A força do anúncio e o êxito da missão, porém, não dependem deles, e sim da fé que em Cristo soubermos depositar. De qualquer forma, como Paulo VI disse : "A Igreja existe para evangelizar" , não para se fechar em si mesma. Tanto mais hoje, perante o eclipse quase t.otal do~ verdadeiros valores da v1da. E e bom lembrar que a Igreja somos todos nós. Pe Virgílio (Colaboração de Zélia/Justino Eq-05 Recífe/PE) Nosso Mensageiro - Recife nfl 79 Jan/FEV/94
CM Outubro/94 - 21
ESPÍRITO MISSIONÁRIO- ESTAR ATENTO O cristão que leva a boa nova do Evangelho deve estar atento , como as virgens que mantiveram suas lamparinas com óleo para acendê-las- DAR LUZ - na chegada dos noivos. Estar atento significa orar sem cessar e servir em todos os sentidos a causa do Rei no, escutando e colocando-se em disponibilidade como Maria para que DEUS aja através de nós, dando a nossa vida a Deus como fez Jesus. A nossa consciência tem que estar povoada por Jesus, um Jesus vivo e presente para que suas reações sejam minhas reações, seus reflexos sejam meus reflexos, seu estilo, meu estilo. Estar atento é fazer da nossa vida, do nosso coração a morada do Senhor. O missionário leva a luz do evangelho para todos nossos irmãos indiscriminadamente, prioritariamente aos mais necessitados , através das equipes e durante toda sua vida. Para isso, é preciso
22 - CM Outubro/94
que esteja preparado como um vidro limpo e transparente para que a mensagem seja a mais nítida possível. Ele é instrumento e deve viver aquilo que diz. Ter credibili dade , deixando-se impregnar pelo mandamento do Amor. Deus nos utiliza; basta apenas que sejamos o homem novo e todo fruto da nossa pregação é mérito de Deus, somos apenas seus humildes e pacientes servos. Estar atento para o equipista é ter como meta alcançar através do amor todos os pontos concretos de esforço, vivenciando e fazendo deles seus objetivos para o seu crescimento espiritual. O retiro anual , a missa do setor e todos os eventos promovidos pelas equipes também são momentos de preparação para o nosso "estar atento e disponível" como Maria e Jesus. Djanira e Cesar de Andrade Florianópolis/SC
MENSAGEM DE JOÃO PAULO 11 PARA O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES (23.1 0.94) "Quem fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mt 12,50).
Caríssimos irmãos e irmãs, IGREJA E FAMÍLIA DE INSPIRAÇÃO MISSIONÁRIA
1. A Igreja, enviada a todo o mundo para anunciar o Evangelho de Cristo, dedicou o ano de 1994 à família, rezando com ela e por ela, e refletindo sobre os problemas que a atingem. Nesta MENSAGEM ~nual para DIA MUNDIAL DAS MISSOES, desejo, também , referir-me a este tema, consciente da íntima relação que existe entre a missão da Igreja e a família. O próprio Cristo escolheu a família humana como meio da sua encarnação e preparação para a missão confiada pelo Pai. Ele, por sua vez, formou uma nova fam ília, a Igreja, como um prolongamento da sua universal obra de salvação. Igreja e família , portanto, na perspectiva da missão de Cristo, manifestam vínculos recíprocos e finalidades convergentes. Se todo cristão é corresponsável pela atividade missionária, constitutiva da família eclesial à qual , graças a Deus, todos pertencemos (cf. Redemptoris Missio , 77), com maior razão a família cristã deve sentir-se envolvida pelo zelo missionário, que se fundamenta sobre um sacramento específico. A FAMÍLIA E A CIVILIZAÇÃO DO AMOR
2. O amor de Cristo que consagra a união conjugal é também o fogo sempre ardente que alimenta a
evangelização. Cada membro da família, em sintonia com o Coração do Redentor, é convidado a empenharse em prol de todos os homens e mulheres do mundo, manifestando "solicitude por aqueles que estão longe e pelos que estão perto" (Redemptoris missio, 77) .
É este amor que leva os missionários a anunciar com zelo e perseverança a Boa Nova "aos povos" e a dar seu testemunho com o dom de si , por vezes até o supremo sinal do martírio. A finalidade essencial do missionário tem como único fim anunciar o Evangelho, para a edificação de uma comunidade que seja extensão da família de Jesus Cristo e "fermento" para o crescimento do Reino de Deus e para a promoção dos mais elevados valores do homem (cf. lbid ., 34). Trabalhando por Cristo e com Cristo, ele coopera por uma justiça, paz e desenvolvimento não ideológicos, mas reais , contribuindo, deste modo, a construir a civilização do amor. A FAMÍLIA~ IGREJA DOMÉSTICA MISSIONARIA
3. O Concílio Vaticano 11 desejou fortemente reafirmar o conceito querido na tradição dos Padres da Igreja -, segundo o qual a família cristã, constituída com a graça sacramental, reflete o mistério da Igreja na dimensão doméstica (cf. Lumem gentium , 11). A Santíssima Trindade habita em cada família fiel que, em virtude do Espírito, participa na solicitude da Igreja inteira pela missão, contribuindo para a animação e cooperação missionárias.
É oportuno destacar como os dois CM Outubro/94- 23
santos padroeiros das missões, a exemplo de inúmeros operários do Evangelho, tenham vivido na própria infância de um ambiente familiar verdadeiramente cristão. São Francisco Xavier refletiu na vida missionária a generosidade, a lealdade e o profundo espírito religioso que já havia experimentado no seio da própria família e, de maneira particular, ao lado de sua mãe. Santa Teresinha do Menino Jesus, por sua vez, escreve com a característica simplicidade: "Durante a vida inteira, o bom Deus quis circundar-me de amor: as minhas primeiras recordações estão repletas das carícias e dos sorrisos mais ternos!" (História de uma alma, Manuscrito A. f. 4v). A família participa na vida e na missão eclesial segundo uma tríplice ação evangelizadora: no seu interior, na comunidade que pertence e na Igreja universal. O sacramento do matrimônio, com efeito, "constitui os cônjuges e os pais cristãos, testemunhas de Cristo 'até aos confins da terra', ve rdadeiros e próprios 'missionários' do amor e da vida" (Familiaris consortio, 54). A FAMÍLIA, MISSIONÁRIA COM A ORAÇÃO E O SACRIFÍCIO
4. A família é missionária, em primeiro lugar, com a oração e com o sacrifício. Como toda oração cristã, a oração familiar deve incluir também a dimensão missionária e, assim, ser eficaz para a evangelização. Por esse motivo, os missionários, segundo a lógica evangélica, sentem a necessidade de solicitar constantemente orações e sacrifícios como auxílio extremamente válido para a sua obra de evangelização. Rezar com espírito missionário comporta diversos aspectos entre os quais sobressai a contemplação 24 - CM Outubro/94
da ação de Deus, que nos salva por obra de Jesus Cristo. A oração torna-se desta maneira um agradecimento vivo pela evangelização, que já chegou até nós e que continua a se difundir no mundo inteiro. Ao mesmo tempo, torna-se invocação ao Senhor, para que faça de cada um de nós instrumento dócil da Sua vontade, concedendo-nos os meios morais e materiais indispensáveis para a edificação do Seu Reino. Complemento inseparável da oração é o sacrifício, tanto mais eficaz quanto mais generoso. De valor inestimável é o sofrimento dos inocentes, das pessoas enfermas, dos doentes, de todos os que sofrem devido à opressão e à violência, numa palavra, daqueles que estão unidos de maneira particular, ao longo do caminho da Cruz, a Jesus redentor de todos os homens e do homem todo. A FAMÍLIA E OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
5. Opiniões e acontecimentos, problemas e conflitos, sucessos e desilusões do mundo inteiro, graças à ação persuasiva própria dos instrumentos de comunicação social, exercem uma notável influência sobre as famílias . Os pais, portanto, desempenham um papel específico quando, ao comentarem juntamente com os filhos as notícias, as informações e as opiniões, refletem de maneira madura sobre o que os meios de comunicação social fazem entrar nos seus lares e empenhamse também em obras concretas. A família deste modo corresponde também à função mais autêntica da comunicação social , que consiste em promover a comun hão e o desenvolvimento da fam ília humana (cf. Communio et progressio, 1; cf. também Aetatis Nova e, 6-11) . Se-
melhante objetivo não pode senão ser compartilhado por todos os apóstolos do Evangelho, que o procuram, à luz da fé, na perspectiva da civilização do amor. Mas, a ação do delicado e complexo âmbio dos meios de comunicação comporta notáveis investimentos de capacidades humanas e de meios econômicos. Agradeço a todas as pessoas que contribuem com generosidade porque, entre as inumeráveis mensagens que percorrem o planeta, não falta a voz , mansa mas firme, daqueles que anunciam Cristo, salvação e esperança para todos. A FAMÍLIA, TERRENO FÉRTIL DE VOCAÇÕES MISSIONÁRIAS
6. A melhor expressão degenerosidade é o dom integral de si mesmo. Por ocasião do Dia das Missões, não posso deixar de me dirigir de modo particular aos jovens. Caríssimos! O Senhor concedeu-vos um coração aberto a grandes horizontes: não tenhais medo de dedicar inteiramente vossa vida ao serviço a Cristo e ao Seu Evangelho! EscutaiO enquanto Ele repete também hoje. "A messe é grande, mas os operários são poucos" (Lc10,2) . Dirijo-me, além disso, a vós, pais. Oxalá nunca venha a faltar nos vossos corações a fé e a disponibilidade, quando o Senhor quiser abençoar-vos, chamando um filho ou uma filha ao serviço missionário. Dai graças por isto! Antes, fazei com
que este chamamento seja preparado com a oração familiar, com uma educação rica de dinamismo e de entusiasmo, com o exemplo diário da atenção aos outros, participando nas atividades paroquiais e diocesanas, e com o compromisso nas associações e no voluntariado. A família que cultiva o espírito missionário assumindo o estilo de vida e a própria educação, prepara o terreno fértil para a semente do chamado divino e fortalece, ao mesmo tempo, os vínculos afetivos e as virtudes cristãs dos seus membros. 9RAÇÃO M~RIANA E ANIMAÇAO MISSIONARIA 7. Maria Santíssima, Mãe da Igreja, e São José, seu esposo, invocados com confiança por todas as famílias cristãs, alcancem que em cada comunidade doméstica se desenvolva durante todo este ano o espírito missionário, para que toda a comunidade se torne, "em Cristo, a família dos filhos de Deus" (Gaudium et spes, 92). Com estes votos, invoco sobre os missionários espalhados pelo mundo, assim como sobre cada família cristã, de maneira especial sobre as famílias dedicadas no anúncio do Evangelho, os dons do Espírito divino, pela força dos quais concedo a todos a Bênção apostólica. Cidade do Vaticano, 22 de maio de 1.994 Solenidade do Pentecostes
CM Outubro/94- 25
O DOCUMENTO DA CNBB SOBRE AS ELEIÇÕES GERAIS "Nós bispos da Igreja Católica, por ocasião da 32ª Assembléia da CNBB, sintonizados com os anseios e expectativas de todo o povo, julgamos nosso dever manifestar-nossobre este ano eleitoral. A ninguém escapa a singular importância, a abrangência e a repercussão, mesmo além de nossas fronteiras, das eleições gerais de outubro. Com efeito, do resultado dela dependerá, em grande parte, o futuro imediato do Brasil.
É assustadora a cotidiana revelação do outro mapa do nosso País, o mapa da fome, até com cenas dramáticas, do alastramento das doenças, do analfabetismo, do desemprego, da violência, da exclusão, da miséria, além dos graves atentados à família, à vida e aos valores éticos. Cresce, por outro lado , a justa indignação do povo contra os políticos que, tendo sido eleitos para solucionar tais problemas, acabaram flagrados na mais vergonhosa corrupção nem sempre devidamente punida. Daí a preocupante reação de muitos à proposta eleitoral. Vai desde a lamentável tentação de anular o voto ou de votar em branco , até a enganosa ilusão do retorno à ditadura . Como pastores cabe-nos, neste momento, chamar a atenção para o grande sinal de esperança bem presente no coração da nossa sociedade e que se revela nas incontáveis 26 - CM Outubro/94
organizações populares de luta, de resistência pela sobrevivência física , cultural e social. Destacamos também a eloqüente resposta solidária da população em face da recente Ação da Cidadania contra a Miséria e a Fome Pela Vida, ora empenhada em favor do emprego. Neste contexto se coloca a iniciativa da 2ª Semana Social Brasileira, promovida pela CNBB, e realizada em julho com sugestivo título: 'Brasil, Alternativas e Protagonistas' . Vemos como muito oportuna a contribuição das dioceses na organização de encontros de formação política , declarações e cartilhas. Incentivar a participação de todos na construção de um país economicamente justo, socialmente eqüitativo, politicamente democrático, culturalmente plural é a contribuição maior que a Igreja espera dar de maneira permanente . A Igreja, como instituição, para preservar a sua unidade, não opta por partidos, mas afirma e oferece princípios e exigências éticas. Aí está a esperança da democracia como o caminho certo, embora difícil e lento, da liberdade, da igualdade, da participação, da solidariedade, do respeito às diferenças. Para isso , é urgente a restauração da instituições públicas, especialmente dos três Poderes , a fim de que asumam de modo mais transparente , harmônico e eficaz seu compromisso com o bem comum.
Devemos dar o nosso voto só após conhecer bem a conduta ética e prática de serviço do candidato. Não hesitamos em repudiar o jogo do poder, a manipulação da escolha dos candidatos, o sistemático abuso dos meios de comunicação social e a corrupção econômica nas eleições. Vender o voto é promover o corrupto e tornar-se cúmplice da corrupção dele. Mais ainda, importa que nos informemos sobre os programas de governo e de partidos. E que esses programas não sejam fechados, mas se abram ao debate, à crítica e à participação do povo, que não é mero eleitor, mas sujeito da democracia. As eleições desse ano são um
apelo privilegiado à presença ao compromisso dos leigos cristãos na política. Queremos incentivar sua reflexões ou iniciativas verdadeiramente justas e democráticas. Saibam que têm o respaldo e o apoio dos seus pastores. Reafirmamos nossa esperança de que o povo brasileiro, participando do processo democrático através do voto , avance na aspirada realização de mudanças urgentes e profundas e na construção de um Brasil digno , justo e solidário. Nesta hora de grande decisão, rezemos pelo nosso País, confiantes nas bênçãos de Deus".
O CRIME DE ABORTAR. Em todas as formas qualificadas, o aborto é homicídio doloso . Exceto àquele em que não haja outro meio de salvar a vida da mãe (terapêutico) .
termínio em massa. Muito pior será a feitura de uma Lei que permita a matança do inocente a partir da fecundação, do feto, do embrião, com direito natural à vida.
Consideramos a lei penal brasileira muito benevolente na gradação da pena para o tipo de aborto praticado. Se quem mata um corpo esteja ele em que estado estiver, deve receber a pena, muito maior deve ser a pena de quem tira ou legaliza a possibilidade de que seja tirada a vida de um indefeso. Não deve existir excludente de criminalidade para quem pratica o aborto, salvo para salvar a vida da gestante, que tem integridade física de muito valor.
É indiscutível, confuso e retrógrado, absurdo e ridículo, quem não só autoriza e pratica, mas até aconselra claramente a prática do §lborto. E crime segundo a lei penal. E crime muito maior porque contraria a lei de Deus - os Mandamentos. Não vivemos mais dominados pela superstição da "idade média" ou até mesmo pela perversidade nazista que primava pela purificação (seleção) da raça humana.
Legalizar o ab9rto no Brasil é o princípio do fim . E a preparação da matança em massa como são as guerras, o genocídio, o racismo , a traição em certos casos, e outras modalidades de ação ou omissão, que causam ou podem causar o ex-
N'outro dia escrevemos a um deputado conterrâneo, expondo-lhe o seguinte: "Outra grita satânica Senhor Parlamentar, é a pretensão de alguns políticos sem princípio de justiça proporem medidas a favor da legalização da prática do aborto. A matança humana desde a concepCM Outubro/94- 27
ção genética é um atentado contra a vida e um incentivo à legalização do crime de matar. Tirar ao inocente (desde o embriã9) o direito natural à vida é horrível. E depravação, vício sórdido e imundo. Faz-me até pensar na doutrina do hedonismo: "que o prazer Individual e imediato é o único bem possível, ,princípio e fim da vida moral" . E profano e hediondo , é nefasto e funâmbulo. Desculpe-me os açljetivos, mas é a seriedade de um alagoano: "Cabra da peste" que norteia pela vida como a maior riqueza humana dispensada por Deus. Já não chega a esterilização em massa da população feminina brasileira decorrente do uso de artefatos abortivos que atentam contra a soberania nacional e constituem um desrespeito às normas legais do P?ís. Ago ra querem legalizálas. E inconcebível. Não merece juízo de valor. Mister se faz , Sr. Deputado, que a sua voz esteja voltada para o assunto. E que a sociedade acredite em seus representantes e que eles sejam vozes do seu povo que apesar de sofrido espera pelo menos contar com o que lhe é sagrado: o direito de ser gerado - nascer - crescerviver - e morrer no momento que Deus lhe reservou . Sei que o nobre Deputado não se calará. Deus lhe
28 - CM Outubro/94
darámaisforçaparaodesempenho do bem comum, coragem para combater o errado. O aborto. O genocídio. É o intuito vital de destruição racial. Temos certeza que a sua voz bradará contra os adeptos do mal, socorrendo os que estão angustiados pela intenção dos projetos apresentados ao Congresso Nacional sobre o assunto, que são uma minoria assim pensamos." Nossa Lei penal deve ser modificada para melhor. E que não misture ou confunda prejudicialmente os dispositivos que disciplinam o aborto. A proposta das ENS de Brasília no encontro nacional das Equipes de Nossa Senhora, realizado em novembro passado em ltaici, SP, foi de ajudar a modificar e transformar este País, a partir dos nossos políticos. Assim, pedimos que o irmão equipista providencie o quanto antes a sua mensagem ao Parlamento Brasileiro (carta, ofício, recado, telegrama, telefonema, encontros pessoais, enfim qualquer coisa ou meio de comunicação que chegue ao conhecimento dos parlamentares que precisam do povo. Que Nossa Senhora ajude a todos! Maria do Carmo e Arlindo Setor F Brasília
O SENTIDO DA RESPONSABILIDADE 1. O chamamento à responsabilidade: um apelo para um amor maior, um apelo para o serviço de um carisma do Espírito. 2. As atitudes do Bom Pastor: apascentar e dar a vida. 3. A colegia/idade e a comunhão 1. O chamamento à responsabilidade, um apelo para um amor maior. Quando se chama alguém, quando se pronuncia o seu nome, dirigese o olhar para este alguém. Este chamamento para uma responsabilidade é, antes de tudo, um olhar de Deus sobre nós e sobre nosso casal, apesar de nossas fraquezas, nossas limitações, até mesmo nossos pecados. Segue-se a este olhar de amor uma pergunta pessoal que o Senhor nos faz, chamando-nos pelo nome. Podemos ser chamados para muitas coisas: para obedecer, para servir, para seguir ... Sim, tudo isso está incluído no chamamento mas, primordialmente, é um chamamento para "amar mais". Amar mais o Senhor, amar mais os irmãos e irmãs, amar mais a Igreja. O Senhor perguntou três vezes a Pedro: <Pedro, tu me amas? Tu me amas mais que os outros?> . Esta é a única pergunta, a única condição posta pelo Senhor, que então, após a resposta afirmativa, diz: <Apascenta minhas ovelhas> . A primeira pergunta que o Senhor nos faz, antes de confiarnos uma responsabilidade, é uma pergunta sobre o amor.
E nossa resposta? Podemos responder sim à responsabilidade, porque não ousamos dizer não, porque cremos que é justo trabalhar, já que recebemos tanto, porque sentimonos servidores dos outros ... São boas motivações, mas se não formos mais longe, a responsabilidade, que é pesada, poderá esmagarnos, "queimar-nos", acabar sendo um "fardo" para nós, e não exatamente um fardo leve. Precisamos ter feito esta experiência do amor do Senhor, do olhar do Senhor sobre nós: a qualidade de nossa aceitação será diferente. Dizem que só podemos partilhar com os outros aquilo que nós mesmos conhecemos. A convicção do mensageiro lhe advém da certeza de seu encontro pessoal com aquele que o enviou. Esta certeza está à base de todo entusiasmo, de toda coragem, de toda atitude profética, de todo impulso que não fraqueja, pois apoia-se sobre o amor de Deus, do qual temos a certeza de que jamais faltará. A responsabilidade deve ser acolhida com o coração pobre, num ato de fé e de confiança na palavra de Jesus: <Vá, estou contigo>. Nunca estamos preparados para uma responsabilidade, nem para o serviço que dela decorre. Mas parece que com este olhar de amor que é o chamamento e com o nosso trabalho perseverante, o Senhorestimula e faz crescer em nós os "dons" que ele nos confiou para que os partilhemos. Parece que estes "dons" - e cada casal tem os seus CM Outubro/94 - 29
próprios- serão necessários, no momento certo, para o nível de responsabilidade que será o nosso. A responsabilidade é um serviço temporário. Não somos insubstituíveis, não somos os únicos intérpretes do carisma. Ao contrário, outros casais, com talentos diferentes, vão continuar a obra e vão contribuir para o enriquecimento das Equipes de Nossa Senhora. Cumprindo o nosso serviço, entregaremos as Equipes nas mãos do Senhor e nas de "novos servos". Um apelo para o serviço de um carisma do Espírito.
No momento de seu aparecimento na Igreja, as ENS receberam um carisma. Um carisma é um dom de Deus, ao serviço de seu Amor na Igreja e no mundo. Este dom é uma resposta adequada para cada necessidade histórica . Os carismas nascem, agem e desaparecem. O amor, este não passa jamais. O carisma das ENS ainda, e mais do que nunca, está vivo, atuante, necessário na Igreja e no mundo. Um carisma, um dom, não pode ser manipulado. Isto significaria que acreditamos saber mais do que o Espírito de Deus. Precisamos ter humildade e respeito diante deste dom. Por outro lado, só poderemos fazer qualquer coisa se nos "inserirmos no impulso interior" do carisma , se aprofundarmos o que há de essencial nele. Foi o Espírito de Deus que deu força ao carisma das ENS . Nada faremos ~e formos procurar em outro lugar. E por esta razão que devemos conhecer bem, pensar bem, viver bem os elementos deste carisma, para que nossa responsabilidade dê frutos. Um apelo para "morrer um pouco pelos outros".
Estarmos prontos para morrer um 30 - CM Outubro/94
pouco pelos outros, consiste não só em dar nosso trabalho, dar nosso tempo, mas também em dar nossa vida , em entregarmo-nos livremente, na alegria de uma partilha sem restrições ... Mas há um aspecto da responsabilidade do qual pouco se fala, mas que existe e que a acompanha desde o início: é o sofrimento. Um sofrimento que pode ocorrer no seio do casal, porque o trabalho a dois é enriquecedor, mas pode trazer à tona as diferenças de abordagem e de ritmo. Os sofrimentos podem também ser do tipo espiritual, porque a tentação e a provação são reais. Ou podem decorrer de incompatibilidades de caráter e até mesmo de injustiças, maledicências, incompreensões, de feridas pessoais que os outros podem reabrir sem saber ... Podemos ter duas atitudes d iante do sofrimento: tornar-nos amargurados, empobrecer-nos, isolar-nos, ou então confrontá-lo à luz da cruz de Cristo, purificá-lo com a força do Espírito, para que o sofrimento seja um meio de renovação, um caminho de vida. 2. As atitudes do Bom Pastor: apascentar e dar a vida.
Lembramo-nos de um texto de Ezequiel (34, 1-8) que marcou muita a nossa experiência da responsabilidade. "Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não devem os pastores apascentar o seu rebanho? ... Não restaurastes o vigor das ovelhas abatidas, não curastes a que está doente, não tratastes a ferida da que sofreu fratura, não reconduzistes a desgarrada, não buscastes a perdida, mas dominastes sobre elas com dureza e violência. Por falta de pastor, elas dispersaram-se e acabaram por servir de presa para todos os animais selvagens ... Por toda a superfície da terra dispersou-se o meu rebanho.
Não há quem o procure ou quem vá em sua busca ... porque meus pastores se apascentam a si mesmos".
O que significa este verbo apascentar? A Palavra de Deus utiliza outros verbos que o explicam muito bem: restaurar, curar, tratar, reconduzir, buscar. São verbos que exigem uma atitude de ação e não omissão. Um pastor só se senta para comer ou orar. O resto do tempo, está vigilante, de pé, correndo atrás, correndo na frente, guardando. Para definir o que faz o pastor, vamos utilizar o verbo animar, que, na raiz, significa "dar vida". Nossa vocação de casais é a de sermos fecundos , de dar vida, A fecundidade não é apenas uma capacidade biológica. Seremos fecundos se aceitarmos os outros, se não fizermos deles juízos definitivos, se compreendermos, se desculparmos, se valorizarmos, se admirarmos. Animar é olhar com amor, descobrir o que há de melhor nos outros e dizêlo, apelar para este melhor em cada pessoa, em cada casal , em cada equipe, setor, região , super-região. Animar é estar à espreita das necessidades espirituais profundas dos casais, para tentar dar uma resposta. Animar é buscar na oração a vontade do Senhor sobre o Movimento, os sinais do Espírito que balizam nosso caminho. Devemos sempre lembrar que foi o Senhor q~e inspirou o Movimento, que [he da vida , que o leva para frente. E o "seu rebanho" e não o "nosso rebanho". Não somos proprietários de nossas equipes. O Senhor é o único pastor, o único proprietário, o único guia. E tampouco temos que guardar ciosamente "nossas" equipes. Regozijar-nos-emas por tudo o que os outros, co-responsáveis conosco , podem trazer-lhes de bom .
Um outro perigo, como diz a Palavra de Deus, é de também "apascentar-se a si mesmo". O que quer dizer? "Vós vos alimentais com leite vos vestis de lã e sacrificais as ove~ lhas mais gordas". Podemos ter esta mesma atitude sem perceber: ter receio de oferecer o "leite e a lã que nos vêm do carisma do Movimento e propor nosso próprio "leite e lã" ou então, aproveitar-nos do "leite e' lã" do Movimento, já que possuímos informações privilegiadas, mas não passá-los adiante ... E os outros? Por que decidimos por eles? Podemos desanimar as ovelhas mais gordas, mais fortes, por não valorizá-las, não alimentá-las. Podemos perder as mais fracas, que são facilmente abaladas, por não lhes dar segurança ou por escandalizá-las .. . Podemos também apascentarnos a nós mesmos porque, porestarmos muito centrados sobre nós mesmos, tudo relacionamos a nós: o que nós pensamos, o que nós dizemos, o que nós propomos, nossas suscetibilidades, nossas feridas ... E não é sempre, necessariamente, com uma atitude de orgulho que tudo centramos em nós. Podemos também estar centrados sobre nós mesmos ao termos sempre um sentimento de inferioridade, ao refletirmos sempre sobre nossas limitações, falhas, dúvidas. Em ambos os casos, estamos dando prioridade à nossa pessoa, e isto não é bom. Como pastores , nossa primeira preocupação são os outros não nós. Trazemos a nossa "ág~a" , o Senhor fará dela um "bom vinho" . Devemos também pedir ao Senhor, numa assídua oração, de ter sempre uma visão de conjunto sobre o setor, a região, a super-região, o Movimento, para não nos perdermos nos detalhes, nem ficarmos paralisados por causa das dificuldaCM Outubro/94 - 31
des. Pois afinal, ele é o Mestre do impossível. Ele gosta, por vezes, de colocar-nos diante de situações impossjveis, para que recorramos a Ele. E quando experimentamos com força, com reconhecimento, que é Ele que faz as coisas e não nós. 3. Viver a colegialidade e a comunhão.
O chamamento para a responsabilidade é pessoal. Não se dirige ao coletivo. A responsabilidade do casal é inteira e pessoal diante do Senhor e diante do escalão do Movimento que escolheu este casal. É o sacramento do matrimônio que é fonte de nossa fecundidade no serviço e é na qualidade de casais que somos sinais para os outros. Pomos em comum nossos talentos e nossas maneiras de ver complementares, através do diálogo conjugal, através de uma reflexão a dois, através da oração conjugal. A responsabilidade é pessoal e conjugal mas, nas Equipes, ela não se exerce de modo autoritário e personalista. Os responsáveis devem cercar-se de uma verdadeira equipe, não apenas para dividir o trabalho, mas sobretudo para discernir juntos, com a ajuda do Espírito, as verdadeiras necessidades das equipes que lhes são confiadas, para procurar juntos o bem dos casais e a vontade de Deus sobre o Movimento. A forma de exercer esta responsabilidade: a colegialidade. Abrir-se à colegialidade. A colegialidade pode ser definida como a partilha dos "dons" diversificados e complementares que o Espírito concedeu a cada um, na busca comum da verdade e um ~ncontro mais profundo entre nós. E desta forma que poderemos colaborar com a construção do Reino de Deus, pelo apro32 - CM Outubro/94
fundamento do carisma que o Espírito do Senhor inspirou às Equipes num determinado momento da história. Esta colegialidade baseia-se na igualdade de pertença e de missão de todos os membros da equipe. Pressupõe atitudes participativas e não autoritárias e exige uma disciplina e métodos de trabalho que a tornem possível. A colegialidade não elimina a missão do casal responsável, o qual, em cada escalão da organização, é o sinal visível da unidade da equipe. A colegialidade ultrapassa nossas próprias possibilidades: não pode ser senão fruto do Espírito, dom do Espírito. Nós a pedimos humildemente durante todo o nosso tempo de serviço: "Sem mim , nada podeis fazer". Viver a colegialidade: Trabalharemos sem fazer comparações entre nós. Só podemos exigir dos outros os dons que eles receberam e alegramo-nos com estes dons que cbnstroem o edifício espiritual de nosso Movimento. Cada um de nós deve julgar-se apenas pela medida do chamado que recebeu do Senhor. Isto exige que cada membro da equipe seja respeitado em sua própria personalidade e seja ~ssim levado a dar o melhor de si. E necessário que cada membro se sinta amado e acolhido pelos outros, que cada um sinta que sua contribuição é apreciada. Uma boa dose de realismo, de lealdade e de confiança mútua é necessária. Mal-entendidos, erros, conflitos, suscetibilidades são inevitáveis em qualquer realidade humana e o recurso ao perdão se faz necessário: perdoar não somente para curar mas também para renovar o amor entre as pessoas. Aprendamos ,
uma vez por todas, a não julgar os outros, a partir de um único critério, por causa de um único erro. Não julguemos as intenções, não julguemos, rapidamente demais, as palavras. Aprendamos a ter um olhar de misericórdia, uma atitude de flexibilidade e de compreensão. Trabalhar em colegialidade pressupõe a comunicação, a partilha transparente não só da informação que se recebe mas também dos discernimentos pessoais e até mesmo das reflexões em profundidade . Pressupõe também que estejamos muito atentos à qualidade de nossa escuta. Os outros nos dizem coisas, mas, sobretudo, eles "se dizem" . Encontrar um estilo de trabalho que permita tomadas de posição colegiadas, é difícil e exige muito tempo, abertura e tolerância. É preciso aceitar-se a si mesmo com suas capacidades e limitações e aceitar os outros como um enriquecimento para nós IJlesmos e para a busca em comum . E preciso deixar-se questionar pelos outros, mesmo quando isto dói. Tudo isso aumenta a coresponsabilidade e a competência e favorece uma melhor análise das situações, para encontrar as melhores soluções em cada caso. A partir de abordagens diferentes e até mesmo de convicções diversas, devemos, juntos, procurar chegar a um consenso que unifique, que todos possamos aceitar por nos sentirmos participantes. Isto é particularmente importante para os assuntos que dizem respeito à vocação profunda e aos objetivos do Movimento. O que procuramos, em toda decisão, é aderir à vontade de Deus. E veremos que, quando somos obedientes à obra do Espírito, ele fará em nós a unidade, tornando simples, claro e evidente o que nos parecia obscuro, complicado e im-
possível. Por fim, é também certo que o trabalho em colegialidade não dispensa o casal responsável de sua missão própria, que consiste em tomar e assumir a decisão final quando não se chega a um consenso.
A comunhão A primeira prioridade de todo casal responsável é que se possa dizer, a respeito de sua equipe: <Vêde como eles se amam>. De pouco adianta organizar grandes reuniões, publicar longos documentos sobre belas teorias, quando se vive na tensão, na crítica, no ciúme, na desconfiança ... em vez de se viver na verdade, no encontro e na compreensão. Nada dará fruto. Se a responsabilidade nos ensinar a viver em comunhão no interior do Movimento , poderemos ser agentes de comunhão no seio da Igreja; caminhando com ela, seremos capazes de "lançar pontes", as pontes do diálogo, da escuta e da reconciliação . A comunhão nos conduzirá também em direção aos outros, com a preocupação de buscar novos caminhos que nos aproximem de outros casais, outros ambientes, outros países. Tender para a comunhão começa pelo sentimento de compaixão para com todos aqueles que podem estar precisando de nós: os jovens, os idosos, os feridos do amor, os que desesperam , os que se sentem fracos, os que, para crer no amor de Deus, precisam ver um casal que se ama e que ama gratuitamente. Álvaro e Mercedes Gomez-Ferrer Ex- Casal Responsável da Equipe Responsável Internacional. (Palestra proferida na Sessão Internacional de Formação, Fátima, julho de 1994)
CM Outubro/94 - 33
PERFIL DAS EQUIPES DE NOSSA SENHORA INTRODUÇÃO
Não entendo tratar este assunto do ponto de vista da organização (número dos componentes, casal responsável, casal coordenador, roteiro das reuniões, periodicidade das mesmas , encontros informais etc.). São aspectos importantes, mas aqui, por "perfil", entendo a mística, a alma, o espírito, que dá vida à equipe. TRAÇOS FUNDAMENTAIS
1. - É uma equipe de casais. 2.- De casais amigos. 3. - Amigos no Senhor. 4. - Que visam objetivos comuns. 1. - UMA EQUIPE DE CASAIS
Deve existir, pelo menos progressivamente, um entendimento recíproco , um motivar-se e animar-se recíproco do casal, mesmo com nuances diferentes conforme a índole de cada um. Passividade ou resistências de uma parte ou da outra devem ser explicitadas, analisadas e superadas. Este processo deve acontecer dentro do casal, mas é importante que aconteça também na equipe para esclarecer dúvidas, preconceitos, mal-entendidos, que lhe dizem respeito. 34 - CM Outubro/94
2. - DE CASAIS AMIGOS
Considerar somente uma "obrigação", o participar da equipe, é insuficiente e acaba na desistência. A amizade é um processo existencial de dar e receber gratuitamente nas várias dimensões do relacionamento humano. Poderá haver momentos em que prevalece ou sente-se a necessidade mais forte em receber, mas não pode se tornar uma atitude habitual e quase que exclusiva. A gratuidade é a raiz e o fruto da amizade. Gratuidade é também acolher, oferecer de coração, esperar, ajudar sem interesses, perdoar. 3. -AMIGOS NO SENHOR
Explícita ou implicitamente o convite fundante para entrar a fazer parte das Equipes de Nossa Senhora veio e continua a vir do Senhor. Mil motivações podem ter concorrido e podem continuar a concorrer para usufruir e oferecer amizade, mas uma Equipe de Nossa Senhora subsistirá e desenvolverse-á só se houver a consciência e a experiência de que "Ele está no meio de nós". As reuniões formais e informais, a oração que se faz nelas, os pon-
tos concretos de esforço, as atividades apostólicas individuais e como grupo, terão que evidenciar esta perspectiva única, diferente, em relação a outros grupos de casais , que podem existir na sociedade.
compõem, dentro das coordenadas do amor e do serviço mútuo; - no seguimento de Cristo como Pessoa e como Revelação do plano de Deus a respeito da Humanidade e da História;
Os objetivos são claros e bem definidos:
- para serem testemunhas dentro desta humanidade e das realidades terrestres, fermentando-as com os valores das bem-aventuranças (Mt 5, 1 -12) .
- descobrir, viver e aprofundar o sentido dado por Cristo ao matrimônio (Ef 5, 21 -33) ;
SER MEMBRO DAS EQUIPES DE NOSSA SENHORA É UMA GRAÇA, UM~ HONRA, UM COMPROMISSO: E UMA ALEGRIA.
- por ele dar consistência à Família, como matriz para o crescimento de cada uma das pessoas que a
Pe Fábio Bértolí CEdas Eqs. 1,2,3e4 João Pessoa !PB
4.- QUE VISAM OBJETIVOS COMUNS
O DEVER DE SENTAR-SE: ALGUMAS PISTAS ROTEIRO • Leitura da Palavra • Reflexão e oração • Questionamento 1- RELACIONAMENTO CONJUGAL • Temos disponibilidade e abertu ra para o diálogo? • O que tenho que agrada a você? • O que desagrada? • Em termos de atitude, estamos sensíveis às pequenas coisas? • O ambiente em nossa casa é alegre e sadio - como proporcionamos isso? • O nosso relacionamento conjugal é individual ou social? • Somos "criados-mudos"? • Qual a influência de nossos fa-
• • • • •
• •
•
miliares (pais, sogros, irmãos) no nosso relacionamento conjugal e familiar? Como vai a nossa vida sexual? O que pode ser melhorado? O que falta? Nos preocupamos com o crescimento intelectual um do outro? Como está nossa vida social? Somos ativistas? Quanto tempo dedicamos ao lazer (casal) e em família? Nos preocupamos com a saúde, um do outro? E o nosso amadurecimento emocional? Conhecemos os desejos, necessidades e senti mentos um do outro? O que posso fazer para que você possa ser mais feliz? CM Outubro/94- 35
11- NOSSOS FILHOS
• Nós nos amamos a ponto de nossos filhos perceberem esse amor? • Como é o diálogo com os nossos filhos (conversa ampla, aberta, limitada)? • Em que ponto discordamos da educação deles? • Que tipo de conversa temos durante as refeições? • Temos tempo para dialogar com os filhos diariamente? • Nossos filhos conversam ou apenas escutam? (Pai=boca e filho=ouvido) • Como aceitamos os sacrifícios decorrentes da paternidade? 111- VIDA ECONÔMICA • Nossos filhos conhecem a realidade econômica dos pais? • Existe desperdício em nosso lar?
• No que esse desperdício pode ser resolvido? • Como repartimos o que temos com o outro? IV- VIDA ESPIRITUAL • Como agimos em função do crescimento espiritual do outro? • Existe parcela de atenção em relação ao SER (o ser conjugalespiritual)? • Na verdade o que queremos SER? • Como está a freqüência aos sacramentos - penitência e eucaristia?
36 - CM Outubro/94
V- VIDA SOCIAL
• Somos abertos ou fechados em nossas limitações? Disponíveis, omissos, procuramos auxiliar, amigos, equipe, paróquia, movimento, etc ... ? • Procuro destaque, o poder, prazer, ter, o que busco ser, ouvir, servir, a felicidade constante? VI- COM O MOVIMENTO • Qual a nossa abertura, disponibilidade para o Movimento? • O que posso fazer para ser melhor equipista? • Qual a relação que mantemos com o CE da nossa equipe? Ele é nosso confessor? Já fez o Dever de Sentar-se conosco? • O CE da Equipe é nosso amigo e conselheiro, ou apenas visitante? • Com relação aos irmãos equipistas, como estamos? (Distantes, críticos, solidários, compreensivos, etc .. .) • Em que podemos melhorar? CONCLUSÃO • Em decorrência dessa reflexão, propor-se a regra de vida: Pessoal, Conjugal, da Família e em Equipe. • Oração Final de Louvor:
Magnificat
Astrid e Ribeiro CRR Minas Gerais
ELEIÇÃO DO CASAL RESPONSÁVEL DA EQUIPE Quem será o novo Casal Responsável da Equipe? Outubro, mês de eleição nas ENS. A quem escolher? Em quem votar? Anualmente, isto acontece entre nós, porque o Movimento, com sabedoria, soube discernir e propor a renovação periódica do Casal Responsável de Equipe para que todos os membros tenham oportunidade de crescer, de partilhar seus dons e de colocar-se a serviço de seus irmãos. Ser CRE é, antes de tudo, ser chamado por Deus para uma missão, para ser mais amado por Ele e para amar mais e servir melhor. "Toda a natureza serve" diz o poeta. Quem não aprende a servir não serve para viver. Vale a pena reler este poema. Ser CRE é estar mais atento às necessidades de seus irmãos, é ser presença, é manter os casais motivados e unidos na busca dos mesmos objetivos, é ser o "anjo da guarda", pronto para proteger e zelar pela vida da equipe, pelo seu crescimento e pela fidelidade ao carisma. Ser CRE é coordenar a equipe, é desencadear ações concretas e duradouras, é levar cada um a participar e a ser co-responsável. Todos os casais equipistas deveriam estar abertos, disponíveis e conscientes para o exercício desta missão, pois a equipe é uma verdadeira escola formadora de apóstolos, uma pequena comunidade onde se aprende a viver em maior plenitude, é o lugar onde se exercita a prática da partilha e da solidariedade. Que pensar daquele casal que não tem coragem de se doar, que não quer se
comprometer com o Movimento, fugindo de qualquer responsabilidade? E daquele que tem tempo para tudo, menos para a equipe e para o Movimento? Neste tempo, é importante refletir a Parábola da Figueira Estéril (Lc 13, 6-9). Será que temos o direito de viver na esterilidade espiritual, contentando-nos apenas em "consumir" e "engordar''? Recebendo um tratamento tão especial de Cristo, que não nos deixa faltar a "água" da graça, o "adubo" do carinho, o "sol" da fé e da esperança, nossa figueira deveria estar repleta de frutos, não acham? Temos o direito de nos fartar desta mesa rica que as ENS nos oferecem, mas também temos o dever de nos engajar na luta pela edificação de equipes vivas, fortes e dinâmicas, capazes de responder, hoje, aos apelos que Deus nos faz através do Movimento e da Igreja. A resposta para a pergunta: Em quem votar? é esta: pergunte ao Espírito Santo, reze, peça a Jesus que lhe revele o casal mais generoso e mais aberto à ação de Deus, pois a missão é divina e deve ser realizada conforme a vontade do Pai. Acertamos sempre quando levamos em consideração os critérios de Deus em nosso pensar e agir. Erramos quando não auscultamos a vontade do Senhor através da nossa assiduidade na oração e na escuta da Palavra de Deus. Que Maria, nossa Mãe e Modelo, nos ajude a dizer SIM ao Pai! Lélia (do Ri/lo) Equipe 20 - Londrina/PR
CM Outubro/94 - 37
-
CRESCER EM COMUNHAO O casal tem um amor que lhe é próprio, que é único e que é o que mais se aproxima do Amor de Deus. É uma relação que deveria se espelhar na relação do amor da Trindade Divina. Um que se dá ao outro para daí surgirem os frutos do amor; amor esse que plenifica, que comunica vida, que constroi, que acolhe, que santifica. Para fazermos crescer essa comunhão em nós, como casais, acreditamos que devemos nos voltar um para o outro, no dia-adia, e com simplicidade, honestidade, abertura total de coração, buscarmos aquilo que pode nos unir ainda mais, que pode nos elevar, edificar, santificar. Isso não exige de nós grandes ou extravagantes gestos de amor, mas pequenas doses diárias de amor, expressas na atenção e cuidado um com o outro, na paciência, na compreensão, na ternura, no perdão mútuo, partilhando a fé, os interesses, os sonhos; respeitando e aceitando a individualidade um do outro, vendo o outro como um presente ímpar de Deus; vivendo cada dia como único e irrepetível.
38 - CM Outubro/94
Precisamos caminhar juntos, lado a lado, recuando ou avançando para "acompanhar" o outro, valorizando a sua maneira de ser e nos enriquecendo mutuamente. Reconhecemos que só alcançaremos, verdadeiramente, essa comunhão quando vivermos o nosso amor conjugal dentro do Evangelho, fazendo de nossa vida, a cada momento, uma ORAÇÃO. É necessário que a nossa vida conjugal e, conseqüentemente a vida familiar, seja uma Celebração de Amor agradável ao Senhor. Se vivermos essa comunhão estaremos de tal forma fortalecidos, que as situações de dificuldade que porventura surjam em nosso caminhar, os inúmeros problemas que atentam contra a estabilidade da nossa família, serão resolvidos com equilíbrio, com discernimento e a certeza do amparo do Amor e da Graça de Deus, que nos uniu em Matrimônio. Graça e Tebúrcio EQUIPE 14- C Londrina/PR
FORMAÇÃO DA FAMÍLIA O problema de formação da família vem de longe. Já no ano 380 em Antioquia São João Crisóstomo abordou em suas homilias este tema. Era uma época crucial em que chega ao clímax a batalha entre o paganismo decrépito e o cristianismo juvenil. Veja na homilia abaixo da segunda metade do século IV da era cristã, se existe alguma analogia com os tempos de hoje ... "Todo o mundo se empenha em que os filhos sejam instruídos nas artes, nas letras e na eloqüência, mas a ninguém ocorre pensar em como exercitar-lhes a alma. Eu não cesso de exortar-vos, rogando-vos e suplicando-vos que, antes de mais nada, eduqueis bem os vossos filhos. Se tens consideração pelo teu filho, é aqui que hás de mostrar. Além disso, não te faltará a recompensa. Escuta o que te diz São Paulo: Contanto que permaneçam na fé, na caridade e na santificação com castidade (1 Tim 2, 15).
Se a tua consciência te acusa de mil pecados, busca algum consolo para eles: educa um atleta para Cristo. Não te digo que o afastes do matrimônio e o envies aos deserto e o faças abraçar a vida dos monges. Não é isso que te estou dizendo. Certamente amo esse estado e faria votos a Deus para que todos o abraçassem; mas, como parece uma carga, não obrigo ninguém a fazê-lo. Educa um atleta para Cristo e, mesmo permanecendo no mundo, ensina-o a ser piedoso desde a primeira idade. Se os bons ensinamentos se imprimem na lama enquanto ainda é branda, mais tarde, quando tiver endurecido eç>mo uma imagem de cera, ninguém será capaz de os arrancar dela. E o que acontece com a cera. Tens o teu filho entre as mãos enquanto ainda teme, treme e se espanta à tua vista, a uma palavra, a um gesto teu. Usa o teu poder para aquilo que convém . Se tiveres um filho bom, serás tu o primeiro a gozar deste bem; e só a seguir Deus. Trabalhas, portanto, para ti". Não exerce o pai de família, em sua casa, uma função que tem qualquer coisa de sacerdócio? Nada mais natural, portanto, que seja aluno do orador sacro, e com isso se habilite a ser como que um professor de religião doméstico. A hora das refeições e no convívio familiar, falando com simplicidade, deve recordar alguma coisa do que aprendeu na Igreja e fazer com que dele aprendam a mui her, os filhos e também os servos. Não há dúvida de que, hoje como ontem, esse apostolado familiar seria muito mais frutífero do que condimentar as refeições com uma sessão de televisão, por mais decente que seja o programa. Afinal de contas, o que está em jogo é nada menos que educar atletas para Cristo. Transcrito do Boletim de Santos/SP
CM Outubro/94 - 39
ENCONTRO NACIONAL
MUDANÇAS NOS QUADROS
Nos dias 4, 5 e 6 de Novembro teremos, em ltaici, o Encontro Nacional das ENS. Acontecimento maior de nosso Movimento no Brasil, é sempre um tempo privilegiado de oração, troca de experiências e comunhão. Elevemos, desde já, nossas orações a Deus pelo êxito desse Encontro, para que as luzes do Espírito Santo nos iluminem todos, indicando as equipes do Brasil rumos de sua caminhada.
• Durante reunião do Colegiado, em setembro último, Ana Maria e Roberto Pereira da Silva assumiram a missão de CRR Rio de Janeiro 11 em substituição a Mirian e Galvão
EQUIPE DA CARTA MENSAL
• No setor Votuporanga/SP, Nely e Carlos Garcia de Haro assumiram a função de CRS em lugar de Adair e Luiz Carlos Prado.
Frei J.P. Barruel de Lagenest, após 6 anos na função de CEda Equipe da Carta Mensal deixa esta função, continuando a dedicar-se as ENS, como assistente de equipes de base e CE da Região São Paulo, Capital, entre outras missões. Convidado, durante o Encontro Internacional, em Fátima, Pe. Flávio Cavalca de Castro, assume a partir de agora esta função. Pe. Flávio, da Congregação dos Redentoristas com 37 anos de sacerdócio, além de funções de magistério tem se dedicado ao setor de comunicações, no rádio e é Diretor da Editora Santuário. Além disso é CEde equipes de base em Aparecida e Guaratinguetá/SP. É também com alegria que informamos que Maria do Carmo e José Maria Whitaker, equipistas de São Paulo/SP acabam de ingressar na Equipe da Carta Mensal. 40 - CM Outubro/94
• Rosinha e Anésio Palies passaram a missão de CRR São Paulo/Norte para Natalina e Roberto José Louzada, os quais, por sua vez estão sendo substituídos por Neusa e Luiz Baldo como CRS Catanduva/SP.
NOVAS EQUIPES/EXPANSÃO
• Fortaleza/CE Eq. 22/B - N.S.da Fé CE Pe. Willie CP Julia e Abelardo • Região Rio 111 Eq. 112/G - N.S.de Guadalupe (fruto da Ex. Co.) CE Pe. Olavo CP Maria Inês e Jair • Americana/SP Eq.11 - N.S.da Rosa Mística (fruto da Ex.Co) CE Pe. Itamar Gonçalves CP Tereza e Vitor (Eq. 05)
CONSELHEIROS ESPIRITUAIS Celebrado em 19.06.94 o Jubileu de Prata da Ordenação Sacerdotal do Pe. Tommaso Leporale, CE das equipes 19/A e 19/D de São Paulo, SP
EVENTOS • Recebemos notícias de inúmeros setores de todo o Brasil de celebrações litúrgicas realizadas no decorrer de maio passado, por ocasião do 442 aniversário de lançamento das ENS no Brasil. • Chegaram também às nossas mãos várias notícias de eventos (missas, noites de oração etc) realizados em várias partes do nosso País, em julho de 1994, na intenção do 82 Encontro Internacional das ENS em Fátima, Portugal e dos peregrinos que lá se encontravam • Concretizada em 29.05.94 a criação da Diocese de Araçatuba/SP, com a posse do Revmo Bispo D. José Carlos Castanho de Almeida. • Em 06 de agosto passado, o setor de Mogi das Cruzes/SP reuniu Conselheiros Espirituais para uma confraternização, em comemoração ao Dia do Padre e aproveitando a ocasião, Pe Airton, CE da Região falou aos presentes sobre a importância e atuação doCE nas equipes de base. • Com a presença de casais equipistas de Londrina, Astorga e Pitangueiras foi realizada em Pitangueiras/PR uma Tarde de For-
mação em 07.08.94. • Realizado entre 10 e 13.07.94 em Antonio Carlos/MG, o Encontro Nacional das Equipes Jovens de Nossa Senhora. Sob o tema "Nasce uma nova Família", o evento contou com a presença de mais de 200 jovens vindos de várias partes do Brasil. • O Encontro Inter-Regional dos três estados do Sul, ocorreu em Nova Trento/SC com a participação de Maria Cecília e Gaspar (EC IR), dos 4 CRR, de todos os CRS, dos casais coordenadores de Ex. Co. e de 5 Conselheiros Espirituais, totalizando 58 pessoas. • A Região São Paulo Sul I realizou em 14.05.94 um DOA - Dia de Aprofundamento, em Mogi das Cruzes/SP do qual participaram os casais ligação da Região bem como os CRS de Santos, do ABC e de Mogi das Cruzes • Aconteceu em Florianópolis/Se um dia de estudos sobre Oração e Família, desdobrado em três temas: A Oração Visual, a Oração na Natureza e a Oração do Abandono. • O primeiro retiro do ano, organizado pelo Setor B das ENS de Florianópolis/Se foi realizado num final de semana de maio passado com pregação de Pe. Agostinho Staehlin, profundo conhecedor do Movimento que mostrou aos participantes o caminho da santificação do casal através dos pontos concretos de esforço, utilizandose de muitos comentários sobre a Carta às Famílias, do Papa João CM Outubro/94 - 41
Paulo 11. Cesar e Djanira , CR do Setor B fizeram uma convincente explanação, repleta de testemunhos pessoais sobre o Dever de Sentar-se. • A Equipe 01 de Brasília/DF viveu o domingo, 10.06.94 com 30 famílias carentes da Agrovila São Sebastião. Iniciado o encontro com a Santa Missa, após a qual reuniram-se grupos de homens, mulheres, adolescentes e crianças orientados por casais equipistas sob o tema "E a Família como vai?" Seguindo-se ao almoço preparado e oferecido pelos equipistas, ldê e Edson falaram aos presentes sobre a Família no Mundo de Hoje que despertou grande interesse tendo provocado muitas perguntas.
• Maria de Lourdes Santana (viúva) - Eq. 22/F N.S. de Fátima, Rio 111 em 22.06.94 • Alcides Araújo (da Aparecida) - Eq. 11/B - N.S. Imaculada Conceição , Araçatuba/SP em 16.05.94 • Edwiges Bachega (do Nelson) - Eq. 04/A - N.S. do Rosário, Araçatuba/SP em 16.05.94 • Egles Gabas de Carvalho (do Aldair) - Eq 03/B - N.S. das Famílias, Araçatuba/SP em 23.05.94 . Pe Francisco Xavier de Oliveira Fº (Pe. Chico) - CEda Eq. 06- N.S. das Graças, ltú/SP em 13.07.94 • Antonio Marconi (da Lorene) Eq . 05/A - São José do Rio Preto/SP em 06.08.94
DOA - Mogi das Cruzes/SP VOLTA AO PAI
Rezemos pelos equipistas que nos precederam na Glória Eterna: • Nunes (da Alcinda) - Eq. 3/B N .S. Perpétuo Socorro, Fortaleza/CE 42 - CM Outubro/94
• Antonio Trivelato (da Maria Helena)- Eq. 01/A, Araçatuba/SP • Mons. Primo Vieira- CE (licenciado) da Eq. 05 - N.S. do Perpétuo Socorro, Santos/SP, ocorrido em Fátima, Portugal, durante e 8º Encontro Internacional.
O QUE É PRECISO SABER SOBRE OS MANDAMENTOS, vol. 1 - INTRODUÇÃO GERALD. Antônio Afonso de Miranda, S.D.N.; Ed. Santuário; Aparecida do Norte, SP; 1993; 44 pag. D. Afonso, Bispo de Taubaté, em 5 volumes todos já à disposição, dos quais o n2 1 introduz-nos na correta compreen são do significado dos mandamentos de Deus e daqueles que a Igreja estabeleceu. Traduzidos em linguagem simples e direta, aborda todos os mandamentos, sucintamente, porém de modo a sanar as dúvidas mais comuns, fornecendo seguro roteiro aos fiéis.
CURANDO AS FERIDAS DA ALMA, Léon Robichaud; Ed. Santuário, Aparecida do Norte, SP; 1993; 64 pag. Qual de nós não se ressente de feridas em nossa alma, que nos atingem, muitas vezes, com aquele sentimento de confusão ou desespero a que alude o apresentador desse opúsculo, opúsculo que, com palavras simples e oportunas, assume a tarefa de curá-las. O autor fundamenta a anamnese das circunstâncias causadoras de tais feridas, nos traumas decorrentes de acontecimentos que nos vêm atingir com maior ou menor violência e de suas conseqüências psicológicas, a que chama de "luto", porém ressalta que a cura necessita, primordialmente, que a atenção de cada um seja voltada para Deus, que nos liberta do medo e do pecado, estabelecendo o primado do Amor. CM Outubro/94- 43
Lins/SP, 29 de junho de 1994
Santos/SP, 16.08.94
Caríssimos irmãos.
A Equipe da Carta Mensal
Nesta oportunidade estamos solicitando espaço na Carta Mensal, para comunicar com muita alegria, que com as orientações dos Irmãos Equipistas de Piracicaba, Bauru e Araçatuba, o S.O.S. FAMÍLIA da Pastoral Familiar da Diocese de Lins, já é uma realidade e uma grande esperança em defesa das Famílias em crise conjugal e Familiar. Assumida pelas Equipes de Nossa Senhora, juntamente com as Equipes da Sagrada Família e com a colaboração de Vicentinos e outros Movimentos ligados com a Igreja de Jesus e ainda com o indispensável apoio do nosso Bispo Diocesano, Dom lrieu Danelon e dos nossos Conselheiros Espirituais, hoje contamos com trinta Casais que se colocaram em disponibilidade para os plantões . Contamos ainda, com uma Equipe de Retaguarda composta de Profissionais nas áreas da Psicologia, Médica, Jurídica, Assistência Social, Alcoólatras Anônimos e Três Conselheiros Espirituais que nos dão o apoio necessário. DEUS é Pai, nos ama e quer que seus filhos vivam em paz compartilhando a alegria em FAMÍLIA. Que o Divino Espírito Santo continue a nos iluminar nesta caminhada de levar felicidade aos nossos irmãos. Cordialmente Alice e Benedicto . Equipe 5 de N.S. Aparecida e coordenadores do S.O.S. FAMÍLIA
44 - CM Outubro/94
Estamos enviando material publicado nos jornais locais, sobre o Mos. Primo Vieira. Mons. Primo foi CE da Equipe 5N.S. do Perpétuo Socorro-Santos (nossa Equipe). por um período de mais ou menos 1O anos, tendo pedido licença em janeiro/93 por motivo de saúde. Independente da sua saída da Equipe, continuou assistindo os casais. Particularmente, nós nos encontrávamos semanalmente com Mons. Primo para um lanche e um bate-papo informal. Era um membro da família. A sua viagem à Fátima, foi exatamente para ficarmos alguns dias juntos em Lisboa, após o Encontro. Como vocês podem ver nas matérias publicadas, Mons. Primo era um devoto incondicional de Maria Santíssima, e às vezes, em tom de brincadeira, dizia: - "Por Cristo eu morro, por Maria eu mato". Para nós a separação foi muito dolorosa, mas dois fatos nos confortam: - Um dia antes de falecer, bem no centro do Santuário ele nos disse:"Como este Movimento (ENS) é maravilhoso. Quanta unidade! Quanta Fraternidade! É o Carisma materializado! Maria está feliz! Chegando a Santos, quero reassumir a Equipe 5, e propagar aos meus colegas a grandiosidade do Movimento! - O segundo foi que ele adorme-
ceu para sempre nos braços da Virgem Maria, como ele realmente queria. Olhando por outro prisma, foi uma graça. Ela, Maria, em correspondência a tanto amor levou-o nos braços para perto do Senhor. Um grande e fraternal abraço M.Helena e Orlando
RECADO PARA O Pe. CHICO
Meu querido Pe. Chico Quando comecei a escrever sobre o senhor e para o senhor, pensei em transmitir algo grandioso, marcante, que exprimisse tudo aquilo que nos vai na mente e no coração. Mas percebi que este não era o caminho , porque o senhor sempre nos deu exemplo de simplicidade e humildade tão marcantes, tão firmes, que percebemos que era exatamente aí que estava fixado o sentido de sua vida ; vida exemplar de sacerdote vocacionado , resoluto , desprendido, convicto , que transmitia uma profunda fé em Jesus e Maria . O senhor esteve conosco , acompanhando-nos como Conselheiro Espiritual desde outubro de 1986 até nossa última reunião, em junho de 1994. Foram quase oito anos de convívio íntimo com o senhor, em que nós, os casais da Equipe 6 de N.S. das Graças, que tivemos a vantagem de partilhar de sua vida, através de co-participações recíprocas , aprendemos a valorizar, e muito, essa convivência. Durante todo este tempo , entremeamos momentos alegres, tristes, tensos , ansiosos, ternos , aconselhamentos para nós, para nossos filhos , para o senhor. Houve muita entre-ajuda, muita correção fraterna e ainda faltava tanto ... Nossas reuniões, quando o se-
nhor não podia comparecer, nunca eram a mesma coisa; sentíamos demais a sua falta , pois gostávamos muito de ouvir as suas meditações, que ajustavam nossas interpretações pessoais da Palavra de Deus. Lembro-me de uma reunião em especial, mais precisamente a de 9 de abril p.p., cujo texto de meditação (I Cor. 15, 1-19) proporcionou ao senhor uma atuação marcante, ao interrogar individualmente todos os presentes sobre sua crença na Ressurreição de Cristo e seu sentimento sobre a morte. Foram momentos de muita vibração espiritual e participação intensa de cada um de nós, tendo-se tornado até mesmo uma oportunidade para que pudéssemos reafirmar nossa fé não só em Cristo ressuscitado, mas o nosso comportamento cristão face à própria morte e depois dela. E falou-nos, na ocasião, que um dentre nós breve partiria para o Pai e que o senhor estava convencido de ser essa pessoa Acompanhamos com preocupação seu estado de saúde - aliás acompanhamos pouco - talvez devessemos ter "puxado" mais suas orelhas e exigido mais cuidado; mas quem conseguia controlá-lo? Quantas vezes pedimos para que o senhor desse um tempo, parasse um pouco, descansasse. Mas "não" era uma palavra que o senhor jamais disse a alguém . Uma vez disponível, disponível até o fim Nosso querido amigo, irmão e conselheiro, agora o senhor está na pazdeDeus, masestarásempreem nossos corações, em nossas mentes e talvez até em nossas atitudes e nunca nos esqueceremos de sua figura risonha e cativante. Até um dia, Pe. Chico. Sérgio Equipe 6, ltu/SP
CM Outubro/94 - 45
CONFORMISMO CRÔNICO É na família que sedimentam os valores, os princípios básicos da educação que constroem a pessoa. E não é sem razão o dito popular: "A educação é de berço". A vida humana evolui e cada dia mais rapidamente. Na esteira dessa evolução, o pensamento também muda e com ele a compreensão e transmissão dos valores. No que diz respeito às mudanças de hábitos sociais, há um limite normal de tolerância e adaptação. Contudo, quando se trata de valores objetivos, não sei até onde se pode falar em mudança e aceitação passiva e até cultivo de hábitos, que na verdade , são a negação de valores fundamentais, a base de toda e qualquer sociedade humana. Como exemplo, pode mos nos perguntar: quem de nós já não percebeu , através dos meios de comunicação, que asatisfação do homem está em cultivar a vantagem pessoal ; que a mentira é um ingrediente servido no café da manhã, no almoço e no jantar; que a corrupção é uma forma de progredir; que a ligeireza no ter é buscada como um valor absoluto, e assim por diante? Qual nossa posição diante dos fatos? Lamentar-nos, não conduz a nada. Querer que as coisas mudem pelas mãos dos outros, dos que "mandam" , é conformar-se e, 46 - CM Outubro/94
assim, ser conivente com o que acontece. Em nossa concepção paternalista onde "tudo se espera que o pai resolva", inauguramos e cu ltivamos um conformismo crônico. A realidade é esta: estabeleceu-se um pacto entre o cidadão e a ineficiência dos serviços públicos, entre o consumidor e os produtos adulterados, entre o telespectador e a poluição eletrônica, isso para citar algumas situações com as quais convivemos ... Existem meios, instrumentos ou formas pelas quais o cidadão, na família, assumindo sua liberdade, deve tomar uma posição consciente. Mas o que nos impede? Quantos de nós reclamamos dos programas de TV, mas continuamos assistindo; lamentamos a má qualidade dos produtos, mas con tinuamos comprando; sentimos na pele a ineficiência dos serviços públicos, mas nos queixamos com quem não pode resolver. Tomar posição significará desinstalar-se, e isto dá trabalho, mexe com as pessoas. Assumir uma atitude contra o que está por aí, exige responsabilidade. Diante de tudo isso como estamos educando? Vamos ser sinceros: estamos esperando que os outros mudem, não é mesmo? Jô e Conrado Equipe 1 - Bragança Paulista/SP
ORAÇÃO A NOSSA SENHORA APARECIDA O incomparável Senhora da Conceição Aparecida, Mãe de meu Deus, Rainha dos Anjos, Advogada dos pecadores, Refúgio e Consolação dos aflitos e atribulados, ó Virgem Santíssima cheia de poder e de bondade, lançai sobre nós um olhar favorável e que sejamos socorridos em todas as necessidades. Lembrai-vos, clementíssima Mãe Aparecida, que não consta que de todos os que tem a vós recorrido, invocado vosso Santíssimo Nome e implorado vossa singular proteção, fosse por vós algum abandonado. Animado com esta confiança a vós recorro: tomo-vos de hoje para sempre por minha mãe, minha protetora, minha consolação e guia, minha esperança e minha luz na hora da morte. Assim, pois, Senhora livrai-me de tudo o que possa ofender-vos e a vosso Filho meu Redentor e Senhor Jesus Cristo. Virgem bendita intercedei a Deus por nós e livrai-nos da peste, fome, guerra, raios, tempestades e outros perigos e males que possam nos flagelar. Soberana Senhora, dignai-vos dirigir-nos em todos os negócios espirituais e temporais; livrai-nos da tentação do demônio para que, trilhando o caminho da virtude, pelos merecimentos da vossa puríssima Virgindade e do preciosíssimo sangue do Vosso Filho, vos possamos ver, amar e gozar na eterna glória, por todos os séculos dos séculos. Amém!
CM Outubro/94- 47
VOCÊ TOPA? lahveh disse a Abraão: sai da tua terra, do meio dos teus parentes, da tua tranqüilidade, do teu sossego, para a terra que eu te mostrarei e farei de ti um grande povo. Abraão "topou" e surgiu o Povo de Deus. Certa vez um anjo de Deus se aproximou de uma jovem virgem e graciosa e lhe anunciou que viria a ser mãe pela ação do Espírito Santo; o nome da moça era Maria. Ela lhe fez algumas perguntas e em seguida "topou ". Nasceu-nos o Redentor.
Povo de Deus. Ele "topou" ao ponto de ser morto e crucificado de cabeça para baixo. Surgiu a Igreja. Um jovem rico procurou Jesus e lhe perguntou o que deveria fazer para ter a vida eterna. Cristo respondeu que se desfizesse de seus bens e o seguisse. Ele não "topou ". Os três primeiros transformaram o mundo. O último não alterou em nada o curso da história. O Senhor continua chamando. Você "topa"?
Jesus um dia disse a Pedro que a partir dele iria fundar o novo
Júlio {da Auxilium) Equipe 02 - Manaus/AM
..,.
.
48 - CM Outubro/94
MEDITANDO EM EQUIPE (Outubro - Mês das Missões) TEXTO DE MEDITAÇÃO: Evangelho de São Marcos, Cap. 6, Vers.?-13 Para refletir: O texto de Marcos (que aparece também em Mateus 1O, 1.9-14 e Lucas 9, 1-6) ressalta o total desapego do missionário. Nós, como cristãos batizados, somos vocacionados para a Missão. Qual tem sido nosso comportamento missionário, hoje, neste mundo em que vivemos, no limiar do século XXI? Oração do "NOVO ARDOR MISSIONÁRIO" (Para o "Ano Missionário" - 22/05/94 a 23/07/95) Mulheres: Ó Pai,/suscita o teu Espírito,/ para que ilumine o teu povo/e aqueça os corações,/ levando-os a um novo ardor missionário. Homens: Desperta em todos os cristãos/o sentido precioso do teu batismo,/ a fim de que o ardor missionário/se transforme em zelo evangelizador. Mulheres: Renova, pela ação do Espírito Santo,/ a mente e o coração dos pastores e fiéis,/ que, abrasados pelo ardor missionário,/ cheguem até os confins do mundo. Homens: Que o "Ano Missionário", proclamado,/ ressoe portada a América Latina,/ como apelo ardente de Deus e da Igreja,/ chamado à conversão e à unidade. Todos: Que toda a Igreja Missionária,/ fiel à tua Palavra, proclame/aos povos e nações a salvação/do Senhor Jesus, o "Missionário do Pai" . Amém! (Oração aprovada por Dom Osvaldo Giuntini, Bispo de Marília-SP, e fornecida pelo COM IRE- Conselho Missionário Regional, sub-regional de Botucatu-SP)