i CARTA
f MENSAL ê ~
>< o c
<
Equipes de Nossa Senhora
• Natal • Fátima/94 • Projeto Conjugal • Pastoral Familiar • Ano Internacional da Família
EQUIPES DE NOSSA SENHORA
Carta Mensal Nº 306 - Dezembro de 1994
ÍNDICE EDITORIAL: O "ENVIO" DOPE . OLIVIER EM FÁTIMA .
. 1
A ECIR CONVERSA COM VOCÊS
. 2
EVANGELIZAR A SEXUALIDADE .
.6
FÁTIMA/94 . . . . . . . . . . . . .
.9
ANO INTERNACIONAL DA FAMÍLI A
1O
PASTORAL FAMILIAR
15
ATUALIDADE . . . . .
19
PROJETO CONJUGAL .
21
VIDA DO MOVIM ENTO
27
NOTÍCIAS E INFORMAÇÕES
35
CORREIO . . . . . . .
37
NOSSA BIBLIOTECA .
39
DIA MUNDIAL DA PAZ .
40
NATAL
41
. . . . . .
ÚLTIMA PÁGI NA:
48
Carta Mensal é. uma publicação me nsal das Equipes de Nossa Senhora. Jornalista Responsável: Catherine Elisabeth Nadas (M Tb 19835). Edição: Eq uipe de Casais da Ca rta Mensal. Fo ne: (O I I) 604-8833. Composição/Diagramação/Fotolitos: Newswork. R. Venâncio Ayres, 931. São Paulo . Fone: (011) 263-6433: Impressão e Acabamento : Edições Loyola. R. 1822,347 . Fone: {O I I ) 91 4- 1922. Tirage m desta edição: 8.500exemplares.
EDITORIAL O "ENVIO" DOPE. OLIVIER EM FÁTIMA No final da cerimônia de encerramento do Oitavo Encontro Internacional das ENS em Fátima, o Pe. Olivier pronunciou em seis línguas - o tradicional "envio". Foi um "envio em missão" endereçado a todos os equipistas do mundo inteiro, não somente aos participantes do Encontro, mas também àqueles que não estavam presentes em Fátima. Eis, porque, ele está sendo publicado em todas as "Cartas das ENS" através do mundo. Caros amigos Este é o meu adeus, pois estou deixando a Equipe Responsável Internacional. Eu gostaria de fazer deste "envio" uma espécie de testamento espiritual. Eu não sou profeta , nem recebi a "revelação". Mas eu creio poder dizer aqui : nosso mundo desmorona, nós vivemos o fim de um mundo, o fim de uma sociedade . Os sinais são numerosos. Vou citar apenas um: o desemprego, especialmente para os jovens. Todo mundo está inquieto. Nin-
guém encontra uma solução . Talvez seja porque ela não existe . Ela não se encontra no nosso tipo de sociedade . Nosso mundo desmorona. Mas um mundo novo vai nascer. Qual será ele?
É aqui que nós estamos em lugar privilegiado para intervir. Por que nós podemos trazer a primeira pedra, o alicerce indispensável. Eu creio , firmemente, que este alicerce sobre o qual nós podemos construir um mundo novo, é o amor de um homem e de uma mulher, unidos pela vida , o amor dos pais e dos filhos, em uma palavra, a família em torno do casal. O Movimento das Equipes de Nossa Senhora não é, portanto, uma sobrevivência de uma tradição ultrapassada. Ele pode ser o pioneiro de uma nova conquista. Então , eu vos digo em nome do Senhor: com seus filhos, com seus netos, ide depressa preparar este mundo do ano 2000. Isto é necessário! Isto é urgente! Pe. Bernard 0/ivier, o.p.
CM Dezembro/94 - 1
'*
A RCIR CONVERSA COM Vocts
Queridos amigos
Agradecemos a Deus que nos tem cumulado de graças, realizando-nos como pessoas, como casal e família.
Mas hoje, quando terminamos nosso trabalho como Casal Responsável da ECIR, queremos agradecer, em especial, coparticipando com todos voces as graças que temos recebido ao atender à vocação com que Deus nos chamou ao serviço do Seu Reino por intermédio das Equipes de Nossa Senhora. Nestes últimos cinco anos nosso serviço consistiu, em essência , em zelar pelo carisma das ENS, manter a unidade do Movimento e sua fidelidade ao Cristo. Foi-nos dada a alegria de viver esta função de "guardiães do carisma", neste período da história, desde que os equipistas perceberam uma Segunda Inspiração para o Movimento, em Lourdes , 1988, até o desabrochar desta Inspiração, em Fátima, neste 1994 quando os equipistas assumem sua missão de serem "sacramentos da espiritualidade conjugal e da vida familiar". Ao zelar sobre esta joia preciosa, percebemos que sua beleza tornava-se mais visível e sua presença mais marcante, na medida em que era mais usada e atualizada pelos casais , na medida em que todos percebiam mais nitidamente as suas várias faces, a da 2 - CM Dezembro/94
espiritualidade conjugal, a da vida comunitária e a face que, nestes últimos anos, tem desafiado cada um de nós - ser sinal de amor a fecundar uma renovada viagem do casal, homem-mulher, no mundo. Fiéis a esta tarefa, percorremos quase todas as regiões de nosso Movimento no Brasil. Levávamos nosso entusiasmo e convicção nos valores das ENS e recebíamos o testemunho de amor, esforço, tenacidade e coleg ial idade que cada Região imprime à vida das equipes conforme seus hábitos e cultura. E nos maravilhamos com a mutiplicidade, a pluralidade da obra de Deus. Outro aspecto sensível das graças do serviço foi a vivênc ia de uma real comunidade de fé , oração e vida, a nossa equipe da ECIR. Nessa equipe crescemos , no exercício do discernimento cristão e no desenvolvimento do sentido da colegialidade , que alcançam força e efetividade quando se exercita a busca do consenso para assumir decisões e orientações . Para discernir, a cada momento , a vontade de Deus para com o Movimento, cada membro da ECIR colocava-se aberto e disponível, em espírito de comunidade e num reconhecimento afetivo e caloroso . Esse mesmo espírito pudemos também viver com o Colegiado que reúne à ECIR os Casais Res-
ponsáveis Regionais. Em todos esses encontros tivemos a experiência da presença do Espírito Santo a inspirar as decisões, criar a harmonia e construir a paz. Assim, irmãos, encontrar pessoas caras, encontrar Conselheiros Espirituais, foi a razão do nosso crescimento, foi canal de tantas graças. Entre eles lembramos pessoas muito especiais como companheiros fortes e seguros; referimo-nos aos nossos Conselheiros Espirituais da ECIR: Pe. Mario José e, antes dele, lembramos com saudade, Pe. José Carlos. Estes conselheiros são para nós testemunho claro e eloqüente do valor do sacerdócio do CristoRei, profeta, irmão e amigo. Pe. Mário é hoje uma expressão do carinho de Deus para com o nosso Movimento. Lembramos, com aquela ternura profunda, Dona Nancy, nossa sempre jovem fundadora que em muitos e muitos momentos, constituiu-se no ponto de equilíbrio e de firmeza da equipe. Ela, que é, a presença concreta do próprio carisma das ENS. E aqui, na base do dia a dia, esteve sempre presente a nossa
equipe 4, de Ribeirão Preto, como nosso porto seguro de reflexão e oração, que acolheu e partilhou conosco os momentos de tensão e preocupação, a nossa alegria. Vêm agora à nossa mente os nossos três filhos, bênção de Deus, que sentindo-se também missionados junto conosco, foram sempre os alegres entusiastas das tarefas que empreendemos, companheiros que se entreajudaram para que pudéssemos ficar livres para nossas inúmeras viagens. Sim, eles são uma bênção de Deus! Enfim, irmãos, deixamos a função de Casal Responsável pela Super Região Brasil, plenos da graça de Deus! Deixamos a função, mas permaneceremos juntos com todos voces na missão de anunciar ao mundo uma forma de construir o amor conjugal extremamente tentadora, por que é capaz de fazer o homem do século XXI feliz, com a felicidade que o Pai propõe para todos os seus filhos. Sintam o enorme abraço com que nos unimos a todos vocês Beth e Ramo/o
CM Dezembro/94 - 3
"ENCHEIAS TALHAS DE ÁGUA!" Era uma festa de casamento em Caná, na Galileia. Ali não havia água encanada e ao judeu não era lícito pôr-se à mesa com as mão impuras . O costume impunha, então, que no átrio das casas fossem postadas grandes talhas, cheias de água, onde os convivas faziam suas abluções. Pode-se imaginar as circunstâncias e a cena: calor forte do clima árido do deserto; suor escorrendo pelas têmporas; a poeira, levantada pelo cavalgar ou mesmo no andar a pé, grudada nas mãos e na pele úmida. E cada um que chega, enfia as mãos sujas nas talhas, levando um pouco de água ao rosto, que escorre de volta nas talhas, ou cai parcialmente pelo chão . E lentamente vai-se maculando a água que remanesce nos vasilhames. Deve-se acreditar que, na rotina daquelas lavagens, à medida que se esvasiavam as talhas , mais turva e impura se tornava a água de seu interior. No meio da festa faltou o vinho e Maria se apercebeu logo. Era preciso fazer alguma coisa para evitar o vexame. Tenta encontrar uma solução e percebe que, por si própria, nada pode fazer. Mas logo se dá conta e deve ter pensado consigo mesma: se meu Filho está presente nada pode faltar. E sem maior cerimônia, convoca os serventes e lhes adverte: "Fazei tudo o que Ele vos disser". 4 - CM Dezembro/94
Expectativa, curiosidade, sei lá o que pode ter passado na cabeça daquela gente . Mas a ordem que veio, esta ninguém podia imaginar: "Enchei as talhas de água". Para que encher novamente as jarras se os convidadaos já tinham todos chegado e já se haviam purificado? E para que colocar água limpa por cima de tanta sujeira que ali estava acumulada na água servida? No entanto, esta foi a ordem, a missão. Ponham a água! Nada mais. Foi na simplicidade, até na insignificância de entrar com a água, que a participação humana tornou poss ível a um Deus mostrar a sua glória, realizar o seu sinal. Era justamente o que seria possível ao homem fazer! O resto estava nas mãos de Deus. Jesus somente pede o possível, aquilo que está ao alcance. Não se importa que a água seja de boa qualidade, ou que se macule ao misturar-se à sujeira do recipiente. Ele apenas que contar com a participação do homem para realizar o milagre da transformação no melhor vinho , o mais saboroso, o que devia ser servido em primeiro lugar. Jesus quer a ação do homem para ali derramar a sua graça, o seu poder. Hoje, convidados para novas bodas, Jesus também nos convoca a propiciar que a alegria do
vinho bom não falte à vida de tan- tos corações que vivem com esperança e paz. Será hoje possível realizar a mesma missão: enchei as talhas de água? Quantos e quantos impecilhos para nos decidirmos a fazer a nossa parte! Costuma-se ouvir: "ainda não estou preparado", "só faz dois anos que estou nas equipes", "quero primeiro investir na minha formação para depois ... ", "mas, ainda não consigo resolver nem meus próprios problemas", "etc, etc, e etc .. ." A ordem porém está dada: "enchei as talhas de água! " "Enchei". É o verbo no imperativo do tempo presente que soa como algo inadiável , que não coloca subordinações, que não exige pressupostos, que não prevê condições, que não exige títulos, que não fala em aptidões, que não exige posses. Basta encher. Echer quem sabe com aquele nosso tempo que nunca sobra, com aquela nossa generosidade capenga, com aquela atenção míope que não percebe nada, com a água do nosso medo,
da nossa imperfeição, do nosso despreparo, para que toda esta matéria, qual novo ofertório, seja santificada no cálice da consagração, onde Deus intervém com seu poder e graça. Encher de água é ter simplesmente a coragem do "Sim", do comprometer-se com as carências dos outros, do abrir mão de si próprio. Encher de água é dar um passo além das idéias que acabam por se perder, ou dos sonhos que nunca se realizam, é caminhar além das boas intenções das quais dizem, o inferno está cheio. Encher de água é gesto de fé na presença concreta de um Deus que interfere e muda a história, a partir do vigor daqueles que participam dos milagres que os desesperançados ousam acreditar não serem mais possíveis. Mostra-me a tua fé sem obras e eu te mostrarei por obras a minha fé. Encha-me de água as talhas vazias do meu povo, e Eu te mostrarei no vinho novo a força do meu amor! Sílvia e Chico Pela EC/R
CM Dezembro/94 - 5
A PROPÓSITO DO DOCUMENTO "EVANGELIZAR A SEXUALIDADE" Bernard 0/ivier, o.p.
Creio que todos aqueles que estiveram em Fátima, voltaram encantados. Certamente, ao retornar, falaram do quanto estavam felizes! E os que lá não foram , com medo do calor, ficaram no prejuízo: não houve lugar mais amento em toda a Europa ... Todos nós devemos felicitar e agradecer aos nossos amigos portugueses que tanto trabalharam nesse encontro; faço aqui uma menção especial à equipe encarregada da liturgia. Gostaria de dizer aqui uma palavra sobre o documento "Evangelizar a Sexualidade , por que, uma colocação sobre esse assunto se faz necessária . A apresentação desse documento em Fátima foi acolhida calorosamente e com muito entusiasmo. Mas, em seguida, alguns manifestaram sua inquietação e sobre essas atitudes polemicas (que podemos deixar de lado) percebeu-se uma real apreensão. É por eles que estou escrevendo aqui para tranquilizá-los e lhes dizer que, a meu ver, sua apreensão não se justifica. Poderse-ia supor que participando do trabalho das equipes , sua opinião pesasse no escrutínio das respostas. De minha parte , esforcei -me em refletir fielmente o pensamento das 6 - CM Dezembro/94
Equipes e acho que fiz um trabalho honesto. Trata-se, sobremaneira, da questão das regras de moral e das diretrizes do Magistério . Alguns lastimam que se tenha faltado ao respeito para com a autoridade do Papa , permitindo-se di scutir, argumentar. Existem os qu e desconfiaram da nossa intenção secreta de ir a Roma "ensinar o Pai-Nosso ao Vigário", empunhando a opinião das Equipes de Nossa Senhora . Gostaria de pedir a todos qu e não prejulgassem, por que , essa não é, e nem jamais foi a nossa intenção. Quando da minha intervenção em Fátima, eu disse textualmente a propósito da audiência que nós sol icitamos ao Santo Padre : "não se trata , absolutamente de uma espécie de manifestação sindicalista, mas da so licitação de filhos diante do seu pai". Pode ser que , até agora , alguém não tenha percebido isso. Profe ssor de Teologia Moral, por mais de vinte anos, percebo bem que essas questões são difíceis e delicadas , suscitando facilmente posições apaixonadas. Compreendamos bem que não se trata de um documento doutrinai ou doutrinário que pretende ditar regras morais. Nem se trata , mesmo, de uma tomada de posição do Movimento, nem
de um manifesto a respeito do que se pensa nas Equipes de Nossa Senhora. Trata-se de um trabalho de reflexão com a participação aproximada de 10.000 casais verdadeiramente cristãos (o que é, como dizem alguns, ao mesmo tempo pouco e muito , e que é também uma "premiére" na Igreja) que com total sinceridade- e portanto , às vezes, brutal - dizem seus problemas e seus desejos. Para poder exprimir um julgamento válido seria necessário ter conhecimento das 220 páginas do documento. Um exemplo simple s: diante das Diretrizes do Magistério , que todos conhecem bem , há três categorias de respostas , relatadas fielmente . Há os que aceitam incondicional. mente as diretrizes e para os quais não existe nenhum problema; há os que manifestam suas graves objeções a respeito de certos pontos ; há os que - e são a grande maioria tomam uma posição mais branda. Esse trabalho das Equipes revelou a necessidade de um sério complemento de informação e de um aprofundamento que será necessário perseguir. Sinceramente , pensamos que este enorme esforço de reflexão deveria ser levado ao conhecimento do Santo Papa e servir à pesquisa de toda Igreja. É tudo . Nada de "ensinar o Pai-Nosso ao Vigário". Nada de recusar a autoridade do Magistério , que todos aceitam em sua fun ção indispensável. Ao contrário , a outra extremidade, suspeita de termos querido , com o texto do projeto, influenciar insidiosamente os casais para os conduzir a se submeterem aos documento do Magistério! Faz-se necessário che-
gar a algum acordo. Paremos com insinuações e suspeitas a torto e a direito . Assim , se somos atacados de um lado e de outro , isso não seria um sinal de que nossa posição está justamente no meio? Penso que deverímaos nos esforçar (repetindo aqui o que já disse num dos últimos editoriais) para nos comportarmos como adultos responsáveis. Poderíamos dizer simplesmente aos casais cristãos que tentam viver plenamente sua vocação: "evitem de pensar e discutir esses assuntos . Nós pensamos para vocês. Contentem-se em fazer o que dizemos , mesmo quando não compreenderem ". Não seria isso encorajar à uma atitude infantil? E não seria, também , encorajar a fugir da responsabilidade pessoal? Aconselharia todos a ler e estudar a encíclica "Veritatis Splendor", publicada antes do nosso trabalho. É sem dúvida, um texto difícil, mas ele mostra bem como se deve exercer o julgamento de consciência e o papel do Magistério neste domínio : "esclarecer a consciência, mas não substituí-la ... A Igreja se coloca sempre e unicamente a serviço da consciência" (nº 64} . É o próprio Papa que o diz. Permitam-me para concluir, citar simplesmente a última frase do nosso documento, que se refere à "prece incessante que dirigimos à nossa Mater et Magistra. Temos necessidade , grande necessidade, ao mesmo tempo , de seu Magistério e de sua ternura Maternal". Quem se expressaria melhor? Traduzido por Maria Célia e João de Laurentys Equipe da Carta Mensal.
CM Dezembro/94 - 7
Queridos Casais e Conselheiros Espirituais de todo Brasil Com grande alegria queremos participar-lhes que no último 12 de outubro, um dia muito significativo para nós brasileiros por ser consagrado a Nossa Senhora Conceição Aparecida, foi dado um passo histórico em relação ao "Projeto Evangelizar a Sexualidade". Juntamente com Mercedes e Alvaro (anteriores responsáveis pelo Movimento) e Pe. Olivier entregamos nas mãos do Papa o documento síntese das reflexões realizadas por cerca de dez mil casais das Equipes sobre o sentido humano e cristão da sexualidade . O espírito que norteou nossa presença junto ao Santo Padre foi o de
filhos que buscam seu pai para lhe confiar o resultado de um trabalho de reflexão sobre esta questão tão delicada quanto importante para nós casais e que poderá se consti tuir numa contribuição à reflexão da Igreja. Dando prosseguimento, a Equipe Responsável lnterncional já está providenciando as traduções do documento para as principais línguas faladas no Movimento, afim de que possam ser enviadas aos casais das diversas regiões do mundo. Com o pensamento voltado para todos vocês, o nosso carinhoso abraço. Cidinha e lgar CR- ERI
EQUIPES
DE NOSSA SENHORA
PROJETO EVANGELIZAÇÃO DA SEXUALIDADE
1991
8 - CM Dezembro/94
FÁTIMA/94 COMO É MARAVILHOSO SER EQUIPISTA Não temos nenhuima dúvida que a nossa missão , guiados por Maria, torna-se diáriamente mais atrativa, mais pura e mais santa. Dizemos isso , porque fazemos nossas tarefas, em casa e fora dela, com o coração , com a fé inabalável em Nossa Senhora e cumprindo a determinação de Nosso Senhro Jesus Cristo , IDE E PREGAI . O Encontro Internacional em Fátima, sem favor algum foi a nossa OLIMPÍADA e cada um que lá esteve , trouxe em seu ego a "Medalha de Ouro". Sem dúvida uma grande vitória. Seus louros devem ser divididos com aqueles que ficaram rezando pelo êxito absoluto do grande conclave . Não bastasse a grande vitória íntima de cada um , o pagamento pelo grande triunfo, foi o Santo olhar de Nossa Senhora a todos nós, que lá estávamos a seus pés a toda hora agradecendo o nosso sucesso. Só lamentamos que o tempo não tenha parado. O relógio foi implacável conosco , mas mesmo assim , até de madrugada o desafiamos, porque nós queríamos era mesmo ficar ao lado de Nossa Senhora, Santa protetora. Falar dos atos litúrgicos na grande praça (maior que a de São Pedro em Roma) , seria uma tarefa difícil , porque descrever aquela beleza é algo que poucos tem condições. Missas, horas santas, procissões, equipistas do mundo inteiro, padres,
povo em geral, todos sob o manto protetor de Nossa Senhora, ficaram mais fortificados na fé em Nosso Senhor Jesus Cristo. Que bom se pudessemos gritar para o mundo que fomos abençoados em Fátima, mas como isso é impossível, fiquemos então, apenas com nossa emoção e queremos dividi-la com os que lá não estiveram . Santa Catarina, com seis casais de Criciúma, uma jovem filha de equipistas , três casais de Florianópolis, Pe . Agenor Pedroso, Conselheiro Espiritual da Equipe 7 de Criciúma, também Dom Onéris Marchiori, Bispo da cidade de Lages, entusiasta pelo Movimento equipista, marcou presença no Encontro Internacional e isso fortifica ainda mais o nosso Movimento . Não é o coração que fala , mas sim a razão . O encontro foi completo, foi perfeito , sem erro: Parabéns Portugal , parabéns ERI , parabéns Brasil, a representá-lo no mundo, pelo fabuloso casal Cidinha e lgar. Como é bom ser equipista e agora ainda mais com comando brasileiro , poderemos até remoçar um pouco mais, porque os jovens casais, também querem compartilhar da alegria dos antigos casais e darem um pouco de sí nas tarefas que Nossa Senhora os solicita. Não estamos cansados, mas se os mais jovens quiserem vir serão bem recebidos pelos braços de Maria. Lea e Geraldo Eq. 7 - Criciúma/SC
CM Dezembro/94 - 9
I~
I
ANO INTERNAC/ONAl DA FAM/l/A DESAFIOS À FAMILIA DE HOJE Maria de Fátima e António Borba
Estamos profundamente gratos à Equipe Internacional por nos terem convidado para participar nesta mesa redonda . Já que não somos peritos , aceitamos o convite com humildade e em espírito de serviço. A nossa intervenção parte de uma perspectiva Luso-Americana . Maria nasceu nos Estados-Unidos e António emigrou dos Açores para os Estados-Unidos há 28 anos. Estamos casados há 23 anos e somos pais de três filhos de 22 , 19 e 13 anos de idade . Durante os nossos anos de casados, o Senhor tem-nos mimoseado com pequenos e grandes desafios que nos tem ajudado a crescer no amor um ao outro, aumentar a nossa intimidade familiar e a nossa de pendência aos casais das Equipes de Nossa Senhora e à nossa comunidade paroquial. Talvez o nosso maior desafio aconteceu no dia 6 de março de 1992 . Eram 11 horas da manhã quando Maria me telefonou extremamente aflita. Tinha acabado de receber um telefonema de que nosso filho do meio, o Daniel que contava então com 16 anos de idade , acabara de ter um acidente de viação . Fomos apressadamente para o hospital local. Por causa da seriedade de seus ferimentos , Daniel tinha sido levado de helicóptero para um hospital especializado em tratar vítimas de trauma. Extremamente an1O - CM Dezembro/94
siosos dirigimo-nos para este hospi tal e apercebemo-nos da seriedade deste acidente. O Daniel tinha partido os dois braços, as duas pernas em vários lugares e tinha numerosos cortes na cara e na cabeça . As próximas 72 horas eram críticas e havia a possibilidade de perder a vida ou parte da perna direita. Os próximos dias foram passados no hospital com uma recuperação extremamente lenta. Ao fim de três semanas , Daniel veio para casa numa situação em que não era capaz de fazer nada por si próprio. A recuperação levou cerca de um ano. Hoje, graças a Deus , encon tra-se completamente recuperado . Anda normalmente e é capaz de praticar qualquer esporte que queira. Ao refletirmos sobre esta etapa de nossa vida , sentimo-nos muito gratos pela força que o Senhor nos deu para enfrentarmos . No entanto, é bem claro que não a enfrentamos sós . Tivemos muitos casais e uma comun idade inteira que rezou por nós, que nos visitou , que nos escutou , que chorou conosco, que aceitou algumas das nossas responsabilidades , enfim que nos acompanhou em cad a momento desta etapa difícil da nossa vida. Foi um grande desafio, mas ao mesmo tempo estreitou os laços familiares porque deu-nos oportunidades de mais intimidade familiar com os nossos filhos em conversas, ora-
ção e em tristeza. Também descobrimos os grandes amigos que tínhamos que deram do seu tempo e trabalho para nos ajudar. Esta experiência veio nos ajudar a caminhar para a nova Família que Dolores Curran descreve no seu livro "Traits of a Healthy Family". Segundo Dolores Curran, a Família moderna mudou radicalmente. Históricamente a Família tinha cinco funções fundamentais: A primeira sobreviver economicamente. Essa função exigia que o pai ganhasse o pão para a casa e como essa era uma tarefa muito exigente , era preciso uma ajudante, a esposa, que acabava por ter quase toda a responsbilidade pelos cuidados da Família . Além disso , levava também as Famílias a terem muitos filhos por razões econômicas. Na nossa família o meu pai trabalhava de manhã à noite e, embora fosse bom pai , não tinha tempo para passar com os fi lhos com exceção de alguns momentos à noite quando chegava a casa. Eramos sete filhos mas apenas quatro sobreviveram . Até irem para a tropa , tudo o que ganhavam era entregue à Família . A segunda função da família era a proteção. Os membros da família precisavam uns dos outros para se protegerem. Recordo-me de quando criança quase não existia polícia na nossa ilha. Quando numa das festas na freguesia , um dos mem bros da família se metia em problemas, eram os outros membros da família que vinham protegê-lo . A treceira fun ção da Família era transmitir a Fé religiosa aos seus membros. Curran diz-nos que historicamente , até o século XVIII , a Família era a maneira principal de transmitir as histórias religiosas , a
doutrina e as tradições. Em quarto lugar, a Família servia para educar os filhos . Os rapazes trabalhavam ao lado do pai para aprender uma ocupação, enquanto que as filhas aprendiam a ser donas de casa como as suas mães. Finalmente, a quinta função da família era conceder posição social. Os membros eram julgados pelo nome da Família e era muito difícil mudar a posição social. Se vínhamos de uma família respeitada, geralmente éramos respeitados . Mas se vínhamos de uma família com mau nome, era também difícil adquirir um bom nome. Por muitos anos foram estas as funções fundamentais da família. Haviam outras funções mas eram secundárias. Se uma família tinha estas cinco condiçàes era considerada uma boa família . Certos comportamentos seguiam estas funções. Uma boa família era aquela em que o pai era autoritário e ganhava o pão. A mãe era uma boa dona de casa, tomava bem conta da família e os filhos eram bons trabalhadores . Era uma família unida, pelo menos na superfície , para proteger os seus. A boa família ia à Igreja, apoiava a escola e raramente havia qualquer escândalo ligado ao nome da família. Pouco importava se havia boa comunicação , apoio moral ou relações de confiança. A maior preocupação era que a família fosse ao encontro dos padrões estabelecidos pela sociedade . Hoje há muitas pessoas que pensam que se voltássemos a estas funções da Família todos os problemas ficariam resolvidos . No entanto, ao longo dos últimos anos, estas cinco funções da Família mudaram radicalmente. CM Dezembro/94 - 11
Economicamente , na maior parte dos casos, já não precisamos uns dos outros para sobreviver. O homem não precisa da mulher e a mulher do homem. Além disso, os filhos em vez de ajudarem economicamente, são um peso financeiro. Todos nós conhecemos casos em que o homem ou a mulher solteira vive melhor financeiramente do que ocasal que está procurando proporcionar um bom ambiente aos filhos . A proteção da Família está a cargo da sociedade . A função religiosa tornou-se tarefa da Igreja. E, embora muitas Igrejas façam esforço para que os Pais tomem esta responsabilidade , estes resistem porque crêem que as Igrejas são capazes de o fazer melhor do que eles próprios. A responsabilidade pela educação foi entregue às escolas e a função de dar posição social, com raras exceções, é agora mais resultado de empregos , salários ou lugares onde as Famílias vivem do que o resultado do nome da Família. Quando se tornou aparente que as funções da Família estavam mudando, houve muitos que afirmaram que a Família desapareceria, incluindo o "Hoover-Ogburn Commision"em 1934. Graças a Deus, isso não aconteceu. Simplesmente a Família criou novas funções que são fundamentais para a Família de hoje. Quais são estas funções? Numa palavra, são funções de relacionamento. Nós casamo-nos para amarmos e sermos amados. Juntamo-nos à procura de intimidade, não de proteção. Temos filhos para compartilharmos as alegrias de nos ligarmos à posteridade. Infelizmente, vivemos numa sociedade que tem a tendência de fo12 - CM Dezembro/94
car o negativo e assim julgar a Família como um fracasso completo. Há duas escolas de pensamento. Uma afirma que para termos uma Família sã, temos que voltar às funções da Família antiga. A outra afirma que não podemos fazer face às necessidades de hoje com estrutura de ontem. Pelo contrário, devemos criar novas soluções. Se o casal não está a comunicar, pedir meramente ao marido para fazer mais dinheiro ou à esposa para ficar em casa não resolve o problema. Achamos que estamos no meio de um período em que está a desabrochar uma nova Fam ília. Apenas 15% das Famílias dos Estados Unidos seguem a estrutura tradicional do Pai a trabalhar e a Mãe em casa com os filhos. Enquanto que uma grande percentagem dos jovens de hoje acham importante ter uma Família, ao mesmo tempo, acham que as mulheres devem ter oportunidade de se realizar profissionalmente. Será que é possível aceitar a Família de hoje com as mudanças dos últimos anos e criar Famílias onde os seus membros se apoiam , se realizam e são capazes de fazer face aos desafios da sociedade moderna? Não temos a menor dúvida que é possível. O nosso trabalho com as Equipes de Nossa Senhora na Califórnia ao longo dos últimos treze anos tem-nos permitido lidar com muitas Famílias que são exemplos concretos da Família de hoje que vive profundamente este amor, num ambiente de apoio e ajuda mútua. O que nos alegra ainda mais é que muitas destas Famílias são casais jovens que levam a sua vida a sério e são o resultado dum trabalho profundo duma comunidade paroquial
e do Movimento das Equipes de Nossa Senhora. Estas Famílias esperam desafios e lidam com eles duma maneira carinhosa . O que notamos duma maneira especial é a sua capacidade de comunicação , apoio , partilha da sua Fé e serviço aos outros. Bem evidente nestas Famílias é a capacidade de comunicação. Embora a Família seja puxada em muitas direções diferentes por causa do emprego dos dois e dos filhos, da televisão , das responsabilidades comunitárias , a Família sã de hoje acaba por encontrar soluções para manter aberta a comunicação. Este é um aspecto que nós temos e continuamos a crescer. Quando nós casamos, éramos muito jovens, estávamos os dois a estudar, estávamos envolvidos na nossa comunidade em serviços voluntários , e tivemos imediatamente o nosso primeiro filho. Nessa altura, Antonio queria que tudo fosse perfeito. Isso levounos a ser demasiado exigentes com o nosso filho mais velho o que levou a uma grande dificuldade na comunicação. À medida que fomos amadurecendo, aprendemos a ser mais compreensivos, mais abertos e a tirar mais tempo para a comunicação , de maneira que os nossos fi lhos mais novos são muito mais abertos . Aprendemos a escutar sem julgar, aprendemos a controlar a televisão, aprendemos a prestar atenção às mensagens não verbais , aprendemos a perdoar e aprendemos também a tirar tempo um para o outro para assim termos mais a dar aos nossos filhos . Se os filhos não se sentirem educados e acolhidos em casa, procurarão outros ambientes para se sentirem escutados e apoiados.
Uma outra característica que vimos nas Famílias sãs de hoje é a capacidade dos seus membros se apoiarem uns nos outros . Cada membro da Família sente que tem o apoio dos outros membros para se poder realizar. Isto significa que se a esposa decide trabalhar fora de casa , o marido e os filhos a apoiam . A decisão se a esposa deve ou não trabalhar fora de casa é muitas vezes feita com pouca consideração pela mulher, mas é feita só em função do resto da Família ou então como resultado de decisões econômicas absolutamente desnecessárias . Achamos que essa decisão deve ser feita baseada num apoio mútuo que respeita a capacidade de realização de cada membro da Família e não exige um demasiado grau de doação ou sofrimento só dum dos seus membros. Ao longo dos nossos 23 anos de casados , temos tido altos e baixos, mas duma maneira geral sempre nos procuramos apoiar um no outro para que nos pudéssemos realizar. Acabamos o nosso estudo depois de casados e houve tempos em que um estudava e o outro tinha mais responsabilidades em casa para que esse estudo pudesse ser completado . Uma outra característica da Família de hoje que sobrevive às pressões da sociedade é aquela que compartilha o seu tempo. Nós vivemos sempre à pressa. Entre as responsabilidades familiares, profissionais e comunitárias, muitas vezes a vida é uma constante corrida. Nos primeiros anos de casados não tiramos o tempo suficiente para a Família pois não tínhamos tido essa experiência nas nossas próprias Famílias. O trabalho era o mais CM Dezembro/94 - 13
importante e por isso sacrificamos a Família por causa do trabalho profissional e voluntário. À medida que fomos amadurecendo, aprendemos que era absolutamente essencial tirar tempo para a Família estar toda junta, quer fosse ir a um filme , jogar um jogo, ir à praia, a um lago, para as montanhas ou a férias mais demoradas. Este tempo que passamos juntos ajuda-nos a criar e aumentar a intimidade familiar. A verdadeira Família de hoje compartilha a sua Fé e dá valor ao sentido de serviço dos outros. A Fé é compartilhada com os filhos duma maneira positiva e cheia de significado. Além disso , a Família é altruísta, serve os outros de maneira concreta , simplifica o seu estilo de vida e ao mesmo tempo controla o seu serviço voluntário. As Equipes têm sido uma verdadeira escola para nós, especialmente na partilha da Fé e no serviço aos outros . O estudo dos temas, o dever de se sentar e a oração em Família têm sido excelentes meios de aprofundar a nossa Fé e compartilhá-la com os nossos filhos de uma maneira significativa.
.::.:-..,_._
I
~í!
14 - CM Dezembro/94
I
O serviço nas Equipes tem-nos proporcionado oportunidades de servir aos outros e criar amizades que muito tem enriquecido a nossa Família . Um dos aspectos mais agradáveis no serviço aos outros tem sido a criação de novas Equipes. O trabalho de organização, pilotagem e animação tem exigido muito tempo , mas para nós é uma alegria ver um maior número de casais que se comprometem a viver cristãmente e a dedicarem-se também ao serviço dos outros. Não há dúvida que as funções da Família de hoje mudaram completamente. A nossa caminhada ao longo de 23 anos de casados tem sido de alguma maneira uma transição da Família tradicional para a nova Família. Tem sido um processo de amadurecimento e crescimento . Muitas vezes esta caminhada não foi fácil. No entanto, sentimo-nos mais realizados na nossa Fam ília de hoje .
Mesa - Redonda 8º Encontro Internacional, Fátima
20.07.94
I~
PASTORAL FAMILIAR FAMÍLIA E EVANGELIZAÇÃO
Ouvimos falar muito , em nossos dias, em evangelização. Na Igreja do Brasil, estamos mesmo vivendo o tempo de um Ano Missionário. Estamos convencidos de que a família precisa ouvir a Boa Nova que é o Evangelho de Jesus e, ao mesmo tempo, se tornar evangelizadora, isto é, portadora de uma esperança para o homem de hoje. A família que vai sendo evangelizada necessariamente torna-se evangelizadora.
O que vem a ser evangelizar ou evangelização? Não é fácil dar uma definição de evangelização. A palavra significa "boa nova" , "boa notícia" . Jesus é a "Boa Nova" do Pai. Ele , com sua vida,milagres, gestos, palavras, atitudes, morte e ressurreição, tornouse a grande mensagem de Deus aos homens. A todos nós é feito o convite de ouvir o que Jesus tem a nos comunicar. Todos são convidados a dar-lhe uma resposta. Não se trata apenas de responder com o exterior. O homem que conhece Jesus, o absoluto de Deus, o enviado ao Pai, o Messias, o Ungido de Deus, sente a necessidade de entrar num processo de mudança de vida , de conversão do coração. O Pai, em Jesus, diz que nos ama. Ama a tal ponto que morre de amor. Depois da ressurreição, começou um movimento novo no universo: os discípulos de Jesus começaram a se reunir em comunidades , a viver na fé de sua presença, a praticar
caridade e a batalhar para que muitos conhecessem Jesus e a Ele dessem sua adesão. Evangelizar é anunciar Jesus como sentido de vida, como caminho de felicidade suprema, como senda a ser percorrida para que possamos atingir juntos a plenitude de nossa existência.
Como se evangeliza? Há uma primeira evangelização que é feita pelo testemunho de vida. Os cristãos dão exemplo de vida cristã digna, de abertura para os outros, de carinhoso respeito para com a vontade de Deus, de vontade de seguir Jesus. O cristão de verdade é pessoa diferente. Evangeliza por seu exemplo. Um segundo momento de evangelização é o do serviço humano a quem quer que seja. Ficamos profundamente tocados quando vemos pessoas se dedicar aos outros de maneira gratuita, desinteressada, visando apenas o bem do próximo. Todos os que se engajam na defesa dos direitos dos pequenos, na busca da justiça, na acolhida de todos os excluídos e sofredores da vida, já estão evangelizando, anunciando a boa nova do amor desinteressado que vem no mistério de Deus. O terceiro momento de evangelização é o do anúncio explícito. Os cristãos são chamados a falar da esperança que mora neles. Em conversas , no serviço da catequese, no pronunciamento a respeito de vários CM Dezembro/94 - 15
assuntos, os cristãos anunciam claramente que têm fé em Cristo e que esta fé os torna profundamente diferentes e cheios de densa e intensa felicidade .
Como evangelizar a família? Nenhuma família pode dizer que está completamente evangelizada. Há, certamente, regiões da vida de uma família que ainda precisam ser atingidas pela luz do Evangelho. Ao mesmo tempo que a família vai recebendo novas claridades, começa a irradiar sua luminosidade. Ela anuncia que o amor de um homem e de uma mulher é desejado por Deus. Ele os criou para se umrem e formarem uma indissolúvel comunidade de vida e de amor. Não é bom para o homem viver só. Homem e mulher são chamados a viver um amor profundamente fiel , límpido. Ambos são convidados a se entre-ajudarem e a darem a vida um pelo outro no respeito das diferenças , no perdão sincero e no serviço de um para o outro . Os esposos cristãos unem-se no Senhor . Amam-se como Cristo amou sua Igreja. Mutuamente, pelo consentimento , dão-se o sacramento do matrimônio. Anunciam a boa nova do sacramento do matrimônio que é Cristo vivendo e transfigurando seu amor. A família cristã anuncia que acolhe os fi lhos como dom de Deus. Respeita a vida. Não brinca com a sexualidade . Sabe muito bem que esse encontro amoroso dos corpos e das mentes está aberto à vida e querem ser colaboradores do Senhor da criação. Acolhem realmente os filhos como fruto de um grande amor e como filhos de Deus que lhes 16 - CM Dezembro/94
são dados . A família cristã é uma "igreja" no lar, é uma "igreja doméstica" . A família cristã anuncia que é salutar entrar com o Senhor na oração do lar. Ela participa da missa e afirma a sua fé na presença de Jesus. Participando da Eucaristia, a família cristã espalha comunhão à sua volta. Pelo seu modo de ser e por suas palavras , anuncia que os últimos serão os primeiros, que os pequenos são os verdadeiros donos do mundo, que a transparência e a coerência de vida são condições de solidez de uma vida de fé e de uma família cristã. A família cristã evangeliza estando perto de todas as situações familiares difíceis : mães e pais solteiros , famílias com problemas de alcoolismo e drogas, famílias que deixaram Deus de lado, famílias que misturam a fé sólida com superstições e crendices , famílias que não têm apreço pela vida . A presença serena e forte, misericordiosa e verdadei ra da família cristã , junto a outras constitu ições familiares , é grande trabalho de evangelização , sobretudo quando esta presença se reveste de humildade , de vontade de servir e estar com todos de modo desinteressado. Uma família que vive a fé em Jesus, que ama como o Senhor amou, que se entreg a ao Senhor na oração , que se une a Jesus em todos os momentos , é um bem precioso para a Igreja e para a humanidade . Esta família assim constituída é criadora da civilização do amor! CNBB - Setor Família Nº 6 - Nov/Dez/1994
UMA ESCOLHA PREFERENCIAL PELOS JOVENS Para muitos casais, ainda "equipinhas" . Para a maioria dos padres , "Equipes de Jovens de Nossa Senhora". Para mais de 700 jovens brasileiros e outros 5000 em 17 países, Equipes de Jovens de Nossa Senhora (EJNS). Não importando a denominação , apresentamos a vocês , casais equipistas , um movimento originado do mesmo carisma, fundado sobre a mística da busca do crescimento espiritual , partilhado em equipe e vivenciado no dia-a-dia , e que faz parte da mesma Igreja: "A Igreja é um lar e uma família para todos . Abre totalmente as suas portas e acolhe todos os que estão sós ou abandonados ; neles, vê os filhos amados de forma muito especial por Deus, quaisquer que sejam as suas idades, aspirações, dificuldades e esperanças" (João Paulo 11). O Movimento das EJNS é uma realidade em várias cidades brasileiras (Juiz de Fora , Brasília, ABC , Santos, São Paulo , Jacareí, Rio Preto, Bauru , Belém, Recife, Porto Alegre, Alvorada e Tramandaí). Com apenas 5 anos de caminhada, procura oferecer à juventude brasileira uma saída para tantos problemas que ela enfrenta, seja na sociedade , seja na família , com uma proposta séria e autêntica de vida cristã , segundo os moldes do Evangelho. Para quem ainda pensa em equipinhas, ou em deixar os filhos com os de outros casais , bagunçando, enquanto faz sua reunião formal , saiba que o número de mães soltei-
ras , de jovens com acompanhamento de psicólogos e de drogados continua aumentando assustadoramente. O problema da má formação moral, psicológica e cristã dos jovens, como a fuga para as drogas, é um questionamento à ação pastoral da Igreja, que ainda não ofereceu aos jovens uma proposta de vida que corresponda às suas necessidades. Ou será que apenas com uma missa mais "animadinha" aos domingos se responde a questões de sexualidade, namoro, vocação , vida profissional , casamento, divórcio , AIDS e drogas? Se hoje os casais falarem aos filhos para se engajarem na paróquia, há alguma proposta concreta para eles? Tocar violão , trabalhar em encontros de fins de semana, escrever mensagens, são atitudes que respondem às necessidades dos jovens, mas não pode ser feito também pelos casais , mais experientes e definidos, enquanto se propõe aos jovens uma participação em um curso bíblico ou numa Pastoral Familiar? Aliás, conhece-se verdadeiramente o perfil do jovem de hoje? Porque os que estão na Igreja atualmente são muito poucos, uma minoria. A grande parte da juventude brasileira foi buscar no risco das drogas, do sexo "seguro" , do consumo desenfreado ou nas "gangs" uma resposta para a sua vida. É este jovem que está cheio de problemas, precisa de ajuda, e pode ser seu filho. E aí é que está a importância de uma equipe de jovens, de um Conselheiro Espiritual e de um casal equipista (pais CM Dezembro/94 - 17
que passam pelas muitas dificuldades de educar um filho e formar uma família, mas que bebem da fonte de água viva e conseguem forças para vencer a missão de serem "pais"). Neste ano de discussões sobre a família, tema discutido também pelas EJNS em Barbacena-MG (paralelamente ao encontro de Fátima para os jovens que foram tão longe para buscar o que havia tão perto) observou-se que, infelizmente , a maioria das equipes no Brasil não conta com o acompanhamento de casais (eis a proposta). E, lendo a Carta Mensal do mês de setembro, percebe-se um número infinito de casais transbordando amor, carinho, conhecimento sobre as realidades da família e da missão cristã: "A experiência de um casal cristão que acompanha a equipe traz aos seus membros uma riqueza complementar à que caracteriza a presença do Padre. O casal dá testemunho de sua vida espiritual partilhada e vivida em conjunto, e das graças rece-
18 - CM Dezembro/94
bidas pelo Sacramento do Matrimônio. Traz à equipe a experiência de um enriquecimento mútuo na oração e de um compromisso de leigos no mundo. Pela sua confiança e doação recíproca, o Casal é o sinal da fidelidade vivida com Deus, num momento em que tantos jovens hesitam em tornar um compromisso duradouro" (Carta Internacional das EJNS). Esta realidade (joven s equipistas sem casais acompanhadores equipistas) convida a um exame de consciência sobre a missão de ajudar a formar hoje, para o próprio bem da família e da sociedade, os que serão os casais equipistas ou vocacionados de amanhã; uma escolha preferencial pelos jovens equipistas de Maria que , assim como vocês, discípulos de Jesus, também são convidados às Bodas de Caná. Paulo Roberto (BSB) - Comunicação Externa das EJNS no Brasil
J.YfUJ.\tl DJ.\DE CONTESTANDO
o ARTIGO
Depois de uma análise desse texto (Aborto pg. 29 da Carta Mensal de Julho/Agosto . nº 302) , se conclui que ele é de cunho espírita. Em reunião com o casal que enviou este artigo , que não é de autoria deles. têm-se a convicção de que eles não estavam com intenção de passar a idéia espírita e sim. chamar a atenção para este mal presente em nossa sociedade, o qual devemos combater. A intenção deles foi e sempre será , portanto , a de combater o aborto. Por isso, como conselheiro desta equipe, vejo-me na obrigação de prestar-lhes esclarecimentos sobre o mencionado artigo. O artigo em pauta pode ser chocante , pode deixar-nos sensibilizados por esse tão grande mal que encontra-se espalhado por ai; só que no fundo deixa transparecer, como mencionei, a idéia espírita , contrária à doutrina da Igreja. Devemos sim , combater o aborto , mas não com base nessas doutrinas errôneas. Consultando o teólogo O. Estevão Bettencourt, O.S.B., o qual teceu o seguinte comentário sobre dito artigo: 1. "No 1º parágrafo: 'Não me mates novamente' - supõe que houve um aborto anterior. 2. - Isto se torna ainda mais claro no 2º parágrafo. Este supõe que o espírito abortado tenha pairado pelos ares ou tenha estado em outro mundo, obtendo finalmente a licença dos Espíritos Superiores para voltar à terra . 3. O penúltimo parágrafo volta ao
11
ABORT0
11
tema: ' ... que voltou para viver e ajudar-te a ser feliz', prevendo uma terceira tentativa de nascer. após dois abortos . 4. O mesmo no último parágrafo: ·... não me mates novamente. necessito viver'. Na verdade, não há espíritos pairando à espera de se encarnar. Alma e corpo existem uma para o outro . O homem não é um espírito encarnado para expiar pecados conforme a lei do Karma. É essencialmente psicossomático: quando se dá a fecundação do óvulo pelo espermatozóide, Deus cria a alma do novo ser e a infunde para constituir um novo ser humano juntamente com o corpo . A morte é a separação de corpo e alma. A alma colhe, logo depois da morte, os frutos de sua semeadura. (Cf. Hb 9,27) . Podemos falar muito sobre o aborto e tocar as pessoas, sem usar de idéias contrárias aos ensinamentos da Igreja. Portanto, proponho que os artigos enviados à Carta Mensal de cunho moral-religioso, passem por uma revisão prévia dos conselheiros , e é claro também devendo haver uma revisão de todos os artigos pelos editores da Carta. Temos tantas fontes seguras, não é necessário recorre rmos a artigos emotivos que não passam a verdade da Igreja e dos fatos. Antonio Borges Scherpinski, M.l. C. Eq. 37- Ilha do Governador RJ.
CM Dezemb ro/94 - 19
SEPARADOS .. RECASADOS .. ESTÃO NA IGREJA? Vivem situações matrimoniais incompatíveis com as exigências do Evangelho os que estão separados quer por simples consenso bilateral, quer pelo divórcio. Situações dramáticas e irregulares diante do matrimônio que é indissolúvel. Todos estes, embora permaneçam na Igreja, não vivem em plena comunhão com ela, pelo que não podem receber sacramentos . Quem é vítima (não a causa) de qualquer tipo de separação, mas não vive maritalmente com outra pessoa, e se porta digna e castamente, tem acesso aos sacramentos. Com esta pessoa a comunidade cristã conserva estima e solidariedade . Quando o divórcio civil se torna o único meio para garantir certos direitos legítimos, como o cuidado dos filhos e a tutela do patrimônio , pode ser tolerado sem que constitua culpa moral. A condição do separado (divorciado .. .) recasado é mais difícil. Continua membro do povo de Deus, pertence à Igreja embora não em plena comunhão com ela. Muitas vezes vive situação irreversível. Pode participar com os outros fiéis na audi-
20 - CM Dezembro/94
ção da Palavra de Deus, na oração comum ou em grupos, e nas obras de caridade. Não poderá ser leitor no culto público , catequista, padrinho de Sacramentos (nem convém ser testemunha de casamento) , integrante de Conselhos Pastorais, nem confessar-se ou comungar, porque sua situação irregular contrad iz a fé professada nos sacramentos. Isto não significa que seja um condenado. Estes filhos que não vivem a doutrina cristã, são confiados pela Igreja à misericórdia de Deus e acompanhados com orações. O trabalho carinhoso de amigos, os Encontros de Casais, Cursilhos e outros movimentos de Igreja conseguiram recompor inúmeros matrimônios desfeitos, muitos casais desajustados. A graça de Deus tudo pode, mas supõe nossa colaboração apostólica. Que ninguém se omita no empenho de reconst ruir a "igreja doméstica" . Os meios estão ao nosso alcance: a palavra e a oração. Pe. Mario Zuchetto CSS Equipe 04 - Campinas/SP
[ ~
PROJETO CONJUGAL I A ARTE
Costumamos sempre dizer: Viver a dois é uma arte. E desta frase então surgiu a idéia de se escrever este artigo. O ramo da arte que nos parece melhor combinar com a frase é a escultura. Vamos então traçar um paralelo entre a vivência a dois e a arte de esculpir. Num primeiro momento duas pessoas se conhecem , se descobrem . se aprovam mutuamente , iniciam um relacionamento . Este momento é como cursar a faculdade de Belas Artes, um período de aprendizado, descobertas , conhecimento . Passam-se os anos , a universidade já ficou para trás ; sente-se a necessidade de criar alguma coisa, progredir. Inicia-se então o projeto de uma obra. Existe uma série de expectativas , incertezas , mil idéias borbulhando, incertezas . Mas a idéia do projeto é forte e procura-se um Orientador, um Mestre , que ajude a clarear as idéias. No nosso paralelo de relacionamento , esta é a hora em que resolvemos nos casar e projetar nossa vida conjugal. Como será o lar, o viver juntos, os filhos , planos e mais planos ... Findo o projeto, é hora de por mãos à obra e iniciar nossa escultura . Temos um imenso bloco de mármore à nossa frente ... uma martelada aqui , outra ali ... uma lixada aqui, outra mais adiante. Nosso projeto vai lentamente tomando forma . tornando-se realidade .
Um dia, meio distraídos, damos uma pancada mais forte e quebrase mais do que devia. Desaba uma frustação , um desespero, um "que fazer?" Não há mais blocos de mármore, só este. O Mestre atento e paciente, nos orienta a voltar ao projeto, reanalisálo, fazer umas pequenas modificações, com calma . E recomeçamos com novo ânimo. O tempo passa e nossa escultura vai tomando uma forma outra que aquela idealizada. Ali tem um ângulo agudo , onde deveria ter uma curva suave; aqui ainda está muito áspero, deveria ser mais liso, macio. Voltamos ao nosso velho projeto, que já estava até empoeirado de tão esquecido na gaveta. Passados mais alguns anos, somos tomados pela impaciência . Que rotina esta de a cada dia, martelar, lixar, polir ... martelar, lixar, polir .. . Pensamos em parar e desistir de vez . Como um último fiapo de ânimo e esperança . vamos buscar nosso, agora já velho , Mestre. Explicamos toda a situação, mostramos nossa escultura , já bem adiantada ... mas que negócio chato, rotineiro. O Mestre nos convida a sentar e observar bem nossa escultura: - Agora vá lá e dê uma aparada naquele ponto. Não assim, não! com sentimento, sinta o movimento, a energia fluir de dentro de você, para sua escultura . Melhorou! Agora afaste-se e observe. DetalhadaCM Dezembro/94 - 21
mente ... sinta. Volte naquele outro ponto e lixe mais um pouco. Isto. Sinta a mudança, a nuance, o aperfeiçoamento. Aprecie cada detalhe .. . observe .. . sinta . Demore-se! Nos entreolhamos e chegamos juntos à mesma conclusão : devemos sentir cada movimento, cada momento, cada toque , prestar atenção, devagar, com calma . Gozar de cada novo detalhe. Deixá-lo penetrar em nós e em nossa obra. Realmente fica gostoso assim . O Mestre sorri e nos diz: - Vocês estão finalmente aprendendo o segredo da arte da escultura. Cada peça é única. Ela deve ser sentida ... delicada ... vivenciada. O todo está também nos detalhes, que não podem jamais ser desprezados. - Mas se formos observar, sentir cada detalhezinho, esta escultura vai durar uma eternidade para ficar pronta. - Ah! Vocês estão aprendendo mais segredos da grande arte. -Quer dizer então .. .? - Isso mesmo. Aqui acaba a ficção e voltamos à realidade de nosso relacionamento . Com o passar do tempo , uma "martelada mais forte ", a desatenção , o próprio tempo vão fazendo nossa vivência a dois, nosso lar, nossa obra ir perdendo o rumo . Corremos o risco de perder tudo , ou de nossa obra de arte , ser um lixo. É o momento de sentar, conversar, trocar idéias. Abrir nosso projeto conjugal original , adaptá-lo se necessário ou ver em que ponto nos desviamos dele . Mais algum tempo e a monotonia toma conta. É aquela mesmice. Dá até vontade de desistir, de 22 - CM Dezembro/94
abandonar tudo . E notamos então que estávamos fazendo tudo mecanicamente . Faltava sentimento , energia, empenho. Faltava fazer uma série de pequenos acertos e reparos . Faltava parar e observar como cada pequenino toque , dava um novo brilho, uma nova alegria , como melhorava toda nossa obra. Tardiamente fomos descobrir a arte dentro da arte . E finalmente consideramos que nossa escultura está pronta: Meu casamento é perfeito! Que nada. O grande segredo da arte e do verdadeiro artista é o eterno aperfeiçoar , melhorar , observar, continuar ... sempre e sempre. Cada perda é única .. . Bem , disso tudo que foi dito queremos só salientar uns pontos: • O projeto só sai do papel para a realidade se estamos compromissados realmente na sua realização. • Sempre é bom voltar às origens: reavaliar, reabastecer, redirecionar, adaptar. • É necessário sempre estar martelando, lixando , polindo, aparando as pequenas arestas e pontas do nosso relacionamento , estar atento às pequenas coisas que às vezes deixamos passar. • Colocar sentimento , empenho, um pouquinho de nós mesmos em cada ato. • Nossa obra principalmente se queremos que seja uma OBRA DE ARTE, nunca está perfeita , pronta , acabada . Estamos sempre aprimorando. • E por último: não fica mais fácil viver esta arte de viver a dois com um MESTRE por perto? Aninha e Beta - Equipe 24/ C Petrópolis - RJ- CRR- Rio 11
ALGUMAS REFLEXÕES Extra idas do texto SER FAMÍLIA, HOJE, NA IGREJA E NO MUNDO Álvaro e Mercedes Gomez-Ferrer, da Equipe Responsável Internacional
ESPIRITUALIDADE DA FAMÍLIA Cria-se a família a partir do amor de um casal
Para criar uma família é preciso primeiro "construir um casal" . Quanto mais sólido espiritualmente fecundo for esse casal , mais se construirá sobre ele . O amor é o fundamento do casal e será também o fundamento da família . O amor é um apelo a sairmos de nós mesmos e irmos ao encontro do outro: isso se concretizou em nossas vidas no dia em que ficamos apaixonados . Ficar apaixonado é, antes de tudo, um dom de Deus. Mas é também uma intuição inteligente. É uma intuição porque trata-se de um impulso ingênuo e espontâneo e não do resultado de uma reflexão . Essa intuição é inteligente, pois nela existe a confiança de que podemos ser para o outro um projeto de vida. Lembremo-nos do estado de "graça" em que ficamos quando nos conhecemos . A solidão, a incerteza do futuro desapareceram porque uma pessoa nos escolheu , nos amou e nos deu a segurança de que tínhamos necessidade para enfrentar a vida , para curar o passado. Isso nos levou a nos examinarmos em profundidade , com o desejo de oferecer nossa verdade ao outro. O outro, por sua vez, nos ofereceu seu tempo, seus
pensamentos e essa correspondência de amor pareceu-nos um dom imerecido. O mundo encheuse de significado e nossa vida se unificou. Não duvidemos jamais desse encontro. Não procuremos explicações para ele . Cada vez que a dúvida surgir, revivamos a recordação desse encontro que, no entusiasmo de nossa juventude, nos apareceu tão claro e continuemos fiéis a essa recordação ... além de nossos próprios limites, além das mudanças da vida. Cria-se a família quando nasce um novo projeto
O amor de um homem e de uma mulher é, entre outras coisas, o encontro de duas "memórias históricas", de duas culturas. Com o bom e o menos bom, cada um traz a imensa bagagem de tudo o que viveu e assimilou até então. Cada um torna presente a memória histórica de sua origem. Sem querer reproduzir o passado, é preciso partir da história pessoal de cada um para construir nosso novo futuro de casal. Não podemos - ou melhor não devemos - impor ao outro nossos próprios hábitos, nossos costumes , nossas maneiras ... Juntos devemos criar, no diálogo e no amor, as fontes de uma nova história. Precisamos estar atentos a essa história que criamos como CM Dezembro/94 - 23
novo casal, estar atentos ao novo projeto que não será nem de um, nem de outro, mas dos dois. Alguma coisa que nasceu do encontro e que toma corpo num espírito que lhe é próprio. Cria-se a família se a vida é criada
a) A vida existe quando há doação Passamos nosso tempo esperando tudo dos outros e ficando decepcionados . É preciso levantar nosso olhar, fixo obcessivamente em nós mesmos , para enxergar os outros e nos doarmos a eles livremente, não porque nos obrigam ou porque nos culpam, ou ainda porque nos esforçamos para atingir um nível moral , mas porque queremos amar e porque somos felizes por amar. É assim que em família aprendemos a ter relações de amor. b) A vida tem necessidade de um espaço e de um tempo Viver em comum, quer dizer ter tempo para viver junto, aprender a encontrar o di fícil equilíbrio dentre vida em comum e intimidade, que permite a cada um encontrar o outro e se desenvolver pessoalmente. Cabe a cada família encontrar o equilíbrio, mas dizer que amamos nosso cônjuge e nossos filhos e nunca termos tempo para eles é uma contradição. TER UM PROJETO
Toda família transmite valores, o sentido que ela tem da vida . Não transmitimos o que gostaríamos de ser ou então o que gostaríamos de dizer; transmitimos o que somos e o que dizemos realmente. Transmitimos somente coisas vi24 - CM Dezembro/94
vas e todo "ponto morto", artificial, é imediatamente notado pelos filhos. Nossos filhos podem ter caracteres e gostos diferentes ; podem diferir também quanto à sua adesão ou não à fé , mas as atitudes fundamentais diante da vida, a opção prioritária ou a rejeição de certos valores encontram-se, em geral, em todos os filhos de uma mesma família, dando-lhes um certo "ar de família ". 1. Construir um projeto
Todo casal é o encontro de dois projetos , de duas heranças, de dois modelos . Mesmo que exista uma certa homogeneidade cultural entre as duas fam ílias, cada uma tem um código diferente de comportamento, de linguagem, de princípios . Cada membro do casal é impregnado do modelo das relações familiares no qual evoluiu desde o nascimento. Pouco a pouco, a vida a dois e um diálogo profundo farão aparecer claramente, entre os esposos, princípios comuns , pontos de acordo baseados em convicções íntimas, que vão formar o novo projeto do casal. No começo os filhos se integram no projeto do casal, modificando-o um pouco , purificando-o. Nós nos educamos mutuamente numa dinâmica constante. Depois, eles passarão deste modelo filial à elaboração de seu próprio projeto, tendo recebido o material para construir sua bagagem de refe rência. A influência decisi va do "outro" , quando, por sua vez, eles formam um casal, remodela esse
projeto dos pais de cada um para criar um "novo projeto" sobre o qual vão edificar sua nova vida. 2. Transmitir valores Ensinar princípios aos filhos é algo que deve ser feito devagar, da maneira como se deixa uma semente, através de relatos da própria vida, dando as razões da nossa maneira de agir, de viver, de nosso comportamento. Esses princípios se transmitem igualmente pela criação de certos hábitos. Uma vez ou outra, gestos firmes e significativos são igualmente necessários. É importante que esses princípios não sejam numerosos e que sejam fundamentais, definidos de comum acordo entre marido e mulher. Entretanto, devemos ter consciência, com lucidez e humildade, de que transmitimos também nossas contradições. É muito doloroso ver nossos próprios defeitos reproduzidos nos nossos filhos. mas é preciso aceitar esse li~ite de nossa realidade humana. E então que compreendemos melhor que não passamos de "filhos" e que é Deus quem tem a última palavra. CRIAR UM ESPÍRITO DE FAMÍLIA
1. Alguns métodos para formar um espírito de família a) A comunicação Pensamos , muitas vezes, que a primeira coisa a fazer, quando estamos zangados, é nos calarmos. Dessa maneira paramos a comunicação, pois comunicar é querer entrar em relação. Comunicar-se
é uma das maneiras de se amar. Não se trata unicamente de comunicar as idéias, os trabalhos, os projetos, tudo o que constitui nosso universo tradicional, mas é preciso comunicar também os sentimentos, as emoções, as dores, os receios, as incertezas ... Comunicando e partilhando tudo isso, exprimimos o que há de mais profundo em nós, e é assim que se constrói o espírito de família. De outro lado, é preciso criar ocasiões de uma comunicação cotidiana, para partilhar as opiniões, relatar fatos vividos e fazer projetos. Os gestos, o sorriso, o olhar, a carícia, um aperto de mãos, um piscar de olhos de cumplicidade etc., constituem uma outra forma de comunicação muito importante, que às vezes pode ser decisiva para desbloquear situações, para completar o que se fala, para se aproximar dos outros. b) A criatividade A vida que levamos hoje é um pouco frenética. Os dias se sucedem; cada membro da família, além de seu tempo de trabalho e estudo, tem inúmeras atividades de todo o gênero. Mas a vida de família tem necessidade de criatividade para ir para frente e sair da rotina e a criatividade demanda doses iguais de esforço e entusiasmo. c) A co-resJJonsabilidade Encorajar a co-responsabilidade é criar um projeto comum de família, fazer com que se encarreguem uns dos outros. A co-responsabilidade vive-se em família, se os pais não forem todo-poderosos, se a mãe não resolver tudo sozinha, se CM Dezembro/94 - 25
os filhos não forem classificados em "bonzinhos" e "malcriados" , em quem se pode ou não ter confiança . A co-responsabilidade é acei tar que temos necessidade uns dos outros e que nos completamos. 2. O perdão O perdão é talvez o melhor sinal de que nossa família segue o Evange lho . Como chegar ao perdão? Devemos primeiro não dramatizar quando os atritos aparecem, quando temos problemas entre nós. É preciso ter senso de humor para relativizar as coisas , é preciso aprender a rir de nós mesmos e não deixar as coisas envenenarem nosso co ração: é muito difícil nos aceitarmos a nós mesmos quando guardamos rancores. Devemos nos abrir ao outro e saber pedir perdão. O perdão supõe o diálogo mas, nesses momentos, falar com objetividade é difícil. É uma aprendizagem para tentar compreender o ponto de vista do outro. Uma co1sa precisa ficar clara: perdoar é mais do que perdoar um erro , é reabilitar a pessoa, como Deus faz co nosco. Quando a reconciliação chega , conhecemos uma alegria que aumenta nosso amor.
26 - CM Dezembro/94
3. A educa ção Educar é ajudar a ser, permitir que se seja. A vida pertence a cada ser humano. O que deve nos preocupar é que esse ser humano seja ele mesmo, despertando nele o que tem de melhor em si. Na medida em que for ele mesmo, será capaz de opções livres que não sejam ditadas pela submissão, pela revolta, pelo capricho ou pela incapacidade. Nossa maneira de ser pais tem, evidentemente , uma influência no crescimento da criança (os gestos , os hábitos, as possibilidades, as crenças , as ideologias). Não pode ser diferente. Educamos a partir do que somos . Educar é ajudar e "tornar-se livre" . Não se trata da libe rdade de fazer ou não o que se d~seja, mas da liberdade interior. E muito importante poder ser livre interiormente , não ser escravo dos caprichos , das paixões, dos medos, das dúvidas e da falta de segurança . . Ser livre significa ser dono de SI , aceitação alegre e humilde de sua própria realidade, quando o Eu interior é dono de todo o ser e não submisso ao corpo, aos sentimentos ou às idéias. Eq. 05/8 - São Paulo - SP
Vida do !JI(ouimenlo AS EQUIPES DE NOSSA SENHORA NO TEMPO As Origens
Estamos em 1938. Quatro jovens casais, ricos de um amor novo em folha e cristãos convictos, querem viver o seu amor à luz da fé. Pedem ao Pe. Caffarel que oriente sua busca. Ele responde: <Caminhem juntos>. A primeira de todas as reuniões aconte em Paris, em 25 de fevereiro de 1939. Seguem-se outras reuniões empolgantes. Aos poucos, descortina-se aos olhos destes jovens casais o lugar privilegiado do casal no desígnio de Deus : a imagem viva do amor que une Cristo e sua Igreja. Ao mesmo tempo, fazem uma experiência da vida comunitária, na qual se realiza a promessa de Cristo de estar presente (Mt 18,20). Assim, sua vida progride em três dimensões: a união com Deus, a união entre esposos e entre casais, a abertura para os outros. Os Estatutos
Segue-se um período mais difícil, que corresponde à Segunda Guerra Mundial. Mas a experiência prossegue. Ao final do conflito, os grupos de casais não só continuam existindo como se multiplicam. Faz-se sentir a necesidade de unidade e de uma estrutura concretizada numa Regra: em 194 7, elabora-se a Carta das
Equipes de Nossa Senhora. Apesar de uma formulação um pouco desatualizada, o documento conserva ainda hoje seu valor, pois apresenta as idéias básicas da espiritualidade conjugal: "conhecer a vontade de Deus sobre o casal e encarná-la na vida concreta" ou, em outras palavras, "caminhar em casal para a santidade, no e pelo matrimônio". Na época, era uma idéia absolutamente nova e, para essa caminhada, a Carta propunha um certo número de meios, que continuam sendo, ainda hoje, balizas que nos conduzem: - oração conjugal e familiar - diálogo conjugal regular sob o olhar de Deus - regra de vida pessoal - retiro espiritual. A segunda grande novidade era que este caminho não poderia ser percorrido por um casal isolado, mas que ele precisaria ter o auxílio de outros casais e de um sacerdote, para ajudarem-se mutuamente e para completarem a formação uns dos outros: já se pré-figura a Igreja, povo de Deus . A Expansão
Assim concebidas e apoiadas na Carta, as Equipes de Nossa Senhora desenvolvem-se rapidamente na França, na Bélgica, na Suíça. Depois, transpõem as fronCM Dezembro/94 - 27
teiras linguísticas e os oceanos. Em 1950, iniciam-se no Brasil e no Luxemburgo ; em 1953, na Ilha Maurício e no Senegal; 1955: Espanha, Canadá; 1956: Inglaterra; 1957: Portugal ; 1958: Alemanha , Estados Unidos ; 1959: Áustria, Itália; 1961: Austrália, Colômbia; 1962: Madagascar , Vietnam; 1963: Líbano, Irlanda; 1968: Japão, Congo; 1969: Índia ... O salto das Equipes de Nossa Senhora para além das fronteiras da França torna necessária uma opção entre duas fórmulas: ou uma federação de movimentos nacionais, paralelos, ou um movimento único, internacional. Em 1970, Encontro Internacional das ENS em Roma. Na ocasião, num belíssimo discurso, o Papa Paulo VI confirma solenemente a intuição fundamental que havia presidido à formação das primeiras equipes: o amor humano é caminho de santidade; o casal , imagem privilegiada de seu Criador, unido pelo sacramento do matrimônio, é o "rosto sorridente e suave da Igreja"; por isso, tem uma vocação própria e um testemunho específico a dar para o mundo. Algum tempo depois , o Pe . Calfarei decide deixar o Movimento e ceder o lugar a uma equipe mais jovem, para permitir a busca do "grande esforço de oração, de reflexão e de transformação, a ser levado com a vontade feroz de descobrir a vontade de Deu s sobre o Movimento e sua missão, na fidelidade às intuições originais e na compreensão das necessidades dos tempos" . 28 - CM Dezembro/94
A primeira obra da nova equipe responsável, em 1976, é de lançar uma luz atualizada sobre a Carta , num documento curto e denso: "O que é uma Equipe de Nossa Senhora", que constitui agora o referencial para as equipes do mundo inteiro. Um complemento da Carta, "O que é uma Equipe de Nossa Senhora", desenvolve a noção de equipe para chegar à de comunidade, revisa o sentido profundo das "obrigações" da Carta, as reduz a seis e as renome ia "pontos concretos de esforço", que apresenta como atitudes a adquirir e não como coisas a serem feitas; o documento introduz ain da na pedagogia e grande idéia das orientações de vida. Enquanto isso, a expansão do Movimento continua: Síria, países da África, América Central e América do Sul. A partir de 1982
Os responsáveis refletem sobre a evolução das estrutu ras do Movimento, para responder à sua crescente internacionalização. Isto leva à reafirmação de seu caráter de Movimento único e internacional e à criação, no final de 1985, de uma Equipe Responsável Internacional, que trabalha em estreita colaboração e de forma colegiada com os responsáveis dos diversos países (cf. organograma do Movimento). A Equipe Respons ável Internacional (E. R.I.) se compõe de 5 a 6 casais assistidos por um sacerdote , conselheiro espiritual. A escolha dos membros da ERI inspira-
se, tanto quanto possível, no caráter internacional do Movimento. Os membros da ERI, porém, engajam-se e agem no seio da ERI a título pessoal e não como representantes de seu país de origem. São missões da ERI: - Animar o conjunto do Movimento -Assegurar a fidelidade às intuições fundadoras do Movimento - Exercer um discernimento a longo prazo - Assegurar a unidade do Movimento - Desenvolver o Movimento Para este fim , a ERI reúne-se pelo menos quatro vezes por ano, para trocar idéias , refletir, orar, decidir, organizar, etc . Cada membro da ERI assegura a ligação com uma ou mais super-regiões e regiões isoladas . Uma vez por ano, a ERI e os casais responsáveis das super-regiões se reúnem em "Colegiado" para reflexão e troca de idéias, de forma a favorecer, ao nível internacional, um exercício colegiado da responsabilidade geral do Movimento. O trabalho em colegialidade é, sem dúvida, difícil, mas está motivado pela vontade de fazer escolhas conjuntas , de chegar a decisões comus .. . e esta busca comunitária da unanimidade nos leva a compreender e vivenciar a vontade de Deus sobre nosso Movimento . 1988: Uma Nova Etapa
A mudança das estruturas, porém, não é suficiente .. . Aos quarenta anos da Carta (1987) , o Mo-
vimento inteiro encontra-se numa encruzilhada decisiva de sua história . Procurando "discernir e aprofundar o que Deus espera das Equipes de Nossa Senhora nos anos futuros", no 7º Encontro Internacional de Lourdes, em 1988, ele propõe a seus membros, "para evitar a perda de fôlego, a habitualidade ou até mesmo a rotina, de encontrar o novo fôlego, a Segunda Inspiração que todo atleta sabe ser indispensável a qualquer esforço de longa duração. Uma tal volta às fontes não se faz sem um esforço de verdade, de lealdade com as origens, de escuta das necessidades do povo de Deus neste fim do segundo milênio do cristianismo e de criatividade, para dar uma resposta sempre melhor". Assim, no documento "A Segunda Inspiração", enumera-se um certo número de pistas que ainda devem ser exploradas. Poderão ser encontradas na leitura do capítulo IV: "Viver em comunhão para responder a uma vocação e para realizar uma missão" No Movimento: - desenvolver pré-equipes - modalidades de engajamento para os que querem "ir mais além". Na Igreja : campos de ação da pastoral familiar -acompanhar equipes de jovens - preparar os noivos para o matrimônio cristão - caminhar com casais jovens No mundo: - Evangelizar a sexualidade. Desde 1988, em todos os países, esforços de criatividade vêm se desenvolvendo paa explorar CM Dezembro/94 - 29
essas pistas e o Movimento propôs ao conjunto dos casais, no mundo, um grande canteiro de reflexão sobre a "Evangelização da Sexualidade". Em 1992: O Reconhecimento
Em conseqüência do processo iniciado oficialmente pelo Movimento em 18 de abril de 1984, o Cardeal Pironio, presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, assinou, na festa da Páscoa de 1992, o decreto de reconhecimento das Equipes de Nossa Senhora como Associação de Fiéis de direito privado e a aprovação de seus estatutos, em conformidade como o novo Código de Direito Canônico .
ca, prosseguir em nossa tarefa, pois "ainda faltam muitos tipos de vinho para as qodas da terra". Eis porque a orientação proposta aos casais do Movimento é um convite para refletir sobre a nossa missão, na escuta das necessidades do povo de Deus "com lealdade em relação às nossas origens". "As ENS têm um objetivo específico direto: ajudar os casais no aprofundamento de sua espiritualidade conjugal e permitir que encontrem seu caminho próprio para a santidade. Elas têm, ao mesmo tempo, um objetivo missionário: anunciar ao mundo os valores do matrimônio cristão, através da palavra e pelo testemunho de suas vidas ... "
E estamos em 1994
Necessitamos, mais do que nun-
30 - CM Dezembro/94
O que fazer? Como fazer?
EVANGELIZAÇÃO DO CASAL ATRAVÉS DO DEVER DE SENTAR-SE O Dever de Sentar-se é feito a três: o Senhor e nós dois. Só pode ser realizado sob o seu olhar. Piatão já aconselhava: "É para Deus que se precisa olhar. Ele é o melhor espelho das coisas humanas e é nele que nos podemos ver e conhecer". O espelho do casal é o Cristo, o rosto humano de Deus. Ouço dizer: não precisamos fazer o Dever de Sentar-se porque conversamos de tudo o tempo todo . E eu digo : para nós , certas coisas só são ditas num Dever de Sentar-se e são as mais importantes. Além do mais, nesse momento, existe um Outro que nos fala. Se vocês não conseguem expor seu pensamento ao outro, exprimam este pensamento a Deus , diante do outro. Ao começar, rezamos : "Senhor, tu nos acompanhas e tu nos conheces. Tu sabes o que há no íntimo do homem e da mulher. Então, livra-nos de querermos bancar o esperto, um diante do outro" . O Dever de Sentar-se é como um carro : este não sai em terceira. Precisa de tempo para ganhar velocidade . Calculem , pois , um bom tempo para tomar embalo. Nosso mapa rodoviário a dois é o Evangelho Suas normas devem ser reflexos . Sinal vermelho: perdoar! Sinal verde: sorrir! Se o outro não acompanha: diminuir a mar-
cha. Se o outro pára: ter paciência! O Dever de Sentar-se nos permite rever, juntos, nosso mapa de viagem. Fazer o Dever de Sentar-se é beber no mesmo copo. Um copo que contém um filtro de amor, o filtro altamente poderoso do amor evangélico . A cada gole, aumenta, no casal, o nível do Amor. Fazer o Dever de Sentar-se é reativar em nós a graça do sacramento do matrimônio. É livrá-lo do peso do egoísmo que impede sua energia de irradiar e de nos transformar. O Dever de Sentar-se é como um apartamento moderno, que nos beneficia com iluminação direta e indireta. O Espírito Santo ilumina cada um interiormente e este reflete sua luz sobre o cônjuge. O Dever de Sentar-se é como uma viagem de avião. Ganha-se altura, não se fica mais preso às imperfeições do cônjuge, não se toma um ninho de cupim por uma montanha. A um casal jovem - ou menos jovem - eu diria: Não cessem de procurar este desconhecido que vive no seu cônjuge e que é o próprio Deus nele . Para esta procura, o Dever de Sentar-se é um meio privilegiado.
Equipe 56 - Brasília!DF
CM Dezembro/94- 31
úJ
ESTATÍSTICAS ENS EM 1/1/94 Número de equipes por país e por vinculação
1\)
o
:;::
o
ro N ro 3 o-
o
-CD
.,!::>.
~
-
Pa íses
Africa Central Africa do Sul Alemanha Angola Ar!!entina Austrália Austria Bélgica Brasil Burkina-Fasso Camarões Canadá Chile Colômbia Coréia Costa do Marfim Costa Ri ca 1--r- Egito Equador Espanha Estados Unidos Fidji (Ilhas) França Gabão Gra- Bretanha Guadalupe
---
[SR SR SR SR SR JSR JSR JSR RI RI RI RI [CO RI RI !CU Rl . Total FLS BR E i. ESP .· -POR.. ITA BEL USA IIIS AUS GB G E R CAN AF ~I A l IRL S L IND ERI I
1 14 52 5 30 185 18 433 11 21
I
13
I
I
I
50
5
30 185
I
IX
I
Il2 1. - ·-
~ 7
;
433 -
-
3 7
52 1 83 2 1 -- -----·
-z
f-----+-
1
52
I 83 2 1-
- -t -
7
2
----
-
I "
·-- - -
-
I
7
848 311 1 1904 1902 2 124 6
-
6
X48 42
269
I 2
I
--t
I
2
I '
I
I
- - 1 - · - ---
123
--
·-
-
-- t - - -
I
I
I
r-
-,----- '
·-,
6 I Guatemala 6 ----· -3 Guyana 3 I Hungria 3 3 I ' 2 2 Ilha da Re união I I I 42 Ilha M auríc io 42 I 1-- 17 lndia 17 I Indo nésia I 1 I I Irlanda 38 38 I I J Itália 450 439 11 J I I I Japão 1 I I ' I Líbano 7 71 I I Luxemburgo 17 17 I I Martini ca 14 14 - f- f- -~ 12 México 12 1 2 Países Baixos 2 J - 1- - f - - - fI Papua- N. Guiné I 1 I I Pe ru 7 7 c----' ·28 Porto Ri co ! 28 I i Portu ga l 658 65 8 I Rep. D ominicana 13 13 1 I Ruand a 1 - 1' I I () Se negal 6 6 I Singapura I 1 o Síria 26 26 I co I Suíça 55 55 N I co 7 7 3 Togo o- Trinidad 12 12 I o Zaire 24 f- 24 1~ (õ 3 Total 6668 2001 1121 848 722 439 436 270 189 188 135 '8252 52 42 138 33 17 ~ Vinculação RI RI SR SR SR SR SR RI RI RI RI RI SR SR SR w FLS BRE ESP POR j ITA BEL USA HIS IAUS GB GER jCAN AF JMAU IRL SL IND ERI w -
s:
1
co
co
MENSAGEM DA EQUIPE DA CARTA MENSAL Ao ence rrar-se este ano de 1994 queremos, de todo o coração, agradecer as mensagens de carinho e de incentivo ao nosso trabalho que temos recebido , ao longo de todo o ano, de muitíssimos equipistas de várias partes doBrasil. Pedimos desculpas por não poder responder a cada um individualmente, mas vocês compreenderão que isto é humanamente impossível. Agradecemos, também, as inúmeras matérias, artigos, testemunhas, notícias, recebidas durante o ano e, conforme já explicamos em outras ocasiões, não é possível publicar todas . Queremos , mais uma vez, deixar claro que todas as matérias recebidas, sem exceção, são lidas, e analisadas, publicando-se aquelas que, a nosso ver, apresentam um interesse mais geral e que melhor se enquadram na linha editorial que é definida pelo colegiado das ENS. Esperamos que isto não seja motivo para vocês pararem de mandar suas colaborações, pois as matérias enviadas pelos equipistas constituem o corpo principal da Carta Mensal que, como vocês sabem, não é um documento editado da "cúpula para as bases ". Críticas e sugestões serão sempre benvindas. Desde já agradecemos e retribuímos os votos de Boas Festas que, a exemplo de anos anterio-
-- ~- ==-:.r
34 - CM Dezembro/94
res, sabemos que iremos receber de muitos de nossos leitores. Aqui, mais uma vez, não seria possívelresponder a todos, individualmente , pelo que também nos desculpamos. Esperamos que, cada vez mais, a Carta seja um veículo de comunicação, formação e informação a serviço dos equipistas e pedimos que todos vocês invoquem as luzes do Espírito Santo, pela intercessão de Maria, para o nosso trabalho. Que o nascimento de Jesus encontre a paz e a felicidade em todos os lares equipistas e que as bençãos de Deus se derramem sobre vocês durante todo o Ano Novo que se aproxima. São os votos sinceros da Equipe da Carta Mensal • Maria Célia e João de Laurentys • Terezinha e José P. Veiga • Nilza e Maurício Oliveira • Blanche e Lauro F. Mendonça • Pe. Flávio Cavalca de Castro • Helena e Eros Lagrotta • Maria do Carmo e José Maria Whitaker • M. Thereza e Carlos Heitor Seabra P.S- Toda e qualquer correspondência deve ser endereçada a: Equipe da Carta Mensal Rua João Adolfo 118 - 9º - conj . 901 CEP 01049-91 O- São Paulo /SP
•l 0$..q <===-~ - -
I~ NOVAS EQUIPES- FRUTOS DA EXPERIÊNCIA COMUNITÁRIA • ltumbiara/GO • Eq. 08- N.S . do Perpétuo Socorro CE: Pe. Antonio Pires CP: Marisa e Rotil • Eq. 09 - N.S . da Santíssima Trindade CE: Pe . Euclides B. dos Santos CP : Maristela e Amilson • Eq. 1O- N. S. Auxiliadora CE: Pe. José Carlos CP: Maria José e Di mas • Eq. 11 - N.S. Medianeira CE: Pe . Antonio Pires CP: Marli e Eurico • Eq. 12- N.S. do Rosário CE: Pe. Euclides B. dos Santos CP: Cida e Alderino • Eq. 13- N. S. da Saúde CE: Pe. Euclides B. dos Santos CP: Anarosa e Donizetti • Eq. 14- N. S. das Dores CE: Pe. José Carlos CP: Maria da Graça e João Batista
• Panamá/GO • Eq. 01 :N.S. do Perpétuo Socorro CE: Pe. Euclides B. dos Santos CP: Eunice e Milton • Araporã/MG • Eq. 01 :N.S . da Guia CE: Pe. Edvaldo CP: Floripes e Ademar • Edéia/GO • Eq. 03 :N .S. de Fátima CE: Pe. Thiago CP: Elenise e Severo
ORDENAÇÃO SACERDOTAL: Aconteceu em 05.11.94 a ordenação de três jovens sacerdotes, filhos de Dois Córregos/SP. São eles: André Ricardo Zago, Mareio Negreiro e Paulo Fernando Massoline, este último filho do casal Luiza e Niles André membros da Eq. 04 - N.S. do Bom Conselho, daquela cidade paulista. EVENTOS ENCONTRO NACION AL Realizado em 3, 4 e 5.11.94, em ltaicí/SP , o Encontro Nacional das ENS, reunindo os Casais Responsáveis de Regiões e de Setores de todo o Brasil, bem como os seus respectivos Conselheiros Espirituais, além da equipe da ECIR. Foram momentos fortes de estudo e de oração e também de alegria pelo convívio fraterno. Na ocasião, além dos novos CRR, foram empossados Maria Regina e Carlos Eduardo Heise como novo CR ECIR em substituição a Elizabeth e Romolo Prata. Uma tocante e merecida homenagem foi prestada a Beth e Romolo pelos anos de dedicação ao Movimento. CONSELHO DE LEIGOS O Conselho Regional de Leigos do Estado de São Paulo (CRL- Sul I) promoveu em 29.10.94 uma reunião com os movimentos pastorais filiados ao CNL. O encontro objetivou: 1) Propiciar um espaço para troca de experiências, enquanto movimentos e pastorais; 2) Incentivar CM Dezembro/94 - 35
uma maior participação desses organismos na articulação dos leigos, a fim de juntos buscarmos formas de responder à nossa missão na construção do Reino de Deus.
às famílias o testemunho de esperança. "Na Igreja e na sociedade, esta é a hora da família. Esta é chamada a um papel de primeiro plano na obra da nova evangelização."
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS O setor de São José dos Campos/SP fez realizar para os equipistas uma Noite de Aprofundamento. Foi desenvolvido o tema Família-Igreja-Modernidade. Desafio para o Cristão.
SÍNODO DOS BISPOS Realizou-se , em outubro passado , com a participação de 348 bispos do mundo inteiro, o 9º SÍNODO DOS BISPOS. A vida consagrada na Igreja e no mundo, sob as diferentes formas , foi o tema dos estudos e deliberações . Mais de 1,1 milhão de pessoas espalhadas pelos cinco continentes são consagrados a Deus em ordens tradicionais e milhares de congregações e institutos seculares .
JOVENS Realizou-se em Juiz de Fora/MG, em Julho último, o IV Encontro Nacional das Equipes Jovens de Nossa Senhora. IGREJA NO MUNDO ENCONTRO DAS FAMÍLIAS COM O PAPA Com a presença de mais de 150 mil pessoas, foi celebrado, em Roma, em outubro último, o Dia Mundial da Família. Na ocasião, o Santo Padre falou aos presentes e às famílias de todo o mundo, salientando, que "cada família traz uma luz e é uma luz, um farol que deve iluminar o caminho da Igreja e do mundo". Depois de anunciar que, até o fim deste ano, deverá publicar uma encíclica sobre a vida humana e sua santidade, e discorrendo sobre a graça sacramental do matrimônio, o Papa concluiu pedindo
36 - CM Dezembro/94
NOVO BOLETIM Recebemos os exemplares de nºs 01, 02 e 03 do ENS - Magnificat, Órgão Oficial de Divulgação do Movimento das ENS em Santa Catarina. Editada em formato de tablóide (pequeno jornal), a publicação contém matérias e artigos de grande interesse. Agradecemos aos nossos "colegas" catarinenses e desde já, pedimos licença para, em fut uro breve, reproduzirmos algumas das matérias na Carta Mensal. VOLTA AO PAI
Tadeu (da Arlete), Eq 06 Blumenau, SC em 26.09.94
CORREIO Santos, 19 de setembro de 1994
Ao Casal Responsável da C. Mensal Prezados Irmãos Diz o evangelista que um decreto de Cesar Augusto ordenando o recenseamento de todo o mundo fez com que José e sua esposa Maria, grávida de nove meses, se deslocassem de Nazaré para Belém , onde nasceu Jesus. Creio que esse decreto deveria mencionar sanções contra os que não o cumprissem . No decorrer dos séculos, a humanidade vem sendo alvo de pressões contendo também sanções, algumas veladas , outras nem tanto. Assim, modernamente, no nosso dia a dia , continuamos sujeitos a pressões e sanções , algumas menos tenebrosas , mas nem por isso menos incômodas, entre outras: - recadastramento bancário ou sua conta encerrada; - recadastramento previdenciário , ou seu benefício cancelado; - eleitor que não votar, perde diversos direitos e, como se não bastasse , o não recadastramento das equipes e seus membros, implicando no cancelamento da remessa da Carta Mensal. Até entendo a necessidade desse recadastramento , porém creio de coração que a referência à sanção (suspensão da CM) foi realmente infeliz, pois não creio que sejamos todos Casais (I) Responsáveis Segue portanto a relação da nossa equipe , com meu protesto. Para terminar, gostaria de lembrar-lhes que a primeira providência, quando fomos eleitos CR , em outubro do ano passado, foi-lhes enviar uma ficha cadastral da equipe , e que, da mesma maneira o novo Casal Responsável, a ser eleito dentro de um mês, irá fazer o mesmo. No mais, aceitem o desabafo e um abraço. Carlos Alberto Piffer
N. da R. : O "recenseamento " para atualização dos nomes e endereços para remessa da Carta Mensal, conforme explicado em nossa correspondência objetivou a racionalização do trabalho e a redução dos custos, zelando, portanto pela contribuição financeira dos equipistas ao Movimento. Com base nas fichas recebidas até o fechamento desta edição (que foram a maioria, mas infelizmente, não a totalidade) já é possível identificar uma sensível redução na tiragem (e, por conseguinte, nos custos) da Carta Mensal. Queremos agradecer o atendimento caridoso dos equipistas à nossa solicitação, bem como as mensagens de incentivo ao nosso trabalho que vieram anexadas às fichas de muitas equipes. Pedimos desculpas pelo fato de, na nossa carta, termos dado um prazo curto para resposta e também por mencionarmos a possibilidade de suspensão da remessa da Carta Mensal. Não tivemos a intenção de pressionar nossos irmãos equipistas, mas apenas de solicitar sua ajuda fraterna para o nosso trabalho. Assim apelamos às equipes que ainda não mandaram suas fichas que, por favor, o façam o quanto antes.
CM Dezembro/94 - 37
Valença, 21 de setembro de 1994
Queridos Irmãos da Carta Mensal , Que a paz e o amor de Cristo estejam com vocês e suas famílias! Em maio deste ano , estávamos com quase tudo pronto para participarmos do VIII Encontro Internacional das ENS , e aguardávamos com ansiedade o momento de embarcarmos para a Europa. Iríamos com outros casais de Curitiba ... Mas , Fernando foi acometido de um enfarte, submeteu-se a uma angioplastia , surgiram outras complicações ... e não pudemos ir. Esta foi uma das renú ncias que tivemos que fazer, assim como deixar a responsabilidade pela Reg ião Rio 11 , e que nos custaram bastante ... Contudo, procuramos participar com nossas orações, antes , durante e depois da realização do Encontro. Eis que re.cebemos , como prêmio do Senhor, a Carta Mensal de Setembro Especial : FATIMA 94 -que nos relata , com tanta fidel idade, o desenrolar de todo o Encontro, assim como toda a riqueza contida nas Homilias e Palestras. Acreditamos que, se "saborearmos", "ruminarmos" e nos "alimentarmos" dos ensinamentos contidos nesta Carta, estaremos dando anguns passos no caminho da santidade ; seremos capazes de ajudar a outros casais nesta jornada. Louvamos a Deus por esta inici ativa do Movimento, que veio preencher a lacuna que houve em nossa vida equipista e na de tantos casais que , por motivos vários , não puderam estar presntes em Fátima! Com o nosso carinho e agradecido abraço, Myrian e Fernando Galvão Equipe 6- Nª Sra.Medianeira Valença - R.J.
38 - CM Dezembro/94
O MISTÉRIO DO NATAL- Raniero Cantalamessa Editora Santuário, 1993, 135 páginas Do "Magnificat" à redenção de Israel, esta obra desenvolve-se , com rara profundidade , na exegese do significado do Natal. Do significado do "Mistério da Anunciação" , tão caro às ENS, passa ao tema candente da ação dos cristãos, no que respeita à evangelização daqueles povos em que predominam religiões divergentes e, por fim , ao relacionamento com "nossos irmãos mais velhos" - os judeus - irmãos em carne e sangue do próprio Cristo, enquanto Homem. É leitura indispensável terminada nos sentimentos de "alegria e exultação" pelo nascimento do Filho e de exortação ao "silêncio na presença do Senhor Deus" .
FAMÍLIA E DESAFIOS NA SOCIEDADE BRASILEIRA lvete Ribeiro e Ana Clara Torres Ribeiro- Centro João XXIIIEdições Loyola, 1994, 471 páginas. Este livro decorre de um projeto de estudos orientado para a reflexão de alteracões e permanências em valores referidos à família no período 19641984. Inspirado em estudos europeus, propostos pelo "European Values Study Group" (EVSG), desde 1978, o presente livro procura reconhecer os desafios específicos da formação social brasileira, através de processos como modernização- modernidade, exclusão-integração. Trabalhando com grandes tendências, considera a mudança ocorrida nos temas Casamento, Mulher e Criação de Filhos, a partir de recuos em tradicionais instituições ordenadoras da cultura. Assim, esta obra dirige-se àqueles que se preocupam com os rumos assumidos pela mudança na sociedade brasileira. Acredita-se que o diálogo esteja estimulado, em decorrência de as terTkttrca~ exJ..lres~drern angulos da crise institucional constitutiva da nossa excludente modernidade.
CM Dezembro/94 - 39
mA MUNDKAl DA PAl[ .. A mulher: educadora para a paz .. É este o tema escolhido pelo Santo Padre para o próximo Dia Mundial da Paz. Com este tema pretende-se, antes de mais, exprimir um reconhecimento do papel indispensável que as mulheres desempenham em favor da paz, quer mediante a contínua educação da juventude, quer mediante a sua oposição às numerosas situações de violência. Com este tema o Sumo Pontífice deseja também dirigir um premente apelo, a fim de que as mulheres se tornem cada vez mais , nas suas famílias e nas diferentes instâncias da sociedade, incansáveis artífices de paz. Neste último período do século XX, a nossa sociedade está dramaticamente marcada pela violência: guerras fratricidas, conflitos permanentes e crimes abomináveis desfiguram o homem, desprezam a sua dignidade e atentam contra a sua própria vida. A mulher é com freqüencia a primeira vítima destas violências e torna-se, por vezes, instrumento nas mãos de quantos semeiam divisões e ódio. Pelas suas qualidades específicas, a sua sensibilidade em relação aos mais débeis, o sentido do amor e do dom de si , a mulher é a educadora natural para a paz, mas deve tornar-se efetivamente a sua principal promotora na família, no mundo do trabalho e em todas as suas relações interpessoais, a fim 40 - CM Dezembro/94
de que cada ser humano seja reconhecido e amado, e possa desenvolver-se livre de qualquer forma de discriminação. Ao longo do próximo ano serão efetuadas numerosas iniciativas internacionais , conferê ncias e celebrações . Algumas delas serão dedicadas especificamente à mulher, como a conferência das Nações Unidas sobre a <mulher e a sua ação em favor da legalidade, do desenvolvimento e da paz>, que se realizará em Pequim, de 4 a 15 de Setembro de 1995. Nesta perspectiva, o tema escolhido pelo Papa é um forte convite às mulheres, para que aprofundem a própria vocação de educadoras para a paz. Ao mesmo tempo, esse tema constitue um encorajamento às co munidades cristãs e a todas as pessoas de boa vontade, para que se empenhem mais no camin ho da paz. Permanece sempre viva a esperança de que a paz, dom de Deus , é possível. Esta esperança há de impelir os nossos contemporâneos e realizarem gestos concretos de paz e a orarem ao Senhor, para que os homens e as mulheres de todos os continentes se deixem iluminar pelo Espírito Santo, que é Espírito de paz interior e de reconciliação freterna. L 'Osservatore Romano 23/07/94
I~ O CASAL MARIA E JOSÉ O mês de dezembro nos traz cada ano a festa litúrgica do Natal: o nascimento do Salvador. O Filho de Deus, enviado pelo Pai , "nascido de mulher", para remir a humanidade (Gal. 4.4) . Essa expressão de S.Paulo "nascido de mulher", nos faz lembrar que Jesus teve uma mãe, como todos nós: Maria. A festa de nossos aniversários é sempre, também , a festa de nossas mães que nos deram a vida . O Natal, aniversário do nascimento de Jesus, é, pois , também festa de Maria, sua Mãe. A maternidade mariana é, como o sabemos, dupla. Com efeito, Maria, sendo Mãe de Cristo que é a Cabeça do Corpo Místico, é, pelo mesmo fato, Mãe dos homens na ordem da graça, Mãe dos membros do Corpo Místico, que somos nós. Mãe da Igreja como a proclamou Paulo VI encerrando a 2ª sessão do Vaticano 11. Essa dupla maternidade de Maria, para ser bem compreendida, deve sair do isolamento no qual , às vezes , foi confinada. E isso, para ser reintegrada num conjunto mais amplo, o único que lhe convém : aquele do Mistério de Deus Trino que salva a humanidade pela Encarnação, Morte e Ressurrei ção do Seu Filho. Para resituar a maternidade de Maria do Plano Salvífico , procuraremos , em primeiro lugar, deixar claro que a maternidade mariana é uma maternidade de uma mulher casada. Sendo assim, José, esposo de Maria, tem um papel próprio e determinante na concepção de Jesus. Depois, mostraremos que o qualitativo "virginal" não é secundário no que diz respeito ao casamento de Maria e
José e no que diz relação à maternidade de Maria como também à paternidade de José. Concluindo, nos perguntaremos o que pode significar a maternidade virginal de Maria para as mulheres de hoje e a paternidade virginal de José para os homens de nosso tempo . Quando Deus criou o homem e a mulher, Ele os criou à sua imagem e semelhança para que se tornem uma só carne e que povoem a terra mediante a sua união e o seu dom mútuo (cf. Gen . 1,27: 28; 2,24). Esse plano da Criação , Deus vai respeitá-lo na hora da Encarnação do Seu Filho . Com efeito, Lucas e Ma teus narram que Maria e José, quando se deu a Encarnação , eram casados (cf. Lc . 1,27 ; Mt. 1.20-24) . A concepção e o nascimento de Jesus se deram, pois, no seio de um casal. E isso, porque a união do homem e da mulher em vista da procriação é, no plano de Deus, um reflexo, um sinal e um símbolo da única paternidade de Deus Pai . Deus Pai que de toda eternidade gera o Seu Filho único . Reflexo e símbolo certamente imperfeito, pois em Deus só tem uma pessoa que gera, o Pai ; no casal , porém , são duas pessoas que pela sua união procriam. Apesar dessa imperfeição, o casal não deixa de ser autêntico sinal dessa Paternidade Divina , sinal que, em e por Cristo, se torna sacramento . A maternidade de Maria é, pois, maternidade conjugal , para assim ser conforme o Plano Criador de Deus sobre o homem e a mulher, criados à sua imagem e semelhança. Logo , se essa maternidade mariana
CM Dezembro/94 - 41
é conjugal , o papel de José, seu esposo , não pode ser subestimado nem desprezado. José é o esposo no seio desse casal. Casal , em verdade, bem excepcional. pois se trata de um casal virginal. Sem o consentimento de José , como esposo, a um casamento virginal com Maria, esta última não teria podido conservar sua virgindade e maternidade , conforme o plano mesmo de Deus, não teria acontecido, porque a concepção humana de Seu Filho tinha de ser virginal. Se Maria é chamada, pelos Padres da Igreja, a Nova Eva, José pode certamente ser considerado como o novo Adão. A serpente, figura do mal e de Satanás, fez uma proposta a Eva; esta última se deixou convencer e Adão, seu esposo , sem reflexão prudente, compartilhou o fruto oferecido pela sua esposa. Maria recebe e aceita a mensagem do anjo que lhe anuncia que ela será Mãe do Salvador pelo poder do Espírito. José, antes de aceitar esse fruto, o Cristo encarnado no seio de Maria, que sua esposa lhe oferece , antes de fazer seu esse Fruto, pensa de modo prudente e porque é justo não quis intrometer-se nos planos do Senhor, não sabendo ainda qual era o seu papel nesses planos divinos. Essa prudência e respeito do plano de Deus por parte de José provocou aquele acontecimento evangélico , em Mateus, que podemos muito bem chamar de "Anunciação feita a José". E então , José obedece a Deus: recebe Maria e o Fruto que está nela (cf. Mt. 1,20-24) . José faz seu esse Fruto, e compartilha com Maria, sua esposa, e assim assume a sua Paternidade virginal. Maria e José, pois , mediante a sua colaboração respectiva , enquanto homem e mulher, colaboram ao Mistério da Encarnação do Verbo. E colaborando a esse mistério, reparam o pe-
42 - CM Dezembro/94
cado original de Eva e Adão ; Maria e José devolvem, deste modo, ao casal humano, a sua harmonia original , tal como Deus a fez no momento da Criação; e isso em virtude dos méritos antecipados de Cristo, o Filho deles e de Deus. Se Maria e José conseguem refazer, pela graça de Cristo , a harmonia conjugal original é porque aceitaram antes o seu papel de mãe e pai como sinal da única paternidade de Deus Pai, sabendo muito bem que o Cristo, antes de ser filho deles, é Filho de Deus. Não quiseram apropriar-se de modo indevido a sua paternidade-maternidade como algo que fosse só deles, sem a sua essencial referência a Deus Pai "de quem toma o nome toda paternidade no céu e na terra" (Ef. 3, 15). Uma tal aceitação da maternidadepaternidade humana como sinal da Paternidade de Deus , pressupõe, por parte de Maria e de José , uma disposição interna prévia . Essa disposição prévia nos será revelada pelo fato que a paternidade de José e a maternidade de Maria são virginai s. Pois , não é secundário nem acidental que Jesus seja o Fil ho virginal de pais virginais. Por que? Simplesmente , porque a virgindade , como também a castidade vivida segundo cada estado de vida cristã , é expressão e manifestação de nossa relação fundamental e vital com Deus: a nossa fi liação divina em Cristo. Se todos nós somos pais, todos, porém, somos filhos . Esse fato é já uma indicação bastante forte para afirmar que nossa condição humana e cristã é fundamentalme nte e essencialmente de ser filhos , e filhos de Deus Pai. A virgindade de Mari a e José, ou seja , a sua aceitação radical de sua relação fundamental e vital a Deus como filha e filho Dele, faz com que
eles sejam o un1co casal capaz de assumir a maternidade-paternidade humana do Cristo Salvador. Porque Maria e José queriam ser antes de mais nada filhos de Deus e se reconheciam como tal Deus Pai lhes confiou a missão sublime de ser o sacramento de sua Paternidade em relação ao Seu Filho único encarnado. A história desse casal é excepcional e não voltará a repetir-se na história humana, porque esse casal tinha um papel único a desenvolver na história da salvação. Do mesmo modo que o Cristo se encarnou uma só vez, assim um casal virginal pai e mãe se deu uma só vez. Porém, a atitude fundamental desse casal, aquela de querer ser em primeiro lugar filhos do Pai, tem alguma coisa para nos ensinar hoje , quer sejamos casados ou solteiros. Em primeiro lugar, para que os casais possam realmente viver a ordem do Criador, ou seja unir-se carnalmente e procriar, devem reconhecer-se efetivamente como filhos e filhas de Deus. Senão, a sua vocação de "sacramento" da paternidade de Deus é de antemão voltada ao fracasso. A virgindade no casamento de Maria e José não quer condenar e proibir as relações sexuais legítimas entre esposos, relações aliás queridas e abençoadas por Deus desde a criação. Pelo contrário , esse matrimônio virginal dos pais de Jesus dá a chave para uma vida conjugal autenticamente humana e cristã . E isso numa dupla perspectiva. Em primeiro lugar, se trata, para cada pessoa do casal, de reconhecer que o seu estado de vida fundamental , aquele que será também o seu estado eterno e definitivo (cf. Lc. 20, 30-36) , é de ser já, nessa vida terrena, filhos de Deus. Depois, nessa perspectiva de ser filhos do Pai, assumir, enquanto casal , a paternidade e maternidade como aquilo que são
realmente ; sinal sacramental da única Paternidade de Deus Pai , e não como uma coisa que pertenceria em próprio e exclusivamente ao casal , sem referência a Deus. Os filhos são filhos de Deus antes de serem filhos dos seus pais humanos. Também , a maternidade de Maria e a paternidade de José não querem promover, a qualquer preço, as famílias numerosas. Maria e José esgotam , poderíamos dizê-lo assim, a sua maternidade-paternidade virginal num único fiho: Jesus. A Igreja anima a generosidade dos casais em relação ao dom da vida que esses últimos podem transmitir tendo filhos. A Igreja também aceita a "paternidade responsável" que pode limitar, num determinado momento da vida conjugal, o nascimento de filhos, utilizando exclusivamente os meios naturais e desde que a causa dessa limitação circunstancial de filhos não seja o egoísmo dos esposos , mas que se tenha motivos justos e sérios. Enfim , a maternidade conjugal de Maria e a paternidade conjugal de José não querem fazer uma promoção indevida do matrimônio e da paternidade-maternidade como sendo a única vocação possível para o homem e a mulher. Não esquecemos que o casamento de Maria e José foi virginal e que sem a intervenção misteriosa do Espírito Santo esse casal teria ficado sem filho. O homem e a mulher podem, pois , realizar-se fora do casamento, das relações sexuais conjugais e da maternidade-paternidade. O celibato dos sacerdotes, o voto de castidade perfeita dos religiosos e religiosas, como também o celibato leigo vivido e assumido em vista do Reino de Deus, dão testemunho que a vocação fundamental e definitiva do homem e da mulher
CM Dezembro/94 - 43
é de ser, no Cristo , Filho do Pai. Os casais que assumem a sua união matrimonial conforme o Plano de Deus testemunham da única Paternidade
Divina, na medida que se sabem e se reconhecem filhos do Pai comum. Pe. André Moffatt, p.s.s. Brasília/O F
A FESTA DO NATAL Toda festa religiosa e tempo litúrgico representam a reatualização de um evento sagrado, que teve origem num passado mítico. Ao participar de uma festa religiosa, o homem sai da duração temporal e entra no tempo sagrado, por meio da linguagem dos ritos, dos símbolos. Assim os homens se comunicam e trocam riquezas interiores. Para nós Cristãos o tempo começa de novo com o nascimento de Cristo, porque a encarnação cria uma nova situação do homem no cosmos . É o renascimento dos homens pela certeza da salvação , pela nova esperança. Por isso a Igreja Católica organizou, num calendário, as festas e celebrações que recordam e fazem presente a vida, a paixão e a morte dos Santos: o ano litúrgico. O natal cristão era comemorado ora em 06 de janeiro, ora em 25 de março. O dia 25 de dezembro surge pela primeira vez no Calendário Philocalus. A data atual foi fixada no ano de 440, para cristianizar as grandes festas pagãs realizadas nesse dia: Festa mitraica (religião Persa que rivalizava com o cristianismo nos primeiros séculos) , que celebrava o nascimento do "Vitorioso Sol" . Na metade do século IV, o dia 25 de dezembro tornou-se então canônico, durante o pontificado do Papa Libério. A escolha dessa data justifica-se como alternativa cristã à festa pagã do Sol , que se celebrava exatamente nesse dia e tornou-se uma comemoração universal. Para celebrar o Natal há uma preparação que é chamada de "advento" e 44 - CM Dezembro/94
corresponde às quatro semanas que antecedem o dia 25 de dezembro. O advento é o tempo de espera, de renovação da fé e da vida. Costumamos iniciar com uma coroa de ramos verdes e quatro velas. O verde representa toda a natureza, a esperança e a vida na espera do Salvador. As velas representam os quatro domingos do advento e simbolizam a nossa fé , a nossa alegria pelo Deus que vem. A idéia central das missas de Natal revela a celebração do nascimento do "Vitorioso Sol" (festa pagã) , onde as noites eram longas e frias . Por isso, nos ritos se ofereciam sacrifícios propiciatórios e se suplicava pelo retorno da luz. A liturgia natalina retorma essa idéia e identifica Cristo como a verdadeira luz do mundo. O presépio foi montado pela primeira vez no Natal de 1223 por São Francisco de Assis , em Greccio e se tornou um costume universal. Por meio dele tentamos reconstruir a paisagem de Belém, onde nasceu Jesus. Nele introduzimos a manjedoura com o menino Jesus, a Nossa Senhora, o São José, Pastores , os Reis Magos e os animais, entre outros. Esses símbolos querem nos revelar que o menino Jesus não quis nascer entre rendas e púrpuras , porque queria mostrar que o valor substancial da existência humana não é o material. Veio à luz numa estrebaria e foi recebido pelo silêncio dos animais , pela presença dos modestos pastores e dos Reis Magos, que lhe ofereceram os primeiros presentes. Na estrebaria reuniram-se homens humildes e co-
roados, e deixou para nós como lição de vida a pobreza, a simplicidade , a humildade e a fé. Pois, assim foram, desde o início, a vida e os ensinamentos de Jesus. Pelas narrativas dos Evangelhos tomamos conhecimento da Estrela de Natal, que fica junto ao presépio. Ela apareceu no céu e guiou os Reis Magos até Belém . Para os cristãos, Jesus Cristo é a estrela que aponta o caminho a seguir, que deve ser de fé, amor e esperança para o outro. Junto à estrela vem a árvore de Natal (origem germânica). Somente nesse século começamos a usar o pinheiro como sfmbolo de Natal, por ser ele o mais resistente nas épocas frias. A árvore é o símbolo da vida, por isso nós a enfeitamos para receber a verdadeira vida, Jesus Cristo. Por meio da árvore manifestamos a Jesus a nossa esperança e alegria pela sua vinda. Enfeitamos a árvore com bolas coloridas que significam os frutos , ou seja, os dons maravilhosos que o nascimento de Jesus nos trouxe : amor, perdão, verdade , oração, fé, esperança ... Representam, ainda, as nossas boas obras por estarmos unidos a Cristo. Os sinos utilizados na ornamentação do presépio ou nas portas das casas servem para lançar mensagens no ar. O nascimento de Jesus é a grande mensagem que precisa ser anunciada e comunicada a todos. Representa o anúncio da festa e da alegria. Quando gostamos de uma pessoa nós a presenteamos. Assim fez Deus, deu-nos o maior de todos os presentes, o seu filho: Jesus Cristo. Os presentes de Natal representam a fé cristã que é vida na doação de si mesmo à felicidade do outro. É partilhar a nossa vida com os irmãos em comunhão com Cristo. Os arranjos representam a falta de
vida. Nós estamos constantemente envolvidos em situações que não revelam a vida que Cristo veio nos trazer: nossas limitações, misérias, injustiças .. . Todas essas realidades não comunicam vida, são como ramos secos sem condições para viver. Os arranjos secos nos remetem a pedir a graça de Deus para estarmos cada vez mais juntos Dele e reunidos a todos os irmãos na luta por mais vida. A ceia é a refeição, o momento em que a família se reune para conversar e partilhar a vida por meio do alimento. A ceia de Natal significa que a nossa verdadeira vida é Cristo. Ele é o verdadeiro alimento da alma e da vida de cada um de nós. Por meio da energia retirada dos alimentos nós adquirimos forças para construir o Reino de Deus na história do humano. Na ceia costumamos colocar no centro da mesa uma vela acesa que representa o Cristo que nos une em volta de si e nos ilumina. Em cada Natal devemos renovar a fé cristã, pois assim seremos, com Cristo, testemunhos vivos da verdadeira luz do mundo. Enfim , esses são os símbolos que usamos em nosso Natal. Certamente existem outros, mas o importante é que a vida que cada símbolo transmite é a vida da religião que cresce. Por meio dos símbolos os fiéis alimentam sua fé e se unem a Cristo. Por isso, precisamos reviver a simbologia religiosa e buscar novas expressões de vivência cristã hoje. Pois, o símbolo é capaz, tem força, poder de criar unidade entre as pessoas, famílias e nações. No Natal, festa de todos, nasce o Cristo e com ele uma esperança: que por meio de todas essas simbologias podemos nos aproximar mais das pessoas e de Cristo, pela memória e pela presença Dele vivo em cada um de nós. Sylvia e Takao- Equipe 4 CRS do Setor C- Juíz de Fora - MG.
CM Dezembro/94 - 45
Uma mensagem de NATAL: a que viemos?!... Mais um ano que termina. Nossas lutas, nossas necessidades de realização pessoal , nossas alegrias , nossas dores, com certeza, fizeram parte do nosso cotidiano. Durante este ano , quantas vezes nos sentimos sem forças , impotentes diante dos fatos gritantes à nossa volta; quantas vezes nos sentimos sem forças, sem prespectiva ao nos darmos conta de nossas limitações frente a nós mesmos e ao nosso próximo. Quantas e quantas vezes podemos nos ter perguntado: -a que viemos?'··· Se estamos distantes do Evangelho, amortecidos pela roda viva do diaa-dia, talvez não consigamos resposta e num abrir e fechar de olhos nos esquecemos do questionamento que havíamos feito . Mas se, ao contrário, o Evangelho faz parte do nosso cotidiano é nele que encontraremos aresposta para a indagação antes citada. Então, a vida passa a ter outro sentido pois, baseados na palavra de Deus, passamos a entender muitas das coisas que conosco acontecem . Este conhecimento certamente nos levará a novas mudanças de comportamento e novos rumos dando, então, um novo sentido à nossa vida: "Eu sou o caminho a verdade e a vida" (Jo. 14,6). A palavra de Deus existe para que nos orientemos através dela em nossa caminhada. Caminhada esta que, aos poucos, vai se tornando uma realidade, bem diferente daquela de quando éramos iniciantes e ouvíamos de longe as recomendações dos mais velhos sem, às vezes, nunca nos termos dado conta de que estávamos também a caminho. A caminho de quê?! diríamos naquela época ... Jovens ainda, motivados pela ânsia de viver, conduzidos pelos apelos, pelas necessidades e novidades do diaa-dia, nos deixávamos levar, sem sa-
46 - CM Dezembro/94
ber ao certo para onde estávamos indo. Era o tempo carregado de tudo isto, implacável em sua realidade efêmera que nos envolvia e, hoje, muitas das vezes ainda somos, sem o perceber, presas fáceis por não nos darmos conta: - a que viemos?'·· · Medito o evangelho onde Jesus compara o convite ao Reino dos Céus ao convite a uma grande festa. É a festa de um rei feliz com as bodas de seu filho e que chamou os "convidados" para repartir com eles a sua alegria. Ao serem chamados pelos servos do rei , os convivas não quiseram vir. Num segundo chamado, os convidados ocupados demais que estavam com os seus afazeres recusaram o convite. Além de recusá-lo, açoitaram , insultaram e mataram os servos. O soberano, indignado com tudo isto, aniquilou com todos aqueles que se recusaram a ouvir o seu chamado. Mas ele insiste e convida agora "todos" quantos os servos encontrarem pelas praças e ruas, pois como ele mesmo disse, os outros não foram "dignos". Como o convite foi a todos , vieram os bons e os maus. Na hora da festa, o rei se deu conta de que um estava sem a veste nupcial e, sem esperar resposta ou justificativa, foi logo dizendo: - "meu amigo, como entrou aqui sem a veste nupcial? Amarrem-lhe os pés e as mãos e lancem-no nas trevas exteriores ." E cloncluiu: "porque muitos são os chamados, mas poucos são os eleitos." (Mt.22, 1-14) Estamos próximos de mais um NATAL. O espírito natalino é também de chamado, de convite. Somos convidados a comemorar, a reviver mais um nascimento do CRISTO. Comemoração que deixa de ser somente comemoração para ser proposta de conversão. É deixar o CRISTO nascer dentro de nós. É mais uma oportunidade que
nos é dada pelo PAI , pelo grande REI.
É um convite a uma mudança que deve acontecer dentro de nós, pois ELE nos quer santos. Mudança de vida que para que nos ocorra será necessário rever através dos ensinamentos do CRISTO, nossos critérios religiosos , familiares, sociais , enfim , dar espaço àquela pergunta: - a que viemos?! ... Acompanhando a caminhada do CRISTO desde o seu nascimento temos a resposta a esta indagação, para mim decisiva enquanto definição, direção e destino. ELE nos convidou para um grande banquete. E o que LHE aconteceu? Os convidados o açoitaram , o insultaram e o mataram. Tudo isto só por nos ter mostrado o que é preciso para a aquisição de seu reino . ELE nos deixou a mensagem de que é preciso morrer para adquirir este reino , carregando cada um a sua cruz: "Quem não toma a sua cruz e não me segue não é digno de mim" (Mt. 1O, 38) . Aceitando o peso de cada dia com suas decepções, assumindo o sofrimento e o fracasso nosso e o de nossos irmãos menos favorecidos : "Vinde benditos de meu Pai , tomai posse do reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque quando tive fome me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes ; estava na prisão e viestes a mim " (Mt. 25 , 34-36) . Perdoando-nos mutuamente: "Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos maldizem e orai pelos que vos injuriam. Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra. E ao que te tirar a capa , não impeças de levar também a túnica" (Lc . 6, 27-29) . Aceitando o seu convite: "Tomai e comei todos vós, isto é o meu corpo que será dado por vós . Todas as vezes que fizerdes isto fazei-o em memória
de mim " (Lc. 22, 19 e 20). Para os povos do antigo testamento , DEUS era visto como aquele rei da parábola, que ao receber o convidado para o banquete sem a veste nupcial, aje com ele com toda a dureza de coração . Com a vinda do CRISTO misericordioso, aprendemos que o PAI é só amor "Vinde a mim vós todos que estais aflitos sob o fardo e EU vos aliviarei " (Mt. 11 , 28), ELE é só bondade e compaixão: "Haverá maior júbilo no céu por um pecador que faça penitência do que por 99 justos que não necessitam de arrependimento" (Lc. 15,7). Sabemos que é o nosso distanciamento d'ELE que nos "amarra as mãos e os pés" e nos deixa, às vezes , sem rumo , quando vivemos a nossa vida sustentados por nossos falsos valores e verdades , frutos da fragilidade humana. NATAL, data que marca um fato histórico. Ao aderirmos ao convite do CRISTO estaremos assumindo o que já, de antemão, nos foi preparado. JESUS morreu por nós. O fato deixa de ser histórico a partir do momento que nos conscientizamos de que JESUS morreu por todos. O convite é a todos . Somos convidados e temos a oportunidade de tomarmos consciência , cada vez maior, da necessidade de uma conversão pessoal. Porque ELE nos quer cada dia mais juntos ao PAI. ELE quer que façamos jus à vida que recebemos um dia no nosso Batismo. ELE quer que estejamos dignamente vestidos para recebermos a sua pessoa em nós através da Eucaristia, dos outros Sacramentos, da prática do Evangelho e da vida de oração. Para isto ELE é misericordioso, é amor, é perdão, é resposta à pergunta que nos podemos fazer ao longo de nossa caminhada: a que viemos?!. .. Déa,(do Murilo} Eq. 03 - Setor A - Brasília - DF
CM Dezembro/94- 47
1~·.
~
illtima Página UM CASAL DIFERENTE
Talvez, nem todos vocês conheçam pessoalmente, mas certamente já ouviram falar em Beth e Romolo, nossos queridos responsáveis da ECIR, que terminam sua função nos quadros do Movimento das ENS. Quero aqui agradecer a Deus o fato d'Êie me ter dado a graça de ter trabalhado com Beth e Romolo nestes três últimos anos e revelarlhes três pontos que poucos conhecem. O primeiro é que com eles aprendi a viver um pouco a "Provisioridade", isto é, acreditar na "Divina Providência", pois Beth e Romolo vivem esta dimensão em sua vida conjugal e familiar. O segundo ponto é que, com eles aprendi a amar ainda mais a nossa Mãe Igreja, estudando, refletindo e principalmente discernindo sobre a ação do Espírito Santo no Movimento das Equipes de Nossa Senhora. Foram tantas as "revelações" que hoje posso teste-
48 - CM Dezembro/94
munhar a vocês que Deus age por meio das pessoas. O terceiro ponto é que, com eles aprendi a trabalhar em colegialidade, buscando sempre ouvir as pessoas, consultando sempre quem poderia nos orientar, enfim, assumindo uma postura de humildes servos do Senhor. Sem dúvida alguma, eles são GRAÇA de Deus, são dons preciosos que o Pai colocou em nossos caminhos para nos auxiliar a viver, plenamente, a nossa vocação cristã e específica. Por isso peço a todos vocês que rezem a Deus Pai, por eles, para que ao deixar esta função, tenham certeza que não deixaram a missão de ser sinal do amor de Deus. Beth e Romolo que Deus os abençoe e os proteja sempre. Sejam cada vez mais felizes e tenham sempre a certeza de nosso carinho, admiração e respeito. Amamos vocês Pe. Mario José Filho
MEDITANDO EM EQUIPE
MEDITAÇÃO: Leitura: Evangelho de Lucas, cap.2, vers. 8-14.
O nascimento de Cristo devolve a alegria da vida para todos nós. Sabemos afinal, definitiva e indubitavelmente, que Deus nos ama e quer a nossa felicidade: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados!".
- Para mim, para nós como casal, o nascimento de Jesus como salvador traz alegria, felicidade, ou é peso que carregamos? - Como se manifestam em minha, em nossa vida a alegria e a felicidade que Jesus nos torna possíveis? Qual minha, nossa maior alegria cristã? - Que preciso mudar, ou que preciso fazer para espalhar ao meu redor essa alegria e essa felicidade?
ORAÇÃO LITÚRGICA: - Senhor, quereis que todas as pessoas sejam felizes agora e sempre! - Alegrai a terra com o nascimento de Jesus!
-Senhor, quereis que a todos chegue o anúncio da salvação e da libertação! - Dai a todos a liberdade e a paz!
- Senhor, para nos fazer felizes quiseste que vosso Filho se fizesse gente como nós! - Fazei que todos vivamos plenamente!
- Senhor, para estarem ao redor de Jesus chamastes os magos e os pastores! - Fazei que todos
vi"<~mos
na unidade e no amor! Amém!